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PAUTA CULTURAL - BOLETIM INFORMATIVO DAS ATIVIDADES DO CENTRO CULTURAL SÀO PAULO - ANO 1 N? 1 NOVEMBRO DE 1984 X FOTÓGRAFOS PREMIADOS EXPÕEM NO CCSP - PAG. 2 10 ANOS DE VENTOFORTE - PAG. 3 1000 VOLUMES NA FEIRA DO LIVRO PORTUGUÊS - PAG. 10

FOTÓGRAFOS PREMIADOS EXPÕEM NO CCSP - PAG. 2 10 … certo no MASP — Museu de Arte de São Paulo. Fora estas apresentações, quem quiser tomar contato com a música composta por

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PAUTA CULTURAL - BOLETIM INFORMATIVO DAS ATIVIDADES DO CENTRO CULTURAL SÀO PAULO - ANO 1 N? 1 NOVEMBRO DE 1984

• X

FOTÓGRAFOS PREMIADOS EXPÕEM NO CCSP - PAG. 2

10 ANOS DE VENTOFORTE - PAG. 3

1000 VOLUMES NA FEIRA DO LIVRO PORTUGUÊS - PAG. 10

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FOTOGRAFOS PREMIADOS EM MOSTRAParodoxo e raridade certamente são as pala­vras mais propícias para definir duas exposi­ções de fotografias que estão acontecendo no Centro Cultural São Paulo. Parodoxo: o grupo Cromos, constituído quase que exclu­sivamente de paulistas, depois de ter aprese tado seus trabalhos em mais de 49 paíse: conquistando 25 prêmios internacionais, rea-1 liza a primeira mostra coletiva na cidade de São Paulo. A raridade.Rosa de Luca, fotógra­fa há apenas dois anos, ganhou o prêmio espe­cial no primeiro concurso de que participou. O grupo Cromos, formado por oito fotógra­fos profissionais e cinco amadores, nasceu em 1976, oriundos do Fotocineclube Ban­deirantes. Ressaltar a fotografia como arte sempre foi sua principal característica. Reú­nem-se mensalmente quando fazem avalia­ções dos trabalhos que cada um vem reali­zando e debatem assuntos e fotos das revis­tas importadas do mundo inteiro que o gru­po assina.As fotos expostas no Centro Cultural estão agrupadas por temas distintos escolhidos pelos autores: Alberto Siuffi, Processos; Amauri Sabino, Sertão Nordestino; Carlos Sacramento, Abstrato; Cláudio Feliciano, Pantanal; Eduardo Serra, Mulher; Frederico Mielenhausen, Surrealismo; José Olavo Assis

MUSICA E ARQUITETURADe 5 a 30/11 Emanuel de Melo Pimenta está apresentando uma amostragem ampla do tra­balho due vem desenvolvendo nos últimos cinco anos. Ao entrar no local da exposição o espectador começa a perceber a mostra através da "música-arquitetura" que invade esse espaço. O trabalho de percepção expe­rimental se completa com a observação da música escrita nas partituras em papel expos­tas e nos terminais de vídeo, através dos mi­cros instalados.No dia 6 de novembro, Emanuel realiza tam­bém uma performance. Com Dante Pignatari interpreta um concerto para piano inédito, de sua autoria, com características de perfor­mance, embora não se trate de uma perfor­mance tradicional. A peça foi composta no início deste ano, para dois intérpretes, o que não significa interpretação a quatro mãos. Ainda neste mês de novembro, no dia 18, Emanuel de Melo Pimenta apresenta um con­certo no MASP — Museu de Arte de São Paulo. Fora estas apresentações, quem quiser tomar contato com a música composta por este artista é só ouvir diariamente a abertura do Programa Panorama, da TV 2-Cultura, cu­jo tema é de sua autoria.

O ARTISTA

Emanuel de Melo Pimenta estudou música com Keollreutter, comuniceção com Décio Pignatari, e especializou-se em semiótica de Peirce, com Roti Niel Turim. Atualmente tem muitos trabalhos expostos fora do Bra-

Rosa Inês De Luca — até 18/11 Grupo Cromos — até 25/11

GrüP°

Oliveira, Gente; Linneo Cordeiro, Cenas Européias; Manuk Poladian, Oriente; Marco Ferro, Portrai; Pérsio Galembeck Campos, Cana-de-Açúcar; Raimar Richers, Composi­ções q Sérgio Jorge, Nu.Rosa de Luca conquistou o Prêmio Especial sobre o Dia do Trabalho em concurso promo­vido pelo Centro Cultural São Paulo e Fotop- tica, em maio de 84, com uma foto feita na Grécia, de um velho artesão esculpindo bar­quinhos de brinquedo na madeira. Sua atual

Emanuel de Mello Pimenta — o autor

sil, destacando-se os do Canadá, Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Japão. Até ja- neiro/85 estará participando, ao lado de John Cage, Oscar Peterson e muitos outros, do Festival Internacional de Música Eletrô­nica de Tóquio — o mais importante do mundo no gênero —, que já está acontecendo e se estenderá até essa época.A relação "música-arquitetura" que Emanuel vem desenvolvendo, começou a ser pesquisa­da nos anos 60 pelo músico grego, lannis Xenakis. Ela basicamente funde arte com ciência, incorporando todo um processo de música eletrônica através de computadores, sintetizadores, música acústica, fitas magné­ticas, etc. Hoje, a pesquisa de Emanuel de Melo Pimenta já se diferencia bastante da do artista grego, graças a abordagens distintas do fenômeno musical.

exposição, intitulada São Paulo Cromático, reúne 16 deslumbrantes fotos coloridas, 24x30cm, dacidade de São Paulo, que captam a pujança e o brilho dos arranha-céus, suge­rindo, entretanto, o mistério, o ruído que há por trás de cada parede, dentro de cada blo­co de concreto. Rosa conseguiu esse efeito lançando mão de poucos recursos técnicos: uma Nikon FM, uma objetiva normal de 50mm, uma grande angular de 28mm e um iltro polarizador.lém da exposição, o grupo Cromos também

será responsável por parte da programação do Fotoinforme do mês de novembro. Rai­mar Richers e Jorge Rugardo Brechet apre­sentarão o audiovisual Coreocromias; Frede­rico Mielenhausen, Manuk Poladian e Sérgio Jorge farão palestra sobre A Importância da Fotografia como Meio de Comunicação; Car­los Sacramento apresentará o audiovisual : Cromata em Sol Maior para as Flores de um Jardim e Estranhas Imagens num Mundo de Cor-Fgito; Linneo Cordeiro fará palestra sobre A Macrofotografia e a Fotomicrografia na Ciência e na Arte.OI ici o Carlos Pelosi, diretor da Faculdade de Artes e Comunicações da Fundação Educa­cional de Bauru, apresentará sua Proposta de Ensino de Fotografia.

Paulo Cerqueira

ANOS 60, A DÉCADA EXPLOSIVAMúsica, teatro, cinema, literatura, as perspec­tivas, os anseios e as expressões político-cul- turais da geração 60, sintetizam a série de programas da Radioatividade, intitulado Anos 60r a Década Explosiva.A série vem sendo apresentada todos os sábados às 19 horas na Rádio Universidade de São Paulo — 93,7 mhz — e todas às quin­tas-feiras às 17 e 20 horas no Centro Cultural São Paulo. Através de depoimentos, músicas e entrevistas sobre o contexto cultural, polí­tico e social da época, os diversos programas com Free Jazz, Bossa Nova, Rock Britânico, Beatles, Tropicália, Rolling Stones, Teatro Brasileiro, Geração Beat entre outros cons­tróem um panorama da década.

Programação de novembro

Rádio USPdia 3 Jimmi Hendrixdia 10 Intérpretes da MPBdia 17 Geração Beat / Contraculturadia 24 Geração Beat / Contracultura

CCSP

dia 19 Protesto dia 8 Literatura dia 14 Beatles dia 22 65,67 dia 29 Jovem Guarda

Editor - Aurea A. Figueira; Assistente - Ana Amélia C.Toni; Projeto Gráfico - Bia Vargas do Amaral / Yvonne Saruê; Redatores - Ana Elvira Zauli / Adyel S. F. Silva / Mauro Diaféria / Tuna Dwek; Produção Gráfica / Arlenice J. de Oliveira; Composição - Harumi H. Nishimura / Marco Antonio Mancini / Maria V . Medeiros Calejan / Maurício S. Medeiros; Revisão - Luzia Bonifácio / Maria Cristina Frota / Maria Flora Uehara; Arte-Final - Eliane Miralhes / Solange P. Belfort / Zelinda Maria Gandolfi; Laboratório Gráfico - A rthur Pasotto. Publicado pela Divisão de Difusão Cultural: Diretor Julio Abe Wakahara; Assistente - Elizabeth Braz; Supervisor da Equipe Técnica de Exposições e Publicações - Ruy R. Rocha.Rua Vergueiro 1.000 CEP 01 504 - Tel - 270-8285

Cidade de São Paulo Prefeito Mário Covas

Secretaria Municipal de Cultura Secretário Gianfrancesco Guarnieri

Centro Cultural São PauloDiretor José Geraldo Martins de Oliveira

UM VENTO SOPRA FORTE-10 ANOS DE TEATROO teatro Ventoforte está festejando 10 anos de existência. Criado em 1974, no Rio de Janeiro, o Ventoforte chega a São Paulo em 1979. Ilo Krugli, seu criador, de olhos cla­ros e barba longa, mais parece um mago, e não deixa de sê-lo, colocando em tudo o que faz um pedaço de poesia, de magia, de liber­dade.Nesta comemoração, o Ventoforte traz o que há de mais expressivo em sua história. Brinquedo da Noite, Os Cisnes Selvagens, As Quatro Chaves, Estou Fazendo uma Flor e História do Barquinho são algu­mas das peças que serão apresentadas duran­te este mês, acompanhando a exposição de todos os bonecos, cenários, máscaras, figuri­nos e acessórios utilizados nas montagens da escola.A base do trabalho do Ventoforte é artesanal. Os bonecos são fabricados a partir dos ma­teriais que estiverem disponíveis, passarinhos, burrinhos, material de cena, tudo fabricado pelos atores. No entanto, o resultado da ex­periência não é nada artesanal. O artesanal se desdobra e se transforma no ritual, no místico. Ë o artesanal ao encontro do mito. Como diz Ilo Krugli: "Não é acreditar que o gostoso está nas manual idades, é acreditar que a história que se faz com as mãos coloca

em contato com o passado do homem, com toda a história do homem".Os espetáculos do Ventoforte não exprimem apenas idéias ou jogos teatrais, mas recolo­cam em primeiro plano o ritual poético com a sua carga de festa e transformação, onde se dá a integração das linguagens dentro da rea­lidade do homem adulto e da criança. É des­ta procura poética que emergem estes dez

anos de Existir e Resistir, onde realizar um teatro amplamente generoso é o mais impor­tante para os artistas do Ventoforte: "A ge­nerosidade se transforma num ato político e na própria beleza através dos conteúdos e dos resultados". É por isso que o objetivo maior do grupo é o resgate de um ator traba­lhador, artesão, que não tenha limites na sua expressão, que desenvolva Teatro em Qual­quer Espaço, com a linguagem do corpo sem­pre presente, a música, desde formas simples e populares até outras mais sofisticadas.O teatro do Ventoforte é orgânico e poético, é o corpo a corpo, o ato criador em seu esta­do mais puro. O trabalho sobre a transforma­ção dos elementos populares, numa lingua­gem mais primitiva e de essência, amplificada pela forma mais espontânea da criança. Re­cupera-se a linguagem infantil, procura-se um mito atrás de cada gesto, e o resultado é um teatro feérico, lúdico que tem, simul­taneamente, um vínculo profundo com o real. Por onde passa, aqui ou no Exterior, o Vento deixa sua marca, dá uma chacoalhada no pó que está no chão e deixa uma semen- tinha. E alguém, em algum lugar, estará fa­zendo uma flor. O Centro Cultural São Paulo abre seu espaço na comemoração dos 10 anosdo Ventoforte.

( Ver programação na últim a página)

DE PERNAS PRO AR1984, de Miguel Angelo Filiage. Direção de Rubens Brito.Sala Jardel Filho — de 9 a 25/11

1984 (De Pernas pro A r) é uma comédia de ano, encenada pela Companhia 7 Sagas, que retrata o lado pitoresco, cômico e crítico dos principais acontecimentos do ano de 1984. Na verdade, é uma nova versão da antiga revista de ano carioca, que teve em Arthur Azevedo seu maior autor. Um gênero teatral que fez muito sucesso no final do século pas­sado no Rio de Janeiro e que, pouco a pouco, foi sendo deturpado, transformado e final­mente esquecido.1984 não é uma revista de ano como se con­cebia no século passado. Não tem 20 ou 30 atores em cena, não possui uma orquestra no palco e nem cenários faustuosos. Mas utiliza muitos dos elementos da revista de ano para realizar um espetáculo mais moderno com a incorporação de novos valores de interpreta­ção, de dramaturgia e encenação. A estrutura da revista, no entanto, é mantida. 1984 se utiliza, por exemplo, dos compadres de revis­ta — personagens que têm a função de ligar um quadro ao outro. E mantém o espírito das revistas de ano: uma arte popular atual com sátira, improvisação, músicas, humor e divertimento. Como nas montagens das re­vistas de ano do século passado, o público de 1984 entrará no teatro já conhecendo quase tudo do texto que será apresentado. O públi­co viveu, leu em jornais e revistas, ouviu em rádio e televisão os principais assuntos tra­tados na peça. O espetáculo, na verdade, da­rá o sub-texto: a comédia, o divertimento. Para esse tipo de espetáculo não interessa a análise profunda de assunto algum. Os assun­tos já foram analisados (ou estão sendo) com profundidade pelos jornais e revistas. O tex­

Elenco de 1984

to conta, portanto, com a inteligência e a carga de informação da platéia para se reali­zar em cena. Nesse tipo de espetáculo, palco e platéia conhecem o que está sendo discuti­do e desse pacto nasce a cumplicidade, a identificação e o riso. Uma comicidade que não está só no texto e na interpretação mas também nos figurinos, na música, na coreo­grafia e cenografia. A linguagem de interpre­tação passa pelo realismo, chega no farsesco, no pastelão, esbarra no circense e atinge tam­bém o musical.A Companhia 7 Sagas montou em 83 a co­média infantil As Férias de Drácu/a (um ano em cartaz em São Paulo, também de M. A. Filiage) e nesse espetáculo já utilizou alguns

elementos de revista de ano. Desta vez, deci­diram por um espetáculo que se aproximasse mais desse tipo de revista, incorporando ao gênero novos ingredientes dramatúrgicos e de interpretação e pesquisando os principais atores brasileiros de comédia. No elenco de 1984 estão Angela Sassine, Carlos Seidl, Car- mem Palomares, Delta de Negreiros, Luzia Meneghini, Marli Alheiros, Paulo Cerruti Gaeta, Paulo Vicente Oraggio e Wagner Veiga. A direção musical está a cargo de Wanderley Martins, a cenografia é de Paulo V. Oraggio, coreografia de Juçara Amaral e figurinos de Carlos Moreno. Assina a produ­ção executiva, Debora Annenberg e a ilum i­nação, Ricardo Filiage.

UM GRITO PARA A DANÇAE a dança moderna e contemporânea, como está?Ao organizar o Ciclo de Dança Moderna e Contemporânea, o Centro Cultural São Pau­lo reúne os profissionais da dança, batalha- dores dentro de um panorama cultural pou­co promissor, e, em quase 30 dias de inten­sas atividades, pretende fazer uma avaliação desse quadro.Atualmente vivenciando um processo desar­ticulado, os profissionais da dança moderna e contemporânea deparam-se com uma situa­ção caótica: a falta de credibilidade no traba­

lho por parte de orgãos públicos e particula­res, acostumados a investir no tradicional, no que com certeza dá certo, leva-os ao desen­contro de condições financeiras e de espaço para desenvolver coisas novas. A falta de fo r­mação dos profissionais aliado à apresenta­ção de espetáculos tecnicamente perfeitos, que criam uma necessidade de padrão eleva­díssimo, impede-os de se desenvolver mais, de criar mais. As trágicas conseqüências são sentidas no terrível distanciamento do profissional e seu público — este, longe da apreciação do trabalho novo, preso a espetá­

culos dòs poucos grupos brasileiros consa­grados ou dos "balés" importados e, tantas vezes, inacessíveis economicamente a ele. Mas acreditem. Os grupos estão aí e mesmo relegados a um plano classificado como não importante estão aí, batalhando, criando, e precisando apresentar um trabalho. É preciso chamar a atenção. É preciso gritar alto, mui­to alto, para se ter a chance de ser ouvido. O Ciclo de Dança Moderna e Contemporânea pode ser esse grito. Ele deve representar a crença em conquistas maiores, na união e conhecimento do profissional e seu público.

Grupo Bola Sete apresenta "iO Grito

Solo de Regina Fernandes

des, ser-lhes-ia impossível praticar qualquer ato reprovável. Ao pri­meiro cabem a nobreza, a coragem, a força de ânimo, etc.; à segun­da, a pureza, a doçura, etc , etc. Todas as qualidades medíocres, todos os pecados se concentram no traidor do entrecho e na "m u­lher má", embora não ignoremos que na vida real ninguém é to ta l­mente bom ou totalmente ruim. Podemos não infringir os dez man­damentos, mas todos sabemos que somos capazes de fazê-lo. Em cada um de nós está sempre de alcatéia o inimigo de todas as leis, pronto a se aproveitar da primeira oportunidade. Por pessoas vir­tuosas devemos entender apenas aquelas em quem a tentação não foi suficiente, seja porque vivem de uma existência vegetativa, seja porque, concentrando fortemente todos os seus desejos numa única meta, não encontrem lazeres para atentar no que lhes vai em torno.

D U N C A N , Isadora. "Prefácio". In: Isadora - Memórias de Isadora Duncan — S/E - Rio de Janeiro, Livraria José O lym pio Editora, 1969 p. X IV e X V .

MEMÓRIAS DE UMA DANÇARINAMinha arte é precisamente um esforço para exprimir em gestos e movimentos a verdade de meu ser. E foram-me precisos longos anos para encontrar o menor gesto absolutamente verdadeiro. As palavras têm um sentido diferente. Diante do público, que acudia em massa às minhas representações, eu jamais hesitei. Dava-lhe os impulsos mais secretos de minha alma. Desde o início, nada mais fiz do que dançar a minha vida. Criança, dançava a alegria espontânea dos seres em crescimento. Adolescente, dancei com uma alegria que se transformava em apreensão diante das correntes obscuras e trágicas que começava a lobrigar no meu caminho. Apreensão da brutali­dade implacável da vida e da sua marcha esmagadora.Mais tarde, dancei o meu embate com essa mesma Vida que o pú­blico havia chamado Morte, e todo o meu esforço era por haurir dela as alegrias efêmeras.Nada está mais longe da verdade do que o herói ou heroína dos f i l ­mes e romances comuns. Geralmente possuidores de todas as virtu-

Coordenação Geral / Lenora Lobo e Rosa Hercoles

Participação / Mário Masetti, Ju Rodrigues, Aimam Hammoub, Monica Dantas, Herlene Magalhães e Mareia Marani (divulgação)

Agradecimentos / Instituto Goethe, Consula­do dos E.U.A., Cultura Inglesa e Casa do Artista

tação do movimento interior de cada indiví­duo; Improvisação do Movimento — nossos conflitos e contradições de estarmos vivos aqui e agora, concepção Dolores Fernandes; Grupo de Improvisação — orientado por Maria Duschenes, trabalham com o elemento surpresa, sem coreografias pré-fixadas. Os participantes não são profissionais de dança, Cleide Martins, Frederico T. Barbosa, Maria Cecília P. Lacava, Jessica Portela, Karem Muller e Silvana Garcia; As Tardes de Terça- Feira — pesquisa do movimento dentro de uma forma pura da dança. Coreografia, dire­ção e interpretação: Paulo Contier e Marina Mesquita — Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 30/11 11 horasVídeo — Lar-Lubovitch at Jacob's Pillow / Nik — an Experience Sight and Sound — Sala Lima Barreto 16 horasAula Aberta — Técnica Kurt Jooss — Instru- tora Silvia Duschennes. Técnica de dança moderna criada para o treinamento tanto de bailarinos quanto de coreógrafos, a partir dos princípios de Laban, espaço e dinâmica. Seu vocabulário é original e abrangente — Sa­la de Ensaio.19 horasVídeo — Sue's Leg/M aking TV Dance — do­cumentário sobre o processo de criação da coreógrafa americana Twyla Tharp.21 horasEspetáculo Pulsão — Coreografia de Jean Ma­rie Dubrul; elenco Rosana Barbosa, Sílvia Bitencourt, Telma Passos, Yeta Hansen e Ricardo Café. Fusão do movimento, do som, da cor e do corpo da mulher. Poesia silencio­sa dos corpos dançando — Sala Jardel Filho - Cr$ 2.000

Dia 1/12 11 horasFilme — Suzane Linch — Sala Lima Barreto 16 horasAula Aberta — Técnica Pós-Moderna — Ins- trutora Mirian Dascal. Busca novas formas de tratamento do corpo, a partir da consci­ência corporal, alinhamento postural e uso correto da musculatura, na procura de um corpo mais harmonioso e movimentos mais orgânicos — Sala de Ensaio.19 horasFilme — London Contemporary DanceTheatre21 horasEspetáculo Voracidade — Coreografia de Jú­lio Vilan e Cibele Cavalcante; direção Júlio Vilan e Eugenio Pup; Grupo Mentiolat com Roberto Almeida, Monica Fucomotu, Nadia, Bia, Sueli, Monica e Sonia. Fala sobre São Paulo — Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 2/1211 horasFilme - London Contemporary DanceTheatre21 horasEspetáculo O Risco do Movimento — Coreo­grafia de Cristina Brandini; elenco: Hermes Barnabé, Cristina Brandini, Júlio Vilan e Dolores Fernandes. O movimento acontece, não deixa vestígios. No estático bidimen­sional do desenho e da fotografia, dança e música misturam especialidades num espa­ço comum - Sala Jardel Filho - Cr$ 2.000

Dia 3/1212 horasOficina com J. C. Violla - Sala de Ensaio

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Dia 27/1111 horas — Vídeo — Documentário sobre os Processos de Criação de Pina Bauch — Sala Lima Barreto 16 horasAula Aberta — Técnica Alwim Nikolais — Instrutora Vera Lopes — Sala de Ensaio. Técnica de dança contemporânea que visa disciplinar e refinar o corpo do dançarino entendendo suas funções; explorar segundo movimento e improvisação, através dos con­ceitos de espaço, tempo, movimento e forma. 19 horasVídeo — Sagração da Primavera de Pina Bauch — Sala Lima Barreto

Dia 28/11 11 horasVídeo — Clytemnestra / e I I — Coreografia de Martha Graham — Sala Lima Barreto 16 horasAula Aberta — Técnica Martha Graham — Instrutora Penha de Souza — Sala de Ensaio. Técnica de dança moderna que envolve um vocabulário original e um método de treina­mento do estilo que envolve os conceitos de contração e alongamento.19 horasV ídeo — Series Trai/b/asers o f Modem Dance — sobre Isadora Duncan — Sala Lima Barreto 21 horasEspetáculo — Assim Seja? — Coreografia Cé­lia Gouveia; elenco Brasília Botelho, Gabrie- la Rodela, João Senna, Jorge Burges, Monica Monteiro, Paulo Borges, Reginaldo Ditiva, Susy Schonberg e Zezé Indio — Indaga sobré a condição e destino do ser humano — Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

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Dia 29/11 11 horasVídeo — Pi/obo/us Dance Theatre — Sala Li­ma Barreto 16 horasAula Aberta — Técnica Merce Cunninghan — Instrutor Gregório Fassler — Sala de Ensaio Técnica de dança contemporânea que visa desenvolver e disciplinar o corpo do dança­rino através de seguimento de movimento que trabalha principalmente a coordena­ção e a rapidez, através dos conceitos de tempo e espaço.19 horasVídeo - Merce Cunninghan and Company Sala Lima Barreto 21 horasSolos: Regina Faria - a dança como manifes­

Desenvolverá técnica de improvisação e jogos aliados aos três princípios básicos do movi­mento natural do homem: espaço, ritmo, dinâmica e fluência.16 horasOficina com Carlos Affonso — Sala de Ensaio Fará a experimentação do processo criativo através de improvisação e composição, onde a dança não se limita só ao movimento fís i­co, mas também se move em ações, ima­gens, idéias, palavras e sons, na busca de uma expressão completa.

19 horasAula Aberta — Voz com Madalena Bernardes

Dia 4/12 12 horasOficina — com J. C. Violla (idem) — Sala deEnsaio16 horasOficina com Carlos Affonso (idem) — Sala de Ensaio

Dia 5/12 12 horasOficina com J. C. Violla (idem) — Sala deEnsaio16 horasOficina com Carlos Affonso (idem) — Sala de Ensaio 19 horasAula Aberta — Música para Dançarinos A to ­res — instrutora Lígia Veiga — Sala de Ensaio 21 horasSolos — Solo e Companhia — solo dança a paixão espelhada, o brilho da faca, a curva do caminho. Dança de Cristina Brandini; pintura de Miguel Paladino. Deserto — o tra­balho parte de movimentos baseados nas imagens que a música propicia. Concepção e coreografia de Rosana Fascina Cevetre. Salão Grená — um espetáculo kitsch-român­tico, mais uma estória de amor como qual­quer outra. Concepção e coreografia de Zecarlos Nunes e Helena Bastos. Colagem — uma mulher preenche o espaço, trazendo à tona do movimento as sensações e as correla­ções entre cores e planos. Concepção e co­reografia de Etel Scharff. Um Momento — baseado em textos do livro Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes. Concepção e coreografia de: Etel Scharff, Lucia Merlino, Renato Hellmeister, Viviam Buckup, Zé Maria Duda Castilhos e Michelle Matalon - Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 6/12 12 horasOficina com J. C. Violla (idem) — Sala deEnsaio16 horasOficina com Carlos Affonso (idem) — Sala de Ensaio 19 horasAula Aberta — Música para Dança com Lígia Veiga — Sala de Ensaio 21 horasSolos — Companheiros de Estrada — estória de um ciclo de várias vidas interligadas, ho­mem, mulher, animais, objetos em processo de crescimento como um desenho animado. Coreografia e concepção de Vera Lopes. Ágora Dança — Cidade — a cidade, a veloci­dade, a felicidade, a voracidade são temas desenvolvidos nesta dança intervenção. Con­cepção e coreografia de Ana Michaela e Car

los Affonso. Mariana Muniz. Silvia Dusche- nes Nader. Farsa Sublime — madrugada sem

lua, o trem parte e deixa naquela plataforma a certeza de que quatro destinos de mulher foram irremediavelmente transformados. Concepção e coreografia de Lucia Merlino, Bia Ocougne, Mareia Pacheco e Neca Cunha Bueno — Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 7/12 12 horasOficina com J. C. Violla (idem) — Sala de Ensaio16 horasOficina com Carlos Affonso (idem) — Sala de Ensaio21 horasEspetáculo O Grito — coreografia e direção de Laurie Macklin; elenco: Cláudia Damasio, Francinette Dias, Fernanda Lisboa e Laurie Macklin. Tendo como fundo um quarto de dormir, o espetáculo através de imagens e simbolismo previlegia com humor as relações e situações que se criam no cotidiano de qua­tro pessoas que se partilham na existência. Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 8/1217 horasHappening das Oficinas — Sala Adoniran Barbosa22 horasEspetáculo com o Grupo Goringa — apresen­ta Coringa-Dança, com Graciela Figueroa; Denilto Gomes; Debby Groward; Michel Robin; Regina Vaz e outros — Sala Jardel Filho - Cr$ 2.000

Dia 9/12 21 horasEspetáculo Missão Impossível — coreografia e concepção do grupo Tesouro da Juventu­de; elenco: Adriana Rindolfi, Beto Martins, Henrique Stroeter, Lígia Veiga, Sílvia Rosen­baum e participação de Caio Antunes. Sobre a impossibilidade passageira dos heróis — Sa­la Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 10/12 12 horasOficina de coreografia — Laia Dehenzelin — Sala de Ensaio. Elaborará oficina de coreo­grafia onde serão abordados dois pontos fundamentais: a) a coroegrafia é uma lingua-, gem onde os movimentos estão integrados com a idéia que queremos transmitir; b) as várias formas de se desenvolver uma coreo­grafia.16 horasOficina Corporal — Inêz Fontoura Sala de Ensaio. Trabalhando o corpo a partir de conscientização e interação postural, com técnica de esticamento muscular ativo, cons­cientização articular e relaxamento, baseados no método Mézieres.

Dia 11/12 12 horasOficina de coreografia — Laia Dehenzelin — Sala de Ensaio 16 horasOficina Corporal — Inêz Fontoura Sala de Ensaio

Dia 12/12 12 horasOficina de coreografia — Laia Dehenzelin (idem) — Sala de Ensaio 16 horasOficina Corporal — Inêz Fontoura (idem) — Sala de Ensaio 21 horasSolos — Pulsos Temperados — Surge a neces­sidade da experiência não adquirida, a sensa­

ção do que poderia ser. Às vezes, um peque­no impulso, ou mesmo uma pequena lem­brança, desencadeiam uma série de impres­sões de que muito próximos estamos de uma experiência total. Concepção e dança de Eduardo Motta; canto de Montserrat Sala; coreografia e figurino de Monica Von. Solo— os movimentos da natureza, os ritmos ur­banos, a intimidade, como referências de um solo de dança. Os acontecimentos do cotidiano. Concepção e dança de Miriam Dascal. Intriga Internacional — uma estória de espionagem industrial. Concepção e co­reografia de Cacá Ribeiro e Renata Melo. Esquizofrenia e Silhueta — coreografias de Elaine Ash< com Elaine Ashe e Sílvio Andra­de. Sin Palavras — poema físico, baseado no movimento, na cor e na magia latina. Coreo­grafia de Churg e Xilson Silva; dança Xilson Silva — Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 13/12 12 horasOficina de coreografia — Laia Dehenzelin (idem) — Sala de Ensaio 16 horas

Oficina Corporal — Inêz Fontoura (idem) — Sala de Ensaio 21 horasCompanhia TBD apresenta espetáculo Eu Seis de Clarisse Abujamra e Gritei Seu Nome Três Vezes de Vai Folly; elenco: Maria do Racio, Series Artco, Rodolfo Azo- ni, Cinthia Garcia, Mazé Monteiro e Geraldo. Sala Jardel Filho — Cr$ 2.000

Dia 14/12 12 horasOficina de coreografia — Laia Dehenzelin (idem) — Sala de Ensaio 16 horasOficina Corporal - Inêz Fontoura (idem) — Sala de Ensaio21 horasEspetáculo. O Grupo Marzipan apresentará as coreografias Manobras, Vampiris Reliquia e L i/i Marlene; elenco: Gisela Alegro, Renata Melo, Soraya Sabino, Zélia Monteiro, Cláu­dia Rydelewski e Helena Bastos — Sala Jar­del Filho - Cr$ 2.000

Dia 15/12 12 horasOficina de coreografia — Laia Dehenzelin (idem) — Sala de Ensaio16 horasOficina Corporal - Inêz Fontoura (idem) — Sala de Ensaio17 horasHappening das oficinas de coreografia— Sala Adoniran Barbosa22 horasEspetáculo O Homem de Pijama — Coreogra­fia de Cassia de Souza e Gregório Fassler; elenco: Cassia de Souza, Emílio Alves, Fran­cisco Frederico, Gabriela Imparato, Gregório Fassler, Mareia Cepia, Marly Pedroso e Rosa­na Biral. Um homem comum, suas reflexões, suas memórias, seu mundo imaginário. Den­tro de sua casa, preso na intimidade, fazendo uso de objetos do cotidiano — Sala Jardel Fi­lho - Cr$ 2.000

Dia 16/12 12 horasHappening de encerramento — Klaus Vianna; elenco: participantes do Ciclo — Sala Jardel Filho

Toda a programação será gratuita com exce­ção das especificadas.

QUEM NÃO TEM TRADIÇÃO... DANÇAQuando não se tem tradição, o jeito é tomar uma emprestada. Parece que tem sido esse o norte da turma que milita na dança, aqui em São Paulo. Colônia tropical que não desfru­tou de nenhum Luis XIV próprio, não pôde produzir os amenos bailados que divertiam sua corte. Aqui, o balé clássico chegou mais de três séculos depois, acomodado na valise de alguns mestres europeus que se aclimata­ram ao nosso calor e a nossas bananas.Sem percorrer o arco que tensionou sua his­tória em outras praças, e que nelas provocou o surgimento de uma estética diferente — a que recebeu o nome de dança moderna — aqui, a dança clássica, implantada por em­préstimo e ainda por cima historicamente atrasada, não teve sequer tempo de percorrer as fases de uma evolução já naturalizada. No meio deste processo, a dança moderna des­pencou entre nós, importada dos centros onde florescia como necessidade.Neles, a dança moderna nascia da urgência de falar ao homem dele mesmo, de uma aproximação urgente com o fluxo da vida. Nada mais de príncipes e camponeses. Os sentimentos mais insólitos, as contradições humanas — estes foram os assuntos que pas­saram a ocupar o lugar das histórias de fa­das. A dança precisava refletir a vida.Foram pioneiros como Dalcroze ( 1865-1950) e seu assistente Rudolf von Laban ( 1879- 1958) que começaram a sistematização das novas necessidades. Mas foi Mary Wigman, ex-aluna de ambos, a verdadeira matriarca da dança moderna na Europa. (No início, aliás, a dança moderna foi mesmo feudo de mu­lheres: Graham, Humphrey, Isadora, Ta- miris, etc.) Uma de suas alunas, Hanya Holm, levou esta nova dança para os Estados Unidos, em 1931. E o terreno ficou fértil pa­ra a semente nova.O grande valor da dança moderna foi o de haver dado dignidade à exploração das cul­turas locais. A que se estabeleceu nos Esta­dos Unidos começou a buscar uma definição própria para sua sociedade. A que cresceu na Alemanha fez o mesmo com os valores teu- tônicos. Essa, a sua beleza maior, que nós, infelizmente, ainda não conhecemos, porque aqui a dança moderna sequer floresceu como tendência estética importante.

Só agora, quando a dança já se tornou con­temporânea em outros locais é que nós amea­çamos tomar contato com a dança moderna. Nem mesmo a técnica de Martha Graham, a mais completa em moderno já elaborada, cresceu bem por aqui. Sobrevive às custas de algumas almas dedicadas e solitárias como Clarrisse Abujamra, Ruth Rachou e Per ia de Souza.A dança moderna mudou o conteúdo das suas produções e alterou o vocabulário do movimento. Mas quem veio a questionar a fo r­ma e a estrutura de um trabalho coreográfico foi a dança contemporânea. Cunningham e Nikolais reagiram ao moderno testando no­vos conceitos de tempo e espaço. Cunningham foi mais longe, até: removeu o foco central de suas obras e começou a trabalhar com a presença do acaso.A dança contemporânea prosseguiu nas per­guntas que a dança moderna havia levantado e passou a se preocupar com a desumaniza- ção crescente do ser humano. Criadores co­mo Meredith Monk, Paul Sanasardo, Margot Sappington, Laura Dean, Kei Takei, David Gordon, Viola Farber ou Lucinda Childs andam tentando dar mil formas às inquie­tações que todos nós, que estamos vivos neste fim do século, sentimos e partilhamos.

Lá, seus trabalhos já não provocam tanta inquietação quanto os de Cunningham dos anos 40, claro. Porque embora o abstra- cionismo tenha chegado à pintura no início deste século, na dança isto só ocorreu faz pouco tempo. Mas ocorreu lá. Por aqui, ainda vivemos dos respingos da dança moderna americana. E ainda nem tentamos fazer uma dança que fosse moderna à nossa maneira.Por enquanto, dispomos apenas da embala­gem. O conteúdo, enquanto não reproduzir o significado histórico da dança moderna, f i ­ca sob suspeita. Mas se isto demorar muito, talvez seja melhor irmos beber nas fontes mais contemporâneas. Porque o bonde da história nunca volta pro ponto anterior. Por mais simpático que seja o passageiro que o deixou passar.

Helena Katz

Solo de Eduardo M otta ( Divulgação)

YES, NÓS TEMOS MÚSICAA quantas anda a Música Popular Brasileira? Há algo de novo surgindo no horizonte? Dizer que a MPB atravessa um período não criativo é arriscar-se a não dizer a verdade. O que acontece é que para se ouvir a nossa música de boa qualidade é necessário fechar- se nas quatro paredes de um teatro ou sala. Certo é que a proliferação da música estran­geira, de qualidade duvidosa, que vem incen­tivando o surgimento de grupos nacionais a fazer música de igual teor, escondida atrás de rótulos como new wave, punk e outros tão veiculados nas rádios, está estrangulando a MPB. O mais incrível é que essas mesmas pessoas que consomem a tal "má qualidade" se revoltam contra o "imperialismo cultural" que contamina a nossa cultura popular. Poucas rádios veiculam a MPB bem feita: Egberto Gismonti, Papavento, Pau Brasil, representantes, entre outros, da MPB instru­mental; a família Caymmi, das composições do velho Dorival às interpretações sensuais e singulares de Nana; do regionalismo de Dominguinhos, Gonzagão e Anastácia; das cordas de Baden Powell e Hélio Delmiro; da urbanidade de Itamar Assumpção e Luís Melodia à influência estrangeira adaptada de Marina. Yes, nós temos música!Neste mês de novembro a programação do CCSP dá homeopática mostra do que está acontecendo no cenário musical.A pesquisa é a saída. É o que pensam Priscil­la Ermell e Ruy Maurity.

Priscilla diz que sua música é o resultado de um trabalho de mais de dois anos de pesqui­sas e composições de canções, que une em si vários caminhos estéticos da MPB, da indígena à contemporânea.Ruy Maurity desde 1968, quando surgiu num festival universitário, deixou bem claro suas ireferências musicais — fontes popula­res e nativas. Nesses 16 anos, Maurity se embrenhou pelo baião e suas variações, pelos ritmos sertanejos com sabor m ítico, brejeiro e ecológico, pelos pontos de macumba e repentes nordestinos. Hoje, seu único crité­rio é a qualidade da música e não o compro­misso com um gênero rural ou urbano.Com um repertório formado por rock, sam­ba, brega e blues, Hermelino e o Football Music estará lançando aqui seu LP. Um show performático com artes plásticas, dança e humor marcará o nascimento desse disco depois de dois anos e meio de gestação. Hermelino, violonista nascido em Ourinhos, tem no seu time clarineta, clarone, violão, violino, bateria, guitarras, piano e vocais. Vozes formam o Quintaessência, nascido da união de cinco integrantes do Coral da Uni­versidade de São Paulo, o CORALUSP, es­truturado em 1978. O trabalho de Solange, Bartira, Tereza, Ricardo Breim e Fernando, os integrantes do quinteto, busca desenvol­ver uma concepção própria de estrutura vo­cal dentro da MPB, com repertório de músi- cais inéditas e as já conhecidas A cantora e compositora Joyce apresentará

DESEJO DESENHARExposição de Luiz Carlos Daher 19/11 a 10/12

O grande tema da arte, que através dos tem­pos sempre fascinou os artistas, é o desejo.Em todas as épocas por que passou a huma­nidade, o artista se expressou através desse impulso, sob as mais diferentes formas: paixão, drama, delírio, fantasia. E é exata­mente este o tema responsável pela exposi­ção do artista plástico Luiz Carlos Daher, onde estão sendo apresentados 27 desenhos e um objeto, que traduzem a representação do desejo (desígnio), a formulação estética que determina a expressão do artista a partir da vontade de se expressar.São desenhos sensuais, leves, e na maioria das vezes muito bem-humorados. Riscados a lápis de cor, coloridos com aquarela ou téc­nica mista com nanquim, revelam, através de simbologias ou abstratamente, o lírico e o amoroso, mas de forma sempre tranqüila, até ingênua. Os símbolos brincalhões do desejo se revelam nas figuras carimbadas — como cupidos, guerreiros, gorilas — impres­sas a partir do traço de Luiz Carlos Daher. Percorrendo a exposição, st nte-se também a evolução da tentativa de aprender e reapren­der o sentido espontâneo e prazeiroso do traço.

O PORQUÊLuiz Carlos Daher é arquiteto, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1970). É mestre em Estruturas Ambi­entais Urbanas e professor de História da Arte na mesma faculdade.Como artista, sempre se expressou através do desenho. Entretanto, de meados da déca­

da de 70 ao início dos anos 80 dedicou-se à docência e à pesquisa de maneira tão inten­sa, que surpreendeu-se nos últimos anos como "mendigo e estéril", em suas palavras. Também, pondera, "foram os anos negros da Universidade — de Paulo Egídio a Paulo Maluf".Ao assumir a crise da incapacidade e do vazio que o assaltavam, Luiz Carlos Daher produziu um desenho que intitu lou Desejo Desenhar, e doou-o à artista plástica Reni- na Katz, grande amiga. A partir daí, entrou no processo de reconquista do seu espaço como artista. Retomou o desenho com fre-

Lu iz Carlos Daher - o autor

Quadrante, espetãfculo dividido em quatro segmentos bem definidos da história vivida pelas juventudes das últimas décadas. O pri­meiro quadro trata dos anos 60 e a explosão política; no segundo, o underground, a

Joyce é uma das convidadas do CCSP

estrada, os jeans, o começo e o fim dos so­nhos; a mulher e sua evolução, a discussão da sexualidade do homem e da mulher é o ter­ceiro quadro, e no último a busca da nature­za, a purificação mental, o aprimoramento espiritual. Além de composições suas Joyce canta Noel Rosa e Vadico, Lennon e Mc­Cartney, Joyce com várias parcerias entre elas Mário Quintana e Gil.Na programação também Roberto Vergall.

(V er programação na últim a página)

qüência, e hoje reparte seu tempo entre o desejo de desenhar, a Universidade e os tex­tos.Luiz Carlos Daher é autor de dois livros: Flávio de Carvalho: Arquitetura e Expres­sionism o, Editora Projeto/82, e A Volúpia da Forma, Editora Raízes, a ser lançado ainda este mês. Já apresentou uma individual no Sesc-Vila Nova (1972) e participou de uma coletiva na Associação Amigos do MAM (1974).

25 ANOS DE VILLA LOBOSÉ com o intuito de homenagear Villa-Lobos, na passagem do 259 aniversário de sua mor­te, que o Centro Cultural São Paulo promo­verá dia 17 de novembro às 20 horas, no sa­guão da Biblioteca, os recitais da cantora lí­rica Vitória Kerbauer acompanhada pela pianista Selma Asprino; do violoncelista Antônio Del Claro acompanhado pela pia­nista Maria de Lurdes Gimeraez e do quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, interpre­tando músicas de Villa-Lobos.Compositor, músico e regente, Villa-Lobos vai estar sempre presente na tradição cultu­ral brasileira. Nascido em 5 de março de 1887 no Rio de Janeiro, Villa-Lobos come­çou desde criança a estudar música e foi com pequenas apresentações familiares de violon­celo que começou sua grande carreira. A par­tir daí não parou mais, levando por todo o Brasil e também para o exterior sua música que representa uma nova forma de composi­ção musical brasileira indígena e popular, tendo por elementos principais o ritmo e qualquer melodia típica de característica po­pular.

...NO DIA DO CINEMA BRASILEIRO..Para o dia 5 de novembro, Dia do Cinema Brasileiro, o Centro Cultural São Paulo preparou um programa especial : uma tribuna aberta para os cineastas.

TRAGICOMÉDIA METAFÓRICA

CCSP:UMA TRIBUNA PARA 0 CINEASTAQue o dia 5 de novembro, dia do Cinema Brasileiro, se estenda por todos os dias do ano.Nós, do Centro Cultural São Paulo, desejamos que isso aconteça. A tribuna está aberta a todo e qualquer trabalhador em cinema que desejar se manifestar. Precisamos acabar com a idéia de que nossos espaços são apenas para "passar film e"; queremos transformar nos­sos espaços em local de troca de idéias, de troca de experiências e por que não local onde também se passam filmes.Que o dia 5 de novembro seja o balão de en­saio destas novas idéias que estamos tentan­do implantar.Cineasta: A tribuna é sua. Fale, grite, ques­tione.CINEMA BRASILEIRO, JÁ !!!

Mario Masetti

Às 15 horas, a Sala Lima Barreto estará exi­bindo o filme Ladrões de Cinema, de Fer­nando Coni Campos, com entrada grátis. O filme conta a história de uma equipe de cineastas americanos que tem seu material de filmagem roubado pelo bloco de índios que eles documentavam. Os ladrões, favelados do morro do Pavãozinho, resolvem fazer um f i l ­me sobre a Inconfidência Mineira. O filme é realizado, porém a polícia recupera o equipa­mento e prende os ladrões. Os americanos levam o.filme dos favelados para os Estados Unidos, lançando-o com o títu lo de Sweet Thieves, com sucesso de público e crítica. No dia da estréia no Brasil, os favelados comparecem à sessão algemados, levados por um camburão da polícia.

PERSONALIDADES NO CINEMA

Entre os dias 13 e 18 de novembro, o ciclo Personalidades no Cinema ocupará a Sala Lima Barreto, do Centro Cultural São Paulo. Os filmes, da Federação Paulista de Cineclu- bes e Dinafilme, são os seguintes:

Dias 13 e 14 / 19 horasMulheres de Cinema, de Ana Maria MagalhãesO Homem e o Lim ite , de Ruy SantosGilda, de Augusto SeváLeila para Sempre Diniz, de Marisa Leão eSergio Rezende

Dias 15 e 16 / 19 horas Jorge Amado no Cinema, de Glauber Rocha Casa Grande e Senzala, de Geraldo Sarno Morto no Exílio , de Sergio Santeiro Arraes Taíf de Armando Lacerda

Dias 17 e 18 / 19 horasLuiz Gonzaga, o Rei do Baião, de RomanStulbachO Incrível Mane' Garrincha, de Aécio de AndradeNoel Nute/s, de Marcos Altberg O Aleijadinho, de Joaquim Pedro de Andrade

A HORA E A VEZ DO CINEMA BRASILEIRO

Na comemoração do dia do cinema brasi­leiro, inegavelmente será necessário defender, mais uma vez, todo filme nacional de valor histórico, cultural e experimental em detri­mento do produto estrangeiro que nos é imposto. É necessário sair da condição pri­mitiva de uma arte industrial que ainda não conquistou, suficientemente, seu próprio mercado.O curta e longa-metragem brasileiros devem exercer o direito e o dever de cumprir seu objetivo cultural, educativo e de reflexão social. Portanto, a necessidade efetiva de conquistar um espaço no mercado exibidor. A televisão, que em princípio absorveu um grande número de profissionais que emigra­ram, com seu trabalho, do cinema, está co­meçando a mostrar interesse pelos filmes brasileiros — como ocorreu recentemente na exibição do Festival Nacional pela Rede Globo. Mesmo longe de mostrar os melhores trabalhos já produzidos em termos de uma arte cinematográfica, indiscutivelmente foi um grande passo na conquista de mais um espaço. Que no futuro próximo, assim como na Europa e Estados Unidos, a TV brasileira seja a grande aliada do cinema nacional. Que surjam novas propostas de veiculação, reto­mando caminhos em busca de um maior pú­blico.Ao CCSP, como instituição pública, cabe também fomentar a política de uma exibi­ção que leve em conta as prioridades do cinema brasileiro, sem contudo perder os critérios de um objetivo cultural sério.Não podemos ser pai, muito menos padras­to !!!

Herlene Magalhães

Este é o terceiro ano consecutivo em que se realiza o maior .evento da área de literatura portuguesa no -país: a Exposição-Feira do Livro Português que traz, nesta ocasião, cerca de 8.000 títulos, muitas novidades e obras reunidas exclusivamente para a mostra. Desde a literatura em geral ao livro especia­lizado, serão oferecidos ao público trabalhos de escritores portugueses em sua maioria, principalmente os modernos. Uma seção especial concentra os temas portugueses enfocando a Revolução de 25 de Abril de 74 com suas conseqüências e as comemorações de sejj décimo aniversário. Outra apresenta centenas de livros recentemente publicados em Portugal. Esta exposição reservou ainda um espaço aos autores de países de expres­são portuguesa e um local onde estarão ex­postos revistas e jornais atuais, além de livros de música moderna e popular portuguesa. Simultaneamente à feira, diversas exposições e manifestações estarão acontecendo em vá­rios espaços do Centro Cultural São Paulo: exposições de cartazes turísticos; fotos dos principais monumentos, obras arquitetônicas e folclore português; projeção de audiovi­suais $obre a geografia, a arte popular e a educação em Portugal; audição de música regional e a exibição do conjunto folclórico Vilarinhos de Portugal, considerado o mais expressivo grupo de danças típicas de pro­víncias portuguesas em São Paulo.Haverá ainda debates sobre literatura com a presença de escritores portugueses, vindos especialmente para o evento, e apresentação de poesias e textos literários.A I I I Exposição-Feira do Livro Português, organizada pelo Centro Cultural 25 de Abril, fica de 30 de outubro a 18 de novembro no Centro Cultural São Paulo.

PROGRAMAÇÃO DE MÚSICAHERMELINO E O FOOTBALL MUSIC MÚSICA NO FIM DE SEMANA dias 9 e 10 às 20:30 horas dia 11 às 18:30 horas (ingressos a Cr$ 2.000)

QU/NTAESSËNC/A - FEIRA DE MPB dias 13, 14 e 15 às 18:30 horas (ingressos a Cr$ 1.000)

JOYCE - "QUADRANTE"MÚSICA NO FIM DE SEMANA dias 16 e 17 às 20:30 horas dia 18 às 18:30 horas (ingressos a Cr$ 2.000)

PRISCILLA ERMELL - FEIRA DE MPB dias 20, 21 e 22 às 18:30 horas (ingressos a Cr$ 1.000)

RUY MAURITY MÚSICA NO FIM DE SEMANA dias 23 e 24 às 20:30 horas dia 25 às 18:30 horas (ingressos a Cr$ 2.000)

ROBERTO VERGALL - FEIRA DE MPB dias 27 ,28 e 29 às 18:30 horas (ingressos a Cr$ 1.000)

PROGRAMAÇÃO VENTOFORTEDia 17/11 — A História do Barquinho Dia 18/11 — As Quatro Chaves Dia 24 /1 1—0 Cisne Selvagem Dia 25/11 — Estou Fazendo uma Flor

Os espetáculos acontecerão sempre às 15:30 horas na Sala Paulo Emílio Salles Gomes

A AVENTURA CONCRETISTA DE EDGARD BRAGADois eventos apresentados no Centro Cultu­ral São Paulo no dia 6 de novembro marcam a passagem do 879 aniversário do poeta con- cretista Edgard Braga: o lançamento da An­tologia Desbragada (Editora Maxi Limonad) e a abertura da exposição que leva o nome do autor, apresentando vários momentos da trajetória de seus poemas.A antologia foi organizada por Régis Bonvi- cino e reúne poemas inéditos e textos c ríti­

cos de intelectuais e poetas contemporâneos. Já a exposição, aberta ao público de 6 a 25 de novembro, foi organizada por Paula Mat- to li e Lenora de Barros, da Divisão de Pes­quisas do Centro Cultural São Paulo, e con­tém material vasto e inédito, pesquisado no Arquivo Multimeios (Casa das Retortas). A obra de Edgard Braga é fruto de uma traje­tória inquieta e rica em experimentações e, embora com significativa repercussão inter­nacional, ainda não atingiu o reconhecimen­to merecido entre nós.Seu amadurecimento como poeta começa a se dar a partir de Extra/unário e Soma, livros publicados em 1957 e 1963, respectivamen­te, em que Braga, influenciado pelo concre- tismo e seu exemplo de invenção, cria uma poesia de dicção própria, marcada pelo em­prego original da espacialização e visualidade da linguagem.Posteriormente, Braga opta por experiências que se situam nos limites dos códigos verbal e visual. Algo (1971 ) e Tatuagens (1976) são o resultado instigante de suas aventuras e reflexões sobre as possibilidades de diálogo entre a palavra e a imagem.Edgard Braga publicou ainda sete obras anteriores às mencionadas: Senha (1933), Lâmpada sobre o Alqueire (1946), Odes (1951), Albergue do Vento (1952), Inú til Acordar (1953), Lunário do Café (1954) e Subúrbio Branco (1958).