Filo Sofia

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Introdução

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ad usum privatum

A Filosofia um apetite da sabedoria divina, o anseio de assemelhar-se a Deus, tanto quanto seja possvel ao homem.(Pitgoras, filsofo grego)

A Filosofia a cincia que leva em considerao a verdade. (Aristteles, filsofo grego)

FilosofiaI INTRODUO GERAL

1. Etimologia, Caractersticas da reflexo filosfica, Origem, Natureza, Objeto e Mtodo da Filosofia.

ETIMOLOGIA.

Palavra de origem grega cunhada por Pitgoras (fi,loj amor e sofi,a sabedoria; amor sabedoria) ou fili,a th/j sofi,aj (= amor da sabedoria).O pensamento filosfico tem sua origem no Thauma (espanto, admirao, perplexidade).Diz Plato que a primeira virtude do filsofo admirar-se; Thaumzein diz em grego donde vem a palavra taumaturgo. Admirar-se, sentir essa divina inquietao que faz com que, l onde os outros passam tranqilos, sem. vislumbrar sequer que existem problemas, aquele que tem uma disposio filosfica esteja sempre inquieto, intranqilo, percebendo na mais pequenina coisa problemas, arcanos, mistrios, incgnitas que os demais no vem.Aquele para quem tudo resulta muito natural, para quem tudo resulta muito fcil de entender, para quem tudo resulta muito bvio, nunca poder ser filsofo.O filsofo necessita, pois, uma primeira dose de infantilidade; uma capacidade de admirao, que o homem j feito, que o homem j enrijecido, encanecido, no costuma possuir.

CARACTERSTICAS DA REFLEXO FILOSFICA.

a) radical vai raiz de todas as coisas, busca a origem; b) rigorosa possui um mtodo, caminho;c) de conjunto dialoga com as outras reas do conhecimento; totalidade e abrangncia.

ORIGEM DA FILOSOFIA.

A Filosofia nasce no bero do mundo grego como inaugurao da razo que expressa a realidade. Foram fatores relevantes para o seu surgimento na Grcia:

1 os gregos tinham uma situao geogrfica favorvel;

2 surgimento da plis (organizao social);

3 a filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos em contraste com os mitos;

4 gora*, lugar de reunies, reflexes ( assembleia, lugar de reunio, derivada de reunir); em sua origem, a Filosofia nasce na gora, praa pblica, que era em sua poca o espao de interao entre as pessoas. Este lugar proporcionou Filosofia uma experincia de reflexo radical e democrtica sobre as questes do homem a respeito de si mesmo e do mundo. Hoje, os espaos de interao filosfica encontraram uma nova gora, um novo espao pblico e democrtico para o exerccio da razo sobre as questes humanas. A gora, como espao virtual, simboliza para o nosso tempo um novo instrumento de encontro para o exerccio da troca de ideias e ampliao da nossa capacidade racional de indagar e compreender o mundo em que vivemos.

* Nota: Segundo o Dicionrio Houaiss, gora significa praa principal das antigas cidades gregas, local em que se instalava o mercado e que muitas vezes servia para a realizao das assembleias do povo; formando um recinto decorado com prticos, esttuas e um centro religioso.

5 navegao e comrcio.

NATUREZA DA FILOSOFIA

1. O desejo de saber, fonte das cincias.

Todo homem, diz Aristteles, est naturalmente desejoso de saber, isto , o desejo de saber inato; esse desejo j se manifesta na criana pelos "porqus" e os "como" que ela no cessa de formular; ele o princpio das cincias, cujo fim primeiro no ser fornecer ao homem os meios de agir sobre a natureza, mas, antes, satisfazer sua natural curiosidade.Se o desejo de saber assim essencial ao homem, deve ser universal no tempo e no espao. isto exatamente o que nos ensina a histria. No h povo, por mais atrasado, em que se no manifeste este poder natural do esprito, que , por sua vez, to antigo quanto a humanidade.

2. As diversas formas do saber:

a) O conhecimento emprico. A necessidade de saber gera a princpio os conhecimentos empricos, que so frutos do ato espontneo do esprito, mas permanecem conhecimentos imperfeitos, pois falta-lhes por vezes a objetividade, e se formam ao acaso, por generalizao prematura, sem ordem nem mtodo. Tais so, por exemplo, as receitas meteorolgicas do campons, os provrbios e mximas que resumem as observaes correntes sobre o homem e suas paixes etc. Estes conhecimentos, empricos no so para desprezar. Ao contrrio, constituem o primeiro degrau da cincia, que s faz aperfeioar os processos que o empirismo emprega para adquirir seus conhecimentos.

b)O conhecimento cientfico. Visa a substituir o empirismo por conhecimentos certos, gerais e metdicos, isto , verdades vlidas para todos os casos, em todos os tempos e lugares e ligadas entre si por causas e princpios.Assim a cincia em geral. Sob este aspecto, como veremos, a Filosofia o uma cincia, e mesmo a mais alta das cincias humanas. O uso corrente tende, porm, a restringir a aplicao do nome "cincia" s cincias da natureza, ou mais precisamente s cincias que conseguem formular leis necessrias e absolutas, fundadas no determinismo dos fenmenos da natureza. Tais so a Fsica, a Qumica, a Mecnica celeste etc.

c) O conhecimento filosfico. Enfim, a mais alta expresso da necessidade de saber. uma cincia, enquanto quer conhecer as coisas por suas causas. Mas, ao passo que todas as outras cincias se restringem a descobrir as causas mais imediatas, a Filosofia tem por fim descobrir as causas mais universais, isto , as causas primeiras de todas as coisas.

OBJETO DA FILOSOFIA

1.O conceito antigo de Filosofia. A palavra filsofo significa "amigo da cincia e da sabedoria", e atribuda a Pitgoras. Entre os antigos gregos, a Filosofia era a cincia universal; abarcava quase todo esse conjunto de conhecimentos que agrupamos sob os nomes de cincia, de arte e de Filosofia. Esta concepo perdurou sensivelmente at a Idade Mdia, a partir de que as artes, e logo as cincias da natureza, se destacaram pouco a pouco da Filosofia e conquistaram sua autonomia. Esta separao hoje um fato consumado, e existe o maior interesse em distinguir claramente estes dois gneros de conhecimentos que chamamos cientficos e filosficos.

2.Filosofia e Cincia. A Cincia e a Filosofia no tm O mesmo objeto formal. Sem dvida, de um ponto-de-vista material, Cincia e Filosofia se aplicam ao mesmo objeto: o mundo e o homem (objeto material). Mas cada disciplina estuda este objeto comum sob um aspecto que lhe prprio (objeto formal). A Cincia se aquartela na determinao das leis dos fenmenos. A Filosofia quer conhecer a natureza profunda das coisas, suas causas supremas e seus fins verdadeiros: visa, propriamente, em todas; as suas partes, ao conhecimento do que ultrapassa a experincia sensvel (ou os fenmenos), e do que s acessvel razo. Se, ento, a Filosofia verdadeiramente uma cincia universal, o enquanto tende a conhecer, no tudo, como pensavam os antigos gregos, mas os primeiros princpios de tudo.V-se, por conseguinte, que uma explicao cientfica no uma explicao filosfica; nem uma explicao filosfica, uma explicao cientfica. Os problemas da cincia no so os mesmos da Filosofia: o encadeamento dos fenmenos, como a cincia os visa a descobrir, deixa intata a questo da natureza profunda das coisas, de seu valor e seu fim, e o conhecimento das essncias, dos valores e dos fins no saberia dar a cincia das ligaes fenomenais.

MTODO DA FILOSOFIA

1. O mtodo depende do objeto formal. Chamamos "mtodo" o conjunto de processos a empregar para chegar ao conhecimento ou demonstrao da verdade. O mtodo de uma cincia depende do objeto mesmo desta cincia. No se emprega, no estudo dos seres vivos, os mesmos processos que no estudo dos seres inorgnicos, e a qumica procede diversamente da fsica. Desta forma, da definio e do objeto da filosofia que ns devemos deduzir o mtodo que lhe convm.

2. O mtodo filosfico a um tempo experimental e racional. Ns definimos a Filosofia como a cincia das coisas por suas causas supremas. Da se segue que:

a) A filosofia parte da experincia. Se a Filosofia de incio "cincia das coisas", a saber, do homem, do mundo e de Deus, devemos comear por conhecer as coisas que queremos explicar; isto , nosso ponto de partida ser normalmente tomado na experincia. de fato pelas propriedades das coisas que ns podemos conhecer sua natureza e, estas propriedades, a experincia vulgar ou cientfica que nos faz descobri-las. tambm pelos efeitos do poder divino que podemos elevar-nos at Causa primeira do Universo, seja para afirmar a sua existncia necessria, seja para determinar-lhe a natureza e os atributos, e estes efeitos so ainda um objeto de experincia. Assim, o mtodo filosfico ser primeiramente experimental, no sentido de que o ponto de partida da Filosofia tomado na experincia.

b) A Filosofia visa, pela razo, ao que est alm da experincia, Mas como a Filosofia , por seus fins, essencialmente metafsica, isto , quer ir alm da experincia sensvel e chegar at s causas primeiras, dever fazer apelo razo, porque, estas causas primeiras, o homem no as v e no as toca com os seus sentidos, e no as pode ento atingir a no ser por uma faculdade superior aos sentidos. Eis por que o mtodo filosfico tambm um mtodo racional.

3. A Filosofia usa apenas a razo natural. De outro Indo, se a Filosofia se serve da razo, unicamente da razo natural. Nisto ela se distingue absolutamente da Teologia, que se apia, como sobre seus primeiros princpios, nas verdades reveladas, enquanto a, Filosofia apela unicamente s luzes da razo. Seu critrio de verdade no , como em Teologia, a autoridade de Deus revelador, mas a evidncia de seu objeto.

2. Diviso: Problemas e Sistemas Principais (Escolas Filosficas).

Problemas.

Princpio da diviso. Podemos colocar-nos em variados pontos-de-vista para distinguir as diferentes partes da Filosofia. Uma diviso hoje corrente consiste em distinguir quatro partes: Lgica, Psicologia, Moral e Metafsica. Mas esta ordem contestvel, antes de mais nada, porque deixa supor que a Moral poderia constituir-se integralmente sem a Metafsica: veremos a seno que isto no procede depois, porque a Cosmologia, estudo do mundo material como tal, ou parece no se integrar na Filosofia, mas pertencer unicamente s cincias da natureza, o que um erro, ou se insere ora, na Lgica material, ora na Metafsica, o que no , em um, nem em outro caso, o seu lugar normal.Dividiremos mais logicamente a Filosofia partindo do princpio de que as coisas podem ser consideradas quer em si mesmas quer em ralao a ns, Do primeiroponto-de-vista,trata-sesimplesmente de conhece as por seus princpios supremos e por suas causas primeiras: e o objeto da filosofia especulativa. Do segundo ponto-de-vista, trata-se de saber como devemos usar as coisas para nosso bem absoluto: o objeto da filosofia prtica. Estas partes essenciais da Filosofia sero, por outro lado, naturalmente precedidas do estudo da lgica, que como que o instrumento universal do saber, enquanto define os meios de chegar ao verdadeiro.Os diferentes tratados da Filosofia. As subdivises das trs partes da Filosofia resultaro das seguintes consideraes:a) Problemas da Lgica. A Lgica pode comportar dois pontos de vista: ou visa a determinar as condies universais de um pensamento coerente consigo mesmo: (Lgica formal ou menor), ou se aplica a definir os processos ou os mtodos exigidos, em cada disciplina particular, pelos diferentes objetos do saber (Lgica material ou Metodologia).b) Problemas da Filosofia especulativa. A Filosofia especulativa, tendo por fim o conhecimento puro visa a conhecer o mundo da natureza em si mesmo (Filosofia da natureza), assim como a causa primeira do mundo, que Deus (Teodicia).A filosofia da natureza se dividir por sua vez em duas partes, conforme se refira ao mundo material como tal(Cosmologia)ou ao homem(Psicologia).O estudo de Deus (existncia e natureza de Deus), que compe a Teodicia, no pode ser abordado diretamente, pois Deus no nos conhecido seno como autor do ser universal. Tambm dever ela ser precedida logicamente de um tratado consagrado ao conhecimento do ser em geral; este o objeto da Ontologia.A Ontologia, por seu turno, requer o estudo preliminar do valor da nossa faculdade de conhecer. Esta, de fato, vai daqui em diante aplicar-se a realidades que ho so de qualquer maneira objetos da apreenso sensvel. Importa ento saber-se, e em que medida, suas pretenses de chegar at aos primeiros princpios das coisas so justificadas. Este o objeto da Crtica do conhecimento.Crtica do conhecimento, Ontologia (ou Metafsica geral) e Teodicia constituem, em conjunto, a Metafsica.c) Problemas da filosofia prtica. A Filosofia prtica, j o dissemos, tem por fim definir o bem do homem. Por isto possvel colocar se num duplo ponto-de-vista: do ponto-de-vista do fazer, isto , da obra a produzir (arte em geral e artes do belo em particular), objeto da Filosofia da arte, ou do ponto-de-vista do agir, isto , da ao a realizar, o que constitui o objeto da Moral.O quadro seguinte resume esta diviso da filosofia:

PARTES DA FILOSOFIA TRATADOSOBJETOS

1. Lgica Lgica formal ou menor

Lgica material ou maiorAs leis do raciocnio correto

Qs mtodos particulares

Filosofia daNatureza

Cosmologia

Psicologia

O mundo material como tal

O homem

2. Filosofia especulativa

Metafsica

Crtica do conhecimento Ontologia Teodicia

Valor da razoO ser em geralExistncia e natureza de Deus

3. Filosofia prtica

Filosofia da Arte

Filosofia da MoralO belo e as artes

A ao humana

Sistemas principais (Escolas Filosficas).

O orgulho grego estava em suas escolas de Filosofia. No houve na face da terra um povo que pensasse mais (em termos de conceitos para tudo) do que o povo grego. Tais escolas inspiram, em muito, at hoje, muitos pensadores. Ei-las:

JNICA

Considerada a mais antiga escola grega de pensamento. Surgida na cidade de Mileto por volta do sculo VI a.C., tendo como fundador Tales de Mileto (624-562 a.C.) com o objetivo de descobrir a causa primeira, suprema de tudo, sendo que esta causa suprema caracterizada por um elemento natural que pode ser: gua, ar, fogo, etc. Tales colocava a gua como princpio de tudo. Como todas as principais escolas gregas antigas, se voltou contra as explicaes mticas e mitolgicas, buscando sentido racional para a origem das coisas.

ELETICA

A principal figura desta escola foi Parmnides, que viveu no sculo V a.C. Para ele, a nica realidade existente o ser (a doutrina principal da Escola). Do nada no se pode extrair nada. Nada que no no pode vir-a-ser. A eternidade no pode ser definida, pois, para algum compreender a eternidade teria que ficar eternamente imaginando-a. Xenfanes (580-576 a.C.) foi seu fundador.

SOFISTA

Elege-se Protgoras como figura importante dessa escola 480 a 410 a.C. O interesse maior agora era descobrir o fundamento de todas as coisas, visto que no aceitavam as hipteses mticas dos deuses para justificar a realidade. Buscavam uma justificativa lgica para as coisas, procurando o fundamento de tudo. Tudo aquilo que o homem consegue conhecer ou conceituar puramente de carter humano, ou de sua prpria elaborao. Desta escola vem a famosa expresso: O homem a medida de todas as coisas. No h uma lei moral absoluta, somente leis convencionais. O prazer a meta do homem.

ATOMISTA

A principal figura desta escola filosfica Demcrito, que viveu de 460 a 370 a.C. Esta escola se assemelha a de Elia, tendo em vista sua credibilidade a imutabilidade do ser, mas sustentava como real a questo do vir-a-ser. Esta escola deu uma grande contribuio cincia, afirmando que o ser constitudo por tomos que so partculas indivisveis e imutveis. Do movimento do tomo derivam todas as coisas. Estas partculas no possuem qualidades diferentes uma das outras, exceto a impenetrabilidade. A alma humana composta de um tipo de tomo mais leve de carter etreo.

PITAGRICAFundador: Pitgoras (571-497 a.C.). Segundo esta escola, a essncia, o princpio primordial da realidade representado pelo nmero, isto , pelas relaes matemticas. Para explicar a multiplicidade e o vir-a-ser, o pitagorismo recorre luta dos opostos, pares e mpares. Essa anttese , porm, reconduzida unidade pela harmonia matemtica, que governa o mundo todo, material e moral.

SOCRTICA

Fundador: Scrates (469-399 a.C.). Enquanto os sofistas sustentam que tudo relativo, a doutrina socrtica afirma que h verdades ou princpios absolutos, verdades eternas, leis morais imutveis iguais para todos. A vida humana deve ser vivida de acordo com tais princpios eternos, tendo a sua plena realizao somente aps a morte, livre do peso do corpo. O homem deve desprender-se totalmente dos bens materiais. Tudo que se conhece de seu principal questionador e ferrenho defensor da democracia ateniense, no que tange ao modo de viver,Scrates entendia que as pessoas deveriam viver de modoconsonante com esses valores absolutos e princpios universais.Scrates considerado o marco da filosofia. A partir dele, ela abandona suas preocupaes com o mundo fsico e volta-se mais para a reflexo metafsica e moral.

PLATNICA

A figura maior desta escola que leva o seu nome Plato. Ateniense de bero, viveu de 427 a 347 a.C. e fundou a primeira Academia, universidade de carter filosfico e cientfico. Ele se servia do conceito de seu mestre, de o bem ser a virtude e de esse bem estar dentro do ser humano e no fora, para enfatizar a alma, a realidade espiritual, como bem.Grande expositor da filosofia socrtica, porm, criou conceitos que acabaram por distinguir seu pensamento das concepes de Scrates. Para Plato, o mundo material um mundo decadente, uma imitao falsa do mundo verdadeiro (Mundo Espiritual). O corpo uma priso que impede as atividades da alma. Enfatiza o controle rgido das paixes mundanas. A alma somente poder elevar-se, separando-se da priso do corpo se os instintos humanos forem abandonados. Plato influenciou grandes pensadores em todos os tempos.Plato um dos pilares da filosofia ocidental. Para ele, existiam dois mundos: o sensvel (onde ns vivemos) e o mundo das idias. Esse segundo mundo s acessvel para a alma.

ARISTOTLICAFundador: Aristteles (384-322 a.C.). Foi discpulo de Plato, mas no concordava com a existncia de um mundo superior, voltando sua ateno para a realidade sensvel e para as cincias da natureza.Na viso filosfica aristotlica se postula quatro causas bsicas para os elementos do universo: Matria, Forma, Agente e Finalidade. A MATRIA (a essncia do objeto ou dos seres, ou a substncia do qual so feitos), FORMA (aparncia ou formato das coisas e dos seres), AGENTE (aquele que cria o objeto) e FINALIDADE (a funo para a qual destinado o objeto). Exemplo do pensamento desta escola: Joo fez um vaso redondo de barro para botar flores. A matria o barro; a forma de um vaso redondo: o agente aqui o Joo que fez o vaso; a finalidade que o vaso destinado para se colocar flores. O pensamento de Aristteles tambm influenciou muitos pensadores atravs dos sculos.

EPICURISTAFundador: Epicuro (341-260 a.C.). Influenciado pelos atomistas, acredita que todo o desejo incmodo e inquieto se dissolve no amor da verdadeira filosofia e que o essencial para a felicidade nossa condio ntima.Esta escola ensinava que tanto os deuses como as almas so constitudos de tomos. A viso epicurista totalmente materialista, rejeitando o aspecto metafsico ou espiritual do homem. Existe uma lei natural imutvel estabelecida para os fenmenos da natureza. O problema moral, felicidade, e o bem supremo para o homem se resume na busca do prazer.Suas idias principais foram: 1) o mundo constitudo de tomos, que so conjuntos de partculas ainda menores; 2) a vida no tem nenhum tipo de elemento espiritual: os prprios deuses e a alma so feitos de tomos; 3) para eliminar uma das fontes de sofrimento do ser humano preciso se livrar do medo da morte e dos deuses; 4) a tica epicurista a que elege como valor mximo o prazer. Para livrar-se do sofrimento e ter os prazeres possveis da vida, os epicuristas pregavam uma vida simples e contida, centrada nos prazeres naturais, sem excessos, e nos prazeres intelectuais.A escola epicurista uma espcie de religio baseada nos prazeres do esprito. Foi profundamente influenciado pelo atomismo de Demcrito e pelo hedonismo cirenaico, embora com uma estrutura prpria. A doutrina se divide em Cannica, tica e Fsica. A primeira compreende as diversas classes de evidncias: prazer, dor; a fsica uma confirmao do atomismo de Demcrito, acrescentado do Clinamen, isto , a faculdade dos tomos de se desviarem da linha reta numa queda atravs do espao. Para Epicuro existe uma infinidade de tomos no espao infinito, logicamente h um nmero infinito de mundos. Os tomos so a origem de tudo, porm diferentes entre si. Em fsica, chega a admitir que a alma um composto mais sutil que o ar. A tica epicurista est baseada no prazer como serenidade da alma; o prazer o bem e a dor o mal; o prazer material mas duradouro que consiste na turbulncia orgaca e na libertao completa da dor; um prazer tranqilo, sereno que d equilbrio ao corpo. A sua finalidade era libertar a humanidade do medo dos deuses e do temor da morte, porque no alm nada mais existe, enquanto a alma perece com o corpo, os epicuristas, seguidores do pensador Epicuro, defendiam que o bem era originrio da prtica da virtude. O corpo e a alma no deveriam sofrer para, desta forma, chegar-se ao prazer.

CTICAO ceticismo nasceu como corrente filosfica, mas significa, at hoje, uma postura de dvida e de crtica diante de qualquer conhecimento, mantendo-se a posio de que impossvel conhecer algo com certeza. Os primeiros cticos remontavam aos sucessores que assumiram a Academia de Plato (apesar de que este no tinha nada de ctico), que interpretavam a postura de Scrates, s sei que nada sei, como ceticismo saudvel e definitivo. No sculo III a.C., destaca-se o pensador Pirro de Elis, que deixou uma descendncia de ceticismo no Ocidente e teve ressonncias em todas as pocas.O ceticismo um sistema doutrinal que duvida de tudo, chegando a negar a existncia da verdade que, caso existisse, o homem no teria capacidade de alcan-la. Em filosofia o ceticismo se refere ao conhecimento para o qual colocam uma dvida sistemtica ou descrena completa. Fundamenta sua doutrina no fato de que o conhecimento se origina de uma srie de sensaes difceis e subjetivas; como subjetivas e transitrias as sensaes so fruto do rgo do sentido e no podem apresentar nenhuma verdade objetiva e universal. Os expoentes principais do ceticismo so: Protgoras, para o qual toda verdade relativa; Pirro de lis, que afirmava o desconhecimento completo da natureza das coisas pela nossa apatia de conduta e suspenso no julgamento; entre os modernos temos David Hume que diz: todo conhecimento se resolve em possibilidade, de acordo com os pensadores cticos, a dvida deve estar sempre presente, pois o ser humano no consegue conhecer nada de forma exata e segura.

CNICA

Iniciada por Antstenes no sculo IV a.C., o cinismo era mais uma postura tica de vida do que um sistema de filosofia. Antstenes foi discpulo de Scrates, mas entendeu-o de forma diferente de Plato, mais parecida com a proposta dos cticos. Achava que deveria assumir uma atitude de extremo ascetismo e desprezo pelos bens terrenos. Os cnicos tinham comportamento socialmente anti-convencional e consideravam que a felicidade estava na virtude, independentemente das condies exteriores.

ESTICA

Zenon de Citium a mais importante figura dessa escola. Chamado tambm de Zeno, por alguns, esse filsofo nascido na cidade de Citium viveu na regio da sia Menor de 336 a 274 a.C.Quando esteve em Atenas, estudou com os platonistas. Foi o fundador da Escola do Prtico. Ele ensinava na Stoa Poecile Prtico das Pinturas de onde se deriva o nome de sua escola, Estica.O supremo da moral a prtica da virtude. A conduta moral significa conduta segundo a razo. A moral a virtude da alma quando esta se acha em harmonia consigo mesma.Suas idias principais foram: 1) o mundo um todo orgnico, material, animado por um logos (razo) divino, do qual fazemos parte; 2) viver, segundo a natureza e segundo essa razo, que nos faz ser virtuosos; 3) s a virtude boa, s o vcio mau; o resto indiferente. Os esticos pregavam uma tica de indiferena ao sofrimento. At hoje, o termo estico quer dizer impassvel, imperturbvel, moralmente forte.

NEOPLATNICA

O fundador do neoplatonismo foi Plotino, que viveu de 270 a 205 a.C. Plotino reafirmou as teses fundamentais de Plato, especialmente o dualismo, mas o aplicou de um modo religioso, criando uma filosofia religiosa. Para o pensador, o maior bem se relaciona a Deus, que totalmente transcendente e espiritual. Deus o principio nico e absoluto de todas as demais coisas. Essas por sua vez, emanam de Deus. Ou seja, as coisas existentes so emanaes divinas.Trata-se da ltima escola filosfica da Antiguidade, que durou desde Plotino (sculo III d.C.) at o fechamento da Escola Platnica em Atenas, pelo Imperador Justiniano, em 529 d.C. A sua influncia se estendeu at o Renascimento e mesmo aos idealistas alemes do sculo XIX. Era uma espcie de monismo idealista, que considerava toda a realidade como espiritual, abrangendo desde o Uno Supremo a diferentes nveis derivados deste. Ou seja, entre o Uno e o ser humano, os neoplatnicos consideravam a resistncia de diversos deuses intermedirios.

AGOSTINIANA

A figura mais importante dessa escola, como o prprio nome sugere, Agostinho. O filsofo nasceu em Hipona, ao norte da frica, em 354 e faleceu em 430, em Cartago, onde foi bispo local da Igreja. Agostinho estudou em Milo e Roma e, seguindo a linha dos antigos pais da Igreja, buscou uma base racional para a f crist.A mais importante contribuio do pensador, entretanto, nocampo da concepo da histria.Marca a transio entre a filosofia greco-romana e a filosofia medieval. um dos principais responsveis pela influncia do mundo antigo sobre o cristianismo.Agostinho foi o primeiro pensador a criar o que hoje se denomina filosofia da histria. Este pensamento encontra-se no seu livro Duas cidades no qual, baseado no dualismo platnico, nos fala da Cidade de Deus, fundada no amor divino, e da cidade terrena ou cidade humana, fundada no amor a si.

TOMISTA

O principal filsofo dessa escola Toms de Aquino, que viveu de 1225 a 1274, perodo denominado Alta Idade Mdia.Conforme fez Agostinho no final da Idade Antiga e incio da Baixa Idade Mdia, Aquino procurou fazer uma correlao, ou dilogo, entre o pensamento grego e a f crist. Enquanto Agostinho se voltava a Plato, Aquino se remetia a Aristteles, mas sem desprezar alguns fundamentos platnicos.

EMPIRISTA

Francis Bacon, que viveu de 1561 a 1626, um dos principais expoentes dessa escola. O problema central de suas reflexes no se encontrava no ser e em seus fundamentos, baseado na idia de que no existe conhecimento, qualquer que seja, sem a experincia de certos fatos concretos. Segundo Bacon, somente a partir da analise dos fatos, e no das idias ou princpios universais, que se pode chegar ao conhecimento das coisas.

RACIONALISTA

Esta escola do pensamento elege Ren Descartes 1596 a 1650, como uma das figuras de maior expresso. No estava preocupado com o ser e as causas ltimas, mas com o ser humano e sua capacidade de conhecer o mundo e transform-lo. Descartes tinha um srio pressuposto: para mudar o mundo, necessrio conhec-lo.Para ele, o problema central estava em como estabelecer o valor do conhecimento humano, bem como a metodologia adequada especulao filosfica e ao raciocnio lgico. Assim, segundo Descartes, o conhecimento humano tem a capacidade de apreender a natureza verdadeira, imutvel das coisas, pela observao e pelo questionamento. Ou seja, a razo capaz de apreender a natureza que as coisas encerram.

3. Utilidade e valor/importncia da Filosofia.

Para que Filosofia?

Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que Filosofia? uma pergunta interessante. No vemos nem ouvimos ningum perguntar, por exemplo, para que matemtica ou fsica? Para que geografia ou geologia? Para que histria ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou qumica? Para que pintura, literatura, msica ou dana? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia?Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irnica, conhecida dos estudantes de Filosofia: A Filosofia uma cincia com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual. Ou seja, a Filosofia no serve para nada. Por isso, se costuma chamar de filsofo algum sempre distrado, com a cabea no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ningum entende e que so perfeitamente inteis.Essa pergunta, Para que Filosofia?, tem a sua razo de ser.Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa s tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prtica, muito visvel e de utilidade imediata.Por isso, ningum pergunta para que as cincias, pois todo mundo imagina ver a utilidade das cincias nos produtos da tcnica, isto , na aplicao cientfica realidade.Todo mundo tambm imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura v os artistas como gnios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade.Ningum, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: no serve para coisa alguma.Parece, porm, que o senso comum no enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As cincias pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graas a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, atravs de instrumentos e objetos tcnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.Ora, todas essas pretenses das cincias pressupem que elas acreditam na existncia da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicao prtica de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeioados.Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relao entre teoria e prtica, correo e acmulo de saberes: tudo isso no cincia, so questes filosficas. O cientista parte delas como questes j respondidas, mas a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.Assim, o trabalho das cincias pressupe, como condio, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista no seja filsofo. No entanto, como apenas os cientistas e filsofos sabem disso, o senso comum continua afirmando que a Filosofia no serve para nada.Para dar alguma utilidade Filosofia, muitos consideram que, de fato, a Filosofia no serviria para nada, se servir fosse entendido como a possibilidade de fazer usos tcnicos dos produtos filosficos ou dar-lhes utilidade econmica, obtendo lucros com eles; consideram tambm que a Filosofia nada teria a ver com a cincia e a tcnica.Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia no seriam os conhecimentos (que ficam por conta da cincia), nem as aplicaes de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou tico. A Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixes e os vcios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razo para impor limites aos nossos desejos e paixes, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que o princpio do bem-viver.Essa definio da Filosofia, porm, no nos ajuda muito. De fato, mesmo para ser uma arte moral ou tica, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraosas: O que o homem? O que a vontade? O que a paixo? O que a razo? O que o vcio? O que a virtude?O que a liberdade? Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos? Por que a liberdade e a virtude so valores para os seres humanos? O que um valor? Por que avaliamos os sentimentos e as aes humanas?Assim, mesmo se dissssemos que o objeto da Filosofia no o conhecimento da realidade, nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo se dissssemos que o objeto da Filosofia apenas a vida moral ou tica, ainda assim, o estilo filosfico e a atitude filosfica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosficas - o que, por que e como - permanecem.

Intil? til?

O primeiro ensinamento filosfico perguntar: O que o til? Para que e para quem algo til? O que o intil? Por que e para quem algo intil?O senso comum de nossa sociedade considera til o que d prestgio, poder, fama e riqueza. Julga o til pelos resultados visveis das coisas e das aes, identificando utilidade e a famosa expresso levar vantagem em tudo. Desse ponto de vista, a Filosofia inteiramente intil e defende o direito de ser intil.No poderamos, porm, definir o til de outra maneira?Plato definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefcio dos seres humanos.Descartes dizia que a Filosofia o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcanar para o uso da vida, a conservao da sade e a inveno das tcnicas e das artes.Kant afirmou que a Filosofia o conhecimento que a razo adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana.Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhec-lo para transform-lo, transformao que traria justia, abundncia e felicidade para todos.Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia um despertar para ver e mudar nosso mundo.Espinosa afirmou que a Filosofia um caminho rduo e difcil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.Qual seria, ento, a utilidade da Filosofia?Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for til; se no se deixar guiar pela submisso s idias dominantes e aos poderes estabelecidos for til; se buscar compreender a significao do mundo, da cultura, da histria for til; se conhecer o sentido das criaes humanas nas artes, nas cincias e na poltica for til; se dar a cada um de ns e nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas aes numa prtica que deseja a liberdade e a felicidade para todos for til, ento podemos dizer que a Filosofia o mais til de todos os saberes de que os seres humanos so capazes.

Bertrand Russell sobre o valor da Filosofia

(...) Ser conveniente considerar, para concluir, qual o valor da filosofia e por que ela deve ser estudada. da maior importncia considerar esta questo, em vista do fato de que muitos homens, sob a influncia da cincia e dos negcios prticos, propendem a duvidar se a filosofia algo melhor que um inocente mas intil passatempo, com distines sutis e controvrsias sobre questes em que o conhecimento impossvel.Esta viso da filosofia parece resultar, em parte, de uma concepo errada dos fins da vida humana e em parte de uma concepo errada sobre o tipo de bens que a filosofia empenha-se em buscar. As cincias fsicas, por meio de invenes, so teis para inumerveis pessoas que a ignoram completamente; e por isso o estudo das cincias fsicas recomendvel no somente, ou principalmente, por causa dos efeitos sobre os estudantes, mas antes por causa dos efeitos sobre a humanidade em geral. esta utilidade que faz parte da filosofia. Se o estudo de filosofia tem algum valor para outras pessoas alm de para os estudantes de filosofia, deve ser somente indiretamente, atravs de seus efeitos sobre as vidas daqueles que a estudam. Portanto, em seus efeitos, se que ela tem algum, que se deve procurar o valor da filosofia.Mas, alm disso, se no quisermos fracassar em nosso esforo para determinar o valor da filosofia, devemos em primeiro lugar libertar nossas mentes dos preconceitos dos que so incorretamente chamados homens prticos. O homem prtico, como esta palavra frequentemente usada, algum que reconhece apenas necessidades materiais, que acha que o homem deve ter alimento para o corpo, mas se esquece que necessrio prover alimento para o esprito. Se todos os homens estivessem bem; se a pobreza e as enfermidades tivessem j sido reduzidas o mais possvel, ainda ficaria muito por fazer para produzir uma sociedade verdadeiramente vlida; e at no mundo existente os bens do esprito so pelo menos to importantes quanto os bens materiais. exclusivamente entre os bens do esprito que o valor da filosofia deve ser procurado; e somente aqueles que no so indiferentes a esses bens podem persuadir-se de que o estudo da filosofia no perda de tempo.A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar o conhecimento. O conhecimento que ela tem em vista o tipo de conhecimento que confere unidade sistemtica ao corpo das cincias, bem como o que resulta de um exame crtico dos fundamentos de nossas convices, de nossos preconceitos e de nossas crenas. Mas no se pode dizer, no entanto, que a filosofia tenha tido algum grande xito na sua tentativa de fornecer respostas definitivas a seus problemas. Se perguntarmos a um matemtico, a um mineralogista, a um historiador ou a qualquer outro cientista, que definido corpo de verdades foi estabelecido pela sua cincia, sua resposta durar tanto tempo quanto estivermos dispostos a lhe dar ouvidos. Mas se fizermos essa mesma pergunta a um filsofo, ele ter que confessar, se for sincero, que a filosofia no tem alcanado resultados positivos tais como tm sido alcanados por outras cincias. verdade que isso se explica, em parte, pelo fato de que, mal se torna possvel um conhecimento preciso naquilo que diz respeito a determinado assunto, este assunto deixa de ser chamado de filosofia, e torna-se uma cincia especial. Todo o estudo dos corpos celestes, que hoje pertence Astronomia, se inclua outrora na filosofia; a grande obra de Newton tem por ttulo: Princpios matemticos da filosofia natural. De maneira semelhante, o estudo da mente humana, que era uma parte da filosofia, est hoje separado da filosofia e tornou-se a cincia da psicologia. Assim, em grande medida, a incerteza da filosofia mais aparente do que real: aquelas questes para as quais j se tem respostas positivas vo sendo colocadas nas cincias, ao passo que aquelas para as quais no foi encontrada at o presente nenhuma resposta exata, continuam a constituir esse resduo, que chamado de filosofia.Isto , no entanto, s uma parte do que verdade quanto incerteza da filosofia. Existem muitas questes ainda e entre elas aquelas que so do mais profundo interesse para a nossa vida espiritual que, na medida em que podemos ver, devero permanecer insolveis para o intelecto humano, a menos que seus poderes se tornem de uma ordem inteiramente diferente daquela que so atualmente. O universo tem alguma unidade de plano e objetivo, ou ele um concurso fortuito de tomos? a conscincia uma parte permanente do universo, dando-nos esperana de um aumento indefinido da sabedoria, ou ela no passa de transitrio acidente sobre um pequeno planeta, onde a vida acabar por se tornar impossvel? So o bem e o mal importantes para o universo ou somente para o homem? Tais questes so colocadas pela filosofia, e respondidas de diversas maneiras por vrios filsofos. Mas, parece que se as respostas so de algum modo descobertas ou no, nenhuma das respostas sugeridas pela filosofia pode ser demonstrada como verdadeira. E, no entanto, por fraca que seja a esperana de vir a descobrir uma resposta, parte do papel da filosofia continuar a examinar tais questes, tornar-nos conscientes da sua importncia, examinar todas as suas abordagens, mantendo vivo o interesse especulativo pelo universo, que correramos o risco de deixar morrer se nos confinssemos aos conhecimentos definitivamente determinveis.Muitos filsofos, verdade, sustentaram que a filosofia poderia estabelecer a verdade de certas respostas a tais questes fundamentais. Eles supuseram que o que mais importante no campo das crenas religiosas pode ser provado como verdadeiro por meio de estritas demonstraes. A fim de julgar tais tentativas, necessrio fazer uma investigao sobre o conhecimento humano, e formar uma opinio quanto a seus mtodos e suas limitaes. Sobre tais assuntos insensato nos pronunciarmos dogmaticamente. Porm, se as investigaes de nossos captulos anteriores no nos induziram ao erro, seremos forados a renunciar esperana de descobrir provas filosficas para as crenas religiosas. Portanto, no podemos incluir como parte do valor da filosofia qualquer srie de respostas definidas a tais questes. Mais uma vez, portanto, o valor da filosofia no depende de um suposto corpo de conhecimento definitivamente assegurvel, que possa ser adquirido por aqueles que a estudam.O valor da filosofia, na realidade, deve ser buscado, em grande medida, na sua prpria incerteza. O homem que no tem algumas noes de filosofia caminha pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum, das crenas habituais de sua poca e do seu pas, e das convices que cresceram no seu esprito sem a cooperao ou o consentimento de uma razo deliberada. Para tal homem o mundo tende a tornar-se finito, definido, bvio; para ele os objetos habituais no levantam problemas e as possibilidades infamiliares so desdenhosamente rejeitadas. Quando comeamos a filosofar, pelo contrrio, imediatamente nos damos conta de que at as coisas mais ordinrias conduzem a problemas para os quais somente respostas muito incompletas podem ser dadas. A filosofia, apesar de incapaz de nos dizer com certeza qual a verdadeira resposta para as dvidas que ela prpria levanta, capaz de sugerir numerosas possibilidades que ampliam nossos pensamentos, livrando-os da tirania do hbito. Desta maneira, embora diminua nosso sentimento de certeza com relao ao que as coisas so, aumenta em muito nosso conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; ela remove o dogmatismo um tanto arrogante daqueles que nunca chegaram a empreender viagens nas regies da dvida libertadora; e vivifica nosso sentimento de admirao, ao mostrar as coisas familiares num determinado aspecto no familiar.Alm de sua utilidade ao mostrar insuspeitas possibilidades, a filosofia tem um valor talvez seu principal valor por causa da grandeza dos objetos que ela contempla, e da liberdade proveniente da viso rigorosa e pessoal resultante de sua contemplao. A vida do homem reduzido ao instinto encerra-se no crculo de seus interesses particulares; a famlia e os amigos podem ser includos, mas o resto do mundo para ele no conta, exceto na medida em que ele pode ajudar ou impedir o que surge dentro do crculo dos desejos instintivos. Em tal vida existe alguma coisa que febril e limitada, em comparao com a qual a vida filosfica serena e livre. Situado em meio de um mundo poderoso e vasto que mais cedo ou mais tarde dever deitar nosso mundo privado em runas, o mundo privado dos interesses instintivos muito pequeno. A no ser que ampliemos nosso interesse de maneira a incluir todo o mundo externo, ficaremos como uma guarnio numa praa sitiada, sabendo que o inimigo no a deixar fugir e que a capitulao final inevitvel. No h paz em tal vida, mas uma luta contnua entre a insistncia do desejo e a impotncia da vontade. De uma maneira ou de outra, se pretendemos uma vida grande e livre, devemos escapar desta priso e desta luta.Uma vlvula de escape pela contemplao filosfica. A contemplao filosfica no divide, em suas investigaes mais amplas, o universo em dois campos hostis: amigos e inimigos, aliados e adversrios, bons e maus; ela encara o todo imparcialmente. A contemplao filosfica, quando pura, no visa provar que o restante do universo semelhante ao homem. Toda aquisio de conhecimento um alargamento do eu, mas este alargamento melhor alcanado quando no procurado diretamente. Este alargamento obtido quando o desejo de conhecimento somente operativo, por um estudo que no deseja previamente que seus objetos tenham este ou aquele carter, mas adapte o eu aos caracteres que ele encontra em seus objetos. Esse alargamento do eu no obtido quando, tomando o eu como ele , tentamos mostrar que o mundo to similar a este eu que seu conhecimento possvel sem qualquer aceitao do que parece estranho. O desejo para provar isto uma forma de egotismo, um obstculo para o crescimento do eu que ele deseja, e do qual o eu sabe que capaz. O egotismo, na especulao filosfica como em tudo o mais, v o mundo como um meio para seus prprios fins; assim, ele faz do mundo menos caso do que faz do eu, e o eu coloca limites para a grandeza de seus bens. Na contemplao, pelo contrrio, partimos do no-eu, e por meio de sua grandeza os limites do eu so ampliados; atravs da infinidade do universo, a mente que o contempla participa um pouco da infinidade.Por esta razo a grandeza da alma no promovida por aquelas filosofias que assimilam o universo ao Homem. O conhecimento uma forma de unio do eu com o no-eu. Como toda unio, ela prejudicada pelo domnio, e, portanto, por qualquer tentativa de forar o universo em conformidade com o que descobrimos em ns mesmos. Existe uma tendncia filosfica muito difundida em relao a viso que nos diz que o Homem a medida de todas as coisas; que a verdade construo humana; que espao e tempo, e o mundo dos universais, so propriedades da mente, e que, se existe alguma coisa que no seja criada pela mente, algo incognoscvel e de nenhuma importncia para ns. Esta viso, se nossas discusses precedentes forem corretas, no verdadeira; mas alm de no ser verdadeira, ela tem o efeito de despojar a contemplao filosfica de tudo aquilo que lhe d valor, visto que ela aprisiona a contemplao do eu. O que tal viso chama conhecimento no uma unio com o no-eu, mas uma srie de preconceitos, hbitos e desejos, que compem um impenetrvel vu entre ns e o mundo para alm de ns. O homem que se compraz em tal teoria do conhecimento humano assemelha-se ao homem que nunca abandona seu crculo domstico por receio de que fora dele sua palavra no seja lei.A verdadeira contemplao filosfica, pelo contrrio, encontra sua satisfao no prprio alargamento do no-eu, em toda coisa que engrandece os objetos contemplados, e desse modo o sujeito que contempla. Na contemplao, tudo aquilo que pessoal e privado, tudo o que depende do hbito, do autointeresse ou desejo, deforma o objeto, e, portanto, prejudica a unio que a inteligncia busca. Levantando uma barreira entre o sujeito e o objeto, as coisas pessoais e privadas tornam-se uma priso para o intelecto. O livre intelecto enxergar assim como Deus poderia ver: sem um aqui e agora; sem esperana e sem medo; isento das crenas habituais e preconceitos tradicionais; calmamente, desapaixonadamente, com o nico e exclusivo desejo de conhecimento conhecimento to impessoal, to puramente contemplativo quanto possvel a um homem alcanar. Por isso, o esprito livre valorizar mais o conhecimento abstrato e universal em que no entram os acidentes da histria particular, que ao conhecimento trazido pelos sentidos, e dependente como tal conhecimento deve ser de um ponto de vista pessoal e exclusivo, e de um corpo cujos rgos dos sentidos distorcem tanto quanto revelam.A mente que se tornou acostumada com a liberdade e imparcialidade da contemplao filosfica preservar alguma coisa da mesma liberdade e imparcialidade no mundo da ao e emoo. Ela encarar seus objetivos e desejos como partes do Todo, com a ausncia da insistncia que resulta de consider-los como fragmentos infinitesimais num mundo em que todo o resto no afetado por qualquer uma das aes dos homens. A imparcialidade que, na contemplao, o desejo extremo pela verdade, aquela mesma qualidade espiritual que na ao a justia, e na emoo o amor universal que pode ser dado a todos e no s aos que so considerados teis ou admirveis. Assim, a contemplao amplia no somente os objetos de nossos pensamentos, mas tambm os objetos de nossas aes e nossos sentimentos: ela nos torna cidados do universo, no somente de uma cidade entre muros em estado de guerra com tudo o mais. Nesta qualidade de cidado do mundo consiste a verdadeira liberdade humana, que nos tira da priso das mesquinhas esperanas e medos.Enfim, para resumir a discusso do valor da filosofia, ela deve ser estudada, no em virtude de algumas respostas definitivas s suas questes, visto que nenhuma resposta definitiva pode, por via de regra, ser conhecida como verdadeira, mas sim em virtude daquelas prprias questes; porque tais questes alargam nossa concepo do que possvel, enriquecem nossa imaginao intelectual e diminuem nossa arrogncia dogmtica que impede a especulao mental; mas acima de tudo porque atravs da grandeza do universo que a filosofia contempla, a mente tambm se torna grande, e se torna capaz daquela unio com o universo que constitui seu bem supremo..

II CONHECIMENTO FILOSFICO

Em sentido etimolgico, Filosofia significa devotamento sabedoria / amigo da sabedoria, isto , interesse em acertar nos julgamentos sobre a verdade e a falsidade, sobre o bem e sobre o mal.Veja de que modo Marilena Chau nos convida ao entendimento da atitude e da reflexo filosfica e da atitude crtica.

A atitude filosfica: Indagar.

Imaginemos, agora, algum que tomasse uma deciso muito estranha e comeasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de "que horas so?" ou "que dia hoje?", perguntasse: O que o tempo? Em vez de dizer "est sonhando" ou "ficou maluca", quisesse saber: O que o sonho? A loucura? A razo?Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmaes por outras: Onde h fumaa, h fogo, ou no saia na chuva para no ficar resfriado, por: O que causa? O que efeito?; seja objetivo, ou eles so muito subjetivos, por: O que a objetividade? O que a subjetividade?; Esta casa mais bonita do que a outra, por: O que mais? O que menos? O que o belo?Em vez de gritar mentiroso!, questionasse: O que a verdade? O que o falso? O que o erro? O que a mentira? Quando existe verdade e por qu? Quando existe iluso e por qu? Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que o amor? O que o desejo? O que so os sentimentos?Se, em lugar de discorrer tranqilamente sobre maior e menor ou claro e escuro, resolvesse investigar: O que a quantidade? O que a qualidade? E se, em vez de afirmar que gosta de algum porque possui as mesmas idias, os mesmos gostos, as mesmas preferncias e os mesmos valores, preferisse analisar: O que um valor? O que um valor moral? O que um valor artstico? O que a moral? O que a vontade? O que a liberdade?Algum que tomasse essa deciso, estaria tomando distncia da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que so as crenas e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existncia.Ao tomar essa distncia, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que so nossas crenas e nossos sentimentos. Esse algum estaria comeando a adotar o que chamamos de atitude filosfica.Assim, uma primeira resposta pergunta O que Filosofia? poderia ser: A deciso de no aceitar como bvias e evidentes as coisas, as idias, os fatos, as situaes, os valores, os comportamentos de nossa existncia cotidiana; jamais aceit-los sem antes hav-los investigado e compreendido.Perguntaram, certa vez, a um filsofo: Para que Filosofia?. E ele respondeu: Para no darmos nossa aceitao imediata s coisas, sem maiores consideraes.

CHAUI, Marilena. Convite Filosofia.

A atitude crtica

A primeira caracterstica da atitude filosfica negativa, isto , um dizer no ao senso comum, aos pr-conceitos, aos pr-juzos, aos fatos e s idias da experincia cotidiana, ao que todo mundo diz e pensa, ao estabelecido.A segunda caracterstica da atitude filosfica positiva, isto , uma interrogao sobre o que so as coisas, as idias, os fatos, as situaes, os comportamentos, os valores, ns mesmos. tambm uma interrogao sobre o porqu disso tudo e de ns, e uma interrogao sobre como tudo isso assim e no de outra maneira. O que ? Por que ? Como ? Essas so as indagaes fundamentais da atitude filosfica.A face negativa e a face positiva da atitude filosfica constituem o que chamamos de atitude crtica e pensamento crtico.A Filosofia comea dizendo no s crenas e aos preconceitos do senso comum e, portanto, comea dizendo que no sabemos o que imaginvamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Scrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosfica dizer: Sei que nada sei. Para o discpulo de Scrates, o filsofo grego Plato, a Filosofia comea com a admirao; j o discpulo de Plato, o filsofo Aristteles, acreditava que a Filosofia comea com o espanto.Admirao e espanto significam: tomamos distncia do nosso mundo costumeiro, atravs de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o tivssemos visto antes, como se no tivssemos tido famlia, amigos, professores, livros e outros meios de comunicao que nos tivessem dito o que o mundo ; como se estivssemos acabando de nascer para o mundo e para ns mesmos e precisssemos perguntar o que , por que e como o mundo, e precisssemos perguntar tambm o que somos, por que somos e como somos.

CHAUI, Marilena. Convite Filosofia.

A reflexo filosfica

Reflexo significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexo o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.A reflexo filosfica radical porque um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como possvel o prprio pensamento.No somos, porm, somente seres pensantes. Somos tambm seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relaes tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e aes.A reflexo filosfica tambm se volta para essas relaes que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as aes que realizamos nessas relaes.A reflexo filosfica organiza-se em torno de trs grandes conjuntos de perguntas ou questes:1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? Isto , quais os motivos, as razes e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto , qual o contedo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto , qual a inteno ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?Essas trs questes podem ser resumidas em: O que pensar, falar e agir? E elas pressupem a seguinte pergunta: Nossas crenas cotidianas so ou no um saber verdadeiro, um conhecimento?Como vimos, a atitude filosfica inicia-se indagando: O que ? Como ? Por que ?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. So perguntas sobre a essncia, a significao ou a estrutura e a origem de todas as coisas.J a reflexo filosfica indaga: Por qu?, O qu?, Para qu?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexo. So perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.

CHAUI, Marilena. Convite Filosofia.

O quadro a seguir apresenta reflexes sobre a experincia que, conforme Plato e Aristteles, proporciona ao ser humano o empenho do pensar filosoficamente. Essa experincia corresponde ao thauma, perplexidade...

Admirao e Desbanalizao

Plato e Aristteles deram filosofia uma de suas melhores definies. Eles viram a filosofia como um discurso admirado e/ou espantado com o mundo. difcil abandonar a idia, que vem dos clssicos gregos, de que um discurso que fala sobre o mundo e que responde questes do tipo o que um raio?, como acontece um raio?, um discurso curioso como discurso da cincia , mas que no denota algum to admirado e/ou to espantado quanto aquele que pergunta o que o que ? uma pergunta do discurso filosfico. As perguntas da filosofia mostram uma atitude de mxima admirao, pois demonstram inquietude com aquilo que at ento era o mais banal. Se algum pergunta o que o que ?, este algum est criando a desbanalizao de algo superbanal, que a condio de ser, o que at ento no havia preocupado ningum. Ns, por exemplo, estamos cotidianamente preocupados em saber coisas que no sabamos. Agora, perguntar pelo ser das coisas que queremos saber o que so, nos parece meio fora de propsito por que teramos de perguntar pelo que to banal? Ora, o que a filosofia faz, na acepo tradicional que vem de Plato e Aristteles, justamente isto: ela pe certas perguntas que nos obrigam a olhar o banal como no mais banal. A filosofia, ento, o vocabulrio com o qual desbanalizamos o banal. Tudo com o qual estamos acostumados fica sob suspeita, sob o crivo de uma sentena indignada e, assim, deixamos de nos ver acostumados com as coisas s quais, at ento, estvamos acostumados!

GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Que Filosofia? Disponvel em:

Filosofia: um pensamento sistemtico

Essas indagaes fundamentais no se realizam ao acaso, segundo preferncias e opinies de cada um de ns. A Filosofia no um eu acho que ou um eu gosto de. No pesquisa de opinio maneira dos meios de comunicao de massa. No pesquisa de mercado para conhecer preferncias dos consumidores e montar uma propaganda.As indagaes filosficas se realizam de modo sistemtico. Que significa isso? Significa que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lgicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de demonstrao e prova, exige a fundamentao racional do que enunciado e pensado. Somente assim a reflexo filosfica pode fazer com que nossa experincia cotidiana, nossas crenas e opinies alcancem uma viso crtica de si mesmas. No se trata de dizer eu acho que, mas de poder afirmar eu penso que.O conhecimento filosfico um trabalho intelectual. sistemtico porque no se contenta em obter respostas para as questes colocadas, mas exige que as prprias questes sejam vlidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclaream umas s outras, formem conjuntos coerentes de idias e significaes, sejam provadas e demonstradas racionalmente.Quando o senso comum diz esta minha filosofia ou isso a filosofia de fulana ou de fulano, engana-se e no se engana.Engana-se porque imagina que para ter uma filosofia basta algum possuir um conjunto de idias mais ou menos coerentes sobre todas as coisas e pessoas, bem como ter um conjunto de princpios mais ou menos coerentes para julgar as coisas e as pessoas. Minha filosofia ou a filosofia de fulano ficam no plano de um eu acho coerente.Mas o senso comum no se engana ao usar essas expresses porque percebe, ainda que muito confusamente, que h uma caracterstica nas idias e nos princpios que nos leva a dizer que so uma filosofia: a coerncia, as relaes entre as idias e entre os princpios. Ou seja, o senso comum pressente que a Filosofia opera sistematicamente, com coerncia e lgica, que a Filosofia tem uma vocao para formar um todo daquilo que aparece de modo fragmentado em nossa experincia cotidiana.

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