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1 Um fascínio intemporal… Desde pequenino que sou completamente fascinado por trovoadas! Na verdade, uma das minhas primeiras memórias, é de com apenas 4 anos, estar colado á janela, encantado, a ver os raios e a arrepiar-me com o poder do som dos trovões. Esse fascínio foi perdurando, e uns anos depois, quando chegou o dia de ter carta de condução e um carro para viajar, o meu primeiro pensamento foi… "Que bom, já posso ir atrás das minhas trovoadas!!". Da mesma forma que, passado algum tempo, quando finalmente tive condições para ter um computador com internet, a primeira coisa que me veio á cabeça foi, imagine-se..."Que bom, já posso ir á procura de mapas do tempo, sem ter de andar a cuscar os que vêm nos jornais!!!". O meu primeiro contacto com a fotografia de uma forma mais técnica foi no ano de 1996, quando consegui juntar 20 mil escudos e comprei a minha primeira SLR. Era uma câmara russa de 35mm, a Zenit 122K, toda manual, obturador de cortina e objectiva fixa de 50mm. Enquanto me aventurava a tirar fotografias a flores, bonitas paisagens e (claro está!) nuvens, estava longe de ambicionar fotografar raios, até porque as revelações eram caras e apanhar um raio em foto parecia-me uma missão quase impossível. Com o advento da fotografia digital, e após um longo hiato na minha vida a nível fotográfico, comprei uma muito económica DSLR Nikon D40, e numa certa noite, a 29 de abril de 2011, enquanto apreciava uma bela (e muito rara…) trovoada desde a minha janela, a certa altura pensei..."Porque não tentar?!". E assim, nessa noite, consegui obter as minhas primeiras fotografias de raios! Fotografar raios de noite

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Um fascínio intemporal…

Desde pequenino que sou completamente fascinado por trovoadas! Na verdade, uma das minhas primeiras memórias, é de com apenas 4 anos, estar colado á janela, encantado, a ver os raios e a arrepiar-me com o poder do som dos trovões. Esse fascínio foi perdurando, e uns anos depois, quando chegou o dia de ter carta de condução e um carro para viajar, o meu primeiro pensamento foi… "Que bom, já posso ir atrás das minhas trovoadas!!". Da mesma forma que, passado algum tempo, quando finalmente tive condições para ter um computador com internet, a primeira coisa que me veio á cabeça foi, imagine-se..."Que bom, já posso ir á procura de mapas do tempo, sem ter de andar a cuscar os que vêm nos jornais!!!".

O meu primeiro contacto com a fotografia de uma forma mais técnica foi no ano de 1996, quando consegui juntar 20 mil escudos e comprei a minha primeira SLR. Era uma câmara russa de 35mm, a Zenit 122K, toda manual, obturador de cortina e objectiva fixa de 50mm. Enquanto me aventurava a tirar fotografias a flores, bonitas paisagens e (claro está!) nuvens, estava longe de ambicionar fotografar raios, até porque as revelações eram caras e apanhar um raio em foto parecia-me uma missão quase impossível. Com o advento da fotografia digital, e após um longo hiato na minha vida a nível fotográfico, comprei uma muito económica DSLR Nikon D40, e numa certa noite, a 29 de abril de 2011, enquanto apreciava uma bela (e muito rara…) trovoada desde a minha janela, a certa altura pensei..."Porque não tentar?!". E assim, nessa noite, consegui obter as minhas primeiras fotografias de raios!

Fotografar raios de noite

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O resultado foi melhor do que eu esperava, confesso... e a ideia de poder eternizar e apreciar aquele momento mágico que acontece numa fracção de segundo e que é irrepetível, foi algo que me encantou e foi sentido por mim como a realização de um sonho….

Depois de alguns anos em que pontualmente fui obtendo boas fotos e apurando a pouco e pouco a minha técnica neste tipo registo, em 2016 comprei a minha actual câmara Nikon D7200 e juntei-lhe uma objectiva Sigma 17-70mm. Foi a partir dessa altura que comecei a pensar na fotografia de raios de uma forma um pouco mais séria e dedicada!

Este documento que agora resolvi criar não é mais do que uma partilha de conhecimentos e métodos que fui aprendendo, criando e desenvolvendo ao longo destes últimos anos, de uma forma não apenas técnica, mas também muito apaixonada por este tipo de eventos que me encantam desde sempre. Espero também que seja uma forma de motivação e uma fonte de inspiração a quem quer captar fotos de raios, seja pela adrenalina do ‘stormchasing’/’stormwaiting’, seja pelo gosto por meteorologia, pela aventura, por uma nova experiência fotográfica…. ou então (e á semelhança do que acontece comigo), tudo isso e uma enorme paixão por trovoadas!

Miradouro de São Cristóvão – Serra de Montemuro, Resende (28/agosto/2018)

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Equipamento de referência • Câmara Fotográfica Digital NIKON D7200 • Objectiva SIGMA 17-70mm f2.8-4 DC Macro OS HSM • Comando disparador infravermelhos NIKON ML-L3

Optimizar parâmetros

1. Abertura do diafragma (‘f’)

Para este tipo de registo, e tomando em conta as características da objectiva SIGMA, constatei que as aberturas ideais para os seguintes intervalos de zoom são;

Aberturas com ‘f’ superior a 14 não são recomendáveis devido a; Elevada difracção, que retira nitidez geral á fotografia e aumenta o

efeito ‘estrela’ nos pontos mais luminosos, no qual se inclui o próprio raio.

A evidência de partículas ou manchas de sujidade que eventualmente o sensor possa ter, problema muito comum nas câmaras DSLR’s.

Aberturas com ‘f’ inferior a 6.3 não são recomendáveis devido a;

Alguma redução da nitidez da foto, que se reflete essencialmente

nos cantos/partes laterais da fotografia. Menor tolerância a eventuais erros de focagem (ainda que

ligeiros), devido ao reduzido campo de profundidade.

70 – 50mm

f6.3 a f9

50 – 35mm

f9 a f11

35 – 17mm

f11 a f14

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2. Velocidade de Obturação

Normalmente, e em condições normais, a velocidade de obturação ideal para fotografar raios deverá situar-se entre os 5 e os 15 segundos. Esta velocidade pode ser predefinida na câmara, ou definida manualmente em modo ‘bulb’ (o que permite maior flexibilidade no resultado final que se pretende na foto obtida). No caso de existir demasiada luminosidade, potenciada por ambientes citadinos, e conjugada por vezes com nebulosidade baixa e/ou cortinas de chuva, o tempo de exposição deverá ser menor sempre que for possível (abaixo dos 10 segundos). Em zonas de escuridão quase total, sem focos de luz relevantes e longe de povoações, a exposição poderá eventualmente ser superior a 15 segundos. De referir também que, quanto mais longa a exposição, mais hipóteses temos de captar um maior número raios num único disparo. No entanto, em algumas situações em que existam formações nebulosas com formas bem definidas e que estão em rápido desenvolvimento e/ou deslocamento, há o risco de obtermos uma foto em que podem aparecer ‘contornos fantasma’, devido ao facto de as nuvens terem sido iluminadas pela luz do raio mais que uma vez quando já estavam em posições diferentes, que pessoalmente é algo que me desagrada ver numa fotografia. Maior tempo de exposição também pode resultar num maior nível de ruído/grão. Há que ter em atenção que a obturação deve ser feita com um disparador (com ou sem fio), e com a câmara perfeitamente estabilizada. Caso não haja disparador, deve-se usar o auto-temporizador da câmara com o menor tempo possível (no caso da D7200 é de 2 segundos) e pré-definir o tempo de exposição na câmara.

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3. Sensibilidade (ISO)

O valor ISO deverá ser o mínimo possível em situações de raios bem visíveis e relativamente próximos (no caso da D7200 o mínimo é ISO 100), e superior até um máximo de ISO 400 quando os raios forem mais ténues ou estiverem muito distantes. Valores mais elevados de ISO podem causar demasiado ruído/grão nas fotos (com intensidade variável dependendo do modelo/gama da câmara), bem como a sobre-exposição da fotografia se eventualmente ocorrer algum raio mais luminoso e a abertura do diafragma foi muito elevada (‘f’’ baixo). A variação do valor ISO também poderá influenciar o tempo ideal de exposição, de acordo com as condições existentes em termos de luminosidade da própria atmosfera.

4. Foco

Depois de parametrizar a câmara para AF de foco simples (uma caixa de foco), definir o zoom pretendido e focar em automático (AF) um motivo que esteja longe, mas bem definido e iluminado. De seguida estabilizar a máquina na posição pretendida e só depois mudar o selector (na câmara ou na objectiva) para foco manual (MF). De cada vez que for necessário ajustar o zoom, este procedimento deve ser repetido.

5. Balanço de Brancos/Temperatura de cor

Pessoalmente, gosto de definir manualmente os valores de temperatura de cor entre os 3000k e 3600k, consoante as condições de luminosidade do céu, sendo que, dentro destes parâmetros, deverá ser selecionado um valor mais baixo em zonas citadinas com atmosfera ‘alaranjada’, e mais alto em locais isolados e sem iluminação em que o céu se apresente mais escuro.

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6. Flash

Sempre desligado.

7. Formatos de ficheiro de imagem

Fotografar sempre em RAW, por ser um formato muito mais flexível na edição de imagem. Pessoalmente gosto de fotografar em RAW + JPEG Fine.

Observações:

• Atenção que os valores que recomendo de abertura, velocidade de obturação, sensibilidade ISO e balanço de brancos, são válidos apenas para situações de noite completa! Durante o crepúsculo estes valores podem ser bastante diferentes. Para fotografar raios durante o dia serão necessários e/ou aconselháveis outros acessórios, tais como; filtros ND de diferentes ‘f/stops’, ou em alternativa um ‘trigger’ para obturação.

• Á semelhança do que acontece com a minha SIGMA 17-70mm, caso haja na objectiva um selector para estabilização de imagem, este deverá estar sempre na posição de desligado.

Software de edição de imagem

Quando fotografamos num formato RAW (ficheiro com extensão ‘NEF’ no caso da NIKON), o que obtemos não é propriamente uma imagem, mas sim um ficheiro de dados, que terá de ser revelado e tratado com um software de edição de imagem compatível. Só deste modo podemos tirar o máximo partido dos ajustes que o ficheiro RAW permite, e corrigir alguns parâmetros (por exemplo; exposição, balanço de brancos, ruido, etc…), algo que o ficheiro JPEG original não permite com a mesma eficácia, por ser já uma imagem (ou formato) previamente processada pela câmara.

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No tratamento das minhas fotos, o software que eu uso é o Adobe Camera RAW (que é um plugin incluído no Adobe Photoshop).

Para quem gosta de trabalhar com catálogos, aconselho o Adobe Lightroom, que em termos de edição de imagem é muito similar ao Adobe Camera RAW.

Apoiar/estabilizar a câmara Ao contrário do que seria expectável, para este tipo de fotografia não

utilizo tripés fotográficos convencionais. Acontece que, por muito bom que um tripé com estas características seja, devido ao facto de a máquina ter apenas um ponto de apoio/fixação, podem ocorrer vibrações indesejáveis causadas pelo vento forte que frequentemente acompanha uma situação de trovoada, que se vão refletir na nitidez das fotografias obtidas, em especial quando usamos objetivas mais volumosas e/ou extensas e com valores de zoom mais elevados. Na verdade, e em tempos passados, já tive alguns dissabores devido ás vibrações causadas no tripé pelo vento. Por vezes basta uma pequena deslocação pontual, causada por uma rajada um pouco mais forte, para que a fotografia fique com menos detalhe…

A forma que eu encontrei para minimizar este problema e garantir o máximo de nitidez nas fotos, foi construindo (ou adaptando) equipamentos específicos que sejam imunes ao vento e que sirvam de base para pousar a máquina, ou então simplesmente usar alguma estrutura sólida existente no local onde queremos capturar os raios (por exemplo um vértice geodésico, um muro ou muralha de um miradouro ou castelo, uma rocha um pouco mais elevada, etc...). Para orientar e dar o ângulo pretendido á câmara, uso sempre a técnica do saco de arroz, que é uma superfície moldável e bastante estável.

Nas secções seguintes é possível ver alguns dos equipamentos que construí e/ou adaptei para servir de base á minha máquina e poder fotografar sem grandes sobressaltos….

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01. Mesa retangular com 4 niveladores e sistema de aperto

Esta foi a 1ª mesa que construí de raiz, completamente improvisada, pensada para tornar bastante mais fácil a captura de raios a partir da minha janela do quarto, da cozinha e da varanda.

Como se pode ver nas imagens anteriores, os niveladores da mesa permitem-me fazer uma ponte estável por cima da calha de alumínio das janelas, o que

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torna a captura bastante mais confortável. Por outro lado (ver imagens seguintes), o sistema de aperto que adaptei também se torna muito útil, sendo possível assim usar o muro exterior da varanda e alargar o meu ângulo de visão no horizonte. Também enrosquei 6 pequenos camarões nas partes laterais, que são uteis para prender a máquina a uma espécie de arnês de segurança, até porque uma altura de 7 andares já impõe algum respeito…

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02. Mesa redonda com 3 pés fixos de 10 cm

Esta é uma mesa bastante simples, muito fácil de construir, que pode ser usada nas mais diversas situações, até mesmo no chão.

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03. Mesa redonda com 9 roscas para niveladores

Esta mesa projectada por mim (e que faz lembrar um bolo de chocolate), foi pensada para ser versátil e se adaptar ás mais diversas situações. As roscas embutidas permitem-me adaptar niveladores e pés com rosca de várias medidas e altura variáveis, consoante o local onde a mesa é colocada.

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04. Base redonda com 3 apoios fixos

Não é mais que um pequeno tampo redondo com 3 apoios fixos, ideal para usar em muros nivelados ou topos de vértices geodésicos do tipo bolembreano, de forma a tornar a captura mais confortável.

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05. Tripés topográficos adaptados

Um certo dia, ao sair do trabalho, reparei que alguém andava a fazer medições topográficas na rua mesmo em frente. Ao olhar com mais atenção, concluí que o tripé que estava a ser usado nessa tarefa tinha efectivamente um aspecto muito sólido e robusto, e foi com um brilhozinho nos olhos que eu pensei…. “É mesmo disto que eu preciso!!”.

Resumindo…. nas situações em que nenhum dos equipamentos anteriormente apresentados seja viável, utilizo como solução de recurso um destes 2 tripés topográficos (um de alumínio e outro de madeira e fibra), representados nas fotos abaixo, aos quais montei um sistema simples de rosca que me permite a rápida adaptação de um tampo em madeira com cerca de 30 cm de diâmetro. Estes tripés oferecem mais garantias de estabilidade que um tripé fotográfico (e há modelos simples a partir de 60€).

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Pormenor do sistema de rosca que eu improvisei, para fixar os tampos de 30 cm de diâmetro ao tripé com bastante rapidez...

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Escolher um bom local para fotografar Quando saímos de casa com o objectivo de fotografar raios, temos de ter noção que o local ideal para captar boas e numerosas fotos deverá ter uma vista de 360º, sem grandes obstáculos físicos por perto (a menos que queiramos algo mais artístico, com enquadramentos ou motivos fotográficos muitos específicos), e com o mínimo de luminosidade possível nas proximidades; por exemplo candeeiros de iluminação publica ou estradas movimentadas, para que possamos obter registos ‘limpos’ não só dos raios, como também dos sistemas nebulosos que os geram. Fotografar por cima de copas de árvores que estejam por perto e que abanem muito com o vento (eucaliptos, por exemplo), vai criar um efeito de arrastamento que eu pessoalmente não aprecio. Também é recomendável escolher locais seguros em duas perspectivas completamente diferentes; por um lado (e especialmente se estivermos sozinhos), devemos ter em mente que o facto de termos em nossa posse equipamento caro em locais isolados, pode ser um chamariz para os amigos do alheio! Há locais muito bons para fotografar, mas que sinceramente eu não arrisco ir, porque não me sinto suficientemente seguro…. Por outro lado (e não menos importante!), fotografar raios torna-se uma actividade de risco a partir do momento em que a trovoada se aproxima de nós, por isso convém escolher um local onde haja uma estrutura com um para-raios próximo da nossa posição, ou então algum tipo de abrigo que ofereça um mínimo de protecção. Caso não haja um abrigo, ir para dentro do carro com os vidros fechados é sempre uma opção segura. Uma medida de segurança que devemos adotar quando a trovoada está a ficar mais próxima, e tendo em conta a grande imprevisibilidade do local onde o próximo raio possa ocorrer, é manter os pés juntos, de modo a reduzir substancialmente a tensão de passo, na eventualidade de uma descarga eléctrica atingir um ponto próximo da nossa posição. Também é aconselhável o calçado ser de sola de borracha grossa, para que nos isole um pouco mais do solo. Atenção que o uso de tripés com pés metálicos (seja de que tipo for) pode potenciar o risco de sermos atingidos por uma descarga eléctrica! No meu caso, se tiver de usar um dos meus tripés, dou preferência ao que tem pés em fibra e madeira por ser menos condutor da corrente. Nunca esquecer que um raio procura sempre uma ligação á terra, e não convém nada que sejamos o seu melhor caminho….

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De modo a ter a vida mais facilitada na altura de escolher um bom local para fotografar, e valendo-me do facto de ser desde há muitos anos um viajante de natureza neste nosso belo país, e de conhecer bem as serras e algumas zonas mais recônditas, elaborei um mapa de ‘spots’ no ‘MyMaps’ (Google), que está numa fase preliminar de edição/adição, mas que tem sido muito útil na escolha dos locais onde fotografo.

Quando o mapa estiver mais completo, terei todo o gosto em compartilhá-lo!

Para já, o aspecto vai sendo este….

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Outros acessórios Há pormenores que podem fazer a diferença, e estar munido de alguns acessórios (por muito inusitados que sejam), pode ser uma mais valia quando saímos para fotografar raios…. e um deles é, por exemplo, uma simples tesoura de poda, que numa das minhas saídas á Serra da Carvalha, perto de Arruda dos Vinhos (a 20 e 21 de junho de 2018), foi de primordial importância para que conseguisse fotografar sem que as enormes ervas primaveris que entretanto lá tinham crescido me perturbassem a vista! Foram uns valentes 20 minutos de poda, coroados com uma noite/madrugada de trovoada e belas fotos!

Também quero destacar a utilidade de um acessório bastante barato que descobri á venda numa grande superfície (tapatudo), que é uma espécie de touca plástica impermeável com um elástico relativamente forte, cuja utilidade original é de tapar saladeiras e outros recipientes, mas que servem ás mil maravilhas para proteger a câmara, não apenas da chuva tocada a vento (muito útil por exemplo se tivermos que proteger a máquina á pressa e fugir para

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dentro do carro mais despreocupados…), mas também do vento empoeirado que por vezes nos enche os sensores das nossas DSLR’s de partículas, enquanto esperamos pacientemente pela trovoada. Existem várias medidas de ‘tapatudo’, sendo que utilizo o de cor azul, que é o de maior dimensão.

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No quadro seguinte é possível ver todo o ‘arsenal’ que tenho de momento para ‘stormchasing’/’stormwaiting’!

Um conselho importante…

• Quando saímos para fotografar raios, não devemos esquecer de levar água e alguma alimentação.

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Nowcasting Quando fazemos ‘stormchasing’, normalmente já vamos com uma

relativa esperança de poder obter bons registos porque sabemos á partida que as condições são favoráveis, mas antes de nos dirigirmos para algum lado, é muito importante saber onde e quando há mais hipóteses de que se forme uma trovoada. É nessa altura que devemos ir consultando com alguma frequência os modelos e mapas que temos á disposição, nomeadamente as descargas eléctricas já existentes, evolução de manchas de precipitação mais intensa, valores de CAPE/LI e humidade relativa nos 700 hPa previstos para as horas mais próximas, entre outros…. de modo a tomar as melhores decisões e potenciar o sucesso desta nossa aventura!

Deixo aqui alguns ‘links’ úteis para ‘nowcasting’…

…e para android, disponíveis na Google Play, mais estas aplicações…

• meteociel

• Sat24

• wxcharts

• GFS PI (via meteo.pt)

• IPMA - Radar

• Blitzortung

• Blitzortung Lightning Monitor

• Lightning Alarm

• Windy

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Notas finais:

Nunca é demais repetir que fotografar raios pode envolver riscos!!

O ‘stormchasing’ deverá ser feito de uma forma responsável de modo a acautelar danos pessoais!!

E por fim… quem quiser dar uma vista de olhos nas minhas fotos de raios, aqui vão os ‘links’ das minhas páginas…

© Nuno F. C. Batista/Setembro de 2018/Rev.01

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