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Carreira Foram apontados como futuros líderes empresariais. Quase cinco anos depois, fomos ver o que estão a fazer Onde param os talentos da gestão portuguesa? Textos JOANA MADEIRA PEREIRA Sabe o que sinto às vezes?", pergunta Rui Teixeira, do outro lado da linha. "Imagi- ne que está a conduzir um carro de rali, numa estra- da difícil, cheia de curvas, no meio da montanha. E está a chover. Imagine também que tem uma ven- da nos olhos e, a auxiliá-lo na condução, um auricular pelo qual vai recebendo men- sagens e coordenadas inconsistentes. É nesta situação que eu considero que os mercados financeiros estão a deixar os ges- tores. Os desafios que temos pela frente são imensos", detalha o administrador fi- nanceiro da EDP Renováveis, a partir de Madrid, onde passa a semana, em traba- lho. A incerteza assolou, nos últimos anos, o dia a dia da gestão. quatro anos e al- guns meses, nenhum dos 13 gestores que aqui apresentamos, sonhava com a turbu- lência que fez e faz — tremer o mundo das organizações. Nessa altura, quando fo- ram indicados pelo Expresso como as pro- messas da gestão portuguesa não conse- guiam adivinhar a queda do Lehman Bro- thers nem a catástrofe financeira que tal evento precipitou nem mesmo António Coutinho que, ao serviço da EDP, trabalha- va nos Estados Unidos por esses dias e re- gressou a Portugal, em 2010, para assumir uma posição de topo na elétrica portugue- sa. Muito menos esperavam que o seu país PROMESSAS DA GESTÃO Em junho de 2007, foram indicados pelo Expresso, após a seleção feita por duas empresas de caça talentos, como os gestores mais capazes para assumir a renovação das lideranças nas grandes empresas, em Portugal. Tinham entre 28 e 38 anos e pressa de chegar ao topo. Hoje, dizem-se mais realistas

fomos fazer o ver estão Onde param os talentos da gestão ... · tivesse de recorrer a um resgate e o futuro do curo estivesse, agora, em discussão. E, no entanto, fizeram o seu

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Page 1: fomos fazer o ver estão Onde param os talentos da gestão ... · tivesse de recorrer a um resgate e o futuro do curo estivesse, agora, em discussão. E, no entanto, fizeram o seu

Carreira Foram apontados como futuroslíderes empresariais. Quase cinco anos depois,fomos ver o que estão a fazer

Onde paramos talentosda gestãoportuguesa?

Textos JOANA MADEIRA PEREIRA

Sabe

o que sinto às vezes?",

pergunta Rui Teixeira, do

outro lado da linha. "Imagi-ne que está a conduzir umcarro de rali, numa estra-da difícil, cheia de curvas,no meio da montanha. Eestá a chover. Imaginetambém que tem uma ven-

da nos olhos e, a auxiliá-lo na condução,um auricular pelo qual vai recebendo men-sagens e coordenadas inconsistentes. Énesta situação que eu considero que os

mercados financeiros estão a deixar os ges-tores. Os desafios que temos pela frentesão imensos", detalha o administrador fi-nanceiro da EDP Renováveis, a partir deMadrid, onde passa a semana, em traba-lho.

A incerteza assolou, nos últimos anos, odia a dia da gestão. Há quatro anos e al-

guns meses, nenhum dos 13 gestores queaqui apresentamos, sonhava com a turbu-lência que fez — e faz — tremer o mundodas organizações. Nessa altura, quando fo-ram indicados pelo Expresso como as pro-messas da gestão portuguesa não conse-

guiam adivinhar a queda do Lehman Bro-thers nem a catástrofe financeira que talevento precipitou — nem mesmo AntónioCoutinho que, ao serviço da EDP, trabalha-va nos Estados Unidos por esses dias e re-gressou a Portugal, em 2010, para assumiruma posição de topo na elétrica portugue-sa. Muito menos esperavam que o seu país

PROMESSASDA GESTÃOEm junho de 2007, foramindicados pelo Expresso,após a seleção feita

por duas empresasde caça talentos, comoos gestores mais capazespara assumir a renovaçãodas lideranças nas grandes empresas,em Portugal.Tinham entre 28 e 38 anose pressa de chegar ao topo.Hoje, dizem-semais realistas

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tivesse de recorrer a um resgate e o futurodo curo estivesse, agora, em discussão. E,no entanto, fizeram o seu caminho e pro-grediram na carreira.

Em 2007, Rui Teixeira já fazia parte daalta direção da EDP, como responsável pe-la área de planeamento corporativo e con-trolo da gestão. Trabalhava no centro de

Lisboa, no Marquês de Pombal e, todos os

dias, levava as três filhas à escola. Agora,está fora de segunda a sexta e, no regressoa casa, aos fins de semana, dedica-se a100% à família. "Quem corre por gostonão se cansa", diz, como se fosse fácil expli-car o equilíbrio periclitante em que cons-trói a sua vida e justificar, ao mesmo tem-

po, o título que lhe atribuíram, em Espa-nha — melhor administrador financeiro pa-ra o mercado ibérico.

"Nunca outra geração de gestores pas-sou por nada igual. Claro que o exercícioda gestão tem princípios imutáveis, mas os

nossos desafios agora são outros", diz João

de Mello Franco, com o pelouro do marke-

ting no BES e que ascendeu ao patamar deassessor da administração — o que lhe dá a

oportunidade de ser administrador de em-presas participadas pelo banco. Os 13 ges-tores interpelados (Gonçalo Pascoal, do

BCP, e Ricardo Bastos Salgado, do BES,também entrevistados em 2007, preferi-ram não falar sobre a progressão nas suas

carreiras) colocaram sempre o acento tóni-co nos mesmos temas: a motivação de equi-pas e a necessidade de planear aquilo que,muitas vezes, não pode ser planeado. "Ho-je, um gestor tem de ter uma grande capa-cidade de resistência e preparar cenários

contingentes. Se possível, prepa-rar a contingência da contingên-cia e, ainda, a contingência a essaúltima contingência", opina Sofia

Raposo, que recentemente dei-xou o cargo de responsável pelasrelações do mercado do BCP, pa-ra regressar à direção da área de

estudos e estratégia do banco

(onde estava em 2007), agoranuma posição mais próxima da

administração.A braços com maiores respon-

sabilidades e a incerteza naturaldos dias que correm, estes executivos não

puseram de lado as suas vidas pessoais e,em alguns casos, dobraram mesmo o nú-mero de filhos. Alguns, como Rui Teixeira,Miguel Setas (na vice-presidência da EDPBrasil), e Rita de Sousa Coutinho (a fazeruma pausa do mundo organizacional, emSão Paulo) partiram para outros países,mas nem por isso têm preocupações dife-rentes daquelas que se abatem sobre as

empresas nacionais. "Esta geração de ges-tores está preparada para tudo. Enfrenta-mos qualquer problema e, no futuro, va-mos ter sempre um olhar positivo paracom os desafios", sentencia Sofia Raposo.

[email protected]

ANTÓNIO COUTINHO

O Idade 42 anos O Cargo atual Administrador da EDP Serviços G Função em 2007 Responsável pelaárea de planeamento energético da EDP O Curso Engenharia Civil no Instituto Superior TécnicoO Primeiro emprego Consultor na a2p, empresa de projetos de estruturas © Hóbis Observação de aves

Assisti de perto à queda do Lehman Brothers e àvitória eleitoral de Barack Obama e isso deu-me anítida sensação de que, se quisermos, podemos ser

parte da mudança. Em julho de 2007, aterrei noTexas para trabalhar o plano estratégico daHorizon Wind Energy, a empresa de energiasrenováveis que a EDP tinha acabado de adquirirnos Estados Unidos. Foi uma experiência violenta,até porque levei os meus três filhos atrás, o mais

pequeno com quase três anos. Ao fim de algunsmeses, já dizia: "Pai, vi um shark (tubarão)". Seficasse lá mais uns anos, seria difícil voltar.

Passar algum tempo naquele país dá-nos outro

traquejo e confesso que, hoje, sinto a falta dodiscurso empreendedor próprio dos americanos.Nós somos demasiado fechados, achamos que a

mudança está para lá da nossa ação. Vi como

pequenas coisas podem fazer toda a diferença e

percebi, sobretudo, que não vale a pena complicar o

dia a dia: as reuniões são para serem começadas àhora marcada e as pequenas decisões não podemser adiadas sob pena de se acumularem etornarem-se perfeitos empecilhos à gestão.

Antes de chegar à Horizon, como chief energymanagement officer, como se diz à maneiraanglo-saxónica, já tinha uma experiência demercado bastante grande — trabalhava na EDPdesde 2003 e antes disso, como consultor da BCGna área da energia — mas faltava-me maissensibilidade operacional. Trabalhar num parqueeólico imenso, onde uma turbina está a mais de30km da segunda, dá-nos obviamente essa

componente. Quando cheguei, a capacidadeinstalada estava nos 559 megawatts e, em 2010,quando regressei a Portugal, chegava aos 3459megawatts. Ganhei jogo de cintura, aprendi a geriro risco, o que é essencial para qualquer gestor em

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épocas de grande incerteza, como aquela em quevivemos. Sobretudo, é preciso planear e é por isso

que costumo dizer à minha equipa: devemostrabalhar como se estivéssemos perante o GoogleMaps. Temos de saber qual o nosso ponto de

partida e onde está o ponto de chegada e, naeventualidade de um percalço, é preciso ter um'plano B' para reagir. Se não usar o Google Mapsnão só não sei qual é o caminho a seguir, como nãoterei traçado alternativas para o meu percurso. Ouseja, não há gestão.

Regressei a Portugal, no final de 2010, comoadministrador da EDP Serviços, com a missão demontar esta nova unidade de negócios. Queremosentrar na casa das pessoas, falar-lhes de eficiência

energética, de novas formas de poupar, que é

exatamente aquilo que, hoje, este país necessita.

O meu desafio é o do crescimento. E crescer, do

ponto de vista da gestão, é tão importante quantonão crescer, sendo que, no primeiro caso, as

pessoas já estão galvanizadas e, no segundo, o lídertem de ser galvanizador. Além disso, num contextode crescimento, os erros de gestão não têmvisibilidade; no cenário oposto, o mínimo deslize é

notado. Pertenço a uma geração que cresceuprofissionalmente em empresas com capital parainvestir e que, agora, se vê perante um desafiocontrário. Em tal contexto, não podemos desarmar.Mesmo que mais difícil, atualmente, até é possível

progredir desde que se faça aquilo de que se gostae, mais importante, se aposte nos mercados queestão a crescer. No meu caso, não planeei muito acarreira. Limitei-me a seguir a sorte e a surfar as

ondas do sector.

OÃO DE MELLO FRANCO

Idade 39 anos O Cargo atual Assessor do conselho de administração do BES, com o pelouro do

arketing O Função em 2007 Responsável pelo marketing de retalho e pelo projeto BES 360 O Curso:onomia na Universidade Católica O Primeiro emprego Consultor na McKinsey O Hóbis Futebol

engraçado pensar que, no início de 2007, oinço estava a lançar aquela famosa campanhaíblicitária ao crédito à habitação, em queguém gritava ao burro: "Desce Euribor, desce!"

oje, só existe um chavão: poupança. E isso

iloca-nos perante aquele desafio de fazermosneletas com muito menos ovos, pois os

¦çamentos já não são o que eram. As operações: investimento são cirúrgicas, tudo é pensado> limite e há que combater a incerteza. Antes,; planos de marketing duravam um ano, agoram de ser constantemente revistos tal ailatilidade da realidade macroeconómica. Às

;zes, nem conseguimos planear a um mês.Tenho o dobro dos projetos e do trabalho,;sde que, em 2010, passei a ocupar as atuaisnções. Motivar a equipa, com cerca de 50íssoas, é a minha principal preocupação e vountando encontrar formas de o fazer. Comonho de assistir a reuniões internacionais comuita regularidade, agora procuro que sejam

; meus colaboradores a irem no meu lugar,ão só estou a delegar, como permito que oiam deste ambiente claustrofóbico, que oiçamlar de crescimento e constatem que é possível |zer coisas.

se houve lição que me ficou, foi esta: nada é 3ípossível, nada. Até mesmo o acontecimento gais altamente improvável, como hoje se vê. £

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'EDRO ESTEVES DE CARVALHO

Idade 34 anos O Cargo atual Direção de desenvolvimento e liderança da PT© Função em 2007juipa de planeamento e controlo na PT Multimedia O Curso Gestão na Universidade CatólicaPrimeiro emprego Analista no Merrill Lynch, em Nova lorque e Londres O Hóbis Correr

snfesso que, quando recebi o convite parasumir esta direção, pensei: "RH, que b0m..." O•econceito existe e o estereótipo também: sou o

íico homem numa equipa com 32 pessoas. Masi vida há que arriscar e ainda bem que o fiz: eraistante reservado, muito analítico e esta área:rmite-me não só fazer uso de uma maioriatividade, mas também ser mais comunicativo,

final, trabalho para uma força de trabalho com 11

il colaboradores. É um bom desafio, para quemagora, diretor de primeira linha (desde 2010).;nho a função de promover políticas transversais: recursos humanos, desenvolver planos deirreira e gerir o programa de captação de jovenslentos para o grupo. Quero levar este projeto até) fim mas obviamente que me vejo noutras

nções. Gosto de olhar estrategicamente para os

:gócios, lembro-me da adrenalina no processo daPA da Sonae sobre a PT e do posterior spin-offi PT Multimedia, altura em que fui para o projetoEO, negociar conteúdos e trabalhar do ponto desta do marketing, criando produtos como o canal;nfica TV. Foi dos meus maiores desafios: sabiaatamente o que tinha que fazer e os objetivosle me eram exigidos. Mais importante, foi aimeira vez que tive que liderar uma equipa.

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SOFIA RAPOSO

O Idade 43 anos O Cargo atual Diretora do gabinete de estudos e estratégia do BCP O Função em2007 Diretora do gabinete de estudos e estratégia do banco O Curso Economia na Universidade Novade Lisboa O Primeiro emprego Analista na gestora de ativos do banco Totta O Hóbis Viajar

Aos 43 anos, acho que já não sou uma promessa.Num período repleto de desafios, dei a cara pelobanco, quando, em 2009, passei a representantepara as relações com o mercado. Nem sei se tive asorte ou o azar de o fazer precisamente nestaaltura, mas o balanço não deixa de ser positivo:tive a honra de dar a cara pelo banco, quandotodos nos estavam a complicar a vida. Fizemos umaumento de capital no meio de um resgatefinanceiro. O meu dia a dia passou a ser frenético:em três meses, fiz 200 reuniões de trabalho. Agestão dá mais trabalho: temos de conhecer tudo

porque os desafios e crises surgem muitorapidamente e quase sempre são imprevisíveis: hádois anos, nunca pensaria que, daí a pouco, estariaa discutir rácios de solvabilidade acima de 10%.

Sou uma ex-yuppie. Quando comecei a minhacarreira queria fazer tudo, parecia até ridícula. Avida não é uma coisa estanque e aprendi que não

pode ser só trabalho. Ter filhos é a coisa maisimportante do mundo e, por isso, há determinadosajustes na carreira que se têm de fazer. Agoramesmo, deixei a área de relações com o mercado eas minhas filhas fizeram uma festa. Voltei ao ,§

gabinete de estudos do banco, mas agora numa 1posição muito mais próxima da administração. $

cáO

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MIGUEL SETAS

O Idade 41 anos O Cargo atual Vice-presidente da EDP Energias do Brasil © Função em 2007Administrador da EDP Comercial O Curso Engenharia Física Tecnológica no Instituto SuperiorTécnico (IST) O Primeiro emprego Docente no IST O Hóbis Praticar desporto, ler e viajar

Esta experiência no Brasil transformou a minhavisão da gestão. O ambiente de negócios, noBrasil, é complexo e com elevada dose de

imprevisibilidade. Se, por um lado, acentua orisco do negócio, por outro, exige maiorcriatividade e flexibilidade. Acima de tudo, o queaprendi é que não há impossíveis. E esse é umelemento importante no quotidiano de qualquergestor, porque nos leva a nunca nos resignarmoscom o insucesso e a procurarmos sempre aperfeição. Creio que este período de grandeinstabilidade exige de nós resistência. Estamosnuma maratona que, tudo indica, será longa. Os

sociólogos designam esta década como"turbulent teens": temos de assumir que aelevada volatilidade veio para durar uns anos.Por isso, julgo que é muito importante termosum propósito claro e focarmo-nos nesse

propósito com perseverança e determinação.Em 2007, como administrador da EDP

Comercial, era responsável por uma equipa de m

duas pessoas. Hoje, sou CEO de duas empresas §de distribuição de energia (uma em São Paulo e goutra no estado de Espírito Santo) com cerca de <dois mil colaboradores, no total. O contexto atual oé muito desafiador. Como gestores, temos de <assumir que a nossa carreira poderá passar pelo 1estrangeiro. As oportunidades continuam a gexistir, podem é estar fora do nosso país. £

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ANDRÉ ALMEIDA

O Idade 34 anos O Cargo atual Administrador da ZON © Função em 2007 Responsável pelodepartamento de planeamento estratégico da PT Comunicações O Curso Engenharia e GestãoIndustrial no Instituto Superior Técnico O Primeiro emprego Consultor na BCG O Hóbis Pratica surf

Gosto da incerteza que o futuro carrega, da ideiade que podemos esperar tudo da vida. Nuncadesenhei a minha carreira. Quando vim para aZON não o fiz porque pensava que poderia vir aser administrador, mas sim porque achei que seriaum projeto interessante. Na altura, estava na áreade negócio fixo da PT e recebi o convite paraabraçar este novo projeto, aquando do spin-offdaPT Multimedia. Comecei como diretor de produtose, hoje, sou responsável pelo desenvolvimento denovos negócios e pela internacionalização da ZONe passo um terço do meu tempo em Angola,Moçambique e noutros países onde vamos tendointeresses. Deu-me um enorme gozo arrancar coma operação em Angola: começar um negócio do

zero, dá-nos uma sensação de realização incrível,revemo-nos muito mais nesses projetos.

Claro que o equilíbrio se torna difícil,principalmente quando a família deixa de ter doiselementos e passa a ter três. Estou ocupado 115%do meu tempo com questões profissionais e o quesobra é para a família. Parece exagero, mas só

acredito que se alcança o sucesso com uma grandecapacidade de trabalho e com equipas fortes. Sóassim posso delegar. Acredito que os líderes são

tão bons quanto as pessoas que gerem.

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OÃO BARBOSA

Idade 33 anos O Cargo atual Vice-presidente do grupo Brasilinvest e CEO da Iberpartners O Funçãon 2007 Administrador-delegado da Iberpartners © Curso Economia na Universidade CatólicaPrimeiro emprego Consultor na McKinsey O Hóbis Filatelista

:mpre tive este perfil mais empreendedor, aliás,só era notório no artigo publicado em 2007.;mpre fui o tipo que não tem horário nem•ecisa de passar o dia no escritório. Não trabalhoenos do que 14 horas diárias, mas posso estar azê-lo enquanto assisto às aulas de natação dos

eus filhos. É claro que passo bastante tempora do país, já que grande parte dos meusvestimentos estão lá fora. O meu papelíquanto administrador do fundo devestimento Iberpartners está mais limitado,na vez que, dada a crise, se decidiu alienar¦ande parte das participações. Estou maisincentrado num projeto imobiliário, umvestimento de €600 milhões, o International~ade Center, que vamos começar a construir emíris. Para a minha holding pessoal, a Excaliburipital, apostei em duas áreas: a moda, com a

impra da marca Ana Salazar e a representação1 insígnia Colcci, e a publicidade em parques detacionamento.

Hoje, a base de desenvolvimento dos

npresários portugueses está lá fora, não aqui.amo tal, faço consultoria a empresasternacionais e é também por isso que,centemente, embarquei numa nova aventura,imo conselheiro de uma empresa com interessesíobiliários no Brasil e prestando apoio ao grupo-asilinvest, presente em todo o mundo.

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INÊS LOURO

O Idade 37 anos O Cargo atual Diretora de planeamento estratégico da PT O Função em 2007Responsável pela área de planeamento estratégico e de controlo da TMN O Curso Gestão noISEG O Primeiro emprego Começou na divisão de mercados da CMVM © Hóbis Viajar e ler

As telecomunicações são o sector do meucoração. Adoro o dinamismo, os constantesdesafios e as respostas rápidas que se têm dedar às alterações nos padrões de consumo. Aofim e ao cabo, é com isso — a mudança — quetodos nós, hoje, temos de lidar. Aqui, já estouhabituada: neste mercado, é preciso saber gerira mudança, os ciclos de inovação são rápidos, aconcorrência é feroz. Nestes anos, acabei poralargar a abrangência das minhas funções aosmercados fixo e móvel e concentro-me emtemas que são mais estratégicos e transversais atodo o grupo. Passei a estar envolvida emprojetos como o lançamento da rede de fibraótica e o leilão de espetro para a tecnologia 4GLTE. Se eu imaginaria, há 10 anos, estar a falarsobre estes temas! Agora é necessário gerir commenos informação e ter maior capacidade de

arriscar, gerindo no curto prazo sem

comprometer horizontes estratégicos mais

longínquos. Entretanto, tive um filho, o Tomás.Tem dois anos e mostrou-me que a maternidadepode ser um excelente curso de liderança.Porque se um líder deve influenciar, potenciar omelhor das pessoas, também esse deve ser otrabalho de uma mãe ou de um pai.

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LUÍS CASTRO DE MELO

O Idade 40 anos O Cargo atual Diretor do centro de empresas do Porto do BES O Função em2007 Diretor do departamento de empresas Norte do BES O Curso Economia na Faculdade deEconomia do Porto O Primeiro emprego Gestor de clientes do BES O Hóbis Desporto e viagens

A turbulência dos mercados obriga-nos a

navegar à vista, como um barco no meio da

tempestade. Daí que tenhamos de pôr emcausa, quase diariamente, os métodos que seutilizam. Temos de estar mais beminformados para procurar antecipartendências e, ao mesmo tempo, temos deouvir mais. O 'maestro' é quem decide, masisso não o impede de procurar ouvir os outros,o que ajuda a motivar as equipas e a manterelevados os índices de motivação e empenhonestas alturas. Isto é particularmenteimportante para quem, no meu caso, liderava10 pessoas e, em 2010, passou a ter umaequipa de lio colaboradores, que gere mais de

7 mil empresas, todas elas no Norte. Nestecontexto, os sobreviventes serão aqueles quesouberem compreender os novos desafios e,esses, estão quase todos lá fora e na inovação.É essa a ponte que tento fazer com os meusclientes e, até, noutra vertente da minha vidaprofissional: embora sem funções de gestão,entrei, com uma pequena participação, nocapital de uma empresa familiar, a iSens

Electrónica, que cria sistemas para o sector dasaúde. A nossa pretensão é a criação de

produtos inovadores e exportáveis: já temosduas patentes e vamos assinar um contrato deexclusividade com um gigante da saúde.

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RITA DE SOUSA COUTINHO

O Idade 37 anos O Cargo atual Em período sabático O Função em 2007 Diretora de marketing e

comercial do Pingo Doce O Curso Gestão na Universidade Católica O Primeiro empregoEstagiária no sector dos congelados na Jerónimo Martins O Hóbis Ténis e ginástica

Tenho a certeza de que, no futuro próximo, meestarão reservados muitos desafios na área do

empreendedorismo, sobretudo no sector doconsumo. Agora estou num período sabático, aanalisar oportunidades de mercado e a criaruma rede de contactos. Aqui, no Brasil, aocontrário de Portugal, estas paragens são bemvistas, valorizam muito o autoconhecimento.

Depois do pelouro da área comercial e de

marketing do Pingo Doce, assumi, em 2008, a

direção da unidade de novos negócios. No

princípio de 2011, vim para São Paulo, ondeestive a liderar um projeto da Jerónimo Martins.Terminou no final do terceiro trimestre deste

ano, altura em que teria de regressar a Portugal.Resolvi ficar no Brasil, onde o meu maridotrabalha e tenho aproveitado estes meses defecho de ciclo e início de outro para assistir aconferências, investindo tempo na tomada dedecisão a nível profissional. Tenho usufruído demais tempo com os meus quatro filhos e estou a

lançar o Alumni Católica, em São Paulo. Terconsciência do que se quer, se gosta e se sabefazer é o mais importante: é uma questãopessoal que permanece, independentemente dacrise e do país onde se está.

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MIGUEL STILWELL

O Idade 35 anos O Cargo atual Administrador da EDP Distribuição O Função em 2007Responsável pela direção de análise de negócios da EDP O Curso Engenharia Mecânica naStrathclyde University (Glasgow) O Primeiro emprego Banco ÜBS, em Londres O Hóbis Vela

Ser gestor é sempre exigente. Porque se não é

pelo momento macroeconómico é pelosdesafios impostos pelo crescimento ou pelainternacionalização. Estamos sempre sob

pressão. Naturalmente, a instabilidade dosúltimos anos, colocou-nos numa situação maissensível. Procuro ser mais realista e,sobretudo, não me deixar levar pelo que se vaiouvindo. Tento identificar factos.

Há menos dinheiro e essa é uma realidade a

que nenhum gestor pode fugir: há que sermais seletivo em termos de investimento e

escolher muito bem as áreas onde queremosapostar. Tem piada: as empresas recuperaramideias e palavras mais antigas. Para falar decortes de custos, voltaram-se às teoriasasiáticas do método lean ou do kaizen.Recorre-se muito a estrangeirismos para dizeraquilo que são ideias simples: a gestão tem deter a capacidade de não se limitar a ficar à

espera do futuro. Tem de ser ativa, procuraralternativas e, mais importante, não se

restringir ao topo: é preciso mostrar às

pessoas que tudo o que acontece não está

dependente apenas das grandes decisões daalta direção, mas principalmente e tambémdas pequenas escolhas que vão fazendo. Amim, resta-me o papel de as potenciar edar-lhes coerência.

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RUI TEIXEIRA

O Idade 39 anos O Cargo atual Administrador da EDP Renováveis O Função em 2007 Diretor de

planeamento corporativo e controlo de gestão da EDP © Curso Engenharia Naval no InstitutoSuperior Técnico O Primeiro emprego Det Norske Veritas, empresa naval norueguesa

Lembro-me de, em 2007, ter dito que tinhacomo objetivo gerir uma área de negócio daí acinco anos. Esse meu desejo materializou-semais cedo e em circunstâncias que mecolocaram numa situação privilegiada. Fui paraEspanha em setembro desse ano, comoresponsável financeiro da NEO Energia, da EDPmas, na prática, já para preparar a fusão da

empresa com a Horizon, sob o chapéu da EDPRenováveis, e a sua entrada na bolsa. A IPO(oferta pública inicial) foi um sucesso, o maiorda Europa Ocidental, o que me deu muitariqueza em termos de experiência profissional.Recentemente, os mercados tornaram-se mais

complicados e a minha tarefa é precisamenteconseguir aquilo que, hoje, é mais difícil para as

empresas: a obtenção de financiamento. Claro

que é sempre uma garantia trabalhar para umagrande empresa, que cresce consecutivamenteao longo dos anos, mas como gestor sei que o

futuro é mais incerto e impõe mais desafios. É

por isso que as organizações têm de ser mais

flexíveis, para que possam mudar de direçãoquando assim for necessário. Mas nem nos

tempos mais difíceis podemos aceitar menos do

que a excelência.

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DIOGO VAZ PINTO

O Idade 34 anos O Cargo atual Responsável pela unidade de CRM comercial do BES O Funçãoem 2007 Responsável pelo marketing a retalho do BES O Curso Economia na UniversidadeCatólica O Primeiro emprego Consultor na McKinsey O Hóbis Golfe e padel

Vivo os meus dias na inconstância que é

própria desta crise, o que faz com que nuncatenha sido tão premente a minha capacidadede adaptação. Já dizia Darwin que não é aespécie mais forte que sobrevive, mas sim

aquela que se adapta mais rapidamente. E aminha agenda pessoal tem de estar sempredependente desses ajustamentos: o meuplaneamento é pensado a médio prazo, mastento ter, ao mesmo tempo, a visão da árvore

para conseguir vislumbrar a floresta. Existeum planeamento mensal e, depois, há que o

gerir, abrindo espaço às alterações que têmsempre de ser feitas, mas usando de umagrande disciplina para distinguir as

prioridades das urgências. Num âmbito maisimediato, claro, essa adaptação aos objetivosdeve ser analisada diariamente.

Já tenho um filho, o segundo vem a caminho,e essa foi a mudança fundamental na minhavida. Para conseguir equilibrar todas as

vertentes da minha vida, faço uso daquilo quetambém utilizo no trabalho: disciplina e, às

vezes, isso passa por um detalhe simples. Nãoutilizo carro sempre que possível e todos as

manhãs o percurso até ao trabalho é feito a pée vou preparando o dia que começa. No

regresso, é a melhor forma de descomprimir e

chegar a casa sem ansiedade.

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