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  1º Congresso Internacional em Estudos da Criança - Infâncias Possíveis, Mundos Reais.  2, 3e 4 de Fevereiro. Instituto de Estudos da Criança. Universidade do Minho. Braga Filosofia para crianças uma proposta para (re)pensar a educação? Pedro, A ., Libório, O. Universidade de Aveiro Resumo Este trabalho tem por objectivo essencial analisar o impacte do Programa de Filosofia para Crianças na educação de hoje como uma proposta que contribui, através dos seus métodos, para re-pensar  a educação. Com efeito, inicialmente pensado para a instituição escolar, este programa pretende levar as crianças a “aprender a pensar melhor”, baseado no pensamento reflexivo e no diálogo investigativo. Para além disso, na implementação deste programa é fundamental a presença do professor como aquele que “faz acontecer” momentos de verdadeira reflexão filosófica, num processo em que o aluno é convidado a ser sujeito co-participante activo das suas aprendizagens. Como sabemos, a educação nem sempre tem privilegiado o hábito do pensamento reflexivo (será que a escola sufoca a capacidade de colocar perguntas?), pelo que a implementação deste programa ganha maior importância e significado na actualidade educativa em que se pretendem formar cidadãos conscientes, críticos e reflexivos. 1.O que é Filosofia para Crianças 1 ? Este estudo baseia-se na necessidade de ampliar a nossa compreensão em relação aos aspectos envolvidos no processo de ensino-aprendizag em nos diversos ciclos de ensino: o que sempre nos chamou a atenção foi a dificuldade apresentada por muitos alunos em apresentar dúvidas sobre a matéria, em colocar questões sobre a mesma e em construir uma postura crítica e reflexiva face ao conhecimento partilhado em contexto de sala de aula. 1  Para Lipman, a expressão Filosofia com Crianças consiste em fazer uso da filosofia como um elemento nuclear da educação como meio de desenvolver matérias curriculares e pedagógicas. Filosofia para Crianças é o nome de uma abordagem educacional específica que emprega um currículo próprio e uma pedagogia particular. No entanto, autores como Kohan utilizam outras expressões semelhantes como filosofia com crianças, por considerar que a perspectiva desenvolv ida por Lipman vai mais longe do que a sua proposta de praticar a filosofia para crianças. Por sua vez, ja a Filosofia da Infância consiste numa investigação filosófica numa fase particular da vida humana, a infância. Segundo Lipman a Filosofia da Infância contrasta fortemente com Filosofia para Crianças, sendo esta, s empre e em qualque r lugar, educacional. A “Filosofia da Infância é primeiramente um ramo da filosofia tradicional, uma subdisciplina do tipo «filosofia de», ainda que lidando com um assunto relativamente novo: infância ”. ( Kohan; Leal:1999:362 ).

Filosofia Para Crianças

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Este trabalho tem por objectivo essencial analisar o impacte do Programa de Filosofiapara Crianças na educação de hoje como uma proposta que contribui, através dos seusmétodos, para re-pensar a educação.Com efeito, inicialmente pensado para a instituição escolar, este programa pretendelevar as crianças a “aprender a pensar melhor”, baseado no pensamento reflexivo e nodiálogo investigativo.

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  • 1 Congresso Internacional em Estudos da Criana - Infncias Possveis, Mundos Reais. 2, 3e 4 de Fevereiro. Instituto de Estudos da Criana. Universidade do Minho. Braga

    Filosofia para crianas uma proposta para (re)pensar a educao?

    Pedro, A., Librio, O. Universidade de Aveiro

    Resumo

    Este trabalho tem por objectivo essencial analisar o impacte do Programa de Filosofia para Crianas na educao de hoje como uma proposta que contribui, atravs dos seus mtodos, para re-pensar a educao. Com efeito, inicialmente pensado para a instituio escolar, este programa pretende levar as crianas a aprender a pensar melhor, baseado no pensamento reflexivo e no dilogo investigativo. Para alm disso, na implementao deste programa fundamental a presena do professor como aquele que faz acontecer momentos de verdadeira reflexo filosfica, num processo em que o aluno convidado a ser sujeito co-participante activo das suas aprendizagens. Como sabemos, a educao nem sempre tem privilegiado o hbito do pensamento reflexivo (ser que a escola sufoca a capacidade de colocar perguntas?), pelo que a implementao deste programa ganha maior importncia e significado na actualidade educativa em que se pretendem formar cidados conscientes, crticos e reflexivos.

    1.O que Filosofia para Crianas1?

    Este estudo baseia-se na necessidade de ampliar a nossa compreenso em relao aos aspectos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem nos diversos ciclos de ensino: o que sempre nos chamou a ateno foi a dificuldade apresentada por muitos alunos em apresentar dvidas sobre a matria, em colocar questes sobre a mesma e em construir uma postura crtica e reflexiva face ao conhecimento partilhado em contexto de sala de aula.

    1 Para Lipman, a expresso Filosofia com Crianas consiste em fazer uso da filosofia como um elemento nuclear da

    educao como meio de desenvolver matrias curriculares e pedaggicas. Filosofia para Crianas o nome de uma abordagem educacional especfica que emprega um currculo prprio e uma pedagogia particular. No entanto, autores como Kohan utilizam outras expresses semelhantes como filosofia com crianas, por considerar que a perspectiva desenvolvida por Lipman vai mais longe do que a sua proposta de praticar a filosofia para crianas. Por sua vez, ja a Filosofia da Infncia consiste numa investigao filosfica numa fase particular da vida humana, a infncia. Segundo Lipman a Filosofia da Infncia contrasta fortemente com Filosofia para Crianas, sendo esta, sempre e em qualquer lugar, educacional. A Filosofia da Infncia primeiramente um ramo da filosofia tradicional, uma subdisciplina do tipo filosofia de, ainda que lidando com um assunto relativamente novo: infncia. (Kohan; Leal:1999:362).

  • Na verdade, muito frequentemente nos questionamos se os estudantes, que esto passivamente sentados em seus lugares na sala de aula tomando notas do que o professor est a afirmar, compreendem verdadeiramente o significado do que est a ser dito. No raras vezes, pensam em que medida que o que est a ser dito faz ou no algum sentido para a sua vida e, muito provavelmente, sero pouqussimos os que compreendem a verdadeira natureza dos assuntos em discusso de um modo integrador. A ser assim, no de admirar que sero incapazes de aplicar suas anotaes tomadas em lugar de sala de aula a um problema particular das suas vidas.

    Apesar disso, embora muito raramente, mesmo que alguns estudantes das escolas tradicionais possam falar eloquentemente sobre o que algum filsofo, pensador ou investigador em particular disse sobre o tempo, o espao, a beleza, a tica ou a liberdade, o certo que quando lhes perguntamos o que que eles pensam, ficam calados ou continuam a reproduzir o que os outros pensam.

    Mas, at que ponto que uma educao tradicional2 baseada num processo de ensino-aprendizagem em que o professor ensina e o aluno aprende no ser responsvel por esta situao predominante de doutrinamento do pensamento, cujo resultado se traduz numa aprendizagem ineficaz em termos cognitivos, emocionais e sociais?

    Prevenir o aparecimento de situaes como a acima descrita tornar-se-a necessrio implementar, desde cedo, a arte de pensar nas crianas, desde tenra idade, iniciando-as, assim, num tipo de pensamento progressivamente reflexivo, investigativo e crtico.

    Mas, como agir de modo a conseguir que as crianas passassem a pensar deste modo?

    O Programa de Filosofia para Crianas de Matthew. Lipman que visa o desenvolvimento de destrezas cognitivas atravs de temas filosficos e segundo uma linguagem acessvel s crianas, com professores formados para o efeito, constitui uma resposta deveras inovadora, embora no isenta de algumas crticas3.

    Com efeito, segundo Sharp,nessas histrias, no so utilizados os nomes reais dos filsofos, mas suas ideias, palavras e pontos de vista so apresentados na fala de personagens crianas. So as crianas das histrias que dizem aquilo que Aristteles, Toms, Spinosa, Marx, Dewey ou Freire tm colocado. como se os filsofos tivessem uma longa conversao, mesmo que tenham morrido h muito tempo atrs (Kohan, W. & Wuensch:1999;18).

    2 A este propsito, Paulo Freire refere-se educao bancria, como aquela que afasta o aluno daquilo que pode ser

    uma motivao para seu processo cognitivo, dentro da escola. Visto que, a mesma o priva da possibilidade de se aproximar de seu mestre e estabelecer com ele a interaco necessria ao seu processo educativo para a fluidez da sua aprendizagem. 3 Ao afirmar a importncia da reflexo filosfica, enquanto recurso privilegiado para o pensar investigativo, reflexivo

    e crtico que pode ocupar um lugar de destaque na educao escolar a infncia , desde o incio, Lipman enfrentou diversas crticas, nomeadamente, o facto de a filosofia ser muito difcil e/ou muito rida para crianas ainda to pequenas. O que havia com a filosofia para ocasionar essas apreenses? (Lipman:1990;28,29); As crianas deveriam adquirir a prtica em discutir os conceitos que elas consideram importantes. Fazer com que discutam assuntos que lhes so indiferentes priva-as dos prazeres intrnsecos de se tornarem educadas e abastece a sociedade com futuros cidados que nem discutem o que lhes interessa nem se interessam pelo que discutem (Lipman:1990;31).

  • Segundo Lipman, a formao na destreza do pensar, atravs da filosofia4, quando desenvolvida desde cedo atravs da comunidade de investigao, oferece criana um instrumento fundamental para o desenvolvimento de sua racionalidade, e consequentemente do pensar bem.

    Lorieri (2002), descreve do seguinte modo as destrezas cognitivas postuladas por Lipman: destrezas de raciocnio que permitem a obteno do conhecimento a partir de inferncias ou concluses extradas correctamente realizadas a partir de conhecimentos anteriores, mas sendo capaz de manter a verdade das ideias; destrezas quanto formao de conceitos, que permite analisar a natureza dos mesmos estabelecendo as suas relaes e transformando-os em instrumentos de compreenso; destrezas de investigao, associadas utilizao de mtodos cientficos ou com a procura de solues para resolver os problemas e, por fim, destrezas de traduo, necessrias compreenso de discursos permitindo expressarem-se com as suas prprias palavras, o que ouviram ou leram, mas mantendo o significado original.

    Nessa comunidade de investigao estimulado o acto de pensar bem atravs da metodologia do dilogo investigativo, em que o dilogo diferente da polmica, pois os interlocutores no buscam fazer prevalecer, a qualquer custo, seus pontos de vista e sim, buscam juntos a construo coletiva de um conhecimento maior sobre o tema em discusso. Os pontos de vistas individuais so submetidos ao exame crtico dos parceiros da comunidade de investigao e se somam ao esclarecimento do tema (CEMEP:2003;7).

    Todavia, no se trata somente de pensar bem acerca do conhecimento cientfico ou outro tipo de conhecimento, mas tambm, de construir significados culturais ponderando sobre eles, em vez de os assimilar somente. Trata-se, em ltima anlise, de promover uma educao que estimule os sujeitos a aprenderem a pensar por si prprios de forma inteligente e autnoma, numa perspectiva crtica e criativa, por forma a que possam participar na construo de uma sociedade democrtica5.

    4 Na obra A Filosofia vai Escola, Lipman, aponta trs razes para responder a pergunta Porqu a Filosofia? e que

    se prendem quer com o facto de a filosofia ser representativa de uma herana do pensamento humano, quer com o reconhecimento da racionalidade e do pensamento crtico associadas ao exerccio do pensar filosfico quer, por fim, com o facto de a filosofia ser aquela que melhor prepara para o pensar e permitindo que as crianas encontrem sentido(s) e problematicidade para as suas experincias de vida, concebendo-a como uma prtica vital e no apenas mais uma experincia cognitiva interessante. Da que, tal como o autor e reconhecendo, uma vez mais, a influncia de J. Dewey em Lipman, concordemos que esta disciplina deva ser integrada em todos os ciclos de ensino (Lipman:1990;59). 5 Lipman influenciado pela noo de democracia a que Dewey faz referncia:democracia um modo de vida,

    social e individual. mais do que uma forma de governar; ela acima de tudo um modo de viver em sociedade, da experincia participativa conjunta (Kohan; Wuensch: 1999, 155). Para alm deste sentido poltico de democracia, Dewey associa ainda uma outra dimenso social da mesma em que a livre interaco entre os seus membros faculta o reajuste equitativo das prticas e hbitos sociais. Assim, a escola, qual sociedade em miniatura, responsvel pela criao de hbitos democrticos em que a relao com os outros pautada pela natureza das experincias democrticas partilhadas. Neste aspecto, tanto Lipman como Dewey consideram a democracia como um ideal de vida que se funda na educao como um processo de constante questionamento e reflexo. Educao essa que se transforma em educao como investigao e educao para a investigao, o produto social desta mudana institucional ser a democracia como investigao e no meramente democracia. (Lipman:2001;355). Deste modo, a funo principal da educao consiste, para Lipman, em considerar os alunos membros de questionamento e investigao de uma democracia permanentemente aberta reviso do funcionamento dos seus princpios: uma sociedade que providencia a participao nos seus benefcios de todos os seus membros em iguais condies, e que garante o reajuste flexvel de suas instituies mediante a interaco das diferentes formas de vida associativa, , quanto a isso, democrtica. (Kohan; Wuensch: 1999;162). Todavia, no se trata apenas de educar para a democracia, mas de democratizar para educar. Neste sentido, a escola um espao de excelncia para o exerccio do

  • No se trata, portanto, de um Programa para ensinar filosofia a crianas, mas sim de o professor se predispor a filosofar com as crianas partindo, ento, do pressuposto bsico de que tanto as crianas podem aprender com o professor como o professor com as crianas.

    Entende-se, assim, que as crianas possuem um saber prprio que, normalmente, no lhes reconhecido, postura oposta perspectiva tradicional de educao em que o professor que detm conhecimentos que vai impor criana e esta, a quem no reconhecido qualquer saber, resta somente assimil-los.

    No Programa de Filosofia para Crianas valoriza-se, ento, a partilha de saberes em que tanto o professor como o aluno esto predispostos a percorrer os caminhos do saber no respeito do que cada um tem para partilhar, sendo certo, porm, que o adulto tem por tarefa essencial, coordenar, orientar e facilitar a descoberta do conhecimento, a atitude de questionamento, fomentar a pesquisa, desenvolver o esprito crtico, em suma, a arte de bem pensar. Para tal, imprescindvel a existncia de um contexto democrtico (escola democrtica).

    Tal no significa, porm, que se ponha em causa o conhecimento cientfico ou outros, pois, o que valorizado o modo ou a forma como decorre a (re)construo do saber, a qual difere da simples apresentao narrativa ou descritiva da mesma.

    A este propsito, Lipman, reconhece que foi Dewey quem previu, nos tempos modernos, que a filosofia tinha que ser redefinida como o cultivo do pensamento ao invs de transmisso de conhecimento (1990, 20).

    O resultado inevitvel que se obtm, o de um cidado que sabe pensar autonomamente, crtico, participativo e interventivo na sociedade a que pertence.

    2.Educao para o pensar: o Programa de Filosofia para Crianas de Matthew Lipman 2.1.A Comunidade de Investigao6 como uma comunidade de questionamento

    pensar, e no um lugar de transmisso de conhecimentos. A educao tem de preparar o aluno para compreender e criticar o modo de vida do seu grupo. (Dewey:1995;397). 6 Lipman foi inspirado pela noo de processo de investigao Charles Peirce (1997), cujo termo inclui qualquer tipo

    de investigao, cientfica ou no cientfica, bem como o valor que atribudo comunidade nesse processo. Para alm desta influncia, Lipman, como Mead e Vygotsky, considera que para entendermos uma pessoa precisamos primeiro de entender os processos sociais dos quais essa pessoa participa (Kohan&Wuensch:1999;105). Denota-se, portanto, um acentuar de perspectiva do primado do social sobre o indivduo. Assim, para Mead o processo mental seria semelhante a uma conversa entre uma pessoa e as outras, tal como o desenvolvimento dialgico tambm era produto da interaco entre o eu (cada pessoa) e o mim (eu social internalizado). Toda a actividade intelectual no pressupe nada mais do que a linguagem e a capacidade de dilogo com os outros. Para Vygotsky, toda a funo psicolgica uma funo social internalizada pelo sujeito; a prova que a linguagem expressa essa condio. As consequncias educativas destas posies conduzem-nos ao facto de que as crianas no se tornam seres sociais porque vo escola, mas antes porque participam do processo de aprendizagem. Logo, ser social um ponto de partida para a sua construo como pessoa, pois no h pessoa sem os outros; da, a necessidade de a educao se constituir como uma prtica dialgica, de intercmbio de ideias e experincias (comunidade de questionamento e investigao).

  • A comunidade de investigao determina condies que evocam o pensar crtico e criativo, e estes pensamentos, por sua vez, aprofundam os objectivos tanto da comunidade quanto dos seus membros. (Lipman:2001: 303).

    Ora, algumas das condies para que a prtica de filosofia ocorra, enquanto dilogo colectivo, reside no facto de os sujeitos partirem de uma postura inicial de dvida e de ausncia de respostas construdas apriori, manifestarem uma vontade incomensurvel de saber e de questionamento a par do rigor intelectual pretendido.

    Numa comunidade baseada nos pressupostos que acabamos de referir, constituda por crianas e/ou jovens, o importante , ento, conhecer diversas perspectivas acerca do conhecimento, desenvolver uma atitude de pensamento anti-doutrinante, reflexiva e crtica face ao saber, em que o mais importante no reside no alcanar de consensus, mas nas argumentaes apresentadas (Habermas:1992), na capacidade de saberem ouvir o outro, de desenvolver o respeito pela diferena num clima de verdadeiro dilogo e comunicao7.

    Neste processo, os alunos passam a ser os investigadores do conhecimento dando lugar a uma aprendizagem (activa) que reflecte sobre as condies em que o pensamento se pensa a si mesmo.

    Deste modo, so fornecidas s crianas instrumentos intelectivos de investigao que lhes permitem desenvolver no s a sua capacidade de aprendizagem sobre o passado e o futuro e sobre a cultura herdada, como as podero capacitar na compreenso de si mesmas e da sua relao com os outros e com o mundo: sem o desenvolvimento destas capacidades seriam incapazes de pensar por si mesmas.

    Deste modo, as crianas so incentivadas a questionar os seus prprios valores, assim como os valores universais das sociedades dentro do contexto de uma comunidade de investigao.

    Da, a importncia do dilogo na comunidade de investigao, o qual, tal como no dilogo filosfico, iniciaria a criana a pensar segundo os diferentes estilos de pensamento, a construir critrios para distinguir o pensar superficial do pensar mais profundo, a aprender a pensar sobre quem so, os seus comportamentos, que tipo de pessoas gostariam de vir a ser e que tipo de mundo gostariam de ter.

    7 interessante registar, a este propsito, a proximidade entre o pensamento de Lipman e o de Habermas, na medida

    em que a atitude dialgica que a educao deve fomentar, no sentido habermasiano do termo, potencia o aparecimento de uma conscincia crtica tal como em Lipman - ao reconhecimento dos outros como interlocutores vlidos com direito a expressarem os seus interesses, o desenvolvimento de capacidades de participao num colectivo e a procura de uma deciso final que expresse interesses universalizveis. Em ltima anlise, a escola, como organizao dialgica comunicativa, no pode ficar indiferente aos princpios de justia, igualdade e aos direitos humanos face diversidade e pluralidade: estes so apenas alguns desafios que se colocam educao nestes tempos de globalizao. Para um estudo mais aprofundado desta questo, consultar Pedro, A. 2007. Globalizao, imigrao e cidadania: que desafios? 31-46. In Ana Paula Pedro, Antnio Martins, Carlos Silva (Orgs.). Congresso Educao e Democracia. Representaes sociais, prticas educativas e cidadania. Universidade de Aveiro. ISBN: 978-972-789-240-2 e Pedro, A. Librio, O. 2007. tica da responsabilidade (Jonas) e tica da discusso (Habermas) contributos do pensamento filosfico nos sistemas de formao do ensino superior.2484-2490. In Barca, A. Peralba e tal. Actas IX Congreso Internacional Galego-Portugus de Psicopedagoxa. A Corua/Universidad da Corua. ISSN:1138-1663.

  • De acordo com esta perspectiva, os professores deixariam de ser meros transmissores de informao e de contedos, e passariam a coordenar discusses filosficas sobre temticas de importncia para a comunidade de investigao (pensamento cooperativo).

    Trata-se, portanto, de um conceito de educao muito diferente do da educao tradicional que obrigaria a que a formao dos professores contemplasse uma dimenso de explorao de conceitos interdisciplinares relacionados com as experincias das crianas.

    Assim, o compromisso com a investigao por parte do professor8 revela-se no modo como participa do processo de ensinar, na relao com as ideias, no compromisso com o processo de pensamento, na disposio em construir sobre as ideias dos outros, na humildade, na exigncia de honestidade e o questionamento devem ser evidentes na interaco do professor com as crianas como um grupo.

    Para alm disso, o funcionamento da comunidade de investigao, que tem por objectivo essencial a o dilogo estruturado (Lipman:2001;331,332), necessita de alguns critrios sem os quais no funciona de uma forma autntica.

    sobretudo em La Filosofia en la aula, O Pensar na Educao e Preparando-se para filosofar (1999;23-83) de Tom Jackson e Linda Oho que a abordagem Comunidade reflexiva de Investigao vem descrita como envolvendo espao onde exista: segurana no sentido intelectual; alegria/diverso; respeito pelas pessoas; onde qualquer pergunta bem vinda; onde se aprecia a diversidade de pontos de vista e escutar to importante quanto falar ou esperar pela sua vez. Para alm disto, a prpria comunidade que estabelece as suas prprias regras e todos devero estar prontos para contribuir com as suas apreciaes.

    O que torna a comunidade reflexiva de investigao ainda mais interessante , em nosso entender, o facto de ser uma comunidade de co-investigao, onde ningum conhece a resposta a priori nem qual o curso ou a direco que a investigao pode vir a tomar: A filosofia no se ocupa principalmente de encontrar as respostas correntes, mas de inventar boas perguntas (Kohan; Leal: 1999;94).

    8 Perante esta temtica, cabe perguntarmo-nos sobre qual o perfil de professor ideal para a Filosofia para Crianas? E

    que formao que dever ter? Para Lipman, tal como para ns, no poder ser qualquer professor que capaz de ensinar filosofia s crianas, pois tal tarefa requer que os professores estejam dispostos a examinar ideias, a comprometer-se com a investigao dialgica e a respeitar as crianas que esto sendo ensinadas (Lipman:1990; 173): Para alm disso, muito menos receptivos so os professores que esto pouco inclinados a apreciar discusso intelectual abertas e que, polidamente no toleram as exploraes experientes no sofisticadas e desinibidas das crianas(Ibidem), na medida em que esses professores utilizam uma linguagem desadequada relativamente capacidade cognitiva das crianas, factor que, por si, gera uma atmosfera de desinteresse quanto s matrias para explorao. Um professor capaz de pr em prtica a Comunidade de Investigao dever, assim, apresentar trs caractersticas essenciais como aquele que: capaz de fazer a sua prpria reflexo; autnomo no seu pensar (decide com o que trabalhar e como caminhar na investigao) e cria os seus prprios planos de discusso e exerccios filosficos. Para alm disso, acrescenta ainda Lipman, o professor de Filosofia para Crianas tambm deve ser um coordenador dos debates facilitando o questionamento filosfico; possuir conhecimentos suficientes para detectar os erros, as falcias e as manipulaes dos debates I.; o docente tem que poder levar adiante uma discusso filosfica, o que significa coordenar de maneira razovel as participaes, fazer objeces aos erros, perguntar e reperguntar com vista a que o questionamento se aprofunda. (Polya, G.:1999;456). No dever, por isso, participar das discusses, salvo o nvel de maturao intelectual da Comunidade de Investigao; no estar preso ao material didctico sendo capaz de criar o seu prprio material didctico em funo dos alunos sendo capaz de tentar ler o rosto de seus alunos, procurar ver suas expectativas e dificuldades, pondo-se no lugar deles. (Polya, G.:1999;351).

  • No entanto, um sistema auto-corrector torna-se absolutamente necessrio de modo a permitir a todos os membros da comunidade a colocao de questes sem que o respeito por cada um seja quebrado por essa razo: A ideia de comunidade incorpora a importncia da pergunta, da escuta cuidadosa e da participao atenta de todos os membros da comunidade. (Kohan; Waksman: 1999; 74).

    igualmente importante haver um conjunto de regras criadas por todos os membros que constituem a comunidade, tais como: o respeito mtuo, a pergunta, o escutar curioso e atento e que critrios eleger para avaliar o processo do pensar sobre o pensar, so profundamente importantes para participar de forma orientada e coerente na Comunidade de Investigao proposta por Lipman, para que a Filosofia para Crianas se verifique efectivamente.

    A investigao pelo questionamento atravs do dilogo tem por objectivo levar os alunos a pensarem sobre o significado das palavras e dos conceitos utilizados no dia-a-dia, nas suas consequncias, construindo as suas opinies, relacionando-as com a teoria e a prtica em anttese ao mero procurar a resposta que o professor quer, como muitas vezes ouvimos, ou possa dar ao invs de submisso inculcao autoritria.

    Para alm disso, vo-se desenvolvendo alguns hbitos importantes, tais como: capacidade de persistir perante a dificuldade das problemticas apresentadas, ateno aos detalhes do pensamento e da argumentao, averso manipulao e falsidade, escolha de boas argumentaes, capacidade de respeitar, aderir a pensamentos alternativos e ponderar sobre eles e, de no somenos importncia, estar disposto a rever as suas opinies ou deixar-se conduzir pela direco que a investigao lhe imprimir. (Elias: 2005).

    Todavia, nada disto ocorrer se no houver um compromisso.com o processo de investigao por parte de cada um dos elementos da sala de aula9, pois, sem ele, estaramos perante a intolerncia, a disputa, a falta de ateno e o egosmo.

    9 Quando falamos em sala de aula no podemos temos de deixar de lado a imagem de uma sala de aula com a

    secretria do professor frente e os alunos sentados em filas ordenadas voltados para o professor, que tem por funo principal transmitir contedos e mensagens relativas ao poder e autoridade na sala de aula. Da mesma forma, tambm no podemos continuar a pensar num determinado tipo de aula tradicional em que o professor expe a matria, decide quando e qual o aluno que deve intervir, pois, a cada dia que passa reparamos que tal tipo de ensino tem srias dificuldades em interessar os alunos, e de os levar a investigar bem como a desenvolver as suas competncias de um pensamento crtico, reflexivo e criativo. Assim sendo, a opo por uma disposio da sala de aula em crculo poder ser um factor adicional que contribua para a motivao das crianas e dos jovens na participao na sala de aula, atravs do dilogo, simbolizando, tambm dessa forma, a unidade da comunidade de questionamento. Mas, o que fazer na sala de aula convertida em comunidade de questionamento? So cinco os momentos, enunciados por Lipman: a apresentao do texto filosfico; a elaborao da agenda; como fortalecer a comunidade; a utilizao de exerccios e planos de discusso e a estimulao de respostas adicionais. Normalmente, uma discusso filosfica exige um plano que consiste na elencagem de um conjunto de perguntas acerca de um conceito, tema ou problema. Quando a aula termina deve-se ficar com a ideia bem clara de que a problematizao no tem necessariamente que ter chegar ao fim, nem a discusso tem que ter obrigatoriamente uma resposta. Deste modo, as ideias podem ficar a fermentar e as crianas percebero que pode no ser possvel ou conveniente chegar a uma nica resposta verdadeira aos problemas. Eis, no entanto, algumas regras que podero ser estabelecidas de comum acordo entre os membros da comunidade de investigao e que podero ajudar ao funcionamento do dilogo filosfico em sala de aula: Fazer uso de linguagem simples quando procuramos expressar um pensamento; estar dispostos a oferecer razes que sustentam os nossos pontos de vista, sejam solicitadas ou no; se quisermos mudar o assunto em discusso, perguntar aos demais se concordam; dar a perceber os pressupostos das nossas afirmaes e defend-las se questionadas; estar dispostos a seguir a investigao por onde ela for; quando uma pessoa fala as outras devem ouvi-la atentamente e com respeito; auxiliar os colegas a desenvolverem as suas posies, mesmo que no concordemos com elas; acompanhar o dilogo ao invs de pensar na nossa posio ou no que vamos dizer; estar dispostos a construir sobre as ideias dos outros e a submeter a nossa posio apreciao crtica de todos; os professores devem abster-se de dar sua opinio at que a turma esteja pronta a aceit-la como apenas outro ponto de

  • 3. A investigao como lugar para a cidadania

    Tal como j referimos anteriormente, a comunidade de investigao procura, fundamentalmente, desenvolver nas crianas o esprito de questionamento sobre si mesmas, sobre os outros e a realidade que as rodeia desenvolvendo nelas o seu esprito crtico. Dessa forma, est-se a contribuir, inevitavelmente, para a construo da sua cidadania mais participativa e interventiva numa sociedade que se pretende cada vez mais democrtica.

    No entanto, da mesma forma que importante ponderarmos sobre a coerncia, a lgica e a consistncia das argumentaes que sustentamos, tambm no deixa de ser verdade o facto de sermos obrigados a estabelecer padres morais acerca dos acontecimentos da vida e atribuir-lhes igualmente um conjunto de razes ticas e morais que estaro na base das nossas decises e comportamentos.

    Neste sentido, as crianas necessitam de estabelecer conexes, ou associaes, entre o que dizem, pensam e fazem quando se referem a valores, pelo que h algumas temticas relevantes que podem ser exploradas, tais como: a questo da ambiguidade dos valores; comportamentos de cidadania; a aplicao de valores nas diversas reas do saber; a investigao de alguns valores especficos em sala de aula (Lipman:1990;74).

    As competncias a que nos temos vindo a referir at aqui aplicadas ao raciocnio lgico em geral (coerncia e contradio), tambm devem ser aplicadas ao raciocnio sobre os valores sempre que se lida com a ambiguidade das questes morais em anlise, identificar suposies subjacentes; trabalhar com analogias; formular relaes de causa e efeito; desenvolver conceitos; generalizar; compreender conexes de parte e todo; fazer inferncias de silogismos hipotticos; reconhecer e evitar a imprecises, levar em conta todas as consideraes; reconhecer a interdependncia de fins e meios; aprender a lidar com falcias informais; operacionalizar conceitos; definir termos; identificar e usar critrios; apresentar exemplos concretos; construir hipteses; contextualizar as questes; antecipar, prever e estimar consequncias; classificar e categorizar. (Lipman:1990;80-81)

    Deste modo, a educao para a cidadania, no pode deixar de ser uma garantia da democracia na medida em que a opinio de cada respeitada sem que se aniquile a opinio do outro.

    A este propsito, Lipman escreveu uma srie de programas filosficos para serem utilizados na sala de aula de investigao, com o objectivo de desenvolver as competncias cognitivas do pensar.

    4. Reflexes finais

    vista a ser explorado; incentivar a participao de todos no debate; os professores devem ser claros a respeito da lgica da argumentao e estarem certos de que seus alunos a dominam (Elias:2005).

  • At este momento, demonstramos que possvel fazer filosofia com crianas desde que lhes sejam fornecidos os instrumentos necessrios para a investigao e um professor que soubesse tornar acessvel o vocabulrio tcnico da filosofia e traduzi-la para a linguagem quotidiana das crianas.

    So vrios os trabalhos de investigadores que conhecemos, como Piaget, Kohlberg ou mesmo John Rawls, que apontam para o facto de a capacidade de abstraco e de moralidade a ela associada no se verificarem enquanto ainda se criana. Apesar de efectivamente assim ser, consideramos que tal facto no tem em linha de conta o factor educacional, cuja importncia assinalamos.ao longo deste trabalho.

    Mas, a ser assim, i., se soubessemos que as crianas - seres racionais e morais - so igualmente capazes de pensar por si prprias relativamente a uma enormidade de assuntos, desde a tica, a epistemologia, a esttica , a fsica e a metafsica, que faramos ns?

    Continuaramos a desvalorizar e a esquecer o que as crianas tm para nos dizer, omitiramos o que elas pensam e continuaramos a impor paternalmente os nossos conhecimentos?

    Quais as verdadeiras repercusses que tal facto traria para o mundo da educao se adultos e crianas soubessem que podem discutir todo tipo de assuntos de uma maneira racional?

    No seriam as crianas as primeiras beneficiadas, pois que cresceriam na compreenso das perspectivas dos adultos questionando-os e atravs deles, a humanidade no seu todo, mas tambm os adultos, os quais, por sua vez, aumentariam a sua capacidade de compreenso do(s) mundo(s) da(s) criana(s)?

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