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-A GREVE NA MANNESMANN- Na primeira rodada de negociações, a direção da Maonesmann voltou atrás em rela- ção à proposta que pôs fim à greve. Mas, diante da mobilização e da disposição dos trabalhadores em retomar a greve, a empresa recuou e o acordo saiu. Ficou acertado que os operários receberão uma antecipação de 28% sobre o salário de fevereiro, dis- tribuída de março a maio. Além disso, os metalúrgicos conquistaram a estabilidade no emprego por 60 dias. Os dias parados serão descontados, mas apenas dois por mês. Na opinião de José Maria de Almeida, diretor do sindicato, o movimento foi vi- torioso. LEIA NA PÁG. 6 s- ** fó> PLKhV m eitm cem b^, *"•* A .OPIN1ÀO .ANÁLISE . INFORMAÇÃO Pubiicacào Quinzenal do CENTRO DE PASTORAL VERGUEIRO A Greve Geral de 14 e 15, representa um marco histórico no movimento operário. A QUINZENA, como uma pubtcaçio Inserida neste contexto procura, através deste ENCARTE, registrar esta história. Colocamos às mãos do leitor uma seleção das avaliações veiculadas no pós-greve. Iniciamos com a posição da CUT e as perspectivas delineadas a partir da avaliação da Executiva Nacional. O posicionamento do Governo e dos empresários é por demais conhecida: a divulgaram fartamente. Damos apenas uma amostra deste setor com as palavras da própria FIESP. Colocamos ainda, o que saiu na grande Imprensa; as avaliações da esquerda e a nova correlação de forças. Em relação aos números setoriais e gerais da greve, temos em nosso acervo tanto o que saiu na Imprensa Burguesa como os dados da Central de Informações da CUT, da FIESP, etc Alam disto, nos dias da greve, elaboramos Resenhas com um seleção das noticias que saíram nos jornais. Todo este material está a disposição dos companheiros. É escrever e pedi-los que enviaremos a preço de custo do xerox e correio. Registrar nossas lutas é preservar a história e contribuir para nossa vitória. Março de 1989 CPV •V a *KÍ ^ «?H! N £NCAKTe

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-A GREVE NA MANNESMANN- Na primeira rodada de negociações, a direção da Maonesmann voltou atrás em rela- ção à proposta que pôs fim à greve. Mas, diante da mobilização e da disposição dos trabalhadores em retomar a greve, a empresa recuou e o acordo saiu. Ficou acertado que os operários receberão uma antecipação de 28% sobre o salário de fevereiro, dis- tribuída de março a maio. Além disso, os metalúrgicos conquistaram a estabilidade no emprego por 60 dias. Os dias parados serão descontados, mas apenas dois por mês. Na opinião de José Maria de Almeida, diretor do sindicato, o movimento foi vi- torioso.

LEIA NA PÁG. 6

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A

.OPIN1ÀO

.ANÁLISE . INFORMAÇÃO

Pubiicacào Quinzenal do

CENTRO DE PASTORAL VERGUEIRO

A Greve Geral de 14 e 15, já representa um marco histórico no movimento operário. A QUINZENA, como uma pubtcaçio

Inserida neste contexto procura, através deste ENCARTE, registrar esta história. Colocamos às mãos do leitor uma

seleção das avaliações veiculadas no pós-greve. Iniciamos com a posição da CUT e as perspectivas delineadas a partir da avaliação da Executiva Nacional. O posicionamento do Governo e dos empresários é por demais conhecida: já a

divulgaram fartamente. Damos apenas uma amostra deste setor com as palavras da própria FIESP. Colocamos ainda, o

que saiu na grande Imprensa; as avaliações da esquerda e a nova correlação de forças.

Em relação aos números setoriais e gerais da greve, temos em nosso acervo tanto o que saiu na Imprensa Burguesa

como os dados da Central de Informações da CUT, da FIESP, etc Alam disto, nos dias da greve, elaboramos Resenhas

com um seleção das noticias que saíram nos jornais. Todo este material está a disposição dos companheiros. É só escrever e pedi-los que enviaremos a preço

de custo do xerox e correio. Registrar nossas lutas é preservar a história e

contribuir para nossa vitória. Março de 1989

CPV

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Quinzena mvmm

Trabalhadores

No número anterior publicamos um texto sobre a "Teoria Z" com o objetivo de contribuir para o entendimento das novas formas és relações do trabalho e a

estratégia da burguesia em perpetuar o sistema capitalista. Ainda nesta linha, reproduzimos a matéria a seguir sobre os CCQ's. O outro artigo,

sobre o SNI da FIESP, coloca-nos elementos de como a burguesia trabalha a questão da formação e informação em seu meio.

Tendências do Trabalho - Setembro/86

CÍRCULOS DE CONTROLE DE QUALIDADE: AVALIAÇÃO,SEGUNDO SEU CRIADOR

UMA

Segundo a definição básica, os Círcu- los de Controle de Qualidade (CCQ) for- mam um programa, adotado por empre- sas em vários países, que visa a melhoria da produtividade e da qualidade, através da utilização de equipes de trabalho integradas e motivadas.

Este programa de qualidade foi cria- do inicialmente no Japão, mais precisa- mente na década de 60, pelo Dr. Kaoru Yshikawa, com o objetivo de aumentar

a qualidade e durabilidade dos produtos japoneses.

Atualmente, o mundo reconhece que os produtos japoneses são altamente qualificados e competitivos.

No último congresso latino-america- no de CCQ's, realizado em setembro, no Rio de Janeiro, o Dr. Yshikawa, reco- nhecidamente a maior autoridade mun- dial no assunto, expôs as principais ca- racterísticas deste programa de qualida- de, analisando as diferenças existentes entre o Japão e os outros países que in- fluem no desenvolvimento dos progra- mas de CCQ's.

Kaoru Yshikawa lamenta um fenôme- no que ocorre em vários países com res- peito aos CCQ's: a falta de continuidade e o insucesso de alguns programas de controle de qualidade.

Este fato se deve a vários fatores. Um deles, e o mais importante de todos, é a diferença de cultura entre o Japão e os países ocidentais que adotam os tam- bém denominados CCQ's.

Razões para Insucessos dos CCQ's nas Empresas

Segundo o Dr. Yshikawa, nas fábricas

japonesas mesmo os trabalhadores uni- versitários trabalham nas linhas de mon- tagem, sujando mesmo suas mãos nas máquinas. No Ocidente, afirma eles, "os universitários se consideram altamente qualificados e não respeitam a natureza humana dos subordinados."

0 Dr. Yshikawa prossegue colocan- do: "No Japão, os próprios operários criam suas normas de trabalho e de qua- lidade da produção. Será que isto seria viável numa empresa ocidental?"

Os Círculos de Controle de Qualida- de trouxeram, na opinião de quem os criou, uma mudança de mentalidade. Neles, os subordinados têm uma oportu- nidade de expor suas idéias, de contri- buir para o bom desenvolvimento da empresa em que trabalham.

Várias são as razões que, entretanto, contribuem para o insucesso dos progra- mas de controle de qu?lidade em algu- mas empresas. Uma delas é a imposição da implantação dos CCQ's por parte da cúpula da organização. Outro equívoco é achar que os CCQ's constituem uma atividade trabalhista. Alocá-los no departamento de pessoal ou vinculá-los ao Ministério da Indústria e do Comér- cio também é um erro, assevera o Dr. Kaoru.

0 Dr. Yshikawa apontou vários outros aspectos que diferenciam a cultura japo- nesa oriental da cultura européia e ame- ricana, ambas ocidentais, intervindo na aplicação dos CCQ's.

No Japão, revela ele, as empresas não adotam o sistema de inspeção porque há uma confiança muito grande na capaci- dade dos empregados. "A religião budis- ta parte do princípio de que todos os homens são bons. Esta filosofia se refle- te diretamente na ideologia da organiza-

ção, por isto há comíança na capacidade do funcionário", expÜca ele.

No entanto, a confiança que as orga- nizações japonesas depositam na habili- dade e na qualidade do trabalho de seus empregados, e que faz com que elas dis- pensem o processo de inspeção, não re- sulta somente do modo de pensar orien- tal. É, antes de tudo, resultado de um longo e eficiente processo educacional pelo qual passam todos osjaponeses.

"Todo operário com bom nível edu- cacionaj trabalha melhor. No Japão, o nível de escolaridade da população é um dos mais elevados do mundo. Isto influi diretamente no trabalho do funcionário japonês e, conseqüentemente, na quali- dade do produto industrial produzido no Japão", avalia o Dr. Kaoru.

Esta análise dos fundamentos cultu- rais, que também direcionam as empre- sas japonesas, serve para nos mostrar que o sucesso dos Círculos de Controle de Qualidade está intimamente ligado ao modelo organizacional japonês, que se baseia na educação, na participação e na confiança, na habilidade do empregado.

Qualidade: uma Meta a Ser Alcançada por Todos os Componentes da Empresa

Para que uma organização obtenha um elevado índice de qualidade de tra- balho e de produto final, é necessário que todos os funcionários, da cúpula da empresa até a sua base, tenham como meta atingir esta qualidade em cada fun- ção exercida no dia-a-dia de trabalho.

O Dr. Yshikawa observa, que tão im- portante quanto os CCQ's são os TQC's (Controles de Qualidade Total) dos quais fazem parte os Círculos de Qualidade;.

ASSmATURAS: - Para militantes sem condições financeiras: NCz$ 6,08 (por seis meses) e NCz$ 12,16 (por 12 meses) - Para CUT, militantes com condições financeiras: NCz$ 8,12 e NCz$ 16,24 - Sindicatos, Pastorais e assinaturas de apoio: NCz$ 12,16 e NCz$ 24,32 - Exterior (via áerea): US$ 30,00 (por seis meses) e US$ 60,00 (por 12 meses). O pagamento deverá ser feito em nome do Centro de Pastoral Vergueiro em cheque nominal, cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO IPIRANGA - CEP 04299 - Código da Agência 401901 - Preços válidos até 31/03/89

QUINZENA - Publicação do CPV - Caixa Postal 42.761 - CEP 04299 - Sâo Paulo - S.P. - Fones: (011) 273 6533 e 273 9322

MMXMmm

A QUINZENA divulga as questões políticas de fundo em debate no movimento, contudo colo- ca algumas condições para tanto. Serão publi- cados os textos que contenham teses e argu- mentações estritamente políticas, evitando os ataques pessoais; serão publicadas as réplicas que estejam no mesmo nível de linguagem e Companheirismo. Nos reservamos o direito de divulgarmos apenas as partes significativas dos textos, seja por imposição de espaço, sega por solução de redação.

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ü Trabalhadores

Os TQCs engloba toda a empresa e é fun- damental para o bom andamento dos CCQ's.

Segundo o Dr. Kaoru Yshikawa, um fator que contribui para aumentar o ní- vel dos produtos de uma empresa é a qualidade dos fornecedores de matérias- primas e de componentes. A América Latina, destaca o Dr. Kaoru, "carece de bons fornecedores em termos de compo- nentes, o que já dificulta a qualidade fi- nal do produto industrial".

A América Latina, adverte o Dr. Kao- ru, "precisa consolidar seus fornecedo- res. Os fornecedores não podem ser ini- migos das empresas como ocorre em al- guns países, pois não há garantia de qua- lidade entre inimigos".

Todos os aspectos abordados ante-

riormente influem na organização e no desenvolvimento dos CCQY Estes con- tribuem para a melhoria da qualidade de trabalho e do produto final O aumento da qualidade gera, conseqüentemente, crescimento da produtividade e diminui- ção de custos.

Os CCQ's no Brasil

Atualmente, é grande o número de empresas que utilizam o programa de CCQ's no Brasil. Os novos rumos das or- ganizações mundiais, que apontam para a maior participação dos funcionários no processo de decisão política das em- presas, já são sentidos em muitas organi- zações brasileiras. O grande número de CCQ's é uma prova disto.

De acordo com Romeu Carlos de Abreu, vice-presidente da Associação Brasileira de CCQ's, organizadora desse congresso que contou com o prof. Yshi- kawa, o empresariado brasileiro aceita melhor, hoje, a participação do empre- gado porque esta gera sempre um au- mento do nível de qualidade da empre- sa.

O empregado, por sua vez, tem cons- ciência de que pode contribuir para me- lhorar o nível de seu trabalho.

Os CCQ's, como afirma Romeu, sa- tisfazem tanto ao empregado como ao empregador. Eles existem para divulgar e fomentar novas idéias que proporcio- narão o crescimento da qualidade do trabalho e do produto que será comer- cializado.

enários RH Sindical - Agosto/88

Fiesp tem um SNI para os sindicatos A Fiesp iniciou a implantação de um so-

fisticado órgão de inteligência para rastrear com precisão as tendências do movimento sin- dical. Trata-se da institucionalização de um procedimento incorporado nos núcleos de Re- cursos Humanos de grandes empresas que já atuavam de forma localizada, como no ABC paulista. O processamento dos dados levanta- dos será centralizado pelo Setor de Análise de Tendências Sindicais, uma espécie de depar- tamento coordenado por profissionais especia- lizados contratados para o serviço com previ- são de seis meses para a sua implantação. O objetivo explicito seria possibilitar aos negocia- dores maior eficiência na tomada de decisões e no resultaoo das negociações.

Cada seguimento do movimento sindi- cal paulista terá o seu perfil definido. Suas li- deranças identificadas e classificadas ideologi- camente. As lideranças emergentes serão re- gistradas. As posições políticas dos dirigentes sindicais, seus vínculos com partidos pollbcos e a influência de organizações religiosas (em particular, a Igreja Católica), serão apontados. O trabalhe inclui ainda um acompanhamento das greves, o desempenho das categorias en- volvidas, a disposição para a negociação das direções sindicais em questão. Nada deverá escapar às informações, como o surgimento de novos grupos, a origem dos seus militantes e o peso na estrutura do universo sindical onde atuou.

ttapas - O plano de trabalho estabele- ce três etapas para a implantação do serviço. A Fiesp espera que já no inicio do próximo ano o setor de Análise de Tendências Sindicais es- teja operando a todo vapor, alimentado pelas delegacias regionais e distritais que deverão manter núcleos com a participação de dois a cinco profissionais de recursos humanos, de- pendendo do tamanho da base de atuação. Os relatórios da rede de Informações incluirão, ainda, o acompanhamento de publicações (jornais e panfletos) das entidades sindicais da área, além de recortes de jornais e revistas das publicações regulares.

O programa também estabelece a or- ganização de palestras, seminários e cursos profissionalizantes destinados aos negociado- res patronais, com especialistas em relações do trabalho - brasileiros ou estrangeiros. Pro- gramas de treinamentos específicos em rela- ções do trabalho destinados a supervisores e

chefias intermediáriab serão implementados. Contatos com entidades acadêmicas, cientffi- cas, governamentais e internacionais (OIT e Consulados, são citados), patronais e profis- sionais que atuam na área de relações de tra- balhos integram o plano.

Ainda dentro do aperfeiçoamento do serviço de informações em implantação pela Fiesp, pesquisas regionais ou setoriais através de entidades especializadas com objetivo de detectar tendências e formas de atuação de entidades e dirigentes sindicais serão realiza- das. A promoção de encontros e entrevistas com sindicalistas patronais e de trabalhadores serão organizadas.

Alto nível - O diretor do Departamento de Cooperação Sindical d^ Fiesp, Roberto Delia Manna, define o Setor de Análise de

Tendências Sindicais como "um órgão de inte- ligência de alto nível". De acordo com Delia Manna, a idéia foi inspirada na reivindicação de empresários insatisfeitos por não sentir os seus interesses regionais representados nas negociações coletivas da Fiesp centralizadas em São Paulo. Na verdade, o eixo da proposta obedece a demanda acusada pela organiza- ção empresarial de consolidar uma estrutura mais aparelhada neste campo, para responder ao avanço da profissionalização da ação dos trabalhadores no setor sindical de ponta.

O sindicalista Luiz Antônio Medeiros re- conhece a criação do serviço como uma sofisti- cação na atuação do empresariado. "Informa- ção é poder", disse Medeiros, depois de la- mentar que a divisão do movimento dos traba- lhadores não permita consolidar a criação de estrutureis semelhantes. Um dirigente naaonal da CUT, sem esconder a ironia, sugeriu que a criação deste órgão pela Fiesp permitirá à enti- dade patronal ter um contato mais próximo com a realidade, complexa e variada".

AVENDANOCPV

Este Dossiê é o produto de um

trabalho conjunto entre o CPV e a Rede Mulher. Seu conteúdo aborda a problemática da questão do trabalho da mulher, sua dupla jornada, o trabalho doméstico não computado, a discriminação no trabalho "fora de casa", a discriminação sexual pura e

simples e a exploração da mulher como qualquer outro assalariado.

Formato ofício encadernado 105 páginas NCz$6,70

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Há 25 anos, precisamente em 19 de abril de 1964 (e não era mentira) o golpe de classe estava concretizado. Em nome do anti-comunismo e da democracia a burguesia mobiliza o seu braço armado e mostra a verdadeira face de sua democracia institucionalizando a repressão ao movimento operário e aos direitos fundamentais do homem. Publicamos este artigo com o intuito de contribuir para uma reflexão crítica sobre os motivos e as causas que nos levaram à derrota. Reflexão esta que não pode resumir-se ao artigo

presente. Mesmo porque, 25 anos depois, as grandes questões estruturais de nossa sociedade não foram resolvidas, ao contrário, a conjuntura política atual, resguardadas suas especificidades, tem elementos presentes daquele momento.

Ficam as perguntas: Por quê fomos derrotados? Quais as semelhanças e diferenças entre 64 e 89? Que o leitor responda.

Folhetim - Folha de São Paulo-31.12.88

A crise de 64 e seu desfecho

IUCIANO MARTINS

64 APARECE COMO UMA COMBINAÇÃO TANTO

DE ACIDENTES POLÍTICOS QUANTO DE UMA

PROBABILIDADE HISTÓRICA

É MUITO PROVÁVEL que se possa atribuir ao ciclo autoritário que se inicia em 1964 (1), quando situado numa perspectiva mais ampla, mudanças mais decisivas paia a sociedade brasileira que as acarretadas pela Revolução de 30. E isto independentemente do julgamento de valor que se faça sobre o sentido dessas mudanças ou sobre seu custo social e político.

64, entretanto, não era uma inevitabili- dade histórica. Em nenhum lugar estava escrito que as coisas tivessem que se passar como se passaram, ou que a consolidação da hegemonia do capitalismo no pais através da generalização do seu "ethos" pela sociedade —talvez o principal legado de 64— tivesse que se fazer de forma tão selvagem.

Para quem não aceita as simplificações de uma interpretação determinista "ex- post", não para substitui-la por exercícios de história hipotética (o "como poderia ter sido se..."), mas para melhor explorar e conhecer os fatores envolvidos num fenômeno e a maneira pela qual interagiram para produzir certos resulta- dos, 64 aparece como uma combinação tanto de acidentes políticos (no que se refere à sua eclosão e à sua dinâmica) quanto de uma probabilidade histórica

(quanto à direção impressa às mudanças que acarretou). Sob esse prisma, poder-se- -ia avançar duas coisas, embora não seja possível desenvolver aqui os argumentos (e os dados) que as fundamentam.

A primeira é que a ascensão dos militares não pode ser explicada a partir de "teorias" conspiratórias, como já se tentou fazer, e nem se inspirava inicialmente num projeto político de ocupação duradoura do poder. Ela se deu no bojo, e um pouco aos azares, do desfecho que prevaleceu (entre outros possíveis) para uma crise social e política degenerada em crise de governabilidade pelo esgotamento dos instrumentos popu- listas de conciliação de interesses.

A segunda é que a surpreendente ausência de reação a esse desfecho, por parte da situação deposta ou dos que pregavam as reformas sociais "na marra", na medida em que clarificou a correlação de forças efetivamente existente na sociedade, abriu também um espaço praticamente irrestrito para que o processo político passasse a ser conduzido pelos impulsos próprios à burocracia militar e para que pudesse ser resolvido, livre de quaisquer constrangimentos, o conflito maior que estava codificado na crise política do início dos anos 60: o conflito pelo controle da direção do processo de desenvolvimento econômico e pela apro- priação de seus resultados. Significa dizer: a natureza "selvagem" do capitalismo implantado se deve menos a quaisquer "exigências da acumulação" do que à eliminação de atores, a partir de um lógica militar de ocupação do poder, capazes de negociar sua implantação em outros termos.

Apenas para situar a crise do início dos anos 60 em seu cenário político, e introduzir um referente para analisar as mudanças que nele se processarão.

poder-se-ia representar o modelo de ação política que prevaleceu de 1946 e 1964 a partir de dois universos: o integrado pelo que chamamos de população "politica- mente ativa" e o constituído pela população "politicamente mobilizável". Integra.am o primeiro os atores capazes de estabelecer parâmetros para decisões e/ou maximizar interesses ou valores no interior desses parâmetros, ou seja, atores coletivos ou individuais dotados de recurin;) políticos primários (poder e/ou influência) garantidores de acesso aos ceatrw de decisão. Compunham o segundo universo os atores dotados de recursos secundários (capacidade de voca- lizar demandas, barganhar apoio político e/ou fornecer legitimação eleitoral) sendo sua utilização evidentemente contida no limite da conservação do sistema político e da manutenção das estruturas básicas de dominação.

NO FINAL DOS ANOS 50 SE INTRODUZEM NOVAS DEMANDAS SOCIAIS

Para dizer de forma ultra-simplificada: as coalizões que se faziam ou se desfaziam no interior do primeiro universo de alguma forma refletiam, ou ditavam, as alianças estabelecidas entre as elites que os integravam e os diversificados segmentos sociais que compunham a população politicamente mobilizável, a partir de regras suficientemente rígidas para preser- var os papéis de cada universo e, ao mesmo tempo, suficientemente flexíveis para acomodar a heterogeneidade de interesses e a mobilidade existentes no interior de cada qual.

Tratava-se, em síntese, de um jogo político relativamente complicado, às vezi rcs

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Quinzena

submetido à arbitragem militar, mas que foi possível enquanto não apenas era reduzido o número de atores como seus interesses e demandas eram facilmente decodificáveis. A compatibilização de uma coisa e outra se fazia no âmbito de um sistema politico-partidàrio que tinha na aliança PSD-PTB sua viga mestra e seu ponto de equilíbrio.

O POPULISMO SE MOSTROU INCAPAZ DE ABSORVER TENSÕES

A partir do final dos anos 50, o increraenfro da urbanização, a rápida diversifvwao do sistema econômico, o processo de internacionalização da produ- ção, as altas expectativas criadas (e frustradas) sob o governo Kubistchek quanto à generalização dos benefícios do desenvolvimento econômico, o efeito-de- monstração da Revolução Cubana etc. fazem surgir novos atores e introduzem demandas sociais e políticas de novo tipo.

A ausência de uma tradição de negociação democrática à direita e a própria desvalorização da idéia de democracia política à esquerda conduzem

rapidamente à radicalização de posições. O quadro partidário e a aliança PSD-PTB são rompidos pela criação de agrupamen- tos (Frente Parlamentar Nacionalista, Ação Democrática) que desarticulam a formação de maiorias parlamentares estáveis (condição de governabilidade), ao mesmo tempo em que mobilizam setores da sociedade em torno de seus fantasmas (a "ameaça comunista") ou de suas ilusões (as reformas "na mana").

O Plano Trienal (dezembro de 1962) será a última tentativa de agregar interesses em torno de uma "saída" para a crise. Seu fracasso, poucos meses depois, assim como o fracasso da tentativa de João Goulart de implantar o estado de sítio (setembro de 1963), como forma de se sobrepor aos interesses em conflito que não mais conseguia conciliar, deixavam claro que estavam esgotados os recursos de intermediação populista no interior e entre os dois universos que integravam o sistema político. Mas nenhum dos principais atores envolvidos parecia capaz, naquele momento, de prever qual desfe- cho para a crise prevaleceria. Tanto assim, de resto, que a conspiração multar se faz

em tomo da idéia de resistir à implantação do que era fantasiado como sendo a "república sindicalista"; e existem indica- ções que permitem afirmar que a iniciativa dos dois generais de Minas de iniciarem o movimento escapou ao controle do comando da conspiração. Na verdade, o desfecho da crise —e sobretudo as condições de nào-resistência em que se deu— consütuhj uma "surpresa" para os principais atores envolvidos: das esquerdas aos militares.

Mas, uma vez esclarecida a correlação de forças, abriu-se um espaço praticamen- te irrestrito, como se disse, para a reorganização de todo o sistema político (através de uma dinâmica que será possível aqui abordar) e para a resolução do conflito menor em tomo da orientação a ser impressa ao processo de desenvol- vimento.

Visto esse conflito a partir de uma perspectiva mais ampla, e fazendo uma redução "heróica", talvez se possa afirmar que seus termos estavam baliza- dos por duas soluções-limite: a redefinição do projeto de desenvolvimento de forma a melhor adequá-lo às novas demandas sociais de participação em seus benefícios, ou a estratíficação deliberada do mercado, privilegiando os setores médios-superiores, como forma de consolidar o projeto existente. O populismo se mostrou incapaz de absorver as tensõr geradas pela existência desse conflito e, ao mesmo tempo, incapaz de assumir qualquer uma de suas alternativas. Fazê-lo, de resto, implicaria em negar sua própria condição de populismo.

A nova coalização de forças que assume o poder em 1964, ao decidir autoritaria- mente o conflito subjacente à crise política do início dos anos 60, inegavelmente propicia a realização de mudanças de amplas dimensões na sociedade brasileira. Sem que nem por isso, entretanto, tenham sido resolvidos os problemas estruturais de integração econômica e social do pais, ou melhorado a qualidade de vida em sociedade. O

O Estado de São Paulo ■ 19.03.89

raorcuo* M ciÊMOA raimcA NA

.O outor está dirigindo um projeto de

pesquisa sobre 64, que se estenderá

ainda por um ano, no Âmbito do Centro

de Estudos de Cultura Contemporânea

(Cedec). As proposições apresentadas de

forma ultra-simpltf icoda neste artigo são

formulações ainda tentativas e que

poderôo ser revistos à luz do

desenvolvimento do projeto.

Depqis da greve, outra Blumenau

O setor trôtlil pára e acaba com o mito cia perfeita relação entre patrões e empregados

BLUMENAU — germâni- ca blumenau do sotaque carre- gado, das casas em e. tilo enxai- mel. da generosa "oktoberfest" e das poderosas indústrias de malhas nunca mais será a mes- ma. Quando, no dia 10, as operá- ri^is no setor de costura da Teka começaram a parar, arrastando todo o complexo industrial da cidade — o maior pólo concen- trado de indústrias têxteis da America Latina — iniciaram tai .uém o desmonte de uma das mais perfeitas relações entre patrões e empregados existen- tes no Brasil. Em dois dias, ma , de 40 mil trabalhadores es- tav m em greve e Blumenau viu, pela primeira vez. ser des- respeitado o lema em que ba- seou seu crescimento: "traba- lho, dedicação e ordem, e náo greves".

O "modelo blumenauense de desenvolvimento", termo usado pelo presidente do Sindi- cato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blumenau, Ul- rich Kuhn, foi praticamente se- pultado pela greve, apesar dos esforços dos empresários em mantê-lo vivo. Mas, segundo o antropólogo Salvio Müller, coordenador do curso de Histó- ria da Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb), já estava agonizante há algum tempo. "A causa imediata desta greve inédita é a situação eco- nômica, a inflação de quatro dí- gitos", diz. Mas ele faz uma res- salva: "A greve contra a infla- ção e em busca do salário perdi- do é apenas um canal de extra- vasamento para quem vive em constante pressão cultural e so- cial".

Estudioso da mentalidade da população do Vale do Itajai, de origem alemã, ele busca no tempo as explicações para a re- volta dos operários de Blume- nau. O município, explica, co- meçou a apresentar um desen- volvimento muito grande na dé- cada de 50, depois da derrota alemã na 2» Guerra Mundial. Nessa época, mais do que em qualquer outra, os descenden- tes dos imigrantes alemães in- corporaram o espirito que per- mitiu a união e o desenvolvi- mento da pátria-mãe de seus pais e avós. "Os operários ale- mães e depois os de Blumenau trabalhavam com uma mentali-.

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Quinzena Trabalhadores

dacle quase fanática de amor á pátria, ciue lhes dizia one não «e constrói uma pátria digrna sem a dedicação máxima, a produ- ção no seu limite", diz.

O modelo blumenauense tem como viga mestra esta identidade entre patrão e em- pregado. É famosa na cidade, por exemplo, a imagem de Bru- no Hering, um dos fundadores da Companhia Hering (hoje uma indústria com mais de 12 mil empregados), lendo roman- ces em alemão para os 200 em- pregados que tinha no inicio do século. Havia um contrato sen- timental que colocava as duas partes como integrantes de uma mesma classe social: a dos ale- mães.

LIBERTAÇÃO Na Blumenau de hoje, a no-

vidade é a descoberta da luta de classes. "A greve foi o grito de libertação do trabalhador", co-

memora Osmar Zimmermann. presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blu- menau. Em pouco mais de 30 dias, ele conseguiu transformar o trabalhador da cidade de ou- vinte a reivindicante e. o que é mais impressionante, levar mais de 10 mil pessoas a cada uma das assembléias diárias que realizou no centro de Blu- menau, ao lado da igreja da Ma- triz, na última semana.

Segundo ele, a explicação para este fenômeno é simples e está na própria mudança de per- fil do operário: hoje, como on- tem, começa a trabalhar na fá- brica aos 15 anos, mas não con- segue, depois de algum tempo, respirar tranqüilamente como seus pais e avós, ter sua casa, seu carro.

Zimmermann, que critica a CUT e a CGT pela "falta de ob-

Istoé Senhor - 29.03.89

jetividade nas propostas", acre- dita que a única alternativa pa- ra o trabalhador é politizar-se e, a partir dal, lutar pelos seus di- reitos por intermédio do sindi- cato, e para isso já prepara cur- sos específicos e pretende insta- lar comissões de fábricas, au- mentando a organização dos operários.

Idéias como essas e, princi- palmente, a deflagração de uma greve, perturbam bastante os empresários blumenauenses. O presidente do sindicato patro- nal, Ulrich Kuhn, denuncia a todo instante a infiltração de sindicalistas pauTí i as no movi- mento grevista da idade. Para ele, a greve "é un movimento político na sua est icia". e não vai destruir as relações cons- truídas pelo tempo. "Um modc Io industrial e comunitário não muda de um instante para ou- tro", garante.

Fim do iesafio Depois de dez dias de tensão os trabalhadores saem em

paz da Mannesmann. Um telefonema do governe or Cardoso ao comandante da PM evitou o confroí o

CARLOS JOSÉ MAHQUES

As 20h30 da quarta-feira, 22, a tensãi) chegou ao limite no Centro In- dustrial de Contagem onde 14 das 40 empresas que formam aquele parque atravessavam a segunda semana de paralisação. Nos arredores da usina Mannesmann as luzes foram apaga- das e os metalúrgicos que ocupavam a companhia e dominavam o alto- forno imaginaram a iminência do con- frunto com a policia, autorizada à in- vasão desde a sexta-feira anterior. Ar- mados com ferramentas, sobre barri- cadas improvisadas com tambores, rostos cobertos por camisas e lenços, os operários preparavam-se ao com- bate contra forças policiais equipadas com cassetetes e gás lacrimogêneo. Armas de fogo só nas mãos de ofi- ciais, garantiu a assessoria de co- mando.

Naquela tarde, esgotara-se o úl- timo prazo concedi Jü pela Justiça do Trabalho para â retirada pacífica. Os metalúrgicos depois de acordo em as- sembléia, tomaram posições no setor de luminação, local escolhido para a resistência. Um grupo com dez foi designado para um giro de reconheci- menín nas imediações. Não notaram sinal de movimento. Já passava das 2 lhOO, era o décimo dia de ocupação. Longe dali, momentos antes, um tele- fonema do governador Newton Car-

doso ao major Gilberto Rodrigues, responsável pela operação evitou o pior. "Não quero outra Volta Re- donda aqui", disparou o governador.

#\ ação, que contaria com 1.070 homens considerados de elite e, caso necessário, um helicóptero, estava suspensa. Na Mannesmann e na vizi- nha Mafersa - que produz carroce- rias e vagões - o clima de nervosismo continuaria noite adentro. Na manhã seguinte, os quase 1.000 ocupantes da usina acordaram sob noticia de corte no fornecimento de água e comida, até então mantido pela empresa. Na Mafersa, cerca de 200 trabalhadores grevistas, que no dia anterior tinham ocupado a entrada para piquetes, es- tavam às voltas com policiais. A pas- seata que organizaram no interior da companhia foi seguida de peno por um batalhão do Comando de Opera- ções Especiais (COE).

Mannesmann e Mafersa, até a quinta-feira á noite, eram os focos principais de um movimento ^-àt rei- vindica a reposição de 83,64% de au- mento salarial, Índice pleiteado de ini- cio por todas as categorias. Entendi- mentos na Mannesmann, ao final do dia, diminuíram o impasse. Em acor- dos paralelos, os funcionários de várias fábricas amealharam contrá-

propostas consideradas satisfatórias e foram desembarcando.

Os operários da Belgo-Mincira, que deram a saída do circuito de pa ralisações, realizando a sua desde a segunda-feira, 13, antes portanto de decretada a greve geral, aceitaram a oferta da direção da casa e suspende- ram a mobilização. Já no dia 20, os 3,1 mil funcionáriüs da unidade de trefilana ganharam uma antecipação de 26% retroativa a 1"? de março, des- conto parcelado (até setembro) dos sete dias que ficaram de braços cruza- dos e estabilidade no emprego por dois meses - com adicional de um mês de salário em caso de demissão após esse período. Em troca concor- daram com a suspensão por 15 dias de dois dos dirigentes sindicais e um funcionário, responsáveis por agres- são a seguranças da empresa.

A Belgo-Mineira, nos sete dias sem funcionamento, deixou de produzir quase dez mil toneladas de trefilados, acumulando um prejuízo de NCz$ I milhão/dia. Perdas consideráveis também foram contabilizadas nas de- mais empresas. O Centro das Indús- trias das Cidades Industriais (Ciei) de Minas Gerais estima que a greve te- nha provocado ônus da ordem de US$17 milhões diários - somente nas

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Quinzena m. Trabalhadores

dez unidades fabris. A Mineração Morro Velho, que teve atividades sus- oensas nas unidades de Nova Lima e Raposo, registrou incidente grave: um empregado morreu eletrocutado. Se- gundo os coordenadores do movi- mento, ele teria sido obrigado a traba- lhar numa seção que não era a sua. substituindo grevistas. Na indústria Inbrac, fabricante de condutores elé- tricos (635 empregados, dos quais 90% mulheres), dois dirigentes sindi- cais - Rogério Mamão e Geraldo Boiadeiro - foram detidos.

De todo modo, o centro do episó- dio foi mesmo a Mannesmann. O vice-presidente do TRT, Michel Fran- cisco Mellin, chegou a visitar o local tomado pelos grevistas para servir de. intermediário. Lá recebeu do presi- dente do sindicato dos MetaJúrgicos de Belo Horizonte e Contagem, Paulo César Funghi, um "agravo regimen- taT. O instrumento, quando bem fun- damentado, é capaz de demover o juiz de uma posição tomada anterior- mente, embora não possua caráter suspensivo sobre medidas já efetua- das. O agravo dos metalúrgicos solici- tava o arquivamento da liminar de re

integração de posse dado à Mannes- mann. O argumenU) elaborado pelos advogados baseava-se no fato de que a empresa não teria direito a notificar o sindicato e sim aqueles que conside- rava invasores, ou seja, os trabalha- dores. Lançar o agravo era uma forma de ganhar tempo. O vice- presidente do TRT encaminhou o do- cumento ao juiz Aroido Plínio Gon- çalves, que acabou por rejeitá-b.

Dai por diante, as chances de uma saida pacífica ficaram por conta c}e um recuo de um dos lados. Até a tarde da quinta-feira o quadro perma- necia indefinido. A direção da compa- nhia so aceitava negociar depois que os metalúrgicos saíssem de suas de- pendências. Fsses. por sua vez, te- miam uma repetição da greve de 1986, quando cederam e logo tiveram vários dos companheiros demitidos. À noite, a suiução foi enfim encon- trada: uma pauta de contrapropostas, seguindo o modelo apresentado na Belgo, chegou ás mãos dos metalúrgi- cos e foi aceita. Colchões sobre a ca- beça, cerca de 800 empregados aban- donaram a Mar icsmann.

Nestes dez d.as, a Mannesmann

deixou de produzir duas mil toneladas de aço bruto/dia, com um prejuízo de NCz$ 1 milhãu/dia. Os números são da própria empresa. Em dez dias, já daria para cobrir a folha de pagamentos dos 8,5 mil funcionários por um mês, incor- porando inclusive o reajuste pleiteado. Muito grave foi o riso9 enfrentado pdo alto-fomo, coração da empresa, que fi- cou apenas abafado, alimentado com carvão para manter a temperatura. Após 15 dias fora de operação, poderia apresentar seqüelas estruturais irrepará- veis. Foi pensando nisso que José Maria de Almeida, líder do grupo que ocupava a fábrica,apostava numa invasão da PM até este domingo, quando seriam com- pletados 13 dias de paralisação.

O major Rodrigues, na mesma quinta, assegurava que, duas horas antes de entrar com seus homens, di vulgaria um aviso informando a ma neira como a tropa iria proceder. O presidente do Ciei, Stefan Salej, que acusou os operários de usarem técni- cas de "guerrilha urbana", era favorá- vel à radicalização. "Greve violenta terá resposta na mesma moeda", ameaçava. Felizmente não foi ouvido.

Jornal do CMAP - Outubro/88

A nova ordem sindical matéria é complexa. O texto constitucional dá margem a dúvidas. Certamente teremos um longo período de ebulição, de dúvidas e, sobretudo, de questões judiciais. Disciplina o texto constitucional:

"Art. 8" Ê livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

I — a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressal- vado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a interven- ção na organização sindical:

II — é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau. representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou em-

' pregadores interessados, não podendo ser in- ferior ã área de um Município:

III — ao sindicato cabe a defesa dos di- reitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas:

IV — a assembléia geral fixara a con- tribuição que. em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema da representa-

fliillli

çdo sindical respectiva. inai.pendt demente da corv tribuição prevista em lei:

V — ninguém será obri± do a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato:

VI — e obrigatória a participação dos sin dicatos nas negociações coletivas de trabalho:

VII — o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais:

VIII — è vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candi- datura a cargo de direção ou representação sindical e. se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Parágrafo único — i4s disposições deste artigo aplicam-se á organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

O principio fundamental é o da liber- dade de organização e de atuação sin- dical. Esse principo é a afirmação do "caput", repetido de forma peremptória em seu inciso I, ao estabelecer a vedação ao Poder Público de interteréncia ou in- tervenção na organização sindical. Ob- serve-se que o legislador constitucional não se limitou a vedar a intervenção, mas também proibiu a interferência.

A primeira conseqüência é a revo- gação automática de todos os dispos- tivos de legislação ordinária que per- mitem a intervenção ou a interferência do Poder Público. O Estado não poderá interferir em nada que diga respeito à or- ganização sindical: formação, organi-

zação, eleições, mandato, etc. Tudo deve ser decidido pela assembléia da categoria profissional.

Deve-se ter presente que, na socie- dade, só o Estado é detentor de sobe- rania. As entidades sindicais serão autônomas, mas não soberanas. A as- sembléia geral do sindicato é soberana em relação aos interesses da categoria, mas a entidade sindical está jungida a todo o ordenamento jurídico. Assim, a entidade sindical deve atuar em sintonia com as normas legais vigentes. Poderá lutar para mudar as leis, mas está sub- metida ás mesmas. Não se trata de qual- quer enfoque em relação à resistência civil contra ordenamentos injustos, com- portamento que faz parte da própria es- trutura democrática, mas apenas a afir- mação de que a autonomia não significa estar à margem do ordenamento jurí- dico.

Contudo, a própria norma consti- tucional, ao mesmo tempo em que con- cede liberdade sindical, estabelece li- mites:

a) registro em órgão competente; b) unicidade I — por categoria

(econômica e profissional) II — em qual- quer grau; — III — com limite não in- ferior ao Município; IV — preservação do sistema confederativo;

c) proibição de sindicalização obri- gatória;

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d) obrigatoriedade de que as con- tribuições atendam ao custeio do sistema confederativo;

e) obrigatoriedade do direito de votar e ser votado, para os aposentados, e filiados.

Paralelamente às obrigações, sâo es- tabelecidas, de plano, no texto consti- tucional, vários direitos, alguns como contrafação das exigências:

a) de livre organização, represen- tativa e territorial;

b) representação da categoria e não apenas dos associados; que abrange o nível individual eo coletivo, alcançando, no plano individual, a substituição processual, judicial e administrativa;

c) de receber contribuições fixadas em lei e de fixar contribuições da categoria em assembléia;

d) de se filiar e de se desfiliar;

e) de participação nas negociações coletivas;

f) de votar e ser votado, para o aposentado filiado;

g) de estabilidade, para os cargos de direção e de representação, ainda que suplente, desde o registro até um ano após o final do mandato, se eleito.

Nas disposições transitórias, art. 10, ficou dispsto;

"// — fica vedada a dispensa arbi- trária ou sem justa causa:

a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de preven- ção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o finai de seu mandato;

§ 2". A té ulterior disposição legai, a cobrança das contribuições para o cus- teio das atividades dos sindicatos rurais será feita juntamente com a do imposto territorial rural, peto mesmo órgão ar- recadador"

•Assim é que paralelamente e vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa do empregado eleito para cargo de di- reção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o registro da can- didatura até um ano após o final do man- dato, e o direito dos trabalhadores rurais do recolhimento da contribuição sindical será feito conjuntamente com o paga- mento do imposto territorial rural.

A partir daí as perguntas são muitas. Apresentaremos respostas breves que diante desta matéria controvertida, representam apenas o nosso modo de ver.

Qual o órgão competente para o registro?

A Constituição não definiu. Para os trabalhadores é importante que a curto prazo seja definido qual é esse órgão. Como o Ministério do Trabalho editou portaria assumindo esse encargo, até que não venha outra regulamentação

recomenda-se que o registro seja feito no Ministério do Trabalho.

Está havendo uma tentativa das Confederações de criar um órgão conjun- to de todas as Confederações de tra- balhadores e patronais assumindo esse encargo. E uma opção.

2 Qual o poder do órgão?

Qualquer que seja o órgão o seu poder estará restrito a verificar se estão aten- didas as exigências constitucionais: unicidade e base territorial não inferior ao Município, fundamentalmente.

3 Quando dois agrupamentos pretenderem a mesma representação, a nível de categoria ou a.nivel territorial, parcial ou globalmente, como será solucionado o impasse?

O órgão em questão, de registro, não poderá ingressar nesse terreno. Somente os trabalhadores poderão decidir essa matéria. Deve ser buscada uma forma em que democraticamente possam ser ouvidas as bases de representação. Eventualmente, a matéria irá ser de- cidida judicialmente.

4 Como serão feitas as fusões e os desmem bramentos?

Da mesma forma apontada no item anterior. Deve ser buscada a manifes- tação de vontade das bases. Sempre que houver consenso para a fusão, ela deve ser feita, mesmo com a fusão de cate- gorias profissionais diferentes, uma vez cjue a vedação constitucional diz respeito à proibição de pulverizaç, j da categoria, não havendo proibição de soma de ca- tegorias.

P* O que deve se entender çj por "categoria profissional?"

A Constituição não definiu categoria profissional. A legislação ordinária, em tudo que não contraria o texto consti- tucional, continua em vigor. A definição de categoria profissional deve ser a adotada pelo § 2o, do art. 511, da CLT, que disciplina:

"§ 2o. A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mes- ma atividade econômica ou em ativi- dades econômicas similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profis- sional".

Por sua vez, o § Io define categoria econômica como:

"§ 1°. A solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem ati- vidades idênticas, similares ou conexas, constitui o vinculo social básico que se denomina categoria econômica".

Assim, enquanto não houver uma reformularão da lei, prevalecem as ca- tegorias profissionais e econômicas previstas na CLT, especificamente no quadro do art. 577.

C As categorias existentes \J podem ser alteradas?

Sim, a legislação pode alterar as categorias existentes.

No caso dos trabalhadores poderem decidir sobre a alteração, como serão resolvidos os conflitos de interesses?

Os trabalhadores deverão atuar a nivel legislativo para a alteração Sas categorias. Contudo, os trabalhadores não precisam ter grandes preocupações, porque no nosso entendimento, nâo faá obstáculo para a fnsáo de categorias. A única dificuldade seria para a divisão de categorias, o que não deve interessar aos trabalhadores.

Poderá constituir-se um mesmo sindicato de trabalhadores públicos e privados?

Sim. A organização sindical é por categoria profissional e inexiste di- ferença entre trabalhadores públicos e privados de uma mesma categoria. Exemplo: professores públicos e pri- vados.

9 Como ficará a parcela da contribuição sindical que era destinada ao Ministério do Trabalho?

Deve automaticamente ser destinada ao S indicato correspondente.

•f A A contribuição imposta I ^ | em Assembléia se refere at

associados ou á categoria?

Refere-se á categoria. O texto aprovado em 2 o Turno expressamente se refere a contribuição da categoria. Na redação final, quando nâo era permitido haver alteração de mérito, suprimiu-se a expressão "da categoria", para não haver repetição com a expressão a seguir usada de "categoria profissional".

-■• ~? E permitida a organização por ramo de produção?

Sim. Sendo a liberdade de organi- zação o principio básico, tudo o que não for proibido é permitido. Assim, poderão os trabalhadores de empresas jornalís- ticas se unirem em um único sindicato, congregando jornalistas, gráficos, em- pregados de empresas jornalísticas, etc.

Romeu da Fonte, Secretário do Tr«b«lho do governo do Estado de Per- nambuco.

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Quinzena w Trabalhadores Cenários RH Sindical - Março/89

O PDT sem Juarez A morte do prefeito de Volta Redon-

da, ouarez Antunes, representou uma perda considerável nas hostes sindicais do PDT. Afinal, o partido sempre atuou de forma dispersiva nos sindicatos, co- mo reconhece um de seus principais lí- deres na área, Ronald Barata, diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. E Juarez era um dos nomes fortes do PDT no meio, credenciado por sua atuação frente ao importante Sindi- cato dos Metalúrgicos de Volta Redon- da. Mas os militantes do partido não acreditam que essa perda possa de- sorganizar os planos do PDT: eles apostam na recém-criada Secretaria Sindical do Partido - da qual, aliás, Juarez foi um dos mcentivadores.

Responsável por essa Secretaria. Ronaid Barata garante que, agora, o PDT possui "um pólo aglutinador" e uma orientação para a atuação dos sindicatos sob sua influência A palavra influência, no entanto é algo que Barata rejeita

- Não existem sindicatos na mão do partido. Temos uma política de atuação na defesa do interesse da categoria - afirma.

Mas Barata se trai quando fala da criação de um comitê de sindicatos pr6-Brizola para fazer a campanha do

candidato do PDT à Presidência da República Ele conta aue o comitê seá liderado pelos metalúrgicos de volta redonda, ferroviários e bancários, exa- tamente os sindicatos onde o PDT con- seguiu eleger diretores.

Mais cuidadoso, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda, Marcelo Felício, prefere dizer que seu apoio a Brizola é "pessoal, não do Sindicato". Mas admite:

- Se, como dirigente sindical, meu apoio tem uma determinada represen- tatividade, aí, é outro assunto.

Independentemente da candidatura Brizola, o PDT tem de se organizar no meio sindical se não quiser ser engolido pelo PT. Juarez Antunes era uma lide- rança de peso comparável às lideran- ças petistas. Será que o PDT ainda tem nomes tão fortes quanto a do ex-pre- feito? Marcelo Felício prefere adiar esta questão, "pois ainda não pensei nela". E Barata opta por criticar a tendência partidarizante usada pelo PT no meio sindical.

A Secretaria Sindical, criada no final do ano passado, começou seu trabalho com a preocupação de fornecer ensi- namentos teóricos aos trabalhadores. Além de cursos de sindicalismo, os pla- nos de Barata incluem palestras com os

líderes das centrais sindicais e aulas sobre marxismo, a cargo de Luís Carlos Prestes, e, como não podia deixar de ser, sobre trabalhismo.

Outra orientação da Secretaria é manter o apoio à CUT. Segundo Bara- ta apesar de uma minoria "inexpressi- va" de militantes pedetistas atuarem na CGT, o PDT definiu em congresso a sua opção pela central dominada pelo PT. As críticas que Brizola têm feito ao PT nesta pré-campanha presidencial não vão afetar a relação entre os dois parti- dos na CUT, acredita o secretário sin- dical:

- A CUT é pluripartidána há o PCB, PSB, PDT, além do PT. O Meneguelli (Jair Meneguelli, presidente da CUT) já foi advertido por confundir a CUT com o PT e mudou seu discurso. A nossa convivência dentro da CUT é boa e não vejo porque isso iria mudar.

Os maiores problemas que o PDT enfrenta na CUT, conta Barata não vêm do PT em si, mas de um grupe abrigado no PT, a Convergência Socia- lista Segundo ele, no movimento sindi- cal, esse grupo nem se assume como PT, mas revela uma identidade própria, "contra a qual o PT mesmo luta", argu- menta Barata As divergências de Ba- rata com a Convergência começam nc Sindicato dos bancários, onde a lide- rança pedetista é obrigada a se con- frontar com um dos principais nomes da tendência abrigada no PT, o presidente do Sindicato, Cyro Garcia

Caderno do CE AS N'119- Jan/Fev/89 O texto abaixo faz parte do artigo "Pastoral Popular e

Movimentos Sociais" publicado peh autor no Caderno do CEAS.

O problema da formação política A necessidade de programas de formação política também tem sido apontada por diversos setores da pastoral como uma condição para superar a debilidade dos movimentos sociais e aprimorar a contri- buição da pastoral. Essa é uma colocação bem insistente nos últimos tempos. Su- põe-se que, numa conjuntura de desânimo e desestímulo dos movimentos sociais, a maior formação — ou conscientização — das classes populares seria um fator im- portante para a maior dinamização e mo- bilização das suas iniciativas de luta. Nes- te sentido, diversos setores da pastoraJ não apenas têm multiplicado encontros, reuniões ou cursos de formação política para animadores de base, lideranças, etc, como têm também incentivado a sua par- ticipação em cursos promovidos por ou- tras instituições ligadas aos movimentos sociais.

Ninguém duvida da importância da infor- mação e da formação dos setores popula- res. O problema não está aí, mas às vezes tem-se a impressão de que o recurso á for- mação política nos moldes como tem sido feita seja um fugir de dificuldades de outra ordem. Corre-se o risco de ficar no

plano do idealismo, simplificando a com- plexidade da realidade. Certos esquemas tradicionais de formação - apesar dos propósitos em contrário - e certos re- sultados já visíveis levantam dúvidas so- bre a solução encontrada. A formação de lideranças, por exemplo, freqüentemente tem um resultado que deixa interrogações muito sérias: não raro, os indivíduos for- mados acabam por se descolar do seu te- cido social de base e se reagregam em uni- versos onde eles permanecem dependen- tes dos "formadores" (mais intelectuali- zados), ao mesmo tempo em que perdem a capacidade de diálogo com os seus pri- meiros iguais. Em relação a esses, muitos acabam assumindo uma postura de supe- rioridade — quando não de autoritaris: mo - em nome da "conscientização" que passaram a ter. A formação continua um grande desafio!

Explicitando melhor alguns questiona- mentos, impressiona a insistência sobre a clareza que os participantes dos movi- mentos sociais devem ter: "é importan- te que cada movimento local tenha cla- ro... os participantes dos movimentospo- pulares devem ter claro... distinção muito

clara.... falta de uma política mais cla- ra...". E sempre possível ter essa clareza? Sobretudo numa situação de transição e quando certos instrumentos teóricos revelam suas insuficiências?

É evidente a necessidade de aprimorar um instrumental de análise, a ser con tinuamente repensado a partir da práti- ca e na prática. E talvez aqui haja muito simplismo nos meios da pastoral. Mesmo quando seus agentes ou assessores pre- tendem não trabalhar com os preconcei tos ideológicos das concepções vulgares ou doutrinários do marxismo, o pressu- posto básico dos seus projetos e cursos de formação é quase sempre a luta de classes que implica a "existência de uma força (classe) localizada no centro da pro- dução e capaz de transformar a sociedade através da luta, a partir de um projeto prévio". Hoje, isso parece não dar conta da realidade toda, pluralista e particular, múltipla e fluida.

Deve-se reconhecer a importância da abordagem sócio-político-econòmica e a contribuição do instrumental analítico

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í

Quinzena Trabalhadores

"luta de classes". Ninguém nega a exis- tência de um conflito entre as classes. 0 próprio Papa João Paulo II, em sua encícli- ca sobre "0 Trabalho Humano", reconhe- ce o "conflito entre o mundo do capital e o mundo do trabalho". Sem querer entrar numa discussão bem complexa, pode-se dizer que o problema, em primeiro lugar, nâo está em negar o instrumental de aná- lise "luta de classes", mas no modo como a classe trabalhadora — ou suas vanguar- das tem formulado seu programa de luta, utilizando, às vezes, esquemas determinis- tas e aprionsticos questionáveis. Em se- gundo lugar, trata-se de reconhecer que tal instrumental é limitado, quer dizer, não consegue prestar conta da comple- xidade da vida toda. Mesmo a Teologia da Libertação nem sempre considerou suficientemente outras abordagens como, por exemplo, a abordagem antropológí- co-cultural. Utilizai também o enfoque cultural nao significa voltar atrás, mas avançar mais, completando o enfoque só- cio-analítico.

Em várias partes do mundo - e também

aqui no Brasil —, as grandes interpreta- ções do social e as visões totalizantes da sociedade e da história estão sendo ques- tionadas. Questionamentos deste tipo po- deriam ajudar a pastoral a compreender melhor o "relativo", "o contidiano", o "local", o "louco". No fundo, reaparece hoje a antiga sabedoria (esperteza) do po- vo: à racionalidade do poder, não opõe a praxis revolucionária (ainda mais racio- nal), nem a temática da utopia e da Uber- tação (mística cristã), mas a resistência fluida, cínica, divertida... 0 problema é complexo e desafiador. A crítica ao ra- cionalismo onipresente dessas visões to- talizantes não pode parar na constata- ção das situações sociais e das dimen- sões humanas que tais visões não con- templam. Há que construir outra raciona- lidade. Uma praxis revolucionária não prescinde da razão, não prescinde de um permanente esforço de elucidação da rea- üdade em suas múltiplas dimensões e ar- ticulações. Mais precisamente, a constru- ção de um tempo histórico novo implica em pensar os caminhos dessa construção, a cada momento e em cada movimento.

Pensar com a razão, com a imaginação cora a emoção, sem que nenhuma preva leça sobre a outra, embora possam ter m tensidades diferentes em cada situação concreta. Razão e paixão vão juntas, não podem ser sepradas. Dentro disso, inclu- sive, diria que as próprias constatações e valorizações da resistência fluida, cínica e divertida do povo estão carecendo de um discernimento mais agudo, particular mente no âmbito da pastoral.

Um outro aspecto é o nível muito acadê- mico de vários cursos de formação ofere- cidos pela pastoral e a absolutizaçao da lógica do pensamento científico. Seria im- portante abrir espaços maiores para a rica experiência da educação popular dos últi- mos anos no Brasil, e para a emergência e desenvolvimento das "lógicas" do pen samento popular, de suas informações e pontos de vista, de seus sentimentos e emoções, de seus sonhos, frustrações e aspirações.

Voz Sindical- 17.03.89

CAMPO. DE CONCENTRAÇÃO?

Depois da violenta repressão a posseiros em Salto do Jacuí (RS) promovida pela Brigada Militar,

as sempre tensas relações entre o Mo- vimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o governo federal chegaram a um ponto explosivo. No último dia 14, às 8 horas, enquanto a greve geral parava o País, 60 lavradores de 11 esta- dos ocuparam a sede do extinto Minis- tério da Reforma Agrária (Mirad) e res- ponsabilizaram a UDR e o governo pe- la violência ocorrida em Salto do Jacuí.

Outros 250 lavradores promoveram ocupações simultâneas de órgãos liga- dos à reforma agrária na Bahia, Santa Catarina e Espírito Santo. Os manifes- tantes exigem a libertação dos 36 pre- sos nos conflitos em Salto do Jacuí e na Bahia, além de desapropriações em 13 estados para resolver a situação de 12 mil famílias acampadas e a criação de um órgão específico para reforma agrária ligado à Presidência da Repú- blica.

O clima de tensão em Brasília era evidente pelas declarações dadas pelos dirigentes do MST. José Raimundo Jú- nior, por exemplo, disse que "para nós a guerra já está declarada", referindo- se ao quase massacre de cerca de mil famíliai que ocupavam a fazenda Santa Elmira em Salto do Jacuí, ocorrido no último dia 12

A ocupação do Mirad e de órgão;* ligados ao extinto Ministério faz pane de uma arrancada de ações do MST, que visam demonstrar o descontenta mento com o descaso do governo fe-

deral frente ao problema da reforma agrária. Esse descaso fica evidente com a extinção do Mirad. dizem o.s líderes do MST. Welton Fernandes do MST, garante que as ocupações são pacificas e que não há interesse no confronto

Volta Redonda rural Já em Salto do Jacuí, no interior do

Rio Grande do Sul, a disposição dos sem terra e, principalmente, das auto- ridades estaduais era de ir para o con- fronto. Os lideres da ocupação da fa- zenda Santa Elmira já haviam dito que resistiriam a tentativas de retirá-los Mesmo porque já seria a sexta vez que negociariam e aceitariam serem remo- \idos para um acampamento provisó- rio. Esgotada a paciência, decidiram re- sistir.

Do lado das autoridades, o juiz Hér- cio Costa de Souza, que determinou a desocupação, mandou alertar os hos- pitais da região, além de requisitar am- bulâncias Isso no dia anterior Antes da investida dos 800 soldados da Briga- da Militar, dois aviões atiraram bombas de gás lacrimogênio sobre os possei- ros. Foram duas horas de ataque.

O resultado dessa Volta Redonda ru- ral, como qualificou o fato um dos líde- res do MST no estado, foi 30 presos (22 deles tonurados), 80 feridos — 3 soldados e 17 colonos baleados ou cor- tados por baionetas — e 24 desapa- recidos.

O Estado de São Pauto -16.03.89

Sem-terra só conseguem uma reivindicação

BRASÍLIA — Depois de dois dias de negociação, os 60 sem-terra que tomaram ter- ça-feira a sede do extinto Minis- técio da Reforma Agrária deixa- ram o prédio ontem á noite com poucas vitórias. Das sete rei- vindicações, apenas uma, par- cialmente, foi atendida: a liber- tação de oito lavradores presos em Itamaraju, na Bahia. A si- tuação dos 30 detidos do Rio Grande do Sul permaneceu inal- terada.

Para os lideres dos sem-ter- ra, porém, José Rainha Júnior e Pedro Fassamai, o movimento teve êxito. Citaram a libertação dos lavradores baianos, a au- diência de dom Luciano Men- des, da CNBB, com o presidente José Sarney, realizada ontem à tarde, e a solidariedade recebi- da até dos Estados Unidos e Eu- ropa- Enquanto aguardavam o resultado da reunláo de secretá- rios do antigo ministério com o ministro da Agricultura, íris Rezende e'a votaçáo, pelo Con- gresso, da medida que extingue o Ministério da Reforma Agrá- ria, os sem-terra passaram o dia de ontem cantando.

Os participantes da vigília tinham anunciado, anteontem, q»e permaneceriam no prédio ^£é que suas reivindicações fos- sam atendidas. O recuo, segun- do os dirigentes do Movimento dos Sem-Terra, deveu-se a uma decisão majoritária do grupo, dç Que a ocupação deveria durar apenas dois dias como forma de marcar sua solidariedade à gre- ve geral. ^^

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Quinzena Trabalhadores

Depois da audiência com Sarney, dom Luciano disse ter recebido a promessa de que o governo manterá um canal de diálogo com os sem-terra para evitar casos de violência.

Opinião

Ministério fantasma

Um grupo de sem-terra ocu- pou o prédio do antigo Ministério da Reforma Agrária (Mirad), an- teontem em Brasília, para protes- tarlcontra a prisão de um grupo de-invasores de terra no Rio Gírànde do Sul. Como o Mirad, a rigor, foi extinto pelo governo há

dois meses, no mesmo pacvu: que criou o Plano Verão, o episódio revelou uma cena extravagante: a ministério invadido pelos seni-terra não existe, como tam- bém não existe até hoje a reforma agrária prometida pelo atuai go- verno. Dentro desse prédio, no entanto, estão duas centenas de funcionários, que, todo final de mês, recebem normalmente seus salários. Nos outros estados, o "eírtinto" Mirad sustenta outros 7.200 funcionários nas mesmas condições.

Gazeta Mercantil -15.03.89

Agricultores sem terra ocupam, em Brasília, a sede do extinto Mirad

A liderança nacional do Movimento dos Trabalha- dores Sem Terra ocupou ontem o prédio do extinto Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário (Mirad) para repudiar a violência praticada contra os agricultores dos estados do Rio Grande do Sul e da Bahia e exigir o assenta- mento de 12 mil famílias de produtores acampadas em diversos pontos do país.

"A violência é o desespe- ro do próprio governo, que não conseguiu garantir ter- ra a milhares de famílias de agricultores", disse em entrevista coletiva, José Rainha Júnior, do Espírito Santo, um dos sessenta lideres que deverão ficar em vigília de protesto até esta quarta-feira.

Em um documento enca- minhado ao ministro da Agricultura, íris Rezende, os agricultores responsabi- lizam o governo pelo confli- to que resultou em 400 feri- dos e 22 prisões, ocorridas na Fazenda Santa Armin, no último sábado, no Rio Grande do Sul. Foi arrola- do ainda o despejo violento

CONFLUTOS DE TERRA (Número de mortos por atividade profissional)

1987 Ativídod» Total

TrabalhadorM rurois 139 índios 13 Emprtgados d« fazendo 13 Proprietários t prtttnsos 16 Pistoleiros 19 Políciois 9 Clérigos 1 Advogados 3 Prodssflo nflo idenfif. 12 Garimpeiro 7 Outras profissões 12 Total 244

Fonte: CCA/MIRAO

de 120 famílias de agricul- tores de Sapocaíra, na Ba- hia.

Rezende, em orientação aos diretores de assenta- mento e assuntos fundiá- rios da reforma agrária, te- ria dito que não compete ao extinto Mirad decidir sobre as prisões e conflitos. "O assunto é de competência dos governos estaduais", disse o ministro, segundo um assessor direto.

O presidente da Confede- ração Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom

Luciano Mendes, após re- ceber ontem uma comissão de agricultores sem-terra que foram relatar a situa- ção de conflito no meio ru- ral, prometeu levar ao pre- sidente da República as de- núncias dos agricultores de atos de tortura praticados pelas policias do Rio Gran- de do Sul e da Bahia.

Os sem-terra deverão discutir hoje com os direto- res do Mirad uma ação mais firme para garantir o assentamento de 12 mil famílias de agricultores. "A Constituição beneficiou o latifúndio ao deixar vago o conceito de terra produti- va.

Ou o governo garante as terras para nós, traba- lhadores, ou passaremos a ocupar toda propriedade que não está produzindo", diz o líder do Rio Grande do Sul, Afonso Dallanora.

No Rio Grande do Sul, o movimento está reivindi- cando o assentamento de 550 famílias do Salto do Ja- cuí e 800 famílias que estão há três anos acampadas na Fazenda Anoni. "Estamos como mala de bêbado, jo-

gada de um lado a outro, esperando pela reforma agraria", diz Dallanora.

A Fazenda Anoni, de 9 mil hectares, foi desapro- priada por uma negociação com os proprietários há três anos, após uma discus- são judicial de quinze anos. O ex-presidente do Incra, Rubem Ilgenfritz da Silva, chegou a criar um projeto de assentamento agrícola, mas o projeto ficou no pa- pel e até agora oitocentas famílias estão cultivando a área sem ajuda do gover- no.

"Para garantir agilidade ao processo da reforma agrária, o governo tem de criar um órgão especifico para assuntos de reforma agrária ligado á Presidên- cia da República", defen- deu João Pedro Sledile, um dos líderes do movimento.

Os sem-terra querem que o governo garanta a libera- ção de NCz$ 100 milhões do programa de reforma agrária, o Procera, e os re- cursos do orçamento do Mi- rad, de NCz$ 700 milhões, que foram absorvidos pelo Ministério da Agricultura.

Gazeta Mercantil -15.03.89

As metas frustradas do governo

Ivonir José Bortot

Os assentamentos feitos até agora foram em núme- ro muito inferior ao previs- to no Plano Nacional de Re- forma Agrária (PNRA) aprovado pelo governo do presidente José Sarney pa- ra o período 1985/89. O pla- no estabelecia o assenta- mento de 1,4 milhão de agricultores sem terra, de um contingente de 12 mi- lhões de brasileiros com potencial de ser aproveita- dos no campo, em uma área estimada em 43 mi- lhões de hectares.

As metas do PNRA para o último ano do governo do presidente da República

previam o assentamento de 500 mil famílias de agricul- tores em diversas regiões do País.

Após quatro anos de re- definições de metas e de cinco substituições de mi- nistros no Ministério da Re- forma e Desenvolvimento Agrário, o governo conse- guiu assentar apenas 41.711 famílias de produtores ru- rais em 1,4 milhão de nec- tares.

Os obstáculos criados pe- lo Executivo, como demora no trâmite dos processos de desapropriação, os entra- ves do Judiciário e a falta de recursos estão sendo apontados pela Associação dos Funcionários do Minis-

tério da Reforma Agrária como um dos fatores que influíram contra a execu- ção das metas de reforma agrária.

"O governo gerou uma expectativa entre milhares de trabalhadores, trazendo problemas insolúveis", dis- se qualificado funcionário do Mirad.

O recrudescimento da violência no campo está as- sociado à perspectiva de execução da reforma agrá- ria. "Com mais de 12 mil famílias de colonos sem terra em acampamentos aguardando pela reforma agraria, a tensão social só poderia aumentar", diz es-

se técnico. As mortes em conflitos

por terra, levantadas pelo próprio Mirad, referendam esse raciocínio. Entre 1964 e 1970 foram registrados 48 casos de morte em confli- tos agrários. Entre 1985/87, período em que foi criado o Mirad. ocorre^m 803 ca- sos de morte. "Esses nú- meros podem estar, inclu- sive subestimados", anali- sa o técnico. A Coordenado- ria de Conflitos Agrários, que realizava esse acompa- nhamento, foi desativada a partir de 1987, após a morte do ministro Marcos Freire.

O trabalho da Coordena- doria de Conflitos Agrários apontava em 1987 um le-i

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Quinzena

vantamento indicando a existência de conflitos em 2,5 mil imóveis rurais em todo o Pais envolvendo di- retamente quinhentas famílias.

A Comissão Pastoral da Terra registrou, em 1987, a ocorrência de 782 conflitos no campo, dos quais 582 ca- sos envolviam disputa dire- ta pela posse da terra.

Para a Associação dos Funcionários do Mirad, em documento divulgado on- tem, os conflitos no campo continuam refletindo a in-

justa estrutura agraria do Pais, que vem se mantendo inalterada. Com base no úl

timo censo agropecuário, os imóveis com menos de

hectares representam ÁREAS OBTIDAS PARA ASSENTAMENTO

Período da Março d» 1985 a Dezembro de 1988 ~\ 1 . 1 ! .

Nortt NordMt* SudMta Sul Centro OE

Total

Afo» Dotopropriodoi

NO 83

308 73

109 103

573

Artot (ha) 000

1.713181 1.170741

353148 119528 932719

4.190021

fonta: Incra/MIroda- DPQ - Jon 1989

Cap. A<s*nt.

32.951 33.225 12.531 6.886

16.906

102.487

Ar»o lml»»8o jjj Po»»«

NO 34

121 32 65 31

282

Arco OOO

406907 607816 115082 66677

281139

1.477623

Aotnt.

8.542 18.228 4.512 4.341 6.088

41.71

30.4% do total dos produto- res e ocupam apenas 2,5% da área agrícola do País. Os imóveis com mais de mil hectares, representam 0,9% dos produtores brasi- leiros, e ocupam 45,1% do totai da área agrícola e os 600 maiores proprietários rurais detêm cerca de 62 milhões de hectares, 20 mi- lhões de hectares de terra além do que o governo ne- cessitaria para realizar a reforma agrária no País, dentro das metas do PNRA.

Teto e Chão - Fevereiro/89

CONSELHOS POPULARES DE SAÚDE DONAS DE CASA NO MOVIMENTO

"Nós mulheres da periferia de São Paulo, Zona Leste, estamos organiza- das num grande Movimento de Saúde. Hm 96 bairros há um grupo de donas de casa que atua junto às necessidades de saúde. Nós formamos em cada bairro um Conselho Popular de Saúde.

Nós somos conselheira.s bem esclare- cidas, politizadas com a tarefa de transformar as coisas. Nos Conselhos temos claro que não basta reivindicar só. Queremos melhorar o atendimento médico na periferia, aumentar a quali- dade de serviço que a gente recebe. A garantia de que o atendimento seja bom. A tarefa de fiscalizar é trabalho da Secretaria. Mostramos para a nossa gente a diferença entre um Posto de Saúde, Centro de Saúde, um hospital.

Como chegar na Secretaria, falar com o secretário, afinal como chegar no poder. Hoje a gente não fica só me- xendo as panelas .em casa. Na parte da saúde somos Conselhos fortes, repre- sentativos. Isso que a mulher prefeita, Luiza, precisa. Com ela no poder as pessoas pobres, como nós, se sentem no direito de participar mais, de co- brar mais. É uma cobrança justa e te- mos certeza de que ela sabe disso.

Nós vamos trabalhar com a Luiza porque ela é como alguém de nós. Começou a luta conosco. É migrante.

É sofrida. A polícia bateu nela, como muitas mulheres apanharam nas ocu- pações de terra. Nós consideramos que ela estando no comando da prefei- tura, o próprio povo está governando.

A PRÁTICA DO CONSELHO POPULAR

Nós mulheres formamos o grande

Movimento das Donas de Casa, bem nutrido, estruturado ao longo "dos anos, mais voltado para a sáude. Em 1979, no Jardim Nordeste — Zona Leste — SP, junto com um grupo de estudantes de medicina e o pessoal li- gado à Igreja, criamos o primeiro Conselho Popular. Hoje existem 76 Conselhos Populares de saúde, todos ligados ao Movimento de Sáude. Na última eleição para a escolha de 1.500 representantes votaram cerca de 100 mil pessoas. Os Conselhos são reco- nhecidos pela Secretaria de Saúde do Estado. Em cada Conselho são eleitos 20 dirigentes. A coordenação que co- ordena a atuação dos 76 Conselhos é escolhida através da eleição direta de um nome em cada uma das 12 regiões.

Outras 10 pessoas de compromisso com o Movimento são indicadas em Assembléias anuais. Graças aos Con- selhos Populares, conseguimos a construção de cinco hospitais na re- gião e vários Postos de Saúde. Nós queremos nos manter autônomos da administração mesmo que seja do PT.

Porque nos Conselhos participam gen- te de outras tendências: PT, Igreja, outros partidos. Nós ainda não pode- mos afirmar que na nossa região haja um Conselho Popular único. Há o tra- balho democrático, voluntário, orga- nizado na área de saúde. Quando houver conselhos de transporte, edu- cação, habitação etc. todos reunidos, aí sim. A brecha para montá-los está ali, com a ascenção da Luiza ao poder o povo vai se mobilizar. Nossos Con- selhos de Saúde podem mostrar o ca- minho, mostrar a nossa prática. Ape- sar de sermos um bando de donas de casa estamos empenhadas a criar con- dições de vida para nós e nossos fi-

lhos. O nosso movimento já é um Conselho Popular. Porque nossa prá- tica é consultiva, organizada, com ob- jetivos claros e interferimos nas de- cisões. Então já estamos praticando o poder popular numa situação do povo bem localizado. Temos poder popular. temos poder local. É a própria Luiza que diz que tem que ser assim. Vamos cobrar do PT com mais entusiasmo

OS OBJETIVOS DO

MOVIMENTO

Vamos eleger os Conselhos de Saúde, distribuído por toda Região Leste-SP:

1. Trabalhar por .melhores con- dições de saúde e pela redução da mortalidade infantil.

2. Exercer o controle popular sobre os órgãos públicos, fiscalizando a qualidade dos serviços prestados e participando nas decisões que são to- madas na área de saúde.

3. Reivindicar mais verbas para a saúde e que os recursos do Inamps se- jam utilizados na rede pública e não nos convênios particulares.

4. Lutar contra a medicina de lucro (hospitais particulares com fins lucra- tivos, hospitais contratados, convê- nios, medicina de grupo).

5. Lutar por um sistema único de saúde, público, gratuito, e de boa qua- lidade, garantindo o acesso a todos e controlado pela população organizada em Conselhos de Saúde.

Ainda estamos longe do ideal, mas já é alguma coisa. E se conseguimos essa alguma coisa foi porque luta- mos".

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Iliii Quinzena

METALURGKX)S DE SÃO BERNARDO E

DIADEMA (SP) Um dia depois da Greve Geral os

operários da Scania e Ford Tratores pararam. Na Scania os trabalhadores querem reposição de 49% e, na Ford, eles exigem o fim das demissões,com a implantação do sistema de demissão voluntária e Comissão de Fábrica. Após negociação com a direção da Ford os trabalhadores aceitaram o acordo que prevê a estabilidade no emprego por 90 dias e benefícios adi- cionais para os demitidos (dois e meio salários a mais e assistência médica por 90 dias). Com isto retomaram o trabalho.

Na Fris-Moldu-Car, a greve che- gou ao final após os trabalhadores conquistarem 10% de aumento real, equiparação salarial interna, início da discussão para a implantação da Co- missão de Fábrica e sistema de trans- porte.

Na Rolls Royce, depois de 14 dias parados, os trabalhadores aceitaram a proposta da empresa e retomaram ao trabalho. Com a greve tiveram as se- guintes conquistas: 10% de aumento e 20% de antecipação; equiparação sa- larial interna e com o mercado e início das negociações para implantação de Comissão de Fábrica. A empresa se comprometeu a não punir os grevistas e serão descontados nove dias da gre- ve em três parcelas.

Outras empresas metalúrgicas que estão em greve são: Toshiba, Metalúr- gica Edscha, APV, Incodiesel e Digi- rede. (Fonte: Diário do Grande ABC) ABC)

TÊXTEIS FAZEM ACORDO (SQ Após uma greve histórica de 11

dias, os trabalhadores têxteis de Blu- menau decidiram retomar ao trabalho. A assembléia, que contou com a parti- cipação de 15 mil pessoas, aceitou a proposta patronal de 1,84% em março (a título de reposição salarial), mais 33,1% de antecipação em maio (sobre o salário de abril) e 5,18% em junho

em cima do salário de maio. Além dessas conquistas, os trabalhadores ainda garantiram outras vantagens como o parcelamento dos débitos junto às cooperativas. Os dias parados serão compensados até setembro. Os empresários comprometeram-se a sentar à mesa, no mês de maio, para discutir os resíduos da defasagem sa- larial. (Fonte: Jornal de Santa Catari- na)

GREVES EM OSASCO (SP) Acabou a greve na Cobrasma, em

Osasco. Os 4.5 mil operários, em gre- ve desde 27 de fevereiro, não conse- guiram suas reivindicações e voltaram ao trabalho em operação tartaruga. Na Schumk, em Cotia, os 300 operários também voltaram ao batente, com uma reposição de 15%. Na Ferrol, a volta ao trabalho teve como resultado um acordo garantindo 5% de aumento real mais 10% de antecipação. Continua- ram paradas na base do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, a Braseixos, com 3 mil funcionários, Condufil e Roter Franscol. (Fonte: Notícias Po- pulares)

QUÍMICOS DO ABC (SP) Os trabalhadores químicos da Rho-

dia, em greve há 15 dias, aceitaram a proposta da empresa e retomaram ao trabalho. Pelo acordo eles terão 10% de aumento e 10% de antecipação. O Sindicato dos Químicos formalizou mais cinco acordos beneficiando cerca de 350 trabalhadores. O mais impor- tante foi na Tirreno, de São Bemardo, que concedeu 49,59% a título de an- tecipação salarial. (Fonte: Diário do Grande ABC)

PLÁSTICOS E QUÍMICOS EM LUTA (SP)

Pelo menos 3.5 mil trabalhadores de doze indústrias de material plástico de São Paulo, já conquistaram au- mento desde o dia 13 de março, quan- do a categoria começou a fazer greves por fábricas exigindo o cumprimento do acordo coletivo semelhante ao dos metalúrgicos. O aumento varia de 15% a 46%, além de outros benefí- cios.

Os químicos de São Paulo têm acordos semelhantes e também estão fazendo greves por fábricas. Até ago- ra o sindicato fechou 15 acordos be-

neficiando 10 mil trabalhadores com aumentos ou antecipações variando entre 15 e 20%. (Fonte: Diário Popu- lar)

CONSTRUÇÃO CIVIL DO ABC (SP)

Na Construtora Soma, a greve dos 700 trabalhadores também chegou ao final. Eles concordaram com 10% de antecipação. Além disso, terão vale- transporte, redução no preço da ali- mentação e a aplicação da jornada semanal de 44 horas garantidas pela constituição. Dos 18 dias parados se- rão descontados 50%. (Fonte: Diário do Grande ABC)

COCELPA NORMALIZA (PR) Os cerca de quatrocentos funcioná-

rios da empresa de papei, de Araucá- ria, decidiram retomar ao trabalho de- pois de quatro dias parados. Eles aceitaram a proposta da empresa, que concede um abono imediato de um salários mínimo e uma produtividade, ainda não definida, em março.

Já os trabalhadores da Horlle In- dústria de Papelão não aceitaram a proposta patronal. Eles querem au- mento salarial de 60%. (Fonte: O Es- tado do Paraná)

GASISTAS DA BAIXADA (SP) Os empregados da Ultragás e Li-

quigás na baixada santista retomam o trabalho após um movimento que durou 11 dias e atingiu outras distri- buidoras de gás de cozinha que ope- ram em todo o Estado de São Paulo. O acordo entre trabalhadores e distri- buidoras de GLP do Estado dispõe sobre 12 itens, entre eles destacam-se: reposição salarial de 6,04% e 7% de aumento real; pagamento de horas ex- tras com adicional de 100% e retroati- vo a setembro/88 (para os empregados de Capuava) e a janeiro/89 (para os funcionários de Osasco, Guarulhos e Santos); aumento de 25% nos prêmios de vendas; ticket-restaurante no valor de NCz$ 2,00; majorar em 20% o prêmio de tarefas concedidos ao ba- lancista, represador e testador; des- conto de 50% dos dias parados, etc. (Fonte: A Tribuna)

GASISTAS (PR) Os 1.2 mil empregados nas distri-

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Quinzena mimmm íSíííííí

Trabalhadores

buidoras de gás de Curitiba voltaram ao trabalno após oito dias de greve. O TRT do Paraná julgou o dissísio de- terminou o pagamento de 50% de reajuste salarial e consideraram o mo- vimento legal. Os grevistas pediam ainua tolga aos sábados. O tribunal decidiu que este item deve ser discuti- do na data-base da categoria (setem- bro). (Fonte: Folha da Tarde)

ACORDO EM LONDRINA (PR) A greve dos motoristas e cobrado-

res de Lcndrina chegou ao final. Pelo ac( '•do, os grevistas conseguiram um reajuste de 53,3% e o pagamento dos

s parados. (Fonte: O Estado do Pa- na)

OPERÁRIO MORRE NA MORRO VELHO (MG)

Revolta e comoção marcaram o se- gundo dia de greve geral em Raposos, grande Belo Horizonte. O operário Geraldo Cosme da Silva, 26 anos, morreu eletrocutado ao trabalhar sob orientação da empresa na condução de uma locomotiva elétrica que trans- porta minério. Sua função nada tinha a ver com isto: era "engatador". A di- reção cia Morro Velho divulgou nota onde refuta as acusações e afirma que Geraldo cometeu ato inseguro. Como sempre, os trabalhadores passam de vítima à réus dos acidentes. (Fonte: O Globo)

ELETRICITÁRIOS (RS) Os eletricitários e a direção da CE-

EE assinaram acordo, onde a empresa concede uma reposição salarial de 33,06% retroativo a l9 de fevereiro. O pagamento dos dias parados e a não punição dos grevistas são outros pontos do acordo.

MOTORISTAS (PE) Os motoristas e cobradores das em-

presas urbanas de Recife entraram em greve por tempo indeterminado rei- vindicando 80% de aumento. O Go- verno do Estado montou esquema emergencial com dois soldados da Polícia Militar em cada ônibus para garantir sua circulação. As empresas condicionam o atendimento do per- centual reivindicado à um aumento de 50% nas tarifas. A prefeitura criticou o sindicato dos trabalhadores pelo movimento. A greve chegou ao fim no

dia 22/03 sem negociação. (Fonte: Folha de São Paulo)

RODOVIÁRIOS SUSPENDEM GREVE (RJ)

Os rodoviários do Rio decidiram suspender a greve e marcar nova as- sembléia para discutir a possibilidade de nova paralisação. Nesse interím se reunirão com o prefeito Marcelo Alencar e a Secretária Municipal de Transportes. Além da jornada de seis horas, eles reivindicam reajuste de 30% sobre os salários de fevereiro. (Fonte: O Globo)

MOTORISTAS DE CAMPINAS (SP) Os motoristas e cobradores de ôni-

bus urbanos de Campinas voltarun ao trabalho, após quatro dias de greve, sem conseguir os 45% de reposição salarial que almeja, m. Os empresá- rios comrpometeram-se a não punir os grevistas. (Fonte: Diário do Povo)

CANAVIEIROS SÃO MASSACRADOS (MG)

Invasão domiciliar, seguida de gol- pes de cacetetes, uso de gás lacrimo- gêneo e espancamento foi a forma que a Polícia Militar de iíurama, no Triân- gulo Mineiro, encontrou para forçar 300 canavieiros, em greve há dez dias, a voltarem ao trabalho. Nem mesmo as esposas dos trabalhadores escaparam da violência, sendo empur- radas para fora de casa quando tenta- ram intervir em favor de seus compa- nheiros. (Fonte: A Crítica)

PREFEITURA raTISTA ENFRENTA GREVE (SP)

Os 3.5 mil funcionários públicos de Diadema entraram em greve pela rei- vindicação dos 70% de reajuste sala- rial (este é o mês de dissídio da cate- goria). O Prefeito José Augusto (PT) se declarou solidário ao movimento mas relatou que a prefeitura está pas- sando por um processo de falência fi- nanceira. Com os cálculos do Dieese nas mãos, o prefeito propôs um rea- juste de 40% que, segundo ele, cobre as perdas acumuladas de fevereiro de 87 a janeiro de 88 mais o percentual calculado pelo Dieese para fevereiro de 89: 18,71%. Os trabalhadores, em primeira assembléia, rejeitaram a pro- posta. (Fonte: Diário do Grande ABC)

NOVACAP(DF) Os quatro mil servidores da Com-

panhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) decidiram voltar ao traba- lho, após oito dias de greve. O gover- nador aceitou implantar o Plano de Cargos e Salários e os servidores continuam mobilizados para garantir que isto ocorrerá. (Fonte: Jornal de Brasília)

GARIS ACEITARAM PROPOSTA (RJ)

Os 14 mil garis e 1253 motoristas da Comlurb suspenderam a paralisa- ção que durou menos de dois dias. Eles aceitaram a proposta da empresa de 20% de reajuste em março e duas parcelas de 5% em abril e maio. (Fonte: Tribuna da Imprensa)

POLÍCIA CIVIL (GO) Os policiais civis de Goiás resolve-

ram aceitar a proposta do governo de aumentar seus salários em 120%, sen- do que 60% serão pagos em março e os outros 60% parcelados em 10 me- ses. Já os peritos e os médicos terão reajuste salarial de 200%, com adian- tamento de 100% em março e o res- tante parcelados também em 10 meses. Com isto eles decidiram retom atividades. Eles favnbéi apoiar a greve geral. (Fonte: O Popu- lar)

CINEMA SEM FimES (RS) A suspensão de três sessões de seis

dos 26 cinemas da capital foi sufi- ciente para que os proprietários apre^ sentassem uma contra-proposta aos operadores cinematográficos em cam- panha salarial desde dezembro. Os operadores aceitaram a proposta e voltaram a trabalhar. (Fonte: Correio Brasiliense)

Curtas

DOSSIÊ PATRONAL O provedor da Santa Casa de Poços

de Caldas (Sul de Minas) mandou fa- zer um dossiê contendo dados pes- soais de cada grevista com suas res-

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pectivas fotografias. Os líderes do movimento tiveram no dossiê a se- guinte observação: "Líder Sindical", Este relatório foi distribuído em todos os departamentos pessoais da região. E a organização da burguesia em ple- na forma. (Fonte: O Liberal)

PETROLEIROS SÃO REINTEGRADOS

O Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulinia ganhou na justiça o processo de reintegração de nove trabalhadores demitidos da Refinaria de Paulinia em 1983, por terem parti- cipado da greve. A sentença determi- na ainda o pagamento em dobro dos salários, a contar do dia 05 de outubro de 88. (Fonte: O Estado de São Paulo)

EVENTO INTERNACIONAL EM MG

Sindicalistas da Itália, Argentina e Brasil, que trabalham nas indústrias do Grupo Fiat, estão realizando o I9

Encontro Internacional dos Trabalha- dores do Grupo FIAT - Setor Auto- mobilístico. Participam 11 delegados da Itália, dois da Argentina e 40 do Brasil. Entre os convidados constam: Jair Meneguelli, o secretário-geral da Corrente Sindical Independente (CSN) Sérgio Barroso e o reitor da UFMG, Cid Veloso. (Fonte: Hoje Em Dia)

SOS-DIEESE Foi lançada a campanha SOS-Diee-

se para recuperar a saúde financeira deste órgão, abalada por uma dívida de NCz$ 662.000,50. Essa é a soma do débito dos seus 1.041 associados. (Fonte: Jornal de Brasília)

MULHERES DE ATENAS Na última greve geral, os emprega^

dos da Bosh, em Curitiba, só pararam o trabalho diante do exemplo das tre- zentas mulheres que compõem o qua- dro funcional de indústria eletrônica Alpes, que fica próxima.

Elas saíram e foram chamar os ho- mens para fora. (Fonte: Folha de São Paulo)

LIMINAR SUSPENDE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

Sob a alegação da inconstituciona- lidade, o Sindicato dos Eletricistas de São Paulo conseguiu liminar na justi-

ça que impede as empresas de des- contarem a contribuição sindical, fa- moso Imposto Sindical. Sustentáculo do sindicalismo pelego e burocrático durante tantos anos, talvez cause sur- presa para os desavisados que tal ati- tude tenha partido do neo-pelego Ro- gério Magri. Sugerimos a leitura do livro "Os Matadores de Ilusões" de Ozeas Duarte.

Não Saiu Mo Jornal

MAISUMTRÓFEU DA FAMÍLIA AUPERTI

Domingo passado, dia 19 de março às 8 horas, ocorreu mais uma tragédia na aciaria da Aliperti. Resultado: 4 fe- ridos leves, 1 ferido grave e 1 morto -Manoel Messias da Silva Bispo.

O caso das matanças na Aliperti está além de qualquer chance de ex- plicação. Certamente a família Ali- perti é a maior colecionadora de mor- tos e mutilados, dentre o empresariado brasileiro. Parece que perseguem vi- timas fatais como se persegue um tro- féu.

Até o fim da tarde de domingo nem o engenheiro de segurança tinha apa- recido, pois estava passeando no Gua- rujá. E os donos da fábrica, nem sinal! Até hoje eles sempre conseguiram comprar as autoridades e abafar as inúmeras mortes, por que não conse- guirão de novo?No dia 30 de março de 1988, nós entregamos para a dou- tora Nair Ciocchetti de Souza uma farta documentação sobre as mortes acontecidas na Aliperti.

A doutora é a coordenadora geral da^ curadorias de acidentes de traba- lho do Ministério Público. A comissão solicitou que o Ministério Público fa- ça as devidas averiguações e julgue civilmente e criminalmente os respon- sáveis pelas mortes dos companheiros. Vamos relembrá-los abaixo.

Está muito devagar este Ministério Público. E muita enrolação em cima de provas tão evidentes!

As entidades que acompanham o

processo criminal são: Centro Oscar Romero, CAJS, CUT Zonal Sudeste e vários companheiros. 01) 23.01.86 - José Nunes do Nascimento 02) 02.05.86 - Jaci Castorino Costa 03) 29.05.86 - Luis Augusto da Silva 04) 12.06.86 - Manoel Pereira dos Santos 05) 16.10.86 - Geraldo Gregório da Silva 06) 10.09.87 - José Pereira da Süva 07) 07.11.87 - Guiomar Procópio de Sá 08) 14.11.87 - Paulo de Oliveira 09) 06.06.88 - José Maria de Oliveira 10) 04.07.88 - Hélio Martins Costa 11) 11.08.88 - José de Aguiar Souza 12) 20.03.89 - Manoel M. da Süva Bispo

PRESIDENTE DA CPT DESMENTE "LEFIGARO"

D. Augusto Alves da Rocha, presi- dente da Comissão Pastoral da Terra, ao tomar conhecimento da notícia pu- blicada no "Le Figaro" no dia 17 de março, declarou textualmente, na tar- de de hoje, antes de presidir uma via crucis com mais e 15000 lavradores em Picos, Piauí, no sertão do Nor- deste:

"Diante das notícias da imprensa internacional, sobretudo na França, com relação à medida adotada por MISEREOR de modificar a sua forma de ajuda à Pastoral da Terra, eu quero declarar com toda a força que a CPT jamais esteve vinculada a entidades ou grupos que objetivamente procuras- sem o caminho da violência annada para atingir os seus objetivos de li- bertação do homem do campo desta marginalização e resgatá-lo desta si- tuação ignominiosa e injusta em que vive. A CPT afirma por sua vez que continuará firme e fiel às diretrizes da Igreja do Brasil para levar o nosso povo a conhecer a justiça que vem do próprio Deus. Este é o nosso cami- nho".

O Secretário Geral da CPT, Pe. Ermanno Allegri, diante da notícia do Le Figaro, declarou:

"A informação que apareceu na imprensa internacional de que a CPT estaria comprando armas é uma acusa- ção leviana, baixa que deve ser pro- vada. A mesma MISEREOR negou esta acusação. Diante da publicação desta notícia agora nos perguntamos o porque desta acusação. Em primeiro lugar, fazer esta afirmação é justificar a violência dos verdadeiros crimino- sos. O que nós sabemos é que cente- nas de trabalhadores rurais, lideranças sindicais e agentes de pastoral foram

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Quinzena iiiiii

Trabalhadores

assassinados, torturados por crimino- sos armados a mando dos grandes lati- fundiários brasileiros. Portanto, recon- firmamos que o trabalho da CPT se propõe a libertação dos oprimidos dentro das linhas da Igreja do Brasil. Uma prova disto é que em 1988 foram assassinados 104 pessoas por proble- mas de terra. A Pastoral da Terra pro- cura fazer-se presente neste conflitos como presença da caridade da Igreja no meio das pessoas que estão sofren- do os massacres. Denunciamos a vio- lência contra os trabalhadores e pro- curamos sustentar as suas organiza- ções para que os trabalhadores rurais se tomem uma força política capaz de se colocar na sociedade que susta a ação violenta dos latifundiários".

A M1SEREOR em telex enviado aos bispos do Brasil no dia 13 de fe- vereiro afirma peremptoriamente: "A afirmação sobre as compras de armas não é sustentável e também não há nenhuma decisão da MISEREOR de terminar o financiamento da CPT. A especulação sobre qualquer relacio- namento entre os dois casos está des- provido de qualquer fundamento".

D. Luciano Mendes de Almeida, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em artigo publi- cado no jornal "Folha de São Paulo", no dia 25 de fevereiro de 1989, P. 02, escreveu:

"A acusação de a CPT ter utilizado dinheiro para compra de armas é uma acusação que renova, infelizmente, afirmações antigas e já suficiente- mente demonstradas falsas e malévo-

las". E na entrevista concedida à im- prensa nacional e estrangeira no dia 23 de fevereiro, perguntou: "A quem interessa que cesse a defesa do lavra- dor pela CPT nas áreas de conflito e que se desaprove publicamente a ação da CPT e de toda a CNBB?"

No dia 20 de fevereiro, doze bispos assinaram uma nota que afirma:

"Nós, Bispos responsáveis por acompanhar os trabalhos da Comissão Pastoral da Terra, nas diversas regiões do país (...), damos o nosso testemu- nho de apreço à CPT pelo serviço realizado em favor de nossos lavrado- res, progressivamente expulsos da ter- ra e continuamente atingidos pela violência. As características deste tra- balho exigem abnegação, atraem in- compreensões e perseguições e até mesmo têm custado o sangue de mui- tos irmãos nossos". (...)

Para qualquer informação coloca- mo-nos ao seu inteiro dispor.

Pe. Inácio Neutzling, SJ Setor Pastoral Social - CNBB

Assessor

Brasília, 17 de março de 1989.

VAMOS BRINCAR NA USINA "Vamos Brincar na Usina" é um

evento apoiado por diversas entidades ecológicas que será realizado nos dias 15, 16 e 17 de abril, na Praia de Mambucaba, 7 Km ao sul das usinas nucleares de Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Os objetivos da manifestação são:

- EVITAR a construção de Angra 111 e qualquer outra usina nuclear, utilizando os recursos em projetos al- ternativos de energia.

- DISCUTIR a transformação do combustível de Angr ai e II em outras formas de energia como o gás natural, a exemplo do que acontece nos Esta- dos Unidos.

Enquanto essas decisões não forem tomadas temos de discutir o problema da segurança, do lixo atômico e do plano de evacuação das cidades pró- ximas às usinas.

"QUEREMOS BRINCAR EM ANGRA, SEM A AMEAÇA DE UM

ACIDENTE NUCLEAR"

Programação Dia 15: Saída em caravana da rua Pi- nheiros, 1361, via Rio-Santos até a praia de MAMBUCABA, local do acampamento. Dia 16: Caminhada até a Usina onde acontecerão os pronunciamentos e concerto de uma orquestra. Dia 17: Continuação das atividades e volta à São Paulo.

Durante os 3 dias acontecerão vá- rios eventos culturais, ecológicos, shows de rock na praia, com grupos de Angra, Rio de Janeiro e São Paulo, debates, passeios ecológicos e regata de caiaque.

APOIO: PV-SP, SAPE (Angra), Social Pró-Verde, ASSEDA (Campi- nas), Associação Ecológica EMBU.

Informações e Inscrições: 211. 27.29 Rua dos Pinheiros, 1361 - Pinheiros

São Paulo - SP

Folha de São Paulo - 23.03.89

O debate em torno dos rumos da economia brasileira às vezes assume um tom francamente

surrealista. Ouve-se por toda parte os mais diversos projetos para o desenvolvimento brasileiro, partindo da premissa de que o país ostenta uma economia capitalista de mer- cado. A realidade, entretanto, é bem outra.

Convido o leitor para um exercício de análise do Brasil considerando as seguintes características: população de mais de 150 milhões, dos quais dois terços são analfabetos; mais da metade da economia formal nas

Economia

Um país ainda feudal PETER HARAZIM

máos do governo, gerando um défi- cit superior a 5% do PIB; mais de 90% da terra cultivada nas mãos de menos de 15% da população; deci- sões econômicas tomadas pelo poder central, sem participação da socie- dade; indústria cora ura volume inferior à de qualquer país capitalis- ta cora dimensões de até ura sexto do território brasileiro; salário mí- nimo de US$ 45, cora mais da metade da população completamen- te alijada do mercado consumidor; carga tributária direta elevada e carga tributária indireta maior aue a de qualquer país capitalista

Esses indicadores retratam com clareaj uma sociedade que pode ser classificada de diversas maneiras, menos a de possuir uma economia de mercado. A verdade é que não passamos de ura pais feudal

Desde a chegada de d. João 6" o Brasil vive o mesmo modelo sócio-e- conômico. As riquezas do país sáo alocadas em feudos, cada um com seu respectivo^ proprietário. Este tem seus privilégios garantidos pelo poder central, em troca da partici- pação da corte nos seus lucros.

No meio disso, espreme-se, teimo-,

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Quinzena

samente, um principio de atividade de mercado representada pelo par- que industrial, pela industria de serviços e, cada vez mais, pela economia informal. Contudo, quando se discute a economia brasileira, enfoca-se apenas esta pequena parte do todo —a parte ativa, que traba- lha, procura novas opções econômi- cas, que, enfim, caracteriza o espíri- to do capitalismo que pretendemos.

Porém, o componente maior e mais importante do nosso sistema econômico é essencialmente feudal. Procuramos soluções para o pro- blema brasileiro como se fosse possível, por um passe de mágica, assegurar o bem-estar e o progresso de 150 milhões de pessoas com o trabalho de apenas 1/3 deste total (sim, pois 100 milhões de brasileiros são constituídos por uma minoria de privilegiados que se beneficia das benesses da corte e por uma maioria de marginalizados).

^

É preciso repensar o Brasil para poder se chegar a soluções que o integram ao grupo das nações do Primeiro Mundo. Estas nações são caracterizadas não por seu regime político ou econômico, mas pelo fato de que todos os seus cidadãos participam do esforço de desenvol- vimento da sociedade —e todos se beneficiam do resultado.

Entretanto, há sinais importantes e animadores de que nossa socieda- de —apesar de todas as limitações decorrentes da falta de informa- ção— já se apercebeu disso e está começando a agir. O crescimento da economia informal, a condenação cada vez mais ativa dos feudos, a crescente popularidade de ações que visem diminuir a presença do estado na vida das pessoas — tudo isso aponta claramente por uma mudan- ça, onde o brasileiro cada vez menos se verá como súdito e sim como cidadão exigindo, legitimamente, os

Economia

seus direitos. Assim, aos poucos, estamos aprendendo a exigir esses direitos e a castigar, pelo voto, quem não os respeita.

Por outro lado, também precisa- mos abandonar o sonho ae todo súdito de, um dia, vir a pertencer ao grupo dos privilegiados membros da corte (este sonho significa ter um emprego público com todos os favo- recimentos oferecidos pelo governo e receber um bom salário, obvia- mente sem precisar trabalhar).

O que é preciso, acima de tudo, é vermos nosso próprio futuro não como o de um cortesão parasita, mas o de um cidadão dono de seu destino, colhendo os frutos de seu trabalho produtivo. Talvez assim venhamos a ser um país com uma economia de mercado que mereça ser chamado de capitalista.

Km HAIAZIM. 4Í, coosultof, í tóCK>-d.f.l<x óa Hicoo • nwnbro do Convt* de Retoco** tndu«tría*t do Câmara Amertcano d« ComAf cio

Istoé Senhor-15.03.89

Luiz Bressef Pereira

OS CINCO LIMITES DO CONGELAMENTO

A estratégia de descüngelamento do Plano Cruzado, coerente com o objetivo de inflação zero, era a de se manter o congelamento e a desinde- xação pelo máximo tempo possível, enquanto a estratégia do Plano Bres- ser era a de sair do congelamento de forma ordenada, com a economia ple- namente indexada^ o mais depressa possível. Ate o momento o Plano Verão, apesar da oportuna reindexa- ção dos balanços, está seguindo a Es- tratégia Cruzado corrigida por uma taxa de juros altíssima, por uma limi- tação quantitativa do crédito ao setor privado, & pela tentativa de reduzir o déficit público. Se esta tentativa ti- vesse possibilidade efetiva de zerar o déficit público operacional e se os pre- ços relativos não tivessem sido dese- quilibrados pelos aumentos autoriza- dos na véspera do plano, esta estraté- gia seria adequada. Como, entretanto, nenhuma das duas condições está presente, entendo que a adoção Estra- tégia Cruzado, baseada na aposta máxima de zerar a inflação, é muito arriscada. Poderá resultar, no mo- mento do desço ngelamento, em um estouro dos preços semelhante ou pior do que o do Cruzado.

■ rancisco Lopes, que conhece o problema melhor do que ninguém.

embora reconheça as limitações do Plano Verão, defende neste momento a Estratégia Cruzado, porque só com um congelamento longo a memória inflacionária poderia ser apagada, e porque entende que um descongela- mento rápido, dados os desequilíbrios reais e estimados dos preços, levaria agora a uma explosão inflacionária. Creio que esta posição, que, talvez por inércia, está sendo adotada pelo governo, é equivocada. O descongela- mento e a reindexação não devem ser feitos de forma abrupta, mas devem ser feitos o mais rápida e suavemente possível.

Para um congelamento longo há cinco limites muito claros, dada uma inflação que não foi totalmente elimi- nada mesmo durante o congelamento (veja-se a inflação de 3,6% para 11 dias de fevereiro). Primeiro limite: a taxa de câmbio. Se as minidesvalori- zações não começarem logo, quando for inevitável começarão por uma máxi. Segundo limite: os salários. Se não se estabelecer imediatamente uma regra semelhante á URP para os salários, quando os trabalhadores lo- grarem a reposição de suas perdas (que, por enquanto, são pequenas), o aumento de salários será alto. Ter- ceiro limite: os preços das mercado- rias. Se não se começar o reajuste gradual dos preços relativos, quanoo

este começar será de forma des- controlada. Quarto limite: a taxa rie juros real enquanto causadora ^ie dé- ficit público. Se esta não começar a ser reduzida, o déficit publico que provocará anulará qualquer política fiscal do governo. A proposta de Ed- mar Bacha de que se suspenda o pa- gamento dos juros da divida externa quando esse limite chegar é correta, mas novamente só valeria a pena se fosse para zerar o déficit público. Quinto limite: a taxa de juros en- quanto causadora de recessão. Uma recessão seria inevitável se houvesse no momento possibilidade de acabar definitivamente com altas taxas de in- flação, mas uma recessão com infla- ção é insuportável. O governo não terá condições políticas nem razão moral para sustentá-la.

Todos esses cinco limites nos di- zem uma única coisa: a aposta má- xima do Plano Cruzado é muito peri- gosa. A taxa de juros elevada e o teto ao crédito privado não são âncoras suficientes para sustentar um congela- mento por longo tempo. Essa estraté- gia poderá levar o Plano Verão a um enorme fracasso, enquanto uma es- tratégia mais modesta e realista não acabará com a inflação, mas a man- terá sob relativo controle até o pró- ximo governo.

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Quinzena Economia

Folha de São Paulo - 25.03.89

Alerta vermelho A perspectiva de uma milação de 6% a

(>,5% e/n março, apontada pelos primeiros levantamentos do IBGE, deve fazer a sociedade acender todos os sinais de alerta. De novo, corre-se o risco de que a eleição presidencial se faça em um cenário de exacerbação inflacionária, que é ruim para todos.

Confirmados os primeiros levantamentos do IBGE, março vai registrar uma inflação S0% superior à de fevereiro. Mantida essa velocidade inflacionária, já em maio o índice oficial de preços estará batendo em 20%, mais ou menos.

Esse cálculo pode ser algo mecanicista, mas sobram razões para temer um cenário

ainda mais negro. A saber: 1) Se, com todos os preços congelados, ao menos teoricamen- te, a inflação chega aos 6% ou até algo mais, o que vai acontecer quando se acelerar o processo de realinhamento de preços, re- cém-iniciado?

2) O congelamento introduz profundas distorções em toda a cadeia de formação de preços. Um exemplo basta: o câmbio oficial está congelado já faz quase 70 dias, período em que a inflação real, pelas contas de Joelmir Betting, rondou os 55%. Como também o câmbio tem que ser descongelado —e logo— a tendência é para uma disparada nas cotações do dólar, com reflexos em quase todos os demais preços.

3) As perdas salariais decorrentes do "choque verão", já admitidas por todos os agentes econômicos, têm que ser repostas com urgência. O registro de uma inflação

relativamente elevada em março só aumen- ta a urgência, além de aumentar também o volume das reivindicações dos assalariados, na medida em que o único preço da economia realmente congelado, é o salário.

O Plano Cruzado mostrou que não é fácil administrar a saída do congelamento mes- mo quando os índices mensais de inflação são bastante baixos. Ê fácil deduzir, daí, que muito mais difícil é sair ordenadamente do congelamento quando, mesmo durante a sua vigência, a inflação chega aos 6% ou 6,5% sinalizados pelo IBGE para março.

Como o governo deu repetidas mostras de incompetência na gestão da economia (e não so dela), só mesmo uma ação conjunta da sociedade poderá impedir que a hiperin- flação se instale ou, ao menos, ameace o país exatamente nas vésperas de sua mais importante escolha em 30 anos. Clóvia Rossi

Folha de São Paulo -13.03.89

Mudanças graves

Sob a cegueira das classes dirigen- tes (ocupadas com a obtenção de aumentos de preços ou com a especulação financeira) e do setor

■ político (dedicado à eleição que ocorrerá daqui a oito meses), os desassistidos começam a dar sinais de esgotamento da sua capacidade de tolerância. Os últimos episódios de reivindicações sociais indicam um salto grave na escala dos métodos, acirrados por outro salto precedente —a da situação de de- sesperança para a de desespero.

Não foi por acaso, pelo simples fato de que não podia ter sido, que lavradores sem-terra no Rio Grande do Sul, trabalhadores da siderúrgica Belgo-Mineira e trabalhadores da siderúrgica Mannesmann arma- ram-se com o que puderam e, tendo os primeiros invadido uma fazenda e os outros as respectivas usinas.

Boletim Conjuntura do Sindicato dos Químicos de São Paulo - 02.03.89

EM SETE ANOS A AMERICA LATINA TRANSFERE USS 180 BI PARA SEUS CREDORES

Segundo dados da Comissão Eco- nômica para a América Latina (CE- PAL) em 1988, o continente fez uma transferência líquida de recursos para o pagamento da dívida extema de USS 29 bilhões. Um crescimento de 70% em relação ao ano anterior. Essa quantia representa 24% da receita de exportações do continente junto com o Caribe.

Nos últimos sete anos, a América Latina e o Caribe pagaram um total de US$ 180 bilhões - o equivalente às dívidas extemas do Brasil e Argentina, ou 45% da atual dívida externa da re- gião que é de US$ 401 bilhões.

dispuseram-se a enfrentar as forças repressoras, quaisquer que fossem as conseqüências

Caso se tratasse de bandidos (refiro-me aos bandidos socialmente desclassificados), com o sentimento de fatalidade que os torna indiferen- tes à maneira de viver e à hora de morrer, tudo estaria inscrito no mais banal cotidiano brasileiro. Mas quem se dispõe a enfrentar os trabalhos mais pesados e esgotan- tes, em troca dos salários mais exíguos e sem perspectivas de as- censão, revela índole admirável e uma disposição invejável de viver, de viver honestamente e de hones- tamente manter a família. Nem dá para entender esta força, no país em que os mais numerosos exemplos de cima ensinam o êxito das fraquezas.

Os relatos públicos daqueles epi- sódios têm guardado parcimônia, por motivos vários, em relação às tantas dimensões dos fatos. São fatos horrorizantes. Pelo que têm de evidente, como aviões da UDR

jogando bombas lacrimogêneas so- bre os sem-terra gaúchos ou, depois de vencidos estes, as torturas neles aplicadas por membros armados da mesma UDR, depositando-os, entre outros feitos, sobre formigueiros ("Torturas com requintes medie- vais", diriam ao presidente Sarney os bispos Luciano Mendes de Almei- da e Celso Queiroz, pedindo provi- dências governamentais que lhes foram prontamente prometidas e obviamente não cumpridas). E fatos horrorizantes, ainda, pelo que neles está subentendido, quando operários chegam ao extremo de vestir capu- zes, armarem-se com barras de ferro e se cercarem de toneis com ácidos inflamáveis, para exigir a devolução de um naco de salário que lhes foi surripiado —a título de consertar o país.

Os estados de convulsão começam por episódios localizados, cujo signi- ficado, invariavelmente, não mere- ceu o interesse das classes dirigen- tes e dos poderes públicos.

Exame - 22.03.89

SINAL VERMELHO NO FRONT EXTERNO

O governo americano reconhece que parte das dívidas nacionais é impagável, mas a alta dos juros empalidece a boa notícia

Quando foi anunciada a alta de 1% no índice de preços por atacado, em janeiro, nos Estados Uni"dos

— nível alarmante para um país que, em todo o ano passado, teve uma inflação de apenas 4,2% —, até os observadores mais otimistas viram acender uma luz vermelha no caminho da economia americana. Co- mo a alta no atacado acaba, inevitavel- mente, sendo transferida para o varejo, o consumidor americano prepara o bolso.

fie, aliás, já teve uma prévia ainda em ja- neiro, quando o índice de preços ao con- sumidor subiu 0,6%, o dobro do mês an- terior. Mas a atual escalada da inflação nos Estados Unidos não atinge apenas os americanos. Como, em economias não' sujeitas a choques heterodoxos, o comba- te à inflação se faz com instrumentos clás- sicos de política monetária, a alta dos pre- ços no atacado, de janeiro, traz maus presságios para o resto do mundo. ^^

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unzena

Os grandes bancos, que emprestam a seus clientes preferenciais por uma taxa padráo, que se convencionou chamar de prime rate, imediatamente puxaram essa taxa para cima após o anúncio da inflação de 1 % no atacado — que encontra parale- lo apenas no último ano da administração Jimmy Carter, em 1980, quando a infla- ção anualizada chegou a 14%. O choque dos juros internacionais havido naquela época para acomodar a inflação americana provocou a grande crise da dívida de 1982, quando o Brasil e outros grandes devedores ficaram virtualmente insolven- tes, tendo de recorrer aos programas de ajustamento ditados pelo Fundo Monetá- rio Internacional.

PROJEÇÕES — A maior inflação mensal dos últimos tempos ressuscita também os temores despertados pelo crash da Bolsa de Nova York, ocorrido no dia 19 de outubro de 1987, mas que depois foram amortecidos pela continuidade do crescimento econômi- co americano. Donos de um produto interno bruto de quase 4 trilhões de dólares — 20% da economia mundial —, os Estados Uni- dos cresceram em 1988 pelo sexto ano con- secutivo. A taxa de 3,9% obtida no ano pas- sado ficou na média do período de cresci- mento iniciado em 1983. De quebra, o défi- cit na balança comercial foi reduzido de 170 bilhões para 137 bilhões de dólares, e o dé- ficit fiscal caiu para 143 bilhões, cerca de 15 bilhões menos que em 1987.

Esses bons resultados não encobriram. porém, a ameaça cada vez mais visível de uma reaceleração inflacionária a partir deste ano. Na verdade, desde maio do ano passa- do, o Federal Reserve. FED, o banco cen- tral amencano, vem paulatinamente puxan- do para cima suas taxas de desconto para os bancos — e, com elas, a prime rate. De 8,5% em que estava ao final de abril de 1988, a prime já está beirando os 11% ao ano — arrastando atrás de si as taxas da Li- bor, do mercado interbancário da City lon- drina (veja gráfico à pág. seguinie). O au- mento da taxa americana e, principalmente, da inglesa é uma péssima notícia para o Brasil. Quase dois terços da dívida externa brasileira estão atrelados à variação da Li- bor, que nos últimos catorze meses, desde janeiro do ano passado, saltou de 7,42% pa- ra 10,3% ao ano. Como resultado, o serviço da dívida externa ficou 1,8 bilhão de dólares

mais caro para o Brasil, sem que por conta disso o governo tivesse tomado um centavo emprestado.

A safra das más notícias para o Brasil não se esgota aí. Na esteira do aumento dos ju- ros, reconhece o secretário de assuntos in- ternacionais do Ministério da Fazenda, Sér- gio Amaral, vem o desaquecimento das economias dos países desenvolvidos — com a conseqüente queda nas compras de produtos brasilei- ros. Sobram, portanto, menos dólares no caixa do Banco Cen- tral para honrar os pagamentos da dívida externa. Mesmo as- sim, Amaral prefere ser otimis- ta. "E claro que haverá impacto sobre o nosso saldo comercial, mas para mim ele não deverá ser muito grande", diz ele.

Um estudo feito pela Serfina — uma das mais conceituadas assessorias econômicas priva- das, que presta serviços para de- zenas de companhias nacionais e multinacionais de grosso cali- bre — projeta uma taxa de 11.7% ainda este ano para a pri- me rate. Em média, diz o estu- do, a taxa de 1989 deverá ficar em 11,2%. Com base em informações de institutos de economia oficiais e privados dos Estados Unidos e da Europa, a Serfina prevê que as taxas de juros internacionais só começarão a declinar, de maneira mais pal- pável, a partir de junho do próximo ano, baixando lentamente até o final de 1991 — mesmo assim, para atingir 8,6% no final do período, bem acima dos níveis históri- cos de 5% ou 6% ao ano observados ate a década de 70. Dessa íorma, a única boa no- tícia nesse cenário pouco alentador é o anúncio da nova postura do govemo amen- cano na questão da dívida externa, confir- mado na semana passada. O governo dos Estados Unidos reconhece, de forma indire- ta, que uma parte da dívida externa dos paí- ses em desenvolvimento é impagável e ace- na com mecanismos que aliviem o peso dos encargos nos próximos anos.

O processo de ajustamento da economia americana, todavia, pode frustrar as boas iniciativas no campo da dívida dos países em desenvolvimento. A questão central está relacionada com o déficit fiscal. Lá, como aqui, o govemo gasta além do que arrecada

Economia

e tem que financiar essa diferença tomando recursos de outros países e de investidores privados. Em 1988, o déficit público federal americano atingiu a astronômica cifra de 143 bilhões de dólares — mais que toda a dívida externa brasileira. Houve, contudo, algum esforço de ajustamento nos últimos anos do goveno Reagan: em 1985. por exemplo, o déficit fiscal chegava a 210 bi-

lhões de dólares.

A REAGANOMICS - A rigor, os Estados Unidos convivem há muito tempo com o déficit público, valendo-se do fato de emi- tir moeda de reserva. Ao longo dos anos 70. por exemplo, o déficit girou em tomo de 50 bilhões de dólares anuais — quantia elevada, mas considerada "ndmimstrá- vel" para os padrões americanos. O pro- blema mudou de qualidade em 1979. com o segundo choque do petróleo. A inflação bateu em inimagináveis 14% logo em

1980 e, nesse momento, o en- tão presidente do Banco Cen- tral, Paul Volcker, puxou as taxas de juros para até 19% ao ano. Com a queda no ritmo da economia, provocada pela alta dos juros, o déficit fiscal tam- bém cresceu, chegando a 62 bilhões de dólares. Mas, como as taxas de juros internas esta- vam altíssimas para os padrões dos países desenvolvidos, ca- pitais do mundo inteiro acorre-

Estados Unidos

87 88 89* 90'

inflação (Evoiuçào anual do IPC—em %j 3,7 4,2 5,0 5,0

PIB , (Evolução anual — em %) 3,4 3.9 1,8 0.9 .

Balança Comercial (SaUos anuais - em USS bilhões) -158,2 -137,0 -104,7 -92,7 .

Desemprego* (Taxas em lins de ano — em %) 6.2 5.5 5,6 6,0 1

Japão 87 88 89- 90-

Inllação (Evolução anual do IPC-em %),, 0,1 0,8 2.0

4,2

74,3

2,1

3,4

60,7

(Evolução anual-em %)"■•'l•'-"■■i• 4,2 —.■...■.■*'. ,■,■.■ ■;.■

Balança Comercial (Saldos anuais - em USS bilhões) 80,5

5,6

73,0

Desemprego (íaxas em lins de ano — em %) .? ■ 2,8 2,6 2,6 2,7

Taxa de câmbio (Médias anuais — moeda do pais 144,6 dólar americano)

128.1 119.3 116,2 j

■■■J,-. ■' "V

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Alemanha Ocidental

87 88 89* 90*

Inflação i Evolução anual do IPC — em %) 0,3 1.1 1.6 1,6

PIB (Evolução anual — em %) 1,8 3,4 2,5 2,5

Balança Comercial (Saldos anuais — em USS bilhões) 65,9 69,0 63,9 49,3

Desemprego (Taxas em Ims de ano — em °o| 8.9 8,7 8.8 9.0

W

Taxa de cambio (Médias anuais — moeda ao pais 1.8 1.7 1,7 1.6

i 6 ff

oolar amencanol

Grã-Bretanha

87. 88 89'

6,2

. 90*

5,6 Inflação (Evolução anual do IPC — em %|

PIB (Evolução anual — em %)

4,1

3,5

4.9

3,7

42,1

8,3

1.4

-30,8

7,6

0,57

1.9

-38,0

7,6

0,60 |

Balança Comercial (Saldos anuais - em USS bilhões)

Desemprego (Taxas em lins de ano — em %)

-23.1 -

10,3

Taxa de câmbio (Médias anuais — moeda do país/ dólar americano)

0.61 0,56

ram para o mercado financeiro americano, ajudando a finan- ciar o déficit.

Em 1981, Ronald Reagan iniciou seu primeiro mandato com a política que iria caracteri- zar os oito anos em que esteve à frente da Casa Branca. Em vez

ae aumentar os impostos para financiar o déficit. Reagan fez o contrário: cortou im- postos e gastos sociais, apostando que a re- cuperação da economia, no longo prazo, ampliaria a arrecadação de tributos. De fa- to, a partir de 1982. a economia americana passou a crescer a taxas de 3% a 49c ao ano — mas o déficit público aumentou, ao invés de diminuir A manutenção das taxas de ju- ros elevadas provocou um fenômeno adicio- nai: investidores de outros países passaram a comprar dólares para investir no mercado financeiro amencano. Aumentou a procura e. naturalmente, também o preço do dólar. Em 1979. eram necessários 219 ienes, a moeda

japonesa, para comprar 1 dólar no mercado internacional de câmbio. Em 1982, eram ne- cessários 250. Resultado: tomou-se muito ba- rato para o consumidor americano adquirir produtos de outros países.

Com maior disponibilidade de produtos importados, a preços menores, a inflação amencana baixou. Em 1983. o índice de preços ao consumidor, IPC. registrou uma variação de 3.2%, a metade do verificado no ano anterior. A essa altura, contudo, não era apenas o déficit fiscal que aumentava descontroladamente, O déficit na balança comercial saltou de 32 bilhões de dólares em 1980 para 70 bilhões em 1983. A partir daí, e até 1987, o déficit comercial não pa-

rou de crescer. O ciclo do dólar forte durou até 1985, quando o próprio mercado mudou as regras do jogo, por temer a escalada dos déficits gêmeos, o fiscal e o comercial, O mercado passou a trabalhar com a hipótese, real, de que em determinado momento os Estados Unidos não mais teriam como hon- rar os pagamentos dos títulos federais no vencimento. "Todos perceberam que não dava para continuar o jogo nessas bases", diz o economista Vito Romano, da Serfina. Começou então a derrocada do dólar nos mer- cados de câmbio. De 168 ienes, em 1986, sua cotação internacional baixou no ano seguinte para 144 ienes e no ano passado para 128.

Mudaram as cotações do dólar, mas o princípio que norteou o longo ciclo de cres- cimento da economia americana nesta déca- da continuou o mesmo, com o resto do mundo pagando a conta. A partir de 1985, os países europeus e mesmo as economias situadas abaixo do Equador pas- saram a adquirir mais mercado- rias fabricadas nos Estados Uni- dos, por causa da redução do valor do dólar. Mas a valoriza- ção das outras moedas fortes em relação ao dólar também assu- miu um caráter especial. "A queda do dólar, hoje em dia, embute uma expectativa do mercado quanto ao cumprimen- to, pelos Estados Unidos, da promessa de cortar seu déficit público", afirma o economista Eduardo Bom Ângelo, gerente de estudos econômicos da Serfi- na. Em outras palavras, se o mercado avaliar que o déficit não está sendo

cortado de moao sunciente, os investidores vendem dólares, forçando as cotações para baixo. De lá para cá, a intervenção dos ban- cos centrais — reduzindo as taxas de juros, impedindo a insolvência das instituições fi- nanceiras e comprando dólares quando as cotações ameaçam despencar — evitou um agravamento do quadro, permitindo que a economia americana continuasse a crescer.

RAZÕES DA ALTA — O preço disso tudo foi a volta da inflação, Como a economia americana opera hoje com um nível de ocu- pação de 85% da capacidade produtiva, pra- ticamente não existe espaço para se ampliar a oferta, sem novos investimentos. O pro- blema é que a retomada dos investimentos também aumenta a demanda, num primeiro momento — e o crescimento da demanda acaba pressionando os preços. O nível de desemprego nos Estados Unidos também é o mais baixo da década, de 5,5% (veja labe- la à pág. ]-§}. Portanto, o preço da mão-de- obra tende a aumentar, pressionando ainda mais a inflação. "O mundo está atento às iniciativas da Casa Branca", sintetiza Eduardo Bom Ângelo. Além do aumento dos juros, o que se espera é uma redução do déficit fiscal, que pode vir pelo corte de des- pesas, pelo aumento dos impostos ou pelas duas iniciativas ao mesmo tempo.

O aprofundamento das negociações com a União Soviética, envolvendo o desarma- mento, abre espaço para um corte nos gas- tos militares. No orçamento que enviou no início de fevereiro ao Congresso, a Casa Branca preferiu não mexer nesse aspecto com mais firmeza. O déficit fiscal previsto para 1990 é de 95 bilhões de dólares. Como

França

87 88 89* 90*

1 1

Inflação?.. -■ (Evolucapanuail.ilo.lPC - em %) 3,3 2,7 3,1 3,2

PIB (Evolução anual —«!)%)

Balança Comercial (Saktos anuais — em USS bilhões)

2,3 3,3 2,0 2,0

-10,0

10,5

-8,1

10,3

0,6

10,5

-3,5

10,5 Desemprego (Taxas em fins de ano — em %|

Taxa de câmbio (Médias anuais—moeda do pais dólar americano)

6.0 5,9 5,7 5,6

Itália • 87 88 89' 90*

Inflação (Evolução anua) do IPC — em %) 4,6 4,9 4,7 4,6

PIB (Evolução anual —em %) 3.1 3,1 3,4 2,7

Balança Comercial (Saldos anuais — em USS bilhões) -9,1 -8,1 -5,7 -3,6

Desemprego (Taxas em Ons de ano — em %)

Taxa de câmbio (Médias anuais — moeda do pais dólar americano)

14.3 16,0 16,0 14,2

1 296 1 301 1 312 1 322 I C

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Quinzena Economia

o presidente George Bush baseou toda a SUí campanha na promessa de não aumenta impostos, ficam faltando iniciativas para re- duzir mais rapidamente o déficit. É por isso que as previsões da maioria dos analistas econômicos são hoje mais pessimistas do que há alguns meses. O próprio estudo da Serfina projeta, para 1989, um déficit fiscal de 142 bilhões de dólares — um pouco maior que o do ano passado — e de 137 bi- Ihões^iara 1990.

Até reduzir efetivamente seu déficit, por- tanto, os Estados Unidos — e com eles a economia mundial — andarão sobre o fio da navalha. Se a coodemação da política eco- nômica entre os países desenvolvidos fa-

lhar, pode haver uma queda mais violenta das cotações do dólar, precipitando uma onda especulativa. Nessa coordena- ção, é essencial que países co- mo o Japão e a Alemanha Oci-

dental reduzam 'seus enormes superávits comerciais, compran- do mais dos Estados Unidos. Se tudo der certo, é provável que em 1993 o déficit fiscal esteja contro- lado, conforme prevê a Casa

Branca. Será, de qualquer forma, um longo e penoso processo de ajustamento, para pagar a conta do neoliberalismo da recém-en- ceirada era Reagan. ■

Canadá 87 88 89' 90*

Inflação (Evolução anual do IPC — em %) 4,4 4,1 4,5 4,2

PIB (Evolução anual — em %) 3,9 4,4 3,0

3,6

2.3

8,0

Balança Comercial (Saldos anuais - em USS bilhões) 4,3 5,2

Desemprego (Taxas em fins de ano — em %) 8,9 7,8 7,8

1 196

8,2

1 1200 S

Taxa de câmbio (Médias anuais — moeda do país dólar americano)

1326 1230

Política Nacional

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, OS MALHADORÍSEOro^J

üando continuidade à série que iniciamos na QUINZENA anterior, publicamos as posições da Convergência Socialista e de Frei Betto. A CS, corrente interna do PT e da CUT, propõe um programa anti-capitalista a ser defendido pela candidatura Lula no quadro atual. Apesar da entrevista com Frei Betto dar ênfase à questão

municipal, ele relaciona essa discussão com o projeto de construção do socialismo, o qual, ainda no quadro capitalista, "vai sendo gestado por uma série de atitudes". Dessa forma. Frei Betto apresenta-nos sua concepção de como um governo popular pode superar "a contradição de uma proposta socialista dentro de um mecanismo capitalista".

Convergência Socialista - 29.03.89

A partir do dia 2 de abril se iniciarão as convenções para discutir a campanha presidencial. Esta discussão ganha uma importância particular depois da greve geral que paralisou o país e indica um fortalecimento dos trabalhadores e das suas lutas contra o governo e o regime. Nestas convenções, se tomarão decisões

fundamentais: se o programa da candidatura do companheiro Lula será anticapitalista ou vai se limitar a reformas no marco do capitalismo; se o vice-presidente poderá sair das fileiras de um partido burguês ou pequeno-burguês, como o PSB e o PV, ou terá que ser da classe trabalhadora e ligado às suas lutas; se a

campanha presidencial tentará mostrar que Lula fará um governo competente e para toda a sociedade que será uma campanha ligada às mobilizações dos trabalhadores, para fortalecer suas lutas contra o governo e seus

planos, o regime atual e o sistema capitalista. Estas vão ser as polêmicas centrais das próximas convenções, junto com a discussão sobre a gestão das prefeituras petistas e sobre as tarefas centrais do partido no próximo período. A Convergência Socialista, corrente interna do PT, apresenta aqui suas posições e suas propostas. Pretendemos

assim abrir o debate e colaborar para que as convenções fortaleçam o partido e os militantes para a batalha da campanha presidencial.

Nossas propostas para a candidatura Lula A resolução do Diretório Nacio-

nal do dia 9 de dezembro defende que a candidatura do companheiro Lula tenha um programa de refor- mas, no marco do capitalismo, (ver CS n? 200).

Achamos que essa posição é equi- vocada. Nosso pais vive uma crise econômica que vem se agravando a cada dia e que significa um aumento brutal da miséria dos trabalhadores.

Os planos econômicos capitalistas se sucedem e todos eles têm um mesmo objetivo: provocar recessão, arro- char salários, ampliar o desempre- go.

Isso acontece porque vivemos num pais capitalista, dominado pelo imperialismo, que tem uma dívida externa astronômica cujo pagamen- to significa enviar para o exterior, todos os anos, a maior parte dos re-

cursos obtidos com as exportações. Além disso, toda a economia tem co- mo objetivo garantir os lucros dos patrões, sejam nacionais ou estran- geiros, enquanto os trabalhadores vivem cada vez pior.

Isso é o capitalismo hoje e nenhu- ma reforma será possível enquanto se mantiver essa sangria de riquezas para o imperialismo! Nenhuma re-

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forma será possível enquanto se mantiver a superexploraçào capita- lista!

Para mudar esta situação é preci- so, antes que nada, suspender o pa- gamento da dívida externa e nisso o programa do PT acerta porque essa é a primeira medida proposta. Só que isso não será aceito passivamen- te pelos banqueiros internacionais nem pelos patrões nacionais que são sócios do imperialismo e têm interes- ses comuns. Eles encontrarão for- mas de boicotar essa medida e de. continuar enviando dinheiro para o exterior através da remessa de lucros ou outras formas.

Para garantir a ruptura com o im- perialismo e o FMI e colocar os re- cursos do país a serviço dos traba- lhadores, vai ser preciso ir além da suspensão do pagamento da dívida

externa- Vai ser oreciso estatizar os bancos e o comércio exterior e as grandes empresas nacionais e estran- geiras, com controle dos trabalha- dores, rompendo o poder econômi- co dos grandes capitalistas e evitan- do as fraudes nas exportações e a evasão de divisas.

Estas medidas terão que ser toma- das junto com outras duas pelo me- nos: a reforma agrária radical, que distribua a terra aos camponeses e garanta alimentos para a cidade e o campo e trabalho para milhões de famílias, e a recomposição do poder de compra da população com au- mentos salariais que reponham as perdas e garantam os salários contra a inflação.

Programa: anticapitalista Por isso o programa do compa-

nheiro Lula deverá ter, clara e cate- goricamente, os seguintes pontos: suspensão do pagamento da divida externa, estatização dos bancos e das grandes empresas nacionais e es- trangeiras com controle dos traba- lhadores, reforma agrária radical sob controle dos trabalhadores e re- posição das perdas salariais com au- mento geral de salários e reajustes mensais.

Estas medidas significam aplicar um programa anticapitalista e an- tiimperialista. Não de reformas. Um programa que só poderá ser vitorio- so se for apoiado na mobilização dos trabalhadores por estas e outras rei- vindicações. Por isso o programa de Lula terá que ser também um pro- grama para a mobilização das mas sas trabalhadoras, única garantia de êxito das medidas.

As propostas da maioria da DN: Programa: reformas no marco do capitalismo Víc«: de outro partido, inclusive do PSBou do PV Campanha: aemocrática, demonstrando que Lula foro um governo competente e poro toda a sociedade.

Nossas propostas:

Programa: anticopitalisto e antümperialista Viço: trabalhador, liqodo òJ lutas, de preferência camponês Componha: apoiada nas lutas dos trabalhadores e a serviço debs, por um governo dos trabalhadores e para os Irobalhadoros, que so apoie nos conselhos populares.

Teto e Chão - Fevereiro/89

VITORIA DA ESQUERDA COMO GOVEXNAR UMA CIDADE CAITIMJSTA COU UM PROJETO SOCUUSTAT

Teto c ChãorQual o valor da vitória da esquerda no contexto do Brasil?

Frei Betto: Penso que houve a vitó- ria da esquerda, mas a vitória foi mui- to mais do movimento popular. A vitória do PT representa um protesto contra a política recessiva e repressiva do governo Samey. A abertura de uma nova esperança da conjuntura do Brasil que está se mostrando em tomo do PT. Uma vitória enquanto haja uma consciência do movimento popu- lar que encarnam uma proposta de so- lução para o país. Mas é muito mais no sentimento de que é preciso apre- sentar uma reação, criar uma alterna- tiva de Poder Popular. Encama-sc numa proposta de massa, numa pro- posta socialista com base no PT. Uma vitória não mais entendida como da- quele segmento de "iluminados" que agouravam em vanguarda das massas Mas de uma esquerda que nasce no Brasil com raízes populares democrá- ticas, pluralista, aberta às demandas populares. Deixa de ser uma esquerda aparelista para ser uma esquerda de massa porque avança em base ao mo- vimento popular.

Teto e Chão: Um voto de protesto ou avanço da consciência popular?

Frei Betto: De um lado de protesto. Não há' nação que suporte uma in- flação de 30% ao mês, uma perda real dos salários. O aumento das doenças endêmicas, caso a lepra, tem hoje o mesmo índice dos anos 50. Do outro lado tem havido o crescimento do mo- vimento popular. É fruto do trabalho de muitas forças -progressistas, da es- querda, inclusive da atuação de d. Pau- lo em SP. Um trabalho que se fe/ através das CEB's, da PO, Movimento Custo de Vida, movimentos de ne- gros, terra, menor, favelas, mulheres c todo trabalho sindical. Isso resultou no avanço da consciência popular. É o novo dado da conjuntura brasileira.

Teto c Chaõ: A vitória do PT ó avanço na visão da luta de classe?

Frei Betto: Nos centros urbanos os conflitos se dão com maior evidência. Está acentuado como uma razão social porque a divisão social no Brasil se agravou devido à política econômica, os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres. Segundo, há uma maior abertura no processo político. É possível o maior trabalho de conscien- tização. Assim avança a consciência da luta de classe. Em terceiro há uma total descrença do discurso político

das elites. A TV não ganha as eleições, mesmo com todo poder de penetração. O eleitor é capaz de ter uma consciência crítica diante da TV e do candidato. A Luiza não ganhou pela TV e, sim, por compartilhar da luta e organizações populares.

Teto e Chão: Na cidade, com raízes capitalistas é possível crescer o pro- grama socialista?

Frei Betto: Primeiro é bom ter claro que, nós da esquerda, temos uma visão que o socialismo só se implanta com processo revolucionário. Isso é equivocado. Acho falsa essa visão. Em Cuba, URSS, China quando lá vi- sito, constato com muita ênfase "que precisamos construir a sociedade so- cialista". Em 30, 40, 50 anos depois da revolução, o socialismo,de alguma lorma,dentro de um mundo capitalista c uma utopia. Mas é algo que começa aqui e agora. O Brasil não começa ser socialista no momento em que tiver- mos o aparelho de Estado nas mãos. Mas sim no momento em que nós sou- bermos estabelecer no movimento po- pular uma política democrática. Esta- belecer na administração prioridades sociais. O socialismo vai sendo gesta- do por uma série de atitudes. Medidas ».

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Política Nacional •jumo da destruição do aparelho de es- udo burguês e a substituição do apa- relho de estado popular. Assim, supe- ramos a contradição de uma proposta socialista dentro de um mecanismo capitalista. Ela é tão real para São Paulo, como é para Nicarágua x que iem,ao mesmo tempo,pluralítico de um governo revolucionário. É nesse sen- tido .que vai haver contradições, am- bigüidades. Mas esse não é o único caminho. Não existe um caminho que c pré-estabelecido, cada país constrói seu projeto socialista. Não existe um caminho que a gente possa dizer

bem, nesse dia chegamos ao fim do capitalismo e vamos iniciar o socia- lismo. Santo Agostinho dizia que a Igreja é uma velha sempre grávida de M mesma. A Nova Igreja nasce dentro ila Velha. O socialismo é filho da ve- lha sociedade capitalista. Ele só pode ser gestado dentro da velha.

Teto e Chão: Mas o poder popular enfrenta ainda a maioria dos inimigos no poder.

Frei Betto: É verdade que há um número elevado da elite no poder, exemplo na Câmara - SP. Mas deve-se trabalhar com uma política de mobili- zação popular. É a garantia de Luiza governar com o povo. Segundo é fa- zer uma política de publicidade da administração. Dizer ao povo as me- didas que são tomadas. Os problemas são de responsabilidade do povo, não só da administração. O povo decidir quais problemas deve resolver primei- ro. Exemplo: fazer uma obra em um bairro, sendo que não há verba para isso. É preciso dizer ao povo. A cami- sa de força que enfrenta vícios, es- quemas do sistema capitalista, é a mo- bilização popular e a transparência da administração.

Teto e Chão: Autonomia plena dos Conselhos Populares do governo pe- tista?

Frei Betto: O ponto mais nevrálgi- co é como estabelecer essa relação de autonomia. Evitar dois governos para- lelos. Porque a direita, pelegos, opor- tunistas tomam conta. Autonomia ple- na, porém sem transferir todo poder de deliberação. O PT deve manter suas diretrizes. Isso para evitar que pessoas pelegas queiram ser vereado- res lançando sua plataforma usando os conselhos.

Teto e Chão: Conselhos Consulti- vos ou acima de tudo deliberativos?

Frei Betto: Conselhos Populares não podem ser confundidos com os movimentos populares, mesmo com aqueles que têm uma proposta, uma prática igual ao PT. Os Conselhos não

podem absorver os movimentos. Os movimentos são o sistema nervoso dos Conselhos. Ambos devem se manter autônomos. No entanto, no Conselho pode ser eleito dirigentes do movi- mento. Dona Maria, sem muita expe- riência, se for eleita em Assembléia para o Conselho porquê luta, organi- za, lidera o movimento, ela tem a mesma representatividade dos demais. Os Conselhos não são meramente consultivos, fiscalizadores, mas de- vem determinar prioridades, obras e deliberativos sem chegar a um poder paralelo. Seria desrespeitar o mandato popular, do partido do Povo, o PT. Em Diadema, Gilson Meneses traba- lhou com uma equipe de 250 a 300 conselheiros. Decidiam até o orça- mento. Visitavam e priorizavam obras. Faziam crítica e autocrítica. Esco- lhiam o bairro mais necessitado para uma determinada obra, sem desmere- cer o outro. Havia uma compreensão porque se discutia juntos.

O Conselho deve discutir o orça- mento em cima de prioridades. Por is- so que os membros do Conselho não podem ser só petistas. Todas as facções populares devem estar aí re- presentadas. Mas a hegemonia do PT e as diretrizes devem ser mantidas.

Teto e Chão: Educação, saúde, ha- bitação, transporte, bases sólidas para frjovemo popular?

Frei Betto: São ns prioridades so- ciais para a cidade, com mandato po- pular, social. Educação é fundamen- tal. Através desse trabalho acontece a mobilização popular. A saúde é prio- rizar a vida das pessoas que vão mor- rendo e reverter o quadro de calami- dade que se encontra o país nesse campo. O transporte de massa tem so- lução, como o da habitação. E só to- mar medidas não muito despendiosas, com custos elevados. O trabalho da população é indispensável. Jânio ad- ministrou a cidade em função de uma pequena minoria que habita o centro da cidade. Na periferia se criou um caos. Priorizar esses campos, com medidas criativas de fácil solução, é reverter o quadro de miséria que asso- la o país. Considero prioritário uma campanha de alfabetização de adultos porque pode ser a artéria principal de um trabalho de mobilização popular. Na Nicarágua, o governo popular ado- tou medidas simples para resolver es- ses problemas. No transporte, por não poder comprar ônibus, ele adotou um sistema escalonado para ir trabalhar, ir na escola. Ao invés de todo mundo entrar no mesmo horário, fez horários diferentes para os alunos, comércio, fábricas... São Paulo também precisa de medidas práticas, simples, criati- vas. O trabalho da Igreja me parece

que é de disponibilidade e uma pre- disposição de colaborar com o manda- to popular. Isto porque tem suas raízes e participação nos setores populares. Tem sido responsável, como uma espécie de sementeira de lideranças, peia formação de quadros no movi- mento popular, sindical, político. Essa identificação Igreja e administração tem sido construída na necessidade de reverter os rumos da história do país.

Teto c Chão: O poder popular deve interferir nos meios de produção?

Frei Betto: Eles devem estar nas mãos do Estado. Banco, metrô, ener- gia elétrica, água, não tem sentido es- tar em mãos de grupos privados. Gru- pos privados ainda controlam os meios de produção. O Estado não tem ainda como arcar com esses meios. É demagógico afirmar o contrário. O que precisamos é avaliar qual é o ní- vel de operância e qual é de inoperân- cia desses meios de produção. Quais os meios eficientes e deficitários e quais as condições em que a prefeitura se encontra. A questão da estatização deve ser analisada dentro de um princípio geral.

Teto e Chão: A defesa da democra- cia supõe diálogo com os grupos pri- vados?

Fiei Betto: Em primeiro lugar a prática democrática supõe a efetiva participação dos movimentos popula- res na decisão da administração. Aí os Conselhos Populares devem ter real participação. Ela não é apenas um discurso como tem sido sempre a prá- tica do PMDB e PDS. A prática de- mocrática se efetivou na escolha da Luiza à candidatura da prefeitura. As bases escolheram. Isso tem que ser preservado. O gabinete não deve apri- sionar a administração, conceder só audiências privadas, mas estar junto à população. Ao mesmo tempo, o diálo- go deve haver com todo mundo, com a Marinha, Exército, Aeronáutica. Não devemos mandar recado para ninguém. Mas o princípio do PT deve ser preservado para a defesa popular.

^.a ^ e" fança, Ka^

Trobky ^nsiçao, u,»,

^ venda no CPV.

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Política Nacional

Veja - 29.03.89 Que eleição é esta? Os números da sucessão mostram

um eleitorado jovem, pobre e concentrado em apenas seis Estados

Ainda pairam muitas dú- vidas quanto ao suces- sor do presidente José Samey. Não se sabe, por exemplo, qual o candida- to do maior partido do

país, o PMDB. nem o nome que representa- rá o conjunto das forças conservadoras — e até a respeito das regras eleitorais ainda há indefinições. Já se tem ceneza, contudo, de qual será a principal característica do pleito presidencial: será o evento político que vai contar com a maior participação popular na História do Brasil. Quando o país foi às ur- nas pela última vez para escolher um presi- dente, em 1960, menos de 12 milhões de pessoas votaram, o equivalente, na época, a um quinto da população brasileira. Em 1960, Jânio Quadros elegeu-se com 6 mi- lhões de votos, que hoje seriam suficientes para colocá-lo apenas na cadeira do gover- nador Newton Cardoso, de Minas Gerais.

A sucessão presidencial deste ano será uma escolha política protagonizada por 80 milhões de eleitores, que representam quase 60% da população brasileira. Graças ao sis- tema de dois turnos, o próximo presidente tomará posse com nada menos que 40 mi- lhões de votos. "'Entre 1960 e hoje. há um outro país indo às umas ", constata o cien- tista social Hélio Jaguanbe, do Instituto de Estudos Políticos e Sociais, do Rio de Janei- ro. De todos os dados que já se tem sobre o pleito, alguns números chamam a atenção. Um deles diz respeito à juventude do eleito- rado — de cada dez pessoas que irão esco- lher o próximo presidente da Repúbüca, cinco têm 30 anos de idade ou menos do que isso. Outra novidade reside na geogra- fia da votação. De acordo com um levanta- mento elaborado recentemente pelo Tribu- nal Superior Eleitoral, o TSE, nada menos que 65% dos eleitores estão concentrados em seis grandes Estados — São Paulo, Mi- nas Gerais. Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. O volume de vo- tos que será depositado nas umas em todo o Estado de Sáo Paulo, por exemplo, que terá em novembro 18 milhões de eleito- res, será dez vezes maior que o de um Estado do tamanho da Paraíba.

"ELEIçãO DOS MISERáVEIS" — Essas dis- crepâncias permitem alguns exercícios de matemática eleitoral e abrem espaço oara uma série de especulações. Uma delas re- fere-se à importância de cada eleitor numa eleição presidencial. Em outros tipos de pleito, como o que serve para escolher os membros do Congresso Nacional, existe um sistema de distribuição de vagas no qual o voto de um cidadão de um Estado acaba valendo mais do que o de outro. Isso acontece porque, na escolha dos parlamen- tares, pesa o critério da proporcionalidade.

através do qual um Estado não pode ter menos do que oito representantes na Câma- ra dos Deputados, independentemente de seu número de eleitores. Com isso, o Acre, onde moram 400 000 brasileiros, elege oi- to deputados federais, enquanto o Rio de Janeiro, com uma população 34 vezes maior, leva apenas cinco vezes mais depu- tados para Brasília.

A eleição presidencial, ao contrário, é uma disputa em que cada eleitor vale um voto. Assim, a concentração de eleitores em poucos Estados pode acabar criando al- gumas preferências eleitorais. Na fase ini- cial da campanha, os candidatos deverão visitar todos os Estados — até mesmo por uma questão de cortesia. Nos momentos decisivos da disputa, porém, os candidatos deverão concentrar seus esforços nos Esta- dos mais populosos. '"Nesta eleição, uma capital do tamanho de Florianópolis vale tanto quanto uma favela como a Rocinha", afirma o senador Jorge Bomhausen, do PFL de Santa Catarina.

Outra novidade em relação à escolha do próximo presidente diz respeito à composi- ção social do eleitorado. As estatísticas in- dicam que, de cada dez eleitores, nada me- nos que oito estão situados abaixo da cha- mada linha da pobreza São pessoas analfa- betas ou semi-analfabetas, que geralmente ganham a vida através de trabalhos mal re- munerados. Esse contingente é integrado também pelo conjunto dos assalariados que conseguiram completar o 1." grau. mas que ainda assim não alcançaram uma boa colocação no mercado de trabalho por causa da falta de especialização profissio- nal. Juntos, os chamados pobres e mise- ráveis somam 63 milhões de eleitores. Aquela parcela da população chamada de classe média responde por menos de um décimo dos eleitores.

""Esta será a primeira vez aue uma gran- de massa de abandonados devera decidir o destino do país", afirma o professor Mar- cus Figueiredo, pesquisador do Instituto de Estudos Econômicos e Sociais de São Pau- lo, o Idesp. "'Será uma eleição dos miserá- veis", acrescenta. Em 1960, quando Jânio Quadros foi eleito, o Brasil era um país on- de 47% da população era composta por analfabetos, automaticamente excluídos de participar da eleição. Naquela época, a fa- tia do eleitorado que poderia ser classifica- da como classe média era bem mais gorda — alguma coisa como 17% dos votos dis- poníveis no pleito. Outra alteração no ce- nário eleitoral consiste no processo de mo- dernização ocorrido no país ao longo das últimas décadas. Hoje em dia, de cada dez brasileiros, sete residem em áreas urbanas — uma situação exatamente inversa à de 1960. Estima-se, também, que 94% dos brasileiros assistem regularmente à TV —

o que irá transformar a campanha eleitoral numa pesada competição eletrônica, pou- pando a maioria dos candidatos de realizar intermináveis peregrinações pelo país na promoção de comícios.

Comparada com o eleitorado dos países desenvolvidos, a massa de brasileiros que irá às umas em novembro guarda algumas diferenças notáveis. Uma delas situa-se em seu perfil social. Nos lugares onde o qua- dro da distribuição da renda não assume uma feição tão dramática como no Brasil, a fatia dos votos saídos das camadas mé- dias mantém um peso mais equilibrado em comparação com a dos votos das camadas mais carentes da população. Uma outra di- ferença encontra-se na natureza do voto — que é obrigatório no caso brasileiro, ao contrário do que ocorre na maioria dos paí- ses do mundo. Em países como a França e a Itália, por exemplo, o fato de o voto ser facultativo pode ser um alívio para as pes- soas que não gostam de comparecer às ur- nas, mas não produz muitos efeitos práti- cos — a quantidade de abstenção fica em tomo dos 10% do eleitorado, parcela quase idêntica à dos brasileiros que costumam votar nulo e branco em cada pleito.

Nos Estados Unidos, no entanto, a situa- ção é outra. O atual presidente americano. George Bush, chegou à Casa Branca de- pois de sair vitorioso num pleito do qual participaram 50% dos cidadãos com direito a voto. Um outro dado que impressiona nos EUA, a abstenção é bem maior entre as camadas menos remuneradas da popula- ção do que entre as parcelas situadas nos degraus superiores da pirâmide social. É assim que os negros, por exemplo, votam menos do que os brancos. E os hispânicos, descendentes dos imigrantes da América Central, quase nunca comparecem às umas — a abstenção alcança a marca dos 70% dessa fatia da população dos EUA.

"SINDROME DO FLAMENQO" - Um eleitora- do com o perfil do brasileiro costuma pro- duzir um conjunto de crenças, falsas e ver- dadeiras. Um bom exemplo de crença ver- dadeira é â de que as eleições, no Brasil, costumam ser vencidas pela sigla que con- segue aparecer como a mais bem equipada para dar conta dos dramas sociais do país — processo confirmado tanto pelo MDB, que denunciava o arrocho dos salários em 1974, como pelo PMDB, que emplacou 22 dos 23 governadores no galope do Plano Cruzado, em 1986. Um bom exemplo de crença falsa é a de que um eleitorado com um perfil marcado por desigualdades teria uma espécie de compulsão política para votar em candidatos de esquerda, especiali- zados em anunciar, em palanques, o pro- pósito de promover reformas sociais.

A esse respeito, o que se sabe, de cqnv

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iiiii

creto, é que a experiência aponta no senü- do contrário. Mesmo nas eleições de 1988. quando o PT e o PDT confeccionaram a mais larga votação que qualquer sigla de esquerda jamais obteve na história das elei- ções brasileiras, a maior parte do eleitorado foi às umas para dar seu apoio a candidatos conservadores, como indica um levanta- mento realizado junto a 85% dos 4 500 municípios do país (veja quadro à pág.36). Na realidade, o comportamento dessa par- cela do Brasil, que é miserável nas condi- ções de vida. mas milionária em matéria eleitoral, é muito mais imprevisível do que se pensa. Os mais carentes votam sistema- ticamente na oposição — e quase nunca es- colhem seus candidatos conforme uma op- ção partidária definida. "Eles sofrem da síndrome do Ramengo e votam no partido que acabar ficando com a posição de repre- ■.entante do povão", afirma o professor Fá- bio Wanderley Reis, da Universidade Fe- deral de Minas Gerais. "Tanto podem ficar com Jânio como com Lula", afirma a pro- fessora Eli Diniz, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, o luperj. Jo- vem, pobre e concentrado em meia dúzia de Estados, o eleitorado que irá resolver a su- cessão do presidente José Samey possui, também, uma característica que o toma igual ao de qualquer outro país do mundo. Quando tomar o caminho das umas. em no- vembro deste ano. estará assumindo nas mãos o maior exercício democrático da His- tória do país — e o que se sabe é que as ur- nas, capazes de trazer surpresas para tanta gente, são sempre melhores quando ficam abertas do que quando são caladas. ■

Outra surpresa O poder da direita

Quatro meses depois do pleito de 15 de novembro de 1988, que conduziu uma surpresa chamada Luiza Erundina à prefeitura da cidade de São Paulo, des- cobre-se que os partidos conservadores produziram uma novidade muito mais surpreendente e discreta que o desempe- nho do PT. Uma pesquisa que está sendo concluída pelo Instituto de Estudos Eco- nômicos e Sociais de São Paulo, o Idesp, e que já cobriu 85% dos municí-

Politica Nacional

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A concentração dos votos Dois terços dos eleitores votaráo em apenas seis Estados. deixando quase Iodos os demais com pouco peso eleitoral

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I Pernambuco 3 700 ^ Ceará """S^OO

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/ Mato Grosso / Mato G.do Sul / Distrito Federal

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Tocantins ' Acre

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28 SOO

pios brasileiros, revela que o conjunto das forças conservadoras, formado por siglas que vão do PFL ao PDS e PTB. passando por legendas menores como o PDC e o PL, administram as cidades on- de residem 36% dos habitantes do país. Conforme as projeções desse leyanta- mento. os partidos de centro, agrupa- mento que reúne o PMDB e o PSDB. fi- caram um pouco abaixo, com 30%. e os de esquerda, PT, PDT e PSB, numa es- cala inferior, correspondente a 27%. "O desempenho da direita não foi tão débil como se diz por ai"', afirma o professor Bolívar Lamounier, que coordena o le-

vantamento. Pelos dados encontrados pelo Idesp, o partido que teve, isolada- mente, o melhor desempenho eleitoral foi o PMDB do deputado Ulysses Gui- marães — ficou com 25% dos votos. O segundo foi o PFL. com 15%, e o tercei- ro, o PT. com 12%. Esses números não se referem à votação de cada partido em todas as cidades onde ocorreram elei- ções — mas apenas à quantidade de cida- dãos que estão sob a administração de ca- da legenda. Com pouca margem de erro. os números revelam também a força atual de cada um dos partidos.

Internacional

UNIDADE - Jornal do Sindicato dos Jornalistas de Sáo Paulo - FeW89

A louca ação de La Tablada Em apenas 10 horas, o MTPpõe abaixo, cinco anos de transição para a democracia

N Dez zaos após a hecatombe da "guerra suja" e ónco anos depois do desastre das Malvinas, os militares argentinos estão de volta.

o dia 23 de janeiro, um grupo ae guerrilheiros da organização Mo- vimento Todos pela Pátria (MTP) invadiu e ocupou o quartel mili-

tar de La Tablada, na Argentina, durante cer- ca de 10 horas. O saldo final dessa aventura foi trágico: o quartel foi arrasado por tan- ques, dezenas de pessoas foram mortas (não se sabe quantas) e, principalmente, os mili- tares argentinos — praticamente esconjura- dos pelo povo depois das atrocidades que co-

meteram durante a "guerra suja" do finai da década de 70 e da incompetência profissio- nal que demonstraram durante a guerra das Malvinas — foram "reabilitados". A loucu- ra daquela ação acabou justificando a exis- tência do tumor militar no tecido social da nação.

Mas por que, afinal, o MTP cometeu ta- manha loucura?

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Há várias hipóteses. As duas que prevale- cem incluem a presença indiscutível de uma "isca" colocada por grupos militares de extrema-direita: (1) o MTP teria sido "infor- mado" sobre a iminência de um novo levan- te militar (como os anteriores, comandados por Aldo Rico e Seineldín) no dia 24 de ja- neiro e teria se antecipado, com o intuito de abortar o golpe e se transformar, consequen- temente, em "salvador da pátria"; e (2) o MTP teria tido a mesma "informação" e te- ria agido mediante a "promessa" de que seus militantes seriam resgatados de La Tablada por um grupo de militares nacionalistas.

Numa matéria de Carlos Maria Gutierrez, o jornal uruguaio Brecha investigou a inquie- tação que reina hoje na Argentina. As dúvi- das que provocam essa inquietação são ob- jeto da matéria que reproduzimos ao lado.

Volta o tempo do terror Nos três últimos meses, havia um motivo bá-

sico para explicar o falo de os porlenhos saírem de Buenos Aires: os cortes de energia elétrica. De- pois do dia 23 de janeiro, há outro motivo, mais sinistro: o medo. Quando se chega a Buenos Ai- res e se começa a procurar os amigos, pergun- tando por Fulano, pedindo o telefone de Beltra-

no, as respostas, invariavelmente, são do tipo "acho que ele está de férias" ou "tem tempo que não o vejo".

Por que o medo? A principal resposta está no fato de não haver

respostas para algumas dúvidas. Dúvidas parti- cularmente cruéis e brutais para uma nação que ainda se refazia de uma guerra civil nào-declara- da (a chamada "guerra suja"), travada entre or- ganizações políticas de esquerda e nacionalistas e o Exército argentino; uma nação que ainda lam- bia as feridas,provocadas pelo "desaparecimen- to", entre 76 e 82, de quase 30 mil pessoas.

As Dúvidas

— Quantos eram, de lato, os corpos que fica- ram sob os escombros do quartel de La Tablada depois da passagem dos tanques, depois que tu- do acabou?

— Quantas pessoas — que não se encontra- vam realmente ali, durante a ação armada — fo- ram caçadas, transportadas para lá e colocadas em meio às ruínas do quartel, entre segunda- feira, 23 de janeiro, e terça-feira, 24?

— Quem pode dar garantias de que os milita- res (como "instituição agredida") não continuam exercendo uma repressão oculta, combinando es- sa à tarefa de investigar os fatos (tarefa essa que Alfonsin incumbiu à polícia federal e a quem o Exército "ofereceu préstimos" desde o primeiro momento)?

— Por que o procurador-geral Andrés DAIes- sio, encarregado por Alfonsin de coordenar os trâmites judiciais da im. ■ ligação, dizia, em en- trevista à imprensa no dia 29 de janeiro, coisas

do tipo "ainda faltam ser ídenuf içados entre seis t dei corpos"?

— Por que o procurador DAlessio, cm decla- rações do dia 30, um dia depois de anunciar a identificação de cinco mortos, revela a existên- cia de mais um cadáver (num ritual de suspense que, de tão repetitivo, se torna macabro) "ainda não identificado"?

— Por que o jornalista Carlos Alberto Bur- gos (ex-militante do ERP na década de 70), cujo filho participou, e morreu, na ação armada de La Tablada, "desapareceu", segundo o Exército argentino?

— Por que o senhor Júlio Lareu recebeu, na segunda-feira, 23, do secretário do Tribunal de Moron (comarca a que pertence o quartel de La Tablada) a informação de que sua filha, Clau- dia, e seu genro, Francisco, haviam participado da ação e se encontravam presos, entre os sobre- viventes, para ouvir do procurador DAlessio, no dia seguinte, que Cláudia se encontrava entre os mortos e Francisco "desaparecido"?

—Por que, na tarde do dia 23, vários guerri- lheiros (que se haviam rendido) foram obrigados, por militares, a se perfilar e marchar, alinhados e com as mãos sobre a cabeça, alguns metros à sua frente, enquanto outros soldados e policiais abriam fogo sobre eles (veja foto da revista So- mos, nesta página)?

— Por que, finalmente, numa verdadeira ope- ração de guerra como foi a ação de La Tablada, não existem feridos (apenas mortos e presos, in- comunicáveis)?

Estas são, talvez, as principais dúvidas. E, é claro, as principais causas para o medo que to- mou conta dos argentinos.

Jornal dos Direitos Humanos - Março/89

PARAGUAI: JOGO DE PODER AFETA GEOPOLÍTICA NA A. LATINA

A queda do general Alfredo Snoessner, e sua substituição pelo ge- neral Andréz Rodriguez, recolocam na oídcm do dia várias questões ligadas á iL^opolítica, tendo como pano de fun- do a dinâmica do pensamento militar na Aménca Latina. Elemento funda- mental nesse contexto é a partici- pação, direta ou indireta, dos militares brasileiros na arquitetura política no ( one Sul.

Desde a tomada do poder por Siroessner em 1954, o Paraguai tor- nou-se um habitat natural do ultracon- *jrvadorismo. Refúgio de criminosos de guerra nazistas, o país também tor- nuu-se o paraíso do contrabando e do narcotráfico. Também são do Paraguai algumas das principais lideranças da Aliança Anticomunista Mundial, que nos últimos tempos tem estreitado os laços com os seguidores do reverendo Moon. O acontecimento talvez mais significativo que denuncia o floresci- mento da extrema-direita no solo fértil da ditadura paraguaia é a presença no país do ex-ditador da Nicarágua, Anastácio Somoza, morto afinal por um bozucaço, em pleno centro de As- sunção, no início de 1980.

RELAÇÕES COM O BRASIL As relações do Paraguai com o

Brasil têm sido historicamente de submissão daquele para este país. Isto desde a Guerra do Paraguai, em que foi morto um quarto da população pa- raguaia (o que eqüivaleria a cerca de 35 milhões de brasileiros hoje).

Logicamente, as alianças entre os militares brasileiros e paraguaios prosperaram com o golpe de 31 de março de 1964, que depôs o presiden- te João Goulart. Boa parte do equipa- mento das forças armadas paraguaias é proveniente das indústrias bélicas brasileiras, assim como os treinamen- tos dos efetivos paraguaios são feitos, basicamente, por assessores militares brasileiros. A missão militar brasilei- ra, em meados de 1987, superava nu- mericamente à dos Estados Unidos.

Siroessner estudou em escolas para altos oficiais no Brasil, tendo sido contemporâneo dos generais Geisel e Figueiredo. Conforme a imprensa de- nunciou à época, os militares brasilei- ros chefiaram a elaborar um plano de invasão uo Paraguai, caso a situação nesse país se desestabilizasse, a ponto de colocar em risco o projeto de cons-

trução da hidrelétrica de Itaipu, Como se sabe, foi a construção de Itaipu (que nos cálculos de vários economis- tas é responsável por cerca de 10% da dívida externa brasileira) a responsá- vel pela alteração do equilíbrio de forças no Cone Sul em favor do Brasil e em detrimento da Argentina,

A dependência da economia para- guaia dos investimentos brasileiros, do mesmo modo, é substancial, A maior parte da dívida extema para- guaia, de 3 bilhões de dólares, tem o Brasil (sobretudo o Banco do Brasil) como credor.

A primeira fábrica de aço no Para- guai foi construída a partir de um acordo entre o governo Siroessner e um grupo brasileiro. Fruto desse acor- do, desde 1978 o Paraguai compra minério de ferro do Brasil. A constru- tora Veplan e a empresa de equipa- mentos hidráulicos Tigre são alguns dos muitos grupos econômicos brasi- leiros presentes no Paraguai.

A dependência não é menor na área agrícola. A maior parte das terras de fronteira com o Brasil pertence a fa- zendeiros brasileiros. Por outro lado, calcula-se em mais de 40 mil o núme-

ro de "brasiguaios" — camponeses brasileiros que, expulsos de suas ter- ras, foram obrigados a ir ao Paraguai, onde enfrentam uma sistemática re- pressão por parte das forças policiais. Outro exemplo das estreitas vincu- lações entre os aparatos policiais bra- sileiro e paraguaio foi o seqüestro em território brasileiro, em dezembro de 1979, do oposicionista paraguaio Re- migio Gimenez. Sob a acusação de "crimes contra o Estado", cometido cm 1959, Remigio foi transferido para o Paraguai, onde recebeu a sentença máxima de 30 anos de detenção.

ASILO POLÊMICO Todos esses elementos devem ser

considerados quando se discute o polêmico asilo político concedido pelo governo brasileiro ao general Siroess- ner, "derrubado" no golpe de 3 de fe- vereiro. As constantes viagens de Stroessner ao Brasil, onde detém vá- rios negócios, principalmente no setor agropecuário, sempre suscitaram polêmica, como na época da trans- missão do cargo do governador do Pa- raná, José Richa, para seu sucessor, Álvaro Dias. Stroessner tem uma re- sidência de veraneio em Guaraluba, no litoral paranaense, mas desde o princípio Álvaro Dias acentuou a sua posição contrária a um possível esta- belecimento do ditador neste estado brasileiro.

Restou, portanto, o reduto do ulira- conservadorismo brasileiro — as re- giões agropecuárias na região centrai

DEMOCRATIZAÇÃO A pressão da opinião pública brasileira

pela democratização do Paraguai, após a queda de Siroessner, é essencial, indepen- dente do aspecto asilo, Tudo leva a crer, na opinião de analistas políticos experien- tes, que o golpe que colocou o general Rodriguez no poder foi gestado na embai- xada dos EUA, dentro da nova política do Departamento de Estado para a América Latina, a partir da administração Jimmy Carler, a saber: a transição, claro que tu- telada pelos militares, dos governos dita-

toriais no continente para democracias burguesas, estruturadas em eleições con- troladas, excluindo a participação dos par- tidos comunistas.

A reivindicação básica das forças po- pulares paraguaias no momento é o adia- mento das eleições presidenciais, previstas para 1- de maio, Um dado inquíctante no processo político paraguaio c u aparente divisão que se tem notado nos meios ecle- siais desse país Ate a queda de Stroess-

ner, a Igreja Católica como um todo de- fendia o afastamento do ditador. Agora, uma parte da cúpula da Igreja apoia o ca- lendário eleitoral e de reformas políticas anunciado pelo general Andréz Rodri- guez. Permanece defendendo reformas radicais profundas na estrutura social, política e econômica do país uma parte da Igreja paraguaia, representada por d.Me- lanio Aceval, da região do Chaco.

De todas as maneiras, a dinâmica do

processo político paraguaio terá peso sig- nificaüvo no futuro do jogo democrático na América Latina. Do mesmo modo, terá peso decisivo na esfera geopolílica. com destaque para o papel do Brasil como subimperialista no Cone Sul. Levando es- sa linha de pensamento para mais longe, dependerá muito do que acontecer no Pa- raguai o equilíbrio de forças no Atlântico Sul. Afinal, Stroessner é acionário de mi- na de diamante na África do Sul, o país do apartheid.

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Quinzena

do país. Stroessner chegou na casa de hóspedes de Fumas Centrais Elétricas (a empresa estatal responsável pela construção de Itaipu), em Itumbiara, Goiás, nas proximidades do Triângulo Mineiro, na noite de 5 de fevereiro, domingo, após uma escala no aeropor- to de Viracopos, em Campinas. Nos primeiros dias de sua estadia em Itumbiara, Stroessner motivou mam- lestações favoráveis e de repúdio à sua presença no país. Nos últimos dias, a imprensa tem noticiado que ele pode ser transferido para Uberaba, onde é forte o poder político de direi- ta, liderado pela União Democrática

Ruralista (UDR).

Mas o problema do asilo está Ipnge de ser equacionado. No dia 10 dç fe- vereiro, as entidades brasileiras com- ponentes do Movimento de Solidarie- dade pela Democracia no Paraguai (OAB, Comissão Teotõnio Vilela, Comissão Justiça e Paz, deputados e senadores de vários partidos) lança- ram um manifesto, expressando que a concessão de asilo a Stroessner, "lon- ge de ser um ato humanitário, é uma conduta violadora dos princípios in- ternacionais e representa o descum- primento da norma geral, contida na

nova Constituição, que determina que o Brasil, nas suas relações internacio- nais, deve pugnar pela prevalência dos direitos". Por tudo o que foi cita- do, Stroessner não foi exatamente um baluarte da defesa dos direitos huma- nos durante o seu governo de quase 35 anos.

Contudo, apareceram vozes des- toantes quanto à questão do asilo, mesmo no âmbito dos setores progres- sistas da sociedade brasileira. Em ar- tigo, na reVista "Veja", de 15 de feve- reiro, o diretor do Ibase e "procura-

Internacional

dor" do povo do Rio de Janeiro, o cientista político Herbert de Souza, o Betinho, irmão do Henfil, defende o asilo ao ditador paraguaio, por princí- pios éticos.

Diz Betinho: "Eu também acho que ele cometeu crimes — apenas não posso defender a idéia de que se deva conceder ou negar o asilo a uma pes- soa por apreciarmos ou condenarmos sua folha corrida". Ele acha que o asi- lo é "um direito universal, e não pos- so — como se estivesse acima do bem e do mal — achar que uns mereceriam mais que outros tal benefício"

4ABC Color' tem tiragem de 90 mil

O jornal "ABC Color" foi relança- do com uma tiragem de 90 mil exemplares, o que dá quase quatro vezes o número de exemplares do até então maior jornal do Paraguai, o "Hoy", que tira cerca de 23 mil. A redação foi reorganizada com um equipamento de informática —o primeiro do pais— avaliado em 500 mil dólares. Antes de ser fechado, em 1984, o "ABC Color" consumia mais papel do que todos os outros jornais do país juntos, com uma tiragem por volta dos 80 mil exem- plares.

Os ares de redemocratização do Paraguai têm permitido um clima de liberdade de expressão. A rádio Nanduti, de oposição independente que estava fechada por ordem go- vernamental, começou a funcionar dias após o golpe militar de 3 de fevereiro. Hoje, se pode comprar

jornais no Paraguai com a manchete "Máfia homossexual dominava a ditadura stroessnerista". como a publicada pelo "El Liberai Para- guayo", um semanário recém-lan- çado.

Alguns jornais tiveram que sub- meter-se ao constrangimento de alterar suas posições totalmente pró-Stroessner, vigentes até 3 de fevereiro, para ataques virulentos contra o ex-presidente, cujo nome é sinônimo do que há de pior no Paraguai de hoje. Nas conferências regionais ào Partido Colorado (o mesmo de Stroessner e Rodríguez) foi comum que grupos rivais tachas- sem-se mutuamente de "stroessne- ristas".

O "ABC Color" leva na concorrên- cia contra estes jornais, como o "Diário de Notícias" (dirigido por Hasser Aguilar Sosa, ex-colaborador de Stroessner) e o próprio "Hoy" (propriedade de Humberto Rodrí- guez Dip, casado com a filha do ex-presidente, Graziela), a vanta- gem de não ter compactuado com o antigo regime e mantido uma aura

de credibilidade. O jornal de AJdo Zucolillo foi

lançado pela primeira vez no dia 8 de agosto de 1967, e foi fechado no dia de sua edição número 6.041. Durante os exatos cinco anos em que esteve fechado, a sede do jornal na rua Yegros, no centro de Assunção (capitai), funcionou como um centro de apoio de jornalistas estrangeiros. Os arquivos continuaram sendo uti- lizados, e Zucolillo disse que cuidou pessoalmente da conservação física do prédio, pois estava certo de que voltaria a reabrir o jornal.

Durante os 17 anos de funciona- mento do diário sob os governos do general Stroessner, 17 jornalistas foram presos, inclusive o próprio Zucolillo, por duas vezes. Ele afirma que foram inúmeras as pressões e os subornos oferecidos ao jornal, mas que não restou ao general outra alternativa a não ser recorrer à violência.

Na época do fechamento, o jornal estava produzindo uma série de reportagens sobre os automóveis brasileiros que são roubados e leva- dos ao Paraguai. (RF)

A Mulher Palestina Por ocasláo das comemorações pelo Dia Internacional da Mulher - 08 de Março - divulgamos o Comunicado da Uniáo Geral das Mulheres Pales-

tinas, onde é exposto o sofrimento da valorosa mulher palestina nos Territórios Ocupados, para que tomem conhecimento e o divulguem, na medida de suas possibilidades, em suas comunidades, suas associações e/ou instituições.

O sofrimento desta corajosa mulher, mola mestra de nossa luta, que empunha destemida a bandeira da causa palestina, na defesa de seus filhos, seus maridos e de sua querida pátria, sendo afrontada, discriminada e violentada em sua condição de mulher e de palestina, pela crueldade do ocu- pante sionista e que ultrapassa todo o limite do compreensível.

Contamos com a solidariedade da mulher brasileira, sabendo que esta nâo deixará de elevar a sua voz na defesa de suas companheiras, contra a discriminação, o desrespeito e o abuso do poder.

Saudações.

Bras/lia - DF., 06 de março de 1989.

Assessoria de Imprensa Representação da O.UP. no Brasil

COMUNICADO UNIÃO GERAL DAS MULHERES PALESTINAS

A Mulher Palestina nos Territórios Ocupados deflagrou uma greve de fome aberta, em protesto contra a escala- da das práticas repressivas sionistas contra o povo pales- tino.

Esta foi anunciada em um Comunicado emitido pela Mulher Palestina nos Territórios Ocupados num apelo ao mundo para que seja tomada uma iniciativa imediata a fim de terminar com o sofrimento do povo palestino e

pressionar o regime sionista para que este coloque um ponto final definitivo a todas as práticas criminosas, atendo aos esforços internacionais que demandam o re- conhecimento dos direitos justos e inalienáveis do povo palestino.

"A todos os religiosos do mundo... A nossa gente, Reis, Presidentes e povos dos pafses árabes... A todas as entidades femininas internacionais... A nossos conterrâneos palestinos, onde quer que este^

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Quinzena

jam... Aos Estados do Mercado Comum Europeu... Ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e seus cinco países membros permanentes... A todas as instituições contra a discriminação racial... À organização da Anistia Internacional, instituições de Di- reitos Humanos e organizações de defesa da justiça... À consciência mundial e a todo o povo, homens, mulhe- res e crianças... Ao Congresso da Organização da Conferência Islâmica e ao Conselho Mundial das Igrejas... A União Geral das Mulheres Palestinas... À União Mundial de Mulheres e União Democrática das

Muineres... A todas as entidades sindicais, profissionais e estudan- tis... A todas as organizações não governamentais... A todos os estados dos Países Não Alinhados... A todos os estados da Organização da Unidade Africana e Asiática... A todos os países socialistas e à União Soviética... À Assembléia Geral das Nações Unidas, todas as suas Agências e Comitês... Às organizações da Cruz Vermelha e Crescente Verme- lho internacionais... À Organização Mundial da Paz...

Ouçam nosso apelo, ouçam os gritos de nossas crian- ças, nossos filhos morrem baleados; nossos jovens são queimados ou enterrados vivos; nossas crianças são es- pancadas até terem seus ossos quebrados, provocando paralisias e mutilações; nossas mulheres sofrem a pro- vocação de abortos; nossos velhos morrem pela inalação de gases tóxicos; nossos feridos são impedidos de rece- ber atendimento até que derramem a última gota de seu sangue; nossos filhos são arrancados de nossas casas e detidos sem julgamento, sendo afastados de suas mu- lheres e filhos; nossos filhos são aprisionados e senten- ciados a penas administrativas injustas, sofrendo a morte nas aterradoras prisões da ocupação, sendo mortos por seus carcereiros dentro de suas celas; nossas casas e nossos móveis são destruídos; nossos alimentos são, proposital mente, arruinados e nosso lares destruídos ou lacrados; nossos velhos são obrigados a permanecerem assentados no chão, ao relento, expostos ao frio, sujeitos a doenças sem permissão para o atendimento de suas mínimas necessidades; nossas cidades, aldeias e acam- pamentos são cercados, atacados e submetidos a impo- sição de toques de recolher por vários dias, o que às ve- zes pode chegar a até um mês inteiro. A crueldade da ocupação atingiu o seu auge quando começaram a atirar corpos estranhos e explosivos em nossas crianças ino- centes, os quais provocam deformações, perdas de par- tes de seus corpos e até a sua morte; nossas terras e nossas propriedades são confiscadas e nossas árvores frutíferas, fontes de nossa subsistência, são cortadas, sendo construídos assentamentos e colônias em seu lu- gar nossas fontes hídricas são transformadas para servir aos interesses da ocupação e para o atendimento de seu lazer; nossas plantações são arrasadas e queimadas e nossas crianças sofrem a sede a fome; nossas escolas, institutos e universidades e até nossos jardins de infân- cia são fechados com o objetivo de tornar nosso povo ig- norante; nossas entidades de desenvolvimento e organi- zações voluntárias, culturais, de imprensa e de informa- ção são fechadas judicialmente; provocam uma guerra contra nós em todos os campos de nossa vida, atingindo até mesmo o nosso pão de cada dia, emitindo leis injus- tas, cobrando altos impostos para enforcar nossa eco- nomia, provocando nosso empobrecimento, apropriando- se de nosso dinheiro para provocar a fome e a conse- qüente humilhação de nosso povo; agridem nossa digni- dade e nosso orgulho; violam a respeitabilidade de nos- sos lares, nosso lugares sagrados; roubam nossas igre- jas, continuando as escavações por baixo da Mesquita de Al Aqsa, em cuja direção se voltam os mulçumanos ao realizar suas preces e o 39 dos mais importantes mo- numentos sagrados do islamismo, com a intenção de fa-

zer ruir este patrimônio sagrado.

Eles tentam apagar nossa herança cultural, nosso nome e nossa identidade da história mundial. Eles atra- vancam nossa liberdade de expressão, oral e escrita, e de pensamento, limitando nossas ações e violando as- sim, todas as convenções da humanidade e os mais elementares direitos do homem, expressos pela lei inter- nacional e pela 45 Convenção de Genebra (1949) que fala da proteção aos direitos civis em tempo de guerra.

O número dos atinqidos desde o início da INTIFADA (Levante Popular Palestino, iniciado em dez/87) até 22 de fevereiro de 1989 são os seguintes:

- Mártires - b"9b' - Casas destruídas - 792 - Mutilados - 928 - Detidos - 44.000 - Feridos - 40.000 - Deportados - 49 (e 12 a espera de deportação)

A despeito de tuoo isto, para colocar um tim a todas estas práticas repressivas contra nosso povo e com o objetivo de estabelecer uma paz justa em nossa região e criar nosso Estado Palestino Independente, o Presidente de nossa Organização estendeu sua mão para a paz, de- clarando ao mundo que está disposto a construir uma paz justa que garanta a nosso povo os seus direitos na- cionais. Pois nós somos um povo amante da paz e que trabalha por sua realização. E as resoluções do Conselho Nacional Palestino em Argel são as provas irrefutáveis de nossa seriedade pelo alcance desta paz.

Nós, da Terra Ocupada, erguemos nossa voz até os céus, apelando e clamando ao mundo inteiro, para que tomem uma iniciativa imediata a fim de colocar um pon- to final a esta injustiça e ao sofrimento, nosso, de nossos filhos e de nossas crianças; conclamando ao atendimen- to de nossas reivindicações, pressionando Israel para for- çá-lo a atender o apelo da verdade e da justiça de nossa causa, pois Israel já foi longe demais em ignorar nosso direitos justos, a despeito dos esforços de todos os esta- dos e a opinião pública mundial para alcançar uma solu- ção justa para nossa causa e para a estabilidade e segu- rança de nossa região.

Pedimos aos estados árabes irmãos que usem todas as suas energias, econômicas e políticas, para pressionar os Estados Unidos a por um fim às suas posições inimi- gas e parciais contra nosso povo, pois sem o apoio deste a Israel este não poderia continuar a ocupação de nossa terra.

Assim como declaramos ao mundo inteiro que a INTI-j

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Internacional

FADA de nosso povo é contínua e crescente e não para-' rá nunca até que tenhamos obtido a realização de nos- sos anseios e o estabelecimento de nosso Estado Pales- tino, declaramos nossa rejeição às soluções inconsisten- tes ou à realização de eleições à sombra da ocupação, ou ainda a qualquer altemativa para suprimir a OLP. E que nós, apesar desta injustiça e da repressão e opres- são que jaz em nossos peitos, somos pacientes e resis- tentes até que Icancemos nossos objetivos de liberdade e independência ou que morramos por eles.

Até que isto se realize, conclamamos a Organização das Nações Unidas a que envie tropas internacionais aos territórios ocupados para que substituam as forças da

ocupação na proteção de nosso povo contra a morte, a destruição e a dispersão que nos cercam por todos os lados e para que alcancemos nosso direito justo ao re- tomo, à autodeterminação e à criação de nosso Estado Palestino Independente, em nosso solo pátrio e sob a li- derança de nossa única representante, a OLP, até que a paz abranja toda a terra do amor e da paz, a Palestina.

Finalizando, nós, as mulheres palestinas, do coração da querida Palestina, anunciamos ao mundo nossa greve de fome aberta a todos, cada qual em sua posição, pelo fim da injustiça e do sofrimento sobre nós, nosso filhos e nossas crianças, e pela criação de nosso Estado Palesti- no em nossa pátria."

O Estado de São Paulo - 29.03.89

URSS admite derrotas do PC O porta-voz do Cremlin diz que os candidatos

derrotados vão sofrer as conseqüências

MOSCOU — Pelo menos 20°,, dos candidatos do Partido Comunista nas eleições para a formação do novo Parlamento da União Soviética foram der- rotados, reconheceu ontem o porta-voz da Chancelaria da URSS, Gennadi Gerasimov, em entrevista aos correspondentes estrangeiros, em Moscou. Para Gerasimov esse fato demonstra que os candidatos "nâo eram os mais adequados". Ele deu a en- tender Ç(ue os políticos derrota- dos poderão ser marginalizados. "Cada caso será examinado e seráo tomadas as providências necessárias no plano regional", declarou o porta-voz.

Os meios oficiais e a im- prensa não ocultaram sua sur- presa diante do resultado das eleições, que marcou a vitória de candidatos partidários da pe- restroika e a derrota de vários figurões do PC. A derrota mais significativa foi a do chefe do PC de Leningrado, Yuri Solo- vev, membro suplente do Polit- buro, que, apesar de concorrer sozinho, não conseguiu o míni- mo de 500o dos votos para se ele- ger. Com as apurações ainda em andamento é provável que au- mente o número de candidatos do PC derrotados. Entre os pro- gressistas, a vitória mais im- portante foi a de Boris Yeltsin, ex-chefe do PC de Moscou, que conquistou quase 90% da vota- ção.

Gerasimov náo se furtou a comentar a vitória de Yeltsin. Segundo ele, o candidato refor- mista é "um caso especial, um símbolo, em torno do qual se

concentraram as mais diversas forçaò políticas".

Em contraste com Gerasi- mov, o jornal Moscovskaya Pravda, defensor das idéias conservado- ras, deu a vitoria de Yeltsin em pequeno artigo de rodapé, na se- gunda página. Em geral, a im- prensa soviética preferiu uma abordagem muito discreta das eleições, por causa da derrota dos candidato? do PC, mas o jor- nal Izvestw. porta-voz do gover- no, saiu com uma análise mais direta e contundente dos resul- tados. Segundo o jornal, "a di- tadura da democracia já come- çou" e saíram perdendo aqueles que "no passado venciam auto- maticamente".

Mas a televisão soviética li- mitou-se a dar o noticiário la- cônico dos resultados, sem emi- tir juízos e avançar em análises. A agência Tass foi breve, mas ressaltou o fato de que os sovié- ticos disseram nas urnas o que pensam dos dirigentes contrá- rios ás reformas. "O povo sovié- tico falou", djsse a Tass.

Mas a televisão soviética li- mitou-se a dar o noticiário la- cônico dos resultados, sem emi- tir juízos e avançar em análises. A agência Tass foi breve, mas ressaltou o fato de que os sovié- ticos disseram nas urnas o que pensam <Jos dirigentes contrá- rios ás reformas. "O povo sovié- tico falou", disse a Tass.

PRESENTE

Funcionários do Partido manifestaram sua surpresa diante dos resultados, em con- versas com diplomatas ociden- tais em Moscou. "Nâo esperáva- mos um movimento de tanta amplitude e o fracasso de tantas personalidades", disseram. Um deles comentou: "Os que foram derrotados devem aprender que

o poder não é um presente que se recebe mas algo sobre o qual de- ve se prestar contas continua- mente".

Na opinião geral, o resulta- do das eleições é uma clara de- monstração da revolta dos so- viéticos diante da escassez de alimentos e de produtos bási- cos. Essa revolta pôde ser ex- pressa na medida em que, pela primeira vez desde a criação do Estado soviético, há mais de 70 anos, o povo da URSS pôde vo- tar secretamente e escolher en- tre dois ou mais candidatos.

Mas o que desconcerta a li- derança do PC é o fato de que muitos candidatos que náo ti- nham adversário, como no pas- sado, também não conseguiram passar a nova barreira do limite mínimo- de 50"o da votação. Em muitos distritos, esses candida- tos sem concorrente ficaram à margem e agora haverá outro turno das eleições, de acordo com a lei, com a apresentação de outros políticos mais capa- zes de convencer o eleitorado.

REAÇÕES

A imprensa da Alemanha Oriental simplesmente ignorou os resultados das eleições na URSS. O jornal porta-voz do PC, Neues Deuischland, limitou-se a publicar algumas linhas na quinta página, informando ape- nas sobre a realização de elei- ções para formação do novo Parlamento e as funções que es- se órgão deverá ter.

Em contraste com o mutis- mo da Alemanha Oriental, onde a direção do PC é claramente hostil à perestroika de Gorba- chev, os jornais da Alemanha Ocidental e do resto da Europa Ocidental abriram manchetes para a derrota do PC e a vitória dos candidatos reformistas em várias regiões.,

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Quinzena Internacional

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O PROJETO DE MUDANÇA Wm^WltWVAWWWWlWWMMMB T^JV^'*y.fJ0"ITL""L'-,'"m~~°mTrff

COMO ERA faxlat* Supr«mo No popel, é o máximo órgão legislativo do URSS. Funciono, no •ntonto, como apêndice da Partido Comunista. Os 1.500 ,. parlamentares são eleitos 0 cada cinco anos —50% são indicados pelas 15 repúblicas que tormam o pais e 50% são eleitos a nível nacional. Reúne-se duas vezes por ano —exceto as sessões extraordinárias— poro aprovar

decisões tomadas pelo PC

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Preeldlum do Soviete Supremo O chefe do órgão desempenho as funções do Presidência. O corgo e ocupado desde outubro por Mikhoíl Gorbatchev, mas é decorativo. O presidente é responsável pela político externa e pelas Forças Armados

Conselho d* Ministros Chefiado por um primeiro-ministro (atualmente Nikolai Rijkov), inclu todos os ministérios. Coordena a execução do plano de governo

COMO FICA

1 Congresso dos Deputados do

Será o principal órgão legislativo do país. Vai se reunir anualmente para definir as prioridades do plano de governo. Será composto por 2.250

delegados—um terço eleito diretamente nas repúblicas e um terço eleito nacionalmente (hoje) e um terço já indicado por organizações políticas e culturais ligadas ao Estada

^

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Presidente Eleito através do voto secreto pelo Congresso dos Deputados do Povo, o presidente vai deter mais poderes do que hoje. Acumulará as funções administrativas, de político externa e do setor de defesa

Soviete Supremo O órgão será enxugado para 544 membros, eleitos em plenário pelo Congresso dos Deputados do Povo. Seguindo o exemplo dos Parlamentos ocidentais, vai se reunir freqüentemente. O objetivo da mudança é agilizar o implantação das reformas

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Conselho de Ministros Até agora não foram anunciadas mudanças na composição e nas responsabilidades do organismo 1

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Presidium do Soviete Supremo Vai apenas coordenar os trabalhos do novo Soviete Supremo. Além do presidente, será formado por dois vices e 15 delegados nomeados pelas j repúblicas

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0 SISTEMA ELEITORAL, DA REVOLUÇÃO ATE HOJE -tm ^■■■■cv^ytü

Constituição de 1924

DMKW O Sovwt* Supremo tm duas câmara» (a da União • a dai NoaonolidodM} Mantém a proporção deputado/habitantM no campo e na cidod* Mantém o mtemo indireto para os sowwtM d* n*vo»s Mporiores

Constituiíõodel936

tsiaboioc* o voto diroto poro os soviates de todos o« níveis O Sovtete da União posso a tor 738 membros, eleitos proporcionalmente em relação ao número de habitantes do pois O Sovtete das Nocionolidodes possa a ter MO membros, mòtcodos na seguinte escoio: 33por repúbtko tederoda, 11 por república autônoma 5 por região outãnomo, 1 por distrito outãnoma

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Constituição de 1918 Voto direto para a eleição dos sawteles locoti Voto indireto paro a eleição dos sovietes regionais e nacionais Proporção nas cidades: 1 deputada/100 habitantes Proporção no campo: 1 deputado/1.000 habitantes

Constituição de 1967

Mantém a estrutura de 1936 Explicito, no artigo 6, o "papel dirigente do Partido Comunista"

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Reforma constitucional de 1988

Mudo toda a estrutura parlamentar Mistura voto direto e indireto no processo de escolho dos deputados estabelece o voto secreto nos slelçães diretos Permite que vários candidato» concorram o umo vogo no Porlomento