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8/3/2019 Filosofia da Msica - Expresso
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Ridley, Aaron.A Filosofia da Msica. Temas e Variaes. So Paulo: Loyola, 2008.
Captulo 3 Expresso (p. 107 a 157)
Que existe uma relao de certo tipo entre a msica e a emoo sempre foi
reconhecido, mesmo por aqueles que duvidam que boa parte do momento estticodependa do fato. O problema, porm, dar conta dele. Teramos que fornecer respostas
para pelo menos trs perguntas: como se fundamenta a relao entre msica e emoo?
Como o aspecto emocional da msica experimentado? Que valor tem essa
experincia?
Essa maneira de colocar as perguntas deriva de O Belo Musical, de Eduard
Hanslick, publicado em 1854. Hanslick nega que o valor da msica tenha qualquer
relao com a emoo, ou seja, a beleza e o valor da msica so um tipo
especificamente musical de beleza, composta nica e simplesmente de tons e sua
combinao artstica. A relao entre msica e emoo, apesar de real, teria poucointeresse filosfico ou esttico.
Duas abordagens quanto s relaes entre msica e emoo enfatizam aspectos
psicolgicos:
a) Postula-se a existncia de um mecanismo psicolgico inato ou natural de modo que
certos estmulos musicais produzem automaticamente uma resposta emocional no
ouvinte. Por exemplo, padres de tenso e alvio musicais, quando percebidos pelo
ouvinte esclarecido, acionam emoes. Esta associao torna a ligao entre msica e
emoo filosoficamente inerte, da mesma maneira que a ligao entre o cheiro decomida e a salivao filosoficamente inerte.
b) Postula-se um mecanismo associativo de tal tipo que o ouvinte sente uma emoo em
resposta msica porque associa essa msica a alguma outra experincia (um romance
fracassado, um perodo de profunda melancolia, um momento de intensa alegra). Nesse
caso, argumenta-se que assim como a campainha que fazia os ces de Pavlov salivarem
poderia muito bem ser um alarme antiareo, a msica poderia muito bem ser papel de
parede contanto que algum a tivesse associado a alguma coisa.
Susanne Langer discorda da afirmao de Hanslick de que a emoo precisa serexposta em conceitos para ser compreendida e argumenta, em vez disso, que a emoo
pode ser exposta no-conceitualmente em smbolos de apresentao, signos
expressivos que so encontrados nas peas musicais. A esttica de Langer rendeu bons
frutos. Muitos autores defendem hoje o critrio de expressividade na msica: dizer
sobre uma pea musical que ela tem a propriedade da tristeza, pode ser literalmente
verdadeiro da mesma maneira que se pode dizer que a pea tem a propriedade de ser em
mi menor.
Assim, concorda-se com Hanslick em que a beleza da msica um tipo de beleza
especificamente musical, mas que no se reduz nica e simplesmente aos tons e sua
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combinao artstica. Em vez disso, a expressividade de uma pea musical uma
caracterstica musical sua tanto quanto a tonalidade
/Susanne Langer (1895-1985) foi uma filsofa americana, com importantes estudos em
filosofia da arte. Sua publicao mais conhecida em portugus Filosofia em Nova
Chave, cujos escritos enfocam o papel da arte no conhecimento humano. Langer defineque o homem essencialmente um animal que usa smbolos. O pensamento simblico
profundamente enraizado na natureza humana, e o elemento central nas questes da
vida e do conhecimento. Langer define a arte como sendo a criao de formas
simblicas do sentimento humano (Art is the creation of symbolic forms of human
feeling) Distingue entre os smbolos discursivos da linguagem e os smbolos abertos
apresentados ou "presentacionais" da obra de arte.
A msica cria uma aparncia de tempo, um "tempo virtual", a pintura produz um
"espao virtual", poetas criam aparncias de acontecimentos, pessoas, reaes
emocionais, lugares, em suma, semelhanas poticas. Langer afirma que as formas
musicais ostentam uma estreita lgica de semelhana com as formas dos sentimentos
humanos. A msica um "smbolo apresentado" do processo psquico e as suasestruturas tonais ostentam uma lgica estreita de semelhana com as formas de
sentimento, formas de crescimento e de atenuao, de fluxo e de arrumao, de conflitos
e de resoluo, a rapidez, a pausa, a excitao, a calma, etc. O smbolo e o objeto
simbolizado tm uma forma lgica comum.
Langer discernia entre os smbolos presentacionais abertos da Arte e os smbolos
discursivos da linguagem, que no consegue expressar o aspecto subjetivo da
experincia humana. Viso prxima teoria lgica de Ludwig Wittgenstein
desenvolvida em seu Tratado Lgico-Filosfico (1922), quando Wittgenstein parou ao
delimitar-se com o indizvel, Langer acrescentou que a msica e as artes articulam o
que outras linguagens no conseguem, ou seja, mostrar o que no pode ser dito.
Outra definio de arte segundo Langer: Arte a prtica de criar formas perceptveis
expressivas do sentimento humano.. (Langer, Ensaios Filosficos, p. 82)
Um exemplo claro da influncia de Langer pode ser encontrada no quinto captulo do
livro do psiclogo Howard GardnerArte, Mente e Crebro (Artmed 1999), dedicado
exclusivamente a seu pensamento. A abordagem cognitiva da criatividade feita pelos
neurocientistas fundamentada no pensamento de Langer. Como a neurocincia
comea a distinguir o funcionamento especializado de zonas cerebrais, responsveis por
determinadas reas de nosso comportamento, a emoo torna-se essencial como
mediao das distintas reas ou zonas de conhecimento. O trabalho de Susan Langer
considerado pioneiro nessa rea./
O dito da psicloga Carrol Pratt tornou-se famoso: a msica soa da mesmamaneira como os estados de esprito so sentidos. O envolvimento imaginativo com a
msica pode capacitar o ouvinte a experimentar de forma imaginria ou real a natureza
interior dos estados emocionais de uma forma peculiarmente vvida, satisfatria e
pungente e, alm disso, de uma forma cujo valor inseparvel do valor da msica assim
experimentada. (Pratt, The Meaning of Music, p. 203, 1981).
Pea Musical: Cynara, de Fredeick Delius (1862-1934), a partir do poema de ErnstDowson (1867-1900).
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Frederick Delius, compositor ingls, autor de inmeras canes para voz e
orquestra. Cynara foi composta para bartono e orquestra sinfnica.
Ernest Dowson foi um poeta e romancista ingls, associado ao movimento
decadentista. Autor do famoso verso:
They are not long, the days of wine and roses:
Out of a misty dream
Our path emerges for a while, then closes
Within a dream. (Vitae Summa Brevis)
(No so longos os dias de vinho e rosas; emerge nosso caminho por um instante
do sonho enevoado e depois fecha-se em um sonho.)
E o versoI have forgot much, Cynara! Gone with the wind, que inspirou o ttulo
do romance de Margaret Mitchell.
A cano de Delius principia com as cordas abafadas, elevando-se timidamente
do silncio, preparando o caminho para o primeiro motivo do violino, a presena
de Cynara que assombra a obra do incio ao fim. E, ento, mais uma vez
timidamente, o bartono surge, seu canto sinuoso e terno.
A pea musical Cynara permite discutir a relao entre poema e msica, ou letra
e msica quando formam um s todo musical. Como apreciar uma pea que
inclui palavras? H dois exemplos opostos: no caso de Franz Schubert, h
grandes canes e letras pssimas, e no caso de Bob Dylan, h grandes canes
com msica horrvel e mal cantada e poemas extraordinrios
As formas hbridas de msica cano, pera, dana servem para
demonstrar mais claramente as complexas relaes entre msica, emoo e
compreenso.
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