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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título: Futsal e Coeducação: Driblando as desigualdades

Autor: Tânia Regina Hendges

Disciplina/Área Educação Física

Escola de Implementação do Projeto

Colégio Estadual Santo Agostinho

Município da escola Palotina

Núcleo Regional de Educação Toledo

Professor Orientador Dr. Gustavo André Borges

Instituição de Ensino Superior Unioeste

Relação interdisciplinar

Resumo Observa-se no cotidiano escolar que a composição das turmas mistas não garante a coeducação. Em muitas atividades desenvolvidas nas aulas de educação física, entre estas o futsal, meninos e meninas têm as práticas diferenciadas contribuindo para a construção da desigualdade entre os gêneros. Com o objetivo de discutir e refletir estas questões, esta unidade didática apresenta abordagens conceituais de gênero, como são construídas as relações de gênero e suas possíveis desconstruções, sua configuração na escola e nas aulas de educação física. Propõe encaminhamentos metodológicos na perspectiva coeducativa com intuito de que professores e alunos identifiquem as práticas sexistas e que possam minimizar e atenuar as desigualdades entre os gêneros.

Palavras-chave Gênero; Escola; Educação Física; Futsal; Coeducação

Formato do material didático Unidade Didática

Público Alvo 7° Ano

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Futsal, gênero e coeducação: um olhar diferente nas

aulas de Educação Física

APRESENTAÇÃO

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupa usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. (Fernando Pessoa)

A finalidade da produção Didático-Pedagógica é subsidiar teoricamente os

professores da rede estadual do ensino fundamental do estado do Paraná, tendo

como foco a questão da separação dos meninos e meninas nas aulas de educação

física, propondo uma prática igualitária para ambos, problematizando, refletindo e

questionando as desigualdades, o sexismo e os estereótipos em relação a ambos os

sexos.

Esta unidade didática apresenta abordagens conceituais de gênero, como

acontece sua construção social e sua possível desconstrução no contexto das aulas

de educação física. Aponta indicativos de como superar, minimizar e atenuar as

desigualdades encontradas entre meninos e meninas que permeiam alguns

conteúdos das aulas de educação física, fundamentalmente quanto ao conteúdo

esporte (Futsal).

Sugestões de atividades que serão aplicadas na implementação do projeto de

intervenção escolar constituem parte deste material e estão relacionadas ao conteúdo

“Futsal”, propondo a inserção da discussão e compreensão das questões de gênero,

a interação e a socialização de todos os alunos e alunas da turma, equacionando a

participação dos meninos e das meninas propiciando uma coeducação física.

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MATERIAL DIDÁTICO

(Des) Construindo o universo Azul e Rosa

Entender como se construíram as diferenças entre o masculino (azul) e o

feminino (rosa) é essencial para entendermos os estudos de gênero. As construções

do mundo masculino e do feminino estão diretamente relacionadas à construção e

consolidação de uma sociedade patriarcal.

Entende-se por sociedade patriarcal, aquela em que o poder na família está

centrado na figura do pai e, na sociedade, na figura do homem. Ela é responsável

pela construção das diferenças e desigualdades sociais entre homens e mulheres e

tem sido mantida por muitas gerações como naturais e imutáveis, inclusive com apoio

das próprias mulheres.

A dominação masculina atribui aos homens e mulheres papéis muito claros e

específicos na nossa sociedade. Observamos entre os homens a sua participação na

vida pública, na política, nos negócios, no trabalho, no lazer e na manutenção da

família. Entre as mulheres observamos sua participação na vida privada, como

esposa, como mãe e como dona de casa.

Com o passar dos tempos, as mulheres começaram a se organizar em busca

de direitos civis, de dignidade e igualdade entre os homens (escolarização, voto,

trabalho, salário, luta contra a violência doméstica, participação política, etc.). A

organização das mulheres em diferentes movimentos sociais e políticos em todo o

mundo resultaram em um movimento feminista nas sociedades ocidentais e, nesse

contexto, surgem os estudos sobre gênero na década de1970.

O termo gênero passa a ter uma definição, diferente daquela que separa o

masculino do feminino, mas que estão relacionados à construção social do feminino e

do masculino a partir das diferenças sexuais e das relações de poder.

Gênero pode ser entendido como sendo uma construção das relações sociais

fundamentadas nas diferenças sexuais que estabelecem uma relação de poder entre

homens e mulheres. Gênero, portanto, é entendido como uma categoria relacional,

permitindo a compreensão das relações sociais entre homens e mulheres, como

estas estão organizadas em diferentes culturas, sociedades e épocas. (SCOTT,

1995).

De acordo com a definição de Auad (2006):

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Gênero não é sinônimo de sexo (masculino e feminino). As relações de gênero correspondem ao conjunto de representações construídas em cada sociedade, ao longo de sua história, para atribuir significados, símbolos e diferenças para cada um dos sexos. (AUAD, 2006, p.21).

Portanto, as representações sociais, os comportamentos de homens e

mulheres, as suas atitudes e seus pensamentos são construídos, determinados e

moldados pela sociedade a que pertencemos e não pela biologia ou pela a carga

genética que cada um de nós herdou. Somos todos frutos de construções culturais

adotadas ao longo do tempo.

Se o comportamento psicossocial fosse exclusivamente a partir dos impulsos

biológicos, se as condutas referenciadas como masculinas ou femininas fossem

sempre naturais e espontâneas, não haveria necessidade de educar cuidadosamente

todos os aspectos que diferenciam homens das mulheres (MORENO, 1999). Não

haveria necessidade de vestir meninos de azul e meninas de rosa.

Comportamentos, atitudes e brincadeiras historicamente tidos como

masculinos ou femininos podem implicar em preconceitos e estereótipos tanto para os

meninos como para as meninas. Para uma menina que gosta de jogar futebol, precisa

ser mais agressiva ou competitiva, sendo muitas vezes estereotipada pelos colegas

como “machona”. Por outro lado, aqueles meninos que gostam de atividades

esportivas de menos contato física ou mais expressiva, como a dança, podem ser

chamados de “afeminados”. Se a cultura é quem influencia o comportamento, quem

produz e transforma esta cultura são os homens. (DAÓLIO, 2006). A cultura é

produzida pelo homem, ressignificada e transformada por ele.

O mundo da criança

A construção social do mundo da criança inicia no ventre materno onde são

criadas expectativas sociais para meninas e meninos, ou seja, as construções de

masculinidades e feminilidades. A descoberta do sexo do bebê durante a gravidez, já

permitirá uma diferenciação do que serão os meninos e as meninas no futuro. A

atribuição da cor azul e rosa usada no enxoval, os objetos e brinquedos caracterizam

e definem o que é normatizado como masculino e feminino.

Se for um menino, este já é identificado como um jogador de futebol e um dos

primeiros brinquedos que receberá será uma bola de futebol, uma camisa do time

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favorito do pai (não do time da mãe

universo destinado aos homens

Figura 1. Caracterização das brincadeiras de meninos no período préjoga futebol, b)

As meninas, por outro

objetos que simbolizam o universo feminino

brinquedos e brincadeiras que serão vivenciadas

destinados a meninas e a

atribuídos as universo feminino (Figura 2

Figura 2. Caracterização das brincadeirasmenina que dança ballet, b)

favorito do pai (não do time da mãe). Esses e outros brinquedos simboliza

universo destinado aos homens (Figura 1).

Figura 1. Caracterização das brincadeiras de meninos no período pré-escolarjoga futebol, b) menino que brinca de carrinhos. Arquivo pessoal

, por outro lado, são presenteadas com bonecas

o universo feminino. A família, desde o princípio,

brincadeiras que serão vivenciadas diferenciando

e aos meninos. Representações de atividades e brinqued

atribuídos as universo feminino (Figura 2).

Figura 2. Caracterização das brincadeiras e atividades de meninas no período prémenina que dança ballet, b) miniaturas de utensílios de cozinha para

pessoal.

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Esses e outros brinquedos simbolizam o

escolar: a) menino que . Arquivo pessoal.

presenteadas com bonecas, panelinhas,

princípio, influencia os

ndo os papéis sociais

Representações de atividades e brinquedos

de meninas no período pré-escolar: a) miniaturas de utensílios de cozinha para meninas. Arquivo

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Nascer menino ou menina corresponde a pertencer ao gênero masculino ou

feminino. Pertencer a um gênero prevê a negação e o distanciamento ao sexo oposto,

assim, os gêneros são percebidos pressupondo oposição e polaridade (AUAD, 2006).

O que está associado ao masculino é negado ou rejeitado ao feminino (figura 3).

Figura 3 – Caracterização de atividade feminina (ballet) e masculina (futebol). Arquivo pessoal.

A configuração de gênero na escola Quando meninos e meninas chegam à escola, já têm interiorizada a maioria dos padrões de conduta discriminatória. Mesmo que tenhamos escolas mistas e que meninos e meninas sentem-se ao redor das mesas, na hora do recreio os meninos jogam com meninos e as meninas com meninas. (MORENO, 1999, p.30).

O ponto de partida para o combate da desigual percepção sobre o masculino e

o feminino deve ser a escola, mesmo que as desigualdades encontradas não sejam

destruídas por completo, poderá contribuir para diminuí-las. (AUAD, 2006).

Elena Bellotti (apud AUAD, 2006) descreve as características de determinado

padrão acerca do masculino e do feminino e que podem estar presentes na escola

(FIGURA 4).

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Figura 4. Caracterização dos comportamentos sociais

Auad (2006) chama atenção a estas características,

podem reforçar estes estereótipos ao longo dos anos escolares.

A escola, fundamentalmente durante as aulas de educação física,

colaborar na mudança dessa realidade, refletindo, questionando as desigualdades de

gênero na busca da equidade, contribui

caso contrário continuará como reprodutora e produtora desses valores.

Até o presente o desenvolvimento

de que ainda é preciso desenvolvermos

a competição, a vitória, a superação

procura-se desenvolver meninas para a fragilidade e dependência, e prontas para

cooperação, o apoio aos homens

Nesse sentido, por muito tempo

iguais às dos meninos na escola

corporais sexistas

O futebol, até a década de 1980

realizada pelos homens,

inadequado ao corpo feminino

Os homens ainda dominam o universo esportivo, s

ocorreram, mas persistem

esportivas socialmente caracterizadas como masculinas

Meninos

agressivos

autônomos

seguros

solidários

com

meninos

. Caracterização dos comportamentos sociais atribuídos a meninos e meninas no ambiente escolar.

Auad (2006) chama atenção a estas características, pois

podem reforçar estes estereótipos ao longo dos anos escolares.

, fundamentalmente durante as aulas de educação física,

dessa realidade, refletindo, questionando as desigualdades de

a da equidade, contribuindo para a desconstrução

caso contrário continuará como reprodutora e produtora desses valores.

desenvolvimento das aulas de educação física

desenvolvermos homens fortes e viris, prontos para

a competição, a vitória, a superação e a sublimação. Durante as mesmas aulas,

se desenvolver meninas para a fragilidade e dependência, e prontas para

apoio aos homens, a docilidade, a sensualidade e a

or muito tempo as meninas foram segregadas das

na escola, atribuindo, dessa forma, à educação física práticas

té a década de 1980, era quase que exclusivamente prática

realizada pelos homens, pois era (ainda é) considerado um esporte violento,

feminino, considerado frágil. (DARIDO, 2007

Os homens ainda dominam o universo esportivo, significativas mudanças

persistem nos dias de hoje barreiras e segregações em modalidades

esportivas socialmente caracterizadas como masculinas, como é o caso do futebol

Meninos

dinâmicos

barulhentos

Meninas

dóceis

emotivas

pouco

solidárias

com as

colegas

tranquilas

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meninos e meninas no

pois muitos professores

, fundamentalmente durante as aulas de educação física, poderá

dessa realidade, refletindo, questionando as desigualdades de

para a desconstrução dos estereótipos,

caso contrário continuará como reprodutora e produtora desses valores.

de educação física invoca a ideia

, prontos para a disputa,

Durante as mesmas aulas,

se desenvolver meninas para a fragilidade e dependência, e prontas para

a sensualidade e a maternidade.

das práticas corporais

educação física práticas

era quase que exclusivamente prática

do um esporte violento,

2007).

ignificativas mudanças

barreiras e segregações em modalidades

, como é o caso do futebol

Meninas

disciplinadas

dependen-tes

emotivas

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feminino. Portanto, o futebol, é uma prática tida como masculina. Percebemos isto

quando realizamos um jogo misto em que meninos se sentem superiores às meninas,

tendo atitudes e linguagens sexistas que permeiam este esporte.

Algumas frases ditas pelos meninos parecem marca registrada, como exemplo

“futebol é coisa de homem”, “vôlei é coisa de meninas”, “elas não sabem jogar”,

portanto “não devem jogar”, “só atrapalham”. Comentários que afirmam e reforçam os

e estereótipos e os preconceitos na participação das meninas na prática do futebol,

generificando as atividades atribuídas ao sexo masculino e ao sexo feminino. São

comentários, frases, atitudes que consideram a necessidade de discutir, questionar e

problematizar essas questões que perpassam as aulas de educação física.

Há aproximadamente duas décadas o discurso das práticas corporais vem

mudando. A constituição de turmas mistas ajudou a mudar o panorama das aulas de

educação física, mas a mistura de meninos e meninas não foi suficiente para igualar

as práticas e as vivências corporais entre eles/as. Ainda hoje é possível encontrarmos

em grande parte das aulas, meninos e meninas separados por atividades,

estimulando a prática de determinadas modalidades a um dos sexos e

automaticamente desestimulando o outro, com relevância o caso do futebol na

maioria das escolas o futsal.

As possíveis justificativas usadas para esta separação são as diferenças

percebidas entre meninos e meninas nas suas habilidades e capacidades motoras.

Sejam quais forem estas habilidades e capacidades não podem impedir o acesso ou

a vivência dos esportes, da dança, da ginástica, das lutas e das brincadeiras. As

atividades desenvolvidas nas aulas não podem se transformar em desigualdades

entre eles/as. Meninas e meninos devem ter as mesmas oportunidades e direitos de

participação no desenvolvimento das aulas.

Os estudos apontam a importância de propiciar uma educação física com

práticas mais igualitárias, privilegiando, tanto os meninos como as meninas.

Uma educação voltada para a formação humana, para um sujeito reflexivo e

crítico deve proporcionar a todos vivências que oportunizem a quebra de preconceitos

e estereótipos de gênero, entre outros. A busca da igualdade entre os gêneros é a

busca de uma sociedade democrática.

Uma sociedade que busca ser democrática fere seus princípios básicos

quando permite que aconteçam desigualdades entre os gêneros. (AUAD, 2004). A

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coeducação pode ser um dos caminhos para a igualdade de oportunidades entre os

gêneros.

Coeducação física: todos podem participar, todos podem jogar

O uso do termo “coeducação” tem um significado muito diferente do de aulas

mistas. Aulas mistas não garantem a coeducação, pois podem oferecer oportunidades

diferentes aos alunos que participam juntos, sem que a coeducação esteja presente.

Aulas coeducativas, ao contrário, garantem as mesmas oportunidades, as mesmas

vivências a todos os alunos e alunas da turma.

Para Saraiva (2005), a coeducação suscita a necessidade de equidade de

oportunidades para os alunos e alunas permitindo que as diferenças apresentadas

sejam discutidas e vivenciadas, promovendo a equidade entre os gêneros. Alguns

princípios de aulas coeducativas sugeridos pela autora podem ser adotados nas aulas

de educação física, como por exemplo:

� O favorecimento da prática conjunta entre meninos e meninas;

� O mesmo tratamento aos alunos e alunas;

� As mesmas exigências em relação a meninos e meninas nas atividades realizadas pelo professor;

� As discussões de problemas ocorridos durante a aula podem contribuir para aulas coeducativas.

Para que ocorra uma educação física escolar coeducativa é necessário

repensar o entendimento da educação física escolar e seus objetivos, entendendo o

corpo como uma construção social, também constituído pelas relações de gênero.

(CORSINO; AUAD, 2012).

Educar pessoas não é uma simplesmente uma técnica que é amparada

cientificamente, para Auad

[...]apenas meninas, meninos, homens e mulheres podem ser educados. Educar homens e mulheres, para uma sociedade democrática e igualitária, requer reflexão coletiva, dinâmica e permanente. (AUAD, 2006, p. 14).

Nesse sentido, destaca-se a importância da escola e do professor no

planejamento de suas ações proporcionando reflexões e discussões sobre as

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construções históricas e as diferentes maneiras de perceber o masculino e o feminino

nos diversos espaços sociais.

ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

Misturando Azul e Rosa: sugestão de como iniciar um debate sobre gênero

entre meninos e meninas na escola

Figura 5. Caracterização das brincadeiras de meninos que também são adotadas por meninas. Arquivo pessoal.

Uma sugestão de atividade que o professor poderá desenvolver é um

diagnóstico com os alunos de 7° ano em sala de aula, sobre a existência de

preconceitos e/ou sexismos que permeiam a sociedade brasileira e regional, e que

também podem se manifestar nas aulas de educação física.

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Nesse sentido, o professor deverá estimular uma enquete entre os alunos,

sobre as percepções pessoais relacionadas ao gênero; os preconceitos que envolvem

o gênero; o sexismo presente na sociedade; os esportes e atividades físicas

generificadas.

Assim, o professor deverá coletar informações de quais comportamentos

sociais são idealizados como masculinas e femininas; questionando quais

brincadeiras e esportes são considerados de meninos e meninas, as profissões dos

homens e mulheres; as cores que representam os sexos; quem é mais forte,

competente, vencedor, etc., além de outras questões que resultam nas construções

sociais dos papéis masculinos e femininos. Esta atividade é imprescindível no início

da proposta de intervenção prática, para que as questões possam ser percebidas,

problematizadas e discutidas entre todos os alunos.

O próximo passo é a realização de uma dinâmica sobre as diferenças entre

meninos e meninas. Por exemplo, em uma folha de papel sulfite, cada aluno irá se

desenhar (corpo inteiro). Em seguida, cada um deverá recortar (podendo utilizar as

mãos) seu desenho de maneira que na folha de papel sulfite fique um molde do seu

desenho. Deste modo teremos duas partes a folha e o desenho, o seu desenho

deverá encaixar na folha. A seguir o professor coordena a troca de desenhos com os

colegas, e estes tentarão encaixar o seu desenho em outro molde. Faça várias trocas,

para que eles verifiquem que nenhum desenho se encaixará e então discuta com eles

o porquê das diferenças, e anote as respostas deles.

Enfatize que as diferenças percebidas nesta atividade estão presentes nas

aulas de educação física, mas que as oportunidades e os direitos devem ser

estendidos a todos, que o respeito às diferenças é fundamental para o bom

relacionamento e convívio de todos.

O cinema nas aulas de Educação Física é um ótimo recurso a ser utilizado,

pois com o uso de filmes podemos recorrer à ficção para encaminhamento da

problematização ilustrando as questões, reflexões e discussões relacionando-as com

o gênero. O filme sugerido permite discussões da participação das meninas no

esporte futebol, a segregação das mulheres, a não aceitação da prática feminina. O

filme “Ela é o cara” (She’s the Man, Andy Fickman, 2006, Estados Unidos, 104 min.) é

um dos mais interessantes sobre a discussão desse tema. Nessa comédia romântica,

uma garota apaixonada por futebol não aceita que sua equipe feminina de futebol seja

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dispensada por falta de participantes e procura o treinador para se unirem ao time

masculino pedindo apoio ao namorado.

Esta personagem, que também é jogador de futebol, demonstra preconceito

quanto à prática do futebol feminino e não a apóia. Inconformada, com ajuda de

amigas, ela decide se passar pelo seu irmão e conquistar uma vaga no time futebol

da escola que o irmão estuda. Assume o papel dele e passa a viver como um rapaz

durante 15 dias. Este filme é interessante para discutir com os alunos/as os

estereótipos observados entre rapazes e moças, os comportamentos socialmente

aceitos pela sociedade em que vivem, a discussão sobre as habilidades esportivas

entre rapazes e moças e o sexismo presente no esporte e no futebol.

Mas o grande desafio é incorporar as reflexões e discussões nas vivências

práticas do futsal, pois essa tem sido uma das atividades esportivas mais

desenvolvidas nas aulas de educação física. Uma perspectiva metodológica

coeducativa sugere que as oportunidades de participação sejam proporcionadas aos

meninos e meninas de forma igualitária, respeitando as diferenças e minimizando as

desigualdades.

Algumas sugestões de encaminhamentos metodológicos em que o professor

poderá utilizar jogos de futsal com regras adaptadas, segundo Darido (2007),

� determinar um tempo só para as meninas conduzirem a bola sendo que

os meninos devem tocar na bola uma única vez (“toque de primeira”);

� a finalização deverá ser executada por alguém do sexo oposto que

realizou o passe;

� só serão válidos os gols alternados entre os sexos - para cada gol

feminino, o próximo deverá ser masculino.

Também, sugere-se oportunizar a participação dos alunos/as nas adaptações e

definições de regras, atividades e jogos que auxiliam na melhora e aprendizados dos

fundamentos também são indicados com o objetivo possibilitar as mesmas vivências

aos meninos e meninas.

A atenção voltada à separação das equipes, o cuidado com o uso de

linguagem sexista o mesmo privilégio para meninos e meninas são medidas

coeducativas que visam igualdade de gênero.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos: relações de gênero na escola. São Paulo: Contexto, 2006.

AUAD, Daniela. Relações de gênero nas práticas escolares e a construção de um projeto de co-educação. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – ANPED, n. 27, 2004, Caxambu. Anais. Rio de Janeiro: ANPED, 2004. p.1-17. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/27/ge23/t233>. Acesso em: 04, set., 2012.

CORSINO, Luciano Nascimento; AUAD, Daniela. O professor diante das relações de gênero na educação física escolar. São Paulo: Contexto, 2012.

DAÓLIO, Jocimar. Cultura: educação física e futebol. 3ed. Campinas: Unicamp, 2006.

DARIDO, Suraya Cristina; SOUZA JÙNIOR, Osmar Moreira. Para ensinar a educação física: Possibilidade de intervenção na escola. Campinas: Papirus, 2007.

MORENO, Montserrat. Como se ensina a ser menina: o sexismo na escola. São Paulo: Moderna, 1999.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, v.20, n.2, p. 71-95, 1995.

SARAIVA Maria do Carmo. Co-educação física e esportes: quando a diferença é mito. 2ed. Ijuí: Unijuí; 2005.

FILME

ELA É O CARA (She’s the Man). Diretor Andy Fickman, Produtores Ewan Leslie. Jack Leslie, Laurem Schuler Donner. EUA, Produtora Imagens Filme, 2006. DVD. Sonorização Nathan Wang, colorido, duração 105 min, classificação livre.

LEITURAS SUGERIDAS

AUAD, Daniela. Educação para a democracia e coeducação: apontamentos a partir da categoria de gênero. Revista USP, n. 56, p. 136-143, 2003.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 10ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

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SOUSA, Eustáquia Salvadora de; ALTMANN, Helena. Meninos e meninas: expectativas corporais e implicações para a educação física escolar. Cadernos Cedes, v.19, n. 48, p. 52- 68, 1999

SOUZA JÚNIOR, Osmar Moreira de; DARIDO, Suraya Cristina. A prática do futebol feminino no ensino fundamental. Motriz, v.8, n.1, p.1- 9, 2002.