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Idalina Ferreira, Purificação Silvano e Sónia Valente Rodrigues Da leitura literária à escrita argumentativa Preparação para redigir textos expositivo-argumentativos sobre temas literários Porto, 21 de janeiro de 2012

Formação 12º Ano Areal Saberes Fundamentais

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Page 1: Formação 12º Ano Areal Saberes Fundamentais

Idalina Ferreira, Purificação Silvano e Sónia Valente Rodrigues

Da leitura literária à escrita argumentativa

Preparação para redigir

textos expositivo-argumentativos sobre temas literários

Porto, 21 de janeiro de 2012

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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1. Análise de textos de instrução para deteção das componentes de resposta

TEMA Organização discursiva de enunciados de instrução de escrita

OBJETIVO Análise de textos constitutivos de instrução para escrita escolar

PREPARAÇÃO Cada aluno deverá ter uma folha com os textos de instrução que vão ser analisados durante a aula. Também poderá ser útil cada aluno ter uma folha de trabalho com o esquema em branco a preencher durante a aula. O esquema A é exemplo do resultado da análise textual a realizar durante a aula. Cada aluno poderá assim ter um registo organizado das informações. Esta folha é, no entanto, dispensável se o professor optar por desenhar o esquema no quadro.

OPERACIONALIZAÇÃO EM AULA

1 Iniciar a aula com questionamento dos alunos acerca das dificuldades que a leitura dos enunciados de exame lhes traz.

2 Mostrar aos alunos dois enunciados de escrita perguntando o tipo de resposta que é requerido. (Texto A, Texto B) Registar as respostas dos alunos no quadro.

3 Analisar um dos textos com a turma organizando no quadro os dados decorrentes do exercício de questionamento a partir das perguntas seguintes:

a) Qual é a frase que contém uma afirmação sobre a obra em estudo?

b) Qual é a frase que contém a instrução de escrita?

Na frase que contém a instrução de escrita:

c) Qual é a palavra que contém a instrução (forma verbal no presente do conjuntivo, na 3.ª pessoa do singular)?

d) Quais são os nomes ou expressões nominais que fazem parte dessa frase instrucional?

4 Associar a palavra que aponta para a atividade de escrita a desenvolver ao seu significado relacionado com o tipo de texto de resposta.

5 Analisar as indicações instrucionais contidas nos segmentos «num texto de sessenta a cento e vinte palavras» (a extensão textual com limite mínimo e máximo) e «segundo a sua leitura» (indicação para apresentação de evidências da leitura realizada pelo aluno).

6 Colocar os alunos em grupos de pares a realizarem a análise do texto B com consequente discussão de conclusões em grande grupo (turma).

Este exercício pode ser aplicado a tantos textos quantos os que o professor considerar viáveis para uma aula. O trabalho pode ser prolongado autonomamente fora da aula.

7 Fazer o levantamento dos temas literários associados a cada obra literária a partir de instruções de escrita já existentes ou criadas pelo professor para esta aula.

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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Texto A

A noite tem uma presença relevante em Felizmente Há Luar! Exponha, num texto de sessenta a cento e vinte palavras, a sua opinião sobre a importância que, segundo a sua leitura, a noite adquire na peça de Luís de Sttau Monteiro.

Exame Nacional de Português – 12.º ano – 2.ª Fase, 2007 (código 639)

Texto B

Considere a seguinte opinião sobre Os Lusíadas: «Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.»

Maria Vitalina Leal de Matos, Tópicos para a Leitura de Os Lusíadas, Lisboa, Editorial Verbo, 2004

Fazendo apelo à sua experiência de leitura de Os Lusíadas, comente, num texto de oitenta a cento e vinte palavras, a opinião acima transcrita.

Exame Nacional de Português – 12.º ano – 1.ª Prova, 2008 (código 639)

Tipo de esquema que poderá resultar da análise proposta na atividade 3.1.

Textos Frase adjacente

(ante ou pós instrução)

Frase de instrução

Objetivo comunicativo

Forma verbal contendo instrução

Nomes

Texto A A noite tem uma presença relevante em Felizmente Há Luar!

Exponha opinião importância – noite peça – Luís de Sttau Monteiro

Expor uma opinião sobre tema literário

Texto B «Mas o texto (…)» referência bibliográfica

Comente opinião Comentar uma opinião sobre tema

literário Português +, 12.º ano, Idalina Ferreira, Purificação Silvano,

Sónia Valente Rodrigues, Areal Editores (no prelo)

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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2. Sistematização de conteúdos literários utilizando diagramas

TEMA Sistematização de conteúdos literários utilizando diagramas

OBJETIVO Desenvolvimento de esquematizações como forma de sistematizar os conhecimentos decorrentes da análise literária

PREPARAÇÃO Cada aluno deverá ter uma folha de trabalho com o esquema que deverá elaborar

OPERACIONALIZAÇÃO EM AULA

1 Iniciar a aula com a identificação dos elementos trabalhados a propósito da análise do texto dramático de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar! O resultado das intervenções dos alunos poderão ser registados no quadro para serem utilizados nas atividades seguintes.

2 Registar os dados num esquema com uma organização específica (utilizar o esquema da ficha de trabalho).

3 Preencher o esquema com a transcrição de réplicas e/ou de didascálias e com a indicação de cenas que exemplifiquem os dados registados no esquema.

4 Preencher os campos do esquema relacionados com a situação social e política dos anos 60 do século XX português a partir de textos selecionados pelo professor para o efeito.

5 Discutir os dados que os alunos registaram nos campos de trabalho do esquema.

6 Criar com os alunos, em discussão de grande grupo, várias questões (enunciados de teste, por exemplo) que possam ser respondidas com os dados organizados no esquema produzido.

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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Tipo de diagrama que poderá resultar da análise proposta na atividade 2. (ver página 4)

Felizmente Há Luar! de Luís de Sttau Monteiro: caminhos de leitura

O perfil específico de cada uma das

personagens históricas que

representam o poder e a governação

do país e as relações interpessoais

(quer entre elas, quer com indivíduos

que alimentam esse poder)

A ação de primeiro plano

relacionada com a perseguição e

execução sumária de um indivíduo

influente para exemplo dos

demais, como modo de controlo

social e político

A situação histórica representada

dramaticamente, com um

enquadramento de ausência de

direitos de pensamento, de

liberdade de expressão, do direito

de associação, num contexto de

resistência ao poder político

Português +, 12.º ano, Idalina Ferreira, Purificação Silvano, Sónia Valente Rodrigues, Areal Editores (no prelo)

Relação estabelecida entre a situação sociopolítica representada na peça e a situação dos anos 60 em que é

produzida e publicada:

� contraste � complementaridade � paralelismo � inclusão � pertença � causalidade

Intenção do autor, Luís de Sttau Monteiro, ao levar à cena a peça teatral com a situação histórica representada:

� proporcionar entretenimento aos espectadores.

� denunciar situações e alertar a consciência cívica dos espectadores seus contemporâneos.

� homenagear personalidades políticas da governação historicamente marcantes.

� fazer a apologia da monarquia como regime político.

� divulgar os ideais do liberalismo oitocentista.

Na obra assumem destaque certas personagens e um dado tempo histórico: tempo histórico e tempo da história

As personagens do poder e as

personagens de classes

privilegiadas, por um lado, e as

personagens ficcionais, anónimas,

representativas do povo

A relação de poder e de

opressão da classe dominante

em relação à classe dominada

A estratégia política de controlo

político e social em situação

aguda de oposição e resistência

política

[indicações cénicas e réplicas

exemplificativas]

[indicações cénicas e réplicas

exemplificativas]

[indicações cénicas e réplicas

exemplificativas]

[Relato histórico de um caso

comprovado de perseguição

política e exílio de um indivíduo

influente responsável pela

oposição política nos anos 60]

[situações e descrições históricas

de personalidades políticas da

governação portuguesa nos anos

60]

[Informação histórica sobre o

exercício da liberdade de

pensamento, de expressão e de

associação nos anos 60]

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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3. Produção de argumentos para sustentar uma linha interpretativa

Este exercício pretende conduzir os alunos à revisão do conceito de argumento e à identificação

de argumentos que sustentem linhas interpretativas no âmbito de um tema literário. Pretende-se com

esta sequência de atividades que os alunos se apercebam de que nestes textos de exposição de opinião

ou comentário acerca de uma opinião não podem limitar-se a escrever o que sabem sobre aquela tema

literário, mas que têm de a partir da instrução argumentar a favor de uma determinada linha

interpretativa selecionando argumentos pertinentes que a fundamentem.

TEMA Argumentos para fundamentar uma linha interpretativa

OBJETIVO Identificação de argumentos que sustentam uma linha interpretativa

PREPARAÇÃO Cada aluno deverá ter uma folha de trabalho com instruções de escrita e as tabelas a seguir apresentadas.

OPERACIONALIZAÇÃO EM AULA

1 Rever a noção de argumento com a resolução das atividades propostas a seguir. (Este passo pode ser ignorado se os alunos dominarem a noção de argumento).

2 Envolver os alunos numa discussão fundamentada em torno de duas personagens centrais na peça, Matilde de Melo e Gomes Freire. A colocação em debate da centralidade que cada uma delas assume permitirá aos alunos sustentar uma opinião e apresentar as razões que fazem com que a assumam. Paralelamente, aprofundam a leitura crítica da obra em estudo.

3 Discutir em grupo turma os argumentos que fundamentam cada uma das linhas interpretativas.

4 Formar grupos e distribuir por cada grupo uma cópia da instrução de escrita B contendo cada cópia uma linha interpretativa diferente. Solicitar a cada grupo que formule argumentos que fundamentam a linha interpretativa que lhes coube.

5 Pedir ao porta-voz da turma que apresente à turma a linha interpretativa que foi objeto de análise e os respetivos argumentos. As conclusões são apresentadas pelo porta-voz do grupo e discutidas no grupo turma.

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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Problema em debate

Qual é a personagem que assume maior centralidade em Felizmente Há Luar!: Matilde de Melo ou Gomes Freire?

Seleção de uma linha interpretativa A – Matilde Melo constitui na peça um lugar de corajosa protagonista, o que lhe confere centralidade.

B – Gomes Freire de Andrade é a figura central da peça, apesar do silêncio que o caracteriza enquanto personagem. Lista de argumentos gerada a partir da discussão em grupo turma Tese Argumentos Referências da obra

Tese A

1. Matilde assume-se como voz da consciência dos governantes, apontando a cada um a imoralidade dos seus atos, num confronto perigoso e arriscado, em que tenta salvar o seu marido, com quem partilhou a vida, o amor, as convicções. Ato de inegável coragem.

Ato II, diálogo de Matilde com Beresford e com o principal Sousa (transcrever excertos das réplicas mais significativas)

2. A sua personagem define-se pela nobreza de caráter. Apesar de sofrer pela perda do seu homem, não deixa de se assumir como companheira que defende e apoia os ideais da liberdade e do patriotismo.

Transcrição das passagens que expressam o modo como Matilde sempre apoiou os ideais de Gomes Freire (ver o monólogo de Matilde no Ato II)

3. É com a sua voz que a peça encerra. É ela que profere as palavras finais, num discurso de revolta contra a tirania dos governantes e de incentivo à luta e à revolta dos populares.

Transcrição das réplicas finais de Matilde

Tese B

1. Figura que personifica a liberdade e o patriotismo num regime totalitário adverso à manifestação destes ideais.

Transcrição das passagens significativas

2. Apesar de uma presença silenciosa, assume relevo e centralidade devido às referências constantes que as restantes personagens fazem, permitindo um retrato global completo da sua figura.

Transcrição das referências que cada personagem faz de Gomes Freire. Essas referências podem ser positivas ou negativas.

3. É investido de protagonismo por ser o homem escolhido pelos governantes para uma ação persecutória que pretende constituir um exemplo ou uma lição para o povo que pretende opor-se e resistir ao regime de governação.

Transcrição das passagens significativas

OBSERVAÇÃO – O debate promovido na aula deverá ter como síntese final a análise de Gomes Freire como personagem principal de Felizmente Há Luar!, de Sttau Monteiro. Esta análise está em consonância com o objetivo comunicativo do autor. Uma atividade de interesse poderia ser a reescrita da peça fazendo com que os alunos assumissem como personagem principal Matilde de Melo. O desenvolvimento desta atividade poderia ser acompanhado da discussão em torno das modificações a fazer.

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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4. Revisão crítica de argumentos em textos produzidos por alunos

Esta sequência de atividades tem como objetivo verificar se os alunos são capazes de analisar

criticamente textos produzidos por outros alunos no que diz respeito à validade dos argumentos

apresentados para fundamentar a linha argumentativa defendida.

TEMA Validade de argumentos em textos produzidos por alunos

OBJETIVO Desenvolvimento da capacidade de análise crítica de textos argumentativos e de reformulação de argumentos

PREPARAÇÃO Cada aluno deverá ter uma folha de trabalho com os textos produzidos pelos alunos, com as instruções de escrita que os motivaram e com o esquema a preencher.

OPERACIONALIZAÇÃO EM AULA

1 Ler com os alunos a instrução de escrita A e o texto I produzido por um aluno.

2 Discutir no grupo turma qual é a linha interpretativa seguida pelo autor do texto I e o grau de validade dos argumentos apresentados, justificando. Quando os alunos considerarem que o argumento é fraco, devem apresentar uma proposta de reformulação.

3 Registar as conclusões no esquema apresentado em baixo.

4 Distribuir as instruções B, C e D e os textos produzidos a partir delas.

5 Pedir aos alunos que analisem criticamente os textos em relação aos argumentos apresentados preenchendo para cada uma tabela semelhante à preenchida no ponto 2.

6 Apresentar as conclusões da análise realizada à turma.

Instrução A

Considere a seguinte opinião sobre Os Lusíadas: «Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma

face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.» Maria Vitalina Leal de Matos, Tópicos para a Leitura de Os Lusíadas,

Lisboa, Editorial Verbo, 2004 Fazendo apelo à sua experiência de leitura de Os Lusíadas, comente, num texto de oitenta a cento e vinte palavras, a opinião acima transcrita.

Exame Nacional de Português – 12.º ano – 1.ª Prova, 2008 (código 639)

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DA LEITURA LITERÁRIA À ESCRITA ARGUMENTATIVA Português + 12.º ano

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Texto I

Maria Vitalina Leal de Matos diz que Os Lusíadas são uma obra complexa. Isto verifica-se, uma vez que Camões (autor da obra) utiliza muitos hipérbatos, que consiste na troca da ordem normal dos constituintes da frase, valorizando assim o seu texto mas ao mesmo tempo tornando-o mais complexo.

Como epopeia clássica os lusíadas tem como objetivo engrandecer um herói, neste caso o povo português. No entanto, no final dos cantos, estâncias designadas por considerações do poeta tal não acontece. Visto que, este sente-se triste dado que os lusitanos tornaram-se ambiciosos, obsessivos em relação ao poder desprezando a cultura.

Eu concordo com a afirmação de Maria Matos uma vez que o poeta glorifica mas ao mesmo tempo critica o povo.

[Texto produzido em aula de Português do 12.º ano por uma aluna de uma escola de ensino secundária pública no ano letivo 2010/2011]

Parâmetros a avaliar Texto I

Linha interpretativa “…Os Lusíadas são uma obra complexa.”

Argumento 1

Transcrição “(…), uma vez que Camões (autor da obra) utiliza muitos hipérbatos, que consiste na troca da ordem normal dos constituintes da frase…”

Grau de validade Argumento nulo

Argumento válido Embora Camões exalte o povo português, há momentos em que exprime a sua descrença em Portugal e nos Portugueses.