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FICHA DE CATALOGAÇÃO E ANÁLISE DE OBRAS LITERÁRIAS Curso: 3º. ASE Nome: Tânia Sofia Simões Baptista (2009178) Título: Estação das chuvas Autor: José Eduardo Agualusa Referência bibliográfica completa: Agualusa, José Eduardo (2008), Estação das Chuvas. Lisboa: Dom Quixote. Cota na ESEC: D 5746 Ano de publicação do original: 1996 Editora (Portugal): Dom Quixote País: Angola Cultura de referência: Angolana Sites: http://www.agualusa.info/ Impacto e história do livro: _____________________ Filmes e guiões adaptados da obra: _____________________ Classificação (*, **, ***, ****, *****): **** Observações: _____________________ Breve nota biográfica e obra do autor: José Eduardo Agualusa (Huambo, Angola; 13 de Dezembro de 1960) é um escritor angolano. Estudou agronomia e silvicultura no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Colaborou com o jornal português Público desde a sua fundação; na revista de domingo desse diário (Pública) assinava uma crónica quinzenal. Actualmente, escreve crónicas mensalmente para a revista portuguesa LER e semanalmente para o jornal angolano A Capital. Realiza o programa A Hora das Cigarras, sobre música e poesia africana, difundido na RDP África. É membro da União dos Escritores Angolanos. Em 2006 lançou, juntamente com Conceição Lopes e Fátima Otero, a editora brasileira Língua Geral, dedicada exclusivamente a autores de língua portuguesa. A sua obra encontra-se traduzida em mais de vinte idiomas.

FICHA DE CATALOGAÇÃO E ANÁLISE DE …ticas: LIVROS PUBLICADOSPELO AUTOR E RESPECTIVOS COMENTÁRIOS A Conjura (romance, 1989) Quarta -feira, 22 de Setembro de 2010 Até ler e ste

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FICHA DE CATALOGAÇÃO E ANÁLISE DE OBRAS LITERÁRIAS

Curso: 3º. ASE

Nome: Tânia Sofia Simões Baptista (2009178)

Título: Estação das chuvas

Autor: José Eduardo Agualusa

Referência bibliográfica completa: Agualusa, José Eduardo (2008),

Estação das Chuvas. Lisboa: Dom

Quixote.

Cota na ESEC: D 5746

Ano de publicação do original: 1996

Editora (Portugal): Dom Quixote

País: Angola

Cultura de referência: Angolana

Sites: http://www.agualusa.info/

Impacto e história do livro: _____________________

Filmes e guiões adaptados da obra: _____________________

Classificação (*, **, ***, ****, *****):

****

Observações:

_____________________

Breve nota biográfica e obra do autor:

José Eduardo Agualusa (Huambo, Angola; 13 de Dezembro de 1960) é um escritor angolano.

Estudou agronomia e silvicultura no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Colaborou

com o jornal português Público desde a sua fundação; na revista de domingo desse diário

(Pública) assinava uma crónica quinzenal. Actualmente, escreve crónicas mensalmente para a

revista portuguesa LER e semanalmente para o jornal angolano A Capital. Realiza o programa A

Hora das Cigarras, sobre música e poesia africana, difundido na RDP África.

É membro da União dos Escritores Angolanos.

Em 2006 lançou, juntamente com Conceição Lopes e Fátima Otero, a editora brasileira Língua

Geral, dedicada exclusivamente a autores de língua portuguesa. A sua obra encontra-se

traduzida em mais de vinte idiomas.

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Numa entrevista, o escritor responde a pergunta, "Quem é o Eduardo Agualusa?": "Quem eu

sou não ocupa muitas palavras: angolano em viagem, quase sem raça. Gosto do mar, de um

céu em fogo ao fim da tarde. Nasci nas terras altas. Quero morrer em Benguela, como

alternativa pode ser Olinda, no Nordeste do Brasil." Perguntado se se diverte escrevendo,

Agualusa explica: "Escrever me diverte, e escrevo também, porque quero saber como termina

o poema, o conto ou o romance. E ainda porque a escrita transforma o mundo. Ninguém

acredita nisto e no entanto é verdade."[1].

Tirado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Eduardo_Agualusa

José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 13 de Dezembro de 1960.

Estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa.Vive entre Lisboa e Luanda. É autor dos livros A

Conjura (romance, 1988), Prémio Revelação Sonangol, A Feira dos Assombrados (contos,

1992), Estação das Chuvas (romance, 1996), Nação Crioula (romance, 1998), Grande Prémio de

Literatura RTP, Fronteiras Perdidas (contos, 1999), Grande Prémio de Conto da APE, A

Substância do Amor e Outras Crónicas (crónica, 2000), Estranhões e Bizarrocos, com Henrique

Cayatte, (infantil, 2000), Prémio Nacional de Ilustração e Grande Prémio de Literatura para

Crianças da Fundação Calouste Gulbenkian, Um Estranho em Goa (romance, 2000),

Tirado de: http://www.dquixote.pt/autores/detalhes.php?id=24512

Sinopse do livro:

Estação das Chuvas, biografia romanceada de Lídia do Carmo Ferreira, poetisa e historiadora

angolana, misteriosamente desaparecida em Luanda em 1992, após o recomeço da guerra

civil, transporta-nos desde o início do século até aos nossos dias através de um cenário

violento e inquietante.

Um jornalista (o narrador) tenta descobrir o que aconteceu a Lídia, reconstruindo o seu

passado e recuperando a história proibida do movimento nacionalista angolano; pouco a

pouco, enquanto a loucura se apropria do mundo, compreende que o destino de Lídia já não

se distingue do seu.

Tirado de:

http://www.agualusa.info/cgi-

bin/baseportal.pl?htx=/agualusa/div&booknr=11&page=livros&lg=pt&cs

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Galerias de imagens:

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Críticas:

LIVROS PUBLICADOSPELO AUTOR E RESPECTIVOS COMENTÁRIOS

A Conjura (romance, 1989)

Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010

Até ler este livro só conhecia Agualusa desse fantástico “Barroco Tropical”. Este livro, no

entanto, é completamente diferente. O enredo decorre entre finais do século XIX e inícios do

século XX, até à proclamação da República em Portugal. Tudo se passa em Luanda, entre a

comunidade lusa na capital de Angola, em contraste com a gente humilde nativa.

Estávamos no tempo de uma nova vaga de colonização em que, após o fim da escravatura se

procurava explorar nas colónias as matérias primas para as indústrias nascentes. Esta corrida

às colónias levara a intensas disputas entre as nações europeias e Portugal deparava-se com as

exigências de supremacia britânica. N Conferência de Berlim, onde as fronteiras das colónias

africanas foram traçadas a régua e esquadro, Portugal foi praticamente humilhado pelos

ingleses que não aceitaram a proposta portuguesa, o famoso “mapa cor-de-rosa” em que

exigíamos a posse de todos os territórios entre Angola e Moçambique.

Perante isto, a colónia portuguesa em Angola começa a desacreditar a própria monarquia e

surgem as primeiras vozes republicanas e independentistas.

Angola era, naquele tempo a colónia onde Portugal “despejava” muitos dos seus condenados

ao degredo, que acabavam por se misturar com a população nativa. A prática do degredo era

mais uma expressão do desprezo com que eram encaradas as colónias; Portugal era já visto

como o colonizador injusto e explorador, tanto pelos negros como por parte da elite branca

luandense. O governo de Lisboa, não raras vezes, incentivava mesmo o racismo, procurando

convencer esta elite da inferioridade do negro, encarando-o como um inimigo.

Esta análise histórica de Agualusa aborda um lado do colonialismo que, a meu ver, tem sido

algo depreciado pelos historiadores: as relações entre os administradores brancos e a

população nativa, em confronto com as decisões e recomendações do governo central. Estes

brancos de Luanda encontravam-se sempre a meio caminho entre os dois pólos, umas vezes

seguindo a agradável posição do poder outras vezes aliando-se aos nativos na defesa da

autonomia que também desejavam. A nação fomentava o nacionalismo; no entanto, muitos

deles já se sentiam mais angolanos que portugueses. Era este o drama de quem tinha tanto a

ganhar como a perder: arriscar um dos lados era uma tentação. Mas também um perigo. Se os

angolanos lutavam pela autonomia que lhes sorria como uma bela perspectiva de libertação,

por outro lado Lisboa oferecia um certo ideal de civilização que imitavam nos costumes e lhes

prometia a eternização do poder.

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Quando o comerciante Carmo Ferreira pretende casar com a bela negra Josefina, vem, ao de

cima todo o preconceito racista que deixava esta elite a meio caminho entre o progresso e o

obscurantismo; entre a liberdade que a República prometia e o racismo empedernido.

Mas o escritor e zoófilo Severino, um mulato, não desiste da sua luta. Ele sonha com a

independência e luta por ela. Ele compreende como ninguém o espírito de Angola. Pelo

contrário, os brancos de Angola não queriam uma verdadeira independência; queriam Angola

independente mas governada por portugueses.

Pelo meio surgem as primeiras catástrofes: as primeiras matanças da luta pela libertação; o

surgir de um movimento pela liberdade que viria a durar quase um século e milhares de

mártires.

Em suma, uma obra que vale pelo testemunho de uma época de charneira na história do povo

angolano; uma análise histórica interessante, envolvida numa ficção que torna a leitura

agradável e fluida.

Publicada por Manuel Cardoso

Tirado de:

http://aminhaestante.blogspot.com/2010/09/conjura-jose-eduardo-agualusa.html~

Estação das Chuvas (romance, 1996) Terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Podemos nos divertir, educar ou nos assombrar com as invenções dos bons escritores (os

maus escritores também tem lá sua função, mas esta é outra história). Eventualmente há livros

que têm o poder acessório de nos fazer digerir a realidade sem concessões baratas. É este o

caso de "Estação das chuvas", de José Eduardo Agualusa. Ele conta alegoricamente uma

história de Angola, basicamente a funesta história de sua guerra de independência e das

recorrentes guerras civis que seguiram-se a ela. Não importa o que há de ficção e o que há de

factual no livro pois o efeito predominante é de nos proporcionar um aprendizado. O que

eventualmente iremos depreender da Angola real é nosso problema, não do autor. O narrador

de Agualusa é um jornalista. Ele participa destas guerras e conhece - primeiro como lenda e

depois em uma prisão - uma historiadora e poetisa influente no movimento revolucionário

angolano. A história que se conta, a história de Angola, se confunde com a história desta

personagem, Lídia Ferreira. Ela funciona como uma força vital angolana, plena e seminal no

momento da independência em 1975, mas que é sistematicamente desvitalizada, como seu

país, desaparecendo em 1992. O narrador descreve o que sabe e desvenda da vida desta

personagem, bem como da vida de seus amigos de infância e colegas da universidade, que

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alcançam maior ou menor projecção nos governos e comités revolucionários, tanto no exílio

quanto nas frentes de batalha. O narrador também se relaciona com uma galeria de curiosos

personagens activos na guerra civil. Terríveis e desgraçadas histórias Agualusa nos conta. Não

há crime que fanáticos nacionalistas ou bestas coloniais (de todos os credos ou facções) não

sejam capazes de cometer. Lembrei-me do Manoel, irmão da Neusa, que viveu em Angola e

em Moçambique no final dos anos 1970. Lembrei-me de meu pai, que hoje completa 86 anos,

e que sempre me falou das histórias africanas que lia nos jornais. O que pensarão eles da

Angola de hoje, ainda assombrada por suas venturas. Há mesmo países cujo ordálio de

desgraças teima em nos surpreender. Bom livro afinal de contas. [início 01/02/2011 - fim

03/02/2011]

Postado por Aguinaldo Medici Severino

Tirado de: http://guinamedici.blogspot.com/2011/02/estacao-das-chuvas.html

"Assustador e envolvente, Estação das Chuvas não perdoa a nada nem a ninguém, e num ritmo

por vezes alucinante, tão depressa nos mostra o lado luminoso, de maravilhamento de Angola,

como o seu lado sombrio e de horror. Implacável."

Maria Teresa Horta

Diário de Noticias

"José Eduardo Agualusa - um africano crioulo por excelência, que anda por aí por Portugal –

acaba de escrever um romance, Estação das Chuvas, que pode considerar-se, sem receio, a

mais notável obra sobre a história contemporânea de Angola (...) A personagem de Lídia do

Carmo Ferreira assistiu a tudo e tudo sofreu, inclusive a cadeia. Não escandaliza que a

consideremos uma das criações literárias mais comoventes da moderna literatura escrita em

português. Não espanta também que haja pessoas que fizeram chegar ao autor a informação

de que a haviam conhecido (...) Nada pode ser, para este escritor, mais elogioso para este

equívoco. Porque Lídia nunca existiu, mas existe como heterónimo de personalidades reais (...)

Agualusa está criando um universo ficcional autónomo (...) Isto é: Agualusa está tentando o

que apenas alguns grandes criadores ousaram: transportar gente através do espaço e do

tempo."

Torcato Sepúlveda

Público

Tirado de:

http://www.sudoestealentejano.com/literatura/paginas/jose_eduardo_agualusa.htm#Comentários

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Quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Comecei a ler o livro, sem qualquer interesse. O título não me chamou a atenção...pensei. Mas

a vontade de ler Agualusa era grande; Deparei-me logo nas primeiras páginas com três

verdades incontornáveis deste país:

- uma data: 11 de Novembro de 1975.

- um nome: Agostinho Neto

-uma cidade: Luanda...estavam lançados os dados para o meu interesse;

" Em nome do povo angolano, o Comité Central do Movimento Popular de Libertação de

Angola, MPLA, proclama solenemente perante África e o mundo a independência de

Angola...que vivam para sempre os heróis de Angola..."

Agostinho Neto

E numa noite devorei o livro...um livro que conta a história de Lídia, uma mulher que nasceu

de um romance infeliz...com duas mortes à mistura. Uma Lídia que perdeu a mãe à nascença e

que por sorte vive; vive para se entregar a uma Angola e a causas revolucionárias...como ela!

Uma Lídia que entre relatos quase jornalísticos e bastante precisos narra a história

contemporânea de Angola. Daí ser óbvio que Torcato Sepúlveda in Público (Lisboa) se refira a

esta obra de Agualusa "a mais notável obra sobre a História Contemporânea de Angola"; sem

esquecer no entanto de que Lídia não existe, é apenas uma personagem do livro.

Uma das afirmações mais intrigantes e ao mesmo tempo, para quem conhece a história de

Angola, mais fascinantes é:

"Eu creio firmemente que é pela poesia que tudo vai começar"

António Jacinto, em carta a Mário Pinto de Andrade, escrita em Luanda, em 1 de Fevereiro de

1952.

E não é que António Jacinto em 1952 profetizou uma independência que se iria concretizar 25

anos depois! Angola teve no seu movimento em prol da independência: Viriato Cruz e

Agostinho Neto (entre outros)...em lados opostos...mas ambos poetas.

"Nalguma dessa poesia, de autores vários...que o poder temia" porque "havia uma alma

angolana. E contra essa não tinha defesa. Para quem a temia era a derrota decretada em

verso"

Ruy Duarte de Carvalho , "Estamos Juntos no País que Temos"

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E assim, abrindo parêntesis extensos na história de Lídia o autor conta a história política de

Angola...cruzando com Lídia uma personagem fictícia personagens reais: Viriato da Cruz, o

Monstro Imortal, Mário Pinto de Andrade, Valódia...

Lídia vive intensamente a vida dos homens do MPLA; "Eu conheço-os bem. Fui para a cama

com todos." Conhece-os, acompanha-os e apoia-os no seu percurso...tenta em vão apaziguar a

rivalidade entre Viriato da Cruz e Agostinho Neto. mas é tarde! Viriato não tem opção que não

o exílio; fica no ar a ideia de que é afastado por na altura se procurar um negro para o poder

(não um filho do colono)...quem sabe?

E de Viriato se passa para uma Luanda de 1988 onde Savimbi e a sua política racial ganham

direito a aparecer na história…

Sem querer desvendar mais do livro, reforço a ideia que é um livro indispensável para quem

quer saber mais sobre Angola e os seus homens de vulto.

Em nota de rodapé: Agualusa afirma que Lídia não existe...para mim não há dúvidas de que ela

existe...

Postado por Lueji Dharma - The writer

Tirado de:

http://angolavitoriosa.blogspot.com/2009/10/estacao-das-chuvas-jose-eduardo.html

Nação Crioula (romance, 1997)

Sábado, 12 de Março de 2011

Mais um belo livro deste grande escritor, narrador e “poeta” do encanto africano.

O título é herdado de um navio que existiu realmente, um barco negreiro que transportava

escravos capturados em Angola para os canaviais brasileiros.

Nesta obra, Agualusa recupera essa magnífica personagem criada por Eça de Queiroz e

Ramalho Ortigão que é Fradique Mendes, imaginando-o a escrever uma série de cartas ao

próprio Eça, à sua madrinha Madame Jouarre e à mulher amada, a encantadora negra ex-

escrava Ana Olímpia. É através dessa correspondência que Fradique, um abolicionista bon-

vivant viajante e humanista, descreve as “façanhas” dos pérfidos comerciantes negreiros que

ainda prosperavam em Angola nos anos 70 e 80 do século XIX.

Num tema que Agualusa desenvolve em outros livros, fala-se da miscigenação em Luanda; dos

portugueses que lá foram parar como desterrados, condenados pela justiça lusa e acabaram

por encontrar em Angola terreno fértil para grandes oportunidades de enriquecimento, à

custa do sangue, suor e lágrimas dos negros. Fala-se também dos negros que aproveitaram

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para trair o seu povo colaborando com estes oportunistas. E fala-se, sempre, desta estranha

atracção por África, onde a missão civilizadora que os brancos defendiam não é mais do que

um acto de dominação, oportunista e cruel. Diz Fradique: “Desgraçadamente, Portugal

espalha-se, não coloniza. Somos assim, enquanto nação, uma forma de vida mais rudimentar

que o bacilo de Koch. Pior: uma estranha perversão faz com que os portugueses, onde quer

que cheguem, e temos chegado bastante longe, não só esqueçam a sua missão civilizadora,

isto é, colonizadora, mas se deixem eles próprios colonizar, isto é, descivilizar, pelos povos

locais.” (página 130).

Fala-se ainda da aberração histórica que foi a escravatura, abençoada por Deus, ou melhor,

por quem as suas vezes quis fazer; e no meio de tudo isto a paixão de Fradique Mendes por

Ana Olímpia.

Em suma, um belo livro, que se lê sem nenhum esforço, numa linguagem simples e por vezes

divertida, por mais trágico que seja o assunto. Talvez esta aparente descontracção no tratar do

tema se explique pela familiaridade com que o povo africano se habituou a lidar com o

sofrimento e a injustiça, numa História de Portugal que, neste aspecto, mais não é do que a

história da injustiça e da crueldade.

Avaliação Pessoal: 9/10

Publicada por Manuel Cardoso

Tirado de:

http://aminhaestante.blogspot.com/2011/03/nacao-crioula-jose-eduardo-agualusa.html

Terça-feira, 30 de Agosto de 2011

Entre Portugal, Brasil, França e (principalmente) Angola, eis a história de Carlos Fradique

Mendes e da sua relação a uma mulher que conheceu fortuna e escravidão. História de

aventuras e atribulações em tempos de mudança, esta correspondência secreta é mais que

uma simples história de amor, surgindo também como retrato de hábitos e mentalidades de

uma época.

Apesar de muitas das acções de Fradique serem em função de Ana Olímpia, não é na relação

de ambos que se encontra o essencial deste livro. Na verdade, na visão algo fragmentária que,

inevitavelmente, resulta da estrutura epistolar em que quase todas as cartas são de Fradique,

é mais a caracterização de costumes - e, principalmente, de linhas de pensamento - o que

realmente marca nesta leitura. A própria Ana Olímpia é um bom reflexo da mentalidade

habitual no respeitante à escravatura, já que, de escrava a senhora, não percebeu plenamente

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a posição dos seus escravos até se ver de regresso à antiga posição.

Relativamente breve e de leitura agradável, trata-se de um livro cativante, ainda que, por

vezes, fique a impressão de que muito mais poderia ser dito em certos momentos. É, apesar

disso, um livro que, entre personagens fictícias e figuras sobejamente conhecidas, tem muito

de interessante para descobrir. Uma boa leitura, portanto.

Publicada por Carla Ribeiro

Tirado de:

http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2011/08/nacao-crioula-jose-eduardo-agualusa.html

Terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Acabei de ler o livro de livro de José Eduardo Agualusa, Nação Crioula que comprei na colecção

autores lusófonos, da visão.

Escrito em forma de cartas, gostei bastante. Fiquei na dúvida se era ficção ou realidade. Depois

fui pesquisar e descobri que Fradique Mendes não foi uma pessoa, mas sim um personagem

de Eça de Queirós.

Estas cartas de Fradique Mendes, deixaram-me com água na boca para ler as outras cartas de

Eça de Queirós.

Nem precisei de comprar o livro, porque aqui há uns anos tinha comprado uma colecção no

círculo de leitores, que confesso não li nenhum livro, sobre a geração de 70. E lá estavam as

Cartas de Fradique Mendes, do Eça. E acho que vou ler também as farpas. Porque tenho

ouvido falar que quem ler as farpas parece que Portugal não mudou nem um milimetro desde

o tempo de Eça de Queirós. Aliás eu já comprovei que Eça de Queirós continua actual.

Desde que li Os Maias no 11º ano, que Eça de Queirós é um dos meus escritores preferidos. Se

bem que ás vezes me parece um pouco maçador. Gosto das suas histórias, até porque o final

quase sempre é mais realista. Quer dizer, acabam quase sempre mal. Em vez do "viveram

felizes para sempre...", temos "e foram infelizes para sempre..."

Aliás Eça foi, essencialmente um crítico da sociedade e dos costumes do seu tempo. Ainda

recentemente li várias crónicas na Visão que o referenciavam, e aos seus escritos. Que são

intemporais. Acho que se ele voltasse, iria ficar desiludido. Nada mudou no nosso país...

continua pequenino e mesquinho como há 100, 200, 500 anos atrás.

Rabiscado por nenica

Tirado de: http://nenica.blogs.sapo.pt/24882.html

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Um Estranho em Goa (romance, 2000)

Tuesday, March 24, 2009 Esta é uma obra de carácter algo híbrido, entre o conto e o romance de viagens. Ao mesmo

tempo, Um Estranho em Goa reporta a acontecimentos históricos que envolvem três

continentes: a Índia, mais especificamente a cidade de Goa, o Brasil da selva amazónica, onde

se refugia uma curiosa personagem que dá pelo nome de Afonso Plácido Domingo, e Angola,

no período de turbulência que se segue ao processo de descolonização, onde a cultura e a

língua portuguesa servem de fio condutor, ligando três civilizações aparentemente tão

díspares.

Clara Ferreira Alves comentava no semanário “Expresso” que «Um estranho em Goa é uma

pequena maravilha (…)

Mistura a literatura de viagens com uma aventura exótica, uma espécie de mistério que o

Autor não deslinda mas que lhe serve de ponto de apoio para mover personagens que

enlaçam a Índia e a África com Portugal e o Brasil (…) estabelecem uma pátria espiritual onde

todos nós, portugueses na língua, nos reconhecemos.»

Da mesma forma, são exploradas, relativamente ao cenário de Goa, as consequências para a

população local da presença portuguesa, onde se discute o processo de descolonização e a

substituição da hegemonia lusa pela presença britânica na Índia, a imposição do inglês como

uma das línguas oficiais; a imigração em massa dos hindus vindos de outras cidades do

continente; a composição da população e respectivas características demográficas; os conflitos

entre etnias com base religiosa. Tudo isto vem à baila em conversas de café, numa esplanada

debaixo do canto das cigarras, e dos perfumes frutados de árvores exóticas ou dentro de um

táxi com um divertido e pitoresco motorista, cuja leveza típica característica das conversas

ocasionais, sem pedantismos académicos, mas que consegue dar ao leitor uma visão

documental dos factos históricos dos últimos sessenta anos.

Sobre África e, particularmente, sobre a situação de Angola, a ligação intercontinental surge

através da personagem Plácido Domingo (ex-militar e agente secreto) cujo percurso se espalha

pelos três continentes anteriormente referidos. Após a independência de Angola e finda a

guerra colonial a que se seguiu uma guerra civil, Afonso Plácido Domingo refugia-se no Brasil,

no mais recôndito lugar da Amazónia, imiscuindo-se nas tribos locais, o que proporciona ao

leitor um delicioso episódio com algumas reminiscências de O Velho que lia Romances de

Amor de Luís Sepúlveda, devido à imersão nos luxuriantes sons da selva, à proximidade e

relação amistosa, quase que de identificação, com as tribos locais completamente inseridas e

integradas no ecossistema.

O reencontro do narrador com a personagem dá-se em Goa, alguns anos mais tarde, onde este

volta a entrar em cena, mas completamente transfigurado. Plácido Domingo é o “isco” que

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serve de móbil à estória do narrador, que é também personagem. José, o alter-ego do Autor, é

um repórter que interessado no percurso e no desvendar do passado nebuloso de Plácido

Domingo, ao mesmo tempo que procura uma personagem para a estória que pretende

escrever, acumulando as funções de jornalista e escritor.

O autor atribui-lhe o nome do tenor espanhol, mundialmente conhecido, embora seja na

realidade a abreviatura de um nome tipicamente português.

Em Goa, sobressai a paisagem exótica e sedutora da cidade, onde o calor opressivo é exaltado

pelo canto estridente das cigarras e a confusão urbana, a que se junta o áspero grasnar das

gralhas nas copas das árvores cujos ramos se debruçam nas mesas das esplanadas, a humidade

omnipresente e os cheiros da região, assim como a sujidade das ruas e uma profusão de

idiomas que sugerem estarmos diante dum cenário de uma sedutora Babel, ressurgida das

ruínas.

No Brasil, a paisagem amazónica, junto ao curso do Paraguaí, um dos muitos afluentes do

Grande Rio, junto à fronteira com a Bolívia, confere à estória uma oscilação rítmica que lhe dá

o dinamismo necessário à alternância entre momentos de pausa, como observamos em Goa, e

momentos de acção.

A referência a Angola surge como pretexto para a explicar o passado de Domingo e as suas

intrincadas movimentações políticas que envolvem os últimos anos do domínio português no

território.

De volta a Goa, o narrador que acumula também, a função de jornalista/cronista encontra uma

série de figuras pitorescas que se congregam à volta do protagonista que adicionam, cada

qual, o seu condimento específico à narrativa. Por exemplo, Salazar, o motorista de táxi, que

afirma que “o outro (o homónimo) foi um grande português”.

O discurso do narrador adquire, neste ponto a tonalidade da voz de um turista deslumbrado,

diante de um mundo estranho e maravilhoso, ou de um antropólogo que vai tirando notas no

seu diário acerca dos usos e costumes da região, nele incluindo referências às gentes, aos

hábitos, ao vestuário, fauna e flora locais, com o mesmo espanto e admiração dos antigos

exploradores a bordo das caravelas da frota de Vasco da Gama. Sobressai o aspecto patético

das mulheres ocidentais que, debalde, tentam imitar as beldades do Levante. Como Lili, cuja

beleza ruiva parece algo deslocada, vestida com um sari, no meio de um grupo de mulheres

executivas indianas, vestidas, por sua vez, com o clássico tailleur ocidental. Ou a estranheza da

americana Lailah, com a língua fendida, a lembrar uma víbora, partidária de um estranho culto

a Seth, cujos rituais adquirem contornos sinistros. Lili é fascinada por manuscritos antigos, o

que acaba por facilitar a atracção que José acaba por sentir por ela. No entanto, este acaba por

se afastar mediante a estranheza de algumas atitudes da jovem. Aliás, ambas Lili e Lailah têm

nomes que derivam de Lilith, a mulher demónio, amante do Príncipe das Trevas…Outra

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intrigante personagem é Pedro Dionísio, proprietário do Grande Hotel do Oriente, o qual

entabula amizade com José, e que parece ter ligações com uma estranho mercado paralelo de

comércio de relíquias.

Enoque, o livreiro, torna-se um aliado importante do cronista ao proporcionar-lhe o acesso à

internet, extremamente difícil naquelas paragens, num cybercafé improvisado, precariamente

instalado num sótão poeirento do prédio da livraria. Tal como Elias, o angolano que vive em

casa de Enoque e que acabamos por descobrir não ser outro senão o fugidio Plácido Domingo.

Os diálogos com este núcleo de personagens são particularmente aliciantes, sobretudo

aqueles que respeitam ao binómio natureza x cultura onde se disserta a necessidade de

entender a razão das tradições, dos saberes e cultura ancestrais que os governos centralizados

e burocráticos, como é o caso da federação dos Estados Indianos, tendem a desprezar com

graves prejuízos para o ecossistema. É salientado o papel da cultura ancestral indiana

preservava a natureza como um santuário a venerar, impedindo o homem de violar, por

exemplo, o território reservado à floresta e aos seus habitantes, por estar “consagrado aos

deuses”.

Nestes diálogos, está claramente implícita a crítica à política implementada pelas potências

colonizadoras do Ocidente, sobretudo a Inglaterra do período vitoriano cujos governadores

olhavam arrogantemente as tradições locais como “superstições irracionais”. Curiosamente,

através dos mesmos diálogos, ficamos a saber com o são também vistos os portugueses pela

então potência rival, ou seja, o português era então visto pelos ingleses do século XIX como

um país onde os homens gostam de espancar mulheres para se divertirem. De facto parece

que alguns autores britânicos da época tendem a identificar a violência doméstica como traço

cultural característico do homo lusitanus.

Muitos destes diálogos, travados à mesa do café, ao som do coro estridente das cigarras, são

sobre livros, de preferência sobre livros antigos ou autores já centenários, a sugerir horas e

horas de investigação para produzir uma obra com este nível de qualidade: crónicas, obras de

historiografia, geografia e cartografia, o que permite ao leitor de Um estranho em Goa colocar-

se por detrás do olhar do forasteiro ao longo dos séculos, isto é, a partir de uma perspectiva

longitudinal ao longo do curso do Rio do Tempo, e avaliar a cultura milenar desta cidade

fazendo, simultaneamente, o cruzamento da cultura hindú com a muçulmana, do extremo

oriente e europeia, que acabam todas por convergir naquela cidade multicultural.

O romance é outra das características que seduzem, na intriga de Um Estranho em Goa .

José sente-se, em primeiro lugar, atraído por Lili, a estudiosa de manuscritos antigos com a

qual se estabelece, a partir deste veículo – os livros –, uma forte afinidade entre ambos. Para

além do fogo que incendeia a deslumbrante cabeleira de Lili, a qual contrasta com uma pele

quase transparente. E de aspecto quase transilvânico. Mas há algo de sinistro na aparência de

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Lili, associado a um conjunto de indícios que o autor vai deixando escapar, apesar de desviar a

atenção do leitor menos atento para outros alvos mais óbvios. Como Lailah, por exemplo.

Assim como, também, os sinais no peito da jovem, que reproduzem a Constelação de Draco –

o dragão – outrora designada como a morada de Seth. Também a tez de Lili tem o mesmo

“brilho incandescente à semelhança de um lampião nazi – imagem inspirada num verso de

Sylvia Plath, My skyn brigth as a nazi lampshade. Esta constelação seria, para os antigos

hindús, a porta para o inferno, guardada por uma serpente.

A figura da serpente tem sempre uma significação ambígua, à qual se associa tanto o veneno

que causa a morte, como o ponto de partida para a cura, através do antídoto que permite

conservar a vida. Mas a referência a Seth é inequívoca, uma vez que é o equivalente na

mitologia dos antigos egípcios, a Satanás, na cultura judaico-cristã. Ao culto de Seth, aparecem

também, ligados Lailah e o companheiro, um irlandês que entre o reduzidíssimo leque de

palavras que conhece do idioma português se destaca o vocábulo “caralho”.

No meio de um diálogo onde afloram estes temas, surge a explicação do significado da

suástica, cuja intencionalidade depende da orientação dos braços, deixando no ar a sugestão

de que o símbolo do III Reich teria a orientação negativa, subordinada às forças da destruição.

A toda esta conotação mística, estão ligados alguns detalhes subtilíssimos relacionados com a

enigmática Lili…

Também Lailah, a outra Lilith, exerce um magnetismo sexual muito forte, centrado no corpo,

perfeitamente delineado, como se faz no notar no encontro, aparentemente casual com José,

na praia. Para o jornalista, Lailah é alguém sem referências positivas, o que faz dela “uma

jovem americana de classe média, tão aterrorizada pela perspectiva de se encontrar sozinha

no universo, que estava disposta a acreditar em qualquer coisa, no diabo, nas fadas, em

extraterrestres”.

Para o narrador José, o amor chega, no entanto, pela mão de uma jovem de irresistível

negritude no olhar, que lhe traz à lembrança os versos de Camões e o olhar manso de uma

cativa…que cativa.

A estória começa e termina em Plácido Domingo, num irresistível jogo de palavras, na

esplanada do café, ao som do coro polifónico das cigarras. O tema central nunca deixa de ser a

presença da língua e da cultura portuguesa - comum a todas as mudanças físicas de cenário –

que se desdobra na evolução política da situação de Angola, comparada com a do Zaire, na

forma de colonização portuguesa e britânica, na grotesca acção da PIDE, na repressão dos

movimentos pró-independentistas de Goa.

Um Estranho em Goa, é uma obra cujo sincretismo de elementos culturais, invulgar poder de

síntese e simplicidade na linguagem a tornam extremamente apetecível, tanto para o público

jovem como para o público mais erudito.

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E onde a sedução, a atracção pela descoberta e o deslumbramento pelo desconhecido se

tornam as grandes mais-valias deste autor angolano.

Cláudia de Sousa Dias

Tirado de:

http://hasempreumlivro.blogspot.com/2009/03/um-estranho-em-goa-de-jose-eduardo.html

Gosto de José Eduardo Agualusa, embora dele tenha lido muito pouco, dois, três livros com

este Um Estranho em Goa. A verdade é que, mesmo tendo lido tão pouco de um autor que já

tem uma quantidade considerável de obras publicadas, ele é daqueles que incluo na minha

lista de autores favoritos. Parece-me ser muito versátil nos temas que aborda, na maneira

como escreve e acima de tudo é um escritor africano que também escreve como um escritor

não africano. Foge um pouco ao estereótipo dos escritores africanos. Não sei se me fiz

entender, mas sinto que José Eduardo Agualusa escreve como um lusófono e não como

africano, português ou brasileiro. Este livro é um bom exemplo dessa multiculturiedade do

escritor, que transporta para a exótica Goa o resultado de todas as suas vivências em Portugal,

Angola e Brasil.

Em Um Estranho em Goa, Agualusa, como num livro de viagens relata-nos a sua (do narrador)

estadia em Goa, onde foi com o objectivo de encontrar Plácido Domingo, ex-comandante do

MPLA, ex-agente da PIDE e refugiado em Goa. A busca de Plácido Domingo serve de pretexto

para conhecermos a Goa indiana, mas sobretudo a Goa marcada pela presença dos

portugueses. A Goa católica, hindu e muçulmana, numa convivência nem sempre pacífica. A

Goa multicultural onde o taxista, que acompanha o narrador durante as sua estadia, se chama

Sal, diminutivo de Salazar, um grande homem, nas palavras do homónimo taxista. O mesmo

taxista que tem uma Nossa Senhora no táxi, católico convicto, descendente de católicos

convertidos, e que acha todos os hindus criaturas malignas com as suas divindades meio

animais meio humanas e cheias de braços extra. :) A Goa que nunca desejou ser independente

e cuja sociedade sempre esteve dividida entre os que desejavam a anexação por parte da Índia

e os que preferiam permanecer com Portugal. A Goa turística e hospitaleira com as suas

muitas igrejas, templos, feiras de rua, festividades e superstições. A Goa, estado mais pequeno

e o mais rico da Índia, da diversidade e das desigualdades. Por fim, a Goa barulhenta, que

parece em permanente festa ou permanente protesto, dependendo do ponto de vista, com o

seu calor húmido e ar irrespirável onde o narrador sempre se sentiu um estranho, deslocado,

como numa espécie de estado hipnótico.

É um livro que vale a pena ler e que me permitiu conhecer um pouco mais de Goa, uma das ex-

colónias menos falada mas que, a julgar pelo livro, tem ainda muito de Portugal e onde,

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aparentemente o ex-coloniador continua a ser recordado com carinho, se bem que nem

sempre pelas melhores razões, lembrem-se do taxista Sal. Uma ex-colónia atípica, portanto. :)

Leiam que vale a pena!

Publicada por N. Martins

Tirado de:

http://queroumlivro.blogspot.com/2010/10/um-estranho-em-goa-jose-eduardo.html

Quinta-feira, 22 de Novembro de 2007

José Eduardo Agualusa é um daqueles autores lusófonos sobre cuja obra ainda não me

debrucei devidamente. Mas há já algum tempo que sinto vontade de explorar a sua escrita,

que cruza o país de nascimento do autor, Angola, com Portugal, Brasil, Índia, enfim, todo o

mundo falante de português. Uma escrita que conta histórias que ligam estes países, histórias

ricas em passados recentes e longínquos, grandes aventuras e pequenas curiosidades, todo um

universo daquilo a que se poderá chamar cosmopolitismo lusófono.

Os dois únicos livros que (ainda) li de Agualusa reforçam precisamente esta lusofonidade.

Primeiro foi “Nação Crioula”, onde o autor regressa ao passado colonial para contar a história

do misterioso amor entre o aventureiro português Carlos Fradique Mendes e Ana Olimpia Vaz

de Caminha, que tendo nascido escrava, foi uma das pessoas mais ricas e poderosas de Angola.

Esta semana acabei de ler (de rajada) “Um Estranho em Goa” (Biblioteca Editores

Independentes), um livro que cabe no bolso mas que nos leva muito longe, geografica e

imaginariamente. Antes de mais é um livro que se pode colocar na prateleira dos livros de

viagem, com uma clara inspiração em Bruce Chatwin. Mas é muito mais do que isso. É um livro

passado naquela antiga colónia portuguesa, que aborda a relação política e emocional dos

goeses com o passado português e a actualidade indiana.

Mas é ainda mais do que isso. É um livro escrito na primeira pessoa, onde a personagem

principal é o próprio autor, e onde a realidade e a ficção andam de mãos dadas, com a

realidade a dar credibilidade à história e a ficção a condimentar cada palavra com sabores

únicos, não estivesse a Índia em pano de fundo. Sintomático da musicalidade que Agualusa dá

às palavras é o último capítulo do livro, que se deve saborear em voz alta, onde o autor elenca

uma série de sinónimos de diabo, em português de Goa, Angola, Portugal e Brasil.

Mas continua a haver mais. O motivo da viagem a Goa de Agualusa é a procura pelo autor de

uma personagem angolana refugiada em Goa. Personagem essa, curiosamente chamada

Plácido Domingo (mais um fait-divers que contribui para o encanto da história), que participou

na guerra contra Portugal, e que fugiu para a Índia por estranhos motivos que ciclicamente

alimentam o enredo do livro. Um livro sobre passados que se querem esquecer, tal como o

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passado de diáspora português é cada vez mais uma matéria de nevoeiros e saudades.

Tudo isto, e muito mais, em pouco mais de 150 páginas, a que ninguém deve ficar estranho,

porque está repleto de cheiros, cores, amores, misticismos, sentimentos e palavras da

lusofonia portuguesa, africana, brasileira e asiática. Talvez tudo se possa resumir à grande

questão que surge num virar de página, mas que paira sobre todo o livro: o que é ser

português?

Publicada por Covas Dauro

Tirado de:

http://todos-os-livros.blogspot.com/2007/11/um-estranho-em-goa-de-jos-eduardo.html

O Ano em que Zumbi Tomou o Rio (romance, 2003)

Um grupo organizado formado na favela do Morro da Barriga, Rio de Janeiro, encabeçado por

Jararaca, decide levar a cabo uma revolução no sentido de devolver o poder no Brasil à

comunidade negra. Para organizar e abastecer o grupo, contam com alguns antigos oficiais

angolanos, entre eles Francisco Palmares. Francisco abandonou Angola no sentido de fugir às

memórias terríveis do seu passado mas também para fugir de um amor que lhe roubou o

sossego. Para documentar e levar ao mundo a sua luta, contam também com Euclides Câmara,

um jornalista que apesar de anão, não deixa de ser astuto e corajoso no sentido de fazer

perguntas que outros não têm a coragem de fazer.

Este é um relato do lado menos bonito da "cidade maravilhosa", Rio de Janeiro. O sub-mundo

das favelas é relatado com alguma frequência em serviços noticiosos mas este é um outro

lado. Uma tentativa de devolver o Brasil a quem o criou. Não os Europeus, mas os

descendentes de escravos negros e dos povos indígenas. Mais uma vez, a escrita assente nos

sentidos de Agualusa está muito presente. As cores, os sons, os lugares... Logo na primeira

página, a descrição dos pássaros a ir contra as hélices dos helicópteros dá um "cheirinho" aos

leitores do tipo de imagens que este vai encontrar ao longo do livro. Mais uma vez, os livros de

Agualusa continuam a não me desiludir.

Classificação: 4/5

Escrito por Isabel Maia no dia 23.2.10

Tirado de:

http://nacompanhiadoslivros.blogspot.com/2010/02/o-ano-em-que-zumbi-tomou-o-rio.html

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Quarta-feira, Março 15, 2006

Será 2006 o ano em que Zumbi irá tomar o Rio? Por vezes a realidade anda mais próxima da

ficção do que queremos ou podemos imaginar. Muitas vezes ultrapassa mesmo a própria

ficção, não fosse esta fruto da mente humana, a mesma mente que habita e molda a

realidade. Ontem, em pleno Rio de Janeiro, o exército chegou à favela da Rocinha para uma

operação que durou pouco mais de sete horas, e recuperou os dez fuzis e uma pistola que

tinham sido roubados de um quartel do Exército no passado dia 3 de Março. O romance do

escritor angolano José Eduardo Agualusa “O Ano em que Zumbi Tomou o Rio” (2003)

culminava com uma batalha entre os traficantes e o exército em pleno Rio de Janeiro. O roubo

do passado dia 3 de Março e a operação militar que se seguiu para recuperar as armas será

talvez a primeira batalha de “uma guerra que já vinha em curso, mas que só agora toma pinta

de guerra mesmo, com blindados, canhões e tudo mais”, nas palavras do também escritor

brasileiro João Ubaldo Ribeiro na sua crónica de domingo passado do jornal O Globo. Por vezes

a realidade e a ficção fundem-se, uma e outra não andam tão distantes como por vezes

queremos crer.

posted by Periférico

Tirado de: http://periferical.blogspot.com/2006/03/o-ano-em-que-zumbi-tomou-o-rio.html

O Vendedor de Passados (romance, 2004)

Um livro mentirosamente verdadeiro que condensa a metáfora da vida (Romilton Batista de

Oliveira)

Este livro entre tantos outros que eu já li em minha vida passou a ser um marco, pois a partir

da sua leitura eu passei a compreender melhor a realidade do povo angolano, além de poder

realizar uma leitura interdisciplinar pós-moderna sobre ele. O livro traz à tona a presença de

forma contextualizadora de conceitos teóricos de complexa definição, como o hibridismo

cultural e o seu respectivo relacionamento com o fenómeno do nomadismo

desterritorializante, além da difusão de um discurso polifónico capaz de construir e

desconstruir identidades a partir da memória como fio condutor. O Vendedor de Passados

(Félix Ventura) e o suposto "comprador de passados" (Pedro Gouveia) são na realidade os

principais personagens deste romance. Ventura possui o papel mais importante por ser

exactamente aquele que cria um passado para quem possui um bom presente e

respectivamente um bom futuro, mas lhe falta um bom passado para que possa se interagir

melhor na sociedade emergente angolana, tendo acesso às relações de poder que são criadas

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a partir de um imaginário social. Enfim, a obra é um convite ao imaginário, à compreensão de

nossa própria vida, dos sistemas ideológicos que nos cercam e da necessidade que temos de,

de acordo com a situação, sermos tomados pela formação de identidades oriundas de um

falso passado, registado pela memória. O livro nos faz reflectir sobre nós mesmos,: quem

somos, o que fazemos, e se o que fazemos está ligado às formações discursivas provenientes

de um mundo imaginário... Pense nisso! E leia este livro, pois como ele me mudou, te mudará

também!

Tirado de: http://www.wook.pt/ficha/o-vendedor-de-passados/a/id/70367

Monday, November 01, 2010

O vendedor de Passados – Imagino o porquê existem tantas resenhas a respeito desse livro

enquanto estou aqui, escrevendo mais meia, porque esse parágrafo não pode ser chamado

resenha inteira. Pontos a destacar: linguagem poética, português angolano, narrador animal. Ë

isso mesmo, o livro é narrado por uma lagartixa, ou osga, como deve se dizer por lá. Gostaria

tanto de um glossário de português de lá pra português de cá, mas tudo bem. A obra é um

delírio, com cores vivas, bonitas, passado num canto do mundo que parece até a Bahia de

Jorge Amado, um lugar onde o tempo passa diferente, as osgas falam, os sonhos se

confundem com a realidade e mentira contada diversas vezes acaba por se tornar verdade.

O mistério das cabeças degoladas- Frei Beto – Tente encaixar um quadrado perfeito num

buraco perfeitamente redondo e você verá que nenhum dos dois tem nada de errado, eles

simplesmente não se encaixam. Também não há nada de errado com a narrativa de Frei Betto,

a história é verosímil, interessante, o texto tem a mistura de erudição e lirismo nas devidas

doses. Porém a minha expectativa (só posso falar por mim) era redonda e o livro termina em

quadrado. Tento explicar melhor: o nome frei Beto e a palavra suspense na mesma orelha de

livro despertam uma esperança que não se satisfaz com o mistério das cabeças degoladas,

falta algo ou talvez sobre. O autor nos sugere desvios para o mistério, como o assunto das

crianças de rua ou uma possível história de amor, mas esses desvios são ruas sem saída, só nos

resta voltar pro mistério depois de dar com a cara no muro. Acontece que, quando voltamos,

estamos menos tensos e curiosos do que deveríamos, pois o autor mesmo nos distraiu. Um

suspense deve ser inteiro pra ser perfeito, e inteiro é aquele em que tudo que se menciona na

história se relaciona com o que se está desvendando. Não acho que isso seja fácil de fazer e se

eu mesma soubesse como se faz não estaria aqui escrevendo essa mini-resenha. Porém era

isso que eu esperava: perfeição. O mistério das cabeças degoladas é apenas humano, não é

divino como seu autor.

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Gisela Cesario

Tirado de: http://euleiopravoce.blogspot.com/2010/11/livros-de-outubro-o-vendedor-de.html

As Mulheres do Meu Pai (romance, 2007)

Kika 22/02/2011

Leitura doce!!

Livro de uma linda escritura...uma leitura leve e doce, vc ñ consegue largar. Uma viagem por

algumas paisagens africanas de expressão portuguesa. Leiam !

Aguinaldo 08/02/2011

"As mulheres de meu pai" é um belo livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Anos

atrás ele ganhou um prémio literário importante na Inglaterra (o The Independent Foreign

Ficction Prize) e investiu parte do dinheiro do prémio em uma projecto editorial de fôlego:

editar literatura contemporânea em português (está previsto para este 2008 a publicação de

autores já conhecidos no Brasil como Pepetela e outros ainda não editados por aqui, como

Francisco Viegas e Margarida Ribeiro Filho). Sua editora tem o nome adequado para o

tamanho do desafio: Língua Geral. A história de "As mulheres de meu pai" tem algo que

poderíamos chamar "road book", pois descreve uma viagem de um grupo de personagens pelo

sul da África, partindo de Angola com rumo a Moçambique. Uma mulher, seu namorado, um

motorista e um amigo, repetem o itinerário de um homem que pode ter sido o pai da moça,

um músico que pretensamente teve muitas mulheres e muitos filhos ao longo deste mesmo

caminho. Não é um romance convencional. Há algo nele que me lembrou John dos Passos,

com os trechos de cartas, comentários de outros personagens que reflectem sobre o enredo,

reflexões sobre a eventual transposição do livro em um documentário. O livro é escrito em

português, óbvio, mas em um português que soa estranho mas é inteligível para um brasileiro

alfabetizado. No início eu achei que um glossário dos termos mais raros seria importante, mas

já pelo final do livro percebi a irrelevância disto. O homem é mesmo um entusiasta do

dicionário Houaiss. Os temas mais recorrentes do livro são as coincidências; o peso da história

e da tradição; a fertilidade e o vigor das mulheres; a música como valor cultural; a maior

verosimilhança da realidade em relação a ficção e a força da magia e do sobrenatural na

psique das pessoas. É um livro pleno de lirismo, que inclui muitas belas poesias de autores

africanos, mas que deixa vazar a crueza das guerras e doenças visíveis por toda África. Há

também muitas frases de efeito no livro, algo como um compêndio de sabedoria popular,

receitas para enfrentar situações típicas. O leitor deve estar atento ao enfrentar o livro, pois há

vários narradores, várias vozes que se superpõe e dialogam entre si. Li há muitos anos que

Portugal tentou atravessar e colonizar o sul da África, ligando Angola e Moçambique, mas os

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ingleses, temendo que a grande extensão destes domínios caísse nas mãos portuguesas fez

sua própria expansão ao norte, partindo da África do Sul. De certa forma José Agualusa tenta

refazer esta ponte entre as duas colónias portuguesas, pontuando as diferenças entre cada

cultura, cada grupo étnico. Gostei. Eis um belo livro para se começar bem o ano novo.

Ari 05/11/2010

Um Romance que vale por dois contos.

O Livro é bom. Um tanto quanto confuso eu diria. Apesar de apresentar histórias

relativamente ligadas por elos ténues, eu diria, que separadas elas fazem mais sentido. Tive a

impressão de que tratava-se de um livro de contos que o autor decidiu criar uma ligação.

Enfim, a menina prostituta de Luanda, e as viagens do motorista pederasta, valem o livro."

Lilia 20/12/2010

Absolutamente fantástico. Uma poesia proseada, que leva em conta as emoções de cada

personagem em cada linha da narrativa. Realidade que ultrapassa o físico, pois atinge o âmago

das sensações e sentimentos vividos por cada um, mostrando a esfericidade complexa das

personagens, que revelam não só o que são, mas como ser o que são, trazendo em doses nem

sempre homeopáticas um pouco da cultura angolana, do vocabulário local, da vida dura. Um

pouco da magia religiosa daqueles que respeitam ainda as ordens de uma natureza-mãe.

Daqueles que felicitam a alegria de estar vivo e passam ao leitor, de maneira emocionante, a

visão de que, em meio à catástrofes e dissabores, é sempre possível ver um fio mais colorido e

arrumar uma história pra contar, um trago pra beber, um amor de momento, um evento.

A vida, nesta obra, mostra como pode ser simples e cheia de boa história, pobre e cheia de

tesouros, dolorida e cheia de sorrisos.

Apaixonante

Tirado de : http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/22716

Quarta-feira, Julho 09, 2008

Estava mesmo entusiasmada para ler este livro. Infelizmente, não consegui embrenhar-me na

narrativa. O estilo próprio, com capítulos curtos, sempre com diversos narradores tem a sua

piada ao início. Depois, só serviu para me confundir. Voltava atrás várias vezes, tentando

adivinhar qual o narrador. Perdi o rumo da história, a lógica do enredo. Creio que nem percebi

muito bem a relação Laurentina-Karen. Enfim...

A final, consigo encontrar sempre aspectos engraçados que me arrancaram uns sorrisos: a

verdadeira história de Faustino Manso e a ironia da situação, o Pouca Sorte que conduzia a

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dormir e o seu passado "tenebroso", a Laurentina e os seus amores. No entanto, não me

convenceu...

Cristina

Tirado de: http://oslivrosdacristina.blogspot.com/2008/07/as-mulheres-do-meu-pai.html

Domingo, 10 de Junho de 2007

Aproveitei o feriadão para ler “As Mulheres do Meu Pai”, o novo romance de José Eduardo

Agualusa. O angolano é um dos meus escritores favoritos, das mais belas expressões

contemporâneas da língua portuguesa.

O livro recém-lançado conta a história de Laurentina, cineasta moçambicana há muito

residente em Portugal, que descobre que seu pai verdadeiro não era o pacato burocrata

lusitano que imaginava, e sim um músico angolano, famoso pelo talento e por ter quase 20

filhos com diversas esposas, namoradas e companheiras. Em busca de suas raízes, ela realiza

uma viagem pelos países que seu pai percorreu: Angola, Namíbia, África do Sul e Moçambique.

Em cada lugar, conversa com as pessoas e aos poucos desvenda uma teia que demole o mito

do “macho alpha africano” e revela a enorme força das mulheres do continente.

O romance segue dois fios paralelos: a viagem de Laurentina e uma espécie de “making of” do

livro, no qual Agualusa narra seus esforços para produzir um documentário sobre a música na

África Austral, ao lado de Karen, uma cineasta inglesa (na foto, os dois em Angola). Das

conversas dos dois nasce a aventura de Laurentina, que incorpora paisagens e cenas da outra

história.

A ficção se constrói em coral, com diversos personagens dando sua versão dos

acontecimentos: Laurentina; Mariano, seu namorado português, filho de angolanos que rejeita

a África; o motorista Pouca Sorte; um primo de Laurentina que ela conhece em Luanda e por

quem se sente atraída; além de entrevistas ao longo da estrada.

O que une toda essa gente? São pessoas divididas entre a busca de raízes e/ou da memória

histórica e o desejo de esquecer, de romper barreiras e fronteiras e (re) inventar a própria

identidade. A segunda corrente ganha de longe: os personagens mais interessantes são os que

redesenham a si mesmos diversas vezes, mudando de nacionalidade, profissão, ideais

políticos. Tudo que é sólido desmancha no ar, parece nos dizer Agualusa, e a vida sempre

caçoa daqueles que acham que podem domesticá-la com verdades irrefutáveis.

Além de tudo, o romance é um formidável mosaico da África Austral, montado a partir de

fragmentos de lembranças, sonhos, esperanças e frustrações das guerras de libertação, dos

regimes marxistas, do apartheid mal-resolvido e não de todo terminado, da nova burguesia

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que ascende veloz e quer esquecer o passado pouco recomendável. E dos muitos encontros

culturais e amorosos do continente, entre africanos, europeus, asiáticos, brasileiros.

Música, amor, culinária, está tudo lá. Infinitamente mais interessante, humano, divertido e

emocionante do que essa África de exclusivas calamidades que nos chega pela TV e pelo

cinema.

Postado por Mauricio Santoro

Tirado de: http://todososfogos.blogspot.com/2007/06/as-mulheres-do-meu-pai.html

Barroco Tropical (romance, 2009)

19 Julho, 2009

Comecei a ler Agualusa há coisa de um ano e contrariamente às orientações que normalmente

me imponho, nomeadamente aquela que me diz que devo deixar passar um mínimo de 6

meses entre cada livro de um dado autor, este foi o 4º livro dele que li. O primeiro foi Um

Estranho em Goa, que faz uma evocação perfeita daquela região que visitei há uns anos, e que

me deixou cilindrado com a qualidade da escrita do homem. Depois seguiram-se o premiado

Vendedor de Passados e a recolha de contos Passageiros em Trânsito. Com este, o autor entra

definitivamente na minha lista de escritores a seguir fervorosamente.

Passando-se em Luanda em 2020, o livro vai alternando capítulos vistos do ponto de vista de

um tal Bartolomeu Falcato, romancista de sucesso e sem papas na língua (e claro alter ego de

Agualusa), e Núbia de Matos, uma cantora também ela de sucesso, e amante ocasional do

primeiro. A trama é demasiado complexa para a tentar sequer resumir aqui, principalmente

quando juntamos uma quantidade muito considerável de incríveis personagens secundárias (e

que nos são formalmente apresentados de forma muito teatral). Digamos apenas que a

colocação da narrativa no futuro, tem por objectivo a hipérbole do presente, nomeadamente

ao nível daquilo que (imagino) seja a política e a corrupção em Angola.

Como nos anteriores livros, Agualusa mistura de forma assombrosa a ironia com a realidade e

as lendas. Tão depressa temos momentos de brilhante humor, como episódios

verdadeiramente viscerais. Talvez seja mesmo por esta permanente mudança de registo que

possa não ser considerado formalmente como o melhor livro do autor, mas sinceramente, foi

o que gostei mais até hoje, e também no qual se nota claramente o enorme gozo que Agualusa

terá tido ao escrevê-lo.

Publicada por Bruno Taborda

Tirado de: http://contraculto.blogspot.com/2009/07/livro-barroco-tropical-jose-eduardo.html

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Quarta-feira, 9 de Novembro de 2011

Acabadinho de ler! Já à algum tempo que andava a "cobiçar" este livro, sobretudo pela

curiosidade em conhecer o autor, José Eduardo Agualusa.

Começo por dizer que gostei bastante desta leitura. Trata-se de uma história invulgar que gira

em volta de pequenas histórias que se cruzam com o próprio narrador ao mesmo tempo o

autor do livro, Bartolomeu Falcato. Todas as personagens têm o quê de absurdo nas suas

histórias de vida, o que talvez não fuja assim tanto da realidade quanto isso. Este escritor

parece ser atraído por personagens peculiares e na sua jornada apaixona-se por uma famosa

cantora angolana chamada Kianda, mas que é também ela "assombrada" pelos seus demónios.

O que achei mais piada no livro foram todas as referências culturais com que nos conseguimos

identificar perfeitamente, como outros autores portugueses, Eça de Queiroz, ou músicos,

como Caetano Veloso, etc. O que acaba por criar, na minha opinião, uma grande proximidade

com o leitor, pelo menos com o público de língua portuguesa, imagino eu.

E portanto, recomendo!

Publicada por Jo

Tirado de:

http://dosnossoslivros.blogspot.com/2011/11/barroco-tropical-de-jose-eduardo.html

Segunda-feira, 1 de Março de 2010

Não gostei deste livro. Todavia gostei de uma coincidência, que só os livros sabem trazer:

terminei de lê-lo exactamente um ano após Agualusa terminar de escrevê-lo, eu em um 19/02

na quente Santa Maria, ele em um 19/02 na fria Amsterdam, onde passou uma temporada

como escritor-bolsista residente. Talvez por conta disto (do fato do livro ter sido em parte

escrito na Holanda) eu sinta algo nele que faz-me lembrar coisas do Cees Nooteboom, um

holandês que eu gosto de ler (lembrei particularmente do artifício das asas, dos anjos, da

queda, utilizado por Nooteboom no "Paraíso perdido"). Bueno. Agualusa conta em "Barroco

tropical" os sucessos de um triângulo amoroso. Vários personagens tem voz e contam como

um sujeito (Bartolomeu, o narrador principal) se envolve aos poucos, mas intensamente, com

uma cantora angolana muito famosa. Há encontros e desencontros nos passados dele, da

cantora, de sua mulher, seu sogro, dos amigos em comum e principalmente desencontros com

uma outra moça (ex-Miss Angola e relacionada com os poderosos do país) que num surto

psicótico acreditava ser "Maria, mãe de Jesus" e pretendia seduzir Bartolomeu. Agualusa

utiliza as tramas amorosas para descrever um tanto da história recente de Angola, sua

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independência, sua guerra civil, a ascensão de uma elite governante contraditória, patética e

venal (como costuma acontecer em todos os lugares desgraçados deste mundo). Gostei da

descrição das línguas de Angola e dos paralelos entre o sincretismo angolano e brasileiro, e

também do trecho onde ele fala da influência das novelas brasileiras na linguagem utilizada

pela população angolana. Todavia o livro tem muitas bobagens que me irritam: umas

obviedades bestas de almanaque antigo (ou típicos de revistas femininas modernas)

espalhadas pelo texto; um epílogo que acho desnecessário, que explica demais, que se justifica

demais; uma seção de esclarecimentos onde Agualusa parece se prevenir de um eventual

processo judicial, ainda mais patético que o epílogo. Preciso ler algo mais dele (pois gostei

bastante do romance "As mulheres de meu pai" e do livro de contos "Manual prático de

levitação"). Veremos. [início 12/02/2010 - fim 19/02/2010]

Postado por Aguinaldo Medici Severino

Tirado de: http://guinamedici.blogspot.com/2010/03/barroco-tropical.html

Recensão crítica (Análise literária, Cultural e Intercultural):

Este livro é muito diferente daqueles que estou habituada a ler. O facto de estar dividido

em nove partes, correpondendo a cada uma uma porção de capítulos curtos e, tornando,

assim, a leitura menos cansativa, no entanto, o contrário acontece face ao contéudo da

narrativa, sendo este muito maçador. Eu não quero dizer com isto que não é interessante e

nem me quero estar a contradizer, mas a verdade é que senti uma grande dificuldade em

acompanhar a leitura do livro. Torna-se muito confusa no sentido em que não há um

seguimento lógico das ideias que o autor pretende transmitir, ele é capaz de falar num

capítulo sobre determinado assunto e no capítulo seguinte já modifica completamente do

cenário da história. Parece-me que cada vez que ele apresenta uma nova personagem,

acarreta consigo uma ouutra que nos conduz a outro cenário, até que, no fundo, todos estão

interligados pela essência do livro – o horror da história luandense.

Tambem não é um livro fácil pelo peso histórico, político e social, transportando o leitor

para uma época sombria. No entanto, não obstante, é guarnecido aqui e ali com imagens

poéticas, tanto da própria figura de Lídia quanto da voz do próprio José Eduardo Agualusa

através de um narrador, cujo o nome nunca é revelado ao longo de toda a história.

Contudo, este livro de José Eduardo Agualusa, é um bom livro que representa muito

bem a história da independência de Angola.

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Comentários do leitor sobre a obra:

Quando cheguei à biblioteca da escola para requisistar um livro, não sabia muito bem

qual havia de escolher, tive vários na mão..nenhum deles conhecia nem sequer os respectivos

autores de cada um. No entanto, o que me levou a escolher este livro foi o comentário da

funcionária daquela entidade, que me disse que aquele autor era muito bom e o livro se lia

muito bem, e depois o facto de ser um romance também me chamou à atenção. Sou fascinada

por grande parte dos livros de Nicholas Sparks, que correpondem na maioria a romances.

Quando comecei a ler o livro, não entendia muito bem a história que estava para vir e qual a

sua essência, mas acreditava que no meio do livro ia encontrar o que procurava. Acham

mesmo que encontrei o que procurava? Não!

Cada vez que abria o livro para o explorar mais um pouco, quando o fechava ficava

bastante desiludida, frustada, porque não entendia nada da história e que aquilo era tudo uma

grande confusão, uma grande mistura de personagens (algumas de nomes bem conhecidos)

que apareciam espontâneamente na história e eu ficava sempre sem saber porquê...

Quando eu comecei a entender a essência do livro, foi quando fiz a minha primeira

pesquisa sobre esta obra. Aí, sim, comecei a entender o porquê da sua importância e o porquê

da prof. Susana Gonçalves o ter colocado na lista de livros sugeridos e , também, a ligação que

este podia ter com a Unidade Curricular “Educação Intercultural”. Tudo começou a fazer

sentido.

Na realidade eu não gostei do livro, mas não posso de deixar de dizer que ele é bastante

importante quando pretendemos adquirir mais conheciementos sobre a interculturalidade.

José Eduardo Agualusa consegue transmitir isso através da história de Lídia, um

personagem que que vive para se entregar a uma Angola e a causas revolucionárias cruzando

esta história com o contexto politicamente confuso do processo de independência angolano e

seus desdobramentos. Através dos relatos da personagem Lídia, poeta, historiadora e

militante do MPLA que mesmo após o processo de independência, conheceu a prisão e o

exílio, o autor dá-nos a conhecer a história das lutas pela construção de uma identidade

nacional angolana.

Neste livro, José Eduardo Agualusa, escreve-o tão bem que leva a qualquer leitor (tal

como aconteceu comigo) acreditar seriamente na existência de Lídia. Os limites entre ficção e

a história são tão bem dissolvidos por meio de uma técnica iludida, em que se agrupam

citações de jornais, depoimentos, entrevistas, que leva a confundir os leitores quanto à autoria

dos diversos textos: ficção ou realidade?

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Eu própria dei por mim a pesquisar imagens, que não apareciam, sobre uma pessoa

chamada de Lídia do Carmo Ferreira. Só me apercebi que esta personagem não existia na

realidade quando li um comentário de um outro leitor que dizia que a forma como Agualusa

escreve, leva qualquer leitor a pensar que as personagens criadas pelo autor existem na

realidade. O leitor fica por vezes na dúvida o que será real e o que será ficção.

O ano em que é publicado o livro, surge precisamente no período em que decorria uma

guerra civil, que perdurara até o ano de 2002, uma guerra que saiu fruto da própria

independência de angola em Novembro de 1975. Neste momento da guerra civil, angola era

um país devastado pela guerra civil que confrontava o Movimento Popular de Libertação de

Angola (MPLA) e a União Nacional para a Total Independência de Angola (UNITA).

Só para terminar, acho que este livro, através da narração de uma nação que lutou pela

independência bem como através de alguns relatos da personagem Lídia, mostra-nos como

este povo angolano sofreu com todos os acontecimentos gerados por este processo complexo.