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FORMAÇÃO CONTINUADA E A (RE) CONFIGURAÇÃO DOS SABERES
DOCENTES DOS PROFESSORES NOS INSTITUTOS FEDERAIS ( DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA) – IFS
Andressa Graziele Brandt – UFSC / IF Catarinense
Mestranda da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Pedagoga do Instituto Federal Catarinense / Campus Rio do Sul
Rosângela de Amorim T. de Oliveira – UFSC / IF Catarinense
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Pedagoga do Instituto Federal Catarinense / Campus Blumenau
Franc-Lane Sousa Carvalho do Nascimento – UFRN / UEMA
Doutoranda pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Professora da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Subeixo: Práticas pedagógicas e saberes docentes
Resumo:
Neste artigo intitulado “Formação continuada e a (re) configuração dos saberes docentes
dos professores nos Institutos Federais (de Educação, Ciência e Tecnologia) – IFs ”
discutimos a influencia socializadora da Didática e Prática de Ensino na formação dos
saberes pedagógicos dos professores do EBTT do IF Catarinense – Campus Rio do Sul.
Portanto, partimos do seguinte problema de pesquisa: como ocorre a construção da
Didática e da prática de ensino dos professores dos IFs e qual a influência dos projetos
de formação continuada na formação das concepções de práticas de ensino desses
professores? Buscamos como objetivo: analisar como o programa de formação
continuada, influenciou e contribuiu para a construção dos saberes de ensino através de
atividades de formação relacionadas com a Didática e a prática de ensino. Nesta
pesquisa de caráter qualitativo, utilizamos as técnicas da entrevista semiestruturada e a
análise de conteúdo, realizadas com 09 professores/educadores que atuam no IF
Catarinense – Campus Rio do Sul. Fundamentamo-nos em teóricos como: Pimenta
(2005); Pimenta e Anastasiou (2005); Cunha (2013); Freire (1991,1996); Sacristán
(2000); Saviani (2009); e Shiroma (2011). Os resultados da pesquisa apontaram que as
atividades dos projetos de formação relacionados à temática Didática e a prática de
ensino influenciaram positivamente na (re) configuração dos saberes docentes dos
professores do EBTT, os quais possuem a atribuição de atuar da Educação Básica e no
Ensino Superior, modalidades de ensino que exigem saberes docentes e didáticos
diferenciados; entretanto sentem dificuldades em colocar em prática os saberes e a
construção do conhecimento quando precisam atuar em cursos com níveis distintos;
observamos algumas posturas com perspectivas na busca da construção do
conhecimento através da práxis e do desenvolvimento científico em conjunto com a
comunidade escolar e sociedade.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102390
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Palavras-chave: Formação continuada. Saberes docentes nos IFs. Prática Pedagógica.
Introdução
As pesquisas sobre formação inicial de professores, saberes docentes na
Educação Básica e no Ensino Superior, Didática e práticas de ensino na formação
docente e sua relação para o desenvolvimento profissional, as pesquisas dos acadêmicos
e sua relação com os professores das escolas onde as pesquisas são realizadas são
agendas relevantes no atual campo da educação e da formação de professores. Pois, são
pesquisas que carecem de mais diálogo horizontal entre os pesquisadores dos campos
Ensino, Didática, Currículo e Formação de Professores. Além, disso pesquisas que
trabalham a temática dos saberes docentes dos professores de ensino básico, técnico e
tecnológico (EBTT) que atuam nos IFs1 são praticamente inexistentes, destacando a
importância das contribuições da presente pesquisa para o campo educacional brasileiro
onde os IFs são criados como política pública e com o dever de atuar em todos os níveis
de ensino desde ao ensino básico até a pós-graduação.
Desta forma, na pesquisa intitulada “Formação continuada e a (re) configuração
dos saberes docentes dos professores nos Institutos Federais (de Educação, Ciência e
Tecnologia) – IFs” analisamos a influência e as contribuições do referido programa na
construção da Didática de sala de aula como prática de ensino e no desenvolvimento
profissional dos educadores do Instituto Federal Catarinense a partir das "vozes" dos
educadores. Entendemos como "vozes" as demandas, anseios e expectativas expressas
pelos mesmos. O campo de estudo em questão é de alta complexidade visto que os IFs
contemplam um leque diversificado de formatos de ensino aprendizagem, como a
Educação Básica Profissional e o Ensino Superior.
De acordo com Cunha (2013) a história da educação profissional é marcada pela
forte ação de professores sem nenhuma formação, somente com a experiência prática,
formação em bacharelado, engenharia, tecnólogo, enquanto a exigência da formação
pedagógica é quase inexistente, muitas vezes presente sucintamente na legislação
vigente mais não cumprida pela maioria das instituições de ensino da Educação
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102391
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Profissional Tecnológica, fato que é facilmente comprovado se observarmos os editais
de concurso para professores efetivos ou substitutos dos IFs, onde por lei deveria se
exigir formação pedagógica, mas na maioria dos editais esse importante requisito não é
contemplado.
Diante desta problemática surgiu o interesse em pesquisar as atividades de
formação desenvolvidas pelo programa de formação continuada sobre a formação
Didática e a prática de ensino na relação com a escola e com a formação dos saberes
docentes dos professores que atuam nos IFs. Portanto, partimos do seguinte problema
de pesquisa: como ocorre a construção da Didática e da prática de ensino dos
professores do EBTT do IF Catarinense e qual a influência dos projetos de formação
continuada desenvolvidos no Campus na formação das concepções de práticas de ensino
desses professores? Pois, é necessário e é um direito dos professores o desenvolvimento
da formação continuada em serviço, sendo uma oportunidade para o desenvolvimento
de Didáticas e práticas de ensino que corroboram para o desenvolvimento e
aprimoramento dos saberes docentes dos professores do EBTT do IFs. Como
pesquisadora e pedagoga do Campus Rio do Sul, onde a pesquisa foi desenvolvida,
observamos que alguns professores exercem a docência, embasados nos saberes
específicos, nos saberes técnicos, nos saberes práticos, nos saberes pessoais e nos
saberes da experiência, sendo necessário aprofundar e (re) configurar os saberes
pedagógicos de acordo com atual realidade educacional e ao contexto dos IFs.
A formação dos professores que atuam na Rede Profissional Tecnológica (EPT)
é um desafio que está posto no atual cenário educacional do Brasil. De acordo Shiroma
(2011) a construção da formação inicial e continuada para o professor do EPT, traz
desafios políticos, epistemológicos e pedagógicos, na medida em que demanda
fundamentos teórico-metodológicos, desenvolvimento de pesquisas, criação e
consolidação de práticas de ensino-aprendizagem que possam, efetivamente, resgatar
essa proposição do mero campo das boas intenções e torná-la uma realidade concreta na
educação brasileira.
Desta forma, ao refletirmos sobre a atuação dos professores nos IFs pensamos
que os desafios são maiores, pois o fazer pedagógico ocorre em todas as modalidades e
níveis de ensino. Assim, as vozes dos professores participantes deste estudo são
fundamentais para o diálogo com o campo e indicam que ocorreu o desenvolvimento de
saberes pedagógicos nos encontros da formação, pois, o aprender a ser professor está
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102392
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relacionado com toda a experiência pessoal e profissional de cada docente.
Esta pesquisa tem como objetivo: analisar como o programa de formação
continuada, influenciou e contribuiu para a construção dos saberes de ensino através de
atividades de formação relacionadas com a Didática e a prática de ensino. Para Pimenta
(2005), a atividade docente é práxis, na qual há o conhecimento de um determinado
objeto, o estabelecimento de finalidades e a intervenção, que leva a transformação da
realidade, enquanto realidade social.
Este artigo foi organizado em três sessões: iniciamos com a definição de saberes
docentes dos professores dos IFs, com impressões dos interlocutores e análise; em
seguida, refletimos a colaboração do programa de formação continuada na re
(configuração) dos saberes e nas práticas de ensino dos professores dos IFs, com
impressões dos interlocutores e análise; e dimensões conclusivas. É nesta perspectiva
que propomos a compreensão da importância dos projetos de formação que abordaram a
temática Didática e práticas de ensino no âmbito do desenvolvimento profissional, das
práticas pedagógicas e consequentemente dos saberes docentes nos professores que tem
a função de atuar nos Institutos Federais, os quais apresentam peculiaridades distintas
das demais escolas de educação básica, de faculdades e universidades. Eis o desafio da
pesquisa proposta e analisada no presente artigo.
Desenvolvimento dos saberes docentes dos professores dos IFs através da formação
continuada
No que diz respeito à formação continuada e permanente, ideias diversas já têm
sido discutidas no sentido de orientar a organização dessa prática que procura,
juntamente com a capacitação profissional, valorizar e resgatar a figura do docente. Por
isso é que, “na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da
reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 2001, p. 43). Somando-se aos aspectos
filosóficos, políticos, sociais e pedagógicos, não há como desvincular o âmbito legal,
que garante e dá sustentação à necessidade de que diz respeito à formação continuada e
permanente.
Sendo de suma relevância analisarmos o que diz a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação- LDB 9394/96 em seu artigo nº 61, apresenta que a formação dos professores
ocorrerá com a associação entre teorias e práticas ao estabelecê-la entre os fundamentos
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da formação dos profissionais da educação, para atender às especificidades do exercício
das suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da
Educação Básica.
Já no artigo nº 62 LDB n 9394/96, a legislação traz as exigências de formação
para atuar na Educação Básica. Percebe-se, que a formação mínima para os professores
para atuar na Educação profissional Tecnológica não está contemplada. Veja:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação
mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro
primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade normal (BRASIL, 1996, p. 22).
Já em relação ao ensino superior a formação inicial para atuar neste nível de
ensino é legalizada pela LDB 9394/96, no seu artigo nº 52, que estabelece que II – um
terço do corpo docente, pelo menos, com tenha titulação acadêmica mestrado ou
doutorado; a presente legislação não traz contribuições pedagógicas significativas para a
formação de professores bacharéis e oriundos da engenharia e tecnólogo, pois aceita a
formação scricto sensu como requisito para a atuação neste nível de ensino, exigência
que não é cobrada para o ingresso de docentes substitutos e efetivos nos IFs, pois tendo
graduação já é aceito como docente do ensino básico, técnico e tecnológico nestas
instituições de ensino. Desta forma:
A crescente preocupação com a docência no ensino superior tem
proporcionado um aumento nos estudos sobre o tema da formação e do
desenvolvimento profissional de seus professores, para além de um saber
meramente teórico-disciplinar. Amplia-se a demanda desses profissionais por
formação no campo dos saberes pedagógicos e políticos, o que indica um
reconhecimento da importância desses para o ensinar bem (PIMENTA,
ANASTASIOU, CAVALLET , 2003. p.267-268).
Em relação à formação de professores para a docência na Educação Profissional
Técnica de Nível Médio, a atual legislação a Resolução nº 6, de 20 de setembro de
2012, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
Técnica de Nível Médio, no seu artigo nº 40, dispõe que a formação inicial para a
docência na Educação Profissional Técnica de Nível Médio realiza-se em cursos de
graduação e programas de licenciatura ou outras formas, em consonância com a
legislação e com normas específicas definidas pelo CNE.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102394
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Nível Médio, diz no seu § 1º diz que “[...] os sistemas de ensino devem viabilizar esta
formação, podendo ser organizada em cooperação com o MEC e instituições de
Educação Superior”. E no seu § 2º diz que “[...] os professores graduados, não
licenciados, em efetivo exercício na profissão docente ou aprovados em concurso
público, é assegurado o direito de participar ou ter reconhecidos seus saberes
profissionais em processos destinados à formação pedagógica ou à certificação da
experiência docente, podendo ser considerado equivalente às licenciaturas [...]”.
Ao refletirmos sobre a história da formação dos profissionais da educação
profissional concluímos ser um campo que muito precisa avançar na da exigência da
questão da formação pedagógica desses professores. De acordo com Cunha (2013) “[...]
a história da educação profissional é marcada pela forte ação de professores sem
nenhuma formação, somente com a experiência prática, formação em bacharelado,
engenharia, tecnólogo, enquanto a exigência da formação pedagógica é quase
inexistente [...]”.
Desta forma, o professor do Ensino Básico Técnico e Tecnológico - EBTT dos
IFs que atuam na Educação Básica e no Ensino Superior poderão desenvolver sua
profissionalidade em programas de formação continuada, mas a formação que
desenvolva realmente os saberes profissionais para a BPT, vai depender a da sua relação
com o contexto social e a função ética política que assume enquanto sujeito da
comunidade na qual está inserido e atuante.
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criados por meio da
Lei 11.892/2008, que constituem um novo modelo de instituição de educação
profissional e tecnológica que visa, responder de forma eficaz às demandas crescentes
por formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos e de
suporte aos arranjos produtivos locais. Presentes em todos os estados, os Institutos
Federais contém a reorganização da rede federal de educação profissional. Segundo a
Lei 11.892/2008, os IFs devem oferecer cursos de: I) formação inicial e continuada; II)
ensino médio integrado; III) cursos superiores de tecnologia; IV) cursos superiores de
bacharelado em engenharias; V) cursos superiores de licenciaturas; VI) cursos de pós-
graduação.
Portanto, os professores do EBTT da Educação Profissional Tecnológica, atuam
ou podem atuar concomitantemente em todos os cursos oferecidos, isso significa que
esse professor possui o desafio de desenvolver e ter Didática e práticas de ensino para
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atuar tanto no Ensino Básico, como no Ensino Superior. Acrescenta-se a fala do
entrevistado T 06:
Avalio como positivas as atividades de formação continuada realizadas no
Campus Rio do Sul, porque eu vejo que o docente precisa estar em constante
formação, visto que em nosso Campus muitos profissionais docentes não
tiveram uma formação pedagógica e isto dá o diferencial quando sou
trabalhado com o aluno. Principalmente eu vejo uma diferenciação muito
grande, quando o profissional atua no ensino médio e no ensino superior ,
muitos querem trabalhar com ensino médio como se trabalha com o ensino
superior (T 06).
A formação continuada na instituição de ensino, em momentos de encontros,
pode ser entendida também como um tempo dedicada à reflexão do seu papel político e
de profissional, na qual se possibilita o reconhecimento e a valorização dos seus
“saberes de experiência feito” que possibilita a construção de novos conhecimentos e a
articulação do trabalho coletivo. O processo educativo é contínuo e isso exige que o
profissional eduque-se permanentemente (FREIRE, 1998).
A oferta de programas de formação continuada aos professores da educação
básica está contemplada na legislação educacional como um dever das instituições
educacionais. Desta forma, a formação pedagógica e o desenvolvimento profissional
dos professores dos IFs são um direito e não uma obrigatoriedade. Conforme Pimenta e
Anastasiou (2002), a preparação pedagógica e a reconstrução da experiência docente
como uma proposta de formação para o magistério é fundamental para o aprimoramento
de desenvolvimento profissional continuado.
A prática docente e o processo de formação que lhe é pressuposto e que se
desenvolve ao longo de toda a carreira dos professores requer a mobilização dos saberes
teóricos e práticos capazes de propiciar o desenvolvimento das bases para que eles
investiguem sua própria atividade e, a partir dela, constituam os seus saberes, num
processo contínuo.
Neste sentido, para a compreensão das contribuições dos encontros de formação,
realizados foi questionado aos entrevistados: Você considera que as temáticas
trabalhadas nos encontros de formação contribuíram para o avanço Didático e das
práticas de ensino dos professores do EBTT do Campus Rio do Sul? Por quê?
Então, ao serem indagados sobre a contribuição da formação contínua para a (re)
construção da aprendizagem da docência, da Didática e das práticas de ensino, todos os
professores/educadores investigados mencionaram que a formação contínua os cursos e
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projetos de capacitação contribuíram para o aprimoramento da Didática e da prática
pedagógica, conforme as falas abaixo a compreender:
Por mais que eu tenha anos de trabalho em ensino, as coisas vão mudando, a
juventude muda, as famílias mudam [...]. Vê que a variabilidade é muito
grande, você tem agrônomos, técnicos, bacharelados que passaram a vida
toda só estudando , estudando, por exemplo, fizeram agronomia, fizeram
mestrado, fizeram doutorado, fizeram pesquisas agora estão dando aula para
o ensino médio profissionalizante (T 10).
Sim, por que sempre se fala em algo pedagógico e em capacitação, sempre
temos um grande crescimento, independente do tempo que se faça, quanto
mais fizer melhor, assim foi bastante positivo (T 03).
Acho que sim, primeiro porque muitas que essas atividades serviram para
troca de experiências entre os professores, pois muitas vezes a gente não tem
nem tempo para conversar [...] é muito importante está questão da formação
especialmente para os professores como no meu caso que vem de uma
graduação técnica, não vem de uma licenciatura [...] (T 09).
As narrativas dos professores indicam que ocorreu o desenvolvimento de
saberes pedagógicos nos encontros da formação, pois, o aprender a ser professor está
relacionado com toda a experiência pessoal e profissional de cada docente, com a
reflexão coletiva em relação a suas práxis e através dos relatos de experiências,
Didáticas e de práticas de ensino que são significativas para o ensino e a aprendizagem.
A atividade Didática dos professores e sua prática de ensino envolvem
elementos que são fundamentais para o processo de ensino aprendizagem. De acordo
com Pimenta (2005), “[...] a atividade docente é práxis, na qual há o conhecimento de
um determinado objeto, o estabelecimento de finalidades e a intervenção, que leva a
transformação da realidade, enquanto realidade social”.
Dessa forma, defende-se a afirmativa de que há necessidade do desenvolvimento
da consciência crítica para o exercício docente voltado à ação transformadora, por isso o
exercício dessa ação requer preparo, conhecimentos e saberes específicos, pedagógicos,
da prática e das experiências.
A formação continuada na instituição de ensino, em momentos de encontros de
formação pode ser entendida também como um tempo dedicada à reflexão do papel
político do profissional, na qual se possibilita o reconhecimento e a valorização dos seus
“saberes de experiência feito” que possibilita a construção de novos conhecimentos e a
articulação do trabalho coletivo.
No planejamento educacional de uma instituição de ensino a questão da
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
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formação continuada de seus educadores é fator fundante da reflexão sobre as Didáticas
e práticas de ensino dos educadores que ali exercem a arte da docência e
consequentemente campo fundamental para o desenvolvimento profissional (re)
construção dos saberes docentes dos educadores, pois é através da práxis desenvolvida
entre educadores e educandos que a educação acontece e, por conseguinte “[...] a
emancipação social e coletiva da sociedade” (CONTRERAS, 2012).
Colaboração do programa de formação continuada na (re) configuração dos
saberes e nas práticas de ensino dos professores: o que dizem as vozes
Na busca de informações sobre a formação Didática e pedagógica dos
professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, realizamos entrevistas
semiestruturadas gravadas, com 9 (nove) sujeitos, destes, 7 (sete) professores e 2 (dois)
técnicos administrativos do Núcleo Pedagógico - NuPe do IF Catarinense, Campus Rio
do Sul. Foi dada prioridade, na seleção, aos professores e servidores da equipe de
gestão, educadores e formadores que elaboraram e participaram do programa de
formação inicial e continuada do Campus.
Os sujeitos da pesquisa quando perguntados a respeito de contribuições desses
encontros de formação para o desenvolvimento da Didática de sala de aula como prática
de ensino, formação pessoal e desenvolvimento profissional responderam positivamente
em sua totalidade (100%). Esta receptividade em relação ao programa de formação e
sua avaliação positiva demonstram que todos os envolvidos no processo de formação
estão dispostos a aprender e a refletir sobre suas práticas.
Os entrevistados também foram indagados sobre: quais necessidades de
formação continuada um professor que atua concomitantemente na Educação Básica e
Ensino Superior busca durante a sua formação pedagógica e seu desenvolvimento
profissional? Os sujeitos reforçaram a importância de aprender coletivamente através
dos relatos de experiências dos colegas. Muitos depoimentos revelam isso. As
necessidades de formação continuada dos professores do EBTT, para T O6:
Eu acho que as maiores necessidades são em termo de como ensinar, no
processo de ensino aprendizagem, de como trabalhar com o aluno visando o
sucesso no ensino e aprendizagem, visto que a formação básica e
epistemológica de muitos professores não é evidente, então se eu não sei
como os teóricos defendem com que os alunos aprendem, se eu não sei como
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
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o aluno aprende, eu não vou conseguir ensinar de modo que ele venha
aprender. Então eu vejo que esse conhecimento teórico epistemológico é
importante.
Na fala do entrevistado T 06, percebe-se o destaque à apropriação da teoria, aqui
nomeada como base epistemológica, como fundamento para a inter-relação com o aluno
no processo de ensino-aprendizagem. A formação continuada é também uma meta,
embora seja reconhecida a necessidade de qualificação desta formação. Nesta
perspectiva, segundo T 09:
[...] eu vejo que para todos os professores é um desafio atuar desde o ensino
médio, até pós-graduações [...]. Então a formação pedagógica precisa ser
bastante estudada e melhorada, por que são níveis diferentes, estudantes em
situações diferentes e às vezes no mesmo dia você precisa atuar em diferentes
públicos, em diferentes cursos.
Para T09, o reconhecimento dos limites de uma formação mais tecnicista
também aparece entre as preocupações dos entrevistados, bem como a intenção de
superar estes limites através de uma formação de caráter mais abrangente e a formação
continuada volta a aparecer como uma estratégia adequada.
De acordo com T 07, as necessidades Didáticas e de práticas de ensino são:
[...] alguma coisa que formasse melhor o professor, principalmente para
trabalhar com estes alunos que vem com pouca base de, [...] que vem com
deficiências do ensino fundamental [...] vamos dizer assim estudar algumas
estratégias de ensino que melhorassem a aula. [...] isto ajudaria dentro de uma
formação continuada e uma especialização dentro da instituição, curso
mesmo de formação pedagógica que pudessem certificar os professores eu
acho que seria bem interessante.
Para T 07, a questão geracional também aparece nas falas. As novas demandas
advindas das tecnologias e da transformação de valores e ideias é outro desafio para o
professor que, por vezes, formou-se no bojo de uma educação tradicional.
Da mesma forma para T 10:
Eu como professor eu vejo assim, eu trabalhei e trabalho a minha vida inteira
com ensino médio técnico profissionalizante e agora eu comecei a trabalhar
com o ensino superior [...]. Então como trabalhar? [...]. Como trabalhar com
essa juventude hoje para atingir o objetivo.
Para T 10, possui a necessidade de saberes pedagógicos para atuar no ensino
superior, e de compreender como ensinar e aprender com a juventude dos dias atuais.
De acordo, com os entrevistados são várias as necessidades de formação desses
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profissionais que atuam na EBT, ficando evidenciada nas suas falas a necessidade de
formação Didática e de práticas de ensino para a atuação em cursos da educação básica
e do ensino superior. Ficando manifestada a preocupação com a formação em seu
processo de profissionalização, em direção a uma educação de qualidade.
Também, a maioria dos sujeitos reconhece a necessidade de aprofundamentos
específicos e das questões pedagógicas na sua formação como professores e
principalmente em mais de um nível na escolaridade.
A práxis é parte fundante do trabalho docente, independente do nível de ensino
que o professor atua. Conforme Libâneo (2013, p.25) afirma que “[...] a formação
profissional do professor implica, uma contínua interpretação entre teoria e prática, a
teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência prática e a ação prática
orientada teoricamente”.
Desta forma, o processo de formação pedagógica dos professores dos IFs precisa
considerar as características de formação e atuação desses profissionais, que possuem as
mais diversas formações em licenciaturas, bacharelados, engenharias e tecnólogos, os
quais atuam concomitantemente em curso da Educação Básica e do Ensino Superior.
Dimensões Conclusivas
À luz deste quadro de informações e da proposta desta pesquisa, pode-se afirmar
que o campo sobre formação inicial e continuada de professores dos IFs é vasto, sendo
de fundamental importância seu diálogo com os demais campos para que se amplie o
"estado da arte" das pesquisas sobre o tema.
Ao fazer uma análise reflexiva sobre as práticas de formação continuada,
constata-se que o modelo vigente constitui-se de cursos de curta duração, imediatistas,
pontuais, o que nos faz pensar sobre a importância da superação da prática de formação
continuada fundamentadas pela racionalidade técnica, composta de fórmulas e
receituários, novas técnica, procedimentos e metodologias, que não privilegia o trabalho
reflexivo, voltado para a complexa formação atual necessária ao professor do IFs.
Aprender a ser professor e atuar nesse contexto dos IFs, não é, portanto, tarefa
que se conclua apenas após alguns estudos de conteúdos e técnicas. É uma
aprendizagem que deve ocorrer por dinâmicas educativas que exercitem a práxis
pedagógica em situações problematizadoras de temas e situações da vida real que visem
o desenvolvimento de uma prática reflexiva competente. Exige ainda que, para além de
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 102400
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conceitos e de procedimentos, sejam trabalhadas atitudes, sendo estas consideradas tão
importantes quantos aqueles.
Enfim, ao pensarmos em programas de formação continuada, os saberes e a
prática pedagógica dos professores são os alicerces para o planejamento e
desenvolvimento das atividades propostas, pois, essas precisam estar organizadas a
partir da identificação das reais necessidades do cotidiano e das demandas de
capacitação dos professores.
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