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Jovens da região explicam por que não se relacionam com o entorno O artista Guenther Leyen registra, em CD intera- tivo, os principais pontos do lugar. Eletronuclear comenta apagão e analisa energia para 2010 Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 16 ANO 2009 RIO DE JANEIRO | DEZEMBRO DE 2009 Subprefeitura afirma que o Centro é o único bairro com coleta diária A Subprefeitura do Centro comenta as questões mais apontadas na seção “Se essa rua fosse minha”, da FOLHA DA RUA LARGA, em que o tratamento de calçadas, do asfalto e a limpeza urbana foram citados como pontos críticos. O ex-subprefeito, Marcus Vinícius, analisa projetos de conscientização da população como o Super Gari e o Lixômetro. página 13 Estudantes do Pedro II e São Bento costumam conhecer monumentos depois de formados. Eles falam da falta de estímulo a andar pelas ruas do Centro. Um tour virtual pelo Morro da Conceição O desembargador federal Paulo Espírito Santo fala sobre a importância do TRF2, há 20 anos, na Rua Acre como representação do poder judiciário. A segurança seria um problema de todo grande centro urbano. página 5 página 9 página 12 Presidente do TRF2 fala sobre a segurança na Rua Acre página 14 página 15 Memórias do Dragão A história da loja que patrocinava um programa de rádio apresentado por Ademar Casé. “O Dragão da Rua Larga” foi tema de um jingle de Noel Rosa e motivou Carlos Heitor Cony a escrever uma crônica. Leia na nova seção “Baú da Rua Larga”. lazer entrevista folha da rua larga Lielzo Azambuja Othon Pinheiro da Silva defende a necessidade de investimentos no setor elétrico e diz que é necessário ter um projeto energético sustentável. O presidente comenta também sobre a ideia de revitalizar a região da Rua Larga. página 7 Málaga saúda a tradição página 14 gastronomia Divulgação

Folha da Rua Larga 16

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A Folha da Rua Larga circula gratuitamente pelas ruas do Centro do Rio e Zona Portuária. Criada em 2008 pelo Instituto Light, é editada pelo Instituto CIdade Viva.

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Page 1: Folha da Rua Larga 16

folha da rua largaJovens da região explicam por que não se relacionam com o entorno

O artista Guenther Leyen registra, em CD intera-tivo, os principais pontos do lugar.

Eletronuclear comenta apagão e analisa energia para 2010

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 16 ANO 2009RIO DE JANEIRO | DEZEMBRO DE 2009

Subprefeitura afirma que o Centro é o único bairro com coleta diáriaA Subprefeitura do Centro comenta as questões mais apontadas na seção “Se essa rua fosse minha”, da FOLHA DA RUA LARGA, em que o tratamento de calçadas, do asfalto e a limpeza urbana foram citados como pontos críticos. O ex-subprefeito, Marcus Vinícius, analisa projetos de conscientização da população como o Super Gari e o Lixômetro.

página 13

Estudantes do Pedro II e São Bento costumam conhecer monumentos depois de formados. Eles falam da falta de estímulo a andar pelas ruas do Centro.

Um tour virtual pelo Morro da Conceição

O desembargador federal Paulo Espírito Santo fala sobre a importância do TRF2, há 20 anos, na Rua Acre como representação do poder judiciário. A segurança seria um problema de todo grande centro urbano.

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página 9 página 12

Presidente do TRF2 fala sobre a segurança na Rua Acre

página 14

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Memórias do DragãoA história da loja que patrocinava um programa de rádio apresentado por Ademar Casé. “O Dragão da Rua Larga” foi tema de um jingle de Noel Rosa e motivou Carlos Heitor Cony a escrever uma crônica. Leia na nova seção “Baú da Rua Larga”.

lazer

entrevista

folha da rua larga

Lielzo Azambuja

Othon Pinheiro da Silva defende a necessidade de investimentos no setor elétrico e diz que é necessário ter um projeto energético sustentável. O presidente comenta também sobre a ideia de revitalizar a região da Rua Larga. página 7Málaga saúda a

tradição

página 14

gastronomia

Divulgação

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Além de um balcão de negócios

Acredito que as suspeitas levantadas pelo urbanista Antônio Agenor com re-lação às consequências da implementação do projeto Porto Maravilha, do Insti-tuto Pereira Passos, para o Morro da Conceição devem ser estendidas também a ou-tras áreas do Centro do Rio de Janeiro que se encontram no meio termo entre o aban-dono e a preservação. Se por um lado, a distância do po-der público para com os pro-blemas relacionados a essas áreas fez com que se man-tivesse um “modo de vida” característico de um centro histórico, também fez com que esses locais de inesti-mável valor fossem evitados por muitos, seja por causa da insegurança ou pela falta de infraestrutura.

E agora, com a procura de novos locais de expan-são para novos negócios, “redescobre-se” o Centro, a Zona Portuária, aparente-mente sem se levar em conta as histórias, as relações dos que moram ali há tempos in-dependentemente da revita-lização econômica destes lo-cais. Será que os moradores da Rua Larga poderão arcar com os custos de viver em uma zona “revitalizada”? Serão consultados sobre as possibilidades dos novos projetos ou apenas “infor-mados” de seu destino em uma reunião informal com os planejadores dessa em-preitada?

Espero que os empresá-rios e gestores responsáveis por esses e tantos outros projetos possam ler jornais como a Folha da Rua Lar-ga , para que vejam esses lu-gares como algo além de um “balcão de negócios”. Mais do que da história do Rio de Janeiro, é da história de pes-soas reais que estamos tra-tando, que vivem, sonham e ganham suas vidas aqui, no Morro da Conceição e em

dezembro de 2009

nossa rua

Se essa Rua fosse minha

Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa, Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário Margutti, Mozart Vitor SerraDireção Executiva - Fernando PortellaEditora e Jornalista Responsável - Sacha LeiteColaboradores - Carolina Portella, Lielzo Azambuja, Teresa Speridião, Karina Howlett, Ranti Ferraz, Nilton Ramalho, Bruna Leão Rua, Antônio Agenor, Juliana Costa, Natale OnofreProjeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins

Fernanda Cristinacorretora de imóveis

“Trataria as calçadas, taparia os buracos e nivelaria as ruas. Eu quase caí uma vez, com salto fino, por causa da calçada. Estava fal-tando uma pedra portuguesa e eu quase “fui”. É difícil ser mulher em uma rua assim”

Liliane Macielautônoma

“Eu acertava a dinâmica da limpeza urba-na e entraria em contato com a Comlurb para que ela fizesse coleta seletiva na rua. Não sei se o contato foi feito, mas acho fundamental, senão ficam esses lixões a céu aberto”

“Iluminava mais, policiava, melhoraria a lim-peza e podaria as árvores: ontem à noite caiu um galho em cima de um carro. Essa rua é muito abandonada. Quando chove alaga tudo. Na Visconde de Inhaúma e Al-cântara Machado é ainda pior”

Sérgio Júniorcomerciante

Sacha Leite

Sacha Leite

Sacha Leite

folha da rua larga

cartas dos leitores

2folha da rua larga

Redação do jornalRua São Bento, 9 - 1º andar - Centro

Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690

www.folhadarualarga.com.br [email protected] [email protected]

qualquer outro lugar que representa as raízes da ci-dade do Rio de Janeiro, mas que só são lembra-das quando o local onde moram representa alguma possibilidade de lucro.

Rodrigo RibeiroSociólogo

Onde encontrar o jornal

Acompanho o desen-volvimento da Folha da Rua Larga há um ano e posso dizer que mudou para melhor. Matérias bem boladas e variadas. Acho ótimo termos um jornal de qualidade aqui no Centro. O problema é a distribuição. Todo mês fico sem saber onde en-contrar o jornal. Às vezes vou ao Paladino, à Light e ao restaurante Málaga à procura, sem sucesso. Proponho, para 2010, que o jornal estabeleça alguns pontos fixos onde os lei-tores possam encontrá-lo, ou até mesmo estar dispo-nível em algumas bancas de jornal.

Núbia RiccaComerciante

Cultura na região da Rua Larga

Tenho certeza que os

estúdios de dança fazem apresentações, museus e centros culturais desco-nhecidos fazem suas mos-tras. Sei que a Folha da Rua Larga divulga parte do circuito, mas vai aqui a minha crítica: gostaria de ter mais informações sobre a ampla produção cultural da área que não é divulga-da, como, por exemplo, a programação dos sambas na Pedra do Sal.

Sérgio Roberto TorresEstudante

[email protected]

Designer assistente - Jade Mariane e Mariana Valente Diagramação - Suzy TerraRevisão Tipográfica - Raquel TerraProdução Gráfica - Paulo Batista dos SantosImpressão - Mávi Artes Gráficas Ltda.Equipe Comercial - Natale Onofre e Carlos LyraTiragem desta edição: 5.000 exemplaresAnúncios - [email protected]

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dezembro de 2009

3

Lar, Doce Larga

sacha [email protected]

Hóspedes permanentes consideram a Marechal Floriano um lugar tranquilo para se morar

Seu Manel na varanda de seu quarto Ivy com a performanse de Xoxa na escadaria do sobrado

folha da rua larganossa rua

Funcionário de uma grá-fica na Rua Visconde de Inhaúma, seu Manel vive há quase uma década em um sobrado de 3 m² no Largo de Santa Rita. Quando per-guntado se pretende deixar a região, responde de pron-tidão: “Desde que me sepa-rei da minha esposa, vivo aqui. Meus filhos falam para eu me mudar, mas não saio por nada” — defende o comerciante — “Como trabalho o dia todo, para mim, morar aqui é ótimo. E o fim de se-mana é tranquilíssimo”.

No casario típico do iní-cio do século XX, os pas-santes podem ler: “Quartos a R$10”. Seu Manel escla-rece que o dele é mais caro, ele paga R$ 12 por habitar um quarto mais ventilado, e explica que tem gente que fica apenas uma noite, mas há os que como ele ficam por muitos anos.

Seu Manel conta que du-rante o final de semana cos-tuma descansar, lavar peças de roupa e fazer refeições na rua: “Como em um res-taurante na Rua Acre, que fica aberto aos sábados e domingos”. Nascido no

interior de São Paulo, seu Manel morou no Méier as-sim que chegou ao Rio de Janeiro e se empregou como gerente de uma gráfica.

Apesar de gostar de ha-bitar a região, seu Manel é crítico em dois aspectos. Ele reivindica uma reforma

na rede de esgoto e nos canais plu-viais: “Por ser muito antigo, basta chover um pouquinho e já alaga”. Para Manel, outro quesi-to que preci-sa ser revis-to é o lazer: “De vez em quando vou ao CCBB,

ao Panteão... Mas aqui falta diversão”. Ele confidencia que, quando tem tempo li-vre, costuma ir à praia, aos museus, ao Maracanã e, ra-ramente, ao cinema.

Como sugestão de lazer para a região, seu Manel propõe ações esportivas e culturais simples, como corridas de bicicleta, cam-peonatos de skate e músi-ca ao vivo. Segundo ele, a falta de opções em diversão nas proximidades da Praça Mauá é o que mais deixa a desejar na região.

Quando questionado pela reportagem se seria possível fotografá-lo no interior do

“Se eu tivesse uma namora-da, levaria para um motel. Lá em casa não é muito apre-sentável.”

Seu Manel, produtor gráfico

Sacha Leite Sacha Leite

seu apartamento, seu Manel esclarece: “Lá não entra mu-lher. É uma hospedaria mas-culina”. O paulistano contou que foi dificílimo encontrar um local adequado para hos-pedar uma amiga que virá de São Paulo para o Natal, já que, segundo ele, na Aveni-da Marechal Floriano só há pensionatos masculinos ou prostíbulos.

Ele afirma que preten-de continuar na Rua Larga até se aposentar. Quanto ao problema de não poder receber mulheres na hospe-daria onde vive, ele explica: “Se eu tivesse uma namora-da, levaria para um motel. Lá em casa não é muito apresentável” — explica — “Por duas vezes conheci mulheres pela internet. Du-rou pouco, mas foi bom”.

A loja Biscoitolândia costumava contratar Ivy Lima para dançar e cha-

mar a clientela

A chegada “da” hóspede Ivy Lima, há três anos, pro-blematizou a restrição às mulheres. Nascido em Vila Kennedy, o criador da per-sonagem Xoxa, que anima pedestres e motoristas de diferentes partes da cidade do Rio de Janeiro, levou a dona do negócio a repensar antigos conceitos. Registra-do desde o nascimento com o nome unissex Ivy Amista Lima, o autor da Xoxa mis-tura gêneros masculino e

feminino quando se refere a ele próprio. Ao ser ques-tionado se houve precon-ceito por parte da direção da hospedaria ao fazer o check-in pela primeira vez, Ivy esclarece: “Com o tem-po viram que sou um rapaz honesto, trabalhador, bom pagador, enfim, um cliente e hóspede normal”.

Assim como seu Manel, Ivy também viu a tranqui-lidade como ponto positivo de morar na região: “Nunca presenciei situação de vio-lência por aqui, não sei se foi sorte. Fim de semana é mais sossegado ainda”. Além desse aspecto, Ivy elogia os funcionários e hóspedes da pensão: “São todos muito gente fina e me respeitam”. O ponto fraco de residir na hospedaria, segundo o ator, está no tamanho do quarto e na falta de privacidade. Além do fato, segundo ele, de ter que lavar as roupas à mão na pia do banheiro e de não ter como cozinhar.

Todos os dias, de domin-go a domingo, Ivy repete o mesmo ritual ao acor-dar. Aplica a maquiagem e veste o figurino de Xoxa: “Digo que sou apresentado-ra de sinal.” A loja de doces Biscoitolândia costumava contratá-lo para dançar e chamar a clientela. A gerên-cia confirma que, de fato, as vendas aumentavam quan-do havia performance da “dançarina”.

Xoxa apareceu recente-

mente em um programa de televisão, na Rede Globo, e ficou ainda mais conhecida. Durante a entrevista no Beco das Sardinhas, os passantes comentavam: “Aê, Xoxa, tá famosa!”, ou ainda: “ Te vi na televisão!” No progra-ma perguntaram a ele se a Xoxa seria um deboche com a apre-s e n t a d o r a de TV Ma-ria da Graça Xuxa Me-neghel. Ivy respondeu prontamen-te: “Criei a Xoxa por amor a Xuxa. Eu nunca vou ser ‘lindona’ como ela, então eu brinco”, relata Ivy, que se define um profissio-nal do humor.

Ivy se mudou há cinco meses para Jacarépaguá, e informa que, apesar de guardar boas recordações da Rua Larga, agora vem ao Centro somente quando precisa resolver algum pro-blema. E foi esse o caso: estariam imitando a perso-nagem Xoxa na TV Record. Então Ivy está buscando um respaldo legal, já que ele é o verdadeiro criador dela.

A Rua Larga foi onde Ivy veio morar assim que saiu da casa dos pais. Ele diz que não concluiu, por pouco, os

estudos: “Faltou um aninho. No terceiro ano eu comecei a querer ir de palhaço ou de Xoxa mesmo para a escola. Deu muita confusão, daí saí da escola e de casa”.

Quando indagado sobre a reação das pessoas à sua fi-gura, ele explica: “Se eu es-tiver de bobeira e me provo-carem, não ligo. Mas quando estou trabalhando no sinal e me xingam, xingo de volta. Acho um absurdo isso, as pessoas têm que respeitar o trabalho dos outros”, critica. Ivy conta que não há manei-ra de folgar, já que toda a sua receita vem de apresen-tações nos sinais e, segundo ele, nos fins de semana as pessoas estão a lazer, menos estressadas, e então costu-mam se distrair e colaborar com mais facilidade.

Ivy diz que terá uma pe-quena participação em um filme cuja protagonista é a atriz Ingrid Guimarães e

espera que no próximo ano consiga entrar mais na mídia: “Em 2010 vou lançar outro per-sonagem, o Zipper, ex-plorando a minha voz masculina”, ousa. O ar-tista explica que mora sozinho e

que, não tendo com quem conversar, acaba não se expressando com sua voz natural: “Às vezes esque-ço de como é minha voz masculina”. De antemão, o multimídia compartilha que já está gravando o CD, cujo estilo é pop rock, e será di-vulgado assim que for fina-lizado, pela internet: “Pode ser que eu queira atingir um público gay ou emo. Con-fesso, não sou bonito, então tenho que caprichar no figu-rino”, ironiza Ivy.

“Nunca pre-senciei situa-ção de violên-cia por aqui, não sei se foi sorte.

Ivy Lima, criador da personagem Xoxa

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dezembro de 2009

Cliques Rua Larga boca no trombone

gabriel, o [email protected]

Nildice Neves de Matos dá as boas vindas a 2010. A carioca, que trabalha há 20 anos com flores, espera que seja um ano de realizações e boas energias. Para a troca de presentes de fim de ano, ela recomenda rosas diversas, palmeiras e ráfias, que, segundo ela, trazem felicidade e alegria, e brinca: “Rosas mistas são aconselháveis para amizades coloridas”.

Beco das Sardinhas em uma sexta no final da tarde: trabalhadores, funcionários ou simplesmente sim-patizantes da região dão o ar da graça e degustam chope ao ar livre. O lugar, propício para conversas descontraídas depois do expediente, apresenta as famosas sardinhas fritas que dão título ao lugar, apeli-dadas carinhosamente de “frango marítimo”.

O Apagão

4folha da rua larga

nossa rua

Não falo deste último apagão da Zona Sul, que parece ter sido causado pela cachorrinha poo-dle de uma senhorinha de sobrenome Ataulfo de Paiva Guinle Gou-veia Vieira Souto Batis-ta Eike. Ela, coitadinha, entrou num bueiro da Rua Vinícius de Mora-es, sua correntinha agar-rou num fio e gerou um grande curto-circuito. Há outras versões, mas essa é a que corre na Acade-mia da Cachaça. Falo do grande apagão nacional, causado pelos bastido-res da política nacional. A nota oficial informou que o problema foi cau-sado por três “raios que os parta” que atacaram simultaneamente, apeli-dados de: Sarney Power, Delúbio Dilúvio e Arru-da Daninha. Realmente, um poder enorme de des-truição.

Não achei a conta, só a do telefone. Olhamos pela janela e toda a ci-dade estava às escuras. Será que ninguém pagou a conta de luz? O que fazer? “Existe uma vela em casa?”, perguntei à minha mulher. “Não! A última acendemos para Santa Rita no dia da sua festa”. “Eu acho que vi uma caixa de velas de aniversário numa gave-ta da cozinha”, lembrou meu filho. Não tínha-mos um rádio de pilha para saber das notícias. Isso é coisa do passado. Ligamos para um amigo – todo o Rio de Janeiro estava às escuras e mais outros tantos estados. Será que foi sabotagem? É o fim do mundo!

Descer na rua, nem pensar, nesses momentos os assaltantes “nadam de costas”, os policiais se escondem... A rua esta-va completamente vazia. Havia apenas um torce-dor do Flamengo, bêba-do, com uma grande ban-deira, gritando: “Vocês

vão ver! O Flamengo vai ser campeão brasileiro!”. O que fazer num apagão?

Meu filho achou a cai-xa de velas de aniversá-rio. Sentamos à mesa da sala, televisão desligada, computador desligado, o telefone sem bateria, ne-nhum falatório na rua... Podíamos sentir cada mi-nuto passar. Uma sensação nova, incrível! Silêncio total, escuridão total.

Acendemos algumas ve-las em cima de um bolo de laranja já comido pela metade, e o colocamos sobre um prato no centro da mesa. Servimos aque-le final de guaraná sem gás, com o gelo que saiu fácil da cumbuquinha do congelador, que degelava. Cantamos Parabéns para você sem que ninguém fi-zesse aniversário. Ficamos ali, em silêncio por alguns instantes, um olhando a sombra do outro. Até que veio aquela vontade de fa-lar algumas coisas que há muito tempo não comen-távamos. Meu filho falou de como estava indo nos estudos, da sua namorada que nem sabíamos. Minha mulher contou das suas dificuldades no trabalho, que não estava aguentan-do mais, e eu disse da mi-nha alegria em ter aquela bela família, que, embora a ausência de diálogo no dia a dia, permanecia jun-ta, unida, cuidadosa um com os outro, honesta na vida, rica de qualidades humanas.

Falamos por três horas seguidas, como há muito tempo não falávamos. E fi-zemos um pacto: uma vez por semana, vamos desligar a chave geral, jantar à luz de velas e falar livremente da vida. Naquela madruga-da eu e a minha mulher na-moramos muito ao som de gritos de prazer vindos de toda a cidade. Era o único ruído que se acendia no ma-ravilhoso apagão daquela noite.

Sacha Leite

Sacha Leite

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folha da rua largadezembro de 2009

entrevista

A maior representação da Lei no Rio está na Rua AcreO presidente do Tribunal Regional Federal fala sobre o resgate do prestígio na região

O desembargador fed-eral Paulo Espírito Santo, presidente do Tribunal Re-gional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo), fala para a FOLHA DA RUA LARGA sobre a situação de segurança na Rua Acre, onde se situa há 20 anos a maior representa-ção do poder judiciário no estado do Rio de Janeiro. O presidente do TRF2 analisa ainda a proposta da pre-feitura para a revitalização da região e o respaldo legal para a modernização dos casarios tombados.

FRL: Como o senhor se sente diante da insegu-rança instaurada na Rua Acre, onde se sedia o TRF2? De que forma essa situação poderia ser con-tornada?

Paulo Espírito Santo: Os problemas de segurança pública não estão restritos à região do entorno da Rua Larga. A situação aqui não pode, com justiça, ser taxa-da de mais ou menos grave do que a que se verifica em qualquer ponto do Centro ou nos bairros residenciais do Rio de Janeiro, cidade que, por outro aspecto, sofre com uma questão que não é “privilégio” seu: a criminal-idade é inerente ao grande centro urbano e não é a única geradora de insegurança da população. É preciso lem-brar que o Brasil vive em es-tado de paz política, livre de guerras e da ação de grupos extremistas. Naturalmente, isso não quer dizer que se possa fechar os olhos para o desequilíbrio social, que está na raiz do problema, e, sobretudo, para a urgência de o Poder Públi-co enfrentar com políticas e ações consistentes a situa-ção aflitiva imposta pelas facções criminosas, já que é onde e quando o Estado falta que o crime domina.

Mas apesar das críticas, não tenho dúvidas de que o Ju-diciário, com todas as suas dificuldades e limitações, vem se aperfeiçoando e buscando fazer a sua parte, punindo com o rigor da lei, por um lado, e assegurando os direitos da cidadania, por outro. É nessas duas frentes que vamos achar a melhor forma de atuação para dar a resposta que a sociedade exige. FRL: Como o Tribunal Regional Federal se insere no contexto da revital-ização da região da Rua Larga e Zona Portuária? De que maneira o TRF2 já contribui ou poderia con-tribuir nesse processo? Paulo Espírito Santo: O TRF2 foi instalado na Rua do Acre no dia 30 de março de 1989. Nesses 20 anos, a corte tem funcionado como agente de revitaliza-

ção econômica e cultural da região. É fácil verificar que isso tem sido um efeito colateral da própria pre-sença da instituição, que ocupa o prédio onde out-rora funcionara o extinto Instituto Brasileiro do Café. A circulação de advogados, magistrados e servidores contribuiu para o desenvol-vimento do comércio local e para o resgate do prestí-gio da área próxima à Zona Portuária, que por décadas foi olvidada nos projetos urbanísticos oficiais.

FRL: O projeto Porto Maravilha, proposto pela Prefeitura do Rio/Instituto Pereira Passos prevê um investimento da ordem de três bilhões de reais para a região através de uma Opera-ção Urbana Consorciada. O precedente estaria na experiência de São Paulo com Faria Lima. Como o

senhor analisa essa pro-posta?Paulo Espírito Santo: O projeto de revitalização coloca o Rio de Janeiro na mesma linha das experiên-cias bem-sucedidas de out-ras importantes metrópoles, como Roterdam, Barce-lona e Buenos Aires, que há anos entenderam o po-tencial turístico e, conse-quentemente, econômico, cultural e social das suas zonas portuárias. No caso do Rio, ainda é preciso lem-brar que a região benefi-ciada tem importância para a memória do país. Aqui está, por exemplo, o Morro da Conceição, que ainda conta com um conjunto arquitetônico histórico sig-nificativo e que compunha, com os morros do Castelo, de Santo Antônio e de São Bento, o quadrilátero onde se instalaram os primeiros núcleos da colonização da cidade, a partir de 1565.

Também penso ser alvissar-eiro o fato de que o projeto envolve uma parceria en-tre os três níveis do Poder Executivo e a iniciativa privada, assim como inclui medidas para desafogar o trânsito, com a construção de um novo acesso ao Porto do Rio, que deve ser dra-gado para aumentar a sua capacidade de operação em até 30%, segundo tem sido noticiado. Também espe-ramos que saia do papel a construção da Pinacoteca do Rio, e que a Praça Mauá ganhe um novo fôlego no cenário turístico e artístico do Rio, com a instalação de quiosques, do espaço mul-tiuso e do anfiteatro. FRL: De que maneira o senhor vê a proposta de modernização da área? Como ficaria a questão dos tombamentos e preser-vação do casario antigo? Existe algum respaldo ou limite do ponto de vista le-gal para essa ação?

Paulo Espírito Santo: É preciso levar em conta os vários aspectos envolvidos quando se discute o assun-to. O tombamento se dá em razão da relevância históri-ca, artística, cultural e mes-mo social do bem, quando tem significância para a preservação dos costumes e da identidade de uma co-munidade. Ele decorre de lei ou decreto, e, portanto, possui um valor jurídico a ser tutelado. A moderniza-ção da área é promovida pelo juízo de oportunidade da Administração Pública. Nos dois casos, o que se considera é o interesse da coletividade. Naturalmente, mesmo quando o imóvel é tombado, as restrições a alterações e obras são es-calonadas em níveis, fixa-dos pela lei. Ou seja: cada caso é um caso e deve ser analisado em todas as suas

particularidades. Penso que a prefeitura é a maior interessada em assegurar a salvaguarda do patrimônio da cidade e saberá ser cri-teriosa na escolha das mu-danças que serão realizadas durante o projeto. FRL: O braço cultural do TRF2 é o CCJF. Há algu-ma ação cultural prevista para a região da Rua Lar-ga ou Zona Portuária?

Paulo Espírito Santo: Desde que foi inaugurado em 2001, o CCJF vem se firmando no panorama artístico e cultur-al da cidade, com suas três salas de exposição, teatro e biblioteca, bem como vem atuando na promoção da cidadania, com projetos fo-cados, principalmente, nas crianças e nos adolescentes. Sendo tão importante para a história e para a cultura do Rio de Janeiro, a Avenida Marechal Floriano, onde está o Palácio do Itamaraty, para citar só um exemplo disso, não poderia ficar de fora da programação do centro cultural. De fato, a Rua Larga foi tema de uma bela exposição realizada entre julho e agosto deste ano, que contou com a par-ticipação de cinco fotógra-fos brasileiros consagrados: Custódio Coimbra, Hen-rique Pontual, Mabel Feres, Rogério Reis e Walter Fir-mo. A mostra, patrocinada pela Light e pela Secre-taria Estadual de Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, foi um sucesso de público e incluiu mais de 30 painéis, além da pro-jeção de imagens em telão. Esperamos que, em breve, possamos brindar o público carioca com outros eventos sobre o tema.

Da redação

5

Desembargador Paulo Espirito Santo, presidente do Tribunal Regional da 2ª Região

Sacha Leite

Page 6: Folha da Rua Larga 16

dezembro de 2009

antônio agenor [email protected]

6folha da rua larga

A Folha da Rua Larga adentra 2010 de cara nova. A reforma gráfica, assinada pelo fotógrafo e designer Henrique Pontual, partiu da premissa que a região da Rua Larga traduz a mistura do moderno com o antigo. A conclusão pertinente foi respaldada pelo estudo feito para o livro Rua Larga, or-ganizado por Mozart Vitor Serra e Carlos Rabaça, que reuniu tanto registros do próprio Pontual como tam-bém fotografias de Custódio Coimbra, Mabel Feres, Ro-gério Reis e Walter Firmo. Além do formato tablóide europeu e das páginas todas em cor, os elementos que compõem a região, como gradis, janelas e luminárias, se transformaram nos sím-bolos gráficos do jornal, de-limitando e caracterizando cada seção.

No entanto, o propósito do periódico continua o mesmo: dialogar com moradores, trabalhadores e frequentado-res da região da Rua Larga (Avenida Marechal Floriano e entorno), ouvindo e regis-trando todos os seus anseios, difundindo esse produto, e, enfim, gerando um debate crítico e participativo em torno de uma possível re-vitalização na área. Outro objetivo claro é o resgate e a valorização da cultura re-gional, explícita, por exem-plo, na matéria desta edição sobre o Centro Cultural Pe-quena África.

O Centro do Rio, onde nasceu Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro de todos os tem-pos, que abriga a Pedra do Sal, berço do samba carioca, o Morro da Conceição, com seus ateliês, ruas estreitas, casario do início do século XX, e a Avenida Marechal Floriano, com toda a sua diversidade, beleza e degra-dação, exalam uma história que precisa ser resgatada e preservada. Existem pes-

Pensão alimentícia

Não pense o leitor que

aqui vai se falar exata-mente sobre o assunto que o título acima, numa rápi-da olhada, pode sugerir. A pensão aqui em questão é a Luso Brasileira, situada ali na Rua Barão de São Félix, nº 88, no caminho para a Central do Brasil.

A portinha estreita, ao ser aberta, nos revela um imenso salão com paredes azulejadas em branco e azul e com grandes mesas que, sem lugares marca-dos, fazem com que pos-samos compartilhar o es-paço e sentarmos ao lado de vidraceiros da Vidra-çaria Caxiense, policiais militares – que chegam ao recinto sempre fortemen-te armados – que fazem a ronda pelas redondezas, ou mesmo funcionários das empresas por ali se-diadas, tais como Em-bratel, Supervia e tantas outras.

Fomos lá ao início da tarde de uma terça-feira,

quando pudemos saborear uma suculenta sopa de er-vilha de entrada, um par-go grelhado absolutamen-te indescritível e fartos acompanhamentos, como farofa, purê de batatas e um feijão maravilha que, assim como as sopas ser-vidas de entrada, passa de mesa em mesa. No mundo cada vez mais dominado pela comida a quilo e pelo fast food, é impressio-nante e confortante poder ir almoçar, calmamente, com amigos num ambien-te tão acolhedor como é o caso desta Pensão Luso Brasileira, pela módica quantia de R$ 9,50.

Mas atenção, caro leitor. Tudo na vida tem seu pre-ço e lá imperam algumas regras de ouro que valem a pena serem passadas aos marinheiros de primeira viagem. Vamos a elas:

Não se pode, em hipóte-se nenhuma, dividir o pra-to que chega à mesa. Isto significa dizer, em bom

português, que cada um pede o seu respectivo pra-to lá descrito no quadro-negro ao fundo do salão de almoço.Também não peça para levar a comida que sobrou para casa em-balada numa quentinha para viagem. Está lá escrito em letras garrafais que é “proibido levar re-feições embaladas para viagem”.

É muito comum nessa pensão, que não hospeda ninguém nas suas depen-dências, ver a Dona Elza passar apressadinha pela sua mesa e dizer: “Fala logo o que você quer que eu estou muito atarefada hoje, tem muita gente para atender”, ou ainda o Rus-so – um português vindo do Porto que já viajou por mais de 15 países e diz que o Brasil é o melhor lugar do mundo – abrir uma cerveja para ele e, gentilmente, oferecer aos clientes que estão ali no salão: “Quem quer dividir

esta gelada aqui comigo?” Volto à Dona Elza para di-zer que, quando ela passar rapidinha por você, peça imediatamente uma jar-ra de limonada suíça que você verá, caro leitor, que mão precisa ela tem para dar conta dessa tarefa.

O ambiente da pensão nos faz sentir como se es-tivéssemos almoçando na casa da nossa avó naque-les grandes almoços de fa-mília que, aos domingos, diante de uma mesa gran-de e farta, fazia com que a família parecesse, ao me-nos durante as refeições, feliz por estar ali reunida. Já são mais de três déca-das de um bom e sincero atendimento que essa Pen-são Alimentícia presta aos sortudos e privilegiados cariocas que têm a oportu-nidade de conhecer seu va-riado e caseiro cardápio.

O antigo e o novo para brindar 2010

sacha [email protected]

quisadores e especialistas debruçados sobre o tema, que precisam de espaço para veicular essas memó-rias e conectar o passado com o presente.

Nesta edição ouvimos também os jovens que frequentam a região. Seja pela falta de estímulo, ou por uma forte preocupação com questões de seguran-ça, o fato é que os estudan-tes não se relacionam com o entorno. Mário Gangeia, ex-aluno do Colégio São Bento, confessou que só veio a conhecer a Igreja de Santa Rita e o Morro da Conceição quando já havia concluído o ensino médio. Alunos do Colégio Pedro II criticaram a limpeza da rua e afirmaram que “pas-sam batido” no caminho de casa para o colégio e do colégio para casa.

A reportagem da Folha da Rua Larga ouviu tam-bém quem reside na Ave-nida Marechal Floriano. A hospedaria masculina localizada no Largo de Santa Rita abriga histórias de vida diversas, como as de seu Manel, que trabalha em uma gráfica em frente ao Beco das Sardinhas, e Ivy, humorista que criou a personagem “Xoxa” e se classifica como “apresen-tadora de sinal”. Busca-mos registrar o perfil des-ses moradores e a obser-vação deles sobre a rua.

Como se fala ou escre-ve o nome das ruas, uma antiga marchinha de car-naval, a lenda urbana que não sabemos se de fato aconteceu. A seção Baú da Rua Larga foi criada com o intuito de trazer à tona curiosidades e respostas às dúvidas históricas dos lei-tores. Envie mensagens ou sugestões para [email protected] e feliz ano novo.

Mandamentos da casa, inscritos em placa de madeira

opinião

Sacha Leite

Page 7: Folha da Rua Larga 16

folha da rua largadezembro de 2009

empresa

Em tempo de apagãoOthon Pinheiro da Silva afirma que energia nuclear é uma alternativa segura e acessível

Othon Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear

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Para o presidente da Eletronuclear, Othon Pi-nheiro da Silva, estamos no momento ideal para repensar o planejamen-to e a utilização das ma-trizes energéticas. Nesse contexto, argumenta que as usinas nucleares geram toda a sua disponibilidade desde o início de sua ope-ração, gerando economia de energia e recursos, ao contrário das usinas hi-droelétricas, que levariam um longo tempo na fase de motorização. Além disso, o presidente afirma que as usinas de Angra produzem energia limpa, não emitin-do gases estufa, e vê com bons olhos os projetos de revitalização do Centro do Rio.

FRL: O que representa para a Região Sudeste e para o país a nova Usina de Angra 3? Em quanto ela aumenta na capacida-de atual brasileira, dan-do maior segurança de que a energia não vai faltar para o crescimento nacional?

Othon Pinheiro da Silva: Desde que a Usina Angra 2 entrou em operação co-mercial, em fevereiro de 2001, a Central Nuclear Almirante Álvaro Alber-to (CNAAA) passou a ter capacidade para atender

a cerca de 50% do consu-mo de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro. São 657 MW de Angra 1 e 1.350 MW de Angra 2, fundamentais para a me-lhoria da confiabilidade no fornecimento de energia elétrica para o sistema da Região Sudeste. Particu-larmente, no que diz res-peito ao Es-tado do Rio de Janeiro, a energia n u c l e a r respondeu, em 2008, a um terço do consu-mo total de energia elé-trica.

No ano passado, a p r o d u ç ã o de energia elétrica de Angra 1 e Angra 2 juntas foi de 14.003.775 MWh, o que represen-ta 3,12% do mercado de energia elétrica nacional.Segundo dados divulga-dos pelo Operador Nacio-nal do Sistema (ONS) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a energia nuclear foi a tercei-ra maior fonte de geração elétrica do país, só ficando

atrás das hidroelétricas e do gás, conforme mostra-do no gráfico. Vale desta-car que, nos anos de 2006 e 2007, a produção nuclear foi a segunda maior fonte, liderando a geração térmi-ca no Brasil.

Angra 3 acrescentará outro bloco de energia si-milar ao de Angra 2. Com as três usinas em operação, o complexo nuclear de Angra dos Reis terá uma capacidade semelhante ao potencial de geração total da Cemig (aproximada-mente 26 milhões de MWh por ano), sendo capaz de atender a cerca de 58% da demanda energética do Estado do Rio de Janeiro, se considerarmos os dados de 2008. Há algumas van-tagens que tornam o pro-jeto Angra 3 um dos mais importantes investimentos do setor elétrico brasileiro,

como por e x e m p l o a alta taxa de geração de ener-gia elétrica com con-fiabilidade: aproxima-d a m e n t e 10 TWh/ano e o au-mento da base térmi-ca do siste-ma elétrico interligado, contribuin-do para a di-versificação da matriz energét ica nacional e r eduz indo

riscos de déficit de energia elétrica, principalmente por ocasião de regimes hi-drológicos menos favorá-veis.

Também é um fator po-sitivo a ampliação da ca-pacidade de geração do Sudeste, uma região his-toricamente importadora

de energia elétrica, com consequente redução da necessidade de investi-mentos em transmissão. O aumento do porte do parque gerador local acar-retou um melhor desempe-nho do sistema interligado de transmissão de energia elétrica, com a redução do seu carregamento; a localização privilegiada, próxima a grandes centros consumidores (cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) também é favorável; a melhoria da confiabilidade do supri-mento para as regiões do Rio de Janeiro e do Espíri-to Santo. Além disso, vale destacar que a usina gera toda a sua disponibilida-de desde o início de sua operação, ao contrário das usinas hidroelétricas, que levam um longo tempo na fase de motorização, quan-do o número de unidades geradoras é elevado.

FRL: A energia nucle-ar é uma energia limpa. Como contribui para o desenvolvimento susten-tável?

Othon Pinheiro da Silva: Os aspectos ambientais da indústria nuclear como um todo, incluindo a pro-dução de energia elétrica e toda a indústria do ciclo de combustível associada, comparam-se, favoravel-mente, com as alternativas existentes para a produ-ção de energia elétrica em grandes quantidades. No Brasil, como também em outros países, as hidroe-létricas já tiveram grande parte do seu potencial eco-nomicamente aproveitável esgotada. A construção de novas usinas ocasionaria inundação de grandes áre-as, arruinando-as e des-tituindo o local da flora e da fauna originais, o que causaria a perda da biodi-versidade e de terras culti-

váveis, provocando danos ambientais irreparáveis e influenciando diretamente o clima da região.

No caso das usinas térmi-cas convencionais, como o carvão, o óleo (petróleo) e o gás, a emissão de muitas toneladas de gases tóxi-cos na atmosfera altera o clima do globo terrestre, causando o efeito estufa e as chuvas ácidas. Em ape-nas 30 anos, a participação da energia nuclear na pro-dução de energia elétrica chegou a 17%, tornando-se a 3ª fonte mais utilizada do mundo.

A vantagem da utiliza-ção desse tipo de energia é que não emite gases que contribuem para a chuva ácida (óxidos de enxofre e nitrogênio). Além disso, não emite substâncias que contribuem para o efeito estufa (CO2, metano etc.), não emite metais cancerí-genos, mutagênicos e tera-togênicos (arsênio, mercú-rio, chumbo, cádmio etc.); não emite material particu-lado poluente, não produz cinzas e não produz escó-ria e gesso (rejeitos sóli-dos produzidos em usinas a carvão mineral). Trata-se de uma forma de ener-gia barata, já que requer uma pequena área para sua construção, podendo ser instalada próximo aos grandes centros, com água em abundância para sua refrigeração, além de ser capaz de extrair uma enor-me quantidade de energia de um volume pequeno de combustível.

FRL: Quais as princi-pais contrapartidas no âmbito da cultura, do meio ambiente, da saú-de, da educação e outros benefícios que a Eletro-nuclear dará à região de Angra, Paraty e Rio Claro pela construção de Angra 3? Quanto será in-vestido?

Othon Pinheiro da Silva: No dia 5 de outubro, a Ele-tronuclear e a Prefeitura de Angra dos Reis assinaram um termo de compromisso que trata sobre as contra-partidas socioambientais de R$ 150.444 milhões, dos R$ 317 milhões que serão investidos no município pela construção de Angra 3. Do montante acordado, a prefeitura terá ingerência sobre R$ 150.444 milhões. Os recursos serão aplica-dos, ao longo de seis anos, nas áreas de educação, saúde, defesa civil, ação social, obras e serviços públicos, atividades eco-nômicas, água e esgoto, cultura e meio ambiente (veja detalhes no arqui-vo em anexo). O restante, R$ 166.556 milhões, será investido em projetos de-finidos pela Eletronuclear, em parceria com diversos órgãos, como o Instituto Brasileiro do Meio Am-biente e dos Recursos Re-nováveis (Ibama) e o Insti-tuto Estadual do Ambiente (Inea), por exemplo.

FRL: Como a empre-sa vê a revitalização da Zona Portuária e sua re-percussão na Região da Rua Larga, Candelária, onde a empresa tem seu escritório central?

Othon Pinheiro da Silva: A Eletronuclear vê com grande entusiasmo e ex-pectativa. Os projetos que vêm sendo apresentados são de grande impacto po-sitivo para a região. E eles serão implementados num momento em que a em-presa vive uma transição na sua atuação de regional para nacional, com o pro-jeto da Central Nuclear do Nordeste em andamento.

“Em apenas 30 anos, a partici-pação da ener-gia nuclear na produção de energia elétrica chegou a 17%, tornando-se a 3ª fonte mais utilizada do mundo”

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Divulgação

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dezembro de 2009

cultura

Memória ancestral afro-brasileiraCentro Cultural Pequena África pede que seja discutida a revitalização cultural da região

Comemoração pelo Dia Nacional do Samba O radialista Rubem Confete em frente à Pedra do Sal, berço do samba

8folha da rua larga

No Dia Nacional do Samba, em um almoço no Bar do Adão, no Largo de São Francisco da Prainha, a FOLHA DA RUA LAR-GA ouviu Rubem Confete e Celina Rodrigues sobre a importância do resgate da cultura negra para a re-gião: “Estamos ao lado da Pedra do Sal, onde João da Baiana e outros bambas, como Donga e Pixingui-nha, criaram o samba ca-rioca”. O radialista, que possui um vasto conhe-cimento sobre a história da região, possui um pro-blema na vista, que o faz enxergar apenas vultos nas laterais. A cegueira física não o impede de estar à frente do Centro Cultural Pequena África, ao lado da produtora Celina Ro-drigues, e de ser um gran-de ativista na preservação da memória e renovação da autoestima afrodescen-dente na região. Segundo eles, o samba, por exem-plo, não existiria tal como é se não fosse o envolvi-mento negro e mestiço. Não por acaso, o marco do nascimento desse gênero musical é também o ponto onde o sal era descarrega-

do pelos escravos.Certo dia, o radialista

Rubem Confete comentou com Celina Rodrigues, hoje presidente do Centro Cultural Pequena África: “Precisamos resguardar a nossa ancestralidade”. Um ano depois de inicia-dos os trabalhos do Centro Cultural, Rubem e Celina fazem um balanço da im-portância da preservação da memória afro-brasileira na região e adiantam o que está por vir, em 2010. A produtora cultural garante que os encontros mensais vão continuar. “A melhor maneira de comunicar é através da música de raiz. Trabalhamos com a música do choro, do grito parado na garganta, da senzala... É muito libertador”, arre-mata Celina. A presiden-te do CCPA adianta que, em janeiro, realizarão um evento em que ela será a responsável pela cozinha. “Bolinho de feijoada, mo-cotó, angu frito... Nunca comi, não dá tempo”, se orgulha. Mas Celina es-clarece que nos dias de alta recepção são servidos pratos típicos da culinária afro-brasileira, também

chamados de “comida de orixá”, como caruru, va-tapá, omolocum e acarajé, todos preparados por ela.

Rubem Confete lem-bra ainda de Machado de Assis, considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, que era negro, pobre e nascido no Morro do Livramento, no Centro do Rio. “Como um homem jovem, filho de uma negra, conseguia escrever da maneira como escrevia? Ele foi o primei-ro e único escritor da épo-ca a escrever sobre a alma do personagem”, analisa Rubem. E faz um apelo: “Neste momento em que se pensa na revitalização urbana da região, peço que se pense também na revi-talização cultural. Não se pode deixar que essa his-tória desapareça”.

O radialista viaja ao passado e lembra que os ex-escravos prestadores de serviço de carga e des-carga nos portos passaram, a partir do final do século XIX, a se unir em organi-zações como o Sindicato dos Estivadores e o Sin-dicato dos Arrumadores, para reivindicar seus direi-

tos como seres humanos livres e aptos a exercer plenamente suas respecti-vas cidadanias. Mas, desde então, o processo não tem sido fácil. “Quando come-cei no samba, em 1965, fui preso na Rua do Lavradio por tocar o gênero”, lem-bra Rubem Confete, que trabalha há mais de 30 anos na Radiobrás.

Enquanto Rubem con-textualiza, Celina traz para os tempos atuais: “Vamos nos reunir essa semana para definir o calendário de 2010. No nosso primei-ro ano de funcionamento assoviamos, chupamos cana e trabalhamos com recursos próprios... Não é fácil, nem todo mundo entende. Temos que expli-car o tempo inteiro o que significa ancestralidade”, desabafa ela.

Rubem Confete prosse-gue a aula: “A revolta dos Malês surgiu na Rua Barão de São Félix. Lá morava dom Obá II da África, que veio de Lençóis quando se deu a Guerra do Paraguai. Na época ele já era negro livre, participou da Guer-ra do Paraguai, veio feri-do para o Rio e se tornou

amigo do Pedro II. Dizia que não adiantava aboli-ção sem saúde, educação e trabalho” — elucida — “Ele era babalorixá, herói de guerra e jornalista”.

Confete conta que, quando veio a República, dom Obá perdeu a paten-te e tentaram desvalorizá-lo. No entanto, segundo o comunicador, sua força de ancestralidade era tão grande que o pesquisador Eduardo Silva escreveu uma tese sobre ele, pre-servando a sua memória. Rubem ressalta ainda que, durante e após o período de escravidão, houve se-nhores que reconheciam a importância da sabedoria afro-brasileira.

De acordo com Celina e Confete, a democracia racial não passa de uma grande hipocrisia: “Senão você anula todo um povo que veio da África e aqui se transformou em diver-sas cores. Essa herança ancestral difere dos princí-pios ocidentais. Aqui, por exemplo, se estuda para ser doutor. Nós consul-tamos os orixás, que nos dirão a que viemos” — esclarecem — “Com essa história de igualdade entre negros e brancos as pesso-as perderam a noção do so-frimento. Ao longo de 400 anos de escravidão, morre-ram 12 milhões de negros. E há quem diga que é con-tra as cotas. Eu sou a favor de indenização”, provoca Confete. “Como você tira a pessoa da sua terra, traz para cá, a força a trabalhar, a escraviza... O Estado tem que se responsabilizar por isso”, conclui.

Há três meses, o instru-mentista Humberto Araújo prestigiou a reunião men-sal do CCPA, como convi-dado especial. O músico, que estudou saxofone com Paulo Moura, Nivaldo Or-nellas e flauta com Edu-ardo Monteiro, e gravou

com os principais ícones da MPB, faz questão de integrar o movimento ini-ciado pelo CCPA. Celina reforça que a expressão artística mais significati-va da Pequena África é a musicalidade. “Através da música conseguimos chegar às pessoas, não só das redondezas”, afirma Celina. O Centro Cultural Pequena África homena-geou, em novembro, o mês nacional da consciência negra através da promoção de debates, seminários e rodas de samba.

As noites da Pequena África são comandadas por Rubem Confete e ani-madas pelo grupo “Toca, Canta e Dança”, liderado por Naval, que organiza a programação artístico-mu-sical com a participação especial de convidados envolvidos com as raízes da cultura popular, como o trompetista Darcy da Cruz, os compositores Carlos Negreiros, Flávio Moreira e outros músicos.

Eles contam que, a cada evento a ser iniciado, de-vem reverenciar os orixás e pedir permissão para a realização. “Eles conver-sam com a gente, intera-gem, dão respostas a to-das as nossas perguntas” — revela Celina — “Não é à toa que em todos os eventos que fazemos aqui, comentam: ‘É uma energia tão boa...’ Eles já saem da-qui imantados”, se alegra a presidente. O pesquisador Fernando Sérgio Dumas, que viaja o Brasil para es-tudar ervas curativas, in-tegra a diretoria do CCPA e traz uma linhagem mais cientificista. O Centro Cul-tural Pequena África fica no Largo de São Francisco da Prainha, nº 4, sobrado.

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Sacha Leite Sacha Leite

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9dezembro de 2009

Um passeio virtual pelo Morro da ConceiçãoGuenther Leyen cria ferramenta que possibilita ir ao Morro sem sair de casa

folha da rua larga

cultura

O rapaz anunciando o jornal, a ave-maria que toca na igreja, gritos das crianças jogando bola, o samba na Pedra do Sal e o canto do bem-te-vi embalam o primeiro pas-seio virtual ao Morro da Conceição, criado pelo fotógrafo e programador Guenther Leyen. O artis-ta plástico, que faz parte do Projeto Mauá Morro da Conceição, reuniu 184 fotos, sendo cerca de 120 delas panorâmicas, e cap-turou fragmentos sonoros dos acessos ao Morro, ao longo de dois anos. “Eu presenteei minhas filhas com um jogo de compu-tador chamado Myst. Fi-camos vidrados, porque você não precisava matar ninguém para vencer, não havia risco ou violência. O objetivo era decifrar as charadas. Dali surgiu a inspiração para o tour vir-tual. Desde que vi o Mor-ro pela primeira vez quis fazer algo do gênero”, fala Guenther.

Quem conhece o Morro da Conceição sabe que as ladeiras e vielas estreitas, plenas de casinhas com fachadas do início do sé-culo XX, são ideais para um passeio a pé, mas a visita virtual vem a calhar para quem está longe ou sem tempo livre para sair. Ao longo da pesquisa o artista descobriu lugares e monumentos pouco co-nhecidos pela maioria dos moradores do Rio: “Tem algumas imagens que fiz questão de detalhar, como a pia da Igreja de Santa Rita, do início do século XVIII, com aplicação de

pedras coloridas e influ-ência oriental”. Ele lem-bra alguns detalhes que ganharam registro no CD e já não existem mais, como, por exemplo, uma placa divulgando a histó-ria da Praça Mauá.

Museus na Europa e si-tes de hotelaria já fazem esse tipo de visita virtu-al. Alguns grupos ame-ricanos costumam reunir fotos, reconstituir am-bientes e fazer maquetes virtuais. O Google Maps, por exemplo, pretende criar um tour virtual pelo Rio de Janeiro. A explo-ração da virtualidade é um fenômeno irreversível que se expande em todo o mundo. No entanto, o tra-balho de Guenther Leyen é inédito porque nunca na história alguém mapeou o Morro da Conceição e o seu entorno imediato possibilitando interativi-dade, mostrando o nome de todas as ruas e pontos importantes da história e arquitetura do local.

O passeio começa na Avenida Rio Branco, es-quina com a Rua Acre. Ao longo da viagem é possí-vel conhecer o ateliê de artistas como o Paulo Da-lier, e observar detalha-damente não apenas suas pinturas em tinta óleo, mas também a vista pri-vilegiada para a Baía de Guanabara. Pode-se dar um giro de 360º no Jardim do Valongo e descer para a Camerino. Do Observa-tório do Valongo temos uma visão ampla e pano-râmica de todo o Centro da cidade. Na ladeira do Pedro Antônio é mostrada

uma cena típica: crianças brincando nas ruas e lixo depositado no meio-fio.

Único armazém do Morro, o Bar do Sérgio aparece em dia festivo com cadeiras e mesas nas calçadas. A Praça Major Valô figura também em circunstância alegre: en-feitada com bandeirinhas de São João e música so-lada por Dominguinhos: “Que falta eu sinto de um bem / Que falta me faz um xodó / Mas como eu não tenho ninguém / Eu levo a vida assim tão só / Eu só quero um amor / Que acalme o meu sofrer / Um xodó pra mim / O teu jeito assim / que alegra o meu viver”.

Distintos retratos do ber-ço do samba: Pedra do

Sal ganha representações diurna e boêmia

Guenther iniciou car-reira como desenhista de padrões de tecido. Com formação em Arquitetu-ra, ganhou destaque na imprensa ao desenvolver objetos cinéticos eletrôni-cos que permitiam a par-ticipação do espectador. No final da década de 70, veio morar no Rio de Ja-neiro, onde passou a tra-balhar com robótica e fun-dou a primeira companhia brasileira a desenvolver um sistema de Computer Aided Manufacturing. No fim dos anos 90, foi citado

no Dicionário de Artistas Plásticos do Rio Grande do Sul. A partir de 2000, retomou suas atividades artísticas, com intensa pesquisa em fotografia e manipulação digital. Seu ateliê está localizado na Rua do Jogo da Bola, 67.

No passeio virtual, a Pedra do Sal, berço do samba carioca, ganha re-presentação especial. O reduto boêmio é retratado tanto em noite de música, com um samba captado ao vivo pelo pequeno grava-dor digital de Guenther Leyen e mesinhas e cadei-ras espalhadas pela calça-da, como também em dia de pleno sol, sem o públi-co cativo.

Para abrir a mídia no computador não é preci-so instalar um programa específico, basta inse-rir o CD e iniciar auto-maticamente o passeio. Guenther concebeu todos os detalhes do programa: “Criei do zero”, se orgu-lha o artista. Quem tiver interesse em adquirir o software pode entrar em contato com o próprio autor através do endere-ço eletrônico:[email protected]

Da redação

Guenther Leyen, artista plástico, faz parte do Projeto Mauá Morro da Conceição

Sacha Leite

Page 10: Folha da Rua Larga 16

dezembro de 2009

social

Existem entidades que pensam como evitar o crescimento do terror

Um olhar preventivo para a violência

Da redação

10folha da rua larga

Leitura articulada e cidadã

No dia 12 de novembro, o Ministério da Cultura publi-cou o resultado do edital de instalação de cinco Pontões de Livro e Leitura no Bra-sil. Um dos selecionados é o do Centro Cultural Ação da Cidadania, na Zona Por-tuária (Av. Barão de Tefé, 75). Além de articular os 150 Pontinhos de Leitura da própria Ação da Cidadania, o órgão irá também agregar as atividades dos 17 Pontos de Cultura na vertente Li-vro e Leitura já existentes no Estado do Rio de Janei-ro. O Pontão trabalhará em parceria, por exemplo, com o Ponto de Cultura da Feira

de São Cristovão (Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas) e a Fundação Nacional do Li-vro Infantil e Juvenil (FN-LIJ).

Stanley Jordan no CCJB

O Centro Cultural José Bo-nifácio receberá o guitar-rista Stanley Jordan no dia 19 de dezembro. O jazzista americano, que fechou uma parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, visi-tará no mesmo dia o Morro da Providência. O CCJB, que foi construído em 1877 para abrigar a Escola José Bonifácio, encerrará as suas atividades letivas no dia 22 de dezembro e já no

dia 3 de janeiro será come-morado o aniversário da Tia Dodô da Portela. O espaço, que funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e sábado, das 10h às 17h, oferece oficinas gratuitas de capoeira, dança afro, caratê,

dança do ventre e coral. To-dos podem se inscrever. O CCJB funciona na Rua Pe-dro Ernesto, 80 – Gamboa.

Prêmio Rio Sociocultural

No dia 3 de dezembro, hou-

ve cerimônia de entrega do Prêmio Rio Sociocultural 2009, em que os 10 finalistas receberam a chancela. Fo-ram selecionadas dez ações socioculturais realizadas no Estado do Rio de Janeiro, das quais cinco se consa-

gram vencedoras. A inicia-tiva do Instituto Cultural Cidade Viva, apoiada pelo RIOSOLIDÁRIO, UNES-CO e SEBRAE/RJ obteve um total de 283 inscrições representando 71 muni-cípios do Estado do Rio. Além do reconhecimento e visibilidade, premiou os escolhidos com um total de R$55.000,00. A realização deste projeto demonstra o avanço e a importância que trabalhos sociais estão ga-nhando na sociedade, crian-do um grande incentivo a trabalhos excepcionais.

O índice de homicídios, roubos e furtos no Centro do Rio cresceu aproxima-damente 20%, entre 2008 e 2009, de acordo com o Ins-tituto de Segurança Pública (ISP). Apesar disso, Alber-to Alvadia Filho, sociólogo e pesquisador do Centro de Estudos em Segurança e Cidadania (CESeC) afir-ma que vivemos hoje uma mudança de paradigma: “A polícia, pensada outro-ra como repressiva, passa a ser encarada como uma polícia cidadã, que deve trabalhar em conjunto com a população para a garantia e a preservação dos direitos humanos”. Alberto afirma que a instituição trabalha a perspectiva de melhorar a imagem da polícia, prejudi-cada com um passado his-tórico de ditadura militar, e encará-la como aliada, buscando também parce-rias com os demais órgãos de segurança. No entanto, Alberto Alvadia lembra que a garantia de condições básicas, como alimentação, saúde e educação, são de-terminantes para uma so-ciedade saudável e, portan-

to, menos violenta. O sociólogo adverte ain-

da que o CESeC não apre-sentará soluções mágicas, mas que pretende reverter o processo com afinco e dedi-cação: “Acho que o proble-ma está muito complexo. Se não houver integração e parceria, vai ficar difícil.” Nesse sentido, são promo-vidas, anualmente, visitas guiadas às delegacias, para que representantes das mais diversas áreas de conheci-mento avaliem o ambiente e o atendimento das insti-tuições. O órgão, situado na Universidade Cândido Mendes, elabora artigos que discutem o que ocorre hoje no âmbito da segu-rança, como o Blogosfera policial no Brasil – do tiro ao Twitter, em que as pes-quisadoras Silvia Ramos e Anabela Paiva analisam o papel dos blogs no debate sobre segurança pública.

Além disso, através do Prêmio Polícia Cidadã, o CESeC incentiva ações policiais que buscam a in-tegração com a sociedade e a garantia do respeito aos direitos humanos. Dentre

as iniciativas premiadas, esteve, por exemplo, o Curso de Aprimoramento da Prática Policial Cidadã, realizado por um grupo de sargentos da Polícia Militar, cuja descrição é “a capaci-tação dos policiais, apoiada nas experiências do dia a dia, poderia contribuir para humanizar e aperfeiçoar a tropa”.

Para concorrer, inicial-mente foram inscritas 183 ações, num total de 487 po-liciais. O conceito do prê-mio – já realizado em São Paulo pelo Instituto Sou da Paz e agora trazido para o Rio pelo CESeC – é o de

contribuir para o reconhe-cimento de ações policiais que tenham reduzido a vio-lência e colaborado para a solução de um problema de segurança pública de modo eficaz, baseadas na legalidade, na valorização da vida humana e na valo-rização do profissional de polícia.

Trabalhos como o do CE-SeC mostram que é possí-vel integrar os conceitos de cidadania e segurança. Alberto Alvadia ressaltou ainda a importância da in-tegração de dados e infor-mações entre as forças de segurança pública e as esfe-

ras do poder público, para a dinamização, a avaliação, o mapeamento de problemas e a melhora no planejamen-to de estratégias de combate à criminalidade. Com rela-ção às Unidades de Policia-mento Pacificadora (UPPs), Alberto as considera uma iniciativa importante, no entanto lembra que o Es-tado não poderia deixar de investir em ações sociais de longo prazo, pois, segun-do ele, a ocupação militar, isoladamente, já deu mos-tras de que não é eficaz na mudança da realidade das comunidades.

Conforme Alberto Alva-dia, tivemos neste ano um importante marco no setor de segurança: o Ministério da Justiça realizou a pri-meira Conferência Nacio-nal de Segurança Pública. Três mil pessoas teriam comparecido à reunião, en-tre trabalhadores da área, gestores públicos e socie-dade civil. No encontro foi definido um conjunto de “10 princípios” e “40 dire-trizes” que servirão de base para a construção de uma política de segurança públi-

ca para o Brasil. A iniciativa pretende, de acordo com o pesquisador, travar diálogo entre os diferentes setores da sociedade, abrindo para a participação da sociedade civil. No entanto, Alberto afirma que o movimento deve ser visto como parte de um processo que precisa se aprofundar e se expandir continuamente.

O CESeC também reali-zou no mês de dezembro, em conjunto com o Minis-tério da Justiça e o Instituto Sou da Paz, a conferência “Prevenção da violência – novas perspectivas”.

O encontro foi destinado a gestores e lideranças que trabalham com jovens nos vários campos de atividade (educação, saúde, cultura, esporte, sexualidade, arte, comunicação e assistência social) para discutir a pre-venção da violência a partir de novas perspectivas de segurança pública.

Para saber mais sobre as ações do CESeC acesse: www.ucamcesec.com.br.

Da redação

Divulgação

Sacha Leite

Cerimônia de entrega do Prêmio Polícia Cidadã Rio

Os dez finalistas do Prêmio Rio Sociocultural 2009

Page 11: Folha da Rua Larga 16

folha da rua largadezembro de 2009

comercio

dicas da regiãoRemando contra a maré

Da redaçãoDa redação

Empresa investe na venda de sacos plásticos reciclados

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Rua LargaRua Larga

Salgado e refresco a R$ 1 é no Bar Faustino. Carne-seca com abóbora, língua com purê e feijoada são um dos pratos fixos que mudam conforme o dia. O prato fei-to com arroz, feijão, farofa, macarrão, salada e carne sai a R$ 6. O suco de laran-ja custa R$ 2. Av. Marechal Floriano, 143.

Panetone e chocotone Fi-renze a R$ 5,25 é no Mini Mix Padaria e Delicates-sen. O minimercado, que está abrindo uma lanchone-te na parte da frente, vende produtos de mercearia em geral, pães variados e pro-dutos de higiene. Av. Mare-chal Floriano, 87.

É mês de aniversário do Viagraf. Na loja, especiali-zada em impressão digital, off-set digital e calendários, sai a R$ 22 o cartão de vi-sitas, R$ 20 o minicartão 4/1 e R$ 16 o minicartão 4/0. Av. Marechal Floriano, 127.

A LNS Rio Copiadora agora está também na Rua Larga. A loja, que tem escritório na Visconde de Inhaúma há 20 anos, está com promoções de estreia: 1 mil cartões a R$ 60, folder 10 cm X 14 cm, 10 mil uni-dades a R$ 200. Impressão em cores com papel off-set, acima de 50 impressões, R$ 1,20. Alunos do Senac tem 50% de desconto. Av. Mare-chal Floriano, 12.

Até dez impressões em A4 saem por R$ 0,15 na Tati-jet. Acima de 100 sai a 0,08. As fotocópias são o mesmo valor. Recarga de cartucho, qualquer modelo, R$ 15 e R$ 20. Av. Marechal Floriano, 56.

Sapatos em couro legíti-mo, por R$ 47,80, são a exclusividade do Costa Nova. A loja, há 40 anos na região, especializada em artigos masculinos, vende

É comum nas ruas do Rio de Janeiro encontrarmos sa-colas em tecido com a estam-pa “Eu não sou de plástico”. Neste momento os estabele-cimentos comerciais buscam alternativas contra as emba-lagens plásticas, encaradas como vilões pelos ecologis-tas. Os saquinhos plásticos já são considerados um grave problema ambiental, já que impermeabilizam os lixões, prejudicando a decompo-sição de material orgânico. Personagem protagonista do filme Plastic Planet, exibi-do no Festival do Rio 2009 e alvo da campanha “Saco é um saco”, do governo Fe-deral, os saquinhos têm até 2012 para serem substituí-dos por sacos reutilizáveis. Países como França, China e EUA costumam cobrar taxas simbólicas pelos saquinhos plásticos em supermercados, obrigando os consumidores a rever antigos hábitos.

Mary Prado, diretora da Vegas Embalagens, empresa especializada em plásticos reciclados sediada na Aveni-da Marechal Floriano, conta que a clientela costuma pedir o saco mais em conta: “As pessoas chegam aqui que-rendo o mais barato, porque ‘vai para o lixo mesmo’, mas eles não pensam que este ‘mais barato’ polui três vezes mais”. E dá uma dica aos donos de restaurantes da região: “Os estabelecimentos que produzem mais de 120 l de lixo por dia têm que pagar R$ 3,50 por cada saco que ultrapassa essa quantidade. Separando o lixo seco e lim-po em sacos transparentes, em vez de pagar taxa por lixo extraordinário, iria receber dinheiro por isso, ou ajudar famílias que se sustentam pela venda de material reci-clável”, recomenda Mary.

Nesses tempos de ecobags, Mary Prado está segura de que a venda de sacos e saco-las plásticas recicladas é be-néfica. “Retiramos a matéria-prima da natureza uma vez,

retornamos sete. Depois dis-so é possível transformar em biocombustível”, argumenta Mary. No entanto, é neces-sária uma grande revolução comportamental para que a cidade pré-olímpica adote a coleta seletiva como forma de lidar com o lixo. É preciso informação, força de vontade e investimento: um pacote de sacos transparentes com 100 unidades custa aproximada-mente R$ 46.

Mary Prado conta que a sua relação com a recicla-gem vem da infância: “Meu pai sempre trabalhou com reciclagem. Daí, quando eu era criança falavam: ‘olha lá a filha do lixeiro’. Eu ficava feliz quando tinha promo-ções de algumas empresas

do tipo ‘junte a embalagem’, pois ganhava todas”, brinca Mary, lembrando que a pre-ocupação com o lixo deve estar embutida na educação familiar.

Com relação aos custos da prática de coleta seletiva, Tássia Pacheco, vendedo-ra da Vegan Embalagens e ex-estudante de Engenharia Ambiental alerta: “O saco transparente pode ser mais caro, mas isso é questão de consciência ecológica. No que você investe na sua casa? Quais são os seus gastos? Se vai fazer coleta seletiva, isso tem que estar previsto no seu orçamento doméstico”. Caso o lixo não esteja separado e colocado em embalagens adequadas os catadores ou

moradores de rua costumam romper o saco, despejando o conteúdo no chão: “Eles têm que rasgar o saco, azul ou pre-to, para fazer a triagem e se-parar aquilo que os interessa. O que fica no chão não é re-tirado nem pelos caminhões, que só pegam o que está na embalagem e tampouco pe-los garis, que varrem somen-te folhas e lixos menores. Por fim, os bueiros se entopem”, conclui Mary.

A Vegas Embalagens par-ticipa de todas as etapas re-lacionadas à coleta seletiva, desde a limpeza das embala-gens, a triagem, a reciclagem propriamente dita e a venda: “Na fábrica de plástico recru-tamos só mulheres para a tria-gem. Porque são cuidadosas, separam melhor” – explica Mary – “Além disso, um di-ferencial dos nossos produtos é que em geral o material re-ciclado apresenta mau chei-ro, apesar de ser submetido a 300ºC. Já o nosso, como tem a seleção pelas mulheres, tem um bom controle de qua-lidade e portanto não possui cheiro desagradável”.

Quando soube que os su-permercados não utilizavam sacolas plásticas recicladas, Mary entrou em contato com a Anvisa para investigar se havia alguma proibição para o gênero. De acordo com o órgão fiscalizador, não há problemas na utilização de sacolas recicladas. “Eles dis-seram que os plásticos reci-clados não devem ficar em contato direto com o alimen-to. O armazenamento de ver-duras, legumes e carnes deve ser feito com o plástico vir-gem de bobina. Mas, segun-do eles, o plástico reciclado pode, e deve, ser utilizado para transportar alimentos já embalados”, afirmou Mary, mostrando na tela do compu-tador a troca de e-mails com a instituição.

Para colaborar com a Coleta Seletiva bastam dois passos:

1. Separar as embalagens em:- Orgânicos (restos de comida, cascas de alimentos, rejeitos) - Inorgânicos (caixas, papéis, garrafas, latas e vidros)Obs: As baterias e pilhas devem ser dispensadas em locais apropriados, e o óleo de cozinha armazenado em garrafas pet. O material inorgânico deve ser limpo antes de descartado

2. Utilizar sacos transparentes para facilitar a visualização e a triagem dos profissionais que trabalham com a venda de recicláveis. Obs: Segundo a Companhia Municipal para Limpeza Urbana (Comlurb) e a Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), apenas 14% da população do país facilita o processo de coleta seletiva.

também acessórios e ar-tigos esportivos. O tênis Bouts, que estava à venda por R$ 109, está na liqui-dação por R$ 59,80. A ca-miseta lisa básica sai por R$ 12,90, nas cores preto, branco, azul e bege. A ca-misa polo lisa ou listrada custa R$ 17,90 cada. Av. Marechal Floriano, 30.

Manicure e pedicure, por R$ 13, é na Pérola do Centro. O salão de beleza está há apenas dois meses na região e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. Quem faz es-cova ou aplicação de tinta (a partir de R$ 10) ganha uma hidratação grátis. A casa também oferece ser-viços de depilação. Av. Marechal Floriano, 54.

Sirva-se à vontade por R$ 4,99 e cheque seus e-mails no Restaurante Papa-Tudo. No térreo, funciona sistema a quilo, e na sobreloja, buffet sem balança promocional, em que é possível escolher até duas carnes e acompanha-mentos sem limite. Além de saborear sua refeição, é possível acessar a internet por R$ 2 a hora. Av. Mare-chal Floriano, 120.

Carimbos automáticos, a partir de R$ 15, são a especialidade da Ca-rimbopam. O carimbo convencional, em PVC, é vendido por R$ 6. A cane-ta-carimbo personalizável, com cordão para pescoço, sai a R$ 29,50. A loja tra-balha também com alguns artigos de papelaria, como o álbum em capa reciclada, peça a R$ 23. O formulá-rio de currículo é vendido a R$ 0,10. Av. Marechal Floriano, 167.

Mary Prado e Tássia Pacheco da Vegas Embalagens

Sacha Leite

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dezembro de 2009

cidade

Terreno Minado

sacha [email protected]

Jovens estudantes da região falam sobre a falta de entrosamento com o território

12folha da rua larga

Após sofrerem assaltos e sequestros relâmpago, alu-nos do Colégio São Bento vivem hoje uma realida-de encastelada, em que o transporte é feito pelos pais ou por ônibus da escola, da porta de casa até a por-ta do colégio, e vice-versa. O auxiliar de educação Carlos Júlio Martins, há 20 anos na instituição, diz que quando vê um menino esperando o ônibus em um lugar pouco movimentado, automaticamente aconselha a ficar alerta. Orientados a não caminhar despreocu-pados pelas ruas, os alunos do São Bento acabam se formando sem conhecer as construções, monumentos, ruas e becos carregados de história, típicos do Centro do Rio.

Esse é o caso do ex-aluno Mário Grangeia, que so-mente no sábado, dia 5 de dezembro, conheceu o Mor-ro da Conceição. Estimula-do por um curso de História do Rio de Janeiro, o jovem aproveitou a ocasião da abertura dos ateliês dos ar-tistas plásticos do Projeto Mauá: “Do sexto ano do Fundamental até o tercei-ro ano do Ensino Médio, desci na Estação do Metrô Presidente Vargas, saída Marechal Floriano. Duran-te esses cinco anos, andei da Rua Larga até o Colégio São Bento e nunca entrei na Igreja de Santa Rita. Só anos depois de me formar conheci o monumento, quando segui um curso de História da Arte”, revelou Mário, contente com as preciosidades descobertas e lamentando-se por não ter aproveitado melhor no tem-po em que, obrigatoriamen-te, caminhava pela área.

O funcionário Paulo Du-tra é o encarregado de zelar pela segurança dos alunos e passar as medidas de pre-caução. A orientação hoje em dia é clara: quem sai do colégio, não pode mais vol-

tar. Além disso, há alguns anos, os alunos podiam lanchar ou almoçar fora do colégio. Atualmente, nem os estudantes do último ano podem circular ou buscar outras opções de refeição.

Coordenadora pedagógica do CSB há cinco anos, Ma-ria Elisa Penna Firme diz que a exploração do entor-no não acontece, ou ocorre muito pouco. “Gostaríamos de ter a tranquilidade e a segurança de caminhar por aí e circular. São tantos os aparatos e preocupações que a exploração dos monu-mentos e espaços públicos fica prejudicada ou inexis-tente”— conclui a profes-sora — “Acabamos reco-mendando de virem no fim de semana com a família. Temos o desejo de interagir, mas ainda não vemos possi-bilidade”.

O inspetor Carlos Júlio Martins, nas suas duas dé-cadas de Colégio São Ben-to, está acostumado a cuidar dos meninos. Ele fala que os alunos esquecem tudo, des-de aparelho de dente, meia, cueca, até celular e ipod. “Hoje mesmo um deles me ligou: ‘Julinho, esqueci meu ipod. Falei para ele que ago-ra só segunda-feira”, sorri Júlio. É nesse clima de pro-teção que os funcionários do São Bento orientam os alu-nos a não falarem no apare-lho celular ou portarem ipod nos arredores do colégio, já que houve casos de roubo desses objetos nas proximi-dades da instituição.

Como sugestão para uma maior integração com o en-torno, Maria Elisa propõe a transformação de ruas e estradas em quarteirões de pedestres, um maior po-liciamento e a criação de roteiros de visitação, com informações históricas, ar-quitetônicas e culturais. A coordenadora lembra a distinção entre a visita a esses espaços com a escola e com a família: “O profes-

sor contextualiza a época da construção dos prédios, o estilo das fachadas, as di-ferentes vertentes, escolas, tendências...”. Os alunos do segundo ano do Ensino Médio do CSB possuem a disciplina História da Arte, cujo professor é funcionário do Iphan.

A coordenadora peda-gógica lamenta, ainda, que muitas vezes os alunos con-cluam o Ensino Médio sem conhecer as ruas do Rio de Janeiro. Para criticar posi-tiva ou negativamente os transportes público e cole-tivo da cidade é preciso en-volvimento. “Se queremos formar cidadãos e profissio-

nando a região, além de co-mercial, também residencial e cultural.

Luisar Villar conta que, ao ingressar no Colégio Pedro II, a família ficou preocu-pada: “Quando eu era mais nova, antes de estudar aqui, todo mundo falava que era perigoso. Agora que estudo aqui há sete anos e nunca aconteceu nada, fiquei bem tranquila”. Segundo ela, a região fica bastante deserta aos sábados pela manhã, e isso seria assustador, ainda assim, nunca viu nem soube de nada errado durante o pe-ríodo que estuda no colégio.

Apesar de confessar que não caminha pelas ruas do Centro, a jovem, que cur-sa o terceiro ano do Ensino Médio, considera positivo frequentar a região: “Tem muitos restaurantes por per-to, gráficas e coisas diversas para comprar na Uruguaia-na”. Luisa considera um ponto forte a possibilidade de conexão com diferentes realidades, já que tem gen-te de todo o estado: “O bom daqui é que vem gente de todas as regiões do Rio de Janeiro. Daí você vê, co-nhece e interage com outras realidades, outros pontos de vista e essa diversidade é bem legal”.

nais para mudar o mundo, eles têm que ver as carên-cias que existem e como po-dem interferir nelas. Não só teoricamente. São cuidados exagerados que temos hoje, que não são infundados”, desabafa Maria Elisa.

Breno Guedes, do Colégio Pedro II – Centro, confessa que não se relaciona com o entorno: “A Avenida Mare-chal Floriano não é nem um pouco confortável de se ca-minhar – o maior estresse, a maior galera, não tem árvo-res. Acho que o comércio é muito concentrado nesta re-gião”. O estudante propõe, ainda, que se diversifiquem os ramos de atividade, tor-

Já Natash Nunes, tam-bém aluna do terceiro ano do CPII, vê necessidade de melhora na estrutura de es-goto e tubulações: “Quando chove, temos que dar a vol-ta por fora, pela Presidente Vargas. Não dá para passar pela Marechal, que fica toda alagada”, critica .

Os jovens reivindicam um espaço ciber nas proxi-midades do colégio: “Não frequentamos nada por aqui. Lan house aqui perto não tem”, reclama Joanna Ferraz. Eles explicitam que o percurso nas cercanias é objetivo: “Vamos até o Bob’s, ou até a ‘xerox’, e até o Metrô ou ponto de ônibus, já para ir embora”, falam em coro os estudantes do Colégio Pedro II, Luisa, Natash, Joanna e Breno.

Quando perguntados se a escola propõe alguma ativi-dade cultural de intervenção artística urbana, esclarecem: “Alguns professores de Por-tuguês já cogitaram fazer-mos ações de poesia aqui na Praça Rio Branco, mas não chegamos a concretizar”, lamenta Joanna Ferraz.

E para finalizar, os me-ninos, que têm entre 17 e 18 anos, sentenciam: “O entorno é meio sujo, cin-za, monocromático. Carros buzinando... Isso aumen-ta o estresse”. Para mudar esse quadro, os alunos do Colégio Pedro II sugerem uma ação de arborização na Avenida Marechal Floriano, bem como o tratamento de fachadas das casas antigas, reconstituição de calçadas, esgoto, tubulação e uma melhor organização do trân-sito. Além disso, os jovens propõem a instalação de banheiros públicos gratuitos para evitar a prática, ainda comum na região, de se uri-nar nas ruas.

Sacha Leite

Sacha Leite

Alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Pedro II

O jornalista Mário Grangeia é ex-aluno do Colégio São Bento

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dezembro de 2009

morro da conceição Subprefeitura do Centro diz que a Comlurb varre conforme a demanda

bruna leão [email protected]

teresa speridiã[email protected]

Segundo a companhia, o Centro é o único bairro por onde percorre diariamente

Projeto De Salto Alto, visa combater o mau estado de conservação das calçadas

folha da rua larga

13cidade

Festa no Morro

Para deleite dos niilistas e desespero dos capitalis-tas, este foi um ano com um calendário repleto de feriados. E é assim que termina o ano, dias 24 e 25 de mãos dadas com sá-bado e domingo, bis para virar o ano.

Cada um tem lá suas razões para gostar de de-zembro, afinal é mais um ano que termina e ainda estamos vivos. Também é época de muitas festas, confraternizações, presen-tes, panetones, gulosei-mas, fogos e champanhe.

A tradição mundial de enfeitar casas e ruas com luzes dá a sensação de que o céu deixou cair as estrelas no nosso final de ano. Apesar de todos os problemas individuais ou coletivos que vivemos, é impossível não nos dei-xarmos contaminar com todos esses apelos: flashes , big bang de amor, amiza-de e fraternidade; e quem sabe um dia todos os me-ses do ano se chamarão dezembro?

Para o Morro da Con-ceição, este é o mês mais importante do ano. É nele que se comemora (dia 8) o dia da padroeira do Morro. Este ano não foi diferen-te. Nas primeiras horas da manhã, ouvimos os fogos dizendo: “O Morro está em festas”. No decorrer do dia, seguiram-se todas as tradi-ções: missa e procissão em que dezenas de pessoas percorreram as ruas com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, para que ela abençoe as ruas, as casas e as pessoas.

Os artistas do Projeto Mauá também expuseram

O ex-subprefeito do Centro do Rio, Marcus Vinícius, afirma que a Avenida Ma-rechal Floriano já recebeu alguns investimentos em tratamento de pedra portu-guesa e que, até setembro, já havia restaurado 4.500 buracos na região. Ele afir-ma ainda que o tratamento das calçadas é de responsa-bilidade dos proprietários de estabelecimentos da re-gião, e que iniciativas como o Lixômetro e o Super Gari são fundamentais para edu-car e engajar a população.

Na seção intitulada Se essa rua fosse minha, a população que frequenta a Avenida Marechal Flo-riano, antiga Rua Larga, e entorno, costuma dizer que se fosse dono ou dona da rua, falaria com a pre-feitura para tratar as cal-çadas e ruas esburacadas. Contato feito, como se po-siciona a prefeitura sobre essa questão? A Subprefeitura do Centro realiza, desde meados de abril, o projeto De Salto Alto, que visa combater o mau estado de conservação das calçadas. De acordo com o decreto nº 29.881, de 18 de setembro de 2008, o passeio em frente ao es-tabelecimento é de respon-sabilidade do proprietário, seja público ou privado.Até meados deste ano, no Centro, 949 estabelecimen-tos já haviam sido notifica-dos e cerca de 500 deles já haviam atendido à notifica-ção e consertado a calçada. Vale lembrar que quando é área da prefeitura, ela mesma é responsável por restaurá-la.Até setembro, a Subprefei-tura do Centro, através da 1ª Gerência de Conserva-ção da Secretaria de Obras, restaurou mais de 1.000 m² de pré-moldado de concre-to, cerca de 4.200 m² de pedra portuguesa e apro-ximadamente 1.000 m² de

seus trabalhos na Fortaleza da Conceição, que abrigou uma seleção de obras de cada artista representati-vas de seus trabalhos. No mesmo local foi realizado o recital De Villa Lobos a Carmem Miranda, com Rodrigo de Marsillac nos teclados e Daniel Rion , nos sopros.

Foi uma festa maravilho-sa e não só isso. Nos dias em que antecederam a festa , tivemos outro evento: o Projeto Mauá – que tam-bém faz parte do calendário festivo do Morro.

O Projeto Mauá, criado pelos artistas do Morro, tem como objetivo divulgar a arte do local. Este ano, os ateliês receberam mais visi-tantes que no ano passado. À noite, o samba correu sol-to apesar da chuva. Afinal, foi no Morro da Conceição que o samba começou, com Donga e João dos Prazeres.

O físico e professor Car-los Rabaça, organizador do evento, foi um dos respon-sáveis pelo sucesso.

O artista plástico, Oswal-do Gaia, presenteou as crianças com a Oficina de Argila, e ainda ganharam um pequeno livro educativo .O Morro também foi pre-senteado pelas pessoas que nos visitaram e nos presti-giaram.

Por vários dias, as ruas do Morro foram tomadas por encantamento tamanho que João do Rio nem imagina o que perdeu!

Para os que vieram, fica a boa lembrança. Para os que perderam, fica o nosso con-vite para 2010 e um feliz natal a todos.

concreto. A Avenida Mare-chal Floriano já passou por algumas destas interven-ções, e os estabelecimentos já foram notificados. No que diz respeito aos bu-racos nas ruas, a subprefei-tura comunica que, até se-tembro, 24.164 m² de faixa de rolamento passaram por reposição asfáltica, totali-zando cerca de 4.500 bura-cos restaurados no Centro, Zona Portuária e Paquetá. E uma área de mais de 7.300 m² teve os paralelepípedos renivelados. Ressalta-se, mais uma vez, que a tradi-cional e famosa Avenida Marechal Floriano esteve inclusa nas ações e, sem-pre que possível, estaremos atuando nela. Cabe lembrar ainda que esta avenida cos-tuma estar nas ações diárias da subprefeitura, seja de acolhimento, de combate a atividades irregulares e/ou ocupação irregular de lo-gradouro público, restaura-ção asfáltica, tapa-buracos etc.

Na mesma coluna, a lim-peza urbana também cos-tuma ser citada como fa-

tor crítico da região, ape-sar de ter sido divulgado em O Globo que a Avenida Rio Branco costuma ser varrida cinco vezes por dia. Seria o caso de elabo-rar uma política específi-ca para a limpeza urbana do Centro, incentivando práticas como a coleta se-letiva e alguma espécie de punição a quem joga lixo na rua? A Subprefeitura do Centro informa que a Comlurb re-aliza serviço de varredura todos os dias em todos os bairros do Rio. As princi-pais ruas da cidade e tam-bém as mais movimentadas são varridas diariamente. As ruas que têm menos movimento são varridas segundo um planejamento que leva em consideração a demanda. A Avenida Rio Branco, por exemplo, é varrida seis vezes por dia, de segunda-feira a sábado, e três vezes aos domingos. A Comlurb realiza coleta domiciliar normalmente em dias alternados, mas no Centro do Rio, como a de-manda é muito grande, esta

coleta é feita todos os dias. O Centro é o único bairro da cidade pelo qual a Comlurb passa diariamente fazen-do esse serviço. Acontece ainda outro tipo de coleta: a seletiva, que é amparada pela Lei nº 3.273, de 06 de setembro de 2001, que es-tabelece responsabilidades e deveres para o município e para os cidadãos cariocas quanto aos serviços de lim-peza da cidade.A Companhia Municipal de Limpeza Urbana realiza também trabalhos de cons-cientização da população, a fim de sensibilizar o ca-rioca quanto à necessidade de colaborar com a manu-tenção da limpeza da cida-de. A equipe de criação da empresa criou animações em 3D, como o Super Gari, por exemplo, e divertidos personagens que fazem re-fletir sobre a importância do cuidado com a limpeza e o meio ambiente, que são vei-culadas nos intervalos co-merciais de algumas TVs.

Bruna Leão

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dezembro de 2009

gastronomia

receitas carolSeu desejo é uma ordemPerna de cordeiro ao alecrim

Sinta-se em casa no Málaga, saboreie um bom vinho e a sua comida preferida

Da redação

carolina [email protected]

14folha da rua larga

Chegou o final do ano! E este é o mês das comemorações, seja no trabalho, com amigos ou em família, sempre temos um evento pra lá de animado! E como não podia ser diferente, a cozinha também está em festa, com banquetes dignos de Babette. Para variar um

Para quem não dispen-sa um lugar com requinte, mas que seja ao mesmo tempo aconchegante e descontraído, o restauran-te Málaga é uma ótima pedida. Já na porta, os clientes são recebidos por um dos sócios do estabe-lecimento, o Sr. Augusto Vieira. Figura bem co-nhecida da região por sua hospitalidade, é ele que conduz quem chega até as mesas. O restaurante, que fica em um lugar privile-giado do Centro, em frente ao Beco das Sardinhas e ao lado da Igreja de San-ta Rita, existe há 12 anos. Uma adega climatizada no salão principal é a prova de que o restaurante, que possui carta com mais de 100 rótulos, é uma ótima opção para os apreciado-res de bons vinhos.

Apesar do nome, o res-taurante não serve apenas comida típica espanhola. Há uma grande variedade de pratos e o cliente pode escolher desde comidas alemãs até brasileiras, massas, carnes e frutos do mar. O Sr. Augusto ajuda na escolha dos pratos e adéqua os pratos à von-tade do freguês. “Aqui o cardápio é dispensável. Prefiro dar pessoalmen-te as sugestões de acordo com o gosto dos clientes. Muitos deles nem olham mais o menu, deixando os pedidos por minha conta. Gosto disso, do contato di-reto com minha clientela, do calor humano. Quero que sintam como se esti-vessem em casa” afirma. A regra da casa é atender ao desejo do cliente com a maior flexibilidade pos-sível.

Algumas entradas não constam no cardápio, mas não podem deixar de ser degustadas, como o cal-dinho de peixe e o salmão defumado. Como prato

principal, a sugestão é o risoto de Parma e rúcula (R$ 28) ou o típico alemão Carré com salada de batata (R$ 31). Às quintas-feiras é servido o famoso Leitão a Bairrada (R$ 52 por pes-soa), servido inteiro e cor-tado na mesa. Mas o maior sucesso do Málaga é a fei-joada, servida às sextas-feiras e responsável pela enorme fila que se forma do lado de fora. Não é por menos: o cliente paga R$ 28 e come à vontade uma feijoada de primeiríssima qualidade.

A sobremesa mais pe-dida é a banana flambada com sorvete (R$22 para duas pessoas), preparada na panela em frente ao cliente. Não se esqueça de pedir o cafezinho, que vem com deliciosas tru-fas de fabricação própria. Para os que não têm tem-po suficiente para sair do escritório, o Málaga faz entregas, mas os pedidos devem ser feitos com uma hora de antecedência.

Rua Miguel Couto 121, Centro. Tels.: 21- 2253-0862 / 21-2233-3515

Leitão com farofa e batatas

Salmão ao molho de amêndoas

Paleta de cordeiro

pouco, escolhi para este Natal uma receita de perna de cordeiro. Com sabor sem igual, essa carne de cozimento lento acompanha muito bem saladas, grãos e as famosas farofas que aparecem em toda ceia. Bom apetite e um 2010 delicioso para todos os nossos leitores!

Ingredientes:1 perna de cordeiro inteira (aproximadamente 3 kg)1 molho de alecrim fresco2 a 3 cabeças de alhoAzeite Sal grossoPimenta do reino moída na hora500 g de cebolete500 g batatinha

Modo de preparo:Limpe a perna de cordeiro

retirando apenas os nervos. Faça incisões com uma faca afiada. Coloque dentes de alho inteiros e aperte bem para que penetrem na carne. No mesmo lugar, coloque folhas de alecrim. Passe azeite espalhando com as mãos para untar toda a superfície, e polvilhe o sal e a pimenta. Coloque um pedaço de papel-alumínio no osso, para não queimar.

Espalhe pelo tabuleiro as cabeças de alho partidas na metade, ramos de alecrim, as batatinhas e as cebolas. Cubra com papel-alumínio e leve ao forno médio por 1 hora e meia. Na metade desse tempo regue o cordeiro com o molho que irá se formar no fundo do tabuleiro, e volte ao forno. Ao final, retire o papel alumínio, aumente o forno e deixe a carne dourar. Regue com o molho.

Coe o molho e leve ao fogo para engrossar. Sirva com as cebolas e as batatinhas. Decore com ramos de alecrim fresco.

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folha da rua largadezembro de 2009

lazer

Futebol carioca clama por reestruturação baú da rua larga

Da redaçã[email protected] máximo

[email protected]

O Dragão, o rei da Rua Larga

15

Existiu uma loja de uten-sílios domésticos muito popular, O Dragão, mais conhecido, como “O Dra-gão da Rua Larga”. Essa loja, precursora dos sho-ws patrocinados, manti-nha um programa de rádio apresentado por Ademar Casé. Um dos primeiros jingles do rádio – do tem-po que ainda não se usava esse nome – foi feito para O Dragão, e foi Noel Rosa quem o compôs, em parce-ria com Vadico. A Marcha do Dragão dizia: “Você é mais conhecido / do que níquel de tostão / mas não pode ficar mais popular / do que O Dragão”. Certa vez, nesse mesmo progra-ma, Noel Rosa transfor-mou um de seus improvi-sos sobre sua composição De babado em: “Quando andei pela Bahia / Pes-quei muito tubarão / Mas pesquei um peixe um dia / Que engoliu a embarca-ção, / Não era peixe, era O Dragão” (breque).

Carlos Heitor Cony também homenageou O Dragão em uma de suas crônicas para o jornal Fo-lha de S. Paulo: “Vendia de tudo, panelas, talheres, jarros, aquilo que antiga-mente se dizia ‘trem de cozinha’, ferros de engo-mar, escarradeiras, peni-cos, montava-se a casa inteira com uma visita a preceito naquele endere-

A mobilização precisa partir da torcida, revoltada com escândalos e gestões fraudulentas

O futebol carioca há anos vem sendo associado ao atraso, ao que não traz resultado, à corrupção, à má gestão dos tempos do famigerado Eurico Miranda, e dos atuais cânceres Roberto Horcades e Kleber Leite (este último sempre com efetiva participação no comando do Flamengo). Como mudar então essa desgastante e triste realidade? O caminho mais fácil e objetivo para propor uma efetiva renovação seria criar maneiras de atrair os torcedores para se associarem aos seus clubes, elegendo profissionais sérios e comprometidos com a grandeza de suas instituições. Mas de quem seria o interesse nesse tipo de movimento? Das direções que se perpetuam locupletando-se dos seus poderes, inundadas por escândalos e sem nenhuma credibilidade? Certamente não. Essa mobilização precisa vir da torcida, revoltada com tanta falcatrua e há anos tratada como lixo por gestões fraudulentas e corruptas como estas acima mencionadas.

Maurício Assumpção e Roberto Dinamite, comandantes máximos de Botafogo e Vasco da Gama, respectivamente, são esperanças de que ao menos a seriedade

Nilton Ramalho

e o compromisso com seus torcedores sejam percebidos nos próximos anos. Mas isso não é muito pouco? Se formos comparar as conquistas recentes de clubes cariocas e paulistas, entraremos em profunda depressão, o Rio perde de lavada, fato que certamente preocupa a todos amantes do futebol da Cidade Maravilhosa.

Não é novidade para ninguém que o Rio de Janeiro vem perdendo cada vez mais espaço no cenário do futebol brasileiro. As alegações já são velhas conhecidas e têm o poder de irritar o exausto e apaixonado torcedor: os clubes não têm estrutura, faltam centros de treinamento bem equipados e uma gestão profissional na direção dos quatro grandes cariocas.

Ora, ninguém aguenta mais ouvir essa conversa, e,

objetivamente, nada muda na conjuntura dos clubes do estado que já representou a hegemonia do futebol nacional. Se essa equação é tão simples, por que não tirá-la do papel? Usando um exemplo prosaico e emblemático da nossa ultrapassada realidade, como é possível que um time como o Flamengo, com milhões de torcedores em todo o país, permaneça treinando no estádio de condições precárias como o da Gávea? Como podem Fluminense e Botafogo travar duelos históricos todo fim de ano para não caírem para a Série B? Isso não é digno da tradição futebolística de nossa cidade.

Sempre lembrados como exemplos de organização e de boa gerência no Brasil estão o “papa-títulos” São Paulo e o recente campeão mundial Internacional de

Porto Alegre. Ambos são a prova clara de como uma gestão bem equilibrada traz resultados significativos. Investindo em estrutura, mantendo salários em dia e usando a profissionalização em todos os seus setores, há sim como ser competitivo em todos os campeonatos disputados. É isso que falta ao Rio de Janeiro, ter pessoas sérias, comprometidas e competentes integrando suas diretorias, e cabe à torcida, por meio de uma organizada e efetiva mobilização, modificar um quadro tão degradante como o que foi pintado nos últimos anos em nosso estado.

ço marcado por enorme dragão na fachada, de cuja formidável boca saíam terríveis labare-das... O Dragão, esse se foi mesmo, esquar-tejado em centenas de shoppings que o subs-tituíram, bem verdade que não completamente, não mais se vendem es-carradeiras e penicos.” (Trecho da crônica “O polvo e o dragão da Rua Larga”, publicada na Folha de S. Paulo em 14/12/2007).

Dorival Caymmi interpretou “O que é que a baiana tem” no pro-grama “O Dragão da Rua Larga”.

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dezembro de 2009

Da redação

dicas da cidade Samba VoluntárioBotequim da Rua Larga faz happy hour filantrópico e promete animar o Carnaval 2010

16folha da rua larga

lazer

Natal da gratidão

O Museu João e Maria é um espaço de arte, mú-sica, cinema e diferentes expressões artísticas. A programação, sempre diversificada, trouxe este mês uma grande festa de encerramento: Natal da Gratidão. O evento, realizado no dia 10 de dezembro, às 18h, reuniu apresentações de corais, dança e poe-sia de grande qualidade agradando ao público presente. Para quem fi-cou de fora, fique atento à agenda do local. Situ-ado no Centro, na Av. Marechal Floriano, 19, sobreloja, o museu ofe-rece programas e horá-

rios alternativos.

Escolha do samba Tá Pirando, Pirado, Pirou!

No dia 16 de dezembro, das 14h às 19h, o Espa-ço Cultural Heloneida Studart, localizado no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Ce-dim), sediará a disputa pelo samba-enredo do bloco de carnaval de rua Tá Pirando, Pirado, Pi-rou!. O grupo é formado por servidores e usuá-rios dos serviços de saú-de mental do Instituto

José Luiz, consultor na área de atendimento ao cliente e funcionário da Light há 46 anos, é um dos criadores do Botequim da Rua Larga. Segundo ele, o projeto é, em síntese, um samba voluntário, também chamado de happy hour fi-lantrópico. A proposta aca-bou de ser enquadrada na Lei de Incentivo à Cultura e fará parte da programa-ção permanente do Centro Cultural Light no próxi-mo ano. “Resolvemos fa-zer um samba voluntário. Aqui nenhum de nós ga-nha dinheiro com música. A gente reverte as cola-borações recebidas para a Casa Maria de Magdala, que trata de soropositivos, em Niterói, e a Apael, As-sociação de Pais e Amigos de Portadores de Deficiên-cia Física”, esclarece José Luiz.

Formado por um gru-po de funcionários da Li-ght que sempre gostou do samba de raiz, o Botequim da Rua Larga procura re-viver os primórdios do gê-nero musical: “Não adian-ta chegar com um pedido no guardanapo... Toca aí um pagode qualquer... Não vamos tocar. O nosso negócio é samba tradicio-nal”. Em contrapartida, José Luiz conta que um rapaz o abordou no CCL e falou: “Sou compositor”. Daí solfejou três músicas muito boas, que José Luiz conhecia, mas não sabia que eram dele. O consultor considera muito satisfató-ria essa aproximação junto à comunidade do samba.

É possível conferir a próxima apresentação do Botequim no dia 22 de janeiro, quando o convi-dado da vez será o reno-mado músico Paulão Sete Cordas, arranjador do compositor e intérprete Zeca Pagodinho. A co-laboração sugerida é de módicos R$ 5.

Pinel - Instituto de Psi-quiatria da UFRJ, além de moradores do bairro de Botafogo. O samba-enredo e as fantasias são confeccionadas pe-los próprios usuários e haverá cobertura da TV Pinel. Os organizadores garantem que “vai ser uma loucura!”. O Cedim fica na Rua Camerino, 51. Mais informações pelo telefone (21) 2299-2004.

Escorrega na Copa 2010

O bloco Escorrega Mas Não Cai escorregou em tanta chuva e ficou de fora da programação deste mês. O grupo car-navalesco tradicional

da Zona Portuária, que iria e n s a i a r no dia 4 de dezem-bro, teve que adiar a progra-m a ç ã o por pro-b l e m a s c l i m á t i -cos. Mas levantem novamen-te, pois o bloco fará

sua apresentação no dia 8 de janeiro, com o tema “Escorrega – é o Brasil na Copa”. O evento tra-rá a competição de três sambas escritos por inte-grantes da Liga de Blo-cos e Bandas da Zona Portuária pelo título de enredo oficial de 2010. O grupo se encontrará no Largo da Prainha da Praça Mauá, a partir das 18h. Não fique fora des-sa folia!

José Luiz lidera o conjunto Botequim da Rua Larga, formado por funcionários da Light

O consultor comenta o título do grupo: “Propus o nome Botequim por causa do clima de descontração. Ironicamente a maioria só toma água mineral”, chacoalha José Luiz. Ele acrescenta que o grupo toca “samba de mesa” e gosta do calor humano que “risca-tapete”. O diretor artístico Haroldo Costa já tentou colocá-los no pal-co, mas o grupo prefere fazer uma roda próxima ao público.

“Começamos a nos apresentar nos botequins da região, como os espa-ços do Velho Sonho, do Milton San Román, tam-bém presidente do Polo Empresarial Nova Rua Larga, e na Churrascaria Avenida”, relembra José, mas o grupo não queria assumir compromisso com os estabelecimentos, e sim com a música. Então sur-giu a iniciativa de se apre-sentar no Centro Cultural Light: “Somos prata da casa, daí pensamos: ‘Por que não se apresentar no CCL?’ ”, questionou José Luiz. Ele lembrou que a Light tem um histórico li-gado aos carnavais cario-cas, caracterizando bonde como carros alegóricos e que grandes músicos como Waldir Azevedo e Lamar-tine Babo fizeram parte do quadro de funcionários da instituição.

O consultor explica que alguns funcionários que antes estavam em outras unidades da Light, como Jorge José, do cavaqui-nho, e Cleiton Vabo, agora estão na Rua Larga, fa-cilitando o processo. Há também alguns músicos de fora da Light, como Roberto Dias, compositor do Salgueiro, da ala da bateria. O sambista busca uma maior integração com os funcionários: “Um so-nho antigo é montar aqui na Light uma oficina de

percussão, violão de sete cordas e cavaquinho”.

No início, o Botequim da Rua Larga se apre-sentava de três em três meses. Com o sucesso, o radialista Haroldo Costa e o diretor Paulo Direi-to enquadraram o projeto na Lei Rouanet. Mas os integrantes não irão se beneficiar dos recursos ar-recadados: “Cada um tem seu cavaquinho, sua cor-da, etc. Até o dinheiro do transporte é do nosso bol-so. Nós não somos artis-tas, somos funcionários da Light”, defende José Luiz, lembrando que a Secreta-ria de Cultura só renova os projetos de confiabilidade. De acordo com o músico, a instituição viu que se trata mesmo de um happy hour filantrópico e apoiou o projeto.

Desde novembro, o pro-jeto visa trazer artistas re-nomados para o palco do Centro Cultural Light. O primeiro convidado foi o compositor Noca da Porte-la. A última apresentação, dia 11 de dezembro, trouxe a pastora Dorina, que ven-deu todos os discos que trouxe no dia da apresenta-ção. Há quem diga que se tivesse trazido mais, teria vendido. Os integrantes do grupo costumam entrar em contato com o convidado para acertar o repertório e os tons do artista. Dorina cantou sambas da Velha Guarda da Portela, home-nagem a Paulinho da Vio-la, com músicas que estão sempre no repertório do Botequim.

Da redação

Sacha Leite