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Filosofia, psicanalise, matematica

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FILOSOFIA, PSICANÁLISE, MATEMÁTICA

O campo da fala na experiência do cuidado

Eugênia Correia Krutzen

[email protected]

UFPB – CCHLA – Departamento de Psicologia

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Agradecimentos: prof.Vicenzo Di Matteo

• Um dos pontos de partida: experiência de assessoria a uma equipe de cuidadores em uma instituição para adolescentes infratores.

• - Susto diante da resistência da equipe para teorizar;

• - Solidariedade, ao ser aproximada essa resistência a uma recusa aos modelos hegemônicos de registro e controle.

• - Desejo de contribuir para uma teoria capaz de valorizar os cuidadores e incentivar que reflitam sobre suas práticas:

A experiência do cuidado exige método específico para sistematização e teorização. A teoria da sublimação pode inspirar o cuidador = Badiou e a distinção entre saber e verdade.

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Filosofia, Psicanálise e Matemática

• Filosofia - programa interinstitucional RN/PB/PE -R.Rorty, “Filosofia analítica, filosofia transformadora” (s/d)

• História = resultado parcial dos vencedores, Rorty e Michel Onfray (2006): história como arte da guerra.

• Crítica à tentativa de reduzir o fazer filosófico a uma análise da linguagem.

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Filosofia do século XX

• R. Rorty dois momentos expressivos:

• - anos 40/50 – a “guinada da linguagem”

• - anos 70 – uma filosofia do feminino (feminista)

• - anos 00 – Psicanálise (proposta de Safatle, Dunker, M.Souza: clínica, sublimação

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“Como situar filosoficamente a experiência do cuidado?”

• Safatle, C.Dunker, E.Krutzen - ênfase na clínica e teoria da pulsão – o cuidado:

• - Pertinência do cuidador poder adequar o suporte escolhido para demonstrar o rigor de sua prática. Relatar um caso = sublimação e criação;

• - Crítica à redução da atividade científica à aplicação de cálculos estatísticas pré-elaborados, aritmetizando o processo, destituindo o “relato” do cuidado de sua conotação sublimatória.

• - Proposta de que o formato do relatório seja afeito ao clínico e ao que se passou.

• - Sair da dicotomia quali x quanti – em prol de outro contraste: sublimar ou reproduzir escalas em série.

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Alain Badiou: verdade e sujeito

• - A forma do relato induz a dinâmica do cuidado. Cuidado e relato, então, supõem um “dar de si”: sublimação, sujeito.

• Badiou: “verdade” distinta de “saber”

• Verdade = surpresa, estética, crítica à adequação à forma do juízo: verdade é percurso.

• Saber = o que transmite deliberadamente e repete.

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Qual o sentido de matemática na clínica?

• - Lacan, A.Badiou, Natalie Charraud e Mônica Jacob: espaço da formalização fundada no só-depois da experiência: compatibilizar esforços na mesma direção. Saber e verdade.

• - Denise Vilela - tese de doutorado sobre Filosofia da Matemática. Etnomatemática, modulada pelos “jogos de linguagem” de Wittgenstein.

• Vilela (2007 p.6): “(…) os significados existem dentro dos jogos de linguagem, relacionados -por sua vez a formas de vida, e não convergem para uma essência quando os jogos são diferentes, isto é, não são os mesmos em diferentes práticas matemáticas.”

• O “número” na rua = litros, metros, horas, jamais sendo encontrado em estado “puro”. • Não existe “matemática pura” nem puramente lógica. Nem a lógica é fechada nem a emoção

é caótica.

• Na relação transferencial não há “um”, não se forma um conjunto fechado e finito.

• A transformatividade possível na relação de cuidado = não faz “um” e se abre para o infinito.• Cantor – comparação entre os conjuntos numéricos – indecidibilidade e convenção de um

símbolo matemático para o infinito. Aproximação com o “objeto a” de Lacan.

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1º filme: “O escafandro e a borboleta”.

• Cuidador detém as pernas do Paciente, e é objeto da pesquisa da fonoaudióloga. Cumplicidade destruída quando o tema é incompatível com fantasia da cuidadora.

• Foto: paciente na cadeira de rodas e cuidadoraempurrando.

• - Fantasia = não o reino da imaginação sem realidade. Só se compartilha a realidade partir da fantasia. Só é possível haver movimento psíquico a partir e em função de mudanças de lugar no contexto da fantasia.

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“Como situar filosoficamente a fala na experiência do cuidado”?

• Ênfase no código – a comunicação enquadrada:• - Insuficiência do modelo da comunicação•

• Se o grafo puder ser considerado como anteparo para a sessão, observa-se as pulsões representadas pelo matema S/vD(S barrado punção de D). O conjunto das letras sendo ampliado para o “tesouro dos significantes”, uma bateria de elementos que é antecipada no corpo, cravada por lugares marcados por um corte. São as pulsões que permitirão que a linguagem encontre esteio, exigindo que o código considere o caráter humano da mensagem ali vivenciada.

• Solha (2009,p. 40), no romance “Relato de Prócula” – Corrinha: “capaz de me proporcionar constantes espetáculos interiores, como o céu nos dá os exteriores, ainda que sejam necessárias superproduções com raios e constelações, crepúsculos, furacões, trovões, auroras boreais e austrais.”

• Revista “Science” (Folha de S.Paulo de 16/2/2007): o cérebro humano é capaz de fazer novos neurônios, viabilizando o tratamento de doenças neurodegenerativas. O estudo feito com ressonância magnética demonstra que as células nascem em outra parte do cérebro (diferente daquela que tinha sido atingida) e migram para o bulbo olfativo, onde cheiros são processados.

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2º filme: Hitchcock, “Janela Indiscreta”:

• - Newton da Costa, citado por Safatle e Dunker ( ): é impossível formalizar exaustivamente a dialética. Sempre se exigirá um meio de exposição irredutivelmente conceitual-narrativo para se dar conta do acontecimento humano.

Safatle cita Badiou: de um lado, o poema, de outro o matema.• Safatle tomaria a via do poema

• A meu ver o matema opera como um poema.

• Lacan: é imprescindível explicá-lo, contextualizá-lo colocando em uso a linguagem corrente = “momento estético do conceito”

• Não há contradição entre poema e matema, mas modulações, tal como o número inteiro é diferente do número irracional, embora sejam ambos números. Poema ou matema, tanto faz, pois o que interessa é a transformatividade operada, o efeito que M.Mannonni situava no corpo, ao sublinhar que um mito, ao ser lido em certas circunstâncias, provoca efeito nas vísceras.

• O mais importante no relato é a articulação possível entre saber e verdade. A irredutível heterogeneidade entre os registros e o esforço (vão) em compatibilizá-los.

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• Nó borromeu- segunda fase de Lacan: o sintoma no lugar do objeto a.

• - Relatar o caso = elaboração psíquica. Queiroz (2002): seja com números ou palavras, a escrita do caso é uma modalidade de “escritura”, um ato simbólico, metamorfoseando o ato clínico em texto metapsicológico.

• Trata-se, portanto, de uma construção sublimatória por parte do cuidador, que pode ou não lançar mão de números ou matemas, já que o relato será diferente a cada vez. Se o leitor, o cuidador e o contexto narrativo são partes fundamentais no processo

• Essa perda na exatidão – diferente de uma ausência, um deficit ou um defeito - Safatle aproxima ao negativo da dialética, fundando o sujeito.

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• - História da matemática - tipos de número – criação de universos, ao invés de duplicação ou relatório da realidade “única” do cuiddor.

• - Tipos de fala - a escultura de Nuno Ramos A viscosidade do mel, a aderência da laca, também presente no gesto antigo de lacrar envelopes e mensagens, está presente no campo semântico evocado pelo escultor, que mistura laca e mármore, em uma tensão incontornável.

• Transformatividade, aderência, desconforto, corte, endereçamento, limite.

• O cuidado não é caridade nem compaixão. Não é manipulação nem controle ou contabilidade de custos/benfícios. Sua demonstração exige que o cuidador dê de si, perca seu equilíbrio, não somente ao realizar o ato clínico, mas também ao tentar dar conta dele.

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• Em que consiste esse elemento, mítico e saboroso, a maçã, precariamente equilibrada nas costas de alguém?

• No texto “ Kant com Sade” Lacan lê a definição kantiana de objeto à luz de Sade. Para Sade o objeto inacessível é regido pelo imperativo categórico enquanto que para Lacan é o circuito libidinal, o significante enraizando (“emredizando”) linguagem e corpo.

• Em Kant, o sulco por onde circula o sujeito é a voz da consciência, o raciocínio, a reflexão logicamente orientada e universalmente justificada. Em Lacan, o sulco é construido pela libido, o significante barrando o universal, desfazendo sua completude e dando lugar ao sujeito do inconsciente.

• A clínica que se apresenta como sublimação admite a passagem entre cuidador e paciente, maçãs e costas trocando de lugar, atuando tanto por “via de porre” (pintura- um acréscimo de cores e formas é acrescentado ao paciente) como por “via de levare” (a escultura retira do paciente aquilo que lhe pesa, que é excesso e dejeto). Por isso toda explicação se ancora no corpo, toda transmissão sintoniza ou não uma rede de associações onde se faz possível encontrar um espaço para o sujeito se alojar.

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• REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:•

• - Abibon, Richard – Conferências em João Pessoa, 2009.•

• Badiou, Alain – Le nombre et le numero•

• Correia Krutzen, Eugênia - “Do risco à escritura: oficinas de histórias com crianças e adolescentes em situação de risco social”. Tese de doutorado. Orientador: Norberto Abreu e Silva, UnB, 1999.

• Dunker, Christian – “Apresentação de “A paixão do negativo” – Lacan e a Dialética” – V.Safatle – Revista Acheronta– WWW.psicomundol.com

• - Juranville, Alain - Lacan e a Filosofia• - Lacan, J. – Autres Écrits. Paris: Seuil, 2001.• - Onfray, Michel – Les Sagesses antiques: contre-histoire de La philosophie. Paris: Grasset& Fraschelle, 2006.• - Pommier, G. Comment les neurosciences demontren la Psychanalyse.• - Queiroz, Edilene - “O estatuto do caso clínico” - Revista Pulsional, ano XV, nº 157, pp 33-40, S.Paulo: Pulsional,

2001.• - R.Rorty, “Filosofia analítica, filosofia transformadora” (s/d) (Portal Brasileiro de Filosofia)• - Saflate, Vladimir – A paixão do negativo: Lacan e a dialética. S.Paulo: UNESP, 2006•

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