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Fichamento REFERÊNCIAS: SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Objeto da Ética. In: Adolfo Sanchez Vazquez. Ética. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2003. Resumo: Abordagem acerca da ética enquanto ciência que analisa o comportamento moral. A moral é concebida como uma forma de comportamento humano que se encontra em todos os tempos e todas as sociedades, isto é, uma forma específica do comportamento humano, cujos agentes só agem moralmente quando em sociedade. Assim, a moral é objeto de estudo da ética cujo objetivo é explicar, esclarecer ou investigar este tipo de experiência humana. O artigo encerra aproximando a ética da filosofia e demais ciências humanas que teria grande interlocução. Citações: “ Por ser a moral uma forma de comportamento humano que se encontra em todos os tempos, em todas as sociedades, partimos do critério de que é preciso considerá-la em toda a sua diversidade, fixando embora a nossa atenção, de maneira especial, em suas manifestações atuais” (p. 9). “Por conseguinte, este livro pretende abordar a moral como uma forma específica de comportamento humano, cujos agentes são os indivíduos concretos, indivíduos, porém, que só agem moralmente quando em sociedae, dado que a moral existe necessariamente para cumprir essa função social” (p. 10) “ (...) o ato moral exige a sua decisão livre e consciente, assumida por uma convicção interior e não por uma atitude exterior e impessoal” (p. 10). “ Trata-se de estudar o que a moral é em sua essência, como empreendimento individual e social, porque somente assim, com base neste estudo, se podem por em evidência os linearamentos de uma nova moral: aquela que, de acordo com as necessidades e

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Fichamento

REFERÊNCIAS: SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Objeto da Ética. In: Adolfo Sanchez Vazquez. Ética. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 2003.

Resumo: Abordagem acerca da ética enquanto ciência que analisa o comportamento moral. A moral é concebida como uma forma de comportamento humano que se encontra em todos os tempos e todas as sociedades, isto é, uma forma específica do comportamento humano, cujos agentes só agem moralmente quando em sociedade. Assim, a moral é objeto de estudo da ética cujo objetivo é explicar, esclarecer ou investigar este tipo de experiência humana. O artigo encerra aproximando a ética da filosofia e demais ciências humanas que teria grande interlocução.

Citações:

“ Por ser a moral uma forma de comportamento humano que se encontra em todos os tempos, em todas as sociedades, partimos do critério de que é preciso considerá-la em toda a sua diversidade, fixando embora a nossa atenção, de maneira especial, em suas manifestações atuais” (p. 9).

“Por conseguinte, este livro pretende abordar a moral como uma forma específica de comportamento humano, cujos agentes são os indivíduos concretos, indivíduos, porém, que só agem moralmente quando em sociedae, dado que a moral

existe necessariamente para cumprir essa função social” (p. 10)

“ (...) o ato moral exige a sua decisão livre e consciente, assumida por uma convicção interior e não por uma atitude exterior e impessoal” (p. 10).

“ Trata-se de estudar o que a moral é em sua essência, como empreendimento individual e social, porque somente assim, com base neste estudo, se podem por em evidência os linearamentos de uma nova moral: aquela que, de acordo com as necessidades e possibilidades de nosso tempo, contribua para aproximar o homem atual de uma moral verdadeiramente humana e universal” (p.10).

“ (...) os indivíduos se defrontam com a necesidade de pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Estas normas são aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatórias: de acordo com elas, os indivíduos compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira” (p. 16).

“ (...) o comportamento humano prático-moral, ainda que sujeito a variação de uma época para a outra de uma sociedade para outra, remonta até as próprias origens do homem como ser social” (p. 17).

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“Os homens não só agem moralmente (...), mas também refletem sobre esse comportamento prático e o tomam como objeto de sua reflexão e de seu pensamento. Dá-se assim a passagem do plano da prática moral para o da teoria moral” (p.17).

“O problema do que fazer em

cada situação concreta é um problema prático-moral e não teórico-ético. Ao contrário, definir o que é bom não é um problema moral cuja solução caiba ao indivíduo em cada caso particular, mas um problema geral de caráter teórico, de competência do investigador da moral, ou seja, do ético” (p.17-18).

“O problema da essência do ato moral envia a outro problema importantíssimo: o da responsabilidade. É possível falar em comportamento moral somente quando o sujeiro que assim se comporta é responsável pelos seus atos, mas isto, por sua vez, envolve o pressuposto de que pôde fazer o que queria fazer, ou seje, de que pôde escolher entre duas ou mais alternativas, e agir de acordo com a decisão tomada.” (p. 18)

“Decidir agir numa situação concreta é um problema prático-moral, mas investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com a liberdade e com o determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos é um problema teórico, cujo estudo é competência da ética” (p. 18-19).

“(...) a ética revela uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e os interesses sociais, ela nos ajudará a situar no devido lugar a moral efetiva, real, de um grupo social que tem a pretensão de que seus princípios e suas normas tenham validade universal, sem levar em conta necessidades e interesses concretos” (p.20)

“(...) a função fundamental da ética é a mesma de

toda teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes.” (p.20)

“A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerando porém na sua totalidade, diversidade e variedade” (p. 21).

“Este comportamento [moral] se apresenta como forma de comportamento humano, como um fato, e cabe á ética explicá-lo, tomando a prática moral da humanidade em seu conjunto como objeto de sua reflexão” (p.21)

“A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais” (p. 22).

“A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano” (p. 23)

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“A ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera de comportamento humano” (p. 23).

“A moral não é ciência, mas objeto da ciência; e, neste sentido, é por ela estudada e investigada” (p. 24).

“(...) moral vem do latim mos ou mores,

‘costume’ ou ‘costumes’, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. A moral se refere, assim, ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem. Ética vem do grego ethos, que significa analogamente ‘modo de ser’ ou ‘caráter’ enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada pelo homem. Assim, portanto, originalmente ethos e mos, ‘caráter’ e ‘costume’, assentam-se num modo de comportamento que não corresponde a uma disposição natual, mas que é adquirido ou conquistado por hábito. É precisamente esse caráter não natural da maneira de ser do homem que, na Antiguidade, lhe confere sua dimensão moral” (p. 24)

“Uma ética científica pressupôes necessariamente uma concepção filosófica imanentista e racionalista do mundo e do homem, no qual se eliminem instâncias ou fatores extramundanos ou super-humanos e irracionais. [...] A ética científica deve apoiar-se numa filosofia estreitamente relacionada com as ciências, e não numa filosofia especulativa, divorciada delas, que pretenda deduzir de princípios absolutos a solução dos problemas éticos’ (p. 27-28).

“(...) o comportamento moral não é a manifestação de uma natureza humana eterna e imutável, dada de uma vez para sempre, mas de uma natureza que está sempre sujeita ao processo de transformação que constitui precisamente a história da humanidade” (p. 28).

“(...) a ética se relaciona

estreitamente com as ciências do homem, ou ciências sociais, dado que o comportamento moral não é outra coisa senão uma forma específica do comportamento do homem, que se manifesta em diversos planos: psicológico, social, prático-utilitário, jurídico, religioso ou estético. Mas a relação da ética com outras ciências humanas ou sociais, baseada na íntima relação das diferentes formas de comportamento humano, não nos deve fazer esquecer o seu objeto específico, próprio, enquanto ciência do comportamento moral”. (p. 34)

Comentários:

O autor demonstra a influência do pensamento platônico em seu artigo ao estabelecer a moral como uma categoria universal e inata ao ser humano. Este pensamento imanentista entende que existe um bem em si e que é da natureza do homem ser bom. Essa tradição filosófica é a mesma em que Kant constrói o seu conceito de imperativo-categórico no qual afirma que os valores humanos estão acima de qualquer forma de poder, interesse ou coerção.

Nessa perspectiva, os seres humanos têm “um valor intrínseco, isto é, o comportamento moral”, porque são agentes racionais, ou seja, agentes livres com capacidade para tomar as

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suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objectivos e guiar a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei moral é a lei da razão, os seres racionais são a encarnação da lei moral em si. A única forma de a bondade moral

poder existir é as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e, agindo a partir de um sentido de dever, fazê-lo. Uma concepção muito semlhante às obras de Immanuel Kant.

Apesar de admitir que nossas ações são, na maioria das vezes, senão sempre, interessadas porque conforme nossas inclinações, Sanchez Vazquez estabelece as condições que regulam a moralidade de nossas ações. Ele aborda a moral como objeto da ética, estabelecendo valores e juízos como dados que portam neles mesmos a legitimação de uma teoria.

Nietzsche, em seu livro A Genealogia da Moral, critica essa abordagem ao dizer que “não existe moral que não esteja enraizada numa compreensão metafísica do homem” (NIETZSCHE, 2007, p. 23).

A abordagem do perspectivismo nietzscheano parece fornecer uma variedade de ferramentas operativas maiores no que tange às categorias ética e moral do que as utilizadas pelo autor do presente artigo.

Ideação:

* Contrapor a teoria imanentista ao perspectivismos nietzscheano para construir o conceito de ética e moral.

* Investigar o conceito de genealogia da moral e provocar um embate entre seus métodos e os propostos por Sanchez Vazquez.

* Utilizar a leitura da obra de Pierre Clastre, A sociedade contra o Estado, de 1974, para exemplificar que o conceito de moral utilizado não pode ser concebido como um imperativo categórico universal.