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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ASSOCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA UEM/UEL Maringá 2016 ANDRESSA PELOI BERNABÉ FORMAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS DO ESPORTE E LAZER EM MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PARANÁ

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ASSOCIADO EM

EDUCAÇÃO FÍSICA – UEM/UEL

Maringá 2016

ANDRESSA PELOI BERNABÉ

FORMAÇÃO DOS AGENTES

PÚBLICOS DO ESPORTE E LAZER EM

MUNICÍPIOS DO ESTADO DO

PARANÁ

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Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física – UEM/UEL, para obtenção do título de Mestre em Educação Física.

Maringá

2016

ANDRESSA PELOI BERNABÉ

FORMAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS DO

ESPORTE E LAZER EM MUNICÍPIOS DO

ESTADO DO PARANÁ

Orientador: Prof. Dr. Fernando Augusto Starepravo

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que, de alguma maneira, contribuíram para minha formação e obtenção do título de mestre: A Deus, por iluminar meu caminho, e nos momentos difíceis não me permitir desistir.

À toda minha família, principalmente meus pais e minha irmã, por sempre me apoiarem, incentivarem e compartilharem momentos de alegria e esperança ao longo de toda minha formação acadêmica.

Ao Vanderlei, meu amigo, companheiro, namorado, porto seguro, por sempre me apoiar e ser exemplo de esforço e dedicação. Por permanecer ao meu lado, principalmente nesse momento de reta final, tão intenso, difícil e doloroso, e por me fazer acreditar que eu era capaz e que tudo daria certo no final. Meus queridos amigos que são luz em minha vida e me compreendem tão bem, Vitor e Ananda. Serei eternamente grata pela cumplicidade ao longo de todos esses anos de amizade. Assim como à querida e sempre meiga Andressa Contreira, que além do nome tem muito em comum comigo e que mesmo que não esteja há tanto tempo em minha vida, também me compreende tão bem. Obrigada pelas conversas, pela gentileza, pelas contribuições e troca de conhecimentos, por sempre me ajudarem quando eu mais precisava, por entenderem minhas aflições e dúvidas, mas acima de tudo, por me apoiarem e mostrarem minhas qualidades que, por vezes, relutei em enxergá-las. Vocês são exemplos que sempre irei seguir de humanidade, de profissionalismo e de sensibilidade, essenciais à docência. Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Augusto Starepravo, que veio até a mim no final do ano de 2012 me convidar para desenvolver um estudo sobre megaeventos esportivos e que, a partir desse simples gesto, motivou-me a seguir a carreira acadêmica. Desde então, contribuiu muito com minha formação acadêmica. Sou grata a todo apoio, incentivo, acompanhamento, compreensão e compromisso que teve comigo durante todos esses anos. Agradeço também aos colegas do GEPPOL, pelos momentos que passamos juntos que possibilitaram troca de informações e conhecimentos, além de muitas risadas e bons momentos principalmente no decorrer das viagens de coleta de dados do ''Projeto dos Gestores''. A todos meus amigos que sempre torceram por mim, com os quais sei que sempre posso contar, mesmo aqueles que por ventura estão distantes. Também às minhas ''irmãs'' de mestrado que levarei para toda vida, Ari e Andrea, por

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compartilharmos praticamente todos os momentos juntas, enfrentando desafios e dificuldades mesmo com nossas diferenças. Aos funcionários e colegas do programa de Pós-Graduação e do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá pelo auxílio e contribuições frente aos árduos problemas burocráticos e acadêmicos. Aos órgãos de fomento pelas bolsas de estudo concedidas no decorrer desses dois anos de mestrado. Minha gratidão aos professores que proporcionaram oportunidades únicas à minha formação, contribuindo com seus conhecimentos e saberes. Ao Prof. Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira que, no momento do exame de qualificação, apontou suas contribuições a esse estudo. Ao Prof. Dr. Carlos Nazareno Ferreira Borges que, na banca de qualificação e defesa, também contribuiu com apontamentos e sugestões. Sou grata principalmente por sua disponibilidade irrestrita em contribuir com essa dissertação. À Profa. Dra. Larissa Michelle Lara que já proporcionou inúmeras oportunidades enriquecedoras em minha formação, e que prontamente aceitou o convite em compor a banca. É um prazer poder contar com seu conhecimento em mais esse momento. Aos demais que, embora não mencionados, torceram para que eu completasse mais essa etapa com sucesso, recebam meus agradecimentos em forma de um sincero abraço!

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BERNABÉ, Andressa Peloi. Formação dos agentes públicos do esporte e lazer em municípios do estado do Paraná. 2016. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Educação Física. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.

RESUMO

A formação dos agentes públicos do esporte e lazer é um tema presente tanto nas discussões empíricas no subcampo político/burocrático do esporte e lazer quanto na comunidade cientifico/acadêmica. Ressalta-se que a formação pode ter reflexo direto na qualidade das ações de esporte e lazer ofertadas pelos agentes públicos (MEZZADRI et al., 2006; ARAÚJO et al., 2007). Pautando-nos na relevância e necessidade de discussão da temática em questão, objetivamos analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que atuam nos municípios do estado do Paraná, por meio da contextualização da gestão pública do esporte e lazer municipal e da discussão a respeito das características e condições estruturais da gestão pública do esporte e lazer e sua relação com a formação dos agentes públicos. A presente pesquisa foi delineada a partir de pressupostos da Teoria dos Campos, enquanto modelo analítico, e do conjunto de métodos prescritos pela Sociologia Reflexiva, de Pierre Bourdieu. Em relação aos dados empíricos, selecionamos os dados referentes à categoria “formação” do banco de dados do Projeto de Pesquisa “Análise dos agentes públicos do Sistema Nacional de Esporte”, desenvolvido em conjunto com pesquisadores do GEPPOL/DEF/UEM. Os dados são oriundos de entrevistas e questionários aplicados a agentes públicos atuantes em 79 municípios do Paraná. À luz do referencial teórico e da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), verificamos que a maioria dos agentes públicos são homens, que a média de idade dos gestores é maior que a média de idade dos agentes técnicos e que Educação Física e Administração são os cursos de graduação mais recorrentes. A maioria dos agentes já participou de cursos, os meios de qualificação mais frequentes são meios passivos de formação, como palestras e cursos, e os conhecimentos, saberes e experiências que os agentes julgam necessários à função que desempenham são aqueles advindos da Educação Física e da Gestão Pública. Portanto, de modo geral, analisamos que os agentes buscam meios formais de formação, mas também verificamos a presença de outros meios como experiência diária, troca de experiência com outros agentes e formação continuada. Constatamos também que, nos municípios analisados, não há políticas de formação dos agentes públicos do esporte e lazer e, por esse motivo, a formação acaba refém do caráter personalista. Nesse sentido, apontamos a necessidade da institucionalização de políticas de formação, levando em consideração as características e as condições estruturais da gestão e como estas interferem nos principais meios e competências necessários à formação dos agentes públicos de modo a refletir na qualificação da gestão pública municipal do esporte e lazer.

Palavras-Chave: Formação; Agentes públicos do esporte e lazer; Políticas Públicas.

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BERNABÉ, Andressa Peloi. The formation of public agents of leisure and sport in the cities of Paraná State. 2016. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Educação Física. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.

ABSTRACT

The formation of public agents of leisure and sports it is a discussed theme in both empirical discussions in political/bureaucratic subfield of leisure and sports as on scientific/academic community. It is noteworthy that formation can have a direct impact on quality of sporting and leisure activities offered by state agents, and the qualitative improvement can occur, for example, through formation permanent programs (MEZZADRI et al., 2006; ARAÚJO et al., 2007). Basing on relevance and need on the thematic discussion concerned, we aimed to analyse the formation of public agents of leisure and sport that operate in cities of state of Paraná, through the context of public municipal administration of leisure and sport and the discussion about characteristics and structural conditions of public administration of leisure and sport, and its relation to public agents formation on the state of Paraná cities. The methodological development of this research was defined based on assumptions of Fields Theory, while analytical model and set of methods prescribed by Reflexive Sociology of Pierre Bourdieu. In relation to the empirical data, we selected data concerning the "formation" category of the database obtained by collecting Research Project of field "Analysis of public agentes of National Sports System", developed in conjunction with the researchers of the GEPPOL/DEF/UEM. The data come from interviews and questionnaires aplied to the public agents operating in 79 municipalities of the state of Paraná. In light of the theoretical framework and of the principles of Content Analysis (BARDIN, 2011), we found that most of public agentes are men, the average age of the agentes is higher than the average of the technical agents and that Physical Education and Administration are the most recurrent graduation courses. Most of agentes have participated in courses, the most frequent qualifications ways are passive of formation, such as lectures and courses, knowledge, skills and experiences that the agentes believe that is necessary to their function from those arising from the Physical Education and Public Management. So, generally, we analyze that the agentes seek for formal ways of formation, but also verifyed the presence of other ways such as: daily experience, exchange of experience with other agents and continuing formation. We also note that on the analyzed cities there are no formation policies of the public agents of leisure and sport and, therefore, the formation ends up hostage of the politics personalist character. In this sense, we point out the need for institutionalization of training policies considering the characteristics and structural conditions of management and how these interfer on principal ways and necessary competences to the formation of the public agentes which may reflect in the quality of municipal management of sports and leisure. Keywords: Formation; Public agents of leisure and sport; Public policy.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Cidades sorteadas para compor a pesquisa “Análise dos agentes públicos do Sistema Nacional de Esporte” ..............

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FIGURA 2 - Participação em curso de capacitação ou formação dos agentes técnicos ...................................................................

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Estudos sobre gestão pública do esporte e lazer ................. 59

QUADRO 2 - Projetos de pesquisa sobre gestão pública do esporte e lazer ......................................................................................

63

QUADRO 3 -

Competências do profissional ...............................................

87

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Cursos de Gestão Desportiva e do Lazer cadastrados no MEC (2015) ..........................................................................

81

TABELA 2 - Características descritivas dos gestores públicos ............... 96

TABELA 3 - Características descritivas dos agentes técnicos ................ 96

TABELA 4 - Curso de Graduação dos gestores públicos ........................ 97

TABELA 5 - Curso de Graduação dos agentes técnicos ......................... 98

TABELA 6 - Participação em cursos voltados ao esporte e lazer .......... 99

TABELA 7 - Como os gestores públicos buscam qualificação/formação para exercerem a função que desempenham .....................

100

TABELA 8 - Como os agentes técnicos buscam qualificação/formação para exercerem a função que desempenham .....................

101

TABELA 9 - Meios de qualificação/formação que os gestores públicos consideram mais eficiente para qualificar a função que desempenham .....................................................................

104

TABELA 10 - Capacitação/formação que os agentes técnicos consideram mais eficiente para qualificação profissional ....

106

TABELA 11 - Conhecimentos, saberes e experiências que os gestores públicos julgam necessários para qualificar a função que desempenham .....................................................................

107

TABELA 12 - Política de formação, qualificação e atuação dos profissionais .........................................................................

110

TABELA 13 - Participação dos agentes técnicos em curso de capacitação/formação ..........................................................

111

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AMEG Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CNE Conferência Nacional do Esporte

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

DEF Departamento de Educação Física

FESP Fundação de Ensino Superior de Passos (Minas Gerais)

GEPPOL Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas de Esporte e Lazer

ME Ministério do Esporte

ONG Organização não governamental

PELC Programa Esporte e Lazer da Cidade

PIB Produto Interno Bruto

PST Programa Segundo Tempo

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

UEM Universidade Estadual de Maringá

UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12

1.1 Justificativa ............................................................................................. 14

1.2 Metodologia ............................................................................................ 19

2 O CAMPO POLÍTICO-BUROCRÁTICO E A GESTÃO MUNICIPAL ......

25

2.1 A Teoria dos Campos e a Sociologia Reflexiva ..................................... 25

2.2 Campo político-burocrático ..................................................................... 32

3 GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL ............................................................. 41

3.1 Municipalização e a constituição dos municípios brasileiros .................. 41

3.2 A gestão pública municipal do esporte e lazer ....................................... 56

4 FORMAÇÃO EM GESTÃO DO ESPORTE E LAZER .............................. 75

4.1 Formação de agentes públicos .............................................................. 75

4.2 Análise da formação dos agentes públicos do esporte e lazer nos municípios do estado do Paraná ..................................................................

94

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 117

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 123

APÊNDICES ................................................................................................. 130

ANEXOS ...................................................................................................... 138

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1 INTRODUÇÃO

Desde a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em

1988, o esporte e o lazer foram instituídos como direitos sociais passando o Estado

a responsabilizar-se pela oferta desses direitos à toda população. Assim,

substancialmente, tal responsabilidade recaiu a todos os entes federados, ou seja,

União, estados e municípios.

Haja vista que a Constituição e a lei infraconstitucional referente ao esporte –

a Lei Pelé – não estabelecem as atribuições dos estados e dos municípios em

relação à oferta do esporte e lazer à população, entende-se que a legislação apenas

conferiu, a essas instâncias do poder público, autonomia em relação à constituição

de seus próprios sistemas de esporte e lazer. Portanto, essa instituição de imediato

não acarretou mudanças profundas de modo que fossem reconhecidos como

direitos sociais amplamente difundidos na sociedade.

Todavia, como a Constituição de 1988 estabeleceu o esporte e o lazer como

direitos sociais, fez-se necessário a efetivação de políticas públicas voltadas a

materialização deste direitos à população. Por políticas públicas pode-se entender "o

Estado em ação", a partir de uma configuração bastante complexa, que depende de

fatores como orçamento, arranjos políticos, agentes, dentre outros.

Frente ao complexo contexto do Estado brasileiro responsável pela garantia

do acesso ao esporte e ao lazer por meio de políticas públicas, que se constituem de

maneira autônoma em estados e municípios, e que apresentam múltiplas

configurações decorrentes dos diferentes orçamentos, arranjos políticos e

configurações estabelecidas, os agentes públicos que elaboram e implementam

políticas públicas de esporte e lazer merecem destaque. Os agentes são entendidos

como sujeitos primordiais na efetivação e gestão das políticas públicas de esporte e

lazer, uma vez que atuam decisivamente na arena política1 e desenvolvem os

programas, os projetos e as ações de esporte e lazer na sociedade.

Neste estudo, especificamente, o foco volta-se ao contexto municipal de

desenvolvimento do esporte e lazer como direitos sociais. Portanto, os agentes

1 De acordo com Frey (2000), a arena política é constituída por processos de conflito e de consenso

que culminam na configuração de uma política pública.

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públicos são entendidos aqui como os principais sujeitos responsáveis pela gestão

pública do esporte e lazer no foco aqui delimitado, o contexto municipal.

Ao nos pautarmos nos preceitos da Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu,

entendemos os agentes como sujeitos de ação que podem modificar ou manter as

estruturas sociais existentes. Na realidade social de nosso país, os agentes são

entendidos como aqueles que atuam em entidades voltadas ao desenvolvimento de

políticas públicas e oferta do esporte e lazer à população, seja no Ministério do

Esporte, em âmbito federal, ou nas secretarias e órgãos estaduais ou municipais

ligados ao esporte e lazer. Para o escopo de análise do nosso estudo, consideramos

os agentes púbicos do esporte e lazer atuantes no âmbito municipal, sendo eles

professores, estagiários, profissionais técnicos e gestores (secretário ou diretor

responsável pelo órgão público municipal voltado ao esporte e lazer).

Entendidos como sujeitos que podem modificar ou manter as estruturas

sociais existentes, as ações dos agentes públicos no âmbito da gestão pública

podem abrir caminhos de mudança frente ao maior reconhecimento e difusão do

esporte e do lazer como direitos sociais em nosso país. Nesse contexto,

entendemos que a formação dos agentes pode influenciar o desenvolvimento de

suas ações voltadas a essa difusão do esporte e do lazer como direitos sociais e,

por esse motivo, destacamos a relevância de discussões e estudos a respeito da

formação desses agentes. Araújo et al. (2007), por exemplo, afirmam que o baixo

nível de escolaridade e a falta de formação adequada, relacionados ao capital

cultural e social que o agente possui, têm reflexo direto na qualidade das ações de

esporte e lazer ofertadas pelos agentes públicos do esporte e lazer. Mezzadri et al.

(2006, s/p) também afirmam a importância e necessidade de se discutir e investir na

formação dos agentes públicos por entenderem que: “é fundamental termos um

aumento da quantidade e da qualidade dos profissionais que trabalham na área. A

sua melhora qualitativa pode se dar, por exemplo, através de programas

permanentes de capacitação”.

A partir dessa contextualização, consideramos que a formação dos agentes

pode ser um aspecto crucial na gestão pública do esporte e lazer. É importante

ressaltar que, a princípio, consideramos que a formação não diz respeito apenas ao

nível de escolaridade dos agentes. A formação a que nos referimos caracteriza-se

como um processo constante, tanto no sentido formal, a partir de cursos de

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graduação e pós-graduação, quanto em sentido diário, a partir da participação em

cursos, capacitações, palestras, reuniões, conversas com outros agentes e outros

meios de troca de experiências.

Frente a tais considerações e imersos no universo da gestão pública

municipal no estado no Paraná, chegamos ao seguinte problema que balizou o

desenvolvimento do presente estudo: Como a formação dos agentes públicos do

esporte e lazer que atuam em municípios do estado do Paraná é desenvolvida

levando em consideração as características e condições estruturais que configuram

a gestão pública do esporte e lazer?

1.1 Justificativa

A escolha do problema e do campo investigativo do presente estudo foi

motivada, inicialmente, pelo envolvimento em discussões que dizem respeito às

políticas públicas de esporte e lazer. Como integrante do Grupo de Estudos e

Pesquisas em Políticas Públicas de Esporte e Lazer (GEPPOL)2, o contato com

realidades da gestão pública do esporte e lazer em municípios do estado do Paraná,

a partir do desenvolvimento do projeto de pesquisa intitulado “Análise dos agentes

públicos do Sistema Nacional de Esporte” 3, despertou o interesse por esse campo

investigativo.

Além das constatações advindas do campo empírico, discussões a respeito

dos agentes públicos do esporte e lazer vêm mobilizando a comunidade

cientifico/acadêmica. Apontamos aqui alguns estudos que evidenciam fragilidades

na formação e capacitação de agentes públicos do esporte e lazer atuantes em

municípios brasileiros (ARAÚJO et al., 2007, 2011; FIGUEIREDO, 2009; MEZZADRI

et al., 2006).

2 Grupo de Estudos e Pesquisas do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de

Maringá comprometido com estudos sobre esporte e lazer, em diferentes campos teóricos e de intervenção, tendo nas políticas públicas um dos campos de interlocução e pesquisa. É coordenado pelo Prof. Dr. Fernando Augusto Starepravo. 3 Projeto de Pesquisa Financiado pelo Ministério do Esporte – ME e CNPq a partir da aprovação na

Chamada N º 091/2013 – Seleção pública de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, voltados para o desenvolvimento do Esporte em suas diferentes dimensões.

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Em um desses estudos, Araújo et al. (2007) objetivaram investigar o perfil dos

sujeitos responsáveis pelo gerenciamento e execução das políticas públicas de

esporte e lazer em dez municípios maranhenses. Ao referenciar a necessidade de

(re)construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, pautada nas discussões da

I e II Conferências Nacionais do Esporte (CNEs), os autores destacam a

necessidade do envolvimento de diversos agentes no movimento de universalização

e democratização do esporte e lazer. Em relação a esse ponto de discussão,

afirmam: “no entanto, os gestores e agentes, na maioria das vezes, possuem baixo

nível de escolaridade e/ou formação e qualificação inadequada para o exercício da

função, o que compromete a qualidade dos serviços prestados à comunidade”

(ARAÚJO et al., 2007, p.02). Aqui, os autores consideram a formação e qualificação

como termos semelhantes, pelo viés da escolaridade. Alegam que o baixo nível de

escolaridade tem reflexo direto na qualidade das ações de esporte e lazer ofertadas

por esses agentes. Entendemos que, além da escolaridade, outros elementos

devem ser considerados ao assumirmos uma discussão referente à formação que

qualifique agentes públicos em seu trabalho diário de oferta dos direitos sociais

esporte e lazer. Consideramos a formação um processo em constante

desenvolvimento, e não algo estanque que possa ser medido ou certificado apenas

por um curso técnico ou um curso de graduação em determinada área.

No decorrer do texto, Araújo et al. (2007) apresentam considerações a

respeito do esporte e lazer e seus profissionais. Destacam que o esporte e lazer

precisam ser reconhecidos pelo poder público como direitos sociais, uma vez que

ainda não se constituem como objeto de políticas públicas efetivas no âmbito

federal, estadual e municipal. A partir de visitas iniciais aos dez municípios, os

autores se depararam com a ausência de planejamento definido para a execução de

atividades esportivas, pois estas ocorriam de forma esporádica, ofertadas por

voluntários e em condições precárias. Assim, apontam a falta de inserção do poder

público frente à garantia e à oferta do esporte e lazer, o que levou os autores a

concluírem que esses direitos ainda não são tratados pelos gestores municipais

como objeto de políticas públicas nos municípios maranhenses.

Em relação a esse mesmo projeto de pesquisa, Araújo et al. (2011)

constataram que os agentes públicos que gerem o esporte e lazer nos municípios

analisados necessitam de qualificação. Levando em consideração tais constatações,

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bem como as recomendações da II CNE, no eixo Recursos Humanos e Formação,

os autores sugerem a elaboração de diretrizes setoriais de esporte e lazer que

contemplem uma política de formação inicial e continuada, necessária para a

capacitação de agentes comprometidos com a universalização da prática do esporte

e lazer como direito de todos (ARAÚJO et al., 2011).

Mezzadri et al. (2006) apresentam o projeto de pesquisa intitulado

“Diagnóstico das políticas públicas para o Esporte e Lazer no Estado do Paraná”,

também vinculado à Rede Cedes, assim como o estudo anterior, cujo objetivo

centrava-se na criação de um banco de dados de políticas públicas realizadas pelas

Secretarias Municipais de Esporte e Lazer do estado do Paraná. Os dados foram

coletados por meio da realização de entrevista semiestruturada com os secretários

municipais de esporte e lazer ou o responsável correspondente ao cargo, a partir de

três eixos norteadores: estrutura administrativa; gestão pública dos municípios;

projetos e eventos desenvolvidos nos municípios (MEZZADRI et al., 2006).

Em relação à estrutura burocrática, mais especificamente a respeito do

quadro funcional nas Secretarias, Mezzadri et al. (2006) afirmam que os municípios

com PIB mais elevado possuíam um quadro maior de agentes em relação aos

municípios com PIB inferior. Porém, os autores destacaram como preocupante o

grande número de bolsistas/estagiários atuantes nas secretarias,

independentemente do tamanho do município e de seu PIB. Na maioria dos

municípios havia mais bolsistas do que professores e, segundo os autores, esse é

um quadro “extremamente preocupante se quisermos realmente ter políticas

públicas que possam intervir qualitativamente no desenvolvimento da sociedade e

garantir o Esporte e o Lazer como direito do cidadão” (MEZZADRI et al., 2006, s/p).

O quadro funcional é uma das preocupações destacadas pelos autores em

suas conclusões. Os autores consideram que a constituição de quadros funcionais

por agentes públicos é um dos principais pontos para se garantir uma intervenção

“mais qualificada do poder público no desenvolvimento da sociedade” (MEZZADRI et

al., 2006, s/p). Aqui, portanto, verificamos mais uma vez a preocupação com a

formação de agentes que atuam na gestão do esporte e lazer.

Em sua dissertação de mestrado, Figueiredo (2009) também discute a

formação de agentes, porém, voltando-se especialmente ao PELC. O autor objetivou

identificar os avanços e limites da política de formação – uma das ações do PELC,

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situada no quadro das política sociais do governo federal – especificamente

descrevendo e analisando essa política de formação, bem como o perfil dos agentes

que atuavam nos núcleos de esporte e lazer do programa.

Figueiredo (2009) afirma que os agentes participantes da pesquisa –

educadores sociais, gestores públicos do ME, coordenadores gerais e dos núcleos –

apontaram uma série de conhecimentos e saberes necessários ao desenvolvimento

do trabalho social com o esporte e lazer. Dentre eles, está a busca por novos

conhecimentos, a reflexão das experiências, o conhecimento sobre a comunidade e

anseios dessa comunidade, além da necessidade de uma postura pró-ativa do

agente. Porém, o autor ressalta a falta de um processo sistematizado que auxilie a

reflexão dos agentes frente às experiências e conhecimentos “que permita a

construção de um conhecimento mais elaborado, a partir dos processos de formação

continuada” (FIGUEIREDO, 2009, p. 128). Nesse sentido, o autor destaca a

necessidade de uma ação governamental ampla que permita a intersetorialidade,

buscando a contribuição de outros setores na construção de um Sistema Nacional

de Esporte e Lazer que defina as atribuições dos mais diversos agentes públicos no

processo de formação.

Outro ponto destacado por Figueiredo (2009) é a avaliação positiva do PELC

por parte dos trabalhadores do lazer, bem como a avaliação positiva que estes

fazem ao considerar o programa um avanço na compreensão da necessidade da

formação continuada como um dos eixos centrais de um possível Sistema Nacional

de Esporte e Lazer. Diante desses levantamentos, o autor propõe que o Sistema

Nacional de Formação do PELC deveria ser ampliado e desenvolvido em conjunto

com os demais programas sociais de esporte e lazer de modo a atender a um único

Sistema Nacional de Esporte e Lazer, a partir de formação permanente, em todos os

níveis de escolaridade, que fosse considerada política de Estado de

responsabilidade do Ministério do Esporte, em parceria com o Ministério da

Educação e delegada às instituições formadoras.

Interessante destacar que o autor apresenta uma proposta didático-

metodológica construída por um conjunto de professores que refletiram a respeito da

formação no PELC no intuito de apresentar uma sistematização pautada na

pedagogia crítica do lazer. Essa proposta apresenta os principais componentes da

organização do trabalho pedagógico no contexto do PELC, quais sejam: ação

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diagnóstica; mobilização comunitária e divulgação; articulação política; planejamento

participativo; atividades sistemáticas sob a forma de oficinas culturais; atividades

assistemáticas, como ruas de lazer, festivais temáticos, colônias de férias;

organização do núcleo e formação permanente, e avaliação (FIGUEIREDO, 2009).

Frente à exposição dos estudos aqui apresentados, podemos constatar a

relevância em se discutir a temática da formação de agentes públicos que atuam na

gestão municipal do esporte e lazer. Porém, ressaltamos que nenhum desses

estudos volta-se centralmente à formação dos agentes públicos do esporte e lazer,

sendo que essa discussão é somente complementar nos estudos. Assim,

entendemos que essa lacuna no conhecimento necessita ser melhor explorada.

Portanto, a discussão que o presente estudo pretende realizar têm relevância à

medida que se compromete a analisar a formação dos agentes públicos do esporte

e lazer em municípios do estado do Paraná.

Entende-se que esse estudo trará novas contribuições à temática, uma vez

que pode gerar reflexões e indícios para se pensar na formulação de políticas de

formação voltadas a agentes públicos que atuam na gestão do esporte e lazer, no

estado do Paraná. Entendemos que, quanto maior for o investimento na formação

dos agentes públicos mais ações qualificadas podem ser ofertadas à população,

sem contar a troca de conhecimentos que pode vir a ser realizada na mediação

entre agentes públicos e a população, ciclo este que pode refletir em mais

cobranças e melhorias na gestão pública do esporte e lazer.

Em meio a essa lacuna, a pesquisa em questão tem por objetivo geral

analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que atuam em

municípios do estado do Paraná. E, para subsidiar tal objetivo, estabelecemos os

seguintes objetivos específicos:

Contextualizar a gestão pública do esporte e lazer municipal;

Discutir a respeito das características e condições estruturais da gestão

pública do esporte e lazer e sua relação com a formação dos agentes

públicos de municípios do estado do Paraná.

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1.2 Metodologia

A metodologia de trabalho investigativo orienta-se pela pesquisa sociológica,

com aporte de Marchi Júnior (2006) ao discorrer a respeito da intencionalidade e

opção por esse tipo de pesquisa:

Por que somos dotados de uma capacidade de percepção da realidade – mesmo que em muitas oportunidades ela seja tolhida ou limitada – a qual nos conduz para uma leitura questionadora e criadora de referências sobre as relações, as estruturas e a condição de existência do ser humano (MARCHI JÚNIOR, 2006, p. 30).

De acordo com o autor, todo indivíduo reconhecido como agente social

percebe, a partir do senso comum, questões que o cerca. Essa leitura preliminar, a

princípio baseada em um viés simplista de interpretação, pode propiciar angústias,

dúvidas e observações sociais que, por intermédio da instrumentalização teórica,

acadêmica e científica leva à racionalidade desejada. Inicia-se o fazer sociológico:

"Essa é a arte do 'fazer sociológico', ou seja, fazer de um fato cotidiano,

aparentemente comum ou supostamente insignificante, um conhecimento amplo e

qualificador de novas e consistentes leituras da realidade" (MARCHI JÚNIOR, 2006,

p. 30).

Ortiz (2002) compara o fazer sociológico à arte, aproximando os

procedimentos metodológicos e a dedicação requerida ao fazer artesanal.

Metaforicamente, afirma que o artesanato intelectual é como um processo de

costura, em que busca-se costurar as ideias por meio de etapas ou procedimentos

fundamentais, desde a escolha das agulhas e tecidos, colocação da linha, até a

composição da roupa. No processo de construção do conhecimento, esses

procedimentos culminam no entrelace das ideias.

Os elementos cotidianos, no fazer sociológico, são essenciais para se iniciar

uma pesquisa. São como pedras brutas que fundamentam o ponto de partida da

definição do objeto de estudo. O passo metodológico seguinte é a definição do

problema, o qual requer criatividade e constante contato com a literatura e a empiria,

seguindo-se da contextualização teórica, histórica e social, fundamentando o

“sociologizar”. Marchi Júnior (2006, p. 32) afirma: "Todo esse trabalho, ou melhor,

este conjunto de pressupostos prescreve um pensamento sociológico atento às

constantes mudanças de contextos sociais e a necessidade de tradução dos

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processos sociais". Assim, faz-se necessário uma postura questionadora, buscando,

constantemente, formular hipóteses acerca dos questionamentos levantados.

Partindo desses primeiros passos da pesquisa sociológica, a definição do

nosso problema de estudo emergiu da constatação de elementos cotidianos

presentes no universo empírico da gestão pública do esporte e lazer nos municípios

visitados, onde coletamos os dados do Projeto de Pesquisa base que fundamenta

esse estudo. A realidade municipal e o modo como o esporte e lazer são ofertados

à população por intermédio dos agentes sociais suscitou uma série de

questionamentos e hipóteses a respeito dessa oferta, bem como da importância de

discutir a respeito da formação desses agentes que lidam diariamente com a oferta

do esporte e lazer.

Após a definição do objeto de estudo e do problema, Marchi Júnior (2006)

discorre que o passo seguinte da pesquisa sociológica fundamenta-se na

confirmação ou não das hipóteses – respostas preliminares que orientam a análise e

as ações futuras da pesquisa. Esse passo requer alguns procedimentos

metodológicos, quais sejam: definição e seleção das principais categorias e

conceitos para a análise; busca do referencial teórico; consulta bibliográfica, além do

levantamento em fontes primárias e secundárias de pesquisa; e a pesquisa de

campo.

Como já afirmado anteriormente, o desenvolvimento metodológico da

presente pesquisa foi orientado pela Sociologia Reflexiva, modelo proposto por

Pierre Bourdieu. Ao nos basear nas ferramentas de tal modelo, buscamos realizar

uma leitura social, entendida como um exercício de conversão pessoal no qual o

pesquisador vai além da pesquisa empírica para realizar uma pesquisa de caráter

social (SOUZA; MARCHI JÚNIOR, 2010).

Nesse contexto, partimos do entendimento de que a gestão do esporte e lazer

desenvolvida nos municípios do estado do Paraná é pedra bruta que pode ser

lapidada, enquanto objeto de estudo, pelo fazer sociológico. Com a imersão nesse

locus de pesquisa, surgiu o inquietamento que deu origem à problemática do

presente estudo.

No intuito de buscar respostas à inquietação proposta, de acordo com os

passos referidos por Marchi Júnior (2006), fez-se necessária a definição das

categorias e conceitos para subsidiar a análise, bem como a escolha do referencial

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teórico-metodológico de análise e consulta às fontes bibliográficas. Pautando-nos na

Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu, elencamos previamente como conceito

central de nossa discussão o conceito de agente, entendendo-o como aquele que

pode transformar ou conformar o campo em que está inserido a partir dos capitais

que vai adquirindo ao longo de sua permanência no campo. Assim, consideramos o

agente o conceito central, mas outros conceitos também são pertinentes, como o

conceito de campo e de capitais (campo político-burocrático, capital simbólico,

capital cultural, capital político) para subsidiar nossas análises.

Em relação à pesquisa de campo – outro passo apontado por Marchi Júnior

(2006) – utilizamos a coleta de campo realizada pelo GEPPOL no Projeto de

Pesquisa “Análise dos agentes públicos do Sistema Nacional de Esporte”. A partir

desse projeto foi constituído um banco de dados composto por transcrições de

entrevistas realizadas com gestores públicos – secretário ou diretor de esporte e

lazer enquanto gestor municipal maior responsável pelas políticas públicas de

esporte e lazer no município pesquisado – e questionários aplicados a agentes

técnicos – professores, estagiários e técnicos do esporte e lazer atuantes no órgão

responsável pela gestão do esporte e lazer em municípios do Paraná.

Ao todo, a pesquisa contemplou 79 municípios, sorteados dentre os 399 que

compõem o estado do Paraná, considerando um percentual de 20% de cada porte

equivalente ao tamanho das cidades4. Assim, as coletas foram realizadas em três

municípios de grande porte, três de médio porte, onze de pequeno porte II e

sessenta e dois de pequeno porte I, respeitando divisão equânime entre as dez

mesorregiões5 do estado. Na figura 1 estão destacados os 79 municípios, sendo que

cada uma das cores corresponde a uma mesorregião.

4 Segundo classificação do IBGE (2010), constam no estado do Paraná: uma metrópole (mais de 900

mil habitantes), 17 municípios de grande porte (entre 100.001 e 900 mil habitantes), 14 municípios de médio porte (entre 50.001 e 100 mil habitantes), 55 municípios de pequeno porte II (entre 20.001 e 50 mil habitantes), e o restante, 312 municípios de pequeno porte I (até 20 mil habitantes). 5 Mesorregião Geográfica Noroeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Centro Ocidental

Paranaense, Mesorregião Geográfica Norte Central Paranaense, Mesorregião Geográfica Norte Pioneiro Paranaense, Mesorregião Geográfica Centro Oriental Paranaense, Mesorregião Geográfica Oeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Sudoeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Centro-Sul Paranaense, Mesorregião Geográfica Sudeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Metropolitana de Curitiba.

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Figura 1 – Cidades sorteadas para compor a pesquisa “Análise dos agentes públicos

do Sistema Nacional de Esporte”.

Fonte: Figura elaborada por pesquisadores do GEPPOL

As entrevistas junto aos gestores foram realizadas utilizando um roteiro

semiestruturado pois, além de valorizar a presença do entrevistador, esse tipo de

entrevista favorece a liberdade e a espontaneidade necessárias ao enriquecimento

da investigação, apresentando questionamentos base com perguntas fundamentais,

com a possibilidade do acréscimo de novos questionamentos que possam surgir no

decorrer da entrevista (TRIVIÑOS, 1987).

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O roteiro de entrevista e o questionário foram previamente elaborados a partir

de discussões e leituras realizadas pelo GEPPOL. Após essa elaboração, o roteiro

foi testado a partir de coletas de dados piloto. Visitamos duas cidades e aplicamos

os instrumentos junto aos agentes públicos. Esse momento foi importante para

verificarmos a aplicabilidade dos instrumentos pois, não constatamos nenhum

problema no decorrer da aplicação. Quando havia necessidade os pesquisadores

explicavam tanto aos agentes técnicos quanto aos gestores, mas sempre eram

casos de dúvidas pontuais e isoladas, nada que comprometesse a aplicabilidade dos

instrumentos. E, por esse motivo, não houve necessidade de mudança nos

instrumentos, validando-se assim, a utilização desse material nas coletas.

O roteiro de entrevista (Apêndice A) destinado aos gestores é composto por

36 questões que dizem respeito a dados gerais, como escolaridade, cargo/função,

renda mensal, formação e atuação profissional; acesso à informação; e dados das

políticas públicas de esporte e lazer do município. O questionário (Apêndice B),

destinado aos agentes técnicos é composto por 34 questões que dizem respeito a

dados de identificação desses agentes, acesso à informação, atuação e formação

profissional e entendimento acerca de alguns pontos referentes à política pública de

esporte e lazer do seu município.

Para o recorte do presente estudo foram selecionadas perguntas referentes à

categoria "formação" no que se refere à: escolaridade dos agentes, tipos de

capacitação que os agentes já haviam realizado, meios para a busca de qualificação

que consideravam mais adequados para desempenharem suas funções, e

existência ou não de políticas de formação na secretaria ou órgão responsável pela

gestão do esporte e lazer onde atuam. Além da busca pelas respostas a essas

perguntas nas transcrições das entrevistas realizadas com 766 gestores das cidades

que compuseram o estudo, buscou-se também outras informações relacionadas à

categoria formação, nas transcrições, para além das perguntas selecionadas.

Optamos por essa busca complementar pois, pelo fato do método escolhido para a

realização da coleta de dados ter sido entrevista semiestruturada, os pesquisadores

6 Teríamos um total de 79 gestores compondo a pesquisa a partir da seleção realizada levando em

consideração o porte e a mesorregião em que os municípios se encontram. Porém, com a perda amostral, totalizam o estudo 76 gestores participantes da pesquisa por meio de entrevista. Alguns gestores, mesmo havendo agendamento prévio da entrevista e ligação um dia antes para confirmar nossa visita, não estavam presentes no local combinado, ou não puderem nos atender no dia e hora marcados.

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que realizaram as entrevistas poderiam realizar outras perguntas além das pré-

definidas, como também os gestores entrevistados poderiam se referir à categoria

formação ao responderem outras perguntas que não necessariamente estivessem

voltadas a essa categoria. Os dados selecionados foram analisados a partir da

Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011) e referencial teórico pautado nos conceitos de

Bourdieu.

Já em relação aos questionários – por serem menos abertos que as

entrevistas – optamos por selecionar perguntas ligadas à categoria formação,

referentes à: escolaridade; principal forma de acesso à informação; cursos

realizados voltados ao esporte e lazer; realização de cursos de formação ou

capacitação (tipo, e se era ou não ofertado pela secretaria); meios para a busca de

qualificação considerados mais adequados para desempenharem a função que

exercem. Esses dados foram dispostos no Programa de Software SPSS (Statistical

Package for the Social Sciences) e são aqui apresentados a partir da estatística

descritiva (média, frequência e percentual). A análise desses dados foi realizada de

modo qualitativo à luz do referencial teórico.

Mediante os objetivos estabelecidos, o presente estudo apresenta-se da

seguinte forma: um primeiro capítulo destinado à discussão teórico-metodológica,

em que os principais conceitos e pressupostos da Teoria dos Campos de Pierre

Bourdieu são apresentados a fim de dar suporte teórico-metodológico às discussões

posteriores. O segundo capítulo, voltado à gestão pública, a partir da discussão a

respeito da constituição dos municípios e municipalização, da discussão a respeito

do termo descentralização, da conceituação e contextualização dos termos gestão

pública e administração pública, bem como a partir do levantamento de estudos e

pesquisas que discutem a gestão pública do esporte e lazer em diferentes contextos

e realidades municipais. Finalmente, o terceiro capítulo, centrado na discussão da

formação em gestão do esporte e lazer, que traz considerações a respeito da

formação e de como pautamos a análise dessa categoria mediante os dados

empíricos dos agentes públicos do esporte e lazer de municípios do estado do

Paraná.

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2 O CAMPO POLÍTICO-BUROCRÁTICO E A GESTÃO MUNICIPAL

O presente capítulo é destinado à contextualização do campo político-

burocrático e do subcampo político-burocrático do esporte e lazer, entendidos como

espaços sociais em que se insere a gestão pública do esporte e lazer e,

consequentemente, seus agentes públicos. Este capítulo também volta-se à

apresentação do referencial teórico metodológico de análise que parte da Teoria dos

Campos, como modelo analítico proposto por Pierre Bourdieu, e da Sociologia

Reflexiva que prescreve o conjunto de métodos para se analisar um determinado

objeto mediante essa Teoria.

2.1 A Teoria dos Campos e a Sociologia Reflexiva

A Teoria dos Campos, modelo analítico proposto por Pierre Bourdieu, foi aqui

escolhida como base teórica por apresentar consistência teórica e analítica, bem

como por sua aplicabilidade teórica e capacidade correlacional, que permite se voltar

a diversas áreas do conhecimento. A Sociologia Reflexiva é proposta, pois prescreve

o conjunto de métodos de análise da Teoria dos Campos. Dentre seus pressupostos,

destacamos a necessidade de articulação da pesquisa de campo com as

formulações teóricas. O trabalho de campo é entendido apenas como uma parte da

pesquisa, a “amarração teórica” é o que a complementa.

Outros pressupostos ou prerrogativas estabelecidos por Pierre Bourdieu em

sua Teoria também merecem destaque, quais sejam: a capacidade dos agentes de

questionar as leis de reprodução social e formas de dominação; as mediações entre

agentes e as estruturas sociais, sendo os agentes sujeitos de ação e as estruturas

aquelas edificadas pelos agentes que podem manter ou modificar tais estruturas; as

conexões entre situação, definida como a posição relativa como estamos inseridos

numa estrutura social, e a posição estrutural, que estabelece onde estamos

inseridos.

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Ao nos pautarmos nesses pressupostos da Teoria dos Campos,

consideramos a gestão pública municipal como uma estrutura social, e os agentes

nela inserida sujeitos de ação que podem manter ou modificar essa estrutura. Por

esse motivo faz-se necessário analisar a formação desses agentes, de modo a

entender como essa formação é desenvolvida e se a mesma pode fornecer

elementos para que os próprios agentes mantenham ou modifiquem a estrutura na

qual encontram-se inseridos.

Desse modo, nos apropriamos da Teoria dos Campos de modo a buscar

subsídios às nossas análises e discussões. Para a apreensão do modelo analítico

dessa Teoria, entendemos como necessária a explanação de seus conceitos

centrais: campo, habitus e capital. Esses conceitos devem ser compreendidos na

sua interdependência, na relação de um com o outro, pois são intimamente ligados.

Além dos três conceitos centrais, destacamos o conceito de agente, aqui empregado

como principal conceito/categoria analítica.

O campo é tido por Bourdieu como um espaço ou locus social de lutas,

disputas e concorrências, no qual há agentes e estruturas movidas por objetos de

interesse e posições distintas. Bourdieu (2003, p. 119) afirma que os campos são

“[...] espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem

da sua posição nesses espaços e que podem ser analisadas independentemente

das características de seus ocupantes”. Mesmo perante à especificidade de alguns

campos, como é o caso do campo político, Bourdieu ressalta que “há leis gerais dos

campos: campos tão diferentes como o campo da política, o campo da filosofia, o

campo da religião têm leis de funcionamento invariantes” (BOURDIEU, 2003, p. 119,

grifos nossos).

Além do campo político, aqui nos pautamos no campo burocrático. Por

entendermos que a gestão pública do esporte e lazer, bem como as políticas

públicas inseridas e desenvolvidas nessa estrutura social, são produtos de um

processo indistintamente político e burocrático, aqui consideramos o campo político-

burocrático7 como locus do nosso estudo.

7 Termo apropriado por Starepravo (2011) ao discutir as políticas públicas de esporte e lazer,

entendendo que tais políticas apresentam-se como produto de um processo indistinto tanto do campo político quanto do campo burocrático, e apesar de Bourdieu (2005) apresentá-los como campos distintos, o autor prefere caracterizar o presente campo como político-burocrático. Afirma: “adjetivamos o campo chamado por Bourdieu de burocrático (o Estado) do termo político, buscando

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Em relação ao campo político-burocrático, Starepravo (2014) discorre que foi

consolidado no Brasil durante o Estado Novo, quando o governo decretou que

“passaria a ser o Estado o protagonista da sociedade brasileira, concentrando o

poder que estava mais difuso em vários estratos da sociedade” (STAREPRAVO,

2014, p.40). Desse modo, o Estado passou a controlar grande parte das áreas

sociais, como o direito ao lazer que passou a ser garantido aos trabalhadores com

carteira de trabalho assinada, a partir da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),

que previu o descanso semanal remunerado e férias. Também o esporte, visto como

bem público, passou a ser utilizado como meio de representação nacional, símbolo

da modernidade e desenvolvimento da nação, a partir da consolidação de um

habitus comum aos brasileiros fundamentado no nacionalismo (STAREPRAVO,

2014).

Como destaca Starepravo (2014), o subcampo político-burocrático do esporte

e lazer, circunscrito no campo político-burocrático, foi instituído no Brasil entre as

décadas de 1930 e 1940, quando o Estado passa a controlar o lazer e o esporte.

Outro período de destaque é a década de 1980, marcada pela redemocratização do

país, com o enfraquecimento do caráter controlador do Estado frente às mais

diversas áreas sociais, como a do esporte e lazer. Esse contexto levou à

necessidade de mudanças nas políticas das áreas sociais, culminando na

promulgação da Constituição Federal, em 1988 o que, por sua vez, instituiu o

esporte e o lazer como direitos sociais. Com essa instituição aos entes federativos –

municípios, estados e governo federal – recai a responsabilidade por tais direitos,

porém, sem a devida organização das atribuições de cada ente frente à efetivação

desses direitos.

Voltando-nos aos conceitos centrais de teoria de Bourdieu, temos que, dentre

os campos, inserem-se as estruturas sociais, entendidas como organizações que

definem polaridades ou conflitos nas concorrências e disputas asseguradas em um

determinado campo. A constituição de uma estrutura social passa a intencionar os

agentes e as relações ali estabelecidas. Em relação ao nosso escopo de análise,

temos que a gestão pública municipal é entendida como uma estrutura social

instituída no campo político-burocrático, especificamente no subcampo político-

caracterizar um espaço social, em que se age politicamente (normalmente, sob interesse particular) e burocraticamente (através do Estado, buscando o bem comum)” (STAREPRAVO, 2014, p.40).

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burocrático do esporte e lazer no Brasil. Portanto, o contexto de instituição do

subcampo político-burocrático do esporte e lazer em nosso país, como

apresentamos nos parágrafos anteriores, baseando-nos em Starepravo (2014),

expõe peculiaridades que nos levam a refletir acerca das características que a

gestão pública municipal do esporte e lazer apresenta nos dias de hoje.

Nesse contexto, a gestão pública municipal é, portanto, entendida como uma

estrutura social, pois possui uma determinada estrutura que define as polaridades e

conflitos nas concorrências e disputas entre os agentes públicos nela instituídos –

gestores, políticos, funcionários públicos, profissionais, técnicos, entre outros. Os

agentes públicos que se encontram inseridos na estrutura social da gestão pública

municipal, por sua vez, agem de acordo com seu habitus e a posse de diferentes

tipos de capital.

O capital, outro conceito central da Teoria dos Campos, é entendido como um

conjunto de referências adquiridas e necessárias para ser ou estar inserido na

dinâmica do jogo social. No intuito de ampliar a concepção marxista, Bourdieu

considera o conceito de capital não apenas a partir do acúmulo de bens e riquezas

econômicas, mas sim todo recurso ou poder que se manifesta em uma atividade

social. Ao discorrer a respeito desse conceito, Souza e Marchi Júnior (2010, p.309)

afirmam:

[...] o conceito de capital é de suma importância e capilaridade para entender a dinamicidade com que se organiza o espaço social, sobretudo no que tange a definição do gosto e dos estilos de vida. Para tanto, Bourdieu procura ampliar a noção de capital para além do poder explicativo de que esse conceito se revestia nas abordagens marxistas, demonstrando que, para compreender as trocas simbólicas permeadas nos mais distintos campos sociais, pode-se recorrer à figura analógica da economia, na medida em que o capital se apresenta como um recurso que tende a conferir lucros distintivos a quem o possui.

Assim, capital pode ser definido como o conjunto de recursos atuais ou

potenciais pertencentes aos agentes de um determinado campo, que pode assumir

diferentes formas, como econômica, social, cultural, simbólica, política. Baseando-

nos nesse entendimento, para compreendermos a dinâmica que organiza a gestão

pública como um espaço ou estrutura social do campo político-burocrático e, a partir

desse entendimento, buscarmos discutir a respeito da formação dos agentes

públicos inseridos nessa estrutura social, consideramos que certos tipos de capitais

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como o capital simbólico, o capital social e, principalmente, o capital cultural, são

inerentes a nossas análises.

Quando se refere à lógica do campo político, Bourdieu (2009) afirma a

necessidade de concentração do capital social e capital simbólico para um agente

que almeja se tornar politicamente ativo. Essa necessidade é requerida, uma vez

que o campo político é considerado como um lugar de concorrência entre agentes

nele instituídos e onde esses agentes definem seus espaços de acordo com suas

preferências ou posições. Por ter essa conformação, Bourdieu afirma que a grande

maioria dos agentes acaba ficando à margem dos processos de decisão política.

Essa lógica também faz com que o campo político seja considerado um dos espaços

sociais mais restritivos à entrada de novos agentes pois, nele, as posições são

conservadas e a produção concentrada em alguns agentes políticos, os mandantes

(BOURDIEU, 2009). Assim, as posições são conservadas,

[...] por intermédio sobretudo da relação que os mandantes, em consequência da sua distância diferencial em relação aos instrumentos de produção política, mantêm com seus mandatários e da relação que estes últimos, em consequência das suas atitudes, mantém com as suas organizações. O que faz com que a vida política possa ser descrita na lógica da oferta e da procura é a desigual distribuição dos instrumentos de produção de uma representação do mundo social explicitamente formulada: o campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre o agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher, com probabilidades de mal entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do lugar de produção (BOURDIEU, 2009, p. 164).

É a partir dessa lógica que Bourdieu (2009) afirma que a entrada de um

agente politicamente ativo no campo político só é possível a partir da concentração

de capitais, principalmente do capital social e capital simbólico, por serem os

principais responsáveis pela manutenção das posições instituídas nesse campo.

Bourdieu (2009) discorre que, a partir da concentração de capitais, o político

“avisado” consegue dominar o sentido objetivo e o efeito social da sua posição e

tomada de decisão. Esse patamar só é atingido pois, por meio da concentração de

capitais, o agente passa a entender de modo privilegiado o espaço que está inserido

e o princípio que move as tomadas de posição atuais e potenciais no campo político,

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ou seja, quando possui um certo entendimento privilegiado do espaço das posições

objetivas e das atitudes dos que ocupam o campo político.

O capital social ao qual Bourdieu se refere pode ser entendido como um

conjunto de relações sociais passíveis de serem convertidas em recursos de

dominação. Nas palavras de Bourdieu (2007a, p.67), “o capital social é o conjunto de

recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de

relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-

reconhecimento”. A rede de relações na qual se instauram os recursos atuais ou

potenciais, que configuram o capital social, é fruto do trabalho permanente de

instauração e manutenção por parte dos agentes que produzem e reproduzem

relações duráveis capazes de assegurar ganhos simbólicos ou materiais. E é a partir

dessa lógica que Bourdieu (2007a) afirma que o volume de capital social que um

determinado agente possui está ligado à extensão da rede de relações que ele pode

mobilizar e ao volume de capital, seja ele econômico, cultural ou simbólico que

possui.

O capital simbólico, por sua vez, possui um entendimento mais complexo,

pois, como afirma Bourdieu (1996, p.107), “é a forma que todo tipo de capital

assume quando é percebido através das categorias de percepção, produtos da

incorporação das divisões ou das oposições inscritas na estrutura de distribuição

desse tipo de capital (como forte/frágil, grande/pequeno)”. Isso porque esse tipo de

capital situa-se na ordem do conhecimento e do reconhecimento, podendo ser

aplicado a outros tipos de capitais. Em outra passagem, Bourdieu tenta explicar de

modo mais claro esse tipo de capital, que pode ser verificado na relação entre uma

espécie qualquer de capital com agentes que, a partir da maneira como se

socializam em um determinado campo, conhecem e reconhecem essa espécie de

capital:

Para explicar, pego um exemplo simples que expus longamente nos últimos anos anteriores: a força [...]. A força age como tal, pelo constrangimento físico, mas também pela representação que aqueles que a sofrem têm dessa força; a força mais bruta e a mais brutal obtêm uma forma de reconhecimento que vai além da simples submissão ao efeito físico da força. Mesmo no caso mais extremo em que a espécie de capital é a mais próxima da lógica do mundo físico, não há efeito físico que não se acompanhe, no mundo humano, de um efeito simbólico. A estranheza da lógica das ações humanas faz com que a força bruta não seja jamais a força brutal: ela exerce uma força de sedução, de persuasão, que decorre do fato

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de que consegue obter certa forma de reconhecimento (BOURDIEU, 2014, p. 259).

Ainda em relação às diferentes formas que o conceito de capital pode

assumir, na teoria de Bourdieu, a compreensão de capital cultural resulta de atos de

ordenação que instituem uma relação de ordem, na qual os tidos por Bourdieu como

“eleitos” são marcados por sua trajetória de vida e atribuição escolar, e uma relação

de hierarquia, na qual esses mesmos “eleitos” são considerados “nobreza de escola”

ou “nobreza de Estado”. Partindo da transição do Estado dinástico para o Estado

burocrático, na dinâmica do contexto europeu, Bourdieu afirma que, com o

desenvolvimento do Estado e aumento da cadeia de responsabilidades, atribuições

e autoridade “em vez da sucessão do tipo doméstico (o rei e a família real), no qual o

patrimônio se transmite de pai para filho, a reprodução dos juristas, dos funcionários,

dos intelectuais, passa pelo sistema escolar, pelo mérito, pela competência, pelo

diploma” (BOURDIEU, 2014, p. 23). A entrega de diploma, portanto, passa a possuir

a função de formar/transmitir uma determinada competência e selecionar os mais

“competentes” e, nessa lógica, o capital cultural passa a configurar os saberes e

competências que são reconhecidos como títulos e diplomas, justificados pela

meritocracia. Trataremos mais especificamente do processo de transição do Estado

dinástico para o Estado burocrático no próximo tópico, pois foram as características

que emergiram desse processo que nos impulsionou a refletir acerca da

escolarização e da formação segundo a lógica moldada pelo capital cultural.

O capital cultural pode existir de três formas: incorporado, objetivado e

institucionalizado. A primeira forma do capital cultural, o incorporado, pressupõe um

processo de interiorização, uma socialização prolongada, que envolve ensino e

aprendizagem, implicando assim em um investimento de tempo. A família é uma

exemplificação do capital cultural incorporado. A segunda forma de capital cultural –

o capital cultural objetivado – é diretamente relacionado às capacidades culturais

que permitem a apropriação de bens culturais, como as obras de arte. Finalmente, o

terceiro – o capital cultural institucionalizado – é a objeção do capital cultural

incorporado sob a forma institucionalizada de títulos e diplomas sancionados

legalmente e vinculados ao mercado de trabalho.

O último conceito da teoria de Bourdieu aqui apresentado é o habitus,

considerado central, mas também estrutural, por ser uma matriz de percepções

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estruturais e de representações/mediações concebidas dentre uma estrutura social.

É visto como uma estrutura estruturante que define o modo de perceber, pensar e

agir dos agentes. Assim, uma de suas funções, segundo Bourdieu (1996, p. 21) “é a

de dar conta da unidade de estilo que vincula as práticas e os bens de um agente

singular ou de uma classe de agentes”. Sendo o habitus definido por ele como

“princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e

relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto

unívoco de escolhas de pessoas, de bens, de práticas” (BOURDIEU, 1996, p. 21-

22). Em suma, podemos entender o habitus como um conjunto de referências e

disposições sociais que orientam a ação dos agentes dentro de uma estrutura social,

subcampo ou campo. A partir da inserção de um determinado agente em um

determinado campo ou subcampo, o habitus passa a ser designado pela posição

social ocupada por esse agente, permitindo-o pensar, ver e agir em diversas

situações.

Frente aos conceitos aqui apresentados, a Sociologia Reflexiva busca

analisar as posições relativas e as relações objetivas que são inseridas em um

determinado contexto ou locus, a partir dos conceitos centrais. Porém, ressalva-se

que, para a construção teórico-metodológica desse estudo, não há necessidade de

apropriação de todos esses conceitos.

A partir da apresentação dos conceitos centrais da Teoria de Bourdieu, no

próximo tópico iremos operacionalizá-los frente à discussão do campo político-

burocrático.

2.2 Campo político-burocrático

Nesse tópico contextualizaremos historicamente o campo político-burocrático.

Entendemos essa contextualização como primordial para subsidiar nossas

discussões, uma vez que o subcampo político-burocrático do esporte e lazer, que se

encontra circunscrito no interior do campo político-burocrático, é o espaço social

onde emerge a gestão pública do esporte e lazer. Portanto, optamos por

contextualizar o campo político-burocrático a partir da gênese do Estado para

entendermos historicamente as características e peculiaridades desse campo que

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moldaram a forma de desenvolvimento da gestão pública hoje. De acordo com os

preceitos da Teoria dos Campos, para entendermos a configuração atual da gestão

pública é recomendável retomarmos sua gênese.

Para atingir tal finalidade, pautamo-nos em Bourdieu (2005) quando este

busca entender a gênese do Estado, partindo da transição do Estado dinástico para

o Estado burocrático. O Estado dinástico é entendido como aquele que encontrava-

se reduzido à casa do rei, marcante na vida europeia pela visão pessoal proveniente

do peso da nobreza feudal na política, aproximadamente de 1330 a 1650. Já o

Estado burocrático, com a transição, passou a ser constituído como campo de forças

e de lutas orientadas ao monopólio da manipulação legítima dos bens públicos.

Ainda em relação ao Estado burocrático, Bourdieu (2005) afirma que somente na

Inglaterra e França, no século XVII, são apontados os primeiros indícios que

distinguem esse tipo de Estado.

Os traços fundamentais do Estado dinástico são representados pela lógica

que era caracterizada na casa do rei, onde surge o acúmulo inicial de capital, uma

vez que a casa real era entendida como patrimônio que contemplava todas as

pessoas da família real. O rei como administrador supremo deveria saber sacrificar

seus próprios interesses e sentimentos à perpetuação do patrimônio material e

simbólico. A casa seguia a lógica original de estrutura econômica e social, na qual o

rei “agindo como „chefe da casa‟” serviu-se das propriedades da casa “[...] para

construir um Estado, como administração e como território”. Porém, aos poucos,

essa lógica exclusiva à casa foi sendo diluída (BOURDIEU, 2005, p. 42-43).

O Estado dinástico passou a ser marcado pela lógica de acumulação de

capital instituída na figura do rei. Bourdieu (2005, p.44) afirma que essa lógica

seguia o modelo de nominação, baseando-se no “poder paternal que constitui o

modelo de dominação: o dominante oferece proteção e manutenção” e que “o

princípio da legitimação é a genealogia, avalista das ligações de sangue”. A partir

dessa lógica e princípio, ao rei era assegurada a acumulação inicial de capital

simbólico8, segundo Bourdieu (2005), por ocupar uma posição distinta e distintiva

8 Segundo Bourdieu (2014, p.259), "O capital simbólico, como a palavra diz, situa-se na ordem do

conhecimento e do reconhecimento.", “[...] é a forma que todo tipo de capital assume quando é percebido através das categorias de percepção, produto da incorporação das divisões ou das oposições inscritas na estrutura da distribuição desse tipo de capital (como forte/frágil, grande/pequeno, rico/pobre, culto/inculto etc.)” (BOURDIEU, 1996, p. 107). Assim, o rei era

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de chefe feudal, constituía o poder, encontrando-se no centro, onde podia controlar

as alianças. Ao concentrar diferentes formas de poder, dentre elas o poder

simbólico e econômico, o rei as redistribuía de acordo com formas pessoais,

perpetuando-as em sua própria dinastia, instituindo assim a burocracia com

referências ao mérito e a competência.

A partir do século XIV, a figura do rei, particular e única, foi substituída por

uma palavra abstrata que representava o patrimônio do rei, o domínio da coroa, que

pouco a pouco distinguiu-se da figura particularista por representar uma instância

autônoma independente da pessoa do rei. Ao passo que as guerras e o peso das

estruturas de parentesco influenciaram substancialmente a continuidade da

perpetuação da dinastia e o poder do príncipe, desenvolvendo-se formas de

autoridades independentes do parentesco. As lutas intradinásticas,

principalmente entre irmãos, favoreceram a utilização de recursos burocráticos, na

medida em que os herdeiros se apoiavam nos gerentes para se perpetuarem,

recorrendo “aos novos recursos oferecidos pela centralização burocrática para

triunfar sobre as ameaças que os rivais dinásticos” lhes impunham (BOURDIEU,

2005, p. 50).

Instituiu-se, portanto, segundo Bourdieu (2005), uma tripartição do poder,

composta pelo rei, por seus irmãos – tidos como rivais dinásticos – e pelos ministros

do rei, escolhidos pela competência. Essa tripartição era formada a partir do

princípio da dependência mútua: o rei controlava e limitava o poder de seus irmãos a

partir dos ministros, ao mesmo tempo em que servia-se de seus irmãos para

controlar e limitar os ministros.

À medida que o Estado dinástico se constituiu perpetuando o campo de

poder, por intermédio do modo de reprodução fundamentado na ideologia do sangue

e hereditariedade, foi se estabelecendo o modo de reprodução burocrático ligado ao

surgimento de um corpo de funcionários, à competência e ao mérito, portanto,

ligados ao sistema escolar. Esse estabelecimento marca a principal contradição do

Estado dinástico:

Vê-se de passagem que os meios dirigentes foram os primeiros a conhecer um processo que se estendeu, muito mais tarde, ao conjunto da sociedade: a passagem de um modo de reprodução

reconhecido como tal por meio da simbologia que o representava, fruto do capital simbólico a ele assegurado.

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familiar (que ignora o corte entre público e o privado) e um modo de reprodução burocrático baseado no sistema escolar, fundado sobre a intervenção da escola nos processos de reprodução (BOURDIEU, 2005, p. 55).

Portanto, Bourdieu (2005) conclui que a passagem do Estado dinástico para o

burocrático fora marcada pelo movimento de desalojamento da velha nobreza de

sangue pela nova nobreza, a nobreza de Estado. Porém, ao afirmar que “a gênese

do Estado é indissociável da gênese de um grupo de pessoas a ele associadas” e

que o Estado configurava-se como “uma empresa que se relaciona primeiro ao rei e

àqueles que ele faz beneficiar pela sua generosidade. A luta para fazer o Estado

torna-se assim crescentemente indissociável de uma luta para se apropriar dos

lucros do Estado” Bourdieu (2005, p.56) afirma que o Estado dinástico apropriou-se

de forma privada dos recursos públicos e que assim se perpetuou a ambiguidade do

Estado dinástico, uma vez que havia e sempre haverá “interesses particulares e

lucros particulares, privados, a serem apropriados do público, do universal, e

que possibilidades sempre renovadas se oferecem a essa apropriação”

(BOURDIEU, 2005, p. 56-57, grifos nossos).

Bourdieu (2005), ao discorrer a respeito da fórmula “O Estado sou eu”, afirma

que essa confusão entre ordem pública e ordem privada, ali expressada, definiu o

Estado dinástico começando pela confusão do rei em relação aos recursos ou

interesses da instituição e seus próprios recursos e interesses. Contra essa

consideração foi se constituindo o Estado burocrático, no qual a primeira afirmação

da diferença entre o privado e o público realizou-se na esfera do poder, a partir da

“constituição de uma ordem política dos poderes públicos, dotada de lógica própria

(a razão de Estado), de valores autônomos, de linguagem específica, e distinta do

doméstico (real) e do privado” (BOURDIEU, 2005, p. 59). O autor afirma que essa

distinção se estendeu, com o passar do tempo, a toda vida social, sendo esta a

chave para compreensão do campo burocrático, definido como um espaço que

“supõe a dissociação da posição e de seu ocupante, da função e do funcionário, do

interesse público e dos interesses privados, particulares – ainda com a virtude da

negação de interesses atribuídos ao funcionário” (BOURDIEU, 2005, p. 59). A

ruptura com o Estado dinástico fora assumida, portanto, pela dissociação entre o

poder público e o poder privado, respectivamente, para Bourdieu (2005) entre o

imperium e o dominium.

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O que antes era determinado pelos laços de sangue, genético, familiar,

passou a ser relacionado às competências adquiridas. O Estado que passou a

nomear, instituir, se ligar a instituição, se opôs “à lógica específica da família que,

por arbitrária, é a mais „natural‟ ou naturalizável (o sangue etc.) das instituições

sociais” (BOURDIEU, 2005, p. 60). Esse processo é acompanhado pelo

desenvolvimento de um modo específico de reprodução relacionado às

competências adquiridas especialmente por meio da educação escolar, “assim

começa o processo de educação, acelerado pela fundação de escolas urbanas nos

séculos XV e XVI” (BOURDIEU, 2005, p. 60-61). A educação escolar era restrita à

elite e, portanto, nesse período, a elite estatal era a elite econômica.

Frente a esse processo de consolidação do Estado moderno, no qual os laços

do modo de reprodução dinástico foram sendo rompidos cada vez mais pelo modo

de reprodução burocrático, Starepravo (2014, p. 38, grifos nossos) pautando-se em

Bourdieu e Elias, adverte:

O alargamento das cadeias de interdependência (ELIAS, 2005), ou da cadeia de autoridades-responsabilidades (BOURDIEU, 2005), no interior do campo burocrático – ou seja, a instituição de um campo administrativo relativamente autônomo, independente

da política (negação) e da economia (desinteresse), e obediente à lógica específica do „público‟ –, se estrutura a partir do crescente nível de interdependência e numa certa reciprocidade, nas próprias relações hierárquicas entre os agentes.

O surgimento dessa realidade social, que Bourdieu (2005) designa de

burocracia moderna, gerou uma série de invenções, como carimbos, departamentos,

assinaturas, decretos de nomeação, registros, entre outros que, segundo ele, eram

decisivos, o que levou à configuração da lógica burocrática – impessoal e

intercambiável. Em conjunto com essas invenções, o alongamento da cadeia de

autoridades-responsabilidades – que teve início quando o rei passou a designar

cargos de confiança como secretários, chancellor, primeiro ministro, altos

funcionários do Estado, entre outros – passou a constituir uma verdadeira ordem

pública imbuída de reciprocidade e relações hierárquicas. Nas palavras de

Bourdieu (2005, p.67), “o executante é a um só tempo controlado e protegido pelos

dirigentes; e ele, por sua vez; controla e protege o dirigente, principalmente contra o

abuso do poder e o exercício arbitrário da autoridade”. Assim, quanto mais poder um

dirigente possuía, maior a sua dependência em relação à rede de etapas de

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execução. A liberdade e responsabilidade de cada agente passou a diminuir frente à

complexidade do campo, mas crescia na medida que cada agente devia agir de

maneira responsável em virtude da proteção e controle dos demais agentes

(BOURDIEU, 2005).

Bourdieu (2005) afirma que o alongamento da cadeia de delegação de

autoridades-responsabilidades e o desenvolvimento de uma estrutura de poder

complexa – Estado como metacampo de poder que determina as regras dos

diferentes campos – não culminou no desaparecimento dos mecanismos que

visavam à apropriação privada de capital simbólico e do capital econômico, mas pelo

contrário, aumentou as possibilidades de desvios por confisco direto.

A gênese da ordem pública acompanhou a aparição do capital público e o

desenvolvimento do campo burocrático, campo este que, segundo Bourdieu (2005,

p.69), “tornou-se lugar de luta pelo poder sobre o capital estadístico e sobre os

lucros materiais (salários, vantagens materiais) e simbólicos (honras, títulos etc.) que

ele oferece”. Portanto, o campo burocrático pode ser assim definido como um campo

constituído pelas lutas para se deter o controle do capital estadístico ou público e do

poder correlatado à ele, principalmente em relação ao poder sobre a redistribuição

dos recursos públicos e os possíveis lucros que deles poderia originar.

A dissociação entre o interesse público e o interesse privado frente ao poder

público tornou-se cada vez mais imprecisa devido à configuração do Estado a partir

do desenvolvimento do campo burocrático em sobreposição ao dinástico, em

paralelo à construção do campo de poder e os capitais a ele associados. Nessa

lógica, os detentores de capital lutam de modo particular pelo poder sobre o Estado

para a apropriação do capital público ou estadístico, uma vez que esse tipo de

capital pode assegurar o poder sobre os outros diferentes tipos de capital

(BOURDIEU, 2005). Para Starepravo (2014), esse processo de apropriação e

acumulação do capital público é operado a partir da política e, portanto,

considerado também político.

O surgimento do Estado, para Bourdieu (2005), foi constituído ao mesmo

tempo pela universalização e pela monopolização do universal. Desta forma, ao

mesmo tempo que o Estado passou a ser considerado como universal, e não mais

como “casa do rei” em seu princípio dinástico, passou a ser constituído pelos

campos político e burocrático. Nesse sentido, a monopolização do universal é vista

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tanto por intermédio das relações que são estabelecidas e que estabelecem o

campo burocrático quanto as que estabelecem e são estabelecidas pelo campo

político, por serem afirmados como campos de forças e de lutas.

Bourdieu (2009, p.164) define campo político como “lugar em que se geram,

na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos,

problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos”. Afirma

que a gênese desse campo é o campo da alta função pública, “vista como o

desenvolvimento progressivo [...] de um conjunto de regras do jogo amplamente

impostas, a partir das quais se estabelece, no interior do mundo social, uma

comunicação que pode ser uma comunicação no e pelo conflito" (BOURDIEU, 2014,

p.31). Assim, o campo político é entendido como um espaço social onde os agentes

– inseridos nas mais diversas instituições governamentais como ministérios,

secretarias, autarquias, dentre outras – transitam e estabelecem relações.

Tais argumentos levam-nos à apropriação do que Starepravo (2011, 2014)

afirma como “campo político-burocrático”. O autor afirma que “o objeto de disputa do

campo político-burocrático, portanto, é a acumulação do capital político, que dá

acesso ao capital público ou estatal, e vice-versa, bem como a todas as vantagens

decorrentes desse acúmulo” (STAREPRAVO, 2014, p. 39). As áreas que

contemplam o campo político-burocrático são designadas de subcampos político-

burocráticos, e cada área, definida pela especificidade de atuação do Estado,

delimita um espaço social diferente onde atuam os agentes ali vinculados.

A consolidação do campo burocrático e do campo político, fundamentada em

Bourdieu, foi aqui exposta de modo que pudéssemos refletir acerca da consolidação

desse espaço social, o campo político-burocrático. Mesmo que tenha Bourdieu

baseado-se no contexto europeu para tecer tais constatações, as condições

estruturais e características por ele apresentadas auxiliam-nos a pensar o contexto

do campo político-burocrático, frente ao nosso escopo de análise, à gestão pública

municipal do esporte e lazer no Brasil e à formação dos agentes públicos inseridos

nesse campo e estrutura social.

Ao longo desse tópico, características foram destacadas em negrito por

considerarmos pontos importantes às discussões que serão apresentas nos

capítulos seguintes. Pudemos observar que as características e condições

estruturais destacadas, decorrentes da transição do Estado dinástico para o Estado

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burocrático fazem-se presentes nos dias de hoje nas relações estabelecidas entre os

agentes no campo político-burocrático e na gestão pública. Podemos destacar

dentre as características e condições estruturais as estratégias utilizadas para

acumulação de capital simbólico que no campo político-burocrático podem ser

observadas a partir do capital público ou capital político que confere certo poder aos

agentes que ocupam cargos políticos; os processos de apropriação e acumulação

do capital público operado a partir da política pelos agentes que se encontram

ligados à ela por meio da gestão pública; as formas de poder que, a partir da

transição do Estado dinástico para o burocrático, passaram a ser distribuídas de

acordo a competência e formas pessoais estabelecidas entre os agentes.

Averiguamos também a presença de interesses particulares e lucros

particulares, privados, a partir da apropriação do público, da coisa pública, no interior

do campo político-burocrático e da gestão pública. Em relação a esse ponto, como

bem demarcado por Bourdieu (2005), é relevante destacar que interesses

particulares advindos da apropriação do público sempre ocorreram e sempre

ocorrerão, pois possibilidades renovadas continuamente irão surgir para o

estabelecimento dessa apropriação.

Ainda podemos verificar o crescente nível de interdependência e

reciprocidade na relação entre os agentes públicos e políticos, aspectos que

surgiram do alongamento da cadeia de autoridades-responsabilidade que culminou

na constituição da ordem pública, e que ainda hoje se faz presente nas relações

hierárquicas entre os agentes inseridos no campo político-burocrático e na gestão

pública.

Em nosso campo empírico – campo político-burocrático – é possível

identificarmos certas estratégias de agentes que ocupam cargos políticos no topo

das cadeias hierárquicas, como é o caso do cargo de prefeito, secretário, ou

ministro, por exemplo, que se utilizam do esporte para obter prestigio político. Ou

ainda, agentes que mantêm interesses particulares, a partir da apropriação do

público, como por exemplo manter-se no cargo de prefeito ou secretário por meio do

prestígio de ter desenvolvido certas ações para a população. Esses são exemplos

de alguns pontos aqui destacados, mas é relevante considerar que todas as

condições estruturais e características destacadas auxiliam-nos a pensar o contexto

do campo político-burocrático. Ao buscarmos entender um pouco da lógica que

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configura esse campo, podemos partir para a discussão do contexto municipal e

como os agentes inseridos nesse contexto, por meio da gestão pública municipal do

esporte e lazer, agem ou podem agir para manter ou modificar as estruturas

existentes. E assim chegarmos à discussão da formação dos agentes públicos

inseridos nesse campo e estrutura social que, a priori, é considerada como o

caminho para manter ou modificar as estruturas e relações sociais existentes.

Nesse sentido, o próximo tópico discorre a respeito das características e

peculiaridades inerentes aos municípios brasileiros a partir da municipalização,

processo que instituiu os municípios como entes federativos e que acarretou a eles

consequências e atribuições que moldaram a forma de desenvolvimento da gestão

pública municipal.

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3 GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL

O foco do presente trabalho emergiu da realidade municipal e, por esse

motivo, consideramos que os municípios apresentam-se como nosso campo

empírico. Haja vista esse entendimento, no primeiro tópico desse capítulo discutimos

a municipalização e constituição dos municípios brasileiros como unidades da

federação.

Já no segundo tópico discutimos a respeito das características e condições

estruturais inerentes ao desenvolvimento da gestão pública municipal do esporte e

lazer em nosso país a partir de diferentes contextos e interlocutores.

3.1 Municipalização e constituição dos municípios brasileiros

Pelo fato dos municípios constituírem o campo empírico do presente estudo,

nesse tópico, a discussão volta-se à municipalização, processo histórico que culmina

na consideração do município como ente federado. Na lógica do Estado burocrático,

a necessidade de se municipalizar advém do aumento da cadeia de

responsabilidades e autoridade, que ao longo da história vai sendo atribuído ao

Estado. Assim, entendemos ser necessário voltarmos a atenção à constituição dos

municípios brasileiros, de modo a compreendermos as características e

peculiaridades desse processo.

Ao discorrer a respeito da vida municipal brasileira, Melo (1965) retrata

aspectos de seu desenvolvimento em três períodos históricos: “os tempos coloniais”;

“a época imperial” e o “período republicano até 1946”. Passaremos a apresentar tais

períodos.

Nos tempos coloniais, mais precisamente nos primeiros anos do século XVI,

instituições de governo local foram incorporadas, a exemplo de Portugal, no Brasil.

Melo (1965) retrata a fala de Sobrinho (1949) quando afirma que no período colonial

não chegou a se concretizar o que entendemos por municípios, e sim o que

denominava-se de “Senados de Câmaras Municipais”. Esses Senados eram tão

amplos e com poderes tão dilatados, que, segundo Sobrinho (1949), devem ser

considerados mais uma antecipação de assembleias estaduais do que propriamente

municipais. O autor afirma que o “Municipalismo, como hoje o entendemos,

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dependeu da formação das cidades, com os seus interesses próprios, seus

problemas característicos e, sobretudo, sua emancipação diante da influência dos

clãs latifundiários” (SOBRINHO, 1949, p. 446).

As instituições locais portuguesas instituídas no Brasil foram logo

modificadas. A base do “município colonial” era formada pela propriedade rural, os

poucos centros urbanos eram sedes dos governos regionais. As capitanias, segundo

as quais o Brasil se dividia, eram governadas centralmente de Portugal. Mediante

tais peculiaridades, Melo (1965, p. 38) relata que “sem renda, por não possuir quase

nenhum poder de imposição, [...] o Município colonial brasileiro permaneceu, como

comunidade, num estágio bastante primitivo; e foi altamente ineficiente como

unidade de governo”. Por conseguinte, esse período conferiu características

embrionárias à vida municipal brasileira.

Na época imperial, período histórico subsequente demarcado por Melo

(1965), a partir da Independência e promulgação da Constituição de 1824, as

instituições municipais brasileiras passaram a ser definidas por lei. A Constituição

estabeleceu que toda cidade ou vila necessitava ter uma câmara popularmente

eleita, a fim de designar o governo econômico e municipal e um vereador, que no

cargo de presidente da câmara, cumpria as funções executivas.

Melo (1965) discorre que o quadro municipal na época do império manteve-se

estável em virtude da centralização das províncias e incapacidade financeira, quadro

constatado também por Brasileiro (1973) ao afirmar que durante o Império, que

perdurou até 1889, pouco se fortaleceu o governo local.

A Proclamação da República e a promulgação da primeira Constituição

Republicana Brasileira, em 1891, conferiu autonomia às antigas províncias ao

transformá-las em estados federados. A primeira Constituição atribuiu aos estados a

função de organizar as instituições de governo local, limitando a autonomia dos

municípios (MELO, 1965).

As décadas subsequentes, entre 1890 a 1930, foram marcadas por revoltas,

movimentos políticos e revoluções. A Revolução de 1930 assinalou a tentativa de

tomada do poder do então presidente, Washington Luís. Em novembro de 1930, a

Junta Militar Provisória passou o poder a Getúlio Vargas, voltando o Brasil a ser

governado de modo centralizado. Segundo Mezzadri (2000), o Estado passou a

intervir de forma direta nos âmbitos social, político e econômico. Os poderes

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legislativos foram dissolvidos, dentre eles os municipais. Autoridades passaram a

exercer tanto o poder executivo quanto o legislativo, na figura dos interventores –

governadores nomeados pelo chefe do Governo Provisório – e dos prefeitos, esses

nomeados pelos interventores (MELO, 1965).

Pressões favoráveis à reconstitucionalização do país levaram à promulgação

da Constituição, em 16 de julho de 1934, que reforçou a autonomia municipal, e

reduziu em contrapartida a autonomia dos estados frente a seus municípios. Os

estados intervinham apenas para regularizar as finanças quando fosse verificado

impontualidade nos serviços de empréstimos realizados pelos municípios

(BRASILEIRO, 1973). A Constituição ainda previu a peculiaridade da divisão

tripartida, constituída pela união, estados e municípios.

Em 1937, o Estado Novo é implementado sob características ditatoriais, no

comando absoluto de Getúlio Vargas. As câmaras legislativas foram dissolvidas, os

governadores dos estados passaram a representar agentes do governo central, e os

prefeitos em pressupostos desses interventores (MELO, 1965).

Nos dizeres de Brasileiro (1973), a centralização atingiu seu ponto extremo

nesse período do Estado Novo, modificações foram introduzidas na legislação

trabalhista, bem como uma tentativa de reforma administrativa de modo a integrar o

município dentro da política governamental. Essa reforma, entretanto, sofreu desvios

de seus propósitos, segundo a autora, permitindo o aumento do funcionalismo

militar, civil e federal.

Em relação à Constituição desse período, promulgada em 1937, Bonavides e

Andrade (2004) afirmam que, utilizada por Getúlio Vargas em seu próprio benefício,

marcou o início das Constituições autoritárias, justificando de modo teórico as

ditaduras posteriores. Contudo, ainda é certo para Bonavides e Andrade (2004) que

Vargas implementou em seu governo a modernização do aparelho de Estado, tornou

a burocracia mais eficiente, mais renovada, porém, com poderes mais amplos do

que o considerado normal, além de proporcionar o início da industrialização do país.

Essas transformações marcaram o país, no que se refere ao plano

econômico. Além de iniciar o processo de industrialização, em decorrência da Crise

Econômica de 1930, o país se viu obrigado a produzir bens internamente, em virtude

da incapacidade de importar produtos, tendência reforçada pela II Guerra Mundial

(BRASILEIRO, 1973).

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O fim da II Guerra Mundial marcou a extinção do período ditatorial do Estado

Novo. A restauração do regime democrático fora reconfigurada com a Constituição

de 1946. Barroso (1982) discorre que tal Constituição retomou as inacabadas

experiências políticas e constitucional de 1934, aumentando as atribuições da união

e instituindo a cooperação financeira e administrativa entre a união e os estados.

Não obstante, reafirmou a divisão tripartidária de competências entre união, estados

e municípios. A arrecadação tributária federal passou a ser partilhada aos estados e

municípios a partir da atribuição de cotas de impostos federais. A constituição ainda

afirmou a autonomia e o fortalecimento dos municípios.

Barroso (1982) elucida que, frente ao federalismo tripartidário assegurado

pelo texto da Constituição, pode-se verificar um fenômeno contraditório em relação à

evidente centralização, de um lado, e o fortalecimento dos municípios de outro. Esse

fenômeno é constatado por Barroso (1982), uma vez que, pode-se constatar que a

centralização era mantida pois estados e municípios, por mais que foram entendidos

como autônomos e fortalecidos na Constituição de 1946 mediante o modelo

federalismo tripartidário, eram dependentes da união, principalmente no que se

refere à arrecadação tributária federal.

Como efeitos do período que a Constituição de 1946 esteve vigente,

Bonavides e Andrade (2004) destacam certa autenticidade no processo

representativo no que se refere a existência de partidos políticos de âmbito nacional

e equilíbrio entre os poderes da República. Tais características marcaram o regime

federativo e o fizera prosperar por algum tempo, “ainda que condicionado por um

preocupante processo de centralização” (BARROSO, 1982, p. 48).

Com a deposição de João Goulart da presidência, e em 1964, a renúncia de

Jânio Quadros, deu-se início à sequência de governos militares imprimindo novas

feições ao Estado que, centralizando o poder, voltou a dominar grande parte dos

campos sociais por meio do monopólio da força física. Em 1965, instrumentos como

a Reforma Tributária Nacional promoveram o fortalecimento da união, reduzindo a

competência dos estados e municípios. Aos poucos, os três atos institucionais, as

vinte emendas constitucionais e em torno de quarenta atos complementares

exauriram a federação, que ao colapso da legalidade e crise de legitimidade,

demarcou a queda da Constituição de 1946 (BARROSO, 1982).

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Durante o Regime Militar (1964-1985), a estrutura estatal permaneceu

centralizada mediante ações autoritárias. Já com o fim desse período, mudanças

sociais e políticas ocorreram devido à modificação na balança de poder entre Estado

e sociedade (VERONEZ, 2005). Essas mudanças foram graduais e progressivas no

sentido de uma redemocratização do país. Iniciaram-se com a retomada das

eleições diretas para o cargo de governador em 1982 e, mediante pressão popular

em movimentos como o “Diretas Já”, retomou-se as eleições diretas para o cargo de

presidente da República.

Melo (1999) afirma que esse período de transição democrática proporcionou

um boom na análise de políticas públicas, sendo que os estudos e pesquisas

passaram a voltar-se às questões relativas ao modus operandi do Estado. Nesse

período, segundo Melo (1999), o âmbito político-organizacional também foi marcado

pela descentralização e desenvolvimento de políticas municipais, com as demandas

se movendo de escala nacional para escala local.

Com a redemocratização do país e intenso processo constituinte, uma nova

Constituição foi promulgada em 05 de outubro de 1988. Tácito (1999) destaca, entre

os novos preceitos da Constituição, o financiamento dos estados, dos municípios e

do Distrito Federal a partir de recursos advindos do orçamento da União.

Em relação à municipalização, a Constituição de 1988 ampliou a autonomia

dos municípios, bem como dos estados, promovendo-os à condição de entes

federados. No texto da Constituição, a municipalização se faz presente quando

prevê a autonomia dos municípios ao afirmar no Art.18 do Capítulo I, Título III:

Título III - Da Organização do Estado Capítulo I - Da Organização Político-Administrativa Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988, p.08).

Ao destinar um capítulo próprio aos municípios, a Constituição, em seu Art.

29, instituiu a necessidade dos municípios serem regidos por lei orgânica que

estabelece, dentre outros preceitos, a eleição de um prefeito, vice-prefeito e

vereadores para mandato em quatro anos e o número de vereadores proporcional à

população do município. Já o Art. 30 prevê a competência dos municípios, devendo

estes:

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I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir Distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual (BRASIL, 1988, p. 11).

Ainda a respeito do capítulo próprio aos municípios, o Art. 31 prevê a

fiscalização do município pelo Poder Legislativo municipal mediante controle externo

exercido pelos Tribunais de Conta e Conselhos, e por sistemas de controle interno

do Poder Executivo Municipal (BRASIL, 1988).

A presente Constituição também instituiu o esporte e o lazer como direitos

sociais atribuindo aos entes federados, estados e municípios, a competência de

legislar tais direitos. Por meio dessa instituição verificamos a obrigatoriedade,

findada pela lei maior vigente em nosso país, em se desenvolver a gestão pública do

esporte e lazer.

Mediante essa obrigatoriedade em se desenvolver a gestão pública do

esporte e lazer, uma vez que o esporte e o lazer foram instituídos como direitos

sociais pela Constituição de 1988, passaremos a apresentar os ordenamentos legais

relacionados ao desenvolvimento da gestão pública municipal.

Mesmo a autonomia dos municípios sendo prevista pela Constituição de

1988, os municípios ainda se encontram dependentes do seu estado e do governo

federal. Uma das formas de dependência é o recurso econômico. Em relação a essa

dependência devemos considerar o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O

repasse de receita do governo federal aos municípios é realizado a partir do FPM,

como consta na Constituição de 1988, que determina o repasse dos estados a seus

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municípios, sendo 25% da receita arrecadada com ICMS9 (Artigo 158, inciso IV),

25% da parcela do IPI10 transferida pela União (Artigo 159, inciso II, parágrafo 3º), e

50% da receita arrecadada com IPVA11 (Artigo158, inciso III), como pode ser

constatado no texto constitucional:

Art. 158. Pertencem aos Municípios: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; II - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º; III - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios; IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (BRASIL, 1988).

O Ministério da Fazenda, a partir da Secretaria do Tesouro Nacional,

disponibiliza uma cartilha online12 com informações a respeito do FPM. De acordo

com a cartilha (BRASIL, 2012), o FPM foi instituído na Emenda Constitucional nº 18,

de 1º de dezembro de 1965 (feita à Constituição de 1946). O critério para divisão do

FPM, inicialmente era baseado no número populacional dos municípios. Este critério,

bem como a regulamentação do fundo, foi instituído pelo Código Tributário Nacional

(CTN), no seu artigo 91 da Lei 5.172/1966, e em 1967 iniciou-se a sua distribuição.

Desde então, diversas modificações foram realizadas no embasamento legal do

fundo em questão (BRASIL, 2012).

O cálculo dos percentuais individuais de participação dos municípios é

realizado pelo Tribunal de Contas da União e publicado no Diário Oficial da União

em Decisão Normativa até o último dia útil de cada exercício. A base do cálculo é

realizada a partir das informações geradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e repassadas ao Tribunal de Contas da União até o dia 31 de

outubro de cada ano. Informações essas compostas pela população de cada

9 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de

transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação. 10

Imposto sobre produtos industrializados. 11

Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores. 12

Disponível em: http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/download/CartilhaFPM.pdf, acesso em: 18/05/2015.

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município e renda per capta de cada estado. O fundo é destinado de acordo com o

tamanho populacional, sendo os municípios classificados em três classes, quais

sejam: capital, inferior e reserva. Dos 100% do FPM, 10% são destinados às capitais

– Brasília e as capitais de cada estado; 3,6% para a reserva – municípios com

população superior a 142.633 habitantes; e 86,4% para o inferior, constituída por

municípios que não são capitais, sendo que os municípios da reserva também

participam cumulativamente do critério desta classe. Assim, os critérios para o

cálculo do FPM dos municípios são estabelecidos de acordo com as classes

(BRASIL, 2012).

Ao voltarmos à discussão aos ordenamentos legais dos municípios, outro

ponto a ser considerado além do FPM é a Lei Federal nº 10.257 de 10 de julho de

2001, conhecida como Estatuto da Cidade. A referida Lei, Estatuto da Cidade, foi

promulgada com o intuito de regulamentar os Artigos 182 e 183 da Constituição de

1988, artigos que tratam da política de desenvolvimento urbano e função social da

propriedade. Portanto, consideramos tal Estatuto um mecanismo que regulamenta a

ação administrativa e de gestão nos municípios. Nas palavras de Castellani Filho

(2006, p. 121, grifos do autor) “podemos nos reportar ao Estatuto da Cidade como o

marco regulatório da instrumentalização do município para o exercício do pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade”.

Em seu primeiro capítulo, o Estatuto apresenta diretrizes gerais para a

execução da política urbana no sentido de ordenar o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade. Dentre estas diretrizes o plano prevê a cooperação entre

governos, o planejamento das cidades e a gestão democrática. Nos capítulos

subsequentes do Estatuto são apresentados os instrumentos da política urbana,

dentre eles, o Plano Diretor, a disciplina do uso e ocupação do solo, o zoneamento

ambiental, o Plano Plurianual (PPA), as Diretrizes Orçamentárias (LDO) e

Orçamento Anual (LOA).

O Plano Plurianual (PPA) é um dos três instrumentos básicos que dizem

respeito ao planejamento e ao orçamento (PPA, LDO, LOA). A Lei do PPA

estabelece diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas

de capital e outras despesas delas decorrentes, bem como para despesas relativas

a programas de duração continuada. É um plano de médio prazo, pois é projetado

para ter aplicação por quatro anos, tendo vigência desde o início do segundo ano de

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cada mandato até o final do primeiro exercício financeiro do mandato subsequente.

Em conformidade com o PPA, compete à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) o

estabelecimento de metas e prioridades da administração, bem como orientar a

elaboração do orçamento anual.

De acordo com a sistemática constitucional, em uma ordem hierárquica, são

estabelecidos o PPA, a LDO e pôr fim a LOA. Por ser o último instrumento da ordem

hierárquica, compete a LOA (Lei Orçamentária Anual) a função de efetivamente

autorizar a realização de gastos públicos, estimulando receitas e fixando despesas.

Esses instrumentos ou sistemas de planejamento e orçamento são aplicados tanto

no âmbito federal quanto para os estados, Distrito Federal e municípios (BRASIL,

2012).

Os três instrumentos de planejamento e orçamento, quando voltados ao

âmbito municipal, são incorporados às diretrizes e prioridades estabelecidas pelo

Estatuto da Cidade em relação ao Plano Diretor. Em relação às diretrizes e

prioridades do Plano Diretor, o Art. 40 do Estatuto afirma:

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. § 1o O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.

§ 2o O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo. § 3o A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. § 4o No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos (BRASIL, 2001, grifos nossos).

A elaboração do Plano Diretor tornou-se obrigatória até outubro do ano de

2006 em municípios com mais de 20 mil habitantes. De acordo com o texto da lei, a

elaboração também tornou-se obrigatória a municípios integrantes de regiões

metropolitanas e aglomerações urbanas, a municípios onde o poder público

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municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no inciso 4º do Art. 18213 da

Constituição de 1988, a municípios integrantes de áreas de especial interesse

turístico, bem como a municípios inseridos na área de influência de

empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito

regional ou nacional.

Dados do IBGE (2010), a partir de indicadores sociais municipais,

demonstram que dentre os 5.566 municípios brasileiros, apenas 1.652 possuem

mais de 20 mil habitantes, frente a 3.914 pequenos municípios, de até 20 mil

habitantes, excluídos da obrigatoriedade de elaboração do Plano Diretor. Segundo

Castellani Filho (2006), mesmo que os pequenos municípios escolham envolver-se

no processo de elaboração do Plano Diretor, variadas e distintas ordens dificultam

esse processo, devido à ausência de elementos como estrutura administrativa,

pessoal qualificado e instrumentos apropriados para o desenvolvimento das funções

administrativa e de gestão.

No caso especifico do estado do Paraná, para além da determinação prevista

no Estatuto da Cidades, o Decreto Estadual nº. 2.581/2004 instituiu que todos os

municípios elaborassem seu Plano Diretor para firmação de convênio. O texto do

Decreto afirma:

Art. 1º. O Estado do Paraná somente firmará convênios de financiamento de obras de infra-estrutura e serviços com municípios que obedecerem os seguintes requisitos: a) municípios que já possuam planos diretores aprovados pelas respectivas câmaras municipais; e b) aos municípios que executarem com recursos próprios ou financiarem prioritariamente planos diretores ou planos de zoneamento, em conformidade com o que estabelece o estatuto das cidades, para elaboração em até 180 (cento e oitenta) dias (PARANÁ, 2004).

Em substituição ao Decreto, o governo estadual instituiu no ano de 2006 a Lei

nº 15.229. A referida lei complementa as afirmações a respeito do Plano Diretor

instituídas no decreto anterior e estabelece outras diretrizes, conforme segue:

13

O inciso 4º do Art. 182 afirma: É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais (BRASIL, 1988).

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Art. 4°. O Estado do Paraná, em conformidade com as deliberações da II Conferência das Cidades – CONCIDADES PARANÁ, somente firmará convênios de financiamento para projetos e obras de infra-estrutura, equipamentos e serviços com municípios que se enquadrem num dos seguintes requisitos: I - Município que já possua Plano Diretor Municipal aprovado pela respectiva Câmara Municipal; II - Município que precise ter um Plano Diretor Municipal, conforme exigência do Estatuto da Cidade, que estiver executando o Plano Diretor Municipal, tendo como prazo limite o prazo especificado no Estatuto da Cidade; III - Município para o qual o Estatuto da Cidade não exige Plano Diretor, deverá tê-lo aprovado, até 90 (noventa) dias após a vigência desta lei (PARANÁ, 2004).

Segundo dados do IBGE (2010), dos 399 municípios do estado do Paraná,

apenas 87 municípios possuem mais de 20 mil habitantes, sendo que 312

municípios possuem menos de 20 mil habitantes. Levando em consideração as

disposições do Estatuto da Cidade, esses 312 municípios não teriam a

obrigatoriedade na elaboração de Planos Diretores. Porém, como já enunciado, o

governo do estado, no ano de 2004 e reformulação em 2006, previu que todos os

municípios necessitariam elaborar seus Planos.

Entendemos que essa obrigatoriedade é um avanço ao exigir dos municípios

um planejamento mínimo. Porém, alguns pontos dessa exigência pode ser

questionados, uma vez que pode-se perceber que uma grande maioria dos

municípios não possui problemas urbanos aplicáveis aos instrumentos do Estatuto, e

portanto, não contempla essa utilização. Este questionamento vai ao encontro da

discussão realizada por Rodrigues e Cordovil (2007) ao analisarem a realidade de

três municípios paranaenses com população de, no máximo, 6 mil habitantes frente

à obrigatoriedade de elaboração do Plano Diretor. Os autores afirmam a

necessidade de se criar planos voltados à problemática da área rural, haja vista que

esses espaços ditos “urbanos” de pequeno porte têm, como consideram, “baixo

dinamismo efetivamente urbano” que vão de encontro a algumas atribuições do

Estatuto da Cidade e Plano Diretor (RODRIGUES; CORDOVIL, 2007, s/p).

Problemas de diversas ordens atingem os municípios brasileiros, como pode

ser constatado nos dados apresentados pelo IBGE (2000), sendo eles de ordem

social, fiscal, financeira, urbana e rural. Estudos (REZENDE; ULTRAMARI, 2007;

REZENDE, 2008) afirmam que muitos desses problemas poderiam ser resolvidos ou

minimizados a partir da elaboração e controle de planos e planejamentos voltados

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às realidades específicas dos municípios, bem como por meio da gestão

competente.

Como discutido nos tópicos anteriores, essa configuração atual dos

municípios em nosso país é resultado do processo de municipalização enquanto um

produto histórico do desenvolvimento do Estado e consequente aumento da cadeia

de autoridades-responsabilidades no campo político-burocrático. Assim, com a

promulgação da Constituição de 1988, os municípios e os estados, foram previstos

como entes da federação.

Por vezes, a instituição do município como um ente federativo é vista como

resultante do processo de descentralização do Estado brasileiro. Porém, ao nos

referirmos ao processo de descentralização, é necessário salientar que há diversas

conceituações para o termo em questão – “descentralização”. Pautamos em duas

compreensões para distinguir a descentralização administrativa da descentralização

dos poderes entre os entes da federação, por entendermos que essas duas

conceituações podem estar relacionadas, de alguma forma, à gestão pública

municipal.

Consideramos a descentralização administrativa como aquela que se refere à

gestão das ações, com a modificação do padrão decisório, em que a participação

popular e democrática seria um dos meios para sua efetivação. Alguns autores como

Queiroz et al. (2011), pautam-se nessa conceituação e afirmam a descentralização

como o processo em que se associam formas de democracia direta, possibilitando a

mediação entre a sociedade e o Estado por meio da participação popular nas

decisões. Indo a esse encontro, Castro (2002) considera a descentralização como o

processo que objetiva resolver as demandas da população a partir da valorização da

ação pública.

Em relação à segunda conceituação, tem-se que a descentralização dos

poderes entre os entes da federação foi afirmada no texto constitucional de 1988. A

partir do processo de descentralização afirmado na Constituição, o município passou

a ser um ente federado com funções e atribuições. Porém, não há um consenso

quanto à utilização do termo descentralização em relação a esse processo, instituído

em 1988, mas fruto da história frente à separação entre união, estados e municípios.

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Monaco (1998), ao discorrer acerca da organização administrativa do Estado

no ordenamento italiano, considera que, na maioria das vezes, o termo

descentralização é utilizado no sentido de desconcentração. Segundo ele:

As tentativas dirigidas simplesmente ao descongestionamento da administração pública central, multiplicando no interior da administração do Estado os órgãos periféricos, sem incidir de maneira substancial sobre o poder de decisão e sem se sobrepujar à ordem hierárquica, dão finalmente lugar a medidas de desconcentração ou, se preferirmos, de Descentralização hierárquica (MONACO, 1998, p.344).

Pautando-nos nessa diferenciação, podemos chegar à consideração de que o

modelo que possuímos no Brasil, instituído pela Constituição de 1988, a partir da

divisão entre os entes da federação, é produto do processo de desconcentração,

uma vez que multiplicou os órgãos periféricos sem deixar de lado a ordem

hierárquica – municípios são dependentes de seus estados e ambos dependem da

união.

O entendimento de que o processo de desconcentração foi efetivado em

nosso país ao invés do processo de descentralização, vai ao encontro da

consideração de Menezes (2009). O autor afirma que a tentativa de transferir poder

decisório e financeiro aos estados e municípios, de modo que esses pudessem

decidir de forma local frente suas prioridades, não se concretizou em sua totalidade,

uma vez que “nem sempre as responsabilidades transferidas têm isonomia nos

recursos repassados, sendo a descentralização, por vezes, uma ação que não

corresponde à realidade, sobretudo, de estados e municípios” (MENEZES, 2009, p.

82-83).

Em relação às políticas, Menezes (2009) alega que a união é o principal

agente financiador ou autorizador de recursos, ficando a cargo dos entes

subnacionais – estados e municípios – as responsabilidades de execução. Essa

lógica pode ser visualizada na área do esporte e lazer. A Constituição apenas

desconcentrou a competência de legislar o esporte e o lazer como direitos sociais

entre os entes da federação – estados e municípios. A lei infraconstitucional voltada

ao esporte, Lei nº 9.615, conhecida como Lei Pelé, não estabelece nenhum tipo de

atribuição aos estados e municípios, mas confere a essas instâncias do poder

público autonomia em relação à constituição de seus próprios sistemas de esporte.

Como pode ser observado no texto da lei:

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Seção V Dos Sistemas do Desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011). Art. 25. Os Estados e o Distrito Federal constituirão seus próprios sistemas, respeitadas as normas estabelecidas nesta Lei e a observância do processo eleitoral. Parágrafo único. Aos Municípios é facultado constituir sistemas próprios de desporto, observado o disposto nesta Lei e, no que couber, na legislação do respectivo Estado (BRASIL, 1998).

Após mais de uma década da promulgação da Lei Pelé, um novo decreto o

Decreto nº 7.984/13 objetivou regulamentar a referida lei e instituir ordenamentos

legais gerais para o esporte. Entre os pontos instituídos, destacamos no texto do

Capítulo II – Dos Sistemas do Desporto, a Seção I que trata do Sistema Brasileiro do

Desporto:

Art. 5º O Sistema Brasileiro do Desporto compreende: I - o Ministério do Esporte; II - o Conselho Nacional do Esporte - CNE; e III - o Sistema Nacional do Desporto e os sistemas de desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, organizados de forma autônoma e em regime de colaboração, integrados por vínculos de natureza técnica específicos de cada modalidade desportiva. § 1º O Sistema Brasileiro do Desporto tem por objetivo garantir a prática desportiva regular e melhorar o seu padrão de qualidade. § 2º Poderão ser incluídas no Sistema Brasileiro de Desporto as pessoas jurídicas que desenvolvam práticas não formais, promovam a cultura e as ciências do desporto e formem e aprimorem especialistas, consultado o Conselho Nacional do Esporte (BRASIL, 2013).

A Seção II, que se refere ao Sistema Nacional do Desporto:

Art. 6º O Sistema Nacional do Desporto tem por finalidade promover e aprimorar as práticas desportivas de rendimento, e é composto pelas entidades indicadas no parágrafo único do art. 13 da Lei nº 9.615, de 1998. Parágrafo único. O Comitê Olímpico Brasileiro - COB, o Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB, a Confederação Brasileira de Clubes - CBC e as entidades nacionais de administração do desporto a eles filiadas ou vinculadas constituem subsistema específico do Sistema Nacional do Desporto (BRASIL, 2013).

E a Seção III que se refere aos Sistemas de Desporto dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios:

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Art. 7º Os sistemas de desporto constituídos pelos Estados e pelo Distrito Federal observarão o disposto na Lei nº 9.615, de 1998, e neste Decreto. Parágrafo único. A constituição de sistemas próprios de desporto pelos Municípios é facultativa e deve observar o disposto na Lei nº 9.615, de 1998, neste Decreto e, no que couber, na legislação estadual. Art. 8º A relação entre o Sistema Brasileiro do Desporto e os sistemas de desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios observará o princípio da descentralização, com organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos de cada ente federativo (BRASIL, 2013).

Como podemos constatar, esse aparato legal novamente repassa aos

estados e municípios a tarefa de constituir sistemas de esporte, conferindo

autonomia a essas instâncias do poder público à constituição de seus próprios

sistemas. A inovação recai no fato de instituir um sistema próprio para as práticas

esportivas de rendimento, o Sistema Nacional do Desporto e ao afirmar que frente

aos “sistemas de desporto dos estados, DF e municípios” o Sistema Nacional do

Desporto deve basear-se frente ao princípio da descentralização. Ou seja, por meio

do decreto teríamos a instituição de dois Sistemas para o esporte em nosso país, um

voltado para esporte como um todo (Sistema Brasileiro do Desporto) e outro para o

esporte de rendimento (Sistema Nacional do Desporto). Porém, esse aparato legal

não estabelece os meios para a instituição desses sistemas nos entes federados de

modo a garantir o princípio da descentralização, o que nos leva mais uma vez a

considerar que, em vez de se efetivar o princípio da descentralização, é a

desconcentração que de fato se sobrepõe, com certa desorganização dos direitos e

deveres de cada ente federado frente a oferta do esporte e lazer.

Em relação à oferta do esporte e lazer, portanto, como se configuram os

municípios frente à obrigatoriedade dessa oferta considerando as características

peculiares e as condições estruturais de suas gestões e administrações públicas?

Para iniciar a discussão a respeito da gestão pública municipal do esporte e lazer, no

próximo tópico iremos pautar a conceituação dos termos gestão pública e

administração pública para, em seguida, dialogar com estudos que discutam a

gestão pública municipal do esporte e lazer.

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3.2 A gestão pública municipal do esporte e lazer

Frente o objetivo de contextualizar a gestão pública do esporte e lazer no

âmbito municipal, após discorrermos acerca do desenvolvimento dos municípios e

dos ordenamentos legais necessários ao desenvolvimento da gestão pública

municipal, visualizamos a necessidade de nos pautarmos em projetos, estudos e

pesquisas já realizados de modo a entendermos o desenvolvimento da gestão

pública municipal do esporte e lazer em diferentes contextos e a partir de diferentes

interlocutores.

Projetos, estudos e pesquisas já desenvolvidos nos ajudam a entender o

espaço de atuação dos agentes para então realizarmos uma discussão voltada à

gestão pública municipal do esporte e lazer e à formação dos agentes que trabalham

nesse âmbito. Mas, efetivamente, o que vem a ser “gestão pública”? E qual a sua

diferenciação em relação à “administração pública”?

Oliveira (2012, p. 32) ao discorrer a respeito dos conceitos afirma:

A administração pública é uma estrutura do Estado, não dos governos. Ela cumpre um importante papel para a sociedade, ao servir de base para a realização dos programas dos governos eleitos. Os mandatos se sucedem, em função do processo democrático de disputa pelo poder, mas a estrutura administrativa é permanente.

A partir das considerações do autor, tem-se que a administração pública é

permanente, diferente da gestão pública que tem caráter transitório. Contudo, essa

consideração não é facilmente percebida, uma vez que se manifesta no plano

subjetivo, como afirmam Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p.11) ao se referirem

às estruturas administrativas: “Para a maioria dos estudiosos, as estruturas

administrativas representam, mais do que tudo, o traço característico dos Estados

modernos e contemporâneos, manifestando, quase fisicamente, sua presença no

plano subjetivo”.

Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998) ainda afirmam que a administração

pública pode ser identificada “como uma função, ou como uma atividade-fim

(condicionada a um objetivo), e como organização, isto é, como uma atividade

voltada para assegurar a distribuição e a coordenação do trabalho dentro de um

escopo coletivo” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p.11). Segundo os

autores, a administração pública, enquanto uma das estruturas específicas do

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Estado, surgiu no momento em que as exigências pela distribuição e coordenação

do trabalho administrativo assumiu importância e dimensões crescentes no decorrer

do desenvolvimento dos ordenamentos estatais modernos e contemporâneos.

Assim, o termo administração pública passou a indicar o complexo de estruturas que

se encontram, nas palavras dos autores, “em posições de subordinação diferentes,

em relação às estruturas políticas e de Governo, representam uma realidade

organizativa distinta daquelas” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p.11).

Os autores Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998) não utilizam efetivamente o

termo gestão pública, mas, ao mencionarem “estruturas políticas e de Governo”,

entendemos que se referem à gestão pública. Podemos considerar, dessa forma,

que a conceituação dos autores vai ao encontro da conceituação de Oliveira (2012),

uma vez que ambos diferem os termos administração pública de gestão pública,

sendo o primeiro relacionado a uma estrutura organizativa permanente do Estado e,

o segundo, a estruturas políticas e de governo de caráter transitório.

Ao diferenciarmos administração pública de gestão pública, consideramos

que o foco do nosso estudo volta-se à gestão pública e aos agentes integrados a

ela, e dentre eles, a figura dos gestores e dos agentes técnicos. Ao nos pautarmos

na figura desses agentes, principalmente no papel dos gestores públicos,

entendemos que o termo gestão, como afirmam Bastos e Mazzei (2013, p. 117),

refere-se as ações desempenhadas por estes agentes, ou seja, “ações de

gerenciamento responsáveis por planejar, coordenar, e avaliar ações, programas e

políticas cuja missão seja de interesse público ou afete este”.

Planejamento, organização, direção e controle são pilares estabelecidos no

viés da administração mas que podem ser empregados no desenvolvimento da

gestão pública municipal para o bom desempenho das ações de gerenciamento,

como apontado por Bastos e Mazzei (2013). Assim, entende-se que a tarefa da

gestão pública municipal é interpretar os objetivos propostos nas leis, planos e

decretos, e transformá-los em ações a partir de planejamentos que levem a

organização, direção e controle das ações.

Ao considerarmos tais pilares, passamos a nos questionar se na gestão

pública do esporte e lazer, inserida na realidade dos municípios brasileiros, podemos

identificar tais etapas. Mediante esse questionamento, realizamos uma busca por

estudos que discutissem a gestão pública municipal do esporte e lazer para, assim,

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entendermos o seu desenvolvimento em diferentes contextos, analisada ou

apresentada por diferentes interlocutores.

A busca por projetos, pesquisas e estudos a respeito da temática “gestão

pública municipal do esporte e lazer” foi realizada em dois momentos. No primeiro

momento realizamos uma busca ampla por meio de levantamento sistemático de

artigos publicados em periódicos, utilizando os qualificadores “gestão pública”;

“administração pública”; “gestão pública em esporte e lazer”. Essa busca foi

realizada no mês de Janeiro de 2014, em bases de dados virtuais, quais sejam:

WEB OF SCIENCE (ISI) (http://scientific.thomsonreuters.com); SCOPUS

(http://www.scopus.com); REDALYC (http://redalyc.uaemex.mx/); LATINDEX

(http://www.latindex.unam.mx); LILACS (http://lilacs.bvsalud.org/); SCIELO

(http://www.scielo.org/php/index.php); SUMARIOS.ORG (http://sumarios.org);

GOOGLE ACADÊMICO (http://scholar.google.com.br/); PORTAL DA CAPES

(http://www.periodicos.capes.gov.br/).

A partir dessa busca, realizamos a seleção dos artigos de acordo com o título

e o resumo, verificando se o assunto tratado estava diretamente ligado à gestão

pública. Chegamos, então, ao total de 44 artigos que foram divididos em 6

categorias, sendo uma delas a gestão do esporte e lazer. Dessa categoria, foram

encontrados 9 artigos e, a partir da leitura desses, selecionamos quatro que

tratavam centralmente da discussão da gestão pública do esporte e lazer.

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Quadro 1 – Estudos sobre gestão pública do esporte e lazer

AUTORES (ANO)

TÍTULO OBJETIVO AMOSTRA PRINCIPAIS RESULTADOS

Galindo (2005)

“Esporte e lazer municipal: reflexões sobre as bases do planejamento e gestão pública”

Apresentar os elementos fundamentais que estão envolvidos nas bases do planejamento e gestão pública do esporte e lazer dentro das cidades, com o propósito especial de servir de subsídio para tomadas de decisões por parte dos gestores municipais envolvidos com o planejamento e desenvolvimento urbano, em especial no Estado do Amapá.

Reflexões teóricas Os principais pontos de discussão foram: 1) a necessidade de um alinhamento terminológico referente a alguns termos críticos, como Estado, sociedade, política, administração pública e governo; 2) os fundamentos de uma gestão pública equilibrada do esporte/lazer na cidade, usando como referência as manifestações educacional, participativa e de rendimento do esporte e 3) o alinhamento necessário entre governo e sociedade civil para elaboração/implementação de políticas públicas de esporte/lazer nas cidades, a partir das evidências relacionadas com a demanda local. Segundo os autores, destacou-se a evidente necessidade de se tratar o esporte/lazer na cidade como um dos fatores críticos básicos, ao se pensar em planejamento e desenvolvimento urbano/social, na medida em que, a cidade incorpora em si a função de também possibilitar uma qualidade de vida condizente aos seus cidadãos.

Amaral, Kikuchi (2011)

Política pública de lazer em Suzano/SP: a concepção dos Gestores

Identificar a concepção de lazer dos gestores da Cidade de Suzano

Analise documental, da Lei Orgânica do município de Suzano e o Plano Diretor Participativo Municipal. Entrevista com três

De acordo com as autoras, os gestores analisados materializavam os projetos de acordo com a sua concepção de lazer, dentro da política urbana da cidade. Embora houvessem canais de participação,

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gestores de Suzano como o Orçamento Participativo, não havia evidências que o lazer era entendido como direito social que promovesse uma educação emancipatória e contribuísse para a cidadania ativa. Constatou-se a contradição nas entrevistas e nos documentos, pois os gestores conceituaram o lazer como neo-funcionalista e os documentos como um direito social. Os mecanismos de participação da população pareceu condizer à ideia de uma política híbrida, participativa, democrática.

Rocha, Bastos (2011)

Gestão do Esporte: definindo a área

Contextualizar a área da gestão do esporte a partir de três eixos: 1) discutir o atual estágio acadêmico da gestão esportiva a partir do desenvolvimento de cursos de pós-graduação, das associações profissionais e das revistas científicas da área; 2) definir a gestão do esporte e termos relacionados; 3) apresentar as subáreas e as principais linhas de pesquisa da área.

Reflexões teóricas Os autores afirmam que os conceitos discutidos ajudam a entender a complexidade e as necessidades da área. Como a gestão do esporte é entendida como aquela que compreende tanto produções quanto “marketing” de produtos oferecidos por organizações esportivas, entende-se que os programas de formação de gestores deveriam se preocupar em preparar os profissionais para gerenciar organizações esportivas. Esses programas deveriam contemplar pelo menos sete subáreas, quais sejam: gestão e liderança no esporte, “marketing” esportivo, aspectos legais do esporte, ética na gestão do esporte, finanças do esporte, comunicação no esporte e aspectos socioculturais do esporte. Entende-se que o fato do país sediar megaeventos esportivos possa fomentar o desenvolvimento da

(continuação)

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gestão esportiva com área de intervenção profissional e área acadêmica. Assim, os autores afirmam que esperam que o potencial dos megaeventos esportivos possa se converter em suporte de desenvolvimento da área no país.

Menezes, Oliveira, Souza (2012)

Gestão desportiva e política pública na Região Metropolitana de Recife

Discutir sobre a gestão de esporte desenvolvida na Região Metropolitana de Recife por meio da análise do discurso de gestores de 14 cidades dessa região, focando as percepções socioculturais destes que influenciam as práticas desenvolvidas em torno dessas políticas.

Gestores de 14 municípios da Região Metropolitana de Recife

A partir das análises constataram que não é possível afirmar com rigor a existência de políticas públicas esportivas nas 14 cidades pesquisadas, pois as ações estavam circunscritas ao desenvolvimento de torneios, campeonatos, escolinhas de futebol. Por serem atendimentos mínimos e focais, sinalizou-se uma desresponsabilização ou baixa prioridade dessas políticas por parte do poder local. Os autores afirmam ainda que as entrevistas apontaram a existência de muitas dificuldades tendo em vista a falta de empenho do chefe do Executivo local para alocar recursos suficientes, o que acarreta a realização de intervenções focais. Concluem que todos esses fatores contribuíam para que a política desportiva permanecesse em segundo plano.

Fonte: A autora

(conclusão)

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Além da busca por esses artigos, realizamos posteriormente o levantamento

bibliográfico de projetos e pesquisas em bases de dados virtuais, como o Google

Acadêmico14 e o Repositório Institucional Vitor Marinho (Repositório da Rede Cedes)15.

Essa nova busca foi realizada pois verificamos que alguns dos artigos encontrados na

primeira busca referiam-se à apresentação ou discussão de resultados de projetos de

pesquisas ou estudos amplos. A busca nos apresentou projetos de pesquisa que

visavam discutir a gestão pública do esporte e lazer, seja em um município específico

ou em vários municípios de uma determinada região do Brasil. A maioria desses

projetos contou com o apoio/financiamento do Ministério do Esporte e Rede Cedes a

partir de editais de fomento à pesquisas.

No site da Rede Cedes16 há cinco listas de pesquisas desenvolvidas de 2003 a

2010, de acordo com a região do país em que as pesquisas foram propostas e

realizadas. Ao acessarmos essas listas verificamos que a Região Norte conta com 3

(três) pesquisas financiadas, a Região do Nordeste com 27 (vinte e sete), a Região

Sudeste 55 (cinquenta e cinco), a Região Sul 41 (quarenta e uma), e a Região Centro-

Oeste com 13 (treze) pesquisas financiadas. Do total de pesquisas, verificamos que 40

voltam-se à temática “gestão pública municipal do esporte e lazer”.

Ao buscarmos esses projetos de pesquisas por meio do levantamento

bibliográfico nas bases de dados virtuais chegamos a um total de 9 projetos que

discutem centralmente a gestão pública do esporte e lazer. No Quadro a seguir

apresentamos tais projetos:

14

https://scholar.google.com.br/ 15

Repositório que disponibiliza a produção oriunda de pesquisas apoiadas pela Rede Cedes, disponível em: http://vitormarinho.ufsc.br/xmlui/ 16

http://www2.esporte.gov.br/sndel/esporteLazer/cedes/pesquisasAndamento.jsp

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Quadro 2 – Projetos de Pesquisa sobre gestão pública do esporte e lazer

TÍTULO COORDENADOR PRODUÇÕES DECORRENTES

OBJETIVO CARACTERISTICAS PRINCIPAIS RESULTADOS

“Projetos sociais esportivos e a produção de uma política pública de esporte”

Meri Rosane Santos da Silva (FURG)

Hecktheuer et al. (2009)

Analisar projetos sociais desenvolvidos na cidade do Rio Grande (RS) no que se refere a implicação desses projetos na constituição da política municipal de esporte da cidade

O livro desenvolvido a partir do projeto de pesquisa reúne as produções desenvolvidas pelos pesquisadores da Rede Cedes Núcleo Rio Grande, a partir de diferentes temas e olhares sobre a cidade do Rio Grande, sendo eles: 1. Políticas Públicas de Lazer em Rio Grande; 2.Projeto Segundo Tempo: consolidando uma política pública e de esporte; 3. Por uma Política de Educação Física para a Rede de Ensino Pública da Cidade do Rio Grande; 4. Levantamento das Políticas Públicas de Lazer para a Terceira Idade no Município de Rio Grande-RS 1997-2007.

De modo geral, constatou-se que o atendimento da população na cidade do Rio Grande frente ao direito ao esporte e lazer, no período em que a pesquisa foi realizada, requeria um maior investimento do poder público nos equipamentos e infraestrutura (transporte, segurança e limpeza dos equipamentos), no quadro de profissionais, e em projetos e ações para atender todos os setores da população, como a terceira idade.

“O esporte e o lazer no município de Sinop – MT: um estudo de suas manifestações na cidade e no campo”

José Tarcísio Grunennvaldt (UFMT)

Grunennvaldt et al. (2014)

Realizar um levantamento das diferentes manifestações de esporte e lazer desenvolvidas no município, de modo a contemplar a estrutura física existente, bem como as representações sociais da população em relação ao esporte e lazer

Projeto desenvolvido de 2010 a 2011. Foco do projeto centrou-se na análise das falas dos moradores e não nos agentes públicos. Primeiramente foi realizado um levantamento das estruturas físicas de esporte e lazer existentes no município para depois, nestes locais, aplicar questionários junto aos moradores para constatarem as ações e projetos de esporte e

Dentre às práticas culturais de lazer analisadas a partir das falas dos moradores, destacou-se: o Baile do Chopp; o gatebal; o final de semana das mulheres; a pescaria; o futebol praticado no meio universitário e com homens acima de 40 anos(quarentões) e; a dança em um centro

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lazer desenvolvidos no município.

de tradição e, em uma associação de idosos. Tentou-se demonstrar nos casos retratados, que as reservas de experiência e de memória que cada sujeito ou grupo social carregava consigo para a situação da fronteira são transformadas em vista das necessidades de um contexto novo. Verificou-se que as práticas identificadas dependiam de parcos recursos, devido à grande distância entre a região de fronteira e o centro.

“PROJETO ORLA: análise dos espaços e equipamentos de esporte e lazer da praia de Atalaia em Aracaju/SE e de suas formas de uso/ocupação”

Diego de Souza Mendes (UFS)

Mendes et al. (2010) Mezzaroba et al. (2012)

Analisar a infraestrutura destinada a oferta do esporte e lazer levando em consideração a população que usufrui dessas estruturas

Projeto desenvolvido de 2009 a 2010. Foco do projeto centrou-se na análise das falas dos moradores e não nos agentes públicos.

Dentre as conclusões do estudo destaca-se a que se refere à necessidade de urgência na implementação de políticas públicas voltadas não só à manutenção física do espaço e equipamentos da Orla, mas de incentivo à participação e gestão popular a partir do acesso irrestrito aos bens e práticas no local.

“Esporte, lazer e políticas públicas na região dos

Profissionais da Universidade Veiga de Almeida

Motta e Terra (2011)

Realizar um diagnóstico das políticas públicas implementadas no campo

Projeto desenvolvido de 2010 a 2011.

Necessidade de maiores investimentos do poder público em

(continuação)

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Lagos” (UVA – RJ) do esporte e do lazer pelas administrações em nível municipal de municípios da Região dos Lagos (RJ)

ações, programas e projetos que garanta a oferta do esporte do esporte e lazer a toda população. Os autores do livro também destacaram a baixa quantidade de ações continuadas, em virtude do quadro levantado que contemplava apenas ações ou eventos pontuais, a ausência de convênios para captação de recursos no âmbito estadual ou federal e a necessidade de debate e discussões da temática frente à importância da oferta do lazer e do esporte como direitos sociais.

“Formação e desenvolvimento de pessoal para atuação em políticas públicas de lazer – diagnóstico e prognóstico – os casos de Piracicaba e Campinas”

Nelson Carvalho Marcellino

Marcellino et al. (2007)

Verificar os componentes da política de formação e de desenvolvimento de quadros frente às política de esporte e lazer dos municípios de Campinas e Piracicaba (SP), a importância dessa política de formação frente às políticas de esporte e lazer nos municípios, bem como apontar alternativas para melhor adequação das políticas dentro do quadro da política geral

A partir do entendimento da área do lazer do ponto de vista conceitual e como campo de atuação, Marcellino et al. (2007) afirmam que o campo do lazer deve apresentar possibilidades para além do descanso e do divertimento, de modo que inclua também o desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos. Frente a esse

(continuação)

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de esporte e lazer nos municípios pesquisados.

entendimento, os autores consideram a necessidade de investimentos na área de formação e desenvolvimento de quadros para atuação no campo do lazer segundo a perspectiva da animação sociocultural.

“A realidade pública do esporte nos municípios da Região Médio Rio Grande do estado de Minas Gerais”

Pesquisadores da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP/UEMG)

Queiroz et al. (2011)

Levantar e discutir dados relativos às instalações e equipamentos esportivos existentes e em construção; às articulações institucionais envolvidas no desenvolvimento de políticas públicas de esporte; à legislação esportiva, convênios e parcerias; aos projetos e programas desenvolvidos e eventos e modalidades esportivas, realizados em 17 municípios do estado de Minas Gerais.

Os dados, discussões e análises do projeto de pesquisa foram publicados no livro Queiroz et al. (2011) onde buscou-se traçar um panorama do desenvolvimento das políticas públicas de esporte e lazer e a abrangência dos projetos e ações esportivas a partir da aplicação de questionários com gestores dos 17 municípios que compõem a Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande (AMEG).

Os autores constataram uma participação mínima da comunidade na formulação e implementação de políticas para o esporte e lazer, pouca oferta de atividades, baixo número de profissionais disponíveis para a gestão do esporte e lazer, e de modo geral, apontam a necessidade de mais investimentos e indicadores de parâmetros por parte do governo federal para que, de fato, a democratização do esporte pudesse ser desenvolvida a toda população. Em relação ao quadro de agentes públicos atuantes nos municípios, as autores afirmam que, dos 138 funcionários ligados aos departamentos ou secretarias, 60 eram

(continuação)

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graduados, 34 desempenhavam serviços distintos, 25 eram acadêmicos/estagiários, 12 possuíam pós-graduação, e 7 eram técnicos. Os autores ainda destacaram a importância do papel do gestor público em um cargo de confiança e por esse motivo a necessidade de se abordar a preparação técnica destes agentes.

“Diagnóstico das Manifestações de Esporte e Lazer do Campo e da Cidade da Região Central do RS”

Elizara Carolina Marin e João Francisco Magno Ribas (UFSM)

Marin et al. (2009) Realizar um panorama das manifestações dos municípios da Região Central do Rio Grande do Sul, considerando a caracterização dessas manifestações, e caracterização do público que participava dessas manifestações, bem como dos agentes públicos levados a tais manifestações

A partir dos dados coletados os pesquisadores criaram uma base de dados on-line de livre acesso. Essa base de dados é intitulada “Mapa das Manifestações de Esporte e Lazer da Região Central do Rio Grande do Sul”

17 e apresenta

informações relacionadas aos 19 municípios no que diz respeito aos meios de contato e histórico dessas cidades, lista de manifestações culturais, eventos, espaços culturais e instituições organizadores de ações de esporte e lazer desenvolvidas nos municípios.

Verificou-se a inexistência de setores especializados na organização das manifestações de esporte e lazer, sendo as prefeituras as principais gestoras dessas manifestações, bem como a evidencia do inexpressivo número de profissionais de Educação Física responsáveis pelas ações de esporte e lazer nos municípios pesquisados.

“Um olhar sobre as políticas

Pesquisadores da UFMG

Aparecida, Rodrigues e

Analisar as trajetórias das políticas de esporte e

A análise partiu da fala dos agentes que vivenciaram

O estudo discutiu o contexto histórico do

17

Base de dados intitulada “Mapa das Manifestações de Esporte e Lazer da Região Central do Rio Grande do Sul” disponível em: http://200.18.45.2/web/gpelf/index.php. Acesso em: 21/05/2015.

(continuação)

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públicas de esporte em Minas Gerais: 1927-2006”

Isayama (2013) lazer em Minas Gerais entre 1927 e 2006, buscando compreender como e por que o estado de Minas Gerais passou a se ocupar do esporte, quais projetos foram criados e desenvolvidos, e quais diferentes relações políticas foram instituídas no processo de estruturação das políticas públicas de esporte no estado.

acontecimentos e conjunturas, nos diferentes momentos estudados, e que exerceram vários cargos da administração do esporte no estado de Minas, permitiu a organização de um banco de dados denso da memória esportiva de Minas Gerais.

esporte no estado de Minas Gerais no decorrer de quase oito décadas, e de modo geral os cinco capítulos arrematam a tese central defendida de que o esporte foi historicamente usado para diferentes fins no estado.

“Gestores e agentes sociais de esporte e lazer na baixada maranhense: um estudo dos recursos humanos para o Sistema Nacional de Esporte e Lazer”

Silvana Martins de Araújo (UFMA)

Araújo et al. (2007; 2011)

Investigar o perfil dos sujeitos responsáveis pela gestão das políticas públicas de esporte e lazer em dez municípios da baixada maranhense

Este projeto de pesquisa focou de a formação e o desenvolvimento de quadros para atuação, entendido como um dos componentes das políticas públicas de esporte e lazer. Os dados foram obtidos por meio de questionários aplicados aos agentes públicos do esporte e lazer e entrevistas realizadas junto aos gestores públicos municipais.

A pesquisa revelou inúmeros aspectos indicando a necessidade de formulação de políticas públicas de esporte e lazer na região caracterizada com alto grau de vulnerabilidade social. Aspectos esses que apontavam o nível de escolaridade dos agentes e gestores, os segmentos sociais, as atividades relacionadas ao esporte e lazer, e a relação de trabalho com a entidade. Os dados levantados retratam, no perfil dos agentes e gestores, a fragilidade e inconsistências das políticas públicas de esporte e lazer, uma

(continuação)

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vez que, como afirmam, a qualidade da gestão requer formação de quadros de pessoal preparados para lidar com a gestão pública municipal do esporte e lazer a partir dos princípios de valorização dos direitos sociais e acessibilidade universal das ações no campo em questão.

Fonte: A autora

(conclusão))

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A partir dos levantamentos realizados constatamos que a gestão pública do

esporte e lazer é uma temática discutida em diferentes contextos por diferentes

interlocutores. Mesmo mediante essa diversidade, os pontos de discussão aproximam-

se, demonstrando que há características e condições estruturais recorrentes nos

diversos contextos analisados e que portanto, podemos falar de um quadro geral da

gestão pública do esporte e lazer em nosso país.

Na maioria dos estudos e projetos de pesquisa as análises e discussões partiram

de dados coletados por meio da aplicação de questionários e entrevistas junto aos

agentes públicos. Apenas dois projetos de pesquisas, o segundo e o terceiro projeto

apresentados no quadro 2, destoam dessa padronização, pois foram realizados levando

em consideração a opinião da população que participa das ações e projetos ofertados

pelo poder público. No projeto de pesquisa coordenado por Grunennvaldt foi realizado

um levantamento das manifestações e estruturas físicas de esporte e lazer, bem como

as representações sociais em relação a essas manifestações a partir da aplicação de

questionários junto à população do município de Sinop (MS) (GRUNENNVALDT et al.,

2014). Já no projeto de pesquisa coordenado por Mendes foram analisadas as

condições estruturais e as formas de ocupação da infraestrutura destinada à oferta do

esporte e lazer em uma praia do município de Aracaju (MENDES et al., 2010).

Além de seguirem basicamente os mesmos procedimentos metodológicos, os

estudos e projetos assemelham-se nos pontos analisados e resultados encontrados. As

dificuldades enfrentadas pela gestão pública municipal é um desses pontos. Os estudos

e pesquisas, de modo geral, demonstram como dificuldade enfrentada na gestão

pública a falta ou insuficiência de recursos e investimentos voltados ao esporte e lazer,

o que demonstra a necessidade de mais investimentos para garantir a oferta desses

direitos sociais.

A necessidade de investimentos é requerida devido, principalmente, à limitação

financeira dos municípios. A maioria dos municípios brasileiros é de pequeno porte

(IBGE, 2010) e, como muitas vezes o orçamento da prefeitura é limitado, o esporte e o

lazer acabam ficando em segundo plano, pois não são entendidos como áreas

prioritárias. Esse contexto acaba por refletir a necessidade de maiores investimentos e

recursos na gestão pública municipal do esporte e lazer. Uma alternativa para essa

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limitação orçamentária é a captação de recursos no âmbito estadual ou federal por

meio de convênios ou leis de incentivo. Porém, verifica-se que essa é uma alternativa

pouco utilizada na gestão pública municipal, como destacado em Motta e Terra (2011)

quando afirmam a ausência de convênios para captação de recursos nos municípios

analisados na Região dos Lagos (RJ).

Outro ponto de discussão presente na maioria dos estudos e pesquisas em

relação às dificuldades enfrentadas na gestão pública municipal é a baixa quantidade

de ações continuadas, pois o que mais se verifica são ações ou eventos pontuais,

esporádicos. Em relação a esse ponto, Araújo et al. (2007) afirmam a necessidade de

superação da fragmentação das ações de esporte e lazer, fragmentação essa

visualizada na oferta de ações ou eventos pontuais sem uma continuidade que acaba

por limitar a participação popular. Menezes, Oliveira e Souza (2012) também se

depararam com esse problema. Afirmam que nos municípios analisados da Região

Metropolitana de Recife a oferta do esporte e lazer pelo poder público encontrava-se

circunscrita a eventos esportivos esporádicos (MENEZES; OLIVEIRA; SOUZA, 2012).

A necessidade de debates e discussões que levem ao entendimento do esporte

e lazer como direitos sociais e dever do Estado é outro ponto de discussão comum nos

estudos e pesquisas. A população não entende que o esporte e o lazer são direitos que

devem ser garantidos, assim como o direito à saúde, por exemplo. Por não entender

como um direito social que deve ser ofertado pelo poder público e que, por esse motivo,

pode ser requerido quando não efetivado, verifica-se a ausência ou limitação da

participação popular nos processos políticos e na gestão pública. O projeto de pesquisa

coordenado por Mendes constatou essa baixa participação e afirmou a necessidade de

incentivo à participação e gestão popular na região pesquisada (MENDES; RIBEIRO;

MEZZAROBA, 2012). Semelhante constatação é apresentada por Queiroz et al. (2011)

que verificaram participação mínima da comunidade na formulação e implementação de

políticas públicas de esporte e lazer nos municípios da Microrregião do Médio Rio

Grande de Minas Gerais (AMEG). Assim como constatado por Menezes, Oliveira e

Souza (2012) que afirmam que nos municípios analisados não existiam meios

específicos de debates e discussões acerca das diretrizes para as políticas públicas de

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esporte, sendo estas deliberadas de modo centralizado, afastando a participação do

cidadão comum.

Além da baixa participação popular, o baixo número de agentes públicos é outro

ponto de discussão comum entre os estudos e pesquisas que discutem as dificuldades

e limitações da gestão pública municipal do esporte e lazer. Marin et al. (2009) afirmam

que se depararam com um inexpressivo número de profissionais responsáveis pela

oferta do esporte e lazer nos municípios da Região Central do Rio Grande do Sul.

Hecktheuer et al. (2009) também destacam a necessidade de maior investimento no

quadro de profissionais para atender a todos os setores da população de Rio Grande

(RS).

Mesmo afirmando o baixo número de agentes públicos na gestão pública

municipal do esporte e lazer, os estudos e pesquisas também ressaltam a importância

desses profissionais nos municípios. A qualidade da gestão depende, além dos

aspectos materiais e estruturais, dos agentes que fazem acontecer a política pública.

Desse modo, Araújo et al. (2007) afirmam que a qualidade da gestão requer formação

de quadros de pessoal preparado para lidar com a gestão pública municipal do esporte

e lazer a partir dos princípios de valorização dos direitos sociais e acessibilidade

universal das ações no campo em questão. Assim como apresentado por Araújo et al.

(2007), a formação dos agentes públicos é outro ponto comum de discussão nos

estudos e pesquisas levantados. Por entender que os agentes públicos desempenham

um papel importante na sociedade, principalmente os gestores por ocuparem um cargo

representativo e de confiança, a formação desses agentes é um aspecto presente nas

discussões. Marcellino et al. (2007, p.23) afirmam que:

A falta de formação profissional e competência técnica dos secretários, gerentes, coordenadores, entre outras funções que recebem autonomia para o planejamento das atividades de esportes e lazer, tanto no setor público governamental quanto no não governamental e corporativo, é outro fator limitador do desenvolvimento de uma política capaz de retratar os princípios políticos, pedagógicos e democráticos.

A importância do papel do gestor público na gestão municipal também é um dos

pontos evidenciados por Queiroz et al. (2011). Nas palavras dos autores:

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Seria viável que os órgãos competentes disponibilizassem capacitações específicas para os gestores, considerando-se que preparar/capacitar estes profissionais é uma alternativa de melhoria e possibilidade de atingir a efetividade no desenvolvimento de políticas estabelecidas e

desejadas (QUEIROZ et al., 2011, p. 43).

Por este ser um cargo de confiança, os autores consideram como relevante e

necessária a abordagem da preparação/capacitação dos gestores atuantes, uma vez

que entendem que o gestor deve ter conhecimentos específicos e diversificados para

desempenharem suas funções (QUEIROZ et al., 2011). Os estudos e pesquisas

discutem, de modo geral, que assim como o gestor, os demais agentes públicos

envolvidos com a oferta do esporte e lazer nos municípios devem constantemente

buscar aperfeiçoamento e atualização profissional.

Enfim, ao longo desse tópico, caracterizamos a gestão pública municipal do

esporte e lazer a partir de diferentes contextos e interlocutores, apontando

principalmente as dificuldades enfrentadas pelos agentes públicos municipais do

esporte e lazer. Essas características e condições estruturais, portanto, ajudam-nos a

entender o espaço social de atuação dos agentes públicos. A partir desse

entendimento, podemos refletir acerca da importância da formação no contexto de

atuação dos agentes na gestão pública municipal do esporte e lazer.

Para chegar a essa discussão, partimos da contextualização social do fenômeno,

realizada desde o início desse terceiro capítulo quando discorremos a respeito da

constituição dos municípios brasileiros e as peculiaridades dos processos que

moldaram a formação dos municípios em nosso país e as características e condições

estruturais que se fazem presentes e influenciam até nos dias de hoje o

desenvolvimento da gestão pública municipal.

Verificamos, a partir do referencial teórico e bibliográfico, que a discussão acerca

dos municípios e da gestão pública do esporte e lazer desenvolvida nesse locus de

pesquisa apresenta-se como um problema social relevante, porém, que requer mais

discussões. Dentre as características e condições estruturais encontradas no

desenvolvimento da gestão pública municipal do esporte e lazer, evidenciadas pelo

referencial, destaca-se a importância de se discutir e investir na formação dos agentes

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públicos, como bem pontuado por Marcellino et al. (2007, p. 23): “a falta de formação

[...] é um fator limitador do desenvolvimento de uma política”.

Sendo a formação dos agentes uma das dificuldades encontradas no

desenvolvimento da gestão pública municipal do esporte e lazer, no próximo capítulo

iremos nos pautar nas características e peculiaridades da gestão pública municipal,

aqui referenciadas, para analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer

atuantes nos municípios do estado do Paraná a partir dos dados empíricos e diálogo

com o referencial teórico.

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4 FORMAÇÃO EM GESTÃO DO ESPORTE E LAZER

No presente capítulo, a formação de agentes públicos que atuam na gestão do

esporte e lazer é discutida no primeiro tópico a partir de características, peculiaridades,

especificidades e competências advindas dos referenciais teóricos. Tais reflexões nos

permitem pensar acerca da formação dos agentes públicos frente às funções que

desempenham nas secretarias, nos departamentos ou órgãos públicos responsáveis

pela oferta do esporte e lazer em seus respectivos municípios. A partir dessas

reflexões, o segundo tópico desse capítulo parte do objetivo de verificar a formação dos

agentes públicos do esporte e lazer nos municípios pesquisados e apresenta as

análises oriundas dessa verificação.

4.1 Formação de agentes públicos

Entendemos que se faz necessário reconhecer e valorizar a atuação dos agentes

públicos, pois são estes os principais responsáveis pela oferta do esporte e lazer à

população, principalmente em relação à realidade municipal, levando-se em

consideração que, inúmeras características e condições estruturais, interferem na

gestão pública municipal. No tópico anterior, apontamos algumas características e

condições estruturais, sinalizadas a partir do referencial teórico, dentre elas, os baixos

orçamentos e investimentos na área do esporte e lazer, a insuficiência ou precariedade

dos recursos físicos e materiais, e outros fatores que podem impedir ou dificultar a ação

dos agentes públicos (AMARAL, KIKUCHI, 2011; ARAÚJO et al., 2007; GALINDO,

2005; GRUNENNVALDT et al., 2014; HECKTHEUER et al., 2009; MARCELLINO et al.,

2007; MARIN et al., 2009; MENDES et al., 2010; MENEZES, OLIVEIRA, SOUZA, 2012;

MOTTA, TERRA, 2011; QUEIROZ et al., 2011).

Nesse contexto, a formação dos agentes públicos do esporte e lazer é de suma

importância. Além dos referenciais já discutidos anteriormente, autores como Werneck

(1998) e Marcellino (2001) corroboram com essa afirmação e consideram que a

formação deve ser pautada em uma fundamentação teórico-prática que integre

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diferentes saberes, experiências e conhecimentos. A formação pautada em uma

fundamentação teórico-prática, segundo os autores, pode levar os agentes a

assumirem uma postura reflexiva frente aos processos e contradições do meio em que

estão inseridos.

Quando falamos em formação, a primeira questão comumente levantada é a

escolaridade. O fato de possuir um certificado ou diploma que comprove a

escolarização é reconhecido socialmente como um aspecto qualificador do agente. Em

relação a essa naturalização de hierarquias mediante diplomas, Bourdieu (2007b, p.

307) discorre que:

A correspondência entre saberes hierarquizados (de maneira mais ou menos arbitrária, segundo as áreas e as disciplinas) e os diplomas, por sua vez, hierarquizados faz com que a posse, por exemplo, do diploma escolar mais elevado garanta, supostamente, por implicação, a posse de todos os conhecimentos garantidos pelos títulos de nível inferior ou, ainda, faz com que dois indivíduos no exercício da mesma função e dotados das mesmas competências úteis, ou seja, diretamente necessárias para o exercício de suas funções, apesar de providos de diplomas diferentes, tenham rodas as oportunidades de estar separados por uma diferença de estatuto (e, e claro, de tratamento): tudo isso em nome da idéia segundo a qual a competência outorgada pelos diplomas mais elevados pode garantir, por si só, o acesso aos conhecimentos - as "bases" - que se encontram na origem de todos os saberes chamados práticos ou aplicados.

A constatação dessa naturalização de hierarquias mediante diplomas é um dos

pontos levantados por Bourdieu quando analisa os processos de escolarização, sendo

esta uma de suas maiores contribuições para a educação. Quando falamos de

escolarização ou sistema escolar, Bourdieu apresenta, em algumas de suas

publicações, reflexões relacionadas a esse tema (BOURDIEU, 1999; 2006; BOURDIEU;

PASSERON, 2008). Passaremos a apresentar a ideia central dessas reflexões.

A escola é vista como uma instituição que transmite conhecimentos de forma

democrática a todos os alunos. Bourdieu considera que, da necessidade de resolução

do problema de acesso à educação, emerge a proposição da escola pública garantir

educação pública e gratuita a todos os cidadãos. Desta forma, a escola seria uma

instituição neutra, baseada nos princípios de igualdade, oportunidades, meritocracia e

justiça social, que difundiria o conhecimento e selecionaria seus alunos a partir de

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critérios racionais. Bourdieu, entretanto, contrapõe essa lógica, pois ao invés desses

princípios visualiza outra interpretação da escola e da educação pelo viés da

reprodução e legitimação das desigualdades.

É provavelmente por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da “escola libertadora”, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ela é um dos fatores mais eficientes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural (BOURDIEU, 2007a, p. 41).

Podemos observar que Bourdieu refuta a ideia da escola como um meio de

garantir “justiça social” e igualdade de oportunidades a todos pelo viés da meritocracia,

quando percebe que o conhecimento não é transmitido igualmente para todos os

alunos como a escola faz parecer. Para ele, alunos de classes favorecidas trazem de

berço uma herança, o capital cultural, que os torna mais propensos a absorver a cultura

escolar.

A cultura consagrada e transmitida pela escola é socialmente reconhecida como

cultura legítima, universalmente válida. Essa cultura escolar, para Bourdieu, seria a

cultura imposta pelas classes dominantes como legítima. A essa dinâmica, Bourdieu

denominou de “arbitrário cultural dominante”, quando uma cultura se impõe à outra.

Sendo a cultura um elemento de dominação, as classes dominantes, além da

imposição, atribuem um valor incontestável a ela.

Bourdieu, transpondo essa ideia para dentro da escola, admite que esta

instituição, dissimuladamente, contribui para que a cultura, tida como legítima, seja

transmitida favorecendo alguns alunos em detrimento de outros. Os desfavorecidos são

aqueles que não tiveram contato ou acesso, a partir da família, a capitais culturais

objetivados na forma de livros e obras de arte, por exemplo, como também outras

formas simbólicas de capital cultural. Esses alunos não conseguem dominar os

mesmos códigos culturais que a escola valoriza. O aprendizado, para eles, pode se

tornar muito mais difícil. Em relação ao capital cultural transmitido pela família, Bourdieu

(2007a, p.41-42) afirma:

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[...] cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas do que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores

implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que define, sob os dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito.

Bourdieu entende que, assim, a escola marginaliza esses alunos, enquanto

privilegia os dotados de capital cultural. Por isso contrapõe o discurso de igualdade que

a escola prega. Um exemplo dessa dominação cultural nas escolas é a escolha das

matérias tidas como mais relevantes. Não é difícil perceber que nos currículos,

disciplinas como física, matemática e história são mais valorizadas do que disciplinas

como arte e educação física.

Uma vez reconhecida como legítima e portadora de um discurso neutro, a escola

exerce suas funções de reprodução e legitimação das desigualdades sociais, livre de

qualquer suspeita. Nessa lógica, as posições prestigiadas e elevadas – definidas em

termos de ramos de ensino, disciplinas, e estabelecimentos – no sistema de ensino

tendem a ser ocupadas por agentes pertencentes aos grupos socialmente dominantes.

Para Bourdieu, essa lógica não é obviamente causal e nem pode ser explicada

exclusivamente pelas diferenças objetivas, sobretudo as econômicas. Para ele, essa

lógica só pode ser explicada quando consideramos que a escola, de modo dissimulado,

valoriza e exige dos alunos determinadas “qualidades”, que são desproporcionalmente

distribuídas, as quais são constituídas por meio do capital cultural e que estabelecem

certa naturalidade no trato com a cultura e o saber que só aqueles que foram

socializados desde a infância pela cultura legítima possuem. O trecho a seguir, extraído

dos escritos de Bourdieu (2007a, p.42), afirma essa lógica:

Paul Clerc mostrou que, com diploma igual, a renda não exerce nenhuma influência própria sobre o êxito escolar e que, ao contrário, com renda igual, a proporção de bons alunos varia de maneira significativa segundo o pai não seja diplomado ou seja bachelier* (N.T.: No sistema francês, pessoa que concluiu com sucesso seus estudos secundários e tornou-se, portanto, portadora do “baccalauréat” (ou, na forma abreviada, “bac”), cuja tradução literal, em português, seria “bacharelado”, mas que, em francês, designa, ao mesmo tempo, os exames e o diploma conferido ao final do 2º ciclo de ensino de 2º grau), o que permite concluir que a ação do meio familiar sobre o êxito escolar

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é quase exclusivamente cultural. Mais que os diplomas obtidos pelo pai, mais mesmo do que o tipo de escolaridade que ele seguiu, é o nível cultural global do grupo familiar que mantém a relação mais estreita com o êxito escolar da criança.

Partindo de tais contribuições de Bourdieu para o entendimento do universo

escolar e do saber, entendemos que somente nos pautar na escolaridade do agente

público para identificarmos e analisarmos sua formação seria um tanto quanto limitado.

Por esse motivo, consideramos a formação como um processo amplo, que considera

não apenas a escolaridade dos agentes, mas também, a formação em seu sentido

constante, segundo o aspecto da continuidade. Consideramos essa formação de

sentido constante ou continuada como aquela que é desenvolvida no dia a dia, por

meio da reflexão-ação que embasa a prática diária dos agentes, seja a partir da busca

constante por novos conhecimentos, seja por meio de cursos, palestras e trocas de

experiências, por meio de estratégias em que se busca aprender, ensinar e refletir a

partir das ações desenvolvidas.

Entendemos que todos esses pontos podem ser considerados quando pensamos

na formação de agentes que atuam na gestão do esporte e lazer nos municípios.

Porém, como afirmamos anteriormente, autores como Werneck (1998) e Marcellino

(2001) enfatizam que essa formação deve ser pautada em uma fundamentação teórico-

prática de modo que possa ter reflexo nas tomadas de decisões e ações dos agentes

frente às contradições e processos que compõem a gestão pública do esporte e lazer.

Pensando em todos esses pontos levantados, questionamos: é possível definir

características, especificidades, competências e peculiaridades inerentes à formação

dos agentes públicos que atuam na gestão do esporte e lazer?

Discutir a respeito da formação de agentes públicos que atuam na gestão pública

do esporte e lazer no Brasil é um tanto quanto complexo. Autores como Amaral e

Bastos (2015) afirmam que essa complexidade se dá devido ao fato de não haver uma

área ou curso específico que consiga subsidiar sozinho esta formação em nosso país.

Tavares (2010, p. 47) afirma que acaba sendo atribuído principalmente aos cursos de

Administração e Educação Física “a tarefa de atender à complexa demanda da gestão

pública esportiva”. É por esse motivo que Amaral e Bastos (2015) alegam, baseando-se

em estudos que discutem a formação de gestores do esporte que atuam em nosso

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país, que é comum encontrar formação diferenciada entre gestores que ocupam cargos

semelhantes.

Aqui, porém, fazemos uma ressalva: será que um determinado curso ou área

seria capaz de subsidiar a formação e atuação dos agentes públicos do esporte e

lazer? Refletindo acerca dos apontamentos de Bourdieu a respeito do universo escolar

e processo de escolarização, entendemos que os mesmos limitantes da escola – como

reprodução de uma determinada cultura, marginalização de alguns alunos em

detrimento do privilégio aos “mais aptos” – podem estar presentes nos cursos

superiores.

Bastos e Mazzei (2012), ao discorrerem acerca da formação em Gestão do

Esporte, afirmam que a formação dos gestores esportivos em nosso país geralmente é

desenvolvida por meio de Cursos de Graduação em Educação Física ou Esporte. Mas,

ponderam que outras alternativas de cursos surgiram nos últimos anos na realidade

brasileira. Alguns autores apontam, como exemplos, a criação do Curso de

Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer em 2009 na Universidade Federal do

Paraná – Campus do Litoral (Matinhos – PR.); Curso de Bacharelado em Educação

Física com ênfase em Gestão do Esporte e Lazer; e cursos técnicos e

profissionalizantes em Gestão do Esporte – cursos com duração de 2 anos voltados à

formação de Tecnólogo (BASTOS; MAZZEI, 2012).

Ao realizarmos a busca por cursos de Gestão Desportiva e de Lazer cadastrados

no Ministério da Educação (MEC), por meio do Sistema e-MEC18, encontramos um total

de 52 cursos cadastrados em todo país. Na sequência, a tabela 1 demonstra a

quantidade de cursos cadastrados nos estados brasileiros e DF.

18

De acordo com o Portal do MEC, o e-MEC “foi criado para fazer a tramitação eletrônica dos processos de regulamentação. Pela internet, as instituições de educação superior fazem o credenciamento e o recredenciamento, buscam autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos. Em funcionamento, desde janeiro de 2007, o sistema permite a abertura e o acompanhamento dos processos pelas instituições de forma simplificada e transparente”. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/e-mec>. Acesso em: 28/09/2015.

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Tabela 1 – Cursos de Gestão Desportiva e do Lazer cadastrados no MEC (2015)

Estado Quantidade De Cursos Tecnológico Bacharelado

Amazonas (AM) 0 0

Roraima (RR) 1 0

Amapá (AP) 0 0

Pará (PA) 0 0

Tocantins (TO) 2 0

Rondônia (RO) 1 0

Acre (AC) 1 0

Maranhão (MA) 1 0

Piauí (PI) 0 0

Ceará (CE) 3 0

Rio Grande do Norte (RN) 1 0

Pernambuco (PE) 1 0

Paraíba (PB) 0 0

Sergipe (SE) 0 0

Alagoas (AL) 1 0

Bahia (BA) 3 0

Mato Grosso (MT) 2 0

Mato Grosso do Sul (MS) 1 0

Goiás (GO) 3 0

São Paulo (SP) 12 0

Rio de Janeiro (RJ) 4 0

Espírito Santo 1 0

Minas Gerais (MG) 4 0

Paraná (PR) 2 1

Rio Grande do Sul (RS) 3 0

Santa Catarina (SC) 1 0

Distrito Federal (DF) 3 0

Total 51 1

Fonte: Os autores a partir de informações do MEC

Como podemos verificar na tabela acima, dos 52 cursos cadastrados, 51 são

cursos ofertados em caráter tecnológico e apenas 1 é um curso de graduação em

bacharelado.

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Esse único Curso de Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer em caráter

de graduação da UFPR-Campus do Litoral ofertou o último vestibular no ano de 2014 e

posteriormente entrou em processo de extinção. Atualmente, no ano de 2015, o curso

possui apenas alunos remanescentes das últimas turmas. Segundo informações de

professores que ministravam aulas no curso, o processo de extinção ocorreu devido à

baixa procura e baixo reconhecimento no mercado de trabalho, pois a maioria dos

concursos e processos de seleção acabam dando prioridade a profissionais com

graduação em Educação Física para assumir cargos na gestão do esporte e lazer. Tais

fatores acabaram sendo exacerbados devido ao fato do curso ser ofertado em uma

cidade pequena.

Se classificarmos os cursos por regiões brasileiras, verificamos, na região Norte,

5 cursos ativos, sendo que todos eles são tecnológicos; na região Nordeste 10 cursos,

todos tecnológicos; na região Centro-Oeste são ofertados 6 cursos, todos em caráter

tecnológico; na região Sudeste, 21 cursos ofertados também tecnológicos; e, na região

Sul, dos 7 cursos ofertados, 1 era bacharelado mas, como afirmado anteriormente,

entrou em processo de extinção, e os demais são tecnológicos.

Em relação à nomenclatura, apenas um dos cursos ofertados no estado do

Ceará é intitulado “Gestão do esporte e lazer comunitário”, todos os demais intitulam-se

“Gestão desportiva e de lazer”. Portanto, podemos constatar, com base nos dados

apresentados na Tabela 1, a homogeneidade na maioria dos cursos quanto ao tipo e

nomenclatura. O caráter técnico, de curta duração, é o que sobressai quando

consideramos a oferta de cursos voltados à gestão do esporte e lazer em nosso país.

Nossas constatações vão ao encontro do que consideram Bastos e Mazzei

(2012) quando afirmam que, no Brasil têm surgido alternativas para a formação em

gestão do esporte e lazer, como o curso Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer

da UFPR Campus do Litoral, além de cursos técnicos e profissionalizantes. Os autores

alegam a falta de cursos de pós-graduação stricto sensu em nosso país, afirmando que

existem apenas linhas de pesquisa em cursos de mestrado, geralmente em Educação

Física (BASTOS; MAZZEI, 2012).

A partir desse cenário, Bastos e Mazzei (2012) apontam que uma das grandes

dificuldades dos escassos cursos que existem em nosso país é a falta de consenso

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sobre quais seriam as disciplinas ou conhecimentos comuns a área. Mas, mesmo com

as diferenças nas estruturas curriculares dos cursos, os autores ressaltam que algumas

disciplinas são comuns à maioria dos programas, como:

Marketing esportivo; Finanças e Contabilidade; Planejamento Estratégico; Comunicação, Administração e Políticas Públicas; Aspectos Legais e Direito do Esporte; Economia; Dimensões Sociais, Culturais e Antropológicas do Esporte; Ética nas Organizações, e Liderança e Motivação no Esporte (BASTOS; MAZZEI, 2012, p. 35).

Considerando o levantamento realizado e as discussões de Bastos e Mazzei

(2012), mesmo sendo escassa a oferta de cursos técnicos, de graduação ou de pós-

graduação em gestão do esporte e lazer, estes apresentam-se como uma das

possibilidades quando pensamos em processos de formação daqueles que atuam ou

atuarão na gestão do esporte e lazer, seja em meios públicos ou privados. Mesmo

afirmando ser uma das possibilidades, não representa o único meio de formação de

agentes públicos do esporte e lazer. Assim afirmamos pois, como havíamos

mencionado anteriormente, entendemos que a formação a que nos referimos, refere-se

à uma formação constante e não estável, desenvolvida somente por um certo período

de tempo e geralmente em uma fase da vida antes de assumirem cargos na gestão do

esporte e lazer. Por pautar-se em um sentido constante e continuado, entendemos que

esta formação deva basear e ser buscada constantemente no decorrer da atuação dos

agentes.

Assim, concordamos com Tavares (2010) quando afirma que a formação para

atuar na gestão pública pode ser obtida por meio do acúmulo de diferentes cursos e

experiência em diferentes situações. Essas duas frentes podem representar um

caminho para se desenvolver um perfil de competências que o cargo na gestão pública

do esporte e lazer pode exigir. Mas, quais são as competências que o agentes públicos

devem possuir para atuarem na gestão pública do esporte e lazer? É possível elencar

competências necessárias à essa atuação? Os gestores públicos possuem

competências inerentes ao cargo que assumem?

Antes de buscar elementos para responder aos questionamentos suscitados,

ressaltamos que o gestor – aqui considerado na figura do secretário ou agente maior

responsável pelo esporte e lazer nos municípios analisados – é apenas um elemento

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diante da complexidade da gestão pública. Como afirma Tavares (2010), frente essa

complexidade, torna-se de suma importância reconhecer a figura de outros agentes, ou

nas palavras do autor “componentes” que fazem parte dessa realidade social. Para

exemplificar tal importância, o autor assegura que uma equipe qualificada pode auxiliar

o gestor de modo que uma equipe menos qualificada não proporcionaria (TAVARES,

2010). É por esse motivo que optamos por analisar a formação, tanto dos gestores

quanto dos professores, estagiários ou profissionais técnicos que atuam em secretarias

ou órgãos públicos responsáveis pela oferta do esporte e lazer em municípios do

Paraná. Tanto os gestores quanto os professores, técnicos e estagiários são, por nós

considerados, agentes públicos do esporte e lazer.

Quando falamos em um perfil de competências que a atuação dos agentes

públicos na gestão do esporte e lazer pode exigir, consideramos que a manifestação

desses agentes, como afirma Tavares (2010), é construída e ambientada no tempo

histórico e cultural e a partir dos traços de personalidade individuais de cada agente.

Portanto, quando optamos em discutir a respeito de um perfil de competências é

relevante ressaltarmos que o perfil é fruto desse processo de construção, nas palavras

de Tavares (2010, p. 19), “é fruto da interatividade entre as características ambientais e

pessoais”.

Na literatura encontramos algumas discussões voltadas a habilidades ou

competências inerentes à atuação do gestor esportivo (TAVARES, 2010; BASTOS;

MAZZEI, 2012; AMARAL, 2014; AMARAL; BASTOS, 2015). Essa literatura está

relacionada principalmente à área da Gestão do Esporte e é produzida principalmente

por pesquisadores do GEPAE-EEFEUSP (Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do

Esporte - Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo). Porém,

devemos entender que discussões, tais como estas, mostram possibilidades e não

modelos estáveis de competências, pois estamos nos referindo a um processo

complexo, principalmente quando consideramos as especificidades da gestão pública.

A partir dessa ressalva, passaremos a apresentar modelos de competências presentes

na literatura.

Ao discorrer sobre o conceito de competência, Zarifian (2001) afirma que o

conceito deve ser pensado levando em consideração o indivíduo e não a qualificação

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de um emprego ou cargo definido. Assim, quando assumimos a necessidade de discutir

competências inerentes à atuação dos agentes públicos, entendemos como preconiza

Zarifian (2001), que a competência se manifesta na relação prática dos agentes com

sua situação profissional, no modo como enfrentam as situações peculiares ao cargo

que ocupam. Nas palavras do autor: “[...] a competência só se manifesta na atividade

prática, é dessa atividade que poderá decorrer a avaliação das competências nela

utilizadas” (ZARIFIAN, 2001, p. 67).

Zarifian (2001) ressalva que o entendimento de competência não se volta apenas

à individualidade do sujeito, apontando-o como principal ou único responsável por

condições de competência. O autor afirma que se faz necessário levar em consideração

as condições presentes nas redes de trabalho e que as competências se apoiam em

conhecimentos, corpos de saberes, como afirma:

Ora, esses conhecimentos formam-se socialmente e, se quisermos escapar de uma validação absolutamente momentânea (tal indivíduo é competente tal dia diante de tal situação), o êxito das ações deve remeter a uma dialética de interdependência forte entre competências e conhecimentos, mobilizada por fontes e atores diferentes (por mais que a empresa seja o local em que se utiliza competência ela não é, de longe, o único local de sua produção) (ZARIFIAN, 2001, p. 68)

Para o autor, a competência só pode ser entendida e avaliada mediante

situações e que, pode, em partes, ser expressada e se desenvolver na relação com a

situação, mas que certos fatores podem interferir nessa relação (ZARIFIAN, 2003). O

conhecimento social, conceito de Norbert Elias, é um dos fatores apontados por Zarifian

(2003) que intervém na relação entre situação e competência. É entendido como todo

conhecimento que é construído no decorrer da trajetória histórica e social de um

indivíduo em uma determinada sociedade. Assim, pode ser entendido como o conjunto

de conhecimentos que ajuda os indivíduos a se orientarem. Nas palavras do autor

“esse conhecimento social se particulariza naquilo em que um indivíduo pode dele

apropriar-se ao longo de sua trajetória de socialização, e na maneira como ele

questiona e renova esse conhecimento” (ZARIFIAN, 2003, p. 153). Por esse motivo, o

autor entende que as condições da competência de um indivíduo são constituídas muito

além das situações enfrentadas: “Em uma ampla medida, essas situações já são o

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produto desse conhecimento e não podem ser entendidas independentes dele”

(ZARIFIAN, 2003, p. 153).

Outro fator apontado por Zarifian (2003) que interfere nas condições da

competência é o que o autor chama de “inteligência prática”. Segundo ele, o núcleo

dessa inteligência é a compreensão das situações, compreensão na qual os

conhecimentos são mobilizados. Desta forma, utilizamos a inteligência prática para

compreender determinadas situações, sendo que só podemos compreendê-las a partir

da mobilização do conhecimento social.

Por todos esses pontos discutidos, Zarifian (2001) afirma a necessidade de se

considerar a multiplicidade e a interação das mais diversas competências profissionais

em seus contextos de inserção. Nesse sentido, apropriamo-nos das palavras do autor

para definir o conceito de competência como a tomada de iniciativa e o assumir

responsabilidades mediante problemas e eventos enfrentados em situações

profissionais. Pelo fato de não ser um conceito entendido somente no plano individual,

é também entendido como a faculdade de mobilizar agentes em uma determinada

situação, compartilhando desafios e assumindo responsabilidades. É, portanto “[...] uma

inteligência prática das situações, que se apoia em conhecimentos adquiridos e os

transforma à medida que a diversidade das situações aumenta” (ZARIFIAN, 2003, p.

137).

Mesmo que o modelo de gestão por competências baseie-se na aproximação

entre trabalho e trabalhador, tornando as situações que ocorrem nesse contexto um

importante elemento para o desenvolvimento da competências, esse modelo afirma a

necessidade do agente estar devidamente preparado a partir dos plenos domínios de

seus saberes e o entendimento de como dar-lhes sentido em sua atuação diária para

desempenhar as funções relativas ao cargo que exerce (ZARIFIAN, 2001).

Para que esse modelo de gestão por competências seja sustentável,

entendemos, como afirma Tavares (2010), que é necessário um levantamento das

competências que são essenciais ao cargo em questão, inclusive para a construção de

um perfil profissional adequado ao cargo. Mas, para não nos limitarmos à ideia de

enrijecimento do fazer profissional é necessário considerar que as relações de trabalho

não são estáticas. Eventos e situações podem ocorrer de modo inesperado,

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desregulando a normalidade do sistema, o que requer do agente competências

diferenciadas ou agregadas frente à mobilização dos mais variados recursos para a

resolução das tarefas e demandas impostas pelo trabalho (TAVARES, 2010).

A partir dessas considerações, podemos pensar no seguinte questionamento:

mas, como se dá o processo de desenvolvimento das competências? Tavares (2010)

baseando-se em obras de Zarifian, afirma que esse entendimento de competência

baseado no modelo de gestão por competência “só se sustenta a partir de um contínuo

processo de formação, uma vez que a busca pelo desenvolvimento e pela mudança é o

processo central desse modelo” (TAVARES, 2010, p. 22). Portanto, baseando-nos no

entendimento dos autores, podemos afirmar que o processo de desenvolvimento das

competências irá depender da pretensão dos agentes e a busca por um contínuo

processo de formação seja por interesse próprio, seja por parte dos órgãos

responsáveis em ofertar políticas, meios ou possibilidades de formação. É por esse

motivo, por possuir essa relação direta com a formação, que nos pautamos nessa

conceituação do termo competência para nortear nossas discussões.

Na literatura brasileira, Fleury e Fleury (2011), baseando-se nas obras do francês

Zarifian, apresentam um quadro onde demonstram como a noção de competência pode

ser desenvolvida a partir de sete verbos e as ações que eles estabelecem, como pode

ser verificado no Quadro 3:

Quadro 3 – Competências do profissional

Ações que constituem o conceito de competência

Verbos Ações

Saber agir Saber o que e por que faz

Saber julgar, escolher e decidir

Saber mobilizar Saber mobilizar recursos de pessoas, financeiros e materiais de forma sinérgica

Saber comunicar Compreender, processar, transmitir informações e conhecimentos, assegurando o entendimento da mensagem pelos outros

Saber aprender

Trabalhar o conhecimento e a experiência

Rever modelos mentais

Saber desenvolver-se e propiciar o desenvolvimento dos outros

Saber se comprometer Saber engajar-se e comprometer-se com os objetivos da organização

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Saber assumir responsabilidades Ser responsável, assumindo os riscos e as consequências de suas ações e ser, por isso, reconhecido

Ter visão estratégica Conhecer e entender do negócio da organização, seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas

Fonte: Fleury e Fleury (2011, p. 31)

A partir do Quadro 3 podemos verificar ações relativas ao conceito de

competências. Mesmo não sendo ações pensadas diretamente ao âmbito público,

entendemos que são bons indicadores para pensarmos em competências essenciais

aos agentes públicos. Saber agir, saber mobilizar, saber comunicar, saber aprender,

saber comprometer-se, saber assumir responsabilidades e ter visão estratégica são

ações amplas consideradas em um contexto geral que ao nosso ver, podem propor

competências essencias à função que os agentes assumem no âmbito público

independente da área específica ou do cargo em que atuam. As ações indicadas no

Quadro 3, direcionadas a partir de verbos, podem refletir competências específicas em

uma determinada área como, por exemplo, a do esporte e lazer, bem como a um

determinado cargo. Porém, mesmo apontando a importância de tais aspectos quando

refletimos acerca das competências dos agentes públicos, é importante ressaltar que

não desconsideramos outros elementos ou competências que podem advir do senso

prático, das experiências diárias que ocorrem ou podem ocorrer na gestão pública

municipal do esporte e lazer.

Podemos constatar que, de certo modo, as ações indicadas no Quadro 3 podem

refletir competências ligadas a princípios de racionalidade técnica pois, como afirmam

Soriano e Winterstein (2006), refletem medidas universalizadas e padrões a serem

seguidos encobertos por habilidades gerais e referências à condutas ideais. Ainda

segundo os autores, devemos ter cautela em assumir somente como verdade tais

parâmetros desconsiderando outras habilidades ou competências que não aquelas

colocadas como referências (SORIANO; WINTERSTEIN, 2006). Portanto, assumimos

que as ações indicadas no Quadro 3 podem refletir certas competências ligadas a

função que os agentes públicos exercem, mas entendemos que outras competências

podem ser consideradas como aquelas advindas do senso prático, como por exemplo o

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saber ser ético, agir de forma ética mediante dificuldades ou situações peculiares que

podem ocorrer no dia a dia nos municípios.

Ao discutir a respeito da Gestão do Esporte, Bastos e Mazzei (2012) afirmam

que alguns autores, como Mintzberg (2003) tem se dedicado a analisar a intervenção

profissional nessa área a partir do papel que o agente assume, no caso do modelo

proposto por este autor, seja ele presidente considerado como “Vértice Estratégico”, ou

gerente considerado “Centro Operacional” de uma determinada organização. No caso

do nosso estudo, iremos analisar de modo específico os gestores, que podemos

considerar como “Vértice Estratégico”, e os professores, estagiários ou profissionais

técnicos como “Centro Operacional”.

Mazzei e Barros (2012) afirmam que o Centro Operacional, um dos componentes

do Modelo de Estrutura Organizacional proposto por Mintzberg, pode ser entendido

como uma estrutura que compreende todos os membros que operam e executam as

ações de uma determinada organização, em nosso caso, os professores e técnicos que

operam e executam as ações de esporte e lazer nos municípios. Essa estrutura é

entendida, portanto, como o “âmago de cada gestão”, “parte crucial, que produz

resultados essenciais” (MAZZEI; BARROS, 2012, p. 85). Já o Vértice Estratégico, de

acordo com Mazzei e Barros (2012), é aquele em que o(s) membro(s) responsável(eis)

pelo controle da organização deve(m) assegurar a manutenção, o cumprimento e o

desenvolvimento de estratégias apropriadas para se atingir os objetivos propostos,

função que, em nosso entendimento, o agente assume quando está no posto de uma

determinada secretaria ou órgão responsável pela oferta do esporte e lazer em seu

município.

Em relação às competências, características e peculiaridades do papel que o

gestor desempenha, Tavares (2010) discorre que há estudos na literatura internacional

que se voltam à análise de competências de gestores esportivos. Já, no Brasil, por

serem recentes os estudos no campo das competências, suas ramificações, como a do

esporte, são pouco expressivas. Mas, em relação à literatura internacional, Tavares

(2010) aponta o estudo de Jamieson (1987) que investigou as competências de

gestores esportivos americanos`, alegando que as mais requeridas eram as

competências decisórias, de planejamento, de controle orçamentário e de comunicação.

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Além do estudo apontado por Tavares (2011), Joaquim, Batista e Carvalho

(2011) realizaram uma revisão sistemática de estudos e pesquisas – artigos, teses e

dissertações desenvolvidos em vários países entre 1980 e 2009 – sobre o perfil de

competências do gestor esportivo a partir de bases de dados eletrônicas. Dentre os

estudos encontrados, as autoras afirmam que os estudos internacionais, publicados em

periódicos científicos, apontaram como competências mais importantes no trabalho de

gestores esportivos aquelas de planejamento, de relações públicas, de marketing, de

processos de liderança e de tomada de decisão. Já as teses e dissertações reforçaram

o conhecimento na área do esporte, a comunicação e a gestão das relações pessoais

como competências mais importantes dos gestores esportivos analisados. De modo

geral, as autoras apontam que, a partir das investigações, as competências mais

valorizadas são as relacionadas ao planejamento de atividades, projetos e eventos;

gestão de recursos seja eles humanos, financeiros, relacionados a instalações ou

equipamentos; de liderança; de marketing; e de coordenação de equipes (JOAQUIM;

BATISTA; CARVALHO, 2011).

Se compararmos o estudo apontado por Tavares (2011) de Jamieson (1987)

com os apontamentos da revisão sistemática de Joaquim, Batista e Carvalho (2011),

mesmo se tratando de épocas e nacionalidades diferentes, podemos verificar que

ambos os estudos apresentam que as competências mais valorizadas ou mais

requeridas ao gestor de esporte são relacionadas ao fato de saber planejar, tomar

decisões, saber se comunicar e saber mobilizar, controlar ou coordenar recursos

humanos e financeiros/orçamentários. Ao apresentarmos as competências a partir de

verbos expressando ações, que seriam então competências valorizadas ou requeridas

aos gestores esportivos como apontado pelos estudos, fazemos alusão aos

verbos/ações apontadas por Fleury e Fleury (2011), apresentados no Quadro 3. Assim,

constatamos que, mesmo os autores se referirem a ações que constituem o conceito de

competências profissionais de modo amplo sem se referirem a uma área específica,

estas mesmas ações podem nos indicar competências a serem consideradas na

construção de um perfil dos gestores públicos do esporte e lazer.

Ao refletirmos a respeito da construção do perfil de competências dos gestores

públicos do esporte e lazer, Pintos e Perim (2013), que discutem acerca da

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responsabilidade social do gestor público de esporte e lazer, indicam-nos alguns fatores

que merecem ser considerados. Segundo as autoras, o gestor público do esporte e

lazer deve desempenhar seu papel frente à oferta do esporte e lazer à população,

levando em consideração alguns aspectos como:

1) a qualidade da gestão do esporte e lazer frente à necessidade de otimização

dos diferentes recursos físicos, materiais, humanos e financeiros disponíveis aos

gestores;

2) o desenvolvimento sustentável, uma vez que se deve preservar e dar utilidade

social aos recursos existentes;

3) os anseios, as necessidades e as potencialidades dos cidadãos, que

fomentem a participação da população nas discussões e concretização de

ações;

4) a definição das funções e dos devidos responsáveis para alcançar objetivos,

como organizar e desenvolver projetos, programas e adequação de infraestrutura

para tais fins;

5) a tentativa de alinhar o domínio dos conhecimentos dos agentes com a

realidade, a experimentação e a seleção de atividades pela livre escolha dos

cidadãos;

6) a busca pela efetivação de políticas após um processo de análise de escolha

de projetos e programas, processo esse desenvolvido em cada região na

articulação com as comunidades, estimulando a participação e a organização

dos cidadãos frente a construção de projetos e programas para efetivação das

políticas;

7) a atuação de modo estratégico, buscando avançar corrigindo as falhas;

8) a clareza dos objetos de modo que justifiquem os gastos e a arrecadação do

dinheiro público;

9) o desenvolvimento de políticas que levem em consideração a compreensão do

espaço público que requer envolvimento individual, mas também a

conscientização das questões coletivas.

(PINTOS, PERIM, 2013).

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Concordamos com Pintos e Perim (2013) quando afirmam que esses fatores são

essenciais e podem representar uma frente estratégica no processo de implementação

das políticas públicas de esporte e lazer, uma vez que ampliam a capacidade de

governança e qualificam os processos de tomada de decisões por parte dos gestores

públicos do esporte e lazer. Esses fatores também são importantes quando pensamos

nas ações desempenhadas pelos professores, estagiários e profissionais técnicos, pois

ambos agentes – gestores, professores, estagiários, técnicos – independente do cargo

que assumem, possuem responsabilidades frente à gestão pública do esporte e lazer.

As considerações de Marcellino et al. (2007) vão ao encontro desse entendimento

quando afirmam que, independentemente da função a ser exercida, o profissional

necessita da combinação de algumas características como: formação, informação,

comportamento e atitude, atualização, imaginação e intuição, criatividade,

cooperativismo, dedicação, comunicação e autoformação permanente.

Além dos pontos levantados, Bernabé e Natali (2014) apontam outros aspectos

considerados a partir do estudo que analisou a formação e atuação de recreadores

públicos do município de Maringá-PR. O princípio da formação política e social

ampliada é um dos princípios apontados, pensado a partir da atuação de agentes

públicos e que, portanto, pode ser entendido como um princípio importante a ser

considerado no decorrer da formação dos agentes. Esse princípio leva em conta o fato

dos agentes desenvolverem consciência em relação às questões que perpassam a vida

em sociedade, como questões sociais, econômicas, políticas, culturais e demais

questões que se encontram articuladas no decorrer do cotidiano dos cidadãos

(BERNABÉ; NATALI, 2014).

O princípio das vivências práticas e sociais diversificadas apresenta-se como

outro princípio a ser considerado devido à necessidade de se atender diferentes

públicos, em diferentes espaços, mediante diferentes contextos, seja em bairros de

classes econômicas diferentes, escolas, praças, ruas, dentre outros (BERNABÉ;

NATALI, 2014).

Outro princípio considerado é o da troca e compartilhamento das experiências e

práticas profissionais que leva em conta a necessidade de reflexão e discussão das

ações desenvolvidas entre os agentes que compõem um determinado órgão

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responsável pelo esporte e lazer nos municípios. Além de outros princípios, como o de

reconhecimento e participação nos processos da gestão, e o de democratização do

esporte e lazer, princípios voltados à necessidade de abertura à participação popular

nos processo de decisão e implementação das políticas públicas (BERNABÉ; NATALI,

2014). A partir desses princípios elencados, destaca-se a importância de se

desenvolver processos de formação integral, constante ou continuada, que

fundamentem a atuação profissional dos agentes públicos.

Assumindo que a formação dos agentes públicos deve ser pautada em uma

fundamentação teórico-prática que integre diferentes saberes, experiências e

conhecimentos, bem como pela realização de cursos, participação em palestras,

eventos e experiência acumulada em diferentes situações peculiares à gestão do

esporte e lazer, buscamos no decorrer desse capítulo discorrer a respeito de

características, condições estruturais e competências que, no nosso entender, devem

contemplar a formação de gestores, professores, técnicos e estagiários que atuam na

gestão pública do esporte e lazer municipal. De modo geral, pautando-nos na literatura

que discute sobre as competências de gestores do esporte e lazer constatamos que as

principais competências requeridas a esse cargo são: planejar; tomar decisões;

comunicar-se; mobilizar ou controlar recursos humanos e financeiros/orçamentários; e

coordenar.

Quando falamos em competências, características e peculiaridades próprias à

atuação dos agentes públicos e que, por esse motivo, entendemos como aspectos

relevantes a serem considerados no processo de formação desses agentes, baseando-

nos na literatura, chegamos aos seguintes pontos que devem ser considerados: buscar

a qualidade da gestão por meio da otimização dos recursos; preservar e dar utilidade

aos recursos por meio do desenvolvimento sustentável, ambos pontos ligados ao

princípio das vivências e práticas sociais e diversificadas; fomentar a participação

popular por meio do princípio da democratização do esporte e do lazer; definir funções

e responsabilidades frente aos objetivos propostos; ter domínio dos conhecimentos,

técnicas e saberes próprios do esporte e do lazer e saber alinhá-los à realidade da

comunidade; buscar a efetivação das políticas; refletir nas ações, buscando corrigir as

falhas para avançar por meio do desenvolvimento do princípio das trocas e

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compartilhamento das experiências e práticas profissionais; desenvolver o princípio da

formação política e social e o princípio do reconhecimento e da participação nos

processo da gestão ampliada, buscando compreender o espaço social como um

espaço público, sabendo tencionar o envolvimento individual do agente com as

questões coletivas inerentes à gestão pública.

Todos esses pontos foram aqui apresentados de modo a discutirmos a respeito

da formação de agentes públicos do esporte e lazer de forma preliminar para,

posteriormente, basearmos a discussão dos dados empíricos. Entendemos que, no

trato com os dados sobre a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que

atuam nos municípios analisados do estado do Paraná, novos elementos podem surgir,

e/ou nem todos esses elementos aqui referenciados podem ser identificados.

4.2 Análise da formação dos agentes públicos do esporte e lazer nos municípios do estado do Paraná

A análise e tratamento dos dados coletados nos municípios do estado do Paraná

deram-se por meio do diálogo obtido entre as evidências empíricas e o referencial

teórico servindo de suporte às análises. O desenvolvimento metodológico que orientou

o tratamento e análise dos dados partiu de orientações da Análise de Conteúdo

(BARDIN, 2011).

Para seleção dos dados das transcrições das entrevistas dos gestores públicos

participantes da pesquisa nos apropriamos da categoria de análise “formação”, umas

das categorias elencadas nas primeiras análises do projeto de pesquisa desenvolvido

pelo GEPPOL que dá suporte a esse estudo. A categoria formação, assim como as

demais categorias do projeto de pesquisa, foram elencadas a partir dos passos

previstos na Análise de Conteúdo. Inicialmente foi realizada a leitura flutuante das

transcrições e, posterior elaboração de indicadores, que foi possível após verificarmos

os temas recorrentes nas falas. Assim, chegamos a uma série de indicadores, dentre

eles, a formação.

Os indicadores são considerados como categorias de análise e, a partir deles,

elencam-se as subcategorias (BARDIN, 2011). Para elencarmos as subcategorias

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decorrentes dos indicadores pré-estabelecidos, selecionamos trechos das falas dos

gestores que correspondiam a cada um dos indicadores. Assim, a seleção das falas a

partir dos indicadores deu origem às seguintes subcategorias: características

descritivas; curso de graduação; participação em cursos; meios de qualificação; meios

de qualificação mais eficientes; conhecimentos, saberes e experiências necessárias à

função que desempenham; e política de formação.

As falas oriundas das transcrições elencadas em cada subcategoria,

consideradas dados brutos, foram tratadas, como afirma Bardin (2011) de maneira a

serem significativas e válidas. Para tal finalidade, foram selecionados indicadores

recorrentes e que caracterizavam as falas em cada uma das subcategorias.

Posteriormente, esses indicadores foram codificados e quantificados para que

pudessem passar por operações estatísticas simples (porcentagem e frequência), como

previsto por Bardin (2011). Essas fases da Análise de Conteúdo permitiram o

estabelecimento de quadros, tabelas e gráficos de resultados, “os quais condensam e

põem em relevo as informações fornecidas pela análise” (BARDIN, 2011, p. 131).

Em relação aos dados obtidos por meio da aplicação de questionário com os

agentes técnicos – professores, técnicos e estagiários – por serem dados já

codificados, expressos em um ou mais termos que os agentes marcavam dentre as

opções de múltipla escolha nas perguntas, foram diretamente operados por estatística

simples (porcentagem e frequência) e descritos em quadros, tabelas e gráficos. Com a

síntese e seleção dos resultados, tanto dos gestores quanto dos agentes, foi possível

estabelecer inferências e interpretações, seguindo uma lógica de apresentação, em que

os dados dos gestores e agentes técnicos são expostos em tabelas, seguidos de

discussão e análise dos dados referentes a cada uma das subcategorias.

De modo a caracterizar a amostra dos agentes públicos que compuseram o

estudo, nas Tabelas, a seguir, apresentamos as características dos 76 gestores que

participaram do estudo (Tabela 2) e as características dos 185 agentes técnicos (Tabela

3).

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Tabela 2 - Características descritivas dos gestores públicos

Características Frequência Percentual

Idade 41,92 (±10,98 anos) -

Sexo

Masculino 62 81,6

Feminino 14 18,4

Escolaridade

Ensino Fundamental Completo 5 6,6

Ensino Médio Completo 11 25

Ensino Superior Técnico 1 1,3 Ensino Superior Incompleto 1 1,3

Ensino Superior Completo 56 65,8

Tabela 3 - Características descritivas dos agentes técnicos

Características Frequência Percentual

Idade 31,66 (±9,98 anos) -

Sexo

Masculino 136 73,5

Feminino 46 24,9

Escolaridade

Ensino Fundamental Incompleto 1 5

Ensino Médio Incompleto 2 1,1

Ensino Médio Completo 10 5,4

Ensino Superior Incompleto 51 27,6

Ensino Superior Completo 55 29,7

Pós-Graduação Lato Sensu (Especializações) 60 32,4

Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) 4 2,2

Como caracterização da amostra dos gestores públicos que compuseram o

estudo, a partir da Tabela 2 podemos verificar que a média de idade dos gestores é

41,92 anos e que mais de 80% são homens. Em relação aos primeiros dados que se

referem à categoria formação, quanto à escolaridade dos gestores, os dados mais

expressivos alegam que dos 76 gestores, 56 possuem ensino superior completo e 11

concluíram até o ensino médio.

Já em relação aos dados dos agentes técnicos, a média de idade é 31,66 anos.

A maioria são homens, 73,5%, e somente 24,9% são mulheres. Portanto, podemos

constatar a partir dos dados que a gestão pública do esporte e lazer nos municípios

analisados é constituída em sua maioria por homens, sendo as mulheres a minoria na

gestão.

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Comparando as características dos agentes técnicos com as características dos

gestores, observa-se que a média de idade é menor entre os agentes técnicos quase

dez anos de diferença se comparado com a média de idade dos gestores. Essa

constatação pode se relacionar principalmente ao fato dos agentes serem recém

formados em cursos de graduação ou, ainda, estarem cursando alguma graduação e

consequentemente serem mais novos.

Na Tabela 3, os dados referentes à escolaridade dos agentes comprova essa

constatação: enquanto 55 agentes técnicos (professores, técnicos e estagiários)

possuem ensino superior completo, 51 marcaram a opção ensino superior incompleto

por ainda estarem cursando a graduação. Em relação aos gestores, enquanto 56

possuem ensino superior completo, apenas 1 marcou a opção incompleto. A partir da

coleta também pode-se notar que os gestores apresentam maior média de idade pois,

em grande parte dos municípios, estão há vários anos trabalhando na gestão do

esporte e lazer, seja dando aulas em escolinhas ou até mesmo no cargo de secretário

ou coordenador. A fala de G21 evidencia essa constatação ao afirmar que, antes de

ocupar o cargo de gestor, ele ministrava aulas em seu município: "antes eu só cuidava

da aula que eu tinha que dar.”; a fala de G39 ilustra que quando o gestor afirma ter

permanecido na gestão pública por vários anos antes de assumir o cargo de gestor:

“São 14 anos na vida pública [...] até chegar aqui quando eu fui assumir a Secretaria de

Esportes”.

Em relação ao curso de graduação, as próximas tabelas apresentam as

respostas dos agentes públicos:

Tabela 4 - Curso de Graduação dos gestores

Curso Frequência

Educação Física 34

Administração 6

Pedagogia 5 Matemática 2

Enfermagem 2 Direito 1 Artes 1 Comunicação Social 1 Filosofia 1 Gestão Imobiliária 1 História 1

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Letras 1 *Gestão Pública (Ensino Técnico) 1

Tabela 5 - Curso de Graduação dos agentes técnicos

Curso Frequência

Educação Física 152

Administração 2

Pedagogia 2 Gestão Pública 1

Engenharia Química 1 Filosofia 1 Matemática 1

Entendemos que esses dados vão ao encontro da literatura pois, como afirmam

Tavares (2010) e Bastos e Mazzei (2012), os cursos de graduação em Administração e

Educação Física acabam sendo os mais evidenciados no contexto da gestão pública do

esporte e lazer. Especificamente em relação ao cargo de gestor, a fala do G2

demonstra porquê considera essencial a formação nessas duas áreas para

desempenhar as funções de gestor do esporte e lazer em seu município: “Na realidade,

vamos dizer, eu, como administrador de empresa, eu já tenho toda a formação para o

administrativo. E, como profissional de Educação Física, já tenho tudo que precisa ser

feito” (G2).

Por mais que os cursos de Educação Física e Administração, como demonstrado

pelos dados e pela literatura, são os cursos recorrentes no contexto da gestão do

esporte e lazer, podemos verificar também formações diferenciadas tanto entre os

gestores que ocupam cargos semelhantes, assim como afirmam Amaral e Bastos

(2015), quanto entre os agentes técnicos.

Em relação à formação em esporte e lazer adquirida a partir de um curso

superior em nível de graduação em Educação Física podemos averiguar, a partir do

discurso dos gestores, que alguns entendem como indispensável essa formação. Já

outros gestores até consideram importante, mas consideram que esta não é a única

exigência ou meio de formação que o cargo de gestor requer. As falas a seguir

demonstram essas considerações:

[...] não é porque você tem um diploma que você sabe fazer as coisas, porque no esporte eu entendo que as pessoas elas tem que nascer para

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aquilo ali, porque você vai se dispor além do profissional que você vai ser, para você se torna você tem que dispor de tempo de uma série de fatores (G1). Eu tenho uma opinião, que acho que quem estiver na pasta, ou diretor ou de secretário ou de chefe, deveria ser um profissional da área. [...] Tem que ter uma pessoa da área mesmo e se reciclando porque senão fica para trás (G6).

Como afirmado na fala de G6, podemos analisar que os gestores também

consideram que além dos processos formais de escolaridade, outros meios são

importantes quando nos referimos à formação dos agentes públicos. A participação em

cursos pode ser considerada como um desses meios.

Em relação à subcategoria participação em cursos, quanto aos gestores

públicos, uma pergunta presente no roteiro da entrevista indagava-os a respeito da

participação ou não em cursos de capacitação/formação. Dos gestores que

responderam a essa pergunta, apenas 10 responderam não ter participado de nenhum

curso de capacitação/formação, sendo que 63 afirmaram já ter participado. Já em

relação aos agentes técnicos, 81 afirmaram não participar de nenhum curso de

capacitação/formação e, 90 afirmaram já ter participado. Ainda em relação à

subcategoria participação em cursos, os gestores e agentes técnicos também foram

questionados quanto à realização de cursos voltados especificamente à área do

esporte e lazer. A Tabela 6 demonstra a resposta dos gestores e dos agentes técnicos

em relação a esse questionamento:

Tabela 6 - Participação em cursos voltados ao esporte e lazer

Agentes Sim Não

Gestores 47 (61,8%) 28 (36,8%)

Agentes Técnicos 112 (60,5%) 70 (37,8%)

A partir dos dados apresentados na Tabela 6, podemos constatar que a maioria

dos gestores, 61,8%, afirmaram já ter participado de cursos e 36,8% afirmaram que não

participaram de cursos específicos de esporte e lazer, mas disseram já ter participado

de cursos voltados a outras áreas, como educação, por exemplo. As respostas dos

agentes técnicos encontram-se próximas a dos gestores, já que, como podemos

verificar, 60,5% dos agentes técnicos já participaram de cursos específicos de esporte e

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lazer e, apenas 37,8%, afirmam não ter realizado cursos voltados a essa área. Assim,

constatamos que, a maioria dos agentes públicos já participaram de cursos próprios ao

esporte e lazer.

Quando questionados em relação a busca por qualificação, a maioria dos

gestores (83%) afirmaram que buscam se qualificar para exercer a função de gestor

público do esporte e lazer. Como apresentam os dados, por ocuparem um cargo mais

elevado que os demais agentes, na posição de representantes públicos do esporte e

lazer, os gestores entendem como necessária essa busca constante por qualificação e

formação. A fala de G20 demonstra essa preocupação: “Na verdade, a dinâmica na

minha vida é sempre estar estudando. Sempre estar buscando a informação, para

poder passar segurança ao meu grupo de trabalho.”.

Os meios para se buscar essa qualificação é outra subcategoria advinda dos

dados dos agentes públicos. A Tabela 7 demonstra a indicação dos gestores quando

questionados como buscam qualificação/formação para exercerem a função que

desempenham. Já a Tabela 8 apresenta a frequência de respostas dos agentes

técnicos em relação a essa subcategoria.

Tabela 7 - Como os gestores públicos buscam qualificação/formação para

exercerem a função que desempenham

Respostas Frequência

Cursos 26

Experiência com outros gestores ou profissionais 24

Formação em Gestão e/ou Administração 19

Buscando informação e atualização pela internet 9

Experiência no dia-a-dia 9

Graduação em Educação Física 7

Leituras 6

Ouvindo a população 4

Conhecimento prático sobre esporte e lazer 3 Pesquisas 3

Conhecer leis e decretos 2 Formação Continuada 1

Reuniões com a Paraná Esporte 1

Conhecendo pessoas influentes na política do município/região 1 Conhecer a realidade do município/região 1 Tendo compromisso/responsabilidade 1

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Tabela 8 - Como os agentes técnicos buscam qualificação/formação para exercerem a

função que desempenham

Resposta Frequência

Palestras 86

Congressos 56

Cursos 42 Seminários 39

Reuniões 38 Grupo de Estudo 18 Outros 10

Nota: Dentre os agentes que selecionaram a opção outros e responderam ao questionamento aberto de quais outros tipos de capacitação/formação já haviam realizado, as respostas foram: Apoio pessoal (1); Cref (2); Formação para técnico (1); Participação (1).

Em relação a essa subcategoria, entre os gestores podemos verificar que o meio

mais frequente é a realização de cursos, meio que podemos entender como um meio

passivo de formação. Porém, entre as respostas dos gestores também é possível

verificar meios considerados ativos, em que há construção de ações, desenvolvimento

de ideias, seja por meio da troca de experiência com outros profissionais, por meio da

experiência diária, da formação constante, entre outros pontos que podem ser

observados na Tabela 6. Meios pelos quais os agentes podem internalizar o tipo de

capital cultural classificado como incorporado, levando em consideração os tipos de

capitais culturais estabelecidos por Bourdieu, uma vez que esse tipo de capital cultural

pressupõe uma socialização prolongada a partir de processos de interiorização que

envolve ensino e aprendizagem.

Podemos verificar, a partir dos dados expostos na Tabela 8, que o meio de

capacitação mais frequente entre os agentes técnicos é a participação em palestras,

seguida da participação em congressos e cursos. Podemos considerar esses meios,

assim como o meio mais frequente dentre as respostas dos gestores, como meios

passivos de capacitação ou formação, no sentido que os agentes apenas recebem as

informações ou conhecimentos, não constroem ou desenvolvem, mas apenas os

recebem. Ao relacionarmos esses meios passivos de formação aos tipos de capitais

culturais estabelecidos por Bourdieu podemos considerar que a partir desses meios os

agentes irão apenas adquirir capital cultural objetivado, assim considerado por ser um

tipo de capital já constituído por uma determinada instituição ou cultura posta.

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Esses meios considerados ativos vão ao encontro dos princípios elencados

anteriormente com base no referencial teórico. A construção do planejamento em

conjunto com os demais agentes do esporte e lazer também é um meio indicado pelos

gestores, como podemos perceber na fala de G58: “A gente faz formação continuada

no começo do ano, senta todos que entra e faz toda a parte de planejamento.”. A fala

do gestor pode representar uma ambiguidade no momento em que afirma realizarem

formação continuada, mas somente no começo do ano. A ambiguidade pode ser

percebida, uma vez que formação continuada pressupõe que seja desenvolvida de

forma contínua, no decorrer de um ou mais anos, por exemplo, não se limitando apenas

a um momento único, como o de construção do planejamento citado pelo gestor.

Também podemos perceber, na fala do gestor, uma iniciativa, pois busca compartilhar

com os demais agentes envolvidos com o esporte e lazer a tarefa de planejar as

atividades, programas ou projetos a serem desenvolvidos em seu município. Dessa

forma, constatamos mais uma vez que os dados empíricos vão ao encontro do afirmado

pelo referencial teórico (JOAQUIM; BATISTA; CARVALHO, 2011; TAVARES, 2011) ao

demonstrarem a importância da competência de planejamento na gestão do esporte e

lazer e a relevância dessa competência fazer parte dos processos de formação e

atuação dos agentes.

As experiências ou compartilhamento das experiências, um dos princípios

elencados a partir do referencial teórico (PINTOS; PERIM, 2011; BERNABÉ; NATALI,

2014), são outro meio ativo recorrente na fala dos gestores, como podemos observar

na fala de G67:

[...] sempre nós reunimos aqui os da região, os diretores de esportes sempre fazem reunião, vendo quais são as qualidades, pontos positivos de um do outro. Se aqui não está dando certo, na cidade vizinha está dando, se busca lá fora o que está dando certo, e eles vêem a mesma coisa com a gente, eles vêm, tiram ideias, opiniões.

Além desses pontos mais frequentes nas falas dos gestores, um dos pontos que

chamou atenção é quando o gestor afirma considerar como meio importante para se

qualificar e exercer sua função o fato de conhecer pessoas influentes na política do

município ou região. Esse ato poderia ser classificado como desenvolvimento do capital

político, uma vez que o gestor entende que o meio que está inserido é um meio político,

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ou nos conceitos de Bourdieu, campo político, e que neste campo desempenha uma

função política. Segundo Bourdieu (2009), o capital político pode ser expresso como

uma forma do capital simbólico por ser firmado na crença e no reconhecimento, como

podemos constatar na fala de G28 quando afirma: “[...] a minha função é uma função

política”. O gestor acredita desempenhar uma função política. Por isso, entendemos

que essa sua convicção se relaciona ao capital político, uma vez que este é entendido,

como afirma Bourdieu (2009, p. 188), como sendo produto “de actos subjectivos de

reconhecimento e que, enquanto crédito e na credibilidade, só existe na representação

e pela representação, na confiança e pela confiança, na crença e pela crença, na

obediência e pela obediência.”.

Nessa relação objetivada a partir de atos subjetivos de reconhecimento e

credibilidade, por desempenhar tanto uma função política como gerencial, quanto mais

adquirir capital político, ou seja, quando mais conhecer e manter relações políticas com

políticos ou pessoas influentes na política da cidade, mais recursos, liberação para

ações e projetos e outros benefícios o gestor pode angariar para sua secretaria. A fala

do gestor afirma seu posicionamento em relação a esse entendimento:

[...] a minha função é uma função política né [...] eu adoro a política, eu vivo a política 24 horas por dia e eu faço parte hoje de um grupo que a gente vive pela nossa cidade sabe [...]. Então eu hoje me sinto orgulhoso de fazer parte desse grupo porque a gente busca alguma coisa melhor pra nossa cidade realmente (G28).

Essa posição que o gestor desempenha, caracterizada como uma função

política, é vista como necessária para fazer acontecer a política de esporte e lazer em

seu município. Isso porque, como afirma Bourdieu (2009, p.164), há uma relação entre

os mandantes e os mandatários no campo político:

[...] os efeitos das necessidades externas fazem-se sentir nele por intermédio sobretudo da relação que os mandantes, em consequência da sua distância diferencial em relação aos instrumentos de produção política, mantêm com os seus mandatários e da relação que estes últimos, em consequência das suas atitudes, mantêm com as organizações.

Portanto, podemos considerar que o gestor, na posição de mandatário, deve

estabelecer relações com os mandantes – prefeito e pessoas influentes na lógica

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política municipal – para angariar produtos políticos, pois, como afirma Bourdieu (2009),

a vida política é descrita na lógica da oferta e da procura, uma “representação do

mundo social explicitamente formulada” no campo político. E também porque nessa

lógica da oferta e da procura o campo político é “o lugar em que se gerem, na

concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos,

problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos” (BOURDIEU,

2009, p. 164).

Outro ponto levantado por esse gestor em seu discurso é a ascensão política por

meio do esporte: “[...] por uma questão política, só para você ter ideia da falta de

cabeça desse povo, num desses distritos, para eles poderem tentar ganhar a eleição

eles construíram 11 campos de futebol” (G28). Podemos verificar que, novamente, o

capital político se faz presente na gestão do esporte e lazer, uma vez que um gestor se

apropria da construção de campos de futebol para obter prestígio político.

A próxima subcategoria diz respeito aos meios de qualificação/formação que os

agentes públicos consideram como mais eficientes. De acordo com dados oriundos das

entrevistas, os gestores indicaram meios de qualificação/formação mais eficientes para

qualificar a atuação profissional no órgão responsável pelo esporte e lazer em que se

encontram, como podemos verificar na Tabela 9:

Tabela 9 - Meios de qualificação/ formação que os gestores públicos consideram mais

eficiente para qualificar a função que desempenham

Respostas Frequência

Cursos Presenciais 53

Cursos à Distância 11

Formação em Educação Física 5

Graduação 3

Formação em outras áreas, como Marketing Esportivo e Administração 2

Computador 1 Reciclagem anual com cursos e capacitações 1

Participação em jogos e campeonatos 1 Formação Continuada 1

Troca de experiências 1

Conhecer a realidade do município/região 1

* Dos 76 gestores 11 não responderam essa pergunta

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Como podemos observar, os meios de formação mais formais, como cursos e

curso superior, são indicados pelos gestores e, de modo recorrente, a formação em

Educação Física e nas áreas de Gestão e Administração, como já discutido

anteriormente. Mas, também verificamos a indicação de outros meios para

complementar essa formação, como reciclagem anual, formação continuada, troca de

experiências, conhecer a realidade do município ou região. Além dos dados

apresentados na Tabela 9, a fala dos gestores também expressa a consideração

desses outros meios nos processos de formação e capacitação:

Têm que ter o conhecimento da nossa realidade e um curso superior (G33). [...] boa parte é no convívio com outros gestores de outros municípios né, essa troca de informação a gente tem com os outros, buscando às vezes a opinião quando é construtiva né da própria população, o que que eles acham bom ter, o que seria bom tirar, é uma maneira de lidar com a população, uma troca de informações (G34). A, eu geralmente converso com os outros lugares, também os outros departamentos diretores, a gente tá trocando ideias experiências né, internet também né, leituras de jornal e sempre vendo o que o outro município tá fazendo e tentando né, trocando ideias, seria mais uma conversa, experiência, troca de experiência (G36).

Podemos considerar que a fala do G34, quando afirma considerar a opinião da

população, reflete um dos pontos elencados a partir do referencial teórico, o princípio

da participação popular, considerado um princípio importante para basear a formação e

atuação dos agentes públicos (ARAÚJO et al., 2007; MENEZES; OLIVEIRA; SOUZA,

2012; PINTOS; PERIM, 2013; BERNABÉ; NATALI, 2014). Já as falas de G36 e de G34,

quando consideram importante compartilhar experiências com outros agentes, refletem

o princípio das trocas e compartilhamento das experiências e práticas profissionais

também apontado anteriormente (BERNABÉ; NATALI, 2014). A fala dos gestores,

assim como os princípios elencados, refletem a importância do conhecimento empírico.

Por esse motivo, ressaltam que não só o conhecimento institucionalizado se faz

importante no processo de formação dos agentes, mas também o conhecimento

empírico que parte das vivências diárias, das trocas com outros agentes, do

compartilhamento das ações.

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Verificamos que o discurso dos gestores vai ao encontro dos princípios

elencados a partir do referencial teórico, princípios discutidos a partir de Bernabé e

Natali (2014), Pintos e Perim (2013) e, também, a partir das características e condições

estruturais da gestão pública municipal do esporte e lazer desenvolvidas em diferentes

contextos, como apresentado nos Quadros 1 e 2, que nos fazem pensar nos desafios e

dificuldades que os agentes encontram ou podem encontrar para o desenvolvimento de

suas ações. Portanto, podemos constatar que as características e as condições

estruturais da gestão pública municipal interferem ou possuem relação com os meios de

formação que os agentes julgam necessários para qualificar suas ações.

Ainda em relação à subcategoria meios de qualificação/formação que os agentes

públicos consideram como mais eficientes, os agentes técnicos também se

posicionaram a respeito desse assunto, porém, por meio de pergunta fechada

marcando, dentre as opções de múltipla escolha, as que consideravam meios de

capacitação/formação mais eficientes para qualificar a função que desempenham. As

respostas a esse questionamento são apresentadas na tabela a seguir:

Tabela 10 - Capacitação/formação que os agentes técnicos consideram mais eficiente

para qualificação profissional

Resposta Frequência

Cursos Presenciais 160

Internet 15

Cursos a Distância 14 Livros 13

Educação a Distância 1

Congressos 1 Seminários 1 Cursos Práticos 1 Artigos 1

A partir dos dados apresentados, podemos afirmar que novamente modelos

passivos de capacitação mostram-se presentes na opinião dos agentes técnicos, como

é o caso das respostas mais frequentes, os cursos e a internet. Respostas como

vivências diárias, troca de experiência com outros agentes, compartilhamento das

ações, ligadas ao que consideramos meios ativos de capacitação/formação não

fizeram-se presentes nas respostas dos agentes técnicos. Essa ausência pode ter

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ocorrido devido ao fato de que essas alternativas não estavam presentes dentre as

alternativas que poderiam marcar quando questionados a respeito dos meios que

consideravam mais eficientes. Porém, mesmo não se fazendo presentes dentre as

alternativas apontadas no questionário, havia a opção "outros", onde os agentes

técnicos poderiam indicar de forma aberta qualquer outro tipo de meio que

consideravam mais eficientes, caso este meio não estivesse listado dentre as opções a

eles apresentadas. Mesmo com essa possibilidade, somente cinco agentes técnicos

utilizaram desse recurso apresentando meios como educação à distância, congressos,

seminários, cursos práticos e artigos como outros meios para além dos que haviam

listados nas opções de múltipla escolha.

Comparando as respostas dessa subcategoria a respeito dos meios de

qualificação/formação que os agentes públicos consideram mais eficientes, um ponto

comum entre os dados dos gestores e os dados dos agentes técnicos é o fato do curso

presencial ser o mais frequente entre as respostas de ambos agentes.

Outra subcategoria que também reflete apontamentos que indicamos

inicialmente a partir do referencial teórico é a que diz respeito aos conhecimentos,

saberes e experiências que os gestores públicos julgam necessários para desenvolver

o trabalho que desempenham. Essa subcategoria fez-se presente somente nos dados

dos gestores, e, por esse motivo, somente apresentamos dados desses agentes, como

podemos observar a partir da Tabela 11:

Tabela 11 - Conhecimentos, saberes e experiências que os gestores públicos julgam

necessários para qualificar a função que desempenham

Respostas Frequência

Advindos da Educação Física 29

Advindos da Gestão Pública 15

Prática esportiva 15

Advindos de cursos 6

Advindos de experiências anteriores 5 Conhecer a comunidade 5 Advindos da troca de experiências 4 Conhecimentos e Saberes Políticos, Experiência Política 4 Gostar da área que atua 3 Saber lidar com a comunidade 2 Advindos de curso superior 2 Conhecimento Geral 1

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Saber se comunicar 1

* Dos 76 gestores 12 não responderam essa pergunta

Podemos verificar que os gestores apontaram como necessário conhecimentos,

saberes, experiências, competências advindos tanto da Educação Física quanto da

Gestão Pública, bem como aspectos relacionados à experiências e compartilhamento

dessas experiências e aspectos inerentes à política, como conhecer a comunidade,

saber lidar com essa comunidade, saber se comunicar e adquirir experiência política.

Nessa perspectiva, notamos que os apontamentos feitos pelos gestores vão ao

encontro do que Ocelli e Isayama (2015) identificaram em seu estudo com agentes

públicos da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) de Belo Horizonte. Os

autores afirmaram que o perfil dos agentes da SMEL envolvia saberes específicos da

área de atuação no esporte e lazer, bem como conhecimentos sobre política e domínio

de conteúdos relacionados à gestão (OCELLI; ISAYAMA, 2015). A fala de G6 retrata o

que constataram os autores em seu estudo:

Primeiro que eu tenho uma opinião, que acho que quem estiver na pasta, ou diretor ou secretário ou chefe, deveria ser um profissional da área. Primeiro porque a gente tem parte prática mais importante. Vale muito a parte prática. Me dá tranquilidade para trabalhar. Mas a parte teórica, principalmente de gestão, é primordial. Você ter certeza do que está fazendo [...] (G6).

Como podemos constatar, com a fala do G6, mesmo partindo do senso comum

ao dissociar a parte prática da parte teórica, o gestor afirma que tanto conhecimento

advindo da área de Educação Física, mais especificamente do esporte e lazer, quanto

conhecimentos de Gestão são necessários para desenvolver a função que executa em

seu município.

Ocelli e Isayama (2015) também afirmam que, nas falas dos sujeitos analisados,

identificaram a ausência em suas formações de saberes e competências da perspectiva

gerencial. Indo ao encontro da constatação dos autores, a necessidade de

conhecimentos advindos da área de Gestão foi o segundo ponto mais recorrente na fala

dos gestores, como apresentado na Tabela 8. Mas, por mais que considerem como

aspectos necessários à função que desempenham, apenas 19 gestores (Tabela 3)

afirmaram buscar formação nas áreas de Gestão ou Administração. Podemos verificar

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que, mesmo considerando relevante, os gestores não buscam formação nessas áreas

e, portanto, podemos afirmar que é uma lacuna na formação desses agentes, assim

como concluíram Ocelli e Isayama (2015).

Além de Ocelli e Isayama (2015) outros autores como Queiroz et al. (2011)

também afirmam que saberes, conhecimentos e competências oriundos das áreas de

Gestão e Administração são fatores importantes a serem considerados quando

pensamos na formação e atuação dos gestores públicos do esporte e lazer. Tendo em

vista que ao conceber, implementar, monitorar e avaliar políticas públicas de esporte e

lazer, será exigido desses agentes conhecimento acerca de processos gerenciais e

administrativos, por isso se torna relevante a presença de saberes, conhecimentos e

competências oriundos dessas áreas nos processos de formação e atuação.

Outro ponto em consonância com o que afirmam os autores Ocelli e Isayama

(2015) e com as competências discutidas anteriormente a partir do referencial teórico é

o fato de não só os processos formais de capacitação, como cursos de graduação e

cursos técnicos, serem considerados quando pensamos na formação dos agentes

públicos, mas também experiências cotidianas. Ocelli e Isayama (2015, p.02) afirmam

que o desenvolvimento das capacidades administrativas e gerenciais dos agentes

públicos deve ser enfatizado “nos processos formais de capacitação, mas também

absolvidos na vivência da coisa pública, nas relações e experiências cotidianas”.

Em relação à necessidade de processos de formação e capacitação dos agentes

públicos do esporte e lazer, Queiroz et al. (2011, p. 43) afirmam que “seria viável que os

órgãos competentes disponibilizassem capacitações específicas para os gestores” uma

vez que consideram que preparar e capacitar os agentes públicos seria uma alternativa

para se buscar melhorias e efetividade no desenvolvimento das políticas públicas de

esporte e lazer. Portanto, podemos constatar que aspectos discutidos pela literatura

vão ao encontro de alguns dados empíricos aqui analisados, o que nos faz considerar

não somente a importância dos conhecimentos institucionalizados, mas também os

conhecimentos advindos do contexto empírico no processo de formação dos agentes

públicos.

Outra subcategoria encontrada quando discutimos o processo de formação dos

agentes públicos do esporte e lazer diz respeito às políticas de formação. Em relação a

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essa subcategoria, além de perguntas relacionadas à própria formação e qualificação,

os gestores públicos responderam a uma pergunta que diz respeito à formação dos

agentes que trabalham no órgão que gerenciam. Foi questionado a eles se havia uma

política de formação, qualificação e atualização dos profissionais que ali atuavam. A

Tabela 12 apresenta essas respostas:

Tabela 12 - Política de formação, qualificação e atualização dos profissionais

Respostas Frequência

Por meio de incentivo ou apoio financeiro para participar de cursos,

congressos, eventos

38

Não possui política 36

Possui política 9

Não respondeu 11

Frente à esse questionamento alguns gestores apresentaram mais de uma

resposta, como apresenta a tabela. Alguns afirmaram não existir uma política voltada a

esse fim em seu município, mas que há auxílio à formação, qualificação e atualização

dos profissionais por meio de incentivo ou apoio para participarem de cursos,

congressos e eventos. Outros afirmaram que existe uma política e que ela é voltada ao

incentivo ou apoio financeiro para participação em cursos, congressos e eventos.

Outros ainda não afirmaram se existe ou não uma política de formação dos

profissionais do esporte e lazer em seu município, apenas afirmaram que existe algum

tipo de apoio ou incentivo.

Essa divergência nas respostas indica certa incompreensão dos gestores em

relação ao que é ou não uma política. Alguns afirmaram que há uma política pelo

simples fato de oferecerem certo apoio ou incentivo à realização de cursos ou eventos,

mas podemos questionar se isso de fato está contemplado em uma política do

município ou se ocorre de modo esporádico.

Sempre que está ao nosso alcance financeiro a gente consegue. Seja com transporte, com hotel a gente sempre com alguma coisa ta ajudando. Sempre apoiando eles pra que eles se aperfeiçoem (G10). [...] se estiver dentro da possibilidade administrativa financeira, contábil, nós ajudamos sim (G26). É, eu acho que, é meio difícil assim sabe, o apoio é bem pouco que a gente tem. No município pequeno é complicado. Investe muito na saúde,

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daí fica o esporte, a gente tem que se virar em patrocínio, essas coisas assim. Mas eu acho que fica meio difícil essa parte de cursos (G7). Precisa né, mas se tivesse uma verba, mas a gente depende tudo de lá, ai tem que falar, vai custar tanto. O financeiro vai falar se pode ir ou não (G49). É difícil. Quando tem condições eles mandam (G59). Então nós estamos limitados, como aqui não é secretaria, nós ficamos dependendo da prefeitura, então não há aquela formação, daquelas políticas formais assim, mas nós sempre, igual trabalhamos sempre nós dois, eu e a professora, nós sempre busca conhecimentos novos, sempre aperfeiçoar (G67). Se a prefeitura libera? É [...] está sendo um pouco difícil ainda essa liberação. A gente não tem conseguido ainda essa liberação pra sair (G73).

As falas nos dão indícios que esse apoio ou incentivo que a maioria dos gestores

afirmaram existir só ocorre quando há verba, quando há liberação da prefeitura ou

quando há auxílio ou patrocínio externo, sendo portanto na maioria dos casos, um

apoio ou incentivo esporádico e que pode não ocorrer por falta de recurso. Assim,

podemos considerar que essas ações ou eventos que acontecem nos municípios não

advêm da efetivação de políticas públicas de esporte e lazer, pois são pontuais ou

esporádicos.

No questionário dos agentes técnicos também havia uma pergunta que dá

indícios para pensarmos nesse apoio ou incentivo, o que permite comparar tais dados.

Foi perguntado, no questionário, se os agentes já haviam participado de algum curso de

capacitação/formação. As alternativas davam a opção de responderem se foram

oferecidos ou realizados cursos, com ou sem apoio do órgão púbico do qual fazem

parte. A Tabela 13 apresenta a frequência das respostas a esse questionamento:

Tabela 13 - Participação dos agentes técnicos em curso de capacitação/formação

Resposta Frequência

Não, não foi oferecido 67

Sim, com apoio 57

Sim, sem apoio 33 Não, não teve interesse 14

Não respondeu 14

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Figura 2 - Participação em curso de capacitação ou formação dos agentes técnicos

Fonte: A autora

A partir dos dados dos agentes técnicos, apresentados na Tabela 13 e na Figura

2, podemos averiguar que a maioria dos agentes não realizará cursos de

capacitação/formação, pois não foi oferecido por sua secretaria, departamento ou

fundação. Por outro lado, comparando os dados dos questionários com as entrevistas,

os gestores afirmam que esperam partir dos agentes o interesse em participar de

cursos, eventos e congressos:

[...] desde que eles queiram também, eu não posso obrigar ninguém a ir. Mas desde que eles queiram e vai beneficiar os meus munícipes, ai nós mandamos fazer, senão [...] (G2). Entrevistador: Se um professor vier pedir custeio ou auxilio para participai de um curso? Existe possibilidade? Gestor: Toda possibilidade. Só precisa da intenção né. Às vezes está todo mundo na zona de conforto né. “A os caras não pagam e eu não vou fazer” [Gestor se referindo a fala dos professores] (G26).

Podemos verificar, a partir dos diferentes dados, oriundos tanto das falas dos

gestores quanto dos questionários, que há descompasso nos posicionamentos. De um

lado, os agentes culpam a falta de oferta por parte dos órgãos públicos e, de outro, os

gestores afirmam que o interesse deveria partir dos próprios agentes técnicos. Mesmo

notada essa divergência, quando verificamos o próximo indicador de respostas da

39%

34%

19%

8%

Participação em curso de capacitação/formação

Não, não oferecido

Sim, com apoio

Sim, sem apoio

Não, não teve interesse

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Tabela 10 e do Gráfico, constatamos que a segunda maior frequência afirma que 34%

dos agentes participaram de cursos com apoio de sua secretaria ou departamento. Ou

seja, mesmo com essa divergência de opiniões entre gestores e agentes, ambos

afirmam que há apoio ou auxílio por parte dos órgãos públicos responsáveis pelo

esporte e lazer para participação em cursos.

Voltando aos dados dos gestores, apontados na Tabela 11, dos 9 gestores que

afirmaram que em seu município possuem lei específica a respeito de uma política de

formação dos agentes públicos, apenas um deles teceu comentários a esse respeito:

“Na verdade nesta lei que a gente tá fazendo no município, a gente já colocou que vai

ter a capacitação dos professores” (G41).

Entendemos que a criação e a efetivação de políticas de formação, qualificação

e atualização dos agentes públicos do esporte e lazer poderia solucionar divergências

de opiniões, pois os agentes não teriam que pedir permissão para participar de

capacitações e processos de formação, e seria algo ofertado pelo poder público.

Poderia ainda solucionar certos problemas, como o fato de existir apenas auxílio e

apoio que, em muitos casos, depende de liberações por parte do poder público

municipal e da disponibilidade de recursos do município.

Por todos esses pontos é que consideramos, como apresentado no início desse

capítulo, que a formação dos agentes públicos pode ser objetivada como um caminho

que os leve a assumir uma atitude reflexiva e propositiva frente aos processos,

contradições e dificuldades encontradas no meio em que estão inseridos. Esse contexto

de contradições e dificuldades enfrentado na gestão pública do esporte e lazer não é

uma característica somente dos municípios analisados. A partir da discussão que

realizamos no capítulo anterior constatamos que algumas dificuldades enfrentadas na

gestão pública municipal do esporte e lazer são comuns a diversos locais e realidades.

Ao considerar a importância da formação dos agentes públicos nesse contexto,

entendemos como relevante analisá-la. Para atingir tal finalidade, buscamos analisar a

formação para além da escolaridade, pois ponderamos que não só a obtenção de

títulos e diplomas por meios formais de educação é importante na formação dos

agentes públicos.

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Pautando-nos nas contribuições de Bourdieu a respeito da escola e do universo

escolar, como discutido no primeiro tópico desse capitulo, os certificados ou diplomas

não podem ser estimados como único aspecto qualificador dos agentes em nossa

sociedade. Essa é uma herança que advém desde o período de transição do Estado

dinástico para o Estado burocrático, quando os laços de sangue foram substituídos por

formas de autoridades independentes do parentesco e passaram a ser consideradas a

partir das competências e mérito dos agentes adquiridos por meio sistema escolar e da

obtenção de títulos e diplomas. Desde então, certificados e diplomas passaram a ser

admitidos como aspecto de escolha para admissão de profissionais em cargos ou

funções.

Porém, consideramos a partir das contribuições de Bourdieu, que os certificados

e diplomas são admitidos mediante processos formais de educação que reproduzem e

legitimam as desigualdades, não considerando as diferenças, características e

peculiaridades de cada agente. A escola e as instituições de ensino formais valorizam e

exigem dos alunos determinadas qualidades que são desproporcionalmente

distribuídas em nossa sociedade, certas famílias podem oferecer a seus filhos certos

bens culturais, fazendo-os se apropriarem de tipos de capital cultural que outras

famílias e seus filhos não possuem. Desse modo, as qualidades individuais de cada

agente são constituídas por meio da apropriação de capital cultural que estabelece

certa naturalidade no trato com a cultura e o saber que só aqueles que foram

socializados desta forma, desde a infância, possuem. A escola e demais instituições de

ensino, por sua vez, não valorizam as diferenças e acabam por não potencializar ou

demonstrar as qualidades individuas de cada agente, homogeneizando-os.

Portanto, os diplomas ou certificados, sendo resultado de todo esse processo,

são reconhecidos socialmente mas não garantem ou refletem aspectos qualificadores

que os agentes podem ou não possuir. Há outros fatores importantes a serem

considerados que não estão refletidos no grau de escolaridade ou títulos que os

agentes possuem. Assim, passamos a considerar que seria um tanto quanto limitado

analisarmos a formação dos agentes públicos a partir apenas da escolaridade.

Para identificar quais outros fatores são importantes na formação dos agentes a

partir do referencial teórico, discutimos a respeito de um perfil de competências

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inerentes à função que os agentes públicos desempenham, procurando demonstrar

possibilidades para se desenvolver processos de formação adaptáveis a cada realidade

e não modelos estáveis. Baseando-nos nas considerações de Zarifian (2001) e Tavares

(2010) entendemos que modelos de gestão por competências só se sustentam por

meio de um processo contínuo de formação a partir do desenvolvimento de

competências que dependerá, entre outros fatores, da pretensão e busca dos agentes,

bem como de políticas públicas que ofertem meios e possibilidades de formação aos

agentes públicos do esporte e lazer.

A partir dessas considerações passamos a analisar a formação dos agentes

públicos do esporte e lazer atuantes nos municípios do Paraná mediante as

subcategorias: características descritivas; curso de graduação; participação em cursos;

meios de qualificação; meios de qualificação mais eficientes; conhecimentos, saberes e

experiências necessárias à função que desempenham; e política de formação.

Em relação às características descritivas, no que se refere à escolaridade,

verificamos que a maioria dos agentes cursou ou está cursando o ensino superior

principalmente nas áreas de Educação Física e Administração. Semelhante

constatação é encontrada na literatura (BASTOS; MAZZEI, 2012; TAVARES, 2010).

Porém, os autores afirmam que mesmo sendo recorrente a procura por esses cursos

em nosso país, não há definição de quais seriam as disciplinas ou conteúdos

específicos à formação dos agentes para atuar na gestão do esporte (BASTOS;

MAZZEI, 2012). Nesse sentido, entendemos que os cursos em nível superior, por si só,

não dão conta dessa formação. Mesmo que fossem definidos disciplinas ou conteúdos

específicos para a formação em gestão do esporte e lazer entendemos que somente

cursos em nível superior não dariam conta da complexidade que envolve a formação

dos agentes públicos do esporte e lazer.

Assim, evidenciamos mais uma vez a necessidade de considerarmos outros

indicadores para além da escolaridade, dos diplomas ou títulos que os agentes

possuem, uma vez que são admitidos por meio de sistemas de ensino que, em muitos

casos, apenas reproduzem os conteúdos sem considerar as limitações ou

competências dos alunos. Frente ao entendimento que estes diplomas e títulos de

conclusão acabam por não refletir os aspectos qualificadores dos agentes, passamos a

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analisar, também, outros indicadores/subcategorias relacionados à formação dos

agentes.

A partir das análises, verificamos que, além dos meios mais formais, os agentes

também reconhecem outros meios de formação desenvolvidos no decorrer de ações

cotidianas, como ouvir a população, buscar constantemente compartilhar ações e

conhecimentos com outros agentes, realizar formações continuadas, pontos esses que

vão ao encontro do referencial admitido (BERNABÉ; NATALI, 2014; PINTOS; PERIM,

2013).

Em relação às políticas de formação, verificamos certa incompreensão do que

vem a ser política pois muitos gestores afirmaram que a política está pautada no apoio

ou incentivo à participação em eventos ou cursos de modo esporádico ou quando há

liberação de recursos. Essas ações, quando ocorrem, não caracterizam-se como

políticas públicas. Verificamos, portanto, que essa é uma carência da gestão pública

municipal do esporte e lazer nos municípios analisados. Os pontos aqui discutidos

podem representar caminhos para se configurar políticas públicas de formação dos

agentes públicos que atuam com o esporte e lazer na gestão púbica municipal.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação dos agentes públicos é um tema de discussão presente desde o

surgimento do Ministério do Esporte, nas discussões da Rede Cedes, e nos

documentos oficiais das Conferências Nacionais do Esporte. Dentre os pontos

retratados como fundamentais para o desenvolvimento do esporte e lazer em nosso

país afirma-se a necessidade de investimento em processos de formação dos agentes

públicos. Alguns programas de formação foram criados no interior de Programas

Federais, como PST e PELC, frente à necessidade de formar agentes para atuar na

gestão pública do esporte e lazer.

Mediante a relevância dessa temática, sinalizada pela literatura e constatada

também como foco de análise oriundo do universo empírico da realidade da gestão

pública do esporte e lazer, a partir da visita a 79 municípios do estado do Paraná,

objetivamos analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que atuam

nos municípios paranaenses.

Ao iniciar a discussão sobre formação, buscamos discutir a respeito das

características e condições estruturais da gestão pública municipal e como esse

contexto influencia a formação dos agentes públicos do esporte e lazer. A partir do

levantamento realizado por meio de informações do MEC verificamos a escassez de

cursos técnicos, de graduação ou de pós-graduação em gestão do esporte e lazer em

nosso país. Porém, mesmo considerando que a realização de cursos formais na área

seja uma das possibilidades quando pensamos na formação daqueles que atuam ou

atuarão na gestão do esporte e lazer, entendemos que esta não é e nem deve ser a

única alternativa. Assim, nos pautamos na literatura para buscar outros elementos

relevantes à formação dos agentes públicos.

Em relação ao cargo de gestor público, entendendo-o a partir da Teoria dos

Campos de Bourdieu, como agente que representa o Estado, que pode manter ou

modificar as estruturas existentes, apropriamo-nos das contribuições de autores que

discutem a respeito de um perfil de competências que este cargo exige. Verificamos

que as competências mais requeridas a este cargo referem-se a competências

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decisórias; de planejamento; de controle e gestão de recursos humanos, financeiros,

estruturais; de liderança e coordenação de equipes (JOAQUIM; BATISTA; CARVALHO,

2011; TAVARES, 2011). Porém, baseando-nos nas considerações de Soriano e

Winterstein (2006), entendemos que essas competências elencadas não podem refletir

um padrão fechado a ser considerado na formação dos agentes, desconsiderando

outras habilidades ou competências que não essas colocadas como referências.

Portanto, assumimos que outras competências advindas do senso prático podem ser

consideradas, como por exemplo a competência ética. Além dessa competência,

encontramos uma serie de fatores que Pintos e Perim (2013) consideram importantes

para ampliar a capacidade de governança e qualificar os processos de tomada de

decisões dos gestores públicos do esporte e lazer. Verificamos a importância desses

fatores quando se evidenciou, por meio do levantamento de estudos e pesquisas que

discutem a gestão pública do esporte e lazer, as dificuldades enfrentadas pelos agentes

públicos para a oferta do esporte e lazer em municípios brasileiros.

Entendemos que as dificuldades enfrentadas na gestão pública municipal do

esporte e lazer são reflexo do processo de municipalização e da não efetivação do

processo de descentralização do Estado brasileiro. Foi possível chegar a esse

entendimento, uma vez que, como constatado pelo referencial teórico apresentado no

capítulo três, a tentativa de transferência de poder decisório e financeiro aos estados e

municípios por meio do processo de descentralização do Estado, de modo que os entes

federativos pudessem decidir de modo local frente às suas prioridades, não se

concretizou em sua totalidade. Portanto, assume-se que os municípios ainda são

dependentes do Estado e não possuem total autonomia, como preconiza a Constituição

de 1988. O Estado ainda é o principal agente financiador ou autorizador de recursos,

mas nem sempre as responsabilidades transferidas aos municípios equivalem-se aos

recursos repassados (MENEZES, 2009). A partir desse contexto, verificamos que as

consequências da não efetivação do processo de descentralização do Estado refletem-

se nas dificuldades enfrentadas na gestão das políticas públicas em suas mais diversas

áreas, como a do esporte e lazer.

Por meio do referencial teórico, constatamos como principais dificuldades

enfrentadas pelos agentes públicos do esporte e lazer a falta ou insuficiência de

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recursos e investimentos na área; a limitação financeira dos municípios e,

consequentemente, da área do esporte e lazer, que acaba sendo considerada em

segundo plano por não ser considerada prioritária; a baixa quantidade de ações

continuadas e o baixo número de agentes públicos por falta de recurso ou dotação

orçamentária.

Por todos esses pontos e, a partir da constatação das dificuldades que

configuram as características e condições estruturais da gestão pública municipal do

esporte e lazer e que, consequentemente, devem ser enfrentadas pelos agentes

públicos, seja ele gestor ou agente técnico, passamos a considerar a formação à luz do

referencial teórico, como um meio para se atingir uma atuação consciente e qualificada

de um agente do Estado. Assim, a literatura nos permitiu identificar os principais pontos

relevantes a serem considerados nos processos de formação desses agentes: busca

pela qualidade da gestão; princípio das vivências e práticas sociais diversificadas para

preservar e dar utilidade aos recursos disponíveis; princípio da participação popular;

definição das funções e responsabilidades frente aos objetivos propostos; domínio dos

conhecimentos, técnicas e saberes do esporte e lazer; busca pela efetivação das

políticas; reflexão das ações, buscando corrigir falhas e avançar por meio das trocas e

compartilhamento de experiências; princípio da formação política e social

(MARCELLINO et al., 2007; PINTOS; PERIM, 2013; BERNABÉ; NATALI, 2014).

Com base nessas discussões, em relação à categoria de análise formação,

podemos considerar que os resultados encontrados a partir dos dados empíricos e

análise das subcategorias dialogam com o referencial teórico, pois possuem certa

convergência com características, condições estruturais e competências discutidas

inicialmente. De certo modo, foi possível constatar que as características e as

condições estruturais da gestão pública municipal do esporte e lazer influenciam no

modo como a formação dos agentes é desenvolvida, considerando os tipos de

capacitações que os agentes realizam, os meios de qualificação que consideram mais

adequados ou eficientes e a presença ou não de políticas de formação.

Para descrevermos os agentes, segundo os quais nos referíamos nas analises,

elencamos a subcategoria de análise voltada as características descritivas. Ao

analisarmos essa subcategoria constatamos que a maioria dos agentes públicos é do

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sexo masculino e que a média de idade dos gestores é maior que a dos agentes

técnicos. A partir da imersão na realidade municipal e dos dados coletados pudemos

analisar que essa diferença de idade possui relação com a experiência profissional dos

agentes. Os gestores que, em sua maioria, possuem mais idade que os agentes

técnicos, apresentam mais experiências na gestão pública. Muitos relataram que, antes

de assumirem o cargo de gestor, trabalhavam em outra função, seja como professor de

educação física, técnico esportivo ou outros cargos no setor público. Quanto à

escolaridade, o ensino superior completo prevalece, mas entre os agentes técnicos

constatamos uma grande frequência no indicador ensino superior incompleto, pois

muitos ainda cursavam a graduação.

Ao analisar as demais subcategorias, verificamos que os agentes reconhecem e

buscam participar de cursos e palestras, meios que consideramos como processos

formais de formação, mas também reconhecem e buscam participar de outros meios

como experiência diária, troca de experiência com outros agentes, formação

continuada, entre outros.

Portanto, podemos afirmar que os meios de capacitações mais frequentes entre

os agentes são meios passivos de formação como cursos e palestras e, os meios de

capacitação mais eficientes são os cursos presenciais. Meios estes que consideramos

como meios formais de formação.

Em relação ao papel desempenhado pelos gestores, o capital político foi um dos

pontos discutidos por entender que desempenham uma função política em um meio

político. A ascensão política por meio do esporte é outro ponto destacado a partir da

fala de um gestor ao relatar um acontecimento em seu município. Por meio desse

destaque, verificamos que a presença de interesses e lucros particulares a partir da

apropriação do público, "da coisa pública", ressaltado por Bourdieu (2005) como

consequência da transição do Estado dinástico para o Estado burocrático, faz-se

presente também na realidade da gestão pública municipal.

Portanto, por todos esses pontos, podemos considerar que a análise dos dados

dos agentes (tanto gestores quanto agentes técnicos) ressalta que não só o

conhecimento institucionalizado, por meio da realização de cursos e do ensino superior

por exemplo, mas também o conhecimento empírico que parte das vivências diárias,

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das trocas com outros agentes, do compartilhamento das ações, entre outros, são

importantes no processo de formação dos agentes

Em relação à importância da realização de cursos de capacitação e formação

verificamos um descompasso nos posicionamentos: de um lado, os agentes técnicos

culpam a falta de oferta por parte dos órgãos públicos e, de outro, os gestores afirmam

que o interesse deveria partir dos próprios agentes técnicos. A partir da verificação

desse descompasso nos posicionamentos podemos averiguar que a formação foi

tratada como um problema pessoal, retirando das organizações públicas e do Estado a

responsabilização por políticas de formação dos agentes que trabalham em prol do bem

comum. Esse descompasso também apresenta que não são levados em consideração

a realidade social de cada agente público, a capacidade de poder ou buscar formação,

capacidade essa estabelecida por condições macroestruturais como, por exemplo, a

falta de tempo disponível e a falta de condições econômicas em virtude de baixos

salários.

A consideração da formação como problema pessoal pode estar relacionada ao

fato de termos constatado a ausência de políticas de formação dos agentes públicos do

esporte e lazer nos municípios analisados. Podemos analisar, portanto, que, quando

não há políticas institucionalizadas, a formação acaba ficando refém do caráter

personalista da política, como podemos perceber em alusões das falas dos agentes:

“se o(a) secretário(a) permitir ou não”, “se o prefeito permitir ou não”, bem como refém

do caráter orçamentário: “o apoio existe quando há recurso”, “se sobrar verba aí

apoiamos a realização de cursos de formação”.

Por todas as discussões aqui referenciadas, podemos considerar que a

institucionalização de políticas de formação para os agentes públicos pode refletir em

soluções frente aos problemas encontrados na gestão pública municipal do esporte e

lazer em relação à formação dos agentes. Porém, entendemos que a criação e

efetivação de políticas requer discussões que analisem o melhor modo de desenvolvê-

las, de forma que congreguem as necessidades dos agentes e da gestão pública em

prol da oferta do esporte e lazer como direito social. Portanto, esse trabalho limita-se a

apontar tal necessidade e aspectos que possam vir a ser considerados em processos

de formação dos agentes públicos, ao mesmo tempo em que avança por iniciar a

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discussão da temática e incitar a necessidade de novos estudos e pesquisas que se

voltem a esse tema.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

ANÁLISE DOS AGENTES PÚBLICOS DO SISTEMA NACIONAL DE ESPORTE – GEPPOL – MARINGÁ 2014

Data da pesquisa: ____/____/____ Pesquisador (a)_________________________

1. Local da Entrevista ________________________________________________

2. Município _______________________________________________________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

3. Data de nascimento ____/____/____ Sexo ________________

4. Escolaridade:

Curso de Graduação: ________________________________________________

Instituição:______________________________ Ano de conclusão: ___________

Curso de Pós-graduação: _____________________________________________

Instituição:______________________________ Ano de conclusão: ___________

5. Qual seu cargo / função atual? ______________________________________

6. Como se deu seu ingresso nessa função/cargo? ________________________

7. Qual sua renda mensal relacionada/relativa ao Esporte e Lazer nesta instituição?

(1) até um salário mínimo (SM) (R$724,00) (2) 1 a 3 SM (724,00 a 2.172,00)

(3) 3 a 5 SM (2.172,00 a 3.620,00) (4) Mais de 5 SM (3.620,00)

8. Etnia:___________________

9. Filiação partidária:________________ Prefeito: ________________________

ACESSO A INFORMAÇÃO:

10. Quais os principais meios de comunicação que você utiliza para se informar?

11. Você tem acesso à internet? Quantas vezes por semana? Quanto tempo por dia?

12. Acessa algum site específico relativo ao esporte e lazer? Qual?

13. Já participou de algum curso à distância e/ou presencial? E formação voltada para o

esporte e lazer? Qual?

14. Como você busca qualificação para exercer sua função?

15. Qual a forma de capacitação/formação você considera que seja mais eficiente para

qualificar sua atuação profissional na secretaria/departamento?

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DADOS DA PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER

NO MUNICÍPIO

16. Há quanto tempo você trabalha com Gestão do Esporte e Lazer?

17. Quais os conhecimentos, saberes e experiências que você julga necessários para

desenvolver seu trabalho?

18. Qual seu conhecimento em relação às Leis sobre esporte e lazer (municipais,

estaduais e federais)?

19. Qual o seu entendimento acerca do esporte?

20. Qual seu entendimento acerca do lazer?

21. Em sua opinião, qual deveria ser o papel do poder público municipal em relação

ao esporte e ao lazer?

22. A sua Secretaria/Departamento possui algum tipo de planejamento nas ações

relacionadas a políticas públicas de esporte e lazer? Quais?

23. O que é priorizado / objetivado com as políticas públicas de esporte e lazer?

24. Qual a organização da secretaria/departamento? (Quantas diretorias,

coordenações, funcionários). Como ocorre a contratação desses profissionais?

25. Em seu município existe a participação popular nas discussões acerca do

esporte e do lazer? Existe algum tipo de conselho?

26. Qual o orçamento da Secretaria/Departamento? Quanto representa

percentualmente em relação ao orçamento geral do município? Ele é suficiente

para o desenvolvimento de esporte e lazer? Por quê?

27. Quais são as principais ações, programas e projetos de esporte desta

Secretaria/Departamento? Existe algum tipo de financiamento ou apoio externo?

28. Quais são as principais ações, programas e projetos de lazer desta

Secretaria/Departamento? Existe algum tipo de financiamento ou apoio externo?

29. Você considera que a gestão do esporte e do lazer pode/deve ser desenvolvido

atrelado a outros setores/departamentos em seu município?

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30. Os espaços para o esporte e lazer são suficientes para a execução de suas

ações? Está programada construção, ampliação e conservação de novos

espaços específicos de esporte e lazer no município?

31. A secretaria/departamento atua também em distritos e áreas rurais? De que

forma?

32. Há uma política de formação, qualificação e atualização dos profissionais da

instituição? Quem são os responsáveis pela formação dos profissionais de

esporte e lazer?

33. Existe alguma informação relevante sobre o esporte e lazer no município que

gostaria de mencionar?

34. Há ações ou estruturas descentralizadas (parcerias com instituições, secretarias

e outros departamentos)? Quais?

35. Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento de sua gestão nesta

Secretaria/Departamento?

36. Em sua opinião, qual deveria ser a função de sua Secretaria/Departamento em

relação ao esporte e ao lazer no município?

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135

APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO APLICADO JUNTO AOS AGENTES PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER – PROFESSORES E ESTAGIÁRIOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE

MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PARANÁ

QUESTIONÁRIO – GEPPOL – MARINGÁ 2014

ANÁLISE DOS AGENTES PÚBLICOS DO SISTEMA NACIONAL DE ESPORTE

Caro (a) participante,

Este questionário tem por objetivo a coleta de dados para a pesquisa do grupo

GEPPOL da UEM, com a intenção de analisar os Agentes Públicos do Sistema

Nacional de Esporte e Lazer. É importante ressaltar que não é necessária a

identificação do participante e, que os dados serão acessados apenas pela

equipe de pesquisadores. O questionário é composto por questões abertas e

fechadas, e em algumas questões, é facultativo o comentário.

Agradecemos a colaboração - Grupo GEPPOL – DEF/UEM

Data da pesquisa: ___/___/___ Pesquisador (a)

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1) Data de nascimento (____/____/____)

2) Sexo ( 1 ) FEM ( 2 ) MASC

3) Escolaridade ( 1 ) Ensino fundamental incompleto ( 2 ) Ensino fundamental completo ( 3 ) Ensino médio incompleto ( 4 ) Ensino médio completo ( 5 ) Ensino superior incompleto. Qual o curso de graduação? ( 6 ) Ensino superior completo. Qual o curso de graduação? ( 7 ) Pós graduação. Qual nível/curso?

4) Ano de conclusão:

graduação:

pós-graduação:

5) Em qual instituição se formou:

graduação:

pós-graduação:

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6) Qual sua renda mensal relacionada ao Esporte e Lazer nesta instituição? (1) até um salário mínimo (SM) (R$724,00) (2) 1 a 3 SM (724,00 a 2.172,00) (3) 3 a 5 SM (2.172,00 a 3.620,00) (4) Mais de 5 SM (3.620,00)

7) Etnia 8) Qual seu cargo / função atual?

9) Possui filiação partidária? (1) Sim. Qual: (2) Não

ACESSO A INFORMAÇÃO

10) Quais as suas principais formas de acesso à informação?

(1) Internet (2) Livros/Periódicos (3) Revistas (4) Jornais (5) TV (6) Rádio

11) Você tem acesso à internet?

(1) Sim, no trabalho (2) Sim, em casa (3) Em casa e no trabalho (4) Não

12) Acessa algum site específico relativo ao esporte e lazer?

(1) Sim. Qual: (2) Não

13) Você realizou algum curso presencial e/ou à distância voltado para o esporte e

lazer?

(1) Sim. Qual: (2) Não

ATUAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

14) Qual o órgão responsável pelo esporte e lazer no município?

(1) Secretaria (2) Departamento (3) Fundação

(4)Terceirizado (5) outro. Quais:

15) Qual a sua experiência em relação à função que exerce atualmente?

(1) Nenhuma (2) Trabalhou na gestão anterior (3) Trabalhou em outro

município

(4) Trabalha em instituição privada (5) Outro:

16) Qual seu tempo de experiência em prefeitura?

(1) Até 2 anos (2) 2 a 4 anos (3) 4 a 10 anos (4) 10 anos ou mais

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17) Há quanto tempo você trabalha nesta função, nesta instituição?

(1) Até 2 anos (2) 2 a 4 anos (3) 4 a 10 anos (4) 10 anos ou mais

18) Qual a forma de ingresso na prefeitura:

(1) indicação política (2) concurso público (3) contratação temporária

(4) terceirização (5) outra:

19) Você trabalha em mais algum lugar?

(1) Sim, mesma função (2) Não (3) Sim, outra função – Qual?

20) Você participou de algum curso de capacitação / formação?

(1) Não, porque não foi oferecido.

(2) Não, porque não pude / não tive interesse.

(3) Sim, oferecido fora de minha Secretaria/Departamento, com apoio. Qual?

(4) Sim, oferecido fora de minha Secretaria/Departamento, sem apoio. Qual?

21) Que tipo de capacitação / formação você participou?

(1) Palestras (2) Reuniões Pedagógicas (3) Seminários (4) Grupos de Estudos

(5) Congressos (6) Cursos Temáticos (7) Outros – Quais?

22) Qual a forma de capacitação/formação você considera que seja mais eficiente para

qualificar sua atuação profissional na secretaria/departamento?

(1) Internet (2) Cursos presenciais (3) Cursos à distância (4) Livros/Periódicos

(5) Outros. Quais?

DADOS DA PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER NO MUNICÍPIO

23) Em sua opinião as ações de sua Secretaria/Departamento, interferem no município e na vida da população?

(1) Sim. De que forma?

(2) Não. Por que?

(3) Não sei.

24) Você conhece os objetivos, os princípios e as diretrizes de esporte e lazer de sua

Secretaria/Departamento?

(1) Sim. Quais? (2) Não.

25) Você sente uma valorização ou desvalorização do esporte e do lazer frente às

outras áreas do município?

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(1) Valorização. Em relação a quais áreas?

(2) Desvalorização. Em relação a quais áreas?

26) Quais as principais políticas públicas de esporte e lazer no município?

27) Qual seu entendimento sobre esporte?

28) Qual seu entendimento sobre lazer?

29) Qual a sua opinião sobre a oferta do esporte e lazer para a comunidade?

30) Em sua opinião, qual deveria ser o papel do poder público municipal em relação ao

esporte e ao lazer?

31) Qual seu conhecimento em relação às Leis estaduais e federais sobre esporte e

lazer?

32) Existe alguma Lei em seu município referente ao esporte e lazer? Esta lei está

sendo efetivada/aplicada atualmente? Como?

33) Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento de seu trabalho na

Secretaria/Departamento?

34) Existe alguma informação relevante sobre o esporte e lazer no município que

gostaria de mencionar?

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ANEXOS

Page 141: FORMAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS DO ESPORTE E LAZER …repositorio.uem.br:8080/jspui/bitstream/1/2217/1/000222662.pdfprincipalmente nesse momento de reta final, tão intenso, difícil

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