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Texto: História da Educação no Brasil (capítulos IV e V) Autora: Otaíza de Oliveira Romanelli Ana Carolina Garcia de Oliveira No capítulo 4 (A organização do ensino e o contexto sócio-político após 1930), Romanelli aborda o contexto histórico da educação brasileira de 1930 a 1961. Para isso, divide esse período em três: De 1930 a 1937: que engloba o movimento reformador e a Reforma Francisco Campos. De 1937 a 1946: período que surgem as Leis Orgânicas do Ensino e a criação do SENAI e SENAC. De 1946 a 1961: elaboração do projeto da Lei de Diretrizes e Bases. No Capítulo 5 (A política educacional dos últimos anos), a autora discute os acordos internacionais (MEC- USAID) e sua influência na definição da política educacional brasileira, após 1964. Capítulo 4: A organização do ensino e o contexto sócio- político após 1930 Nesse capítulo, a autora procura mostrar que a manutenção e aprofundamento da defasagem entre a educação e o desenvolvimento no Brasil se acham vinculados às contradições políticas causadas pela luta entre as várias facções das camadas dominantes na estrutura do poder. Essa vinculação se evidencia pela organização do ensino que foram impostas à sociedade através da legislação. Com a entrada do Governo Provisório (1930), houve a implementação da Reforma Francisco Campos na educação. Era a primeira vez que uma reforma atingia profundamente a estrutura do ensino e era imposta a todo território

Fichamento Romanelli por Ana Carolina - apenas 2 capítulos

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Texto: História da Educação no Brasil (capítulos IV e V)Autora: Otaíza de Oliveira Romanelli

Ana Carolina Garcia de Oliveira

No capítulo 4 (A organização do ensino e o contexto sócio-político após 1930), Romanelli aborda o contexto histórico da educação brasileira de 1930 a 1961. Para isso, divide esse período em três:

De 1930 a 1937: que engloba o movimento reformador e a Reforma Francisco Campos.

De 1937 a 1946: período que surgem as Leis Orgânicas do Ensino e a criação do SENAI e SENAC.

De 1946 a 1961: elaboração do projeto da Lei de Diretrizes e Bases.

No Capítulo 5 (A política educacional dos últimos anos), a autora discute os acordos internacionais (MEC-USAID) e sua influência na definição da política educacional brasileira, após 1964.

Capítulo 4: A organização do ensino e o contexto sócio-político após 1930

Nesse capítulo, a autora procura mostrar que a manutenção e aprofundamento da defasagem entre a educação e o desenvolvimento no Brasil se acham vinculados às contradições políticas causadas pela luta entre as várias facções das camadas dominantes na estrutura do poder. Essa vinculação se evidencia pela organização do ensino que foram impostas à sociedade através da legislação.

Com a entrada do Governo Provisório (1930), houve a implementação da Reforma Francisco Campos na educação. Era a primeira vez que uma reforma atingia profundamente a estrutura do ensino e era imposta a todo território nacional. Essa reforma tratou de organizar preferentemente o sistema educacional para as elites, visto que deixou o ensino primário, normal e médio (salvo o ensino comercia) marginalizados. Nesse último, segundo a autora, não se tratava de um sistema de ensino, mas de um sistema de provas e exames, tamanho era o exagero do sistema de avaliação. Nesse contexto, somente alunos de classes privilegiadas conseguiam concluir o ensino secundário. Na reforma, não houve preocupação em criar um sistema de ensino profissional, justo no momento em que o país estava começando a industrializar-se. Segundo Romanelli, esse descuido com o ensino profissional foi um “passo atrás”. Concordo com a autora que nesse momento deveria ter uma maior atenção para o ensino técnico, mas também podemos pensar que essa seria uma estratégia para manter um “exército de reserva”, uma multidão de pessoas com instrução mínima e que, portanto, seria facilmente manipulada.

As classes que iam gradativamente assumindo o poder contavam com a presença, de um lado, dos jovens oficiais progressistas e da nova burguesia industrial,

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que exigiam inovações de toda ordem, e do outro lado, contavam com a presença de parte da velha aristocracia liberal, ainda apegadas às velhas concepções. A expansão do ensino e sua renovação ficaram, como podemos perceber, subordinadas ao jogo de forças que essas camadas manipulavam na estrutura do poder.

Na década de 20, vários estudiosos do campo da educação, sob influência de autores da Escola Nova, iniciaram discussões sobre o assunto. Houve a criação da Associação Brasileira de Educação (ABE) e, posteriormente, em 1932, ocorreu a publicação do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nacional”. Esse movimento ficou conhecido como Renovador e defendiam a gratuidade e obrigatoriedade do ensino, a laicidade, a co-educação e o Plano Nacional de Educação. Essas idéias iam de encontro com o grupo dos católicos, que viam no monopólio do Estado, na laicidade e na co-educação uma afronta aos princípios da educação católica.

Essa reivindicação da escola pública, gratuita, obrigatória e leiga é conseqüência se uma nova situação criada com a ascensão de novas classes sociais, seria uma conquista do Estado burguês.

O perigo representado pela escola pública e gratuita era menos o risco de esvaziamento das escolas privadas (em sua maioria católica), mas sim o risco de extensão da educação escolarizada a todas as camadas, com evidente ameaça para os privilégios das elites.

Na evolução do sistema educacional brasileiro vamos encontrar uma constante tentativa de juntar as idéias da ala jovem (representada pelas idéias do Manifesto) e da ala velha das classes dominantes. Isso pode ser observado na análise dos documentos. Na Constituição de 1934, no que se refere ao capítulo sobre Educação e Cultura, há uma vitória do movimento renovador. Porém, três anos depois, era promulgada outra Constituição, com o novo golpe de Estado que instalou o Estado Novo. Aquilo que na Constituição de 1934 era um dever do Estado passa, na Constituição de 1937, a uma ação meramente supletiva, sendo o artigo 129 bem claro: “À infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios, assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais”.

Em 1942, por iniciativa do Ministro Capanema, foram reformados alguns ramos do ensino. Essas reformas tomaram o nome de Leis Orgânicas do Ensino.

Nessa época, houve uma preocupação com o ensino profissional (dividido em industrial, comercial e agrícola), sendo que o Governo delegou às indústrias o papel de qualificação de seus funcionários. Foi então, criado o SENAI e mais tarde o SENAC. Essa preocupação se justificava pois era um período de guerra; as importações de produtos e de mão-de-obra não era possíveis, portanto a solução foi fabricar produtos nacionais com mão-de-obra local. Esse sistema acabou por se tornar paralelo e de responsabilidade das indústrias. Apesar da organização desse sistema de ensino, uma grande falha foi a falta de flexibilidades entre os vários ramos do ensino profissional e entre esses e o ensino secundário.

O ensino secundário foi dividido em dois ciclos: o primeiro se chamava ginasial e era composto de 4 séries; e o segundo, subdividido em clássico e científico, era

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composto de 3 séries, porém não havia grandes diferenças entre eles e em ambos havia uma preocupação excessivamente enciclopédico. Esse ensino não diversificado tinha o objetivo de preparar para o ingresso no ensino superior e era voltado para formação de “individualidades condutoras”. Nesse nível de ensino, continuava o excessivo método de avaliação anteriormente adotado.

Na Lei Orgânica do Ensino Primário é possível perceber marcas do movimento renovador. Nessa lei, os Estados eram os responsáveis por esse nível de ensino, havia previsão de planejamento educacional, havia normas para a captação de recursos e para a formação de docentes. As condições previstas eram positivas, mas a simples prescrição legal não tem suficiente força para mudar a realidade. A dificuldade de aplicação da legislação do ensino revela sua inadequação à realidade.

A Lei Orgânica do Ensino Normal também era de responsabilidade do Estado. Ela centralizou as diretrizes e fixou normas para a implementação desse ramo de ensino em todo território nacional. Era constituído por dois ciclos, e sendo de caráter profissionalizante e terminal carecia de mais conteúdo específico.

Com toda essa organização do ensino, as camadas média e superior procuravam o ensino secundário e o superior como meio de aumentar seu status. Elas tinham condições de permanecer nos cursos sem necessidade imediata de trabalho. Já a camada mais pobre se servia das escolas primárias e profissionais, pois tinham pressa em começar a trabalhar e não podiam freqüentar as escolas do sistema oficial. Logo, esse sistema educacional se transformava em um sistema de discriminação social.

Tanto a reforma Francisco Campos quanto às Leis Orgânicas do Ensino, tiveram como características principais a centralização e a rigidez excessiva, a inelasticidade da oferta da educação por inelasticidade de organização do sistema, a falta de flexibilidade, a supervalorização do ensino secundário em detrimento de outros ramos do ensino médio (isso ocorreu em menor medida com as Leis Orgânicas).

Na Constituição de 1946 há um retorno à aspiração ideológica dos educadores e a partir daí começa uma longa luta que vai resultar na Lei 4.024 de 1961. Apesar do produto final obtido não avançar, o processo de discussão foi extremamente fecundo. Debates sobre centralização e descentralização, sobre flexibilidade e liberdade de ensino foram discutidas nesse período. De um lado estava o anteprojeto proposto pelo deputado Carlos Lacerda. Com o discurso de liberdade de ensino, decisão da família quanto ao gênero de educação dos filhos, esse projeto descaradamente beneficiava a iniciativa privada (através de investimentos do governo) em detrimento do ensino público. Contra essas idéias surgiu um movimento chamado Campanha em Defesa da Escola Pública, que elaborou um projeto substitutivo àquele. De um lado os defensores da escola pública, de outro os que defendiam a escola privada, de interesse da Igreja Católica. Comissões foram criadas para analisar esses anteprojetos e elaborar um último.

A Lei 4.024, que fora tão discutida e que poderia ter modificado substancialmente o sistema educacional brasileiro, iria, no entanto, fazer prevalecer a velha situação, aprofundando a distância entre sistema escolar e necessidades de desenvolvimento.

Esse documento isenta o poder público de sua obrigação de fornecer condições para que para que a obrigatoriedade do ensino seja cumprida.

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As instituições privadas ficando responsáveis pelo ensino deixavam à margem as populações mais carentes, com isso, segundo a autora, “oportunidades educacionais restritas significam sempre limites estreitos impostos à expansão econômica”. Volto aqui a questionar: seguindo a lógica capitalista, não seria interessante manter pessoas no sistema que são minimamente qualificados, para que sejam facilmente explorados?

Um dos pontos positivos da lei foi a não fixação de um currículo fixo e rígido para todo o território nacional, houve uma quebra de rigidez e certo grau de descentralização. Porém, na prática, as escolas acabaram compondo seu currículo de acordo com os recursos materiais e humanos de que já dispunham. Realmente, como foi dito pela autora, a lei, por si só não é capaz de grandes mudanças. Hoje, assistimos a uma imposição curricular feita pelo governo do Estado de São Paulo. Porém, na prática, conseguimos perceber estratégias de resistência por parte de professores que são ao programa curricular. “A eficácia de uma lei depende dos homens que a aplicam”.

Capítulo 5: Política Educacional dos últimos anos

Na metade da década de 60, houve a necessidade de se orientar os rumos da política e da economia de forma que eliminasse os obstáculos que se impunham à sua inserção definitiva na esfera de controle do capital internacional. Nessa época houve um aumento da demanda social da educação e com isso agravou a crise no sistema educacional. Esse contexto acabou por servir de justificativa para a assinatura de uma série de convênios entre o MEC e a AID (Agency for International Development), os chamados “Acordos MEC-USAID”. Essa fase vai se caracterizar pela expansão do ensino, que a pesar de grande, teve de ser contida dentro de certos limites, a fim de não comprometer a política econômica adotada. Essas ajudas internacionais somente se efetivam, se houver internamente condições mínimas para seu estabelecimento.

Nessas ajudas internacionais, na maioria das vezes, os países assistentes é que são os maiores beneficiados financeiramente, pois há a contratação de técnicos, viagens ao país assistente, bolsas de estudo, publicação e venda de livros... Segundo dados, 93% dos fundos AID são gastos diretamente nos EUA.

Esse treinamento dado por países que possuem aspectos culturais, sócios e econômicos muito diferentes do país que é assistido, acaba causando a alienação do indivíduo do seu meio de origem.

A partir dos processos de concentração do capital, renda e mercado, os canais tradicionais de ascensão da classe média tornam-se cada vez mais estreitos, daí o aumento da demanda pela educação. A educação passa a ser encarada como o único caminho disponível para as classes médias, que poderiam conquistar cargos em empresas.

O objetivo predominante nos programas AID era a reforma do ES e visava a uma dependência direta das instituições dos países subdesenvolvidos às instituições americanas de ensino superior.

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Diante da crise, o Governo adotou algumas medidas, como a instituição do salário-educação. Eram recolhidos contribuições de empresas que depois eram divididos entre fundos para o Ensino Primário e Secundário.

Com o objetivo de diminuir os gastos com o ES, que era o mais oneroso, uma série de medidas foi tomada: fim das cátedras e organização das universidades em departamentos; fim da coexistência de disciplinas sobre mesmo tema; criação de órgãos centralizadores; fim da UNE; etc.

Havia mentalidade empresarial e militar juntas. Se, por um lado, o regime começava a cuidar que houvesse maior captação de recursos e melhor emprego dos mesmos, por outro, ele agravava a crise por não dar solução ao problema de falta de vagas, por minimizar a representação estudantil. Mesclavam-se nessas ações, a mentalidade empresarial dos tecnocratas e as medidas partidas da área militar. Desenvolvimentismo, eficiência e produtividade de um lado; controle e repressão de outro. Era pretendida uma estratégia que garantisse a adequação do modelo de instituição escolar à expansão econômica e à estrutura de dominação, sem contestação estudantil.

Segundo o relatório Meira Matos, existem alguns pontos críticos do sistema educacional provocadores da crise estudantil. São eles: organização do MEC, insuficiente remuneração dos professores, implantação lenta e desordenada da reforma universitária, representação estudantil. Novamente, percebemos marcas empresariais e militares nesses pontos assinalados no relatório.

Outro grupo foi criado com a missão de estudar a forma da universidade brasileira, visando a sua eficiência, modernização, flexibilidade administrativa e formação de recursos humanos de alto nível, era o Grupo de Trabalho da Reforma Universitário (GT). Esse grupo pressupõe que a universidade deva constituir um centro de investigação científica e tecnológica em condições de assumir a autonomia da expansão da indústria brasileira. Novamente busca-se uma maior adequação do modelo da educação ao modelo econômico, para atingir os objetivos desse último.

As medidas adotadas para reorganizar o ensino foram de dois aspectos: reforma das estruturas e medidas de contenção.

É interessante perceber que o governo promoveu a Reforma Universitária quando era ela reivindicação da ala mais contestada da sociedade brasileira na época. Segundo Florestan Fernandes: “Sob a pressão constante de tendências modernizadoras que partiam do interior do País, dos Estados Unidos e de organismos econômicos, educacionais e culturais internacionais, e sob o desafio crescente da rebelião estudantil, a reação conservadora preferiu tomar liderança política da “reforma universitária”. Iria, portanto, modernizar sem romper com as antigas tradições, nem ferir interesses conservadores. Ao mesmo tempo, iria controlar a inovação.

As remodelações adquiriram caráter predominantemente técnico-administrativo, sendo assim, a universidade passa a ter uma estrutura mais moderna, só que ao mesmo tempo de mais fácil controle.

Quanto a reforma no 2o grau, havia uma urgência em se modificar a estrutura para que ele passasse a ser terminal, isso seria uma forma de conter a demanda ao ensino superior. A profissionalização do ensino médio era vista como uma exigência

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que teria como resultado selecionar apenas os mais capazes para a Universidade, dar ocupação aos menos capazes e ao mesmo tempo, conter a demanda de educação superior em limites mais estreitos.

Quanto a estrutura, houve a junção do curso primário e do curso ginasial, formando um só curso fundamental de 8 anos. Com isso, foi eliminado os exames que antes eram necessários para a passagem do primário para o ginasial, sendo que esse era um dos pontos de estrangulamento do antigo sistema. Essa legislação avança sobre a anterior quando procura acercar-se das condições de viabilidade para a sua aplicação.

O 1o grau visava a educação geral fundamental, a sondagem vocacional e a iniciação para o trabalho, enquanto o 2o grau objetivava a habilitação profissional de grau médio.

A ordenação do conteúdo se dava em três partes: Comunicação e Expressão; Estudos Sociais; e Ciências. A ordenação desse núcleo poderia ser feito na forma de atividades, áreas de estudo e disciplinas (na medida em que ia avançando o grau de estudo). Havia um currículo mínimo, porém algumas matérias eram obrigatórias (Educação Física, Educação Moral e Cívica, Educação Artística, Programas de Saúde e Religião).