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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM – MESTRADO TEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS: POESIA DOCENTE: PROF.ª DRA. CÉLIA MARIA DOMINGUES DA ROCHA REIS DISCENTE: SANDRA LEITE DOS SANTOS FICHAMENTO DO TEXTO: POESIA E PENSAMENTO ABSTRATO VALÉRY, Paul. Poesia e pensamento abstrato. In: Variedades. São Paulo: Iluminuras, 1999. P.193-210. PÁGINAS CITAÇÕES CITAÇÕES 193 “Freqüentemente opõe- se a idéia de “Poesia à de Pensamento Abstrato” como se fala no Bem e no Mal, Vício e Virtude, Calor e Frio”. “Se encontramos profundidade em um poeta, essa profundidade parece ter uma natureza completamente diferente de um filósofo ou um sábio”. “Alguns chegam a pensar que a meditação sobre sua arte, [...] só pode perder um poeta, já que o principal [...] desejo deve ser comunicar a impressão de um estado nascente de emoção criadora que, [...] possa subtrair O autor inicia o texto apresentando- nos, algumas antíteses, que servem para ilustrar a oposição entre a “Poesia e o Pensamento Abstrato”, deixando claro que muitas vezes somos levados a pensar que a poesia e pensamento abstrato não podem Caminhar juntos em poema. Assim, faz se acreditar que um poeta não possa construir um texto (poesia) que possa conter algum tipo de reflexão. Mas isso é uma idéia errônea, porque o pensamento abstrato, que nada mais é que apresentação de idéias ou conceitos, presente em algumas produções poéticas. Podem oferecer sim

Fichamento Paul Valéry- Poesia e Pensamento Abstrato

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSOINSTITUTO DE LINGUAGENS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM – MESTRADOTEORIA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS: POESIA

DOCENTE: PROF.ª DRA. CÉLIA MARIA DOMINGUES DA ROCHA REISDISCENTE: SANDRA LEITE DOS SANTOS

FICHAMENTO DO TEXTO: POESIA E PENSAMENTO ABSTRATO

VALÉRY, Paul. Poesia e pensamento abstrato. In: Variedades. São Paulo: Iluminuras, 1999. P.193-210.

PÁGINAS CITAÇÕES CITAÇÕES

193

“Freqüentemente opõe-se a idéia de “Poesia à de Pensamento Abstrato” como se fala no Bem e no Mal, Vício e Virtude, Calor e Frio”.

“Se encontramos profundidade em um poeta, essa profundidade parece ter uma natureza completamente diferente de um filósofo ou um sábio”.

“Alguns chegam a pensar que a meditação sobre sua arte, [...] só pode perder um poeta, já que o principal [...] desejo deve ser comunicar a impressão de um estado nascente de emoção criadora que, [...] possa subtrair indefinidamente o poema de toda reflexão posterior”.

O autor inicia o texto apresentando-nos, algumas antíteses, que servem para ilustrar a oposição entre a “Poesia e o Pensamento Abstrato”, deixando claro que muitas vezes somos levados a pensar que a poesia e pensamento abstrato não podem Caminhar juntos em poema. Assim, faz se acreditar que um poeta não possa construir um texto (poesia) que possa conter algum tipo de reflexão. Mas isso é uma idéia errônea, porque o pensamento abstrato, que nada mais é que apresentação de idéias ou conceitos, presente em algumas produções poéticas. Podem oferecer sim reflexões valiosas. Tomamos como exemplo o poema Rios Sem Discurso, de João Cabral de Melo Neto, em seu poema ele usa o “rio” como metáfora da “palavra”, e versa sobre o que acontece quando um rio é cortado, represado ou se torna poço. Aqui a reflexão é feita em torno da palavra em situação dicionária, ou seja, a palavra isolada, sem seus demais companheiros lexicais, itens da sintaxe, que formam uma sentença. Assim como o rio cortado uma palavra sozinha não pode estabelecer uma comunicação, necessitando

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então de todos os elementos que compõem a sintaxe para se fazer compreender.

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“Em qualquer questão, e antes de qualquer exame sobre o conteúdo, olho para linguagem; tenho o costume de agir como os médicos que purificam suas mãos [...]. É o que chamo de limpeza da situação verbal”.

O autor fala sobre a questão da linguagem, da situação verbal. “É preciso tomar cuidado com as primeiras palavras que pronunciam uma questão em nosso espírito. [...] termos estranhos, totalmente carregados com valores e associações acidentais”

“Cada autor explora as palavras de acordo com suas tendências”

O autor inicia aqui a sua preparação para o estudo. Ele inicia nos falando sobre a limpeza da situação verbal, nesse caso é o que ele chama de livrar-nos de todo e qualquer tipo de preconceito e abrindo-nos para novas interpretações.

Ele nos alerta ainda sobre a adoção de alguns conceitos nos diz, que é necessário sim conhecer idéias, mas não podemos nos prender a elas tão somente. É preciso que façamos as nossas reflexões e tirando nossas próprias conclusões sem nos deixar levar pelo senso comum.

As palavras, utilizadas nas criações são quase sempre reaproveitadas, e mesmo com a mudança de tendências, elas não possuem um conteúdo autentico. Os autores às redefinem, mas elas sempre caem na mesmice.

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“Só compreendemos os outros, só compreendemos a nos mesmos, graças a velocidade de nossa passagem pelas palavras. Não se deve de forma alguma oprimi-las, sob o risco de se ver o discurso mais claro decompor-se em enigmas, em ilusões mais ou menos eruditas”

“linguagem como essencialmente provisória”

Passamos pelas palavras com rapidez para nos comunicar com mais precisão. Ao deslocarmos uma palavra qualquer de sua função momentânea, ela acaba tornando-se um enigma. O autor fala que as palavras usadas na “linguagem normal” não oferecem dificuldades de interpretação, mas se a examinarmos separadas como a palavra tempo, por exemplo, ela “faz-nos acreditar que tem mais sentidos que funções”

“[...] vejo em mim o que se passa quando tento substituir as fórmulas verbais por valores e significados não verbais que sejam independentes da

Essa experiência é de fato muito boa, substituir as fórmulas verbais por outros recursos, deu ao poeta a oportunidade de sentir reações

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196 linguagem adotada”.

“Observei, portanto, em mim mesmo, estes estados que posso denominar Poéticos, já que alguns [...] acabaram em poemas”.

da vida, e receber as respostas que buscava. E destas reflexões, ou exercícios mentais que autor realizava acontecia um poema. O que entendo que seja o estado poético dentro de cada pessoa. Em sala realizamos o exercício, e a professora nos sugeriu imaginar um tambor e o som que ele emitia. O tambor que imaginei tinha um som alegre, e me remeteu aos tempos de desfile cívico da Escola Técnica Federal, aqueles eram momentos muito alegres para mim. Acho devido ao meu estado de contentamento poderia até escrever algo sobre aquele tempo. Uma poesia.

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“a Poesia é uma arte da Linguagem; certas combinações de palavras podem produzir uma emoção que outras, não produzem, e que denominamos poética”

Para o autor todas as coisas ou os seres conhecidos, ou melhor, as idéias que os representam, transformam-se em algum tipo de valor. E podem ser transformados em poesia. Colocando as coisas do mundo em outras relações ou compondo outras.

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“[...] o estado poético se instala, desenvolve-se, finalmente, desagrega-se em nós”

“esse estado de poesia é perfeitamente irregular, inconstante, involuntário, frágil, e que o perdemos, assim como o obtemos, por acidente”

“um poeta [...] transforma o leitor em ‘inspiração’”

Assim o poeta necessita de outros meios para fazer a sua poesia e não só do estado poético. A admiração, que vem leitor para com o poeta também se torna fonte de inspiração e contribui para criação do poema.

200 Um dia disse Mallarmé: “Sua profissão é infernal. Não consigo fazer o que quero e, no entanto, estou cheio de ideais...”. E Mallarmé lhe respondeu: “Absolutamente não é com idéias, meu caro Degas, que se fazem os versos. É com palavras”.

“A poesia é a arte da

Em sua colocação Mallarmé levanta um ponto muito importante, o poeta pode estar munido de muitas idéias, de inspiração, de um estado poético completo, mas necessita de palavras, ou seja, da linguagem para colocar em prática suas produções poéticas.

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linguagem. A linguagem, contudo, é uma criação da pratica.”

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“O universo poético não é tão forte e facilmente criado”. O poeta para fazer arte toma “empresta da a linguagem” [...] Cada palavra é uma montagem instantânea de um som e de um sentido, sem qualquer relação entre eles.”

Fazer-se compreender ou despertar a sensibilidade, o universo poético.Aqui entra a questão da arbitrariedade dos signos lingüísticos. Um discurso pode estar carregado de sonoridade e não fazer sentido algum ou ao contrário pode apresentar sentido, mas não uma sonoridade agradável.

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“Eis o poeta brigando com esta matéria verbal, obrigado a especular sobre o som e o sentido ao mesmo tempo; a satisfazer não somente a harmonia, o período musical, mas também as condições intelectuais e estéticas variadas, sem contar as regras convencionais...”

“Um poeta é, a meu ver, um homem que, a partir de um incidente, sofre uma transformação oculta. Ele se afasta de seu estado normal de disponibilidade geral e vejo construir-se nele um sistema vivo, produtor de versos. Como nos animais vemos de repente manifestar-se um caçador hábil”.

Segundo o autor o poeta aqui tenta inserir em sua criação todos esses componentes, que fazem o poema rico em poesia. O som, o movimento e o sentido tornam essa obra completa.

Aqui o autor apresenta a sua definição do poeta, apontando seu comportamento e o comparando-o a outros tipos de seres, no caso os animais, que constroem suas moradias ou a organizam o meio onde vivem. Assim é o poeta em meio as suas criações.

204 Comparação entre o andar e a dança com a prosa e a poesia.

“Prosa e poesia servem-se das mesmas palavras, da mesma sintaxe, das mesmas formas e dos mesmos sons ou timbres, mas diferentemente

O andar é como a prosa, tem um objetivo. É um ato dirigido para alguma coisa, uma finalidade. Já a dança, comparada a poesia, mesmo apresentando movimento, é algo que não leva para lugar algum. É a busca de uma coisa idealizada.

Mesmo com todas as diferenças entre o andar e a dança ambas se valem dos mesmos membros motores para se realizarem. Assim acontece com a prosa e

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coordenados e excitados” poesia, tanto uma quanto outra, utilizam a linguagem em sua produção. Porem é necessário que fique claro que apesar dos elementos que as compõem serem idênticos, tanto a prosa quanto a poesia agem de forma diferente em nosso organismo psíquico e nervoso.

205 “Pensem em um pêndulo oscilando entre dois pontos simétricos. Suponham quem uma dessas posições extrema representa a forma [...] em uma palavra tudo que constitui o conteúdo”.

“Nosso pêndulo poético vai de nossa sensação em direção a uma idéia ou algum sentimento e volta em direção a alguma lembrança da sensação [...]”.

O autor comenta sobre a igualdade de importância, de simetria entre a forma e o conteúdo na poesia. O pêndulo utilizado por ele como exemplo representa o equilíbrio entre o som e o sentido. Que são representados pela voz e o conteúdo. Voz e conteúdo não podem ser separados dentro do poema. A voz interpreta o conteúdo que está sendo expresso. Assim sons e sentidos são articulados na interpretação do poema.

206 “E, contudo a tarefa do poeta é nos dar a sensação de união íntima entre a palavra e o espírito”.

Segundo o autor o poeta tem a função de nos proporcionar sensações que podemos chamar de maravilhosas. Sentimentos que resultam da perfeita sintonia do poeta e do seu estado poético.

208 “Todo poeta verdadeiro é muito mais capaz do que se pensa geralmente de raciocínio exato e de pensamento abstrato.”

Creio que autor quis dizer que aquele que sabe fazer verdadeiramente poesia não teme trabalhar com o raciocínio exato ou com o pensamento abstrato. Para esses poetas tudo pode ser matéria para um bom poema.

210 “[...] entre todas as artes, a nossa é talvez a que coordena o máximo de partes ou de fatores independentes: o som, o sentido, o real e o imaginário, a lógica, a sintaxe e a dupla invenção do conteúdo e da forma... e tudo isso por intermédio [...] da linguagem

O autor conclui seu texto com uma reflexão a cerca do oficio que compete aos poetas e de todas as ferramentas que esses precisam manobrar para realizarem as suas produções. Ele também faz referencia a “uma idéia de algum eu maravilhosamente superior a

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comum, da qual devemos tirar uma Voz pura, ideal, capaz de comunicar sem fraquezas, sem aparente esforço, sem atentado ao ouvido e sem romper a esfera instantânea do universo poético [...]”

Mim”. Creio que aqui ele refira-se ao frágil poema que cresce e ganha proporções inimagináveis superando assim o seu autor.