150
UMA PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS AMBIENTAIS Eliana Nogueira Camacho TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: __________________________________________________ Prof. Francisco José Casanova de Oliveira e Castro, D. Sc. __________________________________________________ Prof. Paulo Fernando Ferreira Frutuoso e Melo, D. Sc. __________________________________________________ Prof. Edson de Pinho da Silva, D.Sc. __________________________________________________ Dr a Denise Faertes, Ph. D. __________________________________________________ Prof.Maria Cláudia Barbosa, D.Sc RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL NOVEMBRO DE 2004

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UMA PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS

AMBIENTAIS

Eliana Nogueira Camacho

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS

DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

__________________________________________________

Prof. Francisco José Casanova de Oliveira e Castro, D. Sc.

__________________________________________________

Prof. Paulo Fernando Ferreira Frutuoso e Melo, D. Sc.

__________________________________________________

Prof. Edson de Pinho da Silva, D.Sc.

__________________________________________________

Dra Denise Faertes, Ph. D.

__________________________________________________

Prof.Maria Cláudia Barbosa, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

NOVEMBRO DE 2004

Page 2: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

ii

CAMACHO, ELIANA NOGUEIRA

Uma Proposta de Metodologia para Análi-

se Quantitativa de Riscos Ambientais [Rio de

Janeiro] 2004

X, 140 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M. Sc.,

Engenharia Civil, 2004)

Tese - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1. Análise de Riscos

1. COPPE/UFRJ II. Título (série)

Page 3: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

iii

DEDICATÓRIA

Dedico esta Tese aos meus filhos Gabriel e Mariana, pela dedicação e compreensão

durante este longo período, em que ficaram privados de várias coisas, como brincadeiras,

passeios, de atenção, realização de tarefas escolares, por conta do meu envolvimento.

Ao meu marido, que foi a pessoa que mais colaborou para que esse dia chegasse, sem o

apoio dele, tenho certeza de que isso não aconteceria.

A minha mãe, pelo carinho e o esforço de despencar 300 km para ficar com meus filhos

para que pudesse trabalhar em minha Tese.

Ao meu pai que não se encontra presente aqui, mas foi a pessoa que mais me incentivou

a lutar pelos meus objetivos e que sempre, mesmo de onde ele está, sempre esteve

presente em mim, me dando força para lutar e com certeza estaria muito realizado com

mais esta batalha vencida.

Para finalizar agradeço a Deus, que é o responsável pela nossa existência (o dom da

vida), por estarmos aqui.

Page 4: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

iv

AGRADECIMENTOS

- A Deus em primeiro lugar, meu marido, meus filhos e minha mãe

- Ao meu Orientador, Francisco Casanova

- A Denise Faertes – TRANSPETRO/PETROBRAS

- A Elizabete Costa – ENSR International Brasil

- A Paulo Fernando Ferreira Frutuoso e Melo - UFRJ

Page 5: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

v

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.)

UMA METODOLOGIA PARA ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS AMBIENTAIS

Eliana Nogueira Camacho

Novembro/2004

Orientador: Francisco Casanova de Oliveira e Castro

Programa: Engenharia Civil

Neste trabalho foi proposta uma integração da metodologia de risco desenvolvida

para avaliar a performance global de segurança em plantas nucleares e químicas às

metodologias desenvolvidas para avaliar o potencial dos efeitos adversos de substâncias

químicas perigosas, em seres humanos e demais elementos do ecossistema. A

integração em questão se aplica àquelas situações onde é possível focar na segurança

de operações quer sejam elas relacionadas à produção, ao armazenamento ou à

manipulação de substâncias químicas perigosas. Por outro lado, apresentamos a

possibilidade do uso da dinâmica de populações como uma ferramenta na análise de

vulnerabilidade numa Análise Quantitativa de Riscos Ambientais.

Page 6: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

vi

Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements

for the degree of Master of Science (M. Sc.)

A METODOLOGY FOR ENVIRONMENTAL QUANTITATIVE RISK ASSESSMENT

Eliana Nogueira Camacho

November/2004

Advisor: Francisco José Casanova de Oliveira e Castro

Department: Civil Engineering

In this work we have proposed an integration of the methodology used to evaluate

the global performance in nuclear and chemical plants safety with that others used to

evaluate human and ecological potential adverse consequences of chemicals. This

integrated methodology is good for cases where it is possible to focus on safety of

industrial operations. On the other hand we pointed out the possibility to use the

population dynamics models as a tool in vulnerability analysis in an Environmental

Quantitative Risk Analysis.

Page 7: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

vii

ÍNDICE DO TEXTO

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS 7

2 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS 8

2.1 Introdução 8

2.2 Definição do Conceito de Risco em Atividades Industriais 9

2.3 Metodologia da Análise Quantitativa de Riscos Industriais 11

2.3.1 Definição do Sistema a ser Estudado: Fronteiras, objetivos e escopo 15

2.3.2 Identificação dos Perigos e dos Cenários Acidentais Relevantes 16

2.3.3 Avaliação das Freqüências de Ocorrência dos Cenários Acidentais 31

2.3.4 Avaliação das Conseqüências e Vulnerabilidade 48

2.3.5 Avaliação dos Riscos 53

3 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE ANÁLISE DE RISCOS AMBIENTAIS 58

3.1 Introdução 58

3.2 Avaliação de Risco a Saúde Humana 59

3.3 Avaliação de Risco Ecológico 67

3.4 Transporte de Contaminantes no Solo 69

3.5 Metodologias Usualmente Empregadas 73

4 CONCEITOS BÁSICOS DE ECOLOGIA 84

4.1 Introdução 84

4.2 Alguns Conceitos Básicos em Ecologia 85

4.3 Modelos de Dinâmica de Populações 95

5 DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS

AMBIENTAIS 105

5.1 Introdução 105

Page 8: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

viii

5.2 Metodologia para Análise Quantitativa de Risco Ambiental 107

5.3 Aplicação da Metodologia – Um Estudo de Caso 114

5.4 Aplicação da Dinâmica de Populações à Análise de Vulnerabilidade

em AQRA 128

6 CONCLUSÕES 133

7 REFERÊNCIAS 136

Page 9: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

ix

LISTA DE SIGLAS

SÍMBOLO DEFINIÇÃO

AIChE Instituto Americano de Engenheiros Químicos

ALARP Tão baixo quanto praticável

ARA Avaliação de Risco Ambiental

ASTM American Society for Testing and Materials dos EUA

ETI Estação de Tratamento de Efluentes Industriais

AQR Análise Quantitativa de Risco

AQRA Avaliação Quantitativa de Riscos Ambientais

APP Análise Preliminar de Perigos

AH Análise Histórica

AE Árvore de Eventos

AF Árvore de Falhas

BLEVE Explosão de vapor por expansão de líquido fervente

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo

- Brasil

C-Soil Ferramenta computacional usada para avaliação de risco ambiental

Curva F-N É uma forma de expressar o risco social, fornecendo a freqüência acumulada

de acidentes verus N ou mais fatalidades.

FEEMA Fundação Estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro

fitness É a probabilidade de deixar descendentes ao longo de grandes períodos de

tempo.

GLP Gás Liquefeito de petróleo

HAZOP Estudos de Perigos e Operabilidade

JP-4 Querosene de aviação

Page 10: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

x

VisualMODFLOW Ferramenta computacional comumente empregada nos cálculos de fluxo e

transporte de contaminantes

NA Nível d’ água

NAPLs Non-aqueous phase liquid

offshore For a da costa

OLF Associação da Indústria de Petróleo da Noruega

OMS Organização Mundial da Saúde

PROBIT Unidade de probabilidade

RBCA Ação Baseada em Risco da ASTM.

RBSL Níveis Gerais Baseados em Risco

RIVM Instituto de Saúde Pública e Meio Ambiente da Holanda

SoilRisk Ferramenta computacional para a avaliação do risco de contrair cancer

SSTL Valores-alvo específicos do sítio

TCE Tricloroetileno

TDI Ingresso diário tolerável

UCVE – Explosão em nuvem de vapor não confinada

USEPA United States Environmental Protection Agency

Uca Caranguejo chama - maré

VOC Compostos Orgânicos Voláteis

WASH 1400 Guia de procedimentos para avaliação probabilística de segurança

desenvolvido na década de 70, para ser usado como instrumento de

avaliação da segurança destas plantas nucleares.

Zoés Formas larvares do caranguejos chama-maré

Page 11: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

1

1 INTRODUÇÃO

O conceito de risco é hoje em dia amplamente utilizado em várias áreas do conhecimento.

Não há, entretanto, uma uniformidade na sua conceituação e muito menos uma

metodologia única que seja empregada na sua avaliação.

Um marco no desenvolvimento de uma metodologia que conceituou e avaliou o risco ao

homem devido às operações das plantas nucleares, no início da década de 70, foi o

relatório WASH 1400 [1], de fato um guia de procedimentos para avaliação probabilística

de segurança para ser usado como instrumento de avaliação da segurança destas

plantas nucleares.

Ainda na década de 70 foi conduzido um estudo abrangente envolvendo instalações não

nucleares no Reino Unido, que deu origem ao relatório Canvey [2].

Em seqüência, no início dos anos 80 foi realizado um outro estudo abrangente de

avaliação de perigos envolvendo instalações não nucleares em Rijnmond, localizada no

delta do Reno entre o Rotterdam e o Mar do Norte, o relatório Rijnmond [3].

Uma outra etapa fundamental que consagrou a metodologia acima, e ampliou o seu uso

para a avaliação dos riscos relacionados à segurança das plantas de processo em geral,

foi o guia de procedimentos desenvolvido pelo Instituto Americano de Engenheiros

Químicos – AIChE [4] – no início da década de 80.

Page 12: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

2

O conceito de risco definido na metodologia acima está associado a dois outros conceitos;

de um lado a conseqüência de um dado cenário acidental e do outro lado, a chance de

que este cenário ocorra. Especificamente, o risco é definido como sendo o produto da

conseqüência de um cenário acidental, pela sua respectiva freqüência de ocorrência.

O cálculo do risco na metodologia acima utiliza informações de duas áreas distintas do

conhecimento. De um lado os chamados modelos de conseqüência e vulnerabilidade [5],

e do outro a engenharia da confiabilidade [6].

Os modelos de conseqüência e vulnerabilidade servem para avaliar, no caso de um

acidente, a área atingida por um nível particular de efeito físico bem como a parcela dos

recursos (pessoas, estruturas, meio ambiente em geral) que sofrerão um tipo particular de

dano. Em linhas gerais trata-se, portanto, da determinação de uma espécie de resposta

dos recursos, aos efeitos físicos submetidos.

Por outro lado, a engenharia de confiabilidade permite avaliar o desempenho de

componentes, equipamentos ou sistemas de uma planta, no cumprimento de suas

missões. As técnicas de engenharia de confiabilidade como árvores de eventos e árvores

de falhas permitem determinar a chance de ocorrência, ou ainda a freqüência de

ocorrência dos cenários acidentais.

Dois outros contextos onde é avaliado o risco são: o risco à saúde humana e o risco

ecológico devido a substâncias tóxicas.

A definição de risco à saúde humana, no contexto acima, é o do potencial para efeitos

adversos à saúde causado por compostos químicos [7].

Page 13: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

3

A avaliação do risco à saúde humana tem se desenvolvido como um capítulo da

toxicologia, esta entendida como a ciência das substâncias químicas nocivas à vida.

Neste contexto o risco é entendido como sendo uma resposta de um indivíduo, à

exposição de uma dada substância tóxica.

No caso de substâncias reconhecidamente carcinogênicas, o risco à saúde humana é

formalmente definido como a probabilidade de um indivíduo contrair câncer como

resultado de uma exposição a um nível particular do carcinogênico [7]. No caso de

substâncias não- carcinogênicas, o potencial para efeitos adversos é avaliado

comparando-se o nível de exposição ao longo de um período de tempo especificado ( por

exemplo, tempo de vida) com uma dose de referência, para o mesmo período de

exposição [7].

Portanto, se compararmos esta metodologia com aquela anteriormente apresentada, e

consolidada no guia de procedimentos estabelecido pela AIChE conclui-se que,

conceitualmente, o risco aqui é a expressão da conseqüência de um acidente.

O mesmo acontece no caso do risco ecológico. O risco ecológico, anteriormente

designado ambiental, refere-se à avaliação qualitativa e ou quantitativa do potencial dos

efeitos adversos de substâncias químicas perigosas, em plantas e animais (excluindo-se

pessoas e espécies domésticas) [8].

Assim, também no caso do risco ecológico, conceitualmente o risco é a expressão da

conseqüência de um acidente que deu origem a uma contaminação ambiental.

Page 14: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

4

Este conceito de risco (saúde humana e ecológico), é o usado na área de Geotecnia

Ambiental [9, 10].

Em abril de 1998 a EPA publicou a versão final de um guia para avaliação de risco

ecológico [11] onde alguns conceitos foram revistos e ampliados. Por exemplo, “uma

avaliação de risco ecológico é entendida agora como o processo que avalia a chance de

um efeito ecológico adverso ocorrer, em decorrência da exposição a um ou mais agentes

tóxicos”. O conceito de efeito ecológico adverso também foi ampliado particularmente na

definição do termo ecológico. Neste documento o efeito ecológico adverso é entendido

como “mudanças que são consideradas indesejáveis porque elas alteram características

estruturais ou funcionais valoradas do ecossistema e seus componentes”. Aqui o

ecossistema compreende a comunidade biótica e o meio abiótico dentro de uma

localização especificada no espaço e no tempo. E por último, uma entidade ecológica é

definida como espécies, grupo de espécies, uma característica ou função do ecossistema

ou um habitat específico.

O conceito de toxicologia também foi estendido e atualmente a toxicologia é definida de

forma mais precisa como o estudo qualitativo e quantitativo dos efeitos adversos dos

agentes tóxicos nos organismos biológicos [12]. Por outro lado, na categoria dos agentes

tóxicos estão incluídos além dos químicos, os agentes de natureza física e biológica.

As generalizações acima estenderam os domínios da entidade ecológica bem como os

domínios da toxicologia, mas o conceito de risco neste contexto continua sendo o do

potencial de efeitos adversos e, portanto, o risco ainda é a expressão da conseqüência de

um acidente.

Page 15: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

5

A metodologia de análise quantitativa de risco associada à segurança de plantas químicas

e nucleares, e que será apresentada no capítulo 2, é normalmente empregada para

avaliar risco agudo associado a conseqüências indesejáveis que se propagam pela

atmosfera. O risco agudo é aquele cujas conseqüências indesejáveis se manifestam de

forma intensa e numa pequena escala de tempo. Não há, entretanto, na metodologia

nada que a impeça de ser usada em cenários de contaminação de solo e ou corpos

hídricos.

Por outro lado, as metodologias que serão discutidas no capítulo 3 e que se aplicam tanto

ao ser humano quanto a outros elementos do ecossistema, consideram de forma

quantitativa apenas os efeitos adversos, sobre um ou outro, provenientes de ambientes

contaminados. A diferença está que nesta metodologia não são calculadas chances de

tais contaminações ocorrerem. De fato nesta metodologia, o foco não é a segurança com

que um contaminante é produzido, ou armazenado, ou simplesmente manipulado, mas

sim nas implicações, isto é, nos efeitos adversos sobre os elementos do ecossistema, em

suas eventuais liberações.

O objetivo central desta dissertação é sugerir a integração destas duas metodologias.

Assim, nesta nova metodologia que passo a chamar de análise quantitativa de riscos

Ambientais, por um lado são incluídos elementos de análise de confiabilidade na

metodologia considerada no capítulo 3, e por outro são considerados os demais

elementos do ecossistema, vias de exposição e suas avaliações naquela outra

metodologia descrita no capítulo 2

A razão principal para tal sugestão é que parece mais apropriado que o conceito de risco

associado às atividades antrópicas deva estar vinculado a uma avaliação de segurança

Page 16: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

6

de tais atividades. Assim por exemplo, duas plantas químicas iguais quanto às

substâncias produzidas, armazenadas e/ou manipuladas (ou duas atividades que

manipulam substâncias químicas iguais), mas que possuem diferentes condições de

segurança, oferecem riscos diferentes à população, ao ecossistema, à saúde financeira

das empresas, ou seja, ao meio ambiente.

Uma vantagem de se expressar o risco como o produto da freqüência pela conseqüência,

e não como conseqüência apenas, é a possibilidade de intervir diretamente no projeto de

uma planta através de combinações de seus componentes e sistemas, com o intuito de

reduzir a freqüência de ocorrência de possíveis cenários acidentais e, assim, efetivamente

diminuir os riscos. Trata-se, portanto, de uma poderosa ferramenta de gerenciamento dos

riscos.

Nesta dissertação o conceito de meio ambiente é aquele empregado pela agência de

proteção ambiental do governo da Nova Zelândia, isto é, meio ambiente é um conjunto

constituído pelas pessoas, suas crenças sociais, culturais, o ambiente natural e as inter-

relações entre os diversos elementos [13].

Um outro objetivo desta dissertação é mostrar como os elementos de dinâmica

populacional podem ser usados para construir modelos que contribuem para uma análise

de conseqüências e vulnerabilidade para cenários acidentais envolvendo populações de

um ecossistema e assim serem incorporados numa complexa análise quantitativa de

riscos ambientais.

Page 17: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

7

1.1 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

Esta dissertação é constituída de sete capítulos organizados da seguinte forma:

• Capítulo 2 – Revisão sucinta da Metodologia da Análise Quantitativa de Riscos;

• Capítulo 3 – Revisão sucinta da Metodologia de Análise de Riscos Ambientais;

• Capítulo 4 – Revisão sucinta de Conceitos Básicos em Ecologia;

• Capítulo 5 – Descrição da Proposta de Metodologia para Análise Quantitativa de

Riscos Ambientais;

• Capítulo 6 – Conclusões

• Capítulo 7 – Referências

Page 18: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

8

2 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCO

2.1 INTRODUÇÃO

A Análise Quantitativa de Risco ou simplesmente AQR é hoje uma metodologia

amplamente utilizada como poderosa ferramenta na avaliação da perfomance global de

segurança, em especial nas indústrias nuclear e química.

A metodologia da AQR teve sua origem no desenvolvimento da indústria nuclear.

Entretanto, podemos dizer que contribuíram também de forma significativa para o seu

desenvolvimento as indústrias eletrônica e aeroespacial. Esta última, em especial,

fortemente motivada pela corrida espacial que se apresentava na época (∼ 1970) – a

conquista do espaço.

A preocupação com a segurança das indústrias nucleares acabou gerando um

documento, de fato um guia de procedimentos – Avaliação Probabilística de Risco, para

ser usado como instrumento de avaliação da segurança das plantas nucleares [1].

A generalidade desta metodologia se mostrou útil na avaliação dos riscos relacionados à

segurança das plantas de processo em geral, e em particular da indústria química, e hoje

em dia é genericamente chamada de Análise Quantitativa de Risco da Indústria de

Processos Químicos.

Esta consagrada metodologia será brevemente resumida neste capítulo, onde se

pretende apresentar seus conceitos e métodos empregados para a análise.

Page 19: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

9

2.2 DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE RISCO EM ATIVIDADES INDUSTRIAIS

É comum, em ciências, usarmos termos que possuem significado diferente, às vezes até

mesmo antagônico, daqueles empregados na vida cotidiana.

O risco é um exemplo desses termos. Até mesmo no domínio da ciência existem vários

significados associados com a palavra risco [14].

Transcreve-se a seguir as definições de risco extraídas da Ref [14] e que, por sua vez,

foram objeto de discussão e decisão do “SRA Committee on Definitions” [15 ].

1. “Possibilidade de perda, dano, desvantagem ou destruição; expor ao dano ou ao

perigo; incorrer em risco ou perigo”.

2. “Uma expressão para a possível perda durante um período de tempo ou por um

número de ciclos operacional especificado”.

3. “Conseqüências / unidade de tempo = freqüência (eventos/unidade de tempo) x

magnitude (conseqüências / evento)”.

4. “Medida da probabilidade e severidade de efeitos adversos”.

5. “Probabilidade condicional de um evento adverso (dado que o evento causador tenha

necessariamente ocorrido)”.

6. “Potencial que um evento ou atividade tem para conseqüências negativas

indesejáveis”.

7. “Probabilidade de que uma substância produza dano sob condições especificadas”.

8. “Probabilidade de perda ou dano às pessoas ou à propriedade”.

9. “potencial para a realização de conseqüências negativas indesejáveis à vida humana,

à saúde ou ao ambiente”.

Page 20: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

10

10. “Produto da probabilidade de um evento adverso pelas conseqüências deste evento,

ao ocorrer (dimensão das conseqüências x tempo)”.

11. “Função de dois fatores principais: (a) probabilidade de que um evento ou uma série

de eventos de várias magnitudes ocorra, e (b) as conseqüências destes eventos”.

12. “Distribuição de probabilidades acerca de todas as possíveis conseqüências de uma

causa específica, que possa ter um efeito adverso sobre a saúde humana, a

propriedade ou ao meio ambiente”.

13. “Medida da ocorrência e severidade de um efeito adverso sobre a saúde, propriedade

ou meio ambiente.”

Nesta dissertação não se entrará no mérito da discussão sobre os vários conceitos

(muitos deles relacionados). Ao invés disso, vamos nos limitar àquelas definições e

conceitos já amplamente consagrados pela indústria de processo [4, 5, 12, 16], e que

serão discutidas na próxima seção.

Portanto, considera-se nesta dissertação que, conceitualmente, o risco é definido pela

combinação de dois outros conceitos: a conseqüência de um cenário acidental e a sua

freqüência de ocorrência. Especificamente, o risco é definido como o produto da

freqüência pela conseqüência.

Notamos que desta forma o risco não se define como uma conseqüência indesejável, mas

sim como uma combinação desta, com a chance dela ocorrer. Assim, portanto, se fosse

possível construir uma planta onde não houvesse a menor chance de perda indesejável

de contenção de substância potencialmente perigosa, o risco associado à operação deste

empreendimento seria zero. Por outro lado, na hipótese fantasiosa de um

empreendimento construído no meio do deserto e que operasse de forma completamente

Page 21: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

11

automatizada, não sendo, portanto, necessária a intervenção humana, ainda que não

fosse pequena a chance de perda de contenção de substâncias potencialmente

perigosas, o risco ao homem associado a este outro empreendimento também seria

conceitualmente zero.

Na prática não há equipamento que não falhe e nem empreendimento, que em suas

imediações esteja livre de seres humanos. Portanto, pode-se dizer que o risco é inerente

à atividade industrial e que uma forma razoável de expressá-lo é através de uma

combinação entre a chance de ocorrência de um cenário acidental e sua respectiva

conseqüência. Considerando-se a combinação em questão como o produto desses dois

fatores, esta expressão pode ser interpretada como uma ponderação (peso) na

conseqüência, onde o fator de ponderação é a chance de ocorrência de uma liberação

indesejável de uma substância potencialmente perigosa – um acidente.

A seguir apresenta-se resumidamente as definições e conceitos relativos à análise de

risco associada à segurança de operações em plantas industriais, bem como as etapas

que definem a metodologia de AQR. A descrição a seguir está baseada nas respectivas

referências clássicas [4, 5, 12, 16].

2.3 METODOLOGIA DA ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS

De acordo com as referências [4, 5, 12, 16], o risco é formalmente definido como:

( ) ( ) ( ) ( )( )∑∑==

==n

jjj

n

jj tzyxCftzyxRtzyxR

11

,,,,,,,,, . (2.1)

Page 22: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

12

Aqui, fj é a freqüência de ocorrência do j-ésimo cenário acidental. A freqüência de

ocorrência é o número de vezes que o cenário ocorre (portanto, ao contrário da

probabilidade, não é um número limitado ao intervalo [0,1]), e é normalmente expressa

numa base anual e, portanto, tem dimensão de inverso do tempo; Cj, é a conseqüência a

ele associado. A conseqüência se expressa através do número de pessoas, edificações e

meio ambiente que serão afetadas de uma forma particular (ferimentos, fatalidades,

destruição de construções entre outras). E finalmente, n é o número de cenários

acidentais identificados na planta. Nota-se que o risco assim definido é uma grandeza

aditiva, isto é, o risco total num dado ponto é a soma das contribuições dos riscos, neste

ponto, associados a cada cenário acidental. Na equação 2.1, R(x,y,z) é um número,

associado ao ponto do espaço de coordenadas (x,y,z), que informa o risco a um indivíduo

localizado neste ponto.

A AQR é uma técnica que foi originalmente desenvolvida para abordar os principais

perigos de acidente e cujas conseqüências se propagam pela atmosfera. A expressão

“principais perigos de acidente” tem sido definida como [16]: “Uma ocorrência tal como

uma grande emissão, um grande incêndio ou uma grande explosão que resulta de uma

liberação descontrolada de uma ou mais substâncias perigosas, no curso de uma

atividade industrial e que conduz a uma situação grave de perigo ao homem e ao meio

ambiente, imediatamente ou posteriormente, dentro ou fora da instalação”.

A AQR possibilita avaliar quantitativamente os riscos provenientes de uma instalação que

utiliza substâncias perigosas isto é, tóxicas, inflamáveis e/ou explosivas e que, portanto

possuem a potencialidade de causar danos (morte, ferimento, perda de estrutura, perda

econômica, etc) às pessoas, à propriedade e ao meio ambiente.

Page 23: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

13

A AQR serve tanto como ferramenta para avaliar os riscos existentes, bem como ajudar

na decisão de escolha entre diferentes alternativas para redução dos riscos [17].

Antes de passar a apresentar a seqüência de etapas que definem a metodologia, é

importante definir alguns outros conceitos comumente empregados. O primeiro é o de

cenário acidental. O cenário acidental é definido como uma seqüência específica de

eventos, não proposital, que tenha uma conseqüência indesejável. O primeiro evento da

seqüência é o evento iniciador. Os demais eventos são denominados eventos

intermediários e representam as respostas do sistema e de seus operadores, ao evento

iniciador. Devemos notar que diferentes respostas ao mesmo evento iniciador

determinarão diferentes eventos intermediários e, portanto, embora o evento iniciador seja

o mesmo, podemos ter diferentes seqüências de eventos determinando assim diferentes

cenários acidentais. Observa-se também que mesmo quando as conseqüências são

semelhantes, elas podem diferir em magnitude.

Esta definição do acidente evidencia sua natureza aleatória. A freqüência de ocorrência

de um cenário acidental, ou sua probabilidade de ocorrência é determinada compondo-se

adequadamente a freqüência do evento iniciador, com as respectivas probabilidades de

ocorrência dos eventos intermediários.

Uma outra observação importante é que esta definição possibilita, conceitualmente, a

oportunidade de redução da freqüência de ocorrência do cenário acidental, através da

possibilidade de redução das probabilidades dos eventos intermediários.

A seguir se apresenta de forma resumida a metodologia da AQR. Ela é baseada nas

seguintes etapas:

Page 24: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

14

• Definição do sistema a ser estudado bem como suas fronteiras;

• Identificação dos perigos e dos cenários acidentais mais relevantes;

• Avaliação das freqüências de ocorrência dos cenários acidentais;

• Avaliação das conseqüências e vulnerabilidade;

• Avaliação dos riscos.

A seguir na figura 2.1 apresenta-se um fluxograma que ilustra a estrutura de uma AQR:

FIGURA 2.1 – FLUXOGRAMA DA ESTRUTURA DE UMA AQR

Fonte: Ref. [17]

Definição do sistema a ser estudado

Identificação dos perigos e cenários acidentais

Avaliação das freqüências • freqüência dos eventos iniciadores • indisponibilidade do sistema de proteção • freqüência dos cenários acidentais

Avaliação das conseqüências • avaliação dos efeitos físicos • análise de vulnerabilidade • análise das conseqüências

Avaliação dos riscos

Riscos Aceitáveis ?

Plano de ação de emergência Medidas mitigadoras

sim não

Page 25: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

15

Cabe ressaltar que o estabelecimento de critérios para a aceitabilidade de riscos é um

processo lento, complicado e que requer a participação da sociedade no seu julgamento.

Uma vez concluído o processo, passa a existir um padrão, isto é, um nível ou um intervalo

de valores em que o risco é considerado aceitável. Este padrão já existe no Brasil (Rio de

Janeiro e São Paulo) para riscos associados às substâncias tóxicas, inflamáveis e

explosivas e cujas conseqüências se propagam pela atmosfera [18, 19]. Estes critérios de

aceitabilidade usados pela FEEMA e CETESB serão apresentados mais adiante, nas

seções onde se discutirá o risco individual e o risco social.

2.3.1 DEFINIÇÃO DO SISTEMA A SER ESTUDADO: FRONTEIRAS, OBJETIVOS E

ESCOPO.

Esta fase inicial do estudo é muito importante porque nela são estabelecidos de forma

clara os limites, isto é, as fronteiras e como o sistema será estudado. Ou seja, as

fronteiras, os objetivos e o escopo definem até onde se vai investigar e com que grau de

profundidade.

Por exemplo, se uma instalação industrial contém apenas uma esfera de GLP (Gás

Liquefeito de Petróleo) e um tanque de óleo diesel e se localiza muito próximo a uma área

de proteção ambiental (APA), numa área onde há ocupação residencial, uma análise de

riscos completa deverá envolver todos os aspectos do problema.

Mas pode haver o seguinte interesse específico (como é o caso da liberação da licença

de instalação pela FEEMA e CETESB): qual é o risco agudo à população imposto pela

instalação? É evidente que este tipo de interesse limita o objeto de estudo pois não serão

Page 26: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

16

estudadas as conseqüências de um acidente sobre a APA e nem mesmo os riscos à

saúde humana impostos por uma possível contaminação do solo ou corpo hídrico.

O grau de profundidade também pode ser limitado se se decidir não considerar as

conseqüências de um possível efeito dominó (efeito cascata, onde um acidente num

elemento da planta acarreta destruição em outro e assim sucessivamente, tal qual quando

um conjunto de peças do jogo dominó, colocadas em pé, próximas e alinhadas, em

seqüência vão caindo, uma a uma, após a primeira da fila cair).

2.3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS PERIGOS E DOS CENÁRIOS ACIDENTAIS MAIS

RELEVANTES

A identificação dos perigos associados à operação de uma planta bem como a

identificação dos cenários acidentais associados é feita através de técnicas qualitativas

que consistem em métodos específicos, e que têm como objeto a identificação de todos

os eventos iniciadores de acidente, uma avaliação qualitativa das conseqüências e suas

severidades, a consolidação dos cenários acidentais e finalmente uma hierarquização

qualitativa dos riscos associados.

AS TÉCNICAS MAIS COMUNS DE IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS SÃO:

• Análise Preliminar de Perigos (APP)

• Estudos de Perigos e Operabilidade (HAZOP)

• Análise Histórica (AH)

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17

• ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS (APP)

A Análise Preliminar de Perigos (APP) é uma técnica qualitativa que consiste na

identificação preliminar dos perigos existentes em uma instalação (existente ou em fase

de projeto), suas causas, suas conseqüências, e uma hierarquização qualitativa dos

riscos associados. Além disso, a APP inclui sugestões de medidas para a redução das

freqüências e/ou conseqüências dos cenários acidentais.

A APP é uma técnica precursora de outras investigações, pois identifica os cenários

acidentais mais relevantes, em que se baseará, por exemplo, uma análise de

conseqüências e vulnerabilidade e, finalmente, uma análise quantitativa de riscos.

A APP é uma técnica que pode ser usada tanto na fase de projeto quanto em instalações

já existentes. Na fase de projeto a técnica é ideal, pois faz a identificação dos perigos com

antecedência, podendo, à medida que o projeto se desenvolve, controlar os riscos ou

minimizá-los.

A realização da APP propriamente dita é feita através do preenchimento de uma planilha,

que se encontra apresentada na figura 2.2 a seguir.

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18

ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS

SISTEMAS:

SUBSISTEMA CATEGORIAS

PERIGO CAUSAS MODO DE DETECÇÃO

EFEITOS FREQÜÊNCIA SEVERIDADE RISCO

RECOMENDAÇÕES CENÁRIOS

FIGURA 2.2 – PLANILHA UTILIZADA PARA A ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS

Fonte: Ref [20]

A seguir descreve-se resumidamente os conteúdos de cada uma das colunas da planilha,

ou seja, os conceitos de cada um dos itens que a define.

1a coluna: Perigo

Perigos identificados para o módulo/trecho de análise em estudo. Perigos são todos os

possíveis eventos iniciadores com potencial para causar danos às instalações,

operadores, público ou meio ambiente.

2a coluna: Causa

As causas podem envolver tanto falhas intrínsecas dos equipamentos como erros

humanos durante testes, operação e manutenção.

Page 29: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

19

3a coluna: Modos de detecção

A detecção da ocorrência do evento iniciador pode ser através de instrumentação ou

percepção humana.

4a coluna: Conseqüências

Principais efeitos dos acidentes envolvendo substâncias tóxicas, explosivas ou

inflamáveis.

5acoluna: Categoria de freqüência

Fornece uma indicação qualitativa da freqüência esperada de ocorrência para cada um

dos cenários identificados, conforme tabela 2.1.

TABELA 2.1 – CATEGORIAS DE FREQÜÊNCIAS DOS CENÁRIOS USADOS NA APP

CATEGORIA DENOMINAÇÃO FAIXA DE FREQÜÊNCIA (/ANO)

DESCRIÇÃO

A Extremamente remota

< 10-4 Extremamente improvável de ocorrer durante a vida útil da instalação

B Remota 10-3 a 10-4 Não esperado ocorrer durante a vida útil da instalação

C Improvável 10-2 a 10-3 Pouco provável de ocorrer durante a vida útil da instalação

D Provável 10-1 a 10-2 Provável de ocorrer durante a vida útil da instalação

E Freqüente > 10-1 Esperado ocorrer várias vezes durante a vida útil da instalação

Fonte: Ref [ 20]

Page 30: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

20

6a coluna: Categoria de severidade

Fornece uma indicação qualitativa da severidade da conseqüência, para cada um dos

cenários identificados. As categorias de severidade utilizadas no presente trabalho estão

definidas na tabela 2.2.

TABELA 2.2 – CATEGORIA DA SEVERIDADE DAS CONSEQÜÊNCIAS DOS

CENÁRIOS

CATEGORIA DENOMINAÇÃO DESCRIÇÃO

I Desprezível Sem danos ou danos insignificantes aos equipamentos, à propriedade e/ou ao meio ambiente. Não ocorrem lesões/mortes de funcionários, de terceiros (não funcionários) e/ ou de pessoas extra-muros (indústrias e comunidade). O máximo que pode ocorrer são casos de primeiros socorros ou tratamento médico menor.

II Marginal Danos leves aos equipamentos, à propriedade e/ou ao meio ambiente (danos materiais são controláveis e/ou de baixo custo de reparo). Lesões leves em funcionários, terceiros e/ou pessoas extra-muros.

III Crítica Danos severos aos equipamentos, à propriedade e/ou ao meio ambiente, levando à parada ordenada da unidade e/ou sistema. Lesões de gravidade moderada em funcionários, em terceiros e/ou pessoas extra-muros (probabilidade remota de morte de funcionários e/ou terceiros). Exige ações corretivas imediatas para evitar seu desdobramento em catástrofe.

IV Catastrófica Danos irreparáveis aos equipamentos, à propriedade e/ou ao meio ambiente, levando à parada desordenada da unidade e/ou sistema (reparação lenta ou impossível). Provoca mortes ou lesões graves em várias pessoas (em funcionários, em terceiros e/ou em pessoas extra-muros).

Fonte: Ref [20]

Page 31: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

21

7a coluna: Risco

Combinando-se as categorias de freqüência com as de severidade, obtém-se uma

indicação qualitativa do nível de risco de cada um dos cenários identificados, isto é, a

Matriz de Riscos conforme ilustrada na figura 2.3.

FREQÜÊNCIA

A B C D E

IV

III

II

I

S

E

V

E

R

I

D

A

D

E

FIGURA 2.3 – MATRIZ DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCOS USADA EM APP

Fonte: Ref [20]

SEVERIDADE FREQÜÊNCIA RISCO

I DESPREZÍVEL A EXTREMAMENTE REMOTA

DESPREZÍVEL

II MARGINAL B REMOTA MENOR

III CRÍTICA C IMPROVÁVEL MODERADO

IV CATASTRÓFICA D PROVÁVEL SÉRIO

E FREQÜENTE CATATRÓFICO

Page 32: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

22

8a coluna: Medidas Mitigadoras

Recomendações de medidas preventivas ou mitigadoras que devem ser tomadas para

diminuir a freqüência e/ou a severidade do cenário acidental.

9a coluna: Cenário

Número de identificação do cenário de acidente.

Antes de iniciar o preenchimento da planilha, deve-se definir o objetivo da análise, o

escopo, as fronteiras da instalação, a substância a ser analisada, bem como as condições

meteorológicas predominantes na região, tendo em vista que tais condições podem

influenciar significativamente na avaliação dos efeitos físicos.

Para facilitar a realização da análise é interessante dividir a instalação em sistemas,

subsistemas e trechos, onde são adotados alguns critérios para tal, como, por exemplo,

dividir os trechos entre válvulas de bloqueio, o que facilita uma tomada de ação no caso

de liberação neste trecho.

• ESTUDOS DE PERIGOS E OPERABILIDADE (HAZOP)

A técnica denominada de estudos de perigos e operabilidade (HAZOP), tem o objetivo de

identificar os perigos e os problemas de operabilidade, isto é, os desvios dos parâmetros

de processo, identificando suas causas e conseqüências.

A melhor época para se realizar este tipo de análise é na fase final de projeto, quando já

se dispõe de fluxogramas de engenharia e de processo da instalação, onde ainda se pode

Page 33: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

23

alterar o projeto sem grandes prejuízos. A partir daí, o HAZOP pode ser usado em

qualquer fase da vida útil da instalação.

A técnica pode ser usada tanto como revisão de segurança, onde enfoca a segurança dos

operadores, público externo e do meio ambiente, como também nos problemas de

operação que, embora não ofereçam perigo imediato, podem acarretar perda de produção

e na qualidade final do produto.

A realização de um HAZOP requer conhecimentos específicos da operação da planta pois

ele procura identificar as causas de desvios operacionais bem como suas conseqüências

para, enfim, serem propostas medidas que solucionem o problema.

Esta metodologia é baseada em um procedimento, em que um grupo examina um

processo e gera perguntas de maneira estruturada e sistemática através de um conjunto

de palavras guia, que se encontram ilustradas nas Tabelas 2.3 e 2.4 a seguir:

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24

TABELA 2.3-TIPOS DE DESVIOS ASSOCIADOS COM AS PALAVRAS GUIA.

Palavra-Guia Tipos de Desvios

Não, Nenhum Completa negação das intenções de projeto

Menos Diminuição quantitativa de uma propriedade

física relevante

Mais Aumento quantitativo de uma propriedade

física relevante

Também, Bem como Um aumento qualitativo

Parte de Uma diminuição qualitativa

Reverso O oposto lógico da intenção de projeto

Outro de Substituição completa

Fonte: Ref [20]

TABELA 2.4 – LISTA DE DESVIOS PARA HAZOP DE PROCESSOS

CONTÍNUOS.

Parâmetro Palavra-Guia Desvios

Fluxo Nenhum Menos Mais Reverso Também

Nenhum fluxo Menos fluxo Mais fluxo Fluxo reverso Contaminação

Pressão Menos Mais

Pressão baixa Pressão alta

Temperatura Menos Mais

Temperatura baixa Temperatura alta

Nível Menos Mais

Nível baixo Nível alto

Viscosidade Menos Mais

Viscosidade baixa Viscosidade alta

Reação Nenhum Menos Mais Reverso Também

Nenhuma reação Reação incompleta Reação descontrolada Reação reversa Reação secundária

Fonte: Ref [20]

Page 35: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

25

Esta técnica de identificação de desvios consiste em buscar as causas destes possíveis

desvios em variáveis de processo, tais como, temperatura, vazão, pressão e composição,

em diferentes pontos do sistema (denominados nós). A busca destes desvios é feita

através da aplicação sistemática de uma lista de palavras guia ilustradas nas Tabelas 2.3

e 2.4, juntamente com o tipo de desvio considerado [20].

Para facilitar a análise, divide-se a unidade em sistemas e subsistemas, onde se

escolherá um ponto no subsistema a ser analisado, que se denominará nó.

Para a realização, propriamente dita, do HAZOP, se faz uso de uma planilha contendo 8

colunas como se mostra na figura 2.4.

FIGURA 2.4 – PLANÍLHA UTILIZADA PARA ESTUDO DE PERIGOS E

OPERABILIDADE

Fonte: Ref [20]

Data: Estudos de Perigos e Operabilidade (HAZOP) Preparado por:

Unidade/subsistema: Nó: Referência: Pág

Parâmetro Palavra-guia

Desvio Causas Detecção Conseqüência Providências Ação

Page 36: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

26

A seguir descreve-se resumidamente os conteúdos de cada uma das colunas da planilha,

ou seja, os conceitos de cada um dos itens que a define.

1a coluna: Parâmetro

É a variável de processo que deve ser mantida especificada para a adequada operação

da planta, conforme especificado na tabela 2.4;

2a coluna: Palavra-guia

Palavra que associará ao parâmetro analisado, um descontrole operacional, conforme

tabela 2.4;

3a coluna: Desvio

É a combinação do parâmetro com a palavra- guia, conforme Tabela 2.4

4a coluna: Causas

São as causas que podem acarretar o desvio, podendo envolver tanto falhas intrínsecas

de equipamentos, erros humanos de operação e de manutenção.

5acoluna: Detecção

São os meios de detecção disponíveis para identificação da ocorrência do desvio

6acoluna: Conseqüências

São as conseqüências associadas a cada uma das causas ou conjunto de causas,

podendo ser tanto distúrbios operacionais, como perda de produto e interrupção de uma

Page 37: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

27

transferência, como efeitos que possam gerar incêndio, explosões, formação de nuvem

tóxica, etc, ou danos aos operadores, à instalação ou ao meio ambiente.

7acoluna: Providências

Recomendações propostas pela equipe de realização do HAZOP

8acoluna: Ações

É a gerência responsável pela avaliação das implicações e pela implementação das

medidas.

Após a escolha do nó, especifica-se o parâmetro, que é a variável do processo (vazão,

fluxo, pressão...), aplica-se a palavra-guia, verificando quais os possíveis desvios daquele

nó. Para cada desvio, que consiste na combinação da palavra guia com o parâmetro (ex:

menos fluxo), identifica-se suas possíveis causas, os meios de detecção e suas

conseqüências. Por fim, devem-se sugerir medidas para eliminar as causas dos desvios

ou minimizar suas conseqüências.

• ANÁLISE HISTÓRICA

A análise histórica (AH), consiste em fazer uma coleta de dados em banco de dados [21],

com relato de acidentes que se referem à liberação da mesma substância em instalações

similares à analisada.

Page 38: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

28

O objetivo da análise histórica é auxiliar na identificação de perigos da instalação

analisada, auxiliando no levantamento das causas que levaram à ocorrência desses

acidentes e suas conseqüências.

O exame de acidentes ocorridos revela a importância de se dar atenção a detalhes, a

necessidade de vigilância constante para evitá-los e o fato de que a maioria dos acidentes

é devido, de uma forma ou de outra, à falha de gerenciamento [17].

Depois de escolher o tipo de instalação, faz-se uma classificação do acidente quanto à s

suas causas e ao tipo de efeito físico. Os dados levantados podem ser colocados numa

tabela que indique, para cada tipo de causa ou para cada tipo de efeito físico, o número

de acidentes observados, bem como o percentual que este número representa em

relação ao número total, por tipo de causa ou por tipo de efeito físico.

Pode-se ainda, por exemplo, representar o resultado na forma de gráfico tipo pizza,

indicando o percentual para cada tipo de causa ou tipo de efeito físico. Estes percentuais

de ocorrência podem então ser usados para definir a freqüência de ocorrência de cada

evento iniciador a ser considerado na análise.

TÉCNICA MAIS USADA PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CENÁRIOS ACIDENTAIS

• ÁRVORE DE EVENTOS

Como vimos, a técnica da APP possibilita identificar cenários acidentais. Uma outra

técnica muito difundida e que também permite [4] a determinação dos cenários acidentais

é a Árvore de Eventos (AE). Embora ambas as técnicas possam igualmente bem ser

usadas em avaliações qualitativas de risco, numa avaliação quantitativa de risco a APP é

Page 39: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

29

usada como instrumento de identificação dos eventos iniciadores de acidente. Por sua

vez, a técnica da AE se utiliza destes eventos iniciadores para, então, consolidar os

cenários acidentais propriamente ditos.

Em essência, a AE é uma estrutura gráfica lógica e seqüencial, isto é, uma sucessão

cronológica dos desdobramentos possíveis do evento iniciador. Como ilustração,

apresentamos na figura 2.5, uma AE para o evento iniciador “Grande Liberação de GLP

Causada por Ruptura Catastrófica de um Vaso Pressurizado Isolado”. Os dados a seguir

são fictícios.

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30

FIGURA 2.5 – ÁRVORE DE EVENTOS PARA GRANDE LIBERAÇÃO DE GLP

Fonte: Ref [4]

sim

não

A B C D E Fde GLP para área populosa Jato de fogo para um tanque de GLP

UCVE ou Jato ignitado apontandoGrande liberação Ignição imediata Vento soprando Ignição retardada

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31

2.3.3 AVALIAÇÃO DAS FREQÜÊNCIAS DE OCORRÊNCIA DOS CENÁRIOS

ACIDENTAIS

Após a fase de identificação de perigos e consolidação dos cenários acidentais devemos,

numa AQR, avaliar a freqüência de ocorrência associada a cada cenário acidental.

A avaliação da freqüência de ocorrência dos cenários pode ser feita, por exemplo,

processando os dados de uma bem elaborada Análise Histórica. Em outras situações é

mais conveniente proceder a uma avaliação desta natureza, a partir de uma AE. A AE é

uma técnica tanto qualitativa, usada para identificar cenários acidentais como vimos

acima, quanto também quantitativa, pois possibilita a avaliação da freqüência ou a

probabilidade de ocorrência do cenário.

Uma vez que se usam os resultados da engenharia de confiabilidade, no cálculo de

freqüências de ocorrência de cenários acidentais, considera-se importante apresentar

agora um breve resumo dos seus principais conceitos e resultados. O resumo a seguir foi

elaborado com base nas referências [5] e [12]. Por outro lado usou-se [22] como a

principal fonte de referência com relação aos conceitos, definições e teoremas relativos a

teoria de probabilidades

Alguns conceitos e relações fundamentais em engenharia de confiabilidade

O objetivo desta seção é apresentar, de forma resumida, algumas definições e conceitos

relacionados à engenharia de confiabilidade.

Page 42: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

32

Conceitualmente, a confiabilidade é a probabilidade de que um componente, equipamento

ou sistema exerça sua função sem falhas, por um período de tempo previsto, sob

condições de operação especificadas.

De maneira mais formal diz-se que se n equipamentos operam sem substituição, então

após um tempo t o número de equipamentos em operação é ns e o número daqueles que

falharam é nf. Assim sendo, a probabilidade de sobrevivência de um equipamento, ou

seja, a sua confiabilidade R(t) é dada por:

ntn

tR f )(1)( −= (2.2)

A taxa de falha instantânea, ou simplesmente taxa de falha, expressa através do número

de equipamentos que sobrevivem é dada por:

dttRd

dttdR

tRdttdn

nntz f

f

)(ln)()(

1)(1)( −=−=−

= (2.3)

z(t) também é chamada de função de risco.

A função de risco acumulada é dada por:

∫=t

dttztH0

)()( (2.4)

Page 43: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

33

portanto, por integração da equação (2.3), vê-se que a confiabilidade se expressa através

da taxa de falha de acordo com:

)](exp[)(exp)(0

tHdttztRt

−=

−= ∫ (2.5)

Dois outros conceitos importantes são a densidade de falha e a função de distribuição de

falha. A densidade de falha é a taxa de falha expressa em função do número original de

equipamentos, isto é:

dttdR

dttdn

ntf f )()(1)( −== (2.6)

f(t) é chamada de função densidade de falhas ou simplesmente a função densidade. O

complemento da confiabilidade é a chamada inconfiabilidade, assim:

)(1)( tRtF −= (2.7)

A inconfiabilidade é uma função de distribuição de falhas, ou melhor ainda, uma função de

distribuição acumulada.

Um outro conceito importante é o tempo médio até falhar (MTTF) que é definido como:

∫∞

=0

dttRTRMT )( (2.8)

A seguir são apresentadas algumas relações importantes entre as funções básicas

discutidas acima.

Page 44: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

34

)(1)(

)()()(

tFtf

tRtftz

−== (2.9)

∫∞

=t

dttftR )()( (2.10)

∫=t

dttftF0

)()( (2.11)

Um caso especial importante é aquele para o qual a taxa de falha é constante, isto é, z(t)

= λ. Neste caso temos:

)exp()( ttR λ−= (2.12)

)exp()( ttf λλ −= (2.13)

)exp(1)( ttF λ−−= (2.14)

Um outro conceito muito importante em engenharia de confiabilidade é o conceito de

disponibilidade. A disponibilidade, ou disponibilidade instantânea é a probabilidade de que

um componente (ou sistema) esteja operacional em um dado instante A(t). O seu

complementar é a indisponibilidade que é dada por:

)()( tAtA −= 1 (2.15)

Em geral A(t) ≥ R(t)

Page 45: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

35

Para sistemas em operação contínua, a disponibilidade representa o percentual do tempo

considerado (por exemplo: ano, mês ou campanha) em que o sistema encontra-se

inoperante. No caso de sistemas em reserva ou prontidão, a disponibilidade é a

probabilidade de sucesso na demanda. Associado com a disponibilidade tem-se a

disponibilidade média e a disponibilidade estacionária ( ou assintótica), respectivamente

definidas como:

∫=T

meddttA

TA

0

1 )( (2.16)

( ) )(lim tAA t ∞→=∞ (2.17)

Os componentes podem ser classificados, quanto à mudança de estados a que estão

sujeitos, como: irreversíveis (componentes irreparáveis, como por exemplo válvulas de

retenção), parcialmente reversíveis (componentes testados periodicamente, como por

exemplo sistemas de proteção) e reversíveis (componentes reparáveis como por exemplo

suprimento de energia elétrica, ou de gás de cozinha). A indisponibilidade é diferente para

componentes em classes diferentes. Assim, para os componentes irreparáveis a

indisponibilidade instantânea é dada por:

tetA λ−−= 1)( (2.18)

a indisponibilidade média é dada por:

)1(1111)(0

TT

tmed e

Tdte

TtA λλ

λ−− −−=−= ∫ (2.19)

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36

e a indisponibilidade estacionária neste caso é dada por:

1)1(lim)( =−=∞ −∞→

tt eA λ (2.20)

Para componentes testados periodicamente, considerando-se que uma falha somente

pode ser detectada e reparada nos instantes de realização dos testes,e então durante

estes intervalos tudo se passa como se o componente fosse não reparável, a

indisponibilidade nestes casos é dada por:

tetA λ−−= 1)( (2.21)

A indisponibilidade média entre intervalos de teste é dada por:

( )λθ

λθθ −−−= eAmed 111)( (2.22)

e quando o produto λθ for muito menor do que 1 temos que:

2)( λθθ =medA (2.23)

Para componentes reparáveis a indisponibilidade instantânea é dada por:

[ ]tetA )(1)( µλ

µλλ +−−+

= (2.24)

Page 47: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

37

A indisponibilidade média é dada por:

−+

−+

= +− Tmed eTTA )(1()(

11)( µλµλµλλ

(2.25)

e a indisponibilidade assintótica é dada por:

λτλτ

λτµλ

λ≅

+=

+=∞

1)(A (2.26)

Em seguida são apresentadas algumas distribuições de falhas comumente empregadas

em trabalhos de confiabilidade.

1. Distribuição binomial

A distribuição binomial é aplicável a situações onde é realizada uma série de ensaios

discretos e cada ensaio pode ter apenas dois resultados. Em confiabilidade esses

resultados são usualmente chamados de sucesso e falha. Se as probabilidades de

sucesso e falha são p e q respectivamente, e se n é o número de ensaios então a

probabilidade de ocorrência de r sucessos e n-r falhas é dada por:

( ) rnrnr qprP −=)( (2.27)

2. Distribuição de Poisson

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38

A distribuição de Poisson pode ser pensada como um caso particular da distribuição

binomial válida no limite Np≡λ<<N. Sua forma funcional é:

!)exp()(r

rPrλλ−= (2.28)

3. Distribuição Exponencial

Trata-se de uma distribuição contínua caracterizada pela seguinte densidade de

probabilidade:

)exp()( ttf λλ −= (2.29)

onde λ é o inverso do valor médio da distribuição. Esta é distribuição empregada no caso

de taxa de falha constante (z=λ=constante).

Neste caso a confiabilidade é dada por:

)exp( tR λ−= (2.30)

onde 0 ≤ t ≤ ∞.

4. Distribuição Normal

Esta distribuição, também contínua, é caracterizada pela seguinte densidade:

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39

( )

−−= 2

2

221

σπσmtf exp . (2.31)

E neste caso a confiabilidade é dada por:

( ) dtmtRt∫∞

−−= 2

2

221

σπσexp (2.32)

onde m é o valor médio da distribuição e σ seu desvio padrão.

5. Distribuição Weibull

Esta distribuição contínua, importantíssima no estudo de confiabilidade, é caracterizada

pelos três parâmetros η (parâmetro de escala), β (parâmetro de forma) e γ (parâmetro de

localização). A densidade e a confiabilidade são dadas por:

−−

−=

− ββ

ηγ

ηγ

ηβ ttf exp

1

(2.33)

−−=

β

ηγtR exp (2.34)

onde ∞≤≤ tγ .

O fator de forma β é tal que se β<1 a taxa de falha é decrescente, se β = 1 a taxa de falha

é constante e finalmente se β > 1 a taxa de falha é crescente. A distribuição de Weibull

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40

contém varias distribuições como caso particular, dependendo apenas da escolha de

valores particulares do parâmetro β.

Voltando agora ao problema de interesse, para se calcular a freqüência de ocorrência de

um cenário acidental partindo-se de uma AE, devemos lembrar que um particular cenário

identificado por esta técnica é um ramo específico desta árvore, representando uma

seqüência específica de acontecimentos ordenados cronologicamente.

A AE, como vimos, é constituída de eventos intermediários e pontos de ramificação (nós),

além do evento iniciador. Associada ao evento iniciador, tem-se uma freqüência de

ocorrência que pode ser determinada, por exemplo, consultando-se um banco de dados

[23] ou realizando-se uma análise histórica.

Usualmente, embora não seja essencial, é costume construir uma árvore com divisão

binária, ao invés de múltiplas divisões. Assim, em cada nó têm-se duas possibilidades

onde uma delas certamente ocorrerá. Portanto, ao se expressar as possibilidades como

probabilidades tem-se que, em cada nó a soma das probabilidades deve ser 1.

As probabilidades associadas com os eventos intermediários são probabilidades

condicionais que expressam a chance de ocorrência deste evento dada a ocorrência ou a

não ocorrência do evento precedente.

A figura 2.6 ilustra este procedimento.

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41

FIGURA 2.6 – ÁRVORE DE EVENTOS GENÉRICA APRESENTANDO AS

PROBABILIDADES CONDICIONAIS ASSOCIADAS AOS EVENTOS

INTERMEDIÁRIOS.

Finalmente, considerando-se que não haja nenhuma dependência entre os eventos

intermediários que compõem a AE, o cálculo da freqüência de ocorrência do cenário é

realizado multiplicando-se, numa dada seqüência, todas as probabilidades associadas

com cada evento intermediário bem como a freqüência de ocorrência do evento iniciador.

Do ponto de vista da matemática (teoria das probabilidades), isto se justifica por causa da

própria definição matemática do cenário, dada no início da seção 2.3, como sendo uma

sucessão de eventos. Assim, um dado cenário se expressa por exemplo como CDBA ,

onde A é o sucesso na ocorrência do evento iniciador, B é a falha na ocorrência do

evento intermediário B, C e D são os sucessos nas ocorrências dos eventos

intermediários C e D respectivamente. Portanto, a sucessão acima, que nada mais é do

que o cenário acidental particular, é a ocorrência de A e B e C e D. Como esses eventos

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42

são independentes sabe-se que P(A e B e C e D) ≡ P(A∩ B ∩C∩D) =

P(A)P( B )P(C)P(D).

Para exemplificar o exposto acima consideremos a AE apresentada na Figura 2.5, agora

preenchida com as diversas probabilidades intermediárias,como ilustra a figura 2.7.

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43

FIGURA 2.7 – ÁRVORE DE EVENTOS PARA GRANDE LIBERAÇÃO DE GLP, PREENCHIDA COM VALORES DAS

FREQÜÊNCIAS

Fonte: Ref[4]

0,2 BLEVE ABF 2 x 10-6

0,10,8 Radiação térmica local ABnF 8 x 10-6

sim 0,5 UCVE AnBCDEF 6,1 x 10-6

0,9 0,2 Incêndio em nuvem e BLEVE AnBCDnEF 1,2 x 10-6

1 x 10-4/ano 0,50,8 Incêndio em nuvem AnBCDnEnF 4,9 x 10-6

0,15

não 0,1 Dispersão sem dano AnBCnD 1,4 x 10-6

0,9 0,5 UCVE AnBnCDE 39,5 x 10-6

0,9 0,2 Incêndio em nuvem e BLEVE AnBnCDnEF 6,9 x 10-6

0,50,8 Incêndio em nuvem AnBnCDnEnF 27,5 x 10-6

0,85

0,1 Dispersão sem dano AnBnCnD 7,6 x 10-6

E FA B C D

Freqüênciade GLP para área populosa Jato de fogo para um tanque de GLP Físico Acidental (ano-1)

UCVE ou Jato ignitado apontando Efeito CenárioGrande liberação Ignição imediata Vento soprando Ignição retardada

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44

Um aspecto importante a considerar é o da determinação da probabilidade de ocorrência

dos eventos intermediários. De fato não há uma regra única e, por exemplo, novamente

podemos lançar mão de dados provenientes de AH. Em certas situações, contudo,

podemos lançar mão de uma outra técnica da engenharia de confiabilidade conhecida

como Análise por Árvore de Falhas ou simplesmente Árvore de Falhas (AF) [4, 5, 6].

Uma AF é usada para analisarmos as causas de um dado evento. Ela começa com o

evento de interesse, conhecido como evento topo, que pode ser um evento perigoso

específico ou mesmo uma falha de equipamento e se desenvolve de cima para baixo.

Assim como a AE, a AF também é uma técnica que permite obtermos informações de

natureza qualitativa e quantitativa. Neste caso a informação de natureza qualitativa não é

um cenário acidental, mas sim um dado corte mínimo que nos leva ao evento topo. Aqui,

um corte mínimo é um conjunto de falhas simultâneas que tem como conseqüência o

evento topo.

A AF desdobra o evento topo em seus elementos contribuintes, representados por falhas

de equipamentos e erros humanos. O método se constitui, portanto, numa técnica

dedutiva onde começamos com o evento indesejável, ou seja, o evento topo e

identificamos as causas imediatas do evento em questão. Cada uma das causas

imediatas é então examinada sucessivamente até que julguemos ter identificado as

causas básicas de cada evento. As causas imediatas do evento topo estão indicadas na

AF com suas relações com o referido evento. A AF é um diagrama lógico que aponta as

inter-relações lógicas entre estas causas básicas e o evento perigoso específico ou a

falha de equipamento que representa o evento topo.

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45

Se pelo menos uma das causas imediatas gera diretamente o evento topo em questão,

então essas causas estão ligadas a este evento por meio de um portão lógico “ou”. Se,

por outro lado, todas as causas imediatas são necessárias à ocorrência do evento

considerado, então essas causas estarão ligadas a ele por meio de um portão lógico “e”.

A partir daí, cada uma das causas imediatas é então tratada da mesma maneira que o

evento topo, sendo suas causas imediatas, determinadas e indicadas na AF com o portão

lógico apropriado. Este desdobramento prossegue até que todos os eventos de falhas

intermediárias tenham sido desdobrados em suas causas básicas.

O resultado de uma AF é um conjunto de combinações de falhas de equipamentos e de

falhas humanas suficientes para ocasionar o evento indesejável (ou evento topo).

Admitindo-se que os eventos de entrada sejam independentes, para a quantificação da

AF devemos observar que se as causas posteriores estão conectadas à causa anterior

por um portão lógico “e”, as probabilidades se multiplicam, caso contrário o cálculo da

probabilidade deve considerar o resultado para P(A1∪A2∪...An). No caso particular de n=2

teremos que P(A1∪A2) = P(A1) + P(A2) - P(A1)P(A2).

A seguir ilustramos a técnica da AF através de um exemplo simples [24]. O sistema em

questão é um toca-fitas cujo objetivo consiste em produzir som através dos alto-falantes,

ou seja, tocar a fita, quando o toca-fitas propriamente dito é conectado a uma fonte de

energia elétrica (considera-se a fita como parte integrante do sistema toca-fitas).

Evidentemente, este objetivo só será alcançado quando o toca-fitas e pelo menos um dos

alto-falantes funcionarem adequadamente.

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46

FIGURA 2.8 – ÁRVORE DE FALHAS PARA O SISTEMA TOCA-FITAS

Fonte: Ref. [24]

Falha do sistema

Falha do toca-fitas

Falha dos Alto-falantes

2

1 3

Falha do Alto-falante A

Falha do Alto-falante B

P1= 10-2 P3= 10-2

P = 10-4

P2= 10-3

P (topo)= 10-3 + 10-4 = 1,1 x 10-3

Page 57: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

47

A simbologia usada na árvore de falhas da figura 2.8 está descrita a seguir:

Porta lógica OU: A saída ocorre se existe uma ou mais entradas da porta

Porta lógica E: A saída ocorre se todas as entradas existem simultaneamente

Evento básico: O evento básico representa uma falha básica que não requer nenhum

desenvolvimento em eventos mais básicos.

Evento intermediário (ou topo): Usa-se o retângulo para descrição dos eventos que

ocorrem por causa de uma ou mais outros eventos de falhas.

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48

2.3.4 AVALIAÇÃO DAS CONSEQÜÊNCIAS E VULNERABILIDADE

Como se explicou no início deste capítulo, esta metodologia de análise de riscos foi

desenvolvida originalmente para abordar os principais perigos de acidentes que se

relacionam à liberação de substâncias tóxicas, inflamáveis e/ou explosivas, que, com

suas liberações descontroladas, geram efeitos físicos tais como ondas de choque, fluxos

térmicos e formação de nuvens de gases tóxicos capazes de causar danos ao homem, ao

meio ambiente e à propriedade, na área atingida pelos efeitos.

A primeira etapa numa avaliação de conseqüências é, portanto, a investigação dos efeitos

físicos associados a cada cenário acidental. Assim, por exemplo, quando por perda de

contenção uma dada substância tóxica é lançada na atmosfera, devemos ser capazes de

descrever sua dispersão e prever a região sujeita a uma concentração prejudicial, por

exemplo, à saúde humana, em cada instante de tempo. Especificamente falando, neste

exemplo, devemos ser capazes de descrever o campo de concentrações, isto é, C(x,y,z,t)

e, a partir dele, e juntamente com informações de natureza toxicológica, onde e quando

haverá concentração prejudicial à saúde.

A segunda etapa é a determinação da quantidade dos recursos (pessoas, estruturas,

meio ambiente em geral) que estará vulnerável a uma certa intensidade dos efeitos

físicos. Em linhas gerais trata-se, portanto, da determinação de uma espécie de resposta

dos recursos aos efeitos físicos submetidos.

Em princípio, os recursos podem ser materiais, como as instalações de um

empreendimento; econômicos, como volume de negócios; naturais, como ecossistemas

terrestres ou aquáticos; ou mesmo humanos. Cada efeito físico pode gerar, em cada

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49

recurso, um tipo particular de dano. Assim por exemplo, o desligamento num equipamento

crítico de uma dada unidade, gerado por um curto circuito devido a incêndio na unidade,

pode ocasionar a perda do próprio equipamento. Por outro lado, um incêndio de

pequenas proporções pode provocar queimaduras nas pessoas, sem que haja

fatalidades. Devemos ser capazes, então, de determinar a quantidade do recurso

comprometido com um efeito físico particular.

Quando ensaios toxicológicos são realizados num grande número de indivíduos, todos

expostos à mesma dose (integral da concentração no tempo, durante o tempo de

exposição), o gráfico indicando a fração ou percentual de indivíduos que experimentam

uma resposta específica é tipicamente uma gaussiana [12]. A figura 2.9 ilustra este fato.

FIGURA 2.9 – PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS AFETADOS PARA UMA DADA

RESPOSTA

Fonte: Ref. [12]

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50

Se a experiência toxicológica for repetida sucessivamente para vários valores diferentes

da dose, cada um dos resultados é um gráfico semelhante quanto à forma, mas com

altura máxima e largura diferentes. Ao se representar graficamente a resposta cumulativa

média para cada dose, em função desta, o resultado típico tem a forma apresentada na

figura 2.10:

FIGURA 2.10 – CURVA DOSE-RESPOSTA

Fonte: Ref. [12]

Curvas que expressam o comportamento da resposta em função da dose existem para

uma grande variedade de exposições tais como, por exemplo: calor, pressão, impacto, e

som.

Para fins de cálculo, é mais conveniente trabalhar com uma expressão analítica que

represente a curva e existem vários métodos para representá-la [25]. Para exposições de

uma única natureza, o método probit (unidade de probabilidade) [26] é particularmente

conveniente pois fornece uma representação retilínea que é equivalente à curva de dose-

resposta.

Page 61: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

51

A variável probit está relacionada com a probabilidade segundo a equação:

∫−

∞−

−=5

2 )2/exp(21 Y

duuPπ

. (2.35)

A relação acima entre a variável probit e a probabilidade transforma a forma sigmóide da

curva normal de dose-resposta em linha reta quando ela é plotada usando-se uma escala

linear para o probit. Este resultado é apresentado na figura 2.11.

FIGURA 2.11 – CURVA NORMAL DE DOSE – RESPOSTA E A RESPECTIVA

LINEARIZAÇÃO

Fonte: Ref [12]

A tabela 2.5 apresenta uma variedade de correlações de probit para diferentes tipos de

exposições. O fator causativo V representa a dose.

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52

TABELA 2.5 – CORRELAÇÕES DE PROBIT PARA VÁRIOS TIPOS DE EXPOSIÇÃO

Fonte: Ref. [27]

O significado dos símbolos presentes na tabela 2.5 é o seguinte:

te = tempo de duração efetiva (seg);

Ie = intensidade efetiva da radiação térmica (W/ m 2 );

t = tempo de duração do incêndio em poça (seg);

I = intensidade da radiação térmica proveniente do incêndio em poça (W/ m 2 );

po = sobrepressão máxima (N/ m 2 );

J = impulso (N. s/ m 2 );

C = concentração (ppm);

T = intervalo de tempo (min);

A variável Y é calculada a partir de:

Y = k1 + k2lnV, (2.36)

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53

A variável causativa V (vide tabela 2.5) representa a magnitude da exposição.

2.3.5 AVALIAÇÃO DOS RISCOS

• RISCO SOCIAL

O risco social refere-se ao risco para um determinado número ou grupamento de pessoas

expostas aos danos decorrentes de um ou mais cenários, [4].

Podemos expressar o risco social através do risco social médio, que se calcula fazendo o

somatório dos produtos freqüência x conseqüência de cada cenário acidental ou também,

podemos expressá-lo através da chamada curva F-N que fornece a freqüência acumulada

de acidentes, com N ou mais fatalidades.

A seguir apresenta-se, como ilustração, o critério de aceitabilidade da FEEMA, bem como

uma curva F – N de um caso estudado.

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54

FIGURA 2.12 – CRITÉRIO DE ACEITABILIDADE – FEEMA PARA O RISCO SOCIAL

FONTE: REF. [18]

FIGURA 2.13 – CURVA F-N DE UM CASO ESTUDADO

Fonte: ENSR International Brasil, 2003

Gráfico F-N

Ramal de distribuição de gás

1,0E-10

1,0E-9

1,0E-8

1,0E-7

1,0E-6

1,0E-5

1,0E-4

1,0E-3

1,0E-2

1,0 10,0 100,0 1000,0

Número de fatalidades

Freq

üênc

ia (/

ano)

Risco inaceitável

Risco aceitável

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55

• RISCO INDIVIDUAL

O risco individual, que é definido pela equação 2.1, informa a probabilidade de um dano

particular (fatalidade, por exemplo) considerando-se a chance de ocorrência do acidente,

expressa através da sua freqüência de ocorrência. Portanto, seu valor não está limitado

entre zero e um e, assim sendo, não deve ser confundido com probabilidade.

A apresentação do risco individual se faz usualmente na forma de curvas de iso-risco, isto

é, o conjunto de pontos que possuem o mesmo valor do risco. Essas curvas possibilitam

visualizar a distribuição geográfica do risco em diferentes pontos nas vizinhanças da

instalação.

A figura 2.14 apresenta, como ilustração, algumas curvas de iso-risco.

FIGURA 2.14 – CURVA DE ISO-RISCO Fonte: Ref. [19]

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56

Para a avaliação do Risco Individual e Social, existem os critérios de tolerabilidade que

definem níveis e ou intervalos de valores estipulados, no caso, pelo órgão ambiental ou

agências reguladoras, para decidir sobre a aceitabilidade ou não dos riscos existentes. A

seguir ilustraremos os critérios adotados pela FEEMA E CETESB.

FEEMA

Tolerabilidade dos Riscos

Instalações novas: os riscos proporcionados pela instalação serão considerados

toleráveis se:

-a curva de iso risco correspondente a 10-6 fatalidades por ano não envolver, parcial ou

totalmente, uma ocupação sensível.

-a curva de iso - risco correspondente a 10-5 fatalidades por ano não envolver, parcial ou

totalmente, ocupações não sensíveis.

-a curva de distribuição acumulada complementar, desenhada sobre o gráfico da curva F-

N, ficar abaixo ou, no máximo tangenciar a reta inferior do gráfico.

As atividades novas a serem instaladas em zona de uso estritamente industrial devem ter

a curva de iso - risco correspondente a 10-6 Fatalidades / ano contidas nessa zona.

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57

Instalações existentes: os riscos proporcionados pela instalação serão considerados

toleráveis se:

-a curva de iso - risco correspondente a 10-5 fatalidades / ano não envolver parcial ou

totalmente uma ocupação sensível.

-a curva de iso -risco correspondente a 10-4 fatalidades / ano não envolver parcialmente

ou totalmente ocupações não sensíveis.

CETESB

Para risco individual foram estabelecidos os seguintes limites:

risco máximo tolerável 10-5 ano-1 ;

risco negligenciável 10-6 ano-1.

Para a aprovação do empreendimento, deverão ser atendidos os critérios de risco social e

individual conjuntamente, ou seja, as curvas de risco social e individual deverão estar

situadas na região negligenciável ou na região ALARP, isto é, tão pequeno quanto

razoavelmente praticável.

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58

3 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE ANÁLISE DE RISCO AMBIENTAL

3.1 INTRODUÇÃO

A análise de risco ambiental [7] é um termo originalmente associado ao estudo dos riscos

toxicológicos a que os humanos estariam expostos devido à presença de substâncias

artificiais no ambiente. Entretanto, modernamente vem assumindo a conceituação dos

riscos que as atividades humanas impõem ao ambiente como um todo, incluindo-se aí os

riscos aos próprios seres humanos. Esta interpretação pressupõe uma visão mais ampla

da realidade, onde os humanos fazem parte do que se denomina ambiente, evitando a

tradicional cisão entre sociedade humana e natureza. Portanto, segundo o conceito acima

a análise de risco ambiental engloba tanto a análise de risco ecológica quanto a análise

de risco humano.

Como já falamos no capítulo anterior sobre a metodologia da Análise Quantitativa de

Riscos, que neste contexto também pode ser considerada como análise de risco

ambiental, visto que avalia danos ao ser humano também, aqui falaremos de outra análise

de risco, que é uma metodologia usada para avaliação dos riscos em sítios contaminados.

O principal objetivo desta avaliação de riscos é a avaliação dos efeitos adversos à saúde

humana e ao meio ambiente, com intuito de protegê-los. Um outro objetivo também é o de

diminuir os impactos decorrentes da limitação tecnológica e dos altos custos com

remediações, conseguidos através da revisão dos valores alvo de remediação a serem

atingidos, através da aplicação da avaliação de risco [28].

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59

3.2 AVALIAÇÃO DE RISCO À SAÚDE HUMANA

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América – USEPA, ou

simplesmente EPA, desenvolveu um documento, de fato um guia de procedimentos, com

o objetivo de avaliar os riscos à saúde humana em decorrência de liberações de

substâncias perigosas no meio ambiente.[7].

Os objetivos específicos deste documento são:

• prover uma análise dos riscos presentes e ajudar a determinar as necessidades para

ações no sítio contaminado;

• Prover uma base para determinar níveis das substâncias químicas que podem

permanecer no sítio sem oferecer riscos à saúde do público;

• Prover uma base para comparar potenciais impactos à saúde de diferentes

alternativas de remediação;

• Prover um processo consistente para avaliação e documentação das ameaças à

saúde pública nos sítios.

A parte A desse guia de procedimentos trata da avaliação de risco à saúde humana. Esta

avaliação de risco é, de fato, uma análise dos potencias efeitos adversos à saúde

(presente ou futuro) causado por liberações de substâncias perigosas num dado sítio e na

ausência de quaisquer ações para controlar ou mitigar tais liberações. A avaliação de

risco neste caso contribui para a caracterização e desenvolvimento subseqüente do sítio,

avaliação e seleção de alternativas de ações de respostas apropriadas.

Os resultados de uma avaliação de risco são usados para:

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60

→ determinar a necessidade de ações de resposta adicional no sítio contaminado;

→ modificar os objetivos preliminares de remediação;

→ dar suporte às alternativas de remediação sem ação específica, quando apropriado;

→ documentar a intensidade do risco no sítio, bem como suas causas básicas.

Observa-se que as avaliações de risco são específicas para cada sítio e, portanto, podem

variar tanto nos detalhes quanto na extensão com que a análises qualitativa e quantitativa

são realizadas. Em linhas gerais tal Análise de Risco à Saúde Humana é composta de 4

etapas: coleta e análise de dados; avaliação de exposição; avaliação de toxicidade e

caracterização do risco. A seguir descreve-se brevemente cada uma das etapas.

COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Nesta etapa, relacionam-se e analisam-se os dados no sítio que são relevantes para a

avaliação da saúde humana e identificam-se as substâncias presentes no sítio que serão

o foco no processo de avaliação de risco.

AVALIAÇÃO DE EXPOSIÇÃO

Nesta etapa são estimadas as intensidades das exposições, reais e ou potenciais, a seres

humanos. Aqui, são avaliadas também a freqüência, a duração e as vias com que os

seres humanos estão potencialmente expostos. Ressalta-se que, com respeito ao

potencial de futuras exposições, o documento em questão fornece apenas uma estimativa

qualitativa da chance de tal exposição ocorrer.

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61

Uma avaliação de exposição envolve também:

→ uma análise das condições de liberação do contaminante,

→ a identificação da população exposta,

→ a identificação de todas as vias potenciais de exposição;

→ a estimativa da concentração no ponto de exposição para uma via específica, baseado

tanto em dados de monitoramento ambiental quanto em resultados de modelagem;

→ estimativa do ingresso do contaminante para uma dada via de exposição.

Do ponto de vista prático, a determinação da fonte de liberação e em seguida a

caracterização das substâncias capazes de ocasionar os efeitos adversos é feita através

de amostragens de solo e água subterrânea, para posterior análise química, onde se

determinará a substância de interesse e sua concentração.

A caracterização da área é feita através de investigação ambiental detalhada do local,

consistindo das seguintes etapas:

1) Histórico do local onde o empreendimento encontra-se instalado ou atividades

realizadas anteriormente.

2) Descrição da área e do entorno

A descrição da área consiste em dizer qual é o seu uso, se é residencial, se é comercial,

se é área agrícola, etc. No caso de um empreendimento, dizer do que ele é composto, ex:

tanque de armazenamento, bomba, tubulação, caixa separadora, seu tipo de

pavimentação, se é concreto, suas condições, se é grama, terra batida, calçamento.

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62

É importante caracterizar o seu entorno com relação à presença de residências, escolas,

igrejas, hospitais, dizendo a que distâncias se encontram da fonte, se usam água de poço

ou tratada, se possui corpo hídrico nos arredores. Pois esta caracterização vai ser de

grande importância na identificação das vias de exposição, que serão discutidas mais

adiante.

3) Caracterização dos riscos agudos presentes na área e seus arredores.

É feito através de medições de índice de explosividade (concentração de VOC capaz de

provocar uma explosão) na área estudada e determinação de fase livre, da substância de

interesse na água subterrânea.

4) Realização de sondagens e perfuração de poços

Para a medição de VOC (compostos orgânicos voláteis), realizam-se sondagens rasas

em torno da área, com a finalidade de elaborar um mapa de iso-concentração, que

delimitará a pluma de contaminação.

No caso das sondagens profundas, o objetivo é o de recolher amostras de solo para a

avaliação quanto à presença de indícios de contaminação e conhecimento de sua

litologia.

Além da coleta de solo contaminado, que será usado para determinar os compostos de

interesse presentes e que se constituem em fonte de contaminação, coleta-se também

uma amostra indeformada (é a amostra retirada e conservada de maneira a manter as

características originais do solo, como por exemplo: estrutura, textura, umidade natural,

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63

composição, consistências naturais, etc.) de solo não contaminado, para a determinação

de alguns parâmetros físicos, que serão usados para alimentar os modelos de avaliação

de risco, e que são: densidade real dos grãos, densidade aparente, umidade, matéria

orgânica, porosidade total, etc.

A perfuração de poços é feita para amostragem de água subterrânea, com o intuito de

verificar possível contaminação, para medir o nível d’ água (NA) e medir a espessura de

produto em fase livre, se for o caso.

A partir das medidas dos níveis d’ água e das cotas dos poços obtidas durante o

nivelamento topográfico, é elaborado um mapa potenciométrico, para se determinar o

sentido do fluxo das águas subterrâneas e a determinação do gradiente hidráulico, para a

obtenção da velocidade de fluxo linear das águas subterrâneas.

A identificação dos cenários de exposição caracteriza as vias de exposição potenciais e

seus respectivos receptores, avaliando os riscos que a exposição ao meio apresenta.

Essa identificação das vias de exposição é definida de acordo com a caracterização da

área e de seu entorno.

Uma via de exposição potencial descreve o mecanismo através do qual o receptor é

exposto aos produtos químicos de interesse. Uma via de exposição completa inclui uma

fonte, um ponto de exposição, uma rota de exposição e possivelmente um meio de

transporte (se o ponto de exposição estiver distante da fonte).

A fonte é considerada como sendo o local da liberação. Pode ser classificada como

primária, que são as liberações em tanques, tubulações, equipamentos, etc, e como

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64

fontes secundárias, que são o próprio solo superficial, sub - superficial e as águas

subterrâneas contaminados.

O contaminante pode atingir o receptor através do solo, ar e água contaminada por

diversas maneiras, que são as chamadas vias de exposição. A seguir encontram-se

alguns exemplos de vias de exposição:

• ingestão;

• inalação;

• contato dérmico.

A ingestão pode ser de água, solo, tubérculos, folhas e frutos cultivados na área ou fora.

No caso de ingestão de solo, se dá principalmente em crianças e trabalhadores de obra.

Já a inalação, pode se dar através de material particulado a partir do solo contaminado ou

de vapores desprendidos diretamente do solo ou água subterrânea contaminados, tanto

em área aberta, quanto em área fechada.

O contato dérmico se dá através do contato com o solo e água contaminados.

Após a identificação das diversas vias de exposição a que o receptor pode estar exposto,

a próxima etapa é a quantificação da exposição, que é a estimativa das conseqüências

para cada via de exposição.

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65

ESTIMATIVA DAS CONSEQÜÊNCIAS

Consiste na quantificação de cada uma dessas vias de exposição a que um ser humano

pode estar exposto.

Essa quantificação leva em consideração a concentração do contaminante presente em

cada via e o tempo em que o indivíduo está exposto.

Os modelos usados para quantificação, diferem uns dos outros, com relação ao número

de vias de exposição, considerações quanto a receptores dentro e fora da área, modelos

de transporte, etc.

Esses modelos usam como parâmetros alguns dados específicos sobre a população para

o cálculo de sua exposição, como por exemplo: idade, peso corpóreo, quantidade de solo

ingerido, taxa de absorção dérmica, capacidade pulmonar, consumo de tubérculos, folhas

e frutos provenientes de áreas contaminadas, consumo de água, etc.

AVALIAÇÃO DE TOXICIDADE

Nesta etapa são considerados:

(1) os tipos de efeitos adversos à saúde associados com exposições às substâncias

químicas;

(2) relação entre a intensidade da exposição e dos efeitos adversos;

(3) incertezas associadas tais como o peso da evidência de uma particular substância

química carcinogênica em seres humanos.

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66

Uma avaliação de toxicidade para os contaminantes identificados no sítio é realizada em

duas etapas: uma avaliação de perigos e uma avaliação do tipo dose-resposta.

A identificação de perigos é o processo através do qual se determina se a exposição a um

agente particular pode causar um aumento na incidência de um efeito adverso à saúde

(câncer, defeito de nascença, por exemplo). A identificação de perigos também inclui a

caracterização da natureza e intensidade da evidência da causa.

O segundo passo, a avaliação dose-resposta, é o processo que avalia quantitativamente

a informação da toxicidade e caracteriza a relação entre a dose administrada ou recebida

do contaminante e a incidência de efeitos adversos à saúde na população exposta. É a

partir desta relação quantitativa entre dose e resposta que os valores de toxicidade são

determinados e podem ser usados para estimar a incidência de efeitos adversos

ocorrendo em seres humanos para níveis diferentes de exposição.

A determinação dos parâmetros mencionados acima é importantíssima, pois serve para

alimentar os modelos de avaliação de risco.

CARACTERIZAÇÃO DO RISCO

Esta última etapa resume e combina os resultados das avaliações de exposição e

toxicidade para finalmente caracterizar o risco, tanto qualitativo quanto quantitativo.

Durante a caracterização do risco, a informação de toxicidade da substância química

específica é confrontada com os níveis medidos de exposição do contaminante, bem

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67

como com os preditos por meio de modelagem, para então concluir se os níveis do

contaminante no presente ou no futuro são de preocupação potencial.

A EPA desenvolveu critérios para definir se os riscos calculados são aceitáveis ou não.

Segundo esta, um nível de risco aceitável para cada contaminante no solo é aquele no

qual existe um risco máximo de câncer de 10-6 (um caso adicional de câncer em cada 1

milhão de pessoas) para substâncias carcinogênicas, pressupondo que resultará num

risco combinado final, variando entre 10-4 e 10-6 .

Já para substâncias não carcinogênicas a EPA não usa uma abordagem probabilística

para estimar o potencial para efeitos não carcinogênicos à saúde. Ao invés disso tal

potencial é avaliado comparando-se um nível de exposição sobre um período de tempo

com uma dose de referência derivada para o mesmo período de tempo. A razão entre o

nível de exposição e a dose de referência é chamada de quociente de perigo.

Assume-se que existe um nível de exposição abaixo do qual é improvável que se observe

efeito adverso à saúde, mesmo para indivíduos muito sensíveis. Se o nível de exposição

ultrapassar este limiar, isto é o quociente de perigo for maior do que 1, deve-se haver

preocupação quanto a potencias efeitos adversos. Como regra, quanto maior for o

quociente de perigo, maior deverá ser a preocupação.

3.3 AVALIAÇÃO DE RISCO ECOLÓGICO

Em linhas gerais o processo de avaliação de risco ecológico desenvolvido pela EPA é

baseado em dois principais elementos [8, 11]:

Page 78: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

68

→ Caracterização dos efeitos;

→ Caracterização da exposição.

Estes elementos definem o foco para a condução das três fases de uma avaliação de

risco ecológico: a formulação do problema, análise do problema e caracterização do risco.

Na formulação do problema, o propósito é articulado, o problema é definido, e são

traçadas estratégias para um planejamento e caracterização dos riscos. A formulação do

problema inclui a integração de informações disponíveis sobre as fontes, os agentes

estressores, os efeitos e as características do ecossistema e agentes receptores.

Durante a fase de análise, os dados são avaliados de forma a determinar como a

exposição aos agentes estressores pode ocorrer (caracterização da exposição) e, dado

que tal exposição ocorre, o potencial e os tipos de efeitos ecológicos que podem ser

esperados (caracterização dos efeitos ecológicos).

O primeiro passo na análise é determinar as intensidades e limitações dos dados sobre a

exposição, sobre os efeitos e sobre o ecossistema e os agentes receptores. Os dados são

então analisados de forma a caracterizar a natureza da exposição potencial ou real e as

respostas ecológicas sob as circunstâncias definidas no modelo conceitual. Os resultados

da análise nos fornecem dois tipos de informações: sobre a exposição e sobre os agentes

estressores.

Durante a fase de caracterização dos riscos, as informações sobre a exposição e as

informações resposta-agente estressor (que são do tipo dose-resposta) são integradas no

processo de estimativa do risco.

Page 79: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

69

A fase de caracterização do risco inclui um resumo das hipóteses, das incertezas

assumidas e do grau de profundidade e limitação da análise. O produto final é uma

descrição do risco na qual os resultados da integração são apresentados incluindo uma

interpretação das adversidades ecológicas e descrição das incertezas assumidas.

3.4 TRANSPORTE DE CONTAMINANTES NO SOLO

Uma das etapas numa análise de risco, independente da metodologia a ser seguida, é

certamente aquela que se refere à avaliação da evolução de uma pluma de contaminação

que foi estabelecida. Cada modelo de avaliação de risco tem o seu próprio módulo de

transporte e, cada um deles é desenvolvido segundo as habilidades esperadas no cálculo

da dispersão.

Os modelos de transporte de produtos químicos através do solo, empregados no cálculo

da dispersão de contaminantes nos modelos de avaliação de risco, variam desde modelos

simples de transporte unidimensional de solutos que possuem solução analítica, até

modelos complexos, tridimensionais que descrevem o transporte de fases líquidas não

aquosas (NAPLs) e cujas soluções envolvem análise por elementos finitos.

Em linhas gerais os modelos de transporte e transformação de produtos químicos

englobam os seguintes elementos:

(a) a lei de conservação da massa das espécies químicas envolvidas;

(b) a separação da massa nas diversas fases que requerem descrição separada;

(c) leis de fluxo para cada fase móvel, descrevendo a taxa de transporte do composto

químico por unidade de área em cada fase;

(d) leis de transferência interfásica de massa descrevendo o movimento entre as fases;

Page 80: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

70

(e) um termo de reação que descreve a taxa de transformação de uma substância

química em outra por unidade de volume.

Os elementos acima são caracterizados por expressões, baseadas em hipóteses

específicas, que são combinadas às equações de transporte para se calcular os fluxos e

as concentrações das fases, como função do espaço e do tempo

O ponto de partida para o desenvolvimento de modelos que descrevem o transporte e a

transformação de espécies químicas no solo é o princípio de conservação da massa. Esta

lei é aplicada à massa de um elemento químico num volume V arbitrário do solo. Em

linhas gerais esta lei natural afirma que se a massa de uma dada espécie química mudou

de um certo valor, num dado volume, é porque ou saiu ou entrou (através da superfície

que limita este volume) a mesma quantidade, ou ainda a referida quantidade desta

espécie química se transformou (quimicamente) em outra. Pode-se escrever esta idéia

como:

Taxa de variação da massa em V = (fluxo de massa entrando) - (fluxo de massa

saindo) – (taxa de transformação química da espécie considerada). (3.1)

Em símbolos, a versão unidimensional da equação acima se escreve como:

0=+∂∂

+∂

∂s

srt r

zJ

tC

(3.2)

onde Js é o fluxo mássico total da espécie química considerada, rs é a taxa de

transformação da espécie química considerada, expressa como taxa de variação da

Page 81: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

71

massa do composto químico por unidade de volume e Crt é a concentração da espécie

química considerada no solo (massa da espécie química por unidade de volume).

As leis da física, da química e até mesmo da biologia aplicadas a cada contexto particular

fornecem representações para os fluxos mássicos e as taxas de transformações. Quando

elas são combinadas na equação 3.1, os resultados são as equações de transporte e as

transformação presentes nos modelos discutidos acima.

Um exemplo de ferramenta computacional comumente empregada nos cálculos de fluxo e

transporte de contaminantes (através dos seus vários módulos) e que utiliza análise por

diferenças finitas é o Visual MODFLOW [29]. Os elementos básicos deste programa são:

→ Modelo Modular, em diferenças finitas, do fluxo tridimensional em águas subterrâneas;

→ Aplicado apenas para meios porosos, fluxo na zona saturada, e fluidos com

temperatura e densidade uniformes;

→ Resolve as Equações Diferenciais Parciais de Fluxo (saída = carga hidráulica em cada

célula);

→ As Equações de Transporte de Solutos são resolvidas pelo módulo acoplado MT3D, ou

outros módulos compatíveis (saída = concentração do soluto em cada célula).

Há outros módulos disponíveis como PEST (calibração automática), MODPATH (trajetória

de partículas), RT3D (transporte reativo de solutos), entre outros.

Page 82: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

72

O exemplo a seguir ilustra a aplicação da ferramenta computacional comercial “Visual

Modflow” ao seguinte problema:

Uma pluma de querosene de aviação (JP-4) migrando a partir da área de abastecimento,

em direção ao rio situado a sul do aeroporto. A pluma se move em direção a uma zona de

descontinuidade do aquitardo (formação geológica, semi-permeável, que transmite água

muito lentamente, comparado ao aquífero), e possivelmente passará por zona de poços

de abastecimento.

FIGURA 3.1 – RESULTADO DA DISPERSÃO DA PLUMA DE CONTAMINANTE

Fonte: ENSR International Brasil

Área de abastecimento (área fonte)

Representação do sentido de fluxo subterrâneo

Poços de abastecimento

Rio

Zona de descontinuidade do aquitardo

Poços de monitoramento

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73

3.5 METODOLOGIAS USUALMENTE EMPREGADAS

Algumas metodologias são usadas para o estudo de avaliação de risco para áreas

contaminadas, discutiremos apenas algumas mais conhecidas, que são: Ação Corretiva

Baseada em Risco – RBCA, C-Soil (metodologia Holandesa) e SoilRisk. O RBCA e

SoilRisk foram desenvolvidos em acordo com os guias de procedimentos criados pela

EPA [7, 8, 11].

O RBCA é uma metodologia bem conhecida, talvez a mais utilizada, foi desenvolvida pela

ASTM (American Society for Testing and Materials) em 1995, [30], e aborda

especificamente a avaliação de riscos para hidrocarbonetos derivados de petróleo. Essa

metodologia consiste num guia que descreve uma seqüência lógica de ações e decisões

a serem tomadas desde a suspeita de contaminação até o alcance das metas de

remediação, com o intuito de proteger a saúde humana e o meio ambiente. Mais tarde em

1998 a ASTM expandiu essa metodologia para outros compostos, o que chamou de

“Chemical Release”.

Uma metodologia (Holandesa) também muito importante para a avaliação de riscos é o

modelo matemático C-Soil, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Humana e Meio

Ambiente da Holanda (RIVM), que e foi usado pela CETESB, como ferramenta para

obtenção dos seus valores de intervenção com base na exposição humana durante a vida

toda, para períodos considerando adultos e crianças.

Um outro modelo integrado para avaliação de risco é o modelo SoilRisk desenvolvido por

Paula A.Labieniec, David A. DzombaK e Robert L. Siegrist e apresentado na referência

[31].

Page 84: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

74

As diferentes metodologias disponíveis para avaliação de risco são similares no que diz

respeito à necessidade de dados sobre exposição da população afetada e sobre o efeito

dos contaminantes nesta população ou outros organismos indicadores. Essas

metodologias entretanto, diferem em seus critérios específicos para definir os diferentes

cenários de uso e ocupação do solo e vias de exposição [32]:

• Holanda: multifuncionalidade do uso do solo (agricultura, ecologia, transporte e

suprimento de água potável, etc);

• Alemanha: parques infantis, áreas residenciais, parques recreacionais e áreas

industriais/comerciais;

• Inglaterra: residencial e parques públicos;

• Canadá: área agrícola, residencial e industrial;

• Estados Unidos: área agrícola, residencial e industrial;

• Estados Unidos: residencial e industrial.

Descreve-se a seguir algumas dessas metodologias.

Metodologia Ação Corretiva Baseada em Risco – RBCA [30]

Como já dito anteriormente, essa metodologia foi elaborada pela ASTM (Estados Unidos)

em 1995 e consiste num guia para ações corretivas baseadas em risco. Esse processo

consiste numa tomada de decisão para uma avaliação e resposta a um vazamento de

petróleo com o objetivo de proteger a saúde humana e o meio ambiente.

Page 85: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

75

A avaliação de risco ecológico nesta metodologia é abordada de forma qualitativa, isto é,

uma avaliação não numérica dos efeitos dos compostos químicos de interesse em plantas

e animais que não sejam pessoas ou espécies domésticas.

Esta metodologia considera as seguintes vias de exposição:

• Ingestão: água e solo contaminados;

• Inalação: de voláteis e material particulado;

• contato dérmico: proveniente de contato com solo e água contaminados;

De acordo com esta metodologia, a primeira ação a ser tomada é a remoção da fonte de

contaminação:

As etapas a serem seguidas no desenvolvimento da metodologia são:

• Investigação da área;

• Classificação da área em função da urgência inicial;

• Tomada de ação para uma resposta inicial apropriada para classificação da área

selecionada;

• Identificação dos compostos de interesse na área e comparação com os valores de

Níveis Gerais de Avaliação Baseados em Risco (RBSL);

• Decidir se é necessária a avaliação para um nível mais elevado, ou se se

implementam as ações interinas de remediação para o nível 1;

• Coleta de informações específicas da área, desenvolvendo o nível 2,

• Comparar se a concentração dos compostos de interesse na área está em

conformidade com os Níveis Alvo Específicos da Área (SSTL);

Page 86: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

76

• Se as concentrações de interesse na área forem superiores aos SSTL, decidir onde é

justificável avaliar para um grau mais elevado, se implementam ações interinas de

remedição ou se usam os valores orientadores denominados SSTL, como valores para

remediação.

• Se for justificada a necessidade de uma avaliação mais específica da área para nível

3, coletam-se dados ainda mais específicos do local e da população exposta. Essa

avaliação, denominada tier 3 (nível), é mais cara e mais complexa, pois envolve uso de

modelos mais sofisticados para transporte de massa e análise probabilística.

Estas etapas estão bem definidas no fluxograma ilustrado na figura 3.2

Page 87: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

77

FIGURA 3.2 – FLUXOGRAMA DE AÇÕES CORRETIVAS BASEADAS EM RISCOS

Fonte: Ref. [30] A classificação da área e Ação de Resposta Inicial é feita de acordo com a tabela 3.1e a

avaliação dos cenários acidentais, está expressa na figura 3.3.

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78

TABELA 3.1 – CLASSIFICAÇÕES DE ÁREA E AÇÕES DE RESPOSTA INICIAL

Fonte: Ref. [30]

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79

FIGURA 3.3 - FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO DE CENÁRIOS DE EXPOSIÇÃO

Fonte: Ref. [30]

METODOLOGIA C-SOIL

Como já dito anteriormente, o C-Soil é um modelo desenvolvido pelo Instituto Nacional de

Saúde Humana da Holanda (RIVM), com o objetivo de quantificar o risco referente à

exposição humana, quando em contato com substâncias tóxicas.

Page 90: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

80

Este modelo simula o risco a que uma população está sujeita quando exposta a um

contaminante de interesse presente no solo e na água subterrânea, consistindo de

fórmulas que descrevem as relações entre os contaminantes nas fases do solo (sólida,

líquida e gasosa) e o aporte dos mesmos aos seres humanos por diversas vias de

exposição, viabilizando a comparação entre o ingresso total estimado e o nível de

exposição máximo tolerável [32].

As etapas desta metodologia encontram-se descritas no fluxograma ilustrado na figura

3.4.

FIGURA 3.4 – FLUXOGRAMA DESCREVENDO OS PASSOS PARA O CÁLCULO DO

RISCO UTILIZANDO O MODELO C-SOIL.

Fonte: Ref. [32]

Page 91: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

81

Para o modelo C-Soil, o risco máximo tolerável para os compostos não carcinogênicos é

dado por um quociente de risco igual a 1, ou seja, o ingresso diário de um contaminante

no organismo exposto pode ser no máximo igual ao ingresso diário tolerável (tolerable

daily intake- TDI).

No caso do TDI não ser conhecido para certas substâncias, o modelo utiliza o ingresso

diário aceitável (determinado para substâncias presentes em aditivos alimentares, pela

Organização Mundial da Saúde – OMS) ou a dose referência (utilizado pela EPA). Já para

contaminações do ar em ambientes fechados sobre locais contaminados, o modelo

compara essa concentração com limites para a segurança ocupacional.

Para as substâncias carcinogênicas o modelo C-Soil considera como limite máximo

tolerável o valor 10-4 para o somatório de todas as vias de exposição.

Os modelos matemáticos de avaliação de risco são usados também para a elaboração de

listas de valores orientados para proteção de solos e águas subterrâneas, sendo uma

importante ferramenta no gerenciamento de áreas contaminadas. Para o Estado de São

Paulo, a CETESB, para a elaboração de sua lista, utilizou o modelo matemático de

avaliação de risco C-Soil.

Na elaboração desta lista, foram propostos 3 níveis de valores orientadores: valor de

referência, valor de alerta e valor de intervenção.

O valor de referência de qualidade indica o limite de qualidade para um solo considerado

limpo e a qualidade natural das águas subterrâneas.

Page 92: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

82

O valor de alerta indica uma possível alteração da qualidade natural dos solos e águas

subterrâneas.

Já o valor de intervenção, é o limite de qualidade acima do qual existe o risco à saúde

humana e ao meio ambiente, havendo a necessidade de uma intervenção imediata na

área. Esses valores são calculados a partir dos modelos para avaliação de risco,

considerando cenários hipotéticos, relacionados ao cotidiano do ser humano, como por

exemplo: quantidade ingerida de solo, água,vegetais, ar inalado, tempo de permanência

no local, etc.

METODOLOGIA SOILRISK [31].

O SoilRisk é um modelo integrado para a avaliação de risco carcinogênico para baixos

níveis de contaminação orgânica no solo. Usa um modelo analítico para descrever o

transporte e destino do contaminante orgânico em solo não saturado que contempla os

seguintes mecanismos de perda e retardo: degradação de primeira ordem, volatilização

na superfície do solo, e lixiviação para a zona saturada. O módulo da zona não saturada é

acoplado aos seguintes módulos: módulo de que descreve a dispersão e diluição no ar;

módulo que descreve o transporte na zona saturada, e os módulos de geração de

particulados, que possibilita a estimativa de concentrações médias de longa duração do

contaminante no ar. O fluxograma apresentado na figura 3.5 ilustra a integração entre os

diversos módulos do modelo.

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83

FIGURA 3.5 – INTEGRAÇÃO ENTRE OS DIVERSOS MÓDULOS DO MODELO

SOILRISK

Fonte: Ref. [31] O SoilRisk permite avaliar o risco de um indivíduo contrair câncer, como resultado de uma

concentração específica de contaminante no solo, ou por outro lado o nível do

contaminante no solo atingir um nível específico de risco.

Dsg

Dar

Dsi

Dpele

Dpó

Dpw

DncExposição

Csg

CncCbaMódulo

Rsg

Rar

Rsi

Rpele

Rpó

Rpw

RncMódulo Risco

Cgw

Cpó

CarMódulo da zona não saturada

Módulo dispersão /diluição no ar

Módulo de particulado

Módulo da zona saturada

CT

Dsg

Dar

Dsi

Dpele

Dpó

Dpw

DncExposição

Csg

CncCbaMódulo

Rsg

Rar

Rsi

Rpele

Rpó

Rpw

RncMódulo Risco

Cgw

Cpó

CarMódulo da zona não saturada

Módulo dispersão /diluição no ar

Módulo de particulado

Módulo da zona saturada

CT

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84

4 CONCEITOS BÁSICOS EM ECOLOGIA

4.1 INTRODUÇÃO

A dinâmica de populações é um assunto de grande interesse e importância e tem sido

estudado ao longo de décadas [33]. Ela trata da interação dos organismos biológicos [34].

Os organismos interagem entre si, interagem com organismos de outras espécies e além

disso interagem com o seu ambiente não vivo (abiótico). Tanto os organismos biológicos

quanto o ambiente abiótico, cada um deles, influencia as propriedades do outro e cada

um é necessário para a manutenção da vida.

Uma população é uma entidade em mudança, isto é, um sistema dinâmico do ponto de

vista da matemática. Mesmo quando a comunidade e o ecossistema parecem não mudar,

a densidade, a natalidade, a sobrevivência, a estrutura etária, a taxa de crescimento e

outros atributos das populações componentes geralmente flutuam à medida que as

espécies se ajustam constantemente às estações, as forças físicas e químicas e umas às

outras.

Embora as forças físicas e químicas ajam como funções motrizes primárias, os

organismos biológicos não se adaptam simplesmente de forma passiva a estas forças,

mas sim modificam, mudam e regulam ativamente o ambiente físico dentro dos limites

impostos pelas leis naturais que determinam a transformação de energia e a ciclagem de

materiais, isto é, o movimento de elementos químicos e compostos inorgânicos que são

essenciais à vida e que tendem a circular na biosfera em vias características, do ambiente

aos organismos e destes, novamente, ao ambiente.

Page 95: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

85

A interação entre os sistemas biológicos e o ambiente determina o curso da seleção

natural e, portanto, não apenas a forma como os organismos individuais otimizam a sua

sobrevivência, mas também a maneira pela qual os ecossistemas, como um todo, se

modificaram e estão se modificando ao longo do tempo evolutivo.

O estudo da dinâmica de populações permite também a abordagem de uma grande

variedade de problemas práticos como, por exemplo, o estudo da propagação de vírus ou

outras doenças sobre uma população hospedeira, a determinação de estratégias para a

eliminação de pestes ou ainda a elaboração de estratégias para a proteção de espécies

ameaçadas de extinção, bem como torna possível também a investigação das

conseqüências de uma perturbação antropogênica crônica (persistente ou continuada)

causada, por exemplo, por episódios de poluição. Desta forma, o estudo da dinâmica da

evolução das populações pode ser importante para determinarmos se uma dada

população vai se extinguir, ou ainda melhor, as condições que conduzam a ela, ou

mesmo, as condições necessárias à proteção da espécie, quando for o interesse.

No estudo de populações, particularmente de sua dinâmica, os interesses estão nos

mecanismos que governam a evolução de uma dada população e a velocidade com a

qual esta população está mudando.

4.2 ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS EM ECOLOGIA

A ecologia é a ciência que estuda os processos e as interações de todos os seres vivos

entre si e destes com os aspectos morfológicos, químicos e físicos do ambiente, incluindo

os aspectos humanos que interferem e interagem com os sistemas naturais do planeta.

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86

Em outras palavras é o estudo do funcionamento do sistema natural como um todo, e das

relações de todos os organismos vivendo no seu interior[33 – 38].

Um conceito muito importante na ecologia é o conceito de sistema ecológico ou

ecossistema. O ecossistema é qualquer unidade que abranja todos os organismos que

funcionam em conjunto (a comunidade biótica) numa dada área, interagindo com o

ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas

claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e não vivas.

Assim, um ecossistema é um sistema aberto onde se estabelece um fluxo constante de

energia e matéria entre ele e o ambiente externo. É graças a estes fluxos que o

ecossistema consegue criar e manter um alto grau de ordem interna, ou uma condição de

baixa entropia (pequena quantidade de desordem ou de energia não disponível num

sistema). O mecanismo através do qual o ecossistema alcança uma baixa entropia é

através de dissipação contínua e eficiente de energia de alta utilidade (por exemplo, luz

ou alimento) resultando em energia de baixa utilidade (por exemplo, calor). A Figura 4.1

ilustra um ecossistema como um sistema aberto trocando energia e matéria com o

exterior.

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87

FIGURA 4.1 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO ECOSSISTEMA E O MEIO

EXTERIOR.

Fonte: FONTE: REF.[33]

Um aspecto importante dos ecossistemas é a sua estabilidade. Existem duas formas de

estabilidade, a estabilidade de resistência que se define como a capacidade de se manter

estável diante do estresse e a estabilidade de elasticidade, que é a capacidade de se

recuperar rapidamente. O grau de estabilidade atingido por um ecossistema varia muito,

dependendo do rigor do ambiente externo além da eficiência dos controles internos.

Um outro conceito de grande importância no estudo de ecossistemas é o conceito de

fatores limitantes. A presença e o sucesso de um organismo ou de um grupo de

organismos depende de um conjunto de condições. Por definição, uma condição que se

aproxime de ou exceda os limites de tolerância de um dado organismo ou um grupo de

Page 98: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

88

organismos, é chamada de condição limitante ou fator limitante. Em condições de estado

estacionário ou constante (um estado do ecossistema para o qual as variáveis

macroscópicas que o descrevem não muda com o tempo), o material essencial que está

disponível em quantidades que mais se aproximam da necessidade mínima tende a ser o

fator limitante.

Um fator limitante não está associado apenas com a insuficiência de algum nutriente, mas

pode estar associado também ao excesso não apenas de matéria (nutrientes e água),

mas também de energia (luz e calor). Dessa forma, os organismos apresentam um

mínimo e um máximo ecológicos que representam os seus limites de tolerância.

Para ilustrar o conceito de fator limitante, apresenta-se a seguir dois exemplos. O primeiro

trata de ecossistemas que se desenvolvem em formações geológicas onde o solo é

serpentino [33], isto é, derivado de rochas de silicatos de magnésio e de ferro, que são

pobres em cálcio, fósforo e nitrogênio e, por outro lado, são ricos em magnésio, cromo e

níquel, sendo que as concentrações de cromo e níquel se aproximam de níveis tóxicos

aos organismos. Nestas condições, a vegetação que cresce possui uma aparência

caracteristicamente mirrada. Neste exemplo nota-se a presença de dois fatores limitantes;

de um lado a escassez de nutrientes principais (cálcio, fósforo e nitrogênio), e do outro a

abundância de metais tóxicos. Entretanto, apesar da dupla limitação, uma comunidade

biótica consegue se desenvolver ainda que num nível reduzido de estrutura e

produtividade comunitárias.

Como segundo exemplo que ilustra o conceito e a importância dos fatores limitantes no

desenvolvimento de ecossistemas, apresenta-se aquele estudado na referência [33] e que

trata da importância da interação dos três fatores limitantes temperatura, salinidade e a

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89

presença de cádmio (substância especialmente tóxica aos crustáceos), na percentagem

de mortalidade de formas larvares (zoés) de caranguejos chama-maré (Uca). A figura 4.2

ilustra a interação de temperatura, salinidade e cádmio (uma substância tóxica) sobre a

mortalidade de larvas de caranguejo. Na figura 4.2 (A), apresenta-se a estimativa da

percentagem de mortalidade de zoés do primeiro estágio do caranguejo chama-maré

(Uca pugilator), baseada em uma superfície de resposta ajustada à mortalidade

observada sob 13 combinações de salinidade e temperatura. Na figura 4.2 (B), os novos

resultados apresentados se referem à adição de 1 ppb de cádmio.

FIGURA 4.2 A e B – EFEITO DA TEMPERATURA, SALINIDADE E CÁDMIO SOBRE A

MORTALIDADE DE LARVAS DE CARANGUEJO

FONTE: REF.[33]

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90

Como se observa na figura 4.2, a mortalidade larvar é mais baixa com temperaturas no

intervalo de 25 ± 50 C e salinidade no intervalo 30 ± 5%. Quando se acrescenta ao

ambiente uma quantidade muito pequena de cádmio, nota-se uma alteração no padrão de

interação temperatura-salinidade. A zona ótima é reduzida (o círculo central de

mortalidade mais baixa) e a tolerância à salinidade é estreitada. Nota-se também que a

faixa de temperaturas toleradas aumenta levemente (veja que o círculo de 50% de

mortalidade estende-se até uma temperatura que é vários graus inferior quando se

adiciona o cádmio)

De interesse particular nesta dissertação estão aqueles fatores limitantes impostos pelas

atividades antropogênicas onde se encontram principalmente os resíduos industriais

tóxicos.

Os ecossistemas naturais apresentam considerável estabilidade (na forma de resistência

ou plasticidade) quando sujeitos a perturbações periódicas ou agudas, provavelmente

porque estão adaptados a ela. De fato, alguns organismos precisam de perturbação

estocástica (aleatória), como incêndios ou tempestades, para a sua persistência a longo

prazo. Assim sendo, os ecossistemas podem apresentar boa recuperação quando

submetidos a perturbações antropogênicas periódicas, tais como um episódio de

poluição.

A situação preocupante é aquela que se refere às interferências crônicas, isto é, aquelas

persistentes ou continuadas. Neste caso, como os organismos não possuem uma história

evolutiva de adaptação, a ação antropogênica, principalmente no caso de substâncias

químicas industriais, podem provocar efeitos pronunciados e prolongados no

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91

ecossistema, se constituindo assim em novos fatores limitantes, que podem comprometer

a sua própria existência.

Na década de 80, somente nos EUA havia quase 50.000 substâncias químicas no

mercado, das quais quase 35.000 são reconhecidas pela agência de proteção ambiental

americana como potencialmente perigosas para a saúde humana. Também de particular

preocupação para a área de geotecnia ambiental destaca-se que um dos principais

perigos de desastre potencial é a contaminação de águas subterrâneas e dos aqüíferos

profundos, dada a grande dificuldade na sua purificação, pois que não estão expostas à

luz solar, a correntes fortes, nem outros processos naturais de purificação que limpam as

águas superficiais.

Um dos objetivos desta dissertação é mostrar como a modelagem matemática dos

mecanismos responsáveis pela evolução dos ecossistemas pode ser usada para avaliar

(calcular) seus estados subseqüentes, quando os ecossistemas estão submetidos a

certas condições ou fatores limitantes. Este assunto é o que se entende por dinâmica de

populações. Antes de discutir os modelos de dinâmica populacional é necessário

apresentar um conjunto de conceitos que estão relacionados com o tema. O primeiro

deles é certamente o próprio conceito de população.

Uma população pode ser definida como um conjunto de indivíduos, ou de forma mais

ampla organismos, da mesma espécie que ocupam um espaço determinado e funciona

como parte de uma comunidade biótica. A comunidade biótica por sua vez pode ser

pensada como um conjunto de populações que funcionam como uma unidade

integradora, através de transformações metabólicas numa dada área de habitat físico.

Page 102: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

92

Uma população possui características próprias de um grupo de indivíduos como, por

exemplo, a densidade, a taxa de nascimento (a natalidade), a taxa de óbitos

(mortalidade), a distribuição etária, o potencial biótico, a dispersão, a forma de

crescimento entre outras.

Por outro lado, as populações possuem também características genéticas diretamente

relacionadas com sua ecologia como, por exemplo, a capacidade de adaptação, o fitness

reprodutivo (darwiniano) e a persistência, isto é, a probabilidade de deixar descendentes

ao longo de grandes períodos de tempo.

Um parâmetro importante na caracterização de uma dada população é a sua densidade.

A densidade populacional expressa o tamanho da população em relação a alguma

unidade de espaço, por exemplo, é o número de indivíduos ou biomassa da população,

por unidade de área ou de volume. Assim, por exemplo, a densidade de uma população

de árvores de uma dada espécie é expressa pelo número de árvores por hectare, da

mesma forma que podemos expressar a densidade de uma dada população de peixes

pelo número de indivíduos por metro cúbico de água.

Em ecologia é comum se distinguir entre a densidade bruta, que é o número (ou

biomassa) por unidade do espaço total, e a densidade específica ou ecológica, que é o

número (ou biomassa) por unidade do espaço do habitat (isto é a área ou o volume

disponível que realmente pode ser colonizada pela população).

No estudo da dinâmica de populações, um conjunto de parâmetros muito importantes que

permite avaliar se uma dada população está de fato aumentando ou diminuindo são os

índices de abundância relativa. Estes índices podem ser relativos ao tempo, neste caso

Page 103: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

93

expressam o número de indivíduos observados por unidade de tempo, por exemplo, o

número de aves observadas por hora. Estes índices podem também expressar a

freqüência de ocorrência de uma dada espécie em certas áreas, por exemplo, a

porcentagem de áreas de amostra ocupada por uma espécie.

Para caracterizar uma população dois conceitos muito importantes são os conceitos de

natalidade e de mortalidade.

A natalidade se define como a capacidade de uma dada população aumentar. Associado

a este conceito está o de taxa de natalidade, que é equivalente à taxa de nascimento na

terminologia do estudo da população humana, isto é, na demografia. O termo taxa de

natalidade é um termo mais amplo que engloba a produção de novos indivíduos de

qualquer organismo, seja qual for o processo: nascimento, eclosão, germinação ou

divisão.

Ainda sobre o conceito de natalidade em ecologia utilizam-se os conceitos de natalidade

máxima e natalidade ecológica ou realizada. A natalidade máxima, também denominada

natalidade fisiológica, é a produção máxima teórica de novos indivíduos sob condições

ideais, ou seja, na ausência de fatores ecológicos limitantes, e limitada apenas por fatores

fisiológicos. Nestas condições, a natalidade máxima é constante, para uma dada

população.

Por outro lado, a natalidade ecológica ou realizada, ou simplesmente natalidade, refere-se

ao aumento populacional sob condições reais ou específicas do ambiente. Ela não é

constante para uma dada população, mas sim depende do tamanho e da composição

etária da população, bem como depende das condições do ambiente físico. Assim, se

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94

uma certa espécie de pássaro coloca 510 ovos, mas apenas 256 sobrevivem até que os

filhotes se emplumem, a natalidade máxima é 510 e a realizada é 256 (52% do máximo

teórico)

Uma forma conveniente de se expressar a natalidade é através da taxa de natalidade

absoluta ou bruta definida como a razão entre o número de novos indivíduos produzidos e

o tempo gasto para tal. Uma outra maneira é através da taxa de natalidade específica

definida como o número de novos indivíduos produzidos por unidade de tempo, por

unidade de população. Ou ainda, a taxa de natalidade específica é a razão entre a taxa

de natalidade bruta e a população no início das considerações. De fato, o denominador

(população inicial), pode ser também uma parte específica dela, por exemplo, o número

de fêmeas em idade reprodutiva. Dessa forma, se uma população de 50 protozoários,

num tanque, aumenta em uma hora para 150 protozoários, sua taxa de natalidade bruta é

de 100 protozoários por hora e a taxa de natalidade específica é de 2 protozoários por

hora.

O outro conceito fundamental na caracterização de uma população é o da mortalidade. A

mortalidade se define como o número de indivíduos que morrem num dado período

(óbitos por unidade de tempo, no caso da demografia humana). Assim como no caso da

natalidade, podemos expressá-la também como a taxa específica em termos da

população total ou de qualquer parte desta. A mortalidade ecológica ou realizada é a

perda de indivíduos sob uma dada condição ambiental e, da mesma forma que a

natalidade ecológica, não é uma constante, mas varia com as condições populacionais e

ambientais. A mortalidade mínima teórica representa a perda sob condições ideais, ou

limitada apenas pela fisiologia, e é constante para uma dada população. Uma muito

usada em ecologia e que está associada à taxa mortalidade é a taxa de sobrevivência.

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95

Elas são de fato complementares, na linguagem da teoria de conjuntos. Assim se M

representa a taxa de mortalidade, a taxa de sobrevivência será 1-M.

4.3 MODELOS DE DINÂMICA DE POPULAÇÕES

Os ecossistemas são sistemas abertos como já foi discutido anteriormente. Dessa forma

as populações que constituem um dado ecossistema também o são e, portanto trocam

energia e matéria com o meio exterior. Desta forma, a construção de modelos que

descrevem a dinâmica da evolução de uma dada população requer conhecimento sobre

as interações entre: (a) os componentes do sistema, isto é, os organismos que compõem

a população e (b) o sistema e o meio exterior [33, 34].

O meio exterior se comunica com o sistema através de fluxos de energia e matéria que se

estabelecem através das suas fronteiras. Assim, do ponto de vista da modelagem

matemática, a influência do meio exterior sobre a população se manifesta nas condições

de contorno que devem ser impostas à população nas fronteiras do sistema ou através de

vínculos que intervêm explicitamente nas equações que descrevem a dinâmica da sua

evolução.

Focalizando primeiramente a atenção no processo dinâmico que ocorre no interior do

sistema pode-se dizer que, como regra geral, os indivíduos das populações estão sujeitos

a processos de várias naturezas tais como de origem genética, processos que envolvem

competição, processos regulatórios e processos de comunicação.

Os processos de origem genética são caracterizados pelo fato dos organismos que

constituem as populações serem seres vivos e como tal se reproduzirem a uma certa taxa

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96

e morrerem a uma outra taxa. Além disso, eles estão sujeitos a mutações que, de tempos

em tempos, podem mudar a natureza do sistema de forma imprevisível.

Quanto aos processos envolvendo competição, estes, muito freqüentemente, surgem do

fato de que num meio onde a quantidade de recursos é limitada, o crescimento de um

organismo, com freqüência, acontece à custa de outros. É sabido que em populações

humanas ou animais em geral isto resulta numa saturação do crescimento. A competição

pode envolver interações diretas entre indivíduos da mesma espécie, tais como predação

e agressão. Matematicamente, todos os tipos de competição dão origem a contribuições

não lineares nas equações que descrevem a dinâmica de tais populações.

Os processos regulatórios, por suas vez, asseguram a coordenação das atividades das

populações no espaço e no tempo. Eles dão origem à realimentação, isto é, interações

não lineares, no sentido de que eles favorecem direta ou indiretamente o crescimento de

certas partes da população que são necessárias à sobrevivência de toda população.

Como exemplo deste processo podemos citar a formação de soldados em sociedade de

insetos.

Finalmente, através dos processos de comunicação as populações se comunicam entre

áreas vizinhas ou mesmo áreas distantes. Os três processos anteriores são locais, isto é,

acontecem em qualquer área ou volume pequenos no sistema. Os processos de

comunicação, por outro lado, envolvem transferência de informação (comunicação) entre

áreas vizinhas, mas também entre áreas distantes. A dispersão espacial ou migração são

exemplos de meios de comunicação [34]. Em sociedades de insetos a comunicação pode

se estabelecer através de agentes químicos tais como os feromônios.

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97

Focalizando agora a atenção nos vínculos que agem sobre o sistema, pode-se observar

que um ecossistema se comunica com o meio exterior através de uma superfície de

separação. Em geral, as condições que prevalecem no meio exterior não são idênticas

àquelas que existem no interior da superfície que limita o ecossistema. Em particular, são

diferentes os números de indivíduos de uma dada espécie dentro e fora do ecossistema.

Da mesma forma, também são diferentes as energias por unidade de volume ou por

unidade de área. Essas diferenças são sentidas pelo sistema como imposições –

vínculos, matematicamente falando, que induzem fluxos de matéria e energia através da

superfície limítrofe. Dois exemplos de interação entre o sistema e o meio exterior são: (a)

a biosfera como um todo que está sujeita ao fluxo de energia solar e (b) uma sociedade

que é relativamente avançada graças às trocas de energia e informação com as

vizinhanças.

Para se determinar a taxa de crescimento populacional que descreve os processos acima

mencionados vamos considerar inicialmente uma única espécie cujo número de

indivíduos é N, num ambiente ilimitado, isto é, onde não existem efeitos restritivos ao

desenvolvimento populacional devido ao espaço, à quantidade de alimentos ou mesmo a

competições e/ou comportamento predatório devido a outros organismos. Nestas

condições, a taxa específica de crescimento (a taxa de crescimento populacional por

indivíduo) torna-se constante e máxima para as condições microclimáticas existentes e é

um parâmetro intrínseco característico desta população que informa a sua capacidade de

crescer. O valor da taxa de crescimento sob estas condições caracteriza uma

determinada estrutura etária populacional (a distribuição etária, importante característica

das populações, é uma medida das proporções entre os seus vários grupos etários).

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98

Representando por b o valor desta taxa, nas condições acima ela é dada pela lei

malthusiana de crescimento, isto é:

bNdt

dN= (4-1)

onde o parâmetro b pode ser considerado como um coeficiente instantâneo de

crescimento populacional.

A forma integrada da equação acima é a lei malthusiana de crescimento exponencial

dada explicitamente por:

( ) bteNtN 0= (4-2)

onde N0 representa a população no instante inicial de observação. É comum representar a

relação acima numa escala logarítmica. Aplicando-se o logaritmo a ambos os lados da

expressão acima obtém-se:

btNN += 0lnln (4-3)

e, portanto, escrita dessa maneira, vemos que o parâmetro b facilmente se calcula a partir

do valor da população entre dois instantes, isto é, é o coeficiente angular da reta, ou seja:

12

12 lnlnttNNb

−−

= (4-4)

A descrição correta da dinâmica populacional deve conter não apenas a taxa de

crescimento populacional, mas também uma taxa que represente a mortalidade da

população. De forma semelhante ao que escrevemos para a taxa específica de

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99

crescimento, podemos escrever, para a taxa específica de mortalidade, a seguinte

expressão:

dNdt

dN−= (4-5)

onde d é a taxa específica de mortalidade. Dessa forma, a dinâmica populacional é

governada pela equação:

dNbNdtdN

−= . (4-6)

Naturalmente aqui, se b > d, isto é, se a taxa específica de crescimento for maior que a

taxa específica de mortalidade então, a equação acima ainda prediz uma explosão

populacional através de um crescimento exponencial de N (a lei malthusiana de

crescimento). Por outro lado, se b < d a população sofrerá um decréscimo exponencial até

anular-se.

Algumas vezes é comum usar um único índice que expressa a diferença entre a taxa

específica instantânea de natalidade e a taxa instantânea de mortalidade d, ou seja:

dbr −= (4.7)

Sob as condições consideradas acima, a população como um todo se expande a uma

velocidade incrível, muito embora cada organismo esteja se reproduzindo numa taxa

constante, a taxa específica de crescimento. Alguns exemplos característicos de tal

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100

desenvolvimento são as irrupções planctônicas, as irrupções de pragas e o crescimento

de bactérias em novos meios de cultura.

É evidente que este crescimento vertiginoso, mais precisamente este aumento

exponencial, não pode durar para sempre; de fato, muitas vezes nem sequer é realizado.

Os outros processos que nas condições de ambiente ilimitado puderam ser desprezados

e que resultaram nas conseqüências acima, logo entram em cena e retardam a taxa de

crescimento e interferem, de várias maneiras, na determinação da forma de crescimento

populacional.

Portanto, considerando-se o caso de um ambiente onde os recursos são limitados, a taxa

de crescimento populacional é proporcional não somente ao número de indivíduos, mas

também à quantidade de recursos disponíveis.

Um caso interessante e relativamente simples onde está presente o processo de

competição é aquele para o qual considera-se que a quantidade de alimento representada

pela variável A é inteiramente reintegrada ao sistema com a morte dos indivíduos, isto é,

um sistema fechado onde A´ + X = C´, ou ainda:

1=+CNA . (4-8)

Assim, da equação (4.8) vê-se que ao diminuir a quantidade de indivíduos aumenta-se a

quantidade de alimento e vice-versa. Desta forma a taxa de nascimento pode se escrita

como:

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101

bANdtdN

nas

=

(4.9)

e a taxa de mortalidade como:

dANdtdN

mor

−=

(4.10)

Assim, portanto, substituindo o valor de A, da equação 4.8, em (4.9) e (4.10) e somando-

se as equações obtém-se:

2NrNdtdN γ−= (4-11)

que é a equação de Malthus-Verhulst. Esta equação é a equação de movimento para o

número médio de indivíduos numa sociedade e tem sido largamente utilizada em

dinâmica populacional [33 - 38]. O parâmetro γ é a razão entre r e o tamanho máximo

possível da população Nmáx. Este tamanho máximo possível da população, que é

determinado na equação acima se igualando a equação da taxa a zero, representa a

saturação da população para as condições limitantes impostas. No caso acima Nmáx = 1/C

e reescrevendo-se a equação (4.11) em função de Nmáx obtém-se:

( )máx

máx

NNNrN

dtdN −

= (4.12)

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102

Em palavras, a equação acima, que fornece a taxa de aumento populacional, é igual à

taxa máxima possível de aumento, isto é a taxa específica ilimitada de crescimento (r)

vezes o número de indivíduos da população, tudo isso multiplicado pelo grau, ou fração

de realização da taxa máxima.

Desta forma fica evidenciada a resistência ambiental caracterizada pela fração (Nmáx-

N)/Nmáx, a qual corresponde ao somatório dos fatores limitantes ambientais que impedem

a realização total do potencial biótico também chamado de potencial reprodutivo e

representado por r, na condição de ausência de fatores limitantes.

Como se observa diretamente da equação de Malthus, equação (4.6), ela é uma equação

linear que prevê uma explosão demográfica exponencial ou seu desaparecimento de

forma também exponencial. O termo introduzido por Verhulst, por outro lado, é de

natureza não linear e representa a interação entre os indivíduos que compõem a

população. O parâmetro γ pode ser interpretado como a contribuição não linear à taxa de

mortalidade.

A solução da equação de Malthus-Verhulst é:

( )

( ){ }1)0(1

)0()(−

−+

=−

tdb

tdb

edb

N

eNtNγ

(4-13)

Esta solução fornece resultados muito interessantes. Se b < d, a população decresce com

o tempo. Por outro lado, como era de se esperar, se γ = 0 o termo não linear desaparece

e a população volta a crescer indefinidamente. Entretanto agora, se b > d, a população

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103

tende para o valor finito constante ( ) γ/db − . Portanto, o termo não linear tende a

estabilizar a população.

Um resultado notável da solução acima é a existência da bifurcação, isto é, para (b - d) <

0 o sistema aproxima-se do estado N = 0, enquanto que para (b - d) > 0, ele se aproxima

do estado ( ) γ/db − . Desta forma, à medida que as taxas de transição mudam o sistema

sofre uma espécie de transição de fase fora do equilíbrio, de um estado para outro, como

resultado da taxa de transição não linear.

Até o presente momento considerou-se somente uma única espécie num dado

ecossistema. O último ponto a ser discutido aqui é o que trata da interação entre duas

espécies num dado ecossistema. Os modelos de equações de crescimento apresentados

acima permitem uma determinação de como os fatores operam em situações naturais

complexas. Assim, se o crescimento de uma população pode ser descrito por uma

equação, a influência de outra população pode ser expressa por um termo que modifique

o crescimento da primeira população. Vários termos podem ser substituídos, de acordo

com o tipo de interação. Na competição, por exemplo, a taxa de crescimento de cada

população é igual à taxa ilimitada menos os seus próprios efeitos dependentes da

densidade, os quais aumentam à medida que a população aumenta, menos os efeitos

prejudiciais da outra espécie N2 (os quais também aumentam à medida que aumentam os

números das duas espécies, N1 e N2), ou seja:

NCNNNrrN

dtdN

máx2

2 −

−= (4.14)

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104

esta equação é semelhante à equação de Malthus-Verhulst, exceto pelo acréscimo do

último termo que descreve os efeitos prejudiciais da outra espécie.

Assim, se considerarmos que em termos de competição dentro de um espaço limitado,

cada população possui seu nível de equilíbrio Nmáx, as equações de crescimento

simultâneo escrevem-se, cada uma delas, de forma semelhante à equação (4.14), ou

seja:

( )máx

máx

NNNN

rNdtdN

1

2111

1 α−−= (4.15a)

( )máx

máx

NNNN

rNdtdN

2

1222

2 1α−−

= (4.15b)

onde N1 e N2 representam o número de indivíduos das espécies 1 e 2, respectivamente, α

é o coeficiente de competição que indica o efeito inibidor da espécie 2 sobre a espécie 1 e

β é o coeficiente de competição correspondente, que significa a inibição de 2 por 1. Este é

o chamado modelo de Lotka-Volterra [33].

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105

5 DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCOS

AMBIENTAIS

5.1 INTRODUÇÃO

A preocupação da sociedade com o avanço da indústria nuclear, por um lado, e o anseio

da indústria pela sua expansão, por outro, em meados da década de 70, conduziu a uma

investigação sobre a segurança em empreendimentos dessa natureza que, entre outras

coisas, lançou as bases de uma metodologia para a investigação quantitativa dos riscos.

Aproximadamente 10 anos depois, também fruto dessa relação custo-benefício em que

de um lado se encontram os perigos associados a uma planta de processo e do outro os

reconhecidos benefícios sociais, o Instituto Americano de Engenheiros Químicos (AIChE)

adaptou o relatório WASH 1400 [1], para as plantas químicas e petroquímicas dando

origem à metodologia de AQR consagrada e hoje amplamente utilizada nas indústrias de

processo de uma forma geral e que foi discutida no capítulo 2.

Uma vez mais, a sociedade clama por segurança. Novamente de um lado está o

desenvolvimento industrial, acobertado agora pelo paradigma do desenvolvimento

sustentável. Mas desta vez, do outro lado, não está apenas o ser humano isoladamente,

mas sim tudo que a ele se relaciona e importa para a sua sobrevivência, ou seja, o

planeta, tudo que há nele, inclusive o próprio homem.

O desenvolvimento de uma metodologia completa e integrada que permita avaliar os

riscos dos processos industriais de forma holística, é uma tarefa extraordinariamente

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106

complexa. Existem muitas razões para tal, mas sem dúvida uma razão bastante evidente

é que as interações homem-meio ambiente não são, nem de longe, bem estabelecidas.

Portanto torna-se muitíssimo difícil avaliar as conseqüências causadas por uma liberação

acidental de um contaminante e, por conseguinte, o risco.

Entretanto, apesar da extrema complexidade do problema, existem soluções pontuais.

Por exemplo, a indústria petroquímica, mais especificamente a industria petrolífera que

opera em plataformas “offshore” tem dado importante contribuição neste sentido [39].

Mesmo aqui, não há procedimentos quantitativos definitivos que permitam avaliar as

conseqüências, a vulnerabilidade dos recursos (ecossistemas) e finalmente os riscos

associados ao derramamento de óleo no mar.

A metodologia de Análise Quantitativa de Riscos associada à segurança de plantas

químicas e nucleares, e que foi apresentada no capítulo 2, é normalmente empregada

para avaliar risco agudo associado a conseqüências indesejáveis que se propagam pela

atmosfera. O risco agudo é aquele cujas conseqüências indesejáveis se manifestam de

forma intensa e numa pequena escala de tempo. Não há, entretanto, na metodologia

nada que a impeça de ser usada em cenários de contaminação acidental de solo, águas

superficiais e ou subterrâneas.

Por outro lado, as metodologias discutidas no capítulo 3 e que se aplicam tanto ao ser

humano quanto a outros elementos do ecossistema, consideram de forma quantitativa

apenas os efeitos adversos, sobre um ou outro, provenientes de ambientes

contaminados. A diferença está que nesta metodologia não são calculadas chances de

tais contaminações ocorrerem. De fato nesta metodologia, o foco não é a segurança com

que um contaminante é produzido, ou armazenado, ou simplesmente manipulado, mas

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107

sim nas implicações, isto é, nos efeitos adversos sobre os elementos do ecossistema, em

suas eventuais liberações.

O objetivo central desta dissertação é sugerir a integração destas duas metodologias.

Assim, nesta nova metodologia que passo a chamar de Análise Quantitativa de Riscos

Ambientais (AQRA), por um lado são incluídos elementos de análise de confiabilidade na

metodologia considerada no capítulo 3, e por outro são considerados os demais

elementos do ecossistema, vias de exposição e suas avaliações naquela outra

metodologia descrita no capítulo 2.

5.2 METODOLOGIA PARA ANÁLISE QUANTITATIVA DE RISCO AMBIENTAL

Nesta dissertação, a definição considerada de meio ambiente é o de um conjunto

constituído pelas pessoas, suas crenças sociais, culturais, o ambiente natural e as inter-

relações entre os diversos elementos.

As etapas que definem a metodologia de uma AQRA são as mesmas que foram

consideradas no capítulo 2 para a AQR. A diferença está nas novas possibilidades de

cenários acidentais a serem considerados. As novas possibilidades incluem, por exemplo,

cenários com conseqüências indesejáveis para a imagem da empresa responsável pelo

acidente e, portanto, com desdobramentos sobre o seu desempenho econômico. Para

esses novos cenários é necessário elaborar modelos que permitam avaliar as suas

conseqüências e a respectiva quantidade de recursos vulneráveis.

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108

Portanto, conceitualmente, o risco ambiental se define como o produto da freqüência do

cenário acidental pela respectiva conseqüência. Agora, a quantificação das

conseqüências deve considerar não apenas o dano à integridade física direta, mas

também avaliações de natureza ecológica e econômica, entre outras, dos efeitos

adversos provocados pelas liberações acidentais no ambiente. Assim sendo, o risco

ambiental, e sua avaliação, inclui o risco ecológico, risco à saúde humana e o risco

econômico [13].

A avaliação das conseqüências de um cenário acidental ao meio ambiente deve

considerar uma avaliação dos efeitos adversos deste cenário sobre o homem, sobre o

restante dos elementos que definem o meio ambiente, mas também as reações sobre o

homem que os efeitos adversos têm nos outros constituintes do meio ambiente. Assim, se

ocorre um derramamento acidental de hidrocarboneto no solo, o homem sofre

diretamente a sua ação (exposição ao contaminante), mas sofre também indiretamente

com a diminuição dos recursos necessários à sua existência (diminui a quantidade de

gado bovino de corte por causa da ação do contaminante sobre o gado, por exemplo).

Para a determinação das conseqüências diretas sobre o homem, podemos proceder

como no capítulo 2, se estas se apresentam de imediato, como é o caso das

conseqüências de uma explosão, de um incêndio, ou de uma nuvem tóxica. Ou então, se

o efeito adverso não se manifesta de imediato, podemos proceder como discutido no

capítulo 3, integrando as contribuições das concentrações, por exemplo, ao longo de um

período de tempo suficientemente longo.

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109

De um jeito ou de outro, na discussão acima, vemos que para avaliar as conseqüências

devemos ser capazes de avaliar os efeitos adversos em cada ponto do espaço e no

tempo.

No caso de uma substância tóxica devemos ser capazes de descrever como muda, ponto

a ponto e também no tempo, a concentração do contaminante. Se, por exemplo, o

contaminante for lançado na atmosfera e tratar-se de um gás neutro ou leve, a sua

dispersão será governada pela turbulência atmosférica e um modelo consagrado neste

caso é o gaussiano. Por outro lado, se o contaminante for um líquido não criogênico e se

este se derramar sobre a superfície do solo, sua dispersão se dará através da zona não

saturada e da zona saturada – os mecanismos incluem advecção e difusão – e as

equações apropriadas para transporte e dispersão do contaminante envolvem um meio

poroso. O mesmo acontece quando parte do contaminante derramado na superfície do

solo se evapora. A dispersão atmosférica se faz em outro meio material, neste caso o ar,

e os mecanismos de transporte e interação também se alteram.

Portanto, para avaliar a concentração como função do ponto no espaço (não confundir

com atmosfera), devemos determinar as rotas (meio material), suas características físicas

(parâmetros hidrogeológicos: como porosidade e condutividade hidráulica, por exemplo;

parâmetros atmosféricos, como distribuição de temperatura e fluxos de vento e

parâmetros oceânicos como, por exemplo, salinidade, fluxos hidrodinâmicos) e em cada

uma delas estabelecer as equações de transporte que por sua vez devem incluir os

mecanismos de interação.

As conseqüências diretas sobre os seres humanos, das concentrações dos

contaminantes (de fato, as doses), podem ser expressas através das equações de “probit”

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110

(que são uma forma de apresentação das curvas de dose-resposta), como discutimos no

capítulo 2. As conseqüências diretas sobre o restante dos elementos do meio ambiente

podem ser avaliadas de forma semelhante. O que é necessário conhecer novamente é a

curva de dose-resposta, agora para fauna, flora, ou mesmo para os possíveis danos

materiais e, portanto com conseqüências econômicas. A referência [11] apresenta curvas

de dose-resposta para alguns elementos do ecossistema. Entretanto, dada a grande

variedade e complexidade dos elementos, o estudo dos efeitos toxicológicos sobre os

constituintes do ecossistema encontra-se ainda na sua infância.

Resta, portanto, a determinação dos efeitos adversos indiretos. Como avaliar sobre uma

população A, os efeitos de uma conseqüência danosa sobre uma população B? Questões

dessa natureza podem ser abordadas no âmbito da dinâmica de populações. A dinâmica

de populações, um ramo da ecologia matemática, pretende, através de um conjunto de

equações diferenciais, modelar aspectos essenciais do crescimento de uma população

sujeita a certos recursos. Nessas equações fenomenológicas, que são do tipo reação-

difusão-advecção, os diversos termos presentes são inseridos de forma a pretender

modelar o crescimento populacional e as circunstâncias em que isto se dá. Dessa forma,

pelo menos em princípio, é possível pensar em criar modelos matemáticos que descreva,

ainda que de forma aproximada, o problema mencionado no início deste parágrafo. Esta

questão será discutida na seção 5.4.

Antes de apresentar uma aplicação da metodologia da AQRA a um estudo de caso,

observe-se que qualquer metodologia de análise de risco que pretenda ser um

instrumento de gerenciamento de risco, deve ter associada a ela critérios para a sua

aceitabilidade. Dada a natureza da definição de risco ambiental como freqüência vezes

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111

conseqüência, em AQRA se considera medidas de redução de risco na forma de medidas

de redução de probabilidade/conseqüência.

Para a elaboração de um critério global de aceitação de riscos, nesta dissertação

inspirou-se nas linhas gerais para o estabelecimento de um critério global proposto pela

OLF [39] para derrame de óleo no mar e pela ASTM [30]. Neste caso o critério de

aceitação será apresentado como uma matriz que é baseada em níveis de probabilidade

e conseqüência.

Matriz de Riscos Ambientais

Grande

probabilidade

Significativa

probabilidade

Moderada

probabilidade

Pequena

probabilidade

Probabilidade

muito baixa

Dano ambiental não

demonstrável

Dano

ambiental

menor

Dano

ambiental

moderado

Dano

ambiental

significativo

Dano

ambiental

sério

Risco inaceitável

Região ALARP

Risco aceitável

FIGURA 5.1 – MATRIZ DE RISCO AMBIENTAL

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112

Vamos, preliminarmente, sugerir os seguintes níveis de probabilidade e ocorrência que

nos permitirão elaborar um critério de aceitabilidade de riscos ambientais.

TABELA 5.1: NÍVEIS DE PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA

Níveis Freqüência (número de incidentes por ano)

1 0 – 0,0001 ocorre menos que um incidente por 10.000 anos

2 0,0001 – 0,01 ocorrem incidentes numa taxa de um por 10.000 anos a 1 por 100 anos

3 0,01 – 0,1 ocorrem incidentes numa taxa de um por 100 anos a 1 por 10 anos

4 0,1 – 1 ocorrem incidentes numa taxa de um por 10 anos a 1 por ano

5 1 – ocorrem incidentes com uma freqüência maior que uma vez por ano

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113

TABELA 5.2: NÍVEIS DE CONSEQÜÊNCIAS

NÍVEL CATEGORIA DE DANO AMBIENTAL DESCRIÇÃO DA CATEGORIA DO DANO AMBIENTAL.

1 Dano ambiental não demonstrável Nenhum potencial de dano à saúde humana, segurança ou

receptores ambientais sensíveis – efeitos adversos não

mensuráveis.

2 Dano ambiental menor Pequeno potencial de dano à saúde humana, segurança ou

receptores ambientais sensíveis – efeitos adversos de intensidade

pequena e restritos a alguns poucos elementos do ecossistema e a

recursos naturais.

3 Dano ambiental moderado Moderado potencial de dano à saúde humana, segurança ou

receptores ambientais sensíveis – efeitos adversos de intensidade

moderada a elementos do ecossistema e a recursos naturais;

Tempo de restauração dos impactos ambientais menor que 2 anos.

4 Dano ambiental significativo Significativo potencial de dano à saúde humana, à segurança ou a

receptores ambientais sensíveis – efeitos adversos de intensidade

significativa a elementos do ecossistema e a recursos naturais;

Tempo de restauração dos impactos ambientais entre 2 e 5 anos;

Significativo comprometimento de recursos financeiros necessários

à restauração dos danos;

Áreas de interesse científico afetadas.

5 Dano ambiental sério Altíssimo potencial de dano à saúde humana, à segurança ou a

receptores ambientais sensíveis – efeitos adversos de intensidade

muito elevada a elementos do ecossistema e a recursos naturais;

Tempo de restauração dos danos ambientais superior a 5 anos;

Sério comprometimento da imagem da empresa e aporte volumoso

de recursos necessários à reparação dos danos ambientais;

Efeitos significativos sobre áreas de preservação ambiental.

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114

5.3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA – UM ESTUDO DE CASO

Neste estudo de caso deseja-se mostrar como as avaliações de risco, que se baseiam

nos guias de procedimentos da EPA, podem ser integrados com a metodologia de risco

associado à segurança de operações. Uma AQRA, conforme se viu, requer uma

avaliação das diversas conseqüências de um cenário acidental em todos os elementos do

ecossistema bem como conseqüências de natureza econômica, entre outras. Neste

estudo, entretanto, o meio ambiente limita-se ao ser humano e serão consideradas

apenas conseqüências sobre sua saúde.

Apresenta-se aqui, passo a passo, a metodologia da AQRA discutida na seção anterior

para uma situação muito simples.

• DEFINIÇÃO DO SISTEMA A SER ESTUDADO BEM COMO SUAS FRONTEIRAS

Uma base de armazenamento constando de um único tanque de armazenagem do

composto orgânico tricloroetileno (TCE), de 200m3. O tanque encontra-se no interior de

um dique de contenção de 300 m3. A fundação do tanque é de concreto armado, e o piso

da área do dique é impermeabilizado e possui caimento para canaletas laterais

convergindo para uma só saída, equipada com válvula normalmente fechada, abrindo

para liberar as águas das chuvas. Esta válvula é ligada à rede de coleta de efluentes que,

por sua vez, termina numa estação de tratamento de efluentes industriais (ETI). As águas

tratadas são despejadas num corpo hídrico próximo.

Page 125: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

115

Neste estudo se considera apenas risco ao ser humano, que se localiza ao redor da

instalação analisada e pode ser alcançado por efeitos físicos adversos decorrentes de

liberação acidental de TCE na instalação considerada. Embora o TCE seja uma

substância também inflamável, serão considerados aqui apenas os seus efeitos tóxicos.

A figura 5.2 ilustra, esquematicamente, a área contaminada e o cenário de exposição

residencial considerado

FIGURA 5.2 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ÁREA CONTAMINADA

Fonte: REF.[31].

poço

a) zona não-saturada

b) zona saturada

Fluxo de água subterrânea

Direção predominante do vento

Camada contaminada

Page 126: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

116

• IDENTIFICAÇÃO DOS PERIGOS E DOS CENÁRIOS ACIDENTAIS MAIS RELEVANTES

Os perigos associados à operação dessa base de armazenamento, identificados numa

APP, por exemplo, podem ser pensados como pequena e grande liberação do TCE e as

causas a eles associadas, vazamento ou ruptura do tanque. Os cenários a serem

considerados são contaminação do ar, do solo e da água. A planilha preenchida, que

representa a realização da APP propriamente dita encontra-se ilustrada na figura 5.3.

Page 127: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

117

ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS

SISTEMA: TANQUE DE ARMAZENAGEM CATEGORIAS

PERIGO CAUSAS MODO DE DETECÇÃO

EFEITOS FREQÜÊNCIA SEVERIDADE RISCO

RECOMENDAÇÕES CENÁRIOS

pequena liberação de líquido tóxico - TCE

-vazamento em tanque, válvulas, tubulações, dique de contenção devido a: -corrosão -falha intrínseca -erro humano

-visual Contaminação do ar, do solo e da água

4 3 Região Alarp

R1) Eliminar a fonte de contaminação; R2) Realizar manutenção e inspeções periódicas do sistema de armazenagem, incluindo o tanque, válvulas, bacias de contenção; R3) Treinar os funcionários na operação deste sistema.

1

grande liberação de líquido tóxico - TCE

Ruptura em tanque, válvulas, tubulações, dique de contenção devido a: -corrosão -falha intrínseca -erro humano

-Visual, -olfato

-Contaminação do ar, do solo e da água; -possibilidade de fase livre do contaminante; -possibilidade de formação de atmosfera explosiva no subsolo.

2 5 Região Alarp

R2) Realizar manutenção e inspeções periódicas do sistema de armazenagem, incluindo o tanque, válvulas, bacias de contenção; R3) Treinar os funcionários na operação deste sistema; R4) Elaborar um plano de Ação de Emergência e acioná-lo. R5) Fazer monitoramento de solo e água subterrânea, procedendo remediação se for o caso.

2

FIGURA 5.3 – PLANILHA UTILIZADA PARA A ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS.

Page 128: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

118

• AVALIAÇÃO DAS FREQÜÊNCIAS DE OCORRÊNCIA DOS CENÁRIOS ACIDENTAIS

Os cenários associados ao evento iniciador “Grande Liberação de Líquido Tóxico – TCE,

causada por ruptura catastrófica do tanque de armazenagem” podem ser identificados, e

suas freqüências calculadas, através da seguinte AE:

FIGURA 5.4 – ÁRVORE DE EVENTOS PARA O EVENTO INICIADOR CONSIDERADO

Neste problema hipotético, o sistema de proteção B é constituído de uma ETI e o sistema

de proteção A é constituído de:

• um dique de contenção impermeabilizado cuja capacidade de contenção é

superior ao volume do tanque;

• um ralo contendo uma válvula, normalmente fechada, conectado à rede de coleta

de efluentes que termina numa ETI.

Dessa forma simplificada os cenários acidentais identificados e que contribuirão para o

cálculo do risco são o cenário de número 2 – contaminação do corpo hídrico e o cenário

Eve nt o inic iador S ist ema de prot eç ão A S ist ema de prot e ção B Ce ná rios

Rupt ura c a t a st rófica S uc esso do sist cole t a e S uc esso sist t ra t a me nt o Ident if ic a çã o dosdo t q de a rma zenagem drenagem do cont aminan dos e f lue nt e s indust r ia is Ce ná rios

1 da no despre z í ve l

2 c ont amina çã o de c orpos hí dric os

3 Cont a minaç ão solo, a t mosfe ra e corpos

hí dric os

Page 129: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

119

de número 3 – contaminação do solo, contaminação do ar e contaminação do corpo

hídrico.

A determinação da freqüência de ocorrência de cada cenário acidental é feita

multiplicando-se a freqüência de ocorrência do evento iniciador – neste caso ruptura

catastrófica do tanque de armazenagem – e as respectivas probabilidades condicionais

presentes em cada ramo da AE.

A determinação da freqüência de ocorrência do evento iniciador pode ser feita através de

consulta de banco de dados de falhas de equipamentos [23]. Tipicamente, para ruptura

catastrófica do tanque de armazenagem, podemos usar o valor 1,0 x 10-6 falhas/ano Para

a determinação da freqüência de falha do sistema de proteção A podemos usar a técnica

da AF. Neste caso o evento topo é a “Falha no sistema de coleta e drenagem do

contaminante” e a árvore encontra-se ilustrada na figura 5.4:

FIGURA 5.5: ÁRVORE DE FALHA DO SISTEMA DE COLETA E DRENAGEM

Falha do sistema de proteção A

Falha do sistema de coleta

Falha do sistemade drenagem

Falha da válvula em abrir

Falha de ruptura nas linhas

Page 130: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

120

Para determinar a probabilidade do evento topo, ou seja, a probabilidade de falha do

sistema de proteção A, devemos compor as probabilidades associadas aos vários

eventos intermediários presentes na AF. Tal composição, como vimos no capítulo 2,

deverá estar de acordo com as regras associadas a cada conexão lógica. No exemplo

acima, a única conexão lógica presente é a conexão “ou” e para ela vimos que a regra de

composição de probabilidades para dois eventos independentes é P(C) = P(A) + P(B) –

P(A)P(B). P(C) é a probabilidade de falha do sistema de drenagem, P(A) é a

probabilidade de falha da válvula em abrir e P(B) é a probabilidade associada à ruptura

das linhas da rede de coleta de efluentes.

Os bancos de dados fornecem a freqüência de falha de componentes e equipamentos, e

não probabilidades de falha. Para se determinar a probabilidade, uma possibilidade é usar

a indisponibilidade do componente. Se considerarmos os componentes do tipo

irreversíveis, isto é, componentes irreparáveis segundo a mudança de estado a que estão

sujeitos, podemos considerar a indisponibilidade média como uma medida da desejada

probabilidade. Se além disso considerarmos λT < 0,1 podemos usar a equação 2.23 para

a indisponibilidade média: TAmed λ21

= . Aqui, λ é a taxa de falha encontrada no banco de

dados e T é o período de tempo para o qual se deseja investigar a indisponibilidade.

Portanto, se considerarmos a taxa de falha da válvula como sendo 3,0 x 10-5 falhas/ano

[23] e a taxa de falha de 100 metros de tubulação de 4” como sendo também 3,0 x 10-5

falhas/ano [17] e se considerarmos o período de investigação da indisponibilidade como

sendo T = 1 ano teremos

Page 131: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

121

52

555 103100,321100,3

21100,3

21)( −−−− ≅

−+= xxxxxxxCP

Para fins de ilustração, vamos supor que a probabilidade de falha do sistema de coleta e

drenagem, P(D), é 1,0 x 10-7. A taxa de falha de sistemas dessa natureza, em principio,

pode ser determinada a partir de dados históricos relacionados a falhas de sistemas como

esse, em condições semelhantes. Portanto, aplicando uma vez mais a composição de

probabilidades para a conexão lógica “ou” encontraremos que a probabilidade do evento

topo é:

P(Falha do sistema de Proteção A) = ( )( ) 55757 1001,3100,3100,1100,3100,1 −−−−− ≅−+ xxxxx .

Novamente, se considerarmos para fins de ilustração a probabilidade de falha do sistema

de proteção B como sendo P(Falha do sistema de proteção B) = 2,0 x 10- 4 (falhas/ano),

poderemos finalmente calcular as freqüências dos cenários acidentais identificados na AE

acima. Assim teremos:

f(cen 2) = f(EI) x P(Falha sist prot A) = (1,0 x 10-6)(3,01 x 10-5) ≅ 3,01 x 10-11 (ano-1);

f(cen 3) = f(EI) x P(Sucesso sist prot A) x P(Falha sist de proteção B)

= f(EI) x (1-P(Falha sist prot A)) x P(Falha sist prot B).

= (1,0 x 10-6)(1-3,01 x 10-5)(2,0 x 10-4) ≅ 2,0 x 10-10 (ano-1).

Page 132: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

122

• AVALIAÇÃO DAS CONSEQÜÊNCIAS E VULNERABILIDADE

No contexto da metodologia discutida no capítulo 2, a análise de conseqüências avalia os

níveis dos efeitos físicos danosos, em áreas de interesse, associados aos cenários

acidentais postulados. No presente caso, o efeito físico em questão é uma pluma de

contaminante (TCE) em solo, ar e água e os níveis do efeito físico, em áreas de interesse,

correspondem às concentrações do contaminante nos diversos extratos.

Portanto, para a determinação das conseqüências devem-se formular modelos que

descrevam a evolução da pluma em cada um dos extratos considerados. Como se viu no

capítulo 3, existem vários programas comerciais que executam várias tarefas e dentre

elas a determinação de valores de concentração em função da posição e do tempo. Nesta

dissertação optou-se por usar o SoilRisk, que foi detalhadamente discutido no capítulo 3.

De fato o caso estudado aqui, é uma adaptação de um estudo de caso apresentado na

referência [31] onde se estabeleceu o SoilRisk.

A seguir, apresenta-se os valores assumidos para os parâmetros que alimentam o

programa. Apresentam-se também os resultados das estimativas realizadas pelo SoilRisk.

Page 133: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

123

TABELA 5.1: PARÂMETROS DE ENTRADA

Parâmetro Valor Parâmetro Valor Parâmetro Valor

C´τ0

Concentração inicial total

do contaminante

1 µg/g Tair

Temperatura do ar

120C fvol

fração do contaminante

que volatiliza

0,9

W

Espessura da camada

contaminada

1 m Ū

Velocidade do vento na

superfície

4,3 m/s KH

Coeficiente da lei de

Henry

0,410

L

Profundidade da camada

de solo limpo sobre o

solo contaminado

0 m f(φ)

freqüência do vento na

direção de exposição

0,13 Tb

Ponto de ebulição

87,200C

Ay

Extensão ortogonal ao

fluxo de água

subterrânea

100 m U+

Velocidade máxima do

vento

24 m/s Tc

Temperatura crítica

270,950C

Ax

Extensão paralela ao

fluxo de água

subterrânea

100 m PE

Índice de evaporação e

precipitação

111 Pc

Pressão crítica

49,54 atm

zwt

Profundidade da

superfície até o lençol

1,5 m P

Número médio de

dias/ano com

precipitação >0,01 pol.

130 d/y B

Constante de Antoine

13150C

H

Altura do aqüífero abaixo

da área contaminada

10 m Asdm

Modo de distribuição de

tamanho agregado

1 C

Constante de Antoine

230,050C

ρb=ρbsat

Densidade do interior do

solo

1,59 g/cm3 Lc

Razão entre rugosidade

e área

10-4 V´B

Volume molar LeBas

87,9 cm3/mol

foc=focsat

fração orgânica

0,0075 V

Fração da superfície

coberta pela vegetação

0 MW

Peso molecular

131,40

Jw

Fluxo de água no solo

10-3 m/g z0

Comprimento de

rugosidade

100 cm SFing

Fração de inclinação

para ingestão

0,011 Kgd/mg

θ

Conteúdo volumétrico de

água

0,18 S

Conteúdo de silt

50 SFinh

Fração de inclinação

para inalação

0,006Kg-d/mg

ηsat

porosidade efetiva

0,40 τ=τsat

Meia vida efetiva

4,7 x 108 Abing

Fração de absorção por

ingestão

1,0

αL

dispersividade lateral

4 m Koc

Coeficiente de partição

de equilíbrio

124 cm3/g Absi

Fração de absorção por

inalação

1,0

Vd

Velocidade de Darcy

0,03 m/d S

Solubilidade aquosa

1080 g/cm3

Abd

Fração de absorção por

contato dermal

0,50 Abdst

Fração de absorção por

inalação de particulado

0,75

Fonte: REF.[31]

Page 134: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

124

TABELA 5.2 - RESULTADOS DAS ESTIMATIVAS REALIZADAS PELO SOILRISK

Cenários de Exposição

Símbolo Unidade Dentro da

residência

Fora da

residência

Local de

recreação

Dentro de

comércios e

escritórios

Parâmetros chave de exposição

Distância da fonte m 0 100 0 0

Tempo de

exposição

d 10,950 10,950 10,950 9,125

Estimativas médias de concentração do contaminante

Concentração total

de interesse no

solo para contato

direto

µg/g 2,1 x 10-3 Não se aplica 2,1 x 10-3 2,5 x 10-3

Concentração de

interesse para

criança

µg/g 1,0 x 10-2 Não se aplica 1,0 x 10-2 Não se aplica

Concentração de

interesse para

adulto

µg/g 0 Não se aplica 0 2,5 x 10-3

Concentração de

vapores no ar

g/m3 1,6 x 10-8 1,8 x 10-9 1,6 x 10-8 1,9 x 10-8

Concentração em

água

g/m3 4,6 x 10-2 4,5 x 10-2 4,6 x 10-2 5,5 x 10-2

Concentração de

particulado no ar

µg/m3 9,5 x 10-7 Não se aplica 9,5 x 10-7 1,7 x 10-6

Fonte: REF.[31]

Page 135: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

125

O outro passo em direção ao cálculo do risco nesta abordagem de AQRA, é a análise de

vulnerabilidade que indica a parcela do recurso que sofrerá um tipo particular de dano, por

exemplo, fatalidade. Ou então a probabilidade de uma pessoa vir a morrer em decorrência

de um dado cenário acidental. É justamente esta informação que modelos como RBCA e

SoilRisk fornecem como resultado de suas avaliações. Portanto, o passo seguinte nesta

metodologia de integração de AQRA é considerar a saída destes modelos (e neste estudo

consideramos o SoilRisk) como a probabilidade de interesse. Ou seja, especificamente no

caso do SoilRisk, o caso em estudo apresenta os resultados exibidos na tabela 5.3 de

probabilidades de fatalidades, para as diversas vias de exposição consideradas.

TABELA 5.3 - RESULTADOS DAS ESTIMATIVAS DAS PROBABILIDADES DE

FATALIDADES REALIZADAS PELO SOILRISK.

Cenários de Exposição

Símbolo Dentro da

residência

Fora da

residência

Local de

recreação

Dentro de

comércios e

escritórios

Ppw 5,9 x 10-6 5,8 x 10-6 1,7 x 10-7 2,1 x 10-6

Psi 1,2 x 1010 Não se aplica 3,5 x 10-11 4,8 x 10-12

Pderm 5,8 x 10-10 Não se aplica 1,6 x 10-10 4,1 x 10-10

Pair 8,2 x 10-9 9,4 x 10-10 2,6 x 10-10 7,9 x 10-9

Psg 7,5 x 10-6 Não se aplica Não se aplica Não se aplica

Pnc 4,6 x 10-5 4,6 x 10-5 Não se aplica Não se aplica

Pdust 5,0 x 10-13 Não se aplica 1,6 x 10-14 7,0 x 10-13

Ptotal 6,0 x 10-5 5,1 x 10-5 1,7 x 10-7 2,1 x 10-6

Fonte: REF.[31]

Page 136: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

126

No cenário 2 temos contaminação apenas do corpo hídrico. Neste caso as rotas de

exposição consideradas são: ingestão de água potável (pw) e inalação de vapores

contaminados provenientes da volatilização do contaminante na superfície do aquífero

(air). Para a primeira rota, o modelo SoilRisk avaliou a probabilidade de fatalidade como

sendo Ppw = 5,9 x 10-6 e para a segunda rota, Pair = 8,2 x 10-9. Portanto, a probabilidade de

fatalidade associada a este cenário é:

P(cen2) = Ppw + Pair ≅ 5,9 x 10-6.

No cenário 3 temos contaminação do solo, do ar e do corpo hídrico. As rotas

consideradas aqui são todas as rotas possíveis, isto é, além das presentes no cenário 2

teremos também: ingestão de solo (si); absorção pela pele devido ao contato direto com o

solo (derm); inalação de vapores contaminados provenientes de água não potável

também contaminada (nc); evaporação de parte do contaminante que está no interior do

solo (sg) e inalação de poeira contaminada (dust). Neste caso o SoilRisk fornece os

seguintes resultados: Ppw = 5,9 x 10-6; Psi = 1,2 x 10-10; Pderm = 5,8 x 10-10; Pair = 8,2 x 10-9;

Psg = 7,5 x 10-6; Pnc = 4,6 x 10-5; Pdust = 5,0 x 10-13. Portanto, a probabilidade de fatalidade

associada a este cenário é:

P(cen3) = Ppw + Psi + Pderm + Pair + Psg + Pnc + Pdust ≅ 5,94 x 10-5.

Page 137: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

127

• AVALIAÇÃO DOS RISCOS

Finalmente, para se calcular o risco num dado ponto deve-se calcular a contribuição de

cada cenário, neste ponto, e então somar todas as contribuições.

A contribuição de cada cenário ao risco num dado ponto, como vimos no capítulo 2, é o

produto da freqüência de ocorrência deste cenário acidental pela respectiva

conseqüência. E como, de acordo com a metodologia de AQRA proposta, a

conseqüência, expressa como a probabilidade de fatalidade (“risco integrado”, no caso

dos modelos SoilRisk , RBCA e outros), é definida como a saída destes modelos, a

contribuição de cada cenário ao risco individual é:

Cenário 2

R(cen2) = f(cen2) x P(cen2) = 3,01 x 10-11 x 5,9 x 10-6 = 1,77 x 10-17 fatalidades/ano.

Cenário 3

R(cen3) = f(cen3) x P(cen3) = 2,0 x 10-10 x 5,94 x 10-5 = 1,19 x 10-14 fatalidades/ano

Portanto, o risco individual total no ponto considerado é:

RI = R(cen2) + R(cen3) = 1,77 x 10-17 + 1,19 x 10-14 ≅ 1,191 x 10 –14 fatalidades/ano.

Page 138: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

128

Este é o risco de fatalidade a que um indivíduo está exposto como conseqüência do

cenário acidental, cujo evento iniciador é a “Grande liberação de líquido tóxico – TCE,

causado por ruptura catastrófica do tanque de armazenagem”.

Assim, nesta definição de risco fica evidente a presença da consideração de falhas de

equipamentos e sistemas. Se fosse possível que estes nunca falhassem, o risco,

portanto, associado à segurança de operações industriais seria nulo.

Esta situação é claramente diferente daquela que considera o risco ao ser humano

(probabilidade de morte), devido ao lançamento de defensivo agrícola num dada área de

agricultura.

Nos casos onde a possibilidade da presença de contaminante, em solo, água e ar, estiver

associada a sua liberação acidental, uma análise quantitativa de riscos ambientais deve

considerar uma análise de confiabilidade dos diversos elementos de contenção e de

segurança envolvidos.

5.4 APLICAÇÃO DA DINÂMICA DE POPULAÇÕES À ANÁLISE DE

VULNERABILIDADE EM AQRA

A dinâmica de populações, abordada no capítulo 4, se apresenta como uma ferramenta

interessante para tratar diversos problemas em ecologia, em particular aqueles que se

relacionam com a evolução de populações e ecossistemas em geral, submetidos às mais

variadas condições externas e que, portanto, podem produzir alterações na estrutura e

função das comunidades bióticas.

Page 139: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

129

Um exemplo de tal aplicação se relaciona à questão colocada no início da seção 5.2, isto

é, como avaliar sobre uma população A, os efeitos de uma conseqüência danosa sobre

uma população B? Um problema mais simples, mas relacionado com este é o do

predador-presa onde os indivíduos de uma espécie A se alimentam de indivíduos de uma

espécie B. Um modelo que aborda com sucesso essa questão é o modelo de Lotka-

Volterra.

De interesse particular nesta dissertação, estão os problemas associados à presença,

persistente e prolongada, de substâncias químicas no solo, no ar e em corpos hídricos.

Para se abordar problemas dessa natureza, é necessário criar um modelo que seja capaz

de descrever, pelo menos, os aspectos essenciais da interação entre a população e o

contaminante. Não se pretende descrever os aspectos toxicológicos, mas sim o efeito de

um agente tóxico sobre a estrutura de uma população em desenvolvimento. Por exemplo,

pode-se perguntar em que medida tal contaminante afeta o desenvolvimento dessa

população.

Num caso simples onde uma população se desenvolve segundo a equação de Malthus-

Verhulst, pode-se perguntar qual o percentual da população que será afetada, ou mais

particularmente, irá desaparecer como conseqüência deste agente tóxico (em relação ao

número de indivíduos da população na ausência deste agente).

Assim, um modelo minimamente representativo da ação coletiva do agente tóxico deverá

conter as seguintes informações:

Page 140: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

130

a) Na ausência do agente tóxico a população se desenvolve segundo a equação de

Malthus-Verhulst;

b) Para um dado nível do efeito adverso, quanto maior a população, maior a sua taxa

de decréscimo;

c) Para uma dada quantidade da população, quanto mais intenso for o efeito

adverso, maior será a taxa de fatalidade.

Por outro lado, como se viu no capítulo 4 os efeitos prejudiciais de uma espécie sobre

outra podem ser representados, na equação que determina a dinâmica da população, por

um termo aditivo proporcional ao produto das duas populações.

Portanto, considerando-se as observações a, b e c acima e considerando-se também a

forma de se introduzir efeitos adversos sobre uma dada população descrita no parágrafo

anterior conclui-se que um modelo de interesse plausível é descrito pela equação:

( ) CNNNdbdtdN αγ −−−= 2 5.1

o parâmetro α denota a intensidade mínima do efeito físico considerado, que é capaz de

causar um tipo particular de dano em indivíduos de uma dada espécie. O termo αC pode

ser interpretado como o nível de intensidade do efeito físico considerado que está

atuando na população.

Assim, por exemplo, se o efeito físico considerado for uma pluma de contaminante, o

parâmetro α é a concentração que tem 1% de chance de provocar fatalidade num

indivíduo, por exemplo. Se o efeito físico for um incêndio numa poça de uma substância

Page 141: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

131

inflamável, o parâmetro α é a intensidade da radiação térmica que tem 1% de chance de

provocar fatalidade num indivíduo, por exemplo.

A equação 5.1 acima é uma equação simples. Nota-se que o termo cruzado, isto é, o

termo contendo o produto da população e do agente tóxico é linear na população. Assim

sendo, este termo pode ser incorporado no primeiro termo, também linear, da equação de

Malthus-Verhulst. Portanto a equação final é do tipo Malthus-Verhulst, tendo de diferente

a presença de um outro termo que contribui com a taxa de fatalidade. Logo, pode-se

pensar que a presença do agente tóxico na forma que foi introduzido tem como

conseqüência formal uma renormalização na taxa de fatalidade associada à equação

original de Malthus-Verhulst.

Sendo assim, a solução da nova equação é imediata e é representada por:

[ ]( ) CdbCN αγγ1

−−

= 5.2

O número acima indica o número de indivíduos da população na presença do efeito

adverso.

A razão N([C])/N([C=0]) dá a fração de indivíduos que irão sobreviver e o seu

complementar é, portanto, a fração daqueles que morrerão. Desta forma a probabilidade

de fatalidade, ou seja, a quantidade do recurso que é vulnerável, na linguagem da AQRA

se calcula como:

Page 142: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

132

γα

γ

γα

Cdb

Cdb

NCNPf −=

−−== 1)(

5.3

Não se teve nesta dissertação, a pretensão de explorar com detalhes as possibilidades e

as dificuldades de abordagens usando dinâmica de populações. Ao invés disso,

pretendeu-se apenas chamar a atenção para a possibilidade de seu emprego como uma

ferramenta possível de se incorporar numa complexa Análise Quantitativa de Riscos

Ambientais.

Page 143: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

133

6 CONCLUSÕES

Neste trabalho foi proposta uma integração da metodologia de risco desenvolvida para

avaliar a performance global de segurança em plantas nucleares e químicas, com as

metodologias desenvolvidas para avaliar o potencial dos efeitos adversos de substâncias

químicas perigosas, em seres humanos e demais elementos do ecossistema.

A integração em questão se aplica àquelas situações onde é possível focar na segurança

de operações quer sejam elas relacionadas à produção, ao armazenamento ou à

manipulação de substâncias químicas perigosas.

Nestes casos, sugeriu-se que o risco fosse compreendido como a combinação da

conseqüência do cenário acidental, com a sua respectiva freqüência de ocorrência.

Assim, na metodologia de AQRA proposta, as freqüências de ocorrências dos cenários

acidentais são calculadas usando-se ferramentas de engenharia de confiabilidade. Por

outro lado, interpretando-se os resultados de modelos de análise de risco do tipo RBCA,

SoilRisk entre outros do gênero não como risco, mas sim como probabilidade de

fatalidade, por exemplo, estes fornecem, dessa forma, as denominadas conseqüências. E

o risco, portanto, obtém-se multiplicando a freqüência pela respectiva conseqüência.

Desta forma, este valor do risco assim obtido expressa a probabilidade de um indivíduo vir

a morrer como conseqüência de um cenário acidental, que pode ocorrer com uma dada

probabilidade.

Page 144: Folha de Rosto1 - coc.ufrj.br

134

Assim, nesta definição de risco, fica evidente a presença da consideração de falhas de

equipamentos e sistemas. Se fosse possível que estes nunca falhassem, o risco,

portanto, associado à segurança de operações industriais seria nulo.

Esta situação é claramente diferente daquela que considera o risco ao ser humano

(probabilidade de morte) ou ao meio ambiente, devido ao lançamento de defensivo

agrícola num dada área de agricultura.

Portanto, considera-se que este conceito de risco e a associada metodologia de AQRA

proposta se constituem numa poderosa ferramenta para o gerenciamento de riscos

ambientais.

Embora os conceitos tenham sido exemplificados, nesta dissertação, num único exemplo

em que várias simplificações foram consideradas, considera-se que a metodologia possa

ser empregada numa situação geral, considerando-se os diversos elementos que

compõem o meio ambiente, bem como suas inter-relações.

Uma avaliação completa dessa natureza é tarefa extraordinariamente complexa e

extremamente trabalhosa. Ela exige a formulação de modelos de conseqüência e

vulnerabilidade que sejam capazes, minimamente, de prever os danos de natureza

econômica, ecológicos e sócio-culturais.

Neste contexto, num caso simples onde uma população se desenvolve segundo a

equação de Malthus-Verhulst, mostrou-se como os elementos de dinâmica populacional

podem ser usados na construção de modelos para simular as conseqüências da presença

de um agente tóxico, sobre uma dada população.

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Estas considerações não tiveram a pretensão de explorar com detalhes as possibilidades

e as dificuldades de abordagens usando dinâmica de populações. Ao invés disso,

pretendeu-se apenas chamar a atenção para a possibilidade de seu emprego como uma

ferramenta possível de se incorporar numa complexa Análise Quantitativa de Riscos

Ambientais.

Para finalizar, ressalta-se os seguintes pontos como possíveis benefícios de uma AQRA:

• Permite identificar sistematicamente todos os riscos ao meio;

• Permite quantificar os riscos;

• Possibilita priorizar de forma objetiva as fontes de risco bem como as medidas

para sua redução, elemento fundamental para o gerenciamento de risco;

• Permite comparar diversos critérios padrão de aceitação ou mesmo escolher

dentre diferentes opções de projeto as de menor risco ambiental;

• Possibilita um gerenciamento pró-ativo do risco financeiro, risco à imagem pública

do empreendimento e, do risco ao negócio associado a dano ambiental.

Para a consolidação da metodologia proposta, devem se realizados estudos

complementares nos vários elementos que a compõem. Duas questões importantes que

já tem merecido nossa atenção e cujas discussões pretendemos apresentar brevemente

são: 1) a utilização de modelos de dinâmica de populações aplicados ao estudo de casos

onde são conhecidos, entre outros, os parâmetros toxicológicos (α) de uma população

específica; 2) uma contribuição ao estabelecimento de um critério quantitativo de

tolerabilidade de riscos ambientais.

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136

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