Forum Jornalismo e Sociedade de 26 Abril 2012 em Portalegre - Ângela Mendes

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  • 8/2/2019 Forum Jornalismo e Sociedade de 26 Abril 2012 em Portalegre - ngela Mendes

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    Interveno no Frum Jornalismo e Sociedade

    Escola Superior de Educao de Portalegre

    26 de Abril de 2012

    Painel: "Que princpios e valores essenciais devem ser preservados no "NextJournalism"?

    Novos modelos de negcio para o Jornalismo Online

    Mesa: Nicolau Santos (Expresso) e ngela Mendes (Revista Pormenores)

    Sabemos que os media enfrentam nos tempos que correm grandes desafios, e um dosmaiores ser encontrar um modelo de negcio online que garanta a sua sustentabilidadeenquanto estruturas empresariais.

    Mas este no um momento imprevisto: desde o aparecimento da Internet e daexpanso do seu uso a nvel particular, nos anos 90, que a indstria pressentia amudana.

    A recesso que teve incio em 2008 apenas acelerou um processo que j se haviainiciado, segundo autores como Philipe Mayer, nos anos 70, com a queda progressiva

    da venda de jornais em banca.Embora as dificuldades se encontrem um pouco por todos os media, a imprensa pareceser o meio que mais dificuldades tm tido a adaptar-se s novas plataformas online.

    Gustavo Cardoso afirma que estamos a viver um momento de ruptura.

    A par das dificuldades ligadas adaptao a uma nova linguagem, s metodologias detrabalho impostas pelo aparecimento de novas plataformas, surgem tambm questesticas, com as quais ainda estamos a lidar.

    A imprensa ainda afectada pela falncia do seu modelo de negcio, modelo esse quefuncionou ao longo de dcadas e moldou o sector.

    Um modelo que no linear. A maioria dos negcios oferecem um produto ou umservio e o pblico escolhe comprar ou no. Mas o jornalismo tem sido pagomaioritariamente por meios indirectos.

    Os jornais produzem notcias que vendem em banca aos seus leitores, que as comprampor um preo simblico, providenciando aos jornais a moeda de troca que os jornaisapresentam aos seus anunciantes, os verdadeiros investidores.

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    O modelo funcionou durante dcadas, atravessou toda a Era Industrial, sendo o jornalem si, enquanto produto manufacturado, um produto acabado dessa mesma Era.

    medida que entramos na Era Digital, este produto comea a tornar-se obsoleto. Assimcomo o modelo de negcio que o sustm.

    As companhias que detm jornais tm sofrido daquilo a que Theodore Levitt chamou deMarketing Miopia, no percebendo que o seu negcio deveria ser baseado em notcias,contedos, informao e no na venda de jornais em banca.

    Sabemos hoje que dois dos elementos do tringulo do modelo de negcio da imprensaesto a mudar de comportamento.

    Por um lado, os consumidores mostram-se relutantes em pagar por contedo online, poroutro, os anunciantes encontraram na internet outras plataformas mais apetecveis para

    passarem a sua mensagem.Com a queda expressiva da venda em banca nos ltimos anos e com o mercadopublicitrio em baixa e procura de meios alternativos, os media encontram-se emdificuldades.

    Acelerados pela crise, muitos comearam a apostar mais nas suas plataformas online,embora estas no sejam ainda sustentveis.

    Tradicionalmente, os contedos online tm sido oferecidos de forma gratuita.

    Por um lado, aquando do aparecimento da internet, este era um mundo novo, quelevantava muitas dvidas, mas quase todos perceberam rapidamente que l deveriamestar. Inicialmente com verses decalcadas do contedo impresso e sem pretenso aolucro.

    Por outro lado, a informao na internet abundante e fcil de encontrar, logo o seuvalor muito baixo.

    H tambm uma percepo generalizada de que h falta de qualidade nos contedos,que so geralmente resultado daquilo a que se chama shovelware, cpias integrais de

    artigos impressos e sem recurso a elementos multimdia.Ainda assim, comearam a surgir modelos de negcio que imputam os custos deproduo das notcias ao consumidor.

    o caso do New York Times, com a sua paywall porosa, ou do Pblico em Portugal,que disponibiliza j um espao reservado a assinantes.

    O aparecimento dos smartphones e de Tablets significou novas aplicaes e novasesperanas para o sector.

    No , no entanto, ainda claro qual o modelo que melhor se aplica a uma imprensa livree independente de poderes polticos e principalmente de poderes econmicos.

  • 8/2/2019 Forum Jornalismo e Sociedade de 26 Abril 2012 em Portalegre - ngela Mendes

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    As hipteses avanadas tm sido muitas: O modelo Freemium, a paywall total, ocrowdfunding, os micropagamentos, o mecenato, a venda de aplicaes paradispositivos mveis, a rplica de antigos modelos baseados na publicidade, ou umamistura de todos eles, num modelo 360, como defende Joo Canavilhas.

    Um breve apontamento sobre a imprensa regional:

    Porque este modelo de negcio foi tambm verdade para os jornais regionais,

    nomeadamente para os de regies como a nossa.

    E em regies com to poucos recursos como a nossa, este modelo , a meu ver,

    comprometedor da tica, da liberdade de imprensa e at mesmo da obrigao do

    jornalismo para com a verdade.

    Com um tecido empresarial pobre e muito afectado pela crise econmica, e com um

    nmero de leitores demasiado frgil para interessar a anunciantes de dimenso nacional,

    os jornais regionais vem-se muitas vezes dependentes daquilo a que chamamos

    publicidade institucional.

    Os editais dos municpios, os cartazes das festas da terra, os comunicados do tribunal,

    etc.

    Esta relao de dependncia to directa com as instituies de poder, que deveriamvigiar, impede muitas vezes os rgos regionais de fazerem de forma livre e consciente

    o seu trabalho.

    Qual foi a ltima grande polmica colocada a nu por um jornal regional? O ltimo caso

    de corrupo? A ltima investigao de fundo e realmente incmoda feita pelos meios

    regionais?

    Quando avaliamos as pginas dos nossos semanrios vemos realmente coisas

    relevantes?Sentimos que cumprem o seu papel de "watchdog" da nossa sociedade?

    Muitas vezes perguntado a jornalistas se so alvo de presses externas. Na sua maioria

    a resposta taxativamente no. E provavelmente nunca o foram.

    Porque a dependncia de um modelo de negcio ultrapassado mais subtil, provocando

    antes a autocensura, os meios regionais limitam-se a si mesmos por motivos

    econmicos, optando por no entrarem em terrenos pantanosos, no melindrar

    instituies, deixando que os blogues e os annimos peguem em factos mais

    incmodos.

  • 8/2/2019 Forum Jornalismo e Sociedade de 26 Abril 2012 em Portalegre - ngela Mendes

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    A dependncia da publicidade ento o primeiro ponto a ser superado, na procura de

    novos modelos de negcio para os media, em particular para a imprensa regional.

    Dividimo-nos ainda sobre se a filosofia de gratuitidade se deve manter ou se osleitores/consumidores devem assumir o custo da produo da informao que recebem.

    Mas concordamos todos que os media esto a mudar, que no futuro a maneira como sedefinem os meios, as plataformas em que teremos acesso aos contedos e os prprioscontedos, sero diferentes.

    No entanto, o bom jornalismo tem conseguido sobreviver s alteraes do tempo, aosurgimento de novas tecnologias e a internet dever ser apenas mais uma dessas etapas.

    Vivemos uma realidade complexa e o jornalismo sofre presses de vrios sectores;saber como se iro financiar as empresas jornalsticas essencial para preparar o futuro

    e definir a profisso.S tendo a capacidade de ser sustentvel e independente, a imprensa poder cumprir asua obrigao para com a verdade e manter-se leal nica e exclusivamente aos seusleitores.

    ngela Mendes

    [email protected]

    www.jornalismocomunicaoecultura.blogspot.com