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FERRARETTO, Luiz Arthur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Doravante, 2007. p. 79-190. ORIGENS DA RADIODIFUSÃO As primeiras experiências com transmissão de som iniciaram ainda no século 19, de 1830, aproximadamente, até o final da década de 10, já no século 20. A tecnologia empregada nesse meio de comunicação de massa desenvolveu-se com base nas pesquisas sobre a existência de ondas eletromagnéticas e pelos avanços tecnológicos obtidos pela invenção do telégrafo e do telefone. (p. 79-80) No entanto, ainda em 1753, Benjamin Franklin propunha o uso da eletricidade para a transmissão de mensagens à distância. Mais tarde, no final do século 19, o dinamarquês Hans Christian Oersted observa que a corrente elétrica em um condutor afeta a agulha de uma bússola colocada próxima a ele, comprovando que a eletricidade e o magnetismo estão relacionados. A partir dessas ideias foram formuladas as bases para dois novos meios de comunicação: o telégrafo e o telefone. Paralelamente ao desenvolvimento dessas tecnologias, seguiam as pesquisas sobre a eletricidade e suas características. (80-81) A invenção do rádio é atribuída a Guglielmo Marconi. De acordo com Ferraretto, erroneamente, já que a empresa de Marconi tinha patentes sobre diversos inventos. Seu grande mérito foi aprimorar desenvolvendo novos e mais potentes equipamentos. Ao mesmo tempo em que eram realizadas pesquisas na Europa e na América do Norte, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura em seus experimentos obtinha resultados, por vezes, superiores aos dos cientistas estrangeiros. As suas primeiras experiências com transmissão e recepção teriam acontecido por volta de 1893 a 1894. (p. 82-83) O grande problema para a transmissão de sons sem o uso de fios no início do século era que a voz humana precisava da estabilidade no fluxo das ondas eletromagnéticas. Com a invenção do diodo pelo norte-americano Lee DeForest, em 1904, desenvolve-se dois anos mais parte o tríodo ou válvula amplificadora que aumenta as características do sinal, estabilizando-o. Este passo é considerado internacionalmente aceito como definitivo para o surgimento da radiodifusão sonora. (p. 85-86) A primeira transmissão comprovada e eficiente foi a transmissão do som de um violino, de trechos da Bíblia e de uma gravação fonográfica na noite de 24 dezembro de 1906. Usando um alternador desenvolvido pelo sueco Ernest Alexanderson, o canadense Reginal A. Fessenden transmitiu da estação em Brant Rock, Massachussetts, as emissões foram ouvidas em diversos navios na costa norte-americana. O uso convencional do que se convencionou chamar de rádio começou somente dez anos após esta experiência. (p. 86 e 88) Destaca-se o papel do precursor das transmissões, Frank Conrad. Desenvolveu não apenas a tecnologia trabalhando poucas horas por manhã na oficina de sua garagem, mas todos os conceitos de radiodifusão (a estação, o público, os programas e o anúncio subvencionando a programação) são resultados do trabalho de Conrad. Com a popularidade dessas transmissões, foi criada a KDKA, verdadeiramente a primeira emissora de rádio. O então vice-presidente da Westinghouse, Harry P. Davis, que convence a empresa a criar a emissora. Em 2 de novembro de 1920 na cidade de Pittsburgh, ao começar suas transmissões, nascia com a KDKA oficialmente a indústria de radiodifusão, no sentido de produção e transmissão e conteúdos, um novo campo para investimento de capital. (p. 89)

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Fichamento do texto: FERRARETTO, Luiz Arthur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Doravante, 2007. p. 79-190

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FERRARETTO, Luiz Arthur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Doravante,

2007. p. 79-190.

ORIGENS DA RADIODIFUSÃO

As primeiras experiências com transmissão de som iniciaram ainda no século 19, de 1830,

aproximadamente, até o final da década de 10, já no século 20. A tecnologia empregada nesse

meio de comunicação de massa desenvolveu-se com base nas pesquisas sobre a existência de

ondas eletromagnéticas e pelos avanços tecnológicos obtidos pela invenção do telégrafo e do

telefone. (p. 79-80)

No entanto, ainda em 1753, Benjamin Franklin propunha o uso da eletricidade para a transmissão

de mensagens à distância. Mais tarde, no final do século 19, o dinamarquês Hans Christian

Oersted observa que a corrente elétrica em um condutor afeta a agulha de uma bússola colocada

próxima a ele, comprovando que a eletricidade e o magnetismo estão relacionados. A partir

dessas ideias foram formuladas as bases para dois novos meios de comunicação: o telégrafo e o

telefone. Paralelamente ao desenvolvimento dessas tecnologias, seguiam as pesquisas sobre a

eletricidade e suas características. (80-81)

A invenção do rádio é atribuída a Guglielmo Marconi. De acordo com Ferraretto, erroneamente,

já que a empresa de Marconi tinha patentes sobre diversos inventos. Seu grande mérito foi

aprimorar desenvolvendo novos e mais potentes equipamentos. Ao mesmo tempo em que eram

realizadas pesquisas na Europa e na América do Norte, o padre brasileiro Roberto Landell de

Moura em seus experimentos obtinha resultados, por vezes, superiores aos dos cientistas

estrangeiros. As suas primeiras experiências com transmissão e recepção teriam acontecido por

volta de 1893 a 1894. (p. 82-83)

O grande problema para a transmissão de sons sem o uso de fios no início do século era que a

voz humana precisava da estabilidade no fluxo das ondas eletromagnéticas. Com a invenção do

diodo pelo norte-americano Lee DeForest, em 1904, desenvolve-se dois anos mais parte o tríodo

ou válvula amplificadora que aumenta as características do sinal, estabilizando-o. Este passo é

considerado internacionalmente aceito como definitivo para o surgimento da radiodifusão

sonora. (p. 85-86)

A primeira transmissão comprovada e eficiente foi a transmissão do som de um violino, de

trechos da Bíblia e de uma gravação fonográfica na noite de 24 dezembro de 1906. Usando um

alternador desenvolvido pelo sueco Ernest Alexanderson, o canadense Reginal A. Fessenden

transmitiu da estação em Brant Rock, Massachussetts, as emissões foram ouvidas em diversos

navios na costa norte-americana. O uso convencional do que se convencionou chamar de rádio

começou somente dez anos após esta experiência. (p. 86 e 88)

Destaca-se o papel do precursor das transmissões, Frank Conrad. Desenvolveu não apenas a

tecnologia trabalhando poucas horas por manhã na oficina de sua garagem, mas todos os

conceitos de radiodifusão (a estação, o público, os programas e o anúncio subvencionando a

programação) são resultados do trabalho de Conrad. Com a popularidade dessas transmissões,

foi criada a KDKA, verdadeiramente a primeira emissora de rádio. O então vice-presidente da

Westinghouse, Harry P. Davis, que convence a empresa a criar a emissora. Em 2 de novembro

de 1920 na cidade de Pittsburgh, ao começar suas transmissões, nascia com a KDKA

oficialmente a indústria de radiodifusão, no sentido de produção e transmissão e conteúdos, um

novo campo para investimento de capital. (p. 89)

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A indústria norte-americana disputava o controle das cartas patentes necessárias à

implementação das comunicações por ondas eletromagnéticas. A produção, que crescera durante

a Primeira Guerra Mundial, corria riscos por falta de demanda. A radiodifusão sonora aparece

como uma saída economicamente viável no início da década de 20. (p. 90)

O modelo de radiodifusão pública introduzido pela BBC dominaria o cenário europeu até os anos

1970. Ao contrário, no Brasil, a influência norte-americana sempre foi muito forte. (p. 92)

A IMPLEMENTAÇÃO NO BRASIL (DE 1919 A 1932)

A primeira demonstração pública da radiodifusão sonora aconteceu em 7 de setembro de 1922,

durante a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, que comemorava o centenário da

independência, a pedido da Repartição Geral dos Telégrafos promovida pela Westinghouse. No

mesmo evento, a Western Eletric, também com sede nos Estados Unidos, coloca no seu estande

dois transmissores de 500 watts cada que, ao contrário do equipamento da Westinghouse,

acabariam sendo adquiridos pelo governo. (p. 94)

A primeira emissora regular foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Durante a exposição, o

cientista e professor Edgar Roquette-Pinto, que mais tarde seria conhecido como o pai do rádio

brasileiro, interessou-se pelas demonstrações de radiodifusão promovidas pelas indústrias norte-

americanas. A radiodifusão nasceu de maneira precária no Brasil, apesar do empenho e do

idealismo de Roquette-Pinto e de seus associados. Nos primeiros meses de funcionamento, a

Rádio Sociedade do Rio de Janeiro operou sem uma programação definida e com emissões

esporádicas. Em outubro, começa a ser organizada uma sequência de programas com notícias de

interesse geral, conferências literárias, artísticas e científicas, números infantis, poesia, música

vocal e instrumental. (p. 95-96)

Uma nova consciência das possibilidades lucrativas do veículo tem suas origens na Rádio Clube

do Brasil, fundada em 1 de junho de 1924 por Elba Dias, um dos técnicos que auxiliara na

estruturação da Rádio Sociedade. A emissora foi a primeira do país a obter autorização para

veicular publicidade. Nela também, Dias começa a apresentar ídolos da música popular e, surgem

aos poucos, os programistas – comunicadores que arrendavam espaço nas emissoras e se

responsabilizavam pela apresentação, produção e comercialização do espaço. (p. 100)

A ESTRUTURAÇÃO (DE 1932 A 1940)

No final dos anos 20, a radiodifusão brasileira já possui um mercado razoável e começa a

estruturar-se. Não mais como novidade, mas sim, se constituindo em um veículo de comunicação

que, ao buscar o lucro, volta-se para a obtenção constante de anunciantes e de público. O governo

revolucionário organiza a veiculação da publicidade pelas emissoras em 1932 com o Decreto nº

21.111, regulamentando outro decreto, o de nº 20.047, de maio do ano anterior, que definia o

papel do governo federal na radiodifusão sonora. Quando em julho do mesmo ano irrompe a

Revolução Constitucionalista, o veículo adquire importância política estratégica. Durante meses,

as transmissões das emissoras paulistanas (em especial da Record) mobilizam a oposição ao

governo Vargas. A partir daí, a sociedade toma consciência das possibilidades econômicas e

políticas do rádio. Estavam lançadas as bases para a sua configuração como indústria cultural.

(p. 102-103)

A criação da Hora do Brasil foi embasada no O Decreto nº 21.111, em seus artigos 66 e 69, que

destinava uma hora diária a um programa noticioso obrigatório.

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A rádio difusão educativa, em seus primórdios deve-se muito a Roquette-Pinto. De 1923 a 1936,

ele tenta manter a ideia central de um veículo voltado à difusão cultural. A Rádio Sociedade do

Rio de Janeiro, nos anos 30, populariza um pouco a sua programação, transmitindo uma famosa

atração da época, o Programa Casé. Roquette-Pinto, no entanto, não abdica suas intenções

iniciais e auxilia o educador Anísio Teixeira na estruturação da Rádio Escola Municipal, no Rio,

uma nova forma de radiodifusão educativa. (p. 103)

No entanto, a regulamentação da publicidade impulsionou o rádio como empreendimento

comercial. Com ela, a indústria e o comércio ganham um veículo para atingir a população,

inclusive os analfabetos. O rádio espetáculo das massas deve muito a dois de seus pioneiros:

César Ladeira e Adhemar Casé. (p. 104-105)

Em 14 de fevereiro de 1932, o então diretor da emissora, Augusto Vitoriano Borges anunciou: A

Rádio Phillips do Brasil, PRAX, vai começar a irradiar o Programa Casé. Um dos atrativos deste

programa era a valorização da publicidade. Nele, surge o primeiro jingle do Brasil, criado pelo

compositor, radialista e desenhista Antônio Gabriel Nássara para a Padaria Bragança. O jingle

era em ritmo falado, já que o cliente era de família portuguesa. (p.

106)

É no regime implementado em 1930 o rádio vai se transformar em um veículo de instrumento

ideológico. Dentro da lógica dos revolucionários de 30, a radiodifusão serve para consolidar uma

unidade nacional necessária à modernização do país e para reforçar a conciliação entre as

diversas classes sociais. Nesta linha de raciocínio, em 22 de julho de 1935, o governo cria o

programa Hora do Brasil, que transmitia inicialmente informações, pronunciamentos e música

popular. O grande objetivo era a divulgação das realizações do governo. Com a ditadura, o

programa Hora do Brasil torna-se obrigatório e passa a ser transmitido em rede nacional, de

segunda a sexta, das 18h45 às 19h30. Em 6 de setembro de 1946, o programa muda de nome e

transforma-se em Voz do Brasil. (p. 107 e 108)

Nos Estados Unidos funcionavam redes de radiodifusão. Por iniciativa da Bryington, pioneira da

indústria eletroeletrônica nacional, que mais tarde seria absorvida pela multinacional Motorola,

começa a estruturar-se uma tentativa de rede de radiodifusão aos moldes estadunidenses

existentes na época. Em 2 de maio de 1927, as organizações Bryington inauguram a Rádio

Cruzeiro do Sul, de São Paulo. Com o tempo, outras emissoras eram criadas ou absorvidas, como

a Cruzeiro do Sul (Rio de Janeiro, 1933) e a Clube do Brasil (cujo controle foi adquirido em

1935). Constitui-se em meados dos anos 30, a Rede Verde-Amarela, que realizaria a primeira

cobertura esportiva de um Campeonato Mundial de Futebol, na França, em 1938. (p. 109)

Ao contrário das cadeias radiofônicas norte-americanas, a Rede Verde-amarela não se

desenvolveu nem se consolidou por dois motivos. De um lado, usava as linhas da Companhia

Telefônica Brasileira, de baixa qualidade, e que distorciam as transmissões. De outro, a

Comissão Técnica de Rádio, criada em 1932 pelo governo revolucionário, negara às

Organizações Byington a concessão dos canais de ondas curtas, única maneira disponível na

época para estruturas uma rede verdadeiramente nacional. Deste modo, o Brasil só contaria com

redes a partir dos anos 70, quando a estrutura de telecomunicações do país permitiu a interligação

de emissoras via satélite. (p. 109)

A preparação do auge do rádio brasileiro iniciou no final da década de 30. Henrique Foreis

Domingues, o Almirante, mesclava de forma organizada, música e texto. O roteiro passa a ser a

base de tudo. Para Luiz Carlos Saroldi, o programa Curiosidades musicais (que surgiu como

parte do Programa Casé e era montado seguido os padrões estadunidenses com roteiro especial,

participação de cantores, instrumentistas, locutores e radioatores) inicia o período de

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consolidação do rádio no país, que se estende até 1943, quando estreia Um milhão de melodias.

Nestes cinco anos, a programação ganha, em 1941, a primeira radionovela, Em busca da

felicidade, e seu principal noticiário, Repórter Esso. Não por coincidência todos eles transmitidos

pela Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. (p. 110 e 111)

O APOGEU DO RÁDIO ESPETÁCULO (DE 1940 A 1955)

O início da fase do apogeu do rádio ocorre ao mesmo tempo em que o Estado Novo aproximase

dos Estados Unidos, país cuja programação radiofônica, via ondas curtas, inspirava os

profissionais brasileiros desde a década anterior. Neste contexto, o rádio viveria aquela que é

considerada a sua época de ouro, caracterizada por uma programação voltada ao entretenimento,

predominando programas de auditório, radionovelas e humorísticos. A cobertura esportiva

também ocupa os seu espaço. O radiojornalismo, por sua vez, ganha força à medida que o país

se envolve na Segunda Guerra Mundial. O veículo adquire, desta forma, audiência massiva,

tornando-se, no início dos anos 50, principalmente por meio da Nacional, a primeira expressão

das indústrias culturais no Brasil (p. 112 e 113)

As histórias já eram dramatizadas ao microfone desde os anos 30. A paulista Record ou as

cariocas Mauring Veiga e Nacional possuíam os seus programas de radioteatro, mas o gênero

começou a ser sucesso de grandes proporções apenas às 9h30 do dia 1º de junho de 1941, com a

primeira radionovela transmitida no país, Em busca da felicidade, na Rádio Nacional. No mesmo

ano, começou a ser transmitida a primeira radionovela criada no Brasil, Fatalidade, de Oduvaldo

Viana, na Rádio São Paulo. O conservadorismo da época estava presentes nas radionovelas que

tinham por característica um enredo simples e relativamente conservador. Até os últimos

capítulos, o bem predomina sobre o mal com a punição ou arrependimento daqueles personagens

que haviam se desviado do comportamento socialmente aceito pela moral vigente na época. (p.

119)

O humor radiofônico surgiu em 1931, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com um programete

de cinco minutos intitulado Manezinho e Quintanilha. Os atores teatrais Arthur de Oliveira e

Salu de Carvalho interpretavam os personagens em um diálogo que remetia sempre para uma

comicidade de anedota. Os grandes programas do gênero popularizaram-se mesmo na década

seguinte, 1940. (p. 124)

NASCE O RADIOJORNALISMO

Durante a Segunda Guerra Mundial, o radiojornalismo cresce em importância. O Repórter Esso

surge no espírito da aproximação brasileira com os Estados Unidos. O estilo identificado por

uma característica musical e textos de abertura estão memória de milhares de ouvintes em todo

o país. Patrocinado pela Esso Brasileira de Petróleo e com o noticiário da United Press

Internacional, a grande estreia aconteceu no dia 28 de agosto de 1941. No entanto, a maior

contribuição do Esso foi a introdução no Brasil de um modelo de texto linear, direto, corrido e

sem adjetivações, apresenta do em um noticiário ágil e estruturado. (p. 127)

Nos anos 50 proliferam os departamentos de Jornalismo, mas o espetáculo dos programas de

auditório, humorístico e novelas domina o rádio. A informação ágil, atual e vibrante introduzida

por noticiários como o Repórter Esso e o Grande jornal falado Tupi vai auxiliar a radiodifusão

sonora a renascer nas décadas seguintes, depois do abalo provocado pelo advento da televisão

no Brasil. (p. 131)

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Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em 4 de outubro de 1892 e construiu,

ao longo de sua vida, os Diários e Emissoras Associadas, a maior rede de comunicações da

história do país. O pioneirismo de Assis Chateaubriand que, de certo modo, deu o primeiro passo

em direção ao fim da era de ouro do rádio. Graças ao empresário, no dia 18 de setembro de 1950,

a PRF-3 TV Tupi-Difusora, de São Paulo, começava suas transmissões regulares, constituindo-

se na primeira estação de televisão da América Latina. De início, o novo veículo não abala a

hegemonia do rádio. Antes que isto aconteça, através dele, o Brasil fica sabendo do suicídio do

presidente da República. Getúlio Vargas (p. 131 e 133)

A DECADÊNCIA (DE 1955 A 1970)

O surgimento da televisão constitui-se no grande fator de decadência do rádio espetáculo, não

apenas no Brasil, como em outros países. O pequeno número de emissoras de TV e o alto custo

dos receptores, inicialmente escassos, garantem uma sobrevida para a era dos auditórios,

humorísticos e radionovelas. No entanto, a perda das verbas publicitárias foi acompanhada, bem

como motivada, pela transferência de profissionais do rádio para a televisão. (p. 135 e 137)

O radiojornalismo moderno ganha um grande impulso com a Emissora Continental, do Rio de

Janeiro, fundada em 1948, pelo locutor esportivo Gagliano Neto. A ele, o radialista Afonso

Gomes atribui à criação de um formato radiofônico novo: o de música-esporte-notícia, embora a

rádio procurasse se concentrar mais na informação e na cobertura esportiva em detrimento da

programação musical. É nela que a reportagem ganha espaço e se desenvolve na radiofonia

brasileira. (p. 138 e 139)

As emissoras universitárias constituem hoje, parcela significativa da atual rede de radiodifusão

educativa, sendo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul a pioneira em rádio sem fins

comerciais nas instituições de ensino superior brasileiras. (p. 140)

Devido à transferência do espetáculo para a televisão, o lazer radiofônico começa a se restringir

a transmissão e músicas e à difusão de fatos e de entrevistas envolvendo os astros e as estrelas

do star system audiovisual. Na década de 1950, um novo caminho começa a se estruturar,

baseado no jornalismo, no esporte e no serviço à população, consolidando-se nos anos 60 e 70.

Mas não só de jornalismo e música vive o rádio na tentativa de recuperar o espaço perdido para

a televisão, o veículo também contou o esporte. A vitória do Brasil na Copa do Mundo de

Futebol, em 1958, na Suécia, e a repetição do feito quatro anos depois no

Chile impulsionam a cobertura e as transmissões esportivas. (p. 140, 141 e 144)

ANOS DE CHUMBO E A REESTRUTURAÇÃO (DE 1970 A 1983)

A principal entidade empresarial na área de radiodifusão, a Associação Brasileira de Emissoras

de Rádio e Televisão, surgiu em 27 de novembro de 1962. Reunidos no Hotel Nacional, em

Brasília, radiodifusores de todo o país aprovaram a sua criação. (p. 148)

O Brasil viveu os anos de chumbo da ditadura entre 1969 e 1974, quando o general Emílio

Garrastazu Medici presidio o país. É neste contexto do regime militar que o rádio vai ingressar

nos anos 70, redefinindo-se e voltando a ser um forte veículo de comunicação. No período mais

duro do regime militar, o quadro da radiodifusão brasileira começa a se alterar com o início das

transmissões regulares e comerciais em frequência modulada. As primeiras emissoras voltam-se

à transmissão da chamada música ambiente, mas, ao longo dos anos 70, ganham o público jovem,

seguindo modelos norte-americanos de programação. (p. 154-155)

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Uma segmentação proporcionada do veículo começa a ocorrer a partir da segunda metade da

década de 70. Em princípio, pela divisão do espectro em dois ramos com características próprias

de som e abrangência. Seguindo a tendência verificada após o final do rádio espetáculo, as

estações de amplitude modulada concentram-se no jornalismo, nas coberturas esportivas e na

prestação de serviços à população. Este último aspecto, por vezes, materializase em programas

popularescos centrados na figura de um comunicador que simula um companheiro para o

ouvinte, enquanto explora de modo sensacionalista situações do cotidiano. Nas FMs, predomina

a música. Inicia um processo de divisão do público que vai se consolidar nos anos 80. Nesta nova

realidade, o rádio reestrutura-se e, mesmo sem recuperar o faturamento de outras épocas,

reposiciona-se no mercado. (p. 155)

No dia 2 de dezembro de 1970 é inaugurada em São Paulo a Rádio Difusora AM pelos Diários

e Emissoras Associados, a primeira do país a transmitir exclusivamente em frequência modulada.

No início dos anos 70, as emissões em frequência modulada ainda são incipientes e

desorganizadas. É quando o regime militar torna a expansão das FMs uma prioridade com a

Portaria nº 333, de 27 de abril de 1973, do Ministério de Comunicações. São dados incentivos à

indústria eletroeletrônica para que se produzam transmissores e receptores. (p. 156-157)

Até 1972, as dimensões continentais do Brasil e a má qualidade dos serviços de telecomunicações

sempre tinham dificultado a formação de redes nacionais de rádio (como a Rede Verde-

Amarela). Neste ano a Jovem Pan AM, de São Paulo, cria o Jornal de integração nacional,

aproveitando a estrutura que, desde a década anterior, vinha sendo montada pelo governo federal.

(p. 160)

Como estratégia polícia, nos anos 70, o governo militar utiliza o rádio e a TV em programas de

ensino à distância em uma espécie de resposta aos movimentos de educação popular anteriores

ao golpe militar. O uso educacional dos meios de comunicação insere-se em uma visão tecnicista

da ditadura em que pontificam expressões como tecnologias de ensino, instrução programada,

máquinas de ensinar, educação via satélite e tele ensino. Neste contexto de um processo

pedagógico voltado apenas a instrumentalizar o indivíduo para o trabalho, sem refletir

criticamente sobre a realidade, o governo determina horários obrigatórios para a transmissão de

programas educativos. (p. 162)

A SEGMENTAÇÃO E AS REDES VIA SATÉLITE (DE 1983 À ATUALIDADE)

As pressões sobre a liberdade de informação continuam, no entanto, ao longo da década, em

especial no episódio das Diretas-já em 1984. Com a redemocratização, diminuem, mas assumem

a forma de autocensura. Mesmo assim, a efervescência política chama a atenção do público e a

informação ganha destaque na programação das rádios, ao mesmo tempo em que, ao longo da

década, a segmentação consolida-se nos grandes centros urbanos. O panorama da radiodifusão

sonora muda também pelo uso de canais de satélite para a formação de redes de emissoras, um

macro que introduz uma nova fase na história deste meio no brasil. (p. 165-166)

Em 1985, o país passa a contar com um satélite próprio de comunicações, o Brasilsat A. Com o

A2 lançado no ano seguinte, conforma-se um sistema nacional de telecomunicações via satélite.

O segundo passo foi anunciado pela Embratel durante o Congresso da Associação Brasileira de

Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) em 1989. A empresa oferecia um novo serviço, o

Radiosat, que começava a modificar o quadro da radiodifusão sonora no país. O interesse pelas

mudanças políticas e econômicas nas décadas de 80 e 90 reforça o papel informativo da

radiodifusão sonora. Acreditando nisto, três grandes emissoras brasileiras, com maior ou menor

sucesso, vão se aventurar pelo caminho do jornalismo 24 horas por dia. O novo formato,

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chamado all News, iniciou com a pioneira Jornal do Brasil AM, do Rio de Janeiro, que tenta

implantar no país, o modelo norte-americano de rádio totalmente voltado à veiculação de

notícias. (p. 172)

Como a radiodifusão comercial seguia o rumo indicado pela segmentação e pelo uso de satélites,

o governo decidiu integrar as emissoras educativas de rádio e de televisão. (p. 176)

Devido à força que o rádio pode exercer, o Estado como poder concedente determina quem pode

ou não prestar os serviços de radiodifusão. Ao longo da ditadura, as concessões foram um

importante instrumento para consolidação dos governos militares. Por um lado, podiam cassar o

direito daquelas empresas de radiodifusão que não se adequassem às normas emanadas da

caserna. Por outro, concessões eram distribuídas a grupos econômicos simpáticos ao regime ou

a políticos da Arena e de seu sucessor político, o PDS. (p. 179)

Nas duas últimas décadas do século 20, observa-se um número significativo de seitas e igrejas

evangélicas que buscam crescentemente no rádio um instrumento de conversão religiosa. De

modo diferente das organizações católicas e protestantes tradicionais transformam as emissoras

em templos eletrônicos com a transmissão constante de cerimônias, entremeadas por preces e,

em alguns casos, notícias sobre suas atividades e músicas com temática bíblica. (p. 182 e 183)

Nota-se, também o número crescente das rádios comunitárias. Denominadas Serviço de

Radiodifusão Comunitária a radiodifusão sonora, em frequência modulada, operada em baixa

potência e cobertura restrita outorgada em fundações e associações comunitárias, sem fins

lucrativos, com sede na localidade de prestação de serviços. O que importa no final do século 20

é o novo marco estabelecido pelas rádios livres e comunitárias nas relações entre emissor e

receptor. Ambos tendem a uma interação jamais verificada na comunicação massiva. (p. 186 e

189)