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PSICOLOGIA COGNITIVA

Psicologia cognitiva - sinopsyseditora.com.br · disciplinas formado pela psicologia cognitiva, inteligência artificial, filo- sofia da mente, neurociência e suas relações interdisciplinares,

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Psicologia cognitiva

P974 Psicologia cognitiva: teoria, modelos e aplicações / organizado por Gustavo Gauer e Luciana Karine de Souza ... [et al.]. – Novo Hamburgo : Sinopsys, 2018. 16x23cm ; 256p.

ISBN 978-85-9501-055-0

1. Psicologia cognitiva. I. Gauer, Gustavo. II. Souza, Luciana Karine de. II. Título.

CDU 159.922

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023

2018

Psicologia cognitivaTeoria, Modelos e Aplicações

Gustavo GauerLuciana Karine de Souza

e colaboradores

© Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2018Psicologia Cognitiva – Teoria, Modelos e AplicaçõesGustavo Gauer, Luciana Karine de Souza e colaboradores

Capa: Fabiana Franck

Editoração: Formato Artes Gráficas

Assistente editorial: Jade Arbo

Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto

Todos os direitos reservados àSinopsys EditoraFone: (51) 3066-3690E-mail: [email protected]: www.sinopsyseditora.com.br

Gustavo Gauer (org.). Psicólogo. Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Associado do Departa-mento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da UFRGS. Docente-orientador no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRGS.

Luciana Karine de Souza (org.). Psicóloga. Doutora em Psicologia pela UFRGS. Docente-orientadora no PPG-Interdisciplinar em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-doutoranda (PNPD-CAPES) no PPG-Psicologia da UFRGS.

Adriane Xavier Arteche. Psicóloga. Doutora em Psicologia pela UFRGS. Pro-fessora Adjunta da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católi-ca do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Docente-orientadora no PPG-Psicologia da PUC-RS.

Alexandre de Pontes Nobre. Psicólogo. Mestre em Psicologia pela UFRGS. Doutorando no PPG-Psicologia da UFRGS em co-tutela com KU Leuven.

Amanda DaSilveira. Psicóloga. Doutora em Psicologia pela UFRGS. Analista de dados de Ebay Inc.

Autores

Andre Luiz Moreno. Psicólogo. Mestre em Psicologia pela UFRGS. Douto-rando no PPG-Saúde Mental da Faculdade de Medicida de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto (USP-RP).

Briseida Dôgo de Resende. Bióloga. Doutora em Psicologia Experimental pela USP. Professora do Instituto de Psicologia da USP. Docente-orientadora no PPG-Psicologia Experimental da USP.

Carmem Beatriz Neufeld. Psicóloga. Doutora em Psicologia pela PUC-RS. Professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP-RP. Docente-orientadora no PPG-Psicologia da USP.

Daniela Benites. Psicóloga. Doutora em Psicologia pela UFRGS. Pós-douto-randa nas clínicas de psicoterapia C2 Change e Capital Area Counseling em Austin, Texas.

Emmanuelle Tognoli. PhD pela Université de Lorraine. Research Associate Professor no Center for Complex Systems and Brain Sciences na Florida Atlantic University.

Gerson Americo Janczura. Psicólogo. Doutor em Psicologia Cognitiva Experi-mental pela University of South Florida. Professor Associado do Departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasí-lia (UnB). Docente-orientador no PPG-Ciências do Comportamento da UnB.

Gerson Siegmund. Psicólogo. Mestre em Psicologia pela UFRGS. Doutoran-do no PPG-Psicologia da UFRGS, com estágio doutoral no King’s College e Maudsley Hospital, Londres.

Gustavo Arja Castañon. Psicólogo. Filósofo. Doutor em Psicologia pela Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor Adjunto do Departamento de Filosofia do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Docente-orientador no PPG-Psicologia e no PPG-Filosofia da UFJF.

J. A. Scott Kelso. PhD pela University of Wisconsin at Madison. Glenwood and Martha Creech, Eminent Scholar in Science. Professor of Complex Systems and Brain Sciences, Psychology, Biological Sciences and Biomedical Science no Center for Complex Systems and Brain Sciences na Florida Atlan-tic University.

vi Autores

Jerusa Fumagalli de Salles. Fonoaudióloga. Doutora em Psicologia pela UFRGS. Professora Associada do Departamento de Psicologia do Desenvolvi-mento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da UFRGS. Docente- -orientadora no PPG-Psicologia da UFRGS.

Juliana Burges Sbicigo. Psicóloga. Doutora pela UFRGS. Pós-doutoranda (PNPD-CAPES) no PPG-Psicologia da UFRGS.

Marcos Ricardo Janzen. Psicólogo. Mestre em Psicologia pela UFRGS. Dou-torando do PPG-Psicologia da UFRGS, com estágio doutoral na Colorado State University.

Maria Emília Yamamoto. Psicóloga. Doutora em Psicobiologia pela Universi-dade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora Titular do Departamento de Fisiologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Docente-orientadora no PPG-Psicobiologia da UFRN.

Maria Teresa Carthery-Goulart. Fonoaudióloga. Doutora em Neurologia pela USP. Professora Adjunta do Centro de Matemática, Computação e Cognição da UFABC. Docente-orientadora no PPG-Neurociência e Cogni-ção da UFABC.

Mariane Lima de Souza. Psicóloga. Doutora em Psicologia pela UFRGS. Professora Associada do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvi-mento do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Docente-orientadora no PPG-Psicologia da UFES.

Patrícia Izar. Bióloga. Doutora em Psicologia Experimental pela USP. Pro-fessora Doutora-II do Departamento de Psicologia Experimental do Institu-to de Psicologia da USP. Docente-orientadora no PPG-Psicologia Experi-mental da USP.

Priscila Goergen Brust-Renck. Psicóloga. Doutora em Psicologia do Desen-volvimento pela Cornell University. Pesquisadora do Centro de Pesquisa Ex-perimental do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Roberta Salvador-Silva. Psicóloga. Mestre em Psicologia pela PUC-RS. Pro-fessora das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT). Doutoranda no PPG-Psicologia da PUC-RS, com estágio doutoral na Brown University.

Autores vii

Roberto Guedes de Nonohay. Administrador de Empresas. Mestre em Ad-ministração pela UFRGS. Professor do Centro Universitário UNIVATES. Doutorando no PPG-Psicologia da UFRGS, com estágio doutoral na Univer-sity of Michigan.

Rodrigo Grassi-Oliveira. Psiquiatra. Doutor em Psicologia pela PUCRS. Professor Adjunto da Faculdade de Psicologia da PUC-RS. Docente-orienta-dor no PPG-Psicologia da PUC-RS.

Thiago Gomes de Castro. Psicólogo. Doutor em Psicologia pela UFRGS. Professor Adjunto do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da UFRGS. Docente-orientador no PPG-Psicologia da UFRGS.

viii Autores

Sumário

Apresentação ................................................................................. 11Gustavo Gauer e Luciana Karine de Souza

Parte I – Teoria

1 Epistemologia da Ciência Cognitiva ....................................... 15 Gustavo Arja Castañon

2 Cognição e Evolução .............................................................. 33 Maria Emília Yamamoto, Briseida Dôgo de Resende e Patrícia Izar

3 Dinâmicas de Coordenação e Metaestabilidade ...................... 48 Daniela Benites, J. A. Scott Kelso e Emmanuelle Tognoli

Parte II – Modelos

4 Memória de Trabalho ............................................................. 71 Gustavo Gauer, André Luiz Moreno e Gerson Siegmund

5 Memória: Da Lembrança ao Esquecimento ........................... 90 Priscila Goergen Brust-Renck e Carmem Beatriz Neufeld

6 Categorização ........................................................................ 112 Gerson Américo Janczura

7 Processamento Implícito ........................................................ 129 Alexandre de Pontes Nobre e Gustavo Gauer

8 Priming .................................................................................. 142 Jerusa Fumagalli de Salles e Juliana Burges Sbicigo

9 Tomada de Decisão, Incerteza e Complexidade ...................... 157 Roberto Guedes de Nonohay e Gustavo Gauer

10 Resolução de Problemas: O Elo entre Psicologia Cognitiva, Neurociências e Filosofia ....................................... 171 Amanda DaSilveira e Maria Teresa Carthery-Goulart

Parte III – Aplicações

11 Emoções ................................................................................ 189 Adriane Xavier Arteche, Roberta Salvador-Silva e Rodrigo Grassi-Oliveira

12 Cognição e Ação .................................................................... 203 Thiago Gomes de Castro e Marcos Ricardo Janzen

13 Cognição e Self ..................................................................... 216 Mariane Lima de Souza

14 Cognição Social ..................................................................... 231 Luciana Karine de Souza

15 Psicologia Cognitiva e Terapia Cognitivo-Comportamental ... 245 André Luiz Moreno e Gustavo Gauer

x Sumário

Apresentação

Gustavo Gauer e Luciana Karine de Souza

A formação de psicólogos, assim como outros profissionais da saú-de, da educação e ciências sociais aplicadas, tem colocado crescente ênfase no conhecimento cientificamente fundamentado sobre os processos psi-cológicos básicos (PPBs). Isso se verifica tanto no nível da graduação quanto da pós-graduação. A psicologia cognitiva tem sido uma das abor-dagens capitais em termos de contribuição teórica e empírica ao estudo dos PPBs, desde os anos 1960. O campo tem sido continuamente profí-cuo em hipóteses empiricamente testáveis, o que fornece dados para uma variedade de modelos de processamento de informação que objetivam ex-plicar processos que abarcam desde a percepção e atenção até o pensa-mento formal e a tomada de decisão moral.

O crescimento da formação em psicologia no Brasil e suas inser-ções em áreas afins ocasiona uma demanda por literatura que não ape-nas aumenta, mas também pode trazer requisitos específicos da nossa realidade. Ensinar sobre os PPBs nas diversas realidades que são encon-tradas em nosso contexto enseja o oferecimento de variados formatos e adequados conteúdos nos materiais disponíveis. Afora isso, é preciso ressaltar que, se a psicologia cognitiva se desenvolveu, se expandiu e se consolidou internacionalmente, o Brasil não esteve excluído do proces-so. Um número significativo de pesquisadores tem produzido, em seus

laboratórios, conhecimento na área em nível equivalente (muitas vezes em parceria) com os principais centros internacionais.

A ideia que originou este livro foi oferecer ao público brasileiro um livro-texto sobre psicologia cognitiva produzido por autores brasileiros (na sua maioria), representativos da consolidação da área no país como professores e pesquisadores atuantes. Todos os capítulos têm a autoria de pelo menos um professor universitário brasileiro atuante na pesquisa e no ensino de psicologia cognitiva. Assim, os temas puderam ser enfocados de uma maneira voltada às expectativas da nossa própria realidade no ensino de PPBs na graduação e na pós-graduação brasileiras.

O livro é organizado em três partes que contemplam a psicologia cognitiva em termos de teoria, modelos e splicações. A Parte I, “Teoria”, apresenta questões cruciais sobre a teoria e a epistemologia da ciência cognitiva, bem como aportes de outras abordagens que interatuam com o campo da psicologia cognitiva. Na Parte II, “Modelos”, são contem-plados conceitos fundamentais a um conjunto processos psicológicos básicos, incluindo diversos sistemas de memória, categorização e toma-da de decisão, entre outros. Distintos modelos cognitivos para esses fe-nômenos são apresentados, analisados e comparados nos respectivos ca-pítulos. Na Parte III, “Aplicações”, os processos cognitivos são relacio-nados com outros campos psicológicos, sejam domínios correlatos (de-senvolvimento, social, da personalidade), sejam intervenções (clínica).

Por fim, e não menos importante, agradecemos ao Professor Vitor Geraldi Haase, da Universidade Federal de Minas Gerais, por ter conce-bido a ideia de um livro como este, e por sua generosidade em compar-tilhá-la conosco e nos instigar a efetivá-la. Agradecemos, e muito, tam-bém, a cada um dos colegas, professores-pesquisadores e colaboradores, que contribuíram para esta obra.

12 Apresentação

Parte ITeoria

INTRODUÇÃO

As assim chamadas ciências cognitivas (CC) são um conjunto de disciplinas formado pela psicologia cognitiva, inteligência artificial, filo-sofia da mente, neurociência e suas relações interdisciplinares, que se dedicam a investigar a cognição humana. Portanto, seu objeto de estu-do não é diretamente observável, precisando ser inferido de comporta-mentos. Como isso é possível? O que elas chamam de “cognição”? Que concepção de método e conhecimento científico pode sustentar tal tipo de atividade, inconcebível setenta anos atrás? Esses são alguns proble-mas apresentados sumariamente neste capítulo.

ALGUNS PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS

Para uma melhor compreensão das questões acerca do processo de obtenção do conhecimento nas CC, serão elencadas aqui algumas crenças básicas que estas assumem em relação a seu objeto.

1Epistemologia da Ciência Cognitiva

Gustavo Arja Castañon

16 Epistemologia da Ciência Cognitiva

Simulação Computadorizada

O objeto das ciências cognitivas

Podemos sumariamente definir cognição como representações men-tais e suas regras de transformação. As CC investigam os processos en-volvidos na aquisição, representação, armazenamento e utilização do conhecimento, como a sensação, percepção, atenção, memória, apren-dizagem, pensamento e linguagem.

Uma definição bem geral e representativa acerca desse objeto, li-gada à tradição do processamento de informação, é oferecida por Neisser (1967): “todos os processos pelos quais o input sensorial é transforma-do, reduzido, elaborado, estocado, recuperado e usado” (p. 4). Assim, a

Figura 1.1 Fonte: Castañon, 2017.

Filosofia

Psicologia Cognitiva

InteligênciaArtificial

Filosofia daLinguagem

Filosofia da Mente

Neusopsicologia

Neurociência

Lógica

Psicologia Cognitiva 17

meta da psicologia cognitiva não é só conhecer representações, mas, principalmente, conhecer as regras de transformação da informação que entram no sujeito como input e saem como output. Mais ainda, as CC podem investigar essas regras tanto em suas formas terminais quanto através do processo de seu desenvolvimento.

Sinais sensoriais são informação

Informação, conceito fundamental nas CC, é aquilo que é trans-mitido quando um sinal atinge um receptor, capacitando-o para fazer uma escolha entre um conjunto de alternativas possíveis e mutuamente excludentes (Shannon, 1948). Assim sendo, a menor unidade de infor-mação possível é aquilo que chamamos bit, porque se dá sobre a rejei-ção ou aceitação de uma unidade de mensagem. É importante pontuar que informação não carrega em si significado, mas permite ao receptor escolher entre ao menos dois deles. Se a relação entre o sinal físico e o significado não tiver sido estabelecida previamente, o estímulo físico não informa. Dizer que eu acredito em “stranbovskys” não informa nada a você sobre minhas crenças porque não lhe permite discriminar qualquer significado em sua mente.

Isso implica que poderíamos estudar representações mentais e suas regras de processamento sem entrarmos em questões semânticas, ou seja, de adequação da representação ao mundo. Fodor (1991) trans-forma isto no princípio do solipsismo metodológico. O aspecto da mente que pode ser estudado é o puramente sintático. Se um paciente acredita em duendes que vivem em Mauá, isto causa nela o desejo de vê-los, o que a leva a viajar a Mauá e procurá-los pelas matas. Quer existam ou não duendes, não é necessário nada externo ao sujeito psicológico para explicar esse comportamento: somente as informações que ela recebe, as representações que tem e as regras que as manipulam.

18 Epistemologia da Ciência Cognitiva

A mente como um programa

A maioria dos cientistas cognitivos rejeita o que chamam de “dualismo”, a tese de que a mente é distinta do cérebro, e defende que a mente é física, embora divirjam quanto ao tipo de materialis-mo a ser adotado. O tipo de filosofia da mente materialista que do-mina as versões mais tradicionais das CC é o funcionalismo, que defende fundamentalmente que mentes são sistemas causais que exe-cutam funções na forma de programas de instruções (Putnam, 1961). Função é uma relação regida por uma lei de formação (regra) entre dois ou mais conjuntos de coisas, que faz com que cada elemento do primeiro conjunto tenha um e somente um correspondente no se-gundo. Em outras palavras, funções são algoritmos, sequências de operações lógico-matemáticas (do tipo “se, então”: se cair na quinta casa então avance duas casas) a serem aplicadas à informação que en-tra (input), para transformá-la em uma e somente numa informação diferente na saída (output). Por exemplo, a função de primeiro grau 3x+1=y (programa) é uma regra que relaciona o conjunto dos núme-ros x (valor do input: 2) com o conjunto dos números y (valor do ou-tput: 7). No caso da mente, as funções seriam regras que relacionam um conjunto de inputs, os dados sensoriais, com outputs, os compor-tamentos. A analogia básica é: (computador) input-programa-output, (mente) estímulos-processo-resposta.

Outra consequência dessa tese é a de que estes estados funcionais são realizados por estados cerebrais, mas poderiam sê-lo por outro hardware, de maneira correlata ao que acontece quando você instala o mesmo pro-grama em dois computadores diferentes com o mesmo sistema opera-cional. Pode-se estar falando de máquinas com um antigo 486 ou um dual core, mas se ambas tem um Windows 7 e estão executando um Word 2007 para abrir o mesmo arquivo, os dois diferentes hardwares estão no mesmo estado funcional. Este é o conceito de realizabilidade múltipla (Putnam, 1961).

Psicologia Cognitiva 19

Consequentemente, a forma física de uma máquina ou de um cére-bro seria irrelevante para a determinação do papel funcional que ele realiza. O que Putnam propõe é que nossos estados mentais estão para os estados neurofisiológicos da mesma forma que os estados lógicos de uma máquina estão para os estados físicos dessa máquina. Podemos reduzir esta ideia à cé-lebre fórmula: A mente está para o cérebro como o software para o hardware.

O que é uma representação mental?

Uma vez entendido o que seriam as regras de transformação das representações, ainda nos restaria definir o que seriam as representações. Representação mental é um estado interno que simboliza algo distinto dele próprio. Assim a palavra “cadeira” (ou uma imagem da cadeira) se-ria uma representação mental de uma cadeira particular.

Há dois níveis nos quais podemos discutir as representações men-tais nas ciências cognitivas. O nível mais direto é o das representações conscientes, como a frase pensada ou proferida “eu fui à universidade ontem” representa o evento que ocorreu comigo. Para este, generalizou--se a tese de que há vários tipos de representação, desde as proposicio-nais (linguísticas) até as imagéticas, que podem ser imagens visuais, au-ditivas (melodias), cinestésicas, olfativas e gustativas.

O segundo nível é a da forma pela qual supostamente estas re-presentações estariam, elas mesmas, “implementadas” no cérebro em algum tipo de linguagem de máquina (Fodor, 1975). Especula-se que elas poderiam estar registradas numa estrutura de sinapses análoga às alterações num HD que representam “sentenças” e as regras de infe-rência para transformá-las (Fodor, 1975). Já os conexionistas acredi-tam que as representações estariam implementadas como um padrão vetorial de atividade (Smolesnky, 1988).

20 Epistemologia da Ciência Cognitiva

A mente é modular

A existência de vários tipos de representação está ligada a tese de Fodor (1983) de que a mente é modular, ou seja, constituída de vários módulos ou processadores cognitivos de relativa independência, que executam funções distintas e processam informações diferentes. Essa tese é fundamental para a neurociência, que também depende das teses do iso-morfismo, que afirma existir uma correspondência significativa entre a or-ganização do cérebro físico e a organização da mente, e da uniformidade (Coltheart, 2001) dessas organizações entre as pessoas. Sem elas, o estudo das síndromes, ou seja, de um padrão comum de relação entre lesões es-pecíficas e déficits cognitivos, seria impossível, e a busca de padrões de ativação cerebral (através de imageamento cerebral) relacionados à opera-ção de determinadas capacidades cognitivas não teria sentido.

FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS

Entramos então nos fundamentos epistemológicos das CC, apresentando aqui basicamente três questões: a da origem do conhe-cimento, da estrutura da investigação científica e da natureza da ex-plicação psicológica.

Construtivismo e inatismo

Tradicionalmente, as respostas à questão da origem do conheci-mento se dividiam entre o ambientalismo empirista e o inatismo ra-cionalista. O construtivismo se apresentou como um terceiro tipo de resposta ao problema. Este termo surge com Piaget (1967), que no-meou uma tradição de pensamento iniciada com Kant (Castañon, 2009). Antes de Kant, se pensava o conhecimento como uma deter-

Psicologia Cognitiva 21

minação do sujeito pelo objeto. Kant apresenta o processo do conhe-cimento como a organização ativa por parte do sujeito – através das estruturas da razão – do material que nos é fornecido pelos sentidos. Para o construtivismo, o sujeito constrói suas representações de mun-do e não recebe passivamente as impressões causadas pelos objetos, ou seja, a mente é proativa.

Podemos indicar dois sentidos nos quais o termo “construção” é usado em relação à filosofia kantiana. O primeiro, mais básico e original, é o que ocorre em nossas percepções e nos é lembrado por Longuenesse (1998), que indica que nossas representações dos objetos empíricos são construídas de forma automática, pelas estruturas inatas de nossa men-te, sem interferência da mente consciente. Boghossian (2006) chama este modelo de cookie-cutter, pois a mente recortaria o material caótico dos sentidos impondo-o limites de acordo com suas formas inatas. O segundo, mais geral e superficial, indica o processo autônomo de cons-trução de hipóteses sobre a natureza para posterior teste empírico de sua validade (Longuenesse, 1998).

O problema da circularidade nas ciências cognitivas

As CC têm uma característica peculiar entre as ciências: elas estu-dam o processo de obtenção de conhecimento, mas têm que partir de pressupostos sobre ele. Na direção inversa, a epistemologia, como disci-plina filosófica, não somente suscita questões normativas (prescritivas) ou verdades necessárias, mas também questões de fato, empiricamente testáveis pelas CC. Como pontua Thagard (2007), essas provêm muita evidência empírica sobre a estrutura da mente e os processos mentais de aquisição de conhecimento, desde a percepção até o raciocínio abstrato. Seria absurdo não confrontar as ideias epistemológicas sobre a origem do conhecimento com os resultados das CC, razão pela qual ele defende

22 Epistemologia da Ciência Cognitiva

a adoção de uma epistemologia que faça isso: uma epistemologia natu-ralista. Somos obrigados a pontuar entretanto que há questões sobre a possibilidade, natureza e justificação do conhecimento que nada tem a receber das CC.

Embora resultados empíricos contrários à tese do construtivis-mo pudessem desafiar a imagem geral de conhecimento assumida pe-las CC, desde o clássico de Neisser (1967), elas tendem a chegar a conclusões construtivistas, como a de que todos os atos cognitivos se-riam atos de construção de dois estágios, o primeiro rápido, automáti-co e paralelo e o segundo deliberado, atencional e sequencial. Um dos modelos de processamento predominantes nas CC é o bottom-up e top-down (Eysenck & Keane, 2007), segundo o qual todo processa-mento de informação é executado bidirecionalmente: o bottom-up re-fere-se ao processamento diretamente iniciado pelo input do estímulo, enquanto o top-down diz respeito ao processamento feito em função daquilo que o indivíduo traz à situação de estímulo (experiência pas-sada, expectativas de relevância, etc.). Essa nada mais é que a versão computacional da tese construtivista (popperiana) de que nossas hipó-teses e expectativas condicionam a seleção das informações que consi-deraremos relevantes em cada contexto.

Outra característica importante das CC é o seu comprometimen-to com o inatismo, embora o grau desse comprometimento varie entre seus defensores. Enquanto para funcionalistas como Fodor (1975) ou Pinker (1994) o processo de evolução da espécie teria nos dotado de mecanismos inatos para o processamento da informação em domínios específicos, o conexionismo inicial (McClelland & Rumelhart, 1986) defendia que o cérebro era uma rede neural genérica que poderia apren-der por associação passiva de estímulos, com concessões extremamente limitadas ao inatismo e uma visão muito próxima do antigo associacio-nismo (o que também colocaria em cheque uma visão construtivista da origem do conhecimento). Ainda é motivo de disputa nas CC o nível do papel dos genes e do ambiente, assim como o exato significado do

Psicologia Cognitiva 23

termo “inato” e as explicações de como qualquer tipo de conhecimento inato é de fato possível (Gross & Rey, 2012).

Ciências cognitivas e filosofia da ciência

Defendo tese (Castañon, 2007) de que o advento das CC só se tornou possível graças à mudança radical na concepção de ciência mo-derna promovida pelo racionalismo crítico. Ao minar e posteriormente derrotar o positivismo lógico como filosofia da ciência hegemônica, Po-pper (1975) acabou com o mito da indução e da observação neutra como origem do conhecimento científico e generalizou o reconheci-mento do método hipotético-dedutivo em oposição ao indutivo-experi-mental. Desde então o estudo empírico de processos cognitivos, inob-serváveis, pôde conquistar o respeito da comunidade científica.

Nos anos 1930, o behaviorismo aderia ao critério de demarcação do positivismo lógico entre uma assertiva científica (“provida de signifi-cado”) e uma assertiva metafísica (“desprovida de significado”): sua veri-ficabilidade, ou seja, sua redução a termos fisicalistas, derivados da ex-periência direta. Isso interditava completamente a pesquisa científica de processos cognitivos inobserváveis (o “mentalismo”).

Ao lograr estabelecer majoritariamente o falsificacionismo como novo critério de demarcação entre assertivas científicas e não científicas, Popper criou as condições necessárias (não suficientes) para o surgimen-to de uma legítima ciência da mente. Hoje cientistas cognitivos obser-vam o comportamento, mas simplesmente para fazer inferências sobre os processos cognitivos que podem realmente explicá-lo. Eles concor-dam que os dados da ciência devem ser públicos, mas não necessaria-mente o seu objeto. Depois de Popper, já não é a observação direta de determinados fenômenos que deve fornecer as hipóteses a serem testa-das, sua origem não importa. O que importa é se geram ou não conse-quências (predições) testáveis, observáveis, passíveis de falsificação, e por

24 Epistemologia da Ciência Cognitiva

fim, serem submetidas a teste. E uma hipótese é falsificável se existe uma proposição de observação qualquer, logicamente possível, que, se estabelecida como verdadeira, implicaria em sua rejeição como falsa. Em outras palavras, todo conhecimento científico é conjectural. Sua busca é a verdade (a correspondência entre uma proposição e o mun-do), não a eficiência, mas verdade é um ideal normativo, é algo do qual podemos nos aproximar, mas nunca ter a certeza de possuir.

Embora não exista uma adoção formal ou explícita por parte da maioria dos cientistas cognitivos de um modelo específico de ciência, é evidente que toda pesquisa científica repousa sobre pressupostos filosó-ficos, e também que as CC têm praticado ciência de forma semelhante ao que Popper preconizou. Ao longo da década de 1990, a evidência dessa influência se disseminou e passou a ser reconhecida por vários psi-cólogos e cientistas cognitivos, no Brasil e no exterior (Penna, 1986; Castañon, 2007; Eysenck & Keane, 1994; Beck & Alford, 2000; Fetzer, 2000; Bem & de Jong, 1997; Sperry, 1994).

O processo de investigação científica

As CC introduziram várias novas técnicas na ciência moderna (como o uso de dados oriundos de lesões cerebrais, do tempo de rea-ção em estudos experimentais e técnicas de neuroimagem em experi-mentos e estudos de correlação) e até um novo método, a simulação computadorizada. Assumiram o método geral de investigação científi-ca (o hipotético-dedutivo), como legado por Popper (1975), consti-tuído de quatro etapas básicas, e os diferentes métodos utilizados na pesquisa em ciência cognitiva têm sua validade restrita a uma única destas etapas. Na primeira, a do problema, o objetivo é a descrição do fenômeno investigado da mais precisa forma possível; aqui, entram em cena os métodos descritivos, como os estudos de casos (incluindo os neuropsicológicos de lesões e síndromes associadas), os autorrelatos, as

Psicologia Cognitiva 25

observações naturalistas e os levantamentos de dados, com ou sem estu-dos de correlação. A segunda ordem é a da hipótese; aqui o objetivo é a construção de um modelo ou elaboração de uma hipótese causal. De-fendo (Castañon, 2007b) a adequação de uma nova categoria na clas-sificação geral dos métodos, que poderia ser denominanda “métodos construtivos”, em virtude da natureza exclusivamente lógico-matemá-tica dos procedimentos adotados e da exclusividade dos objetivos. É dessa categoria a simulação computadorizada. Simulações são auxiliares da criatividade do cientista cognitivo no momento de formulação de uma hipótese e o obriga a alcançar um nível altíssimo de explicitação e formalização de seu modelo. A terceira ordem de objetivos é a do teste. Nesta etapa, o objetivo da pesquisa é submeter a uma tentativa de falsificação uma hipótese ou modelo. Aqui só há a autoridade do método experimental, supremo tribunal da investigação científica. Por fim, ainda há a ordem da análise estatística dos resultados para deter-minar a corroboração ou refutação da hipótese.

Métodos Construtivos

Hipótese(Conjectura e consequência

testável)

Lei(Novas crenças / Crenças prévias)

teste(experimento)

pROBLeMA(Descrição de

fenômeno inexplicado)

Métodos Descritivos Métodos Experimentais

Indução DeduçãoDeduçãoIndução

MeNte

MUNDO

Figura 1.2 Fonte: Castañon, 2017.

26 Epistemologia da Ciência Cognitiva

Ao contrário do que pode ser concluído a partir de uma compreen-são superficial do método hipotético-dedutivo, ele não é uma via de mão única, nem leva a falsificações definitivas ou descarte de teorias com base em um único experimento. Não só a base empírica da falsifi-cação pode ser ela própria falsificada (através de novos experimentos), como os dados resultantes de um experimento motivam modificações na teoria, num processo de feedback contínuo, onde as novas teorias científicas de hoje são as crenças prévias de amanhã que serão desafiadas por novos dados.

A explicação científica nas ciências cognitivas

Todas as ciências têm como um de seus principais objetivos o de oferecer explicações do mundo. Uma explicação é uma resposta a uma pergunta sobre porque algo ocorreu, apontando as causas da ocorrência de um fenômeno. As CC precisam explicar, em última análise, o com-portamento individual. Demandamos respostas sobre por que alguém é capaz de lembrar de uma quantidade inusual de fatos da infância, ou de matar outra pessoa a sangue frio.

Mas a verdade é que as CC ainda não são capazes de oferecer esse tipo de explicação. Embora elas pratiquem o método hipotético-deduti-vo e tenham grande número de pesquisadores aderidos a um estrito de-terminismo, não conseguem oferecer explicações dedutivo-nomológicas (Hempel & Oppenheim, 1949) de comportamentos. Na EDN assume-se que um evento está cientificamente explicado quando ele demonstra ser uma instância de uma lei geral (um caso particular de sua atuação). Mas para oferecer uma EDN de um comportamento humano parti- cular, deveríamos conter no argumento leis gerais de funcionamento da cognição, as leis de seu desenvolvimento, as leis de sua implantação e relação com o cérebro e todas as condições iniciais relativas a elas (a in-formação sensorial de entrada, crenças atuais, metas atuais, estágio de

Psicologia Cognitiva 27

desenvolvimento, quantidade de cada neurotransmissor no sangue, etc.). Isso é, evidentemente, irrealizável.

Essa situação levou muitos autores a defender que uma forma de explicação adequada à psicologia não deveria fazer uso de leis em suas premissas. É isso o que propõe a explicação mecanística ao des-crever somente o funcionamento dos “mecanismos”. Um mecanismo é definido por Bechtel e Wright (2009) como um sistema composto organizado de uma forma que as operações coordenadas dos compo-nentes produzam efeitos e tenham capacidades. Para eles (Wright & Bechtel, 2007), são esses efeitos que demandam explicação. A explica-ção mecanística, portanto, somente explica leis secundárias (como funcionam os mecanismos, como a memória ou a percepção), não comportamentos individuais.

Fodor (1991) considera que a neurociência consiste na especifi-cação de um algoritmo (uma sequência de instruções “se, então”) que ao executar uma função provoque exatamente determinado efeito. Por exemplo, um algoritmo teria que especificar como o sistema vi-sual processa cores de forma a provocar o efeito da pós-imagem de cores opostas. Cummins (2000) acredita que estes efeitos são a coisa mais próxima que temos de leis nas CC. Ele lembra que explicar por que a mente faz o que faz não é o objetivo da explicação mecanística, e sim, explicar como ela faz. Thagard (2003) classifica esse tipo de ex-plicação como resposta a uma “how-question” e não uma “why-ques-tion” como no DNM.

Embora isso possa parecer deveras frustrante, é curioso observar que não importa o quanto alguns cientistas cognitivos sejam determi-nistas, suas explicações mecanísticas nunca o serão, ao menos em nível individual. Elas não são capazes de estabelecer por que alguém fez o que fez (nem prever isso), mas somente as condições necessárias para tal. Po-demos explicar como funciona o programa Word 2007, mas não prever ou explicar o que e por que alguém escreve com ele.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurei apresentar aqui de forma sintética os conceitos e teses epistemológicas nas quais estão baseadas as CC. Estas últimas oferece-ram inovações conceituais e teóricas que constituíram avanços evidentes para o desafio de uma abordagem científica da mente humana. Supera-ram vários vetos e obstáculos colocados pela tradição filosófica e cientí-fica à constituição da psicologia como ciência moderna (Castañon, 2010), mas ainda não resolveram todos os problemas ontológicos, epis-temológicos e metodológicos que desafiam a constituição de uma ciên-cia da mente. O problema da explicação do comportamento individual é certamente um deles, assim como sua contraparte, o problema das leis psicológicas, mascarado com as teses mecanísticas. O saldo geral, no en-tanto, é a enorme ampliação das fronteiras da psicologia e re-humaniza-ção de seu objeto, realizadas ao tornar possível a investigação científica de legítimos fenômenos psíquicos.

Os pressupostos metafísicos materialistas da maioria de seus pra-ticantes também geram consequências sérias e ineludíveis, como a in-compatibilidade com um genuíno livre-arbítrio e o consequente confli-to com nossas mais básicas pressuposições morais e jurídicas. Talvez a mais definitiva das limitações desta tese é a sua incapacidade para lidar com as questões mais importantes da consciência, o mais básico fenô-meno de nossa vida psíquica. Trabalhos largamente reconhecidos filoso-ficamente já ofereceram poderosos argumentos sobre a incompatibilida-de dos fenômenos de qualia (as experiências qualitativas de primeira pessoa que temos quando percebemos ou sentimos) com o fisicalismo e impenetrabilidade do problema central da consciência pelas CC (Nagel, 1980; Jackson, 1990; Chalmers, 1995). Talvez o grande desafio episte-mológico que as CC tenham pela frente seja não mais o alargamento de suas fronteiras, mas o reconhecimento delas. Afinal de contas, todo co-nhecimento humano é limitado.

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LEITURAS COMPLEMENTARES

Castañon, G. (2007). O que é cognitivismo: Fundamentos filosóficos. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária. – Livro introdutório de caráter didático sobre a filosofia da psicologia associada às ciências cognitivas: o cognitivismo. Com algumas lacunas sérias em relação à explicação meca-nística e a relação entre a cognição e a emoção, ainda pode ser útil, abor-dando em maiores detalhes temas tratados neste capítulo.

Castañon, G. (2010). O cognitivismo e o problema da cientificidade da psi-cologia. Psicologia: Teoria e Prática, 12, 233-253. – Artigo que elenca as inovações ontológicas, epistemológicas e metodológicas do cognitivismo e como elas enfrentaram antigos vetos filosóficos à possibilidade de uma ciência da mente.

Castañon, G., Araujo, S., & Justi, F. (2014). Cognitivismo. In S. Araujo, F. Caropreso, G. Castañon, & R. Simanke (Orgs.), Fundamentos filosóficos da psicologia contemporânea. Juiz de Fora: Editora UFJF. – Texto onde vários assuntos tratados neste capítulo são abordados com mais detal-hes, porém ainda com uma perspectiva introdutória e voltada para a psicologia.

Dittrich, A. (2014). Cognitivismo: Uma análise crítica. In S. Araujo, F. Caro-preso, G. Castañon, & R. Simanke (Orgs.), Fundamentos filosóficos da psi-cologia contemporânea. Juiz de Fora: Editora UFJF. – Oferece uma avalia-ção crítica dos fundamentos do cognitivismo como filosofia da psicologia.

Fodor, J. (1975). The language of thought. Cambridge, MA: Harvard Uni-versity Press. – Clássico da filosofia do século XX onde se apresenta a CTM (teoria computacional da mente).

Gardner, H. (1996). A nova ciência da mente. São Paulo: EDUSP. – Livro clássico publicado originalmente em 1985 que conta a história dos primeiros anos das ciências cognitivas por um de seus mais conhecidos representantes. Aborda várias questões ontológicas e epistemológicas le-vantadas aqui.

Margolis, E., Samuels, R., & Stich, S. (Ed.) (2012). The Oxford handbook of philosophy of cognitive science. New York: Oxford University Press. –

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Handbook atualizado da clássica tradição da Oxford Press, com capítulos de revisão dos problemas principais da área.

Penna, A. G. (1984). Introdução à psicologia cognitiva. São Paulo: EPU. – Livro que faz uma avaliação geral dos primeiros anos do movimento cog-nitivista, e oferece uma boa ideia de como ele foi recebido no Brasil.

Pinker, S. (2004). Tábula rasa: A negação contemporânea da natureza hu-mana. São Paulo: Companhia das Letras. – Livro de divulgação científica que oferece uma grande coleção de evidências científicas em prol do inatismo.

Thagard, P. (Org.) (2007). Philosophy of psychology and cognitive science. Amsterdam: Elsevier. – Coletânea de artigos sobre os temas centrais de filosofia das ciências cognitivas.

Wright, C. & Bechtel, W. (2007). Mechanisms and psychological explana-tion. In P. Thagard (Org.), Philosophy of psychology and cognitive science (pp. 31-77). Amsterdam: Elsevier. – Texto que defende o caso da explica-ção mecanística escrito por dois de seus maiores representantes.

Questões para estudo e aprofundamento*

1) O que é cognição para as ciências cognitivas?

2) O que significa dizer que as ciências cognitivas assumem pressu-postos construtivistas quanto a origem do conhecimento?

3) Qual é a concepção de mente advogada pelo Funcionalismo?

4) O que é e o que explica a explicação mecanística?

5) Que limitações poderíamos apontar na definição de objeto das ciências cognitivas?

6) Como se compatibiliza uma concepção nomotética (objetivo da ciência é descobrir leis gerais que regem os fenômenos) da psico-logia com a tese dos “mecanismos” e da explicação mecanística?

* www.sinopsyseditora.com.br/psicogform

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REFERÊNCIAS

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Castañon, G. (2007b). O que é cognitivis-mo: Fundamentos filosóficos. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária.

Castañon, G. (2009). Construtivismo so-cial: A ciência sem sujeito e sem mundo. Dissertação de Mestrado em Lógica e Metafísica. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

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