8

Folha de sala "Cicatriz"

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Espetáculo do Trigo Limpo teatro ACERT

Citation preview

A ESCRITA DE CICATRIZ

FOTO

DE

RICA

RDO

CHAV

ES®

A proposta do Trigo Limpo visava produzir um texto a partir de certa tradi-ção humorística lusófona, nomeadamente do universo satírico de autores como Millôr Fernandes e Santos Fernando. Foi com prazer que encetei o diálogo com estes dois livre-atiradores do humor inteligente para procurar o fio da meada e dar argumento a uma sátira do momento actual. A lógicaficou clara: deduzir do absurdo todas as consequências pertinentes. Masqual — perguntava eu a estes dois clássicos do escárnio e do maldizer — po-derá ser o absurdo agora mesmo? Embora eu, ao contrário daquele santovarão, sempre me equivoque e frequentemente tenha dúvidas, acho quea resposta é evidente: o absurdo é a dívida. Equivocado ou não, foi comesta premissa que tratei de resolver a equação do texto e dar resposta aodesafio colocado pelo Trigo Limpo. O resultado só o público pode julgar.Mas enquanto o público julga, é possível que algumas gargalhadas possam vir a pagar parte da dívida em que todos estamos comprometidos, pois,certamente, o riso é a única moeda que ainda nos resta nos bolsos.De resto, foi um luxo trabalhar de novo com o Trigo Limpo e a sua fantástica equipa humana. Com eles nunca é possível criar sem rede, como os acro-batas, pois há sempre lá em baixo aquela malha de afectos que segura anossa alma. E isso, para um gajo com tendência a cair a qualquer momento, dá muito jeito.

Carlos SantiagoAutor do texto

FOTO

DE

RICA

RDO

CHAV

ES®

AINDA BEM QUE PODEMOS CONTINUAR A BRINCAR COM COISAS SÉRIAS…

A criação de um espectáculo teatral pressupõe o cruzamento de um con-junto de factores de que o teatro se alimenta. Esta produção comprova isso mesmo. Rejuvenesce a matriz de um grupo que, ao longo de 39 anos, ganhou maturidade na sua relação com outras significativas companhias teatrais, criadores de várias áreas artísticas, entusiastas, pessoas que inves-tem saberes e vontades, artífices de empresas locais que ganharam predi-cados teatrais especializados.

QUE MAIS SE PODE QUERER?

Um dramaturgo escrevendo no aconchego da progressão dos ensaios em namoros galaico-portugueses com encenação.A inspiração de autores humorísticos da nossa predileção.Um elenco de destemidos intérpretes com um espírito de exigência inven-tiva do tipo “se um diz mata, outro diz esfola”, reduzindo a encenação a guia de talentos.Uma cenografia de códigos feiticeiros com a marca distintiva de limpo tri-gueiro.Uma musical partitura vocal exaltante e operativamente cénica.Uma concepção de figurinos sem bitola pré-existente.Um desenho de luz e sonoplastia com patente consanguínea.Ilusionismo despretensioso.Um trabalho de equipa que faz do teatro_ a arte de conjugação de inquie-tações, saberes e interajudas. Assistência de ensaios cúmplice, aferindo intenções.Carpintaria, costura, sapataria, estufagem, adereços engenhosos e fotogra-fia da mestria dos saberes locais, demonstrando que a produção artística pode revelar-se um factor de desenvolvimento da economia local, com-provando a utilidade da reconversão pela Câmara Municipal de Tondela, do antigo Cine-Tejá em Oficina de Artes Criativas.

ESTE ESPECTÁCULO REVELA DENTADAS FELINAS QUE NOS MORDISCAM INCESSANTEMENTE

Esta “CICATRIZ” é resultado da lesão que uma vontade determina sem se conhecer quando e como ficará curada. A cicatrização deixa sinais estéticos que, na maior parte das vezes, têm mais impacto para quem observa do que para quem está sarado. É este o nosso desejo. Cabe ao público certificá-lo.Se, como disse Mestre Charlie Chaplin, “o impossível é o possível que nunca foi tentado” e se só “chega quem caminha”, eis-nos perante uma cicatriz que expomos sem traumas, pelo prazer que nos deu a sará-la sem receita. Este espectáculo revela dentadas felinas que nos mordiscam incessante-mente, consentindo que os espectadores se horrorizem ou trocem das nos-sas/suas feridas que, por tão vulgares, estão ao alcance de todos os que se enovelam nas bem-aventuranças do estado do bem-estar social.

FOTO

DE

CARL

OS T

ELES

®

CABE AO TEATRO REGENERAR CARTILAGENS PARA CICATRIZAÇÕES EFICAZES?

Cabe ao teatro pagar juros indevidos pelos empréstimos que a cruel reali-dade lhe concede?Cabe ao teatro explorar o humor e o absurdo que têm por missão fazer do riso uma coisa séria?Cabe ao teatro simplificar o complicado, de forma a que o sorriso não se confine à gargalhada, mas ao sortilégio emotivo que aciona o pensamento?Serão o humor e a sátira essas coisas tão próximas do cliché e do estereó-tipo e tão distante da interpretação criteriosa e mágica que não resvalem para a gratuitidade?Não será o absurdo uma forma imaginosa de piscar o olho à realidade e nunca a aceitar matrimonialmente?Todas estas interrogações nos surgiram ao longo do processo criativo, não tendo obtido para elas respostas rigorosas. Ainda bem, pois que seria da arte se fosse uma ciência exacta?... Ainda bem que o riso não se pode aper-feiçoar por ser indomesticável e que continuamos a poder brincar com coi-sas sérias.

SARAVÁ, CARLOS SANTIAGO, MILLÔR FERNANDES E SANTOS FERNANDO

A nossa gratidão a dois autores, cujas obras acalentaram o nosso inicial entusiasmo, permitindo o acasalamento com Carlos Santiago, nosso dra-maturgo galego: Millôr Fernandes (Rio de Janeiro, 1923-2012) e Santos Fernando (Lisboa, 1927-1975), humorista português com uma vasta obra, infelizmente tão pouco conhecida dos leitores. Os seus livros, com ampla difusão no Brasil e esgotados em Portugal, exigem reedição pela importân-cia que reveste no panorama da literatura portuguesa de humor e absurdo do século XX.

José Rui MartinsEncenadorFO

TO D

E CA

RLOS

TEL

ES®

UM AFECTOHá dois tipos de discurso. O pequeno e o grande. O pequeno é obrigado. O grande é muito obrigado.Raul SolnadoFO

TO D

E RI

CARD

O CH

AVES

®

TRIGO LIMPO TEATRO ACERT Rua Dr. Ricardo Mota, 18; 3460-613 Tondelawww.acert.pt/trigolimpo

ESTRUTURA FINANCIADA POR

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA Espetáculo do Trigo Limpo teatro ACERT

texto: Carlos Santiago encenação: José Rui Martinsassistência aos ensaios: Pompeu José e Sandra Santosinterpretação: António Rebelo, João Silva, Pedro Sousa e Raquel Costa

cenografia: Zétavares e Pompeu Josédesenho de luz e sonoplastia: Luís Viegas e Paulo Netodesenho sonoro: Luísa Vieira e Rui Lúciofigurinos: Adriana Venturacostureira: Adília Ventura

carpintaria: Carmosserra / sapataria: Acácio Pereira – Super Rápidoestofador: José Carlos Correia - Tondelestofos / consultoria de ilusionismo: José Pereira / engenhos de adereços: Manuel Matos Silva / desenho gráfico: Zétavaves / fotografia: Carlos Teles e Ricardo Chaves / produção: Marta Costaapoio à produção: António Gonçalves e Rui Coimbra

Texto inspirado na obra humorística de Millôr Fernandes e Santos Fernando

104.ª Produção / Classificação: M/12 anos / Duração: 90 MinEstreia 13 de Fevereiro de 2015