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FICHAMENTO 1 Novos horizontes no ensino de Língua Portuguesa: A formação do professor e o livro didático SILVA. M. B. Novos horizontes no ensino de Língua Portuguesa: A formação do professor e o livro didático. In: MENDES. E; CASTRO. M. L. S. (org.). Saberes em Português: ensino e formação docente. Campinas: Pontes Editores, 2008 (p. 161- 185). “Um novo horizonte se antevê na educação brasileira, que começa no ensino fundamental e seguramente se refletirá pelos outros níveis do ensino, resultado não só do avanço da ciência, mas da luta política que se travou desde a segunda metade do século XX por uma renovação de valores mais libertários. Começa a se implementar desde o final do século um projeto de ensino que colhe os frutos desse empenho, ainda insuficientes, mas possíveis.” (p. 161). [As ideias da reforma educacional brasileira do século XX, pós-ditadura, vem em contrapartida ao modelo educacional positivista e seriado (referência ao modelo fordista de produção); os efeitos dessa reforma ainda são “poucos”, a partir de um prisma imediatista, mas são produtores de uma grande mudança no panorama pedagógico nacional.] 1 Fichamento produzido por Santiago Bretanha, Silvia Helena Calcagno e Virgínia Caetano para a disciplina de Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa II, do Curso de Letras na Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Ida Maria Marins; semestre 2015-1.

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FICHAMENTO1

Novos horizontes no ensino de Língua Portuguesa: A formação do professor e o livro didático

SILVA. M. B. Novos horizontes no ensino de Língua Portuguesa: A formação do professor e

o livro didático. In: MENDES. E; CASTRO. M. L. S. (org.). Saberes em Português: ensino e

formação docente. Campinas: Pontes Editores, 2008 (p. 161- 185).

“Um novo horizonte se antevê na educação brasileira, que começa no ensino fundamental e

seguramente se refletirá pelos outros níveis do ensino, resultado não só do avanço da ciência,

mas da luta política que se travou desde a segunda metade do século XX por uma renovação

de valores mais libertários. Começa a se implementar desde o final do século um projeto de

ensino que colhe os frutos desse empenho, ainda insuficientes, mas possíveis.” (p. 161).

[As ideias da reforma educacional brasileira do século XX, pós-ditadura, vem em

contrapartida ao modelo educacional positivista e seriado (referência ao modelo fordista de

produção); os efeitos dessa reforma ainda são “poucos”, a partir de um prisma imediatista,

mas são produtores de uma grande mudança no panorama pedagógico nacional.]

“A insatisfação dos recém-chegados ao Curso de Letras é natural. Em sua maioria são jovens

desinformados inclusive da amplitude do curso que escolheram. Entre outras razões, nem

sempre o interesse pelas letras é genuíno, nem sempre as motivações que os levaram até ali

incluem a formação de professores. Uns lá chegaram efetivamente porque querem ser ou já

são professores, mas outros porque já escrevem poesias, contos, etc. e desejam estudar

literatura; outros porque querem estudar uma língua estrangeira – na maioria das vezes, inglês

–, e assim por diante. Em qualquer dos casos ficam surpresos com a rede curricular que têm

em frente, às vezes até decepcionados.” (p. 162).

[Um dos casos alarmantes no processo de expansão das universidades brasileiras é a evasão

nos cursos de graduação. Uma das causas que me parecem mais cabíveis ao contexto do curso

de Letras é o de alienamento dos discentes em relação à realidade acadêmica; se esse

fenômeno é resultado da formação básica, não se pode precisar ao certo, mas, o certo é que se

faz mister uma formação política e histórica dentre os futuros/atuais discentes para que se

1 Fichamento produzido por Santiago Bretanha, Silvia Helena Calcagno e Virgínia Caetano para a disciplina de Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa II, do Curso de Letras na Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Ida Maria Marins; semestre 2015-1.

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resolvam boa parte das demandas referentes à conscientização dos graduandos, em específico

aos futuros licenciados, acerca da responsabilidade social da área da educação.]

“Todos apontam a má formação dos professores como uma das causas mais importantes –

senão a mais importante – do fracasso da escola pública e até da escola privada, pela pouca

desenvoltura na fala e na escrita dos jovens. Frequentemente os acusam de não dominar os

conteúdos e as habilidades que irá ensinar (a leitura, a escrita, a norma culta, a gramática da

língua), e remetem como solução o ensino dessas práticas na universidade.” (p. 162-163).

[As informações apresentadas acima refletem duas questões: primeiro, a tomada genérica da

problemática do fracasso escolar; segundo, a superficialidade da sociedade em tratar o

fenômeno linguístico. Sobre a primeira questão, antes de tudo, para que se possa compreender

de maneira holística a problemática do fracasso na rede básica de ensino, é preciso ver todo o

sistema simbólico abstrato por detrás das organizações, ou seja, olhar o todo para que se possa

julgar plenamente tal fato, não esquecendo da premissa básica de busca de uma solução.

Acerca da segunda questão, vemos a banalização do objeto linguístico, o reduzindo a um

apanhado de normas e técnicas gramatico-ortográficas, marginalizando o uso e as variedades

linguísticas. Silva problematiza o ensino de práticas de linguagem nas universidades, mas, no

mínimo, me parece simplista crer que uma disciplina de um ou dois semestres pode sanar um

déficit de doze anos de formação escolar.]

“O problema de formação dos professores tem presentemente duas faces: o da reciclagem do

seu corpo docente e da formação dos novos profissionais.” (p.164).

[A problemática, tão em voga, da desatualização dos profissionais da educação parece ser

solucionável, principalmente sob o prisma das massas, por meio da reciclagem do corpo

docente e pela formação “decente” dos novos docentes. Como toda opinião de massa, tais

assertivas são infundadas; focalizar nessas duas medidas é simplificar o problema: mesmo que

tenha um profissional “qualificado” em classe, quais os recursos financeiros, de logística, por

exemplo, que serão ofertados para que esse possa desempenhar suas atividades?]

“No primeiro caso, situam-se os muitos cursos de atualização, especialização hoje em

funcionamento e a exigência do MEC de formação universitária para todos os professores do

ensino fundamental, estabelecia por sugestão de um grupo de trabalho constituído por

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professores e intelectuais dos mais renomado, formado nos oitenta para discutir a questão.”

(p.164).

[A formação continuada surge como uma grande aliada da “reciclagem” do corpo docente da

rede básica de ensino, mas, me parece pertinente levantar uma problemática: qual a qualidade

dessa formação? É evidente, atualmente, a mercantilização da formação profissional, onde os

certificados são mina de ouro para a “passagem de classe”; junto a esse momento, aparecem

também os mercados academicistas, empresas e empresas disfarçadas que em prol de uma

miraculosa cura da “desinformação” vendem seus cursos de atualização... 120h, 240h são as

suas carga-horárias, porém, e a sua qualidade?]

“No segundo caso, da formação de novos profissionais, cabe aos cursos universitários

formadores da nova geração de professores a tarefa de atualizarem o seu currículo para

atenderem às necessidades nacionais reais sem abrir mão de constituírem o espaço de

pesquisa, da reflexão e da formação de novos pensadores.” (p.165). [grifo do autor]

[Em referência ao que foi elencado por Silva, é interessante refletir acerca da atualização dos

currículos universitários, a “tecnificação” dos cursos de graduação e as reais reverberações

dos programas de expansão universitária a nível federal. Ao que parece, em um

entrecruzamento entre essas temáticas, está o esvaziamento do sentido da real formação

acadêmica; cada vez mais se forma técnicos da educação para a aplicação dos planos

nacionais descritos pelos documentos oficiais e pelos livros didáticos, e cada vez menos se

problematiza a formação reflexiva dos sujeitos e a constituição de uma sociedade científica,

ou seja, ao invés de pensadores, hoje, as universidades “formam” aplicadores passivos de

conceitos pré-estabelecidos.]

“Assumindo esse novo objetivo, o de estimular a “expansão das possibilidades do uso da

linguagem”, a escola estará admitindo – que o aluno já chega à escola com um uso válido da

sua língua, qualquer que seja o seu dialeto do mesmo modo que é aceito o uso infantil, e que é

desse ponto que ele deverá partir para ampliar suas possibilidades comunicativas.” (p.166).

[grifo do autor]

[É possível depreender, a partir da assertiva acima disposta, que mesmo tímida, as reflexões

teóricas começam a impactar a educação básica, principalmente na quebra dos pré-conceitos

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ultrapassados acerca do fenômeno linguístico e do preconceito sobre as variantes

desprestigiadas socialmente: validar a língua do aluno é dizer-lhe que a língua portuguesa é a

sua língua, e que um dos objetivos da disciplina escolar é o de refletir essa na sociedade, em

toda a sua amplitude; a metalinguagem é uma questão de reflexão do ser sobre si mesmo, base

de uma aprendizagem significativa.]

“Dentro desse novo quadro de expectativas em relação ao trabalho escolar, impôs-se a revisão

do livro didático (LD), para ajustá-lo aos novos objetivos. Não seria cabível a aquisição, pelo

Governo, de livros que constituíssem uma contradição com os parâmetros que ele mesmo

propôs para orientar a educação do país.” (p.168).

[O livro didático surge como um dos principais meios de instrumentalização dos professores

da rede, visando que esses últimos cumpram as premissas balizadas pelo Governo Federal. Se

faz lógico pensar a necessidade de regulamentação e revisão dos livros didáticos, primeiro

para que se preze pela qualidade dos materiais que chegam às mãos das escolas e, segundo,

como Silva (2008) salienta: “os melhores desses livros explicam na introdução as teses que os

orientam, de modo que podem atuar como provocadores, como divulgadores dos novos

parâmetros curriculares, e, espera-se, que possam agir positivamente na formação do

professor.” (p.170).]

“Pior que escolher mal é usar mal o livro. Uma boa escolha, aliás, depende da formação do

professor e da sua capacidade de avaliar-se, isto é, de reconhecer o livro que é capaz de

aplicar. É melhor que o professor use um livro tradicional cujas práticas domine do que outro

cujos objetivos e atividades sugeridas não compreende.” (p.172).

[Mesmo que a revisão da qualidade dos livros didáticos pelos órgãos competentes do governo

federal, é imprescindível que os professores sejam conscientes e instrumentalizados para

criticar tais objetos de aprendizagem. Acima de tudo, se prezamos por uma educação

libertadora, é preciso que haja autonomia tanto dos educandos quanto, e principalmente, por

parte dos educadores.]

“Ademais, pelo sucesso que fazem os programas de televisão que contratam professores

tradicionais para o exercício de correção de frases, permanece na sociedade a convicção de

que o ensino fundamental deve ter como objetivo ensinar a falar e escrever segundo as regras

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da Gramática Normativa. Ela ainda está persuadida de que é pelo conhecimento da análise

gramatical que se aprende a ler, escrever e falar. Para ela, por conseguinte, o objetivo do

ensino de Língua Portuguesa é ainda o saber gramatical: o que está certo e o que está errado, a

nomenclatura gramatical, a análise morfológica e a sintática tal qual a apresenta a Gramática

Pedagógica.” (p.174).

[A partir do que compreendemos do excerto acima, é possível depreender o papel

fundamental da mídia como fomentadora da “descapacitação” do profissional da educação,

assim como tem papel fundamental na manutenção dos preconceitos linguísticos e acerca do

próprio ensino de língua portuguesa. Se pensarmos a mídia como ferramenta de manipulação

do sistema capitalista, é lógica a relação desta com tais processos, visto a possibilidade de

lucro com tais demandas “imaginárias”.]

“Adaptar-se a um novo olhar sobre a língua, aos novos objetivos educacionais, aos novos

valores sociais, às novas técnicas pedagógicas é ainda uma empresa difícil para os alunos de

Letras – que formulam, na sua experiência escolar, conceitos sobre a língua e sobre o ensino

–, para os professores educados nas crenças do passado, para os autores dos livros didáticos,

também assim formados. Portanto, o reflexo dos PCN sobre os professores, sobre o livro,

sobre a escola, sobre a sociedade terá de ser gradual. Não há milagres por fazer, há um

processo a se desenvolver.” (p.185).

[A citação acima despensa comentários; talvez o que seja possível salientar seja a lógica de

que o processo de implementação dos “ideais” dos PCNs se dá de forma gradual, porém, se

compararmos a educação atual com a de quarenta anos antes, observaremos a tênue evolução

dos paradigmas, principalmente no acesso das camadas sociais mais baixas ao sistema

educacional.]