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Financeiramente falando, sua empresa é saudável? Você já parou para refletir se sua empresa é saudável do ponto de vista financeiro? Parece complicado pensar sobre o assunto, afinal só especialistas em finanças e economia têm uma resposta afiada e totalmente coerente para a questão. Diante do pode ser considerado um verdadeiro enigma, a VIEW foi em busca de consultores da área e lojistas experientes - que compartilharam suas boas experiências nos negócios – a fim de encontrar respostas, dicas e caminhos para clarear esse universo dos números na sua cabeça e, principalmente, estimular, a partir de agora, a saúde financeira de seu negócio. Que bicho é esse? Mas, afinal, o que é uma empresa financeiramente saudável? Aquela empresa que consegue recursos, próprios ou de terceiros, para consolidar tanto a sua estratégia operacional como a mercadológica. É também aquela capaz de honrar seus compromissos nas datas de vencimento, obtendo um fluxo de caixa positivo, com entradas e saídas programadas. Saudável e com dívida? Se a empresa está endividada, ainda pode ser considerada saudável financeiramente? Sim. “Mesmo completamente endividada, mas se tiver um bom potencial de lucro, a empresa pode entrar na categoria das saudáveis nos negócios e nas finanças”, explica o consultor em economia Ricardo Belotti. Pois, mesmo atolada em notas promissórias e juros de banco, se a empresa em questão gera bom caixa para saldar suas dívidas, está bem de “saúde” e tem como sobreviver no mercado, gerando caixa para

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Financeiramente falando, sua empresa é saudável?

Você já parou para refletir se sua empresa é saudável do ponto de vista financeiro? Parece complicado pensar sobre o assunto, afinal só especialistas em finanças e economia têm uma resposta afiada e totalmente coerente para a questão. Diante do pode ser considerado um verdadeiro enigma, a VIEW foi em busca de consultores da área e lojistas experientes - que compartilharam suas boas experiências nos negócios – a fim de encontrar respostas, dicas e caminhos para clarear esse universo dos números na sua cabeça e, principalmente, estimular, a partir de agora, a saúde financeira de seu negócio.

Que bicho é esse?Mas, afinal, o que é uma empresa financeiramente saudável? Aquela empresa que consegue recursos, próprios ou de terceiros, para consolidar tanto a sua estratégia operacional como a mercadológica. É também aquela capaz de honrar seus compromissos nas datas de vencimento, obtendo um fluxo de caixa positivo, com entradas e saídas programadas.

Saudável e com dívida?Se a empresa está endividada, ainda pode ser considerada saudável financeiramente? Sim. “Mesmo completamente endividada, mas se tiver um bom potencial de lucro, a empresa pode entrar na categoria das saudáveis nos negócios e nas finanças”, explica o consultor em economia Ricardo Belotti. Pois, mesmo atolada em notas promissórias e juros de banco, se a empresa em questão gera bom caixa para saldar suas dívidas, está bem de “saúde” e tem como sobreviver no mercado, gerando caixa para pagar suas contas. Isso não significa, obviamente, que esta seja a situação ideal.

Mas antes de chegar ao endividamento, é importante pensar nos passos certeiros para manter seu negócio na linha. O primordial para que tudo ocorra sem maiores problemas é implementar uma estratégia inteligente e coerente com a sua empresa. Conhecendo com minúcia o tipo de mercado em que atua e o comportamento do cliente, você logo estará “falando a mesma língua” que seus consumidores em potencial, evitando que todo esforço vá por água abaixo.

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Planejar para o imprevisto O planejamento e o controle precisam levar em conta os imprevistos que apareçam no meio do caminho, como vendas não realizadas ou não recebidas, giro dos estoques etc. O melhor, nesse caso, é contar com um detalhado planejamento, já que um bom estoque é aquele que apresenta uma variedade adequada de produtos aos clientes, porém o menor possível, para custar menos. É preciso verificar o giro das mercadorias e os prazos de pagamento aos fornecedores, que podem ocorrer antes das vendas. É por isso que na hora de abrir seu próprio negócio, vale consultar um especialista em economia e finanças para orientar de maneira decisiva todas as etapas administrativas: planejar lucros, listar despesas, negociar preços e prazos de pagamento com fornecedores e ficar de olho no estoque. Tudo para conseguir fechar o mês com algum dinheiro no caixa – e em seu bolso também.

Bolso e caixa ou tudo a mesma coisa?Aliás, essa é uma das confusões mais freqüentes para quem é iniciante nos negócios: o caixa da empresa acaba virando uma “tábua de salvação” para cobrir maus planejamentos com despesas pessoais do lojista.

Os especialistas são categóricos ao afirmarem que nunca se deve confundir o caixa da empresa com o próprio bolso. O primeiro passo para evitar ou desmanchar essa confusão é estabelecer contas separadas de pessoa jurídica e física e também determinar um pró-labore, isto é, um salário fixo mensal a ser retirado, que entrará automaticamente na lista das despesas da loja. Se por acaso precisar de dinheiro extra para uso pessoal, esqueça o caixa da loja, que é sagrado para os compromissos da empresa, somente esses! “Além disso, todas as retiradas feitas pelos donos são tributáveis, gerando, além de um problema fiscal, abalos no capital de giro da empresa, se esse for insuficiente”, diz o economista e professor do Provar, José Carlos de Souza Filho.

Mais um “xis” da questão O equilíbrio entre lucros e despesas é outro “xis” da questão. Se essa equação desandar, é muito provável que o empresário tenha de recorrer a alguma forma de empréstimo para quitar suas dívidas e realizar novos investimentos. Daí vem a necessidade de procurar a taxa de juros mais amena.

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As dicas são manter um bom relacionamento com os gerentes dos bancos e procurar os juros mais baixos. E, mesmo diante do desespero, nuna se deve recorrer ao limite do cheque especial, já que é o juro mais “vilão” do mercado: entre 8% e 9% ao mês.

Dinheiro de plástico e pré-datadosOutros pontos importantes a serem levados em consideração pelos lojistas de hoje são os pagamentos com cartão de crédito e cheques pré-datados. Sem dúvida, o dinheiro de plástico é visto como uma estratégia valiosa para atrair mais clientela. Mas, apesar de serem garantia absoluta de pagamento, requerem atenção as comissões e as taxas de desconto sobre as vendas, cobradas pelas administradoras de cartão. As taxas de aluguel das máquinas que efetuam as operações de venda também podem sair caras para quem está começando, já que chegam a quase R$ 200 por mês. Por isso, é necessária uma pesquisa para diagnosticar a empresa que oferece mais atrativos.

Há também uma nova opção, mais barata, para quem não quer arcar com os custos de aluguel das máquinas. A operadora de celulares Oi está lançando um cartão em que os pagamentos com dinheiro de plástico podem ser efetuados exclusivamente via celular, sem a necessidade da máquina tradicional (POS) e com baixo custo de aluguel e comissão. O lojista adquire em bancas de jornal um chip de celular especial, cadastra-se e vende aos clientes que tenham celular da Oi e limite de crédito aprovado em um cartão da empresa. Por enquanto, o serviço está disponível apenas no Rio de Janeiro, Triângulo Mineiro e Natal.

Mesmo assim, se você considera fundamental trabalhar com todos os cartões, faça as contas e bote na ponta do lápis todas as despesas que irá contrair. Se optar por trabalhar com cheques pré-datados para não perder clientes (afinal, boa parte do mercado usa esse poderoso chamariz), planeje-se: faça um esforço para conhecer melhor o passado financeiro de seu cliente e conte com uma margem de inadimplência na hora de fechar as contas do mês.

Maré está boa. É hora de dar um passo ousado?Quando os negócios vão bem, é natural que a maioria dos empresários comece a querer expandir os lucros. E bate aquela vontade de abrir mais um ponto. Muita cautela é

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necessária nesse momento: todo crescimento demanda investimentos e inevitavelmente ocorrerão faltas de recursos de curto prazo para os imediatos e imprevistos.

Portanto, após uma boa análise das possibilidades, vale planejar os passos de forma a se prevenir quanto aos riscos inerentes a essa empreitada. Endividar-se com bancos para conseguir o capital inicial é perigoso: por conta dos altos juros cobrados, o negócio pode naufragar meses depois. Diminuir o lucro para poder vender mais barato, apostando na quantidade, também é arriscado: buscar fornecedores mais em conta pode comprometer a qualidade da oferta. E, mesmo que o novo ponto venda muito mais óculos por mês, não terá liquidez suficiente para investir em treinamento de pessoal e estará muito dependente do “humor” do mercado, que pode encolher a qualquer momento. Com a primeira queda de movimento, o estoque encalha nas prateleiras e não haverá como honrar os compromissos com fornecedores.

   Consultoria de plantãoSe você ainda tem dúvidas em relação a como administrar sua empresa, procure o Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas (Sebrae), uma das fontes de assessoria mais usadas por quem precisa de ajuda para tocar seu negócio. Há aproximadamente 600 postos de atendimento espalhados pelo Brasil e ainda o site www.sebrae.com.br.     A teoria em práticaDepois de todas as dicas teóricas, é hora de aprender com as experiências práticas dos donos de algumas das ópticas bem-sucedidas do Brasil. Um exemplo de total êxito nos negócios é o proprietário da rede Dax, Robson La Ferrera. Com sete lojas na capital paulista, ele faz o tipo precavido. “Trabalho sempre com uma grande folga de caixa. E se as vendas param, paro de estocar. Tenho sempre um caixa reserva que pode dar conta do fluxo de um mês”, conta o empresário.

É importante ser ainda mais cauteloso quando o lojista lida com produtos importados. É o caso do empresário Marcelo Benchimol, à frente de sete ópticas no Rio de Janeiro, entre elas a Benoptic. “É complicado trabalhar com importados, pois acabo dependendo muito da alfândega. Por isso, faço um

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planejamento de gastos e de estoque muitíssimo bem detalhado”, diz. “Se passo aperto por conta de falta de mercadorias, pois às vezes ficam retidas na alfândega, trabalho com um capital de reserva própria. Evito a todo custo pedir empréstimo em bancos”, acrescenta ele, que, com razão, teme os juros abusivos. “Se o Brasil não tivesse taxas de juro tão elevadas, com certeza, eu já teria expandido ainda mais meus negócios”, completa o empresário.

Apesar de muitos lojistas se atrapalharem ao confundir o caixa da empresa com o próprio bolso, empresários mais experientes como o franqueado da Óticas Carol, Roberto Custódio da Silva, com lojas em Tatuí, interior de São Paulo, já aprendeu a separar as coisas.”Uso contas correntes separadas para as finanças da loja e para as da minha família, que recebe um pró-labore para me ajudar com as lojas. Já vi exemplos de lojistas que quebraram por não fazer essa separação”, explica ele, também muito experiente quando o assunto é franquias. “Sei que muita gente acha que a taxa paga ao franqueador é salgada, mas encaro como um investimento. Ganho mais credibilidade por ser dono de uma marca conhecida, confio na experiência de meu parceiro e faturo com a publicidade feita pela matriz”, finaliza o empresário.

Mas nem só as franquias são garantia de sucesso para o empresário que está começando, por serem mais fáceis de decolar em um mercado já estabelecido. A empresária Gemma Del Bianco é exemplo disso. Ela é dona da Fotoclick, rede com seis ópticas espalhadas pelos aeroportos brasileiros. Ao apostar na expansão do seu negócio, Gemma hoje colhe os frutos do sucesso. Suas dicas para investir em novos negócios sem dar um passo maior do que as próprias pernas? “Saber muito bem como detectar um ponto promissor, perceber que público irá freqüentá-lo, fazer compras adequadas ao perfil do consumidor em potencial e manter um controle preciso de estoque, além da organização total do caixa”.      Os dez mandamentos para o sucesso de uma empresa1. Consulte um especialista em economia e finanças sempre que for preciso2. Implemente uma estratégia de mercado eficiente e

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coerente com seu tipo de negócio3. Controle muito bem a aquisição de estoque e pare de comprar quando as vendas não estiverem fortes4. Liste todas as despesas e faça planilhas de controle5. Negocie bem com todos os fornecedores6. Evite pedir dinheiro emprestado a bancos e evite ainda mais usar o limite do cheque especial para cobrir despesas do seu negócio7. Separe o caixa da loja do seu próprio bolso8. Coloque na balança riscos e vantagens dos pagamentos com cartões de crédito e cheques pré-datados 9. Pense muito bem e monte uma poderosa estratégia antes de começar a expandir seu negócio10. Tenha em mente que quantidade não é qualidade: não adianta comprar muita mercadoria sem garantir uma eficiente oferta de produtos

 Fonte:  Revista View, edição 80.