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* Graduando em História pela Universidade Estadual de Maringá. PIBID/CAPES/[email protected]. Relato de experiência. R. da Tijuca 285, Jardim Guanabara, Paiçandu-PR. (44) 3244-4439 FOTOGRAFIA E HISTÓRIA LOCAL: UMA EXPERIÊNCIA NO COLÉGIO ESTADUAL DR. JOSÉ GERARDO BRAGA DE MARINGÁ-PR RELATO DE EXPERIÊNCIA RESUMO Palavras-chave: INTRODUÇÃO Jefferson da Silva Pereira O presente artigo vem destacar alguns enfoques de estudos, referentes à participação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, que fora aplicado no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga, localizado na cidade de Maringá, Paraná, no ano de 2013. Este trabalho procura contemplar a produção do conhecimento histórico em sala de aula, destacando a participação dos estudantes como sujeitos do processo educativo. Utiliza a fotografia como fonte histórica principal e fundamenta-a com outros demais documentos escritos e fontes orais. Evidencia-se o aspecto histórico das imagens maringaenses, identificando nelas suas representações, mediante análise da fotografia como metodologia de ensino no conteúdo de história local e sua utilização como fonte documental no espaço escolar. O resultado dessa investigação mostrou que o colégio está ligado com o desenvolvimento de Maringá como cidade. Fotografia. Colégio. História local. O presente artigo trata-se de uma experiência que foi desenvolvida através do projeto do Governo do Estado do Paraná, denominado “Projeto do Centro de Memória da Escola”, no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga, localizado em Maringá-Paraná, por sete bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à * Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 10, n. 1, p. 115-124, 2014 115

FOTOGRAFIA E HISTÓRIA LOCAL: UMA EXPERIÊNCIA NO …

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* Graduando em História pela Universidade Estadual de Maringá. PIBID/CAPES/[email protected] de experiência. R. da Tijuca 285, Jardim Guanabara, Paiçandu-PR. (44) 3244-4439

FOTOGRAFIA E HISTÓRIA LOCAL: UMA EXPERIÊNCIANO COLÉGIO ESTADUAL DR. JOSÉ GERARDO BRAGA DE

MARINGÁ-PR

RELATO DE EXPERIÊNCIA

RESUMO

Palavras-chave:

INTRODUÇÃO

Jefferson da Silva Pereira

O presente artigo vem destacar alguns enfoques de estudos, referentes àparticipação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID, que fora aplicado no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga,localizado na cidade de Maringá, Paraná, no ano de 2013. Este trabalhoprocura contemplar a produção do conhecimento histórico em sala deaula, destacando a participação dos estudantes como sujeitos doprocesso educativo. Utiliza a fotografia como fonte histórica principal efundamenta-a com outros demais documentos escritos e fontes orais.Evidencia-se o aspecto histórico das imagens maringaenses,identificando nelas suas representações, mediante análise da fotografiacomo metodologia de ensino no conteúdo de história local e suautilização como fonte documental no espaço escolar. O resultado dessainvestigação mostrou que o colégio está ligado com o desenvolvimentode Maringá como cidade.

Fotografia. Colégio. História local.

O presente artigo trata-se de uma experiência que foidesenvolvida através do projeto do Governo do Estado do Paraná,denominado “Projeto do Centro de Memória da Escola”, no ColégioEstadual Dr. José Gerardo Braga, localizado em Maringá-Paraná, porsete bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à

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Docência (PIBID) do curso de história da Universidade Estadual deMaringá, durante o ano de 2013.

O Projeto foi concebido com o objetivo de produzir soluções deabrangência local quanto às coleções documentais geradas em âmbitoescolar, estimulando a implementação de espaços de memória nasescolas estaduais da rede pública envolvidas com o PIBID de história,cuja finalidade seria a proteção do patrimônio histórico e preservação damemória da educação escolar de Maringá.

Entretanto, a preservação da história não se dá apenas paraconservar a memória das escolas, mas também para estimular arealização de pesquisas no campo da Educação Escolar, uma vez queesses documentos têm sido pouco utilizados como fonte histórica.Atendendo a essa proposta, o subprojeto PIBID História daUniversidade Estadual de Maringá encaminhou todas as ações no campoescolar, em parceria com os educandos do 8º e 9º anos do C.E.G.B , nosentido de organizar/constituir tais espaços de memória, estimulando apesquisa e a produção de estudos na área da educação escolar.

Visando aproximar os discentes com as histórias de suasrealidades, foi pensado o tema -“A Fotografia e a Memória Local”,relacionado com a questão do pioneirismo na cidade de Maringá e doJardim Maringá Velho, desde a inauguração do Colégio em 1946, comoGrupo Escolar Visconde de Nácar.

O esforço para entendermos o crescimento da cidade com achegada de novos habitantes é importante para pensarmos o municípiode hoje. Que mudanças e permanências percebemos? O que era Maringána década de 1940? Qual a contribuição dos primeiros moradores para odesenvolvimento da cidade? Portanto, a pesquisa buscou refletir sobre osmétodos de utilização da imagem fotográfica na recuperação damemória local, uma vez que as valorizações da História Local e Regionalestão inseridas nas Diretrizes Curriculares para o ensino da História.

O advento da fotografia se deu no século XIX, época marcada poruma concepção de História inspirada na filosofia positivista, na qual a

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A FOTOGRAFIA COMO “LUGAR DE MEMÓRIA” NAHISTÓRIALOCAL

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noção de documento histórico era associada ao valor de prova dosregistros textuais, notadamente os de caráter oficial, como certidões, atase leis. Entretanto, foi somente na primeira metade do século XX que autilização da máquina fotográfica tornou-se popular. Ela passou a figurarcomo um discurso comprobatório de um acontecimento.

Segundo Turazzi (2005),a exatidão e a fidelidade darepresentação fotográfica em relação aos demais registros visuais jáexistentes deram à fotografia grande credibilidade no testemunho dosacontecimentos vividos pelos seres humanos, ofuscando assim acompreensão crítica da natureza subjetiva das informações contidasnesse tipo de fonte histórica. De acordo como fotógrafo americanoMathew Brady (1823-1896), a câmara fotográfica podia, inclusive, serconsiderada como “o olho da história”.

As fotografias estão em toda parte. Elas nos incitam acuriosidade, mostrando distintos momentos e situações da vida em geral,são uma importante fonte histórica que traz elementos da culturamaterial, costumes, relações sociais e de poder, entre outros. Assim, afotografia nos traz recortes de momentos passados, possibilitando ainvestigação, o levantamento de informações, quais os elementosrepresentados por ela e o contexto nas quais elas estão inseridas. Alémdisso, são as fotos que nos ajudam a contar a vida das pessoas, dasfamílias e o próprio desenvolvimento da cultura ou das transformaçõesque a humanidade e o tempo impõem sobre o ambiente. Nesse sentido, afotografia vem sendo usada como forma de reconstrução da memória,tanto como indivíduo, ou como participante de diversos grupos sociais.Boris Kossoy (2001, p. 152) coloca que:

Para o autor, a fotografia é um meio de informação sobre o mundoe a vida, mas, não se pode avaliar a importância da imagem se o indivíduonão a compreende no seu contexto histórico. Com isso, é importante

[...] apesar de ser a fotografia a própria 'memóriacristalizada',sua objetividade reside apenas nasaparências. Ocorre que essas imagens pouco ou nadainformam ou emocionam aqueles que nada sabem docontexto histórico particular em que tais documentosse originaram.

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salientar que a imagem registrada pela foto tem importância para quemfaz parte dela, no contexto da foto. Isso não quer dizer que os sentidospresentes nela não sejam relevantes para outras pessoas.

Mauad (2004) ressalta que a análise desse tipo de fonte requer dohistoriador uma postura teórica de caráter transdisciplinar, ou seja, parase utilizar da fotografia como fonte de pesquisa, é preciso adentrar emoutros campos disciplinares, como cinema, literatura, jornais, entreoutros. Segundo a autora, o historiador deve partir do pressuposto de quea fotografia é um testemunho válido, não importando se o registro foifeito para documentar um fato ou representar um estilo de vida.

A implementação desta experiência foi realizada com as turmasdo 8º e do 9º ano do Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga, comestudantes entre 11 e 14 anos que, em sua maioria, são moradores dacidade de Maringá. A aplicação do Projeto iniciou-se no mês de julho,com término em novembro. O primeiro contato com os estudantes, tinhacomo objetivo realizar uma abordagem geral do que os alunos entendiamcomo definições e agentes da História. O material utilizado para talforam imagens em PowerPoint, as quais ilustravam diferentes momentose contextos históricos, com ícones marcantes, que foram confrontadascom fotografias antigas da escola e outras dos alunos envolvidos. Isto foirealizado com o intuito de caracterizar e expor a contribuição dessesalunos como agentes ativos da História.

Em seguida, foi solicitado a eles que trabalhassem comohistoriadores, em parceria com os bolsistas do PIBID, no resgate daidentidade histórica do colégio. Assim, os alunos foram orientadosquanto ao desenvolvimento das atividades que iriam realizar e que sedariam por unidades, referentes aos temas: Fotografia, Imprensa escrita eHistória oral.

Ao ministrar as aulas com os alunos, destacamos a importânciade estudar e compreender a História local. Dentre a relevância dessamodalidade de ensino de História, é fundamental que o aluno conheça eaprenda a valorizar “o patrimônio histórico da sua localidade, de seu paíse do mundo” (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p. 114). Portanto, partimos

FOTOGRAFIAE MEMÓRIALOCAL- EXPERIÊNCIAE PRÁTICA

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do pressuposto de que a história local destaca, na formação dosestudantes, o respeito pela valorização dos registros para a história,especialmente nos casos da fotografia e da história oral como fontehistórica.

Inicialmente os estudantes responderam a algumas questõesreferentes ao surgimento da fotografia e também aprenderam a analisar afotografia como um documento. Com os bolsistas do PIBID,contrapuseram fotos antigas pertencentes ao acervo da escola a fotosrecentes tiradas pelos próprios alunos, podendo assim perceber asmudanças que ocorreram de uma determinada época para outra.

Portanto, através das fotos “antigas” e fotos “recentes”, os alunossão capazes de compreender a transformação do espaço temporal e dassociedades, sendo observadores do processo histórico e capazes derefletir e interagir com esse processo, alcançando condições deaprendizagem e conhecimento na compreensão da sua própria história.Após atividade de comparação de fotografias, os estudantes expuseramsuas fotografias na semana cultural da escola.

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Imagem 1 - Fachada do ColégioEstadual Dr. José Gerardo Braga -Ensino Fundamental e Médio,durante a Década de 50.Fonte: Acervo da escola

Imagem 2 - Fachada doColégio Estadual Dr.José Gerardo Braga -Ensino Fundamental eMédio em 2013.Fonte:Acervo pessoal.

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Além disso, os estudantes analisaram as fotografias mais antigasda cidade e da escola trabalhando com seus dados: a época e local dasfotografias, o tema central, o estilo de roupas e acessórios usados naépoca, o colégio na década de 1950, enfim, aspectos relacionados àhistória local. Posteriormente, os alunos produziram desenhos e umpequeno texto como trabalho relatando a história da sua cidade deMaringá, interessando-se mais por descobrir dados que ainda nãoconheciam.

Despertando no aluno o interesse por buscar acervo fotográficoem suas famílias, foi pedido aos mesmos que trouxessem para a sala deaula as fotografias antigas, músicas antigas, e a maior quantidadepossível de informações, para depois realizarem uma análise einterpretação das mesmas.

Das fotos trazidas pelos estudantes, foram destacadas aquelasque mostravam aspectos relacionados com o a Praça Sete de Setembro, oColégio Estadual Dr. José Gerardo Braga e a Igreja do jardim da MaringáVelho. Nessas fotografias, foram observados: qual o tema da fotografia,como identificar nas fotografias selecionadas elementos dahistória/local, tais como: a vida familiar, o trabalho e a cultura dosmaringaenses. As fotos puderam, assim, nos termos de Mirian MoreiraLeite funcionar como:

Um desencadeador de lembranças múltiplas econstituir, de um lado, uma forma de resgatar umpassado esquecido e, de outro, no caso dopesquisador, um estímulo formulador de hipótesespara testar a comunicação das fotografias e o seuesquecimento temporário ou total. Pelo menos asdeformações progressivas da memória, queampliam ou alteram o material original (LEITE,1993, p. 135).

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Imagem 3 - Estudante nãoidentificado do ano de1968.Fonte:Acervo da Escola.

Imagem 4 - O estudanteTiago Santos recria aimagem acima.Fonte: Acervo pessoal.

Um aspecto que merece destaque, foi a participação e o grandeentusiasmo demonstrado pelos alunos ao verificar que podemdesenvolver atividades como um historiador, capaz de coletar dados,analisar fontes, realizar as tarefas solicitadas, construir sua própriaprodução e trabalhar com as fotografias, como meios de fornecerinformações.

No final do trabalho, fizemos um livro que foi doado para aescola, servindo como um documento da instituição. No livro, foi feitouma reconstituição da história do Colégio Gerardo Braga. Além disso,com esse trabalho, ficou evidente que os alunos conseguiram estabeleceruma relação entre o documento/fonte e o ensino de História,conseguiram perceber as mudanças do espaço/tempo, as relações depoder, mudanças sociais, culturais, as rupturas e permanências históricasa partir da fotografia de imigrantes italianos ou de outras etnias e defotografias da própria história local.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões e os encaminhamentos brevemente apresentadosneste artigo visaram a sensibilizar a comunidade escolar, em especial osalunos, para a importância de se preservar a memória local, e evidenciaro potencial dos documentos fotográficos guardados em arquivospúblicos ou particulares, como os álbuns de família, como fontes paraum eixo temático importante de trabalho na escola, com a história ememória da comunidade, contribuindo para um ensino maissignificativo e potencialmente mais interessante para os alunos, e para odiálogo mais efetivo com a comunidade.

Nossa pesquisa deu ênfase nas tomadas do trabalho coletivo, nosretratos de família, no desenvolvimento e transformação do espaçourbano, vinculando à dimensão da conquista e da edificação dacomunidade que se quer transmitir ou preservar. As cidades possuemtrajetórias históricas próprias e particularizadas que precisam seridentificadas, vitalizadas pela ação do relato, da memória, daimagem/fotografia, fortalecendo a consciência histórica, o sentimentode pertencimento, de identidade, elementos fundamentais para aformação da cidadania almejada para todos numa sociedade inclusa erealmente democrática.

A história do Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga é umreflexo da própria história da cidade e, portanto, não pode serconsiderada isoladamente apenas dentro do ambiente escolar. Foramencontrados poucos documentos referentes à história do colégio. Isso sedeve à falta de uma documentação mais abrangente do cotidiano escolar,uma vez que a lei em vigência determina apenas a preservação dedocumentos oficiais, e à falta de espaço para armazenamentodocumental existente nas próprias escolas. O descaso com a preservaçãoda história escolar não é um caso particular de um único colégio, mas umproblema generalizado. O resgate dessa história se faz importante pois:

A preservação em registros de práticas culturaisescolares é importante para a História, porque agregaum conjunto de informações que foram construídas eproduzidas historicamente por agentes sociais num

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dado momento e tempo específicos (RODRIGUES;, 2009, p. 29).ROSSI

Portanto, através deste trabalho podemos resgatar parte da nossahistória e motivar professores, alunos a se tornarem tambémpesquisadores que vão preservar a memória local, que é um interessanteponto de referência para dizermos quem somos e de onde viemos. Alémdisso, a experiência docente desenvolvida no Colégio Gerardo Braga erelatada neste trabalho está sendo muito enriquecedora para pensarmos oprocesso de ensino-aprendizagem.

Sabemos que o ato de ensinar passa pelo crivo da aprendizagem enesse processo o currículo escolar pode possibilitar redimensionamentosda atividade docente. “O currículo é lugar, espaço, território e nela nossaidentidade é forjada” (SILVA, 1999, p.150). Desta forma, o contato comnovas experiências de ensino é importante para a formação deidentidades e para enriquecer o processo pedagógico.

This article detaches some approaches of studies relating to theparticipation at the Institutional Program of Scholarship of Initiation toTeaching - IPSIT, which was applied at the State School Dr. Gerardo JoséBraga, located in the city of Maringa, Parana. This work seeks to addressthe production of historical knowledge in the classroom, detaching theparticipation of student as subject of the educational process. It usesphotography as a main historical source and justifies it with other writtendocuments and oral sources. It is evident the historical aspect ofmaringaense images, identifying on them their representations. Throughthe analysis of photography as teaching methodology in the content oflocal history and its use as a documentary source in educational space.The result of this investigation showed that the evolution of the school isconnected with the evolution of Maringa as a city.

Photography. School. Local History.

ABSTRACT

PHOTOGRAPHY AND LOCAL HISTORY: AN EXPERIENCEATTHE STATE SCHOOLDR JOSE GERARDO BRAGA

Keywords:

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Nota:

REFERÊNCIAS

Fotografia e história

História e memória

Retratos de família

A leitura de imagens napesquisa social

Diretrizes Curriculares da História para a EducaçãoBásica.

Histedbr on-line

Ensinar história

Documentos de identidade

A fotografia e o ensino de história

1 A partir do ano de 2004, a instituição escolar ganha o nome que leva até hoje,Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga - Ensino Fundamental e Médio.

KOSSOY, B. . São Paulo: Ática, 1989.

LE GOFF, J. . 5. ed. Campinas, SP: Ed. daUnicamp, 2003.

LEITE, M. M. . São Paulo: Edusp, 1993.

MAUAD, A. M. Fotografia e história: possibilidades de análise. In:CIAVATTA, M.; ALVES, N. (Org.).

: história, comunicação e educação. 1. ed. São Paulo:Cortez, 2004. v. 1, p. 19-36.

PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Superintendência daEducação.

Curitiba, 2008

RODRIGUES, A. S.; ROSSI, E. R. Educação de jovens e adultos:memórias do grupo escolar noturno Visconde de Nácar em Maringá(1947-1958). , Campinas, SP, v. 9, n. 35, 2009.Disponível em:<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/35/art03_35.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2014.

SCHMIDT, M. A.; CAINELLI, M. . São Paulo:Scipione, 2004.

SILVA, T. T. : uma introdução às teoriasdo currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

TURAZZI, M. I. . São Paulo: Ed.Moderna, 2005. Projeto Araribá: informes e documentos.

O ESCRITOR É TAMBÉM EXCRETOR (EM GÊNEROS DACOMUNICAÇÃO: ORAIS E ESCRITOS)

RESUMO

Afonso de Souza Cavalcanti

Alguns pensadores afirmam que “Escrever é um dom”; “Escrever évocação”; “Para escrever é preciso inspiração”. Muitas pessoasprocuram profissionais de renome para testar a qualidade de seusescritos. Possivelmente elas mesmas já podem ter a resposta, basta queelas se certifiquem do quanto leem e do tempo que gastam pensando paradefinir e conceituar sobre o que escrevem. O presente estudo querdesenvolver hábitos para exorcizar os fantasmas do medo de não saberexpressar seus pensamentos. Para tanto, o estudo analisa: a) Orlandi nasua obra “A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso” b)Távola, no artigo publicado no Jornal O Globo, 1999; c) Peres com adissertação “O Labirinto a linguagem no mundo empresarial dotrabalho” 2005 e outros. Para eles, o professor precisa cultivar acompaixão pelos futuros escritores. Ensinam que “A inclusão doexcluído ou a inclusão do outro” precisa ser encarada com seriedade.Argumentar-se-á que: escrever com qualidade consiste em utilizar-se dedefinições e conceitos e produzir o texto. Depois, deixar o textodescansar. A pressa para revisar o texto deve ser deixada de lado. Acorreção do texto precisa ser implacável, sem dó, sem medo eressentimento. Deve-se arrancar da antiga escrita o que não agrada pornão especificar, discernir e facilitar a compreensão daquilo que estásendo dito. O tempo para corrigir não importa. Pode levar dias, meses,anos. Busca-se libertar para a ordem, a sensibilidade e o entendimento. Oestudo conclui que: qualquer pessoa, não importa a profissão assumidaou a simples função que ocupa temporariamente, tem necessidade dedominar bem algumas boas formas de comunicação. Ao relacionar-secom os outros, passando-lhes suas mensagens escritas ou orais, é que o

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* MS em Filosofia e Dr. em Educação, Administração e Comunicação, Professor de Filosofia, Sociologia e PolíticaEducacional Brasileira na FAFIMAN - E-mail: [email protected].

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escritor percebe que ler e ler atentamente é muito importante para falar eescrever. É no momento de colher resultados que o leitor e o excretor sãoo escritor. A presença de espírito, por ter a coragem de afastar osfantasmas - a preguiça de ler, a busca constante do aperfeiçoamento - farásurgir a humildade intelectual e abrirá a mente do escritor que soubeexcretar os negativos para a boa expressão, não importa por quaisgêneros textuais e orais use.

: Escritor e excretor. Dom e conquista. Comunicação eresultado.

Aprende-se que um profissional não nasce feito, apesar de algunspensadores defenderem que o ser humano é portador de potencialidadesinatas, na forma como ensinou Aristóteles. Este filósofo ensinava quealgumas pessoas nascem com potencialidades diferenciadas, tais como:os dons para a música, a dança, a pintura, a escultura, o atletismo, oesporte etc. Alguns pensadores afirmam que: “Escrever é um dom”;“Escrever é vocação” (ORLANDI, 1983, p. 23); “Para escrever é precisoinspiração”. Muitas pessoas procuram profissionais de renome paratestar a qualidade de seus escritos. Possivelmente elas mesmas já podemter a resposta: basta que elas se certifiquem do quanto leem e do tempoque gastam pensando para definir e conceituar sobre o que escrevem.Desta forma, o presente estudo quer dialogar a respeito de diversasquestões sobre as atividades de quem escreve.

Diversos são os questionamentos que surgem nas salas de aula enos ambientes onde se dialoga a respeito do “fazer escritor”. Em taisestudos podem ser questionados: o texto como produto e o texto comoprocesso; o conhecimento dos professores que orientam os aprendizespara que desenvolvam a capacidade de pensar, de coordenar suas ideias ede elaborar um texto; o tempo necessário para a produção de um texto: daobservação sobre a matéria, da abstração das ideias, da materializaçãodas ideias que serão postas no papel, do tempo necessário para que otexto descanse e possa ser reescrito; a parceria entre aquele que extrai dasfontes as ideias com aquele(s) que intermedeiam a escritura e reescritura

Palavras-chave

INTRODUÇÃO

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dos textos.As pessoas que cultivam hábitos de filosofar, quase sempre indicam

estes caminhos para os futuros escritores: a) a observação precisa aguçaos sentidos e oferece grandes sensações; b) o passo seguinte dassensações é a imaginação, o saber lidar com precisão para enviar taisimagens à mente; c) uma vez criadas, as imagens que foram extraídas dassensações, a mente faz cálculos precisos e produz o discurso mental. Opasso seguinte depende da boa vontade do pensador em fazer uso dodiscurso verbal, através de uma das formas de linguagem e no caso doescritor, a linguagem se confirma através da escrita, com utilizações, éclaro, de outros recursos.

Para que o sujeito produza um texto como este que será expostoabaixo, é necessário que o mesmo vasculhe elementos materiais eespirituais. Para tanto, a natureza humana é pródiga em experimentar osbens materiais e espirituais.A verdadeira prodigalidade está naquilo que Kant chamou de princípiosracionais apriorísticos e também de princípios empíricos a posteriori.São dois conceitos necessários para que se tenha o discernimento entrerazão e fé. A lógica entre razão e fé ou entre fé e razão proporcionadebates importantes, especificamente para aqueles que procuram oembasamento na espiritualidade, embora dando ênfase aos princípiosmateriais. Afastar-se da espiritualidade, da reserva exclusiva dametafísica, é mergulhar-se de cabeça para baixo, rumo ao centro damatéria. É desprezar o caminho da espiritualidade.

É necessário analisar alguns conceitos, tais como os verificadosnos princípios racionais apriorísticos e percebermos que os filósofosracionalistas (citam-se de passagem: Aristóteles, Agostinho e Tomás deAquino) definem com clareza que a espécie humana é detentora depotencialidades naturais inatas.

Para ficar mais próximo do leitor,tal conceito, digamos que ohomem é detentor de talentos naturais que não são frutos dasexperiências. Tais talentos, afirmam eles, são considerados dons que a

A PRODUÇÃO DE TEXTO É O RESULTADO DODISCERNIMENTO E DASENSIBILIDADE SOBRE O OBJETO

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criatura humana recebeu de seu Criador. Para confirmar isto,observamos o que afirmouAristóteles:

Não podemos nos esquecer de que Aristóteles ensina que ointelecto vem de fora. Mesmo vindo de fora, “ele permanece na almadurante toda a vida do homem.Aafirmação de que 'vem de fora' significaque ele é irredutível ao corpo por sua natureza intrínseca e que, portanto,é transcendente ao sensível” (REALE; ANTISERI, 1991, v. I, p. 202).Por ser assim, o homem possui algo a mais que a dimensão corpórea.

Existe na pessoa humana uma dimensão metaempírica,suprassensível, a espiritualidade. Com esta dimensão espiritual, o serhumano tem em si o divino. Não é à toa que Agostinho filosofa comprofundidade, não mais sobre o homem corpóreo, o sensível, o redutívelà morte física. Ele afirma que

A sensibilidade não é redutível à simples almavegetativa e ao princípio da nutrição, contendo umplus que não pode ser explicado senão introduzindo-seulteriormente o princípio da alma sensitiva, assimtambém o pensamento e as operações a ele ligadas,como a escolha racional, são irredutíveis à vidasensitiva e à sensibilidade, contendo um plus que sópode ser explicado introduzindo-se ulteriormenteoutro princípio: o da alma racional. [...] Por si mesma,a inteligência é capacidade e potência de conhecer asformas puras; por seu turno, as formas estão contidasem potência nas sensações e nas imagens da fantasia(REALE;ANTISERI,1991,v. I, p. 201).

[...] o homem interior é a imagem de Deus e daTrindade. [...] Eis uma das passagens maissignificativas a esse respeito, extraída da Cidade deDeus: 'Embora não sejamos iguais a Deus, estando,aliás, infinitamente distantes dele, no entanto, como,entre as suas obras, somos aquela que mais seaproxima de sua natureza, reconhecemos em nósmesmos a imagem de Deus, ou seja, da SantíssimaTrindade, imagem que ainda deve ser aperfeiçoada

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