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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Mauricio Homma Formulação de políticas públicas para juventude em contexto de globalização DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2012

Formulação de políticas públicas para juventude em ... Homma.pdf · Mauricio Homma Resumo A intensificação da participação de governos subnacionais e organizações não governamentais

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Mauricio Homma

Formulação de políticas públicas para juventude em contexto de

globalização

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO

2012

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Mauricio Homma

Formulação de políticas públicas para juventude em contexto de

globalização

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial para obtenção

do título de Doutor em Ciências Sociais, sob

a orientação do Professor Doutor Luiz

Eduardo Wanderley.

SÃO PAULO

2012

3

Banca Examinadora

4

Agradecimentos

Ao meu Orientador deste trabalho, prof. Dr. Luiz Eduardo Wanderley, que

se tornou para mim uma grande referência como pesquisador, docente e

amigo, em diversas fases de minha produção.

À minha família: Mariana, Juliana, respectivos Alexandres, Julia, Tomás,

Nena e, particularmente, à minha esposa, Lourdes, pela compreensão,

tolerância e apoio que me proporcionaram neste caminho.

À minha mãe, Alda, pelo esforço de garantir um início de vida a mim e a

meus irmãos, que me permitiu alcançar esta e outras importantes

conquistas.

Aos meus amigos e colegas de trabalho em toda minha trajetória, que me

permitiram obter conhecimentos, reflexões e estímulos às relações

saudáveis, éticas e produções acadêmicas valiosas.

Aos importantes colaboradores diretos desta pesquisa, que colocaram à

minha disposição suas experiências, concepções e informações:

o William S. Reese (Bill), da International Youth Foundation – EUA;

o Karen Phillips, da International Youth Foundation – EUA;

o Alberto Croce, da Fundación SES – Argentina;

o Wendy Almeida, da Fundación Esquel – Equador;

o Álvaro Caballero Carrizosa, do CIRD – Paraguai;

o Rhondah Whitaker, da Foundation for Young Australians – Austrália;

o Jon Matsuoka, da Consuelo Foundation – Filipinas.

Aos professores que aceitaram o convite de contribuir em minha Banca de

Defesa desta Tese.

5

Formulação de políticas públicas para juventude em contexto de

globalização

Mauricio Homma

Resumo

A intensificação da participação de governos subnacionais e organizações não

governamentais em âmbito global tem reforçado a identidade e o papel dos atores

locais em ambientes das relações internacionais, o que não significa concorrência

ou sobreposição em relação às funções e competências que são legítimas dos

Estados Nacionais no plano internacional. O objetivo desta pesquisa é levantar

informações e analisar a atuação de organizações não governamentais em

ambientes globais, de forma a verificar se um possível alinhamento de ideias,

propostas e políticas em âmbito global tem impacto nos processos de formulação

das políticas públicas sociais nesses países. Para isso, procedeu-se à seleção de

uma área de políticas públicas – políticas para a juventude – que tem se

caracterizado frequentemente como uma preocupação mais universalizada. A

partir desse eixo de políticas, selecionou-se uma organização com atuação na

disseminação de programas em âmbito global – a International Youth Foundation

– e cinco outras organizações locais que são suas parceiras em diferentes países

localizados em três continentes. O estudo conclui que em todas essas

organizações abordadas há claramente o objetivo de influenciar as políticas

públicas locais, em sintonia com a participação dessas organizações em redes

globais para a busca de fortalecimento institucional, alinhamento de propostas e

articulação de estratégias nos objetivos comuns e em realidades semelhantes.

Palavras-chave: políticas públicas; globalização; subnacionais; atores globais;

organizações não governamentais; relações internacionais.

6

Public policies formulation for youth in globalization context

Mauricio Homma

Abstract

The increased participation of subnational governments and nongovernmental

organizations globally has strengthened the identity and the role of local actors in

environments of international relations, which does not mean to compete or

overlap with the tasks and responsibilities that are legitimate to National States at

the international level. The goal of this research is to obtain information and

analyze the performance of NGOs in global environments in order to verify if a

possible alignment of ideas, proposals and policies in a global level has impacts on

the formulation of social policies in these countries. Thus, we proceeded to the

selection of an area of public policy - youth policies - which has often been

characterized as a concern more universalized. Based on this policies axis, was

selected an organization with operations in disseminating programs globally -

International Youth Foundation - and five other local organizations which are his

partners in different countries located on three continents. The study concludes

that in all these organizations there is clearly the goal to influence local public

policies in line with the participation of these organizations in the search for global

networks of institutional strengthening, alignment of proposals and strategies

articulation on common goals and similar realities.

Keywords: public policy, globalization, subnational, global players, NGOs,

international relations.

7

Sumário

Introdução.......................................................................................................... 8

Contexto inicial.............................................................................................. 8

Definição do problema de investigação científica.............................................. 14

Aspectos de identificação pessoal com a temática............................................ 15

Plano metodológico........................................................................................ 16

I – Para entender o processo de formulação de políticas públicas.................. 21

1.1 – Sobre as políticas públicas.................................................................... 21

1.2 – Sobre a formulação de políticas públicas............................................... 32

II – Globalização e descentralização de relações internacionais...................... 48

2.1. A intensificação dos processos de globalização e os Estados-Nação........ 48

2.2. Uma nova configuração simultânea descentralizada.................................. 59

III – Organizações, políticas públicas e articulações globais............................. 73

3.1. Organização global: International Youth Foundation - IYF…………........... 75

3.2. Propósitos, intencionalidades e conquistas da IYF e seus parceiros

locais................................................................................................... 126

Considerações Finais........................................................................................ 149

Bibliografia......................................................................................................... 161

Anexo I – Questionários da pesquisa on-line.................................................... 169

Anexo II – Cópias dos questionários on-line respondidos................................ 170

8

Introdução

Contexto inicial

O período pós-Guerra Fria e os avanços tecnológicos de comunicação e da

Internet estimularam os processos de globalização e de interdependência entre os

países, de forma que se observa na atualidade uma tendência acentuada de

estabelecimento mais intenso de relações internacionais, não somente entre os

Estados-Nação, mas progressivamente com a participação de governos

subnacionais e organizações não governamentais.

Hoje existem vários estudos sobre esse fenômeno, sendo que uma parte deles foi

considerada como foco de análise neste trabalho. A ampliação de conexões

globalizadas e o fortalecimento da identidade dos atores locais nesse cenário

acabam por provocar uma redefinição da função e da participação dos Estados

nacionais nas relações internacionais, de forma que possibilite a flexibilização e o

ajuste na posição tradicional que confere ao Estado-Nação a competência

exclusiva de lidar com as relações internacionais e com os assuntos de política

externa.

Ao mesmo tempo, constata-se a multiplicação de experiências realizadas no

âmbito de governos subnacionais e de organizações da sociedade civil em ações

e acordos de cooperação ou parceria internacional, que contribuem para a

implementação de programas e projetos no âmbito das políticas sociais que, por

vezes, provocam impactos nas políticas e realidades locais.

Algumas teorias clássicas consideram que a distribuição e preservação do bem

comum são os principais papéis do Estado nas relações internas e até mesmo

externas. Entretanto, segundo Jakobsen (2009), tais objetivos nem sempre foram

atingidos. Como consequência, argumenta ele, os poderes subnacionais

assumiram, cada vez mais, um maior número de responsabilidades no tocante à

9

distribuição dos direitos fundamentais dos cidadãos, como educação, saúde,

moradia e outros. Em função disso e devido ao crescente processo de

urbanização ocorrido no mundo, as cidades ampliaram sua participação na gestão

de políticas sociais. Por sua vez, os governos subnacionais também têm

interesses próprios no âmbito internacional que não se chocam com as políticas

nacionais e que o governo central geralmente não tem condições de atender

(Jakobsen, 2009).

Embora tenha havido certa sinergia de configuração desse novo cenário

internacional e de fortalecimento da identidade desses atores globais pelas

condições específicas (econômicas, políticas, sociais, culturais, tecnológicas, de

valores e necessidades comuns etc.), o processo que se desenvolveu e que

promoveu ajustes em cada país tem sido diferenciado. No Brasil tal processo

também vem sendo desencadeado há algumas décadas com muita intensidade,

principalmente devido à conjunção de fatores no cenário político, social e legal.

Em 1988 foi promulgada uma nova Constituição Brasileira, como expressão do

processo de abertura democrática pela qual vinha passando o país, outorgada

pelo primeiro governo civil após o período de vinte e um anos de regime militar.

Dentre outros importantes aspectos, essa nova Constituição redefiniu as

competências do Estado brasileiro entre as três esferas de governo, com maior

atribuição de funções e autonomia para os âmbitos estaduais e municipais.

Desencadeava-se assim um processo de descentralização administrativa e de

poderes, com mecanismos de participação da sociedade civil no

acompanhamento, fiscalização e tomada de decisões em diversas áreas das

políticas públicas, particularmente no que dizia respeito às áreas sociais.

A década seguinte viveu uma intensificação de ações do poder Executivo, bem

como do Legislativo, na regulamentação e implementação da transferência de

maior parcela de recursos – financeiros, técnicos e materiais – para os governos

10

estaduais e municipais, além da realocação de programas e serviços

principalmente por processos de municipalização do atendimento às necessidades

básicas dos cidadãos.

No campo da sociedade civil, os anos 90 também registraram uma acentuada

multiplicação do número de organizações não governamentais, com destaque

para as instituições que se caracterizaram pela formação do então recém-definido

Terceiro Setor. Algumas dessas instituições se consolidaram na atuação e no

debate em torno da atenção aos direitos sociais, direitos humanos,

desenvolvimento sustentável e acompanhamento da gestão pública.

Pode-se observar, na tabela a seguir, a evolução das fundações privadas e

associações sem fins lucrativos, no Brasil, por períodos de criação.

Tabela 1 - Distribuição das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, no Brasil, segundo data de criação - 2002

Data de Criação Absoluta Relativa (%)

Total 275.895 100,00

Até 1970 10.998 3,99

De 1971 a 1980 32.858 11,91

De 1981 a 1990 61.970 22,46

De 1991 a 2000 139.187 50,45

De 2001 a 2002 30.882 11,19

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2002.

Assim como ocorreu em outros países da América Latina, esse processo de

abertura política e de desenvolvimento social do Brasil atraiu a atenção de

diversos organismos e agências de cooperação internacionais. Nas décadas de 80

e 90, muitos recursos migraram para o território brasileiro, com o intuito de

financiar projetos e programas nas diversas áreas das políticas sociais. Estavam

envolvidas nesses acordos e ações, tanto as respectivas instâncias

governamentais quanto as organizações não governamentais, principalmente

aquelas configuradas pela modelagem do Terceiro Setor.

11

Na primeira década dos anos 2000, o setor privado estimulou ainda mais a criação

das respectivas áreas de responsabilidade social das empresas, acentuando-se

para o foco de trabalho aqui proposto aquelas formadas por capital estrangeiro, ou

ainda com a matriz administrativa do grupo sediada em outros países.

Por sua vez, com a intensificação dos processos de globalização, não somente a

economia recebeu forte impacto de orientação nas suas relações em todos os

âmbitos (internacional, regionais e nacionais), como também os parâmetros de

desenvolvimento sustentável, de garantia dos direitos humanos, de elevação dos

padrões e de condições mínimas de vida saudável e produtiva foram se

constituindo por referenciais de caráter mais universalizantes. As ações de

intercambialidade de experiências, de conceitos, de estudos e de políticas

públicas tornaram-se mais frequentes nas relações entre os países dos diversos

continentes, desencadeando também programas de investimentos sociais entre

governos subnacionais ou instituições não governamentais.

Atualmente, no contexto mundial, há uma trama de relações entre Organizações

Internacionais, organizações não governamentais de atuação mais interna em

seus países, instituições do chamado Terceiro Setor e governos subnacionais

estabelecendo relações internacionais para a formalização e implementação de

programas, projetos e acordos de cooperação, tendo ou não a atuação direta ou o

acompanhamento de seus respectivos governos nacionais.

Por um lado, há que se considerar o sistema internacional como um ambiente de

composição com diversidade de atores, onde os governos nacionais acabam por

assumir um papel mais específico nas questões transnacionais e de interesses na

preservação e consolidação da soberania. As políticas internacionais,

consequentemente, são a resultante da interação entre complexas forças internas,

caracterizando o âmbito de contextos internos como variável fundamental para a

compreensão de como os Estados-Nação se comportam como atores

internacionais (Hocking, 2004: 79).

12

Por outro lado, rompendo com a perspectiva da visão realista de controle

centralizado do Estado como conduta coerente para a instituição da política

externa, os governos centrais passaram a incentivar o envolvimento controlado de

regiões em áreas específicas das relações exteriores, ao mesmo tempo em que

atores locais (governamentais subnacionais e não governamentais) estão

interagindo ao longo das fronteiras nacionais (ibid.: 81-83). Esses atores locais se

tornam ainda mais reforçados em suas atuações nos contextos internacionais,

quando observados os estudos que apontam a tendência da descentralização

efetiva dos governos centrais, consolidando certos graus de autonomia dos

governos subnacionais e da democracia participativa, com envolvimento da

sociedade civil em parcerias com os representantes governamentais (Wanderley,

2005: 208). Entretanto, há que se considerar que os processos entre sociedade

civil e gestão pública, conforme observa Wanderley, são dialéticos e

contraditórios, com relações condicionadas por modalidades de consenso e

dissenso (ibid.: 213).

Esses aspectos, de fato, colocam em diálogo dois conceitos de Política Externa,

conforme mencionados por Altemani: se Manfred Wilhelmy define a política

externa como “o conjunto de atividades políticas, mediante as quais cada Estado

promove seus interesses perante os outros Estados”, por sua vez Russell

considera a política externa como “a área particular da ação política dos

governos”, mas que “se projeta no âmbito externo ante a uma ampla gama de

atores e instituições governamentais e não governamentais” (Altemani, 2005: 4).

Por essa dinâmica das relações subnacionais, portanto, entende-se que o próprio

conceito clássico de política externa como atributo dos Estados, por inter-relações

exclusivas dos governos nacionais, está em foco num processo de ressignificação

no contexto das relações internacionais.

No mesmo sentido dessa última observação, Linklater define que o Estado-Nação

deve assumir uma posição de mediador nas relações entre as instâncias

13

subnacional, nacional e internacional, uma vez que não cabe mais reivindicar para

si a condição de único centro de poder legítimo (apud Wanderley, 2005: 222).

Vista ainda como um processo de percepção, avaliação, decisão, ação e

prospecção estatal, a política externa, conforme considerada por Seitenfus, é a

resultante entre as necessidades internas e os constrangimentos externos (2004:

84).

Justificado pela crítica hobbesiana ao estado de natureza do homem, o Estado

absolutista no cenário internacional, como único interlocutor das aspirações,

necessidades e anseios da Nação, não é mais o representante incondicional nas

relações internacionais, salvo, conforme observa Seitenfus, por sua função de

garantia de segurança aos seus cidadãos frente a ameaças externas (Seitenfus,

2004: 74). Ainda assim e como uma decorrência desse princípio, o Estado pode

reforçar-se no cumprimento do seu papel incondicional, segundo teoria política

clássica de Platão e Aristóteles, orientado pela busca permanente do bem comum.

Sendo assim, um bom governo, numa vertente de reflexão da teoria de Norberto

Bobbio, é aquele que se vale do próprio poder para perseguir o bem comum

(Bobbio, 2000: 206).

Não se trata do enfraquecimento do Estado, em favor das relações externas

diretas das instâncias subnacionais. Ocorre que os processos de globalização e

de regionalização trazem, para a esfera nacional, novos desafios e uma nova

lógica de funcionamento, colocando em pauta a necessária reformulação do papel

do Estado (Mariano & Mariano, 2005: 133).

Os governos subnacionais, neste contexto, acabam por assumir novas

prerrogativas e ocupam espaços deixados pelo governo central. A

interdependência crescente, marcada pela globalização, questiona a legitimidade

e a soberania ao colocar em confronto a capacidade dos Estados de oferecer

bens e serviços às suas populações sem apelarem para a cooperação

14

internacional ou envolverem as instâncias governamentais (Mariano & Mariano,

2005, p. 134).

Vale ressaltar que o foco desta pesquisa recai exclusivamente no campo da

observação de organizações não governamentais, que atuam simultaneamente

em ambientes globais e nas áreas específicas de suas realidades locais. As

possíveis referências à atuação e ao posicionamento de governos subnacionais

em ambientes globais serão tratadas apenas em referências conceituais, como

fatores que reforçam a configuração atual de uma redefinição de papéis dos

atores internacionais, onde as organizações não governamentais também se

inserem.

Definição do problema de investigação científica

A questão, portanto, que se pode refletir nesse contexto de diversificação das

relações globais dos diversos atores internos é que, se há uma tendência

crescente de ocorrerem interfaces de ações em parcerias ou em acordos entre

representações de segmentos da sociedade civil em ambiente internacional, por

sua vez é necessário observar se tal situação resulta em alguma influência dessas

relações na formulação e consolidação de políticas públicas internas desses

países, principalmente no que diz respeito às políticas sociais.

Esse é justamente o foco para a problemática de estudo desta pesquisa: a

ampliação das relações globalizadas dos atores locais, tais como as organizações

não governamentais, tem contribuído para o alinhamento de ideias, propostas e

políticas em âmbito global, que resultem em intervenções nos processos de

formulação das políticas públicas sociais nesses países?

A hipótese inicial deste estudo é de que tem havido sim um alinhamento de ideias,

propostas e projetos em âmbito global, principalmente por referência a valores que

15

são reconhecidos de forma mais universalizante, como é o caso de direitos da

juventude dentre outros, e que qualificam as identidades estratégicas para o

estabelecimento de acordos e parcerias internacionais, com certa expectativa por

parte desses atores de que tais ações, projetos e programas possam impactar as

políticas públicas locais.

Por questões de dimensionamento do foco no universo de políticas públicas, esta

pesquisa selecionou como área de observação as políticas sociais e, dentro desse

subuniverso, as políticas que têm como eixo de atenção a juventude e suas

interfaces.

Aspectos de identificação pessoal com a temática

Minha identidade e interesse de pesquisa nesta temática têm estímulo primário em

reflexões que pude acumular por minha trajetória político-profissional e

acadêmica, tanto na área de políticas públicas, quanto no campo das relações

internacionais.

Meu contato mais próximo com políticas públicas ocorreu por meio da participação

em gestões de governos municipais (São Paulo, São Vicente e Santos), no

período de 1990 a 1996, com destaque para o cargo de Secretário Municipal de

Educação em Santos, durante o ano de 1996. Ainda nessa área, atuei como

consultor em Educação para diversas administrações municipais, fui diretor

nacional da Fundação Fé e Alegria do Brasil, consultor em Educação e avaliador

do Programa Prefeito Amigo da Criança da Fundação Abrinq, pesquisador do

Instituto de Estudos Especiais da PUC-SP em diversos projetos nesse foco e atuei

como gerente da área de Direito à Educação da Fundação Abrinq, em 2006.

Na área acadêmica, sou professor na Universidade Anhembi Morumbi desde

2001, ministrando aulas com foco em políticas de Educação para cursos de

16

Pedagogia e de formação docente, e estive desde a implantação do curso de

Relações Internacionais ministrando disciplinas como Ciência Política e Ciências

Sociais. Também ministrei aulas no curso de Relações Internacionais da ESPM-

SP. Ainda na Anhembi Morumbi, sou coordenador de Responsabilidade Social

desenvolvendo, dentre outras ações de interface acadêmica, um programa de

reconhecimento e apoio a jovens empreendedores sociais, por meio do qual

mantenho articulação e parcerias com diversas organizações locais

(governamentais e não governamentais), bem como inúmeras outras de cunho

internacional em diversos países.

Para finalizar esse breve retrato de afinidades e identidades pessoais com a

temática, registro que meu mestrado foi defendido em 2002 no Programa de

Educação: Currículo da PUC-SP, sob o tema “Políticas públicas de educação e

práticas curriculares: uma experiência de interlocução em Santos – 1994 a 1996”.

Plano metodológico

Este trabalho teve como procedimento metodológico a organização estrutural de

análise em três partes. Na primeira delas – “Para entender o processo de

formulação de políticas públicas” –, sob a articulação teórica de diversos autores,

busca-se situar inicialmente alguns pressupostos conceituais sobre a relação entre

o espaço público e o privado, para posteriormente identificar e definir alguns

métodos de análise sobre a formulação de políticas públicas. O propósito dessa

abordagem não é de esgotar a análise sobre todos os modelos teóricos que

existem para a compreensão desse processo, nem de observar todo o percurso

de definição, implementação e avaliação de políticas públicas. O intuito é

fundamentalmente tratar de metodologias e conceitos que possam auxiliar na

identificação de como problemas e soluções de uma sociedade podem ser

considerados e confirmados na definição da agenda governamental (agenda-

setting). Dessa forma, optou-se por aprofundar estudos e adotar como referência

17

de análise dois métodos, por serem relevantes nas considerações (em

concordância ou parcialmente discordantes) e trabalhos de diversos autores na

área de políticas públicas: o Modelo de Múltiplos Fluxos (Multiple Streams Model),

desenvolvido por John Kingdon (2003), e o Modelo do Equilíbrio Pontuado

(Punctuated Equilibrium Model), desenvolvido por Baumgartner & Jones (1999).

Como o contexto que se pretende analisar a formulação de políticas públicas é na

intensificação dos atuais processos de globalização, a segunda parte desse

trabalho – “Globalização e descentralização de relações internacionais” – trata dos

diversos e divergentes conceitos sobre os processos de globalização, visando a

configuração de um entendimento que se possa adotar no estudo, sobre a

redefinição do papel do Estado-Nação nesse cenário. Essa abordagem inicial

permite compreender posteriormente as observações sobre a significativa

presença de atores locais (governos subnacionais e organizações não

governamentais) como protagonistas em ambientes globais, o que tem estimulado

as relações de interdependências ou o estabelecimento de redes globais num

cenário de descentralização das relações internacionais.

É importante situar que o tratamento sobre os processos de globalização, nesta

segunda parte, pretende trazer inicialmente apenas um breve retrato sobre a

abundância de visões e controvérsias desse tema entre diversos autores, mas fica

longe de qualquer pretensão em esgotar a abordagem dessas visões ou abranger

todas as questões que têm sido levantadas em estudos sobre a temática. Bauman

(1999: 67), por exemplo, classifica esse processo como ‘a nova desordem

mundial’ e qualifica a tentativa de conceituar ‘globalização’ como uma moda, que

fundamentalmente transmite a ideia de “caráter indeterminado, indisciplinado e de

autopropulsão dos assuntos mundiais; ausência de um centro, de um painel de

controle, de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo”. E observa de

forma conclusiva que os processos ‘globalizantes’ são gerados por certa

coincidência e entrelaçamento de tendências aparentemente opostas, resultando

18

em privilégios e carências, riqueza e pobreza, recursos e impotência, poder e

ausência de poder, liberdade e restrição (Bauman, 1999: 78).

Embora esse seja um debate altamente instigante e com certa relevância em

algumas áreas de estudos, não será o caso da abordagem neste trabalho.

Tampouco se faz necessário um maior aprofundamento sobre política externa,

para além de alguns balizamentos conceituais já mencionados aqui nesta

Introdução e no tratamento sobre a relação entre o Estado-Nação e os governos

subnacionais em atuação global, no desenvolvimento do segundo capítulo. Dentre

alguns teóricos a que se faz referência para essas temáticas da segunda parte,

destacam-se principalmente os estudos de Saskia Sassen (2010), sob o olhar

sociológico dos processos de globalização e seus decorrentes impactos no

reordenamento das relações internacionais e locais.

A terceira parte desse trabalho – “Organizações, políticas públicas e articulações

globais” – é formada por dois blocos de informações e análises. O primeiro bloco

está focado em estudo de caso de uma organização não governamental com

expressiva atuação internacional, cujo objetivo primordial é de fomentar e apoiar o

desenvolvimento de projetos e iniciativas que promovam para a juventude. Aqui é

estudada a International Youth Foundation - IYF, uma organização que atua há 22

anos no cenário global em parceria com organizações locais, Organizações

Internacionais, agências de cooperação internacional, governos e órgãos

governamentais, para o apoio de projetos e ações com jovens e para os jovens,

visando reforçar a juventude em suas capacidades plenas e nas oportunidades

como liderança e promotora de mudanças sociais no mundo. Com sede em

Baltimore, nos Estados Unidos, a IYF atua em 96 países ou territórios em diversos

continentes, por meio de 306 iniciativas estabelecidas com 175 organizações

parceiras. Este bloco, portanto, fará uma apresentação sobre os programas da

IYF, como eles estão distribuídos pelo mundo, com quem e para quem eles

atuam, além de alguns resultados que estão registrados pela organização.

19

O segundo bloco desse terceiro capítulo – “Propósitos, intencionalidades e conquistas

da IYF e seus parceiros locais” – visa fazer um retrato do que expressamente a

organização se propõe realizar, os seus objetivos estratégicos e as alianças que

são estabelecidas, bem como se busca apurar como a organização se posiciona

sobre um possível alinhamento de ideias e propostas para a influência na

formulação de políticas públicas locais. Além de informações que a organização

dispõe publicamente em seu website e em documentos editados, foi realizada

uma entrevista por questionário on-line com o presidente e CEO da IYF, Willian

Reese.

Ainda nesse segundo bloco do terceiro capítulo, também é traçado um breve perfil

e o posicionamento a essas questões de cinco organizações parceiras da IYF,

com atuação local em seus respectivos países, como uma forma de se obter um

olhar de análise de quem são, como atuam e que objetivos estão alinhados com

os propósitos da IYF e sobre influência nas políticas públicas locais. Nesse

estudo, foram consideradas as seguintes organizações:

Fundación SES, da Argentina;

Fundación Esquel, do Equador;

CIRD - Centro de Información y Recursos para El Desarrollo, do Paraguai;

FYA – Foundation for Young Australian, da Austrália;

Consuelo Foundation, das Filipinas.

Para se traçar um breve perfil e se obter informações importantes ao estudo

proposto, também se recorreu a documentos das organizações e entrevistas por

questionário on-line específicos com dirigentes de cada uma dessas instituições

parceiras da IYF.

Vale observar que essas cinco organizações proporcionam certa representação

qualitativa do universo de organizações locais parceiras da IYF, pois, apesar de

terem estruturas, gestões e ações diferenciadas e distintas, essas instituições

20

possuem identidades convergentes e atuam em articulações globais e em redes,

para fortalecimento e maior impacto de suas iniciativas.

Nas considerações finais, apresentam-se algumas reflexões sobre as possíveis

correspondências entre os dados apresentados da IYF e seus parceiros com os

referenciais teóricos abordados inicialmente no trabalho, tanto no que diz respeito

à intensificação das relações globalizadas dos atores locais e a caracterização dos

atores e articulações que configuram os ambientes de estudos da formulação de

políticas públicas, particularmente no que diz respeito às políticas para a

juventude. Também se estabelece uma análise sobre os registros e alinhamentos

de possíveis intencionalidades para influenciar ou provocar impactos das ações

dessas organizações, como atores locais, nos processos de formulação das

políticas públicas para a juventude.

Confronta-se, por fim, tais resultados obtidos e analisados com a problemática

inicialmente definida para a investigação científica, com a expectativa de

contribuição para que outros estudos na área possam continuar a verificação da

interação entre esses três fatores centrais: os atores locais em atuação e

articulação intensa nos ambientes e nas relações internacionais; os impactos dos

processos de globalização no reordenamento dos atores internacionais; e a

influência ou impacto do alinhamento de políticas em fóruns e redes globais na

formulação de políticas públicas locais.

21

I – Para entender o processo de formulação de políticas públicas

1.1. Sobre as políticas públicas

A primeira questão que deve ser observada com relevância nas considerações

sobre políticas públicas é uma referência conceitual, já correntemente tratada em

diversos estudos e por diversos autores, sobre a definição de “público”.

Na consideração de Habermas (2003), o uso corrente desse termo, bem como no

que diz respeito ao entendimento do que significa a “esfera pública”, tem

demonstrado uma multiplicidade de significados concorrentes. Segundo suas

observações, se o Estado é o “poder público”, então necessariamente ele tem o

atributo de promover o “bem público”, comum a todos os cidadãos.

Por outro lado, observando a sociedade burguesa e as relações que se

estabeleceram com a esfera pública, Habermas (2003) define que tal ambiente se

constitui na esfera das pessoas privadas reunidas em um âmbito público.

Entretanto, ressalta Habermas, com a influência de certo “neomercantilismo” e

uma espécie de “refeudalização”, que marcou tendencialmente essa relação na

esfera pública a partir da segunda metade do século XIX, ao mesmo tempo em

que ocorreu em longo prazo o intervencionismo estatal na esfera social, houve

também uma correspondente transferência de competências públicas para

entidades privadas.

Dessa forma, tanto ocorreu um processo de ampliação da autoridade pública

sobre setores privados, como também houve uma correlata substituição de poder

público por poder social. Nessa nova esfera social “repolitizada”, segundo

Habermas, perde-se a distinção mais precisa entre o “público” e o “privado”, assim

como se torna mais obscura a separação entre o Estado e a sociedade.

22

Sob a ótica do ordenamento jurídico dessas novas relações, observa Habermas,

“com a ‘fuga’ do Estado para fora do Direito Público, com a transferência de

tarefas da administração pública para empresas, estabelecimentos, corporações,

encarregados de negócios semi-oficiais, mostra-se também o lado inverso da

publicização do Direito Privado, ou seja: a privatização do Direito Público” (2003:

180).

A aproximação e articulação entre os setores estatizados da sociedade e os

setores socializados do Estado configuram o surgimento, na consideração de

Habermas, de um setor intermediário “sem a intermediação das pessoas privadas

que pensam politicamente” (2003: 208).

Ao longo do último século, pudemos observar que essa nova configuração entre

esfera pública e privada veio, de fato, se remodelando nesse sentido observado

por Habermas, particularmente no que diz respeito ao âmbito das sociedades

ocidentais. Isso se reflete, por exemplo, em definições mais contemporâneas

sobre o “público”. Para Raichelis e Evangelista, pode-se definir o público como:

“[...] uma construção política a partir da ação de sujeitos, movimentos e

organizações sociais que atuam como mediadores políticos, vocalizando

demandas coletivas que confluem para arenas públicas, em que diferentes

projetos possam ser debatidos e negociados, criando-se condições para a

explicitação de conflitos e viabilização de certos consensos, mesmo que

provisórios e em permanente rediscussão.” (2009: 206)

Nessa configuração de relação entre público e privado é que se podem observar

os atores privilegiados e a sistemática de formulação das “políticas públicas”. Na

consideração de Raichelis e Evangelista (2009: 206), embora o Estado não seja o

protagonista exclusivo da esfera pública, por princípio é ele quem detém a

primazia e a responsabilidade pela condução das políticas públicas, sendo este a

única instituição política capaz de universalizar direitos em resposta às

necessidades e demandas dos cidadãos.

23

Já Vieira (2009), destaca que não se pode mais aplicar automaticamente os

conceitos de público e privado, respectivamente para Estado e sociedade civil,

pois atualmente podem ser identificadas também as esferas do estatal-privado e

do social-público (2009: 64).

Quanto a essa última esfera, social-pública, Vieira a classifica como ainda

incipiente e emergente, formada por movimentos e instituições não

governamentais que perseguem objetivos sociais e se articulam na construção de

um espaço público não estatal. Assim, tais entidades e movimentos, que embora

privados por origem são públicos por finalidade, promovem a articulação entre a

esfera pública e o âmbito do setor privado, colocando-se como alternativa ao

desenvolvimento democrático para a sociedade (Vieira, 2009: 64-65).

Nesse sentido, Wanderley (2009) observa esse novo contexto de relações

interativas entre Estado e sociedade civil como o reflexo de um difícil e polêmico

diálogo entrecruzado com os diversos atores sociais, que foram se constituindo

nesse cenário. E essa aproximação e intensificação de relações permitiram maior

participação efetiva da sociedade civil – movimentos, ONGs, associações, grupos

ou mesmo pessoas – em áreas de atuação pública antes reservadas ao Estado,

seja por meio da privatização de políticas, ou por meio do estabelecimento de

parcerias efetivas com alguns desses setores (Wanderley, 2009: 153).

Ao mesmo tempo, esse processo de interação entre o Estado e a sociedade civil,

segundo Wanderley, também possibilitou o estabelecimento de uma

governabilidade participativa, numa consequência diretamente relacionada à

crescente participação democrática desses atores sociais em forma de cidadania

ativa, que exerceram pressões nas administrações públicas para o fortalecimento

de processo de cooperação e cogestão na esfera pública (Wanderley, 2009: 153-

154).

24

Mencionando os estudos de Dagnino1, Wanderley (2009) destaca a dimensão do

conflito como inerente à relação democrática, cujo reconhecimento contribui

também para o necessário resgate do caráter público que devem constituir as

políticas públicas (Dagnino, 2002 apud Wanderley, 2009: 121).

Então, se o espaço do público não pode ser configurado exclusivamente pela

imagem e atuação do Estado, torna-se necessário caracterizar algumas

referências conceituais do que se deve considerar como ‘público’. Para tanto,

Wanderley (2010) nomina e define seis atributos centrais de público, que se deve

observar na manifestação e execução das políticas públicas, como elementos

necessariamente interconectados: universalidade, visibilidade social, controle

social, sustentabilidade, cultura pública e democratização.

Por universalidade, entenda-se o atendimento de toda a população de uma nação,

sem discriminação e em todas as áreas da sociedade; visibilidade social

pressupõe transparência, publicidade e fidedignidade das informações e das

ações governamentais e dos atores sociais; controle social refere-se ao acesso

por parte de instâncias governamentais e da sociedade civil na fiscalização sobre

regras, aplicação de recursos e prestação de contas, atuação dos representantes

em cargos e funções que lhes foram confiados; sustentabilidade diz respeito ao

equilíbrio que deve ser demonstrado no processo constante de reprodução

institucional, entre objetivos e orçamento, recursos materiais e humanos,

necessidades da administração e gestão, em relação direta com as demandas das

populações e a realização das políticas públicas e sociais; cultura pública baseia-

se na formação cívica de superação da cultura privatista de apropriação do público

pelo privado, do autoritarismo, do fisiologismo e do paternalismo presentes nas

sociedades; e, por fim, por democratização considere-se os processos de

publicização que contribuam para compatibilizar consenso e conflito, sistemas

abertos e autônomos de representação e de escolha de representantes, formas

1 Wanderley (2009) refere-se aqui à obra de DAGNINO, E. (org.). Sociedade civil e espaços públicos no Brasil.

São Paulo: Paz e Terra, 2002.

25

autênticas de gestão que concretizem a governança e a governabilidade

(Wanderley, 2010: 122-125).

Outro aspecto que cabe ressaltar para a análise posterior deste estudo é que a

abordagem de projetos e parcerias na área de políticas públicas com atuação de

organizações não governamentais, principalmente no que diz respeito às políticas

sociais, frequentemente recai no debate controverso sobre a privatização de

políticas que, em princípio, são de competência do poder público.

É importante notar que muito do reforço ao papel do Estado como sendo

responsável prioritário, senão exclusivo, do atendimento às necessidades sociais

básicas da população, tais como saúde, educação, seguro-desemprego e política

redistributiva de renda, dentre outras, tiveram como referência a implantação do

Estado keynesiano ou Estado do Bem-Estar Social. Esse tipo de política de

Estado, também conhecido como Welfare State, predominou principalmente nos

países nórdicos europeus pós Segunda Guerra Mundial, muito embora a proposta

já viesse sendo fomentada desde a crise dos anos de 1930. Depois de se tornar

um modelo estatal para o enfrentamento dos problemas sociais e para a

dissolução dos entraves ao desenvolvimento socioeconômico, principalmente em

países de governos socialdemocratas europeus na segunda metade do Século

XX, o Welfare State passa a se constituir como uma política não sustentável a

partir da década de 1970, devido a crises sistêmicas de âmbito fiscal, inflacionária

e política (Singer, 1997).

Isso somado à emergência da Terceira Revolução Industrial (de tecnologias da

informação) a partir dessa mesma década de 1970, conforme menciona Singer

(1997: 127), permite ressurgir ideias, teorias e propostas liberais, agora sob a

configuração da hegemonia neoliberal. Um dos marcos dessa nova política

disseminada pelo neoliberalismo foi o chamado Consenso de Washington, quando

o Congresso dos Estados Unidos decide, em 1989, impor medidas que

favorecessem as políticas de livre-mercado aos governos latino-americanos em

26

negociação de suas dívidas externas. Dentre várias medidas adotadas para

imposição a esses países com o intuito de diminuir a presença do Estado nas

relações de mercado, destacam-se aqui a privatização de estatais e serviços

públicos, bem como a redução dos gastos públicos, referindo-se também aos

subsídios e gastos sociais. Vale lembrar que as políticas definidas pelo Consenso

de Washington foram posteriormente também adotadas pelo Fundo Monetário

Internacional e pelo Banco Mundial.

Dessa forma, menciona Wanderley (2006), surge o “modelo” do público não

estatal, utilizado, por exemplo, no Brasil por Bresser Pereira, ministro do governo

Fernando Henrique Cardoso, na reforma administrativa e na criação das OSCIP2.

Mas Wanderley também destaca que, se isso serviu como estímulo à

intensificação das parcerias público-privadas (chamadas PPPs), ao reforço do

Terceiro Setor e às instâncias paritárias entre os setores governamentais e a

sociedade civil, há outra corrente que se propaga sob a defesa de que

predominam os efeitos negativos desse “modelo”, tais como, a perda da

importância da publicização estatal em áreas societárias importantes, a

refilantropização, a ameaça à sustentabilidade de ONGs e movimentos sociais etc.

(Wanderley, 2006).

Numa tentativa de qualificar esse segmento que se avoluma e que é reforçado

como um setor produtivo público não estatal, Vieira (2001) observa inicialmente

três perspectivas básicas para o papel do Estado, sendo a primeira uma posição

estadocêntrica, que entende ser função intransferível do Estado assegurar o bem-

estar social, formular e aplicar políticas sociais; a segunda uma posição

mercadocêntrica, onde o Estado deve privatizar funções que podem ser

assumidas pelo mercado com maior eficiência e otimização de recursos, uma vez

que é o mercado que produz riquezas e fornece emprego aos trabalhadores; e a

terceira uma posição sociocêntrica, sustentando que o papel do Estado deve ser

redefinido em função da dinâmica dos atores da sociedade civil presentes na

2 Lei 9.790 de 1999: Lei das OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público.

27

esfera pública, a partir de uma perspectiva societária (Vieira, 2001: 83-84). Porém,

na análise de Vieira, no caso das organizações sociais que realizam parcerias

com o Estado para gestão de bens e serviços públicos, como organizações

autônomas da sociedade civil e trajetória conhecida no espaço público,

dificilmente se poderia enquadrar tal atuação como organizações “privadas”,

“estatais”, “não estatais” ou mesmo “paraestatais”.

Também se referindo a um setor intermediário, entre a esfera privada e o Estado,

Grau (1998) avalia que a necessidade de incorporar e integrar esse território

avaliza a necessidade de se referir a um Terceiro Setor. Ela adverte que esse

setor não é homogêneo e que, portanto, contradições e particularismos podem se

expressar nas suas ações. Porém, principalmente baseada na teoria de

Habermas, Grau (1998) destaca que é nesse espaço, garantida a sua necessária

característica como “espaço público democrático”, onde pode se desenvolver a

“auto-organização da sociedade”, atuando como caixa de ressonância dos

problemas da sociedade, de tal modo que sejam assumidos e processados pelo

sistema político.

Situados os conceitos e as referências sobre o público e a relação entre público e

privado, bem como a decorrente interface entre Estado e sociedade civil, coloca-

se como necessário o tratamento mais específico sobre políticas públicas. No

estudo realizado por Salisbury (1995)3, são destacadas quatro visões sobre o

entendimento de “políticas” (policy). A primeira delas refere-se a um uso mais

comum observado para o termo “policy”, atribuída a uma versão de uma definição

feita por David Easton, como sendo “a determinação oficial de valores para toda a

sociedade”4. Política pública, nesse entendimento, consiste em decisões de atores

governamentais, por meio de determinação da autoridade ou sanção (Salisbury,

1995: 34).

3 O texto em referência de Robert H. Salisbury, “The Analisys of Public Policy: A Search for Theories and

Roles” In Theodoulou & Cahn, Public Policy: The Essential Readings (Prentice Hall, 1995), foi originalmente publicado em 1968, sob mesmo título, In Austin Ranney, Political Science and Public Policy (Chicago: Markhan). 4 Tradução feita por este autor.

28

A segunda visão, observada por Salisbury, salienta que as políticas consistem em

um quadro geral de regras oficiais, no qual o debate sobre os limites entre o que

se considera no campo das políticas e o que está fora dele, em situações

particulares, é recorrente.

Como uma terceira visão, Salisbury caracteriza o comportamento político

orientado para metas ou intencional, onde as políticas se traduzem como ações

calculadas para a obtenção de metas ou objetivos. Nesse sentido, Salisbury cita

uma definição de Lasswell & Kaplan, que entende por ‘policy’ como sendo “um

programa projetado de metas sobre valores e práticas”5 (Salisbury, 1995: 34).

A última visão destacada por Salisbury faz referência a concepção de Carl J.

Friedrich, dentre outros autores, para o qual a ‘policy’ é necessariamente uma

abstração e, dessa forma, deve ser abordada por meio de procedimentos

analíticos que possibilitem sua consolidação e sistematização (Salisbury, 1995:

35).

Segundo as considerações de Souza (2010), embora não exista uma única, nem a

melhor, definição de política pública, algumas acabaram por se consagrar como

mais clássicas, por serem adotadas de forma mais frequente. Dentre essas

mencionadas por Souza, destaca-se aqui neste estudo a definição de Theodor

Lowi (apud Rezende, 2004: 13) sobre política pública como “uma regra formulada

por alguma autoridade governamental que expressa uma intenção de influenciar,

alterar, regular, o comportamento individual ou coletivo através do uso de sanções

positivas ou negativas”.

Porém, destaca Souza (2010), alguns críticos refutam a excessiva ou exclusiva

concentração de foco no papel dos governos, nas definições de políticas públicas

voltadas para a solução de problemas. Para esses críticos, segundo Souza, a

5 Ibid.

29

essência das políticas públicas está no embate em torno de ideias e interesses, o

que pressupõe que as decisões dos governos são marcadas pelo aspecto

conflituoso e pela existência de limites, bem como pelas reais possibilidades de

cooperação que podem ocorrer entre os governos e outras instituições e grupos

sociais.

Nesse sentido, a área de estudos das políticas públicas é definida por Souza

como um campo holístico e multidisciplinar, onde o todo é mais importante do que

a soma das partes (2010: 69). Ao mesmo tempo em que se pode considerar o

conhecimento sobre política pública como a observação e análise do ‘governo em

ação’ e suas consequências e intervenções no âmbito dessas ações, também se

deve levar em conta que essa teoria precisa explicar as inter-relações entre

Estado, política, economia e sociedade.

Depois de desenhadas e formuladas, salienta Souza, as políticas públicas “se

desdobram em planos, programas, projetos, bases de dados ou sistema de

informação e grupos de pesquisa”, sendo submetidas a sistemas de

acompanhamento e avaliação das ações (2010: 70). E esse é o momento em que

as políticas públicas dão origem à formulação de políticas em áreas específicas,

como é o caso das políticas sociais, avançando ao estágio de respostas às

questões de “por quê” e “como”, para alcançar o foco de “o que se faz” ou “o que

se fez” no plano das consequências da política (2010: 71).

Frente a certa literatura que tem argumentado o encolhimento do papel dos

governos por decorrência de fenômenos como a globalização, Souza (2010: 72)

defende que não há comprovação empírica sobre a diminuição da capacidade dos

governos de intervir e formular políticas públicas, pois esses fenômenos, segundo

Peters (apud Souza, 2010: 72), não inibem a capacidade das instituições

governamentais de governar a sociedade, apesar da atividade de governar e

formular políticas públicas ter se tornado mais complexa.

30

Ainda com relação à concepção de ‘políticas públicas’, Theodoulou (1995) recorre

a um conjunto de ideias para essa definição. Nas considerações dela, a primeira

ideia é que as políticas públicas deveriam distinguir entre o que os governos

pretendem fazer e o que realmente fazem, porque aquilo que o governo deixou de

fazer é tão importante que se conheça quanto as suas reais atividades.

A segunda ideia é sobre a noção de que a política pública idealmente envolve

todos os níveis de governo e não necessariamente está restrita somente aos

atores formais, pois os atores informais também são extremamente importantes. A

terceira considera que a política pública é passível de ser difundida, sendo que

não se limita somente aos efeitos da legislação, determinações formais, regras e

regulamentos.

Outra ideia refere-se à política pública como uma linha de ação intencional, tendo

como objetivo a plena realização da meta final. A quinta e última ideia, destacada

por Theodoulou (1995: 2), considera a política pública como uma ação tanto de

longo prazo quanto de curto prazo, sendo um processo contínuo que envolve não

apenas a decisão de promulgar uma lei, mas também as subseqüentes ações de

implementação, execução e avaliação.

Theodoulou também faz algumas considerações sobre o porquê se estuda

políticas públicas. Nesse aspecto a autora destaca, num primeiro nível de

observação, que pesquisadores e estudantes são interessados nesse tipo de

estudo porque as questões e decisões em torno das políticas públicas os afetam.

Além disso, esses estudos permitem obter uma visão geral sobre o trabalho em

todo o sistema político, incluindo o que diz respeito às instituições políticas e os

elementos informais do processo político, tais como os grupos de interesse e a

opinião pública (Theodoulou, 1995: 2).

Por outro lado, frente à diversificação e ‘complexificação’ (sic) dos processos que

envolvem as políticas públicas, Faria (2003: 21) observa que grande variedade de

31

pesquisas empíricas e ensaios de natureza teórico-conceitual nessa área tem

exposto a incapacidade dos modelos tradicionais de interpretação dos

mecanismos de intermediação de interesses. Segundo Faria, esse novo quadro

em que estão inseridas as políticas públicas é fortemente marcado por interações

não hierárquicas e por um baixo grau de formalização no intercâmbio de recursos

e informações, além da significativa participação de ‘novos atores’6, tais como as

organizações não governamentais de atuação transnacional e as redes de

especialistas no assunto, o que tem dificultado o tratamento nos estudos por parte

desses modelos tradicionais (Faria, 2003: 21).

Ao mencionar estudo de Börzel (1997: 1), Faria reforça uma afirmação de Kenis &

Schneider que considera o termo ‘network’ como sendo o novo paradigma para a

arquitetura da complexidade (Faria, 2003: 25). A aceleração dos processos de

globalização, afirma Faria, tem contribuído significativamente para uma expressiva

multiplicidade de atores nos processos de políticas públicas, o que vem sendo

constatado por diversos estudos na área, principalmente a partir do final da

década de 19707.

Diversos estudos em vários países sobre os ‘policy networks’, ressalta Faria, têm

reforçado o uso freqüente de expressões como ‘issue networks’ e ‘policy

communities’, dentre outras, para descrever e caracterizar os processos de

produção de políticas, devido, por exemplo, à diversificação de atores envolvidos,

a dificuldade de distinções entre as organizações públicas e privadas e as

interações internas de áreas específicas das políticas (Faria, 2003: 25-26).

Ao mesmo tempo, observa Faria (2003: 23), atualmente tem sido observada uma

crescente tecnicização dos processos de formulação e gestão das políticas,

motivada fortemente pela influência de atores internacionais que, salienta Faria,

6 As aspas foram atribuídas pelo autor deste tese.

7 Faria (2003: 25) cita os trabalhos de Heclo (1978) e de Richardson & Jordan (1979), considerados por ele

como marcos nas considerações sobre a multiplicidade de atores nos processos de políticas públicas.

32

frequentemente tem implicado em considerável grau de despolitização desses

processos.

1.2. Sobre a formulação de políticas públicas

Se os governos têm tido mais ou menos peso como protagonistas nas definições

de políticas públicas, com soberania ou com maior diálogo com outros atores de

instituições políticas e da sociedade civil, tal observação requer que sejam feitas

primeiro algumas considerações sobre como se formulam as políticas públicas. A

questão, portanto, é identificar de que forma, com quem e quando se pode

constituir uma política pública.

Uma tipologia que tem sido considerada por alguns estudos, destaca Souza

(2010: 74), é a que considera a política pública como um ciclo deliberativo, em um

processo constituído por vários estágios consecutivos: definição de agenda,

identificação de alternativas, avaliação das opções, seleção das opções,

implementação e avaliação.

Entretanto, o foco mais fino sobre os fatores que exercem maior influência para a

existência de uma política pública tem recaído, para alguns teóricos, nas

considerações que se podem fazer sobre os problemas existentes na sociedade e

sobre a definição da agenda (agenda-setting) que instituem as prioridades para as

políticas públicas.

É possível que imediatamente, para aqueles que estão acostumados a

acompanhar ou atuar no campo da política institucionalizada de governos, pode-

se defender que a definição da agenda é prioritariamente organizada durante o

processo eleitoral pelas propostas do candidato ao cargo majoritário ou no plano

de governo da candidatura, geralmente tornado público como fundamento de sua

intenção de governar. Porém, conforme define Homma (2002), não

33

necessariamente o que uma gestão pública assumiu como proposta política em

sua intenção de governar é realmente o que se constitui como política pública

durante tal gestão. Diversos atores e condições podem influir para outro percurso

da prática política.

Um dos modelos de referência nos estudos de políticas públicas, que busca

explicar como são formuladas as agendas governamentais, é o Modelo de

Múltiplos Fluxos (Multiple Streams Model), desenvolvido por John Kingdon (2003).

O modelo é descrito por Capella (2010), e parte da consideração de que a

formulação de políticas públicas pode ser entendida como um conjunto composto

por quatro processos: (1) o estabelecimento de uma agenda de políticas públicas;

(2) a consideração das alternativas para a formulação de políticas públicas; (3) a

escolha dominante entre o conjunto de alternativas disponíveis; e (4) a

implementação da decisão.

Segundo Capella (2010), no modelo de multiple streams Kingdon concentra a

atenção nos dois primeiros processos, por serem os estágios pré-decisórios: a

formação da agenda (agenda-setting) e as alternativas para a formulação das

políticas (policy formulation). Se na agenda governamental algumas questões já

estão prontas em fase pré-decisional para se tornarem políticas, Kingdon observa

que uma mudança na agenda pode ocorrer em momentos críticos de

convergência de três fluxos: problemas (problems stream), soluções ou

alternativas (policies stream) e política (politics stream).

No primeiro fluxo, Kingdon busca analisar com o modelo desenvolvido de que

forma as questões são reconhecidas como problemas e por que alguns desses

problemas passam a fazer parte da agenda governamental. As questões,

entendidas como situações sociais percebidas, podem configurar-se como

problemas somente quando os formuladores de políticas públicas (policy makers)

entendem que devam fazer algo a respeito, o que também decorre da forma como

eles as percebem e as interpretam.

34

De acordo com Kingdon, existem três mecanismos básicos que podem chamar a

atenção dos policy makers no processo de decisão sobre a necessidade de se

considerar uma questão como um problema. O primeiro refere-se à divulgação de

indicadores, principalmente quantitativos, que demonstram a existência de uma

situação que necessita de atenção. O segundo mecanismo é constituído por

eventos, crises e símbolos, de grande magnitude, que concentram a atenção e

reforçam a percepção em um determinado problema, já preexistente. O terceiro

ocorre pelo feedback dos programas e ações governamentais em

desenvolvimento, cujo acompanhamento, monitoramento e avaliação das

atividades em desenvolvimento podem trazer alguns problemas para o centro das

atenções dos policy makers.

Entretanto, ressalta Kingdon, esses mecanismos não transformam

automaticamente as questões em problemas, por si só. No modelo de multiple

streams, problemas são construções sociais e “não são meramente as questões

ou os eventos externos: há também um elemento interpretativo que envolve

percepção” (Kingdon, apud Capella, 2010: 90) dos formuladores de políticas.

Principalmente para o desenvolvimento dessa teoria de agenda-setting, Kingdon

buscou raízes conceituais no “modelo da lata do lixo” (Garbage Can Model),

elaborado por Cohen, March & Olsen (1972). Conforme descreve Souza (2010),

nesse modelo os autores criam uma imagem para o momento da escolha de

políticas públicas, como se as questões a serem consideradas na condição de

problemas da agenda estivessem todas em uma lata de lixo. Cohen, March &

Olsen observam que frequentemente existem muitos problemas e poucas

soluções e, por isso, somente algumas dessas questões poderão ser

consideradas, sendo as demais descartadas. Nesse modelo, as organizações, que

se constituem de forma anárquica e compõem um conjunto de ideias com pouca

consistência, constroem as preferências para a solução de problemas, de maneira

que as soluções produzidas procurem por problemas. Portanto, definidas as

35

preferências para uma solução, os decisores (policy makers) lançam-se à escolha

de problemas no garbage can.

Conforme afirma Kingdon, “as pessoas não necessariamente resolvem problemas.

(...) Em vez disso, elas geralmente criam soluções e, então, procuram problemas

para os quais possam apresentar suas soluções” (Kingdon, 2003: 32 apud Capella

2010: 91). Exatamente por isso que, no segundo fluxo (policy stream), o conjunto

gerado de alternativas e soluções não está necessariamente relacionado à

percepção de problemas específicos, pois as questões presentes na agenda

governamental não são geradas aos pares de problemas e soluções (Capella,

2010: 91).

Um aspecto importante que Kingdon destaca nesse segundo fluxo diz respeito à

emergência de ideias iniciais, que fundamentarão as soluções, como se

estivessem flutuando em um caldo primitivo de políticas (policy primeval soup).

Essas ideias são geradas em comunidades de políticas (policy communities),

compostas por especialistas8, sendo que no processo seletivo consideram-se as

viabilidades técnicas e de custos toleráveis, ao mesmo tempo em que

representem valores compartilhados com o público em geral e com a

receptividade dos formuladores de políticas públicas (policy makers).

Entretanto, observa Capella (2010: 92) sobre essa teoria de Kingdon, as ideias

não emergem por si só nesse caldo de políticas. É necessário que haja uma

‘difusão de ideias’, o que normalmente ocorre pela ação de alguns defensores de

ideias específicas (policy entrepreneurs), que procuram sensibilizar as

comunidades de políticas (policy communities) e mesmo o público em geral, por

meio de intervenções persuasivas em diversos fóruns. Ganhando o efeito

multiplicador, essas ideias podem passar a fazer parte da nata que vai se

8 Tais como: pesquisadores, assessores parlamentares, acadêmicos, funcionários públicos, analistas

pertencentes a grupos de interesses, entre outros (Capella, 2010: 92).

36

formando no caldo de políticas (policy primeval soup), com potencial poder de

influência na escolha de soluções.

Já no terceiro fluxo, o da dimensão política propriamente dita (politics stream), as

coalizões são construídas em um processo de barganha e negociação política,

com regras e dinâmicas próprias. Para essa negociação política é importante que

se esteja atento a três elementos que podem exercer influência sobre a agenda

governamental. Ao primeiro deles, Kingdon chama de ‘clima’ ou ‘humor nacional’

(national mood), tratando-se de um momento em que haja uma sintonia entre as

pessoas sobre o compartilhamento de algumas questões por um determinado

período de tempo, sendo assim um ‘solo fértil’ favorável para que algumas ideias

possam germinar. Cabe aos participantes do processo decisório terem a

percepção do ‘humor’ favorável, criando incentivos para que algumas dessas

questões sejam valorizadas e promovidas, enquanto outras de menor interesse

serão desprezadas.

Os grupos de pressão, que compõem as forças políticas organizadas, constituem

o segundo elemento do fluxo político (politics stream). A interação com esses

grupos pode servir aos formuladores de políticas (policy makers) como um

instrumento de medição dos focos de pressão e conflitos em torno de algumas

ideias e soluções, verificando-se o grau de apoio ou bloqueio a determinadas

questões. Quando se observa que há certo grau de consenso entre diversas

forças políticas organizadas em torno de determinada alternativa que se deseja

propor, esse é o momento propício para garanti-la na agenda. Note-se que

Kingdon (apud Capella, 2010: 94) descreve esse elemento como um jogo de

equilíbrio de forças, onde a percepção de um contexto de apoio favorável por

parte de alguns setores, não significa que haja consenso universal no conjunto de

forças políticas organizadas que foram consideradas, mas pode indicar que a

adoção dessa proposta na agenda vai implicar em algum custo durante o

processo em relação a outros setores contrariados.

37

O terceiro elemento a ser considerado no fluxo político (politics stream), de acordo

com Kingdon (2003), são as mudanças dentro do próprio governo, sejam elas por

troca de pessoas em posições estratégicas de decisão, por mudanças de gestão

ou mesmo por alteração de competências de uma determinada questão, tanto na

administração direta ou ainda na indireta, quanto no âmbito do poder Executivo ou

do Legislativo. Esses acontecimentos podem potencialmente favorecer ou

bloquear a entrada ou a permanência de determinadas questões na agenda. Por

isso, Kingdon observa que se deve ter atenção ao momento de início de um novo

governo, pois é a oportunidade mais propícia para a ocorrência de mudanças na

agenda governamental.

Definidos os três fluxos – problemas (problems stream), soluções ou alternativas

(policies stream) e política (politics stream) – e suas devidas importâncias,

Kingdon identifica o melhor dos contextos para que algumas questões sejam

consideradas na agenda: a conjunção desses três fluxos convergindo ao mesmo

tempo em determinadas circunstâncias. Essas circunstâncias são denominadas

por Kingdon de policy windows, com maior efeito de influência gerado pela

dinâmica do fluxo de problemas (problems stream) e do fluxo político (politics

stream). O fluxo de soluções (policy stream) é acionado pelos policy makers no

momento em que determinados problemas percebidos estejam em busca de

alternativas nas comunidades de políticas (policy communities). Embora não

exerça influência de decisão na formação da agenda governamental, o fluxo de

soluções é fundamental para que a policy window seja aproveitada em sua

potencialidade, pois é na policy communities que os responsáveis pela agenda

podem encontrar um rol de soluções para os problemas selecionados, para que se

configurem posteriormente como política pública.

O processo de junção dos três fluxos é denominado por Kingdon (2003: 172 apud

Capella, 2010: 96) como coupling, que configura o momento em que as janelas de

oportunidades (policy windows) estão abertas às mudanças na agenda. Como as

policy windows têm caráter transitório, ou seja, não perduram por longos períodos

38

de tempo, deve-se ficar atento e aproveitar o momento mais favorável para que

determinadas questões sejam articuladas para as suas entradas na agenda.

Se consideradas as situações no fluxo político de mudanças no governo, pode-se

considerar que alguns eventos de policy windows são previsíveis e periódicos, o

que tende a ser propício para que se planeje e aguarde esses momentos para se

propor algumas mudanças na agenda. Por outro lado, podem ocorrer outras

situações imprevisíveis que provoquem a articulação dos três fluxos em coupling e

criem momentos de policy windows, o que requer que os interessados em

mudanças estejam atentos permanentemente a essas oportunidades.

Para a atuação mais eficiente nestes momentos, Kingdon chama a atenção para

uma função que tem sido destacada nas oportunidades de mudanças: os

chamados policy entrepreneurs, ou ‘empreendedores de políticas’. Esses

empreendedores são especialistas em determinadas questões, que podem estar

dentro ou fora do governo, e atuam como negociadores hábeis, fazendo

articulação política, defesa persistente e consistente de ideias, além de circularem

com intervenções em fóruns importantes para difusão de ideias. “O empreendedor

de políticas que está pronto não perde oportunidades” (Kingdon apud Capella,

2010: 97).

Além dos empreendedores de políticas (policy entrepreneurs) como agentes

fundamentais para atuação nas situações de coupling e policy windows, Kingdon

destaca outros atores importantes no processo de definição da agenda e

formulação de políticas públicas. O de maior determinação na agenda, por

poderes constituídos, é o presidente, pois maneja recursos institucionais (é o

chefe do Estado), organizacionais (é o cabeça da estrutura burocrática) e de

comando da atenção pública (foi legitimado para atuar em nome da Nação).

“Nenhum outro ator no sistema político tem a capacidade do presidente para

estabelecer agendas em uma dada área de políticas para aqueles que lidam com

elas” (Kingdon, 2003: 23 apud Capella, 2010:99).

39

Ao mesmo tempo, os altos escalões da burocracia governamental, nomeados pelo

presidente e por ele delegados certos poderes, também exercem poder de

influência na definição da agenda, por meio do fornecimento de informações

técnicas que podem subsidiar a avaliação de determinadas questões, pela

contribuição de novas ideias a serem consideradas, pela reafirmação de questões

já existentes ou por decisões de competências que lhes cabem no exercício da

Pasta.

Por outro lado, o presidente, assim como os altos escalões do governo, embora

tenha poderes de determinação das questões presentes na agenda, não detém o

controle sobre as alternativas para estes problemas, que se concentram nas mãos

de especialistas (policy communities).

Um grupo de raros atores que exercem influência sobre a agenda governamental

e também contribuem para a geração de alternativas é o dos agentes

provenientes do Poder Legislativo. Kingdon considera que deputados e senadores

dispõem de recursos legais para a produção de leis que promovam mudanças,

além de terem acesso a diversas informações e atuarem como difusores de ideias,

com acesso à cobertura midiática.

Também podem ser considerados como atores influentes na formulação da

agenda os partidos políticos e os agentes de campanhas (campaigners),

participantes do processo eleitoral, que contribuem para a construção dos

programas de governo. As plataformas eleitorais normalmente são formadas por

coalizão de apoios, sendo que os participantes do processo constituem a base de

sustentação política e mantêm certa pressão para que o parlamentar mantenha

suas promessas.

Dentre os participantes do processo eleitoral, podem existir alguns ‘grupos de

interesse’, por representação de segmentos específicos da sociedade, que atuam

40

com certo poder de influência na formação da agenda governamental, seja de

forma positiva ou como obstrução negativa.

Apesar de não considerar a ‘mídia’ como um ator de decisão direta sobre a

formação da agenda, Kingdon considera que os meios de comunicação têm papel

considerável na construção da opinião pública sobre determinadas questões,

principalmente no que se refere aos participantes das policy communities e da

população em geral. “A mídia pode ajudar a dar forma a uma questão e estruturá-

la, mas não pode criar uma questão” (Kingdon, 2003:60 apud Capella, 2010: 103).

A esse conjunto de atores descritos anteriormente – presidente, ocupantes de

altos cargos governamentais, titulares de cargos eletivos do Poder Legislativo,

representantes de partidos políticos e campaigners, grupos de interesses do

processo eleitoral, mídia e opinião pública – Kingdon atribui-lhes uma classificação

de ‘atores visíveis’, pois recebem atenção dos meios de comunicação e do público

em geral e têm relativo poder de influência, com maior ou menor grau, sobre a

formação da agenda governamental.

Mas há outro grupo, dos ‘participantes invisíveis’, que tem maior influência na

definição das alternativas e soluções da agenda, formando comunidades (policy

communities) onde as ideias são geradas e postas em circulação. Tal grupo é

formado por funcionários públicos, analistas de grupos de interesse, assessores

parlamentares, acadêmicos, pesquisadores e consultores. Esses atores têm

grande capacidade para gerar e disseminar as ideias para alternativas de

implementação das políticas, complementando o processo do grupo anterior

(visíveis) que têm maior determinação sobre a elaboração da agenda

governamental na seleção das questões.

Para Kingdon, portanto, o modelo de multiple stream considera e focaliza a

dinâmica das ideias, entre definições de problemas e geração de alternativas. Por

sua vez, esse modelo não compreende o desenvolvimento de políticas como um

41

processo de estágios seqüenciais e ordenados, onde a partir de um problema

percebido algumas soluções seriam desenvolvidas sob medida, para serem

implementadas (Capella, 2010:105).

Na avaliação de alguns autores, conforme destaca Capella (2010: 106), o modelo

de multiple stream, principalmente no que se refere ao mecanismo da ‘lata do lixo’

(garbage can), é carregado de muita fluidez em sua estrutura e operacionalização

(Sabatier, 1997), com um elevado nível de abstração e aleatoriedade (Mucciaroni,

1992), o que torna o modelo inviável para a previsão de mudanças na agenda.

Enquanto Sabatier (1997 apud Capella, 2010:107) propõe que o modelo tenha

foco mais definido na ação individual para que se possa ter maior precisão de

análise sobre os fatores causais, Mucciaroni recomenda a criação de variáveis

intermediárias que permitam ao modelo prever mudanças na agenda, ao invés do

uso exclusivo de variáveis abrangentes e amplas centradas em problemas,

soluções e política.

Já para Zahariadis (1999), que também desenvolveu variações do modelo de

multiple stream e o utilizou para análise sobre o processo de privatização na

Inglaterra e na França, complexidade, fluidez e falta de clareza são

caracterizações apropriadas da formulação de políticas no nível nacional, o que

faz com que o modelo de múltiplos fluxos seja visto pelas teorias fundamentadas

em práticas tradicionais e normativas como um instrumento patológico e

inadequado (Capella, 2010: 105).

Kingdon argumenta que o objetivo principal do modelo é permitir entender porque

algumas questões são consideradas para a agenda e outras não, tirando a

relevância de possíveis conhecimentos sobre a forma como os indivíduos tomam

suas decisões finais. Além disso, embora reconheça que, independentemente dos

momentos em que há a união dos fluxos (coupling), possa existir certas ligações

em determinadas situações entre os fluxos (problems, policy e politics streams),

Kingdon observa que no mundo real é evidente que esses fluxos se desenvolvem

42

por dinâmicas independentes. Para ele (Kingdon apud Capella, 2010: 106), alguns

leitores têm dificuldade de avaliar a estrutura nos modelos garbage can, porque

esse mecanismo possui uma estrutura não familiar e não ortodoxa, mas isso não

significa que a estrutura não exista e que não haja espaço para uma aleatoriedade

residual, como ocorre no mundo real. Dessa forma, a formulação de políticas

públicas é entendida como um processo que possui certa imprevisibilidade, e o

modelo de multiple stream contribui para entender porque algumas questões

chegam à agenda, enquanto outras são descartadas.

Outro modelo semelhante ao de fluxos múltiplos é o do Equilíbrio Pontuado

(Punctuated Equilibrium Model), desenvolvido por Baumgartner & Jones (1999).

Assim como no multiple stream, o punctuated equilibrium considera que

problemas e soluções percorrem caminhos diferentes, sendo que as questões

políticas e sociais não se transformam necessariamente, nem automaticamente,

num problema. Para Baumgartner & Jones, a formulação de políticas é fortemente

influenciada não apenas pela mudança nas definições de quais questões sociais

são sujeitas a uma resposta do governo, mas também pela mudança nas

definições de quais seriam as soluções mais efetivas para um dado problema

público (apud Capella, 2010: 114).

Uma característica importante do punctuated equilibrium é a forma como uma

política é compreendida e discutida, pois ela se consolida como uma ‘imagem’ dos

arranjos institucionais e permite que uma determinada política seja comunicada de

forma simples e direta entre os membros de uma comunidade. Essas imagens

institucionalizadas Baumgartner & Jones chamam de policy images, que são

desenvolvidas com base em dois componentes: informações empíricas e apelos

emotivos (apud Capella, 2010). Esses apelos emotivos (tone) são considerados

pelos autores como fatores de grande intervenção no desenvolvimento de

questões, pois podem influenciar a mobilização das comunidades (policy

communities) em torno de uma ideia.

43

O modelo do punctuated equilibrium é baseado no entendimento sobre a

existência de uma estrutura política formada por subsistemas e pelo

macrossistema, de acordo com a delegação de poderes a agentes

governamentais, diante da multiplicidade de questões políticas. Os subsistemas

operam de forma paralela, sendo que cada um deles é dominado por um único

interesse (policy monopoly), com uma estrutura institucional definida sobre o

processo decisório e uma ideia fortemente associada com a instituição e com os

valores políticos da comunidade.

Segundo Baumgatner & Jones (apud Capella, 2010), os processos políticos são

marcados por longos períodos de estabilidade e equilíbrio, cujas mudanças se

processam de forma lenta, incremental e linear. Porém, quando atingem um

determinado ponto de saturação, podem ser interrompidos por momentos de

rápidas mudanças (punctuations). Uma espécie de ‘difusão de ideias’, tal como

define Kingdon, com possibilidade de importante participação dos policy

entrepreneurs, é também definida por Baumgatner & Jones como um fator

fundamental para que seja desencadeado esse processo de rápidas mudanças.

As rápidas mudanças (punctuations) somente têm início quando, num processo de

difusão de ideias, uma questão rompe os limites do subsistema e chega ao

macrossistema político; o que equivaleria dizer que tal questão alcançou a agenda

governamental, na teoria de Kingdon. Dessa forma, os macrossistemas se

caracterizam por intensas e rápidas mudanças, diversos entendimentos sobre

uma mesma política (policy images) e feedback positivo.

Uma vez que essas questões ascendem ao macrossistema, o efeito de possíveis

mudanças decorrentes nos subsistemas é inevitável e as políticas institucionais

(policy venues) tendem a ser reorganizadas para a reestruturação do subsistema.

Após esse período, verifica-se um novo estado de equilíbrio e estabilidade na

dinâmica própria dos subsistemas.

44

A contribuição desses dois modelos de análise – Multiple Streams e Punctuated

Equilibrium – sobre a formulação de políticas públicas e o processo de agenda-

setting permite compreender, conforme argumenta Capella (2010: 121), a

dinâmica da ação estatal pelo modo como os problemas são conceituados no

processo de formulação de políticas e as maneiras pelas quais as alternativas são

apresentadas e selecionadas.

No que diz respeito ao foco de abordagem para análise das políticas públicas, é

ainda importante que seja mencionado o estudo de Faria (2003), que destaca a

relevância do papel das ideias e do conhecimento como importante vertente a ser

considerada. Faria (2003: 24) menciona John Kingdon como um dos autores que

buscam explicitamente reconciliar ideias e interesses, mas avalia que a

abordagem de análise tradicional em políticas públicas concede ao conhecimento

apenas “um papel justificatório e de advocacy” (2003: 22).

Faria defende que o conhecimento deve ser considerado como endógeno ao

policy process e que há uma escassez de estudos ‘pós-decisão’, pois o

‘mainstream’ analítico do processo de formulação de políticas públicas continua a

recair sobre os processos decisórios. Ainda que esse foco principal prevaleça,

argumenta Faria (2003: 23), as ideias e o conhecimento podem ser cruciais para a

compreensão do processo de formação da agenda.

Recorrendo também aos estudos de Heclo (1974), Faria reforça que as devidas

considerações sobre a aquisição e a utilização do conhecimento no processo de

produção das políticas públicas podem contribuir com explicações mais

adequadas, do que aquelas derivadas das teorias do mainstream, centradas no

conflito (Faria, 2003: 24). Dentre os grupos de analistas que têm dedicado lugar de

destaque à variável conhecimento, Faria (2003: 22) destaca cinco deles: (1) os

que dedicam seus estudos às policy networks, que visam entender e identificar as

articulações em rede e entre as redes de políticas; (2) os que abordam as

comunidades epistêmicas, referentes às participações dos grupos específicos de

45

especialistas na formulação de políticas públicas; (3) dos estudos sobre advocacy

coalitions, que focaliza as interações ocorridas para as coalizões de defesa de

ideias, valores e crenças entre os múltiplos atores de um ou mais subsistemas; (4)

dos processos de difusão e transferência de políticas públicas, que buscam

identificar e entender como as ideias e as propostas se propagam e se afirmam

nas policy communities e na opinião pública; e (5) os estudiosos do policy

learning, sendo aqueles que visam apreciar os processos de propagação das

políticas públicas como um aprendizado de conhecimentos.

Ainda para reafirmar a importância das ideias e do conhecimento no processo de

produção de políticas públicas, Faria menciona um pós-positivista, John (1999), na

defesa de que o processo de políticas (policy process) se caracteriza pela

interação de valores, normas e diferentes formas de conhecimento, indo além da

visão sobre atores racionais que estão em perseguição estreita aos seus

interesses (Faria, 2003: 23).

Com relação aos atores do processo de formulação e definição da agenda de

políticas públicas, outro olhar que se pode destacar sobre esses estudos diz

respeito à contribuição de Theodoulou (1995). Quem controla ou domina esse

processo e quem se beneficia dele? Frente a estas questões, Theodoulou

descreve quatro modelos de quem faz as políticas públicas.

O primeiro deles Theodoulou chama de Teoria de Grupo, sendo que atribui as

suas referências teóricas à David Truman e Robert Dahl. O argumento central

dessa teoria é que as sociedades são constituídas por uma diversidade de grupos

sociais, étnicos e econômicos, considerando também as diferenças nos níveis de

suas organizações. Ocorre que a competição política entre esses grupos exerce

pressão sobre o governo no processo de produção de políticas, em favorecimento

de si próprios (Theodoulou, 1995: 5).

46

Teoria de Elite é o segundo modelo descrito por Theodoulou, que atribui tais

estudos a autores como C. Wright Mills e Ralph Miliband. Esses autores não veem

as políticas como um produto de conflitos e demandas de grupo, mas sim como

sendo determinada pelas preferências da elite do poder ou a classe dominante.

Dessa forma, as políticas refletem os seus valores e servem aos interesses dessa

elite (Theodoulou, 1995: 6).

Quanto ao terceiro modelo, Theodoulou baseia-se na teoria de Philippe Schmitter

para definir o ‘Corporativismo’. Essa concepção considera que os grupos de

interesses não somente tentam influenciar as políticas, como também se tornam

parte do sistema de tomada de decisões e implementação dessas políticas. A

consequência disso é que os membros desse grupo modelam a sociedade com

um perfil mais manejável para o Estado ou o governo.

O quarto e último modelo tratado por Theodoulou é chamado por ele de

‘Subgovernments’, numa referência ao que também é conhecido como ‘Triângulos

de Ferro’ (iron triangles); ou seja, os políticos do Congresso, os burocratas e os

grupos de interesses. A teoria do subgovernments argumenta que o governo não

produz as mudanças nas políticas de forma isolada, mas aprova as decisões que

são elaboradas por setores governamentais, em aliança com grupos de interesse.

Dessa forma, os resultados das políticas são determinados por vários

subgovernments na promoção de seus interesses (Theodoulou, 1995:6).

Bem, pelo que pode ser visto até aqui, se por um lado as considerações teóricas

sobre o conceito de público, de políticas públicas e de formulação de políticas

públicas demonstram uma complexidade de modelos e de abordagens a serem

consideradas, de outra parte tem sido ressaltada por diversos desses autores

certa ampliação e também maior complexidade dos processos, devido

principalmente à intensificação das relações e interações globalizadas dos atores

em ação.

47

Parece ser merecedora de maior atenção, portanto, uma abordagem mais focada

nos efeitos e influências dos processos de globalização das relações sobre o

contexto de formulação de políticas públicas. É o que vamos observar no capítulo

seguinte.

48

II – Globalização e descentralização de relações internacionais

2.1. A intensificação dos processos de globalização e os Estados-Nação

Alguns dos autores que têm realizado estudos e observações sobre a globalização

consideram-no como um processo que se desenvolve há séculos, pelo menos

desde o séc. XVI. Outros, embora reconheçam que há vários séculos as relações

mercantis e econômicas vêm se alastrando pelo mundo, atribuem esse termo

específico de ‘globalização’ a um conjunto de processos que foram intensificados

a partir, principalmente, da década de 60 do último século.

O que se impõe com certa clareza é que não se pode considerar que seja um

processo único, com um desenvolvimento coerente e integrado. Trata-se de

diversos processos em contexto global que, ao mesmo tempo em que “provocam”

maior aproximação e articulação entre os países em diversos continentes no

âmbito político, econômico, social e cultural, também evidenciam as diferenças e

resultam em relações hegemônicas e conflitos de posições contra-hegemônicas

ou étnico-raciais.

Vieira (2009: 77) é um dos autores que localiza as raízes da globalização na

década de 1960, tendo por fatores determinantes a expansão da empresa

transnacional, a nova divisão internacional do trabalho, a acessibilidade aos

empréstimos bancários no mercado de eurodólar e o boom petroleiro mundial.

Mas Vieira identifica que é principalmente a partir da década de 1980,

proporcionada pelo impulso das tecnologias de informática e das comunicações,

que se torna possível a descentralização espacial dos processos produtivos e as

decorrentes consequências que vão reforçar os caminhos para a globalização,

propriamente dita.

Quando frequentemente se associa a globalização a um processo exclusivamente

econômico, destaca Vieira (2010: 72-73), não se obtém a dimensão do conceito,

49

pois esse fenômeno envolve também relações sociais, políticas e culturais, tais

como o surgimento e expansão de instituições supranacionais, a universalização

de certos padrões culturais e o equacionamento de questões que dizem respeito

ao planeta (meio ambiente, crescimento populacional, direitos humanos etc.).

Pode ser destacado como um dos focos centrais desse contexto, adverte

Wanderley (2009: 87), o debate que se impõe para alguns autores sobre o lugar

do Estado nestes processos. Alguns defendem a visão de que há perda do Estado

em relação a sua soberania na condução das políticas econômicas, em meio à

privatização da economia, e mesmo sobre suas fronteiras territoriais. Já para

outros, apesar de o Estado também receber os impactos dessas mudanças, há

continuidade de suas funções e reconhecimento de seu papel como ator essencial

no Estado-Nação.

Wanderley menciona que não há um entendimento consensual sobre os efeitos da

globalização nas sociedades, pois alguns especialistas destacam que apesar das

poucas virtualidades positivas, tais como rapidez nos transportes, difusão da

internet, avanços na biotecnologia e na medicina e contatos culturais, por outro

lado são constatados diversos efeitos perversos, tais como aumento da pobreza e

da exclusão social, aumento das desigualdades sociais, desemprego estrutural,

desindustrialização, dentre outros (2009: 87).

Já Rochman (2003) observa que também não existe consenso quanto ao conceito

de globalização, nem quanto ao que se deve considerar como seu componente.

Para uma primeira definição, Rochman recorre ao conceito de Evans & Newnham

sobre a globalização como “o processo no qual agências e termos de referência

centrados no Estado são dissolvidos em favor de uma estrutura de relações entre

diferentes atores operando em um contexto que é realmente global e não

meramente internacional” (Evans & Newnham apud Rochman, 2003: 16). A esses

termos Rochman atribui uma nova qualidade nas relações internacionais,

50

destacando que isso sugere que existam diversos atores e ações que extrapolem

os âmbitos dos Estados nacionais.

Alguns autores, segundo Rochman (2003: 21), tratam a globalização como um

mito, enquanto que outros defendem que há evidências claras e reais de seus

efeitos. Recorrendo aos estudos de Smith e Baylis9 sobre essa controvérsia,

Rochman (2003: 22) lista os argumentos prós e contra a efetiva existência de um

processo de globalização:

1. Evidências daqueles que afirmam ser a globalização um fenômeno

concreto:

a. Há uma transformação econômica global que impulsiona um novo

ritmo, o que impõe uma interdependência dos Estados e retira-lhes

os controles sobre suas economias;

b. As comunicações proporcionam informação internacional em tempo

real aos grupos sociais, o que lhes permite obter uma nova

percepção sobre o mundo;

c. Há uma cultura global sendo disseminada, principalmente em áreas

mais urbanizadas;

d. Ao mesmo tempo, surge uma cultura cosmopolita, baseada no

pensar globalmente e agir localmente;

e. Observa-se um processo de homogeneização no mundo;

f. Espaço geográfico e tempo cronológico são noções que estão sendo

sobrepostas pela velocidade e abrangência das comunicações e dos

mídia;

g. Os movimentos sociopolíticos transnacionais estão tecendo uma

política global;

h. Algumas questões, principalmente aquelas de grandes riscos à

humanidade, têm se tornado em caráter global, devido aos Estados

não terem capacidade de resolvê-las sozinhos.

9 SMITH, Steve & BAYLIS, John (Eds.). The globalization of world politics: an introduction to international

relations. Oxford: Oxford University Press, 1999.

51

2. Argumentos daqueles que não enxergam a globalização como um

fenômeno novo ou coerente:

a. Trata-se de uma fase avançada do capitalismo, em que o termo

“globalização” é utilizado como estratégia para inibir os governos a

qualquer resistência frente às forças econômicas globais;

b. A globalização é abrangente e efetiva somente no mundo

desenvolvido, sendo desigual em seus efeitos para os demais;

c. Observa-se como a última fase do imperialismo ocidental,

significando a sobreposição da cultura do Ocidente sobre as demais

sociedades;

d. O capitalismo liberal das economias mais ricas é quem se aproveita

da abertura proporcionada pela chamada “globalização”, para obter

maior exploração das nações mais pobres;

e. Outros segmentos interessados na abertura proporcionada pelo

espírito da globalização é o de certas forças nocivas às sociedades,

tais como o narcotráfico, o terrorismo, certos conteúdos da Internet

etc.;

f. A governança global se encontra ameaçada, considerando-se que

atores como as empresas multinacionais e organizações não

governamentais internacionais não estão comprometidas com ideais

democráticos e nem se submetem a tais controles;

g. Não se pode pensar em processo único de globalização, se

considerada a ascensão da economia asiática por caminhos que se

justificam em contexto específico, pois não se teve como ponto

determinante a absorção dos valores ocidentais (Smith & Baylis apud

Rochman, 2003: 22-23).

Uma vez que não há consenso sobre o conceito e a visão de processo da

globalização e, conforme observa Rochman, considerando-se que existe forte

controvérsia sobre as evidências e tendências do estabelecimento de relações

52

globalizadas, torna-se fundamental que algumas considerações sobre o olhar de

estudos com posições adversas sejam observadas. Trata-se de tecer um pano de

fundo do contexto sobre os estudos de globalização, para que se possa identificar

e determinar as referências adotadas nesta pesquisa.

Para Ladislau Dowbor (2003), por exemplo, há diferença entre a rapidez do

avanço das técnicas e a lentidão do avanço das instituições. Isso tem provocado

um descompasso no processo de desenvolvimento das sociedades, de maneira

que as mesmas tecnologias que redefinem os nossos tempos estão redefinindo

também os nossos espaços, ao mesmo tempo em que as instituições reguladoras

internacionais (ONU, GATT, FMI, Banco Mundial etc.) estão consideradas como

ultrapassadas, pois articulam nações e não o espaço supranacional. Há um

processo de mundialização e os instrumentos de regulação continuam sendo de

âmbito nacional, criando um espaço de vale-tudo internacional, um imenso espaço

de perda de governabilidade (Dowbor, 2003: 10-11).

Já Octavio Ianni (2003), faz uma análise mais político-conceitual sobre o processo

de globalização. Ele observa que as categorias do pensamento político não

respondem adequadamente à dinâmica da sociedade mundial. Ao mesmo tempo

em que se reforça uma sociedade global, o Estado-Nação vem sofrendo uma

crise, pois a crescente transnacionalização da economia reorienta e reduz a

capacidade decisória do governo nacional (2003: 17). Dessa forma, Ianni

argumenta que a soberania nacional é alterada, redefinida e reduzida pela

intensificação de injunções externas, reduzindo-se também a importância das

forças sociais “internas”, quanto a diretrizes e organização do poder estatal (Ianni,

2003: 18).

A estrutura social, observa Ianni, configura-se neste contexto por um hiato

crescente entre a sociedade civil, predominantemente determinada pelo jogo das

forças sociais “internas”, e o Estado, crescentemente determinado pelo jogo de

forças sociais que operam em escala transnacional, tais como as corporações

53

transnacionais e organizações multilaterais (2003: 18). Os setores sociais

subalternos, as classes subalternas ou classes assalariadas não encontram

condições políticas ou jurídico-políticas para reorientar ou influenciar as diretrizes

governamentais. Observa ainda Ianni que, neste contexto atual da globalização,

existem dificuldades reais nas condições de construção e realização da

hegemonia nas sociedades. Entretanto, defende que sem hegemonia não há

soberania nacional e democracia e, portanto, a construção de hegemonias

conflitantes, alternativas e sucessivas pode ser requisito essencial da dialética

entre a sociedade civil e o Estado (Ianni, 2003: 19).

Por outro lado, Ianni salienta que as organizações multilaterais e as corporações

transnacionais detêm certa hegemonia, com poderes econômicos e políticos

decisivos, sobrepondo ou impondo condições aos diferentes Estados nacionais.

Essas organizações e corporações atendem aos objetivos e práticas dos países

centrais, mas também aos objetivos e práticas que se manifestam em âmbito

transnacional, mundial ou global (Ianni, 2003: 19-20).

Para Paulo-Edgar Almeida Resende (2003), o espaço globalizado é dinamizado

pelo processo de desterritorialização e de reterritorialização da regulamentação da

vida econômica, social, política e cultural, em decorrência das relações

estabelecidas pelo capitalismo mundial integrado. Dessa forma, adverte para uma

tendência de reversão de competências do Estado nacional à complexidade das

organizações internacionais e transnacionais, configurando-se uma inadequação

das fronteiras nacionais convencionais diante dessa realidade (Resende, 2003:

30).

Mais do que se colocar em foco a discussão sobre a categoria de soberania do

Estado, Resende defende um debate sobre a manutenção da autonomia do

Estado. Segundo ele, na ordem atual observa-se uma complementaridade entre o

princípio de globalidade, que atua no tratamento aos problemas de âmbito

54

planetário, e o princípio de subsidiariedade, que reserva às instâncias nacionais,

regionais ou locais o tratamento dos problemas específicos (Resende, 2003: 35).

Boaventura de Sousa Santos (2005) alerta para as importantes mudanças

ocorridas no sistema interestatal, onde os Estados hegemônicos comprimem a

autonomia política e a soberania efetiva dos Estados periféricos e semiperiféricos

(2005: 35). Para ele, o Consenso de Washington continua sendo a referência para

a ordem mundial hegemônica e, dessa forma, a globalização resulta de um

conjunto de decisões políticas, no tempo e na autoria, o que tem reforçado as

contradições existentes nas relações entre o eixo Norte/Sul (Santos, 2005: 50).

Segundo observa Santos, a globalização tem promovido um Sistema Mundial em

Transição, que é constituído por três constelações de práticas coletivas:

A constelação de práticas interestatais, composta por Estados,

organizações internacionais, instituições financeiras multilaterais, blocos

regionais e a OMC, e que dissemina trocas desiguais de prerrogativas

de soberania;

A constelação de práticas capitalistas globais, composta por empresas

multinacionais e que permite as trocas desiguais de recursos ou valores

mercantis; e

A constelação de práticas sociais e culturais transnacionais, composta

por organizações não governamentais, movimentos sociais, redes e

fluxos, e que promove trocas desiguais de identidades e de culturas

(Santos, 2005: 56-58).

Os processos de globalização, para Santos, resultam das interações entre essas

três constelações de práticas, onde as tensões e as contradições, no interior de

cada uma delas e entre elas, são decorrentes das formas de poder e das

desigualdades na distribuição do poder (2005: 59).

55

Santos identifica quatro modos de produção da globalização ou, por decorrência,

quatro formas de globalização:

Localismo globalizado – processo pelo qual determinado fenômeno local

é globalizado com sucesso;

Globalismo localizado – impacto nas condições locais produzido pelas

práticas e imperativos transnacionais que decorrem dos localismos

globalizados;

Cosmopolitismo - organização transnacional de resistência às trocas

desiguais, articulando-se em trocas de autoridade partilhada ou redes de

solidariedade transnacional;

Patrimônio comum da humanidade – articulação de lutas transnacionais

pela proteção e desmercadorização de recursos, entidades, artefatos,

ambientes considerados essenciais para a sobrevivência digna da

humanidade e cuja sustentabilidade só pode ser garantida à escala

planetária (Santos, 2005: 65-71).

Para Santos, há que se identificar e diferenciar no tratamento da intensificação os

quatro modos de produção da globalização. Segundo ele conceitua, as duas

primeiras formas de globalização – localismo globalizado e globalismo localizado –

alimentam a posição hegemônica das práticas interestatais dos países centrais,

bem como das práticas capitalistas globais, enquanto as duas últimas formas de

globalização – cosmopolitismo e patrimônio comum da humanidade – constroem

um bloco de resistência às trocas desiguais, consolidando uma articulação contra-

hegemônica na ordem mundial do processo de globalização (Santos, 2005: 66-

67).

A observação sociológica dos estudos de Sassen (2010) considera a existência de

processos transnacionais, tais como a globalização econômica, política e cultural,

como motivadora de um conceito de ‘global’ que transcende o quadro exclusivo

dos Estados nacionais, ao mesmo tempo em que, de forma simultânea, pode estar

presente no que se compreende por territórios e instituições nacionais. A questão,

56

observa Sassen (2010: 9), não está na contraposição imediata entre Estado-

Nação e processo de globalização, como tem sido localizado por alguns autores.

O que se impõe em reavaliação são premissas básicas adotadas nas ciências

sociais sobre o conceito de Estado-Nação como contentor de processos sociais e

o pressuposto de que tudo o que ocorre no território nacional resulta em

considerá-lo como nacional. Conforme observa Sassen (2010: 18), foi na história

do Estado moderno que se buscou forjar como nacionais os aspectos

fundamentais da sociedade: autoridade, identidade, segurança, legislação e

mercado. Entretanto, nem tudo o que está dentro do território de um Estado

soberano pode ser conceituado como nacional, no sentido tradicionalmente

instituído, pois tais processos ou entidades podem estar relacionados a uma

dimensão ou ser uma localização do global (Sassen, 2010: 9-10).

Em sentido divergente da apreensão que muitos autores fazem sobre uma

sobreposição e ameaça dos processos globais ao protagonismo dos Estados

nacionais, Sassen argumenta que a proeminência da escala nacional e da

autoridade exclusiva do Estado sobre seu território acaba por configurar como

necessária a participação dos Estados nacionais na formação de sistemas globais

(2010: 17-18).

Por outro lado, sem que isso represente necessariamente um movimento de

anulação ao protagonismo dos Estados, surgem alguns escalonamentos

estratégicos que vão além da esfera nacional, configurando escalas subnacionais,

tais como as cidades globais, e escalas supranacionais, como os mercados

globais. Há, sim, uma desestabilização parcial das hierarquias escalares de

referência, em que o nacional se instituía como o articulador da linearidade de

relações sequenciais entre internacional – nacional – regional – urbano – local.

Baseada em estudos de diversos autores, Sassen afirma que “os modelos e as

teorias das RI permanecem voltados para a lógica das relações entre Estados e a

57

escala do Estado, em um momento em que vemos uma proliferação de atores não

estatais, processos transfronteiriços e mudanças associadas ao âmbito,

exclusividade e competência da autoridade estatal sobre seu território” (Sassen,

2010: 19).

Há que se considerar o caráter multiescalar em diversos processos de

globalização, pois tanto o local em alguns casos pode estar inserido em relações

multiescalares, como, por exemplo, um centro financeiro em uma cidade global,

assim como, em sentido inverso, o global pode estar envolvido em uma relação

multiescalar em certas atuações, tal como no caso da OMC. Dessa forma,

encontram-se superadas as antigas concepções de hierarquias por escalas

concatenadas, nas quais se classifica como supranacional tudo o que se localiza

em âmbito acima do Estado e por subnacional o que está abaixo dele (Sassen,

2010: 19).

Para Sassen, deve-se considerar uma transformação no papel do Estado e não a

sua anulação ou sobreposição absoluta pelo processo de globalização. Se os

mecanismos globais não precisam atravessar as hierarquias de Estados nacionais

para se articular diretamente com determinadas localidades e atores locais, por

outro lado os próprios Estados têm se envolvido profundamente na implementação

do sistema econômico global. Eles, Estados nacionais, têm sido reconhecidos

legalmente e de forma cada vez mais acentuada como autoridade territorial

exclusiva, ao mesmo tempo em que vêm concedendo certos “direitos” a empresas

não nacionais em seus territórios, têm flexibilizado a desregulamentação de

transações transfronteiriças e reconhecem o poder ou a influência de certas

instituições supranacionais (Sassen, 2010: 30-31).

Nesse sentido, Mariano & Mariano (2005: 133) também observam que não se

pode resumir a relação entre globalização e Estado como uma nova forma de

ordenamento e controle internacional que imponha o enfraquecimento desse

último. Há uma necessária reformulação no papel do Estado, com novos desafios

58

e uma nova lógica de funcionamento, frente aos sistemas e redes mundiais de

interação em que algumas decisões políticas passam a ser permeadas e

influenciadas por redes transnacionais intergovernamentais.

Uma análise imprecisa desse processo pode levar o observador a classificar essa

transformação do papel do Estado de forma simplista, por termos como

desregulamentação e liberalização financeira e comercial. Assim, acaba por ser

ressaltado somente o retraimento do Estado na regulação da sua economia, não

sendo captado o desenvolvimento de novas estruturas e as importantes

transformações no interior do Estado que proporcionam a promoção da

globalização (Sassen, 2010: 31).

O Estado, nesse contexto, encontra-se reposicionado em um campo de poder

muito mais ampliado, devido à constituição de uma nova ordem institucional

privada, ligada à economia global e que traz consigo novos tipos de sujeitos

políticos. E nesse novo campo de poder o Estado tem papel considerável, pois

atua na produção de novos tipos de regulamentações, processos legislativos,

decisões judiciais e uma série de outras legalidades que se fazem necessárias

(Sassen, 2010: 32).

O reposicionamento do Estado, portanto, coloca-o como ator relevante numa nova

ordem emergente, com consideráveis capacidades de governança e poder

estrutural, caracterizando-se significativamente pela autoridade normativa. Ocorre

que esta tendência de normatividade vem do mundo do poder privado e se instala

no domínio público, fortalecendo o poder e a legitimidade de autoridades estatais

privatizadas e desnacionalizadas. Essa nova ordem não se faz totalmente

acomodada nos sistemas políticos democráticos formais, ao mesmo tempo em

que se apresenta apenas parcialmente inserida nos cenários institucionais

considerados como nacionais, pois os Estados se diferenciam desses cenários ao

estarem simultaneamente ligados à implementação e regulamentação da

59

globalização econômica e, dessa forma, ajudam a desnacionalizar as agendas

nacionais (Sassen, 2010: 35).

2.2. Uma nova configuração simultânea descentralizada

Sob a análise da intensificação do processo de mundialização, Dowbor define que

a dinâmica global está cada vez mais presente no nosso cotidiano e o Estado

moderno não tem as ferramentas de governo correspondentes. Por outro lado, as

grandes metrópoles mundiais têm um peso novo no processo de gestão das

nossas sociedades, como pólos de um conjunto de atividades internacionalizadas,

e como articuladoras das políticas internas. Não há razão para que o essencial

dos problemas do nosso cotidiano, a escola, a saúde, a pequena produção etc.,

não sejam regulados diretamente pelos interessados, a população, através das

instâncias locais. É o conjunto do espaço de regulação que está sendo

reordenado, exigindo uma revisão em profundidade da articulação dos diversos

níveis (Dowbor, 2003: 12-13).

Frente às observações sobre os impactos do processo de globalização, Dowbor

defende que o Estado moderno não pode se limitar a tentar gerir racionalmente o

absurdo; a reforma do Estado tem um “norte” fundamental: humanizar e

reequilibrar a sociedade. Para ele, devem ser consideradas cinco tendências

estruturadoras do futuro: a tecnologia, a globalização, a polarização econômica, a

urbanização e a transformação do trabalho (Dowbor, 2003: 11-15).

Já para Vieira (2009), a discussão sobre a ordem mundial traz consigo a

observação sobre um processo de transformação da função pública nacional em

global, devido a três dimensões de ocorrências que devem ser consideradas: a

internacionalização da função pública, a reorganização das relações internacionais

pós-polarização leste-oeste e uma ordem econômica mundial para o

desenvolvimento sustentável (Vieira, 2009: 66).

60

Na visão de Ianni, desloca-se o lugar da política e modificam-se as condições

clássicas das categorias soberania/hegemonia, democracia/cidadania e

nacionalismo/Estado-Nação. Nessa sociedade em transformação e redefinição

das relações, a cidadania é afirmada pelo poder de consumo das pessoas e,

nesse sentido, o cartão de crédito simboliza a identidade e a cidadania. A política,

nesse contexto, se desterritorializa numa realidade virtual e é a sociedade civil

global que atua em condições de construção e reconstrução de soberania,

hegemonia, cidadania e democracia, em escala nacional e mundial (Ianni, 2003:

23-25).

A multiplicidade de lugares reterritorializados, segundo Resende, configura

também a multipolaridade na nova ordem mundial (2003: 33-34). Os poderes

locais e regionais redefinem-se e flexibilizam-se, uma vez que o poder normativo

se desloca dos centros de decisão nacionais para centros internacionais. Por outro

lado, a autonomia e as diferenças de cidadanias minoritárias “brotam nas fissuras”

do espaço aberto pelas desterritorializações (Resende, 2003: 38).

Para Santos (2005), o modelo de hierarquização próprio das práticas interestatais,

fundamentado em centro-semiperiferia-periferia, passa a ser sobreposto pela

resultante de múltiplas combinações e interações com o âmbito global/local,

definidos pelas práticas capitalistas globais e pelas práticas sociais e culturais

transnacionais. Dessa forma, o global e o local são socialmente produzidos no

interior dos processos de globalização (2005: 62-63).

Estudar ou pensar no global, portanto, não está restrito exclusivamente à

observação daquilo que é explicitamente posicionado em escala global. É

fundamental que se tenha como foco também as práticas e condições de escala

local que estejam em articulação com a dinâmica global, tais como as conexões

transfronteiriças no tratamento de casos que expressam condições semelhantes

61

de abusos aos direitos humanos, problemas ambientais, mobilização em torno de

certas questões etc. (Sassen, 2010: 20).

Talvez seja mais adequado considerar que o sentido da abordagem sobre essas

relações tendem a requerer um tratamento holístico de análise, pois, segundo

Mariano & Mariano (2005: 133), o fenômeno da globalização, apesar de produzir

impactos diretos sobre o cotidiano das localidades, tem suas origens nas relações

em âmbito global. Portanto, para se compreender a atuação de atores locais,

como, por exemplo, os governos subnacionais, no plano internacional é

necessário se considerar e apreender também o contexto mundial em que essa

ação se desenvolve.

É importante mencionar que, conforme define Jakobsen (2009: 23), apesar dos

governos subnacionais terem uma intensificação de relações diretas com o âmbito

global, tais como outros atores locais, e embora façam parte do aparato do

Estado, nas relações internacionais tais instâncias são formalmente tratadas como

organizações não governamentais.

Numa análise de decodificação de questões conceituais que historicamente estão

arraigadas ao nacional, Sassen menciona as cidades globais como lugares

subnacionais que se cruzam em diversos circuitos globais, posicionando dessa

forma as cidades em diversas geografias transfronteiriças estruturadas, com

alcance distinto e constituídas por práticas e atores distintos (Sassen, 2010: 22).

Essa nova geografia transnacional, também é o espaço para novas políticas

transnacionais, pois a centralidade nas cidades configura locais estratégicos na

escala global, ligados entre si pela dinâmica da globalização econômica. Atuando

como nós de uma trama de relações transnacionais, as principais cidades são o

foco de concentrações particularmente acentuadas de processos que se

entrecruzam, operando em escala global para além das fronteiras históricas e em

contexto de maior complexidade (Sassen, 2010: 89).

62

Dessa forma, a cidade não é uma unidade limitada, mas uma estrutura complexa

que pode articular uma variedade de processos transfronteiriços e reconstituí-los

como uma condição parcialmente urbana. Conceituada dessa maneira, a cidade

não pode ser localizada abaixo do nacional, do regional e do global, numa

hierarquia escalar, pois se constitui num ator que pertence também aos espaços

do global e o aciona diretamente, independentemente da hierarquia escalar

nacional (Sassen, 2010: 89).

O espaço global, portanto, encontra-se constituído por uma malha de cidades

globais, de potencialidades econômicas e políticas. Tais cidades estão enraizadas

em locais específicos e estratégicos, sendo transterritoriais por sua intensa

conexão entre si, apesar de não estarem geograficamente próximas. Esses

espaços vão se tornando também como locais potencialmente estratégicos para a

formação de novos tipos de políticas, identidades e comunidades em caráter

transnacional. Assim, a desnacionalização do espaço urbano permite o surgimento

de contestações, novas reivindicações e constituição de direitos centrada no

reforço das identidades desses atores transnacionais, configurando-se a cidade

global como uma zona de fronteira para um novo tipo de relação (Sassen, 2010:

107).

Faz-se necessário aqui tratar da conceituação de cidades globais, como uma

categoria que transita por diversos autores inspirando certezas e inconsistências,

consensos e divergências de referenciais. Wanderley (2009) alinha Castells a

certa visão convergente com Sassen10 quanto à observação e configuração de

algumas cidades que se destacam como centros globais importantes. Dentre

essas cidades globais é mencionada também por eles e outros, por exemplo, a

cidade de São Paulo (Wanderley, 2009: 52-53).

10

Wanderley (2009) faz referência, nesse enfoque, principalmente a dois estudos de Sassen e dois de Castells: SASSEN, S. The global city: New York, Londres, Tókio. Princeton: Princeton University Press, 1991; SASSEN, S. Entrevista e extratos de artigos. La documentation Française, n. 841, 7 Juillet, 2000; CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999a; CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999b.

63

Por outro lado, Wanderley (2009) recorre ao estudo de Whitaker Ferreira11 para se

contrapor a esse conceito de cidades globais como uma classificação recorrente,

particularmente às referências que incluem cidades como São Paulo. Procedendo

à observação do trabalho de alguns autores, Whitaker Ferreira (apud Wanderley,

2009: 60) sistematiza alguns atributos de uma cidade global e, confrontando-os

com dados mais detalhados, particularmente no caso da cidade de São Paulo,

afirma que a classificação da metrópole paulistana em cidade global é fruto de um

mito e de processos ideológicos de aparência, visando a valorização de

determinados segmentos da cidade (principalmente o imobiliário), que tendem a

ganhar o status como foco prioritário de investimentos.

Em concordância com essas e outras argumentações que questionam a

classificação da cidade de São Paulo dentre o rol das cidades globais, Wanderley

(2009: 81) busca algumas terminologias para que sejam utilizadas em casos como

o de São Paulo: ‘grande metrópole’, como ponto geográfico de referência regional;

‘megametrópole’, pois possui segmentos que fazem parte de uma rede urbana

planetária de fluxos do mercado financeiro, de serviços e de distribuição de

mercadorias; ‘cidade global periférica’, ‘cidade global emergente’ ou ‘cidade

potencialmente global’, uma vez que existem traços dos componentes de cidades

globais, porém de forma subordinada e assimétrica.

Feitas essas considerações sobre a conceituação e terminologias de cidades no

cenário global, cabe ressaltar que o foco deste trabalho não se legitima pela

constituição ou não de cidades globais, pois se trata de atores que se inserem em

relações globalizadas, governamentais e não governamentais. Neste sentido,

Sassen observa que uma variedade de atores políticos locais não estatais está

participando de fóruns internacionais ou da política global, em arenas que antes

eram exclusivas dos Estados nacionais, superando a invisibilidade da participação

11

A menção principal de Wanderley (2009) diz respeito à obra: WITHAKER FERREIRA, J. S. O mito da cidade-global: o papel da ideologia na produção do espaço urbano. Petrópolis/São Paulo/Salvador: Vozes/Unesp/ Anpur, 2007.

64

desses atores agregada em um Estado-Nação e cujo espaço de oportunidades

tem sido proporcionado pelas cidades globais, aliado às novas tecnologias da

comunicação e informação (2010: 158).

As cidades, a sociedade civil global e as novas geografias estratégicas, que

contornam os Estados nacionais e se produzem por meio de inúmeros

microlugares e microtransações, constituem-se como infraestrutura de domínios

globais. Por sua vez, o reposicionamento da autoridade formal exclusiva dos

Estados sobre o território nacional facilita a ascensão de espaços e atores

subnacionais e transnacionais em processos político-cívicos, tal como, por

exemplo, uma variedade de organizações concentradas em questões

transfronteiriças, que contestam a globalização corporativa, os abusos contra o

meio ambiente, as transgressões aos direitos humanos etc. (Sassen, 2010: 160-

163).

Não se trata de uma representação formal desses sujeitos políticos num palco

global, mas sim da atuação deles nos microespaços da vida cotidiana como uma

versão do global, em um contexto que permita a possibilidade de novas formas de

poder e de política nos níveis subnacional e supranacional (Sassen, 2010: 160-

161).

A rede transfronteiriça de cidades globais tem compreendido conexões de

organizações que operam por esse espaço e envolvem atores políticos globais,

que podem estar articulados com instituições globais, tais como o FMI e a OMC,

ou com instituições locais. Mas essas articulações de uma suposta ‘rede’, não

implicam em que as transações sejam necessariamente globais ou que tenham

que ocorrer no nível global, pois, como já mencionado anteriormente, o local é

multiescalar. Dessa forma, esses atores locais podem estar ativamente envolvidos

em questões que não são necessariamente globais, mas que podem se distribuir

globalmente pela repetição em cada localidade, como resultado do conjunto de

65

articulações (Sassen, 2010: 163). “Embora a rede seja global, os eventos que a

constituem são locais” (Sassen, 2010: 166).

A cidade, afirma Sassen, é um espaço muito mais concreto para a política do que

a nação, pois os atores políticos não formais podem fazer parte do cenário

político, ao passo que se buscassem se fazer presentes em âmbito nacional

provavelmente seria um processo com maior dificuldade. Segundo ela, “a política

no nível da rua possibilita a formação de novos tipos de sujeitos políticos que não

precisam passar pelo sistema político formal” (2010: 165).

Sobre os efeitos da política multiescalar do local, que contornam as escalas

hierárquicas do nacional, Sassen destaca que algumas pesquisas12 em países

desenvolvidos têm demonstrado que as iniciativas de atores locais por

representação direta em fóruns internacionais tornam-se cada vez mais

frequentes, uma vez que os poderes de governos nacionais podem subverter as

reivindicações legais desses atores. Assim, tem havido uma intensificação de

transações diretas entre o local e o global ou uma multiplicação de transações

locais como parte de redes globais, que não estão marcadas por escalas

hierárquicas (Sassen, 2010: 171-172).

Dentre vários tipos de trabalhos transfronteiriços, Sassen destaca duas formas de

interação escalar. Na primeira delas, a localidade é a escala de luta que busca

engajar vários atores locais, mas com a inerente conexão com diversas

localidades ao redor do mundo, cujas lutas localizadas e os atores locais são

semelhantes. A outra forma de interação multiescalar visa envolver atores globais

– OMC, FMI, empresas multinacionais etc. – para obter respaldo e projeção às

lutas localizadas, com possibilidade de descentralização expandida e integração

simultânea em localidades múltiplas (Sassen, 2010: 172).

12

Sassen cita dois trabalhos: Howitt, R. 1998. “Recognition, reconciliation and respect: steps towards decolonisation?” Australian Aboriginal Studies 1: 28-34; e Silvern, S. E. 1999. “Scales of Justice: law, american indian treaty rights and political construction of scale.” Political Geography 18 (6): 639-68.

66

Passa a ser traçada, portanto, certa identidade transnacional, ainda que parcial,

mudando o vínculo sem necessariamente neutralizar a identificação com um país

ou uma causa nacional. Como consequência da densidade das micropolíticas que

se reforçam nesse cenário, as identidades transnacionais acabam também por

reafirmar o estabelecimento da política global. Entretanto, essa política global

emergente se constitui como global por uma multiplicação deliberada de práticas

locais, mas não obrigatoriamente por terem se consagrado em âmbito cosmopolita

(Sassen, 2010: 173-174).

A constituição de uma sociedade civil global chega a ser mencionada por Vieira

(2009: 66-67), como decorrente do desenvolvimento de novas formas de

solidariedade entre os cidadãos e em contraponto ao reposicionamento do Estado

nacional. Vieira observa que atualmente ONGs dispersas geograficamente e

organizações comunitárias de base local podem desenvolver agendas políticas e

objetivos comuns no plano internacional. Tais organizações ajudam inclusive na

formulação de políticas, em algumas situações, e por terem vinculação local ao

mesmo tempo em que mantêm conexões internacionais, possibilitam a

interligação global das ações locais (2009: 68).

A articulação de sistemas globais com a possibilidade de vivenciar a cidadania por

meio de múltiplos direitos e práticas permitiu o surgimento de uma ‘classe’ global

(Sassen, 2008: 298). Entretanto, Sassen identifica outras três classes em

formação, no ambiente global. Uma delas a ser considerada surge da proliferação

de redes transnacionais de autoridades governamentais. Outra é formada pelo

grupo emergente de ativistas, envolvendo importantes setores da sociedade civil

global e tipos particulares de redes diaspóricas. A última classe global emergente

abordada por Sassen consiste em significativa parcela dos trabalhadores de baixa

renda.

Segundo Sassen (2008: 299), o surgimento de dinâmicas de globalização, como

no caso dessas quatro ‘classes’, enfraqueceram a autoridade exclusiva dos

67

estados nacionais, seja de forma objetiva ou subjetiva, bem como os respectivos

imaginários e senso de pertencimentos, o que facilitou a entrada de atores não

estatais em âmbito internacional, em áreas antes não acessíveis a esses atores.

Processos econômicos, políticos, cívicos que normalmente eram confinados na

esfera nacional agora alcançam o plano global, ainda que isso possa se situar

apenas como uma disposição imaginária ou subjetiva sobre a realidade diária para

muitos desses atores.

Ao mesmo tempo, esse processo teve reflexos e também foi reforçado pela

participação de outros atores. No caso da intensificação da participação direta dos

governos subnacionais nas relações e fóruns de âmbito global, Jakobsen (2009:

25) menciona que tal movimento foi reforçado devido ao Estado nacional não

conseguir atender certas demandas concretas. No cenário internacional passou-se

a observar o reforço às relações de interdependência, entre os Estados e os

atores não governamentais, dentre os quais Jakobsen inclui formalmente os

governos subnacionais, por conceituação das RI, conforme já mencionado

anteriormente.

Jakobsen considera que a interdependência pode ser uma fonte de poder,

alcançando certa complexidade se contempladas três características: “existência

de canais múltiplos que viabilizem as relações informais entre os atores

governamentais, não governamentais e transnacionais; ausência de hierarquia

entre os temas; e papel menor da força militar” (2009: 23).

Assim como o Estado tem o papel de garantir a distribuição do bem comum,

também os governos subnacionais assumem esse compromisso por meio de suas

relações internacionais, sob dois princípios: “complementação à política externa

do governo central e diplomacia pública” (Jakobsen, 2009: 26).

68

A diplomacia pública, mencionada por Jakobsen (2009: 27-30), ocorre por meio da

promoção do soft power13 – poder de convencimento que abrange os aspectos de

cultura (hábitos, arte e tecnologia), valores políticos e éticos, assim como o âmbito

moral da política exterior – na relação com a diplomacia fechada do Estado

nacional, ou o hard power – instrumentos de poder militar e econômico,

respaldados pelo poder de coerção legítima.

De acordo com Rodrigues (2009), essa atuação dos governos subnacionais pode

estar assegurada por duas fontes de legitimidade: “1) Legitimidade amparada no

direito interno de cada país; 2) Legitimidade prevista no âmbito internacional,

sobretudo no Direito das Organizações Intergovernamentais, sejam elas sub-

regionais, regionais ou universais” (Rodrigues, 2009: 37).

No Brasil, registra Rodrigues, desde meados da década de 80 os estados

federados e os municípios desenvolvem relações internacionais, seja em

cooperação ou em caminho paralelo à política externa brasileira, com o auxílio ou

simplesmente o conhecimento do governo federal. Tais relações em âmbito

internacional foram proporcionadas pela legitimidade primária outorgada pela

Constituição Federal de 1988, que reconheceu os estados e os municípios como

entes federados autônomos, titulares de competências exclusivas, comuns e

concorrentes. Destaca ainda Rodrigues que a elevação dos municípios brasileiros

ao status de unidade federativa autônoma, constitui-se no único caso dentre os

países da América Latina e Caribe que promoveu o reconhecimento para a

totalidade de seus municípios, não para casos pontuais, como é o caso de Buenos

Aires e outras capitais federais de alguns desses países (Rodrigues, 2009: 37).

A essa atuação dos governos subnacionais em ações exteriores, conceitua-se em

relações internacionais como paradiplomacia. Rodrigues (2004; 2009) tem tratado

13

Jakobsen (2009), ao tratar das considerações e definições sobre soft power e hard power, baseia-se principalmente em estudos de Joseph Nye (“The paradox of american power”. Oxford: USA Trade, 2002; e “Soft power: the means to success in world politics”. New York: Public Affairs, 2004), assim como no caso da abordagem sobre diplomacia pública, ele faz referência a Uffe Andreassen (“Diplomati og globalisering: em introduction til public diplomacy”. Copenhagen: Museum Tusculanums Forlag, 2007).

69

desse tema em seus estudos, bem como diversos outros autores

contemporâneos, mencionando o quanto isso tem ganhado corpo no Brasil. Para

Soldatos (1990 apud Figueira, 2011: 140), a paradiplomacia é caracterizada por

ações externas dos governos subnacionais, desenvolvidas de forma paralela,

conjunta ou conflitante com a diplomacia central, com o propósito de atuação no

plano externo para estabelecer formas de cooperação internacional que

contribuam com o desenvolvimento local. Por sua vez, Noé Cornago Prieto

acrescenta que isso pode ocorrer “por meio do estabelecimento de contatos

formais e informais com entidades públicas ou privadas estrangeiras, com o

objetivo de promover interesses políticos e socioeconômicos, bem como outros,

dentro dos limites aos quais cada entidade governamental subnacional está

constitucionalmente vinculada” (Prieto, 2004 apud Kugelmas & Branco, 2005:

162).

Ao mesmo tempo, tal legalidade de atuação dos governos subnacionais nas

relações internacionais já é conceituada no Ministério das Relações Exteriores do

Brasil como ‘diplomacia federativa’, referindo-se às ações dos entes federados no

âmbito da política externa, assim como é denominada de ‘cooperação

internacional descentralizada’, pela Subchefia de Assuntos Federativos da

Presidência da República, no caso de ações internacionais locais em processos

de cooperação internacional, sob o princípio da subsidiariedade. Já Rodrigues

nomina de ‘política externa federativa’ a estratégia de inserção internacional de um

estado ou município, que se vale de sua autonomia de forma individual ou coletiva

(Rodrigues, 2009: 36).

Costa (2007: 218) também destaca a autonomia de estados e municípios

brasileiros em conduzir suas políticas (de saúde, educação, meio ambiente,

transporte, energia etc.), desde que não entrem em conflito com as normas

constitucionais e as leis federais. Mas salienta que as relações

intergovernamentais são como o ‘sistema circulatório’ do federalismo, pois

dificilmente os entes federados podem realizar adequadamente essas políticas

70

sem o apoio ou a concordância do governo federal. Além da evidente necessidade

de disposição para cooperação das partes nas relações intergovernamentais,

acrescenta Costa, há fundamentalmente uma dependência do governo federal em

estimular ou impor regras e programas que impliquem na coordenação entre as

atividades de estados e municípios.

Mas se essa participação de atores interdependentes dos Estados vai ganhando

reconhecimento de legalidade por parte dos Estados-Nação, no plano global vai

ocorrendo uma intensificação dos atos de cooperação internacional, bem como

um aumento de atividades nos foros internacionais de formulação de políticas.

Mariano & Mariano (2005) mencionam diversos autores14 que analisam a

remodelação de perfil dos Estados nacionais, dos governos subnacionais e de

organizações não governamentais no protagonismo em âmbito global para

adaptar as políticas domésticas frente às demandas da realidade internacional, ou

mesmo para alcançarem naquele âmbito a conjunção de esforços e de soluções

para suas necessidades internas.

Dessa forma, na observação de alguns estudos15, torna-se emergente a existência

de um sistema de governança global, capaz de estabelecer um conjunto de leis

regionais e internacionais, de maneira que defina as regras do jogo para

solucionar conflitos e facilitar a cooperação no ambiente com predominância de

atores interdependentes (Mariano & Mariano, 2005: 134).

14

Mariano & Mariano (2005) apóiam-se em estudos de Mônica Herz, 1999 (“A internacionalização da política: a perspectiva cosmopolita em face do debate sobre a democratização da ONU”. Contexto Global. Rio de Janeiro: Instituto de Relações Internacionais, PUC-RJ, v.21, n. 2, PP. 259-289, jul-dez); Stephen Krasner, 2000 (“Compromising Westphalia”. In: Held, David e McGrew, Anthony. The global transformation reader. Cambridge: Polity Press); e Robert Keohane e Joseph Nye, 1984 (After hegemony. Princeton: Princeton University Press). 15

Nessa abordagem, Mariano & Mariano (2005) referem-se a David Held e Anthony McGrew, 2001 (Prós e contras da globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar); James Rosenau, 2000 (“Governance in a globalizing world”. In: Held, David e McGrew, Anthony. The global transformation reader. Cambridge: Polity Press); e Oran Young, 1994, apud Andrew Hurrell, 1995 (“O ressurgimento do regionalismo na política mundial”. Contexto Internacional. Rio de Janeiro: Instituto de Relações Internacionais, PUC-RJ, v. 21, n. 2, PP. 259-289, jul-dez).

71

A governança global aqui tem o sentido de articulação entre as instituições

governamentais e a sociedade, perante regras do jogo que assegurem a definição

de práticas sociais, atribuição de papéis e condução das interações dos diferentes

atores nas diferentes dimensões da atividade humana (Young, 1994 apud Mariano

& Mariano, 2005: 135).

Não se trata de governança com autoridade formal, nem de uma única articulação

de todo o mundo. Mariano & Mariano defendem a governança em processos de

integração regional e, portanto, a existência de sistemas de interdependência e de

articulações intergovernamentais, constituindo-se redes de governança que se

entrecruzem e coexistam em um universo de Estados soberanos (Nye, 2002, apud

Mariano & Mariano, 2005: 137).

Entretanto, advertem Keohane & Nye, não é possível assegurar que nas relações

de interdependência as vantagens serão sempre maiores do que seus custos, pois

as relações de interdependência são geralmente assimétricas e, como

consequência, não há como garantir que os resultados serão de benefícios

mútuos e equitativos (Keohane & Nye, 1989, apud Mariano & Mariano, 2005: 152).

Por sua vez, à parte das assimetrias inerentes nas relações de interdependência,

constata-se progressivamente a concretude das instâncias globais de articulação

e de decisões, a despeito das políticas internas e de soberania dos Estados-

Nação em relação a suas instâncias subnacionais. Wanderley (2005) observa que

os governos centrais têm elaborado planos para viabilizar a descentralização

efetiva, uma vez que os governos subnacionais aspiram por autonomia para

melhor implementação de políticas públicas que afirmem os princípios da

democracia participativa, entre setores governamentais e da sociedade civil

(Wanderley, 2005: 208).

Também como expressão dessa articulação e desses atores no plano político

global, Vieira (2001, apud Wanderley, 2005: 218) destaca que as ONGs vêm

72

conquistando papel considerável nesse cenário, obtendo expansão no espaço

público transnacional. Observando a atuação das ONGs em nível nacional, Vieira

afirma que elas têm influenciado parlamentos e governos na determinação de

políticas a serem estabelecidas no plano internacional, ao mesmo tempo em que

em nível global as ONGs têm causado impacto até mesmo em programas e

deliberações da ONU, configurando-se como um fator de governança global.

O então secretário-geral da ONU em setembro de 1997, Kofi Annan, declarou que

“As ONGs agora são vistas como parceiros indispensáveis da ONU, não apenas

na mobilização de opinião pública, mas também no processo de deliberação e

formulação de políticas, e, ainda mais importante, na execução de políticas, no

trabalho de campo” (press release do Secretariado-Geral da ONU, de 10/09/97

apud Vieira, 2001: 121). Além disso, afirma Vieira (2001: 122), as ONGs também

influenciaram, no nível nacional, parlamentos e governos na determinação de

políticas a serem estabelecidas no plano internacional.

Para Hocking (2004: 96), essas articulações estão em meio ao desenvolvimento

de ambientes de políticas complexas, onde os contextos das políticas internas e

externas estão cada vez mais interligadas. A condução de políticas públicas

envolve uma rede de ligações entre as arenas políticas, pelas quais os diversos

atores se relacionam de várias maneiras. Dessa forma, afirma Hocking, faz-se

necessário que os formuladores de políticas operem em ambiente político de

níveis múltiplos, considerando-se os subnacionais, nacionais e internacionais, com

capacidade de interagir nas três instâncias no processo de conquista e

consolidação dos objetivos.

73

III – Organizações, políticas públicas e articulações globais

A intensificação da atuação de atores globais, tais como as organizações

governamentais subnacionais e as organizações não governamentais, tem

resultado numa complexa trama de acordos, parcerias e compromissos

internacionais, que escapam muitas vezes ao acompanhamento e registro por

parte dos organismos nacionais oficiais.

Para se ter uma ideia desse universo de atores, em estudo de Vieira (2001) sobre

as ONGs no cenário internacional, encontra-se uma estimativa da existência de

cerca de 35 mil dessas organizações somente nos países desenvolvidos

(Mathews, 1997 apud Vieira, 2001: 203). Por outro lado, quando observada a

evolução do crescimento das ONGs internacionais (ONGI), em comparação a das

organizações intergovernamentais (OI) e dos Estados, constata-se que dados de

1997 que estabeleciam o ano-base de 1900 (base = 0) apresentavam um

acréscimo de 4.500 ONGIs, enquanto nesse mesmo período as OIs cresceram em

torno de 400 e os Estados pouco menos de 200 (Vieira, 2001: 203).

Há que se considerar, portanto, que o estabelecimento de acordos e parcerias

num universo com tamanha proliferação de atores internacionais é algo que se

projeta numa magnitude muito elevada. Não é objeto desta pesquisa rastrear esse

universo em torno do foco de estudo, pois uma investigação com o lastro temporal

e estrutural que se propõe neste trabalho de tese não contemplaria essa demanda

de informações.

A referência que se adotou como parte representativa desse universo foi de focar

o campo das políticas sociais, dentre as demais políticas públicas. Ainda assim,

esse é um campo muito amplo e complexo em suas especificidades, o que

também impôs a necessidade de ajustar ainda mais o foco de investigação,

selecionando-se a área de políticas para a juventude.

74

Vale ressaltar que, para a investigação do problema definido e dos propósitos

desta pesquisa, a seleção dessa área se deve prioritariamente à necessidade de

recorte do universo de estudo, à expressão relativamente boa dessa área em se

fazer presente como uma das preocupações contemporâneas em todas as partes

do mundo e à estratégia de aproximação das fontes de informação e dos atores

envolvidos, pois o pesquisador desta tese já tinha relação e atuação nessa área.

Por outro lado, deve-se considerar que o objetivo desta pesquisa é investigar se a

intensificação das relações e dos mecanismos de articulação das organizações

não governamentais no âmbito global tem contribuído para o alinhamento de

ideias e soluções, que acabam por exercer ações de influência na formulação das

políticas públicas locais. Não há, portanto, o intuito de se avaliar o mérito e a

eficácia dessas políticas, mas sim as relações e os processos que as constituíram.

Dessa forma, o procedimento de pesquisa foi de eleger um ator de relevância no

contexto global, que ao mesmo tempo seja um agregador de experiências, de

propostas e de recursos, como também um articulador de atores locais e

disseminador de experiências e apoios. A organização com esse perfil que se

adotou para análise foi a International Youth Foundation (IYF), que possui atuação

ampla e diversificada em quase uma centena de países e territórios de vários

continentes. Essa organização está devidamente apresentada, com base em

informações disponíveis publicamente16, e analisada no item a seguir, neste

capítulo.

Como parte da investigação, foi solicitado a um representante da IYF que

respondesse a um questionário on-line17, para que se pudesse apurar a visão

mais específica da organização sobre alguns aspectos de foco de análise da

pesquisa, principalmente no que diz respeito às motivações e objetivos de

16

Ver website www.iyfnet.org. 17

Questionário específico em inglês, construído e disponibilizado pelo website http://pt.surveymonkey.net.

75

buscarem articulações e parceiros em diversos países, bem como de possíveis

alinhamentos de ideias e propostas para a influência nas políticas públicas locais.

Essas informações estão registradas no item 3.2 deste capítulo, sob o título

“Propósitos, intencionalidades e conquistas da IYF e seus parceiros locais”. Em

seguida, são também apresentadas informações18 e análises de cinco parceiros

da IYF que desenvolvem iniciativas locais, com suas respectivas visões e

propósitos:

Fundación SES, da Argentina;

Foundation for Young Australians, da Austrália;

Fundación Esquel, do Equador;

Centro de Información y Recursos para El Desarrollo, do Paraguai;

Consuelo Foundation, das Filipinas.

3.1. Organização global: International Youth Foundation – IYF19

IYF foi criada em 1990, por Rick Little, com o apoio inicial de W.K.Kellogg

Foundation, após uma constatação de que poucos programas no mundo tinham

apoio financeiro para beneficiar a juventude. A maioria dos recursos de apoio

internacional era dirigida para ajuda humanitária e ações de emergência, sendo

que, apontava o estudo, os financiamentos para um desenvolvimento de longo

prazo eram insuficientes.

Dessa forma, quando algum recurso era destinado às necessidades de crianças e

jovens, normalmente visavam atender a faixa etária abaixo de 5 anos ou acima de

20, para jovens do ensino superior. Ainda assim, os fundos eram dirigidos a

iniciativas experimentais, sem perspectiva para que programas mais efetivos e

18

Também foram colhidos depoimentos em questionário on-line específico, em inglês ou espanhol, hospedado e disponibilizado a cada entrevistado no serviço do website http://pt.surveymonkey.net. 19

Principal fonte de informações e de acesso a outros documentos: http://www.iyfnet.org.

76

consolidados pudessem crescer em grande escala e se constituíssem como

sustentáveis.

A partir desse estudo, a W.K.Kellogg Foundation decidiu investir $ 70 milhões de

dólares para a criação dessa nova instituição, a International Youth Foundation,

com o intuito de promover outras organizações não governamentais e mobilizar

novos recursos para investir em programas que haviam demonstrado efetividade

em favor da juventude, visando obter escala e proporcionar sustentabilidade

financeira a essas iniciativas.

Segundo dados de sua história, desde o início a IYF definiu uma estratégia de

formar uma rede internacional de organizações que tivessem programas e ações

voltados para assegurar aos jovens de todo o mundo uma educação de qualidade,

aprendizagem de habilidades necessárias para obter trabalho e participação em

suas comunidades. Com base nisso, a IYF foi se constituindo como intermediária

entre organizações não governamentais, oportunidades de negócios e governos,

contribuindo para identificar o que realmente se consolidava com efetividade nos

programas para a juventude, com o propósito de projetá-los em grande escala.

Nos resultados de vigésimo aniversário, em 2010, a IYF registrava que havia

mobilizado 54 fontes públicas e privadas de doações, para investir cerca de US$

163 milhões em favor dos jovens, por meio de 332 organizações em 86 países.

Essas ações que receberam subvenções da IYF tiveram como propósito aumentar

a escala de abrangência das atividades, assegurar sustentabilidade das iniciativas

e melhorar a efetividade dos programas voltados para a juventude, conforme os

informativos da instituição. Como efeito disso, asseguram as informações nos

relatórios da IYF, milhões de jovens se encontram mais preparados para tomarem

decisões saudáveis, enfrentar os desafios da vida e tornarem-se membros

comprometidos ativamente com suas comunidades.

77

No Relatório Anual 2010, a IYF define sua trajetória e importância para os

parceiros da seguinte forma:

“Em duas décadas de resultados mensuráveis, IYF tem merecido sua distinção

como um recurso principal para o desenvolvimento da juventude global. Como

as preocupações generalizadas sobre as questões da juventude aumentavam,

os principais influenciadores, líderes e formuladores de políticas foram à

procura de respostas. Eles as encontraram na IYF.”

Atualmente, os programas da IYF estão agrupados em três enfoques, sendo eles

cidadania, aprendizagem e empregabilidade, que totalizam 39 programas

distribuídos em 96 países ou territórios envolvidos.

Se somados os resultados apresentados separadamente em cada programa,

obtém-se um total de 4.074.465 jovens e crianças diretamente envolvidos nas

ações da IYF desde sua criação em 1990, além de 43.795 professores e

educadores que foram o foco principal em alguns programas. Entretanto, como

alguns desses programas não apresentam resultados quantitativos de pessoas

beneficiadas, devido ao fato de se buscar objetivos estratégicos de articulação,

criação de redes ou orientações com outras organizações, governos ou

programas, não há precisão nesses números, podendo, supostamente, ter sido

maior do que os totais aqui apresentados. Da mesma forma, os beneficiários

indiretos, tais como outros jovens, familiares ou pessoas em geral das

comunidades onde se desenvolveram os programas, em números parcialmente

registrados somaram 6.739.450 pessoas.

Os 39 programas, desenvolvidos ou em desenvolvimento pela IYF, estão

brevemente descritos e classificados dentre os três focos pré-definidos

(aprendizagem, empregabilidade e cidadania) a seguir, apontando-se também os

países ou territórios onde eles se desenvolvem, os respectivos parceiros-

doadores, os parceiros-executores e os resultados obtidos ou esperados em cada

um deles.

78

Vale ressaltar que, mesmo tratada de forma muito breve a descrição de cada um

dos programas, esse registro acaba por se tornar um volume considerável, devido

à quantidade das iniciativas. Para o entendimento sobre a forma de atuação da

IYF, o gênero de programas, os tipos de parceiros e as localidades onde incidem

essas ações, a percepção geral sobre esses programas é fundamental para o

leitor desse estudo. Portanto, sugere-se uma leitura mais dinâmica sobre a

observação desses dados, podendo deter-se em determinadas informações que

se fazem mais pertinentes, de forma que se tenha ao final desse conjunto de

programas uma visão sobre a amplitude do campo de ação, da abrangência e das

articulações da IYF20.

1- Algeria Youth Opportunity Program

Área de enfoque: Empregabilidade

Descrição:

Articulação com o governo da Argélia para reforçar e complementar os

programas governamentais destinados ao desenvolvimento da

juventude para a empregabilidade, o empreendedorismo e o

engajamento cívico, como forma de contribuir para a melhoria do

desenvolvimento econômico e social do País.

Países ou territórios onde atua:

o Argélia

Tempo de existência: desde 2012

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Government of Algeria

U.S. Embassy in Algiers

20

Para conhecimento mais detalhado dos programas da IYF e como fonte original das informações aqui selecionadas, consultar http://www.iyfnet.org/iyf-programs.

79

Organizações públicas e privadas

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: n/c

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

2- Bridgeit

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Aproveitando a tecnologia móvel da telefonia celular, os professores de

diversas comunidades remotas de regiões rurais podem baixar vídeos

de conteúdos educativos que, conectados a televisores em salas de

aulas, permitem o uso desse material pedagógico ou adaptação dele no

processo de aprendizagem em escolas primárias. Dessa forma, com

acesso à tecnologia e a materiais de apoio bem elaborados, gera-se um

suporte ao professor de comunidades isoladas, ao mesmo tempo em

que se favorece o enriquecimento do currículo e do planejamento das

aulas para as crianças.

Países ou territórios onde atua:

o Filipinas

o Tanzânia

Tempo de existência:

o Filipinas há mais de 7 anos

o Tanzânia há mais de 1 ano

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

Nokia e Nokia Siemens Networks

80

Pearson Foundation

Vodacom Foundation

Ministry of Education and Vocational Training – Tanzania

o Executores:

Ayala Foundation

Ministry of Education and Vocational Training – Tanzania

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.078.238

o Professores/educadores: 5.116

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: envolvimento de 440 escolas

3- Brilliant Futures

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Ação conjunta para o acesso de um currículo complementar a jovens de

14 a 18 anos, em situação de vulnerabilidade social, que favoreça o

desenvolvimento de competências e conhecimentos para a vida e para

o mercado de trabalho. Traduzido para o mandarin e adaptado para os

aspectos próprios da cultura chinesa, essa iniciativa atua em

correspondência com outro programa da IYF, Passport to Success,

visando dar suporte acadêmico à juventude nos atuais momentos de

crescimento econômico e desenvolvimento das comunidades chinesas.

Países ou territórios onde atua:

o China

Tempo de existência: desde fevereiro/2012

Parceiros:

o Doador

Harry Winston Hope Foundation

81

o Executor:

China Youth Development Foundation

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 120

o Professores/educadores: 25

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

4- Caribbean Youth Empowerment Program

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Capacita jovens entre 17 e 25 anos, particularmente homens

desempregados ou subempregados que abandonaram a educação

formal, e que necessitam desenvolver habilidades técnicas, vocacionais

e com condições de alcançarem a sustentabilidade em suas vidas.

Países ou territórios onde atua:

o Antígua e Barbuda

o Granada

o Jamaica

o Santa Lúcia

Tempo de existência: desde 2008

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

FOMIN - Fondo Multilateral de Inversiones │BID

o Executores:

9 organizações

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.100

82

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

5- Disseminating Technologies

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Capacitar jovens de comunidades em situação de vulnerabilidade social

para as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), para o

desenvolvimento de habilidades profissionais e pessoais.

Países ou territórios onde atua:

o Brasil (São Paulo)

Tempo de existência: janeiro a dezembro de 2007

Parceiros:

o Doador

Travelport

o Executores:

Fundação Abrinq

Instituto Aliança com o Adolescente

CPA - Centro de Desenvolvimento Profissional para

Adolescentes

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 20

o Professores/educadores: 56

o Comunidade/familiares: 2.043

o Outros resultados: n/c

6- Education & Employment Alliance

Área de enfoque: empregabilidade

83

Descrição:

Com a articulação de alianças em diversos níveis (global, nacional e

local), criaram-se oportunidades de aprendizagens para habilidades

técnicas e profissionalizantes, ampliando a empregabilidade de jovens

que haviam abandonado a escola e que estavam em situação de risco.

Países ou territórios onde atua:

o Egito

o Índia

o Indonésia

o Marrocos

o Paquistão

o Filipinas

Tempo de existência: de 2005 a 2010

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

BP

Chevron

Gap Inc.

GE Foundation

Microsoft

Oracle

Alcatel-Lucent

o Executores:

14 organizações parceiras

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 30.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: 320 organizações parceiras em 43 projetos

84

7- Education and Livelihook Skills Alliance

Área de enfoque: aprendizagem e empregabilidade

Descrição:

Acesso à educação de qualidade para desenvolvimento de

competências pessoais e profissionais a crianças e jovens em situação

de risco social da Região Autônoma de Mindanau Muçulmana e

Mindanau Central.

Países ou territórios onde atua:

o Filipinas

Tempo de existência: desde 2004

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

Equalls2

o Executores:

Ayala Foundation

Consuelo Zobel Alger Foundation

Petron Foundation

Philippine Business for Social Progress

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 200.000

o Professores/educadores: 1.867

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: 201 escolas primárias envolvidas em 5.398

atendimentos em serviços e capacitações

8- Education Priorité Qualité

Área de enfoque: empregabilidade

85

Descrição:

Adaptação de um plano de estudos com o programa Passport to

Success, com enfoque de desenvolvimento de competências e

habilidades profissionais para jovens das regiões de Zinguinchor,

Sédhiou, Kolda e Kédougu.

Países ou territórios onde atua:

o Senegal

Tempo de existência: não consta

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

RTI International

o Executor:

Synapse Center

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 4.800

o Professores/educadores:168

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

9- Egypt@Work

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Formação técnica profissional e de empreendedorismo, para novos

negócios.

Países ou territórios onde atua:

o Egito

Tempo de existência: 4 anos

86

Parceiros:

o Doador

The MasterCard Foundation

o Executores:

Nahdet El Mahrousa

Alashanek Ya Balady

New Horizon Association for Social Development

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 10.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

10- Emploi-Habilité

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Formação técnica para o Turismo a jovens de 15 a 25 anos, na região

de Casablanca e Tetouan/Tangiers.

Países ou territórios onde atua:

o Marrocos

Tempo de existência: 2 anos

Parceiros:

o Doadores

Finnish Children and Youth Foundation

Silatech

The World Bank

o Executores:

Education for Employment Foundation

Al Jisr

87

Foundation Abdelkader Sedraoui

L'Heure Joyeuse

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 570

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

11- Empowering Africa's Young People Initiative

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Desenvolvimento de atividades e planos de estudos para a

disseminação de hábitos saudáveis entre crianças e jovens de 10 a 25

anos, como prevenção à propagação do vírus HIV na África Saariana.

Países ou territórios onde atua:

o Tanzânia

o Uganda

o Zâmbia

Tempo de existência: desde 2005

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Girls Guides Association of Zambia

Kuleana Center for Children's Rights

Source of the Nile Award

Uganda Girls Guide Association

Uganda Red Cross Society

Uganda Scouts Association

88

Uganda Young Women's Christian Association

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.900.000

o Professores/educadores: 32.948

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

12- Entra21

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Formação profissional e inserção no mundo do trabalho para jovens de

16 a 29 anos.

Países ou territórios onde atua:

o Argentina

o Belize

o Brasil

o Chile

o Colômbia

o República Dominicana

o Equador

o El Salvador

o Guatemala

o Honduras

o México

o Nicarágua

o Panamá

o Paraguai

o Peru

o Uruguai

o Venezuela

89

Tempo de existência: de 2001 a 2011

Parceiros:

o Doadores

Multilateral Investment Fund │BID

The Cartepillar Foundation

IDRC - International Development Research Centre

Soluciones Prácticas (Peru)

Ministerio de Trabajo, Empleo y Seguridad Social -

Argentina

Argidius Foundation (Suíça)

Alcaldía de Medellín - Colômbia

SENCE - Ministerio del Trabajo y Previsión Social - Chile

Nokia

The TK Foundation - Bahamas

USAID - U.S. Agency for International Development

Wal Mart Brasil

The World Bank

o Executores:

24 organizações parceiras

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 79.600

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: cerca de 54% de empregabilidade

13- Equip Youth

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

90

Formação de habilidades pessoais e profissionais, de forma a preparar

jovens para o mercado de trabalho, mas principalmente capacitá-los

para iniciarem seus próprios negócios locais.

Países ou territórios onde atua:

o Brasil

o China

o Índia

o Indonésia

o Jordânia

o México

o Panamá

o Peru

o Rússia

o Singapura

o África do Sul

Tempo de existência: desde 2012

Parceiros:

o Doador

The Caterpillar Foundation

o Executores:

11 organizações parceiras

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 8.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: 4.000 empregados ou trabalhando por conta

própria

14- Global Partnership for Youth Employment

Área de enfoque: empregabilidade

91

Descrição:

Criação de uma sociedade global de organizações em favor de estudos

e de iniciativas que promovam o emprego e a empregabilidade para

jovens, nas regiões da África, Oriente Médio e América Latina.

Países ou territórios onde atua:

o Costa do Marfim

o Egito

o Gana

o Guiné

o Jordânia

o Quênia

o Líbano

o Libéria

o Líbia

o Marrocos

o Arábia Saudita

o Senegal

o Serra Leoa

o Sudão

o Síria

o Iêmen

Tempo de existência: desde 2008

Parceiros:

o Doador

The World Bank

o Executores:

Arab Urban Development Institute

Understanding Children's Work

Youth Employment Network

Resultados/beneficiados:

92

o Jovens e crianças/alunos: n/c

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: Estudos para subsidiar políticas e legisladores,

avaliações de impacto de programas, promoção de programas

governamentais e eventos para promover o diálogo em torno de

políticas para o emprego juvenil.

15- Hilton Worldwide

Área de enfoque: aprendizagem, empregabilidade e cidadania

Descrição:

Formação para jovens por meio de educação e capacitação profissional,

apoiando iniciativas da rede global de empregabilidade, utilizando-se da

estrutura e dos recursos humanos disponíveis na rede Hilton de

hotelaria.

Países ou territórios onde atua:

o 78 países onde estão instalados hotéis da rede Hilton

Tempo de existência: n/c

Parceiros:

o Doadores

Hilton Worldwide

o Executores:

Funcionários da rede Hilton

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: n/c

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: 144.000 funcionários de 550 hotéis da rede

Hilton

93

16- Improving Training for Quality Advancement in National Education

Project

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Suporte técnico ao currículo e aos professores das escolas de Ensino

Médio do Marrocos, para elevar o nível de qualidade do ensino e

diminuir as elevadas taxas de evasão escolar.

Países ou territórios onde atua:

o Marrocos

Tempo de existência: n/c

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

Creative Associates International

o Executor:

Ministry of Education - Marocco

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: n/c

o Professores/educadores: 1.000

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: melhoria no trabalho de orientação,

acompanhamento, gestão e avaliação em todo o sistema

educacional.

17- Jasa.kg

Área de enfoque: empregabilidade e cidadania

Descrição:

94

Estimular a cidadania ativa dos jovens, prepará-los para o mercado de

trabalho e criar uma cultura positiva e empreendedora de

desenvolvimento juvenil, apoiando uma agenda de políticas públicas da

República Quirguiz.

Países ou territórios onde atua:

o Quirguistão

Tempo de existência: desde 2011

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Bishkek Business Club

Central Asian Free Market Institute

Childhood Institute

Interbilim

Youth of Osh

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 4.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

18- Merrill Lynch Employability Initiative

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Formação em iniciação financeira e oportunidades de criar seus próprios

negócios, para jovens de 16 a 29 anos, na Colômbia e no Brasil,

particularmente nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São

Paulo.

95

Países ou territórios onde atua:

o Brasil

o Colômbia

Tempo de existência: desde 2007

Parceiros:

o Doador

Merrill Lynch Bank of America Foundation

o Executores:

CDI - Comitê para Democratização da Informática

Give to Colombia

Rede Cidadã

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 3.700

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

19- Nokia-IYF Global Youth Development Initiative

Área de enfoque: aprendizagem, empregabilidade e cidadania

Descrição:

Conjunto de ações e programas para fortalecimento do protagonismo,

do empreendedorismo, da educação e da empregabilidade de jovens de

68 países.

Países ou territórios onde atua:

o 68 países em diversos continentes

Tempo de existência: desde 2000

Parceiros:

o Doador

Nokia

96

o Executores

29 organizações parceiras

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 586.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: 5.000.000

o Outros resultados: n/c

20- Obra

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Articulação de programas, iniciativas e políticas exitosas em favor da

empregabilidade e formação adequada de jovens, em países da

América Latina.

Países ou territórios onde atua:

o Colômbia

o Guatemala

o Jamaica

o Peru

o Santa Lúcia

Tempo de existência: desde 2009

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Centro de Información y Educación para la Prevención del

Abuso de Drogas

Fundación Restrepo Barco

97

Instituto Centroamericano de Estudios para la Democracia

Social - DEMOS

Private Sector Organisation of Jamaica

St. Lucia Chamber of Commerce

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

21- Passport to Success

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Conjunto de referenciais curriculares para o desenvolvimento de

habilidades para a vida (p. ex. confiança, trabalho em equipe,

estabelecimento de metas, administração do tempo etc.), para trabalhar

em escolas primárias e secundárias com jovens de 14 a 24 anos em

situação de risco social, bem como em centros vocacionais e institutos

de formação docente. O programa está disponível em 12 idiomas.

Países ou territórios onde atua:

o China

o Hungria

o Índia

o Jordânia

o Quirguistão

o Líbano

o México

o Marrocos

o Paquistão

o Filipinas

98

o Polônia

o Rússia

o Senegal

o Tanzânia

Tempo de existência: desde 2004

Parceiros:

o Doadores

GE Foundation

USAID - U.S. Agency for International Development

Wrigley

o Executores:

China Youth Development Foundation

Consuelo Zobel Alger Foundation

Demokratikus Ifjúságért Alapítvány

Lebanon YMCA

New Perspectives Foundation

Oxfam México

Polska Fundacja Dzieci i Mtodziezy

YouthReach

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 60.000

o Professores/educadores: 1.600

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

22- Planning for Life

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Formação complementar, associado a outros programas de formação

da IYF, com o objetivo de proporcionar informação e orientação aos

99

jovens em risco na faixa etária entre 10 a 24 anos sobre a saúde

reprodutiva e o planejamento familiar.

Países ou territórios onde atua:

o Índia

o Jordânia

o Peru

o Filipinas

o Santa Lúcia

o Siri Lanka

o Tanzânia

Tempo de existência: desde 2007

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

World Learning

o Executores:

African Center for Women

Information and Communication Technology

Consuelo Zobel Alger Foundation

Emerge Global

Fundación Sur Futuro

Jordan River Foundation

National Skills Development Centre

SAHER

Synapse Center

Vocational Education and Training Authority

YouthReach

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 3.511

o Professores/educadores: 38

100

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: Plano de estudos de saúde reprodutiva

traduzido para 7 idiomas e incorporado nas políticas e programas

dos países.

23- Samsung Real Dreams

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Capacitação e abertura de oportunidades para o empreendedorismo de

jovens em seus próprios negócios ou para entrada no mercado de

trabalho, com formação em informática, web design, TICs, gestão de

serviços etc.

Países ou territórios onde atua:

o Egito

o Quênia

o Nigéria

o África do Sul

Tempo de existência: de 2008 a 2010

Parceiros:

o Doador

Samsung

o Executores:

African Center for Women

Information and Communications Technology

AfterSchool Graduate Development Center

Alashanek Ya Balady

FATE Foundation

Nahdet El Mahrousa

NairoBits Trust

Pan-African University

101

Salesian Institute

Strathmore Education Trust - Informal Sector Business

Institute

Triple Trust Organization

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 7.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

24- Skills for Youth - SkY

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Como suporte aos programas e políticas governamentais na Índia, onde

cerca de 12,8 milhões de jovens ingressam anualmente no mercado de

trabalho, a iniciativa mobilizou outros parceiros para contribuir com a

formação de jovens ao seu autossustento e competências necessárias

para o exercício de atividades profissionais, contribuindo com o currículo

em escolas secundárias e em centros governamentais de capacitação

vocacional.

Países ou territórios onde atua:

o Índia

Tempo de existência: de 2009 a 2011

Parceiros:

o Doadores

USAID - U.S. Agency for International Development

EDC

o Executor:

Quest Alliance

102

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 4.870

o Professores/educadores: 47

o Comunidade/familiares: 65

o Outros resultados: n/c

25- Starbucks Shared Planet Youth Action Grants

Área de enfoque: cidadania

Descrição:

Seleção anual de 20 projetos de jovens empreendedores sociais já

anteriormente reconhecidos pelo programa YouthActionNet, que

recebem apoio financeiro para seus respectivos projetos, entre US$

5,000 e $10,000, por até duas edições.

Países ou territórios onde atua:

o Argentina, Armênia, Austrália, Brasil, Camboja, Canadá,

Colômbia, França, Geórgia, Gana, Guatemala, Haiti, Honduras,

Índia, Itália, Quênia, Libéria, México, Nepal, Nigéria, Paquistão,

Peru, Filipinas, Portugal, África do Sul, Espanha, Tanzânia,

Ucrânia, Estados Unidos, Vietnam, Zâmbia, Zimbábue

Tempo de existência: desde 2008

Parceiros:

o Doadores

Starbucks

o Executores

Parceiros do Programa YouthActionNet

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 84

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

103

o Outros resultados: n/c

26- Tanzania 21st Century - TZ21

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Suporte ao Ministério da Educação e Formação Profissional da

Tanzânia, com assistência técnica e logística na formação de

professores de escolas primárias em TICs, para os impactos positivos

nos resultados de aprendizagem.

Países ou territórios onde atua:

o Tanzânia

Tempo de existência: desde 2011

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Ministry of Education and Vocational Training - Tanzania

Creative Associates

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 42.000

o Professores/educadores: 930

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: 846 escolas primárias envolvidas

27- Tanzania Youth Scholars - TYS

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Considerando que cerca de 10% dos jovens na Tanzânia são órfãos ou

estão em situação de vulnerabilidade social, o programa visa contribuir

104

para a formação com temas de saúde e habilidades para a vida,

garantindo-se a escolarização necessária e as oportunidades para o

acesso ao mercado de trabalho.

Países ou territórios onde atua:

o Tanzânia

Tempo de existência: desde 2011

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

The Campaign for Femal Education

Kiota Women Health and Development Organization

Vocational Education and Training Authority

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.800

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

28- Tsunami Reconstruction Initiative

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Após o terremoto e tsumani em 2004 no sul e sudeste da Ásia, 1,4

milhões de pessoas perderam sua fonte de sustento econômico, além

das mais de 223 mil que perderam a vida. Este programa desenvolvido

em quatro países visou levar capacitação a jovens de 16 a 19 anos,

como também criar oportunidades de geração de empregos e

oferecimento de microcréditos e apoio técnico para a criação de seus

próprios negócios em micro e pequenas empresas.

105

Países ou territórios onde atua:

o Índia

o Indonésia

o Siri Lanka

o Tailândia

Tempo de existência: de 2006 a 2009

Parceiros:

o Doadores

Nokia

Sylvan/Laureate Foundation

Unocal 76

o Executores:

Centre for Community Development and Education

Community Colletive Society for Integrated Development

Foundation of Goodness

Hambantota District Chamber of Commerce

National Council for Child and Youth Development

YouthReach

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 12.430

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: 42.350

o Outros resultados: n/c

29- Unlocking the Potential of Asian Youth

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Suporte para jovens de 14 a 20 anos com carência de oportunidades em

países da Ásia e região do Pacífico, para seus desenvolvimentos na

106

educação, habilidades para a vida, capacidades de empreendedorismo,

preparação de carreiras e gestão de capital para negócios iniciantes.

Países ou territórios onde atua:

o China

o Coréia do Sul

o Tailândia

Tempo de existência: de 2007 a 2011

Parceiros:

o Doador

Tiger Woods Foundation

o Executores:

Kids & Future Foundation

National Council for Child and Youth Development

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.982

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

30- Young Entrepreneurs

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Capacitação para jovens de 15 a 29 anos da Índia em habilidades para

a gestão de negócios e para a vida, acesso a fundos e assistência

técnica constante para empreenderem ou expandirem seus pequenos

negócios, como forma de responder ao déficit de empregos gerado pela

elevada demanda juvenil.

Países ou territórios onde atua:

o Índia

107

Tempo de existência: desde 2012

Parceiros:

o Doador

MasterCard Worldwide

o Executor:

Community Collective Society for Integrated Development

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.700

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

31- Youth Empowerment Program

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Na região da África Subsaariana, um em cada cinco jovens está

desempregado. Para contribuir com a reversão desse quadro, este

programa buscou oferecer capacitação profissional, empreendedora, de

habilidades para a vida, treinamento em estágios e acesso às TICs,

para esse grupo de pessoas na faixa etária de 16 a 35 anos.

Países ou territórios onde atua:

o Quênia

o Nigéria

o Senegal

o Tanzânia

Tempo de existência: de 2007 a 2010

Parceiros:

o Doadores

Microsoft

108

Aga Khan Foundation

USAID - U.S. Agency for International Development

United States Diplomatic Mission to Nigeria

o Executores:

African Center for Women

Information and Communications Technology

LEAP Africa

NairoBits Trust

Strathmore Educational Trust - Informal Sector Business

Institute

Synapse Center

Vocational Education and Training Authority

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 9.500

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

32- Youth Entrepreneurship Development

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Com o intuito de favorecer a entrada de jovens no mercado de trabalho,

ao empreendedorismo e reforçar as suas participações nas

comunidades locais, o programa visa articular organizações e agências

dos setores públicos e privados para se capacitarem à formação integral

de alta qualidade para jovens palestinos de 14 a 29 anos.

Países ou territórios onde atua:

o Territórios Ocupados da Palestina

Tempo de existência: desde 2011

109

Parceiros:

o Doador

USAID │West Bank/Gaza Mission

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 10.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

33- Youth. Empowerment. Success. - Y.E.S.

Área de enfoque: aprendizagem

Descrição:

Proporciona aos jovens em situação de vulnerabilidade social o acesso

à educação e ao desenvolvimento de habilidades para a vida,

necessárias na chegada à maioridade. Em uma segunda fase, o

programa promoveu o ensino de Inglês e a orientação e o atendimento à

saúde bucal dos jovens, suas famílias e comunidades.

Países ou territórios onde atua:

o Índia

Tempo de existência: desde 2008

Parceiros:

o Doador

Wrigley

o Executor:

YouthReach

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 1.400

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: 7.000

110

o Outros resultados: n/c

34- Youth: Work

Área de enfoque: aprendizagem, empregabilidade e cidadania

Descrição:

Visa dar suporte a outros programas para a viabilização da

empregabilidade e do empreendedorismo de jovens de 15 a 29 anos em

diversos países, com capacitação técnica profissional e pessoal e apoio

a criação de pequenas e médias empresas lideradas por jovens.

Países ou territórios onde atua:

o Argélia

o Antígua e Barbuda

o Granada

o Guatemala

o Jamaica

o Jordânia

o Quirguistão

o México

o Marrocos

o Moçambique

o Nigéria

o Palestina

o Peru

o Santa Lúcia

o Senegal

o Tanzânia

o Uganda

Tempo de existência: desde 2008

Parceiros:

o Doador

111

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Parceiros de 9 programas em diversos países

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: n/c

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: Diversos beneficiários em 9 programas:

Caribbean Youth Empowerment Program

Emploi Habilité

Obra

Youth Map

Youth Entrepreneurship Development

Youth: Work Jordan

Youth: Work Mexico

Jasa.kg

Tanzania Youth Scholars

35- Youth: Work Jordan

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Articulação de iniciativas públicas e privadas na Jordânia para suporte a

programas e abertura de oportunidades para jovens na formação de

habilidades essenciais para a vida, para a formação profissional e para

o empreendedorismo.

Países ou territórios onde atua:

o Jordânia

Tempo de existência: desde 2009

Parceiros:

112

o Doadores

USAID │ Jordan

DEF - Development and Employment Fund

Luminus Education

Microsoft

Starbucks

The Caterpillar Foundation

The World Bank

o Executores:

15 organizações parceiras da Jordânia

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 4.700

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: 87.992

o Outros resultados: n/c

36- Youth: Work Mexico

Área de enfoque: empregabilidade

Descrição:

Articulação de iniciativas públicas e privadas no México para suporte a

programas e abertura de oportunidades para jovens na formação de

habilidades essenciais para a vida, para a formação profissional e para

o empreendedorismo, em atividades extracurriculares e em estudos de

verão.

Países ou territórios onde atua:

o México

Tempo de existência: desde 2010

Parceiros:

o Doador

113

. USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Centro de Asesoría y Promoción Juvenil

A.C. (CASA-PJ)

Fundación del Empresariado Chihuahuense

A.C. (FECHAC)

Fundación Internacional de la Comunidad A.C.

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 5.000

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

37- YouthActionNet

Área de enfoque: cidadania

Descrição:

Programa de reconhecimento, apoio e visibilidade a jovens líderes

empreendedores sociais, por meio do estabelecimento de uma rede

global e o acesso a recursos e oportunidades. É composto pelo

programa global e por programas locais em diversos países, criados e

implementados por outras organizações e universidades.

Países ou territórios onde atua:

o 61 países em vários continentes

Tempo de existência: desde 2001

Parceiros:

o Doadores

Sylvan/Laureate Foundation

Starbucks

Porter Novelli

114

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Foundation for Young Australians

King Abdullah II Fund for Development

Universidad Andrés Bello

Universidad del Valle de México

Universidad Europea de Madrid

Universidad Latina de Costa Rica

Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas

Universidad Tecnológica Centroamericana (UNITEC)

Universidade Anhembi Morumbi

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 790

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: 1.600.000

o Outros resultados: n/c

38- YouthActionNet Global Network

Área de enfoque: cidadania

Descrição:

Versão de programas locais integrados à rede YouthActionNet de

reconhecimento, apoio e visibilidade para jovens líderes

empreendedores sociais. As organizações e universidades parceiras

criam e implementam programas locais próprios e ajustados às

realidades específicas, promovendo formação técnica-acadêmica,

acompanhamento e articulação entre os protagonistas das redes locais

e com a rede global.

Países ou territórios onde atua:

o Austrália

o Brasil

115

o Chile

o Costa Rica

o Honduras

o Jordânia

o México

o Peru

o Espanha

o Turquia

Tempo de existência: desde 2006

Parceiros:

o Doadores

Sylvan/Laureate Foundation

Starbucks

Porter Novelli

o Executores:

Foundation for Young Australians

Istanbul Bilgi University

King Abdullah II Fund for Development

Universidad Andrés Bello

Universidad del Valle de México

Universidad Europea de Madrid

Universidad Latina de Costa Rica

Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas

Universidad Tecnológica Centroamericana (UNITEC)

Universidade Anhembi Morumbi

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: 550

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: n/c

116

39- YouthMap

Área de enfoque: aprendizagem, empregabilidade e cidadania

Descrição:

Projeto de quatro anos para avaliar a situação dos jovens e apoiar

programas e práticas exitosas em favor dos jovens da África

Subsaariana. Com base nesse estudo, o Fundo de Inovação do

YouthMap destinará recursos para reproduzir experiências bem-

sucedidas, corrigir deficiências de programas existentes e gerar escala

para programas inovadores que demonstrem efetividade no âmbito da

educação, da empregabilidade e do empreendedorismo.

Países ou territórios onde atua:

o Moçambique

o Senegal

o Tanzânia

o Uganda

Tempo de existência: n/c

Parceiros:

o Doador

USAID - U.S. Agency for International Development

o Executores:

Diversas organizações parceiras nos países envolvidos

Resultados/beneficiados:

o Jovens e crianças/alunos: n/c

o Professores/educadores: n/c

o Comunidade/familiares: n/c

o Outros resultados: YouthMap Innovation Fund = US$ 3.5 milhões.

117

Conforme a classificação de foco utilizada pela IYF e apresentada anteriormente

para cada um dos 39 programas, constata-se que 16 são direcionados para o

enfoque prioritário em aprendizagem, 25 para empregabilidade e outros 8 em

cidadania. Evidentemente que a somatória dos enfoques chega a 49, porque 6

desses programas estão enquadrados em mais de um foco consecutivo.

No que diz respeito ao enfoque de “aprendizagem”, os programas assim

classificados demonstram uma preocupação tanto com a educação formal, em

escolas primárias ou secundárias, quanto com a formação complementar à escola.

Um dos componentes curriculares que a IYF costuma colocar como importantes

para o desenvolvimento de crianças e jovens são as chamadas ‘habilidades para a

vida’ (life skills), tais como autoconfiança, trabalho em equipe, estabelecimento de

metas, administração do tempo etc., entendendo que isso deve ser tratado no

currículo em abordagem complementar ou transversal, mas sempre associado aos

demais conteúdos, competências e habilidades tradicionalmente reconhecidos e

requeridos no ensino básico e na educação profissional.

Já os enfoques classificados como “cidadania”, tratam principalmente de

programas voltados para o fortalecimento e o reconhecimento a jovens líderes,

seja por meio de premiações ou como empreendedores sociais e protagonistas de

mudanças positivas em suas comunidades. Essa classificação também se aplica

ao conceito de programas mais abrangentes ou que não se restringem à

especificidade dos outros dois enfoques. Tanto que, dos 8 programas

classificados nessa categoria, apenas 3 são enquadrados exclusivamente no foco

“cidadania”.

Quanto ao enfoque da “empregabilidade”, claramente fica demonstrado que se

trata da maior preocupação do conjunto de programas da IYF, pois de todas as

classificações feitas entre as iniciativas, mais da metade delas (25 programas)

enquadram-se dessa forma, seja exclusivamente (19 programas) ou concomitante

com outras classificações. Esse foco de programa promove ações de formação

118

profissional, de articulação com agentes públicos e privados e de inserção no

mercado de trabalho, seja por qualificação adequada ou por estímulo à abertura

de novas oportunidades para jovens.

No caso da observação sobre as fontes financiadoras desses programas, é

expressiva a participação da Agência Americana para o Desenvolvimento

Internacional – USAID (U.S. Agency for International Development), pois mais da

metade dos programas têm participação dessa agência como doador: 8 de 16

programas na ‘aprendizagem’, 4 de 8 programas de ‘cidadania’ e 15 de 25

programas de ‘empregabilidade’. Além disso, é importante ainda notar que 2

programas recebem também investimentos do BID e 4 do Banco Mundial.

Aqui se pode considerar como relevante a articulação da IYF, principalmente nos

últimos anos, com organismos de apoio financeiro internacional, o que se constitui

tendencialmente como indicador para uma sintonia no alinhamento de objetivos e

políticas semelhantes para diversos países onde esses programas financiados

atuam. A isso se associa a observação de que, em alguns casos, a IYF atua em

parceria ou no estímulo a órgãos governamentais dos respectivos países, para

que as ações sejam operacionalizadas, normatizadas ou reforçadas por políticas

públicas locais.

Nesse sentido, a empregabilidade aparece com destaque no interesse de

financiamento dos programas da IYF, pois todas as parcerias de investimento do

BID e do Banco Mundial estão concentradas em iniciativas que têm como foco a

‘empregabilidade’ e cerca de 56% dos programas apoiados pela agência USAID,

conforme dados anteriormente expostos, também estão destinados para esse

foco.

Entretanto, em termos de efetividade de uma política pública voltada para esse

foco, sabe-se que a queda ou falta de empregabilidade tem se constituído em um

dos problemas socioeconômicos prioritários para a economia mundial atual e para

119

inúmeros países em particular, independentemente do grau de desenvolvimento.

Ter a intencionalidade de ampliar ou garantir a empregabilidade para

determinados segmentos da capacidade produtiva ou para toda a população do

universo de mão de obra se constitui numa preocupação, e mesmo numa

obrigação, para qualquer que seja o nível governamental dos países e suas

respectivas agendas de políticas públicas. Portanto, não se pode considerar isso

numa perspectiva de atributo específico ou decorrente prioritariamente da

iniciativa de organizações ou organismos internacionais em particular e de forma

isolada.

Em sociedades complexas, como existentes atualmente, os sistemas econômicos

também se constituem por variáveis e condicionantes em mercados complexos e

interdependentes, o que impõe relações matriciais e não lineares aos fatores

determinantes ou, ao menos, estimulantes ao desenvolvimento econômico e

social. Isso significa que a geração de fatores positivos para interferência na

dinâmica da economia, tal como a empregabilidade, dependem intrinsecamente

da articulação positiva de diversos fatores, atores, contextos e políticas, como, por

exemplo, o aquecimento da economia local, a não existência de entraves

determinantes oriundos da economia mundial, a possibilidade e oportunidade do

mercado produtivo de ampliar ou retomar os postos de trabalho, a capacidade de

investimento, as políticas governamentais adequadas e em sintonia, dentre outros.

Por outro lado, é notória a capacidade de articulação da IYF com esses

organismos de financiamento de ações internacionais, principalmente se

considerado que, por exemplo, o Banco Mundial tem como política somente

destinar recursos para o campo de intervenções governamentais dos países.

Portanto, embora essa informação e a identificação dos respectivos parceiros não

estejam claras nos programas em que o Banco Mundial aparece como doador,

pode-se deduzir que há a participação dos governos locais e o consequente

impacto de influência na agenda das políticas públicas daqueles países.

120

Detendo-se a observação sobre as localidades que foram ou que são alvos de

atuação desses programas, obtém-se o seguinte quadro de programas

distribuídos por países, agrupados por região geográfica. Para que se possa fazer

uma leitura com possível correspondência entre a localidade e potencial

intensidade dos impactos dos programas sobre as políticas públicas e as

realidades socioeconômicas, foram acrescentadas informações do IDH – Índice de

Desenvolvimento Humano de cada um desses países.

Tabela 2 – Distribuição dos programas da IYF por países, com respectivo IDH

2011

Ref. Continente/Região País ou território onde atua Qde.

Programas

IDH 2011

Nível Índice Posição

1 África África do Sul 5 Médio 0,619 123

2 África Argélia 2 Médio 0,698 96

3 África Camarões 2 Baixo 0,482 150

4 África Costa do Marfim 1 Baixo 0,400 170

5 África Egito 6 Médio 0,644 113

6 África Etiópia 2 Baixo 0,363 174

7 África Gana 4 Médio 0,541 135

8 África Guiné 1 Baixo 0,344 178

9 África Libéria 2 Baixo 0,329 182

10 África Líbia 1 Alto 0,760 64

11 África Malawi 1 Baixo 0,400 171

12 África Marrocos 6 Médio 0,582 130

13 África Moçambique 2 Baixo 0,322 184

14 África Namíbia 2 Médio 0,625 120

15 África Nigéria 6 Baixo 0,459 156

16 África Quênia 7 Baixo 0,509 143

17 África Ruanda 1 Baixo 0,429 166

18 África Senegal 7 Baixo 0,459 155

19 África Serra Leona 1 Baixo 0,336 180

20 África Somália 2 Baixo* n/d* n/d*

21 África Sudão 1 Baixo 0,408 169

22 África Tanzânia 12 Baixo 0,466 152

121

Ref. Continente/Região País ou território onde atua Qde.

Programas

IDH 2011

Nível Índice Posição

23 África Togo 2 Baixo 0,435 162

24 África Uganda 5 Baixo 0,446 161

25 África Zâmbia 2 Baixo 0,430 164

26 África Zimbábue 3 Baixo 0,376 173

27 América do Norte Canadá 3 Muito Alto 0,908 6

28 América do Norte Estados Unidos 3 Muito Alto 0,910 4

29 América do Norte México 9 Alto 0,770 57

30 América Central e Caribe Antígua e Barbuda 2 Alto 0,764 60

31 América Central e Caribe Belize 1 Alto 0,699 93

32 América Central e Caribe Costa Rica 1 Alto 0,744 69

33 América Central e Caribe El Salvador 1 Médio 0,674 105

34 América Central e Caribe Guatemala 5 Médio 0,574 131

35 América Central e Caribe Haiti 3 Baixo 0,454 158

36 América Central e Caribe Honduras 4 Médio 0,625 121

37 América Central e Caribe Jamaica 3 Alto 0,727 79

38 América Central e Caribe Nicarágua 3 Médio 0,589 129

39 América Central e Caribe Panamá 2 Alto 0,768 58

40 América Central e Caribe República Dominicana 2 Médio 0,689 98

41 América Central e Caribe Santa Lúcia 4 Alto 0,723 82

42 América do Sul Argentina 4 Muito Alto 0,797 45

43 América do Sul Brasil 8 Alto 0,718 84

44 América do Sul Chile 4 Muito Alto 0,805 44

45 América do Sul Colômbia 6 Alto 0,710 87

46 América do Sul Equador 1 Alto 0,720 83

47 América do Sul Paraguai 1 Médio 0,665 107

48 América do Sul Peru 8 Alto 0,725 80

49 América do Sul Uruguai 3 Alto 0,783 48

50 América do Sul Venezuela 2 Alto 0,735 73

51 Ásia Afeganistão 1 Baixo 0,398 172

52 Ásia Armênia 3 Alto 0,716 86

53 Ásia Bangladesh 2 Baixo 0,500 146

54 Ásia China 6 Médio 0,687 101

55 Ásia Coréia do Sul 2 Muito Alto 0,897 15

56 Ásia Geórgia 3 Alto 0,733 75

122

Ref. Continente/Região País ou território onde atua Qde.

Programas

IDH 2011

Nível Índice Posição

57 Ásia Índia 11 Médio 0,547 134

58 Ásia Nepal 3 Baixo 0,458 157

59 Ásia Paquistão 5 Baixo 0,504 145

60 Ásia Quirguistão 5 Médio 0,615 126

61 Ásia Rússia 3 Alto 0,755 66

62 Ásia Sri Lanka 3 Médio 0,691 97

63 Ásia - Oriente Médio Arábia Saudita 1 Alto 0,770 56

64 Ásia - Oriente Médio Iêmen 1 Baixo 0,462 154

65 Ásia - Oriente Médio Israel 2 Muito Alto 0,888 17

66 Ásia - Oriente Médio Jordânia 9 Médio 0,698 95

67 Ásia - Oriente Médio Líbano 2 Alto 0,739 71

68 Ásia - Oriente Médio Territórios Ocupados da Palestina 4 Médio 0,641 114

69 Ásia - Oriente Médio Síria 1 Médio 0,632 119

70 Ásia - Oriente Médio Tailândia 3 Médio 0,682 103

71 Ásia - Oriente Médio Turquia 2 Alto 0,699 92

72 Ásia - Sudeste Camboja 3 Médio 0,523 139

73 Ásia - Sudeste Filipinas 8 Médio 0,644 112

74 Ásia - Sudeste Indonésia 5 Médio 0,617 124

75 Ásia - Sudeste Singapura 3 Muito Alto 0,866 26

76 Ásia - Sudeste Vietnã 3 Médio 0,593 128

77 Europa Alemanha 1 Muito Alto 0,905 9

78 Europa Bélgica 1 Muito Alto 0,886 18

79 Europa Bósnia-Herzegovina 2 Alto 0,733 74

80 Europa Eslovênia 2 Muito Alto 0,884 21

81 Europa Espanha 3 Muito Alto 0,878 23

82 Europa Finlândia 2 Muito Alto 0,882 22

83 Europa França 2 Muito Alto 0,884 20

84 Europa Hungria 3 Muito Alto 0,816 38

85 Europa Itália 3 Muito Alto 0,874 24

86 Europa Letônia 1 Muito Alto 0,805 43

87 Europa Moldávia 2 Médio 0,649 111

88 Europa Países Baixos 2 Muito Alto 0,910 3

89 Europa Polônia 2 Muito Alto 0,813 39

90 Europa Portugal 3 Muito Alto 0,809 41

123

Ref. Continente/Região País ou território onde atua Qde.

Programas

IDH 2011

Nível Índice Posição

91 Europa Reino Unido 2 Muito Alto 0,863 28

92 Europa República Tcheca 2 Muito Alto 0,865 27

93 Europa Romênia 2 Alto 0,781 50

94 Europa Sérvia 1 Alto 0,766 59

95 Europa Ucrânia 3 Alto 0,729 76

96 Oceania Austrália 4 Muito Alto 0,929 2

Fonte: International Youth Foundation – www.iyfnet.org/program e PNUD - IDH2011 Obs.: * Não há dados disponíveis sobre a Somália nos Relatórios de Desenvolvimento Humano do PNUD nos últimos anos. A última classificação da Somália no IDH foi no Relatório de 1996, com dados de 1993, no qual o país aparecia na posição 172 (antepenúltimo do ranking), com índice 0,221.

A Tabela 2 demonstra que não há um foco específico de localização das ações da

IYF e que elas estão distribuídas em diversos países de vários continentes. Por

outro lado, se for estabelecida uma correspondência de informações dessa tabela

com aquelas anteriormente apresentadas sobre os programas, pode-se notar que

há uma tendência de concentração de programas de empregabilidade, e mesmo

de aprendizagem, em países localizados na América do Sul, América Central e

Caribe, África e Ásia.

Agrupando-se os países apresentados na Tabela 2 por continente, verifica-se que

África e Ásia têm participações de 26 países cada um deles, enquanto que as

Américas têm 24, a Europa 19 países e a Oceania apenas 1. Visto de outra forma,

se considerada em cada continente a somatória dos números de programas

firmados nos países, a Ásia se destaca de forma significativa com 94 implantações

de programas com a IYF, sendo 47 distribuídos entre o Oriente Médio e os países

do Sudeste da Ásia. O continente africano vem a seguir com um número também

elevado de programas implantados (84), seguido de perto pelas Américas que

somam ao todo 83 iniciativas firmadas dentre os programas da IYF.

No caso das Américas, há que se considerar que o foco maior desses programas

foi destinado para a América Central e Caribe (31) e a América do Sul (37),

fazendo-se destaque ao México, na América do Norte, que foi objeto de 9

124

implantações de programas com os correspondentes parceiros da IYF naquele

país. Cabe ainda mencionar que no continente europeu, os 19 países

participantes foram responsáveis por 39 implantações de programas.

Outro aspecto importante a ser observado na Tabela 2 é o envolvimento dos

programas da IYF com parceiros sediados em países dos mais diferentes níveis

de desenvolvimento humano classificados pelo IDH, desde o nível “Baixo” até o

“Muito Alto”. A distribuição dos países pelos quatro níveis de classificação é muito

regular, pois dos 96 países ou territórios envolvidos, 25 deles têm índices

considerados no intervalo de desenvolvimento humano “Baixo”, enquanto outros

25 estão no nível de “Médio” desenvolvimento. Já os considerados com

desenvolvimento “Alto” somam 24, completando-se ainda um total de 22 que são

enquadrados na categoria de desenvolvimento “Muito Alto”.

Há que se levar em conta que, se somados os números de programas

implantados nos países ou territórios em cada nível, aqueles classificados como

desenvolvimento humano “Baixo” ou “Médio” representam cerca de 58% (179) das

iniciativas postas em execução, sendo que os de classificação “Muito Alto”

alcançaram aproximadamente 18% (54) do total de 306 operações da IYF em todo

o mundo.

Essa abrangência de programas implantados em todos os níveis de

desenvolvimento humano classificados pelo IDH tende a sugerir que os três

enfoques de programas da IYF (aprendizagem, empregabilidade e cidadania) têm

ressonância e provavelmente se constituem em problemas contemporâneos

globais, mas há também que se fazer algumas ressalvas para uma melhor

ponderação da análise.

Claro que não há dúvidas sobre as possibilidades de aproximação em países com

IDH em nível “Baixo” ou mesmo “Médio”, para a busca de alternativas e de

implantação de ações que visem intervir na realidade socioeconômica daquelas

125

populações. Os problemas sociais, de baixo desenvolvimento econômico, de

escassez de infraestrutura, de limitados níveis de investimentos públicos e

privados são tão relevantes que as oportunidades de interlocução com setores

governamentais, da iniciativa privada e com organizações da sociedade civil

podem ocorrer de forma frequente e intensa. Torna-se mais compreensível e

visível, neste contexto, que as agendas de políticas públicas estejam mais

acessíveis ao universo de ações e de atores onde tais programas se

desenvolvem.

Ainda em relação àqueles países com classificação de desenvolvimento humano

“Alto”, como é o caso do Brasil, Rússia, México e outros países da América do Sul

e América Central, sabe-se que existem indicadores e segmentos destacados na

realidade desses países que garantem um índice relativamente elevado. Porém,

isso não traduz a existência de consideráveis parcelas de pessoas que vivem o

extremo empobrecido, devido aos enormes contrates de distribuição de renda e de

restrições de acesso aos recursos saudáveis de vida produtiva e participativa

nesses países. Portanto, também se entende que haja um conjunto de

oportunidades para a aproximação de alguns desses programas e ações da IYF.

O que se torna mais relevante é o fato do envolvimento de 22 países com

classificação de nível “Muito Alto” de desenvolvimento humano, pois, em princípio,

seria natural que o conceito sobre condições de vida das pessoas que vivem

nessas localidades levasse ao entendimento de que esses programas são

desnecessários para aquelas realidades. Entretanto, por um lado reforça-se a

observação de que a atual conjuntura dos países, independentemente dos seus

níveis de desenvolvimento, convive com uma retração econômica mundial, sendo

que determinados setores produtivos das sociedades, como é o caso da juventude

e sua expectativa de empregabilidade, reforçam as demandas por oportunidades

de apoio. Por outro lado, há que se considerar que a maioria dos programas

desenvolvidos nesses países de nível “Muito Alto” tem como foco o suporte e o

reconhecimento de jovens líderes e protagonistas de iniciativas que promovam

126

mudanças positivas em algum segmento da sociedade, não significando,

necessariamente, que sejam intervenções em contextos onde existam problemas

com o desenvolvimento humano. Por vezes, as iniciativas apoiadas pela IYF estão

relacionadas a projetos de jovens lideranças voltados a intervenções em questões

de mudanças climáticas, sustentabilidade, negócios socioambientalmente

responsáveis, consumo consciente etc.

3.2. Propósitos, intencionalidades e conquistas da IYF e seus parceiros

locais

International Youth Foundation – IYF

Além das informações e dos documentos disponíveis sobre as ações e os

programas da IYF, este estudo buscou apurar de forma mais direta os propósitos

e as intencionalidades dessa Fundação, visando obter um posicionamento oficial

da organização em relação ao foco de análise da pesquisa.

Para tanto, realizou-se uma entrevista via questionário on-line21 com o presidente

e CEO da IYF, Willian S. Reese. Dos 22 anos de existência da organização, Mr.

Reese está na Fundação há 14 anos, sendo que teve oportunidade de participar à

frente da IYF de decisões importantes e significativas para a expansão dos

programas e das parcerias atuais.

Mr. Reese, de forma muito interessante e coerente com o desenvolvimento das

ações da organização, define a área de atividades da IYF como a ampliação de

estratégias práticas comprovadas para o desenvolvimento da juventude, visando

especialmente os resultados que oferecem trabalho aos jovens e oportunidades

de empreendedorismo, juntamente com o desenvolvimento de sua cidadania

plena por grandes programas de participação cívica. De certa forma, essa

21

Questionário específico em inglês, construído e disponibilizado pelo web site http://pt.surveymonkey.net.

127

definição envolve os eixos dos programas oferecidos pela organização, em

aprendizagem, empregabilidade e cidadania.

A partir dos objetivos estratégicos de apoio a uma rede eficiente e sustentável de

organizações não governamentais que prestam serviços à juventude, legalmente

constituídas em seus respectivos países e com gestões locais, a IYF estabelece

parcerias com essas organizações da sociedade civil, constituindo assim uma

Rede Global de Parceiros da IYF. Para viabilizar as ações dessa rede, busca-se

firmar acordos com parceiros doadores de recursos, cujo perfil envolve fundações

privadas, empresas com atuações globais, agências bilaterais ou multilaterais de

assistência ao desenvolvimento, governos locais e pessoas físicas.

Conforme já foi mencionado e analisado na seção anterior deste estudo, a IYF

atua em 96 países ou territórios, com 306 iniciativas implantadas por meio de seus

39 programas. Todos os seus parceiros doadores, bem como os principais

executores, também foram nominados na relação de programas anteriormente

tratados. E é importante notar que Mr. Reese se baseia nesse conjunto de

recursos para afirmar que a ação em diversos países é inerente à ‘missão e visão

global’ da organização, que ele resume como “promoção de poder e do potencial

dos jovens, de forma global”.

O questionário, respondido por Mr. Reese em link de página web específica,

avançava nesse momento para questões mais objetivas em relação ao ambiente

de políticas públicas. Sobre as possíveis relações com o governo americano e

com governos de outros países, Mr. Reese destaca o trabalho que tem sido

realizado com a USAID – United States Agency for International Development em

diversos programas (27 do total de 39 programas), além de outras agências de

cooperação Internacional. Já no que diz respeito aos governos de outros países,

ele afirma que depende do tamanho, da qualidade e da relação de confiança que

se pode estabelecer, pois essas condições variam muito de um país para outro.

Entretanto, por princípio a IYF evita estabelecer acordos com governos que não

128

fazem a total prestação de contas de suas atividades, bem como a IYF não aprova

o envolvimento dos seus programas com qualquer atividade de caráter político-

partidária.

Quanto às influências das ações e programas da IYF sobre as políticas públicas

locais, Mr. Reese afirma que há a intenção de colaborar com os governos desses

países onde a organização atua, nos níveis local, estadual ou federal, para

provocar influências positivas nessas políticas públicas, como também

proporcionar a esses governos absorverem a metodologia utilizada nos programas

da IYF para monitoramento e avaliação das ações.

Como exemplos de parcerias bem-sucedidas com governos locais para programas

de empregabilidade a jovens, Mr. Reese cita os Ministérios da Educação da

Tanzânia e das Filipinas, bem como o governo municipal da cidade de Medellín,

na Colômbia, dentre outros especificados no website da IYF sobre as informações

dos programas.

Mr. Reese acredita que é possível o estabelecimento de políticas públicas globais,

por meio do compartilhamento e de avaliações conduzidas de forma profissional

das melhores práticas, buscando alcançar os objetivos de defesa dos interesses

transnacionais. Para isso, identifica mecanismos que devem ser utilizados, tais

como as mídias globais, os fóruns constituídos como o Fórum Econômico Mundial,

as iniciativas de setores privados como a Clinton Global Initiative e outros

parceiros como o Banco Mundial e os bancos de políticas de desenvolvimento

regionais. A efetivação dessas políticas públicas globais depende também,

conforme define Mr. Reese, das ações de influência que são exercidas sobre as

lideranças globais que estão à frente desses organismos e agências de âmbito

internacional.

Nesse contexto, continua o presidente da IYF, os Estados Nacionais têm papel

próprio e importante como atores que podem exercer influência direta nas

129

agências das Nações Unidas, do Banco Mundial e dos bancos regionais de

desenvolvimento, pois eles são parte integrante desses organismos. Por sua vez,

define ele, os governos subnacionais têm se tornado cada vez mais importantes

em grandes nações, pois são delegadas para estados e municípios determinadas

políticas e recursos públicos, o que contribui para o oferecimento de bons serviços

públicos e o estabelecimento de um fluxo de baixo para cima para a construção de

boas políticas nacionais.

Fundación SES │ Argentina22

Segundo a apresentação em seu website, Fundación SES é uma organização

social que se dedica à promoção e ao desenvolvimento de diferentes estratégias

para a inclusão dos adolescentes e jovens com menos oportunidades, a partir do

trabalho na perspectiva de garantia dos direitos dos jovens. SES é uma sigla que

representa as iniciais de três valores fundamentais para a Instituição:

Sustentabilidade, pelo compromisso com as gerações futuras; Educação,

entendida como motor do desenvolvimento; Solidariedade, como elemento básico

da integração social.

A SES define como missão “trabalhar pela inclusão educativa, social, política e

econômica dos adolescentes e jovens com menos oportunidades”. É interessante

notar que, dentre as expectativas listadas na visão da Instituição, tal como

contribuir com a construção de um projeto nacional e regional para a inclusão de

jovens, como também incrementar o protagonismo dos jovens na construção de

um projeto de transformação, há um item que faz menção específica às políticas

públicas: “construir uma organização social com compromisso nacional e regional,

para a influência nas políticas públicas vinculadas aos temas de inclusão juvenil”.

Em outro trecho, afirma-se que se pretende alcançar o desenvolvimento de

22

Informações e documentos obtidos pelo website http://www.fundses.org.ar e por meio de questionário on-line específico, em espanhol, hospedado no serviço do website http://pt.surveymonkey.net.

130

“metodologias com critério de escala e gerar propostas no nível nacional e

regional que possam incidir na construção de políticas públicas em educação,

trabalho e juventude”.

Na correlação com essa visão e missão, a SES especifica alguns objetivos

estratégicos e, dentre esses, encontram-se dois com mais relevância ao foco

desta pesquisa:

“Conceber, sistematizar, desenvolver e divulgar as distintas tecnologias de

trabalho decorrentes de práticas com adolescentes com menos oportunidades,

para possibilitar sua posterior replicabilidade em outras regiões.

Posicionar-se como interlocutores qualificados nos ämbitos onde se discute ou

aborda a temática específica, especialmente nos processos de decisão de

políticas públicas.”

A Fundación SES também faz um destaque específico para o seu Projeto Político,

definindo-se como uma instituição que ‘não é neutra’ e que todos os parceiros que

a ela se aliam devem ter ciência desses objetivos políticos, pois estão

compartilhando-os de alguma forma nas ações acordadas. Nesse Projeto Político,

dentre outras definições, estão especificadas duas estratégias que, segundo o

próprio documento, possuem campos próprios, mas se retroalimentam de forma

dialética. A primeira delas é o Desenvolvimento Socioeducativo Local, como uma

estratégia de impacto, de construção de capital social, político e de

representatividade. A segunda é a influência em Políticas Públicas, que não

surgem por uma somatória de processos locais e desenvolvimento de iniciativas

em escala nacional, mas sim a partir de uma dinâmica que lhes é própria, por

meio da tradução e generalização de processos locais em propostas e modelos de

trabalho que deem suporte à construção de políticas públicas em escala nacional.

Portanto, o propósito da Fundación SES de influenciar e de atuar como agente

pró-ativo no processo de decisão das políticas públicas para a juventude está

muito claro nos documentos, nos objetivos e nos princípios definidos pela

organização. Há também que se registrar o sólido intuito estratégico de atuar com

131

metodologias e tecnologias que permitam obter a reprodução de projetos em

escala de dimensões abrangentes, tanto em nível nacional na Argentina, quanto

em nível regional, o que compreende um conjunto de alianças e participação em

redes regionais, com envolvimento de organizações e governos de países da

América Latina e Caribe, principalmente.

No âmbito das alianças internas, a SES tem um número significativo de parcerias,

num total de 46 organizações associadas em 17 províncias do território argentino.

Essas parcerias se desenvolvem por meio de diversas iniciativas e programas,

que estão agrupados em quatro eixos: Educação; Trabalho; Protagonismo Juvenil

e Monitoramento; Avaliação e Sistematização.

A representação dessas organizações associadas, na distribuição das respectivas

províncias no território argentino, está apresentada na figura a seguir.

132

Figura 1 – Organizações parceiras da Fundación SES na Argentina

133

O contato direto com a organização, por meio do questionário on-line em página

web específica, foi atendido pelo diretor executivo da Fundación SES, Alberto

Croce, que está na Fundação há 12 anos.

Alberto resume a área de atuação da organização como de “promoção aos direitos

dos jovens, principalmente no que diz respeito ao direito à educação, à formação

para o trabalho e a participação política e cidadã”. Percebe-se aqui que há uma

correspondência direta de sintonia com os objetivos e os eixos de programas

traçados pela IYF, conforme mencionado anteriormente. Quanto aos objetivos

estratégicos, Alberto Croce é ainda mais incisivo e direto na definição do foco de

influências nas políticas públicas: “Promover e fortalecer as organizações

comunitárias que trabalham na área da juventude em todo o país. Articular com as

diferentes áreas do governo para promover políticas públicas orientadas para a

juventude. Trabalhar para a integração regional, de forma que se leve em conta

estes objetivos estratégicos”.

Em relação às alianças com organizações de outros países, Croce diz que isso é

inerente à vocação e à visão da SES, em vista da transformação e concretização

de um mundo em que se pretende viver, construir e fazer parte. Isso fica

claramente demonstrado pela participação da SES em diversas redes regionais e

internacionais, como por exemplo:

Innovemos – Rede de Inovações Educativas para América Latina e

Caribe, sob coordenação da Oficina Regional de Educação para a América

Latina e Caribe, da Unesco, e formada por diversas organizações

governamentais e não governamentais de 18 países;

LATINDADD – Rede Latino-Americana sobre Dívida, Desenvolvimento

e Direitos, formada por 17 instituições e organizações de 11 países;

Fórum Mundial de Educação, articulado com inúmeras organizações,

institutos, institutos de pesquisa, universidades e instituições de

representação de educadores em países de vários continentes.

134

Plataforma Educativa Mercosul, sendo um fórum de articulação de

organizações da sociedade civil da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,

Paraguai e Uruguai, para interlocução com os órgãos governamentais de

Educação desses países na definição de pautas para as políticas públicas

educacionais;

La Liga – Liga Ibero-Americana de Organizações da Sociedade Civil

para Superação da Pobreza e Exclusão Social, composta por 27

organizações de 18 países;

Rede Ibero-Americana de Aprendizagem-Serviço, que promove a

formação e a capacitação para aprendizagem e serviços solidários, com

participação de 32 organizações de caráter governamental, da sociedade

civil, universidades e organismos regionais da América Latina, Estados

Unidos e Espanha.

No que diz respeito às relações de interlocução com órgãos governamentais

argentinos, Alberto menciona que isso se dá de forma intensa e frequente, por

meio de acordos de cooperação ou trabalho conjunto na elaboração e

implementação de ações e programas. Isso ocorre em diversas ações, tanto no

nível dos governos municipais e provinciais, quanto em nível nacional com, por

exemplo, diversos ministérios: da Educação, do Trabalho, de Desenvolvimento

Social, de Desenvolvimento Humano e Secretaria Nacional de Esportes.

Já na esfera internacional, além das articulações indiretas por meio das redes e

dos parceiros em outros países, a SES mantém relações diretas para o

desenvolvimento de algumas de suas ações e programas com os seguintes

países ou organismos: Governo do Reino da Holanda, Governo do Reino da

Noruega, Governo da República da Finlândia, União Européia, Agência de

Cooperação Italiana para o Desenvolvimento, Banco Mundial, BID, Unesco, OEA,

OEI, FOMIN – Fondo Multilateral de Inversiones, Unicef, OIJ – Organização Ibero-

Americana de Juventude, dentre outros.

135

Alberto afirma que não tem dúvidas sobre as influências positivas que as ações da

SES e seus parceiros têm exercido sobre as políticas públicas, particularmente no

que diz respeito à juventude. Cita como exemplo a atuação da SES junto ao

Ministério do Trabalho para que se adotasse o foco da juventude num programa

que hoje há existe chamado “Jovens com Mais e Melhor Trabalho”. Além disso,

menciona também que a SES tem participado de uma rede nacional de direito à

Educação, com algumas organizações que constroem conjuntamente com o

Ministério da Educação certas políticas públicas educacionais.

Croce também não hesita em afirmar que as influências positivas sobre políticas

públicas é, de fato, um dos objetivos principais na articulação com organizações

parceiras de outros países, pois este é um dos critérios para o entendimento

mútuo e o estabelecimento dos acordos. Entretanto, ressalta ele, os projetos

devem ser pensados desde o seu início com a perspectiva de escala e como

política pública. Se o procedimento não for planejado dessa forma, será difícil

fazer com que um projeto considerado exitoso dê um ‘salto’ para se projetar como

uma política pública.

Outra questão, observada por Alberto Croce sobre esse processo de constituição

de um projeto em política pública, diz respeito à atribuição de autoria dessas

iniciativas. Ele afirma que os articuladores das ideias têm que ser generosos

quanto à autoria e à marca dos projetos que pretendam que sejam absorvidos

como políticas públicas, porque quem lidera esses processos de formulação das

políticas tem a necessidade de apresentar as realizações como sendo deles

próprios. Portanto, os autores desses projetos devem ter grandes contribuições,

mas um perfil discreto.

Também é necessário, segundo Alberto, que esse articulador de ideias para as

políticas públicas se torne um “ator social”, o que implica em posicionamento e

reconhecimento. Mas isso é algo que se constrói com o tempo, estratégia,

propostas e trajetória, não sendo pura intervenção de marketing, como alguns

136

pretendem. Nesse sentido, Croce reconhece que vários membros da equipe da

Fundación SES se constituíram em atores sociais que exercem influência nas

políticas públicas locais, a partir da articulação de ações e de programas da

Fundação.

Quanto à consideração de uma possível ‘política pública global’, Alberto pensa ser

difícil uma classificação dessa forma. Acredita que seja melhor falar em diretrizes

globais, orientações globais ou participação como membro em fóruns ou

instâncias globais e, nesse sentido, a Fundación SES tem trabalho em várias

frentes nesse sentido, como, por exemplo, sua participação no Conselho Diretivo

da Campanha Mundial pela Educação.

FYA – Foundation for Young Australians │ Austrália23

FYA foi formada em 1999 através de uma parceria entre The Queen's Trust e a

Australian Youth Foundation, com os objetivos de proporcionar maior oportunidade

e acesso para os jovens desfavorecidos, e apoiar o desenvolvimento de liderança

de jovens australianos.

O contato inicial para a resposta ao questionário on-line foi Jan Owen, CEO da

Foundation for Young Australians. Entretanto, por questões de tempo e por

competência no assunto, o questionário foi respondido por Rhondah Whitaker,

diretora do Programa Young Social Pioneers, que está na organização há 3 anos

e meio.

Rhondah define a área de atividade da FYA como sendo a promoção de uma base

de repeito e oportunidade para as ideias e ações que os jovens australianos têm a

oferecer ao seu país. A organização visualiza uma geração conectada, confiante e

23

Informações e documentos obtidos pelo website http://www.fya.org.au e por meio de questionário on-line específico, em inglês, hospedado no serviço do website http://pt.surveymonkey.net.

137

otimista de jovens australianos, com um profundo senso de propósito e de

pertença.

Quanto aos objetivos estratégicos, Rhondah afirma que a FYA busca fortalecer e

capacitar os jovens, para que eles sejam estudantes bem-sucedidos e cidadãos

criativos, ativos e valorizados, por meio de pesquisas, iniciativas e parcerias,

combinadas com a paixão da juventude australiana.

A FYA estabelece parcerias nacionais e internacionais, para o fortalecimento dos

seus programas e do seu trabalho, bem como o alinhamento da visão e

habilidades que pretendem alcançar e desenvolver com os jovens. Para tanto, tais

parcerias envolvem aspectos relacionados ao empreendedorismo, a pesquisas, à

educação, a ações de “advocacy”, de cidadania global, de ações de

sustentabilidade e meio ambiente.

No que diz respeito às relações com governos para o desenvolvimento de ações

conjuntas, a FYA tem interfaces com os três níveis governamentais (local,

estadual e federal), tanto no suporte aos programas desenvolvidos, quanto nas

ações de “advocacy” e nos serviços de educação. Entretanto, a organização não

tem o estabelecimento de relações diretas com governos ou agências

governamentais de outros países.

Rhondah menciona que as iniciativas da organização, tais como as pesquisas e as

avaliações, têm contribuído progressivamente com as políticas em comunidades

para o desenvolvimento das capacidades e a participação na educação. Essas

iniciativas, complementa ela, têm desenvolvido e proporcionado programas

inovadores que estimulam o engajamento de jovens na aprendizagem, no acesso

aos canais de comunicação e de serviços e nas questões de equidade, assim

como na vinculação entre as escolas e as comunidades.

138

Um exemplo disso, destaca Rhondah, é o Programa WOW – Worlds of Work, que

está influenciando a transição da juventude, por meio de uma atenção da iniciativa

no foco de intervenção em políticas públicas, particularmente em Educação,

mobilização, “advocacy” e em pesquisas sobre as pessoas jovens. Também tem

sido observado que o governo federal australiano utiliza o relatório HYPAFF –

How Young People Are Faring, que é uma publicação anual da FYA, como uma

referência no trabalho governamental desenvolvido com os jovens.

Quando os atores têm uma estratégia sólida de alinhamento e seus objetivos são

congruentes, reforça Rhondah, existem condições ideais para que os projetos

desenvolvidos possam se consolidar em políticas públicas. Além disso, a FYA

trabalha na perspectiva de alinhamento com futuros influenciadores e atores

importantes de mudanças das políticas, pois há na Austrália várias organizações

de jovens lideranças com foco em importantes questões políticas e sociais.

Fundación Esquel │ Equador24

A Fundación Esquel foi fundada em 1990, com o propósito de se tornar um

instrumento dos equatorianos de descoberta e de desenvolvimento de suas

próprias capacidades, com vistas à melhoria de suas condições de vida, de suas

famílias e de suas comunidades.

Frente às políticas globais que eram implementadas naquele momento e que

afetavam consideravelmente o desenvolvimento dos países do Sul, com enorme

elevação dos índices de pobreza no Equador, a Esquel assumiu o compromisso

de lutar contra a pobreza e pelo fortalecimento da democracia.

A Esquel trabalha com três eixos de ações:

24

Informações e documentos obtidos pelo website http://www.esquel.org.ec e por meio de questionário on-line específico, em espanhol, hospedado no serviço do website http://pt.surveymonkey.net.

139

Fortalecimento dos Governos Autônomos Descentralizados, que visa

contribuir para melhorar a capacidade de gestão dos governos locais e das

organizações sociais locais;

Direitos, que busca fortalecer a população em sua capacidade de encontrar

oportunidades e alternativas que lhe permitam conhecer e defender os seus

direitos;

Seguridade Cidadã, que objetiva contribuir com a melhoria da seguridade

por meio da participação nos coletivos de atividades público-privadas em

nível local e nacional.

Em relação às parcerias internacionais para apoio aos seus projetos, a Esquel tem

mantido acordos com, por exemplo, a agência americana USAID, o Alto

Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR, a Organização

Internacional do Trabalho – OIT, diversas agências de cooperação internacional,

tais como Comunidad Autónoma de Madrid, Agencia Española de Cooperación

Internacional – AECI, dentre outras, além de um significativo número de fundações

e institutos vinculados ao mundo corporativo de iniciativas privadas.

Na resposta ao questionário on-line, a representação da Fundación Esquel

ocorreu por meio de Wendy Almeida, coordenadora de Planejamento,

Monitoramento e Avaliação, que está na organização há 5 anos.

Segundo define Wendy, a Esquel tem como área de atividade a contribuição ao

desenvolvimento humano sustentável do Equador, visando a melhoria da

qualidade de vida dos mais pobres para a construção de uma sociedade

democrática, responsável e solidária.

Além da intervenção para contribuir com a melhoria nas condições de vida, Wendy

ressalta também que os objetivos estratégicos da organização almejam viabilizar

apoio a iniciativas de pequenas empresas, o fortalecimento das capacidades para

140

enfrentamento dos desafios, a promoção da organização social no país e busca

de igualdade de oportunidades.

Para obter alcance e efetividade nesses objetivos, Esquel construiu uma atuação

estratégica de se articular com outras organizações da sociedade civil por meio de

redes internacionais. Participa ou já participou, por exemplo, da Liga Ibero-

Americana de Organizações da Sociedade Civil para Superação da Pobreza e

Exclusão Social, da Rede Democrática Ativa, da Rede de Especialistas em Gestão

Pública para Resultados do BID, CIVICUS, International Youth Foundation, das

redes globais de sociedade civil do Synergos Institute de Nova York, dentre

outras.

Dessa forma, de maneira intencional e com afirmação clara em suas estratégias

institucionais, Esquel é definida como uma organização que fundamenta suas

ações em lógica de redes, o que a coloca, segundo a convergência com seus

valores, no estabelecimento de parcerias com outros atores que atuam no campo

da democracia e do desenvolvimento para trabalhar conjuntamente na construção

de oportunidades de setores vulneráveis da sociedade equatoriana.

Por outro lado, essa articulação acaba por implicar necessariamente numa relação

direta também com o setor público, além do setor privado. Nessa esfera, a Esquel

mantém alinhamento de ações com as áreas governamentais equatorianas em

relação às políticas, aos planos e aos objetivos nacionais de desenvolvimento,

como também busca alinhamento e apoio com agências de desenvolvimento de

governos de outros países, tais como os Estados Unidos, a Finlândia, os Países

Baixos, a Alemanha e a Espanha, dentre outros.

Wendy afirma que existem exemplos claros em que alguns projetos da Esquel e

de outras organizações da sociedade civil influenciaram as políticas públicas do

Equador. Cita como referência um programa da Fundação chamado Fondo de

Justicia y Sociedad, realizado de 1998 a 2008, que, dentre as ações

141

implementadas, desenvolveu um projeto intitulado Modelo de Justicia de Cuenca.

Como uma experiência bem-sucedida de controle e transparência dos

procedimentos de Justiça, em 2007 a Corte Suprema de Justiça reconheceu esse

projeto como modelo e instituiu essa referência de operação de audiências para o

restante do país. Wendy também registra que uma grande parte das ações que

foram desenvolvidas no programa Fondo de Justicia y Sociedad serviu de

referência para a Constituição aprovada em 2008 no país.

Outra experiência que teve a participação de Esquel foi a criação da Coalición de

Organizaciones Civiles por El Acceso, em 2002, com vistas a construir garantias

de transparência na gestão de instituições públicas e das autoridades do poder

público. A atuação dessa iniciativa culminou na aprovação da Ley de Acceso, com

vistas a garantir um dos direitos fundamentais dos cidadãos, que é o acesso à

informação, no processo de construção de um sistema democrático.

Portanto, reforça Wendy, a incidência de ações e projetos para a definição de

políticas públicas é um dos eixos claros de atuação da Fundación Esquel, visando

alcançar metas de desenvolvimento que beneficiem os setores vulneráveis da

população equatoriana e de acordo com os horizontes de interesses definidos no

país. E é a partir desse compromisso que se estabelecem os alinhamentos com

atores nacionais e internacionais para a definição das relações de colaboração e

os consequentes acordos de cooperação.

Quanto às condições para gerar influências nas políticas públicas por meio do

desenvolvimento de projetos, Wendy menciona como fundamentais a participação

social, comunitária e organizada da sociedade. Para isso, as organizações da

sociedade civil têm tido um papel importante, pois são os elos para o trabalho

conjunto com as instâncias governamentais, contribuindo para que os objetivos se

efetivem.

142

É possível e provavelmente necessário, segundo Wendy, que se estabeleça o

alinhamento de políticas públicas globais, mas isso preferencialmente deve ser

estimulado entre países com realidades semelhantes, por meio de redes com

organizações e governos que busquem os mesmos objetivos. A identidade de

realidades para o alinhamento de políticas é fundamental para que se evitem

relações de sobreposição de poder e interesses de um país ou de um grupo de

países sobre outros, como ocorre historicamente com o Equador e países da

América do Sul, que se encontram submetidos a políticas globais promulgadas

pelo poder transnacional norte-americano ou supranacional da União Europeia.

Algumas dessas políticas não têm respostas, pois não são aplicáveis às

realidades locais.

Os Estados Nacionais, reflete Wendy, são os atores legítimos para um possível

estabelecimento de políticas públicas globais. Entretanto, o estabelecimento de

relações de poder dos Estados ocorre de forma assimétrica e, consequentemente,

essa assimetria de poder pesa no momento da definição de políticas públicas

prioritárias.

Por sua vez, os governos subnacionais são os verdadeiros interlocutores das

políticas com os cidadãos, de forma direta e efetiva, que podem fazer chegar os

mecanismos democráticos à vida das pessoas. Mas isso não significa por si que

seja realizado desta forma, porque se houver uma centralização nos processos de

organização, essas estruturas governamentais locais podem sofrer de certa

debilidade no cumprimento de suas funções na atenção direta a seus cidadãos.

Wendy procura chamar a atenção para o foco de organização da sociedade, o que

reporta indiretamente ao que ela já havia mencionado antes sobre a importância

da representatividade das organizações da sociedade civil na intermediação e

parceria com o Estado. Ela define que os sistemas políticos, sociais e culturais

sempre respondem a um jogo de interesses, de poder e de recursos, que acabam

por estabelecer relações de hegemonia de uns grupos sobre outros. A resultante

143

de como se estabelece esse jogo de interesses é que vai determinar o

desenvolvimento das relações cotidianas e da experiência de cidadania.

CIRD – Centro de Información y Recursos para El Desarrollo │ Paraguai25

O CIRD foi fundado em 1988 com a finalidade de apoiar as organizações da

sociedade civil, de forma que possam se constituir em protagonistas do

desenvolvimento do país, com a promoção da responsabilidade social e a

capacidade de incidir efetivamente no processo de tomada de decisão pública.

Os programas da organização são desenvolvidos com base na integração de três

elementos: informação verdadeira e oportuna; recursos humanos especializados;

agilidade e transparência na gestão de projetos.

A gestão de projetos do CIRD em apoio ou em conjunto com diversas instituições

públicas sempre busca proporcionar a participação da sociedade civil na

elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas, de forma a promover

mudanças positivas e sustentáveis para o país.

O atendimento ao convite de responder o questionário on-line foi feito pelo gerente

geral do CIRD, Álvaro Caballero Carrizosa, que está na organização há 20 anos.

Álvaro define como objetivos estratégicos da organização a contribuição ao

desenvolvimento democrático do Paraguai, mediante a coordenação oportuna de

recursos técnicos, humanos e financeiros e de informação. Isso ocorre por meio

da gestão de projetos de cooperação internacional nas áreas de saúde pública,

sociedade civil e democracia, comunicação para o desenvolvimento,

empreendedorismo e empregabilidade juvenil, serviços de apoio a pequenas

25

Informações e documentos obtidos pelo website http://www.cird.org.py e por meio de questionário on-line específico, em espanhol, hospedado no serviço do website http://pt.surveymonkey.net.

144

empresas, direitos humanos e memória, enquetes e pesquisas, dentre outras

atividades.

Na articulação com organizações de outros países e com redes internacionais,

Álvaro destaca a parceria com Partners of the Americas, dos Estados Unidos, e

participação no Comité Paraguay-Kansas, La Red Interamericana para La

Democracia – RID, Liga Iberoamericana de Organizaciones de La Sociedad Civil,

da qual são membros-fundadores, International Youth Foundation e a rede

internacional Organización Esplai, de Barcelona.

Quanto às principais razões que levaram a organização a estabelecer parcerias

com outras organizações internacionais, Álvaro justifica que buscam consolidar

alianças que possam atrair recursos para projetos no Paraguai, ao mesmo tempo

em que pretendem influir nas organizações de cooperação internacional.

Por outro lado, o foco de atuação efetiva dos projetos da organização tem sido

num trabalho muito próximo e conjunto com diversas áreas de governos no

Paraguai. Nesse sentido, Álvaro destaca a cooperação com o Ministério da Saúde

para a implementação de vários projetos, com o Ministério do Trabalho para a

formulação de políticas públicas para a empregabilidade, com o Poder Judiciário

para o fortalecimento da gestão de justiça, com a Auditoria Geral da Presidência

da República para o fortalecimento das capacidades de auditoria forense, com o

Ministério da Fazenda para fortalecer a capacidade do órgão em avaliação dos

projetos sociais, além de várias parcerias com governos departamentais ou

municipais para o fortalecimento de suas capacidades de gestão da saúde pública

e seus próprios desempenhos na gestão da administração pública. Também se

articulam com partidos políticos para a promoção de debates sobre as políticas

públicas.

Na relação da organização com outros governos no plano internacional, Álvaro

menciona a parceria com a U.S. Agency for International Development – USAID

145

para a implementação de projetos na área de democracia e saúde pública, com o

governo da Finlândia para o apoio a projetos de empregabilidade para jovens em

desvantagem social, com a União Europeia para a implementação de um Museu

Virtual da Memória e com o SEBRAE do governo brasileiro para a transferência de

soluções a pequenas empresas.

Não há dúvidas, segundo Álvaro, de que a atuação do CIRD tem exercido

influências positivas nas políticas públicas locais. Ele cita como exemplo o projeto

de descentralização dos serviços públicos de saúde, implementado pelo Centro,

que foi adotado como política pública nacional. Outra área importante foi de

projetos voltados para o sistema judiciário, tais como a criação de um tribunal ético

e medidas efetivas para a transparência da instituição pública, que foram adotados

nas reformas promovidas pelo Poder Judiciário. Com a Secretaria de Função

Pública a CIRD contribuiu para a instalação de um sistema de mensuração do

desempenho dos postos de direção na gestão de pessoas do governo. Em outra

área de atuação, as intervenções do Centro nas políticas do Ministério do

Trabalho conquistaram a aprovação de leis que facilitam a empregabilidade para

os jovens.

A influência positiva sobre as políticas públicas é permanentemente um dos

principais objetivos da CIRD, afirma Álvaro, sendo que o fato de serem

estabelecidos acordos e parcerias com outras organizações internacionais e

governos de outros países significa, de forma ‘óbvia’, que estas alianças confluem

para os mesmos objetivos.

Para que um projeto possa alcançar a agenda de políticas públicas e se tornar

uma solução adotada pelo governo em relação a certos problemas, são

necessárias duas condições, segundo Álvaro: que tal projeto tenha demonstrado

resultados e, ao mesmo tempo, tenha o explícito apoio da opinião pública. Esses

resultados devem obter uma dimensão significativa de efeitos dentro da realidade

do problema, para que possa provar o mérito de ser considerado como uma

146

solução. Por outro lado, o apoio da opinião pública é fundamental para que os

líderes políticos, como formuladores de políticas públicas, assumam uma posição

favorável a esse projeto como solução.

Evidentemente, destaca Álvaro, uma política somente pode se tornar ‘pública’

quando for adotada por governos. Nesse sentido, são os governos nacionais que

devem estabelecer tais políticas públicas, respeitando tradições,

institucionalizando costumes e também aprovando leis e processos

governamentais para a introdução dessa nova situação. Uma possível política

pública de alcance global é estabelecida entre governos nacionais, se e quando

consiga se constituir numa posição hegemônica, por tratado entre os países.

Para Álvaro, os governos subnacionais atuam nesse cenário em alianças, em

quantidade mínima necessária. Essa sua posição ou visão sobre as instâncias

subnacionais talvez esteja bem retratada na política de alianças da CIRD, cujas

menções a exemplos de parcerias e resultados do trabalho com o setor

governamental recaem com ênfase quase exclusiva nas relações com o nível

federal de governo do Paraguai, provavelmente por conjuntura política e de

organização do Estado específica daquele país.

Consuelo Foundation │ Filipinas26

Fundada em 1988, a Consuelo Foundation define-se pelo compromisso de

combater o abuso, a negligência e a exploração de crianças, mulheres e famílias

nas Filipinas e no Havaí.

Junto com seus parceiros, a Consuelo visa obter os seguintes objetivos:

26

Informações e documentos obtidos pelo website http://www.consuelo.org e por meio de questionário on-line específico, em inglês, hospedado no serviço do website http://pt.surveymonkey.net.

147

Reduzir a incidência de abuso, exploração e abandono de mulheres e

crianças na população beneficiária;

Promover a recuperação e reintegração de mulheres e crianças

sobreviventes de abuso, exploração e abandono;

Melhorar as condições de vida dessas mulheres e crianças e pessoas em

risco.

Promover a saúde reprodutiva e planejamento familiar.

Quanto ao seu círculo de alianças e parcerias, a Fundação classifica e articula-se

com um grande número de outras organizações, agências, fóruns e redes

internacionais, classificando-os em três grupos: alianças para “advocacy”, alianças

para recursos e alianças para ações de capacitação.

O presidente e CEO da Consuelo Foundation, Jon Matsuoka, foi o representante

da organização que respondeu o questionário on-line. Ele está na organização há

2 anos.

Jon descreve a área de atividade da organização como de suporte financeiro a

organizações sem fins lucrativos e não governamentais que atendam a crianças e

mulheres no Havaí e nas Filipinas, com foco principal em abuso e negligência às

crianças, bem como a capacitação e sustentabilidade de programas sociais.

Para isso, Consuelo Foundation atua por meio de seus objetivos estratégicos de

capacitar as organizações sociais, promover a sustentabilidade de comunidades,

disponibilizar empreendimentos para a atividade econômica, capacitar e estimular

o protagonismo de mulheres e crianças, reduzir os abusos físicos e sexuais,

promover a educação e a formação para o trabalho.

No desenvolvimento de seus programas, a Fundação estabelece parcerias de

suporte a 140 agências sociais nas Filipinas e 5 no Havaí. A efetivação direta das

ações com a população envolvida é realizada por meio desse conjunto de

148

parceiros. Por outro lado, a Consuelo estabelece relações de colaboração com as

organizações governamentais locais, para o fortalecimento e integração desses

projetos com as organizações parceiras.

Sobre as possíveis influências em políticas públicas, Jon relata que a Fundação

vem conquistando avanços nessa área, principalmente nas políticas de proteção

às crianças e nas questões de Justiça para os jovens. Ele menciona que a

organização lançou um programa que provocou mudanças na política pública, em

que as ‘crianças’ (sic) não poderão mais ser colocadas em prisões para adultos.

Além disso, Jon destaca que a organização é hoje um proponente importante de

políticas públicas para a saúde reprodutiva, o que tem gerado conflitos no

Congresso das Filipinas.

Portanto, influir em políticas públicas faz parte dos principais objetivos da

organização. E para que isso ocorra, Jon pensa que são importantes as alianças,

tanto no plano local quanto nacional, de forma que seja capaz de convencer os

líderes políticos das virtudes dos programas sociais, especialmente demonstrando

como isso pode se relacionar com uma aparência pública positiva para eles.

Jon considera que a Consuelo Foundation e pessoas de sua equipe se

constituíram em atores importantes na sociedade filipina, que vêm atuando com

êxito no campo de influências na formulação e reformas das políticas públicas.

Ao final, Jon diz nada saber sobre a possibilidade de estabelecimento de uma

política pública em âmbito global, como também se ausentou em responder

questões relacionadas ao papel dos Estados Nacionais e dos governos

subnacionais no estabelecimento de políticas públicas, sejam locais ou globais.

149

Considerações Finais

É relevante e considerável o número de instituições parceiras com a International

Youth Foundation, que resultam em 306 iniciativas conjuntas de ações,

programas, acordos e apoios em 96 países ou territórios. É também

impressionante verificar que a IYF, em 22 anos de existência, tem iniciativas

presentes em diversos continentes e regiões do mundo, envolvendo realidades

com todos os níveis de desenvolvimento humano.

Dos registros efetivamente realizados pela organização em seus programas com

parceiros, cerca de 4,1 milhões de jovens, crianças e educadores foram

envolvidos e apoiados diretamente pelas ações. Também onde se pode obter

registros, pois alguns programas não dimensionam seus resultados nesse

aspecto, há uma totalização de beneficiários indiretos que alcançam mais de 6,7

milhões de pessoas.

Se considerados os três eixos de programas que a IYF atua – aprendizagem,

empregabilidade e cidadania –, pode-se perceber que há de fato uma enorme

demanda e sintonia com essas questões em diversas partes do mundo, sendo

importante também levar em conta que o foco principal é em favor da juventude e,

por uma decorrência de princípios, alguns programas para crianças.

Vale um importante registro sobre as articulações da IYF com os seus parceiros

doadores, que promovem os financiamentos dessas ações. Conforme mencionado

na apresentação dos dados dos programas, mais da metade deles tem como um

dos importantes financiadores a agência americana USAID – U.S. Agency for

International Development, mas também estão envolvidas outras agências de

desenvolvimento regional e internacional, como o Banco Mundial e o BID. Além

disso, são inúmeros os parceiros corporativos e fundações, bem como os órgãos

dos governos locais.

150

Ao mesmo tempo, o presidente da IYF, William Reese, define que a organização

tem claros propósitos de influenciar positivamente as políticas públicas locais, ou

mesmo contribuir para o alinhamento de uma política pública global, em favor da

juventude de uma forma geral. Para isso, considera fundamental a atuação

conjunta e decisiva com os governos em todos os níveis dos poderes públicos dos

países. Quando não estabelece diretamente essas parcerias governamentais, em

muitos casos isso vem ocorrendo por meio das organizações parceiras nos

respectivos países.

Torna-se importante, nesse aspecto, retomar algumas referências teóricas já

mencionadas27 de Sassen. De fato a IYF é mencionada por seus parceiros como

uma das redes globais a qual eles pertencem, sendo esse um dos propósitos em

diversos de seus programas e ações. Ao ser analisado esse aspecto, vale

ressaltar a observação de Sassen (2010: 163) sobre o fortalecimento de redes

transfronteiriças, como facilitador das conexões entre atores políticos globais e da

articulação com instituições globais. Os atores locais podem estar envolvidos pela

motivação de questões locais, mas é o conjunto de articulações e de repetição de

ações semelhantes em cada localidade que vai configurar o caráter de distribuição

global. Dito de outra forma, “embora a rede seja global, os eventos que a

constituem são locais” (Sassen, 2010: 166).

Sobre a IYF considerar como fundamental, em última instância, o estabelecimento

de parcerias e atuação conjunta com os governos locais, reforça-se o que já havia

sido mencionado28 da visão de Sassen (2010: 30-31) sobre o papel do Estado no

atual estágio dos processos de globalização das relações. Trata-se, pois, não de

uma anulação ou sobreposição de seu papel por outros atores ou instâncias

globais, mas sim do reposicionamento e afirmação de seu papel enquanto

autoridade normativa, tanto no que diz respeito ao respectivo território, quanto aos

entendimentos para o ordenamento das relações transnacionais. Além disso, a

27

Conforme definições teóricas desenvolvidas no Capítulo II, item 2.1 desta tese. 28

Idem.

151

possibilidade de influência no processo de formulação de políticas públicas está

inserida num determinado contexto, mas a instituição de políticas públicas ocorre,

conforme tratado no Capítulo I desta tese, pelo ato formal de uma autoridade

governamental.

Aí merece aproximar então o foco de análise para as organizações que constituem

parcerias com a IYF e atuam diretamente nas realidades locais dos respectivos

países. A primeira dessas organizações observadas é a Fundación SES, da

Argentina. Nessa organização, está claramente apresentado o seu projeto político

de intervir e propor alternativas de soluções para as políticas públicas, não

somente no âmbito da Argentina como também numa estratégia de articulação

regional.

Há na SES um posicionamento institucional muito firme de participação em

diversos fóruns e redes internacionais, como uma linha de atuação que permita o

fortalecimento de suas iniciativas, o alinhamento dos propósitos com outras

importantes organizações regionais e o dimensionamento potencializado das

ações para que se obtenham os impactos em grande escala, para além das

fronteiras nacionais.

Essa atuação intensa da Fundación SES em fóruns e redes regionais e

internacionais tende a se configurar como um exemplo daquilo que Sassen (2010:

19)29 classifica por caráter multiescalar em diversos processos de globalização,

tratando-se aqui de um caso em que as questões, preocupações e soluções que

se expressam no âmbito local também estão inseridas em relações multiescalares.

Visto dessa ótica de análise, tal prática se enquadra em uma das duas formas de

interação escalar, definidas por Sassen (2010: 172)30, que visa envolver atores

globais (no caso da SES: Banco Mundial, BID, Unesco, OEA, OEI, diversas

29

Conforme definições teóricas desenvolvidas no Capítulo II, item 2.1 desta tese. 30

Conforme definições teóricas desenvolvidas no Capítulo II, item 2.2 desta tese.

152

agências de cooperação de outros países, dentre outros) para obter respaldo e

projeção às lutas localizadas, com possibilidade de descentralização expandida e

integração simultânea em localidades múltiplas.

Outra organização que está em sentido convergente e nessa mesma linha de

atuação é a Fundación Esquel, do Equador. Os propósitos da organização, de

forma semelhante à Fundación SES da Argentina, são também de articulações e

alinhamentos com as redes e os fóruns regionais e internacionais, com vistas à

influir positivamente nas políticas públicas locais.

Algumas das redes que a Esquel participa são também as mesmas que a

organização argentina analisada se articula. Porém, vale observar que a Esquel

tem um ponto inicial de referência com certa diferenciação de como se projeta a

SES, ainda que os objetivos gerais e os princípios políticos sejam coincidentes.

Wendy, coordenadora da Esquel, reporta-se a todo instante ao foco de suas ações

e intervenções no desenvolvimento da ‘sociedade equatoriana’, bem como nos

seus mecanismos de cidadania daquele país.

Nesse sentido, talvez se possa dizer que a SES tem uma visão e uma postura

mais cosmopolita, ao menos no que diz respeito à identidade e aos compromissos

regionais, da América Latina e Caribe, embora o campo das ações de seus

programas seja prioritariamente no território argentino. Já a Esquel se identifica

nos seus compromissos primários com questões do cotidiano equatoriano e, para

alcançar potencialidade e efetividade das ações, busca articulação e parcerias em

redes e acordos internacionais, com afinidade de propósitos.

Essa diferenciação no fundamento da relação entre o local e o global das duas

organizações, embora possa ser considerada como muito tênue, configura no

caso da Esquel o que se pode interpretar como a outra forma de interação escalar

definida Sassen (2010: 172), já anteriormente mencionada31. Vista sob a ótica

31

Conforme definições teóricas desenvolvidas no Capítulo II, item 2.2 desta tese.

153

dessa definição de Sassen, a Esquel entende que a localidade é a escala de luta

que busca engajar vários atores locais, mas com a inerente conexão com diversas

localidades ao redor do mundo, para o fortalecimento de seus objetivos.

No caso do Centro CIRD, do Paraguai, a configuração da organização se forma de

outra maneira distinta, com uma atuação muito focada e estrategicamente inserida

no campo de relações com órgãos governamentais daquele país. Mas note-se

que, embora mantenha também relações com níveis subnacionais de governos

para a implementação de ações, há um olhar e um direcionamento privilegiado de

atuação no âmbito do governo federal, para a possibilidade da influência recair

sobre políticas públicas mais universalizantes e estruturais na organização da

sociedade paraguaia.

Olhar a sociedade por um plano mais geral pode significar um reflexo da forma

como as instituições públicas, as relações políticas e sociais, a sociedade civil e as

organizações enxergam as prioridades para o Paraguai no seu contexto atual, ou

mesmo a forma como a estrutura do Estado e o fluxo de decisões estão

organizados naquele país. Mas também pode ser visto pelo espectro de uma

forma estratégica de atuação para obter maior intensidade nos impactos sobre as

políticas públicas.

Álvaro, gerente do CIRD, justifica suas alianças com organizações e governos de

outros países que estão alinhados com seus propósitos, como forma de obter

apoio, inclusive financeiro, e interagir com as agências de cooperação.

Evidentemente que o CIRD, dessa forma, também potencializa a dimensão de

suas ações e o respaldo institucional para fazer a interlocução no ambiente das

políticas públicas.

Nesse aspecto, parece ser procedente a observação de Mariano & Mariano (2005)

com base em vários autores, tratada no Capítulo II deste trabalho, de que há uma

remodelação do perfil do Estado, em seus diversos níveis, e de organizações não

154

governamentais que atuam com protagonismo em âmbito global, visando adaptar

as políticas domésticas aos contextos das demandas de uma realidade

internacional, ou buscando nesse ambiente global a conjunção de esforços e de

soluções para suas necessidades internas.

Em relação à situação nas Filipinas, com a Consuelo Foundation, a articulação

global toma um escopo com algumas diferenças quanto a esse último. Claro que a

configuração e expressão dessa organização têm uma correspondência direta

com o contexto, as realidades e os fatores determinantes para os países daquela

região.

Entretanto, há que se notar que a organização também tem como um dos

objetivos prioritários influir nas políticas públicas locais e, para tanto, busca o

suporte e o alinhamento com outras organizações e parceiros internacionais, seja

para a participação conjunta nas ações ou para a obtenção de alternativas de

soluções para os problemas locais, como é o caso de sua parceria com a IYF.

De forma ainda mais estruturante que nas demais situações estudadas, a

Consuelo atua como intermediador e porta de entrada para iniciativas e programas

que tenham como foco a proteção e o fortalecimento social de mulheres e

crianças, alimentando e mobilizando outras organizações e atores locais para a

execução das ações. Está na gênese de sua função como organização social,

portanto, ser um canal importante de relação entre as potencialidades de alianças

globais e o enfrentamento da realidade local.

Já a situação da organização da Austrália, a Foundation for Young Australians se

encontra numa realidade social cuja preocupação é com a cidadania e o

protagonismo juvenil, sem um foco exclusivo na condição socioeconômica

desfavorável, mas pela conquista de espaço adequado para a juventude e pela

formação e conscientização da própria população jovem sobre seu importante

papel na sociedade australiana.

155

A FYA aposta que alguns dos problemas e preocupações da sociedade global

atual poderão ser enfrentados de forma mais adequada e efetiva se os jovens

forem envolvidos e colocados como protagonistas das ações. Nesse âmbito se

destacam as preocupações, por exemplo, com as questões de mudanças

climáticas, com a sustentabilidade, com o meio ambiente, com hábitos saudáveis

e solidários, com a capacitação para os desafios contemporâneos, dentre outras,

o que reforça o foco de ações nas propostas de formação, de acesso aos canais

de comunicação disponíveis e de interlocução com os setores governamentais.

O sentido de alianças externas da FYA e de sua atuação em contextos globais

está no fortalecimento da instituição para os seus propósitos de intervenção nas

relações locais, como também no alinhamento com parceiros que estejam

sintonizados com essas mesmas preocupações e os mesmos objetivos. Dessa

forma, há muita identidade entre os propósitos da FYA e da IYF, sendo que as

iniciativas que se consagram nessa parceria estão contempladas principalmente

pelo eixo de cidadania.

É importante notar que fica muito evidente, em todas essas organizações

estudadas com atuação local, a busca fundamental de reforço à identidade e aos

propósitos institucionais que se expressam no alinhamento de ideias, de projetos e

de soluções com outros parceiros no âmbito global, como valor que se opõe a

qualquer prática de se lançar no mercado internacional meramente à ‘caça’ de

fontes de recursos financeiros, ainda que estes sejam reconhecidamente

necessários.

No que diz respeito aos aspectos de formulação das políticas públicas, no âmbito

dessas organizações consideradas, pode-se constatar que todas essas

instituições estão inseridas e são pertencentes às respectivas comunidades de

políticas públicas dos seus países; as chamadas policy communities na teoria de

Kingdon, mencionada anteriormente no Capítulo I deste estudo.

156

Mais ainda, todas essas organizações e seus respectivos gestores têm atuações

de disseminação de ideias e potencialização de soluções que, com base na

classificação de Kingdon, podem ser considerados como policy entrepreneurs

(empreendedores de políticas públicas). Na condição dos atores visíveis, eles

estão muito próximos e com interação permanente com alguns dos policy makers

(formuladores de políticas públicas, no sentido daqueles que prescrevem as

políticas).

Evidentemente, conforme a teoria de Kingdon, essa condição não lhes garante

automaticamente que seus projetos expressos como soluções para problemas

existentes na realidade local integrem as agendas governamentais e sejam

convertidos em políticas públicas. Por isso, trabalham nas gestões de

disseminação de ideias e buscam parceiros e apoios com atores visíveis e

invisíveis, tanto no âmbito local como também no global.

Reforça-se aqui a observação de que a IYF é um desses parceiros e que constitui

em torno de seus programas e ações uma rede global, que acaba também por se

consagrar numa policy community global, com o intercâmbio de ideias e soluções

para problemas semelhantes que se expressam, por decorrência, como questões

de âmbito global.

Então, se na teoria do Garbage Can os problemas estão lançados figurativamente

numa ‘lata de lixo’ esperando por soluções, essas organizações buscam

demonstrar aos governantes, a especialistas e à opinião pública em geral que eles

têm soluções comprovadas e bem-sucedidas que podem dar respostas

adequadas a alguns desses problemas. Se e quando alcançado esse intento pelos

policy entrepreneurs, tais organizações conquistam espaços significativos nas

agendas governamentais de políticas, convertendo essas iniciativas em fatores de

forte influência no processo de formulação de políticas públicas.

157

Nesse sentido, as policy communities globais, tal como a IYF, têm contribuído

como um laboratório de soluções ou, ao menos, para o alinhamento na

identificação de problemas prioritários e a definição de um conjunto de referências

para o enfrentamento deles no ambiente local, mas de forma integrada e

sincronizada com o ambiente global.

Quanto às janelas de oportunidades (policy windows) mencionadas na teoria de

Kingdon como sendo o momento favorável a efetivação de políticas públicas, não

há dúvidas de que isso ocorre com maior frequência e mais propriedade no âmbito

local, dentro das realidades específicas e dos tempos de cada país. Pois a

conjunção de fluxos (coupling) que caracteriza as policy windows, formada pela

oportunidade de convergência simultânea dos fluxos de problemas, soluções e da

política, tem maior incidência de efetivação nos contextos locais. Nesse sentido,

por mais que determinadas soluções estejam alinhadas e sincronizadas com as

policy communities globais, o papel desses atores locais e empreendedores de

políticas é fundamental para perceber e consagrar a oportunidade adequada

naquela realidade.

Já sobre o debate teórico de práticas neoliberais que promovem a privatização

das políticas públicas, não se pode afirmar por essas informações dos casos

descritos que essas organizações não governamentais estão sendo alvo ou que

sejam coniventes com uma situação desse tipo. Para esse enfoque e debate será

necessária outra pesquisa que se proponha à investigação de uma problemática

com tal abordagem, o que não é o caso deste estudo.

Por outro lado, deve-se observar que, de acordo os dados apresentados e com as

teorias de formulação de políticas públicas mencionadas, todas as organizações

abordadas nesta pesquisa têm como um de seus objetivos principais a influência

na agenda de políticas públicas, constituindo-se como integrantes das policy

communities e como importantes agentes classificados em policy entrepreneurs, e

não como simples executores de políticas em substituição ao serviço público do

158

Estado. Ao contrário disso, conforme foi visto, esses atores têm buscado

resultados para que seus projetos e ações possam se constituir em soluções de

referência para determinados problemas sociais, de forma que sejam percebidos e

acolhidos na agenda dos policy makers, saindo assim de suas esferas de atuação

e autoria para ganhar escala como políticas públicas em âmbito governamental.

Com base no suporte teórico considerado, nas informações e observações

recolhidas das situações selecionadas para este estudo e nas análises formuladas

entre esses dois conjuntos, podem ser verificadas as seguintes conclusões e

recomendações:

Há uma intensificação nas relações de caráter global, seja por mecanismos

instituídos e buscados por instâncias governamentais subnacionais ou pela

frequente necessidade de articulação das organizações não

governamentais.

No caso de organizações não governamentais com foco em projetos e

políticas sociais para juventude com expressão nos seus respectivos

países, existe uma tendência de que seus propósitos institucionais e seus

objetivos estratégicos definam claramente a intencionalidade de

influenciarem a formulação de políticas públicas locais.

A implementação dos programas, projetos ou ações dessas organizações

tem uma perspectiva inerente para alcançarem resultados de sucesso com

grande impacto e visibilidade social, de forma que possam se tornar

referências privilegiadas de soluções para problemas percebidos em suas

respectivas realidades.

Para que possam construir e consolidar tais resultados de sucesso, as

organizações buscam sistematicamente e de forma ampliada as parcerias

com outras organizações que atuam em âmbito global ou os acordos com

agências de cooperação e governos de outros países, bem como podem se

articular em diversas redes globais.

Essas parcerias, acordos e participações nas redes globais são motivados

não somente por interesses de apoio financeiro às suas ações, mas

159

também e prioritariamente, ao menos nos casos estudados, na busca de

fortalecimento institucional, de compartilhamento de experiências, de

suporte técnico, de visibilidade das iniciativas, de alinhamento de propostas

e de articulação de estratégias nos objetivos comuns e realidades

semelhantes.

Embora não se possa caracterizar o estabelecimento de uma política global

em todos os momentos e relações desses ambientes de articulações

globais, por outro lado pode-se afirmar que o alinhamento de identidades,

de estratégias e de soluções de diversas iniciativas locais que são

desencadeadas concomitantemente em vários países e localidades

distintas acaba por configurar uma realidade global e a existência de

comunidades globais de políticas públicas.

Essas relações multiescalares dos atores locais com os ambientes e atores

globais não se contrapõem nem transcendem, por princípio, a função e o

papel dos Estados-Nação, buscando, em última instância, a interação e a

interlocução com as instâncias governamentais dos seus respectivos

países para conquistarem a efetivação de seus projetos como políticas

públicas.

A prática ou a necessidade dos atores locais de articulação com parceiros

globais para a efetivação e fortalecimento de suas ações, não é um atributo

específico das organizações de determinados países que possuem baixos

níveis de desenvolvimento e de atendimento às necessidades

socioeconômicas das sociedades, pois vem ocorrendo em todas as

realidades e em todos os ambientes com diferentes níveis de

desenvolvimento humano, desde os classificados como IDH ‘baixo’ até os

consagrados como ‘muito alto’.

Dessa forma, torna-se constatada, ainda que de forma relativa e inserida

exclusivamente na abrangência deste estudo, a ratificação da hipótese

inicial com certa correção no posicionamento de alguns termos, para a

seguinte afirmação: pode-se dizer que tem havido situações de

alinhamentos globais de políticas para a juventude, principalmente nas

160

relações que se baseiam em identidades de valores, de realidades e de

objetivos semelhantes, o que pode resultar em articulações, acordos e

parcerias internacionais, com certa expectativa por parte desses atores de

que tais ações, projetos e programas possam impactar as políticas públicas

locais.

Recomenda-se, a outros estudos acadêmicos que desejem aprofundar

esse foco de pesquisa científica, que sejam ainda investigadas outras

possíveis áreas de políticas públicas que também tenham recebido ações

de influências por articulações de atores em âmbito global, ou ainda que

possam ser levantadas outras organizações de atuação global que tenham

obtido um espectro mais abrangente de políticas públicas e de parceiros

locais.

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Anexo I

Questionários da pesquisa on-line

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Anexo II

Cópias dos questionários on-line respondidos