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FORMAÇÃO DE GESTORES ESCOLARES EM BELÉM-PA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA INVESTIGAÇÃO José Carlos Martins Cardoso – SEDUC-PA [email protected] José Pedro Garcia Oliveira – NASPE-SEDUC; UNAMA-PA [email protected] Resumo: O presente artigo constitui parte da reflexão para entender a formação sobre gestores escolares, especificamente os que se encontram no exercício da função em escolas de educação básica pública da rede estadual da cidade de Belém-Pa. A reflexão discute o modelo de formação que credencia profissionais para a escola de educação básica pública paraense para exercer a função de gestor (a) escolar. Como metodologia, adotou-se os momentos de reuniões, seminários e eventos promovidos na maioria pelo órgão oficial de educação pública do estado. Conclui-se que a formação ainda é muita na lógica da tendência técnico-científica de gestão escolar. Palavras-chave: Belém; formação do gestor escolar; escola pública INTRODUÇÃO
Repensar a formação de professores e de profissionais da educação especialmente a
formação de gestores escolares, frente ao contexto educacional presente, está tornando-se uma
preocupação premente na atualidade, por ser um tema complexo e polêmico. Nunca se refletiu
se vivenciou tantos estudos e ações sobre a possibilidade da escola mediante a formação de
seus gestores escolares serem pensada e formatada com o desejo e a necessidade de se
construir uma educação mais justa e igualitária buscando garantir o acesso, a permanência, a
inclusão, a participação, a organização, a autonomia, a formação e valorização dos
profissionais da educação, a qualidade da aprendizagem e a tomada de decisões coletiva.
Contudo, a gestão escolar frente a tantos e diferentes olhares tem sido assumida com cautela e
conhecimento de causa por admite-se que o gestor (a) escolar é o centro das implicações, de
iniciativas e de desafios para qualquer mudança no processo ensino-aprendizagem, mesmo
portador de uma formação deficiente, limitada e instrutiva para fazer frente às exigências, os
desafios, as condições, as perspectivas e as implicações para promover mudanças na escola.
Nesse sentido, temos refletido de que o modelo de formação de gestores escolares que
se admite e /ou credencia profissionais para a escola de educação básica pública paraense, não
consegue aprofundar, discutir e avançar sobre as questões relativas ao funcionamento, a
estrutura e à organização da escola sob o ponto de vista político-pedagógico e administrativo,
bem como tornar essa instituição um espaço de convivência coletiva, participativo e
democrático.
O marco dessa reflexão e debate no campo da formação de profissionais da educação
situa-se com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Lei Nº.
9.394/96. No artigo 3º, inciso VIII, introduz o princípio da gestão escolar democrática
enfatizando a perspectiva de o ensino público ser democrático, de maneira que as escolas de
educação básica possam envidar esforços para desenvolver uma prática político-educativa
democrática.
No campo da formação específica para o exercício da gestão escolar, no que se
concerne a formação, condições e valorização em que atuam professores e gestores escolares,
especificamente na cidade de Belém-Pa, o cenário atual mostra que essa formação constitui
discursos e projetos dos governantes que não tem provocado mudanças na organização e
funcionamento da escola. Ou seja, no que se refere o conhecimento da estrutura
organizacional, do planejamento escolar, do funcionamento, da participação dos sujeitos e
usuários, do processo de coordenação e acompanhamento das ações, do processo de avaliação
e tomada de decisões coletivas, que neste começo de século XXI, vem exigindo desafios,
senso crítico, compromisso, criatividade e trabalho coletivo para implementar diretrizes,
objetivos, metas que mobilizem os sujeitos (professores, coordenação pedagógica, servidores)
e usuários (alunos, pais e /ou responsáveis, sociedade civil), buscando configurar, inovar e
qualificar a educação básica na escola pública, especificamente a escola básica da cidade de
Belém-Pa, ainda constitui uma forte lacuna.
Neste texto pretendemos refletir acerca da formação de gestores escolares em
exercício na escola básica pública da cidade de Belém-Pa, precisamente sobre a capacidade
que possuem para orientar, mobilizar, encaminhar, envolver, realizar modificações,
mudanças, transformações e coordenar no âmbito da escola, de forma coletiva e participativa
ações que sensibilize, envolvam, mobilize, acione e oportunize que os sujeitos e usuários da
escola manifestem atitudes de compromissos, responsabilidades, participação, interesse,
trabalho, investigação, estudos e permanente preocupação com a qualidade da educação
básica paraense, porque não a educação básica brasileira.
SITUANDO A FORMAÇÃO DE GESTORES ESCOLARES EM BELÉM-PA
Contextualizar historicamente a temática formação de gestores escolares, a partir dos
anos 90, é pertinente, visto que este período foi marcado por várias reformas educacionais,
como também, serviu de pretexto para alavancar à reforma do estado brasileiro. As reflexões
sobre esse período, focalizam a necessidade de se investir em questões sobre a gestão pública,
principalmente como o discurso do então Presidente da República Fernando Henrique
Cardoso, quando afirmou que “o problema na educação não era da falta de recursos, mas de
gerenciamento dos mesmos”, discurso que deu margem para inúmeras reformas, e
principalmente a criação de diversos programas educacionais, de cunho financeiro e de
gestão.
Na área educacional políticas e programas, com orientações dos organismos
multilaterais, aprovadas nos documentos oficiais, nos diversificados eventos internacionais,
como: Conferência de Jomtien (1990); Cepal (1990/1992); Plano Decenal de Educação para
Todos (1993); Unesco-Promedlac (1993); Conferência de Dakar (2000) e outros, sempre
foram no intuito de “promover” e “oferecer” subsídios para os países da América Latina e
Caribe, formatarem políticas educacionais de acordo com seus interesses.
Neste estudo não pretendemos focalizar cada um dos documentos acima citado,
apenas relacioná-los às políticas e decisões que influenciaram o processo de elaboração de
políticas de formação de professores da educação pública básica, precisamente pedagogos no
curso de Pedagogia, com sinalização para assumirem funções de gestores escolares. È
inconteste a centralidade da gestão nas reformas educacionais da maioria dos países da
América Latina, pois em quase todas, tem se configurado num formato organizacional dos
sistemas de ensino e das escolas, em que estratégias de descentralização com vistas à melhoria
da qualidade da educação, são fortemente visualizadas.
Em 1993, veiculavam-se nos meios educacionais brasileiros, que um dos pontos
frágeis do sistema estava no mau gerenciamento da União, dos Estados, dos municípios e das
escolas em que se previa a descentralização da administração, a melhoria da ação educativa, a
gestão. A gestão como um ato de gerir de modo mais eficiente e econômico às necessidades
educacionais da população, inerente ao exercício de sua função. Tal formação fora anunciada
no documento base: “Questões críticas da educação brasileira” – 1995, do governo Fernando
Henrique Cardoso, que apontava para um tipo de profissional produtivo, moldado sob a égide
gerencialista, e atrelado às novas exigências e padrões de gestão e da organização do trabalho,
buscando a eficiência, a eficácia e a produtividade, conceitos estes articulados à lógica da
modernização do Estado. Neste contexto, era necessário ter uma visão ampla da gestão
educacional, além de competências específicas e de instrumentalização para atuar como
gestor.
Especificamente o processo de formação de gestores escolares inclui uma série de
normas que foram instituídas sob os auspícios da Constituição Federal de 1988, Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional –LDBEN -Lei nº. 9. 394 /96 e Plano Nacional de
Educação –PNE -Lei n° 10.172/01, que se resume no art. 64 da Lei nº. 9.394/96, que trata da
formação dos dirigentes, quando diz que: “a formação de profissionais de educação para a
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a
educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em cursos de pós-
graduação, a critério da instituição, garantida, nesta formação, a base comum nacional”.
Embora o princípio da gestão escolar frente ao contexto educacional presente, venha
se tornando uma preocupação mais freqüente principalmente no que se refere à formação de
gestores escolares, o balanço que se pode fazer nesse momento, resulta de investigações e
produções elaboradas por autores conceituados da área (ALONSO, 2007; ABREU, 2001;
CABRAL NETO & ALMEIDA, 2000; LUCK et al, 2002; LIBÂNEO et al, 2003; VIEIRA et
al, 2003; RBPAE, 2005), que apontam os limites e as preocupações em torno da viabilidade
de um processo específico para formação desse segmento escolar.
No caso da formação de professores como estabelecem os documentos oficiais das
políticas educacionais, nota-se todo um delineamento voltado para o desempenho e
atendimento adequado dos professores, para atender crianças, adolescentes, jovens e adultos,
constituindo um discurso que não é novo, além de mencionar de que muito se investe, nesse
sentido.
Por outro lado, tem sido crescente proliferação de cursos de formação de professores
cuja formatação fundamenta-se em teorias educacionais, novas metodologias de ensino e de
informações sobre uma disciplinas ou disciplinas enfatizando de que é uma formação variada
e inovadora relacionada aos acontecimentos do contexto sócio-cultural e educacional tendo
em vista, que fatos novos estão acontecendo, e que necessitam ser discutidos em sala de aula
com os alunos visando compreenderem os problemas sociais e suas determinações na vida
cotidiana e em todas as dimensões. Tudo para mostrar que o (a) professor (a) diante dessa
realidade deve está preparado adequada e criticamente para ajudar na reflexão e contribuir
com o educando sobre a natureza do processo educativo.
Alarcão (1998) sobre o processo de formação de professores enfatiza de que ser um
bom professor significa levar em consideração algumas dimensões do conhecimento
profissional. Dentre elas, a estrutura do conhecimento científico-pedagógico, em que o
conhecimento do conteúdo disciplinar que se relaciona diretamente ao “domínio da matéria de
ensinar, no que diz respeito aos conceitos e temas que a constituem, às estruturas que lhes
conferem organização interna e ao grau de relevância de uns relativamente aos outros”
(p.103). Ou seja, é necessário que os professores manifestem profunda segurança na forma de
organizar e desenvolver suas atividades em sala de aula.
A atividade do professor insere-se num sistema escolar que tem sua organização própria, onde o conhecimento do currículo, entendido como a compreensão do conjunto das áreas disciplinares e não-disciplinares que integram a organização das atividades formativas de um determinado nível de ensino, bem como o conhecimento da estrutura de seus programas, é fundamental (ibid, p. 103).
Entretanto, a aprendizagem adquirida nesse tipo de formação com rara exceção, é
superficial, não condiz com a prática dos professores, pois o que se percebe são lacunas em
relação à preocupação com a reconstrução de seus próprios conhecimentos, da busca de um
pensar crítico, reflexivo e colaborativo. Esse tipo de formação, não constituir-se como efetiva
e legítima capaz de instrumentalizar e ajudar os professores a mobilizar saberes e
procedimentos metodológicos inovadores para executarem sua prática pedagógica. Ou seja,
este modelo de formação não atende às necessidades da sociedade, pois há necessidade de um
professor (a) que seja realmente profissional, ciente do seu papel na formação das gerações
futuro e interventor de certa maneira nos destinos do país.
No âmbito da cidade Belém-Pa a formação de gestores escolares que atuam nas
escolas de educação básica pública, a situação é crítica na medida em que o recrutamento e
/ou seleção, são os egressos dos cursos de graduação em Pedagogia oferecidos pelas
Universidades públicas e privadas e outras agências formadoras, que tem no desenho
curricular dos cursos se constata apenas uma disciplina sobre Gestão Escolar, geralmente com
carga horária semestral variando entre 72 (setenta e duas) a 106 (cento seis) horas,
representando no currículo uma “adaptação pedagógica” único fundamento que os gestores
recebem durante o processo formativo para gerenciar uma escola.
O Exercício da Gestão Escolar
Sobre essa situação o questionamento que se tem levantado sobre a educação e sua
organização escolar especificamente na atualidade diante das “transformações técnico-
científicas” (LIBÂNEO et al, 2003, p. 59), trata-se de sua função frente às modificações que
vem ocorrendo no contexto do trabalho, na vida das pessoas, na educação e na organização e
funcionamento escolar, que exige desafios para se pensar, produzir e organizar os
conhecimentos e a escola básica.
De acordo com esse cenário, a forma e a criatividade com que se processa e se move
à elaboração, a transformação e a informação social e cultural, provocam na escola e na sua
organização situações que de imediato requer revisão nos aspectos referente à organização
política, pedagógica, administrativa, curricular, didática, funcional e na função social, visando
acompanhar o desenvolvimento futuro.
A partir desse movimento constata-se uma forte exigência do mercado de trabalho no
que refere “a aplicação do conhecimento e o desenvolvimento de habilidades e competências”
(ALONSO, 2007, p.25), para modificar a concepção de atuação da escola, uma vez que ainda
se utiliza de postura em que a reprodução e a memorização são a tônica de suas práticas de
ensinar.
Ainda Alonso (2007, p. 25) ao fazer referência ao papel da escola na atualidade diz
que,
Compete, pois, à escola, em especial, proporcionar condições e oportunidades para o indivíduo aprender apropriando-se de “saberes já elaborados” e de informações complementares, e, também, desenvolvendo métodos próprios de elaboração que lhe permitam dar significado a esse repertório, que ampliem e redimensionem os conceitos e idéias existentes, de modo a alimentar e estimular o desenvolvimento pessoal.
Considerando o enfoque apresentado pela autora, é fundamental que a oferta, a
oportunidade e a promoção da aprendizagem constituam fundamentos imprescindíveis para
que os alunos tenham sucesso. A partir desse entendimento, questionamentos e críticas
advindas de professores, de alunos, de servidores e da sociedade civil são de que o trabalho, à
organização, o funcionamento da escola, os aspectos administrativos, financeiros, jurídicos e
pedagógicos não tem conseguido fugir da rotina, da improvisação, da rígida estrutura
burocrática, da centralização, da subordinação e da baixa qualidade dos serviços prestados por
essa instituição, com o argumento de que o (a) gestor (a) continua cumprindo as normas e
determinações próprias da concepção tradicional de educação que é a preservação, a
transmissão e a manutenção do patrimônio cultural, conteúdo de formação transmitido esse
segmento.
Santos (2003) aborda a questão ao destacar que a partir de 1988, atendendo as prescrições
Constitucionais, algumas medidas de democratização da gestão foram incorporadas seguindo
as orientações de descentralização e autonomia. No entanto, segundo a autora,
Há diversos problemas em tais orientações às Escolas. Primeiro, a obrigatoriedade de implementação de tais medidas acaba por invalidar suas finalidades de democratização da gestão, porque não se impõe democracia, constrói-se, conquista-se. (...) efetivamente tais medidas passam a ser meras formalidades legais, mas, ao mesmo tempo parecem estar servindo para a
consecução de um novo modelo de escola, na direção de se transformar numa instituição empreendedora e competitiva, tal qual as empresas de sucesso. (SANTOS, 2003, p. 106).
Contudo, as pesquisas, os estudos e a produção teórica afirmam que o papel dessa
instituição de ensino, é fomentar a modificação de padrões, de comportamentos, de crenças e
de valores, uma vez que a efetividade desse processo ocorre por meio de envolvimento, de
participação, de contribuição, do bom funcionamento, da boa comunicação e da ampliação de
informações que são elementos fundantes para interagir com o conhecimento existente.
É importante observarmos que a partir também da década de 90 do século passado
precisamente com a promulgação da Lei Nº. 9.394/96, a escola de educação básica vem
buscando modificar-se no que se refere à organização, o funcionamento e a estrutura com a
implementação de meios, procedimentos e mecanismos de participação alterando seu vínculo
no contexto em que se insere, vislumbrando assim, que ares de compromisso político e social
se percebem no seu interior. Quer dizer, a escola inserida nesse contexto vê-se diante de
novos desafios, novas dimensões, novos jeitos de fazer, saber fazer, construir /reconstruir o
conhecimento, novos saberes, novos paradigmas, novas formas de organização do currículo,
de gestão, do planejamento, das relações com a comunidade e da avaliação, por meio da
participação e do envolvimento do coletivo escolar. “{...}à atuação do dirigente escolar, pode
contribuir para a superação de conflitos, para a melhoria de trabalho, para as relações intra-
escolares e, fundamentalmente, para a qualidade do ensino {...}” (ROMÃO & PADILHA,
1997, p.93).
Formação do (a) Gestor (a) Escolar no Contexto de Belém-Pa
Em relação à formação dos gestores escolares que atuam na gestão das escolas da
rede pública estadual da cidade de Belém-Pa, nota-se que há uma lacuna longe de se
vislumbrar mudanças, devido a lacunas na fundamentação teórico-prática (competências,
habilidades específicas, definições de planejamento, concepções de organização) necessárias
para mobilizar o exercício da função, pois “em geral, a formação básica dos dirigentes
escolares não se assenta sobre essa área específica de atuação e que, mesmo quando esses
profissionais a têm, ela tende a ser livresca e conceitual” (LUCK, 2000, p. 29). Ou seja, não
há oferta de formação específica em nível de ensino superior /formação inicial para gestores
de escolas da educação básica que forneça informações relativas à organização e
funcionamento de uma escola.
A formação que é ofertada precisamente nos cursos de Pedagogia, não consegue
ampliar a capacidade de compreensão de educação escolar pautada como direito social básico,
instrumento de emancipação humana, com qualidade social, assentada em práticas e processos
que contribuam para a promoção de um trabalho coletivo e de tomada de decisões no espaço
escolar, assentadas em práticas que implementem a elaboração de planos e projetos voltados
para o fortalecimento da participação dos segmentos escolares por meio de instâncias
colegiadas, bem como a compreensão das diversas formas de manifestações humanas que
vivem nas adjacências da escola, do bairro, da comunidade, da cidade e do estado.
A existência dessa lacuna, tem induzido o Sistema Estadual de Educação a procurar
suprir esse déficit ofertando cursos de capacitações para melhorar a atuação de seus gestores,
que via de regra, são inconsistentes, pois a “tendência, dada a sua concepção macrossistêmica
e seu distanciamento do dia-a-dia das escolas, é a de considerar a problemática educacional
em seu caráter genérico e amplo, do que resulta um conteúdo abstrato e desligado da
realidade” (LUCK, 2000, p. 30), que não preenche as lacunas deixadas pela formação inicial,
pois esse processo de formação carrega resquícios da orientação que vem desde a década de
70 em que o modelo de política educacional se efetuasse por meio dos cursos de Pedagogia
habilitação em Administração Escolar, formação própria para a gestão da escola.
Com os arautos dos movimentos reivindicativos e de redemocratização política do
país evidenciada a partir da década de 80, aflora a perspectiva de que a escolha e a investidura
do gestor (a) escolar na função fossem por meio de processo eletivo. Essa idéia causou um
arrefecimento em relação à procura por formação inicial nos cursos de Pedagogia, ou seja,
diminuiu a procura de um lado, de outro, cresceu a oferta de cursos de especialização em
gestão educacional lato sensu e cursos ofertados pelos sistemas de ensino, cuja justificativa
centrou-se na formação de gestores escolares em exercício e os que pleiteavam essa função.
Contudo, na cidade de Belém pouco ou quase nada se modificou, pois houve continuidade no
entendimento de o curso de Pedagogia era o responsável pela formação de gestores escolares
ainda que “{...} baseada numa estrutura administrativa autocrática, vertical e hierarquizada
{...}” (ROMÃO & PADILHA, 1997, p. 91) de forma livresca e conceitual, mas como
formação capaz de garantir a atuação nas escolas de educação básica pública paraense.
E tem sido com essa concepção, com raras exceções, os gestores escolares que atuam
nas escolas de educação básica em Belém, ainda são oriundos dos cursos de Pedagogia, cuja
concepção é de uma administração autocrática em que mantém sobre seu controle todo o
poder e tomada de decisões alicerçadas no enfoque sistêmico que, por conseguinte, gera
conflitos e torna-se um agravante que tem impossibilitado modificar a estrutura de pensar e
conceber o âmbito da escola, como espaço de atuação educacional, de formação de sujeitos
éticos, participativos, críticos, criativos e democráticos.
Devido à continuidade dessa concepção que tem impossibilitado o exercício de
atuação dos gestores escolares de forma mais efetiva e democrática, Alonso (2007, p. 28)
adverte escrevendo que.
As organizações precisam adequar-se ao contexto sociopolítico e às exigências de sua época, a sua existência só tem sentido quando cumpre sua função social, e a vida das pessoas nas organizações constitui parte significativa desse processo de formação; portanto, a escola além de instruir e formar intelectual e socialmente os alunos é um campo de aprendizagem social e de convívio humano que cultiva valores, ensinamentos, sentimentos e provoca desafios a todos os participantes dessa comunidade educativa.
No caso dos gestores escolares em exercício da função na escola de educação básica
pública da cidade de Belém, emerge a hipótese de que a formação para atuação nessa função
tem sido insuficiente quando se percebe limitação diante da possibilidade de a escola assumir
uma postura inovadora e democrática em contraposição a uma postura de ajuste e de
submissão ao modelo de organização centralizada, hierárquica, isolada, controladora e
cerceadora de participação e mudanças. De uma gestão escolar autocrática centrada na pessoa
do (a) gestor (a) escolar, postura que tem sido nefasta e prejudicial à participação dos sujeitos
(professores, alunos, servidores) do processo de planejamento, de tomada de decisões
coletiva, de envolvimento, de participação, de troca de experiências, dos debates, das
reflexões, pois atribui para si a capacidade técnica e a autoridade para encaminhar
individualmente o processo político –pedagógico –administrativo da escola.
Essa limitação tem contribuído para que os gestores no cotidiano do exercício da
escola voltem seus olhares para as questões administrativas, financeiras e jurídicas, deixando
a planos secundários as questões pedagógicas. São comuns os gestores escolares estarem
preocupados com: horário de entrada de saída dos professores e servidores, cumprimento de
horários, com os alunos que não possuem uniforme escolar, com problemas de telhados,
goteiras, pinturas, fossas danificadas, assinatura do livro de ponto, aplicação dos recursos do
PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) e Fundo Rotativo, segurança da escola, aumento
de altura da dimensão do muro de proteção, falta de água, falta de servidores para as
atividades administrativas, falta de merenda escolar, falta de equipamentos e mobiliários.
Outro aspecto que merece destaque neste trabalho é o fato de que a atual prática gestionária nas escolas acaba exigindo dos diretores uma dedicação maior, e às vezes plena, às questões administrativas, obrigando-os a tornar secundário o aspecto mais importante de sua atuação, ou seja, a sua responsabilidade em relação às questões pedagógicas e propriamente
educativas, que se reportam à sociedade como um todo e, especificamente à sua comunidade escolar (ROMÃO & PADILHA, 1997, p. 92).
Não resta dúvida que essas questões são de extrema importância para qualificar a
aprendizagem. Entretanto, priorizar essas questões em detrimento das pedagógicas e
educativas, implica no isolamento, na centralização, na exclusão e no controle por parte do (a)
gestor (a) escolar, estabelecendo assim, um formato dependente e conflituoso. Ou seja,
preocupar-se somente com as questões administrativas gera um processo rotineiro e de
improvisações das ações ou de sobreposição, afastando o (a) gestor (a) de atuar no
compromisso com a elevação da qualidade da educação escolar de sua escola, constituindo
assim, um profissional dependente, que não se interessa pelo debate, a reflexão e o
questionamento sobre a organização política e social da educação, do planejamento, da
coordenação pedagógica, do assessoramento, da direção, da parceria responsável, da
participação, do envolvimento dos sujeitos /atores e usuários, da descentralização de funções,
da construção e aperfeiçoamento da liderança, da autonomia, do acompanhamento, da
avaliação, da interação escola - comunidade, da qualidade da aprendizagem e da formação e
valorização dos profissionais da educação que são fundamentos teórico-metodológicos
indispensáveis no conjunto das idéias, teorias, conteúdos, procedimentos e práticas próprios
de uma gestão escolar democrática participativa.
Assim, o que observamos sobre a formação que os gestores escolares no exercício da
função nas escolas de educação básica de Belém-Pa possuem, é uma forte inconsistência
teórico-metodológica que tem limitado a atuação desses sujeitos para enfrentarem e
promoverem propostas de ações que priorize primordialmente a função pedagógica e social
como eixo diretriz /mobilizador /coordenador das demais funções (administrativo, financeiro,
jurídico). Inconsistente devido não conseguir associar a formação inicial e continuada à
elaboração do Projeto Político Pedagógico, a implantação /implementação do Conselho
Escolar, do Grêmio Estudantil, de Organizações de Professores e Servidores e as
Organizações de Famílias e Comunidades, que possam servir de conteúdos de uma política de
formação sólida e duradoura, sendo que as dimensões de participação, de envolvimento, de
comprometimento, de autonomia pedagógica, administrativa e financeira, efetivamente devam
permear a formação dos gestores escolares.
É notório ainda que essa inconsistência na formação do (a) diretor (a) ou gestor (a)
escolar em exercício na cidade de Belém-Pa, não tem conduzido para a formação antes de
tudo de um educador (a)-gestor (a), investido (a) de competência técnica, política e
pedagógica, articulador político dos diferentes sujeitos /atores da escola, da comunidade em
torno do Projeto Político Pedagógico, do compromisso social e da organização da escola.
Segundo Ferreira (1998, p. 113), os desafios para uma formação do homem e da
mulher atualmente, é uma condição indispensável para mobilização da vida social e coletiva
da população, pois.
Um processo de gestão que construa coletivamente um projeto pedagógico de trabalho tem já, na sua raiz, a potência da transformação. Por isso é necessário que atuemos na escola com maior competência, para que o ensino realmente se faça e que a aprendizagem se realize, para que as convicções se construam no diálogo e no respeito e as práticas se efetivem, coletivamente, no companheirismo e na solidariedade. {...} uma aprendizagem dos conteúdos científicos da cultura erudita e os conceitos éticos de convivência social {.}.
Considerando o enfoque dado pela autora, entendemos que é somente um processo de
formação voltada para esses aspectos que assegura o comprometimento do (a) gestor (a) com
o exercício efetivo, democrático, atuante, humano, formativo, de qualidade nas escolas de
educação básica de Belém-Pa, relacionando-se ao desenvolvimento de ações pensadas e
elaboradas coletivamente, imbuídas da convicção, do compromisso e da responsabilidade
social de que o ensino e aprendizagem são os fins mais importantes e indispensáveis de sua
atuação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discursar sobre a formação de gestores escolares em Belém –Pa, tem constituído um
desafio para a pesquisa, a investigação e o reconhecimento político –social e pedagógica que
possui essa função ora ocupada por pedagogos egressos dos cursos de Pedagogia no sentido
de coordenar, orientar e promover a implementação de políticas educacionais que assegure o
acesso, a permanência, a progressão e conclusão com sucesso do (a) aluno (a), a efetivação de
um processo de humanização do ambiente escolar, a diversidade e inclusão social, a
democratização e qualidade social da educação. Ou seja, uma formação efetivamente e que
oriente os gestores escolares para que possam encaminhar políticas, projetos e ações
participativas e coletivas, afloradas do mútuo interesse da comunidade escolar.
Entretanto, o que se tem constatado é que o (a) gestor (a) escolar investido (a) no
exercício da função e com a formação que recebeu, tem demonstrado limitação na medida em
que não permite que esse (a) profissional tenha uma visão da totalidade da escola no que se
refere aos aspectos político, social, cultural, educacional, pedagógico, organizativo e
administrativo. Esse déficit contribui, reduz e concentra a atuação e atenção em maior
proporção do exercício da função, no aspecto administrativo principalmente em questões
como: observar o cumprimento de horários de entrada e saída de professores e servidores, a
distribuição de merenda escolar, a lotação de professores e servidores, os constantes
deslocamentos ao órgão do sistema para solicitar materiais de consumo, equipamentos,
mobiliários, serviços de consertos e reparos e falta de recursos humanos para que o
funcionamento da escola seja de qualidade.
Portanto, concluímos que a formação de gestores escolares, ainda é uma formação
recheada de resquícios da tendência técnico-científica de gestão escolar, do modelo de
produção de linha de montagem oriunda do século passado, cuja concepção perpassa a idéia
de que os gestores, coordenadores, supervisores, orientadores escolares exercem a função de
“gerentes”, lógica que concebe a escola no formato de uma empresa de produção em massa.
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