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Provimento CG 12/2014. RTD. Princípio de territorialidade. Registro para conservação e perpetuidade. Notificação extrajudicial. Microfilme. Documento eletrônico. Meio digital. NSCGJSP. - alteração. Capítulo XIX Alteração da redação do item 2.2 da Seção I, Capítulo XIX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça. CGJSP - PROVIMENTO: 12/2014 CGJSP - PROVIMENTOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 03/06/2014 DATA DJ: 11/06/2014 Relator: Elliot Akel íntegra: PROVIMENTO CG Nº 12/2014 O Desembargador Hamilton Elliot Akel, Corregedor Geral da Justiça, no exercício de suas atribuições legais, e Considerando a necessidade da permanente atualização das Normas de Serviço; Considerando o teor do parecer emitido nos autos 2013/00192760; Considerando que a redação atual do item 2.2 do Capítulo XIX das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça pode ensejar dúvida a respeito da proibição do registro de mídias sem o registro do respectivo conteúdo; RESOLVE: Artigo 1º: Alterar a redação do item 2.2 da Seção I, Capítulo XIX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, nos seguintes termos: "2.2. Compete privativamente aos oficiais de registro de títulos e documentos do domicílio da pessoa física ou jurídica que seja titular ou parte do documento, o registro do conteúdo de papéis e documentos, de qualquer natureza, que poderão ser apresentados em suporte papel ou sob qualquer outra forma tecnológica, incluindo microfilmes, mídias óticas, analógicas, eletrônicas ou digitais." Artigo 2º: Incluir o subitem 2.2.1 na Seção I, do Capítulo XIX do Tomo II das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, nos seguintes termos: 2.2.1. É vedado o registro ou a autenticação de mídias óticas ou eletrônicas, nada obstando que se registrem conjuntamente os arquivos contidos na mídia, os quais deverão ser transcritos integralmente no livro de registro ou microfilmados. Artigo 3º: Alterar a redação do item 3 da Seção I, do Capítulo XIX do Tomo II das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, nos seguintes termos: 3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará constar no texto do registro de cada página do documento, de forma clara e visível, o fato de se tratar de cópia ou original. O Oficial também fará abaixo do registro a seguinte declaração: "registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei de Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros". Artigo 4º: Este Provimento entrará em vigor em 30 dias de sua 1ª publicação. São Paulo, 03/06/2014 (a) HAMILTON ELLIOT AKEL RTD. Princípio de territorialidade. Registro para conservação e perpetuidade. Notificação extrajudicial. Microfilme. Documento eletrônico. Meio digital. NSCGJSP. - alteração. Capítulo XIX Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça - REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - pedido de modificação do item 2.2 feito pelo 2º oficial de imóveis, títulos e documentos de osasco - mitigação da territorialidade nos casos de registros para fins de conservação e inviabilidade de registro de mídias eletrônicas sem o registro do eventual conteúdo - parecer acolhendo apenas a segunda parte do pedido, conforme sugestão do IRTDPJ-SP - Provimento CG nº 12/2014) DJe 11/06/2014 (p. 12 et. seq.). [v. Prov. CG 12/2014].

FMB 2a... · Web viewProsseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, a Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento,

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Provimento CG 12/2014. RTD. Princípio de territorialidade. Registro para conservação e perpetuidade. Notificação extrajudicial. Microfilme. Documento eletrônico. Meio digital. NSCGJSP. - alteração. Capítulo XIX

Alteração da redação do item 2.2 da Seção I, Capítulo XIX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça. 

CGJSP - PROVIMENTO: 12/2014 CGJSP - PROVIMENTOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 03/06/2014 DATA DJ: 11/06/2014 Relator: Elliot Akel íntegra:

PROVIMENTO CG Nº 12/2014

O Desembargador Hamilton Elliot Akel, Corregedor Geral da Justiça, no exercício de suas atribuições legais, e

Considerando a necessidade da permanente atualização das Normas de Serviço;

Considerando o teor do parecer emitido nos autos 2013/00192760;

Considerando que a redação atual do item 2.2 do Capítulo XIX das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça pode ensejar dúvida a respeito da proibição do registro de mídias sem o registro do respectivo conteúdo;

RESOLVE:

Artigo 1º: Alterar a redação do item 2.2 da Seção I, Capítulo XIX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, nos seguintes termos:              

 "2.2. Compete privativamente aos oficiais de registro de títulos e documentos do domicílio da pessoa física ou jurídica que seja titular ou parte do documento, o registro do conteúdo de papéis e documentos, de qualquer natureza, que poderão ser apresentados em suporte papel ou sob qualquer outra forma tecnológica, incluindo microfilmes, mídias óticas, analógicas, eletrônicas ou digitais."

Artigo 2º: Incluir o subitem 2.2.1 na Seção I, do Capítulo XIX do Tomo II das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, nos seguintes termos:           

2.2.1. É vedado o registro ou a autenticação de mídias óticas ou eletrônicas, nada obstando que se registrem conjuntamente os arquivos contidos na mídia, os quais deverão ser transcritos integralmente no livro de registro ou microfilmados.

Artigo 3º: Alterar a redação do item 3 da Seção I, do Capítulo XIX do Tomo II das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, nos seguintes termos:              

3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará constar no texto do registro de cada página do documento, de forma clara e visível, o fato de se tratar de cópia ou original. O Oficial também fará abaixo do registro a seguinte declaração: "registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei de Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros".

Artigo 4º: Este Provimento entrará em vigor em 30 dias de sua 1ª publicação.

São Paulo, 03/06/2014

 (a) HAMILTON ELLIOT AKEL      

RTD. Princípio de territorialidade. Registro para conservação e perpetuidade. Notificação extrajudicial. Microfilme. Documento eletrônico. Meio digital. NSCGJSP. - alteração. Capítulo XIX

Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça - REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - pedido de modificação do item 2.2 feito pelo 2º oficial de imóveis, títulos e documentos de osasco - mitigação da territorialidade nos casos de registros para fins de conservação e inviabilidade de registro de mídias eletrônicas sem o registro do eventual conteúdo - parecer acolhendo apenas a segunda parte do pedido, conforme sugestão do IRTDPJ-SP - Provimento CG nº 12/2014)  DJe 11/06/2014 (p. 12 et. seq.). [v. Prov. CG 12/2014].

CGJSP - PROCESSO: 192.760/2013 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 22/05/2014 DATA DJ: 11/06/2014 Relator: Elliot Akel íntegra:

Processo 2013/192760 (Parecer 125/2014-E), DJe de 11.6.2014, p. 12

NORMAS DE SERVIÇO DA CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA - REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - PEDIDO DE MODIFICAÇÃO DO ITEM 2.2 FEITO PELO 2º OFICIAL DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS DE OSASCO - MITIGAÇÃO DA TERRITORIALIDADE NOS CASOS DE REGISTROS PARA FINS DE CONSERVAÇÃO E INVIABILIDADE DE REGISTRO DE MÍDIAS ELETRÔNICAS SEM O REGISTRO DO EVENTUAL CONTEÚDO - PARECER ACOLHENDO APENAS A SEGUNDA PARTE DO PEDIDO, CONFORME SUGESTÃO DO IRTDPJ-SP. 

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

Trata-se de pedido do 2º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Osasco para que se altere a redação do item 2.2 do Capítulo XIX das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, conforme minuta que apresentou.       

Sustentou que a competência do Registro de Títulos e Documentos do domicílio das partes só deve ser exclusiva no caso de registros destinados a produzir efeitos contra terceiros e que há prejuízo para a segurança registral na inovação normativa que permite o registro de mídia sem o registro e a qualificação dos documentos que a integram. Sugeriu também inclusão de item específico sobre a forma de cobrança de emolumentos nos casos de registros facultativos (fls. 94/109).            

Foi deferida a suspensão cautelar dos efeitos do item 2.2 e se solicitou a manifestação do Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas de São Paulo (IRTDPJ-SP) (fls. 112/115).  

O IRTDPJ-SP argumentou que a melhor interpretação da Lei nº 6.015/73 é no sentido de que o princípio da territorialidade também se aplica aos registros facultativos. Citou decisão do CNJ que reconheceu a ilegalidade, por ofensa ao princípio da territorialidade, da prática adotada pelos registradores de preceder a notificações extrajudiciais para Municípios de outros Estados da Federação. Concordou com o suscitante, por outro lado, quanto à impossibilidade de registro das mídias sem o registro de seus conteúdos (fls. 125/133).         

É o relatório.     

Opino. 

Os registros para fins de conservação (inciso VII do art. 127 da Lei dos Registros Públicos), não visam a produzir efeitos em relação a terceiros. São registros que interessam somente ao particular, facultativos.         

Por esta razão, tais registros não estariam adstritos ao princípio da territorialidade, cuja importância nos demais casos seria justamente a de viabilizar a publicidade do registro quando ela se faz necessária, para surtir efeitos contra terceiros.           

Nas hipóteses de registros obrigatórios, não fosse o respeito à territorialidade, "seria impossível a qualquer pessoa ter conhecimento de contrato ou direito cujos efeitos o alcançam (o registro poderia ser feito em qualquer lugar do território nacional, o que tornaria impossível o conhecimento por parte do interessado)" (Luiz Guilherme Loureiro, Registros Públicos -Teoria e Prática, São Paulo: Método, 5ª ed., 2014, p.04).    

Walter Ceneviva ratifica:            

 "O domicílio determina a atribuição ao serviço de certa comarca, para que se assegure a cognoscibilidade por todos os terceiros. O assentamento fora do domicílio das partes, dos apresentantes e interessados, dificultaria o conhecimento do ato por terceiros" (Lei dos Registros Públicos Comentada, São Paulo: Saraiva, 19ª ed., 2009, p. 319, nota ao art. 130).            

Essa seria, portanto, a lógica para a obrigatoriedade do registro no domicílio das partes, necessidade não presente nos casos dos registros facultativos do inciso VII do art. 127 da Lei 6.015/71.

Ocorre, contudo, que o art. 130 da referida lei é expresso ao estabelecer que devem ser registrados no domicílio das partes todos os atos enumerados no art. 127: 

Art. 130. Dentro do prazo de 20 (vinte) dias da data da sua assinatura pelas partes, todos os atos enumerados nos arts. 127 e 129 serão registrados no domicílio das partes contratantes e, quando residam estas em circunstâncias territoriais diversas, far-se-á o registro em todas elas.

A redação é clara, sem ambiguidades. 

Não nos parece cabível que esta E. Corregedoria possa normatizar interpretação que, embora lógica, vai contra texto expresso de lei.              

Não se olvida que a jurisprudência do STJ, conquanto tenha oscilado num passado relativamente recente, acabou se firmando no sentido de ser válida a notificação extrajudicial realizada por cartório de registro de títulos e documentos de circunscrição distinta da do devedor, conforme se verifica do julgamento do Recurso Especial nº 1.184.570/MG, afeto à Segunda Seção por força do art. 543-C do Código de Processo Civil (recursos repetitivos), e relatado pela Ministra Maria Isabel Galloti (julg. 09.05.2012).    

Na fundamentação de seu voto, a Ministra citou voto proferido anteriormente pelo Ministro Luis Felipe Salomão no REsp 1.237.699/SC, da Quarta Turma, do qual se extrai que a notificação extrajudicial não está submetida à limitação da territorialidade prevista no art. 130 da Lei 6.015/73 porque não está incluída nos atos enumerados no art. 129 e "porque não se trata de ato tendente a dar conhecimento a terceiros acerca de sua existência" (g.n.).        

A jurisprudência do STJ, portanto, mitigou o princípio da territorialidade em relação às notificações extrajudiciais e um dos fundamentos foi, justamente, a desnecessidade do ato ser de conhecimento de terceiros.    

Embora seja possível a analogia da problemática envolvendo as notificações com a dos registros com fins de conservação, as matérias não coincidem exatamente.

É certo que as notificações realizadas pelos cartórios dão conhecimento do conteúdo de documento levado a registro ou averbação: 

Art. 160. O oficial será obrigado, quando o apresentante o requerer, a notificar do registro ou da averbação os demais interessados que figurarem no título, documento, o papel apresentado, e a quaisquer terceiros que lhes sejam indicados, podendo requisitar dos oficiais de registro em outros Municípios, as notificações necessárias. Por esse processo, também, poderão ser feitos avisos, denúncias e notificações, quando não for exigida a intervenção judicial.               

Mas os atos não se confundem. O registro é um, a notificação acerca dele é outro.      

A regra do art. 160, o qual é específico sobre as notificações, estabelece que quando "o destinatário da notificação residir em limite territorial diverso daquele para a qual é competente Oficial que registrou o documento, este deverá requisitar a entrega ao Registro de Títulos e Documentos do domicílio do destinatário" (Fernando Cândido da Silva, Registro de Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas, Curitiba: Inoreg, 2012, p. 44) .   

Prossegue o autor dizendo que a expressão "podendo requisitar dos oficiais de registro em outros Municípios, as notificações necessárias", que consta do art. 160, "deve ser entendida como uma faculdade da parte, ou seja, do interessado na notificação, e não do Oficial Registrador, que pratica ato vinculado".    

"O sentido da referida expressão é o de permitir ao usuário do serviço a seguinte escolha: (i) requerer ao registrador de títulos e documentos a remessa do objeto do registro ou da averbação ao Registro de Títulos e Documentos competente conforme o endereço do destinatário, ou  (ii) o próprio usuário do serviço protocola pessoalmente o documento destinado a registro ou averbação e notificação (não se descartando que o interessado promova o encaminhamento via postal ao Registro de Títulos e Documentos competente conforme o endereço do destinatário)". 

Não há jurisprudência uniforme, consolidada e expressa a respeito da questão particular da aplicação da não territorialidade no caso dos registros para fins de conservação.              

Mas no caso de se fazer analogia entre as notificações e os registros para fins de conservação, não se pode deixar de mencionar o posicionamento do Conselho Nacional de Justiça, o qual no Procedimento de Controle Administrativo nº 642 (requerente a Corregedoria Geral de Justiça de Santa Catarina e requeridos os Registradores da Grande São Paulo) entendeu ilegal a prática adotada pelos registradores de São Paulo de enviarem notificações para Municípios de outros Estados.        

Confira-se trecho a ementa (g.n.):        

"III. O princípio da territorialidade é vetor axiológico subjacente à sistemática adotada pela Lei 6.015/73, a ser observado por todas as serventias, e não apenas pela de registro de imóveis e de pessoas. A mens legis do art. 130 da Lei 6.015/73 é clara e visa garantir a segurança e a eficácia dos atos jurídicos aos quais confere publicidade (art. 1º, Lei 6.015/73).   

IV. A não-incidência do princípio da territorialidade constitui exceção e deve vir expressamente mencionada pela legislação.         

V. Procedimento a que se julga procedente."  

Essa decisão, de 26.05.2009, foi estendida pelo CNJ a todos os Registros de Títulos e Documentos do país em abril de 2010 (Pedido de Providências 0001261-78.2010.2.00.0000).       

Houve recurso administrativo no CNJ contra a decisão que havia estendido a proibição a todos os cartórios do Brasil (não contra a decisão do PCA 642 que se referiu aos cartórios de São Paulo). Um Conselheiro pediu vista.       

Logo em seguida, em maio de 2010, foi ajuizado Mandado de Segurança no STF e o Ministro Dias Toffoli suspendeu liminarmente os efeitos da decisão do CNJ no Pedido de Providências 0001261-78, mas ressalvou expressamente a manutenção da eficácia do que havia sido decidido no PCA 642 (Mandado de Segurança 28.772).         

O trâmite do recurso administrativo no CNJ foi suspenso.         

Em 01.02.2013 o Ministro Dias Toffoli não conheceu do Mandado de Segurança e cassou a liminar, por ilegitimidade ativa e falta de interesse processual do impetrante.     

O recurso administrativo nos autos do Pedido de Providências 0001261-78 do CNJ ainda não foi julgado. Segue no aguardo da elaboração do voto vista.   

Do último despacho do Relator, que culminou com a determinação (após outras providências) de retorno do feito à Conselheira Luiza Cristina Fonseca Frischeisen (voto vista), extrai-se o seguinte trecho que bem resume toda a situação:            

"Em síntese, os cartórios foram impedidos de notificar fora de seus Estados a partir de 8.4.2010 até 3/5/2010. Voltaram a poder notificar, em razão da liminar proferida pelo STF, no MS nº 28.772, a partir de 4/5/2010. Por fim, foram novamente impedidos de notificar fora de seus Estados a partir de 7.2.2013.     

Cabe ressaltar que a decisão proferida no MS n° 28.772 não alcançou os cartórios dos estados de São Paulo e Espírito Santo que estão impedidos de notificar fora dos limites territoriais dos estados desde 26/05/2009 e 14/10/2009, respectivamente" (despacho proferido pelo Conselheiro em 28.01.2014).        

Assim, ainda que se use a analogia entre as notificações e os registros para fins de conservação, para efeito de mitigação do princípio da territorialidade, há que se fazer distinção entre as esferas jurisdicionais e administrativas.   

Decisões jurisdicionais entendendo válidas as notificações por força da não aplicação, nos casos, do princípio da territorialidade, não emanam comandos aos cartórios extrajudiciais.   

"Pouco importa a Resolução do Conselho Nacional de Justiça e que não obriga os Juízes na atividade jurisdicional. O registro, no caso, é facultativo (art.127, VII, da Lei 6.015/73) e não se aplica a regra geral do art. 130 da Lei de Registros Públicos, ou seja, pode ser feito em qualquer serventia específica do país, pois tem efeito de mera conservação. A parte pode, a qualquer momento, comprovar o conteúdo da notificação.        

Nesse sentido entendimento do Desembargador Francisco Casconi, relator no AI nº 990.10.386960-5, ao deixar anotado que "a declaração emitida em procedimento de controle administrativo no CNJ, como o próprio nome sugere, limita-se a produzir efeitos apenas na esfera administrativa, sem força suficiente a vincular pronunciamento judicial ora em exame, ou mesmo podar a repercussão jurídica da notificação realizada. Vale acrescentar não existir regulamentação legal que obrigue ser a regulamentação realizada por Oficial de Registros Públicos lotado na mesma comarca do notificado" (TJSP, Apelação n° 0073179-96.2012.8.26.0114, 32ª Câm. Dir. Priv., Rel. Des. Kioitsi Chicuta, j.20.02.2014).      

O art. 12 da Lei nº 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores), pode dar a entender que o princípio da territorialidade não se aplica aos Registros de Títulos e Documentos:   

Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas, civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos relacionados na legislação pertinente aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemente de prévia distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas que definirem as circunscrições geográficas (g.n.).    

Caso se entenda que o artigo afastou a aplicação do princípio da territorialidade e que, portanto, revogou tacitamente o art. 130 da Lei 6.015/71 na parte em que este afirma que os registros devem ser feitos no cartório de residência das partes, tal entendimento deveria ser estendido a todos os registros do RTD, não só àqueles para fins de conservação. Isso porque da redação do art. 12 não se infere qualquer diferença de tratamento a ser dada aos vários tipos de registros do RTD.             

Não à toa, não há defensores da tese de que o art. 12 da Lei 8.935/94 revogou totalmente o princípio da territorialidade nos Registros de Títulos e Documentos. Não se vê, porém, como interpretar que ele revogou a territorialidade apenas quanto aos registros para fins de conservação, à medida que o art. 12 não faz diferença nenhuma entre os vários registros dos RTDs, somente estabelece que os Registros de Imóveis e Civis de Pessoas Naturais estão sujeitos às normas que definirem as circunscrições geográficas, silenciando sobre os Registros de Títulos e Documentos. 

Portanto, a nosso ver, a solução passa necessariamente pelo art. 130 da Lei dos Registros e pela possibilidade ou não de se editar norma que vai contra seu texto expresso.

Entendemos que não, notadamente pelas decisões jurisdicionais a respeito serem bastante específicas sobre notificação e pender, ainda, decisão administrativa do CNJ em sentido contrário, o que torna o assunto suficientemente controverso para que se normatize "contra legem". 

Por fim, não é demais lembrar da advertência trazida pelo IRTDPJ-SP: 

"(...) com o atual estágio da tecnologia, que permite com facilidade a remessa de arquivos pela internet, nada impediria que algumas empresas intermediadoras passassem a induzir toda a população do Estado de São Paulo a efetivar todos os seus registros facultativos para fins de conservação em outros Estados da Federação, cujas taxas de emolumentos fossem mais baixas, o que causaria grave distorção do princípio jurídico-constitucional do equilíbrio da delegação, além de indesejada guerra fical" (fl. 128).             

Com relação à inviabilidade do registro de mídias sem o registro do respectivo conteúdo, assiste razão ao suscitante (com o qual o IRTDPJ-SP concordou).   

O DVD, CD e outras espécies de mídias óticas, digitais ou analógicas, constituem apenas os suportes, isto é, os meios pelos quais os documentos se exteriorizam.    

O que deve ser registrado é o documento em si, o conteúdo, não a base física. Nesse sentido, para que não restem dúvidas a respeito, conveniente a alteração das normas.           

A redação sugerida pelo IRTDPJ-SP se mostra bastante clara e adequada (fl. 131):        

2.2. Compete privativamente aos oficiais de registro de títulos e documentos do domicílio da pessoa física ou jurídica que seja titular ou parte do documento, o registro do conteúdo de papéis e documentos, de qualquer natureza, que poderão ser apresentados em suporte papel ou sob qualquer outra forma tecnológica, incluindo microfilmes, mídias óticas, analógicas, eletrônicas ou digitais.         

2.2.1. É vedado o registro ou a autenticação de mídias óticas ou eletrônicas, nada obstando que se registrem conjuntamente os arquivos contidos na mídia, os quais deverão ser transcritos integralmente no livro de registro ou microfilmados.

Considerando, ainda, que na redação sugerida pelo  2º Oficial de Osasco se previu a necessidade de se fazer constar se o documento é original ou cópia (fl. 107, item 2.2.2 da sugestão), e que a redação proposta pelo IRTDPJ-SP silenciou a esse respeito, oportuno que se inclua no item 3 do Capítulo a necessidade de diferenciação entre cópia e original.              

Isso porque o item 3, em sua redação atual, já prevê que nos registros para fins de mera conservação o Oficial faça constar a declaração, abaixo do registro, de que ele é feito nos termos do art. 127, VII, da Lei dos Registros e não gera efeitos contra terceiros:   

3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará abaixo do registro a seguinte declaração: "registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei de Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros".

Logo, acreditamos que o item 3 é o mais adequado para receber a inclusão da advertência sobre ser o documento uma cópia ou original.  

Por fim, a inclusão nas normas de um item a respeito da forma de cobrança dos registros facultativos se mostra desnecessária, já que a tabela em vigor não deixa dúvidas de que o registro para fins de conservação é cobrado por página, no valor de R$ 0,59.       

Pelo exposto, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de não se acolher a proposta de alteração das normas feita pelo 2º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos de Osasco e de se acolher a proposta do IRTDPJ-SP, conforme minuta de provimento anexa. 

Sub censura.    

São Paulo, 16 de abril de 2014. 

(a) Gabriel Pires de Campos Sormani  

Juiz Assessor da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e por seus fundamentos, que adoto, determino a edição do Provimento sugerido e a publicação do parecer no DJE, acompanhado do Provimento, por três vezes, em dias alternados.

São Paulo, 22/05/2014. 

(a) HAMILTON ELLIOT AKEL, Corregedor Geral da Justiça.

RTD. Posse - declaração - registro. Emolumentos - gratuidade.

Registro de Título e Documentos - Registro de "declaração de posse", documento a ser firmado pelo interessado, perante a Defensoria Pública - Gratuidade no seu registro - Concordância da Central de Distribuição de Títulos

CGJSP - PROCESSO: 189.592/2013 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 03/04/2014 DATA DJ: 22/04/2014 Relator: Elliot Akel íntegra:

PROCESSO Nº 2013/189592 - SÃO PAULO - DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (91/14-E) - Dje de 22.4.2014, p. 16.

Registro de Título e Documentos - Registro de "declaração de posse", documento a ser firmado pelo interessado, perante a Defensoria Pública - Gratuidade no seu registro - Concordância da Central de Distribuição de Títulos

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

Cuida-se de consulta, feita pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, acerca da possibilidade de se conferir gratuidade ao registro, perante os Cartórios de Títulos e Documentos, de "declarações de posse".

Trata-se de documento que visa a dar alguma segurança àqueles que detenham a posse mansa e pacífica sobre determinado imóvel. O pleito da Defensoria baseia-se em projeto criado no Estado do Rio de Janeiro, onde esse tipo de registro já é feito.

Ouvido, o Presidente da Central de Distribuição de Títulos afirmou que não há óbice no registro nem na gratuidade. Porém, solicitou manifestação expressa da Corregedoria Geral da Justiça para concedê-la.

Passo a opinar.

A iniciativa da Defensoria Pública do Estado de São Paulo é louvável e tem o objetivo de conferir alguma segurança a todos que possam comprovar, ainda que de maneira sumária, a posse sobre determinada área, com vistas à futura regularização, por meio da usucapião. Nas palavras da Defensoria, "dar alguma segurança documental àquele que não possui qualquer título sobre o imóvel".

A questão que se coloca a essa Corregedoria é a referente à gratuidade do registro desse documento. E entendo que sua concessão, de maneira irrestrita, é possível.

Em primeiro lugar, consigno que o Presidente da Central de Distribuição de Títulos a ela não se opôs.

Em segundo lugar, existe, aí, uma presunção de pobreza, ou, ao menos, de hipossuficiência, extensível a todos aqueles que pretendem a confecção e registro de tal documento.

Não fosse por outra razão, eles sequer seriam atendidos perante a Defensoria Pública.

Dessa forma, o parecer que, respeitosamente, submeto a Vossa Excelência, é no sentido de determinar a isenção no registro de "declarações de posse" perante os Cartórios de Registro de Títulos e Documentos, nas hipóteses em que esse documento for elaborado perante a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, dada a presunção de pobreza dos que lá são atendidos.

Sub censura.

São Paulo, 24 de março de 2014.

Swarai Cervone de Oliveira

Juiz Assessor da Corregedoria

CONCLUSÃO

Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, determino a isenção no registro de "declarações de posse" perante os Cartórios de Registro de Títulos e Documentos, nas hipóteses em que esse documento for elaborado perante a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, dada a presunção de pobreza dos que lá são atendidos.

Publique-se.

São Paulo, 03 de abril de 2014.

HAMILTON ELLIOT AKEL

Corregedor Geral da Justiça.

Pedido de providências - CGJ. RTD - Consulta por e-mail. Via inadequada. Dúvida registral. Pedido de providências.1VRPSP - PROCESSO: 0065994-15.2013.8.26.0100 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 16/10/2013 DATA DJ: 15/11/2013 Relator: Josué Modesto Passos íntegra:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO

FORO CENTRAL CÍVEL

1ª VARA DE REGISTROS PÚBLICOS

Praça João Mendes s/nº, Sala 2200/2208, Centro - CEP 01501-900,

Fone: (11) 2171-6353, São Paulo-SP - E-mail: [email protected]

DESPACHO

Processo nº: 0065994-15.2013.8.26.0100 - Pedido de Providências

Requerente: Corregedoria Geral da Justiça

CONCLUSÃO

Em 14 de outubro de 2013, faço estes autos conclusos ao MM. Juiz de Direito Josué Modesto Passos, da 1ª Vara de Registros Públicos. Eu, ____________, escrevente, digitei.

Vistos.

Por ordem da E. Corregedoria Geral da Justiça (ofício n. 4152/MMAL/DICOGE 5.1 - proc. 2013/149415 - fls. 02) instauraram-se estes autos de providências, para o que se entendesse cabível acerca de consulta feita, mediante e-mail (fls. 03-04), por Matheus Wassano Ishigaki acerca de informação que, segundo alega, lhe fora prestada pelo 2º Ofício de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de São Paulo.

É o que cumpria relatar.

Como se vê no pedido de informações (fls. 03-04), o interessado procura saber se são fundadas ou não as razões de recusa de inscrição (lato sensu) dadas por ofício de registro de títulos e documentos e civil de pessoas jurídicas; ora, a questão só se pode resolver pela via adequada, que é a dúvida (em caso de registro stricto sensu) ou o pedido de providências (em caso de averbação), que supõe a apresentação do título, sem a vista do qual é temerário afirmar o que quer que seja. No mais, outras informações o interessado pode obtê-las compulsando as Normas de Serviço da E. Corregedoria Geral da Justiça, tomo II, capítulo XVIII, itens 11 a 21, que dão completo regimento ao tema.

Do exposto, não havendo providências correcionais por tomar, arquivem-se estes autos, que ficam extintos.

P. R. I.

Ciência ao interessado pelo e-mail que está a fls. 03.

Oficie-se à E. Corregedoria Geral.

Oportunamente, arquivem-se.

São Paulo, 16 de outubro de 2013.

JOSUÉ MODESTO PASSOS

Juiz de Direito

PROCESSO Nº 2013/36854 - OURINHOS - OLGA KUNIYOSHI e OUTROS - Advogada: JOYCE SHIZUE KUNIYOSHI, OAB/SP 269.897.

DECISÃO: Vistos etc.Pese embora a consistente argumentação da eminente Juíza Assessora da

Corregedoria, Dra. TÂNIA MARA AHUALLI, o caso é de manutenção da decisão de primeiro grau.

A pretensão ao cancelamento do registro no RTD das atas de assembleias e de convenções condominiais de condomínio edilício não formalmente constituído, é do vendedor do terreno à incorporadora. Esta abandonou a obra, questão ainda sub judice e os compradores não conseguem, por isso, a regularização da situação registraria junto à circunscrição imobiliária.

O acesso da ata condominial ao RTD está previsto no item 2 da respectiva tabela de custas. Se os condôminos se viram impedidos de regularizar a situação junto ao Registro de Imóveis, é razoável não se aflija ainda mais quem não deu causa ao impedimento do acesso à segurança tabular. A responsabilidade é da incorporadora. A ata serve exatamente a comprovar obrigações assumidas entre as partes.

Para isso mesmo existe o RTD: o registro residual de todos os atos não acolhidos pelos demais Registros Públicos. É o que dispõem os itens 1, G e 1, A, do Capítulo XIX:

1. No Registro de Títulos e Documentos será feita a transcrição:a) dos instrumentos particulares, para a prova das obrigações convencionais de

qualquer valor;...g) facultativa, de quaisquer documentos, para sua conservação.Não incide na espécie a vedação do item 3.1 do Capítulo XIX, restrito às associações e

sociedades civis. Até porque, o condomínio sequer existe. De igual forma, inexiste óbice de natureza extrínseca a autorizar o cancelamento pela via administrativa. Ao contrário, essa publicidade junto ao Registro de Títulos e Documentos é o conteúdo mínimo para que os condôminos lesados pela incorporadora possam ordenar a disciplina do convívio juridicamente irregular sem que se lhes caiba qualquer culpa.

Por estes fundamentos, mantém-se a decisão de primeiro grau e nega-se provimento ao recurso.

São Paulo, 10 de setembro de 2013.(a) JOSÉ RENATO NALINI.Corregedor Geral da Justiça. (D.J.E. de 20.09.2013 - SP)

Hipoteca - cancelamento - pessoa jurídica - no sede exterior. Procuração em língua estrangeira - RTD - procuração ineficaz. Autenticação notarial.

REGISTRO DE IMÓVEIS - Cancelamento - Hipoteca - Artigo 251, I, da Lei n.º 6.015/1973 - Autorização subscrita por advogada constituída por pessoa jurídica sediada nos Estados Unidos da América - Procuração de origem estrangeira - Registro no Registro de Títulos e Documentos - Inocorrente - Procuração ineficaz - Poderes de representação da subscritora da procuração outorgada em nome da credora hipotecária - Fato não demonstrado - Autenticação notarial insuficiente para comprová-lo - Desqualificação registral confirmada - Averbação desautorizada - Recurso provido.

CGJSP - PROCESSO: 146.226/2012 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Marília DATA JULGAMENTO: 01/10/2013 DATA DJ: 11/10/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Proc. n.º 2012/00146226 - fls. 1 (389/2013-E)

REGISTRO DE IMÓVEIS - Cancelamento - Hipoteca - Artigo 251, I, da Lei n.º 6.015/1973 - Autorização subscrita por advogada constituída por pessoa jurídica sediada nos Estados Unidos da América - Procuração de origem estrangeira - Registro no Registro de Títulos e Documentos - Inocorrente - Procuração ineficaz - Poderes de representação da subscritora da procuração outorgada em nome da credora hipotecária - Fato não demonstrado - Autenticação notarial insuficiente para comprová-lo - Desqualificação registral confirmada - Averbação desautorizada - Recurso provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

O Oficial do 2.º Registro de Imóveis da Comarca de Marília suscitou dúvida, requerida por Cristiano Greco e Getúlio Pereira[1], e justificou a desqualificação questionada, ao afirmar que não foram provados os poderes de representação de Sonya M. Davis, subscritora da procuração outorgada pelaAsgrow Seed Company, LLC, a Fabiola Pereira Bahruth, que em nome da credora hipotecária autorizou o cancelamento da hipoteca; e que a procuração, acompanhada da tradução, não foi inscrita no Registro de Títulos e Documentos (artigo 129, 6.º, da Lei n.º 6.015/1973).[2]

Não apresentada impugnação pelo interessado[3], e após a manifestação do Ministério Público[4], adúvida foi julgada improcedente e a prática do ato registral recusado foi determinada.[5]

Ao interpor recurso administrativo, o Ministério Público do Estado de São Paulo respaldou a conduta do Oficial.[6] Recebido no duplo efeito[7], não houve apresentação de resposta e os autos foram enviados ao Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo.[8]

A Procuradoria Geral de Justiça propôs a remessa dos autos à Corregedoria Geral da Justiça e o desprovimento do recurso.[9]

Porque a discussão versa sobre cancelamento de hipoteca, ato passível de averbação, a incompetência do Conselho Superior da Magistratura foi declarada e os autos foram encaminhados à Corregedoria Geral da Justiça.[10]

É o relatório. OPINO.

A dúvida suscitada deve ser admitida como pedido de providências porque se discute assento passível de averbação.

A falta de impugnação não impede o julgamento do pedido de providências, em aplicação analógica da regra do artigo 199 da Lei n.º 6.015/1973.

A procuração, de origem estrangeira, por meio da qual a Asgrow Seed Company, LLC, representada pela Sra. Sonya M. Davis, outorgou poderes a Dra. Fabiola Pereira Bahruth, não foi registrada, instruída com a devida tradução, no Registro de Títulos e Documentos, motivo por que, para os fins pretendidos, é desprovida de eficácia (artigo 129, 6.º, da Lei n.º 6.015/1973).[11]

Por outro lado, inexistem elementos comprovando os poderes de representação da Sra. Sonya M. Davis, subscritora da procuração outorgada pela credora hipotecária Asgrow Seed Company, LLC: trata-se de outro fator a obstar a averbação do cancelamento da hipoteca.

Nem se argumente que a procuração foi outorgada mediante escritura pública: na realidade, consta de instrumento particular. A tabeliã, in concreto, apenas praticou um ato de autenticação notarial, atuou em documento privado para autenticar um fato.

E isso fica evidente à luz da tradução apresentada:

Em 28 de abril de 2010, compareceu pessoalmente perante mim, Sonya M. Davis, reconhecida por mim como a pessoa descrita e que assinou o instrumento acima, e reconheceu que ela assinou a referida procuração para os fins contidos naquele instrumento. Em testemunho do que, assino o presente e afixo meu selo oficial.

O texto em destaque não permite supor que tabeliã tenha checado os poderes de representação da Sra. Sonya M. Davis: apenas, e exclusivamente, atesta que ela, em nome da credora hipotecária, daAsgrow Seed Company, LLC, subscreveu a procuração.

Dentro desse contexto, o juízo de desqualificação registral deve ser mantido; o cancelamento da hipoteca, pretendido com base no artigo 251, I, da Lei n.º 6.015/1973, resta desautorizado.

Não há dados suficientes revelando a autorização expressa da credora hipotecária; o documento apresentado, subscrito pela Dra. Fabíola Pereira Bahruth em nome da credora hipotecária, tem, para os fins aqui perseguidos, a sua eficácia contaminada pela ineficácia da procuração acima referida.

Pelo todo exposto, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência propõe o conhecimento da dúvida suscitada como pedido de providências e o provimento do recurso administrativo para reformar a r. sentença de fls. 32-35 e confirmar o acerto da desqualificação registral.

Sub censura.

São Paulo, 19 de setembro de 2013.

Luciano Gonçalves Paes Leme

Juiz Assessor da Corregedoria

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Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, conheço da dúvida como pedido de providências e dou provimento ao recurso para reformar a r. sentença que determinou o cancelamento da hipoteca, ora desautorizado.

Publique-se.

São Paulo, 01/10/2013

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

[1]Fls. 14-15.

[2]Fls. 3-6 e 13.

[3]Fls. 2, 25 e 26.

[4]Fls. 27-30.

[5]Fls. 32-35.

[6]Fls. 39-42.

[7]Fls. 43.

[8]Fls. 44 e 45.

[9]Fls. 49-50.

[10]Fls. 51.

[11]Cf. Recurso Especial n.º 606.393/RJ, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 19.05.2005.

Dúvida - recurso - embargos de declaração. Alienação fiduciária - lavoura futura. Bem móvel - RTD.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - Dispensa de integração da decisão - Reapreciação da matéria - Descabimento - Embargos conhecidos e rejeitados.

CSMSP - EMBARGOS DECLARATÓRIOS: 0008017-54.2012.8.26.0309/50000 CSMSP - EMBARGOS DECLARATÓRIOSLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 23/08/2013 DATA DJ: 18/10/2013 Relator: Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIO - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

Apelação Cível nº 0008017-54.2012.8.26.0309/50000

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração nº 0008017-54.2012.8.26.0309/50000, da Comarca de Jundiaí, em que é embargante BANCO PINE S/A, é embargado 2º OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA DA COMARCA DE JUNDIAÍ.

ACORDAM, em Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "CONHECERAM DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E OS REJEITARAM, V.U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores IVAN SARTORI (Presidente), GONZAGA FRANCESCHINI, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, SILVEIRA PAULILO, SAMUEL JÚNIOR E TRISTÃO RIBEIRO.

São Paulo, 23 de agosto de 2013.

RENATO NALINI

RELATOR

Embargos de Declaração nº 0008017-54.2012.8.26.0309/50000

Embargante: Banco Pine S.A

Embargado: 2º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Jundiaí.

Voto nº 21.293

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - Dispensa de integração da decisão - Reapreciação da matéria - Descabimento - Embargos conhecidos e rejeitados.

Trata-se de embargos de declaração opostos para que seja aclarada obscuridade do julgamento colegiado.

É o relatório.

Os embargos de declaração são tempestivos e quanto ao mérito improcedentes.

A decisão colegiada não merece qualquer reparo, inexistindo contradição ou obscuridade a ser sanada.

A manutenção da decisão recorrida foi suficientemente fundamentada o que não autoriza a oposição do recurso de embargos.

O enfrentamento de todos os argumentos trazidos nos embargos era dispensável no caso em tela por este Colendo Conselho, como inclusive já salientado no acórdão.

Diferentemente do alegado pelo embargante o caso em específico dos autos é de constituição de propriedade fiduciária de lavoura futura, mas ainda que este não fosse o entendimento do colegiado, vale salientar inexistir previsão expressa de registro no art. 167, I, da Lei de Registros Públicos o que basta para a rejeição da apelação.

Pelo todo exposto, conheço dos embargos de declaração e os rejeito.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

Registro de Títulos e Documentos - RTD. CDT - AASP. Distribuição.

Registro de Títulos e Documentos - Requerimentos da AASP e do CDT em sentido opostos - Questão que se encontra sub judice perante o Supremo Tribunal Federal - Dúvida do alcance da r. liminar deferida nos autos da medida cautelar em mandado de segurança que deve ser sanada junto ao órgão que a prolatou - Parecer no sentido de se aguardar o deslinde da questão na via jurisdicional 

CGJSP - PROCESSO: 123.645/2011 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 31/07/2013 DATA DJ: 09/08/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇAProcesso CG 2011/00123645 -  (264/2013-E)

Registro de Títulos e Documentos - Requerimentos da AASP e do CDT em sentido opostos - Questão que se encontra sub judice perante o Supremo Tribunal Federal - Dúvida do alcance da r. liminar deferida nos autos da medida cautelar em mandado de segurança que deve ser sanada junto ao órgão que a prolatou - Parecer no sentido de se aguardar o deslinde da questão na via jurisdicional 

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

A AASP pede que esta Corregedoria Geral, em cumprimento à r. decisão liminar proferida pelo Min. Ricardo Lewandowski nos autos da medida cautelar em  mandado de segurança nº 31.402 por ela impetrado perante o E. Supremo Tribunal Federal, edite ato normativo para alterar o item 7.2, do Capítulo XV, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, afastando a exigência da prévia distribuição e a proibição de apresentação dos títulos e documentos junto à Serventia eleita pelo usuário, vedada a compensação, nos moldes do Provimento CG nº 19/2011.

O Centro de Estudos e Distribuição de Títulos e Documentos de São Paulo - CDT, por sua vez, partindo da premissa de que a r. liminar em questão em nada atingiu o Provimento CG nº 04/2012, postula a edição de ato normativo, também para alterar a redação do item 7.2, porém em sentido contrário ao da AASP, isto é, mantendo-se a prévia distribuição, vedadas a compensação e a distribuição direta nas Serventias. 

É o relatório.

Opino.

Em virtude da r. liminar deferida pelo Min. Ricardo Lewandowski nos autos da medida cautelar em mandado de segurança nº 31.402, V. Exa. determinou a expedição do Comunicado nº 691/2013, que publicado no DJE de 03.07.2013 (fls. 1728) nos seguintes termos:

Diante da V. decisão do Ministro RICARDO LEWANDOWSKI nos autos da Medida Cautelar em MS 31.402-DF, a Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo comunica a todos os interessados que houve deferimento do pedido liminar para suspender os efeitos da decisão proferida pelo Plenário do Colendo Conselho Nacional de Justiça, nos autos do Procedimento de Controle Administrativo 0005108-54.2011.2.00.0000.

Os requerimentos ora apresentados buscam medidas diametralmente opostas e a questão central neles posta encontra-se sub judice perante o Colendo Supremo Tribunal Federal, sendo inoportuna a edição de regramento normativo antes da decisão final na via jurisdicional.

Infere-se dos requerimentos apresentados que há dúvida a respeito do alcance da medida liminar deferida pelo Supremo Tribunal Federal, o que, salvo melhor juízo de V. Exa., deve ser sanado junto ao órgão que a prolatou.

Diante do exposto, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de V. Exa. é no sentido de se aguardar o deslinde da questão na via jurisdicional.

Sub censura.

São Paulo, 31 de julho de  2013.

Gustavo Henrique Bretas Marzagão

Juiz Assessor da Corregedoria

Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, aguarde-se o deslinde da questão na via jurisdicional.

Publique-se.

São Paulo, 31 de julho de 2013

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

Provimento CNJ 27/2012. Alienação fiduciária de veículos automotores. Bens móveis. Arrendamento mercantil. RTD. Títulos e documentos - registro facultativo.

Dispõe sobre a facultatividade e a competência para o registro de contratos de alienação fiduciária e de arrendamento mercantil de veículos por Oficial de Registro de Títulos e Documentos.

CNJ - PROVIMENTO: 27/2012 CNJ - PROVIMENTODATA JULGAMENTO: 12/12/2012 DATA DJ: 14/12/2012 Relator: Francisco Falcão íntegra:

O CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA, Ministro Francisco Falcão, no uso de suas atribuições legais e regimentais;

CONSIDERANDO que compete ao Conselho Nacional de Justiça o controle da atuação administrativa do Poder Judiciário (artigo 103-B,§ 4º, incisos I, II e III da Constituição Federal);

CONSIDERANDO que compete ao Poder Judiciário a fiscalização dos serviços notariais e de registro (art. 103-B, § 4º, I e III, e art. 236, § 1º, ambos da Constituição Federal);

CONSIDERANDO que compete ao Corregedor Nacional de Justiça expedir Provimentos, e outros atos normativos, destinados ao aperfeiçoamento das atividades dos serviços notariais e de registro (artigo 8º, inciso X, do Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça);

CONSIDERANDO o disposto no artigo 1.361 do Código Civil, no artigo 6º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 11.882, de 23 de dezembro de 2008, e no artigo 130 da Lei nº 6.015/73;

CONSIDERANDO a necessidade de regulamentação da matéria, para afastar a adoção de procedimentos conflitantes pelos Oficiais de Registro de Títulos e Documentos;

RESOLVE:

Art. 1º É facultativo o registro de contrato de alienação fiduciária e de arrendamento mercantil de veículo por Oficial de Registro de Títulos e Documentos;

Art. 2º É vedada a celebração de convênios, acordos, termos de cooperação ou outras espécies de contratos entre Oficiais de Registro de Títulos e Documentos e repartições de trânsito, destinados à prática de ato de qualquer natureza para licenciamento de veículos, nesses incluídos a disponibilização, o acesso e o uso de qualquer meio para a comunicação (inclusive eletrônica feita por Intranet, Internet ou sistema similar) visando noticiar a realização de registro ou averbação em Registro de Títulos e Documentos.

Art. 3º O Oficial de Registro de Títulos e Documentos do domicílio das partes contratantes é o competente para o registro, facultativo, de contrato de alienação fiduciária e de arrendamento mercantil de veículo, para conservação ou eficácia.

Art. 4º Este provimento entrará em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 12 de dezembro de 2012

MINISTRO FRANCISCO FALCÃOCorregedor Nacional de Justiça

Sugestão. Alteração das NSCGJ. Testamento particular registrado no RTD. Comunicação ao CNB-SP. Descabimento.

Pedido de providência - Alteração das Normas da Corregedoria - Obrigatoriedade de comunicação ao Colégio Notarial de testamento particular registrado no Registro de Títulos e Documentos - Descabimento - Inviabilidade de atendimento sem reforma legal - Rejeição da proposta.

CGJSP - PROCESSO: 96204/2012 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Santa Cruz do Rio Pardo DATA JULGAMENTO: 14/09/2012 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Processo n° 2012/96204

(331/12-E)

Pedido de providência - Alteração das Normas da Corregedoria - Obrigatoriedade de comunicação ao Colégio Notarial de testamento particular registrado no Registro de Títulos e Documentos - Descabimento - Inviabilidade de atendimento sem reforma legal - Rejeição da proposta.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

Trata-se de sugestão encaminhada pela Juíza Corregedora Permanente da Comarca de Santa Cruz do Rio Pardo para o fim de tornar obrigatória a comunicação ao Colégio Notarial do Brasil, Seção São Paulo, de todo o testamento particular registrado nos Cartórios de Títulos e Documentos do Estado.

Diante dos interesses em questão solicitei manifestação do Colégio Notarial do Brasil e do Instituto de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas do Estado de São Paulo, tendo sido uníssona a posição de rejeição da proposta.

É o relatório.

OPINO.

Salvo melhor juízo de Vossa Excelência, Senhor Corregedor, o pedido não merece acolhimento.

O testamento particular confeccionado por escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico dispensa registro para sua validade.

Bem salienta o Magistrado Dr. Mauro Antonini, no Código Civil Comentado, Ed. Manole, 4ª ed., pág. 2199, que o testamento particular apesar de apresentar inúmeras desvantagens - confirmação testemunhal do instrumento, inexistência de registro e risco de extravio - garante ao testador o poder de manter suas disposições de última vontade em segredo até sua morte. O registro do testamento particular no Registro de Títulos e Documento tem por principal finalidade conservar a informação do testador, o que minimiza o risco de perda e extravio, sem, contudo, expor o conteúdo da declaração até sua morte. É exatamente este o sentido da Lei 6.015/73, artigo 127, inciso VII(No Registro de Títulos e Documentos será feita a transcrição: facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação).

A alteração sugerida pelo Oficial de Registro de Imóveis e Anexos da Comarca de Santa Cruz do Rio Pardo, encaminhada pela Juíza Corregedora da Comarca, para o fim de tornar obrigatória a comunicação ao Colégio Notarial do Brasil de todo testamento particular registrado do Cartório de Títulos e Documentos - o que implicaria na reforma das Normas da Corregedoria, Capítulo XIV itens 26-A a 26-E - acabaria por desvirtuar o instituto previsto no Código Civil, art.1876 e seguintes, ao aniquilar com o segredo da declaração do testador até sua morte.

Ademais, vale salientar que encampada à ideia proposta de revisão das Normas da Corregedoria nenhum acréscimo à segurança jurídica seria alcançada, pois é da natureza do instituto do testamento particular a dispensa de certas formalidades para confecção e validade, como, por exemplo, o registro.

Pelo todo exposto, o parecer que, respeitosamente, submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de rejeitar a proposta encaminhada pela Juíza Corregedora Permanente da Comarca de Santa Cruz do Rio Pardo a pedido do Oficial de Registro de Imóveis e Anexos.

Sub censura.

São Paulo, 12 setembro de 2012.

Alberto Gentil de Almeida Pedroso

Juiz Assessor da Corregedoria

CONCLUSÃO

Em 14 de setembro de 2012, faço estes autos conclusos ao Excelentíssimo Senhor DesembargadorJOSÉ RENATO NALINI, DD. Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo.

Eu .............(Rosa Maia), Escrevente Técnico Judiciário do GATJ 3, subscrevi.

Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, rejeito a proposta, determinando o arquivamento do procedimento.

São Paulo, 14 de setembro de 2012.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

RTD. Cancelamento de registro. Vício intrínseco. Inadmissibilidade.

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - cancelamento de registro - inocorrência de nulidade exclusiva do registro em si - recurso não provido.

CGJSP - PROCESSO: 107438/2011 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 09/03/2012 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Processo CG 2011/107438

(50/2012-E)

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - cancelamento de registro - inocorrência de nulidade exclusiva do registro em si - recurso não provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça

Cuida-se de recurso interposto por J. contra r decisão proferida às fls. 363/365 pelo MM Juízo Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de ..............que indeferiu o cancelamento do registro da convenção do condomínio "CG " e dos demais registros subsequentes.

Alega o recorrente, em síntese, que a decisão é omissa, que deixou de analisar o comando implícito contido no v. acórdão prolatado nos autos da apelação cível n°......, do C. Conselho Superior da Magistratura, que os atos jurídicos são nulos (fls. 370/376).

A douta Procuradoria de Justiça opinou pelo não provimento do recurso (fls. 392/394).

É o relatório.

Passo a opinar.

De início, ressalte-se que, embora o recorrente tenha intitulado seu recurso como apelação, trata-se em verdade de recurso administrativo, como tal devendo ser apreciado, nos termos do art. 246, do Código Judiciário do Estado de São Paulo, haja vista que o inconformismo foi manifestado contra a r. decisão proferida no âmbito administrativo pelo MM. Juiz Corregedor Permanente da Serventia Extrajudicial em exame.

No mérito, o recurso não comporta provimento, a despeito dos r. argumentos do recorrente.

O recorrente pretende: a) o cancelamento do registro da convenção do Condomínio e das atas subsequentes registradas no Registro de Títulos e Documentos de.......... ; b) a declaração de extinção e consequente cancelamento do instrumento de mandato lavrado em 09.06.06 no ....° Tabelião de Notas e Protestos de Letras e Títulos de .......... (livro.... , pág...... ); e c) o cancelamento da inscrição do CNPJ do Condomínio junto à Receita Federal.

Observe-se de início que o pedido de cancelamento da inscrição do CNPJ do "Condomínio" junto à Receita Federal transborda os limites deste feito de natureza administrativa, cabendo ao interessado se socorrer da via judicial.

Os demais pedidos não comportam acolhimento, consoante se passa a demonstrar.

Conforme tranquilo entendimento tanto desta Corregedoria Geral quanto do C. Conselho Superior da Magistratura, a única nulidade passível de conhecimento no âmbito administrativo é a exclusiva do procedimento do registro em si, absolutamente independente do título.

É a que decorre da inobservância de algum princípio ou norma registral, de sorte que não se confunde com a nulidade do título que, por via reflexa, contamina o registro.

Quando a nulidade é exclusiva do registro e absolutamente independente do título, é possível seu cancelamento direto na via administrativa.

Contudo, quando a eiva é do título, o cancelamento do registro depende da prévia desconstituição do título na via judicial. No caso em exame, o recorrente busca o cancelamento do registro da convenção condominial do "Condomínio " levado a efeito no Registro de Títulos e Documentos da Comarca de......... .

Sucede que em momento algum o recorrente disse por que o Oficial de Registro de Títulos e Documentos procedeu de forma equivocada na qualificação da convenção questionada nem no que esse registro teria malferido os princípios registrais, o que era de rigor para que se aferisse eventual nulidade de pleno direito. Sob o ponto de vista extrínseco, único ao alcance do Oficial, inexiste qualquer vício a ser detectado.

O que se verifica, em verdade, é que o recorrente se volta contra o teor da convenção registrada porque entende que "Condomínio " não tem existência jurídica válida.

Ocorre que o "Condomínio " decorre de ato jurídico consolidado, de sorte que sua desconstituição depende de prévia declaração na via judicial. Somente depois de percorrida essa via, com eventual acolhimento de seu pedido, é que os registros da convenção e das atas subsequentes junto ao Registro de Títulos e Documentos poderão, como efeito reflexo da decisão judicial, ser cancelados.

O mesmo raciocínio se aplica ao pedido de cancelamento do instrumento de mandato lavrado em 09.06.06 no .......° Tabelião de Notas e Protestos de Letras e Títulos de ..........(livro 326, pág. 398), na medida em que o vício alegado também depende da prévia declaração judicial de desconstituição do Condomínio, por se fundar na inexistência de personalidade jurídica deste.

Colhe-se, em suma, que o recorrente busca o cancelamento administrativo dos registros com base em vícios intrínsecos, o que não se admite.

As ilegalidades apontadas dependem, assim, de declaração na via judicial.

É elucidativa, a esse respeito, a doutrina de Narciso Orlandi Neto que, embora relativa à nulidade dos registros de imóveis, tem inteira aplicação no caso em exame:

"É preciso distinguir nulidade direta do registro e nulidade do título, com reflexo no registro. O registro não pode ser cancelado por nulidade do título, salvo em processo contencioso de que participe o titular do direito inscrito. Em outras palavras, o art. 214 da Lei n. 6015/73 é exceção. E como se sabe se o registro é ou não nulo de pleno direito? Sabe-se que o registro é ou não nulo de pleno direito examinando-o separadamente do título que lhe deu causa, apenas à luz dos princípios que regem o registro, a saber se foram cumpridos os requisitos formais. A indagação da nulidade do registro deve ficar restrita aos "defeitos formais do assento, ligados à inobservância de formalidades essenciais da inscrição (Código Civil. arts. 130 e 145, III)" (Afrânio de Carvalho, Retificação do Registro, in RDI 13, p. 17). ... A nulidade a que se refere o art. 214 da Lei de Registros Públicos é exclusiva do registro, absolutamente independente do título, tanto que, uma vez declarada, permite que o mesmo título seja novamente registrado. ...A nulidade que pode ser declarada diretamente independentemente de ação, é de direito formal, extrínseca. Ela não pode alcançar o título, que subsiste íntegro e, em muitos casos, apto a, novamente, ingressar no registro. ... Problemas relativos ao consentimento das partes, diz respeito ao título, tanto quanto sua representação e a elaboração material do instrumento. Assim, se houve fraude, se a assinatura do transmitente foi falsificada, se o instrumento público não consta dos livros de nenhum notário, se a procuração que serviu na representação de uma das partes é falsa, se o consentimento do alienante foi obtido com violência, são todos problemas atinentes ao título. Podem afetar o registro, mas obliquamente. Só podem determinar o cancelamento do registro, em cumprimento de sentença que declare a nulidade do título e, em consequência, do registro..." (Retificação do Registro de Imóveis, Ed. Oliveira Mendes, pág. 183/192 - grifou-se).

Em relação ao que decidiu o C. Conselho Superior da Magistratura nos autos da apelação cível n...... , citada reiteradamente pelo recorrente, destaque-se que o v. Acórdão facultou aos interessados a pretensão cancelatória dos registros das frações ideais constantes da matrícula do imóvel, isto é, possibilitou o cancelamento dos registros feitos no Registro de Imóveis, mas em momento algum declarou a nulidade da constituição ou do registro da convenção de condomínio junto ao Registro de Títulos e Documentos. Portanto, o v. acórdão não tem o alcance que o recorrente pretende lhe dar.

Anote-se, por fim, a ressalva da D. Procuradoria Geral da Justiça no sentido que o que interessa a todos é a regularização do "Condomínio" que segundo consta dos autos encontra-se em estágio avançado.

Diante do exposto, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de que se conheça da apelação como recurso administrativo e a ele seja negado provimento.

Sub censura.

São Paulo, 08 de março de 2012.

GUSTAVO HENRIQUE BRETAS MARZAGÃO

Juiz Auxiliar da Corregedoria

CONCLUSÃO

Em 09 de março de 2012, faço estes autos conclusos ao Desembargador JOSÉ RENATO NALINI DD. Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo.

Eu...............(Natália), Escrevente Técnico Judiciário do GATJ 3, subscrevi.

Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e, por seus fundamentos, nego provimento ao recurso.

Publique-se.

São Paulo, 09 de março de 2012.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

Casamento no exterior - Cônjuges falecidos. Regime de bens. Formal de partilha. RTD - certidão de casamento - tradução - intérprete. Recurso - Conselho Superior da Magistratura. Título - original - cópia reprográfica. Prenotação.

REGISTRO DE IMÓVEIS - Casamento no exterior - Cônjuges falecidos - Imóvel objeto de transcrição em nome, apenas, da mulher, que figura como casada, sem indicação do nome do marido e do regime de bens - Formal de partilha dos bens do varão apresentado para registro e recusado, por necessidade de serem esclarecidos tais pontos e porque não registrada no Registro de Títulos e Documentos, com a respectiva tradução, a certidão de casamento - Pretendida averbação, na transcrição, do nome original do marido e de sua forma aportuguesada, bem como de que, por "presunção legal", sendo o casamento anterior à Lei nº 6.515/77, o regime de bens é o da comunhão universal, tudo com vistas a tornar "viável o registro do formal" - Pedido indeferido - Insurgência, na verdade, contra exigências do registrador ante pleito de registro - Impossibilidade de encaminhamento, puro e simples, do recurso ao E. Conselho Superior da Magistratura, pois não juntado o título original, além de inexistir prenotação em vigor e não terem sido observados os requisitos formais da dúvida - Provimento negado, ante a necessidade de, por meio do devido procedimento legal, se viabilizar a cognição plena, com reapresentação do formal de partilha original, para que, prenotado, seu teor possa ser levado em consideração, bem como o de outros documentos de existência mencionada nos autos, com suscitação de dúvida em caso de nova recusa, a fim de que a questão tenha condições de ser devidamente examinada.

CGJSP - PROCESSO: 2008/87737 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Sebastião DATA JULGAMENTO: 12/12/2008 Relator: José Antonio de Paula Santos NetoLegislação:íntegra:

Parecer 397/2008-E - Processo CG 2008/87737

Data inclusão: 28/01/2009

(397/2008-E)

REGISTRO DE IMÓVEIS - Casamento no exterior - Cônjuges falecidos - Imóvel objeto de transcrição em nome, apenas, da mulher, que figura como casada, sem indicação do nome do marido e do regime de bens - Formal de partilha dos bens do varão apresentado para registro e recusado, por necessidade de serem esclarecidos tais pontos e porque não registrada no Registro de Títulos e Documentos, com a respectiva tradução, a certidão de casamento - Pretendida averbação, na transcrição, do nome original do marido e de sua forma aportuguesada, bem como de que, por "presunção legal", sendo o casamento anterior à Lei nº 6.515/77, o regime de bens é o da comunhão universal, tudo com vistas a tornar "viável o registro do formal" - Pedido indeferido - Insurgência, na verdade, contra exigências do registrador ante pleito de registro - Impossibilidade de encaminhamento, puro e simples, do recurso ao E. Conselho Superior da Magistratura, pois não juntado o título original, além de inexistir prenotação em vigor e não terem sido observados os requisitos formais da dúvida - Provimento negado, ante a necessidade de, por meio do devido procedimento legal, se viabilizar a cognição plena, com reapresentação do formal de partilha original, para que, prenotado, seu teor possa ser levado em consideração, bem como o de outros documentos de existência mencionada nos autos, com suscitação de dúvida em caso de nova recusa, a fim de que a questão tenha condições de ser devidamente examinada.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Cuida-se de recurso interposto por Franz Syrowatka contra decisão do Juízo da Corregedoria Permanente do Oficial de Registro de Imóveis da Comarca de São Sebastião, pela qual foi negado seu pedido de averbação, na transcrição nº 12.623, referente a imóvel registrado em nome de Liselotte Betty Sirowatka (ou Syrowatka), que figura como casada, do nome de seu marido, Francisco Syrowatka, forma aportuguesada do nome Franz Syrowatka, com quem se casou no exterior, conforme certidão com tradução juramentada, no regime da comunhão universal de bens. Entendeu o douto magistrado serem insuficientes os elementos apresentados para tanto.

Afirma o recorrente que a certidão de casamento, traduzida, foi apresentada; que o nome da mulher coincide, sendo que esta passou a usar o sobrenome do marido; que a forma aportuguesada do nome deste (Franz), tal como constou de sua certidão de óbito, é Francisco; e que, por celebrado o casamento antes da Lei nº 6.515/77, "a presunção legal é a de que o regime seja o da comunhão legal de bens". Requer a reforma da decisão recorrida, para se averbar "que a proprietária do imóvel era casada sob o regime da comunhão de bens com FRANCISCO SYROWATKA, que também assinava e era conhecido como FRANZ SYROWATKA e, sanada tal omissão, seja viável o registro do formal de partilha" (fls. 64/67).

Sob a ótica do Ministério Público, "em nome da segurança jurídica que deve nortear os atos de registro, o parecer é para que seja negado provimento ao recurso" (fls. 73/76).

É o relatório.

Passo a opinar.

Em que pese se vislumbre que o fim último almejado consiste, em verdade, no registro do formal de partilha (como expressamente afirmado nas razões recursais - fls. 67), não é caso de remessa dos autos ao E. Conselho Superior da Magistratura, pois, além de não ter sido o presente feito processado como dúvida, com as formalidades devidas, verifica-se que estão ausentes os requisitos mínimos para que se possa examinar a viabilidade do citado registro. Isto porque o título (formal de partilha) nem sequer se encontra juntado aos autos, havendo apenas xerocópias de peças, de modo, inclusive, que não existe prenotação em vigor.

Deveras, duas notas de devolução foram emitidas (fls. 48/49 e 50/53), a última das quais datada de 20 de outubro de 2003.

Por outro lado, conforme se percebe, a situação não mudou desde então. Ou seja, em relação à prova do casamento, ao nome do marido e ao regime de bens, o interessado agora exibe os mesmos documentos que, na época, foram examinados pelo registrador e deram ensejo às aludidas notas devolutivas.

Portanto, embora nos presentes autos se requeira a realização de averbação com vistas ao esclarecimento de tais pontos, é expressamente admitido (fls. 67) que o objetivo colimado, como dito, consiste, isto sim, no registro daquele título, antes recusado.

Ora, se o suplicante, valendo-se da mesma documentação de que já dispunha, entende, ao contrário do posicionamento assumido pelo registrador, que esta é suficiente, dessume-se, ipso facto, que está a se insurgir contra as exigências deste último. Deveria, pois, tê-lo feito por meio da suscitação de dúvida, nos termos dos artigos 198 e seguintes da Lei nº 6.015/73. E - como anotado acima - não é possível, por falta de observância de requisitos essências, que o presente procedimento venha a convalescer, para, pura e simplesmente, se converter naquele.

De se ponderar, ainda, sob outro enfoque, que a presença, nos autos, do formal de partilha, original, dos bens de Francisco Syrowatka, em sua íntegra, seria fundamental para verificação da postura assumida pelo Juízo da sucessão em relação ao regime de bens do casamento em testilha.

Além disso, verifica-se que não foi juntado, embora reiteradamente mencionado pelo recorrente, o resultado de "consulta ao Consulado Geral da República Federal da Alemanha em São Paulo" (fls. 05 e 66), o qual permitiria, segundo ele, concluir que tal regime corresponde ao da comunhão universal de bens.

Quanto à identidade do marido e à alegação de que Francisco é a forma aportuguesada do nome Franz, existem alguns elementos de convicção, como a indicação de filiação constante da cédula de identidade e da certidão de casamento do filho do casal (fls. 07 e 09), além do teor das certidões de óbito xerocopiadas a fls. 12 e 24.

Porém, havendo notícia de que o falecido era "brasileiro naturalizado" (fls. 27), poderá ser buscada (v.g., perante o Ministério da Justiça) a obtenção de certidão que o confirme, o que talvez contribua para a elucidação almejada. É bem provável que dita naturalização tenha, realmente, ocorrido, pois a virago, hoje também finada, se naturalizou há muitos anos (fls. 15).

Possível, outrossim, que ao inventário tenham sido juntados documentos de identidade do de cujus, o que a parte interessada poderá, igualmente, verificar.

Note-se, finalmente, que, segundo se infere a partir das xerocópias da certidão relativa ao casamento celebrado no exterior (fls. 13) e de sua tradução para o português (fls. 14), ao menos uma das exigências do Oficial de Registro de Imóveis foi cumprida, pois, em tais peças, aparece carimbo indicativo de que vieram a ser registrados no Registro de Títulos e Documentos (art. 129, item 6º, da Lei nº 6.015/73). Aliás, essa obrigatoriedade já foi reconhecida pelo C. Conselho Superior da Magistratura no V. Acórdão proferido na Apelação Cível nº 526-6/2, da Comarca de Guarujá, relatado pelo E. Des. Gilberto Passos de Freitas: "o Apelante indicou, ainda, a sua condição de casado, razão pela qual exigível a apresentação de sua certidão de casamento, que, na espécie, por se tratar de documento de procedência estrangeira, deverá ser registrada no Registro de Títulos e Documentos, com a devida tradução, para produção de efeitos no território nacional (art. 129, n. 6, da Lei n. 6.015/1973)".

Assim, restam os demais óbices, sendo que, como explicado, prematuro seria, no bojo destes autos, determinar sua superação. O melhor, até por respeito à boa técnica, é que seja reapresentado ao registrador, em seu original, o formal de partilha em foco, juntamente, com toda a documentação cabível, inclusive o mais que puder ser conseguido. Caso o Oficial persista na recusa e o apresentante discorde, caberá a este, então, a possibilidade de pleitear a regular suscitação de dúvida, com a indispensável prenotação do título, para que a questão seja apreciada em face do original deste e dos demais documentos coligidos, com viabilidade de sua plena e conjunta cognição.

Do contrário, em última análise, estaria sendo contornado o devido procedimento legal destinado à avaliação do cabimento do registro do formal de partilha.

Diante do exposto, o parecer que submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência, mui respeitosamente, é no sentido de ser negado provimento ao recurso.

Sub censura.

São Paulo, 12 de dezembro de 2008.

(a) JOSÉ ANTONIO DE PAULA SANTOS NETO

Juiz Auxiliar da Corregedoria

Decisão: Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso. Publique-se. São Paulo, 22 de dezembro de 2008. (a) RUY PEREIRA CAMILO _ Corregedor Geral da Justiça.

Registro de títulos e documentos - RTD. Alienação Fiduciária. Custas. Emolumentos.

Registro de Títulos e Documentos - Contrato de alienação fiduciária em garantia - Emolumentos - Incidência do item nº 5 da tabela de emolumentos, que estabelece valor reduzido para o registro de tal modalidade contratual - Impossibilidade de aplicação do item nº 1 da tabela para situações apontadas pelo Oficial Registrador, ausente discriminação legal - Atividade normativa da Corregedoria Permanente e da Corregedoria Geral da Justiça que não pode se dar contra legem - Impossibilidade de correções, pela via interpretativa, de eventuais distorções na cobrança de emolumentos - Necessidade de alteração da norma vigente pelo poder competente - Decisão da Corregedoria Permanente revista para restabelecer o entendimento prevalente.

CGJSP - PROCESSO: 2007/29231 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São José dos Campos DATA JULGAMENTO: 28/05/2008 DATA DJ: 26/08/2008 Relator: Álvaro Luiz Valery MirraLegislação:

Art. 29, § 1º, da Lei Estadual nº 11.331/02.

íntegra:

Processo CG 2007/29231 - Parecer nº 157/2008-E

Registro de Títulos e Documentos - Contrato de alienação fiduciária em garantia - Emolumentos - Incidência do item nº 5 da tabela de emolumentos, que estabelece valor reduzido para o registro de tal modalidade contratual - Impossibilidade de aplicação do item nº 1 da tabela para situações apontadas pelo Oficial Registrador, ausente discriminação legal - Atividade normativa da Corregedoria Permanente e da Corregedoria Geral da Justiça que não pode se dar contra legem - Impossibilidade de correções, pela via interpretativa, de eventuais distorções na cobrança de emolumentos - Necessidade de alteração da norma vigente pelo poder competente - Decisão da Corregedoria Permanente revista para restabelecer o entendimento prevalente.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

O Segundo Oficial de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de São José dos Campos formulou consulta ao Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente da Serventia a respeito da cobrança de emolumentos para o registro de contratos de alienação fiduciária em garantia com base no valor reduzido da tabela vigente. De acordo com o seu entendimento, a referida tabela somente deve ser aplicada nos casos em que a alienação fiduciária for da essência do negócio ou a única modalidade de garantia no empréstimo efetuado. Nas demais hipóteses, em especial naquelas em que a alienação fiduciária configure garantia prestada em contratos mistos ou coligados, aplicar-se-ia o item nº 1 da tabela, com a cobrança do valor integral, sem redução (fls. 03 e 04).

Após manifestação da Primeira Oficiala de Registro de Títulos e Documentos da Comarca (fls. 22 e 23), sobreveio decisão, proferida em caráter normativo pelo Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente, que acolheu os argumentos do consulente, restringindo a aplicação do valor reduzido dos emolumentos às hipóteses em que a alienação fiduciária em garantia for da essência do negócio ou a única modalidade de garantia (fls. 24 e v.).

Houve comunicação da decisão proferida a esta Corregedoria Geral, nos termos do art. 29, § 1º, daLei Estadual n. 11.331/2002 (fls. 33).

É o relatório.

Passo a opinar.

Em que pesem os argumentos expendidos pelo Segundo Oficial de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de São José dos Campos, encampados pelo Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente, a decisão proferida não pode subsistir.

Com efeito, como apontado pela Primeira Oficiala de Registro de Títulos e Documentos da mesma Comarca de São José dos Campos, ouvida nos autos do procedimento instaurado, a tabela de custas e emolumentos em vigor tem, para a situação que aqui ora interessa, item específico, de nº 5, aplicável, de maneira expressa, aos registros de quaisquer contratos de alienação fiduciária em garantia, sem discriminação quanto ao tipo de contrato ao qual estão vinculados.

Observe-se que o contrato de alienação fiduciária em garantia é sempre acessório daquele de que decorre o crédito que a propriedade fiduciária visa a garantir (cf. José Carlos Moreira Alves, Da alienação fiduciária em garantia. 3ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 1987, p. 90), de maneira que destituída de fundamento a restrição da redução da tabela apenas a aqueles contratos "em que a alienação fiduciária seja da essência do negócio". À evidência, como pacto acessório, a alienação fiduciária garantia não é da "essência" do negócio que a propriedade fiduciária visa a garantir.

Por outro lado, a tabela de emolumentos tampouco restringe a aplicação da cobrança reduzida àqueles contratos de alienação fiduciária em que a propriedade fiduciária é a única garantia ao contrato de concessão de crédito ou financiamento, não competindo nessa matéria, ao intérprete, distinguir onde a norma não distingue.

Nunca é demais lembrar, na matéria, que a atividade normativa da Corregedoria - seja da Corregedoria Geral, seja da Corregedoria Permanente - tem como finalidade primordial o detalhamento, a interpretação e a uniformização da aplicação da legislação relativa aos registros públicos. E, embora se admita a possibilidade de haver, nessa atividade, inovação no ordenamento jurídico-registral, em conformidade com o grau de omissão ou amplitude do legislador no trato de determinado assunto, essa atividade inovadora e criativa, na esfera infra-legal, não pode jamais se realizar contra legem (Proc. CG n. 59.350/2006).

Na espécie, como referido, há norma expressa na tabela de emolumentos anexa à Lei Estadual n. 11.331/2002 que estipula a cobrança de valor reduzido para o registro nos serviços de registro de títulos e documentos do contrato de alienação fiduciária em garantia, com valores pré-determinados, em conformidade com o valor do crédito garantido pela propriedade fiduciária (fls. 15).

Assim, diante da clareza e do caráter especial do texto normativo, inviável se mostra qualquer tentativa de interpretação da tabela de emolumentos para o fim de afastar a aplicação do item nº 5 desta ao registro dos contratos de alienação fiduciária em garantia e promover a incidência do item 1 da tabela.

Como já decidido por esta Corregedoria Geral da Justiça, qualquer correção, pela via interpretativa, de eventuais distorções ou injustiças decorrentes da implementação do sistema normativo vigente se mostra impossível, sob pena de configurar contraposição ao modelo legal vigente e, assim, atuação contra legem (Proc. CG n. 59.350/2006).

Assim, é ainda uma vez o pronunciamento desta Corregedoria Geral exarado no Proc. CG n. 59.350/2006, mesmo que distorções possam estar ocorrendo na cobrança dos emolumentos devidos pelos serviços concernentes ao registro de títulos e documentos, eventual correção somente poderá se dar pela via da alteração das normas vigentes. À Corregedoria Permanente e à Corregedoria Geral da Justiça falece competência, para, pela via de sua atuação normativa peculiar, derrogar norma editada pelo poder legislativo competente.

Portanto, a orientação firmada pelo Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente do Segundo Oficial de Registro de Títulos e Documentos de São José dos Campos deve, salvo melhor juízo de Vossa Excelência, ser revista por esta Corregedoria Geral da Justiça, para que se restabeleça o entendimento prevalente de aplicação do item nº 5 da tabela de emolumentos para o registro dos contratos de alienação fiduciária em garantia, independentemente da modalidade de contrato de crédito, mútuo ou financiamento que a propriedade fiduciária visa a garantir.

Nesses termos, à vista de todo o acima exposto, o parecer que se submete à elevada consideração de Vossa Excelência é no sentido de ser revista a decisão proferida, nos termos acima especificados, dando-se ciência do teor deste parecer e da decisão que eventualmente o aprovar ao Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente e aos Oficiais de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de São José dos Campos.

Sub censura.

São Paulo, 28 de maio de 2008.

(a) ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA, Juiz Auxiliar da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e por seus fundamentos, que adoto, revejo a decisão proferida, nos termos naquele especificados. Dê-se ciência do teor deste parecer e da decisão ao Meritíssimo Juiz Corregedor Permanente e aos Oficiais de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de São José dos Campos.

São Paulo, 02 de junho de 2008.

(a) RUY CAMILO, Corregedor Geral da Justiça

(D.J.E. de 26.08.2008)

RTD - documento em língua estrangeira - tradução - autenticação consular - registro em Títulos e Documentos.PROCESSUAL - DOCUMENTO EM LÍNGUA ESPANHOLA - TRADUÇÃO - INDISPENSABILIDADE (CPC ART. 157) - AUTENTICAÇÃO CONSULAR. I - Embora seja, depois do galego, a língua mais próxima  do português, o idioma castelhano tem idiossincrasias que a fazem traiçoeira para o leigo, falante de portunhol. Bem por isso, só é permitido o ingresso de documento escrito em espanhol, quando "acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado" (CPC, Art. 157). II - para fazerem prova no Brasil, os documentos oficiais, passados por agentes públicos de países estrangeiros, dependem de tradução, autenticação consular brasileira e registro no ofício de títulos e documentos (L. 6015⁄73, Art. 129, 6º). III - Declaração de que o automóvel supostamente roubado transitou por um posto aduaneiro boliviano, conduzido por alguém que não é seu proprietário, induz a sensação de que efetivamente o furto aconteceu.STJ - RECURSO ESPECIAL: 606.393 - RJ STJ - RECURSO ESPECIALLOCALIDADE: Rio de Janeiro DATA JULGAMENTO: 18/05/2005 DATA DJ: 01/08/2005 

Relator: Humberto Gomes de Barros íntegra:

Superior Tribunal de Justiça

  

RECURSO ESPECIAL Nº 606.393 - RJ (2003⁄0204084-8) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROSRECORRENTE : ANDRÉ DOS SANTOS SOUZAADVOGADO : HERBERTH GOMES DE CASTRO CUEVA E LUCHIONERECORRIDO : CAIXA SEGURADORAADVOGADO : SÉRGIO CETLIN ROTH E OUTRO 

EMENTA PROCESSUAL - DOCUMENTO EM LÍNGUA ESPANHOLA - TRADUÇÃO - INDISPENSABILIDADE (CPC ART. 157) - AUTENTICAÇÃO CONSULAR.I - Embora seja, depois do galego, a língua mais próxima  do português, o idioma castelhano tem idiossincrasias que a fazem traiçoeira para o leigo, falante deportunhol. Bem por isso, só é permitido o ingresso de documento escrito em espanhol, quando "acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado" (CPC, Art. 157). II - para fazerem prova no Brasil, os documentos oficiais, passados por agentes públicos de países estrangeiros, dependem de tradução, autenticação consular brasileira e registro no ofício de títulos e documentos (L. 6015⁄73, Art. 129, 6º). III - Declaração de que o automóvel supostamente roubado transitou por um posto aduaneiro boliviano, conduzido por alguém que não é seu proprietário, induz a sensação de que efetivamente o furto aconteceu. 

ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça naconformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir. Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, vencidos, em parte, os Srs. Ministros Relator e Nancy Andrighi, determinou-se o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que após o desentranhamento do documento lavrado em língua estrangeira, prossiga o julgamento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e Humberto Gomes de Barros. Brasília (DF), 19 de maio de 2005 (Data do Julgamento) 

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS Relator

 RECURSO ESPECIAL Nº 606.393 - RJ (2003⁄0204084-8)

 RELATÓRIO

 MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O recorrente pediu cobertura securitária para o furto de seu automóvel, ocorrido no Rio de Janeiro, em 19⁄1⁄02. Na contestação, a seguradora alegou que o autor cometera falsidade na denunciação do suposto furto. Louvou tal assertiva relatório de empresa particular queinvestigara o suposto ilícito. Em complemento ao relatório, veio cópia autenticada de certidão passada pela Aduana Boliviana, dando conta de que o automóvel, no dia 18⁄2⁄02 passara pelo posto de controle alfandegário, para ser nacionalizado. Este último documento está redigido em espanhol. O juiz de primeiro grau negou valor probante à "investigação". Nesse passo, louvou-se no registro de que o trabalho da investigadora

"foi feito sem qualquer sustentáculo legal, apoiando-se unicamente em atividade privada do próprio interessado em negar a cobertura do seguro. Acrescente-se que o documento atribuído à autoridade do seguro. Acrescente-se que o documento atribuído à autoridade boliviana, que se encontra às fls. 78, não obedeceu ao disposto no Art. 140 do Código Civil, segundo o qual 'os escritos de obrigação redigidos em língua estrangeira, serão, para ter efeitos legais no país, vertidos em português.'

Corroborado pelo disposto no Art. 157 do Código de Processo Civil, estabelecendo que 'só poderá ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado por versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.'

Desta forma, cai no vazio a afirmação principal do Réu de que, na data do sinistro, o veículo já se encontrava fora do país.

Além disso, deve ser chamada a atenção para o fato de que a empresa particular que investigou o seguro do Autor, constatou que o veículo estaria na Bolívia desde 13.01.02, mas, ao mesmo tempo, a autoridade aduaneira somente registrou sua passagem em 18.01.02 e não antes, como seria normal. Evidente contradição ou, no mínimo, investigação defeituosa."

O V. acórdão recorrido, provendo apelação, declarou improcedente o pedido inicial. Afirmando que o segurado cometeu o crime de comunicação falsa de crime (CP, Art 340), determinou o envio de peças ao Ministério Público. Houve embargos declaratórios, em que o ora recorrente pediu que o Tribunal explicitasse as razões pelas quais desprezou todas as provas produzidas pelo autor e prestigiou o documento estrangeiro, não traduzido. Os embargos foram rejeitados , com a assertiva seca e imotivada, de que não há omissão, nem contradição a sanar. O recurso especial assenta-se no permissivo a. Estariam maltratados os Arts. 157 do Código de Processo Civil e 140 do Código Beviláqua. 

RECURSO ESPECIAL Nº 606.393 - RJ (2003⁄0204084-8) PROCESSUAL - DOCUMENTO EM LÍNGUA ESPANHOLA - TRADUÇÃO - INDISPENSABILIDADE (CPC ART. 157) - AUTENTICAÇÃO CONSULAR. I - Embora seja, depois do galego, a língua mais próxima  do português, o idioma castelhano tem idiossincrasias que a fazem traiçoeira para o leigo, falante deportunhol. Bem por isso, só é permitido o ingresso de documento escrito em espanhol, quando "acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutorjuramentado" (CPC, Art. 157).

 II - para fazerem prova no Brasil, os documentos oficiais, passados por agentes públicos de países estrangeiros, dependem de tradução, autenticação consular brasileira e registro no ofício de títulos e documentos (L. 6015⁄73, Art. 129, 6º). III - Declaração de que o automóvel supostamente roubado transitou por um posto aduaneiro boliviano, conduzido por alguém que não é seu proprietário, induz a sensação de que efetivamente o furto aconteceu. 

VOTO MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): O Acórdão recorrido desprezou o relatório elaborado por empresa particular de investigação. Fez assim, porque essa prova "não é isenta e capaz de possibilitar a elucidação correta dos fatos." (fl. 185) O Tribunal louvou-se, no documento de fl. 78, conceituado como "cópia autenticada do documento público". Esse documento é a reprografia de certificado - emitido em língua espanhola - firmado sobre o nome datilografado de "Javier Sempergueti Madueño - Encargado Del Puesto de Control Aduanero" localizado em San Miguel de Velasco, na Bolívia. O Acórdão recorrido dispensa o documento das exigências do Art. 157, porque "não se trata de redação em língua de difícil compreensão, mas em espanhol, de fácil entendimento, o que dispensa a tradução." Como se percebe, o Acórdão dispensa de tradução, os textos redigidos em espanhol. Está sob nossa apreciação a tese de que o Art. 157 não incide, quando o documento oferecido como prova, está redigido em espanhol. Tenho para mim que semelhante proposição não merece prestígio. Em verdade, o idioma espanhol é reconhecido como língua autônoma e diferenciada de nosso vernáculo. Embora seja a segunda língua mais próxima (depois do galego) do português, o idioma castelhano tem idiossincrasias que a fazem traiçoeira. O anedotário popular está cheio de situações grotescas, em que brasileiros expressando-se em portunhol, metem-se em trapalhadas. Justamente para obviar mal-entendidos, o legislador exige que pessoa efetivamente conhecedora de ambos idiomas efetue a versão do texto para nosso vernáculo. A assertiva de que o idioma é de fácil compreensão para o juiz é insuficiente. É necessário que o texto estrangeiro seja acessível às partes. Bem por isso, a lei exige tradutor juramentado. O acórdão negou vigência ao Art. 157 do Código de Processo Civil. O documento de fls. 78, desacompanhado da respectiva tradução, nem poderia ser inserido nos autos. A vedação contida no Art.157 é clara e peremptória. Não fosse a falta de tradução, o certificado continuaria imprestável como instrumento de prova, à míngua de autenticidade. Com efeito, nada comprova a assertiva de que Javier Sempergueti "Madueño é Encargado de Puesto de Control Aduanero". Tampouco existe prova de que a assinatura acima do nome desse suposto funcionário alfandegário seja realmente dele. É que o documento ressente-se de autenticação consular e de registro público. O Art. 129, 6º da Lei de Registros Públicos (L. 6.015⁄73) condiciona a eficácia de

"todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções, para produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância, juízo ou tribunal."

Esta Turma, em seus primórdios, proclamou que:

"Documentos fornecidos por entidade portuária estrangeira sobre avarias da carga desembarcada, que não estejam autenticados notarial e consularmente, não servem a comprovar os danos honrados pela seguradora, em ação indenizatória contra transportador." (REsp 24480)

No voto condutor de nosso acórdão, o saudoso Ministro Dias Trindade, após observar que o documento feito no Brasil, em língua estrangeira é brasileiro e por isso necessita apenas tradução para o vernáculo, dispensando registro público, observa:

"Há, no entanto, documentos, se é que assim podem ser chamados os rascunhos apresentados, que teriam sido elaborados pela entidade portuária de Monróvia, na Libéria, que não se encontram devidamente autenticados, pela via notarial do local em que produzidos e por via consular, como exigido, para que possam ser admitidos como meio de prova. E tais papéis seriam os meios de que dispõe a seguradora, sub-rogada nos direitos da segurada, para alicerçar a afirmativa de que asmercadorias transportadas sofreram avarias, atribuíveis ao transportador, capaz de suportar o seu direito à indenização."

Não fossem tais falhas, o conteúdo do certificado continuaria impotente para socorrer a seguradora. A leitura do Texto, com meus estreitos suprimentos do idioma castelhano, deixa-me a sensação de que a declaração passada pelo suposto agente aduaneiro comprova o fato de que o automóvel - sob a condução de Pedro Cuellar Taceo - ingressou na Bolívia e para ser "nacionalizado". Quem lê jornais sabe que a Bolívia é um dos mais corriqueiros destinos de automóveis furtados no Brasil.

A partir de tal circunstância, qualquer juízo de experiência conduz à convicção de que efetivamente o veículo foi furtado. Se assim ocorre, o segurado não faltou com a verdade. O provimento da apelação louvou-se em solitário documento, imprestável como instrumento de prova. Os demais papéis que ilustraram a contestação (integrantes do relatório elaborado pela empresa particular de segurança) foram desprezados pelo acórdão recorrido, por envolverem "prova não isenta e capaz de possibilitar a elucidação correta dos fatos". Dou provimento ao recurso, para determinar o desentranhamento do documento de fl. 78.Desprezado esse documento, e considerados imprestáveis aqueles que traduzem "prova não isenta", a causa está madura para ser julgada (Art. 515, § 1º). Por isso, avanço no julgamento e restauro a sentença de primeiro grau. 

CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA

 Número Registro: 2003⁄0204084-8 RESP 606393 ⁄ RJ Números Origem:  20020010471744  200313401710  29974  299742002  3986 PAUTA: 07⁄04⁄2005 JULGADO: 07⁄04⁄2005 RelatorExmo. Sr. Ministro  HUMBERTO GOMES DE BARROS Presidenta da SessãoExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Subprocuradora-Geral da República

Exma. Sra. Dra. ARMANDA SOARES FIGUEIREDO SecretárioBel. MARCELO FREITAS DIAS 

AUTUAÇÃO RECORRENTE : ANDRÉ DOS SANTOS SOUZAADVOGADO : HERBERTH GOMES DE CASTRO CUEVA E LUCHIONERECORRIDO : CAIXA SEGURADORAADVOGADO : SÉRGIO CETLIN ROTH E OUTRO  ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Seguro 

SUSTENTAÇÃO ORAL Sustentou oralmente o Dr. Herberth Gomes de Castro Cueva e Luchione, pelo recorrente. 

CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "Após o voto do Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros, conhecendo do recurso especial e dando-lhe provimento, pediu vista antecipadamente o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. " Aguardam os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho. 

Brasília, 07  de abril  de 2005 

MARCELO FREITAS DIASSecretário

 RECURSO ESPECIAL Nº 606.393 - RJ (2003⁄0204084-8) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROSRECORRENTE : ANDRÉ DOS SANTOS SOUZAADVOGADO : HERBERTH GOMES DE CASTRO CUEVA E LUCHIONERECORRIDO : CAIXA SEGURADORAADVOGADO : SÉRGIO CETLIN ROTH E OUTRO 

EMENTA Direito Processual Civil. Documento em língua estrangeira. Necessidade de redação em vernáculo firmada por tradutor juramentado. Código de Processo Civil art. 157. I. Só poderá ser juntado aos autos documento redigido em língua estrangeira se acompanhado por versão em vernáculo firmada por tradutor juramentado (CPC, art.157). II. Embora o Espanhol talvez seja, dentre as línguas neolatinas, a que mais se assemelhe ao Português, não se dispensa a tradução de documento redigido naqueleidioma quando juntado como prova aos autos do processo. A regra do art. 157 do Código de Processo Civil não se impõe apenas em benefício de julgador que eventualmente não entenda o idioma estrangeiro, mas também confere normatividade ao art. 13, caput, da Constituição da República. III. No caso concreto, a inadmissão de determinada prova pela inobservância de regra processual implica a anulação do acórdão recorrido, dada a necessidade de serem examinadas alegações formuladas em razões de apelação. IV. Recurso especial conhecido e provido para determinar o desentranhamento da prova e a anulação do acórdão recorrido. 

VOTO-VISTA EXMO. SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Trata-se de recurso especial fundado na alínea "a" do permissivo constitucional. Consta dos autos que o recorrente ajuizou ação a fim de haver da recorrida, Caixa Seguradora, a cobertura securitária com ela contratada, bem como indenização por danos morais decorrentes do inadimplemento da obrigação. Em primeiro grau, o pedido foi julgado procedente. Mediante recurso de apelação, a recorrida logrou ver reformada a sentença, consoante se verifica da ementa a seguir transcrita: "INDENIZAÇÃO. ROUBO DO VEÍCULO. CONTRATO DE SEGURO. RECUSA DE RESSARCIMENTO DO DANO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. IRRESIGNAÇÃO. DOCUMENTO CONFECCIONADO PELA 'ADUANA NACIONAL DE BOLÍVIA' CERTIFICA A PASSAGEM EM 18 JAN 2002, DO AUTOMÓVEL PELO POSTO DE CONTROLE ALFANDEGÁRIO DE SAN MIGUEL DE VELASCO SOB A JURISDIÇÃO DA CIDADE DE SANTA CRUZ DIRIGIDO POR TERCEIRO QUE SE ENCAMINHAVA EM DIREÇÃO DE SANTA CRUZ PARA ADOTAR AS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS À TRAMITAÇÃO DE NACIONALIZAÇÃO DO VEÍCULO. AO COMUNICAR O FATO À AUTORIDADE POLICIAL, O AUTOR DECLARA COMO DATA DO ROUBO O DIA 19 JAN 2002. DESNECESSIDADE DA TRADUÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 157, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, QUANDO O IDIOMA É DE FÁCIL COMPREENSÃO, QUAL SEJA, O ESPANHOL. PROVIMENTO DO APELO, PARA REFORMAR A SENTENÇA RECORRIDA E JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO E CONDENAR O AUTOR NASCOMINAÇÕES APONTADAS. EXTRAÇÃO DE PEÇAS E ENVIO AO MINISTÉRIO PÚBLICO, ANTE A OCORRÊNCIA DO DELITO PREVISTO NO ARTIGO 340, DO CÓDIGO PENAL" (fl. 184). O Tribunal a quo entendeu que o recorrente, em tese, praticou fraude a fim de obter o valor do seguro. Considerou válido o documento que dava sustentáculo às alegações da recorrente, o qual, apesar de redigido em espanhol, era perfeitamente compreensível para os falantes da língua portuguesa. Referida prova indicava, no entender do julgador, que, dias antes da data que o recorrente informou como a do furto do automóvel segurado, o bem fora encontrado na Bolívia. Nas razões do recurso especial, apontam-se como violados os arts. 157 e 535 do Código de Processo Civil e o art. 140 do Código Civil. O recorrente argumenta que, além de ser omisso o acórdão recorrido, este se apóia em documento redigido em língua estrangeira, sem que observada a formalidade exigida pelo primeiro artigo citado. Em contra-razões, a recorrida sustenta que o recorrente pretende, na verdade, o reexame de prova. Afirma que diversos precedentes são no sentido de que o documento em língua estrangeira, quando de fácil compreensão, dispensa a tradução. O ilustre Relator, Ministro Humberto Gomes de Barros, conheceu do recurso e deu-lhe provimento a fim de restaurar a sentença. Entendeu Sua Excelência que o Tribunal a quo deixou de observar o mandamento do art. 157 do Código de Processo Civil, pois dispensou de tradução texto redigido em língua espanhola. Pedi vista dos autos e, após analisá-los, peço vênia ao relator para proferir voto em sentido diverso. 

O art. 154 do Código de Processo Civil, afinado à idéia de que o processo não é um fim em si, mas instrumento para a prestação jurisdicional adequada, preceitua que são válidos os atos que preencham sua finalidade essencial embora preterida alguma forma indicada pela matriz legal. De fato, a forma é garantia do direito e a bem deste é instituída. No caso, não se nega, a regra do art. 157 do CPC não se impõe como mera formalidade. A língua é repositório de vários traços culturais de um povo e representa importante contribuição para a coesão de uma nação que se espalha por mais de 8 bilhões de quilômetros quadrados. A regra de que os atos processuais escritosestejam redigidos em português ou para esta língua sejam traduzidos é imposição mesmo da dignidade da nação brasileira e muito significa para a soberania do Estado. Referido artigo, portanto, coaduna-se com o que dispõe o caput do art. 13 da Constituição Federal, a qual, não sem razão, dispõe sobre o idioma oficial no mesmo dispositivo em que dispõe sobre os símbolos da República. O Tribunal a quo negou vigência ao Código de Processo Civil e afastou expressamente a aplicação do art. 157 desse diploma. Ponderou, quanto ao documento impugnado pelo recorrente, que "não se trata de redação em língua de difícil compreensão, mas em espanhol, de fácil entendimento, o que dispensa a tradução" (fl. 185). Ocorre que a tradução do documento redigido em língua alienígena não se destina apenas ao julgador. É necessária, também, para a garantia do contraditório, na medida em que as partes devem ter a possibilidade de conhecer o conteúdo das provas juntadas pela outra e de impugná-lo. Para além do respeito à língua oficial, portanto, há a necessidade de se garantir o contraditório e a ampla defesa. O julgador de origem bem observou que o Espanhol muito se aproxima do Português e, por isso, não é de difícil inteligência. Neste ponto, porém, é oportuno destacar a advertência feita pelo relator, qual seja, a de que o idioma espanhol, justamente por se assemelhar ao português, é traiçoeiro para o leigo, falante do "portunhol". Embora o Espanhol talvez seja, dentre as línguas neolatinas, a que mais se assemelhe ao Português, não se dispensa a tradução de documento redigido naquele idioma quando juntado como prova aos autos do processo. A regra do art. 157 do Código de Processo Civil não se impõe apenas em benefício de julgador queeventualmente não entenda o idioma estrangeiro, mas também confere normatividade ao já mencionado art. 13, caput, da Constituição da República. Acompanho, pois, a tese da necessidade de se desentranhar o documento juntado sem a tradução. Divirjo do relator, no entanto, no que se refere à conseqüência de tal entendimento. Sua Excelência votou pela solução alvitrada na sentença. Para assegurar o contraditório e a ampla defesa, contudo, deve-se anular o acórdão recorrido para que o Tribunal a quo tenha oportunidade de se manifestar sobre questões de fato e de direito suscitadas na apelação da recorrida. Esta provocou discussão, entre outras coisas, acerca dos danos morais alegados pelo recorrente, osquais entende inexistentes. Acaso seja alterado o resultado do julgamento, dado o desentranhamento da prova, é importante que o julgador manifeste-se acerca de outros temas que surgirão como conseqüência da procedência do pedido principal da ação. Ante o exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento para anular o acórdão recorrido, a fim de que, desentranhado o documento juntado sem a observância do art. 157 do CPC, outro seja proferido como se entender de direito. RECURSO ESPECIAL Nº 606.393 - RJ (2003⁄0204084-8) 

VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO:Senhora Ministra Presidente, peço vênia ao eminente Ministro Humberto Gomes de Barros para acompanhar o voto do Senhor Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. 

CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA

 Número Registro: 2003⁄0204084-8 RESP 606393 ⁄ RJ Números Origem:  20020010471744  200313401710  29974  299742002  3986 PAUTA: 07⁄04⁄2005 JULGADO: 19⁄05⁄2005 RelatorExmo. Sr. Ministro  HUMBERTO GOMES DE BARROS Presidenta da SessãoExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. ARMANDA SOARES FIGUEIREDO SecretárioBel. MARCELO FREITAS DIAS 

AUTUAÇÃO RECORRENTE : ANDRÉ DOS SANTOS SOUZAADVOGADO : HERBERTH GOMES DE CASTRO CUEVA E LUCHIONERECORRIDO : CAIXA SEGURADORAADVOGADO : SÉRGIO CETLIN ROTH E OUTRO ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Seguro 

CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, a Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, vencidos na extenção os Srs. Ministros Relator e Nancy Andrighi. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e Humberto Gomes de Barros 

Brasília, 19  de maio  de 2005 

MARCELO FREITAS DIASSecretário

 RECURSO ESPECIAL Nº 606.393 - RJ (2003⁄0204084-8) 

RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROSRECORRENTE : ANDRÉ DOS SANTOS SOUZAADVOGADO : HERBERTH GOMES DE CASTRO CUEVA E LUCHIONERECORRIDO : CAIXA SEGURADORAADVOGADO : SÉRGIO CETLIN ROTH E OUTRO 

VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO FILHO: Sra. Ministra Presidente, com a devida vênia de V. Exa. e do Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros, parece-me que, no caso, seria de conveniência, realmente - para não ocorrer o risco de supressão de um grau de jurisdição -, votar no sentido em que concluiu o ilustre Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Acompanho a divergência. Ministro CASTRO FILHO DJ 1.8.2005.

RTD. Serviço de distribuição de títulos - instação - vedação. Proposta rejeitada.

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - Instalação de distribuidor de títulos - Inadmissibilidade - Vedação expressa pelo art. 12 da Lei 8.935/94 - Livre concorrência visando o melhor atendimento - Proposta rejeitada.

CGJSP - PROCESSO: 11351/95 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 27/04/1995 Relator: Marcelo Martins Berthe íntegra:

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - Instalação de distribuidor de títulos - Inadmissibilidade - Vedação expressa pelo art. 12 da Lei 8.935/94 - Livre concorrência visando o melhor atendimento - Proposta rejeitada.

Prot. CG 11.351/95 (361/95)

Exmo. Sr. Corregedor Geral da Justiça:

Tratam estes autos de proposta subscrita pelos Oficiais do Primeiro, Segundo, Quinto, Sexto, Oitavo, Nono e Décimo Cartórios de Registros de Títulos e Documentos e Registro Civil das Pessoas Jurídicas da Capital, visando à instalação de distribuidor de títulos para aquelas serventias, nos moldes que sugerem, tendo em vista o entendimento manifestado, no sentido de que o regime de livre concorrência que vigora não atenderia ao interesse público e aos propósitos que dizem com a melhoria da qualidade dos serviços.

Enfocando a legislação pertinente, acenam os interessados com a inconstitucionalidade do estatuído no art. 131 da Lei de Registros Públicos, segundo o entendimento doutrinário que mencionam.

É o relatório.

Passo a opinar:

Não obstante os fatos trazidos com o objetivo de justificar a propositura, cumpre seja a questão enfrentada à luz do direito aplicável à espécie.

Como lembrado pelos próprios interessados, o art. 131 da Lei de Registros Públicos, pelo menos em parte, já dispunha expressamente no sentido contrário da proposta formulada.

Ao tratar dos serviços de registros de títulos e documentos, a vigente Lei de Registros Públicos, no referido art. 131, tornava defesa a distribuição, tal como pretendida, e já o fazia de modo expresso, claro, sem que o dispositivo comporte interpretação diversa da literal.

É verdade que poderia ser ainda discutida, eventualmente, a conveniência de se instalar o serviço de distribuição para os títulos afetos aos serviços do registro civil das pessoas jurídicas, tratado em título anterior àquele em que se estabeleceu a vedação do art. 131 mencionado e, portanto, pela mesma norma não atingidos.

Mas mesmo esta matéria está agora superada.

O também lembrado art. 12 da recém editada Lei 8.935/94 veio renovar o preceito de que os serviços de registros, à exceção do de imóveis e do das pessoas naturais que ficam sujeitos às circunscrições geográficas, serão prestados "independentemente de prévia distribuição". Essa a letra da lei.

Veja-se que, a partir de então, com o advento da lei federal aludida, que regulamentou o art. 236 da Constituição Federal e dispôs sobre os serviços notariais e de registros, ficou afastada qualquer possibilidade de se cogitar da instalação da distribuição em quaisquer dos serviços de registros, os quais só poderão ficar circunscritos ao critério geográfico, naqueles casos específicos.

Afirmar inconstitucional a lei federal nessa parte, como feito, porque a ela não seria dado excluir da competência legislativa dos Estados à possibilidade de dispor acerca de sua organização judiciária, ainda que se tenha a matéria como relativa à organização judiciária, tal qual é a pretensão, não seria possível nesta esfera meramente administrativa.

O controle da constitucionalidade, como já reiteradamente assentado, tanto pela Eg. Corregedoria Geral da Justiça, como pelo Colendo Conselho Superior da Magistratura, não é de ser exercido na órbita administrativa. Nesse sentido o Proc. CG 274/93, cuja respeitável Decisão, da lavra de V. Exa., foi publicada no DOJ de 23.03.1994, p. 38/39 e Apelações Cíveis 4.936-0 e 3.346-0.

De outro lado, ainda que assim não fosse, a verdade é que só seria razoável abrir essa discussão, máxime no âmbito deste procedimento administrativo, se houvesse lei estadual, relativa à organização judiciária, que dispusesse diversamente. Aí sim, eventualmente, seria dado questionar a matéria que diz com a competência legislativa.

Não sendo, no entanto, o caso, e havendo expressas disposições legais a tornar defesa a distribuição de títulos como o pretendido, quer aquela que emana da Lei de Registros Públicos (art. 131 da Lei 6.015/73) como a que decorre da lei que regulamentou o art. 236 da Constituição Federal (art. 12 da Lei 8.935/94), tenho que não há sequer como cogitar da conveniência e oportunidade de ser instalado o pretendido serviço de distribuição para o registro de títulos e documentos e registro civil das pessoas jurídicas.

Isto posto, por falta de amparo legal, proponho seja considerada inviável a propositura feita, visando a instalação de distribuidor para aqueles mencionados serviços atinentes aos registros públicos e, consequentemente, determinado o arquivamento do protocolado, comunicados os interessados.

É o parecer que, respeitosamente, submeto à elevada consideração de V. Exa..

Sub censura.

São Paulo, 27 de abril de 1995 - Marcelo Martins Berthe, Juiz Auxiliar da Corregedoria.

Dúvida inversa. Título original - cópia - certidão do RTD. Qualificação registral.

DÚVIDA INVERSA. O procedimento de dúvida inversa se afasta da previsão normativa, que apenas se refere à dúvida direta (art. 198, Lei nº 6015/73). Precedente do STF no sentido da inviabilidade jurídica da dúvida inversa a partir da vigência da Lei de Registros Públicos de 1973.

TÍTULO - CERTIDÃO DE RTD. Não se admite registrar-se, em ofício predial, certidão passada pelo registro de títulos e documentos.

TÍTULO - CÓPIA. Título apresentado à qualificação deve ser o mesmo registro pretendido, não se justificando a exibição de cópia.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 14.797-0/3 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 08/07/1992 DATA DJ: 21/08/1992 Relator: Dínio de Santis GarciaLegislação:

Lei nº 6.015/73.

íntegra:

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 14.797-0/3, da Comarca da Capital, em que é apelante NOSSA CAIXA - NOSSO BANCO S/A e apelado o OFICIAL DO 11º CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS.

A C O R D A M os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso.

Versam os autos dúvida julgada procedente, porque exibida a registro cópia de instrumento particular em divergência com o que dispõe o artigo 221, Lei n.º 6015, de 31 de dezembro de 1973.

Apelou tempestivamente a suscitada, alegando, em resumo, que a teor do artigo 61 - § 5º, Lei n.º 4.380, de 1964, tem força de escritura pública a instrumento particular relativo a contrato firmado por entidade integrante do Sistema Financeiro de Habitação, certo ainda que a cópia tem o mesmo valor do original, sobretudo se registrada em Ofício de Títulos e Documentos.

Os pareceres do Ministério Público, em ambas a instâncias, são pelo desprovimento do recurso.

É o relatório, em acréscimo ao da sentença.

Recentes julgados deste Egrégio Conselho têm afirmado que o procedimento de dúvida inversa se afasta da previsão normativa, que apenas se refere à dúvida direta, cuja forma prescreve (artigo 198, Lei n.º 6015, de 1973). Não é demais recordar, a propósito, que precedente do Egrégio Supremo Tribunal Federal (Recurso Extraordinário n.º 77.996) já afiançou a inviabilidade jurídica da dúvida inversa a partir da vigência da Lei de Registros Públicos de 1973. Em todo caso, a esta altura, chegando formalmente os autos, com prévio julgamento de mérito, ao conhecimento recursal deste Egrégio Conselho, admite-se aqui a apreciação, em caráter exceptivo e por economia procedimental.

Não merece provimento o recurso. Como se decidiu, em julgado de 24 de fevereiro de 1992 (Apelação número 13.820); "o título apresentado à qualificação deve ser o mesmo a amparar o registro pretendido, não se justificando a exibição de cópia (...). Os julgados deste Conselho, fincados na compreensão do preceito do artigo 221, Lei n.º 6.015, citada, são uníssonos nessa direção (v.g.: Ap. 442-0, Ap. n.º 288.403, Ap. n.º 1338-0, Ap. n.º 2177-0, Ap. n.º 3068-0, Ap. n.º 4258-0, Ap. n.º 4318-0, Ap. n.º 4184-0, Ap. n.º 4283-0, Ap. n.º 6034-0). Não é demasiado observar que, sobre exigências de autenticidade, o requisito da exibição imediata do original diz respeito ao direito obtido com a prenotação do título, direito que não enseja prazo reflexo de saneamento extrajudicial de deficiências da documentação apresentada".

Não se pôs em controvérsia, na espécie, o significado normativo do artigo 61 - § 5º, Lei n.º 4.380/64, nem o do valor probatório das cópias e certidões, temas a que acena a apelante. O que, sim, se afastou na sentença foi a inscritibilidade, no registro predial, de cópias de instrumentos particulares, à luz do preceito do artigo 221, Lei n.º 6015/73, matéria que não diz respeito à força legal dos originais em questão, nem ao caráter probante de suas cópias.

Demais, no julgamento das Apelações n.º 3522, em 03 de agosto de 1984, e n.º 6391, em 17 de outubro de 1986, este Conselho afastou a possibilidade de registrar-se, em ofício predial, certidão passada pelo de títulos e documentos, acolhendo o argumento de que, em contrário, se estaria rompendo o significado restrito da norma do artigo 221, Lei de Registros Públicos.

ISTO POSTO, negam provimento ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores ODYR PORTO, Presidente do Tribunal de Justiça e LAIR DA SILVA LOUREIRO, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 08 de julho de 1992.

a) DÍNIO DE SANTIS GARCIA, Corregedor Geral da Justiça e Relator.

Adjudicação Compulsória - proposta - titularidade. Título original - ausência - certidão de RTD - títulos e documentos. Continuidade.

EMENTA NÃO OFICIAL: 1. A hipótese é de negativa de registro de carta de adjudicação por infração à regra de continuidade registrária, já que a ação foi proposta contra quem não era titular de direito real. 2. Essa certidão - se inexistente o original - não presta a ingresso no ofício imobiliário.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 10.961-0/3 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Santos DATA JULGAMENTO: 02/04/1990 DATA DJ: 06/07/1990 Relator: Onei Raphael íntegra:

APELAÇÃO CÍVEL N.º 10.961-0/3 - SANTOS

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral:

Recorre MOISES CARDOSO D'OLIVEIRA da r. decisão do M.M. Juiz Corregedor Permanente do 1º Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Santos que, em procedimento de dúvida denegou registro a Carta de Adjudicação de imóvel destacado de área maior, e objeto da transcrição 14.212, da 1º Circunscrição.

Sustenta, em síntese, que a adjudicação é ato jurídico pelo qual se transfere a propriedade de seu primitivo dono para outra pessoa, e que a lei registrária prevê expressamente seu registro (art. 221, IV). Acrescenta ser inaplicável a "Lei" (sic) 58/37, e que as aquisições estão registradas.

O Ministério Público, em ambas as instâncias, é pelo improvimento (fls. 76/7 e 83/6).

É a síntese do essencial.

Opino.

A hipótese é de negativa de registro da Carta de Adjudicação, porque o imóvel (destacado de área maior) se encontra transcrito em nome de terceiros (Ana Fontana Marinangeli e s/m Augusto Marinangeli). A área total se encontra transcrita sob número 14.212, da Circunscrição Imobiliária, e, atualmente sob número 9.004, já na 2º Circunscrição (fls. 22/29).

O recorrente ajuizou contra PASCHOAL LABATTA ação de Adjudicação Compulsória, julgada procedente, tendo por título, recebido de quitação de um terreno (fls. 30/31), com metragem de 25,00 metros na frente e fundos e 80,00 nas laterais, perfazendo a área de 2.000 mï‡. Este, por sua vez, era titular de contrato de compra e venda particular, quitado, de parte do imóvel objeto da referida transcrição �(14.212), com idêntica descrição, e registrando no Cartório de Títulos e Documentos da Comarca de São Vicente (fls. 57).

Não cabe, em procedimento de dúvida, analisar o que, em esfera jurisdicional se decidiu. Todavia, cumpre consignar que a ação foi proposta contra quem não era titular de direito real, já que a aquisição jamais foi transcrita ou averbada no oficio imobiliário. Lembre-se, outrossim, que a inicial, ao descrever o imóvel, deu-lhe descrição divergente (29,00 metros na frente, 33,20 nos fundos, 76,25 e 76,50 da frente aos fundos, respectivamente, e área total de 9.350,00 mï‡). Por fim, deferindo a adjudicação, determinou a decisão o �desmembramento da área.

A certidão de fls. 24/9 não revela a prática de qualquer ato relativo aos direitos de que Paschoal Labotta seria titular por força de contrato particular.

Inconsistentes as razões do recurso.

Para que a Carta pudesse ser registrada, deveria o imóvel se encontrar transcrito ou registrado em nome do réu, o que, como já se frisou, não decorre da certidão imobiliário. Sem que isso ocorra, o registro, se deferido, violaria princípio elementar de direito registrário, isto é, da continuidade.

Cabe aqui lembrar a sempre oportuna lição de Afrânio de Carvalho (Registro de Imóveis, Forense, 3ª Ed., RJ. 1982, pág. 304 e segs.):

"O princípio de continuidade, que se apóia no de especialidade, quer dizer que, em relação a cada imóvel, adequadamente individuado, deve existir uma cadeia de titularidades à vista da qual só se fará a inscrição de um direito se o outorgante dele aparecer no registro como seu titular. Assim, as sucessivas transmissões, que derivam umas das outras, asseguram sempre a preexistência do imóvel no patrimônio do transferente" (grifei nossos)

E prossegue adiante:

"Sem a inscrição prévia da propriedade, não se inscreve nenhum direito real limitado, à mingua do pressuposto lógico deste, já que para a sua outorga é preciso que o outorgante esteja previamente inscrito como titular do direito outorgado"

Tal já bastaria para - de per si - impedir o acesso do título.

Há mais, porém.

Outro óbice se vê ao pretendido registro.

Não se tem notícia da existência do original do contrato pelo qual o réu na ação, Paschoal Labatta, compromissou o imóvel. Existe somente certidão do oficio de títulos e documentos acerca.

E tal certificado - se inexistente o original - não se presta a ingresso no oficio imobiliário, como já decidiu o Egrégio Conselho nas A.C. 3.522-0, de 3.12.84 (Rel. o Des. Nogueira Garcez) e 6391-0 (Rel. o Des. Sylvio do Amaral). Ainda recentemente, também tive oportunidade de oferecer parecer nesse sentido, pendente de apreciação pelo Egrégio Conselho, na apelação 10.962-0/8, cujo Relator será Vossa Excelência.

Assim, não há se pensar que o simples ingresso daquele certificado poderia solver a infração à continuidade.

E, finalmente, outro óbice, ainda, se vê, caso superados os anteriores.

É que no título a descrição do imóvel diverge daquela que consta do contrato originário e da respectiva cessão, vislumbrando-se impedimento decorrente da especialidade. Aliás, pelos documentos que integram a Carta de Adjudicação expedida e os demais existentes no procedimento, não se sabe como se chegou a descrição ali constante e, ao início, mencionada. Desnecessário, em relação à especialidade, colacionar precedentes impeditivos do acesso ao título. Se, apenas para argumentar, o réu adquirisse a propriedade nos termos do contrato objeto do certificado de fls. 57, a carta não teria ingresso porque divergente a descrição. Haver-se-ia de, preliminarmente, retificar o registro.

Orienta-se, pois, este parecer, no sentido da manutenção do julgado, na esteira, inclusive de precedentes do Egrégio Conselho (A.C. 1.371-0, de 13.6.83, Atibaia, Rel. o Des. Bruno Affonso de André e 3.721-0, de 3.12.84, São Bernardo do Campo, Rel. o Des. Nogueira Garcez), onde se negou registro de Carta de Adjudicação de imóvel transcrito em nome de terceiro. Alias, deste último julgado consta expressamente que:

"Ora, é iterativa a jurisprudência deste Conselho no sentido de não ser possível o registro de sentença proferida na ação de adjudicação compulsória se o imóvel não está registrado em nome da pessoa nela vencida (Apelação 272.223 e 279.635)".

As razões de recurso restaram, por isso, e no seu todo, prejudicadas.

Nestes termos, o parecer que me permito submeter à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de se negar provimento ao recurso interposto por MOISES CARDOSO D'OLIVEIRA, mantida a procedência da dúvida.

Sub censura.

São Paulo, 2 de março de 1990.

(a) VITO JOSÉ GUGLIELMI, Juiz Auxiliar da Corregedoria

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL N.º 10.961-0/3, da Comarca de SANTOS em que é apelante MOISES CARDOSO D'OLIVEIRA e apelado o OFICIAL DO 2º CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS.

A C O R D A M os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso.

Trata-se de dúvida registrária oferecida à consideração do Juiz de Direito da 3ª Vara Cível, e Corregedor Permanente dos Cartórios de Registros de Imóveis da Comarca de Santos, por parte do Oficial do 2º Cartório de Registro de Imóveis da mesma Comarca, com relação ao título anexado aos autos, qual seja, Carta de Adjudicação extraída dos autos de Procedimento Sumaríssimo n. 2.236/86, pelo Escrivão Diretor do Cartório do 3º Oficio Cível da mesma comarca.

Essa Carta de Adjudicação diz respeito a um terreno situado na Praia da Barra, da cidade de Santos. A adjudicação foi requerida por Moisés Cardoso D'Oliveira.

No entanto, o terreno, objeto da ação descrita na inicial, não se acha registrado no Cartório em nome do executado Paschoal Labotta. Com relação ao título apresentado, consta que o mencionado imóvel se origina da transcrição n. 14.212 do 1º Cartório de Registro de Imóveis da mesma comarca, em nome de Ana Fontana Marinangeli,. Do todo se verifica que de forma alguma a área pretendida se mostra originária daquela transcrição.

Em suma, a ação é movida contra Paschoal Labatta, deverá ser apresentado o título de aquisição, de forma que haja a continuidade do respectivo registro (cf. fls. 1 e verso).

Após o andamento do feito, o magistrado, pela sentença de fls. 64/67, julgou procedente a dúvida suscitada pelo Sr. Oficial do 2º Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Santos.

Irresignado com o decisório apelou Moisés Cardoso D'Oliveira, pretendendo a reforma do julgado (cf. fls. 71/74).

Nesta Instância manifesta-se o Dr. Procurador de Justiça pelo improvimento da apelação, enquanto que o Dr. Juiz Auxiliar da Corregedoria, a fls. 90/95, apresenta parecer no sentido de negar provimento, também, ao recurso, mantida a procedência da dúvida.

É o relatório.

A hipótese em tela é de negativa de registro de carta de adjudicação por infração à regra de continuidade registrária.

Isto porque, o imóvel se encontra transcrito em nome de pessoa que não figura no registro como titular de domínio, já que o réu da ação era mero cessionário de compromisso registrado apenas no Cartório de Títulos e Documentos. Não há notícia do original do compromisso, e o certificado não é título hábil para ingresso no oficio imobiliário.

Por fim, a descrição do imóvel constante da carta diverge daquela do compromisso e respectiva cessão, seja das medidas perimetrais, seja da área total. Daí porque o parecer, bem lançado, orienta-se no sentido de improvimento do recurso.

Lembre-se que a "hipótese é de negativa do registro de carta de adjudicação, porque o imóvel (destacado de área maior) se encontra transcrito em nome de terceiros (Ana Fontana Marinangeli e s/m Augusto Marinangeli). A área total se encontra transcrita sob número 14.212, da 1ª Circunscrição Imobiliária, e, atualmente sob número 9.004, já na 2ª Circunscrição (fls. 22/29)" (cf. fls. 91).

E como o recorrente ajuizou contra Paschoal Labatta ação de Adjudicação Compulsória, julgada procedente, tendo por título, recebido de quitação de um terreno (fls. 30/31), com metragem de 25,00 metros de frente e fundos e 80,00 nas laterais, perfazendo a área de 2.000,00 mï‡, que "por sua vez, era titular de contrato de compra e venda particular, quitado, de parte do imóvel objeto da referida transcrição �(14.212), com idêntica descrição, e registrado no Cartório de Títulos e Documentos da Comarca de São Vicente (fls. 57), não cabe, em procedimento de dúvida, analisar o que em esfera jurisdicional se decidiu. Todavia, cumpre consignar que a ação foi proposta contra quem não era titular de direito real, já que a aquisição jamais foi transcrita ou averbada no ofício imobiliário" (fls. 91). Também não se tem noticia da existência do original do contrato pelo qual o réu na ação, Paschoal Labatta, compromissou o imóvel, existe somente certidão do oficio de títulos e documentos acerca (cf. fls. 93).

O v. acórdão, trazido à colação pelo MM. Juiz Auxiliar, a fls. 94, demonstra ser iterativa a jurisprudência deste E. Tribunal no sentido de não ser possível o registro de sentença proferida em ação de adjudicação compulsória se o imóvel não está registrado em nome da pessoa nela vencida.

Por tudo isso, nega-se provimento ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores ANICETO LOPES ALIENDE, Presidente do Tribunal de Justiça e ODYR JOSÉ PINTO PORTO, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 02 abril de 1990.

(a) ONEI RAPHAEL, Corregedor Geral da Justiça e Relator.

(D.O.E. de 06.07.1990)

RTD. Contrato de parceria agrícola.CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 9.949-0/6 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Porto Feliz DATA JULGAMENTO: 26/06/1989 DATA DJ: 19/07/1989 Relator: Milton Evaristo do Santos íntegra:

APELAÇÃO CÍVEL Nº 9.949-0/6 - PORTO FELIZ

I. Trata-se de Apelação (fls. 80/82) interposta por UNIÃO SÃO PAULO S.A. - AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMÉRCIO contra a r. sentença do MM. Juiz de Direito Corregedor Permanente do Cartório de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de Porto Feliz (fls. 73/76), que, em procedimento de dúvida inversamente suscitada, denegou ingresso, no aludido Registro de Títulos e Documentos de contratos de parceria agrícola apresentados pela apelante.

O fundamento da recusa foi o de que a partilha dos frutos da parceria, consoante estipulado naqueles contratos, afronta o disposto no artigo 35 do Decreto federal nº 59.566, de 14.11.1966, porque excede a participação do outorgante os percentuais fixados naquele dispositivo cogente.

O tempestivo recurso, visando à reforma integral do julgado, atém-se a argumentos assim extratáveis: a) não há, nos contratos apresentados, nulidade reconhecível de ofício pelo registrador; b) um dos instrumentos que se quer registrar constitui aditivo a contrato já registrado no mesmo Cartório; c) não se aplica à hipótese o inciso I do artigo 35, do Decreto federal número 59.566/66, porquanto, a par do percentual estipulado para sua participação, a proprietária da terra, outorgante, assumiu outras obrigações nos contratos, tais a conservação de cercas, escoadouros, combate a pragas e preservação contra fogo dos canaviais, guarda de equipamentos, implementos e defensivos, etc.; d) também não é de ser invocado no caso em tela o Decreto-lei número 6.969, de 1944, uma vez que se cuida de relação jurídica diversa da contemplada naquele diploma.

Opinam os D. representantes do Ministério Público, em primeiro e em segundo graus, pelo improvimento do apelo, mantida a procedência da Dúvida (fls. 84/90 e 95/97).

É, em síntese, o relatório.

II. Opino.

Lembra WILSON DE SOUZA CAMPOS BATALHA ("Comentários à Lei de Registros Públicos, Forense, 3ª ed., 1984, pág. 345) que os atos sujeitos a "transcrição", ou registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos, bipartem-se em duas categorias, aquela dos documentos sujeitos a registro apenas facultativo, de efeito tão conservativo, e a dos títulos cujo registro, por previsto expressamente em lei, destina-se à respectiva validade perante terceiros. Na segunda categoria enquadra-se o registro do contrato de parceria agrícola especificamente contemplado no artigo 127, inciso V, da Lei nº 6.015/73.

Em razão de se destinarem à publicização presumida "erga omnes", os referidos atos de registro capitulados em lei subordinam-se a qualificação formal ampla pelo Serventuário, também no que respeita ao prisma da legalidade. Não se cuida apenas de qualificar o título sob o enfoque de sua autenticidade: sujeita-se ele a exame de legalidade, de molde a evitar o Oficial dar publicidade equívoca a títulos cujo teor contravenha a lei. Se, nessa tarefa, se compete portanto ao registrador o ônus de perquirir de nulidades do ato submetido a registro, tem-se como certo, de outra parte, que as nulidades passíveis de qualificação registrária são apenas aquelas de natureza extrínseca, e, ao mesmo tempo, de natureza absoluta, afastada a rejeição de registro por alegada nulidade relativa, ou anulabilidade.

Os contratos de parceria agrícola são regidos por normas de ordem pública, inderrogáveis pelos contratantes. Restringe a lei, em relação a eles, o âmbito da autonomia da vontade das partes. Assim, o Estatuto da Terra (Lei federal nº 4.504 de 30.11.64) estabelece, em seu artigo 96, inciso VI, percentuais máximos para a participação do proprietário nos frutos da parceria, reproduzidos no Decreto nº 59.566, de 1966 (artigo 35). E o artigo 13, inciso IV, da Lei federal nº 4.947, de 6.04.1966, estatui, na qualidade de princípio regulador dos contratos agrários, a "proibição de renúncia por parte do arrendatário ou do parceiro não-proprietário, de direitos ou vantagens estabelecidas em leis ou regulamentos".

São três os contratos de parceria apresentados a registro (fls. 9/12, 22/27 e 47/54), o primeiro aditivo de retificação e ratificação de outro ajuste já registrado. Nos três, o parceiro outorgante - proprietário da terra - concorre apenas com o imóvel, quer dizer, com a terra nua. Em relação aos títulos de fls. de 22/27 e 47/54, celebrados pela apelante, respectivamente, com Lucrian Administração de Bens e Negócios Ltda. e Duarte Augusto Lopes, os parceiros outorgantes assumem obrigações complementares, a saber, serviços de "conservação de cercas, escoadouros, combate às pragas e preservação contra fogo nos canaviais", "guarda dos equipamentos, implementos e defensivos que estiverem na propriedade bem como a guarda dos canaviais" (fls. 23/24 e 49). Isto não é bastante a se enquadrar os contratos de parceria em exame em outro dispositivo que não o artigo 96, inciso VI, letra "a", da Lei nº 4.504, de 30.11.1964, segundo o qual a cota de participação do proprietário não pode ser superior a dez por cento. Superior, em todos os três títulos, é o percentual de participação avençado.

A edição de normas que consagrem marcado dirigismo contratual pode, nada obstante o propósito justificado e constitucional de adaptação do uso da propriedade a fins sociais, gerar situações de difícil delineamento prático, como as de que ora dão conta os presentes autos. Parece evidente que o escopo protetivo do hipossuficiente, que teria razoavelmente induzido o legislador a editar arcabouço legal de contratos agrários de forma tão minuciosa e arredante da presumida autonomia da vontade das partes, desconsiderando mesmo circunstâncias em princípio regíveis pelo mercado, resta de escassa compreensão prática quando o parceiro outorgado, ou agricultor, é pessoa jurídica em relação à qual, ainda a se abstrair quaisquer considerações de cunho propriamente individual, se supõe, quando menos, tenha exata e consciente noção das circunstâncias objetivas e subjetivas que a levaram, nos contratos, a optar pela porcentagem de remuneração do proprietário da terra a final ajustada. Algo paradoxal, ainda, é que a própria parceira outorgada, ora apelante, insista no registro de contratos de parceria nos quais o ajuste de participação só a ela, em tese, poderia trazer gravame.

Como quer que seja, em sede administrativa de aplicação da norma jurídica, a atuação do intérprete vincula-se a critérios de legalidade estrita, não havendo margem para a exegese extensiva mais própria da atividade jurisdicional.

As normas do Estatuto da Terra são de feição cogente, insusceptíveis de disposição em sentido diverso pelas partes, e os contratos de parceria agrícola apresentados, como de resto todo e qualquer contrato típico dessa natureza, subordinam-se ao regime por elas introduzido. O Decreto federal nº 59.566/66 chega a cominar de nulidade absoluta qualquer estipulação em contrato agrário que conflite com a disciplina daquele mesmo Regulamento (artigo 2º, parágrafo segundo).

Impunha-se, portanto, ao Serventuário a recusa de registro a contratos continentes de cláusulas vulneradoras do regime legal obrigatório.

Merece mantida a r. sentença de que se recorre.

III. O parecer, pois, é pelo improvimento da presente apelação, mantida a procedência da Dúvida.

À superior consideração de Vossa Excelência.

São Paulo, 30 de maio de 1989.

(a) AROLDO MENDES VIOTTI, Juiz Auxiliar da Corregedoria

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 9.949-0/6, da Comarca de PORTO FELIZ, em que é apelante UNIÃO SÃO PAULO S.A - AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMÉRCIO, apelado o OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS e interessados USINA RAFARO, USINA PORTO FELIZ e SOCIEDADE AGRÍCOLA LUCRIAN LTDA.

ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso.

E, assim decidem, de conformidade com os pareceres dos representantes do Ministério Público (fls. 84/90; 95/97) e do MM. Juiz Auxiliar (fls. 100/105).

Se, na espécie, houve inobservância do art. 96 - VI do Estatuto da Terra e de seu Regulamento (art. 35), no tocante ao limite da participação do parceiro proprietário, outra não poderia ser a conclusão.

A matéria é de ordem pública, como foi assinalado.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores NEREU CESAR DE MORAES, Presidente do Tribunal de Justiça e ONEI RAPHAEL PINHEIRO ORICCHIO, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, convocado.

São Paulo, 26 de junho de 1989.

(a) MILTON EVARISTO DOS SANTOS, Corregedor Geral da Justiça e Relator

 

 

 Dúvida - terceiro interessado. Título original - cópia - certidão de RTD - títulos e documentos. Especialidade objetiva. Área.

TÍTULO - CERTIDÃO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - A certidão expedida pelo Cartório de Registro de Títulos e Documentos não é título registrável nos Ofícios Imobiliários.

DÚVIDA - INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. A intervenção de terceiro interessado, no procedimento de Dúvida, somente se admite em via recursal.

TÍTULO - CÓPIA. Cópia de instrumento particular, sequer autenticada, é motivo bastante para se impedir o registro.

ESPECIALIDADE OBJETIVA - A perfeita identidade entre a descrição do título e o da matrícula constitui requisito incontornável para o registro pretendido (art. 225, parág. 2., da Lei de Registros). Esse dispositivo incide e afasta a invocação do disposto no art. 1136, do Código Civil, impertinente na espécie. A falta de descrição singularizada dos imóveis objeto do título, mas reportando-se o instrumento às matrículas que preenchem a lacuna, é um óbice relativo, perfeitamente superável.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 6.391-0 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Atibaia DATA JULGAMENTO: 17/10/1986 DATA DJ: 12/11/1986 Relator: Sylvio do Amaral íntegra:

Apelação Cível Nº 6.391-0 - Atibaia

Apte: João Dimov - representando por sua inventariante Martha Dimov Santiago

Apdo: Oficial do Cartório de Registro de Imóveis e Anexos

Versam os autos acerca de recurso de apelação interposto pelo Espólio de João Dimov, terceiro interessado em procedimento de dúvida que, a requerimento de D. Martha Dimov Santiago - também inventariante do Espólio recorrente, rescitou o serventuário do Cartório de Registro de Imóveis de Atibaia.

Exibiu-se a registro cópia de instrumento particular de compromisso de venda e compra relativo a "um imóvel, situado no bairro do Pinhal, distrito e município de Jarinu, Comarca de Atibaia, neste Estado, o qual é objeto das matrículas n°s 24.103, 24.104, 24.105 e 24.106, todas do Livro n° 2 do Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Atibaia (...)" (fls. 4/6). Menciona-se ainda no título apresentado: "A soma das áreas objeto das matrículas atrás citadas é de cinqüenta (50) alqueires paulistas e a descrição, confrontação e demais características das mesmas áreas, em separado e no seu todo, constam das mencionadas matrículas, cujas cópias em xerox são rubricadas pelas partes e anexadas ao presente compromisso, para dele fazerem parte integrante".

Recusou-se a Serventia Imobiliária a proceder ao registro do título, reclamado (1) exibição de sua via original, (2) apresentação da certidão negativa de débitos do IAPAS, (3) atendimento da especialidade (descrição individualizada dos quatro prédios alienados 2 (4) observância da disponibilidade (a área de cinqüenta alqueires enunciada no título diverge da resultante da adição das superfícies indicadas nas quatro matrizes).

A apresentante, D. Martha Dimov Santiago (fl. 15), ofereceu impugnação, em nome próprio (fls. 19/23). Adiante nova impugnação foi apresentada, em nome do Espólio de João Dimov (fls. 46/53), ora recorrente.

A r. sentença do MM. Juízo Corregedor Permanente do Ofício Predial de Atibaia, desacolhendo apenas a exigência de exibição da CND do IAPAS, julgou procedente a dúvida, nos termos dos óbices apontados na suscitação (fls. 103/107).

Irresignado com a r. sentença, dela apela o terceiro interessado, de logo invocando o preceito do pár. único, art. 1.136, Cód. Cív. para justificar a discrepância de enunciações de áreas no título e nas matrículas anteriores; sustenta-se ainda que admissíveis os registros perseguidos, nas diferentes matrículas, até porque a fusão é faculdade exclusiva do proprietário tabular, inviabilizando-se a satisfação da exigência por promitente-comprador; no concernente à registrabilidade da cópia exibida, observa o Espólio apelante que o instrumento microfilmado, de conformidade com a Lei n° 5.433, de 08-05-68, é reprodução fidedigna do original, a este equivalente, admitindo mesmo produção de prova pericial da autenticidade dos autógrafos no título lançados.

Os pareceres do Ministério Público, em ambas as instâncias, são pelo desprovimento do recurso de apelação (fls. 122/123 e 129/131).

Juntaram-se aos autos, ainda, cópias de peças extraídas de feito de usucapião em curso pela Digna Segunda Vara da Comarca de Atibaia (fls. 133/175 e 155/193).

É o relatório do necessário.

1. A intervenção de terceiro, no procedimento de dúvida registrário, somente se admite em via recursal em via recursal, consoante firme atendimento do Egrégio Conselho Superior da Magistratura de São Paulo (v. g. Ap. Cív. n° 510-0, Ribeirão Preto, 14-09-81; Ap. Cív. n° 782-0, Capital, 23-08-82 - Rel. Des. Affonso de André, "apud" Narciso Orlandi Neto, "Registro e Imóveis", ed. 1984, págs. 10-12 e 218-219; Ap. Cív. n°. 1.055-0, São Paulo, 04-04-83, Rel. Des. Affonso de André).

Assim, não se justifica que, no curso da dúvida, o suscitado exiba novo título, menos ainda se autoriza que terceiro o apresente (tal a espécie: cfr. fls. 81/84 e duplicata em fls. 86/89), quando outro foi o título exibido ao registrador e por este prenotado e qualificado (fls. 4/6).

Saliente-se que o instrumento originariamente apresentado, era cópia, sequer autenticada, de título particular, já por esse isolado e bastante motivo não poderia ser registrado, de consonância com pacífica jurisprudência do Colendo Conselho Superior de Magistratura de São Paulo (v. g.: Ap. Cív. n°. 442-0, Capital, 20-02-81, Rel. Des. Adriano Marrey - "apud" Narciso Orlandi Neto, "Registro de Imóveis", ed. 1982, págs. 6-8; Ap. Cív. n°. 1.338-0, Campinas, 28-02-83, Rel. Des. Affonso de André; Ap. Cív. n°. 4.258-0, Jacupiranga, 15-07-85; Ap. Cív. n°. 4.318-0, São Paulo, 06-08-85; Ap. Cív. n°.4.017-0, Piracicaba, 14-10-85 - Rel. Des. Nogueira Garcez).

2. A rigor, pois, inadmissível a apreciação da registrabilidade do título exibido no curso do procedimento de dúvida, mas, tendo em conta, na espécie, que o suscitante teve oportunidade de examiná-lo (fls. 96/99), não é demasiado superar o óbice procedimental, até mesmo em face do caráter administrativo da dúvida. Ainda assim reclamar-se-ia a prenotação do título extemporâneo, não fora de melhor atender às exigências da economia de tempo e de gastos, à vista de sua irregistrabilidade.

3. No plano da legalidade intrínseca formal (vale dizer: a que diz respeito à forma externa do ato), o título em questão não pode admitir-se a registro, por maltrato do preceito do art. 221, Lei n.° 6.015, de 31-12-73, que, entre os instrumentos registráveis, não relaciona a certidão de instrumento particular registrado em Ofício de Títulos e Documentos.

O tema exige algumas considerações.

A interpretação restritiva da regra do art. 221, Lei de Registros Públicos, designadamente em virtude da presença, no "caput", do advérbio "somente", não afasta a possibilidade de, já no próprio sistema registral unificado (Lei n.° 6.015/73), sustentar a viabilidade de ingresso tabular de títulos não indicados nos incisos do mencionado artigo (cfr. a propósito Valmir Pontes, "Registro de Imóveis", ed. 1982, pág. 148). Da análise sistemática da Lei de Registros Públicos conclui-se que além dos títulos judiciais previstos no item IV, art. 221, outros haveria hábeis à registração: cartas de arrematação e de adjudicação, por exemplo. Além disso, o par. 1.°, art. 294, da mesma Lei, prevê a admissão a registro de títulos não elencados no art. 221: cópia autêntica de instrumentos de incorporação de bens imóveis ao patrimônio público ou exemplar do órgão oficial no qual se veiculou aquele instrumento.

Esse entendimento, contudo, não autoriza dissídio concernente ao caráter restritivo da interpretação do preceito do art. 221, Lei n.° 6.015, de 31-12-73.

No que respeita às certidões expedidas pelos Ofícios de Títulos e Documentos, O Egrégio Conselho Superior da Magistratura de São Paulo firmou orientação no sentido de sua irregistrabilidade os Ofícios Imobiliários (Ap. Cív. n° 3.522-0, Barueri, 03-12-84, Rel. Des. Nogueira Garcez, cfr. fls. 66/71). É o certo que para a fundamentação do venerando acórdão mencionado concorrera, no caso então sob exame, a circunstância de que inviável a verificação de autenticidade do documento (fl. 68, "in médio"). A saliência dessa impossibilidade de comprovação da veracidade do título, entretanto, não foi o único nem o principal argumento desenvolvido pelo Egrégio Conselho, no acórdão de que se cuida, por isso que se apóia o aresto, substancialmente, em ensinamento, nele produzido, distinguindo o valor probante previsto no art. 161, Lei de Registros Públicos, da forma específica que do título se reclama para o ingresso no registro predial.

A previsão legal de registrabilidade de certidões restringe-se àquelas extraídas de autos judiciais (art. 221, n° IV) e, tal como implicitado, às que se passem, pelos notários, de "escrituras públicas", lavradas em seus assentamentos. Permitir que certidões de instrumentos particulares registrados em Ofícios de Títulos e Documentos possam ingressar no registro predial, apenas por isso que tenham o mesmo valor probante dos originais e acaso admitam avaliação de autenticidade, é concluir à margem do caráter restritivo do preceito do art. 221, regra que quadra a idoneidade da instrumentação dos fatos inscritíveis em ordem a seu ingresso no Registro de Imóveis. Não é demasiado observar - e assim o sublinha a r. sentença (fl. 105, "in fine") - que a Lei de Registros Públicos é posterior à Lei n° 5.433, de 06-05-68, de sorte que a eficácia do registro por microfilmagem deve ser aferida à luz da legislação mais recente, que impera expressamente a observação do preceito de seu art. 161 (cfr. art. 141, Lei n° 6.015, de 31-12-73).

A propósito, outro fosse o entendimento, não se entreveria a razão da regra do art. 194, Lei de Registros Públicos, determinando o arquivamento, no registro imobiliário, do título de natureza particular apresentado em uma só via, alterando-se a disciplina do Regulamento de 1939, que, na hipótese de exibição de uma só via do instrumento particular, reclamava apresentação concomitante de certidão do registro de títulos e documentos (art. 212).

De resto, não é isenta de dúvida a própria legalidade do registro de instrumento particular constitutivo de direito real Imobiliário em Ofício de Títulos e Documentos, à luz do que dispõe o par. único, art. 127, Lei n° 6.015/73 ("Caberá ao Registro de Títulos e Documentos a realização de quaisquer registros não atribuídos expressamente a outro ofício"), sem embargo da previsão do inciso VII do mesmo artigo. A legalidade da inscrição facultativa, na hipótese, é mais ainda questionável quando se verifica que a Lei n° 6.015/73 atribui ao Oficial de Registro de Imóveis a tarefa de expedir certidão do instrumento particular arquivado - art. 194.

A fé pública apresenta variações e graduações de eficácia (por todos, Fernando Fueyo Leneri, "Teoria general de los registros", ed. 1982, págs. 193-197): o valor da certidão de registro facultativo no Ofício de Títulos e Documentos, ainda que se supere o tema de sua discutida legalidade (na espécie), é limitado à função probatória a efetivar-se quer no plano das relações negociais, quer em ação própria (por exemplo, arts. 639 e 640, C. Pr. Civ.), mediante a qual, aliás, o Espólio interessado poderá obter título judicial idôneo à registração.

4. Empecilha ainda o registro da certidão exibida a dissonância da superfície enunciada no título com a soma resultante da adição das áreas indicadas nas matrículas dos quatro imóveis objeto.

Refere-se o título a prédio com cinqüenta alqueires paulistas (equivale a dizer: 121,0 há), ao passo que dos registros anteriores decorre a disponibilidade quantitativa de 120,78 há, consoante indica o suscitante (fl. 98), sem qualquer reparo (aritmético) do Espólio recorrente (fls. 113/115). Esse dissídio implica irregularidade d título, nos termos do par. 2°, art. 225, Lei de Registros Públicos ("Consideram-se irregulares, para efeito de matrícula, os títulos nos quais a caracterização do imóvel não coincida com a que consta do registro anterior").

Pacífica, aliás, e reiterada é a jurisprudência do Egrégio Conselho Superior da Magistratura de São Paulo a propósito do tema: Ap. Cív. n° 260.582, Piedade, 06-06-1977, Rel. Des. Acácio Rebouças ("apud" Francisco de Paula Sena Rebouças, "Registro Públicos", ed. 1978, págs. 186-187); Ap. Cív. n° 271.333, São Bernardo do Campo, 29-08-1978, Rel. Des. Andrade Junqueira ("apud" Narciso Orlandi Neto, "Registro de Imóveis", ed. 1982, págs. 120-122); Ap. Cív. n° 3.427-0, Itapecerica da Serra, 18-07-84; Ap. Cív. n° 5.147-0, Lorena, 06-08-85; Ap. Cív. n° 4.315-0, Suzano, mesma data - Rel. Des. Nogueira Garcez; Ap. Cív. n°. 5.118-0, Sorocaba, 09-01-86, Rel. Des. Sylvio do Amaral.

Para contornar a apontada irregularidade (acréscimo de área superior a dois mil metros quadrados), invoca o Espólio recorrente o preceito do par. único, art. 1.136, Cód. Civ. ("Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder a 1/20 da extensão total enunciada").

A propósito do tema, entretanto, já se pronunciou o Colendo Conselho Superior de Magistratura do Estado, no julgamento da Apelação Cível n.° 4.283-0, Garça, julgada em 06-11-85, Rel. Des. Nogueira Garcez: "... a perfeita identidade entre descrição do título e a da matrícula constitui requisito incontornável para o registro pretendido (L. R. P., artigo 225, par. 2.°, que incide e afasta a invocação do disposto no artigo 1.136 do Código Civil, impertinente à espécie)".

O denominado vigésimo de tolerância tem seus reflexos limitados às pretensões "ex empto", que se excluem quando as referências às dimensões prediais forem simplesmente enunciativas (e com esse caráter se presumem quando a superfície indicada no título for inferior a um vigésimo da área fenomênica do imóvel). Nenhuma, porém, sua ressonância no direito registral imobiliário, em face da regra do par. 2.°, art. 225, Lei de Registros Públicos.

5. Em um ponto apenas merece acolhimento o recurso: é que razoável embora o entendimento acolhido pela r. sentença hostilizada e nada obstante a menor ortodoxia de solução divergente, superável (no caso dos autos) é o óbice relativo à falta de descrição singularizada dos imóveis objeto do título ou à indicação do desenho geodésico de seu todo, reportando-se o instrumento, na espécie, às matrículas que colmatam a lacuna.

6. Assim, de conformidade com a Digna Procuradoria de Justiça e em que pese ao respeito merecido pelo digno Advogado Subscritor da apelação, não é de admitir-se o registro do título exibido.

DO EXPOSTO, o parecer, "sub censura", é pelo provimento parcial do recurso para, afastado o fundamento de falta de descrição individualizada dos imóveis mencionados no título, manter-se no mais a r. sentença que julgou procedente a dúvida.

 

São Paulo, 10 de outubro de 1986.

Ricardo Henry Marques Dip, Juiz de Direito Corregedor.

 

ACÓRDÃO

 

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL , n.° 6.391-0, da Comarca de ATIBAIA em que é apelante Espólio de JOÃO DIMOV representado por sua inventariante MARTHA DIMOV SANTIAGO e apelado o SR. OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS E ANEXOS.

ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em dar provimento parcial à apelação. Custas na forma da lei.

Assim decidem, mantendo a sentença nos termos dos pareceres do Dr. Procurador da Justiça e do M. Juiz Corregedor e afastando apenas um dos óbices opostos ao registro. O registro exige a apresentação do título original e, além disso, não está devidamente atendido na hipótese o requisito da disponibilidade, sendo a área indicada no compromisso maior que a constante das matrículas referentes aos quatro imóveis objeto da transação.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores NELSON PINHEIRO FRANCO - Presidente do Tribunal de Justiça e ROBERTO DE REZENDE JUNQUEIRA, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, em exercício.

São Paulo, 17 de outubro de 1986.

SYLVIO DO AMARAL, Corregedor Geral da Justiça e Relator.

OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6407 - 14/5/2014

OPINIÃO

•A regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73 e o registro facultativo, para efeito de conservação, em RTD –Graciano Pinheiro de Siqueira*

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Duas são as correntes doutrinária a respeito da regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos). Uma, afirmando, taxativamente, em razão da subsidiariedade (residualidade e supletividade) que lhe é peculiar, que, no Registro de Títulos e Documentos, somente poderão ser assentados documentos que não pertençam a outra especialidade, segundo, inclusive, a norma estampada no parágrafo único, do artigo 127, da mesma lei. Vale dizer: não poderá ser feito, no RTD, o registro, nem mesmo para efeito de merca conservação, caso o documento deva ser inscrito em outro órgão de registro público. Outra, afirmando que, em razão do disposto no mencionado inciso VII, do artigo 127, da LRP, será possível o registro, de QUALQUER DOCUMENTO, para o fim de sua guarda e conservação, ainda que para ele exista órgão competente. Neste caso, deve o registrador tomar por cautela, a fim de não levar o leigo a engano, exigir que o interessado o requeira por escrito, além de apor, no documento, carimbo ou etiqueta informando que o assento efetuado o foi, apenas, para fim de conservação. Nestes termos, será viável, por exemplo, que um compromisso de compra e venda relativo a bem imóvel, cujo registro pertence, naturalmente, ao Registro Predial, até para proporcionar ao compromissário comprador direito real oponível a terceiros, seja assentado em RTD, principalmente se o documento, face a exigências formuladas, teve o registro recusado pelo Registro de Imóveis, nada impedindo e, sendo até aconselhável, que a NOTA DEVOLUTIVA seja também registrada.

Assim sendo, a questão de fazer ou não o registro de documentos engavetados e relativos, v.g., a bens imóveis, vai depender do entendimento de cada registrador, observadas, evidentemente, as Normas de Serviço (Códigos de Normas) da Corregedoria Geral da Justiça de cada unidade da federação, para saber se nelas há, ou não, impedimento para a prática do ato pelo registrador do RTD.

O Código de Normas do Estado da Bahia, por exemplo, admite, expressamente,

o registro, em seu art. 756, abaixo transcrito:

“Art.756. Em se tratando de documentos que tenham por objeto a transmissão, constituição ou extinção de direitos reais sobre imóveis, poderá ser feito o seu registro, desde que consignado expressamente que este se destina unicamente à sua conservação e fixação de data, não gerando a constituição de domínio ou outro direito real.

Parágrafo único. Com observância dessas cautelas, é admitido o registro de contratos particulares de promessa de compra e venda de propriedade imobiliária, que impliquem loteamento ou parcelamento irregular do solo urbano ou fracionamento incabível de área rural”.

Regra semelhante é encontrada no Código de Normas do Piauí, art. 684.

As recentes NSCGJSP, embora não façam referência expressa ao registro, em RTD, de contrato que envolva bem imóvel, trata do registro para efeito de mera conservação nos itens 3 e 4 do Capítulo XIX, que têm o seguinte teor:

“3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará abaixo do registro a seguinte declaração: “registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei dos Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros”.

“4. O interessado deverá ser previamente esclarecido de que o registro facultativo exclusivamente para fins de mera conservação prova apenas a existência, data e conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros, sendo vedada qualquer indicação que possa ensejar dúvida sobre a natureza do registro ou confusão com a eficácia decorrente de outras espécies de atos registrais”.

No recentíssimo Código de Normas de Minas Gerais, parágrafo 4°, do art. 358, assim está estabelecido:

“Os documentos relativos à transmissão ou oneração de propriedade imóvel só poderão ser registrados para conservação após registro no Ofício de Registro de Imóveis competente”.

O Provimento CGJ/MS n° 25, de 3 dezembro de 2008, por sua vez, ao dispor sobre a possibilidade do registro (lato senso) dos contratos utilizados por mutuários do SFH para transmissão de seus direitos sobre o imóvel adquirido, sem a necessária intervenção do agente financeiro – os chamados “contratos de gaveta”, estabelece que os mesmos serão objeto de averbação, na matrícula do imóvel, junto aos Cartórios de Registro de Imóveis do Estado de Mato Grosso do Sul.

Foram justificativas para a edição do mencionado Provimento: 1) os Tribunais pátrios vêm firmando entendimento no sentido de reconhecer como válido o ato de vontade manifestado entre o mutuário originário e o terceiro; 2) a intenção do legislador de disciplinar essa situação está manifesta na promulgação da Lei n° 10.140/2000, que, expressamente, autorizou a regularização dos “contratos de gaveta” firmados, sem a anuência do agente financeiro, entre o mutuário e o cessionário, até outubro de 1996; e, 3) a ampla e adequada publicidade acerca da situação do imóvel permite ao interessado no mesmo sopesar os pós e contras do negócio que pretende entabular e tomar a posição que melhor lhe

convier, evitando, assim, boa parte dos conflitos decorrentes do desconhecimento acerca da realidade fática do imóvel por terceiros de boa-fé.

Advirta-se que a averbação tratada no citado Provimento não tem caráter constitutivo de direito real, destinando-se tão somente a tornar pública a situação fática dos imóveis em questão, para ciência de todos e principalmente de eventuais adquirentes do bem.

Enfim, o certo é que, adotada a segunda corrente, tem-se que o registro para fins de mera conservação, pelo menos em RTD, provaria a existência do negócio consubstanciado no instrumento, bem como o seu conteúdo, além de autenticar a data em que firmado o documento.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6407 - 14/5/2014

OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6451 - 11/6/2014

OPINIÃO

•A regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73 e o registro facultativo, para efeito de conservação, em RTD – Parte II – Graciano Pinheiro de Siqueira*

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

A forma como o registro facultativo, para efeito de mera conservação do

documento, vem sendo atualmente efetuado, com base na regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73, poderá sofrer profunda modificação, já que cresce um movimento que defende o REGISTRO FACULTATIVO SIGILOSO, desde que haja, por parte daqueles que o produziram, requerimento expresso neste sentido, contra o qual, como não poderia deixar de ser, colocam-se posições contrárias e algumas indagações, como adiante veremos.

Trata-se, em verdade, do confronto entre, de um lado, os princípios da privacidade e da intimidade, e, de outro, os princípios da publicidade e do direito à informação.

A ideia é restringir a publicidade do documento assentado para efeito de mera conservação, a qual ficará restrita às pessoas que nele compareceram como partes, vedando-se, desde que estas requeiram ao registrador, a divulgação de seu conteúdo a qualquer terceiro interessado, por meio da expedição de certidão.

Para aqueles que defendem a mudança de paradigma, apoiando o REGISTRO FACULTATIVO SIGILOSO, há que se reconhecer aos cidadãos, além dos direitos à privacidade e à intimidade, o direito de preservação de dados de caráter pessoal, inseridos em documentos, que só a eles interessam.

Já os que são contra, sustentam que a não publicidade do registro realizado, ainda que para fins de mera guarda e conservação do documento, colide com uma das finalidades do registro público, ferindo, frontalmente, o disposto no artigo 1°, da Lei n° 8.935/1994, que estabelece que “Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (o grifo é nosso). Vale dizer: a publicidade é inerente ao registro público, ou, como afirma Serpa Lopes, “a publicidade é corolário necessário, atributo lógico do registro”, não podendo, por isso, ser negada, exceto no caso de determinação judicial.

Além disso, afirmam que essa nova modalidade de registro vulnerará a garantia constitucional ao direito de informação e ao fornecimento de certidão.

As novas redações dadas aos itens 3 e 4, do Capítulo XIX, das NSCGJSP, aparentemente, admitem o registro facultativo sigiloso, ao estabelecer que:

“3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará abaixo do registro a seguinte declaração: “registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei dos Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros” (o grifo é nosso).

“4. O interessado deverá ser previamente esclarecido de que o registro facultativo exclusivamente para fins de mera conservação prova apenas a existência, data e conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros, sendo vedada qualquer indicação que possa ensejar dúvida sobre a natureza do registro ou confusão com a eficácia decorrente de outras espécies de atos registrais” (o grifo é nosso).

Não obstante, não indicam o modo como o mesmo deva ser efetuado.

Pelo que se tem notícia, esse registro facultativo sigiloso será feito em “pastas fechadas de documentos”, que serão arquivadas no RTD, que passará a ser um grande “arquivo público”, em contraposição aos “arquivos privados” existentes, que digitalizam e arquivam documentos diversos, reduzindo, assim, o problema da falta de espaço físico para guardá-los, faltando-lhes, contudo, o atributo da “fé

pública”, própria do registrador.

Dentre os questionamentos levantados, podemos destacar os seguintes:

1) Qual será o critério para a cobrança dos emolumentos para o registro facultativo sigiloso de documentos?

Quer nos parecer que, neste caso, não poderá ser adotada a mesma tabela empregada para os casos em que se pretende, com o registro, garantir ao documento outros efeitos além daquele da simples guarda e conservação, desconsiderando-se, por isso, qualquer valor nele declarado. Dizendo de outro modo: o custo do registro deverá ser módico (X centavos por página), para que possa ser atrativo, viabilizando, inclusive, a concorrência com os “arquivos privados” anteriormente mencionados. O ganho se dará em razão da quantidade e não da qualidade (em valor) do documento.

2) Como será efetuada a qualificação desses títulos?

Os defensores do registro facultativo sigiloso argumentam que nenhuma análise dos documentos deverá ser efetivada, na medida em que se estará fazendo, basicamente, um arquivamento e não um registro propriamente dito.

Ainda que assim seja, isso, sem dúvida, vai ao desencontro de tudo o que se vem falando, ao longo do tempo, a respeito do registrador, isto é, que ele não é um mero “carimbador” ou um mero “arquivador” de papéis.

Não se deve esquecer que, de acordo com a regra do artigo 156, da Lei dos Registros Públicos, “O oficial deverá recusar registro a título e a documento que não se revistam das formalidades legais”, bem como que deve ser recusado o registro de documentos nos quais haja, v.g., ofensa à moral e aos bons costumes. Destarte, caso não seja feita qualquer qualificação, apresentando o título ou documento tais características, deve o registro (ou arquivamento), a rigor, ser recusado, lembrando que a atividade do registrador é estritamente regulada pela lei.

Portanto, a falta de qualificação, parece ser um fator desfavorável ao registro facultativo sigiloso, nos moldes como se pretende.

3) Aplica-se ao registro facultativo sigiloso o princípio da territorialidade?

A resposta, a nosso ver, é positiva, já que, de acordo com o artigo 130, da LRP, todos os atos enumerados nos arts. 127 e 129 serão registrados no domicílio das partes contratantes e, quando residam estas em circunscrições territoriais diversas, far-se-á o registro em todas elas. Há, entretanto, quem entenda que ao registro facultativo sigiloso não deva ser aplicado tal princípio, cabendo ao interessado no assentamento escolher o Cartório onde pretende arquivar seu documento, para simples conservação.

Não há nenhuma dúvida de que o registrador, acompanhando, especialmente, a evolução tecnológica, deva buscar novos nichos de mercado, sendo o registro facultativo sigiloso, apenas, um deles, não podendo, entretanto, ser ele

considerado como a tábua de salvação do RTD.

Dizer que o futuro da especialidade de Registro de Títulos e Documentos está no registro facultativo realizado na forma aqui tratada é, no mínimo, um desprestígio para o registrador, que, para ser simples arquivador de títulos, documentos e papéis, sequer precisaria ter a qualificação que lhe confere a lei de ser um “profissional do direito”, depois de passar por um difícil concurso público de provas e títulos, que lhe garante a outorga da delegação de um registro público.

O futuro do RTD, quem sabe, está na recuperação dos registros perdidos com o passar dos anos, como é o caso da alienação fiduciária, daí ser merecedora de aplausos a recente iniciativa de aproximação do segmento com a Febraban, acontecida, recentemente, em Brasília, via Anoreg/Br.

Resta saber se a mudança preconizada, caso aprovada, na forma como aqui referida, não dependerá de alteração legislativa ou se bastará simples modificação normativa.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6451 - 11/6/2014

OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6251 - 27/1/2014

OPINIÃO

•Das novas Normas relativas ao Registro de Títulos e Documentos – Graciano Pinheiro de Siqueira*

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é

terminantemente proibida.No dia 16 de dezembro de 2013 foi publicado, no Diário Oficial, o Provimento n° 41/2013, decorrente do Parecer 548/2013-E (Processo 2013/192760 – DICOGE 5.1), aprovado pelo Exmo. Corregedor Geral da Justiça, José Renato Nalini, o qual modificou, integralmente, o Capítulo XIX, do Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, relativamente ao Registro de Títulos e Documentos, dando sequência, assim, às atualizações que vêm sendo efetuadas nos diversos Capítulos do referido Tomo, com objetivo de constante aperfeiçoamento do regramento administrativo existente, devendo, aludido Provimento, entrar em vigor 60 (sessenta) dias após a sua primeira publicação, supra mencionada.

Conforme consta do citado Parecer, procurou-se preservar ao máximo o texto vigente, sendo que as mudanças promovidas foram apenas as absolutamente imprescindíveis; na maior parte ocorreu reorganização da matéria tratada ou adaptação aos novos regramentos legais, administrativos e jurisprudenciais.

Em relação ao novo regulamento, cabe, preliminarmente, salientar que, em razão da judicialização, no Supremo Tribunal Federal, do item 7 das NSCGJ – CDT , o Provimento não regrou a matéria.

Dentre as modificações, passamos a destacar aquelas que, a nosso ver, são as mais relevantes:

1) O Provimento 41/2013, ainda que de forma sutil, acolheu diversas inovações tecnológicas, permitindo o registro de documentos eletrônicos ou elaborados sob qualquer outra forma tecnológica, cuja apresentação pode ser feita por meio do Portal WWW.RTDBRASIL.COM.BR, mantido pelo Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil – IRTDPJBRASIL, o qual se constitui num importante meio de integração nacional do Cartórios dessa especialidade.

Com esse avanço normativo, os Cartórios de Registro de Títulos e Documentos poderão recepcionar quaisquer documentos eletrônicos, como notificações extrajudiciais, contratos, aditivos, atas de condomínio, declarações e outros, observando-se, sempre, a regra da territorialidade, um dos princípios informadores do RTD. É o que se extrai do item 2.2 do Provimento in comento, que assim dispõe:

2.2 Compete privativamente aos oficiais de registro de títulos e documentos do domicílio da pessoa física ou jurídica, o registro de papéis, microfilmes e de mídias óticas, analógicas, eletrônicas digitais, bem como de documentos elaborados sob qualquer outra forma tecnológica.

A par o referido item 2.2. das NSCGJSP, os itens 28 e 28.3 asseguram a apresentação de títulos e documentos, sob qualquer forma, para registro ou averbação, o que confere respaldo jurídico à recepção de documentos eletrônicos por meio do referido Portal, viabilizando, ainda, o próprio registro por meio eletrônico, magnético ou digital. Confira-se:

28. Apresentado o título, documento ou papel, sob qualquer forma, para registro ou averbação, serão anotados, no protocolo, a data da apresentação, sob o número de ordem que se seguir imediatamente, a natureza do instrumento, a espécie de lançamento e o nome do apresentante.

28.3 As anotações poderão ser manuscritas, datilografadas, por

carimbo ou chancela mecânica, ou, ainda, digitadas ou inseridas por processo eletrônico, magnético ou digital.

Vale ressaltar que o Portal WWW.RTDBRASIL.COM.BR assegura, também, a observância dos requisitos da ICP-Brasil, em conformidade com o disposto no artigo 38 da Lei n° 11.977/2001.

Outro aspecto positivo da recente normatização, foi a regulamentação da expedição de certidões por meio eletrônico, servindo o Portal como ferramenta de acesso, via internet, a esse tipo de serviço, com agilidade, praticidade e segurança.

2) Além dos Livros A (Protocolo), B (Registro Integral), C (Registro por Extrato) e D (Indicador Pessoal), os Cartórios de RTD, no Estado de São Paulo, passarão a manter, recomendado a utilização de sistema informatizado, o Livro E   (Indicador Real),  de utilidade prática, eis que será formado com os elementos identificadores dos bens móveis, objeto dos contratos de garantia, permitindo que informações a eles relativas sejam prestadas, através de certidões, com maior certeza.

Em que pese os Registros de Títulos e Documentos venham, ao longo do tempo, fornecendo certidões relacionadas a ônus reais incidentes sobre bens móveis objeto de contratos neles registrados, o fato é que as informações vêm sendo prestadas com base nos nomes das partes que figuram, por qualquer modo, nos livros de registro (art. 132, IV, in fine, da Lei n° 6.015/73). Vale dizer: não havia, até então, um controle efetivo dos bens móveis dados em garantia para o cumprimento de obrigações, daí poder-se concluir que muitas das certidões fornecidas podem não ter refletido, com exatidão, a realidade esperada.

Com a adoção do Livro E, os Registros de Títulos e Documentos passarão a exercer papel semelhante ao do Registro de Imóveis, já que deverão ter, pelo menos, um cadastro (matrícula) de bens móveis, objeto de contratos de garantia, prestando, assim, um serviço de utilidade pública a quem deseje obter tal informação.

3) Outra importante modificação reside na possibilidade de que as comunicações extrajudiciais sejam efetivadas pessoalmente, via postal ou por edital, afixado em local próprio da serventia e publicado pela imprensa local, sempre através do Oficial de Registro do local do domicílio do destinatário. Neste sentido, o item 42.1, abaixo transcrito:

42.1. As comunicações extrajudiciais poderão ser efetivadas pessoalmente, via postal ou por edital, afixado em local próprio da serventia e publicado pela imprensa local, sempre através do Oficial de Registro do local do domicílio do destinatário.

Assim sendo, haverá a possibilidade, excepcionalmente, de que uma notificação extrajudicial seja feita, pelo oficial, por meio de edital, o que, no nosso entender, somente deverá acontecer quando o destinatário ou seu procurador regularmente constituído se encontrar em outro local, incerto e não sabido, certificado o fato pelo registrador, e uma vez esgotada a tentativa de entrega da carta-notificação pelos meios ordinários (notificação pessoal ou por AR).

A notificação por meio de edital deverá ser realizada por solicitação do interessado, sendo as despesas decorrentes da publicação, uma vez comprovadas, devidamente por ele reembolsadas.

Quanto ao jornal local, não esclarece a norma se o mesmo deve ser de grande circulação e se esta deve ser diária. Há também omissão quanto à quantidade de publicações que devam ser feitas.

Ainda quanto às notificações, ficaram mantidas as regras de que “nenhuma certidão das notificações será fornecida antes do perfazimento do registro”, e de que “considera-se perfeito o registro do documento que dá origem a uma notificação independentemente da averbação do cumprimento da diligência, ou da impossibilidade de sua realização”, previstas, agora, nos itens 42.6 e 42.7, respectivamente, com base nas quais era possível o fornecimento de certidões de notificações extrajudiciais, independentemente de sua efetiva entrega ao destinatário, o que, a partir de agora deve ser efetuado com maior cautela, nos termos dos itens 42.9 e 42.10, que têm as seguintes redações:

42.9. Estando pendente a notificação, o oficial não fornecerá a terceiros, informações pertinentes ao registro, que possam frustrar a efetivação da diligência.

42.10. As certidões de documentos registrados, que forem expedidas a pedido de terceiros, estando ainda pendente a notificação, não conterão informações que permitam vincular tais registros às notificações pendentes.

Essas, no nosso sentir, as principais modificações ocorridas no Capítulo XIX das NSCGJSP, ex vi do disposto no Provimento n° 41/2013, o qual, para conhecimento geral, pode ser visto, em sua íntegra, no site do Portal do Extrajudicial:www.extrajudicial.tjsp.jus.br, ou no sítio eletrônico das Publicações   INR .

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6251 - 27/1/2014

OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5696 - 14/2/2013

OPINIÃO

•Breves considerações sobre a Cédula de Crédito Bancário e as garantias a ela relacionadas – Graciano Pinheiro de Siqueira*

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado

com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

A Cédula de Crédito Bancário (CCB) é um título de crédito emitido por uma pessoa, física ou jurídica, a favor de instituição financeira ou a esta equiparada, representando promessa de pagamento, em dinheiro, decorrente de operação de crédito e cuja natureza jurídica é de título executivo extrajudicial, líquido e certo.

A CCB pode ser emitida em tantas vias quantas forem as partes dela participantes, sendo somente negociável a via do credor. Esta ainda tem a possibilidade de ser aditada, retificada e ratificada, mediante documento escrito e datado, que fará parte integrante da cédula.

É importante ressaltar que a validade e eficácia da CCB não dependem de registro, mas as garantias reais, nelas constituídas (a Cédula de Crédito Bancário pode ser emitida com ou sem garantia real), ficam sujeitas, para eficácia "erga omnes", aos registros ou averbações previstos na legislação aplicável.

Portanto, é em razão da garantia que se faz o registro. Se a coisa dada em garantia for móvel, o registro, em regra, será no Registro de Títulos e Documentos, cobrando-se, sempre, no caso do Estado de São Paulo, pela chamada “Tabela 5”. Em se tratando de imóvel, o registro será feito no Registro Predial.

Quanto à garantia, a propósito, pode esta ser fidejussória ou real, sendo, neste último caso, constituída por bem patrimonial de qualquer espécie, disponível e alienável, móvel ou imóvel, material ou imaterial, presente ou futuro, fungível ou infungível, consumível ou não, cuja titularidade pertença ao próprio emitente ou a terceiro garantidor da obrigação principal.

A constituição da garantia poderá ser feita na própria Cédula de Crédito Bancário ou em documento separado, neste caso fazendo-se, na Cédula, menção a tal circunstância. O bem constitutivo da garantia deverá ser descrito e individualizado de modo que permita sua fácil identificação.

A descrição e individualização do bem constitutivo da garantia poderão ser substituídas pela remissão a documento ou certidão expedida por entidade competente, que integrará a Cédula de Crédito Bancário para todos os fins.

A garantia da obrigação abrangerá, além do bem principal constitutivo da garantia, todos os seus acessórios, benfeitorias de qualquer espécie, valorizações a qualquer título, frutos e qualquer bem vinculado ao bem principal por acessão física, intelectual, industrial ou natural.

O credor poderá averbar, no órgão competente para o registro do bem constitutivo da garantia, a existência de qualquer outro bem por ela abrangido.

Até a efetiva liquidação da obrigação garantida, os bens abrangidos pela garantia não poderão, sem prévia autorização escrita do credor, ser alterados, retirados, deslocados ou destruídos, nem poderão ter sua destinação modificada, exceto quando a garantia for constituída por SEMOVENTES (ANIMAIS) ou por veículos, automotores ou não, e a remoção ou o deslocamento desses bens for inerente à atividade do emitente da Cédula de Crédito Bancário, ou do terceiro prestador da garantia.

Os bens constitutivos de garantia pignoratícia ou objeto de alienação fiduciária poderão, a critério do credor, permanecer sob a posse direta do emitente ou do

terceiro prestador da garantia, nos termos da cláusula de “constituto possessório”, caso em que as partes deverão especificar o local em que o bem será guardado e conservado até a efetiva liquidação da obrigação garantida.

O emitente e, se for o caso, o terceiro prestador da garantia responderão solidariamente pela guarda e conservação do bem constitutivo da garantia.

O credor poderá exigir a substituição ou o reforço da garantia, em caso de perda, deterioração ou diminuição de seu valor.

O credor notificará por escrito o emitente e, se for o caso, o terceiro garantidor, para que substituam ou reforcem a garantia no prazo de quinze dias, sob pena de vencimento antecipado da dívida garantida.

A possibilidade de se dar em garantia SEMOVENTES (ANIMAIS), que, aliás, tem sido uma questão recorrente, está prevista, expressamente, no parágrafo 2º, do artigo 34, da Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, de onde são extraídas as informações acima, a qual dispõe sobre o patrimônio de afetação de incorporações imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário, CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO, altera o Decreto-lei nº 911, de 1º de outubro de 1969, as Leis nº 4591, de 16 de dezembro de 1964, nº 4728, de 14 de julho de 1965, e nº 10406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e dá outras providências.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5696 - 14/2/2013

 OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5436 - 30/8/2012

OPINIÃO

•Perguntas e respostas sobre registro de títulos e documentos – Graciano Pinheiro de Siqueira*

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos

onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

No dia a dia dos Cartórios de Registro de Títulos e Documentos, dois questionamentos têm sido recorrentes:

1º) No caso de aval, a falta de assinatura de um dos cônjuges, em face do disposto no artigo 1647, III, do Código Civil, impede o registro do documento?

2º) É possível constituir alienação fiduciária em segundo grau?

Passemos ao nosso posicionamento a respeito dos temas.

Em relação à primeira questão, cabe observar que, considerando-se que importante tarefa do notário e do registrador é a prevenção de litígios futuros, o desejável seria que o aval fosse concedido por ambos os cônjuges. Todavia, é de se ressaltar que a ausência de outorga, marital ou uxória, na formalização do aval não lhe retira a validade, não o torna nulo, nem tampouco anulável, devendo, em casos tais, ser apenas respeitada a meação do cônjuge que não anuiu ou que desconhecia o ato praticado, ressalvada a hipótese de ter o cônjuge obtido benefício econômico, ainda que indireto.

Sobre o tema, é importante verificar o Enunciado nº 114, editado na I Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal, que assim estabelece: “O aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inc. III do art. 1.647 apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu”.

Não obstante, deve-se reconhecer que a questão é polêmica, dividindo-se a doutrina quanto à obrigatoriedade, ou não, de autorização conjugal para prestar o aval.

Os Tribunais, por sua vez, apontam uma possível e provável pacificação sobre o tema, interpretando o disposto no art. 1.647, III, do CC/02, cumulado com o disposto no mencionado Enunciado nº 114, do CJF.

No que toca ao registrador, cabe-lhe orientar o interessado no registro, realizando-o caso, mesmo faltando a assinatura de um dos cônjuges, entendê-lo possível, o qual deverá ser solicitado por aquele, através de requerimento escrito.

Parece mesmo que a melhor exegese ao disposto no art. 1.647, III, do Código Civil, sem dúvida, é aquela apresentada pelo referido Enunciado nº 114, conferindo validade irrestrita ao aval prestado unilateralmente, ficando protegida em caso de penhora, a meação do cônjuge que não firmou a garantia.

O ideal seria, até, que fosse suprimida a expressão “aval” do art. 1.647, III, do CC, o que daria maior estabilidade e segurança jurídica às relações cambiárias travadas sem a autorização conjugal.

No que toca à segunda pergunta, temos que a resposta é, categoricamente, NEGATIVA, pois o “grau” é instituto típico da hipoteca, não havendo possibilidade aplicá-lo, analogicamente, à alienação fiduciária, porque esses arquétipos têm natureza jurídica absolutamente distinta.

A diferença primordial está no fato de que, na hipoteca, o bem é dado em

garantia de dívida, mas permanece no patrimônio do devedor. Na alienação fiduciária, o bem sai do patrimônio do devedor e ingressa no patrimônio do credor, onde permanecerá “fiduciariamente” (em confiança), para garantir o adimplemento da obrigação.

Assim sendo, a rigor, não é possível o registro de nova alienação fiduciária em segundo lugar ou mesmo em segundo grau sobre mesmo bem MÓVEL ou IMÓVEL, mesmo fosse entre as mesmas partes (fiduciante e fiduciário).

Como acima mencionado, com a alienação fiduciária, o devedor fiduciante não tem mais a propriedade plena e não poderá dar novamente em alienação fiduciária o mesmo bem, sendo que se o fizer estará, inclusive, sujeito a sanções penais (ver “caput”, do art. 1.361 e seu parágrafo 2º, art. 1.363 e 1.368-A, todos do Código Civil, e art. 66-B, parágrafo 2º, da Lei nº 4.728/65).

Em se tratando de bem IMÓVEL a resposta não é diferente, não havendo, portanto, possibilidade jurídica de se constituir sucessivas propriedades fiduciárias sobre o mesmo bem, em diferentes graus, preferindo-se uns aos outros por ordem de registro, como acontece com a hipoteca, embora sejam, a nosso ver, legalmente admissíveis: (1) a caução do direito real de aquisição do fiduciante (Lei nº 9.514/97, arts. 17, III e 21); e, (2) a alienação fiduciária de propriedade superveniente, da qual o fiduciante vier a se tornar titular quando do cancelamento da propriedade fiduciária que se encontrava no patrimônio do credor anterior, sendo certo que só após a averbação desse cancelamento na matrícula imobiliária é que a alienação fiduciária da propriedade superveniente passará a ter eficácia, só aí investindo o segundo credor da posição de novo proprietário fiduciário do bem.

Em relação à segunda hipótese acima mencionada, é oportuno verificar o Enunciado nº 506, do Conselho da Justiça Federal, que assim dispõe: “Estando em curso contrato de alienação fiduciária, é possível a constituição concomitante de nova garantia fiduciária sobre o mesmo bem imóvel, que, entretanto, incidirá sobre a respectiva propriedade superveniente que o fiduciante vier a readquirir, quando do implemento da condição a que estiver subordinada a primeira garantia fiduciária; a nova garantia poderá ser registrada na data em que convencionada e será eficaz desde a data do registro, produzindo efeito “ex tunc”.

No que diz respeito ao RTD, é bem verdade, fica difícil o controle e a fiscalização de se saber se o mesmo bem foi dado em alienação fiduciária, até porque o arquivo do Cartório não é feito em face dos bens (o RTD não é, embora devesse ser, um cadastro de BENS MÓVEIS), mas, sim, em razão das pessoas que aparecem nos títulos e documentos apresentados para registro. Tanto é assim que as certidões solicitadas pelos interessados serão fornecidas em face dos nomes das partes (art. 132, IV, da Lei nº 6.015/73).

Se esse controle já é difícil em se tratando do mesmo Cartório, imagine-se numa Comarca onde existam, como no caso da Capital do Estado de São Paulo, 10 (dez) Cartórios de RTD.

Em que pesem sejam solicitas, perante o RTD, certidões negativas de ônus, esta informação só será possível caso, verificando-se o nome das partes, conste, em algum documento registrado em que as mesmas figurem, o bem sobre o qual incida, ou não, eventual ônus.

Essa a nossa posição a propósito dos dois temas, sub censura.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5436 - 30/8/2012

OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5272 - 29/5/2012

OPINIÃO

•Questionamentos relativos ao Registro de Títulos e Documentos e ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas –Graciano Pinheiro de Siqueira*

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR –Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Trazemos hoje, para reflexão, três questionamentos relativos ao Registro de Títulos e Documentos e ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

O primeiro deles diz respeito ao registro de comprovantes (notas fiscais, faturas, duplicatas, recibos em geral, etc...) que fundamentam os lançamentos contábeis efetuados, notadamente, no Livro Diário, querendo-se saber se, considerando-se que uma das finalidades do registro, em RTD, é a conservação dos documentos, podem os originais dos mesmos, em papel, ser inutilizados, já que a certidão expedida pelo registrador tem força probante, como se original fosse?

Respondendo à questão, cabe observar, preliminarmente, que, em regra, os comprovantes contábeis, justificadores dos registros contábeis efetivados, especialmente, no Livro Diário, somente podem ser destruídos e eliminados, por incineração, destruição mecânica ou por outro processo adequado que assegure a sua desintegração, após decorridos 5 (cinco) anos do respectivo lançamento.

Todavia, caso ocorra o registro de tais documentos, no Cartório de Registro de Títulos e Documentos, somos da opinião, sub censura, que é perfeitamente defensável que, com exceção do próprio livro contábil, poderão os documentos originais ser destruídos e eliminados, já que a certidão do registro integral de título (art. 142, da Lei nº 6.015/73) terá a mesma força probante do original (art. 161, da Lei nº 6.015/73, combinado com o art. 217, do Código Civil). Fortalece essa possibilidade o fato de que é atribuição do RTD efetuar o registro de quaisquer documentos para a sua guarda e conservação (art. 127, VII, da Lei nº 6.015/73), sem esquecer que a autenticidade imposta pelo registro, em face da fé pública do registrador, é algo bastante forte.

Destaque-se que o registrador, no exercício de suas atividades, a fim de realizar

o registro integral dos títulos, poderá adotar sistemas de computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de reprodução (art. 41, da Lei nº 8.935/94).

A propósito, no que toca à microfilmagem, e, reforçando o acima afirmado, assim dispõe o parágrafo 1º, do art. 1º, da Lei nº 5.433/68: “Parágrafo 1º - Os microfilmes de que trata esta Lei, assim como as certidões, os traslados e as cópias fotográficas obtidas diretamente dos filmes produzirão os mesmos efeitos legais dos documentos originais em juízo ou fora dele”.

Referida lei, inclusive, mostrando-se avançada para a sua época, já previa a destruição e eliminação dos documentos microfilmados, como pode ser constatado pela leitura dos parágrafos 2º e 3º, do mencionado art. 1º, abaixo transcritos:

“Parágrafo 2º - Os documentos microfilmados poderão, a critério da autoridade competente, ser eliminados por incineração, destruição mecânica ou por outro processo adequado que assegure a sua desintegração.

Parágrafo 3º - A incineração dos documentos microfilmados ou sua transferência para outro local far-se-á mediante lavratura de termo, por autoridade competente, em livro próprio”.

A tendência é que o mesmo procedimento deverá ser observado em relação ao documento digitalizado, em face do contido no PLS nº 146/2007 (dispõe sobre a digitalização e arquivamento de documentos em mídia ótica ou eletrônica e dá outras providências), bem como no PLC nº 11/2007 (dispõe sobre a elaboração e o arquivamento de documentos em meios eletromagnéticos), ambos em tramitação.

A segunda questão visa saber se há a possibilidade, ou não, de, no Serviço de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas, acontecer a retificação administrativa (leia-se “ex officio”, pelo próprio registrador), especialmente nos casos de erro evidente, já que inexiste, na Lei nº 6.015/73, dispositivo que a permita, diferentemente do que ocorre com outras especialidades, para as quais há previsão expressa, autorizando ou proibindo tal procedimento (Registro de Imóveis – art. 213, da Lei nº 6.015/73; Protesto – art. 25, da Lei nº 9.492/97; Registro Civil das Pessoas Naturais – arts. 109 a 112, da Lei nº 6.015/73; e, Tabelião de Notas – Normas da Corregedoria Geral Justiça)?

Há quem sustente que, por analogia, aplicar-se-á, ao Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas, o disposto no art. 213, a Lei nº 6.015/73, admitindo, assim, que o registrador dessas serventias pratiquem retificações de ofício.

Não é esse, “data venia”, nosso entendimento, sendo a resposta, portanto, negativa, pois ao registrador, de qualquer natureza, se aplica o princípio da legalidade pública, no sentido de que ele somente pode praticar atos de sua atribuição permitidos em lei.

O certo é que, como acima mencionado, não há, na Lei dos Registros Públicos, regra estabelecendo que o registrador de RTD/RCPJ possa fazer, “ex officio”, retificações, mesmo que se trate de erro evidente. Caso isso seja necessário, parece que o correto é provocar o Juiz Corregedor Permanente, através de procedimento administrativo. Vale dizer: somente com autorização judicial é que

será possível a retificação.

Ademais, é oportuno lembrar que, via de regra, o RTD utiliza-se de microfilmagem, em substituição aos livros de registro, o que, evidentemente, impossibilita qualquer retificação.

Recorde-se, outrossim, da regra do art. 128 da Lei nº 6.015/73, que estabelece que “À margem dos respectivos registros, serão averbadas quaisquer ocorrências que os alterem, quer em relação às obrigações, quer em atinência às pessoas que nos atos figurarem, inclusive quanto à prorrogação dos prazos”, bem como da regra do art. 13, da mesma lei, que assim estipula: “Salvo as anotações e as averbações obrigatórias, os atos do registro serão praticados: I- por ordem judicial; II- a requerimento verbal ou escrito dos interessados; e, III- a requerimento do Ministério Público, quando a lei autorizar”.

Essa, sub censura, nossa opinião.

A última questão diz respeito a um caso concreto bastante interessante de registro de uma “fundação”, ocorrido há muitos anos (mais de trinta anos), onde o ato de instituição se deu por meio de instrumento particular e sem a anuência do Ministério Público.

O representante atual do “parquet”, sabendo do ocorrido, pretende a regularização da situação, solicitando ao Tabelião uma solução. Daí a pergunta se é, ou não, possível fazer alguma coisa para preservar tal “fundação”, especialmente pelo fato de que a mesma presta, na localidade, importante serviço social?

Infelizmente, temos uma posição radical a respeito do assunto: trata-se de ato nulo (nulidade absoluta), por ter sido desobedecida a forma prescrita em lei, já que a constituição de uma fundação depende de testamento ou de escritura pública. Já era assim à época do registro, quando vigorava o Código Civil de 1.916. É assim no Código Civil atual, de 2.002. Além disso, foi preterida solenidade essencial, qual seja, a participação, no processo de instituição da entidade, do Curador de Fundações.

Observe-se que, com relação à forma do ato jurídico, desde que a lei exija determinada forma, esta será condição essencial para a sua validade e, nessas condições, não revestindo o ato a forma indicada, será ele nulo, não sendo demais lembrar que a forma prescrita é um dos requisitos de validade do ato jurídico e a sua inobservância gera a nulidade do mesmo, que, por isso, não produzirá efeitos. Por via de consequência, também o registro efetuado não poderá produzir os efeitos que dele são esperados. Em suma, essa “fundação” nunca adquiriu personalidade jurídica.

É importante verificar que a nulidade absoluta funda-se em ordem pública, invalidando de pleno direito o ato. Tal nulidade não é suscetível de ser sanada ou ratificada, não podendo ser suprida pelo juiz, nem mesmo a requerimento das partes. Aliás, ela pode e deve ser decreta de ofício, como também a pedido de qualquer interessado e do próprio MP, que, estranhamente, pediu a solução para o notário.

Note-se que se fosse possível a ratificação do ato de instituição, por meio, por exemplo, de uma escritura pública, o que não é o caso, esta deveria ser feita por todos os “instituidores”, o que não seria realizável, em face do falecimento de alguns deles, conforme se tem notícia.

Em geral, o ato nulo revela-se, como no caso, pelo próprio instrumento, ou ressalta de prova literal. Sendo assim, nenhuma dificuldade há na constatação da nulidade.

Também sub censura, esse o nosso posicionamento.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5272 - 29/5/2012

 OPINIÕES

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 3651 - 23/12/2009

OPINIÃO

•A função primária e essencial do RTD é garantir publicidade e informação – Amilton Álvares*

* O autor é Oficial do 2º Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de São José dos Campos-SP e Procurador da República aposentado.

O Acórdão do Superior Tribunal de Justiça prolatado no julgamento do RECURSO ESPECIAL nº 858.031 – MG (2006/0120381-6), Relator o Ministro Luiz Luz, DJ 17/12/2008, deixou bem evidenciado o quanto deve ser valorizado o atributo da publicidade, inerente a todo registro realizado no Cartório de Registro de Títulos e Documentos. Esse aresto deve levar todos nós registradores a uma profunda reflexão sobre a função primária e essencial do Registro de Títulos e Documentos (RTD), função essa que jamais poderá ser esquecida, pois, todo registro no RTD tem a função de garantir publicidade.

A estrutura do serviço registral, em serventias de três ofícios, não favorece o intérprete na percepção dessa função primária do RTD. A maior parte dos cartórios brasileiros são serventias de mais de um ofício. Em São Paulo, fora da Capital, poucos são os cartórios de ofício exclusivo no registro de títulos e documentos – o chamado RTD, que leva sempre a reboque o Registro Civil de Pessoa Jurídica – o PJ. Quase sempre, os oficiais cartorários, principalmente os registradores, estão investidos em mais de uma função ou ofício. Registradores, no Estado de São Paulo, normalmente são registradores de imóveis e registradores de títulos e documentos. Isso tem prejudicado o desenvolvimento do Registro de Títulos e Documentos. É que os Ofícios de Registro de Imóveis estão sempre melhor aparelhados e são mais rentáveis do que os Ofícios de

Títulos e Documentos; dessa forma, nas serventias de mais de um ofício, aqueles acabam prevalecendo sobre estes, e pior do que tudo, o conservadorismo e as preocupações do registro de imóveis acabam invadindo o RTD. Veja-se que hoje é comum insistir-se em colocar a segurança como elemento essencial dos registros no RTD, quando na verdade afunção essencial do RTD é garantir publicidade e informação através do registro. É no RTD que os atos, contratos e negócios jurídicos, documentados em títulos, instrumentos, declarações e outras formas escritas da manifestação de vontade e do relato de fatos, devem alcançar completa publicidade.

Não se pode fazer a leitura da Lei 6015/73 (Lei de Registros Públicos – LRP) sem a visão crítica de que o RTD tem como função primordial garantir publicidade e informação. Tirar ou restringir essa função constitui indevida limitação do próprio Ofício; é solapar a estrutura do órgão, alterar a própria essência. E como já proclamou um acórdão antigo do Supremo Tribunal Federal, temos um amo implacável que é a essência, a natureza das coisas; não dá para chamar despesa de renda, nem homem de mulher e vice-versa. Por essa função primária – a publicidade, resta evidenciado que, o rol de documentos registráveis no RTD é meramente exemplificativo. O RTD tem a função de registrar documentos para simples conservação e prova da existência do documento ou da obrigação; pode o RTD exercer a importante função residual determinada no art. 127 da lei de registros públicos, cujo parágrafo único, em combinação com inciso VII do mesmo artigo (art. 127, VII, Lei 6.015/73), tem de ser entendido como permissão do ingresso de qualquer documento que não possa ser registrado no ofício próprio, ou que não queira o interessado naquele determinado momento (do ingresso no RTD), apresentar para registro em outro oficio. Veja-se que o Oficial não pode recusar nem mesmo o registro de documento sob suspeita de falsificação (art. 156, parágrafo único, da Lei 6.015/73), e a serventia não pode ser responsabilizada por vício intrínseco ou extrínseco do documento, título ou papel (LRP art. 157). A limitação do RTD está posta em termos de negar registro a contratos, negócios ou instrumentos da realização de atos ilícitos e imorais, pois a vedação de registro de instrumentos que não se revistam das formalidades legais (LRP art. 156) pode perfeitamente ser superada pelo requerimento de registro do interessado. Imagine-se que o adquirente de um imóvel pertencente a muitos proprietários, depois de colher a assinatura de seis vendedores no instrumento de promessa de compra e venda ou na autorização de venda, não consegue colher a assinatura do sétimo vendedor. Esse documento ostenta a qualificação dos sete vendedores, mas só seis assinaram. A rigor, não está conforme as formalidades legais exigidas ao aperfeiçoamento do contrato, mas o comprador, corretor ou até mesmo um dos vendedores podem ter interesse em garantir a publicidade e conservação do documento. Pergunta-se: Se houver requerimento do interessado, deve ser negado o registro no RTD do documento em que falta a assinatura de algum nomeado? É óbvio que não! Deve o RTD, nessa hipótese, exercer na plenitude a sua função essencial de garantir publicidade a atos, negócios e contratos, ainda que não aperfeiçoados.

O registro para fins de conservação do inciso VII do art. 127, da Lei 6.015/73, é da função primária e essencial do RTD. Todo registro no RTD tem essa finalidade própria, inerente ao registro, função que dele não pode ser subtraída. Na essência, conservação é publicidade e informação, eficácia e garantia de qualquer registro no RTD. Ora, se a publicidade é função primordial do RTD, resta concluir que nada pode impedir o RTD na realização da sua função primária e cumprimento das finalidades essenciais, mesmo porque a publicidade está inserida nos fundamentos e estruturação do órgão, constitui razão de sua própria existência e funcionamento.

Outro aspecto que não pode passar despercebido é o de que, enquanto no Registro de Imóveis o que se registra é o negócio substancial extraído do título

( a venda e compra, a hipoteca, o usufruto), no RTD o que é registrado é o título formal, o instrumento, independentemente de consubstanciar um ou mais negócios, atos ou contratos. Se apresentado no RTD um instrumento de contrato de mútuo, de abertura de crédito ou de financiamento, com garantia de penhor, caução ou alienação fiduciária, não se faz um registro para cada contrato coligado. Registra-se o instrumento, o título formal, fazendo-se o lançamento nos livros da serventia do registro de um contrato ou instrumento de mútuo, por exemplo. Isso também evidencia a função primária do RTD de garantir a publicidade do título, documento ou papel registrado. Se os contratos coligados cumpriram ou não os requisitos exigidos para o seu aperfeiçoamento, isso já não é problema do RTD; essa preocupação deve ocupar as partes, que, naturalmente, devem ser diligentes para extrair do título a eficácia plena. Em outras palavras: o registro do título formal no RTD sempre terá como eficácia mínima a publicidade. Da eficácia plena, devem se ocupar as partes, empregando diligência e zelo no cumprimento de requisitos legais para o completo aperfeiçoamento dos atos consubstanciados no título. O Oficial não responde por vício intrínseco ou extrínseco do documento, título ou papel (LRP art. 157).

No julgamento do Recurso Especial nº 858.031, o Superior Tribunal de Justiça deixou bem evidenciada essa função primária do RTD. Veja-se que o voto do eminente relator, Ministro Luiz Luz, determinou com precisão os efeitos do registro no RTD. Diante de uma execução movida pelo Estado de Minas Gerais, onde o imóvel fora alcançado por penhora, asseverou o Ministro Luiz Luz:

"O Código Civil assim dispõe, in verbis:

"Art. 1245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.

§ 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel."

Nesse toar, afigura-se escorreita a condenação da Fazenda Pública nas verbas de sucumbência, porquanto, embora não tenha havido o registro no Cartório competente, o ora Recorrido efetuou o registro de propriedade do imóvel no Cartório de Títulos e Documentos, que por seu turno, opera efeitos erga omnes e visa dar publicidade ao ato.

In casu, verifica-se que a questão não é inerente à atribuição de propriedade senão à ciência de que o imóvel não pertencia ao devedor.

Desta sorte, não configurada nenhuma fraude na transmissão do bem e havendo título registrado com eficácia erga omnes, infere-se a manutenção integral do julgado."

Como bem assentado no aresto, o registro no RTD não constitui o direito real (que é atributo próprio do registro no Registro de Imóveis); mas, segundo o acórdão, foi suficiente o registro no RTD para conferir publicidade ao ato, produzir eficácia "erga omnes", dar ciência de que um determinado imóvel não mais pertencia ao executado, portanto, a conclusão natural foi de que o imóvel não poderia mais ser alcançado por penhora em execução contra o transmitente, ainda que o compromisso de venda e compra só tivesse sido registrado no RTD. É simples e ao mesmo tempo fantástico esse entendimento prestigiado no Superior Tribunal de Justiça. Acima de tudo, valoriza a função primária e essencial do RTD de conferir publicidade a negócios realizados. Isso permite retomar o argumento já apresentado de que nada pode obstar o exercício

dessa função primária do RTD.

Não é difícil imaginar que o adquirente do imóvel, naquele processo julgado no STJ, possa ter buscado primeiro o Registro de Imóveis para registrar o negócio substancial – o compromisso de venda e compra. Por alguma razão, o registro pode ter sido negado no Registro de imóveis. Poderia faltar reconhecimento de firmas, certidões negativas como CND do INSS, CND do ITR e CCIR (certidão do imposto territorial rural e certificado de cadastro de imóvel rural, na hipótese de tratar-se de prédio rústico); poderia até mesmo faltar alguma declaração sacramental exigida no Registro de Imóveis. Imaginemos então que o adquirente, para acautelar-se, buscou o registro no RTD. Surge naturalmente a dúvida que pode ser colocada em termos de perguntas: Seria lícito ao RTD fazer as mesmas exigências para registrar o título formal? Naquela situação de fato, do recurso especial julgado pelo STJ, será que o RTD do registro daquele título de transmissão poderia ter feito exigências semelhantes às que normalmente são feitas no Registro de Imóveis? Certamente a resposta só pode ser um sonoro não! E se firmado o entendimento prestigiado no STJ acerca dessa função essencial do RTD, de conferir publicidade ao negócio declarado no título registrado, é certo que nem CND ou CCIR, exigências normais e regulares no âmbito do Registro de Imóveis, poderão subsistir como exigência impeditiva do registro no RTD. A função do registro no RTD é outra; bem diferente é o efeito perseguido no Registro de Imóveis; a diferença precisa ser bem compreendida. Por isso, ouso afirmar que a publicidade do registro de um título formal no RTD jamais poderá ser obstada por falta de uma CND do INSS ou de qualquer outro documento que no Registro de Imóveis seria tido como indispensável. A falta de certidão negativa de débito de tributo ou de contribuição previdenciária não pode dar causa à nulidade do ato. É simples hipótese de ineficácia diante do credor do tributo, produzindo o negócio completa eficácia no mundo jurídico diante de terceiros (STF RE nº 94.105, STJ REsp. nº 140.252). Esses arestos reforçam o pensamento de que o registro no RTD não pode ser obstado por falta de CND do INSS ou do ITR, pois, ainda que ineficaz o negócio perante a autarquia previdenciária ou Receita Federal, será eficaz diante do resto do mundo.

Poderíamos ainda acrescentar um argumento derradeiro. A lei de registro públicos reclama do Registro de Imóveis uma qualificação exauriente do título apresentado para registro, por isso reservou 30 (trinta) dias de prazo para esse mister (art. 188 da Lei 6.015/73). Enquanto isso, a mesma lei determinou ao RTD a qualificação sumária do título, reservando tão somente o próprio dia da apresentação no protocolo para o respectivo registro – "o registro e a averbação deverão ser imediatos" (LRP art. 153). Por óbvio, o legislador tinha em mente essa função primordial do RTD de garantir a segurança da publicidade com o registro do título. Como dito antes, e conforme letra expressa da lei, o Oficial, salvo comprovada má-fé, não responderá por vício intrínseco ou extrínseco do documento, título ou papel. Assim, se o título ostentar defeito ou não, se faltar anexo ou alguma certidão, haja ou não reconhecimento de firma, requerimento de registro para fins de conservação, cumprimento ou não de qualquer outra idiossincrasia que se inventar, não pairam dúvidas de queregistrar sem demora é cumprir, enfim, o bom ofício de registrador do RTD.

Quem vem ao RTD tem pressa. Quer o registro no dia. E não pode ser diferente o padrão de exigência do usuário, se considerarmos que a segurança do RTD é a publicidade do registro no dia da protocolização do documento.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 3651 - 23/12/2009

ENTENDA A CONCLUSÃO DAS DECISÕES RELATIVAS À OBRIGATORIEDADE DO CUMPRIMENTO DO PRINCÍPIO DA

TERRITORIALIDADE EM TODO O TERRITORIO NACIONAL PARA O REGISTRO E ENTREGA DE NOTIFICAÇÕES EXTRAJUDICIAIS.

1º – Em decisão proferida no Procedimento de Controle Administrativo (PCA) nº 642, do CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, instaurado a requerimento da CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DE SANTA CATARINA, em face dos REGISTRADORES DA GRANDE SÃO PAULO, foi declarado procedente o pedido formulado para declarar a ilegalidade da prática adotada pelos registradores de títulos e documentos do Estado de São Paulo, consistente em proceder as notificações extrajudiciais, por via postal, para municípios de outros Estados da Federação, ressalvados os atos já praticados.

2º – Também pelo Auto Circunstanciado de Inspeção Preventiva nº 2009.10.00.002449-0, realizada no Espirito Santo, aprovado pelo Plenário do CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, onde o Excelentíssimo Corregedor Nacional da Justiça, Ministro Gilson Dipp, afirmou que deve ser observado o princípio da territorialidade por todas as serventias extrajudiciais com atribuição para proceder ao registro de títulos e documentos em todo o território nacional.

3º - Através do Pedido de Providências nº 0001261-78.2010.2.00.000, do CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, formulado pelo INSTITULO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA DO BRASIL, com base nas decisões acima mencionadas, onde foi solicitado

que fosse estendido aos Oficiais de Registro de Títulos e Documentos de todo o território nacional a proibição do encaminhamento de notificações extrajudiciais diretamente aos destinatários que não tenham domicílio no território para o qual receberam a delegação. Nesse Pedido de Providências foi então decidido, monocraticamente, pelo Conselheiro Leomar Barros Amorim de Sousa, que: “o entendimento desse Conselho é no sentido de que os agentes delegados dos serviços de registro de títulos e documentos somente realizem notificações dentro dos limites territoriais das respectivas circunscrições, ou seja, deve ser observado o princípio da territorialidade”..... “Ante o exposto, defiro o pedido para determinar que os Oficiais de Registro de Títulos e Documentos de todo o País obedeçam ao Princípio da Territorialidade”.

4º - No Mandado de Segurança nº 28772, do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, impetrado por LIMONGI, WIRTHMANN VICENTE E BRUNI ADVOGADOS S/S, em face do CONSELHO NACIONAL DA JUSTIÇA e do CONSELHEIRO RELATOR, por decisão proferida pelo eminente MINISTRO DIAS TOFFOLI, em face da decisão proferida no Pedido de Providências nº 0001261-78.2010.2.00.000 (item 3º), foi deferida a liminar pretendida para suspender os efeitos da decisão monocrática proferida, ficando ressalvada a eficácia do que foi decidido no PCA 642 e no Auto de Inspeção já mencionados.

5º - Em respeito a essa decisão liminar proferida pelo STF, o Conselheiro LEOMAR BARROS AMORIM DE SOUZA entendeu por suspender a decisão que proferira no Pedido de Providências nº 0001261-78.2010.2.00.000.

6º - Nessa situação, embora clara a irregularidade quando descumprido o Princípio da Territorialidade, vários Oficiais de Registro de Títulos e Documentos do País continuaram a praticar as notificações a destinatários

residentes fora de seus limites territoriais, procedendo através dos correios com carta AR.

7º - Por decisão final proferida em 10 de fevereiro de 2013, no Mandado de Segurança 28772 pelo eminente MINISTRO DIAS TOFFOLI, foi cassada a liminar por ele concedida, tendo ressaltado: “restou incólume o decidido no Pedido de Providências nº 642, vale dizer, permanece válida a obrigatória observância do principio da territorialidade pelas serventias vinculadas ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Estado onde se encontra sediado o escritório impetrante”.

8º - Essa decisão foi objeto de AGRAVO REGIMENTAL, ao qual foi negado seguimento pelo Pleno do SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA em 19/09/2013.

9º - Diante da cassação da liminar concedida, cai também a suspensão do decidido pelo Conselheiro LEOMAR BARROS AMORIM DE SOUZA, do CONSELHO NACIONAL DA JUSTIÇA no Pedido de Providências nº 0001261-78.2010.2.00.000 (item 3º) do CNJ, prevalecendo íntegra a decisão de estender aos Registros de Títulos e Documentos de todo território nacional a obrigatoriedade de observância do principio da territorialidade nas notificações extrajudiciais, que aqui se repete: “o entendimento desse Conselho é no sentido de que os agentes delegados dos serviços de registro de títulos e documentos somente realizem notificações dentro dos limites territoriais das respectivas circunscrições, ou seja, deve ser observado o princípio da territorialidade”..... “Ante o exposto, defiro o pedido para determinar que os Oficiais de Registro de Títulos e Documentos de todo o País obedeçam ao Princípio da Territorialidade”.

10° - O Ministro Dias Toffoli, do STF, suspendeu os efeitos de decisão do CNJ, tomada em pedido de providências (PP n°0001261-78.2010.2.00.000), que determinou a observância, por cartório de todo o país, do princípio da territorialidade na realização de notificações, proibindo-os de emitirem notificação extrajudicial por via postal fora do município em que se localizam, mesmo que se refiram a atos registrais por eles praticados. O ministro concedeu liminar na Ação Originária (AO) 1892, ajuizada pela Anoreg/DF.

O Registro de Títulos e Documentos: um instrumento jurídico para segurança da sociedade.Histórico, desenvolvimento e a era digitalPaulo Roberto de Carvalho Rêgo

Publicado em 11/2002. Elaborado em 08/2002.

I. - HISTÓRICO:

De início, cumpre-nos apresentar o serviço de registro de títulos e documentos, que para muitos ainda é um ilustre desconhecido, e mostrar a praticidade desse instrumento de segurança jurídica, que é de grande utilidade aos operadores do direito em geral e, aos advogados, em especial.

A origem do registro de títulos e documentos, segundo historia o magistrado Kioitsi Chicuta, surgiu em razão de que "desde tempos imemoriais o homem tem demonstrado intensa preocupação de perpetuar atos e fatos relevantes (inscrições e desenhos em pedras)" [1], por exemplo. No Brasil, ainda segundo o renomado especialista, "sua origem como serviço sistematizado pelo Estado" recebeu regramento original nos títulos 78 e 80, do Livro I, das Ordenações do Reino de 1603, e foi atribuída, à época, aos Tabeliães de Notas (aos quais, aliás, eram atribuídos todos os atos dos serviços hoje denominados extrajudiciais).

Com o desenvolvimento da sociedade, os serviços de registros públicos, pouco a pouco, foram especializando-se e, em razão de suas finalidades

específicas, foram segmentados por naturezas (Registro de Hipotecas, posteriormente Registro de Imóveis; Registro de Títulos, Documentos e outros Papéis e Civil de Pessoas Jurídicas, etc.). Assim, no ano de 1903, pelo Decreto Federal n° 973, foi criado, na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o serviço público correspondente ao "primeiro ofício privativo e vitalício do registro facultativo de títulos, documentos e outros papéis, para autenticidade, conservação e perpetuidade dos mesmos e para os efeitos previstos no artigo 3° da Lei 79, de 1892". Posteriormente, face ao sucesso da medida e à necessidade de sua implantação, outras unidades foram criadas nos demais Estados Federados.

Em 28 de setembro de 1906, foi instalado em São Paulo o primeiro ofício de registro de títulos e documentos e civil das pessoas jurídicas.

Em 1° de janeiro de 1916, revogando as Ordenações, Alvarás, Leis e outras normas, foi sancionada a Lei n° 3071, consolidando o Código Civil brasileiro, que, em seu Livro III, Título I, Capítulo IV (arts. 129 e seguintes), disciplinou os meios de prova dos atos jurídicos, regulando os institutos.

Sucederam-se as normas [2], até que, em 31/12/1973, foi sancionada a Lei n° 6.015, que vige até o momento, disciplinando, nos seus arts. 127 e ss. o registro de títulos e documentos.

Ocorre que, em razão de originalmente acometidos os serviços aos Tabelionatos de Notas, posteriormente, aos Ofícios de Registro de Imóveis e, somente no início do século passado aos registros especiais de títulos e documentos, os usos e costumes inerentes aqueles serviços nortearam a tônica da prática cartorária, muita vez olvidando a própria razão de ser do registro de títulos e documentos e outros papéis, sendo-lhes exigidos rigor e solenidades não prescritas em lei.

Isso, porque os bens da vida juridicamente protegidos, por exemplo, pelo registro de imóveis, são diversos dos protegidos nos registros de títulos e documentos. Nos primeiros, visa-se proteger um fim, o direito de propriedade (direito real, que exige forma solene); nos segundos, o que se visa proteger é o próprio meio, ou seja, o título ou documento, o meio de provaque dará ensejo à proteção de eventual direito ou obrigação. Quer dizer, aqui a solenidade pode não ser da essência do ato ou fato pretendido provar e que, para tanto, necessita registro, seja quanto ao seu conteúdo (o qual não deverá ficar ao

arbítrio do registrador examinar), para alcançar efeitos decorrentes de sua publicidade, seja para adquirir autenticidade, seja, enfim, para mera conservação ou prova de data.

Assim, os serviços atribuídos aos Oficiais do segmento, desde sua origem e como traduz sua denominação, são os atos de registro de títulos, documentos e outros papéis, e não somente de títulos ou instrumentos (a utilização da conjunção aditiva "e" seguida do vocábulo "documentos", que tem significação jurídica própria, não pode ser havida como ignorância do legislador, muito menos sua insignificância – porque "a lei não contém palavras inúteis", como ensinava a famosa máxima de Carlos Maximiliano, amparada em antigo axioma [3]).

Por relevante para a compreensão do tema, faz-se, aqui, necessário lembrar, a clássica distinção entre instrumento, documento e papel, onde instrumento é o meio que dá forma a ato jurídico gerador de direitos e/ou obrigações à(s) parte(s); documento é qualquer meio de prova material; e, papel é o meio material de prova de menor relevância no mundo jurídico, por não conter direitos ou obrigações, mas que, por qualquer motivo, pode igualmente ser objeto de registro para mera conservação, publicidade e prova de data da existência de um escrito particular.

Enfoque importante dessa distinção está em que, se nos registros imobiliários, são fundamentais, conteúdo e forma; no registro de títulos e documentos essa importância é relativa, porque, às vezes, o objeto da proteção jurídica, o interesse juridicamente tutelado é a proteção ao meio, ao início de prova por escrito contido em uma declaração ou escrito particular.

Sabendo-se que os atos jurídicos provam-se por qualquer meiomaterial de provar um direito ou uma obrigação nele inserida (arts. 135 e 136 do Código Civil), seu conteúdo e sua forma têm relevância reduzida, não sendo razoável obstar o registro do meio de prova, o qual será objeto de apreciação judicial competente. Poderá, assim, uma parte ter legitimo interesse de registrar esse início de prova por escrito, esse documento, para lhe dar publicidade ou autenticidade, fazendo prova de sua data, e, nada mais razoável, que abrir as portas do serviço extrajudicial, para assim fazê-lo.

É trivial que houve toda uma técnica jurídica na sua criação dos institutos, formando um sistema, um todo integrado. Sabedores desses princípios, fica mais fácil compreender que o sistema de registros não é um fim em si mesmo, mas um

meio de atender às necessidades das partes, da sociedade, do povo, seu usuário e razão de sua existência.

Ademais, é certo que a valoração da prova é da competência do Poder Judiciário, no caso concreto - e aqui reportamos ao princípio da razoabilidade -, para dizer que não é razoável obstar registro de meio de prova, cujo efeito merecerá apreciação judicial, futura. O registro visa a segurança jurídica das partes. O registro não altera a natureza das coisas, o meio usado não altera o fato, pelo simples registro em títulos e documentos. Garante-lhe, todavia, a publicidade e a prova da data, na qual exarado. Os efeitos que irão gerar, nos casos concretos, serão objeto de apreciação judicial. O que não nos parece recomendável é impedir a publicidade e a prova da data, da existência do meio de prova por escrito, que será valorado em Juízo.

De igual modo, face às várias alterações legislativas ocorridas no último século, faz-se necessário dar maior transparência aos atos de registro, mais uma vez em garantia do princípio da segurança jurídica necessária, e entregá-la, aos operadores do direito, em especial, e ao povo, em geral.

A importância da menção histórica do sistema dos registros de títulos e documentos e outros papéis, para validade contra terceiros e sua conservação, portanto, está em que, desde os seus primórdios, o legislador previu a necessidade e a possibilidade de conferir maior transparência e segurança à população, pelo registro de seus títulos, documentos e papéis em serviço próprio do Estado, hoje descentralizado, porém, ainda público.

Fizemos essa introdução histórica, porque detendo esse conhecimento, fica mais fácil abordar a questão da preservação e efeitos probatórios dos documentos digitais, que tantas dúvidas tem suscitado nos meios acadêmicos.

II. – O DOCUMENTO DIGITAL:

Já vimos o que são títulos, documentos e papéis, bem como o sistema adotado em nosso direito para sua preservação.

Apesar de hoje já quase em desuso, o sistema previsto pelo legislador pátrio para conferir autenticidade, perpetuidade e publicidade dos documentos

particulares, lato sensu, fixou-se na outorga da atribuição a oficiais de registros públicos para a trasladação, por transcrição, nos livros cartorários, da forma e conteúdo daqueles documentos, de modo que, registrados no cartório competente, passava a contar com verdadeira autenticidade, ou seja, valor de prova e presunção de veracidade de seu conteúdo, oponível a terceiros e, em razão de sua prenotação, em livro de protocolo, cronológico, também de prova de sua existência e de sua data. É evidente que fazendo-se necessário transcrever ipsis litteris o documento original, inclusive com sua grafia na língua em que apresentado, havia uma grande demora na prática desse mister.

Em meados do século passado, surgiu uma nova tecnologia, o microfilme, capaz de preservar, integralmente, em fotogramas, a forma e o conteúdo dos documentos, garantindo, inclusive, maior segurança à cronologia dos registros, porque impossível deixar-lhes espaços em branco, para preenchimento posterior. Face a essa modernidade, a Lei 5433, de 08/05/1968, regulamentada pelo Decreto 64398, de 24/04/1969, conferiu aos cartórios de registro de títulos e documentos a faculdade de efetuar seus registros através desse novo meio, de modo a conferir, não só mais segurança e irretorquível fidelidade ao original, como, também, maior agilidade ao serviço.

Com a adoção dessa nova e, então, moderníssima tecnologia, à época não houve nenhuma celeuma quanto à atribuição para autenticar documentos particulares continuar pertencendo aos serviços de registro de títulos e documentos, porque os juristas da época, cientes da razão de ser do sistema registrário, perceberam que a alteração do meio, em nada alterava os finsjurídicos, que eram a fonte que banhava esse sistema.

O que importava não era o meio de transmissão ou armazenamento dos documentos, mas o fato de seus conteúdos ficarem arquivados em registro público, para conservação perene e conhecimento de terceiros.

Ciente do princípio da especialidade, o meio jurídico absorveu com tranqüilidade esse novo sistema de registro, o qual vem se mantendo até hoje e, é certo afirmar, que, nos grandes centros urbanos, todo o serviço de registro de títulos e documentos é realizado através de sistema de microfilmagem.

Mais recentemente, surgiu uma nova tecnologia, um novo meio para formalizar a vontade humana: o documento digital.

Não pretendo, aqui, definir o que é o documento digital, nem cansar os leitores com a utilização de anglicismos, tais como função hash, bites e assemelhados. Em primeiro lugar, porque nesta casa há vários especialistas no assunto, que melhor poderiam fazê-lo e eu não posso correr o risco de cometer equívocos técnicos, já que essa tecnologia é muito nova e está sujeita a maior amadurecimento. Em segundo, porque a finalidade dessa conversa não está em tornar ainda mais arenoso o terreno, mas, sim, em simplifica-lo, torná-lo útil na prática do dia-a-dia dos advogados e operadores do direito, ainda que tecnófobos, de modo a poderem extrair dos documentos digitais os efeitos jurídicos de prova, que o caso concreto vier a exigir.

Assim, partimos de dois conceitos: o documento original em meio papel; e o documento original já em meio digital.

Essa distinção é fundamental, dentro do nosso sistema registrário, porque, como ensinava PONTES DE MIRANDA, "as leis são feitas para serem entendidas; não para serem zurzidas pelos que não se dão à canseira de as penetrar." [4]

A distinção, portanto, versará, inicialmente, conceito basilar: o de documento original.

No repertório jurídico, DOCUMENTO vem "do latim documentum, de docere (mostrar, indicar, instruir), na técnica jurídica entende-se o papel escrito, em que se mostra ou se indica a existência de um ato, ou de um negócio. Dessa maneira, numa acepção geral de papel escrito, ou mesmo fotografia, em que se demonstra a existência de alguma coisa, o documento toma, naterminologia jurídica, uma infinidade de denominações, segundo a forma por que se apresenta, ou relativa à espécie, em que se constitui." [5] "Em relação à maneira por que o documento se produz, diz-se público ou particular. E, conforme é apresentadoem sua forma primitiva ou em reprodução dela, diz-se original, cópia, traslado, certidão, pública-forma, extrato. [6]

De igual modo, ORIGINAL vem "do latim originalis, exprime o adjetivo tudo o que vem da origem, é primitivo, é oprimeiro ou se mostra o que se fez pela primeira vez. Na significação técnica, notadamente da linguagem forense,original   entende-se   todo escrito , que deu origem ou em que se firmou o contrato ou se materializou o ato jurídico. Assim se diz contrato original para aludir ao escrito em que o contrato foi firmado ou feito." [7] Sendo relevante frisar que, "na linguagem técnica dos tabeliães e

cartorários,   original   entende-se a   primeira reprodução   do que consta dos   assentos de seus livros , dos termos ou escrituras ali   lavrados . É a primeira extração ou o primeiro extrato de todos os atos escritos,registrados   em seus   livros . Já as segundas reproduções e seguintes se dizem   traslados   ou   certidões , tendo embora a mesma força jurídica dos originais, desde que trasladadas ou certificadas   pelo mesmo oficial que as fez originariamente.Os   originais   diferem das   cópias   e das   públicas-formas , que se entendem   reproduções   não do assento ou escritura constante dos   livros , mas dos   documentos , que os   representam ." [8]

Como curial, há distinção entre presentar (tornar presente, materializar) e representar (sem ser o próprio, fazer suas vezes). Por isso, a reprodução (re-produção, extrair cópia, produzir derivado) difere de produzir (criar, dar origem, originar, original)documento.

E, apesar de propedêutico, distinguindo CÓPIA do ORIGINAL, temos que, aquele vocábulo tem outro significado técnico, vindo "do copiam dare, copiam efficere, significando a permissão para o describere (trasladar, transcrever), proveio a admissão decopia, como a própria trasladação, reprodução ou transcrição. É isto que significa a reprodução literal de um escrito chamadooriginal. Assim sendo, a   cópia   se opõe ao   original   de que é   duplicado   ou uma   reprodução . Segundo o estilo com que acópia se formula, várias as denominações que se lhe dão. Assim é certidão, é traslado, é pública-forma, é cópia autêntica, é cópia conferida, é cópia fotostática." [9]

Como se vê, cópia e original se opõe, não podendo ser confundidos, porque o original é uno (independente do número de vias, que é outra coisa), é o escrito em que se materializou a vontade humana, que deu origem ao ato ou negócio jurídico.

Portanto, temos aqui a distinção fundamental: o documento original que se materializou e aperfeiçoou em meio papel, ainda que reproduzido em meio digital, essa reprodução, como o vocábulo indica, continuará a ser mera reprodução, sem efeitos de original. Já o documento que se tenha materializado e aperfeiçoado em meio digital, será original, na forma, ou meio, em que se aperfeiçoou, quer dizer, em meio digital.

Já se pode depreender que, tendo o nosso sistema legal atribuído aos registradores de títulos e documentos a legitimidade para, através da transcrição

em seus livros de registro ou perpetuação em sistema de microfilmagem conferir autenticidade aos documentos particulares, a eles compete registrar e, com esse procedimento, conferir autenticidade aos documentos particulares em meio papel ou digital.

Semelhante não é igual, não é o mesmo. Cópia ou reprodução, não são o original, não é o mesmo, é outro!

Nem se pense que, em meio originalmente digital, seria diferente.

Friso que o direito é um sistema, um todo integrado. Os atos jurídicos desenvolvem-se através de iteris, gerando efeitos e aperfeiçoando-se a cada momento.

Assim, por exemplo, faz-se necessário lembrar que as declarações unilaterais de vontade aperfeiçoam-se com a simples emissão da declaração; os contratos, surgem com a proposta (que como tal se aperfeiçoa com sua emissão, como declaração unilateral de vontade) e aperfeiçoam-se com a aceitação. [10]

Gosto de lembrar as lições que recebi do magistrado carioca, Celso Peres, que, na introdução ao estudo dos contratos, dizia que, nas nossas relações mais corriqueiras aplicava-se o direito. Assim, por exemplo, ao comprarmos um pãozinho na padaria, estávamos, na verdade, realizando uma compra e venda, contrato verbal, mas contrato... Houve a oferta do produto e a aceitação do preço, aperfeiçoando-se o negócio no momento da tradição do produto e pagamento do preço.

Há outros atos jurídicos que exigem forma escrita ou solenidades que têm de ser provadas. Aí entra a necessidade da autenticidade do documento.

Fazendo um paralelo, é muito comum que as propostas sejam ofertadas por meio de fac-simile. A prova da emissão da proposta e seu recebimento não estão no papel que ingressou na máquina transmissora, mas, sim, na via transmitida e recepcionada. Esse fax é meio de prova. Os efeitos que irá gerar serão examinados em juízo, onde caberá ao julgador observar as regras contidas, dentre outros, nos artigos 332, 335, 374, 375 e 386 do CPC, atribuindo ao documento o valor que os usos comuns lhe dão.

Outro exemplo corriqueiro é a oferta pública de produtos, através de encartes em jornal. Qual é o original? Todos, evidentemente, são vias originais.

Assim como no meio papel, a possibilidade de extrair-se inúmeras vias de um documento original digital, não induz dúvida sobre qual dessas vias é a original. Todas são. A data em que se aperfeiçoou o ato jurídico constará do documento e não há nenhuma vedação a que seja levado a registro, mesmo após escoados vários anos, como ocorre no meio papel. No meio papel, a regra é que, apresentado até 20 (vinte) dias após sua concretização, o ato gerará efeitos desde sua constituição e os apresentados após esse prazo somente gerarão efeitos perante terceiros, após o registro. [11]

Em meio papel, apenas aquela via que foi apresentada, e de forma vetusta carimbada e certificada, é que irá gerar efeitos perante terceiros. Se havia outras vias, idênticas, elas não provarão o registro e seus efeitos. Porém, requerida uma certidão, ela será extraída com idênticos teôr, forma e efeitos do original. No meio digital, ocorrerá o mesmo. Apenas a via apresentada a registro merecerá a certificação digital e será oponível a terceiros, fazendo prova contra terceiros. Mas, a certidão poderá ser emitida em meio digital, com a certificação igualmente digital, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Perdidas as vias originais, a certidão terá o mesmo efeito de prova.

Assim se dará, também, com as certidões extraídas dos registros de imóveis, dos registros civis, dos Tabelionatos de Protesto, quanto aos atos registrados em seus livros.

Logo, a possibilidade de gerar inúmeras vias, não traz nenhuma novidade no meio digital, porque a prova do registro continuará a ser feita através da via registrada ou da certidão correspondente.

A única exigência que se faz para o registro de documento originalmente digital é que ele possa ser materializado em vernáculo (não valendo o documento criptografado, por exemplo), porque o oficial tem de ter conhecimento do seu conteúdo [12] e terá de poder emitir certidões desse registro, dando conhecimento a terceiros desse conteúdo. Assim, apresentado em forma digital um contrato, o registrador de títulos e documentos exigirá requerimento, em papel, firmado pelo apresentante, para que possa ser efetuado o registro. Caso assinado digitalmente, será exigida a atestação da assinatura digital, que nada mais é que o reconhecimento da assinatura, tal como se faz no meio papel, porque, em meio digital, ainda não é possível identificar o sinal, as chaves dos emitentes. Tão logo possível, a recepção se dará em processo integralmente digital, desde que se

possa aferir sua autoria. Se apresentado por terceiro interessado, far-se-á necessário requerimento próprio, com assinatura do apresentante.

Outra questão relevante é o prazo das certidões emitidas em via digital, porque, ao contrário do que vem sendo ofertado por alguns profissionais, essas certidões, poderão não ter validade eterna, como ocorre, por exemplo, com as certidões emitidas pelos registros de imóveis e tabelionatos de protesto, bem como Tabelionatos de Notas, porque versando atos de trato sucessivo, poderá ocorrer alterações na cadeia registral ou notarial, valendo, portanto, em regra, pelo prazo de 30 (trinta) dias de sua emissão.

Importante, portanto, nesse primeiro momento, afirmar que, geradores de efeitos jurídicos, os instrumentos e documentos digitais, materializados ou materializaveis, sob qualquer forma, constituída estará a origem dos direitos e obrigações, o original, ensejador de registro. Essa importância está na possibilidade de saber-se a partir de quando e até quando se constitui e se altera o documento digital original.

Partindo-se desses conceitos, fica mais fácil compreender que aos contratos virtuais, ou eletrônicos, digitais, aplicam-se as regras do artigo 1086 do Código Civil, que regem os contratos por correspondência epistolar, ou telegráfica, e emitida aproposta, tornam-se perfeitos, desde que a aceitação é expedida, ou de acordo com o convencionado entre as partes, porque, desde esse momento, materializou-se a vontade das partes. A exteriorização da volição é que aperfeiçoa o ato jurídico. E essa exteriorização pode se dar em meio digital. Aperfeiçoado, fica constituído o instrumento, documento ou papel.

Portanto, em ambas as hipóteses, seja ato unilateral, seja bilateral ou plúrimo, seu aperfeiçoamento se dará com a simples emissão da(s) vontade(s), surgindo, daí, o documento original, que dá origem a direitos e obrigações, entre as partes. Por isso que a simples atestação de sua origem, ou da conferência com o original ou com a assinatura digital, não importará em um novo(?) original, assim como a autenticação de cópia ou o reconhecimento de firma, em meio papel, não altera a data doaperfeiçoamento do ato jurídico, nem gera efeitos perante terceiros ou goza de perpetuidade. Da mesma forma, o registro em títulos em documentos não cria um novo original, apenas lhe confere autenticidade, porque, aí, a lei diz que serão gerados osefeitos de original perante terceiros, inclusive para sua perpetuidade, permitindo ao usuário desfazer-se dos originais. [13]

Vejamos, novamente, o meio papel. Em meio papel, as partes formalizam e exteriorizam suas vontades ao assiná-lo. Enquanto não registrado, esse documento continuará a ser particular e a gerar efeitos entre as partes. Não importa em quantas vias, eis que não há limitação legal para isso. Ao reconhecer as firmas, atesta-se que quem assinou foram, realmente, as partes. O documento continua particular e, se perdidas suas vias, perdeu-se o documento. Ao registrá-lo em títulos e documentos, passa a ser documento público, angariando presunção de veracidade, inclusive contra terceiros e, ainda que perdidas todas as vias originais, a certidão emitida pelo Oficial terá o mesmo valor que o original [14].

Por isso, não se pode confundir original na essência com reprodução do original. O simples fato de reproduzir o documento em meio digital não cria um novo original, mas (como o vocábulo reproduzir indica), uma cópia, porque o ato jurídico já se encontra perfeito e acabado, através da emissão da vontade no documento original. A oponibilidade perante terceiros é posterior e nada tem a ver com a conclusão do contrato.

Mal comparando: o reflexo que se vê no espelho não é idêntico ao indivíduo refletido, porque não lhe possui o espírito e o discernimento, não possui vida própria. As cópias, ainda que autenticadas, se contestadas, terão de ser novamente confrontadascom o original em juízo. [15] A alegada presunção de veracidade esvai-se.

Face a essas considerações, entendemos inviável a geração de reproduções de documentos, com efeitos de perpetuidade (com extração de quantas cópias se quiser, como às vezes alardeado), sem o devido registro em títulos e documentos, sendo de nenhum valor jurídico, as assim extraídas.

Autor

Paulo Roberto de Carvalho Rêgo

oficial do Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas da Cidade de São

Paulo, vice-presidente do Centro de Estudos e Distribuição de Títulos e Documentos da Cidade

de São Paulo, diretor da Associação de Notários e Registradores do Estado de São Paulo

(ANOREG-SP)