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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ASSOCIADO EM
EDUCAÇÃO FÍSICA – UEM/UEL
Maringá 2016
ANDRESSA PELOI BERNABÉ
FORMAÇÃO DOS AGENTES
PÚBLICOS DO ESPORTE E LAZER EM
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO
PARANÁ
1
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física – UEM/UEL, para obtenção do título de Mestre em Educação Física.
Maringá
2016
ANDRESSA PELOI BERNABÉ
FORMAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS DO
ESPORTE E LAZER EM MUNICÍPIOS DO
ESTADO DO PARANÁ
Orientador: Prof. Dr. Fernando Augusto Starepravo
2
3
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos que, de alguma maneira, contribuíram para minha formação e obtenção do título de mestre: A Deus, por iluminar meu caminho, e nos momentos difíceis não me permitir desistir.
À toda minha família, principalmente meus pais e minha irmã, por sempre me apoiarem, incentivarem e compartilharem momentos de alegria e esperança ao longo de toda minha formação acadêmica.
Ao Vanderlei, meu amigo, companheiro, namorado, porto seguro, por sempre me apoiar e ser exemplo de esforço e dedicação. Por permanecer ao meu lado, principalmente nesse momento de reta final, tão intenso, difícil e doloroso, e por me fazer acreditar que eu era capaz e que tudo daria certo no final. Meus queridos amigos que são luz em minha vida e me compreendem tão bem, Vitor e Ananda. Serei eternamente grata pela cumplicidade ao longo de todos esses anos de amizade. Assim como à querida e sempre meiga Andressa Contreira, que além do nome tem muito em comum comigo e que mesmo que não esteja há tanto tempo em minha vida, também me compreende tão bem. Obrigada pelas conversas, pela gentileza, pelas contribuições e troca de conhecimentos, por sempre me ajudarem quando eu mais precisava, por entenderem minhas aflições e dúvidas, mas acima de tudo, por me apoiarem e mostrarem minhas qualidades que, por vezes, relutei em enxergá-las. Vocês são exemplos que sempre irei seguir de humanidade, de profissionalismo e de sensibilidade, essenciais à docência. Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Augusto Starepravo, que veio até a mim no final do ano de 2012 me convidar para desenvolver um estudo sobre megaeventos esportivos e que, a partir desse simples gesto, motivou-me a seguir a carreira acadêmica. Desde então, contribuiu muito com minha formação acadêmica. Sou grata a todo apoio, incentivo, acompanhamento, compreensão e compromisso que teve comigo durante todos esses anos. Agradeço também aos colegas do GEPPOL, pelos momentos que passamos juntos que possibilitaram troca de informações e conhecimentos, além de muitas risadas e bons momentos principalmente no decorrer das viagens de coleta de dados do ''Projeto dos Gestores''. A todos meus amigos que sempre torceram por mim, com os quais sei que sempre posso contar, mesmo aqueles que por ventura estão distantes. Também às minhas ''irmãs'' de mestrado que levarei para toda vida, Ari e Andrea, por
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compartilharmos praticamente todos os momentos juntas, enfrentando desafios e dificuldades mesmo com nossas diferenças. Aos funcionários e colegas do programa de Pós-Graduação e do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá pelo auxílio e contribuições frente aos árduos problemas burocráticos e acadêmicos. Aos órgãos de fomento pelas bolsas de estudo concedidas no decorrer desses dois anos de mestrado. Minha gratidão aos professores que proporcionaram oportunidades únicas à minha formação, contribuindo com seus conhecimentos e saberes. Ao Prof. Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira que, no momento do exame de qualificação, apontou suas contribuições a esse estudo. Ao Prof. Dr. Carlos Nazareno Ferreira Borges que, na banca de qualificação e defesa, também contribuiu com apontamentos e sugestões. Sou grata principalmente por sua disponibilidade irrestrita em contribuir com essa dissertação. À Profa. Dra. Larissa Michelle Lara que já proporcionou inúmeras oportunidades enriquecedoras em minha formação, e que prontamente aceitou o convite em compor a banca. É um prazer poder contar com seu conhecimento em mais esse momento. Aos demais que, embora não mencionados, torceram para que eu completasse mais essa etapa com sucesso, recebam meus agradecimentos em forma de um sincero abraço!
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BERNABÉ, Andressa Peloi. Formação dos agentes públicos do esporte e lazer em municípios do estado do Paraná. 2016. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Educação Física. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
RESUMO
A formação dos agentes públicos do esporte e lazer é um tema presente tanto nas discussões empíricas no subcampo político/burocrático do esporte e lazer quanto na comunidade cientifico/acadêmica. Ressalta-se que a formação pode ter reflexo direto na qualidade das ações de esporte e lazer ofertadas pelos agentes públicos (MEZZADRI et al., 2006; ARAÚJO et al., 2007). Pautando-nos na relevância e necessidade de discussão da temática em questão, objetivamos analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que atuam nos municípios do estado do Paraná, por meio da contextualização da gestão pública do esporte e lazer municipal e da discussão a respeito das características e condições estruturais da gestão pública do esporte e lazer e sua relação com a formação dos agentes públicos. A presente pesquisa foi delineada a partir de pressupostos da Teoria dos Campos, enquanto modelo analítico, e do conjunto de métodos prescritos pela Sociologia Reflexiva, de Pierre Bourdieu. Em relação aos dados empíricos, selecionamos os dados referentes à categoria “formação” do banco de dados do Projeto de Pesquisa “Análise dos agentes públicos do Sistema Nacional de Esporte”, desenvolvido em conjunto com pesquisadores do GEPPOL/DEF/UEM. Os dados são oriundos de entrevistas e questionários aplicados a agentes públicos atuantes em 79 municípios do Paraná. À luz do referencial teórico e da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), verificamos que a maioria dos agentes públicos são homens, que a média de idade dos gestores é maior que a média de idade dos agentes técnicos e que Educação Física e Administração são os cursos de graduação mais recorrentes. A maioria dos agentes já participou de cursos, os meios de qualificação mais frequentes são meios passivos de formação, como palestras e cursos, e os conhecimentos, saberes e experiências que os agentes julgam necessários à função que desempenham são aqueles advindos da Educação Física e da Gestão Pública. Portanto, de modo geral, analisamos que os agentes buscam meios formais de formação, mas também verificamos a presença de outros meios como experiência diária, troca de experiência com outros agentes e formação continuada. Constatamos também que, nos municípios analisados, não há políticas de formação dos agentes públicos do esporte e lazer e, por esse motivo, a formação acaba refém do caráter personalista. Nesse sentido, apontamos a necessidade da institucionalização de políticas de formação, levando em consideração as características e as condições estruturais da gestão e como estas interferem nos principais meios e competências necessários à formação dos agentes públicos de modo a refletir na qualificação da gestão pública municipal do esporte e lazer.
Palavras-Chave: Formação; Agentes públicos do esporte e lazer; Políticas Públicas.
7
BERNABÉ, Andressa Peloi. The formation of public agents of leisure and sport in the cities of Paraná State. 2016. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Educação Física. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
ABSTRACT
The formation of public agents of leisure and sports it is a discussed theme in both empirical discussions in political/bureaucratic subfield of leisure and sports as on scientific/academic community. It is noteworthy that formation can have a direct impact on quality of sporting and leisure activities offered by state agents, and the qualitative improvement can occur, for example, through formation permanent programs (MEZZADRI et al., 2006; ARAÚJO et al., 2007). Basing on relevance and need on the thematic discussion concerned, we aimed to analyse the formation of public agents of leisure and sport that operate in cities of state of Paraná, through the context of public municipal administration of leisure and sport and the discussion about characteristics and structural conditions of public administration of leisure and sport, and its relation to public agents formation on the state of Paraná cities. The methodological development of this research was defined based on assumptions of Fields Theory, while analytical model and set of methods prescribed by Reflexive Sociology of Pierre Bourdieu. In relation to the empirical data, we selected data concerning the "formation" category of the database obtained by collecting Research Project of field "Analysis of public agentes of National Sports System", developed in conjunction with the researchers of the GEPPOL/DEF/UEM. The data come from interviews and questionnaires aplied to the public agents operating in 79 municipalities of the state of Paraná. In light of the theoretical framework and of the principles of Content Analysis (BARDIN, 2011), we found that most of public agentes are men, the average age of the agentes is higher than the average of the technical agents and that Physical Education and Administration are the most recurrent graduation courses. Most of agentes have participated in courses, the most frequent qualifications ways are passive of formation, such as lectures and courses, knowledge, skills and experiences that the agentes believe that is necessary to their function from those arising from the Physical Education and Public Management. So, generally, we analyze that the agentes seek for formal ways of formation, but also verifyed the presence of other ways such as: daily experience, exchange of experience with other agents and continuing formation. We also note that on the analyzed cities there are no formation policies of the public agents of leisure and sport and, therefore, the formation ends up hostage of the politics personalist character. In this sense, we point out the need for institutionalization of training policies considering the characteristics and structural conditions of management and how these interfer on principal ways and necessary competences to the formation of the public agentes which may reflect in the quality of municipal management of sports and leisure. Keywords: Formation; Public agents of leisure and sport; Public policy.
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Cidades sorteadas para compor a pesquisa “Análise dos agentes públicos do Sistema Nacional de Esporte” ..............
22
FIGURA 2 - Participação em curso de capacitação ou formação dos agentes técnicos ...................................................................
112
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Estudos sobre gestão pública do esporte e lazer ................. 59
QUADRO 2 - Projetos de pesquisa sobre gestão pública do esporte e lazer ......................................................................................
63
QUADRO 3 -
Competências do profissional ...............................................
87
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Cursos de Gestão Desportiva e do Lazer cadastrados no MEC (2015) ..........................................................................
81
TABELA 2 - Características descritivas dos gestores públicos ............... 96
TABELA 3 - Características descritivas dos agentes técnicos ................ 96
TABELA 4 - Curso de Graduação dos gestores públicos ........................ 97
TABELA 5 - Curso de Graduação dos agentes técnicos ......................... 98
TABELA 6 - Participação em cursos voltados ao esporte e lazer .......... 99
TABELA 7 - Como os gestores públicos buscam qualificação/formação para exercerem a função que desempenham .....................
100
TABELA 8 - Como os agentes técnicos buscam qualificação/formação para exercerem a função que desempenham .....................
101
TABELA 9 - Meios de qualificação/formação que os gestores públicos consideram mais eficiente para qualificar a função que desempenham .....................................................................
104
TABELA 10 - Capacitação/formação que os agentes técnicos consideram mais eficiente para qualificação profissional ....
106
TABELA 11 - Conhecimentos, saberes e experiências que os gestores públicos julgam necessários para qualificar a função que desempenham .....................................................................
107
TABELA 12 - Política de formação, qualificação e atuação dos profissionais .........................................................................
110
TABELA 13 - Participação dos agentes técnicos em curso de capacitação/formação ..........................................................
111
11
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AMEG Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas
CNE Conferência Nacional do Esporte
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico
DEF Departamento de Educação Física
FESP Fundação de Ensino Superior de Passos (Minas Gerais)
GEPPOL Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas de Esporte e Lazer
ME Ministério do Esporte
ONG Organização não governamental
PELC Programa Esporte e Lazer da Cidade
PIB Produto Interno Bruto
PST Programa Segundo Tempo
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
UEM Universidade Estadual de Maringá
UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12
1.1 Justificativa ............................................................................................. 14
1.2 Metodologia ............................................................................................ 19
2 O CAMPO POLÍTICO-BUROCRÁTICO E A GESTÃO MUNICIPAL ......
25
2.1 A Teoria dos Campos e a Sociologia Reflexiva ..................................... 25
2.2 Campo político-burocrático ..................................................................... 32
3 GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL ............................................................. 41
3.1 Municipalização e a constituição dos municípios brasileiros .................. 41
3.2 A gestão pública municipal do esporte e lazer ....................................... 56
4 FORMAÇÃO EM GESTÃO DO ESPORTE E LAZER .............................. 75
4.1 Formação de agentes públicos .............................................................. 75
4.2 Análise da formação dos agentes públicos do esporte e lazer nos municípios do estado do Paraná ..................................................................
94
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 117
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 123
APÊNDICES ................................................................................................. 130
ANEXOS ...................................................................................................... 138
13
1 INTRODUÇÃO
Desde a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em
1988, o esporte e o lazer foram instituídos como direitos sociais passando o Estado
a responsabilizar-se pela oferta desses direitos à toda população. Assim,
substancialmente, tal responsabilidade recaiu a todos os entes federados, ou seja,
União, estados e municípios.
Haja vista que a Constituição e a lei infraconstitucional referente ao esporte –
a Lei Pelé – não estabelecem as atribuições dos estados e dos municípios em
relação à oferta do esporte e lazer à população, entende-se que a legislação apenas
conferiu, a essas instâncias do poder público, autonomia em relação à constituição
de seus próprios sistemas de esporte e lazer. Portanto, essa instituição de imediato
não acarretou mudanças profundas de modo que fossem reconhecidos como
direitos sociais amplamente difundidos na sociedade.
Todavia, como a Constituição de 1988 estabeleceu o esporte e o lazer como
direitos sociais, fez-se necessário a efetivação de políticas públicas voltadas a
materialização deste direitos à população. Por políticas públicas pode-se entender "o
Estado em ação", a partir de uma configuração bastante complexa, que depende de
fatores como orçamento, arranjos políticos, agentes, dentre outros.
Frente ao complexo contexto do Estado brasileiro responsável pela garantia
do acesso ao esporte e ao lazer por meio de políticas públicas, que se constituem de
maneira autônoma em estados e municípios, e que apresentam múltiplas
configurações decorrentes dos diferentes orçamentos, arranjos políticos e
configurações estabelecidas, os agentes públicos que elaboram e implementam
políticas públicas de esporte e lazer merecem destaque. Os agentes são entendidos
como sujeitos primordiais na efetivação e gestão das políticas públicas de esporte e
lazer, uma vez que atuam decisivamente na arena política1 e desenvolvem os
programas, os projetos e as ações de esporte e lazer na sociedade.
Neste estudo, especificamente, o foco volta-se ao contexto municipal de
desenvolvimento do esporte e lazer como direitos sociais. Portanto, os agentes
1 De acordo com Frey (2000), a arena política é constituída por processos de conflito e de consenso
que culminam na configuração de uma política pública.
14
públicos são entendidos aqui como os principais sujeitos responsáveis pela gestão
pública do esporte e lazer no foco aqui delimitado, o contexto municipal.
Ao nos pautarmos nos preceitos da Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu,
entendemos os agentes como sujeitos de ação que podem modificar ou manter as
estruturas sociais existentes. Na realidade social de nosso país, os agentes são
entendidos como aqueles que atuam em entidades voltadas ao desenvolvimento de
políticas públicas e oferta do esporte e lazer à população, seja no Ministério do
Esporte, em âmbito federal, ou nas secretarias e órgãos estaduais ou municipais
ligados ao esporte e lazer. Para o escopo de análise do nosso estudo, consideramos
os agentes púbicos do esporte e lazer atuantes no âmbito municipal, sendo eles
professores, estagiários, profissionais técnicos e gestores (secretário ou diretor
responsável pelo órgão público municipal voltado ao esporte e lazer).
Entendidos como sujeitos que podem modificar ou manter as estruturas
sociais existentes, as ações dos agentes públicos no âmbito da gestão pública
podem abrir caminhos de mudança frente ao maior reconhecimento e difusão do
esporte e do lazer como direitos sociais em nosso país. Nesse contexto,
entendemos que a formação dos agentes pode influenciar o desenvolvimento de
suas ações voltadas a essa difusão do esporte e do lazer como direitos sociais e,
por esse motivo, destacamos a relevância de discussões e estudos a respeito da
formação desses agentes. Araújo et al. (2007), por exemplo, afirmam que o baixo
nível de escolaridade e a falta de formação adequada, relacionados ao capital
cultural e social que o agente possui, têm reflexo direto na qualidade das ações de
esporte e lazer ofertadas pelos agentes públicos do esporte e lazer. Mezzadri et al.
(2006, s/p) também afirmam a importância e necessidade de se discutir e investir na
formação dos agentes públicos por entenderem que: “é fundamental termos um
aumento da quantidade e da qualidade dos profissionais que trabalham na área. A
sua melhora qualitativa pode se dar, por exemplo, através de programas
permanentes de capacitação”.
A partir dessa contextualização, consideramos que a formação dos agentes
pode ser um aspecto crucial na gestão pública do esporte e lazer. É importante
ressaltar que, a princípio, consideramos que a formação não diz respeito apenas ao
nível de escolaridade dos agentes. A formação a que nos referimos caracteriza-se
como um processo constante, tanto no sentido formal, a partir de cursos de
15
graduação e pós-graduação, quanto em sentido diário, a partir da participação em
cursos, capacitações, palestras, reuniões, conversas com outros agentes e outros
meios de troca de experiências.
Frente a tais considerações e imersos no universo da gestão pública
municipal no estado no Paraná, chegamos ao seguinte problema que balizou o
desenvolvimento do presente estudo: Como a formação dos agentes públicos do
esporte e lazer que atuam em municípios do estado do Paraná é desenvolvida
levando em consideração as características e condições estruturais que configuram
a gestão pública do esporte e lazer?
1.1 Justificativa
A escolha do problema e do campo investigativo do presente estudo foi
motivada, inicialmente, pelo envolvimento em discussões que dizem respeito às
políticas públicas de esporte e lazer. Como integrante do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Políticas Públicas de Esporte e Lazer (GEPPOL)2, o contato com
realidades da gestão pública do esporte e lazer em municípios do estado do Paraná,
a partir do desenvolvimento do projeto de pesquisa intitulado “Análise dos agentes
públicos do Sistema Nacional de Esporte” 3, despertou o interesse por esse campo
investigativo.
Além das constatações advindas do campo empírico, discussões a respeito
dos agentes públicos do esporte e lazer vêm mobilizando a comunidade
cientifico/acadêmica. Apontamos aqui alguns estudos que evidenciam fragilidades
na formação e capacitação de agentes públicos do esporte e lazer atuantes em
municípios brasileiros (ARAÚJO et al., 2007, 2011; FIGUEIREDO, 2009; MEZZADRI
et al., 2006).
2 Grupo de Estudos e Pesquisas do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de
Maringá comprometido com estudos sobre esporte e lazer, em diferentes campos teóricos e de intervenção, tendo nas políticas públicas um dos campos de interlocução e pesquisa. É coordenado pelo Prof. Dr. Fernando Augusto Starepravo. 3 Projeto de Pesquisa Financiado pelo Ministério do Esporte – ME e CNPq a partir da aprovação na
Chamada N º 091/2013 – Seleção pública de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, voltados para o desenvolvimento do Esporte em suas diferentes dimensões.
16
Em um desses estudos, Araújo et al. (2007) objetivaram investigar o perfil dos
sujeitos responsáveis pelo gerenciamento e execução das políticas públicas de
esporte e lazer em dez municípios maranhenses. Ao referenciar a necessidade de
(re)construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, pautada nas discussões da
I e II Conferências Nacionais do Esporte (CNEs), os autores destacam a
necessidade do envolvimento de diversos agentes no movimento de universalização
e democratização do esporte e lazer. Em relação a esse ponto de discussão,
afirmam: “no entanto, os gestores e agentes, na maioria das vezes, possuem baixo
nível de escolaridade e/ou formação e qualificação inadequada para o exercício da
função, o que compromete a qualidade dos serviços prestados à comunidade”
(ARAÚJO et al., 2007, p.02). Aqui, os autores consideram a formação e qualificação
como termos semelhantes, pelo viés da escolaridade. Alegam que o baixo nível de
escolaridade tem reflexo direto na qualidade das ações de esporte e lazer ofertadas
por esses agentes. Entendemos que, além da escolaridade, outros elementos
devem ser considerados ao assumirmos uma discussão referente à formação que
qualifique agentes públicos em seu trabalho diário de oferta dos direitos sociais
esporte e lazer. Consideramos a formação um processo em constante
desenvolvimento, e não algo estanque que possa ser medido ou certificado apenas
por um curso técnico ou um curso de graduação em determinada área.
No decorrer do texto, Araújo et al. (2007) apresentam considerações a
respeito do esporte e lazer e seus profissionais. Destacam que o esporte e lazer
precisam ser reconhecidos pelo poder público como direitos sociais, uma vez que
ainda não se constituem como objeto de políticas públicas efetivas no âmbito
federal, estadual e municipal. A partir de visitas iniciais aos dez municípios, os
autores se depararam com a ausência de planejamento definido para a execução de
atividades esportivas, pois estas ocorriam de forma esporádica, ofertadas por
voluntários e em condições precárias. Assim, apontam a falta de inserção do poder
público frente à garantia e à oferta do esporte e lazer, o que levou os autores a
concluírem que esses direitos ainda não são tratados pelos gestores municipais
como objeto de políticas públicas nos municípios maranhenses.
Em relação a esse mesmo projeto de pesquisa, Araújo et al. (2011)
constataram que os agentes públicos que gerem o esporte e lazer nos municípios
analisados necessitam de qualificação. Levando em consideração tais constatações,
17
bem como as recomendações da II CNE, no eixo Recursos Humanos e Formação,
os autores sugerem a elaboração de diretrizes setoriais de esporte e lazer que
contemplem uma política de formação inicial e continuada, necessária para a
capacitação de agentes comprometidos com a universalização da prática do esporte
e lazer como direito de todos (ARAÚJO et al., 2011).
Mezzadri et al. (2006) apresentam o projeto de pesquisa intitulado
“Diagnóstico das políticas públicas para o Esporte e Lazer no Estado do Paraná”,
também vinculado à Rede Cedes, assim como o estudo anterior, cujo objetivo
centrava-se na criação de um banco de dados de políticas públicas realizadas pelas
Secretarias Municipais de Esporte e Lazer do estado do Paraná. Os dados foram
coletados por meio da realização de entrevista semiestruturada com os secretários
municipais de esporte e lazer ou o responsável correspondente ao cargo, a partir de
três eixos norteadores: estrutura administrativa; gestão pública dos municípios;
projetos e eventos desenvolvidos nos municípios (MEZZADRI et al., 2006).
Em relação à estrutura burocrática, mais especificamente a respeito do
quadro funcional nas Secretarias, Mezzadri et al. (2006) afirmam que os municípios
com PIB mais elevado possuíam um quadro maior de agentes em relação aos
municípios com PIB inferior. Porém, os autores destacaram como preocupante o
grande número de bolsistas/estagiários atuantes nas secretarias,
independentemente do tamanho do município e de seu PIB. Na maioria dos
municípios havia mais bolsistas do que professores e, segundo os autores, esse é
um quadro “extremamente preocupante se quisermos realmente ter políticas
públicas que possam intervir qualitativamente no desenvolvimento da sociedade e
garantir o Esporte e o Lazer como direito do cidadão” (MEZZADRI et al., 2006, s/p).
O quadro funcional é uma das preocupações destacadas pelos autores em
suas conclusões. Os autores consideram que a constituição de quadros funcionais
por agentes públicos é um dos principais pontos para se garantir uma intervenção
“mais qualificada do poder público no desenvolvimento da sociedade” (MEZZADRI et
al., 2006, s/p). Aqui, portanto, verificamos mais uma vez a preocupação com a
formação de agentes que atuam na gestão do esporte e lazer.
Em sua dissertação de mestrado, Figueiredo (2009) também discute a
formação de agentes, porém, voltando-se especialmente ao PELC. O autor objetivou
identificar os avanços e limites da política de formação – uma das ações do PELC,
18
situada no quadro das política sociais do governo federal – especificamente
descrevendo e analisando essa política de formação, bem como o perfil dos agentes
que atuavam nos núcleos de esporte e lazer do programa.
Figueiredo (2009) afirma que os agentes participantes da pesquisa –
educadores sociais, gestores públicos do ME, coordenadores gerais e dos núcleos –
apontaram uma série de conhecimentos e saberes necessários ao desenvolvimento
do trabalho social com o esporte e lazer. Dentre eles, está a busca por novos
conhecimentos, a reflexão das experiências, o conhecimento sobre a comunidade e
anseios dessa comunidade, além da necessidade de uma postura pró-ativa do
agente. Porém, o autor ressalta a falta de um processo sistematizado que auxilie a
reflexão dos agentes frente às experiências e conhecimentos “que permita a
construção de um conhecimento mais elaborado, a partir dos processos de formação
continuada” (FIGUEIREDO, 2009, p. 128). Nesse sentido, o autor destaca a
necessidade de uma ação governamental ampla que permita a intersetorialidade,
buscando a contribuição de outros setores na construção de um Sistema Nacional
de Esporte e Lazer que defina as atribuições dos mais diversos agentes públicos no
processo de formação.
Outro ponto destacado por Figueiredo (2009) é a avaliação positiva do PELC
por parte dos trabalhadores do lazer, bem como a avaliação positiva que estes
fazem ao considerar o programa um avanço na compreensão da necessidade da
formação continuada como um dos eixos centrais de um possível Sistema Nacional
de Esporte e Lazer. Diante desses levantamentos, o autor propõe que o Sistema
Nacional de Formação do PELC deveria ser ampliado e desenvolvido em conjunto
com os demais programas sociais de esporte e lazer de modo a atender a um único
Sistema Nacional de Esporte e Lazer, a partir de formação permanente, em todos os
níveis de escolaridade, que fosse considerada política de Estado de
responsabilidade do Ministério do Esporte, em parceria com o Ministério da
Educação e delegada às instituições formadoras.
Interessante destacar que o autor apresenta uma proposta didático-
metodológica construída por um conjunto de professores que refletiram a respeito da
formação no PELC no intuito de apresentar uma sistematização pautada na
pedagogia crítica do lazer. Essa proposta apresenta os principais componentes da
organização do trabalho pedagógico no contexto do PELC, quais sejam: ação
19
diagnóstica; mobilização comunitária e divulgação; articulação política; planejamento
participativo; atividades sistemáticas sob a forma de oficinas culturais; atividades
assistemáticas, como ruas de lazer, festivais temáticos, colônias de férias;
organização do núcleo e formação permanente, e avaliação (FIGUEIREDO, 2009).
Frente à exposição dos estudos aqui apresentados, podemos constatar a
relevância em se discutir a temática da formação de agentes públicos que atuam na
gestão municipal do esporte e lazer. Porém, ressaltamos que nenhum desses
estudos volta-se centralmente à formação dos agentes públicos do esporte e lazer,
sendo que essa discussão é somente complementar nos estudos. Assim,
entendemos que essa lacuna no conhecimento necessita ser melhor explorada.
Portanto, a discussão que o presente estudo pretende realizar têm relevância à
medida que se compromete a analisar a formação dos agentes públicos do esporte
e lazer em municípios do estado do Paraná.
Entende-se que esse estudo trará novas contribuições à temática, uma vez
que pode gerar reflexões e indícios para se pensar na formulação de políticas de
formação voltadas a agentes públicos que atuam na gestão do esporte e lazer, no
estado do Paraná. Entendemos que, quanto maior for o investimento na formação
dos agentes públicos mais ações qualificadas podem ser ofertadas à população,
sem contar a troca de conhecimentos que pode vir a ser realizada na mediação
entre agentes públicos e a população, ciclo este que pode refletir em mais
cobranças e melhorias na gestão pública do esporte e lazer.
Em meio a essa lacuna, a pesquisa em questão tem por objetivo geral
analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que atuam em
municípios do estado do Paraná. E, para subsidiar tal objetivo, estabelecemos os
seguintes objetivos específicos:
Contextualizar a gestão pública do esporte e lazer municipal;
Discutir a respeito das características e condições estruturais da gestão
pública do esporte e lazer e sua relação com a formação dos agentes
públicos de municípios do estado do Paraná.
20
1.2 Metodologia
A metodologia de trabalho investigativo orienta-se pela pesquisa sociológica,
com aporte de Marchi Júnior (2006) ao discorrer a respeito da intencionalidade e
opção por esse tipo de pesquisa:
Por que somos dotados de uma capacidade de percepção da realidade – mesmo que em muitas oportunidades ela seja tolhida ou limitada – a qual nos conduz para uma leitura questionadora e criadora de referências sobre as relações, as estruturas e a condição de existência do ser humano (MARCHI JÚNIOR, 2006, p. 30).
De acordo com o autor, todo indivíduo reconhecido como agente social
percebe, a partir do senso comum, questões que o cerca. Essa leitura preliminar, a
princípio baseada em um viés simplista de interpretação, pode propiciar angústias,
dúvidas e observações sociais que, por intermédio da instrumentalização teórica,
acadêmica e científica leva à racionalidade desejada. Inicia-se o fazer sociológico:
"Essa é a arte do 'fazer sociológico', ou seja, fazer de um fato cotidiano,
aparentemente comum ou supostamente insignificante, um conhecimento amplo e
qualificador de novas e consistentes leituras da realidade" (MARCHI JÚNIOR, 2006,
p. 30).
Ortiz (2002) compara o fazer sociológico à arte, aproximando os
procedimentos metodológicos e a dedicação requerida ao fazer artesanal.
Metaforicamente, afirma que o artesanato intelectual é como um processo de
costura, em que busca-se costurar as ideias por meio de etapas ou procedimentos
fundamentais, desde a escolha das agulhas e tecidos, colocação da linha, até a
composição da roupa. No processo de construção do conhecimento, esses
procedimentos culminam no entrelace das ideias.
Os elementos cotidianos, no fazer sociológico, são essenciais para se iniciar
uma pesquisa. São como pedras brutas que fundamentam o ponto de partida da
definição do objeto de estudo. O passo metodológico seguinte é a definição do
problema, o qual requer criatividade e constante contato com a literatura e a empiria,
seguindo-se da contextualização teórica, histórica e social, fundamentando o
“sociologizar”. Marchi Júnior (2006, p. 32) afirma: "Todo esse trabalho, ou melhor,
este conjunto de pressupostos prescreve um pensamento sociológico atento às
constantes mudanças de contextos sociais e a necessidade de tradução dos
21
processos sociais". Assim, faz-se necessário uma postura questionadora, buscando,
constantemente, formular hipóteses acerca dos questionamentos levantados.
Partindo desses primeiros passos da pesquisa sociológica, a definição do
nosso problema de estudo emergiu da constatação de elementos cotidianos
presentes no universo empírico da gestão pública do esporte e lazer nos municípios
visitados, onde coletamos os dados do Projeto de Pesquisa base que fundamenta
esse estudo. A realidade municipal e o modo como o esporte e lazer são ofertados
à população por intermédio dos agentes sociais suscitou uma série de
questionamentos e hipóteses a respeito dessa oferta, bem como da importância de
discutir a respeito da formação desses agentes que lidam diariamente com a oferta
do esporte e lazer.
Após a definição do objeto de estudo e do problema, Marchi Júnior (2006)
discorre que o passo seguinte da pesquisa sociológica fundamenta-se na
confirmação ou não das hipóteses – respostas preliminares que orientam a análise e
as ações futuras da pesquisa. Esse passo requer alguns procedimentos
metodológicos, quais sejam: definição e seleção das principais categorias e
conceitos para a análise; busca do referencial teórico; consulta bibliográfica, além do
levantamento em fontes primárias e secundárias de pesquisa; e a pesquisa de
campo.
Como já afirmado anteriormente, o desenvolvimento metodológico da
presente pesquisa foi orientado pela Sociologia Reflexiva, modelo proposto por
Pierre Bourdieu. Ao nos basear nas ferramentas de tal modelo, buscamos realizar
uma leitura social, entendida como um exercício de conversão pessoal no qual o
pesquisador vai além da pesquisa empírica para realizar uma pesquisa de caráter
social (SOUZA; MARCHI JÚNIOR, 2010).
Nesse contexto, partimos do entendimento de que a gestão do esporte e lazer
desenvolvida nos municípios do estado do Paraná é pedra bruta que pode ser
lapidada, enquanto objeto de estudo, pelo fazer sociológico. Com a imersão nesse
locus de pesquisa, surgiu o inquietamento que deu origem à problemática do
presente estudo.
No intuito de buscar respostas à inquietação proposta, de acordo com os
passos referidos por Marchi Júnior (2006), fez-se necessária a definição das
categorias e conceitos para subsidiar a análise, bem como a escolha do referencial
22
teórico-metodológico de análise e consulta às fontes bibliográficas. Pautando-nos na
Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu, elencamos previamente como conceito
central de nossa discussão o conceito de agente, entendendo-o como aquele que
pode transformar ou conformar o campo em que está inserido a partir dos capitais
que vai adquirindo ao longo de sua permanência no campo. Assim, consideramos o
agente o conceito central, mas outros conceitos também são pertinentes, como o
conceito de campo e de capitais (campo político-burocrático, capital simbólico,
capital cultural, capital político) para subsidiar nossas análises.
Em relação à pesquisa de campo – outro passo apontado por Marchi Júnior
(2006) – utilizamos a coleta de campo realizada pelo GEPPOL no Projeto de
Pesquisa “Análise dos agentes públicos do Sistema Nacional de Esporte”. A partir
desse projeto foi constituído um banco de dados composto por transcrições de
entrevistas realizadas com gestores públicos – secretário ou diretor de esporte e
lazer enquanto gestor municipal maior responsável pelas políticas públicas de
esporte e lazer no município pesquisado – e questionários aplicados a agentes
técnicos – professores, estagiários e técnicos do esporte e lazer atuantes no órgão
responsável pela gestão do esporte e lazer em municípios do Paraná.
Ao todo, a pesquisa contemplou 79 municípios, sorteados dentre os 399 que
compõem o estado do Paraná, considerando um percentual de 20% de cada porte
equivalente ao tamanho das cidades4. Assim, as coletas foram realizadas em três
municípios de grande porte, três de médio porte, onze de pequeno porte II e
sessenta e dois de pequeno porte I, respeitando divisão equânime entre as dez
mesorregiões5 do estado. Na figura 1 estão destacados os 79 municípios, sendo que
cada uma das cores corresponde a uma mesorregião.
4 Segundo classificação do IBGE (2010), constam no estado do Paraná: uma metrópole (mais de 900
mil habitantes), 17 municípios de grande porte (entre 100.001 e 900 mil habitantes), 14 municípios de médio porte (entre 50.001 e 100 mil habitantes), 55 municípios de pequeno porte II (entre 20.001 e 50 mil habitantes), e o restante, 312 municípios de pequeno porte I (até 20 mil habitantes). 5 Mesorregião Geográfica Noroeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Centro Ocidental
Paranaense, Mesorregião Geográfica Norte Central Paranaense, Mesorregião Geográfica Norte Pioneiro Paranaense, Mesorregião Geográfica Centro Oriental Paranaense, Mesorregião Geográfica Oeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Sudoeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Centro-Sul Paranaense, Mesorregião Geográfica Sudeste Paranaense, Mesorregião Geográfica Metropolitana de Curitiba.
23
Figura 1 – Cidades sorteadas para compor a pesquisa “Análise dos agentes públicos
do Sistema Nacional de Esporte”.
Fonte: Figura elaborada por pesquisadores do GEPPOL
As entrevistas junto aos gestores foram realizadas utilizando um roteiro
semiestruturado pois, além de valorizar a presença do entrevistador, esse tipo de
entrevista favorece a liberdade e a espontaneidade necessárias ao enriquecimento
da investigação, apresentando questionamentos base com perguntas fundamentais,
com a possibilidade do acréscimo de novos questionamentos que possam surgir no
decorrer da entrevista (TRIVIÑOS, 1987).
24
O roteiro de entrevista e o questionário foram previamente elaborados a partir
de discussões e leituras realizadas pelo GEPPOL. Após essa elaboração, o roteiro
foi testado a partir de coletas de dados piloto. Visitamos duas cidades e aplicamos
os instrumentos junto aos agentes públicos. Esse momento foi importante para
verificarmos a aplicabilidade dos instrumentos pois, não constatamos nenhum
problema no decorrer da aplicação. Quando havia necessidade os pesquisadores
explicavam tanto aos agentes técnicos quanto aos gestores, mas sempre eram
casos de dúvidas pontuais e isoladas, nada que comprometesse a aplicabilidade dos
instrumentos. E, por esse motivo, não houve necessidade de mudança nos
instrumentos, validando-se assim, a utilização desse material nas coletas.
O roteiro de entrevista (Apêndice A) destinado aos gestores é composto por
36 questões que dizem respeito a dados gerais, como escolaridade, cargo/função,
renda mensal, formação e atuação profissional; acesso à informação; e dados das
políticas públicas de esporte e lazer do município. O questionário (Apêndice B),
destinado aos agentes técnicos é composto por 34 questões que dizem respeito a
dados de identificação desses agentes, acesso à informação, atuação e formação
profissional e entendimento acerca de alguns pontos referentes à política pública de
esporte e lazer do seu município.
Para o recorte do presente estudo foram selecionadas perguntas referentes à
categoria "formação" no que se refere à: escolaridade dos agentes, tipos de
capacitação que os agentes já haviam realizado, meios para a busca de qualificação
que consideravam mais adequados para desempenharem suas funções, e
existência ou não de políticas de formação na secretaria ou órgão responsável pela
gestão do esporte e lazer onde atuam. Além da busca pelas respostas a essas
perguntas nas transcrições das entrevistas realizadas com 766 gestores das cidades
que compuseram o estudo, buscou-se também outras informações relacionadas à
categoria formação, nas transcrições, para além das perguntas selecionadas.
Optamos por essa busca complementar pois, pelo fato do método escolhido para a
realização da coleta de dados ter sido entrevista semiestruturada, os pesquisadores
6 Teríamos um total de 79 gestores compondo a pesquisa a partir da seleção realizada levando em
consideração o porte e a mesorregião em que os municípios se encontram. Porém, com a perda amostral, totalizam o estudo 76 gestores participantes da pesquisa por meio de entrevista. Alguns gestores, mesmo havendo agendamento prévio da entrevista e ligação um dia antes para confirmar nossa visita, não estavam presentes no local combinado, ou não puderem nos atender no dia e hora marcados.
25
que realizaram as entrevistas poderiam realizar outras perguntas além das pré-
definidas, como também os gestores entrevistados poderiam se referir à categoria
formação ao responderem outras perguntas que não necessariamente estivessem
voltadas a essa categoria. Os dados selecionados foram analisados a partir da
Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011) e referencial teórico pautado nos conceitos de
Bourdieu.
Já em relação aos questionários – por serem menos abertos que as
entrevistas – optamos por selecionar perguntas ligadas à categoria formação,
referentes à: escolaridade; principal forma de acesso à informação; cursos
realizados voltados ao esporte e lazer; realização de cursos de formação ou
capacitação (tipo, e se era ou não ofertado pela secretaria); meios para a busca de
qualificação considerados mais adequados para desempenharem a função que
exercem. Esses dados foram dispostos no Programa de Software SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences) e são aqui apresentados a partir da estatística
descritiva (média, frequência e percentual). A análise desses dados foi realizada de
modo qualitativo à luz do referencial teórico.
Mediante os objetivos estabelecidos, o presente estudo apresenta-se da
seguinte forma: um primeiro capítulo destinado à discussão teórico-metodológica,
em que os principais conceitos e pressupostos da Teoria dos Campos de Pierre
Bourdieu são apresentados a fim de dar suporte teórico-metodológico às discussões
posteriores. O segundo capítulo, voltado à gestão pública, a partir da discussão a
respeito da constituição dos municípios e municipalização, da discussão a respeito
do termo descentralização, da conceituação e contextualização dos termos gestão
pública e administração pública, bem como a partir do levantamento de estudos e
pesquisas que discutem a gestão pública do esporte e lazer em diferentes contextos
e realidades municipais. Finalmente, o terceiro capítulo, centrado na discussão da
formação em gestão do esporte e lazer, que traz considerações a respeito da
formação e de como pautamos a análise dessa categoria mediante os dados
empíricos dos agentes públicos do esporte e lazer de municípios do estado do
Paraná.
26
2 O CAMPO POLÍTICO-BUROCRÁTICO E A GESTÃO MUNICIPAL
O presente capítulo é destinado à contextualização do campo político-
burocrático e do subcampo político-burocrático do esporte e lazer, entendidos como
espaços sociais em que se insere a gestão pública do esporte e lazer e,
consequentemente, seus agentes públicos. Este capítulo também volta-se à
apresentação do referencial teórico metodológico de análise que parte da Teoria dos
Campos, como modelo analítico proposto por Pierre Bourdieu, e da Sociologia
Reflexiva que prescreve o conjunto de métodos para se analisar um determinado
objeto mediante essa Teoria.
2.1 A Teoria dos Campos e a Sociologia Reflexiva
A Teoria dos Campos, modelo analítico proposto por Pierre Bourdieu, foi aqui
escolhida como base teórica por apresentar consistência teórica e analítica, bem
como por sua aplicabilidade teórica e capacidade correlacional, que permite se voltar
a diversas áreas do conhecimento. A Sociologia Reflexiva é proposta, pois prescreve
o conjunto de métodos de análise da Teoria dos Campos. Dentre seus pressupostos,
destacamos a necessidade de articulação da pesquisa de campo com as
formulações teóricas. O trabalho de campo é entendido apenas como uma parte da
pesquisa, a “amarração teórica” é o que a complementa.
Outros pressupostos ou prerrogativas estabelecidos por Pierre Bourdieu em
sua Teoria também merecem destaque, quais sejam: a capacidade dos agentes de
questionar as leis de reprodução social e formas de dominação; as mediações entre
agentes e as estruturas sociais, sendo os agentes sujeitos de ação e as estruturas
aquelas edificadas pelos agentes que podem manter ou modificar tais estruturas; as
conexões entre situação, definida como a posição relativa como estamos inseridos
numa estrutura social, e a posição estrutural, que estabelece onde estamos
inseridos.
27
Ao nos pautarmos nesses pressupostos da Teoria dos Campos,
consideramos a gestão pública municipal como uma estrutura social, e os agentes
nela inserida sujeitos de ação que podem manter ou modificar essa estrutura. Por
esse motivo faz-se necessário analisar a formação desses agentes, de modo a
entender como essa formação é desenvolvida e se a mesma pode fornecer
elementos para que os próprios agentes mantenham ou modifiquem a estrutura na
qual encontram-se inseridos.
Desse modo, nos apropriamos da Teoria dos Campos de modo a buscar
subsídios às nossas análises e discussões. Para a apreensão do modelo analítico
dessa Teoria, entendemos como necessária a explanação de seus conceitos
centrais: campo, habitus e capital. Esses conceitos devem ser compreendidos na
sua interdependência, na relação de um com o outro, pois são intimamente ligados.
Além dos três conceitos centrais, destacamos o conceito de agente, aqui empregado
como principal conceito/categoria analítica.
O campo é tido por Bourdieu como um espaço ou locus social de lutas,
disputas e concorrências, no qual há agentes e estruturas movidas por objetos de
interesse e posições distintas. Bourdieu (2003, p. 119) afirma que os campos são
“[...] espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem
da sua posição nesses espaços e que podem ser analisadas independentemente
das características de seus ocupantes”. Mesmo perante à especificidade de alguns
campos, como é o caso do campo político, Bourdieu ressalta que “há leis gerais dos
campos: campos tão diferentes como o campo da política, o campo da filosofia, o
campo da religião têm leis de funcionamento invariantes” (BOURDIEU, 2003, p. 119,
grifos nossos).
Além do campo político, aqui nos pautamos no campo burocrático. Por
entendermos que a gestão pública do esporte e lazer, bem como as políticas
públicas inseridas e desenvolvidas nessa estrutura social, são produtos de um
processo indistintamente político e burocrático, aqui consideramos o campo político-
burocrático7 como locus do nosso estudo.
7 Termo apropriado por Starepravo (2011) ao discutir as políticas públicas de esporte e lazer,
entendendo que tais políticas apresentam-se como produto de um processo indistinto tanto do campo político quanto do campo burocrático, e apesar de Bourdieu (2005) apresentá-los como campos distintos, o autor prefere caracterizar o presente campo como político-burocrático. Afirma: “adjetivamos o campo chamado por Bourdieu de burocrático (o Estado) do termo político, buscando
28
Em relação ao campo político-burocrático, Starepravo (2014) discorre que foi
consolidado no Brasil durante o Estado Novo, quando o governo decretou que
“passaria a ser o Estado o protagonista da sociedade brasileira, concentrando o
poder que estava mais difuso em vários estratos da sociedade” (STAREPRAVO,
2014, p.40). Desse modo, o Estado passou a controlar grande parte das áreas
sociais, como o direito ao lazer que passou a ser garantido aos trabalhadores com
carteira de trabalho assinada, a partir da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),
que previu o descanso semanal remunerado e férias. Também o esporte, visto como
bem público, passou a ser utilizado como meio de representação nacional, símbolo
da modernidade e desenvolvimento da nação, a partir da consolidação de um
habitus comum aos brasileiros fundamentado no nacionalismo (STAREPRAVO,
2014).
Como destaca Starepravo (2014), o subcampo político-burocrático do esporte
e lazer, circunscrito no campo político-burocrático, foi instituído no Brasil entre as
décadas de 1930 e 1940, quando o Estado passa a controlar o lazer e o esporte.
Outro período de destaque é a década de 1980, marcada pela redemocratização do
país, com o enfraquecimento do caráter controlador do Estado frente às mais
diversas áreas sociais, como a do esporte e lazer. Esse contexto levou à
necessidade de mudanças nas políticas das áreas sociais, culminando na
promulgação da Constituição Federal, em 1988 o que, por sua vez, instituiu o
esporte e o lazer como direitos sociais. Com essa instituição aos entes federativos –
municípios, estados e governo federal – recai a responsabilidade por tais direitos,
porém, sem a devida organização das atribuições de cada ente frente à efetivação
desses direitos.
Voltando-nos aos conceitos centrais de teoria de Bourdieu, temos que, dentre
os campos, inserem-se as estruturas sociais, entendidas como organizações que
definem polaridades ou conflitos nas concorrências e disputas asseguradas em um
determinado campo. A constituição de uma estrutura social passa a intencionar os
agentes e as relações ali estabelecidas. Em relação ao nosso escopo de análise,
temos que a gestão pública municipal é entendida como uma estrutura social
instituída no campo político-burocrático, especificamente no subcampo político-
caracterizar um espaço social, em que se age politicamente (normalmente, sob interesse particular) e burocraticamente (através do Estado, buscando o bem comum)” (STAREPRAVO, 2014, p.40).
29
burocrático do esporte e lazer no Brasil. Portanto, o contexto de instituição do
subcampo político-burocrático do esporte e lazer em nosso país, como
apresentamos nos parágrafos anteriores, baseando-nos em Starepravo (2014),
expõe peculiaridades que nos levam a refletir acerca das características que a
gestão pública municipal do esporte e lazer apresenta nos dias de hoje.
Nesse contexto, a gestão pública municipal é, portanto, entendida como uma
estrutura social, pois possui uma determinada estrutura que define as polaridades e
conflitos nas concorrências e disputas entre os agentes públicos nela instituídos –
gestores, políticos, funcionários públicos, profissionais, técnicos, entre outros. Os
agentes públicos que se encontram inseridos na estrutura social da gestão pública
municipal, por sua vez, agem de acordo com seu habitus e a posse de diferentes
tipos de capital.
O capital, outro conceito central da Teoria dos Campos, é entendido como um
conjunto de referências adquiridas e necessárias para ser ou estar inserido na
dinâmica do jogo social. No intuito de ampliar a concepção marxista, Bourdieu
considera o conceito de capital não apenas a partir do acúmulo de bens e riquezas
econômicas, mas sim todo recurso ou poder que se manifesta em uma atividade
social. Ao discorrer a respeito desse conceito, Souza e Marchi Júnior (2010, p.309)
afirmam:
[...] o conceito de capital é de suma importância e capilaridade para entender a dinamicidade com que se organiza o espaço social, sobretudo no que tange a definição do gosto e dos estilos de vida. Para tanto, Bourdieu procura ampliar a noção de capital para além do poder explicativo de que esse conceito se revestia nas abordagens marxistas, demonstrando que, para compreender as trocas simbólicas permeadas nos mais distintos campos sociais, pode-se recorrer à figura analógica da economia, na medida em que o capital se apresenta como um recurso que tende a conferir lucros distintivos a quem o possui.
Assim, capital pode ser definido como o conjunto de recursos atuais ou
potenciais pertencentes aos agentes de um determinado campo, que pode assumir
diferentes formas, como econômica, social, cultural, simbólica, política. Baseando-
nos nesse entendimento, para compreendermos a dinâmica que organiza a gestão
pública como um espaço ou estrutura social do campo político-burocrático e, a partir
desse entendimento, buscarmos discutir a respeito da formação dos agentes
públicos inseridos nessa estrutura social, consideramos que certos tipos de capitais
30
como o capital simbólico, o capital social e, principalmente, o capital cultural, são
inerentes a nossas análises.
Quando se refere à lógica do campo político, Bourdieu (2009) afirma a
necessidade de concentração do capital social e capital simbólico para um agente
que almeja se tornar politicamente ativo. Essa necessidade é requerida, uma vez
que o campo político é considerado como um lugar de concorrência entre agentes
nele instituídos e onde esses agentes definem seus espaços de acordo com suas
preferências ou posições. Por ter essa conformação, Bourdieu afirma que a grande
maioria dos agentes acaba ficando à margem dos processos de decisão política.
Essa lógica também faz com que o campo político seja considerado um dos espaços
sociais mais restritivos à entrada de novos agentes pois, nele, as posições são
conservadas e a produção concentrada em alguns agentes políticos, os mandantes
(BOURDIEU, 2009). Assim, as posições são conservadas,
[...] por intermédio sobretudo da relação que os mandantes, em consequência da sua distância diferencial em relação aos instrumentos de produção política, mantêm com seus mandatários e da relação que estes últimos, em consequência das suas atitudes, mantém com as suas organizações. O que faz com que a vida política possa ser descrita na lógica da oferta e da procura é a desigual distribuição dos instrumentos de produção de uma representação do mundo social explicitamente formulada: o campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre o agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher, com probabilidades de mal entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do lugar de produção (BOURDIEU, 2009, p. 164).
É a partir dessa lógica que Bourdieu (2009) afirma que a entrada de um
agente politicamente ativo no campo político só é possível a partir da concentração
de capitais, principalmente do capital social e capital simbólico, por serem os
principais responsáveis pela manutenção das posições instituídas nesse campo.
Bourdieu (2009) discorre que, a partir da concentração de capitais, o político
“avisado” consegue dominar o sentido objetivo e o efeito social da sua posição e
tomada de decisão. Esse patamar só é atingido pois, por meio da concentração de
capitais, o agente passa a entender de modo privilegiado o espaço que está inserido
e o princípio que move as tomadas de posição atuais e potenciais no campo político,
31
ou seja, quando possui um certo entendimento privilegiado do espaço das posições
objetivas e das atitudes dos que ocupam o campo político.
O capital social ao qual Bourdieu se refere pode ser entendido como um
conjunto de relações sociais passíveis de serem convertidas em recursos de
dominação. Nas palavras de Bourdieu (2007a, p.67), “o capital social é o conjunto de
recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de
relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-
reconhecimento”. A rede de relações na qual se instauram os recursos atuais ou
potenciais, que configuram o capital social, é fruto do trabalho permanente de
instauração e manutenção por parte dos agentes que produzem e reproduzem
relações duráveis capazes de assegurar ganhos simbólicos ou materiais. E é a partir
dessa lógica que Bourdieu (2007a) afirma que o volume de capital social que um
determinado agente possui está ligado à extensão da rede de relações que ele pode
mobilizar e ao volume de capital, seja ele econômico, cultural ou simbólico que
possui.
O capital simbólico, por sua vez, possui um entendimento mais complexo,
pois, como afirma Bourdieu (1996, p.107), “é a forma que todo tipo de capital
assume quando é percebido através das categorias de percepção, produtos da
incorporação das divisões ou das oposições inscritas na estrutura de distribuição
desse tipo de capital (como forte/frágil, grande/pequeno)”. Isso porque esse tipo de
capital situa-se na ordem do conhecimento e do reconhecimento, podendo ser
aplicado a outros tipos de capitais. Em outra passagem, Bourdieu tenta explicar de
modo mais claro esse tipo de capital, que pode ser verificado na relação entre uma
espécie qualquer de capital com agentes que, a partir da maneira como se
socializam em um determinado campo, conhecem e reconhecem essa espécie de
capital:
Para explicar, pego um exemplo simples que expus longamente nos últimos anos anteriores: a força [...]. A força age como tal, pelo constrangimento físico, mas também pela representação que aqueles que a sofrem têm dessa força; a força mais bruta e a mais brutal obtêm uma forma de reconhecimento que vai além da simples submissão ao efeito físico da força. Mesmo no caso mais extremo em que a espécie de capital é a mais próxima da lógica do mundo físico, não há efeito físico que não se acompanhe, no mundo humano, de um efeito simbólico. A estranheza da lógica das ações humanas faz com que a força bruta não seja jamais a força brutal: ela exerce uma força de sedução, de persuasão, que decorre do fato
32
de que consegue obter certa forma de reconhecimento (BOURDIEU, 2014, p. 259).
Ainda em relação às diferentes formas que o conceito de capital pode
assumir, na teoria de Bourdieu, a compreensão de capital cultural resulta de atos de
ordenação que instituem uma relação de ordem, na qual os tidos por Bourdieu como
“eleitos” são marcados por sua trajetória de vida e atribuição escolar, e uma relação
de hierarquia, na qual esses mesmos “eleitos” são considerados “nobreza de escola”
ou “nobreza de Estado”. Partindo da transição do Estado dinástico para o Estado
burocrático, na dinâmica do contexto europeu, Bourdieu afirma que, com o
desenvolvimento do Estado e aumento da cadeia de responsabilidades, atribuições
e autoridade “em vez da sucessão do tipo doméstico (o rei e a família real), no qual o
patrimônio se transmite de pai para filho, a reprodução dos juristas, dos funcionários,
dos intelectuais, passa pelo sistema escolar, pelo mérito, pela competência, pelo
diploma” (BOURDIEU, 2014, p. 23). A entrega de diploma, portanto, passa a possuir
a função de formar/transmitir uma determinada competência e selecionar os mais
“competentes” e, nessa lógica, o capital cultural passa a configurar os saberes e
competências que são reconhecidos como títulos e diplomas, justificados pela
meritocracia. Trataremos mais especificamente do processo de transição do Estado
dinástico para o Estado burocrático no próximo tópico, pois foram as características
que emergiram desse processo que nos impulsionou a refletir acerca da
escolarização e da formação segundo a lógica moldada pelo capital cultural.
O capital cultural pode existir de três formas: incorporado, objetivado e
institucionalizado. A primeira forma do capital cultural, o incorporado, pressupõe um
processo de interiorização, uma socialização prolongada, que envolve ensino e
aprendizagem, implicando assim em um investimento de tempo. A família é uma
exemplificação do capital cultural incorporado. A segunda forma de capital cultural –
o capital cultural objetivado – é diretamente relacionado às capacidades culturais
que permitem a apropriação de bens culturais, como as obras de arte. Finalmente, o
terceiro – o capital cultural institucionalizado – é a objeção do capital cultural
incorporado sob a forma institucionalizada de títulos e diplomas sancionados
legalmente e vinculados ao mercado de trabalho.
O último conceito da teoria de Bourdieu aqui apresentado é o habitus,
considerado central, mas também estrutural, por ser uma matriz de percepções
33
estruturais e de representações/mediações concebidas dentre uma estrutura social.
É visto como uma estrutura estruturante que define o modo de perceber, pensar e
agir dos agentes. Assim, uma de suas funções, segundo Bourdieu (1996, p. 21) “é a
de dar conta da unidade de estilo que vincula as práticas e os bens de um agente
singular ou de uma classe de agentes”. Sendo o habitus definido por ele como
“princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e
relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto
unívoco de escolhas de pessoas, de bens, de práticas” (BOURDIEU, 1996, p. 21-
22). Em suma, podemos entender o habitus como um conjunto de referências e
disposições sociais que orientam a ação dos agentes dentro de uma estrutura social,
subcampo ou campo. A partir da inserção de um determinado agente em um
determinado campo ou subcampo, o habitus passa a ser designado pela posição
social ocupada por esse agente, permitindo-o pensar, ver e agir em diversas
situações.
Frente aos conceitos aqui apresentados, a Sociologia Reflexiva busca
analisar as posições relativas e as relações objetivas que são inseridas em um
determinado contexto ou locus, a partir dos conceitos centrais. Porém, ressalva-se
que, para a construção teórico-metodológica desse estudo, não há necessidade de
apropriação de todos esses conceitos.
A partir da apresentação dos conceitos centrais da Teoria de Bourdieu, no
próximo tópico iremos operacionalizá-los frente à discussão do campo político-
burocrático.
2.2 Campo político-burocrático
Nesse tópico contextualizaremos historicamente o campo político-burocrático.
Entendemos essa contextualização como primordial para subsidiar nossas
discussões, uma vez que o subcampo político-burocrático do esporte e lazer, que se
encontra circunscrito no interior do campo político-burocrático, é o espaço social
onde emerge a gestão pública do esporte e lazer. Portanto, optamos por
contextualizar o campo político-burocrático a partir da gênese do Estado para
entendermos historicamente as características e peculiaridades desse campo que
34
moldaram a forma de desenvolvimento da gestão pública hoje. De acordo com os
preceitos da Teoria dos Campos, para entendermos a configuração atual da gestão
pública é recomendável retomarmos sua gênese.
Para atingir tal finalidade, pautamo-nos em Bourdieu (2005) quando este
busca entender a gênese do Estado, partindo da transição do Estado dinástico para
o Estado burocrático. O Estado dinástico é entendido como aquele que encontrava-
se reduzido à casa do rei, marcante na vida europeia pela visão pessoal proveniente
do peso da nobreza feudal na política, aproximadamente de 1330 a 1650. Já o
Estado burocrático, com a transição, passou a ser constituído como campo de forças
e de lutas orientadas ao monopólio da manipulação legítima dos bens públicos.
Ainda em relação ao Estado burocrático, Bourdieu (2005) afirma que somente na
Inglaterra e França, no século XVII, são apontados os primeiros indícios que
distinguem esse tipo de Estado.
Os traços fundamentais do Estado dinástico são representados pela lógica
que era caracterizada na casa do rei, onde surge o acúmulo inicial de capital, uma
vez que a casa real era entendida como patrimônio que contemplava todas as
pessoas da família real. O rei como administrador supremo deveria saber sacrificar
seus próprios interesses e sentimentos à perpetuação do patrimônio material e
simbólico. A casa seguia a lógica original de estrutura econômica e social, na qual o
rei “agindo como „chefe da casa‟” serviu-se das propriedades da casa “[...] para
construir um Estado, como administração e como território”. Porém, aos poucos,
essa lógica exclusiva à casa foi sendo diluída (BOURDIEU, 2005, p. 42-43).
O Estado dinástico passou a ser marcado pela lógica de acumulação de
capital instituída na figura do rei. Bourdieu (2005, p.44) afirma que essa lógica
seguia o modelo de nominação, baseando-se no “poder paternal que constitui o
modelo de dominação: o dominante oferece proteção e manutenção” e que “o
princípio da legitimação é a genealogia, avalista das ligações de sangue”. A partir
dessa lógica e princípio, ao rei era assegurada a acumulação inicial de capital
simbólico8, segundo Bourdieu (2005), por ocupar uma posição distinta e distintiva
8 Segundo Bourdieu (2014, p.259), "O capital simbólico, como a palavra diz, situa-se na ordem do
conhecimento e do reconhecimento.", “[...] é a forma que todo tipo de capital assume quando é percebido através das categorias de percepção, produto da incorporação das divisões ou das oposições inscritas na estrutura da distribuição desse tipo de capital (como forte/frágil, grande/pequeno, rico/pobre, culto/inculto etc.)” (BOURDIEU, 1996, p. 107). Assim, o rei era
35
de chefe feudal, constituía o poder, encontrando-se no centro, onde podia controlar
as alianças. Ao concentrar diferentes formas de poder, dentre elas o poder
simbólico e econômico, o rei as redistribuía de acordo com formas pessoais,
perpetuando-as em sua própria dinastia, instituindo assim a burocracia com
referências ao mérito e a competência.
A partir do século XIV, a figura do rei, particular e única, foi substituída por
uma palavra abstrata que representava o patrimônio do rei, o domínio da coroa, que
pouco a pouco distinguiu-se da figura particularista por representar uma instância
autônoma independente da pessoa do rei. Ao passo que as guerras e o peso das
estruturas de parentesco influenciaram substancialmente a continuidade da
perpetuação da dinastia e o poder do príncipe, desenvolvendo-se formas de
autoridades independentes do parentesco. As lutas intradinásticas,
principalmente entre irmãos, favoreceram a utilização de recursos burocráticos, na
medida em que os herdeiros se apoiavam nos gerentes para se perpetuarem,
recorrendo “aos novos recursos oferecidos pela centralização burocrática para
triunfar sobre as ameaças que os rivais dinásticos” lhes impunham (BOURDIEU,
2005, p. 50).
Instituiu-se, portanto, segundo Bourdieu (2005), uma tripartição do poder,
composta pelo rei, por seus irmãos – tidos como rivais dinásticos – e pelos ministros
do rei, escolhidos pela competência. Essa tripartição era formada a partir do
princípio da dependência mútua: o rei controlava e limitava o poder de seus irmãos a
partir dos ministros, ao mesmo tempo em que servia-se de seus irmãos para
controlar e limitar os ministros.
À medida que o Estado dinástico se constituiu perpetuando o campo de
poder, por intermédio do modo de reprodução fundamentado na ideologia do sangue
e hereditariedade, foi se estabelecendo o modo de reprodução burocrático ligado ao
surgimento de um corpo de funcionários, à competência e ao mérito, portanto,
ligados ao sistema escolar. Esse estabelecimento marca a principal contradição do
Estado dinástico:
Vê-se de passagem que os meios dirigentes foram os primeiros a conhecer um processo que se estendeu, muito mais tarde, ao conjunto da sociedade: a passagem de um modo de reprodução
reconhecido como tal por meio da simbologia que o representava, fruto do capital simbólico a ele assegurado.
36
familiar (que ignora o corte entre público e o privado) e um modo de reprodução burocrático baseado no sistema escolar, fundado sobre a intervenção da escola nos processos de reprodução (BOURDIEU, 2005, p. 55).
Portanto, Bourdieu (2005) conclui que a passagem do Estado dinástico para o
burocrático fora marcada pelo movimento de desalojamento da velha nobreza de
sangue pela nova nobreza, a nobreza de Estado. Porém, ao afirmar que “a gênese
do Estado é indissociável da gênese de um grupo de pessoas a ele associadas” e
que o Estado configurava-se como “uma empresa que se relaciona primeiro ao rei e
àqueles que ele faz beneficiar pela sua generosidade. A luta para fazer o Estado
torna-se assim crescentemente indissociável de uma luta para se apropriar dos
lucros do Estado” Bourdieu (2005, p.56) afirma que o Estado dinástico apropriou-se
de forma privada dos recursos públicos e que assim se perpetuou a ambiguidade do
Estado dinástico, uma vez que havia e sempre haverá “interesses particulares e
lucros particulares, privados, a serem apropriados do público, do universal, e
que possibilidades sempre renovadas se oferecem a essa apropriação”
(BOURDIEU, 2005, p. 56-57, grifos nossos).
Bourdieu (2005), ao discorrer a respeito da fórmula “O Estado sou eu”, afirma
que essa confusão entre ordem pública e ordem privada, ali expressada, definiu o
Estado dinástico começando pela confusão do rei em relação aos recursos ou
interesses da instituição e seus próprios recursos e interesses. Contra essa
consideração foi se constituindo o Estado burocrático, no qual a primeira afirmação
da diferença entre o privado e o público realizou-se na esfera do poder, a partir da
“constituição de uma ordem política dos poderes públicos, dotada de lógica própria
(a razão de Estado), de valores autônomos, de linguagem específica, e distinta do
doméstico (real) e do privado” (BOURDIEU, 2005, p. 59). O autor afirma que essa
distinção se estendeu, com o passar do tempo, a toda vida social, sendo esta a
chave para compreensão do campo burocrático, definido como um espaço que
“supõe a dissociação da posição e de seu ocupante, da função e do funcionário, do
interesse público e dos interesses privados, particulares – ainda com a virtude da
negação de interesses atribuídos ao funcionário” (BOURDIEU, 2005, p. 59). A
ruptura com o Estado dinástico fora assumida, portanto, pela dissociação entre o
poder público e o poder privado, respectivamente, para Bourdieu (2005) entre o
imperium e o dominium.
37
O que antes era determinado pelos laços de sangue, genético, familiar,
passou a ser relacionado às competências adquiridas. O Estado que passou a
nomear, instituir, se ligar a instituição, se opôs “à lógica específica da família que,
por arbitrária, é a mais „natural‟ ou naturalizável (o sangue etc.) das instituições
sociais” (BOURDIEU, 2005, p. 60). Esse processo é acompanhado pelo
desenvolvimento de um modo específico de reprodução relacionado às
competências adquiridas especialmente por meio da educação escolar, “assim
começa o processo de educação, acelerado pela fundação de escolas urbanas nos
séculos XV e XVI” (BOURDIEU, 2005, p. 60-61). A educação escolar era restrita à
elite e, portanto, nesse período, a elite estatal era a elite econômica.
Frente a esse processo de consolidação do Estado moderno, no qual os laços
do modo de reprodução dinástico foram sendo rompidos cada vez mais pelo modo
de reprodução burocrático, Starepravo (2014, p. 38, grifos nossos) pautando-se em
Bourdieu e Elias, adverte:
O alargamento das cadeias de interdependência (ELIAS, 2005), ou da cadeia de autoridades-responsabilidades (BOURDIEU, 2005), no interior do campo burocrático – ou seja, a instituição de um campo administrativo relativamente autônomo, independente
da política (negação) e da economia (desinteresse), e obediente à lógica específica do „público‟ –, se estrutura a partir do crescente nível de interdependência e numa certa reciprocidade, nas próprias relações hierárquicas entre os agentes.
O surgimento dessa realidade social, que Bourdieu (2005) designa de
burocracia moderna, gerou uma série de invenções, como carimbos, departamentos,
assinaturas, decretos de nomeação, registros, entre outros que, segundo ele, eram
decisivos, o que levou à configuração da lógica burocrática – impessoal e
intercambiável. Em conjunto com essas invenções, o alongamento da cadeia de
autoridades-responsabilidades – que teve início quando o rei passou a designar
cargos de confiança como secretários, chancellor, primeiro ministro, altos
funcionários do Estado, entre outros – passou a constituir uma verdadeira ordem
pública imbuída de reciprocidade e relações hierárquicas. Nas palavras de
Bourdieu (2005, p.67), “o executante é a um só tempo controlado e protegido pelos
dirigentes; e ele, por sua vez; controla e protege o dirigente, principalmente contra o
abuso do poder e o exercício arbitrário da autoridade”. Assim, quanto mais poder um
dirigente possuía, maior a sua dependência em relação à rede de etapas de
38
execução. A liberdade e responsabilidade de cada agente passou a diminuir frente à
complexidade do campo, mas crescia na medida que cada agente devia agir de
maneira responsável em virtude da proteção e controle dos demais agentes
(BOURDIEU, 2005).
Bourdieu (2005) afirma que o alongamento da cadeia de delegação de
autoridades-responsabilidades e o desenvolvimento de uma estrutura de poder
complexa – Estado como metacampo de poder que determina as regras dos
diferentes campos – não culminou no desaparecimento dos mecanismos que
visavam à apropriação privada de capital simbólico e do capital econômico, mas pelo
contrário, aumentou as possibilidades de desvios por confisco direto.
A gênese da ordem pública acompanhou a aparição do capital público e o
desenvolvimento do campo burocrático, campo este que, segundo Bourdieu (2005,
p.69), “tornou-se lugar de luta pelo poder sobre o capital estadístico e sobre os
lucros materiais (salários, vantagens materiais) e simbólicos (honras, títulos etc.) que
ele oferece”. Portanto, o campo burocrático pode ser assim definido como um campo
constituído pelas lutas para se deter o controle do capital estadístico ou público e do
poder correlatado à ele, principalmente em relação ao poder sobre a redistribuição
dos recursos públicos e os possíveis lucros que deles poderia originar.
A dissociação entre o interesse público e o interesse privado frente ao poder
público tornou-se cada vez mais imprecisa devido à configuração do Estado a partir
do desenvolvimento do campo burocrático em sobreposição ao dinástico, em
paralelo à construção do campo de poder e os capitais a ele associados. Nessa
lógica, os detentores de capital lutam de modo particular pelo poder sobre o Estado
para a apropriação do capital público ou estadístico, uma vez que esse tipo de
capital pode assegurar o poder sobre os outros diferentes tipos de capital
(BOURDIEU, 2005). Para Starepravo (2014), esse processo de apropriação e
acumulação do capital público é operado a partir da política e, portanto,
considerado também político.
O surgimento do Estado, para Bourdieu (2005), foi constituído ao mesmo
tempo pela universalização e pela monopolização do universal. Desta forma, ao
mesmo tempo que o Estado passou a ser considerado como universal, e não mais
como “casa do rei” em seu princípio dinástico, passou a ser constituído pelos
campos político e burocrático. Nesse sentido, a monopolização do universal é vista
39
tanto por intermédio das relações que são estabelecidas e que estabelecem o
campo burocrático quanto as que estabelecem e são estabelecidas pelo campo
político, por serem afirmados como campos de forças e de lutas.
Bourdieu (2009, p.164) define campo político como “lugar em que se geram,
na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos,
problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos”. Afirma
que a gênese desse campo é o campo da alta função pública, “vista como o
desenvolvimento progressivo [...] de um conjunto de regras do jogo amplamente
impostas, a partir das quais se estabelece, no interior do mundo social, uma
comunicação que pode ser uma comunicação no e pelo conflito" (BOURDIEU, 2014,
p.31). Assim, o campo político é entendido como um espaço social onde os agentes
– inseridos nas mais diversas instituições governamentais como ministérios,
secretarias, autarquias, dentre outras – transitam e estabelecem relações.
Tais argumentos levam-nos à apropriação do que Starepravo (2011, 2014)
afirma como “campo político-burocrático”. O autor afirma que “o objeto de disputa do
campo político-burocrático, portanto, é a acumulação do capital político, que dá
acesso ao capital público ou estatal, e vice-versa, bem como a todas as vantagens
decorrentes desse acúmulo” (STAREPRAVO, 2014, p. 39). As áreas que
contemplam o campo político-burocrático são designadas de subcampos político-
burocráticos, e cada área, definida pela especificidade de atuação do Estado,
delimita um espaço social diferente onde atuam os agentes ali vinculados.
A consolidação do campo burocrático e do campo político, fundamentada em
Bourdieu, foi aqui exposta de modo que pudéssemos refletir acerca da consolidação
desse espaço social, o campo político-burocrático. Mesmo que tenha Bourdieu
baseado-se no contexto europeu para tecer tais constatações, as condições
estruturais e características por ele apresentadas auxiliam-nos a pensar o contexto
do campo político-burocrático, frente ao nosso escopo de análise, à gestão pública
municipal do esporte e lazer no Brasil e à formação dos agentes públicos inseridos
nesse campo e estrutura social.
Ao longo desse tópico, características foram destacadas em negrito por
considerarmos pontos importantes às discussões que serão apresentas nos
capítulos seguintes. Pudemos observar que as características e condições
estruturais destacadas, decorrentes da transição do Estado dinástico para o Estado
40
burocrático fazem-se presentes nos dias de hoje nas relações estabelecidas entre os
agentes no campo político-burocrático e na gestão pública. Podemos destacar
dentre as características e condições estruturais as estratégias utilizadas para
acumulação de capital simbólico que no campo político-burocrático podem ser
observadas a partir do capital público ou capital político que confere certo poder aos
agentes que ocupam cargos políticos; os processos de apropriação e acumulação
do capital público operado a partir da política pelos agentes que se encontram
ligados à ela por meio da gestão pública; as formas de poder que, a partir da
transição do Estado dinástico para o burocrático, passaram a ser distribuídas de
acordo a competência e formas pessoais estabelecidas entre os agentes.
Averiguamos também a presença de interesses particulares e lucros
particulares, privados, a partir da apropriação do público, da coisa pública, no interior
do campo político-burocrático e da gestão pública. Em relação a esse ponto, como
bem demarcado por Bourdieu (2005), é relevante destacar que interesses
particulares advindos da apropriação do público sempre ocorreram e sempre
ocorrerão, pois possibilidades renovadas continuamente irão surgir para o
estabelecimento dessa apropriação.
Ainda podemos verificar o crescente nível de interdependência e
reciprocidade na relação entre os agentes públicos e políticos, aspectos que
surgiram do alongamento da cadeia de autoridades-responsabilidade que culminou
na constituição da ordem pública, e que ainda hoje se faz presente nas relações
hierárquicas entre os agentes inseridos no campo político-burocrático e na gestão
pública.
Em nosso campo empírico – campo político-burocrático – é possível
identificarmos certas estratégias de agentes que ocupam cargos políticos no topo
das cadeias hierárquicas, como é o caso do cargo de prefeito, secretário, ou
ministro, por exemplo, que se utilizam do esporte para obter prestigio político. Ou
ainda, agentes que mantêm interesses particulares, a partir da apropriação do
público, como por exemplo manter-se no cargo de prefeito ou secretário por meio do
prestígio de ter desenvolvido certas ações para a população. Esses são exemplos
de alguns pontos aqui destacados, mas é relevante considerar que todas as
condições estruturais e características destacadas auxiliam-nos a pensar o contexto
do campo político-burocrático. Ao buscarmos entender um pouco da lógica que
41
configura esse campo, podemos partir para a discussão do contexto municipal e
como os agentes inseridos nesse contexto, por meio da gestão pública municipal do
esporte e lazer, agem ou podem agir para manter ou modificar as estruturas
existentes. E assim chegarmos à discussão da formação dos agentes públicos
inseridos nesse campo e estrutura social que, a priori, é considerada como o
caminho para manter ou modificar as estruturas e relações sociais existentes.
Nesse sentido, o próximo tópico discorre a respeito das características e
peculiaridades inerentes aos municípios brasileiros a partir da municipalização,
processo que instituiu os municípios como entes federativos e que acarretou a eles
consequências e atribuições que moldaram a forma de desenvolvimento da gestão
pública municipal.
42
3 GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL
O foco do presente trabalho emergiu da realidade municipal e, por esse
motivo, consideramos que os municípios apresentam-se como nosso campo
empírico. Haja vista esse entendimento, no primeiro tópico desse capítulo discutimos
a municipalização e constituição dos municípios brasileiros como unidades da
federação.
Já no segundo tópico discutimos a respeito das características e condições
estruturais inerentes ao desenvolvimento da gestão pública municipal do esporte e
lazer em nosso país a partir de diferentes contextos e interlocutores.
3.1 Municipalização e constituição dos municípios brasileiros
Pelo fato dos municípios constituírem o campo empírico do presente estudo,
nesse tópico, a discussão volta-se à municipalização, processo histórico que culmina
na consideração do município como ente federado. Na lógica do Estado burocrático,
a necessidade de se municipalizar advém do aumento da cadeia de
responsabilidades e autoridade, que ao longo da história vai sendo atribuído ao
Estado. Assim, entendemos ser necessário voltarmos a atenção à constituição dos
municípios brasileiros, de modo a compreendermos as características e
peculiaridades desse processo.
Ao discorrer a respeito da vida municipal brasileira, Melo (1965) retrata
aspectos de seu desenvolvimento em três períodos históricos: “os tempos coloniais”;
“a época imperial” e o “período republicano até 1946”. Passaremos a apresentar tais
períodos.
Nos tempos coloniais, mais precisamente nos primeiros anos do século XVI,
instituições de governo local foram incorporadas, a exemplo de Portugal, no Brasil.
Melo (1965) retrata a fala de Sobrinho (1949) quando afirma que no período colonial
não chegou a se concretizar o que entendemos por municípios, e sim o que
denominava-se de “Senados de Câmaras Municipais”. Esses Senados eram tão
amplos e com poderes tão dilatados, que, segundo Sobrinho (1949), devem ser
considerados mais uma antecipação de assembleias estaduais do que propriamente
municipais. O autor afirma que o “Municipalismo, como hoje o entendemos,
43
dependeu da formação das cidades, com os seus interesses próprios, seus
problemas característicos e, sobretudo, sua emancipação diante da influência dos
clãs latifundiários” (SOBRINHO, 1949, p. 446).
As instituições locais portuguesas instituídas no Brasil foram logo
modificadas. A base do “município colonial” era formada pela propriedade rural, os
poucos centros urbanos eram sedes dos governos regionais. As capitanias, segundo
as quais o Brasil se dividia, eram governadas centralmente de Portugal. Mediante
tais peculiaridades, Melo (1965, p. 38) relata que “sem renda, por não possuir quase
nenhum poder de imposição, [...] o Município colonial brasileiro permaneceu, como
comunidade, num estágio bastante primitivo; e foi altamente ineficiente como
unidade de governo”. Por conseguinte, esse período conferiu características
embrionárias à vida municipal brasileira.
Na época imperial, período histórico subsequente demarcado por Melo
(1965), a partir da Independência e promulgação da Constituição de 1824, as
instituições municipais brasileiras passaram a ser definidas por lei. A Constituição
estabeleceu que toda cidade ou vila necessitava ter uma câmara popularmente
eleita, a fim de designar o governo econômico e municipal e um vereador, que no
cargo de presidente da câmara, cumpria as funções executivas.
Melo (1965) discorre que o quadro municipal na época do império manteve-se
estável em virtude da centralização das províncias e incapacidade financeira, quadro
constatado também por Brasileiro (1973) ao afirmar que durante o Império, que
perdurou até 1889, pouco se fortaleceu o governo local.
A Proclamação da República e a promulgação da primeira Constituição
Republicana Brasileira, em 1891, conferiu autonomia às antigas províncias ao
transformá-las em estados federados. A primeira Constituição atribuiu aos estados a
função de organizar as instituições de governo local, limitando a autonomia dos
municípios (MELO, 1965).
As décadas subsequentes, entre 1890 a 1930, foram marcadas por revoltas,
movimentos políticos e revoluções. A Revolução de 1930 assinalou a tentativa de
tomada do poder do então presidente, Washington Luís. Em novembro de 1930, a
Junta Militar Provisória passou o poder a Getúlio Vargas, voltando o Brasil a ser
governado de modo centralizado. Segundo Mezzadri (2000), o Estado passou a
intervir de forma direta nos âmbitos social, político e econômico. Os poderes
44
legislativos foram dissolvidos, dentre eles os municipais. Autoridades passaram a
exercer tanto o poder executivo quanto o legislativo, na figura dos interventores –
governadores nomeados pelo chefe do Governo Provisório – e dos prefeitos, esses
nomeados pelos interventores (MELO, 1965).
Pressões favoráveis à reconstitucionalização do país levaram à promulgação
da Constituição, em 16 de julho de 1934, que reforçou a autonomia municipal, e
reduziu em contrapartida a autonomia dos estados frente a seus municípios. Os
estados intervinham apenas para regularizar as finanças quando fosse verificado
impontualidade nos serviços de empréstimos realizados pelos municípios
(BRASILEIRO, 1973). A Constituição ainda previu a peculiaridade da divisão
tripartida, constituída pela união, estados e municípios.
Em 1937, o Estado Novo é implementado sob características ditatoriais, no
comando absoluto de Getúlio Vargas. As câmaras legislativas foram dissolvidas, os
governadores dos estados passaram a representar agentes do governo central, e os
prefeitos em pressupostos desses interventores (MELO, 1965).
Nos dizeres de Brasileiro (1973), a centralização atingiu seu ponto extremo
nesse período do Estado Novo, modificações foram introduzidas na legislação
trabalhista, bem como uma tentativa de reforma administrativa de modo a integrar o
município dentro da política governamental. Essa reforma, entretanto, sofreu desvios
de seus propósitos, segundo a autora, permitindo o aumento do funcionalismo
militar, civil e federal.
Em relação à Constituição desse período, promulgada em 1937, Bonavides e
Andrade (2004) afirmam que, utilizada por Getúlio Vargas em seu próprio benefício,
marcou o início das Constituições autoritárias, justificando de modo teórico as
ditaduras posteriores. Contudo, ainda é certo para Bonavides e Andrade (2004) que
Vargas implementou em seu governo a modernização do aparelho de Estado, tornou
a burocracia mais eficiente, mais renovada, porém, com poderes mais amplos do
que o considerado normal, além de proporcionar o início da industrialização do país.
Essas transformações marcaram o país, no que se refere ao plano
econômico. Além de iniciar o processo de industrialização, em decorrência da Crise
Econômica de 1930, o país se viu obrigado a produzir bens internamente, em virtude
da incapacidade de importar produtos, tendência reforçada pela II Guerra Mundial
(BRASILEIRO, 1973).
45
O fim da II Guerra Mundial marcou a extinção do período ditatorial do Estado
Novo. A restauração do regime democrático fora reconfigurada com a Constituição
de 1946. Barroso (1982) discorre que tal Constituição retomou as inacabadas
experiências políticas e constitucional de 1934, aumentando as atribuições da união
e instituindo a cooperação financeira e administrativa entre a união e os estados.
Não obstante, reafirmou a divisão tripartidária de competências entre união, estados
e municípios. A arrecadação tributária federal passou a ser partilhada aos estados e
municípios a partir da atribuição de cotas de impostos federais. A constituição ainda
afirmou a autonomia e o fortalecimento dos municípios.
Barroso (1982) elucida que, frente ao federalismo tripartidário assegurado
pelo texto da Constituição, pode-se verificar um fenômeno contraditório em relação à
evidente centralização, de um lado, e o fortalecimento dos municípios de outro. Esse
fenômeno é constatado por Barroso (1982), uma vez que, pode-se constatar que a
centralização era mantida pois estados e municípios, por mais que foram entendidos
como autônomos e fortalecidos na Constituição de 1946 mediante o modelo
federalismo tripartidário, eram dependentes da união, principalmente no que se
refere à arrecadação tributária federal.
Como efeitos do período que a Constituição de 1946 esteve vigente,
Bonavides e Andrade (2004) destacam certa autenticidade no processo
representativo no que se refere a existência de partidos políticos de âmbito nacional
e equilíbrio entre os poderes da República. Tais características marcaram o regime
federativo e o fizera prosperar por algum tempo, “ainda que condicionado por um
preocupante processo de centralização” (BARROSO, 1982, p. 48).
Com a deposição de João Goulart da presidência, e em 1964, a renúncia de
Jânio Quadros, deu-se início à sequência de governos militares imprimindo novas
feições ao Estado que, centralizando o poder, voltou a dominar grande parte dos
campos sociais por meio do monopólio da força física. Em 1965, instrumentos como
a Reforma Tributária Nacional promoveram o fortalecimento da união, reduzindo a
competência dos estados e municípios. Aos poucos, os três atos institucionais, as
vinte emendas constitucionais e em torno de quarenta atos complementares
exauriram a federação, que ao colapso da legalidade e crise de legitimidade,
demarcou a queda da Constituição de 1946 (BARROSO, 1982).
46
Durante o Regime Militar (1964-1985), a estrutura estatal permaneceu
centralizada mediante ações autoritárias. Já com o fim desse período, mudanças
sociais e políticas ocorreram devido à modificação na balança de poder entre Estado
e sociedade (VERONEZ, 2005). Essas mudanças foram graduais e progressivas no
sentido de uma redemocratização do país. Iniciaram-se com a retomada das
eleições diretas para o cargo de governador em 1982 e, mediante pressão popular
em movimentos como o “Diretas Já”, retomou-se as eleições diretas para o cargo de
presidente da República.
Melo (1999) afirma que esse período de transição democrática proporcionou
um boom na análise de políticas públicas, sendo que os estudos e pesquisas
passaram a voltar-se às questões relativas ao modus operandi do Estado. Nesse
período, segundo Melo (1999), o âmbito político-organizacional também foi marcado
pela descentralização e desenvolvimento de políticas municipais, com as demandas
se movendo de escala nacional para escala local.
Com a redemocratização do país e intenso processo constituinte, uma nova
Constituição foi promulgada em 05 de outubro de 1988. Tácito (1999) destaca, entre
os novos preceitos da Constituição, o financiamento dos estados, dos municípios e
do Distrito Federal a partir de recursos advindos do orçamento da União.
Em relação à municipalização, a Constituição de 1988 ampliou a autonomia
dos municípios, bem como dos estados, promovendo-os à condição de entes
federados. No texto da Constituição, a municipalização se faz presente quando
prevê a autonomia dos municípios ao afirmar no Art.18 do Capítulo I, Título III:
Título III - Da Organização do Estado Capítulo I - Da Organização Político-Administrativa Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988, p.08).
Ao destinar um capítulo próprio aos municípios, a Constituição, em seu Art.
29, instituiu a necessidade dos municípios serem regidos por lei orgânica que
estabelece, dentre outros preceitos, a eleição de um prefeito, vice-prefeito e
vereadores para mandato em quatro anos e o número de vereadores proporcional à
população do município. Já o Art. 30 prevê a competência dos municípios, devendo
estes:
47
I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir Distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual (BRASIL, 1988, p. 11).
Ainda a respeito do capítulo próprio aos municípios, o Art. 31 prevê a
fiscalização do município pelo Poder Legislativo municipal mediante controle externo
exercido pelos Tribunais de Conta e Conselhos, e por sistemas de controle interno
do Poder Executivo Municipal (BRASIL, 1988).
A presente Constituição também instituiu o esporte e o lazer como direitos
sociais atribuindo aos entes federados, estados e municípios, a competência de
legislar tais direitos. Por meio dessa instituição verificamos a obrigatoriedade,
findada pela lei maior vigente em nosso país, em se desenvolver a gestão pública do
esporte e lazer.
Mediante essa obrigatoriedade em se desenvolver a gestão pública do
esporte e lazer, uma vez que o esporte e o lazer foram instituídos como direitos
sociais pela Constituição de 1988, passaremos a apresentar os ordenamentos legais
relacionados ao desenvolvimento da gestão pública municipal.
Mesmo a autonomia dos municípios sendo prevista pela Constituição de
1988, os municípios ainda se encontram dependentes do seu estado e do governo
federal. Uma das formas de dependência é o recurso econômico. Em relação a essa
dependência devemos considerar o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O
repasse de receita do governo federal aos municípios é realizado a partir do FPM,
como consta na Constituição de 1988, que determina o repasse dos estados a seus
48
municípios, sendo 25% da receita arrecadada com ICMS9 (Artigo 158, inciso IV),
25% da parcela do IPI10 transferida pela União (Artigo 159, inciso II, parágrafo 3º), e
50% da receita arrecadada com IPVA11 (Artigo158, inciso III), como pode ser
constatado no texto constitucional:
Art. 158. Pertencem aos Municípios: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; II - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º; III - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios; IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (BRASIL, 1988).
O Ministério da Fazenda, a partir da Secretaria do Tesouro Nacional,
disponibiliza uma cartilha online12 com informações a respeito do FPM. De acordo
com a cartilha (BRASIL, 2012), o FPM foi instituído na Emenda Constitucional nº 18,
de 1º de dezembro de 1965 (feita à Constituição de 1946). O critério para divisão do
FPM, inicialmente era baseado no número populacional dos municípios. Este critério,
bem como a regulamentação do fundo, foi instituído pelo Código Tributário Nacional
(CTN), no seu artigo 91 da Lei 5.172/1966, e em 1967 iniciou-se a sua distribuição.
Desde então, diversas modificações foram realizadas no embasamento legal do
fundo em questão (BRASIL, 2012).
O cálculo dos percentuais individuais de participação dos municípios é
realizado pelo Tribunal de Contas da União e publicado no Diário Oficial da União
em Decisão Normativa até o último dia útil de cada exercício. A base do cálculo é
realizada a partir das informações geradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e repassadas ao Tribunal de Contas da União até o dia 31 de
outubro de cada ano. Informações essas compostas pela população de cada
9 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação. 10
Imposto sobre produtos industrializados. 11
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores. 12
Disponível em: http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/download/CartilhaFPM.pdf, acesso em: 18/05/2015.
49
município e renda per capta de cada estado. O fundo é destinado de acordo com o
tamanho populacional, sendo os municípios classificados em três classes, quais
sejam: capital, inferior e reserva. Dos 100% do FPM, 10% são destinados às capitais
– Brasília e as capitais de cada estado; 3,6% para a reserva – municípios com
população superior a 142.633 habitantes; e 86,4% para o inferior, constituída por
municípios que não são capitais, sendo que os municípios da reserva também
participam cumulativamente do critério desta classe. Assim, os critérios para o
cálculo do FPM dos municípios são estabelecidos de acordo com as classes
(BRASIL, 2012).
Ao voltarmos à discussão aos ordenamentos legais dos municípios, outro
ponto a ser considerado além do FPM é a Lei Federal nº 10.257 de 10 de julho de
2001, conhecida como Estatuto da Cidade. A referida Lei, Estatuto da Cidade, foi
promulgada com o intuito de regulamentar os Artigos 182 e 183 da Constituição de
1988, artigos que tratam da política de desenvolvimento urbano e função social da
propriedade. Portanto, consideramos tal Estatuto um mecanismo que regulamenta a
ação administrativa e de gestão nos municípios. Nas palavras de Castellani Filho
(2006, p. 121, grifos do autor) “podemos nos reportar ao Estatuto da Cidade como o
marco regulatório da instrumentalização do município para o exercício do pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade”.
Em seu primeiro capítulo, o Estatuto apresenta diretrizes gerais para a
execução da política urbana no sentido de ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade. Dentre estas diretrizes o plano prevê a cooperação entre
governos, o planejamento das cidades e a gestão democrática. Nos capítulos
subsequentes do Estatuto são apresentados os instrumentos da política urbana,
dentre eles, o Plano Diretor, a disciplina do uso e ocupação do solo, o zoneamento
ambiental, o Plano Plurianual (PPA), as Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
Orçamento Anual (LOA).
O Plano Plurianual (PPA) é um dos três instrumentos básicos que dizem
respeito ao planejamento e ao orçamento (PPA, LDO, LOA). A Lei do PPA
estabelece diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas
de capital e outras despesas delas decorrentes, bem como para despesas relativas
a programas de duração continuada. É um plano de médio prazo, pois é projetado
para ter aplicação por quatro anos, tendo vigência desde o início do segundo ano de
50
cada mandato até o final do primeiro exercício financeiro do mandato subsequente.
Em conformidade com o PPA, compete à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) o
estabelecimento de metas e prioridades da administração, bem como orientar a
elaboração do orçamento anual.
De acordo com a sistemática constitucional, em uma ordem hierárquica, são
estabelecidos o PPA, a LDO e pôr fim a LOA. Por ser o último instrumento da ordem
hierárquica, compete a LOA (Lei Orçamentária Anual) a função de efetivamente
autorizar a realização de gastos públicos, estimulando receitas e fixando despesas.
Esses instrumentos ou sistemas de planejamento e orçamento são aplicados tanto
no âmbito federal quanto para os estados, Distrito Federal e municípios (BRASIL,
2012).
Os três instrumentos de planejamento e orçamento, quando voltados ao
âmbito municipal, são incorporados às diretrizes e prioridades estabelecidas pelo
Estatuto da Cidade em relação ao Plano Diretor. Em relação às diretrizes e
prioridades do Plano Diretor, o Art. 40 do Estatuto afirma:
Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. § 1o O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.
§ 2o O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo. § 3o A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. § 4o No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos (BRASIL, 2001, grifos nossos).
A elaboração do Plano Diretor tornou-se obrigatória até outubro do ano de
2006 em municípios com mais de 20 mil habitantes. De acordo com o texto da lei, a
elaboração também tornou-se obrigatória a municípios integrantes de regiões
metropolitanas e aglomerações urbanas, a municípios onde o poder público
51
municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no inciso 4º do Art. 18213 da
Constituição de 1988, a municípios integrantes de áreas de especial interesse
turístico, bem como a municípios inseridos na área de influência de
empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional.
Dados do IBGE (2010), a partir de indicadores sociais municipais,
demonstram que dentre os 5.566 municípios brasileiros, apenas 1.652 possuem
mais de 20 mil habitantes, frente a 3.914 pequenos municípios, de até 20 mil
habitantes, excluídos da obrigatoriedade de elaboração do Plano Diretor. Segundo
Castellani Filho (2006), mesmo que os pequenos municípios escolham envolver-se
no processo de elaboração do Plano Diretor, variadas e distintas ordens dificultam
esse processo, devido à ausência de elementos como estrutura administrativa,
pessoal qualificado e instrumentos apropriados para o desenvolvimento das funções
administrativa e de gestão.
No caso especifico do estado do Paraná, para além da determinação prevista
no Estatuto da Cidades, o Decreto Estadual nº. 2.581/2004 instituiu que todos os
municípios elaborassem seu Plano Diretor para firmação de convênio. O texto do
Decreto afirma:
Art. 1º. O Estado do Paraná somente firmará convênios de financiamento de obras de infra-estrutura e serviços com municípios que obedecerem os seguintes requisitos: a) municípios que já possuam planos diretores aprovados pelas respectivas câmaras municipais; e b) aos municípios que executarem com recursos próprios ou financiarem prioritariamente planos diretores ou planos de zoneamento, em conformidade com o que estabelece o estatuto das cidades, para elaboração em até 180 (cento e oitenta) dias (PARANÁ, 2004).
Em substituição ao Decreto, o governo estadual instituiu no ano de 2006 a Lei
nº 15.229. A referida lei complementa as afirmações a respeito do Plano Diretor
instituídas no decreto anterior e estabelece outras diretrizes, conforme segue:
13
O inciso 4º do Art. 182 afirma: É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais (BRASIL, 1988).
52
Art. 4°. O Estado do Paraná, em conformidade com as deliberações da II Conferência das Cidades – CONCIDADES PARANÁ, somente firmará convênios de financiamento para projetos e obras de infra-estrutura, equipamentos e serviços com municípios que se enquadrem num dos seguintes requisitos: I - Município que já possua Plano Diretor Municipal aprovado pela respectiva Câmara Municipal; II - Município que precise ter um Plano Diretor Municipal, conforme exigência do Estatuto da Cidade, que estiver executando o Plano Diretor Municipal, tendo como prazo limite o prazo especificado no Estatuto da Cidade; III - Município para o qual o Estatuto da Cidade não exige Plano Diretor, deverá tê-lo aprovado, até 90 (noventa) dias após a vigência desta lei (PARANÁ, 2004).
Segundo dados do IBGE (2010), dos 399 municípios do estado do Paraná,
apenas 87 municípios possuem mais de 20 mil habitantes, sendo que 312
municípios possuem menos de 20 mil habitantes. Levando em consideração as
disposições do Estatuto da Cidade, esses 312 municípios não teriam a
obrigatoriedade na elaboração de Planos Diretores. Porém, como já enunciado, o
governo do estado, no ano de 2004 e reformulação em 2006, previu que todos os
municípios necessitariam elaborar seus Planos.
Entendemos que essa obrigatoriedade é um avanço ao exigir dos municípios
um planejamento mínimo. Porém, alguns pontos dessa exigência pode ser
questionados, uma vez que pode-se perceber que uma grande maioria dos
municípios não possui problemas urbanos aplicáveis aos instrumentos do Estatuto, e
portanto, não contempla essa utilização. Este questionamento vai ao encontro da
discussão realizada por Rodrigues e Cordovil (2007) ao analisarem a realidade de
três municípios paranaenses com população de, no máximo, 6 mil habitantes frente
à obrigatoriedade de elaboração do Plano Diretor. Os autores afirmam a
necessidade de se criar planos voltados à problemática da área rural, haja vista que
esses espaços ditos “urbanos” de pequeno porte têm, como consideram, “baixo
dinamismo efetivamente urbano” que vão de encontro a algumas atribuições do
Estatuto da Cidade e Plano Diretor (RODRIGUES; CORDOVIL, 2007, s/p).
Problemas de diversas ordens atingem os municípios brasileiros, como pode
ser constatado nos dados apresentados pelo IBGE (2000), sendo eles de ordem
social, fiscal, financeira, urbana e rural. Estudos (REZENDE; ULTRAMARI, 2007;
REZENDE, 2008) afirmam que muitos desses problemas poderiam ser resolvidos ou
minimizados a partir da elaboração e controle de planos e planejamentos voltados
53
às realidades específicas dos municípios, bem como por meio da gestão
competente.
Como discutido nos tópicos anteriores, essa configuração atual dos
municípios em nosso país é resultado do processo de municipalização enquanto um
produto histórico do desenvolvimento do Estado e consequente aumento da cadeia
de autoridades-responsabilidades no campo político-burocrático. Assim, com a
promulgação da Constituição de 1988, os municípios e os estados, foram previstos
como entes da federação.
Por vezes, a instituição do município como um ente federativo é vista como
resultante do processo de descentralização do Estado brasileiro. Porém, ao nos
referirmos ao processo de descentralização, é necessário salientar que há diversas
conceituações para o termo em questão – “descentralização”. Pautamos em duas
compreensões para distinguir a descentralização administrativa da descentralização
dos poderes entre os entes da federação, por entendermos que essas duas
conceituações podem estar relacionadas, de alguma forma, à gestão pública
municipal.
Consideramos a descentralização administrativa como aquela que se refere à
gestão das ações, com a modificação do padrão decisório, em que a participação
popular e democrática seria um dos meios para sua efetivação. Alguns autores como
Queiroz et al. (2011), pautam-se nessa conceituação e afirmam a descentralização
como o processo em que se associam formas de democracia direta, possibilitando a
mediação entre a sociedade e o Estado por meio da participação popular nas
decisões. Indo a esse encontro, Castro (2002) considera a descentralização como o
processo que objetiva resolver as demandas da população a partir da valorização da
ação pública.
Em relação à segunda conceituação, tem-se que a descentralização dos
poderes entre os entes da federação foi afirmada no texto constitucional de 1988. A
partir do processo de descentralização afirmado na Constituição, o município passou
a ser um ente federado com funções e atribuições. Porém, não há um consenso
quanto à utilização do termo descentralização em relação a esse processo, instituído
em 1988, mas fruto da história frente à separação entre união, estados e municípios.
54
Monaco (1998), ao discorrer acerca da organização administrativa do Estado
no ordenamento italiano, considera que, na maioria das vezes, o termo
descentralização é utilizado no sentido de desconcentração. Segundo ele:
As tentativas dirigidas simplesmente ao descongestionamento da administração pública central, multiplicando no interior da administração do Estado os órgãos periféricos, sem incidir de maneira substancial sobre o poder de decisão e sem se sobrepujar à ordem hierárquica, dão finalmente lugar a medidas de desconcentração ou, se preferirmos, de Descentralização hierárquica (MONACO, 1998, p.344).
Pautando-nos nessa diferenciação, podemos chegar à consideração de que o
modelo que possuímos no Brasil, instituído pela Constituição de 1988, a partir da
divisão entre os entes da federação, é produto do processo de desconcentração,
uma vez que multiplicou os órgãos periféricos sem deixar de lado a ordem
hierárquica – municípios são dependentes de seus estados e ambos dependem da
união.
O entendimento de que o processo de desconcentração foi efetivado em
nosso país ao invés do processo de descentralização, vai ao encontro da
consideração de Menezes (2009). O autor afirma que a tentativa de transferir poder
decisório e financeiro aos estados e municípios, de modo que esses pudessem
decidir de forma local frente suas prioridades, não se concretizou em sua totalidade,
uma vez que “nem sempre as responsabilidades transferidas têm isonomia nos
recursos repassados, sendo a descentralização, por vezes, uma ação que não
corresponde à realidade, sobretudo, de estados e municípios” (MENEZES, 2009, p.
82-83).
Em relação às políticas, Menezes (2009) alega que a união é o principal
agente financiador ou autorizador de recursos, ficando a cargo dos entes
subnacionais – estados e municípios – as responsabilidades de execução. Essa
lógica pode ser visualizada na área do esporte e lazer. A Constituição apenas
desconcentrou a competência de legislar o esporte e o lazer como direitos sociais
entre os entes da federação – estados e municípios. A lei infraconstitucional voltada
ao esporte, Lei nº 9.615, conhecida como Lei Pelé, não estabelece nenhum tipo de
atribuição aos estados e municípios, mas confere a essas instâncias do poder
público autonomia em relação à constituição de seus próprios sistemas de esporte.
Como pode ser observado no texto da lei:
55
Seção V Dos Sistemas do Desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011). Art. 25. Os Estados e o Distrito Federal constituirão seus próprios sistemas, respeitadas as normas estabelecidas nesta Lei e a observância do processo eleitoral. Parágrafo único. Aos Municípios é facultado constituir sistemas próprios de desporto, observado o disposto nesta Lei e, no que couber, na legislação do respectivo Estado (BRASIL, 1998).
Após mais de uma década da promulgação da Lei Pelé, um novo decreto o
Decreto nº 7.984/13 objetivou regulamentar a referida lei e instituir ordenamentos
legais gerais para o esporte. Entre os pontos instituídos, destacamos no texto do
Capítulo II – Dos Sistemas do Desporto, a Seção I que trata do Sistema Brasileiro do
Desporto:
Art. 5º O Sistema Brasileiro do Desporto compreende: I - o Ministério do Esporte; II - o Conselho Nacional do Esporte - CNE; e III - o Sistema Nacional do Desporto e os sistemas de desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, organizados de forma autônoma e em regime de colaboração, integrados por vínculos de natureza técnica específicos de cada modalidade desportiva. § 1º O Sistema Brasileiro do Desporto tem por objetivo garantir a prática desportiva regular e melhorar o seu padrão de qualidade. § 2º Poderão ser incluídas no Sistema Brasileiro de Desporto as pessoas jurídicas que desenvolvam práticas não formais, promovam a cultura e as ciências do desporto e formem e aprimorem especialistas, consultado o Conselho Nacional do Esporte (BRASIL, 2013).
A Seção II, que se refere ao Sistema Nacional do Desporto:
Art. 6º O Sistema Nacional do Desporto tem por finalidade promover e aprimorar as práticas desportivas de rendimento, e é composto pelas entidades indicadas no parágrafo único do art. 13 da Lei nº 9.615, de 1998. Parágrafo único. O Comitê Olímpico Brasileiro - COB, o Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB, a Confederação Brasileira de Clubes - CBC e as entidades nacionais de administração do desporto a eles filiadas ou vinculadas constituem subsistema específico do Sistema Nacional do Desporto (BRASIL, 2013).
E a Seção III que se refere aos Sistemas de Desporto dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios:
56
Art. 7º Os sistemas de desporto constituídos pelos Estados e pelo Distrito Federal observarão o disposto na Lei nº 9.615, de 1998, e neste Decreto. Parágrafo único. A constituição de sistemas próprios de desporto pelos Municípios é facultativa e deve observar o disposto na Lei nº 9.615, de 1998, neste Decreto e, no que couber, na legislação estadual. Art. 8º A relação entre o Sistema Brasileiro do Desporto e os sistemas de desporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios observará o princípio da descentralização, com organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos de cada ente federativo (BRASIL, 2013).
Como podemos constatar, esse aparato legal novamente repassa aos
estados e municípios a tarefa de constituir sistemas de esporte, conferindo
autonomia a essas instâncias do poder público à constituição de seus próprios
sistemas. A inovação recai no fato de instituir um sistema próprio para as práticas
esportivas de rendimento, o Sistema Nacional do Desporto e ao afirmar que frente
aos “sistemas de desporto dos estados, DF e municípios” o Sistema Nacional do
Desporto deve basear-se frente ao princípio da descentralização. Ou seja, por meio
do decreto teríamos a instituição de dois Sistemas para o esporte em nosso país, um
voltado para esporte como um todo (Sistema Brasileiro do Desporto) e outro para o
esporte de rendimento (Sistema Nacional do Desporto). Porém, esse aparato legal
não estabelece os meios para a instituição desses sistemas nos entes federados de
modo a garantir o princípio da descentralização, o que nos leva mais uma vez a
considerar que, em vez de se efetivar o princípio da descentralização, é a
desconcentração que de fato se sobrepõe, com certa desorganização dos direitos e
deveres de cada ente federado frente a oferta do esporte e lazer.
Em relação à oferta do esporte e lazer, portanto, como se configuram os
municípios frente à obrigatoriedade dessa oferta considerando as características
peculiares e as condições estruturais de suas gestões e administrações públicas?
Para iniciar a discussão a respeito da gestão pública municipal do esporte e lazer, no
próximo tópico iremos pautar a conceituação dos termos gestão pública e
administração pública para, em seguida, dialogar com estudos que discutam a
gestão pública municipal do esporte e lazer.
57
3.2 A gestão pública municipal do esporte e lazer
Frente o objetivo de contextualizar a gestão pública do esporte e lazer no
âmbito municipal, após discorrermos acerca do desenvolvimento dos municípios e
dos ordenamentos legais necessários ao desenvolvimento da gestão pública
municipal, visualizamos a necessidade de nos pautarmos em projetos, estudos e
pesquisas já realizados de modo a entendermos o desenvolvimento da gestão
pública municipal do esporte e lazer em diferentes contextos e a partir de diferentes
interlocutores.
Projetos, estudos e pesquisas já desenvolvidos nos ajudam a entender o
espaço de atuação dos agentes para então realizarmos uma discussão voltada à
gestão pública municipal do esporte e lazer e à formação dos agentes que trabalham
nesse âmbito. Mas, efetivamente, o que vem a ser “gestão pública”? E qual a sua
diferenciação em relação à “administração pública”?
Oliveira (2012, p. 32) ao discorrer a respeito dos conceitos afirma:
A administração pública é uma estrutura do Estado, não dos governos. Ela cumpre um importante papel para a sociedade, ao servir de base para a realização dos programas dos governos eleitos. Os mandatos se sucedem, em função do processo democrático de disputa pelo poder, mas a estrutura administrativa é permanente.
A partir das considerações do autor, tem-se que a administração pública é
permanente, diferente da gestão pública que tem caráter transitório. Contudo, essa
consideração não é facilmente percebida, uma vez que se manifesta no plano
subjetivo, como afirmam Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p.11) ao se referirem
às estruturas administrativas: “Para a maioria dos estudiosos, as estruturas
administrativas representam, mais do que tudo, o traço característico dos Estados
modernos e contemporâneos, manifestando, quase fisicamente, sua presença no
plano subjetivo”.
Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998) ainda afirmam que a administração
pública pode ser identificada “como uma função, ou como uma atividade-fim
(condicionada a um objetivo), e como organização, isto é, como uma atividade
voltada para assegurar a distribuição e a coordenação do trabalho dentro de um
escopo coletivo” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p.11). Segundo os
autores, a administração pública, enquanto uma das estruturas específicas do
58
Estado, surgiu no momento em que as exigências pela distribuição e coordenação
do trabalho administrativo assumiu importância e dimensões crescentes no decorrer
do desenvolvimento dos ordenamentos estatais modernos e contemporâneos.
Assim, o termo administração pública passou a indicar o complexo de estruturas que
se encontram, nas palavras dos autores, “em posições de subordinação diferentes,
em relação às estruturas políticas e de Governo, representam uma realidade
organizativa distinta daquelas” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p.11).
Os autores Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998) não utilizam efetivamente o
termo gestão pública, mas, ao mencionarem “estruturas políticas e de Governo”,
entendemos que se referem à gestão pública. Podemos considerar, dessa forma,
que a conceituação dos autores vai ao encontro da conceituação de Oliveira (2012),
uma vez que ambos diferem os termos administração pública de gestão pública,
sendo o primeiro relacionado a uma estrutura organizativa permanente do Estado e,
o segundo, a estruturas políticas e de governo de caráter transitório.
Ao diferenciarmos administração pública de gestão pública, consideramos
que o foco do nosso estudo volta-se à gestão pública e aos agentes integrados a
ela, e dentre eles, a figura dos gestores e dos agentes técnicos. Ao nos pautarmos
na figura desses agentes, principalmente no papel dos gestores públicos,
entendemos que o termo gestão, como afirmam Bastos e Mazzei (2013, p. 117),
refere-se as ações desempenhadas por estes agentes, ou seja, “ações de
gerenciamento responsáveis por planejar, coordenar, e avaliar ações, programas e
políticas cuja missão seja de interesse público ou afete este”.
Planejamento, organização, direção e controle são pilares estabelecidos no
viés da administração mas que podem ser empregados no desenvolvimento da
gestão pública municipal para o bom desempenho das ações de gerenciamento,
como apontado por Bastos e Mazzei (2013). Assim, entende-se que a tarefa da
gestão pública municipal é interpretar os objetivos propostos nas leis, planos e
decretos, e transformá-los em ações a partir de planejamentos que levem a
organização, direção e controle das ações.
Ao considerarmos tais pilares, passamos a nos questionar se na gestão
pública do esporte e lazer, inserida na realidade dos municípios brasileiros, podemos
identificar tais etapas. Mediante esse questionamento, realizamos uma busca por
estudos que discutissem a gestão pública municipal do esporte e lazer para, assim,
59
entendermos o seu desenvolvimento em diferentes contextos, analisada ou
apresentada por diferentes interlocutores.
A busca por projetos, pesquisas e estudos a respeito da temática “gestão
pública municipal do esporte e lazer” foi realizada em dois momentos. No primeiro
momento realizamos uma busca ampla por meio de levantamento sistemático de
artigos publicados em periódicos, utilizando os qualificadores “gestão pública”;
“administração pública”; “gestão pública em esporte e lazer”. Essa busca foi
realizada no mês de Janeiro de 2014, em bases de dados virtuais, quais sejam:
WEB OF SCIENCE (ISI) (http://scientific.thomsonreuters.com); SCOPUS
(http://www.scopus.com); REDALYC (http://redalyc.uaemex.mx/); LATINDEX
(http://www.latindex.unam.mx); LILACS (http://lilacs.bvsalud.org/); SCIELO
(http://www.scielo.org/php/index.php); SUMARIOS.ORG (http://sumarios.org);
GOOGLE ACADÊMICO (http://scholar.google.com.br/); PORTAL DA CAPES
(http://www.periodicos.capes.gov.br/).
A partir dessa busca, realizamos a seleção dos artigos de acordo com o título
e o resumo, verificando se o assunto tratado estava diretamente ligado à gestão
pública. Chegamos, então, ao total de 44 artigos que foram divididos em 6
categorias, sendo uma delas a gestão do esporte e lazer. Dessa categoria, foram
encontrados 9 artigos e, a partir da leitura desses, selecionamos quatro que
tratavam centralmente da discussão da gestão pública do esporte e lazer.
60
Quadro 1 – Estudos sobre gestão pública do esporte e lazer
AUTORES (ANO)
TÍTULO OBJETIVO AMOSTRA PRINCIPAIS RESULTADOS
Galindo (2005)
“Esporte e lazer municipal: reflexões sobre as bases do planejamento e gestão pública”
Apresentar os elementos fundamentais que estão envolvidos nas bases do planejamento e gestão pública do esporte e lazer dentro das cidades, com o propósito especial de servir de subsídio para tomadas de decisões por parte dos gestores municipais envolvidos com o planejamento e desenvolvimento urbano, em especial no Estado do Amapá.
Reflexões teóricas Os principais pontos de discussão foram: 1) a necessidade de um alinhamento terminológico referente a alguns termos críticos, como Estado, sociedade, política, administração pública e governo; 2) os fundamentos de uma gestão pública equilibrada do esporte/lazer na cidade, usando como referência as manifestações educacional, participativa e de rendimento do esporte e 3) o alinhamento necessário entre governo e sociedade civil para elaboração/implementação de políticas públicas de esporte/lazer nas cidades, a partir das evidências relacionadas com a demanda local. Segundo os autores, destacou-se a evidente necessidade de se tratar o esporte/lazer na cidade como um dos fatores críticos básicos, ao se pensar em planejamento e desenvolvimento urbano/social, na medida em que, a cidade incorpora em si a função de também possibilitar uma qualidade de vida condizente aos seus cidadãos.
Amaral, Kikuchi (2011)
Política pública de lazer em Suzano/SP: a concepção dos Gestores
Identificar a concepção de lazer dos gestores da Cidade de Suzano
Analise documental, da Lei Orgânica do município de Suzano e o Plano Diretor Participativo Municipal. Entrevista com três
De acordo com as autoras, os gestores analisados materializavam os projetos de acordo com a sua concepção de lazer, dentro da política urbana da cidade. Embora houvessem canais de participação,
61
gestores de Suzano como o Orçamento Participativo, não havia evidências que o lazer era entendido como direito social que promovesse uma educação emancipatória e contribuísse para a cidadania ativa. Constatou-se a contradição nas entrevistas e nos documentos, pois os gestores conceituaram o lazer como neo-funcionalista e os documentos como um direito social. Os mecanismos de participação da população pareceu condizer à ideia de uma política híbrida, participativa, democrática.
Rocha, Bastos (2011)
Gestão do Esporte: definindo a área
Contextualizar a área da gestão do esporte a partir de três eixos: 1) discutir o atual estágio acadêmico da gestão esportiva a partir do desenvolvimento de cursos de pós-graduação, das associações profissionais e das revistas científicas da área; 2) definir a gestão do esporte e termos relacionados; 3) apresentar as subáreas e as principais linhas de pesquisa da área.
Reflexões teóricas Os autores afirmam que os conceitos discutidos ajudam a entender a complexidade e as necessidades da área. Como a gestão do esporte é entendida como aquela que compreende tanto produções quanto “marketing” de produtos oferecidos por organizações esportivas, entende-se que os programas de formação de gestores deveriam se preocupar em preparar os profissionais para gerenciar organizações esportivas. Esses programas deveriam contemplar pelo menos sete subáreas, quais sejam: gestão e liderança no esporte, “marketing” esportivo, aspectos legais do esporte, ética na gestão do esporte, finanças do esporte, comunicação no esporte e aspectos socioculturais do esporte. Entende-se que o fato do país sediar megaeventos esportivos possa fomentar o desenvolvimento da
(continuação)
62
gestão esportiva com área de intervenção profissional e área acadêmica. Assim, os autores afirmam que esperam que o potencial dos megaeventos esportivos possa se converter em suporte de desenvolvimento da área no país.
Menezes, Oliveira, Souza (2012)
Gestão desportiva e política pública na Região Metropolitana de Recife
Discutir sobre a gestão de esporte desenvolvida na Região Metropolitana de Recife por meio da análise do discurso de gestores de 14 cidades dessa região, focando as percepções socioculturais destes que influenciam as práticas desenvolvidas em torno dessas políticas.
Gestores de 14 municípios da Região Metropolitana de Recife
A partir das análises constataram que não é possível afirmar com rigor a existência de políticas públicas esportivas nas 14 cidades pesquisadas, pois as ações estavam circunscritas ao desenvolvimento de torneios, campeonatos, escolinhas de futebol. Por serem atendimentos mínimos e focais, sinalizou-se uma desresponsabilização ou baixa prioridade dessas políticas por parte do poder local. Os autores afirmam ainda que as entrevistas apontaram a existência de muitas dificuldades tendo em vista a falta de empenho do chefe do Executivo local para alocar recursos suficientes, o que acarreta a realização de intervenções focais. Concluem que todos esses fatores contribuíam para que a política desportiva permanecesse em segundo plano.
Fonte: A autora
(conclusão)
63
Além da busca por esses artigos, realizamos posteriormente o levantamento
bibliográfico de projetos e pesquisas em bases de dados virtuais, como o Google
Acadêmico14 e o Repositório Institucional Vitor Marinho (Repositório da Rede Cedes)15.
Essa nova busca foi realizada pois verificamos que alguns dos artigos encontrados na
primeira busca referiam-se à apresentação ou discussão de resultados de projetos de
pesquisas ou estudos amplos. A busca nos apresentou projetos de pesquisa que
visavam discutir a gestão pública do esporte e lazer, seja em um município específico
ou em vários municípios de uma determinada região do Brasil. A maioria desses
projetos contou com o apoio/financiamento do Ministério do Esporte e Rede Cedes a
partir de editais de fomento à pesquisas.
No site da Rede Cedes16 há cinco listas de pesquisas desenvolvidas de 2003 a
2010, de acordo com a região do país em que as pesquisas foram propostas e
realizadas. Ao acessarmos essas listas verificamos que a Região Norte conta com 3
(três) pesquisas financiadas, a Região do Nordeste com 27 (vinte e sete), a Região
Sudeste 55 (cinquenta e cinco), a Região Sul 41 (quarenta e uma), e a Região Centro-
Oeste com 13 (treze) pesquisas financiadas. Do total de pesquisas, verificamos que 40
voltam-se à temática “gestão pública municipal do esporte e lazer”.
Ao buscarmos esses projetos de pesquisas por meio do levantamento
bibliográfico nas bases de dados virtuais chegamos a um total de 9 projetos que
discutem centralmente a gestão pública do esporte e lazer. No Quadro a seguir
apresentamos tais projetos:
14
https://scholar.google.com.br/ 15
Repositório que disponibiliza a produção oriunda de pesquisas apoiadas pela Rede Cedes, disponível em: http://vitormarinho.ufsc.br/xmlui/ 16
http://www2.esporte.gov.br/sndel/esporteLazer/cedes/pesquisasAndamento.jsp
64
Quadro 2 – Projetos de Pesquisa sobre gestão pública do esporte e lazer
TÍTULO COORDENADOR PRODUÇÕES DECORRENTES
OBJETIVO CARACTERISTICAS PRINCIPAIS RESULTADOS
“Projetos sociais esportivos e a produção de uma política pública de esporte”
Meri Rosane Santos da Silva (FURG)
Hecktheuer et al. (2009)
Analisar projetos sociais desenvolvidos na cidade do Rio Grande (RS) no que se refere a implicação desses projetos na constituição da política municipal de esporte da cidade
O livro desenvolvido a partir do projeto de pesquisa reúne as produções desenvolvidas pelos pesquisadores da Rede Cedes Núcleo Rio Grande, a partir de diferentes temas e olhares sobre a cidade do Rio Grande, sendo eles: 1. Políticas Públicas de Lazer em Rio Grande; 2.Projeto Segundo Tempo: consolidando uma política pública e de esporte; 3. Por uma Política de Educação Física para a Rede de Ensino Pública da Cidade do Rio Grande; 4. Levantamento das Políticas Públicas de Lazer para a Terceira Idade no Município de Rio Grande-RS 1997-2007.
De modo geral, constatou-se que o atendimento da população na cidade do Rio Grande frente ao direito ao esporte e lazer, no período em que a pesquisa foi realizada, requeria um maior investimento do poder público nos equipamentos e infraestrutura (transporte, segurança e limpeza dos equipamentos), no quadro de profissionais, e em projetos e ações para atender todos os setores da população, como a terceira idade.
“O esporte e o lazer no município de Sinop – MT: um estudo de suas manifestações na cidade e no campo”
José Tarcísio Grunennvaldt (UFMT)
Grunennvaldt et al. (2014)
Realizar um levantamento das diferentes manifestações de esporte e lazer desenvolvidas no município, de modo a contemplar a estrutura física existente, bem como as representações sociais da população em relação ao esporte e lazer
Projeto desenvolvido de 2010 a 2011. Foco do projeto centrou-se na análise das falas dos moradores e não nos agentes públicos. Primeiramente foi realizado um levantamento das estruturas físicas de esporte e lazer existentes no município para depois, nestes locais, aplicar questionários junto aos moradores para constatarem as ações e projetos de esporte e
Dentre às práticas culturais de lazer analisadas a partir das falas dos moradores, destacou-se: o Baile do Chopp; o gatebal; o final de semana das mulheres; a pescaria; o futebol praticado no meio universitário e com homens acima de 40 anos(quarentões) e; a dança em um centro
65
lazer desenvolvidos no município.
de tradição e, em uma associação de idosos. Tentou-se demonstrar nos casos retratados, que as reservas de experiência e de memória que cada sujeito ou grupo social carregava consigo para a situação da fronteira são transformadas em vista das necessidades de um contexto novo. Verificou-se que as práticas identificadas dependiam de parcos recursos, devido à grande distância entre a região de fronteira e o centro.
“PROJETO ORLA: análise dos espaços e equipamentos de esporte e lazer da praia de Atalaia em Aracaju/SE e de suas formas de uso/ocupação”
Diego de Souza Mendes (UFS)
Mendes et al. (2010) Mezzaroba et al. (2012)
Analisar a infraestrutura destinada a oferta do esporte e lazer levando em consideração a população que usufrui dessas estruturas
Projeto desenvolvido de 2009 a 2010. Foco do projeto centrou-se na análise das falas dos moradores e não nos agentes públicos.
Dentre as conclusões do estudo destaca-se a que se refere à necessidade de urgência na implementação de políticas públicas voltadas não só à manutenção física do espaço e equipamentos da Orla, mas de incentivo à participação e gestão popular a partir do acesso irrestrito aos bens e práticas no local.
“Esporte, lazer e políticas públicas na região dos
Profissionais da Universidade Veiga de Almeida
Motta e Terra (2011)
Realizar um diagnóstico das políticas públicas implementadas no campo
Projeto desenvolvido de 2010 a 2011.
Necessidade de maiores investimentos do poder público em
(continuação)
66
Lagos” (UVA – RJ) do esporte e do lazer pelas administrações em nível municipal de municípios da Região dos Lagos (RJ)
ações, programas e projetos que garanta a oferta do esporte do esporte e lazer a toda população. Os autores do livro também destacaram a baixa quantidade de ações continuadas, em virtude do quadro levantado que contemplava apenas ações ou eventos pontuais, a ausência de convênios para captação de recursos no âmbito estadual ou federal e a necessidade de debate e discussões da temática frente à importância da oferta do lazer e do esporte como direitos sociais.
“Formação e desenvolvimento de pessoal para atuação em políticas públicas de lazer – diagnóstico e prognóstico – os casos de Piracicaba e Campinas”
Nelson Carvalho Marcellino
Marcellino et al. (2007)
Verificar os componentes da política de formação e de desenvolvimento de quadros frente às política de esporte e lazer dos municípios de Campinas e Piracicaba (SP), a importância dessa política de formação frente às políticas de esporte e lazer nos municípios, bem como apontar alternativas para melhor adequação das políticas dentro do quadro da política geral
A partir do entendimento da área do lazer do ponto de vista conceitual e como campo de atuação, Marcellino et al. (2007) afirmam que o campo do lazer deve apresentar possibilidades para além do descanso e do divertimento, de modo que inclua também o desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos. Frente a esse
(continuação)
67
de esporte e lazer nos municípios pesquisados.
entendimento, os autores consideram a necessidade de investimentos na área de formação e desenvolvimento de quadros para atuação no campo do lazer segundo a perspectiva da animação sociocultural.
“A realidade pública do esporte nos municípios da Região Médio Rio Grande do estado de Minas Gerais”
Pesquisadores da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP/UEMG)
Queiroz et al. (2011)
Levantar e discutir dados relativos às instalações e equipamentos esportivos existentes e em construção; às articulações institucionais envolvidas no desenvolvimento de políticas públicas de esporte; à legislação esportiva, convênios e parcerias; aos projetos e programas desenvolvidos e eventos e modalidades esportivas, realizados em 17 municípios do estado de Minas Gerais.
Os dados, discussões e análises do projeto de pesquisa foram publicados no livro Queiroz et al. (2011) onde buscou-se traçar um panorama do desenvolvimento das políticas públicas de esporte e lazer e a abrangência dos projetos e ações esportivas a partir da aplicação de questionários com gestores dos 17 municípios que compõem a Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande (AMEG).
Os autores constataram uma participação mínima da comunidade na formulação e implementação de políticas para o esporte e lazer, pouca oferta de atividades, baixo número de profissionais disponíveis para a gestão do esporte e lazer, e de modo geral, apontam a necessidade de mais investimentos e indicadores de parâmetros por parte do governo federal para que, de fato, a democratização do esporte pudesse ser desenvolvida a toda população. Em relação ao quadro de agentes públicos atuantes nos municípios, as autores afirmam que, dos 138 funcionários ligados aos departamentos ou secretarias, 60 eram
(continuação)
68
graduados, 34 desempenhavam serviços distintos, 25 eram acadêmicos/estagiários, 12 possuíam pós-graduação, e 7 eram técnicos. Os autores ainda destacaram a importância do papel do gestor público em um cargo de confiança e por esse motivo a necessidade de se abordar a preparação técnica destes agentes.
“Diagnóstico das Manifestações de Esporte e Lazer do Campo e da Cidade da Região Central do RS”
Elizara Carolina Marin e João Francisco Magno Ribas (UFSM)
Marin et al. (2009) Realizar um panorama das manifestações dos municípios da Região Central do Rio Grande do Sul, considerando a caracterização dessas manifestações, e caracterização do público que participava dessas manifestações, bem como dos agentes públicos levados a tais manifestações
A partir dos dados coletados os pesquisadores criaram uma base de dados on-line de livre acesso. Essa base de dados é intitulada “Mapa das Manifestações de Esporte e Lazer da Região Central do Rio Grande do Sul”
17 e apresenta
informações relacionadas aos 19 municípios no que diz respeito aos meios de contato e histórico dessas cidades, lista de manifestações culturais, eventos, espaços culturais e instituições organizadores de ações de esporte e lazer desenvolvidas nos municípios.
Verificou-se a inexistência de setores especializados na organização das manifestações de esporte e lazer, sendo as prefeituras as principais gestoras dessas manifestações, bem como a evidencia do inexpressivo número de profissionais de Educação Física responsáveis pelas ações de esporte e lazer nos municípios pesquisados.
“Um olhar sobre as políticas
Pesquisadores da UFMG
Aparecida, Rodrigues e
Analisar as trajetórias das políticas de esporte e
A análise partiu da fala dos agentes que vivenciaram
O estudo discutiu o contexto histórico do
17
Base de dados intitulada “Mapa das Manifestações de Esporte e Lazer da Região Central do Rio Grande do Sul” disponível em: http://200.18.45.2/web/gpelf/index.php. Acesso em: 21/05/2015.
(continuação)
69
públicas de esporte em Minas Gerais: 1927-2006”
Isayama (2013) lazer em Minas Gerais entre 1927 e 2006, buscando compreender como e por que o estado de Minas Gerais passou a se ocupar do esporte, quais projetos foram criados e desenvolvidos, e quais diferentes relações políticas foram instituídas no processo de estruturação das políticas públicas de esporte no estado.
acontecimentos e conjunturas, nos diferentes momentos estudados, e que exerceram vários cargos da administração do esporte no estado de Minas, permitiu a organização de um banco de dados denso da memória esportiva de Minas Gerais.
esporte no estado de Minas Gerais no decorrer de quase oito décadas, e de modo geral os cinco capítulos arrematam a tese central defendida de que o esporte foi historicamente usado para diferentes fins no estado.
“Gestores e agentes sociais de esporte e lazer na baixada maranhense: um estudo dos recursos humanos para o Sistema Nacional de Esporte e Lazer”
Silvana Martins de Araújo (UFMA)
Araújo et al. (2007; 2011)
Investigar o perfil dos sujeitos responsáveis pela gestão das políticas públicas de esporte e lazer em dez municípios da baixada maranhense
Este projeto de pesquisa focou de a formação e o desenvolvimento de quadros para atuação, entendido como um dos componentes das políticas públicas de esporte e lazer. Os dados foram obtidos por meio de questionários aplicados aos agentes públicos do esporte e lazer e entrevistas realizadas junto aos gestores públicos municipais.
A pesquisa revelou inúmeros aspectos indicando a necessidade de formulação de políticas públicas de esporte e lazer na região caracterizada com alto grau de vulnerabilidade social. Aspectos esses que apontavam o nível de escolaridade dos agentes e gestores, os segmentos sociais, as atividades relacionadas ao esporte e lazer, e a relação de trabalho com a entidade. Os dados levantados retratam, no perfil dos agentes e gestores, a fragilidade e inconsistências das políticas públicas de esporte e lazer, uma
(continuação)
70
vez que, como afirmam, a qualidade da gestão requer formação de quadros de pessoal preparados para lidar com a gestão pública municipal do esporte e lazer a partir dos princípios de valorização dos direitos sociais e acessibilidade universal das ações no campo em questão.
Fonte: A autora
(conclusão))
71
A partir dos levantamentos realizados constatamos que a gestão pública do
esporte e lazer é uma temática discutida em diferentes contextos por diferentes
interlocutores. Mesmo mediante essa diversidade, os pontos de discussão aproximam-
se, demonstrando que há características e condições estruturais recorrentes nos
diversos contextos analisados e que portanto, podemos falar de um quadro geral da
gestão pública do esporte e lazer em nosso país.
Na maioria dos estudos e projetos de pesquisa as análises e discussões partiram
de dados coletados por meio da aplicação de questionários e entrevistas junto aos
agentes públicos. Apenas dois projetos de pesquisas, o segundo e o terceiro projeto
apresentados no quadro 2, destoam dessa padronização, pois foram realizados levando
em consideração a opinião da população que participa das ações e projetos ofertados
pelo poder público. No projeto de pesquisa coordenado por Grunennvaldt foi realizado
um levantamento das manifestações e estruturas físicas de esporte e lazer, bem como
as representações sociais em relação a essas manifestações a partir da aplicação de
questionários junto à população do município de Sinop (MS) (GRUNENNVALDT et al.,
2014). Já no projeto de pesquisa coordenado por Mendes foram analisadas as
condições estruturais e as formas de ocupação da infraestrutura destinada à oferta do
esporte e lazer em uma praia do município de Aracaju (MENDES et al., 2010).
Além de seguirem basicamente os mesmos procedimentos metodológicos, os
estudos e projetos assemelham-se nos pontos analisados e resultados encontrados. As
dificuldades enfrentadas pela gestão pública municipal é um desses pontos. Os estudos
e pesquisas, de modo geral, demonstram como dificuldade enfrentada na gestão
pública a falta ou insuficiência de recursos e investimentos voltados ao esporte e lazer,
o que demonstra a necessidade de mais investimentos para garantir a oferta desses
direitos sociais.
A necessidade de investimentos é requerida devido, principalmente, à limitação
financeira dos municípios. A maioria dos municípios brasileiros é de pequeno porte
(IBGE, 2010) e, como muitas vezes o orçamento da prefeitura é limitado, o esporte e o
lazer acabam ficando em segundo plano, pois não são entendidos como áreas
prioritárias. Esse contexto acaba por refletir a necessidade de maiores investimentos e
recursos na gestão pública municipal do esporte e lazer. Uma alternativa para essa
72
limitação orçamentária é a captação de recursos no âmbito estadual ou federal por
meio de convênios ou leis de incentivo. Porém, verifica-se que essa é uma alternativa
pouco utilizada na gestão pública municipal, como destacado em Motta e Terra (2011)
quando afirmam a ausência de convênios para captação de recursos nos municípios
analisados na Região dos Lagos (RJ).
Outro ponto de discussão presente na maioria dos estudos e pesquisas em
relação às dificuldades enfrentadas na gestão pública municipal é a baixa quantidade
de ações continuadas, pois o que mais se verifica são ações ou eventos pontuais,
esporádicos. Em relação a esse ponto, Araújo et al. (2007) afirmam a necessidade de
superação da fragmentação das ações de esporte e lazer, fragmentação essa
visualizada na oferta de ações ou eventos pontuais sem uma continuidade que acaba
por limitar a participação popular. Menezes, Oliveira e Souza (2012) também se
depararam com esse problema. Afirmam que nos municípios analisados da Região
Metropolitana de Recife a oferta do esporte e lazer pelo poder público encontrava-se
circunscrita a eventos esportivos esporádicos (MENEZES; OLIVEIRA; SOUZA, 2012).
A necessidade de debates e discussões que levem ao entendimento do esporte
e lazer como direitos sociais e dever do Estado é outro ponto de discussão comum nos
estudos e pesquisas. A população não entende que o esporte e o lazer são direitos que
devem ser garantidos, assim como o direito à saúde, por exemplo. Por não entender
como um direito social que deve ser ofertado pelo poder público e que, por esse motivo,
pode ser requerido quando não efetivado, verifica-se a ausência ou limitação da
participação popular nos processos políticos e na gestão pública. O projeto de pesquisa
coordenado por Mendes constatou essa baixa participação e afirmou a necessidade de
incentivo à participação e gestão popular na região pesquisada (MENDES; RIBEIRO;
MEZZAROBA, 2012). Semelhante constatação é apresentada por Queiroz et al. (2011)
que verificaram participação mínima da comunidade na formulação e implementação de
políticas públicas de esporte e lazer nos municípios da Microrregião do Médio Rio
Grande de Minas Gerais (AMEG). Assim como constatado por Menezes, Oliveira e
Souza (2012) que afirmam que nos municípios analisados não existiam meios
específicos de debates e discussões acerca das diretrizes para as políticas públicas de
73
esporte, sendo estas deliberadas de modo centralizado, afastando a participação do
cidadão comum.
Além da baixa participação popular, o baixo número de agentes públicos é outro
ponto de discussão comum entre os estudos e pesquisas que discutem as dificuldades
e limitações da gestão pública municipal do esporte e lazer. Marin et al. (2009) afirmam
que se depararam com um inexpressivo número de profissionais responsáveis pela
oferta do esporte e lazer nos municípios da Região Central do Rio Grande do Sul.
Hecktheuer et al. (2009) também destacam a necessidade de maior investimento no
quadro de profissionais para atender a todos os setores da população de Rio Grande
(RS).
Mesmo afirmando o baixo número de agentes públicos na gestão pública
municipal do esporte e lazer, os estudos e pesquisas também ressaltam a importância
desses profissionais nos municípios. A qualidade da gestão depende, além dos
aspectos materiais e estruturais, dos agentes que fazem acontecer a política pública.
Desse modo, Araújo et al. (2007) afirmam que a qualidade da gestão requer formação
de quadros de pessoal preparado para lidar com a gestão pública municipal do esporte
e lazer a partir dos princípios de valorização dos direitos sociais e acessibilidade
universal das ações no campo em questão. Assim como apresentado por Araújo et al.
(2007), a formação dos agentes públicos é outro ponto comum de discussão nos
estudos e pesquisas levantados. Por entender que os agentes públicos desempenham
um papel importante na sociedade, principalmente os gestores por ocuparem um cargo
representativo e de confiança, a formação desses agentes é um aspecto presente nas
discussões. Marcellino et al. (2007, p.23) afirmam que:
A falta de formação profissional e competência técnica dos secretários, gerentes, coordenadores, entre outras funções que recebem autonomia para o planejamento das atividades de esportes e lazer, tanto no setor público governamental quanto no não governamental e corporativo, é outro fator limitador do desenvolvimento de uma política capaz de retratar os princípios políticos, pedagógicos e democráticos.
A importância do papel do gestor público na gestão municipal também é um dos
pontos evidenciados por Queiroz et al. (2011). Nas palavras dos autores:
74
Seria viável que os órgãos competentes disponibilizassem capacitações específicas para os gestores, considerando-se que preparar/capacitar estes profissionais é uma alternativa de melhoria e possibilidade de atingir a efetividade no desenvolvimento de políticas estabelecidas e
desejadas (QUEIROZ et al., 2011, p. 43).
Por este ser um cargo de confiança, os autores consideram como relevante e
necessária a abordagem da preparação/capacitação dos gestores atuantes, uma vez
que entendem que o gestor deve ter conhecimentos específicos e diversificados para
desempenharem suas funções (QUEIROZ et al., 2011). Os estudos e pesquisas
discutem, de modo geral, que assim como o gestor, os demais agentes públicos
envolvidos com a oferta do esporte e lazer nos municípios devem constantemente
buscar aperfeiçoamento e atualização profissional.
Enfim, ao longo desse tópico, caracterizamos a gestão pública municipal do
esporte e lazer a partir de diferentes contextos e interlocutores, apontando
principalmente as dificuldades enfrentadas pelos agentes públicos municipais do
esporte e lazer. Essas características e condições estruturais, portanto, ajudam-nos a
entender o espaço social de atuação dos agentes públicos. A partir desse
entendimento, podemos refletir acerca da importância da formação no contexto de
atuação dos agentes na gestão pública municipal do esporte e lazer.
Para chegar a essa discussão, partimos da contextualização social do fenômeno,
realizada desde o início desse terceiro capítulo quando discorremos a respeito da
constituição dos municípios brasileiros e as peculiaridades dos processos que
moldaram a formação dos municípios em nosso país e as características e condições
estruturais que se fazem presentes e influenciam até nos dias de hoje o
desenvolvimento da gestão pública municipal.
Verificamos, a partir do referencial teórico e bibliográfico, que a discussão acerca
dos municípios e da gestão pública do esporte e lazer desenvolvida nesse locus de
pesquisa apresenta-se como um problema social relevante, porém, que requer mais
discussões. Dentre as características e condições estruturais encontradas no
desenvolvimento da gestão pública municipal do esporte e lazer, evidenciadas pelo
referencial, destaca-se a importância de se discutir e investir na formação dos agentes
75
públicos, como bem pontuado por Marcellino et al. (2007, p. 23): “a falta de formação
[...] é um fator limitador do desenvolvimento de uma política”.
Sendo a formação dos agentes uma das dificuldades encontradas no
desenvolvimento da gestão pública municipal do esporte e lazer, no próximo capítulo
iremos nos pautar nas características e peculiaridades da gestão pública municipal,
aqui referenciadas, para analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer
atuantes nos municípios do estado do Paraná a partir dos dados empíricos e diálogo
com o referencial teórico.
76
4 FORMAÇÃO EM GESTÃO DO ESPORTE E LAZER
No presente capítulo, a formação de agentes públicos que atuam na gestão do
esporte e lazer é discutida no primeiro tópico a partir de características, peculiaridades,
especificidades e competências advindas dos referenciais teóricos. Tais reflexões nos
permitem pensar acerca da formação dos agentes públicos frente às funções que
desempenham nas secretarias, nos departamentos ou órgãos públicos responsáveis
pela oferta do esporte e lazer em seus respectivos municípios. A partir dessas
reflexões, o segundo tópico desse capítulo parte do objetivo de verificar a formação dos
agentes públicos do esporte e lazer nos municípios pesquisados e apresenta as
análises oriundas dessa verificação.
4.1 Formação de agentes públicos
Entendemos que se faz necessário reconhecer e valorizar a atuação dos agentes
públicos, pois são estes os principais responsáveis pela oferta do esporte e lazer à
população, principalmente em relação à realidade municipal, levando-se em
consideração que, inúmeras características e condições estruturais, interferem na
gestão pública municipal. No tópico anterior, apontamos algumas características e
condições estruturais, sinalizadas a partir do referencial teórico, dentre elas, os baixos
orçamentos e investimentos na área do esporte e lazer, a insuficiência ou precariedade
dos recursos físicos e materiais, e outros fatores que podem impedir ou dificultar a ação
dos agentes públicos (AMARAL, KIKUCHI, 2011; ARAÚJO et al., 2007; GALINDO,
2005; GRUNENNVALDT et al., 2014; HECKTHEUER et al., 2009; MARCELLINO et al.,
2007; MARIN et al., 2009; MENDES et al., 2010; MENEZES, OLIVEIRA, SOUZA, 2012;
MOTTA, TERRA, 2011; QUEIROZ et al., 2011).
Nesse contexto, a formação dos agentes públicos do esporte e lazer é de suma
importância. Além dos referenciais já discutidos anteriormente, autores como Werneck
(1998) e Marcellino (2001) corroboram com essa afirmação e consideram que a
formação deve ser pautada em uma fundamentação teórico-prática que integre
77
diferentes saberes, experiências e conhecimentos. A formação pautada em uma
fundamentação teórico-prática, segundo os autores, pode levar os agentes a
assumirem uma postura reflexiva frente aos processos e contradições do meio em que
estão inseridos.
Quando falamos em formação, a primeira questão comumente levantada é a
escolaridade. O fato de possuir um certificado ou diploma que comprove a
escolarização é reconhecido socialmente como um aspecto qualificador do agente. Em
relação a essa naturalização de hierarquias mediante diplomas, Bourdieu (2007b, p.
307) discorre que:
A correspondência entre saberes hierarquizados (de maneira mais ou menos arbitrária, segundo as áreas e as disciplinas) e os diplomas, por sua vez, hierarquizados faz com que a posse, por exemplo, do diploma escolar mais elevado garanta, supostamente, por implicação, a posse de todos os conhecimentos garantidos pelos títulos de nível inferior ou, ainda, faz com que dois indivíduos no exercício da mesma função e dotados das mesmas competências úteis, ou seja, diretamente necessárias para o exercício de suas funções, apesar de providos de diplomas diferentes, tenham rodas as oportunidades de estar separados por uma diferença de estatuto (e, e claro, de tratamento): tudo isso em nome da idéia segundo a qual a competência outorgada pelos diplomas mais elevados pode garantir, por si só, o acesso aos conhecimentos - as "bases" - que se encontram na origem de todos os saberes chamados práticos ou aplicados.
A constatação dessa naturalização de hierarquias mediante diplomas é um dos
pontos levantados por Bourdieu quando analisa os processos de escolarização, sendo
esta uma de suas maiores contribuições para a educação. Quando falamos de
escolarização ou sistema escolar, Bourdieu apresenta, em algumas de suas
publicações, reflexões relacionadas a esse tema (BOURDIEU, 1999; 2006; BOURDIEU;
PASSERON, 2008). Passaremos a apresentar a ideia central dessas reflexões.
A escola é vista como uma instituição que transmite conhecimentos de forma
democrática a todos os alunos. Bourdieu considera que, da necessidade de resolução
do problema de acesso à educação, emerge a proposição da escola pública garantir
educação pública e gratuita a todos os cidadãos. Desta forma, a escola seria uma
instituição neutra, baseada nos princípios de igualdade, oportunidades, meritocracia e
justiça social, que difundiria o conhecimento e selecionaria seus alunos a partir de
78
critérios racionais. Bourdieu, entretanto, contrapõe essa lógica, pois ao invés desses
princípios visualiza outra interpretação da escola e da educação pelo viés da
reprodução e legitimação das desigualdades.
É provavelmente por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da “escola libertadora”, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ela é um dos fatores mais eficientes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural (BOURDIEU, 2007a, p. 41).
Podemos observar que Bourdieu refuta a ideia da escola como um meio de
garantir “justiça social” e igualdade de oportunidades a todos pelo viés da meritocracia,
quando percebe que o conhecimento não é transmitido igualmente para todos os
alunos como a escola faz parecer. Para ele, alunos de classes favorecidas trazem de
berço uma herança, o capital cultural, que os torna mais propensos a absorver a cultura
escolar.
A cultura consagrada e transmitida pela escola é socialmente reconhecida como
cultura legítima, universalmente válida. Essa cultura escolar, para Bourdieu, seria a
cultura imposta pelas classes dominantes como legítima. A essa dinâmica, Bourdieu
denominou de “arbitrário cultural dominante”, quando uma cultura se impõe à outra.
Sendo a cultura um elemento de dominação, as classes dominantes, além da
imposição, atribuem um valor incontestável a ela.
Bourdieu, transpondo essa ideia para dentro da escola, admite que esta
instituição, dissimuladamente, contribui para que a cultura, tida como legítima, seja
transmitida favorecendo alguns alunos em detrimento de outros. Os desfavorecidos são
aqueles que não tiveram contato ou acesso, a partir da família, a capitais culturais
objetivados na forma de livros e obras de arte, por exemplo, como também outras
formas simbólicas de capital cultural. Esses alunos não conseguem dominar os
mesmos códigos culturais que a escola valoriza. O aprendizado, para eles, pode se
tornar muito mais difícil. Em relação ao capital cultural transmitido pela família, Bourdieu
(2007a, p.41-42) afirma:
79
[...] cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas do que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores
implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que define, sob os dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito.
Bourdieu entende que, assim, a escola marginaliza esses alunos, enquanto
privilegia os dotados de capital cultural. Por isso contrapõe o discurso de igualdade que
a escola prega. Um exemplo dessa dominação cultural nas escolas é a escolha das
matérias tidas como mais relevantes. Não é difícil perceber que nos currículos,
disciplinas como física, matemática e história são mais valorizadas do que disciplinas
como arte e educação física.
Uma vez reconhecida como legítima e portadora de um discurso neutro, a escola
exerce suas funções de reprodução e legitimação das desigualdades sociais, livre de
qualquer suspeita. Nessa lógica, as posições prestigiadas e elevadas – definidas em
termos de ramos de ensino, disciplinas, e estabelecimentos – no sistema de ensino
tendem a ser ocupadas por agentes pertencentes aos grupos socialmente dominantes.
Para Bourdieu, essa lógica não é obviamente causal e nem pode ser explicada
exclusivamente pelas diferenças objetivas, sobretudo as econômicas. Para ele, essa
lógica só pode ser explicada quando consideramos que a escola, de modo dissimulado,
valoriza e exige dos alunos determinadas “qualidades”, que são desproporcionalmente
distribuídas, as quais são constituídas por meio do capital cultural e que estabelecem
certa naturalidade no trato com a cultura e o saber que só aqueles que foram
socializados desde a infância pela cultura legítima possuem. O trecho a seguir, extraído
dos escritos de Bourdieu (2007a, p.42), afirma essa lógica:
Paul Clerc mostrou que, com diploma igual, a renda não exerce nenhuma influência própria sobre o êxito escolar e que, ao contrário, com renda igual, a proporção de bons alunos varia de maneira significativa segundo o pai não seja diplomado ou seja bachelier* (N.T.: No sistema francês, pessoa que concluiu com sucesso seus estudos secundários e tornou-se, portanto, portadora do “baccalauréat” (ou, na forma abreviada, “bac”), cuja tradução literal, em português, seria “bacharelado”, mas que, em francês, designa, ao mesmo tempo, os exames e o diploma conferido ao final do 2º ciclo de ensino de 2º grau), o que permite concluir que a ação do meio familiar sobre o êxito escolar
80
é quase exclusivamente cultural. Mais que os diplomas obtidos pelo pai, mais mesmo do que o tipo de escolaridade que ele seguiu, é o nível cultural global do grupo familiar que mantém a relação mais estreita com o êxito escolar da criança.
Partindo de tais contribuições de Bourdieu para o entendimento do universo
escolar e do saber, entendemos que somente nos pautar na escolaridade do agente
público para identificarmos e analisarmos sua formação seria um tanto quanto limitado.
Por esse motivo, consideramos a formação como um processo amplo, que considera
não apenas a escolaridade dos agentes, mas também, a formação em seu sentido
constante, segundo o aspecto da continuidade. Consideramos essa formação de
sentido constante ou continuada como aquela que é desenvolvida no dia a dia, por
meio da reflexão-ação que embasa a prática diária dos agentes, seja a partir da busca
constante por novos conhecimentos, seja por meio de cursos, palestras e trocas de
experiências, por meio de estratégias em que se busca aprender, ensinar e refletir a
partir das ações desenvolvidas.
Entendemos que todos esses pontos podem ser considerados quando pensamos
na formação de agentes que atuam na gestão do esporte e lazer nos municípios.
Porém, como afirmamos anteriormente, autores como Werneck (1998) e Marcellino
(2001) enfatizam que essa formação deve ser pautada em uma fundamentação teórico-
prática de modo que possa ter reflexo nas tomadas de decisões e ações dos agentes
frente às contradições e processos que compõem a gestão pública do esporte e lazer.
Pensando em todos esses pontos levantados, questionamos: é possível definir
características, especificidades, competências e peculiaridades inerentes à formação
dos agentes públicos que atuam na gestão do esporte e lazer?
Discutir a respeito da formação de agentes públicos que atuam na gestão pública
do esporte e lazer no Brasil é um tanto quanto complexo. Autores como Amaral e
Bastos (2015) afirmam que essa complexidade se dá devido ao fato de não haver uma
área ou curso específico que consiga subsidiar sozinho esta formação em nosso país.
Tavares (2010, p. 47) afirma que acaba sendo atribuído principalmente aos cursos de
Administração e Educação Física “a tarefa de atender à complexa demanda da gestão
pública esportiva”. É por esse motivo que Amaral e Bastos (2015) alegam, baseando-se
em estudos que discutem a formação de gestores do esporte que atuam em nosso
81
país, que é comum encontrar formação diferenciada entre gestores que ocupam cargos
semelhantes.
Aqui, porém, fazemos uma ressalva: será que um determinado curso ou área
seria capaz de subsidiar a formação e atuação dos agentes públicos do esporte e
lazer? Refletindo acerca dos apontamentos de Bourdieu a respeito do universo escolar
e processo de escolarização, entendemos que os mesmos limitantes da escola – como
reprodução de uma determinada cultura, marginalização de alguns alunos em
detrimento do privilégio aos “mais aptos” – podem estar presentes nos cursos
superiores.
Bastos e Mazzei (2012), ao discorrerem acerca da formação em Gestão do
Esporte, afirmam que a formação dos gestores esportivos em nosso país geralmente é
desenvolvida por meio de Cursos de Graduação em Educação Física ou Esporte. Mas,
ponderam que outras alternativas de cursos surgiram nos últimos anos na realidade
brasileira. Alguns autores apontam, como exemplos, a criação do Curso de
Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer em 2009 na Universidade Federal do
Paraná – Campus do Litoral (Matinhos – PR.); Curso de Bacharelado em Educação
Física com ênfase em Gestão do Esporte e Lazer; e cursos técnicos e
profissionalizantes em Gestão do Esporte – cursos com duração de 2 anos voltados à
formação de Tecnólogo (BASTOS; MAZZEI, 2012).
Ao realizarmos a busca por cursos de Gestão Desportiva e de Lazer cadastrados
no Ministério da Educação (MEC), por meio do Sistema e-MEC18, encontramos um total
de 52 cursos cadastrados em todo país. Na sequência, a tabela 1 demonstra a
quantidade de cursos cadastrados nos estados brasileiros e DF.
18
De acordo com o Portal do MEC, o e-MEC “foi criado para fazer a tramitação eletrônica dos processos de regulamentação. Pela internet, as instituições de educação superior fazem o credenciamento e o recredenciamento, buscam autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos. Em funcionamento, desde janeiro de 2007, o sistema permite a abertura e o acompanhamento dos processos pelas instituições de forma simplificada e transparente”. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/e-mec>. Acesso em: 28/09/2015.
82
Tabela 1 – Cursos de Gestão Desportiva e do Lazer cadastrados no MEC (2015)
Estado Quantidade De Cursos Tecnológico Bacharelado
Amazonas (AM) 0 0
Roraima (RR) 1 0
Amapá (AP) 0 0
Pará (PA) 0 0
Tocantins (TO) 2 0
Rondônia (RO) 1 0
Acre (AC) 1 0
Maranhão (MA) 1 0
Piauí (PI) 0 0
Ceará (CE) 3 0
Rio Grande do Norte (RN) 1 0
Pernambuco (PE) 1 0
Paraíba (PB) 0 0
Sergipe (SE) 0 0
Alagoas (AL) 1 0
Bahia (BA) 3 0
Mato Grosso (MT) 2 0
Mato Grosso do Sul (MS) 1 0
Goiás (GO) 3 0
São Paulo (SP) 12 0
Rio de Janeiro (RJ) 4 0
Espírito Santo 1 0
Minas Gerais (MG) 4 0
Paraná (PR) 2 1
Rio Grande do Sul (RS) 3 0
Santa Catarina (SC) 1 0
Distrito Federal (DF) 3 0
Total 51 1
Fonte: Os autores a partir de informações do MEC
Como podemos verificar na tabela acima, dos 52 cursos cadastrados, 51 são
cursos ofertados em caráter tecnológico e apenas 1 é um curso de graduação em
bacharelado.
83
Esse único Curso de Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer em caráter
de graduação da UFPR-Campus do Litoral ofertou o último vestibular no ano de 2014 e
posteriormente entrou em processo de extinção. Atualmente, no ano de 2015, o curso
possui apenas alunos remanescentes das últimas turmas. Segundo informações de
professores que ministravam aulas no curso, o processo de extinção ocorreu devido à
baixa procura e baixo reconhecimento no mercado de trabalho, pois a maioria dos
concursos e processos de seleção acabam dando prioridade a profissionais com
graduação em Educação Física para assumir cargos na gestão do esporte e lazer. Tais
fatores acabaram sendo exacerbados devido ao fato do curso ser ofertado em uma
cidade pequena.
Se classificarmos os cursos por regiões brasileiras, verificamos, na região Norte,
5 cursos ativos, sendo que todos eles são tecnológicos; na região Nordeste 10 cursos,
todos tecnológicos; na região Centro-Oeste são ofertados 6 cursos, todos em caráter
tecnológico; na região Sudeste, 21 cursos ofertados também tecnológicos; e, na região
Sul, dos 7 cursos ofertados, 1 era bacharelado mas, como afirmado anteriormente,
entrou em processo de extinção, e os demais são tecnológicos.
Em relação à nomenclatura, apenas um dos cursos ofertados no estado do
Ceará é intitulado “Gestão do esporte e lazer comunitário”, todos os demais intitulam-se
“Gestão desportiva e de lazer”. Portanto, podemos constatar, com base nos dados
apresentados na Tabela 1, a homogeneidade na maioria dos cursos quanto ao tipo e
nomenclatura. O caráter técnico, de curta duração, é o que sobressai quando
consideramos a oferta de cursos voltados à gestão do esporte e lazer em nosso país.
Nossas constatações vão ao encontro do que consideram Bastos e Mazzei
(2012) quando afirmam que, no Brasil têm surgido alternativas para a formação em
gestão do esporte e lazer, como o curso Bacharelado em Gestão Desportiva e do Lazer
da UFPR Campus do Litoral, além de cursos técnicos e profissionalizantes. Os autores
alegam a falta de cursos de pós-graduação stricto sensu em nosso país, afirmando que
existem apenas linhas de pesquisa em cursos de mestrado, geralmente em Educação
Física (BASTOS; MAZZEI, 2012).
A partir desse cenário, Bastos e Mazzei (2012) apontam que uma das grandes
dificuldades dos escassos cursos que existem em nosso país é a falta de consenso
84
sobre quais seriam as disciplinas ou conhecimentos comuns a área. Mas, mesmo com
as diferenças nas estruturas curriculares dos cursos, os autores ressaltam que algumas
disciplinas são comuns à maioria dos programas, como:
Marketing esportivo; Finanças e Contabilidade; Planejamento Estratégico; Comunicação, Administração e Políticas Públicas; Aspectos Legais e Direito do Esporte; Economia; Dimensões Sociais, Culturais e Antropológicas do Esporte; Ética nas Organizações, e Liderança e Motivação no Esporte (BASTOS; MAZZEI, 2012, p. 35).
Considerando o levantamento realizado e as discussões de Bastos e Mazzei
(2012), mesmo sendo escassa a oferta de cursos técnicos, de graduação ou de pós-
graduação em gestão do esporte e lazer, estes apresentam-se como uma das
possibilidades quando pensamos em processos de formação daqueles que atuam ou
atuarão na gestão do esporte e lazer, seja em meios públicos ou privados. Mesmo
afirmando ser uma das possibilidades, não representa o único meio de formação de
agentes públicos do esporte e lazer. Assim afirmamos pois, como havíamos
mencionado anteriormente, entendemos que a formação a que nos referimos, refere-se
à uma formação constante e não estável, desenvolvida somente por um certo período
de tempo e geralmente em uma fase da vida antes de assumirem cargos na gestão do
esporte e lazer. Por pautar-se em um sentido constante e continuado, entendemos que
esta formação deva basear e ser buscada constantemente no decorrer da atuação dos
agentes.
Assim, concordamos com Tavares (2010) quando afirma que a formação para
atuar na gestão pública pode ser obtida por meio do acúmulo de diferentes cursos e
experiência em diferentes situações. Essas duas frentes podem representar um
caminho para se desenvolver um perfil de competências que o cargo na gestão pública
do esporte e lazer pode exigir. Mas, quais são as competências que o agentes públicos
devem possuir para atuarem na gestão pública do esporte e lazer? É possível elencar
competências necessárias à essa atuação? Os gestores públicos possuem
competências inerentes ao cargo que assumem?
Antes de buscar elementos para responder aos questionamentos suscitados,
ressaltamos que o gestor – aqui considerado na figura do secretário ou agente maior
responsável pelo esporte e lazer nos municípios analisados – é apenas um elemento
85
diante da complexidade da gestão pública. Como afirma Tavares (2010), frente essa
complexidade, torna-se de suma importância reconhecer a figura de outros agentes, ou
nas palavras do autor “componentes” que fazem parte dessa realidade social. Para
exemplificar tal importância, o autor assegura que uma equipe qualificada pode auxiliar
o gestor de modo que uma equipe menos qualificada não proporcionaria (TAVARES,
2010). É por esse motivo que optamos por analisar a formação, tanto dos gestores
quanto dos professores, estagiários ou profissionais técnicos que atuam em secretarias
ou órgãos públicos responsáveis pela oferta do esporte e lazer em municípios do
Paraná. Tanto os gestores quanto os professores, técnicos e estagiários são, por nós
considerados, agentes públicos do esporte e lazer.
Quando falamos em um perfil de competências que a atuação dos agentes
públicos na gestão do esporte e lazer pode exigir, consideramos que a manifestação
desses agentes, como afirma Tavares (2010), é construída e ambientada no tempo
histórico e cultural e a partir dos traços de personalidade individuais de cada agente.
Portanto, quando optamos em discutir a respeito de um perfil de competências é
relevante ressaltarmos que o perfil é fruto desse processo de construção, nas palavras
de Tavares (2010, p. 19), “é fruto da interatividade entre as características ambientais e
pessoais”.
Na literatura encontramos algumas discussões voltadas a habilidades ou
competências inerentes à atuação do gestor esportivo (TAVARES, 2010; BASTOS;
MAZZEI, 2012; AMARAL, 2014; AMARAL; BASTOS, 2015). Essa literatura está
relacionada principalmente à área da Gestão do Esporte e é produzida principalmente
por pesquisadores do GEPAE-EEFEUSP (Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do
Esporte - Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo). Porém,
devemos entender que discussões, tais como estas, mostram possibilidades e não
modelos estáveis de competências, pois estamos nos referindo a um processo
complexo, principalmente quando consideramos as especificidades da gestão pública.
A partir dessa ressalva, passaremos a apresentar modelos de competências presentes
na literatura.
Ao discorrer sobre o conceito de competência, Zarifian (2001) afirma que o
conceito deve ser pensado levando em consideração o indivíduo e não a qualificação
86
de um emprego ou cargo definido. Assim, quando assumimos a necessidade de discutir
competências inerentes à atuação dos agentes públicos, entendemos como preconiza
Zarifian (2001), que a competência se manifesta na relação prática dos agentes com
sua situação profissional, no modo como enfrentam as situações peculiares ao cargo
que ocupam. Nas palavras do autor: “[...] a competência só se manifesta na atividade
prática, é dessa atividade que poderá decorrer a avaliação das competências nela
utilizadas” (ZARIFIAN, 2001, p. 67).
Zarifian (2001) ressalva que o entendimento de competência não se volta apenas
à individualidade do sujeito, apontando-o como principal ou único responsável por
condições de competência. O autor afirma que se faz necessário levar em consideração
as condições presentes nas redes de trabalho e que as competências se apoiam em
conhecimentos, corpos de saberes, como afirma:
Ora, esses conhecimentos formam-se socialmente e, se quisermos escapar de uma validação absolutamente momentânea (tal indivíduo é competente tal dia diante de tal situação), o êxito das ações deve remeter a uma dialética de interdependência forte entre competências e conhecimentos, mobilizada por fontes e atores diferentes (por mais que a empresa seja o local em que se utiliza competência ela não é, de longe, o único local de sua produção) (ZARIFIAN, 2001, p. 68)
Para o autor, a competência só pode ser entendida e avaliada mediante
situações e que, pode, em partes, ser expressada e se desenvolver na relação com a
situação, mas que certos fatores podem interferir nessa relação (ZARIFIAN, 2003). O
conhecimento social, conceito de Norbert Elias, é um dos fatores apontados por Zarifian
(2003) que intervém na relação entre situação e competência. É entendido como todo
conhecimento que é construído no decorrer da trajetória histórica e social de um
indivíduo em uma determinada sociedade. Assim, pode ser entendido como o conjunto
de conhecimentos que ajuda os indivíduos a se orientarem. Nas palavras do autor
“esse conhecimento social se particulariza naquilo em que um indivíduo pode dele
apropriar-se ao longo de sua trajetória de socialização, e na maneira como ele
questiona e renova esse conhecimento” (ZARIFIAN, 2003, p. 153). Por esse motivo, o
autor entende que as condições da competência de um indivíduo são constituídas muito
além das situações enfrentadas: “Em uma ampla medida, essas situações já são o
87
produto desse conhecimento e não podem ser entendidas independentes dele”
(ZARIFIAN, 2003, p. 153).
Outro fator apontado por Zarifian (2003) que interfere nas condições da
competência é o que o autor chama de “inteligência prática”. Segundo ele, o núcleo
dessa inteligência é a compreensão das situações, compreensão na qual os
conhecimentos são mobilizados. Desta forma, utilizamos a inteligência prática para
compreender determinadas situações, sendo que só podemos compreendê-las a partir
da mobilização do conhecimento social.
Por todos esses pontos discutidos, Zarifian (2001) afirma a necessidade de se
considerar a multiplicidade e a interação das mais diversas competências profissionais
em seus contextos de inserção. Nesse sentido, apropriamo-nos das palavras do autor
para definir o conceito de competência como a tomada de iniciativa e o assumir
responsabilidades mediante problemas e eventos enfrentados em situações
profissionais. Pelo fato de não ser um conceito entendido somente no plano individual,
é também entendido como a faculdade de mobilizar agentes em uma determinada
situação, compartilhando desafios e assumindo responsabilidades. É, portanto “[...] uma
inteligência prática das situações, que se apoia em conhecimentos adquiridos e os
transforma à medida que a diversidade das situações aumenta” (ZARIFIAN, 2003, p.
137).
Mesmo que o modelo de gestão por competências baseie-se na aproximação
entre trabalho e trabalhador, tornando as situações que ocorrem nesse contexto um
importante elemento para o desenvolvimento da competências, esse modelo afirma a
necessidade do agente estar devidamente preparado a partir dos plenos domínios de
seus saberes e o entendimento de como dar-lhes sentido em sua atuação diária para
desempenhar as funções relativas ao cargo que exerce (ZARIFIAN, 2001).
Para que esse modelo de gestão por competências seja sustentável,
entendemos, como afirma Tavares (2010), que é necessário um levantamento das
competências que são essenciais ao cargo em questão, inclusive para a construção de
um perfil profissional adequado ao cargo. Mas, para não nos limitarmos à ideia de
enrijecimento do fazer profissional é necessário considerar que as relações de trabalho
não são estáticas. Eventos e situações podem ocorrer de modo inesperado,
88
desregulando a normalidade do sistema, o que requer do agente competências
diferenciadas ou agregadas frente à mobilização dos mais variados recursos para a
resolução das tarefas e demandas impostas pelo trabalho (TAVARES, 2010).
A partir dessas considerações, podemos pensar no seguinte questionamento:
mas, como se dá o processo de desenvolvimento das competências? Tavares (2010)
baseando-se em obras de Zarifian, afirma que esse entendimento de competência
baseado no modelo de gestão por competência “só se sustenta a partir de um contínuo
processo de formação, uma vez que a busca pelo desenvolvimento e pela mudança é o
processo central desse modelo” (TAVARES, 2010, p. 22). Portanto, baseando-nos no
entendimento dos autores, podemos afirmar que o processo de desenvolvimento das
competências irá depender da pretensão dos agentes e a busca por um contínuo
processo de formação seja por interesse próprio, seja por parte dos órgãos
responsáveis em ofertar políticas, meios ou possibilidades de formação. É por esse
motivo, por possuir essa relação direta com a formação, que nos pautamos nessa
conceituação do termo competência para nortear nossas discussões.
Na literatura brasileira, Fleury e Fleury (2011), baseando-se nas obras do francês
Zarifian, apresentam um quadro onde demonstram como a noção de competência pode
ser desenvolvida a partir de sete verbos e as ações que eles estabelecem, como pode
ser verificado no Quadro 3:
Quadro 3 – Competências do profissional
Ações que constituem o conceito de competência
Verbos Ações
Saber agir Saber o que e por que faz
Saber julgar, escolher e decidir
Saber mobilizar Saber mobilizar recursos de pessoas, financeiros e materiais de forma sinérgica
Saber comunicar Compreender, processar, transmitir informações e conhecimentos, assegurando o entendimento da mensagem pelos outros
Saber aprender
Trabalhar o conhecimento e a experiência
Rever modelos mentais
Saber desenvolver-se e propiciar o desenvolvimento dos outros
Saber se comprometer Saber engajar-se e comprometer-se com os objetivos da organização
89
Saber assumir responsabilidades Ser responsável, assumindo os riscos e as consequências de suas ações e ser, por isso, reconhecido
Ter visão estratégica Conhecer e entender do negócio da organização, seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas
Fonte: Fleury e Fleury (2011, p. 31)
A partir do Quadro 3 podemos verificar ações relativas ao conceito de
competências. Mesmo não sendo ações pensadas diretamente ao âmbito público,
entendemos que são bons indicadores para pensarmos em competências essenciais
aos agentes públicos. Saber agir, saber mobilizar, saber comunicar, saber aprender,
saber comprometer-se, saber assumir responsabilidades e ter visão estratégica são
ações amplas consideradas em um contexto geral que ao nosso ver, podem propor
competências essencias à função que os agentes assumem no âmbito público
independente da área específica ou do cargo em que atuam. As ações indicadas no
Quadro 3, direcionadas a partir de verbos, podem refletir competências específicas em
uma determinada área como, por exemplo, a do esporte e lazer, bem como a um
determinado cargo. Porém, mesmo apontando a importância de tais aspectos quando
refletimos acerca das competências dos agentes públicos, é importante ressaltar que
não desconsideramos outros elementos ou competências que podem advir do senso
prático, das experiências diárias que ocorrem ou podem ocorrer na gestão pública
municipal do esporte e lazer.
Podemos constatar que, de certo modo, as ações indicadas no Quadro 3 podem
refletir competências ligadas a princípios de racionalidade técnica pois, como afirmam
Soriano e Winterstein (2006), refletem medidas universalizadas e padrões a serem
seguidos encobertos por habilidades gerais e referências à condutas ideais. Ainda
segundo os autores, devemos ter cautela em assumir somente como verdade tais
parâmetros desconsiderando outras habilidades ou competências que não aquelas
colocadas como referências (SORIANO; WINTERSTEIN, 2006). Portanto, assumimos
que as ações indicadas no Quadro 3 podem refletir certas competências ligadas a
função que os agentes públicos exercem, mas entendemos que outras competências
podem ser consideradas como aquelas advindas do senso prático, como por exemplo o
90
saber ser ético, agir de forma ética mediante dificuldades ou situações peculiares que
podem ocorrer no dia a dia nos municípios.
Ao discutir a respeito da Gestão do Esporte, Bastos e Mazzei (2012) afirmam
que alguns autores, como Mintzberg (2003) tem se dedicado a analisar a intervenção
profissional nessa área a partir do papel que o agente assume, no caso do modelo
proposto por este autor, seja ele presidente considerado como “Vértice Estratégico”, ou
gerente considerado “Centro Operacional” de uma determinada organização. No caso
do nosso estudo, iremos analisar de modo específico os gestores, que podemos
considerar como “Vértice Estratégico”, e os professores, estagiários ou profissionais
técnicos como “Centro Operacional”.
Mazzei e Barros (2012) afirmam que o Centro Operacional, um dos componentes
do Modelo de Estrutura Organizacional proposto por Mintzberg, pode ser entendido
como uma estrutura que compreende todos os membros que operam e executam as
ações de uma determinada organização, em nosso caso, os professores e técnicos que
operam e executam as ações de esporte e lazer nos municípios. Essa estrutura é
entendida, portanto, como o “âmago de cada gestão”, “parte crucial, que produz
resultados essenciais” (MAZZEI; BARROS, 2012, p. 85). Já o Vértice Estratégico, de
acordo com Mazzei e Barros (2012), é aquele em que o(s) membro(s) responsável(eis)
pelo controle da organização deve(m) assegurar a manutenção, o cumprimento e o
desenvolvimento de estratégias apropriadas para se atingir os objetivos propostos,
função que, em nosso entendimento, o agente assume quando está no posto de uma
determinada secretaria ou órgão responsável pela oferta do esporte e lazer em seu
município.
Em relação às competências, características e peculiaridades do papel que o
gestor desempenha, Tavares (2010) discorre que há estudos na literatura internacional
que se voltam à análise de competências de gestores esportivos. Já, no Brasil, por
serem recentes os estudos no campo das competências, suas ramificações, como a do
esporte, são pouco expressivas. Mas, em relação à literatura internacional, Tavares
(2010) aponta o estudo de Jamieson (1987) que investigou as competências de
gestores esportivos americanos`, alegando que as mais requeridas eram as
competências decisórias, de planejamento, de controle orçamentário e de comunicação.
91
Além do estudo apontado por Tavares (2011), Joaquim, Batista e Carvalho
(2011) realizaram uma revisão sistemática de estudos e pesquisas – artigos, teses e
dissertações desenvolvidos em vários países entre 1980 e 2009 – sobre o perfil de
competências do gestor esportivo a partir de bases de dados eletrônicas. Dentre os
estudos encontrados, as autoras afirmam que os estudos internacionais, publicados em
periódicos científicos, apontaram como competências mais importantes no trabalho de
gestores esportivos aquelas de planejamento, de relações públicas, de marketing, de
processos de liderança e de tomada de decisão. Já as teses e dissertações reforçaram
o conhecimento na área do esporte, a comunicação e a gestão das relações pessoais
como competências mais importantes dos gestores esportivos analisados. De modo
geral, as autoras apontam que, a partir das investigações, as competências mais
valorizadas são as relacionadas ao planejamento de atividades, projetos e eventos;
gestão de recursos seja eles humanos, financeiros, relacionados a instalações ou
equipamentos; de liderança; de marketing; e de coordenação de equipes (JOAQUIM;
BATISTA; CARVALHO, 2011).
Se compararmos o estudo apontado por Tavares (2011) de Jamieson (1987)
com os apontamentos da revisão sistemática de Joaquim, Batista e Carvalho (2011),
mesmo se tratando de épocas e nacionalidades diferentes, podemos verificar que
ambos os estudos apresentam que as competências mais valorizadas ou mais
requeridas ao gestor de esporte são relacionadas ao fato de saber planejar, tomar
decisões, saber se comunicar e saber mobilizar, controlar ou coordenar recursos
humanos e financeiros/orçamentários. Ao apresentarmos as competências a partir de
verbos expressando ações, que seriam então competências valorizadas ou requeridas
aos gestores esportivos como apontado pelos estudos, fazemos alusão aos
verbos/ações apontadas por Fleury e Fleury (2011), apresentados no Quadro 3. Assim,
constatamos que, mesmo os autores se referirem a ações que constituem o conceito de
competências profissionais de modo amplo sem se referirem a uma área específica,
estas mesmas ações podem nos indicar competências a serem consideradas na
construção de um perfil dos gestores públicos do esporte e lazer.
Ao refletirmos a respeito da construção do perfil de competências dos gestores
públicos do esporte e lazer, Pintos e Perim (2013), que discutem acerca da
92
responsabilidade social do gestor público de esporte e lazer, indicam-nos alguns fatores
que merecem ser considerados. Segundo as autoras, o gestor público do esporte e
lazer deve desempenhar seu papel frente à oferta do esporte e lazer à população,
levando em consideração alguns aspectos como:
1) a qualidade da gestão do esporte e lazer frente à necessidade de otimização
dos diferentes recursos físicos, materiais, humanos e financeiros disponíveis aos
gestores;
2) o desenvolvimento sustentável, uma vez que se deve preservar e dar utilidade
social aos recursos existentes;
3) os anseios, as necessidades e as potencialidades dos cidadãos, que
fomentem a participação da população nas discussões e concretização de
ações;
4) a definição das funções e dos devidos responsáveis para alcançar objetivos,
como organizar e desenvolver projetos, programas e adequação de infraestrutura
para tais fins;
5) a tentativa de alinhar o domínio dos conhecimentos dos agentes com a
realidade, a experimentação e a seleção de atividades pela livre escolha dos
cidadãos;
6) a busca pela efetivação de políticas após um processo de análise de escolha
de projetos e programas, processo esse desenvolvido em cada região na
articulação com as comunidades, estimulando a participação e a organização
dos cidadãos frente a construção de projetos e programas para efetivação das
políticas;
7) a atuação de modo estratégico, buscando avançar corrigindo as falhas;
8) a clareza dos objetos de modo que justifiquem os gastos e a arrecadação do
dinheiro público;
9) o desenvolvimento de políticas que levem em consideração a compreensão do
espaço público que requer envolvimento individual, mas também a
conscientização das questões coletivas.
(PINTOS, PERIM, 2013).
93
Concordamos com Pintos e Perim (2013) quando afirmam que esses fatores são
essenciais e podem representar uma frente estratégica no processo de implementação
das políticas públicas de esporte e lazer, uma vez que ampliam a capacidade de
governança e qualificam os processos de tomada de decisões por parte dos gestores
públicos do esporte e lazer. Esses fatores também são importantes quando pensamos
nas ações desempenhadas pelos professores, estagiários e profissionais técnicos, pois
ambos agentes – gestores, professores, estagiários, técnicos – independente do cargo
que assumem, possuem responsabilidades frente à gestão pública do esporte e lazer.
As considerações de Marcellino et al. (2007) vão ao encontro desse entendimento
quando afirmam que, independentemente da função a ser exercida, o profissional
necessita da combinação de algumas características como: formação, informação,
comportamento e atitude, atualização, imaginação e intuição, criatividade,
cooperativismo, dedicação, comunicação e autoformação permanente.
Além dos pontos levantados, Bernabé e Natali (2014) apontam outros aspectos
considerados a partir do estudo que analisou a formação e atuação de recreadores
públicos do município de Maringá-PR. O princípio da formação política e social
ampliada é um dos princípios apontados, pensado a partir da atuação de agentes
públicos e que, portanto, pode ser entendido como um princípio importante a ser
considerado no decorrer da formação dos agentes. Esse princípio leva em conta o fato
dos agentes desenvolverem consciência em relação às questões que perpassam a vida
em sociedade, como questões sociais, econômicas, políticas, culturais e demais
questões que se encontram articuladas no decorrer do cotidiano dos cidadãos
(BERNABÉ; NATALI, 2014).
O princípio das vivências práticas e sociais diversificadas apresenta-se como
outro princípio a ser considerado devido à necessidade de se atender diferentes
públicos, em diferentes espaços, mediante diferentes contextos, seja em bairros de
classes econômicas diferentes, escolas, praças, ruas, dentre outros (BERNABÉ;
NATALI, 2014).
Outro princípio considerado é o da troca e compartilhamento das experiências e
práticas profissionais que leva em conta a necessidade de reflexão e discussão das
ações desenvolvidas entre os agentes que compõem um determinado órgão
94
responsável pelo esporte e lazer nos municípios. Além de outros princípios, como o de
reconhecimento e participação nos processos da gestão, e o de democratização do
esporte e lazer, princípios voltados à necessidade de abertura à participação popular
nos processo de decisão e implementação das políticas públicas (BERNABÉ; NATALI,
2014). A partir desses princípios elencados, destaca-se a importância de se
desenvolver processos de formação integral, constante ou continuada, que
fundamentem a atuação profissional dos agentes públicos.
Assumindo que a formação dos agentes públicos deve ser pautada em uma
fundamentação teórico-prática que integre diferentes saberes, experiências e
conhecimentos, bem como pela realização de cursos, participação em palestras,
eventos e experiência acumulada em diferentes situações peculiares à gestão do
esporte e lazer, buscamos no decorrer desse capítulo discorrer a respeito de
características, condições estruturais e competências que, no nosso entender, devem
contemplar a formação de gestores, professores, técnicos e estagiários que atuam na
gestão pública do esporte e lazer municipal. De modo geral, pautando-nos na literatura
que discute sobre as competências de gestores do esporte e lazer constatamos que as
principais competências requeridas a esse cargo são: planejar; tomar decisões;
comunicar-se; mobilizar ou controlar recursos humanos e financeiros/orçamentários; e
coordenar.
Quando falamos em competências, características e peculiaridades próprias à
atuação dos agentes públicos e que, por esse motivo, entendemos como aspectos
relevantes a serem considerados no processo de formação desses agentes, baseando-
nos na literatura, chegamos aos seguintes pontos que devem ser considerados: buscar
a qualidade da gestão por meio da otimização dos recursos; preservar e dar utilidade
aos recursos por meio do desenvolvimento sustentável, ambos pontos ligados ao
princípio das vivências e práticas sociais e diversificadas; fomentar a participação
popular por meio do princípio da democratização do esporte e do lazer; definir funções
e responsabilidades frente aos objetivos propostos; ter domínio dos conhecimentos,
técnicas e saberes próprios do esporte e do lazer e saber alinhá-los à realidade da
comunidade; buscar a efetivação das políticas; refletir nas ações, buscando corrigir as
falhas para avançar por meio do desenvolvimento do princípio das trocas e
95
compartilhamento das experiências e práticas profissionais; desenvolver o princípio da
formação política e social e o princípio do reconhecimento e da participação nos
processo da gestão ampliada, buscando compreender o espaço social como um
espaço público, sabendo tencionar o envolvimento individual do agente com as
questões coletivas inerentes à gestão pública.
Todos esses pontos foram aqui apresentados de modo a discutirmos a respeito
da formação de agentes públicos do esporte e lazer de forma preliminar para,
posteriormente, basearmos a discussão dos dados empíricos. Entendemos que, no
trato com os dados sobre a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que
atuam nos municípios analisados do estado do Paraná, novos elementos podem surgir,
e/ou nem todos esses elementos aqui referenciados podem ser identificados.
4.2 Análise da formação dos agentes públicos do esporte e lazer nos municípios do estado do Paraná
A análise e tratamento dos dados coletados nos municípios do estado do Paraná
deram-se por meio do diálogo obtido entre as evidências empíricas e o referencial
teórico servindo de suporte às análises. O desenvolvimento metodológico que orientou
o tratamento e análise dos dados partiu de orientações da Análise de Conteúdo
(BARDIN, 2011).
Para seleção dos dados das transcrições das entrevistas dos gestores públicos
participantes da pesquisa nos apropriamos da categoria de análise “formação”, umas
das categorias elencadas nas primeiras análises do projeto de pesquisa desenvolvido
pelo GEPPOL que dá suporte a esse estudo. A categoria formação, assim como as
demais categorias do projeto de pesquisa, foram elencadas a partir dos passos
previstos na Análise de Conteúdo. Inicialmente foi realizada a leitura flutuante das
transcrições e, posterior elaboração de indicadores, que foi possível após verificarmos
os temas recorrentes nas falas. Assim, chegamos a uma série de indicadores, dentre
eles, a formação.
Os indicadores são considerados como categorias de análise e, a partir deles,
elencam-se as subcategorias (BARDIN, 2011). Para elencarmos as subcategorias
96
decorrentes dos indicadores pré-estabelecidos, selecionamos trechos das falas dos
gestores que correspondiam a cada um dos indicadores. Assim, a seleção das falas a
partir dos indicadores deu origem às seguintes subcategorias: características
descritivas; curso de graduação; participação em cursos; meios de qualificação; meios
de qualificação mais eficientes; conhecimentos, saberes e experiências necessárias à
função que desempenham; e política de formação.
As falas oriundas das transcrições elencadas em cada subcategoria,
consideradas dados brutos, foram tratadas, como afirma Bardin (2011) de maneira a
serem significativas e válidas. Para tal finalidade, foram selecionados indicadores
recorrentes e que caracterizavam as falas em cada uma das subcategorias.
Posteriormente, esses indicadores foram codificados e quantificados para que
pudessem passar por operações estatísticas simples (porcentagem e frequência), como
previsto por Bardin (2011). Essas fases da Análise de Conteúdo permitiram o
estabelecimento de quadros, tabelas e gráficos de resultados, “os quais condensam e
põem em relevo as informações fornecidas pela análise” (BARDIN, 2011, p. 131).
Em relação aos dados obtidos por meio da aplicação de questionário com os
agentes técnicos – professores, técnicos e estagiários – por serem dados já
codificados, expressos em um ou mais termos que os agentes marcavam dentre as
opções de múltipla escolha nas perguntas, foram diretamente operados por estatística
simples (porcentagem e frequência) e descritos em quadros, tabelas e gráficos. Com a
síntese e seleção dos resultados, tanto dos gestores quanto dos agentes, foi possível
estabelecer inferências e interpretações, seguindo uma lógica de apresentação, em que
os dados dos gestores e agentes técnicos são expostos em tabelas, seguidos de
discussão e análise dos dados referentes a cada uma das subcategorias.
De modo a caracterizar a amostra dos agentes públicos que compuseram o
estudo, nas Tabelas, a seguir, apresentamos as características dos 76 gestores que
participaram do estudo (Tabela 2) e as características dos 185 agentes técnicos (Tabela
3).
97
Tabela 2 - Características descritivas dos gestores públicos
Características Frequência Percentual
Idade 41,92 (±10,98 anos) -
Sexo
Masculino 62 81,6
Feminino 14 18,4
Escolaridade
Ensino Fundamental Completo 5 6,6
Ensino Médio Completo 11 25
Ensino Superior Técnico 1 1,3 Ensino Superior Incompleto 1 1,3
Ensino Superior Completo 56 65,8
Tabela 3 - Características descritivas dos agentes técnicos
Características Frequência Percentual
Idade 31,66 (±9,98 anos) -
Sexo
Masculino 136 73,5
Feminino 46 24,9
Escolaridade
Ensino Fundamental Incompleto 1 5
Ensino Médio Incompleto 2 1,1
Ensino Médio Completo 10 5,4
Ensino Superior Incompleto 51 27,6
Ensino Superior Completo 55 29,7
Pós-Graduação Lato Sensu (Especializações) 60 32,4
Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) 4 2,2
Como caracterização da amostra dos gestores públicos que compuseram o
estudo, a partir da Tabela 2 podemos verificar que a média de idade dos gestores é
41,92 anos e que mais de 80% são homens. Em relação aos primeiros dados que se
referem à categoria formação, quanto à escolaridade dos gestores, os dados mais
expressivos alegam que dos 76 gestores, 56 possuem ensino superior completo e 11
concluíram até o ensino médio.
Já em relação aos dados dos agentes técnicos, a média de idade é 31,66 anos.
A maioria são homens, 73,5%, e somente 24,9% são mulheres. Portanto, podemos
constatar a partir dos dados que a gestão pública do esporte e lazer nos municípios
analisados é constituída em sua maioria por homens, sendo as mulheres a minoria na
gestão.
98
Comparando as características dos agentes técnicos com as características dos
gestores, observa-se que a média de idade é menor entre os agentes técnicos quase
dez anos de diferença se comparado com a média de idade dos gestores. Essa
constatação pode se relacionar principalmente ao fato dos agentes serem recém
formados em cursos de graduação ou, ainda, estarem cursando alguma graduação e
consequentemente serem mais novos.
Na Tabela 3, os dados referentes à escolaridade dos agentes comprova essa
constatação: enquanto 55 agentes técnicos (professores, técnicos e estagiários)
possuem ensino superior completo, 51 marcaram a opção ensino superior incompleto
por ainda estarem cursando a graduação. Em relação aos gestores, enquanto 56
possuem ensino superior completo, apenas 1 marcou a opção incompleto. A partir da
coleta também pode-se notar que os gestores apresentam maior média de idade pois,
em grande parte dos municípios, estão há vários anos trabalhando na gestão do
esporte e lazer, seja dando aulas em escolinhas ou até mesmo no cargo de secretário
ou coordenador. A fala de G21 evidencia essa constatação ao afirmar que, antes de
ocupar o cargo de gestor, ele ministrava aulas em seu município: "antes eu só cuidava
da aula que eu tinha que dar.”; a fala de G39 ilustra que quando o gestor afirma ter
permanecido na gestão pública por vários anos antes de assumir o cargo de gestor:
“São 14 anos na vida pública [...] até chegar aqui quando eu fui assumir a Secretaria de
Esportes”.
Em relação ao curso de graduação, as próximas tabelas apresentam as
respostas dos agentes públicos:
Tabela 4 - Curso de Graduação dos gestores
Curso Frequência
Educação Física 34
Administração 6
Pedagogia 5 Matemática 2
Enfermagem 2 Direito 1 Artes 1 Comunicação Social 1 Filosofia 1 Gestão Imobiliária 1 História 1
99
Letras 1 *Gestão Pública (Ensino Técnico) 1
Tabela 5 - Curso de Graduação dos agentes técnicos
Curso Frequência
Educação Física 152
Administração 2
Pedagogia 2 Gestão Pública 1
Engenharia Química 1 Filosofia 1 Matemática 1
Entendemos que esses dados vão ao encontro da literatura pois, como afirmam
Tavares (2010) e Bastos e Mazzei (2012), os cursos de graduação em Administração e
Educação Física acabam sendo os mais evidenciados no contexto da gestão pública do
esporte e lazer. Especificamente em relação ao cargo de gestor, a fala do G2
demonstra porquê considera essencial a formação nessas duas áreas para
desempenhar as funções de gestor do esporte e lazer em seu município: “Na realidade,
vamos dizer, eu, como administrador de empresa, eu já tenho toda a formação para o
administrativo. E, como profissional de Educação Física, já tenho tudo que precisa ser
feito” (G2).
Por mais que os cursos de Educação Física e Administração, como demonstrado
pelos dados e pela literatura, são os cursos recorrentes no contexto da gestão do
esporte e lazer, podemos verificar também formações diferenciadas tanto entre os
gestores que ocupam cargos semelhantes, assim como afirmam Amaral e Bastos
(2015), quanto entre os agentes técnicos.
Em relação à formação em esporte e lazer adquirida a partir de um curso
superior em nível de graduação em Educação Física podemos averiguar, a partir do
discurso dos gestores, que alguns entendem como indispensável essa formação. Já
outros gestores até consideram importante, mas consideram que esta não é a única
exigência ou meio de formação que o cargo de gestor requer. As falas a seguir
demonstram essas considerações:
[...] não é porque você tem um diploma que você sabe fazer as coisas, porque no esporte eu entendo que as pessoas elas tem que nascer para
100
aquilo ali, porque você vai se dispor além do profissional que você vai ser, para você se torna você tem que dispor de tempo de uma série de fatores (G1). Eu tenho uma opinião, que acho que quem estiver na pasta, ou diretor ou de secretário ou de chefe, deveria ser um profissional da área. [...] Tem que ter uma pessoa da área mesmo e se reciclando porque senão fica para trás (G6).
Como afirmado na fala de G6, podemos analisar que os gestores também
consideram que além dos processos formais de escolaridade, outros meios são
importantes quando nos referimos à formação dos agentes públicos. A participação em
cursos pode ser considerada como um desses meios.
Em relação à subcategoria participação em cursos, quanto aos gestores
públicos, uma pergunta presente no roteiro da entrevista indagava-os a respeito da
participação ou não em cursos de capacitação/formação. Dos gestores que
responderam a essa pergunta, apenas 10 responderam não ter participado de nenhum
curso de capacitação/formação, sendo que 63 afirmaram já ter participado. Já em
relação aos agentes técnicos, 81 afirmaram não participar de nenhum curso de
capacitação/formação e, 90 afirmaram já ter participado. Ainda em relação à
subcategoria participação em cursos, os gestores e agentes técnicos também foram
questionados quanto à realização de cursos voltados especificamente à área do
esporte e lazer. A Tabela 6 demonstra a resposta dos gestores e dos agentes técnicos
em relação a esse questionamento:
Tabela 6 - Participação em cursos voltados ao esporte e lazer
Agentes Sim Não
Gestores 47 (61,8%) 28 (36,8%)
Agentes Técnicos 112 (60,5%) 70 (37,8%)
A partir dos dados apresentados na Tabela 6, podemos constatar que a maioria
dos gestores, 61,8%, afirmaram já ter participado de cursos e 36,8% afirmaram que não
participaram de cursos específicos de esporte e lazer, mas disseram já ter participado
de cursos voltados a outras áreas, como educação, por exemplo. As respostas dos
agentes técnicos encontram-se próximas a dos gestores, já que, como podemos
verificar, 60,5% dos agentes técnicos já participaram de cursos específicos de esporte e
101
lazer e, apenas 37,8%, afirmam não ter realizado cursos voltados a essa área. Assim,
constatamos que, a maioria dos agentes públicos já participaram de cursos próprios ao
esporte e lazer.
Quando questionados em relação a busca por qualificação, a maioria dos
gestores (83%) afirmaram que buscam se qualificar para exercer a função de gestor
público do esporte e lazer. Como apresentam os dados, por ocuparem um cargo mais
elevado que os demais agentes, na posição de representantes públicos do esporte e
lazer, os gestores entendem como necessária essa busca constante por qualificação e
formação. A fala de G20 demonstra essa preocupação: “Na verdade, a dinâmica na
minha vida é sempre estar estudando. Sempre estar buscando a informação, para
poder passar segurança ao meu grupo de trabalho.”.
Os meios para se buscar essa qualificação é outra subcategoria advinda dos
dados dos agentes públicos. A Tabela 7 demonstra a indicação dos gestores quando
questionados como buscam qualificação/formação para exercerem a função que
desempenham. Já a Tabela 8 apresenta a frequência de respostas dos agentes
técnicos em relação a essa subcategoria.
Tabela 7 - Como os gestores públicos buscam qualificação/formação para
exercerem a função que desempenham
Respostas Frequência
Cursos 26
Experiência com outros gestores ou profissionais 24
Formação em Gestão e/ou Administração 19
Buscando informação e atualização pela internet 9
Experiência no dia-a-dia 9
Graduação em Educação Física 7
Leituras 6
Ouvindo a população 4
Conhecimento prático sobre esporte e lazer 3 Pesquisas 3
Conhecer leis e decretos 2 Formação Continuada 1
Reuniões com a Paraná Esporte 1
Conhecendo pessoas influentes na política do município/região 1 Conhecer a realidade do município/região 1 Tendo compromisso/responsabilidade 1
102
Tabela 8 - Como os agentes técnicos buscam qualificação/formação para exercerem a
função que desempenham
Resposta Frequência
Palestras 86
Congressos 56
Cursos 42 Seminários 39
Reuniões 38 Grupo de Estudo 18 Outros 10
Nota: Dentre os agentes que selecionaram a opção outros e responderam ao questionamento aberto de quais outros tipos de capacitação/formação já haviam realizado, as respostas foram: Apoio pessoal (1); Cref (2); Formação para técnico (1); Participação (1).
Em relação a essa subcategoria, entre os gestores podemos verificar que o meio
mais frequente é a realização de cursos, meio que podemos entender como um meio
passivo de formação. Porém, entre as respostas dos gestores também é possível
verificar meios considerados ativos, em que há construção de ações, desenvolvimento
de ideias, seja por meio da troca de experiência com outros profissionais, por meio da
experiência diária, da formação constante, entre outros pontos que podem ser
observados na Tabela 6. Meios pelos quais os agentes podem internalizar o tipo de
capital cultural classificado como incorporado, levando em consideração os tipos de
capitais culturais estabelecidos por Bourdieu, uma vez que esse tipo de capital cultural
pressupõe uma socialização prolongada a partir de processos de interiorização que
envolve ensino e aprendizagem.
Podemos verificar, a partir dos dados expostos na Tabela 8, que o meio de
capacitação mais frequente entre os agentes técnicos é a participação em palestras,
seguida da participação em congressos e cursos. Podemos considerar esses meios,
assim como o meio mais frequente dentre as respostas dos gestores, como meios
passivos de capacitação ou formação, no sentido que os agentes apenas recebem as
informações ou conhecimentos, não constroem ou desenvolvem, mas apenas os
recebem. Ao relacionarmos esses meios passivos de formação aos tipos de capitais
culturais estabelecidos por Bourdieu podemos considerar que a partir desses meios os
agentes irão apenas adquirir capital cultural objetivado, assim considerado por ser um
tipo de capital já constituído por uma determinada instituição ou cultura posta.
103
Esses meios considerados ativos vão ao encontro dos princípios elencados
anteriormente com base no referencial teórico. A construção do planejamento em
conjunto com os demais agentes do esporte e lazer também é um meio indicado pelos
gestores, como podemos perceber na fala de G58: “A gente faz formação continuada
no começo do ano, senta todos que entra e faz toda a parte de planejamento.”. A fala
do gestor pode representar uma ambiguidade no momento em que afirma realizarem
formação continuada, mas somente no começo do ano. A ambiguidade pode ser
percebida, uma vez que formação continuada pressupõe que seja desenvolvida de
forma contínua, no decorrer de um ou mais anos, por exemplo, não se limitando apenas
a um momento único, como o de construção do planejamento citado pelo gestor.
Também podemos perceber, na fala do gestor, uma iniciativa, pois busca compartilhar
com os demais agentes envolvidos com o esporte e lazer a tarefa de planejar as
atividades, programas ou projetos a serem desenvolvidos em seu município. Dessa
forma, constatamos mais uma vez que os dados empíricos vão ao encontro do afirmado
pelo referencial teórico (JOAQUIM; BATISTA; CARVALHO, 2011; TAVARES, 2011) ao
demonstrarem a importância da competência de planejamento na gestão do esporte e
lazer e a relevância dessa competência fazer parte dos processos de formação e
atuação dos agentes.
As experiências ou compartilhamento das experiências, um dos princípios
elencados a partir do referencial teórico (PINTOS; PERIM, 2011; BERNABÉ; NATALI,
2014), são outro meio ativo recorrente na fala dos gestores, como podemos observar
na fala de G67:
[...] sempre nós reunimos aqui os da região, os diretores de esportes sempre fazem reunião, vendo quais são as qualidades, pontos positivos de um do outro. Se aqui não está dando certo, na cidade vizinha está dando, se busca lá fora o que está dando certo, e eles vêem a mesma coisa com a gente, eles vêm, tiram ideias, opiniões.
Além desses pontos mais frequentes nas falas dos gestores, um dos pontos que
chamou atenção é quando o gestor afirma considerar como meio importante para se
qualificar e exercer sua função o fato de conhecer pessoas influentes na política do
município ou região. Esse ato poderia ser classificado como desenvolvimento do capital
político, uma vez que o gestor entende que o meio que está inserido é um meio político,
104
ou nos conceitos de Bourdieu, campo político, e que neste campo desempenha uma
função política. Segundo Bourdieu (2009), o capital político pode ser expresso como
uma forma do capital simbólico por ser firmado na crença e no reconhecimento, como
podemos constatar na fala de G28 quando afirma: “[...] a minha função é uma função
política”. O gestor acredita desempenhar uma função política. Por isso, entendemos
que essa sua convicção se relaciona ao capital político, uma vez que este é entendido,
como afirma Bourdieu (2009, p. 188), como sendo produto “de actos subjectivos de
reconhecimento e que, enquanto crédito e na credibilidade, só existe na representação
e pela representação, na confiança e pela confiança, na crença e pela crença, na
obediência e pela obediência.”.
Nessa relação objetivada a partir de atos subjetivos de reconhecimento e
credibilidade, por desempenhar tanto uma função política como gerencial, quanto mais
adquirir capital político, ou seja, quando mais conhecer e manter relações políticas com
políticos ou pessoas influentes na política da cidade, mais recursos, liberação para
ações e projetos e outros benefícios o gestor pode angariar para sua secretaria. A fala
do gestor afirma seu posicionamento em relação a esse entendimento:
[...] a minha função é uma função política né [...] eu adoro a política, eu vivo a política 24 horas por dia e eu faço parte hoje de um grupo que a gente vive pela nossa cidade sabe [...]. Então eu hoje me sinto orgulhoso de fazer parte desse grupo porque a gente busca alguma coisa melhor pra nossa cidade realmente (G28).
Essa posição que o gestor desempenha, caracterizada como uma função
política, é vista como necessária para fazer acontecer a política de esporte e lazer em
seu município. Isso porque, como afirma Bourdieu (2009, p.164), há uma relação entre
os mandantes e os mandatários no campo político:
[...] os efeitos das necessidades externas fazem-se sentir nele por intermédio sobretudo da relação que os mandantes, em consequência da sua distância diferencial em relação aos instrumentos de produção política, mantêm com os seus mandatários e da relação que estes últimos, em consequência das suas atitudes, mantêm com as organizações.
Portanto, podemos considerar que o gestor, na posição de mandatário, deve
estabelecer relações com os mandantes – prefeito e pessoas influentes na lógica
105
política municipal – para angariar produtos políticos, pois, como afirma Bourdieu (2009),
a vida política é descrita na lógica da oferta e da procura, uma “representação do
mundo social explicitamente formulada” no campo político. E também porque nessa
lógica da oferta e da procura o campo político é “o lugar em que se gerem, na
concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos,
problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos” (BOURDIEU,
2009, p. 164).
Outro ponto levantado por esse gestor em seu discurso é a ascensão política por
meio do esporte: “[...] por uma questão política, só para você ter ideia da falta de
cabeça desse povo, num desses distritos, para eles poderem tentar ganhar a eleição
eles construíram 11 campos de futebol” (G28). Podemos verificar que, novamente, o
capital político se faz presente na gestão do esporte e lazer, uma vez que um gestor se
apropria da construção de campos de futebol para obter prestígio político.
A próxima subcategoria diz respeito aos meios de qualificação/formação que os
agentes públicos consideram como mais eficientes. De acordo com dados oriundos das
entrevistas, os gestores indicaram meios de qualificação/formação mais eficientes para
qualificar a atuação profissional no órgão responsável pelo esporte e lazer em que se
encontram, como podemos verificar na Tabela 9:
Tabela 9 - Meios de qualificação/ formação que os gestores públicos consideram mais
eficiente para qualificar a função que desempenham
Respostas Frequência
Cursos Presenciais 53
Cursos à Distância 11
Formação em Educação Física 5
Graduação 3
Formação em outras áreas, como Marketing Esportivo e Administração 2
Computador 1 Reciclagem anual com cursos e capacitações 1
Participação em jogos e campeonatos 1 Formação Continuada 1
Troca de experiências 1
Conhecer a realidade do município/região 1
* Dos 76 gestores 11 não responderam essa pergunta
106
Como podemos observar, os meios de formação mais formais, como cursos e
curso superior, são indicados pelos gestores e, de modo recorrente, a formação em
Educação Física e nas áreas de Gestão e Administração, como já discutido
anteriormente. Mas, também verificamos a indicação de outros meios para
complementar essa formação, como reciclagem anual, formação continuada, troca de
experiências, conhecer a realidade do município ou região. Além dos dados
apresentados na Tabela 9, a fala dos gestores também expressa a consideração
desses outros meios nos processos de formação e capacitação:
Têm que ter o conhecimento da nossa realidade e um curso superior (G33). [...] boa parte é no convívio com outros gestores de outros municípios né, essa troca de informação a gente tem com os outros, buscando às vezes a opinião quando é construtiva né da própria população, o que que eles acham bom ter, o que seria bom tirar, é uma maneira de lidar com a população, uma troca de informações (G34). A, eu geralmente converso com os outros lugares, também os outros departamentos diretores, a gente tá trocando ideias experiências né, internet também né, leituras de jornal e sempre vendo o que o outro município tá fazendo e tentando né, trocando ideias, seria mais uma conversa, experiência, troca de experiência (G36).
Podemos considerar que a fala do G34, quando afirma considerar a opinião da
população, reflete um dos pontos elencados a partir do referencial teórico, o princípio
da participação popular, considerado um princípio importante para basear a formação e
atuação dos agentes públicos (ARAÚJO et al., 2007; MENEZES; OLIVEIRA; SOUZA,
2012; PINTOS; PERIM, 2013; BERNABÉ; NATALI, 2014). Já as falas de G36 e de G34,
quando consideram importante compartilhar experiências com outros agentes, refletem
o princípio das trocas e compartilhamento das experiências e práticas profissionais
também apontado anteriormente (BERNABÉ; NATALI, 2014). A fala dos gestores,
assim como os princípios elencados, refletem a importância do conhecimento empírico.
Por esse motivo, ressaltam que não só o conhecimento institucionalizado se faz
importante no processo de formação dos agentes, mas também o conhecimento
empírico que parte das vivências diárias, das trocas com outros agentes, do
compartilhamento das ações.
107
Verificamos que o discurso dos gestores vai ao encontro dos princípios
elencados a partir do referencial teórico, princípios discutidos a partir de Bernabé e
Natali (2014), Pintos e Perim (2013) e, também, a partir das características e condições
estruturais da gestão pública municipal do esporte e lazer desenvolvidas em diferentes
contextos, como apresentado nos Quadros 1 e 2, que nos fazem pensar nos desafios e
dificuldades que os agentes encontram ou podem encontrar para o desenvolvimento de
suas ações. Portanto, podemos constatar que as características e as condições
estruturais da gestão pública municipal interferem ou possuem relação com os meios de
formação que os agentes julgam necessários para qualificar suas ações.
Ainda em relação à subcategoria meios de qualificação/formação que os agentes
públicos consideram como mais eficientes, os agentes técnicos também se
posicionaram a respeito desse assunto, porém, por meio de pergunta fechada
marcando, dentre as opções de múltipla escolha, as que consideravam meios de
capacitação/formação mais eficientes para qualificar a função que desempenham. As
respostas a esse questionamento são apresentadas na tabela a seguir:
Tabela 10 - Capacitação/formação que os agentes técnicos consideram mais eficiente
para qualificação profissional
Resposta Frequência
Cursos Presenciais 160
Internet 15
Cursos a Distância 14 Livros 13
Educação a Distância 1
Congressos 1 Seminários 1 Cursos Práticos 1 Artigos 1
A partir dos dados apresentados, podemos afirmar que novamente modelos
passivos de capacitação mostram-se presentes na opinião dos agentes técnicos, como
é o caso das respostas mais frequentes, os cursos e a internet. Respostas como
vivências diárias, troca de experiência com outros agentes, compartilhamento das
ações, ligadas ao que consideramos meios ativos de capacitação/formação não
fizeram-se presentes nas respostas dos agentes técnicos. Essa ausência pode ter
108
ocorrido devido ao fato de que essas alternativas não estavam presentes dentre as
alternativas que poderiam marcar quando questionados a respeito dos meios que
consideravam mais eficientes. Porém, mesmo não se fazendo presentes dentre as
alternativas apontadas no questionário, havia a opção "outros", onde os agentes
técnicos poderiam indicar de forma aberta qualquer outro tipo de meio que
consideravam mais eficientes, caso este meio não estivesse listado dentre as opções a
eles apresentadas. Mesmo com essa possibilidade, somente cinco agentes técnicos
utilizaram desse recurso apresentando meios como educação à distância, congressos,
seminários, cursos práticos e artigos como outros meios para além dos que haviam
listados nas opções de múltipla escolha.
Comparando as respostas dessa subcategoria a respeito dos meios de
qualificação/formação que os agentes públicos consideram mais eficientes, um ponto
comum entre os dados dos gestores e os dados dos agentes técnicos é o fato do curso
presencial ser o mais frequente entre as respostas de ambos agentes.
Outra subcategoria que também reflete apontamentos que indicamos
inicialmente a partir do referencial teórico é a que diz respeito aos conhecimentos,
saberes e experiências que os gestores públicos julgam necessários para desenvolver
o trabalho que desempenham. Essa subcategoria fez-se presente somente nos dados
dos gestores, e, por esse motivo, somente apresentamos dados desses agentes, como
podemos observar a partir da Tabela 11:
Tabela 11 - Conhecimentos, saberes e experiências que os gestores públicos julgam
necessários para qualificar a função que desempenham
Respostas Frequência
Advindos da Educação Física 29
Advindos da Gestão Pública 15
Prática esportiva 15
Advindos de cursos 6
Advindos de experiências anteriores 5 Conhecer a comunidade 5 Advindos da troca de experiências 4 Conhecimentos e Saberes Políticos, Experiência Política 4 Gostar da área que atua 3 Saber lidar com a comunidade 2 Advindos de curso superior 2 Conhecimento Geral 1
109
Saber se comunicar 1
* Dos 76 gestores 12 não responderam essa pergunta
Podemos verificar que os gestores apontaram como necessário conhecimentos,
saberes, experiências, competências advindos tanto da Educação Física quanto da
Gestão Pública, bem como aspectos relacionados à experiências e compartilhamento
dessas experiências e aspectos inerentes à política, como conhecer a comunidade,
saber lidar com essa comunidade, saber se comunicar e adquirir experiência política.
Nessa perspectiva, notamos que os apontamentos feitos pelos gestores vão ao
encontro do que Ocelli e Isayama (2015) identificaram em seu estudo com agentes
públicos da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) de Belo Horizonte. Os
autores afirmaram que o perfil dos agentes da SMEL envolvia saberes específicos da
área de atuação no esporte e lazer, bem como conhecimentos sobre política e domínio
de conteúdos relacionados à gestão (OCELLI; ISAYAMA, 2015). A fala de G6 retrata o
que constataram os autores em seu estudo:
Primeiro que eu tenho uma opinião, que acho que quem estiver na pasta, ou diretor ou secretário ou chefe, deveria ser um profissional da área. Primeiro porque a gente tem parte prática mais importante. Vale muito a parte prática. Me dá tranquilidade para trabalhar. Mas a parte teórica, principalmente de gestão, é primordial. Você ter certeza do que está fazendo [...] (G6).
Como podemos constatar, com a fala do G6, mesmo partindo do senso comum
ao dissociar a parte prática da parte teórica, o gestor afirma que tanto conhecimento
advindo da área de Educação Física, mais especificamente do esporte e lazer, quanto
conhecimentos de Gestão são necessários para desenvolver a função que executa em
seu município.
Ocelli e Isayama (2015) também afirmam que, nas falas dos sujeitos analisados,
identificaram a ausência em suas formações de saberes e competências da perspectiva
gerencial. Indo ao encontro da constatação dos autores, a necessidade de
conhecimentos advindos da área de Gestão foi o segundo ponto mais recorrente na fala
dos gestores, como apresentado na Tabela 8. Mas, por mais que considerem como
aspectos necessários à função que desempenham, apenas 19 gestores (Tabela 3)
afirmaram buscar formação nas áreas de Gestão ou Administração. Podemos verificar
110
que, mesmo considerando relevante, os gestores não buscam formação nessas áreas
e, portanto, podemos afirmar que é uma lacuna na formação desses agentes, assim
como concluíram Ocelli e Isayama (2015).
Além de Ocelli e Isayama (2015) outros autores como Queiroz et al. (2011)
também afirmam que saberes, conhecimentos e competências oriundos das áreas de
Gestão e Administração são fatores importantes a serem considerados quando
pensamos na formação e atuação dos gestores públicos do esporte e lazer. Tendo em
vista que ao conceber, implementar, monitorar e avaliar políticas públicas de esporte e
lazer, será exigido desses agentes conhecimento acerca de processos gerenciais e
administrativos, por isso se torna relevante a presença de saberes, conhecimentos e
competências oriundos dessas áreas nos processos de formação e atuação.
Outro ponto em consonância com o que afirmam os autores Ocelli e Isayama
(2015) e com as competências discutidas anteriormente a partir do referencial teórico é
o fato de não só os processos formais de capacitação, como cursos de graduação e
cursos técnicos, serem considerados quando pensamos na formação dos agentes
públicos, mas também experiências cotidianas. Ocelli e Isayama (2015, p.02) afirmam
que o desenvolvimento das capacidades administrativas e gerenciais dos agentes
públicos deve ser enfatizado “nos processos formais de capacitação, mas também
absolvidos na vivência da coisa pública, nas relações e experiências cotidianas”.
Em relação à necessidade de processos de formação e capacitação dos agentes
públicos do esporte e lazer, Queiroz et al. (2011, p. 43) afirmam que “seria viável que os
órgãos competentes disponibilizassem capacitações específicas para os gestores” uma
vez que consideram que preparar e capacitar os agentes públicos seria uma alternativa
para se buscar melhorias e efetividade no desenvolvimento das políticas públicas de
esporte e lazer. Portanto, podemos constatar que aspectos discutidos pela literatura
vão ao encontro de alguns dados empíricos aqui analisados, o que nos faz considerar
não somente a importância dos conhecimentos institucionalizados, mas também os
conhecimentos advindos do contexto empírico no processo de formação dos agentes
públicos.
Outra subcategoria encontrada quando discutimos o processo de formação dos
agentes públicos do esporte e lazer diz respeito às políticas de formação. Em relação a
111
essa subcategoria, além de perguntas relacionadas à própria formação e qualificação,
os gestores públicos responderam a uma pergunta que diz respeito à formação dos
agentes que trabalham no órgão que gerenciam. Foi questionado a eles se havia uma
política de formação, qualificação e atualização dos profissionais que ali atuavam. A
Tabela 12 apresenta essas respostas:
Tabela 12 - Política de formação, qualificação e atualização dos profissionais
Respostas Frequência
Por meio de incentivo ou apoio financeiro para participar de cursos,
congressos, eventos
38
Não possui política 36
Possui política 9
Não respondeu 11
Frente à esse questionamento alguns gestores apresentaram mais de uma
resposta, como apresenta a tabela. Alguns afirmaram não existir uma política voltada a
esse fim em seu município, mas que há auxílio à formação, qualificação e atualização
dos profissionais por meio de incentivo ou apoio para participarem de cursos,
congressos e eventos. Outros afirmaram que existe uma política e que ela é voltada ao
incentivo ou apoio financeiro para participação em cursos, congressos e eventos.
Outros ainda não afirmaram se existe ou não uma política de formação dos
profissionais do esporte e lazer em seu município, apenas afirmaram que existe algum
tipo de apoio ou incentivo.
Essa divergência nas respostas indica certa incompreensão dos gestores em
relação ao que é ou não uma política. Alguns afirmaram que há uma política pelo
simples fato de oferecerem certo apoio ou incentivo à realização de cursos ou eventos,
mas podemos questionar se isso de fato está contemplado em uma política do
município ou se ocorre de modo esporádico.
Sempre que está ao nosso alcance financeiro a gente consegue. Seja com transporte, com hotel a gente sempre com alguma coisa ta ajudando. Sempre apoiando eles pra que eles se aperfeiçoem (G10). [...] se estiver dentro da possibilidade administrativa financeira, contábil, nós ajudamos sim (G26). É, eu acho que, é meio difícil assim sabe, o apoio é bem pouco que a gente tem. No município pequeno é complicado. Investe muito na saúde,
112
daí fica o esporte, a gente tem que se virar em patrocínio, essas coisas assim. Mas eu acho que fica meio difícil essa parte de cursos (G7). Precisa né, mas se tivesse uma verba, mas a gente depende tudo de lá, ai tem que falar, vai custar tanto. O financeiro vai falar se pode ir ou não (G49). É difícil. Quando tem condições eles mandam (G59). Então nós estamos limitados, como aqui não é secretaria, nós ficamos dependendo da prefeitura, então não há aquela formação, daquelas políticas formais assim, mas nós sempre, igual trabalhamos sempre nós dois, eu e a professora, nós sempre busca conhecimentos novos, sempre aperfeiçoar (G67). Se a prefeitura libera? É [...] está sendo um pouco difícil ainda essa liberação. A gente não tem conseguido ainda essa liberação pra sair (G73).
As falas nos dão indícios que esse apoio ou incentivo que a maioria dos gestores
afirmaram existir só ocorre quando há verba, quando há liberação da prefeitura ou
quando há auxílio ou patrocínio externo, sendo portanto na maioria dos casos, um
apoio ou incentivo esporádico e que pode não ocorrer por falta de recurso. Assim,
podemos considerar que essas ações ou eventos que acontecem nos municípios não
advêm da efetivação de políticas públicas de esporte e lazer, pois são pontuais ou
esporádicos.
No questionário dos agentes técnicos também havia uma pergunta que dá
indícios para pensarmos nesse apoio ou incentivo, o que permite comparar tais dados.
Foi perguntado, no questionário, se os agentes já haviam participado de algum curso de
capacitação/formação. As alternativas davam a opção de responderem se foram
oferecidos ou realizados cursos, com ou sem apoio do órgão púbico do qual fazem
parte. A Tabela 13 apresenta a frequência das respostas a esse questionamento:
Tabela 13 - Participação dos agentes técnicos em curso de capacitação/formação
Resposta Frequência
Não, não foi oferecido 67
Sim, com apoio 57
Sim, sem apoio 33 Não, não teve interesse 14
Não respondeu 14
113
Figura 2 - Participação em curso de capacitação ou formação dos agentes técnicos
Fonte: A autora
A partir dos dados dos agentes técnicos, apresentados na Tabela 13 e na Figura
2, podemos averiguar que a maioria dos agentes não realizará cursos de
capacitação/formação, pois não foi oferecido por sua secretaria, departamento ou
fundação. Por outro lado, comparando os dados dos questionários com as entrevistas,
os gestores afirmam que esperam partir dos agentes o interesse em participar de
cursos, eventos e congressos:
[...] desde que eles queiram também, eu não posso obrigar ninguém a ir. Mas desde que eles queiram e vai beneficiar os meus munícipes, ai nós mandamos fazer, senão [...] (G2). Entrevistador: Se um professor vier pedir custeio ou auxilio para participai de um curso? Existe possibilidade? Gestor: Toda possibilidade. Só precisa da intenção né. Às vezes está todo mundo na zona de conforto né. “A os caras não pagam e eu não vou fazer” [Gestor se referindo a fala dos professores] (G26).
Podemos verificar, a partir dos diferentes dados, oriundos tanto das falas dos
gestores quanto dos questionários, que há descompasso nos posicionamentos. De um
lado, os agentes culpam a falta de oferta por parte dos órgãos públicos e, de outro, os
gestores afirmam que o interesse deveria partir dos próprios agentes técnicos. Mesmo
notada essa divergência, quando verificamos o próximo indicador de respostas da
39%
34%
19%
8%
Participação em curso de capacitação/formação
Não, não oferecido
Sim, com apoio
Sim, sem apoio
Não, não teve interesse
114
Tabela 10 e do Gráfico, constatamos que a segunda maior frequência afirma que 34%
dos agentes participaram de cursos com apoio de sua secretaria ou departamento. Ou
seja, mesmo com essa divergência de opiniões entre gestores e agentes, ambos
afirmam que há apoio ou auxílio por parte dos órgãos públicos responsáveis pelo
esporte e lazer para participação em cursos.
Voltando aos dados dos gestores, apontados na Tabela 11, dos 9 gestores que
afirmaram que em seu município possuem lei específica a respeito de uma política de
formação dos agentes públicos, apenas um deles teceu comentários a esse respeito:
“Na verdade nesta lei que a gente tá fazendo no município, a gente já colocou que vai
ter a capacitação dos professores” (G41).
Entendemos que a criação e a efetivação de políticas de formação, qualificação
e atualização dos agentes públicos do esporte e lazer poderia solucionar divergências
de opiniões, pois os agentes não teriam que pedir permissão para participar de
capacitações e processos de formação, e seria algo ofertado pelo poder público.
Poderia ainda solucionar certos problemas, como o fato de existir apenas auxílio e
apoio que, em muitos casos, depende de liberações por parte do poder público
municipal e da disponibilidade de recursos do município.
Por todos esses pontos é que consideramos, como apresentado no início desse
capítulo, que a formação dos agentes públicos pode ser objetivada como um caminho
que os leve a assumir uma atitude reflexiva e propositiva frente aos processos,
contradições e dificuldades encontradas no meio em que estão inseridos. Esse contexto
de contradições e dificuldades enfrentado na gestão pública do esporte e lazer não é
uma característica somente dos municípios analisados. A partir da discussão que
realizamos no capítulo anterior constatamos que algumas dificuldades enfrentadas na
gestão pública municipal do esporte e lazer são comuns a diversos locais e realidades.
Ao considerar a importância da formação dos agentes públicos nesse contexto,
entendemos como relevante analisá-la. Para atingir tal finalidade, buscamos analisar a
formação para além da escolaridade, pois ponderamos que não só a obtenção de
títulos e diplomas por meios formais de educação é importante na formação dos
agentes públicos.
115
Pautando-nos nas contribuições de Bourdieu a respeito da escola e do universo
escolar, como discutido no primeiro tópico desse capitulo, os certificados ou diplomas
não podem ser estimados como único aspecto qualificador dos agentes em nossa
sociedade. Essa é uma herança que advém desde o período de transição do Estado
dinástico para o Estado burocrático, quando os laços de sangue foram substituídos por
formas de autoridades independentes do parentesco e passaram a ser consideradas a
partir das competências e mérito dos agentes adquiridos por meio sistema escolar e da
obtenção de títulos e diplomas. Desde então, certificados e diplomas passaram a ser
admitidos como aspecto de escolha para admissão de profissionais em cargos ou
funções.
Porém, consideramos a partir das contribuições de Bourdieu, que os certificados
e diplomas são admitidos mediante processos formais de educação que reproduzem e
legitimam as desigualdades, não considerando as diferenças, características e
peculiaridades de cada agente. A escola e as instituições de ensino formais valorizam e
exigem dos alunos determinadas qualidades que são desproporcionalmente
distribuídas em nossa sociedade, certas famílias podem oferecer a seus filhos certos
bens culturais, fazendo-os se apropriarem de tipos de capital cultural que outras
famílias e seus filhos não possuem. Desse modo, as qualidades individuais de cada
agente são constituídas por meio da apropriação de capital cultural que estabelece
certa naturalidade no trato com a cultura e o saber que só aqueles que foram
socializados desta forma, desde a infância, possuem. A escola e demais instituições de
ensino, por sua vez, não valorizam as diferenças e acabam por não potencializar ou
demonstrar as qualidades individuas de cada agente, homogeneizando-os.
Portanto, os diplomas ou certificados, sendo resultado de todo esse processo,
são reconhecidos socialmente mas não garantem ou refletem aspectos qualificadores
que os agentes podem ou não possuir. Há outros fatores importantes a serem
considerados que não estão refletidos no grau de escolaridade ou títulos que os
agentes possuem. Assim, passamos a considerar que seria um tanto quanto limitado
analisarmos a formação dos agentes públicos a partir apenas da escolaridade.
Para identificar quais outros fatores são importantes na formação dos agentes a
partir do referencial teórico, discutimos a respeito de um perfil de competências
116
inerentes à função que os agentes públicos desempenham, procurando demonstrar
possibilidades para se desenvolver processos de formação adaptáveis a cada realidade
e não modelos estáveis. Baseando-nos nas considerações de Zarifian (2001) e Tavares
(2010) entendemos que modelos de gestão por competências só se sustentam por
meio de um processo contínuo de formação a partir do desenvolvimento de
competências que dependerá, entre outros fatores, da pretensão e busca dos agentes,
bem como de políticas públicas que ofertem meios e possibilidades de formação aos
agentes públicos do esporte e lazer.
A partir dessas considerações passamos a analisar a formação dos agentes
públicos do esporte e lazer atuantes nos municípios do Paraná mediante as
subcategorias: características descritivas; curso de graduação; participação em cursos;
meios de qualificação; meios de qualificação mais eficientes; conhecimentos, saberes e
experiências necessárias à função que desempenham; e política de formação.
Em relação às características descritivas, no que se refere à escolaridade,
verificamos que a maioria dos agentes cursou ou está cursando o ensino superior
principalmente nas áreas de Educação Física e Administração. Semelhante
constatação é encontrada na literatura (BASTOS; MAZZEI, 2012; TAVARES, 2010).
Porém, os autores afirmam que mesmo sendo recorrente a procura por esses cursos
em nosso país, não há definição de quais seriam as disciplinas ou conteúdos
específicos à formação dos agentes para atuar na gestão do esporte (BASTOS;
MAZZEI, 2012). Nesse sentido, entendemos que os cursos em nível superior, por si só,
não dão conta dessa formação. Mesmo que fossem definidos disciplinas ou conteúdos
específicos para a formação em gestão do esporte e lazer entendemos que somente
cursos em nível superior não dariam conta da complexidade que envolve a formação
dos agentes públicos do esporte e lazer.
Assim, evidenciamos mais uma vez a necessidade de considerarmos outros
indicadores para além da escolaridade, dos diplomas ou títulos que os agentes
possuem, uma vez que são admitidos por meio de sistemas de ensino que, em muitos
casos, apenas reproduzem os conteúdos sem considerar as limitações ou
competências dos alunos. Frente ao entendimento que estes diplomas e títulos de
conclusão acabam por não refletir os aspectos qualificadores dos agentes, passamos a
117
analisar, também, outros indicadores/subcategorias relacionados à formação dos
agentes.
A partir das análises, verificamos que, além dos meios mais formais, os agentes
também reconhecem outros meios de formação desenvolvidos no decorrer de ações
cotidianas, como ouvir a população, buscar constantemente compartilhar ações e
conhecimentos com outros agentes, realizar formações continuadas, pontos esses que
vão ao encontro do referencial admitido (BERNABÉ; NATALI, 2014; PINTOS; PERIM,
2013).
Em relação às políticas de formação, verificamos certa incompreensão do que
vem a ser política pois muitos gestores afirmaram que a política está pautada no apoio
ou incentivo à participação em eventos ou cursos de modo esporádico ou quando há
liberação de recursos. Essas ações, quando ocorrem, não caracterizam-se como
políticas públicas. Verificamos, portanto, que essa é uma carência da gestão pública
municipal do esporte e lazer nos municípios analisados. Os pontos aqui discutidos
podem representar caminhos para se configurar políticas públicas de formação dos
agentes públicos que atuam com o esporte e lazer na gestão púbica municipal.
118
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação dos agentes públicos é um tema de discussão presente desde o
surgimento do Ministério do Esporte, nas discussões da Rede Cedes, e nos
documentos oficiais das Conferências Nacionais do Esporte. Dentre os pontos
retratados como fundamentais para o desenvolvimento do esporte e lazer em nosso
país afirma-se a necessidade de investimento em processos de formação dos agentes
públicos. Alguns programas de formação foram criados no interior de Programas
Federais, como PST e PELC, frente à necessidade de formar agentes para atuar na
gestão pública do esporte e lazer.
Mediante a relevância dessa temática, sinalizada pela literatura e constatada
também como foco de análise oriundo do universo empírico da realidade da gestão
pública do esporte e lazer, a partir da visita a 79 municípios do estado do Paraná,
objetivamos analisar a formação dos agentes públicos do esporte e lazer que atuam
nos municípios paranaenses.
Ao iniciar a discussão sobre formação, buscamos discutir a respeito das
características e condições estruturais da gestão pública municipal e como esse
contexto influencia a formação dos agentes públicos do esporte e lazer. A partir do
levantamento realizado por meio de informações do MEC verificamos a escassez de
cursos técnicos, de graduação ou de pós-graduação em gestão do esporte e lazer em
nosso país. Porém, mesmo considerando que a realização de cursos formais na área
seja uma das possibilidades quando pensamos na formação daqueles que atuam ou
atuarão na gestão do esporte e lazer, entendemos que esta não é e nem deve ser a
única alternativa. Assim, nos pautamos na literatura para buscar outros elementos
relevantes à formação dos agentes públicos.
Em relação ao cargo de gestor público, entendendo-o a partir da Teoria dos
Campos de Bourdieu, como agente que representa o Estado, que pode manter ou
modificar as estruturas existentes, apropriamo-nos das contribuições de autores que
discutem a respeito de um perfil de competências que este cargo exige. Verificamos
que as competências mais requeridas a este cargo referem-se a competências
119
decisórias; de planejamento; de controle e gestão de recursos humanos, financeiros,
estruturais; de liderança e coordenação de equipes (JOAQUIM; BATISTA; CARVALHO,
2011; TAVARES, 2011). Porém, baseando-nos nas considerações de Soriano e
Winterstein (2006), entendemos que essas competências elencadas não podem refletir
um padrão fechado a ser considerado na formação dos agentes, desconsiderando
outras habilidades ou competências que não essas colocadas como referências.
Portanto, assumimos que outras competências advindas do senso prático podem ser
consideradas, como por exemplo a competência ética. Além dessa competência,
encontramos uma serie de fatores que Pintos e Perim (2013) consideram importantes
para ampliar a capacidade de governança e qualificar os processos de tomada de
decisões dos gestores públicos do esporte e lazer. Verificamos a importância desses
fatores quando se evidenciou, por meio do levantamento de estudos e pesquisas que
discutem a gestão pública do esporte e lazer, as dificuldades enfrentadas pelos agentes
públicos para a oferta do esporte e lazer em municípios brasileiros.
Entendemos que as dificuldades enfrentadas na gestão pública municipal do
esporte e lazer são reflexo do processo de municipalização e da não efetivação do
processo de descentralização do Estado brasileiro. Foi possível chegar a esse
entendimento, uma vez que, como constatado pelo referencial teórico apresentado no
capítulo três, a tentativa de transferência de poder decisório e financeiro aos estados e
municípios por meio do processo de descentralização do Estado, de modo que os entes
federativos pudessem decidir de modo local frente às suas prioridades, não se
concretizou em sua totalidade. Portanto, assume-se que os municípios ainda são
dependentes do Estado e não possuem total autonomia, como preconiza a Constituição
de 1988. O Estado ainda é o principal agente financiador ou autorizador de recursos,
mas nem sempre as responsabilidades transferidas aos municípios equivalem-se aos
recursos repassados (MENEZES, 2009). A partir desse contexto, verificamos que as
consequências da não efetivação do processo de descentralização do Estado refletem-
se nas dificuldades enfrentadas na gestão das políticas públicas em suas mais diversas
áreas, como a do esporte e lazer.
Por meio do referencial teórico, constatamos como principais dificuldades
enfrentadas pelos agentes públicos do esporte e lazer a falta ou insuficiência de
120
recursos e investimentos na área; a limitação financeira dos municípios e,
consequentemente, da área do esporte e lazer, que acaba sendo considerada em
segundo plano por não ser considerada prioritária; a baixa quantidade de ações
continuadas e o baixo número de agentes públicos por falta de recurso ou dotação
orçamentária.
Por todos esses pontos e, a partir da constatação das dificuldades que
configuram as características e condições estruturais da gestão pública municipal do
esporte e lazer e que, consequentemente, devem ser enfrentadas pelos agentes
públicos, seja ele gestor ou agente técnico, passamos a considerar a formação à luz do
referencial teórico, como um meio para se atingir uma atuação consciente e qualificada
de um agente do Estado. Assim, a literatura nos permitiu identificar os principais pontos
relevantes a serem considerados nos processos de formação desses agentes: busca
pela qualidade da gestão; princípio das vivências e práticas sociais diversificadas para
preservar e dar utilidade aos recursos disponíveis; princípio da participação popular;
definição das funções e responsabilidades frente aos objetivos propostos; domínio dos
conhecimentos, técnicas e saberes do esporte e lazer; busca pela efetivação das
políticas; reflexão das ações, buscando corrigir falhas e avançar por meio das trocas e
compartilhamento de experiências; princípio da formação política e social
(MARCELLINO et al., 2007; PINTOS; PERIM, 2013; BERNABÉ; NATALI, 2014).
Com base nessas discussões, em relação à categoria de análise formação,
podemos considerar que os resultados encontrados a partir dos dados empíricos e
análise das subcategorias dialogam com o referencial teórico, pois possuem certa
convergência com características, condições estruturais e competências discutidas
inicialmente. De certo modo, foi possível constatar que as características e as
condições estruturais da gestão pública municipal do esporte e lazer influenciam no
modo como a formação dos agentes é desenvolvida, considerando os tipos de
capacitações que os agentes realizam, os meios de qualificação que consideram mais
adequados ou eficientes e a presença ou não de políticas de formação.
Para descrevermos os agentes, segundo os quais nos referíamos nas analises,
elencamos a subcategoria de análise voltada as características descritivas. Ao
analisarmos essa subcategoria constatamos que a maioria dos agentes públicos é do
121
sexo masculino e que a média de idade dos gestores é maior que a dos agentes
técnicos. A partir da imersão na realidade municipal e dos dados coletados pudemos
analisar que essa diferença de idade possui relação com a experiência profissional dos
agentes. Os gestores que, em sua maioria, possuem mais idade que os agentes
técnicos, apresentam mais experiências na gestão pública. Muitos relataram que, antes
de assumirem o cargo de gestor, trabalhavam em outra função, seja como professor de
educação física, técnico esportivo ou outros cargos no setor público. Quanto à
escolaridade, o ensino superior completo prevalece, mas entre os agentes técnicos
constatamos uma grande frequência no indicador ensino superior incompleto, pois
muitos ainda cursavam a graduação.
Ao analisar as demais subcategorias, verificamos que os agentes reconhecem e
buscam participar de cursos e palestras, meios que consideramos como processos
formais de formação, mas também reconhecem e buscam participar de outros meios
como experiência diária, troca de experiência com outros agentes, formação
continuada, entre outros.
Portanto, podemos afirmar que os meios de capacitações mais frequentes entre
os agentes são meios passivos de formação como cursos e palestras e, os meios de
capacitação mais eficientes são os cursos presenciais. Meios estes que consideramos
como meios formais de formação.
Em relação ao papel desempenhado pelos gestores, o capital político foi um dos
pontos discutidos por entender que desempenham uma função política em um meio
político. A ascensão política por meio do esporte é outro ponto destacado a partir da
fala de um gestor ao relatar um acontecimento em seu município. Por meio desse
destaque, verificamos que a presença de interesses e lucros particulares a partir da
apropriação do público, "da coisa pública", ressaltado por Bourdieu (2005) como
consequência da transição do Estado dinástico para o Estado burocrático, faz-se
presente também na realidade da gestão pública municipal.
Portanto, por todos esses pontos, podemos considerar que a análise dos dados
dos agentes (tanto gestores quanto agentes técnicos) ressalta que não só o
conhecimento institucionalizado, por meio da realização de cursos e do ensino superior
por exemplo, mas também o conhecimento empírico que parte das vivências diárias,
122
das trocas com outros agentes, do compartilhamento das ações, entre outros, são
importantes no processo de formação dos agentes
Em relação à importância da realização de cursos de capacitação e formação
verificamos um descompasso nos posicionamentos: de um lado, os agentes técnicos
culpam a falta de oferta por parte dos órgãos públicos e, de outro, os gestores afirmam
que o interesse deveria partir dos próprios agentes técnicos. A partir da verificação
desse descompasso nos posicionamentos podemos averiguar que a formação foi
tratada como um problema pessoal, retirando das organizações públicas e do Estado a
responsabilização por políticas de formação dos agentes que trabalham em prol do bem
comum. Esse descompasso também apresenta que não são levados em consideração
a realidade social de cada agente público, a capacidade de poder ou buscar formação,
capacidade essa estabelecida por condições macroestruturais como, por exemplo, a
falta de tempo disponível e a falta de condições econômicas em virtude de baixos
salários.
A consideração da formação como problema pessoal pode estar relacionada ao
fato de termos constatado a ausência de políticas de formação dos agentes públicos do
esporte e lazer nos municípios analisados. Podemos analisar, portanto, que, quando
não há políticas institucionalizadas, a formação acaba ficando refém do caráter
personalista da política, como podemos perceber em alusões das falas dos agentes:
“se o(a) secretário(a) permitir ou não”, “se o prefeito permitir ou não”, bem como refém
do caráter orçamentário: “o apoio existe quando há recurso”, “se sobrar verba aí
apoiamos a realização de cursos de formação”.
Por todas as discussões aqui referenciadas, podemos considerar que a
institucionalização de políticas de formação para os agentes públicos pode refletir em
soluções frente aos problemas encontrados na gestão pública municipal do esporte e
lazer em relação à formação dos agentes. Porém, entendemos que a criação e
efetivação de políticas requer discussões que analisem o melhor modo de desenvolvê-
las, de forma que congreguem as necessidades dos agentes e da gestão pública em
prol da oferta do esporte e lazer como direito social. Portanto, esse trabalho limita-se a
apontar tal necessidade e aspectos que possam vir a ser considerados em processos
de formação dos agentes públicos, ao mesmo tempo em que avança por iniciar a
123
discussão da temática e incitar a necessidade de novos estudos e pesquisas que se
voltem a esse tema.
124
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131
APÊNDICES
132
APÊNDICE A
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
ANÁLISE DOS AGENTES PÚBLICOS DO SISTEMA NACIONAL DE ESPORTE – GEPPOL – MARINGÁ 2014
Data da pesquisa: ____/____/____ Pesquisador (a)_________________________
1. Local da Entrevista ________________________________________________
2. Município _______________________________________________________
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
3. Data de nascimento ____/____/____ Sexo ________________
4. Escolaridade:
Curso de Graduação: ________________________________________________
Instituição:______________________________ Ano de conclusão: ___________
Curso de Pós-graduação: _____________________________________________
Instituição:______________________________ Ano de conclusão: ___________
5. Qual seu cargo / função atual? ______________________________________
6. Como se deu seu ingresso nessa função/cargo? ________________________
7. Qual sua renda mensal relacionada/relativa ao Esporte e Lazer nesta instituição?
(1) até um salário mínimo (SM) (R$724,00) (2) 1 a 3 SM (724,00 a 2.172,00)
(3) 3 a 5 SM (2.172,00 a 3.620,00) (4) Mais de 5 SM (3.620,00)
8. Etnia:___________________
9. Filiação partidária:________________ Prefeito: ________________________
ACESSO A INFORMAÇÃO:
10. Quais os principais meios de comunicação que você utiliza para se informar?
11. Você tem acesso à internet? Quantas vezes por semana? Quanto tempo por dia?
12. Acessa algum site específico relativo ao esporte e lazer? Qual?
13. Já participou de algum curso à distância e/ou presencial? E formação voltada para o
esporte e lazer? Qual?
14. Como você busca qualificação para exercer sua função?
15. Qual a forma de capacitação/formação você considera que seja mais eficiente para
qualificar sua atuação profissional na secretaria/departamento?
133
DADOS DA PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER
NO MUNICÍPIO
16. Há quanto tempo você trabalha com Gestão do Esporte e Lazer?
17. Quais os conhecimentos, saberes e experiências que você julga necessários para
desenvolver seu trabalho?
18. Qual seu conhecimento em relação às Leis sobre esporte e lazer (municipais,
estaduais e federais)?
19. Qual o seu entendimento acerca do esporte?
20. Qual seu entendimento acerca do lazer?
21. Em sua opinião, qual deveria ser o papel do poder público municipal em relação
ao esporte e ao lazer?
22. A sua Secretaria/Departamento possui algum tipo de planejamento nas ações
relacionadas a políticas públicas de esporte e lazer? Quais?
23. O que é priorizado / objetivado com as políticas públicas de esporte e lazer?
24. Qual a organização da secretaria/departamento? (Quantas diretorias,
coordenações, funcionários). Como ocorre a contratação desses profissionais?
25. Em seu município existe a participação popular nas discussões acerca do
esporte e do lazer? Existe algum tipo de conselho?
26. Qual o orçamento da Secretaria/Departamento? Quanto representa
percentualmente em relação ao orçamento geral do município? Ele é suficiente
para o desenvolvimento de esporte e lazer? Por quê?
27. Quais são as principais ações, programas e projetos de esporte desta
Secretaria/Departamento? Existe algum tipo de financiamento ou apoio externo?
28. Quais são as principais ações, programas e projetos de lazer desta
Secretaria/Departamento? Existe algum tipo de financiamento ou apoio externo?
29. Você considera que a gestão do esporte e do lazer pode/deve ser desenvolvido
atrelado a outros setores/departamentos em seu município?
134
30. Os espaços para o esporte e lazer são suficientes para a execução de suas
ações? Está programada construção, ampliação e conservação de novos
espaços específicos de esporte e lazer no município?
31. A secretaria/departamento atua também em distritos e áreas rurais? De que
forma?
32. Há uma política de formação, qualificação e atualização dos profissionais da
instituição? Quem são os responsáveis pela formação dos profissionais de
esporte e lazer?
33. Existe alguma informação relevante sobre o esporte e lazer no município que
gostaria de mencionar?
34. Há ações ou estruturas descentralizadas (parcerias com instituições, secretarias
e outros departamentos)? Quais?
35. Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento de sua gestão nesta
Secretaria/Departamento?
36. Em sua opinião, qual deveria ser a função de sua Secretaria/Departamento em
relação ao esporte e ao lazer no município?
135
APÊNDICE B
QUESTIONÁRIO APLICADO JUNTO AOS AGENTES PÚBLICOS DE ESPORTE E LAZER – PROFESSORES E ESTAGIÁRIOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE
MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PARANÁ
QUESTIONÁRIO – GEPPOL – MARINGÁ 2014
ANÁLISE DOS AGENTES PÚBLICOS DO SISTEMA NACIONAL DE ESPORTE
Caro (a) participante,
Este questionário tem por objetivo a coleta de dados para a pesquisa do grupo
GEPPOL da UEM, com a intenção de analisar os Agentes Públicos do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer. É importante ressaltar que não é necessária a
identificação do participante e, que os dados serão acessados apenas pela
equipe de pesquisadores. O questionário é composto por questões abertas e
fechadas, e em algumas questões, é facultativo o comentário.
Agradecemos a colaboração - Grupo GEPPOL – DEF/UEM
Data da pesquisa: ___/___/___ Pesquisador (a)
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
1) Data de nascimento (____/____/____)
2) Sexo ( 1 ) FEM ( 2 ) MASC
3) Escolaridade ( 1 ) Ensino fundamental incompleto ( 2 ) Ensino fundamental completo ( 3 ) Ensino médio incompleto ( 4 ) Ensino médio completo ( 5 ) Ensino superior incompleto. Qual o curso de graduação? ( 6 ) Ensino superior completo. Qual o curso de graduação? ( 7 ) Pós graduação. Qual nível/curso?
4) Ano de conclusão:
graduação:
pós-graduação:
5) Em qual instituição se formou:
graduação:
pós-graduação:
136
6) Qual sua renda mensal relacionada ao Esporte e Lazer nesta instituição? (1) até um salário mínimo (SM) (R$724,00) (2) 1 a 3 SM (724,00 a 2.172,00) (3) 3 a 5 SM (2.172,00 a 3.620,00) (4) Mais de 5 SM (3.620,00)
7) Etnia 8) Qual seu cargo / função atual?
9) Possui filiação partidária? (1) Sim. Qual: (2) Não
ACESSO A INFORMAÇÃO
10) Quais as suas principais formas de acesso à informação?
(1) Internet (2) Livros/Periódicos (3) Revistas (4) Jornais (5) TV (6) Rádio
11) Você tem acesso à internet?
(1) Sim, no trabalho (2) Sim, em casa (3) Em casa e no trabalho (4) Não
12) Acessa algum site específico relativo ao esporte e lazer?
(1) Sim. Qual: (2) Não
13) Você realizou algum curso presencial e/ou à distância voltado para o esporte e
lazer?
(1) Sim. Qual: (2) Não
ATUAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
14) Qual o órgão responsável pelo esporte e lazer no município?
(1) Secretaria (2) Departamento (3) Fundação
(4)Terceirizado (5) outro. Quais:
15) Qual a sua experiência em relação à função que exerce atualmente?
(1) Nenhuma (2) Trabalhou na gestão anterior (3) Trabalhou em outro
município
(4) Trabalha em instituição privada (5) Outro:
16) Qual seu tempo de experiência em prefeitura?
(1) Até 2 anos (2) 2 a 4 anos (3) 4 a 10 anos (4) 10 anos ou mais
137
17) Há quanto tempo você trabalha nesta função, nesta instituição?
(1) Até 2 anos (2) 2 a 4 anos (3) 4 a 10 anos (4) 10 anos ou mais
18) Qual a forma de ingresso na prefeitura:
(1) indicação política (2) concurso público (3) contratação temporária
(4) terceirização (5) outra:
19) Você trabalha em mais algum lugar?
(1) Sim, mesma função (2) Não (3) Sim, outra função – Qual?
20) Você participou de algum curso de capacitação / formação?
(1) Não, porque não foi oferecido.
(2) Não, porque não pude / não tive interesse.
(3) Sim, oferecido fora de minha Secretaria/Departamento, com apoio. Qual?
(4) Sim, oferecido fora de minha Secretaria/Departamento, sem apoio. Qual?
21) Que tipo de capacitação / formação você participou?
(1) Palestras (2) Reuniões Pedagógicas (3) Seminários (4) Grupos de Estudos
(5) Congressos (6) Cursos Temáticos (7) Outros – Quais?
22) Qual a forma de capacitação/formação você considera que seja mais eficiente para
qualificar sua atuação profissional na secretaria/departamento?
(1) Internet (2) Cursos presenciais (3) Cursos à distância (4) Livros/Periódicos
(5) Outros. Quais?
DADOS DA PESQUISA SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER NO MUNICÍPIO
23) Em sua opinião as ações de sua Secretaria/Departamento, interferem no município e na vida da população?
(1) Sim. De que forma?
(2) Não. Por que?
(3) Não sei.
24) Você conhece os objetivos, os princípios e as diretrizes de esporte e lazer de sua
Secretaria/Departamento?
(1) Sim. Quais? (2) Não.
25) Você sente uma valorização ou desvalorização do esporte e do lazer frente às
outras áreas do município?
138
(1) Valorização. Em relação a quais áreas?
(2) Desvalorização. Em relação a quais áreas?
26) Quais as principais políticas públicas de esporte e lazer no município?
27) Qual seu entendimento sobre esporte?
28) Qual seu entendimento sobre lazer?
29) Qual a sua opinião sobre a oferta do esporte e lazer para a comunidade?
30) Em sua opinião, qual deveria ser o papel do poder público municipal em relação ao
esporte e ao lazer?
31) Qual seu conhecimento em relação às Leis estaduais e federais sobre esporte e
lazer?
32) Existe alguma Lei em seu município referente ao esporte e lazer? Esta lei está
sendo efetivada/aplicada atualmente? Como?
33) Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento de seu trabalho na
Secretaria/Departamento?
34) Existe alguma informação relevante sobre o esporte e lazer no município que
gostaria de mencionar?
139
ANEXOS
140
141
142