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A Rua Moron da minha memória t PAUTA DO LEITOR 13 12 JORNAL DO POVO G ERAL n Sábado e domingo, 16 e 17 de março de 2002 n Comunicado A Dra. Silvia Lisboa (ginecologista e obstetra) comunica à comunidade cachoeirense que está conveniada ao IPE desde 8/3/2002. Quem se lembra de seu Alcides, dona Pequena e a FarmÆcia Sªo JosØ? Aproveite este passeio pela história OS MORADORES Quem habitava a Rua Moron As famílias que moravam nas casas da Moron, a partir da descida da praia em direçªo ao centro: suspense, levou a mªo ao bolso do casaco e leu seu discurso, sem perceber que estava segurando uma cópia carbono. Brincadeiras como essa eram muito próprias dos Ghignatti 2. OS POHLMANN. Edgar foi funcionÆrio da Pre- feitura, casado com Gessia Moeller Pohlmann, minha colega na aula de Mariana Portinho, em 1930, no ColØgio Elementar, hoje Escola Antônio Vicente da Fontoura, e Baltazar, casado com uma moça da família Pedroso. 3. DOMINGOS Lisboa, casado com Morena, pais de Beto e Elci, tambØm era envolvido com transportes. O proprietÆrio da chÆcara, onde hoje encontra-se insta- lada a Cesa com seus silos, era Ezequiel Silva, sogro de Elci Lisboa, que tinha uma empresa de transportes com carroças e mais tarde com caminhıes International. Transportavam dia e noite arroz para os engenhos e embarques fluviais. Tinha sua sede na hoje esquina com a Rua Tiradentes. Dessa esquina atØ a pracinha Itororó, onde hoje estÆ o Hospital de Caridade, era mato fechado. 4. OUTRA empresa era de Irineu Brito e seu filho Adªo, que atuava como motorista. Na velhice, Adªo perdeu a visªo e deslocava-se pela cidade vendendo loterias. Muitas vezes encontrei Adªo batendo sua bengalinha branca em direçªo da sua residŒncia, próxima da Cooperativa do Arroz, na margem do rio. 5. NO DECORRER do sØculo 20, outras famílias residiram nas quadras da Moron: n Antônio Preussler n Arcelo DÆvila Mahfuz, pai de Sheila n Anapio Pinto n Isidro Rosa n Joªo Caetano Florence n Eluiza Vidal com as filhas Maria da Graça e Mariluce n Cidico Machado de Lima n Rubem Fialho da Silva, que vendia lenha n Honorino Lima e seu filho JanuÆrio Lima n Dona Isaurina (professora do hoje Instituto Joªo Neves da Fontoura) n Arlindo Alves de Oliveira (oficial de justiça com sua esposa e filhos) n Carlos Gama n Octacílio Carvalho Bernardes n Dona Cuchinha e sua irmª Dalica. Mais tarde esse imóvel foi adquirido e demolido para a construçªo da residŒncia do promotor Wanderlei Willig n Na esquina das ruas General Osório e Moron morava Miguel Facchin, oficial do Registro de Imó- veis. Seu primeiro casamento foi com Diva Costa Facchin, mªe de Eny, Érico (Queti) e Roberto. Em segundas nœpcias, com LØlia, nasceram Miguel, Maria e Isabel. TambØm foi residŒncia da família do delega- do de Polícia Ruy Weber Dias. No terreno ao lado de Miguel Facchin, a propriedade hoje pertencente à família de Vando Bitencourt foi construída por Queti Facchin, que ali morou com a esposa Zilah e filhas Diva Regina e Helena Beatriz. Posteriormente tam- bØm residiu ali a família de Chiquinho Bifano. n Maestro Souto Menor n Waldemar Bartmann n Francisco Bittencourt Severo n Aracy Severo Godoy, viœva de Ataliba Godoy n Joªo Eggers Garcia n Eurico Machado n Na esquina onde hoje estÆ sendo construído o shopping de Orlando Tischler funcionava a funilaria de Borba & Badineli, que alugava bicicletas por hora. As casas seguintes: Orlando da Cunha Carlos, Joªo Mattos Guimarªes e seu filho Epaminondas, avô da atriz Daniela Escobar (a Maísa na novela O Clone) e 1. SEU OL˝MPIO Lima, sua esposa Maria Elmiria, mais conhecida por dona Pequena, pais de 12 filhos: Emigidio, Helenio, Elmiria, Enio, Elio, Elcio, Elza, Edemar, Emir, Elvio, Eunice (foi casada com Ivo Diniz) e Edyr de Araœjo Lima. Fui colega de Edyr Lima no GinÆsio Roque Gonzales, hoje Gonçalves. Trabalhei com Elvio e Ivo Diniz no Banco da Província. Quando ingressei no serviço pœblico, em 1939, na Coletoria Estadual, fui colega de seu Olímpio, que, como fiscal do imposto de consumo, hoje circulaçªo de merca- dorias, estava encerrando suas atividades, pela aposentadoria. Na ocasiªo, seu Olímpio foi ho- menageado pelas autoridades, entidades de clas- se e seus amigos com um grande banquete nos salıes da Sociedade Italiana, hoje sede social do GrŒmio NÆutico TamandarØ. O orador oficial convidado foi Carlos Ghignatti, um dos tios do hoje mØdico SØrgio Ghignatti. Como na Øpoca era comum deixar a palavra à disposiçªo a todos que quisessem saudar o homenageado, o capitªo Miguel Dutra, capitªo da marinha do Jacuí, como ele gostava de se identificar, solicitou a Carlinhos Ghignatti, seu amigo pessoal, que escrevesse um discurso para fazer a homenagem a seu Olímpio. Carlinhos, como todos os Ghignatti, preparou uma peça. Na hora das homenagens, ao som de um cafezinho e um bom charuto, a palavra foi dada ao capitªo, que, levantando, fez o clÆssico RESID˚NCIA DE JOˆO ALFREDO Eggers, avô do jornalista da Globo Alexandre Eggers Garcia PORTO DO JACU˝: em tempos de cheia, o desembarque das mercadorias na Rua Moron JOˆO CARLOS MÓR / ESPECIAL PARA O JP A Rua Moron Ø uma das mais antigas da cidade. Hoje a conhecemos mais pelos ende- reços ilustres de sua via, como a rua da Justiça do Trabalho, a rua do Fórum ou a rua das rÆdios, mas a Moron jÆ funcionou como passagem obrigatória atØ o Porto do Jacuí, tanto que seu trecho inicial era mais conhecido como descida da praia. Na ver- dade, a Moron nasce na margem do Jacuí e termina na esquina da Praça JosØ BonifÆcio quando cruza com a Rua Milan KrÆs. A partir do Posto Esso, de Arthur Radünz, ela passa a denominar-se Marechal Floriano. Mas isso jÆ Ø o fim da história. No início do sØculo 19, quando Cachoeira tinha deno- minaçªo de Freguesia de Nossa Senhora da Conceiçªo, a futura Moron era conhecida como a Rua da Igreja. Antes da construçªo da Ponte-barragem do Fandango existia no leito do rio uma grande ilha que dividia o rio em dois canais. As navegaçıes de menor calado carregavam e descarregavam suas cargas naquele local. No verªo chegava-se à ilha sem auxílio de barcos. Era o local pre- ferido para banhos. Hoje, o local para ba- nhos Ø a Praia Nova, que naquela Øpoca era impróprio para banhos, pois a correnteza era muito forte e nªo oferecia segurança. Os barcos de menor calado carregavam e descarregavam suas cargas no local onde existiam engenhos de arroz, depósitos de cargas e mercadorias, administrados pelas diversas empresas de navegaçªo. Nessa Øpoca, do local onde hoje encontra-se insta- lada a Retificadora Pelzer atØ a margem do rio, a Ærea pertencia a um œnico proprietÆ- rio, Cirino Machado de Oliveira, pai de Alcides, Osório e JosØ Machado de Oliveira. Alcides Machado de Oliveira, pai de Adail e Ary, no local da retificadora instalou um grande armazØm e a sede de sua navegaçªo, a primeira a usar barcos com motor. Tinha um grande depósito de combustível, gasoli- na e querosene que era vendido em caixas de trŒs latas cada uma. Mais tarde, seu filho Adail o substituiu nos negócios. O mesmo Adail, ainda menino, quando da revoluçªo de 1930, foi descoberto como clandestino no trem que conduzia os cachoeirenses para o front. Hoje ainda concentra-se no local, à mar- gem do rio, a sede nÆutica do GrŒmio NÆu- tico TamandarØ, que no início era um depó- sito para guardar barcos. As embarcaçıes dali eram levadas no ombro pelos quatro remadores (eu era um deles. Timoneiro lí- der da turma, nªo carregava peso, somente levava o leme). MAXAMBOMBA NA PRAIA VELHA: no início da Rua Moron, várias balsas transportam madeira aproveitando a correnteza do rio O arroz, produto principal de Cachoeira, era beneficiado na virada do sØculo 20 pelos engenhos Brasil, de Reinaldo Roesch & Cia Ltda, Sªo Joªo, de Santos, Radünz & Cia Ltda, E. Stracke & Cia, Willy Tesch, Cachoeirense, de Fürstenau & Gressler & Cia Ltda, e Bom Retiro, de Emílio Garske. Em Øpoca de safra trabalhavam dia e noite transportando o produto exportado, primei- ramente em carroças, depois em caminhıes A praia velha ao nascer do século 20 próprios ou alugados, que eram despachados pelas diversas navegaçıes fluvial, lacustre ou marítima. O comØrcio da descida da praia era representado pelas casas de Alcides Ma- chado de Oliveira, Vicente Ferraz, Joªo Ale- mªo, Luiz Menegassi, Alexandre Vidal, Retificadora Pelzer, Abraªo Esber, JosØ Piveta, Alfredo Souza, Joªo CorrŒa, Felipe JosØ Joªo e Joªo Cândido de Moraes, com sua popular FarmÆcia Sªo JosØ. RUA MORON na cheia de 1941, até hoje a maior enchente registrada em Cachoeira FOTOS ARQUIVO JOˆO CARLOS MÓR ARQUIVO JP Francisco Figueiró e seu filho Volny. n Na casa que hoje Ø ocupada pela família Hausen Castagnino funcionou nos anos 40 a Delegacia de Polícia, que tinha como funcionÆrios Demenciano Moraes de Barros, delegado, e os inspetores Waldyr Tibusch, Auro Ramos e Esmelino Mença. n Atilio Mainieri, sua esposa Pureza e os filhos Francisco, Maria e Teresinha Onofrio Mainieri n Isidoro Motta n Elmira Guardiola da Cunha n JosØ Brandes e o filho Camelinho n JosØ Salerno n Isidoro Neves da Fontoura Filho n Delfino Carvalho Bernardes n Newton Luiz Sesti n Fernando von Huguel n Carlos Alberto Gaspary n Onde hoje Ø a Casa das Pilchas, que merece ser tombada, morava Floriano Leitªo e pessoas que o acompanhavam na propriedade rural. n Luiz Teixeira e seu filho, o hoje mØdico Gilberto n Carlos Pereira Krieger e sua filha Izolina, que foi casada com o herói da Segunda Guerra Mundial, o cachoeirense Danilo Moura, piloto de caça da Força AØrea Brasileira, que lutou na ItÆlia. Seu aviªo foi abatido, saltou de pÆra-quedas, conseguindo re- tornar a sua base, atravessando as linhas alemªs vestido de mulher. n Francisco Cintra. Seu Chiquinho Cintra, como era conhecido, era o tesoureiro da Coletoria Estadual. Quando ingressei no serviço pœblico, em 1939, a sede da repartiçªo era casa do coletor, SilØcio Pinós, hoje sede do Cachoeira Futebol Clube. Com a apo- sentadoria de seu Pinós, o novo coletor, JosØ Mano- el Porto, precisou mudar a repartiçªo. Seu Chiquinho desocupou sua casa e reformou-a, transformando em duas residŒncias, uma moradia do novo coletor e a outra parte, a instalaçªo da repartiçªo. n Aurino Gonçalves da Silva n A casa hoje ocupada pela Junta de Alistamento Militar foi residŒncia do Dr. MÆrio Barros n Isidoro Neves da Fontoura, filho de Floriano Neves da Fontoura n JosØ Werlang n Graciano Gonçalves da Silva n Pedro Choaire n Na casa onde hoje hÆ uma oficina era a residŒn- cia de Irineu Maydana e seu filho Canivete n Nas duas calçadas da Praça JosØ BonifÆcio eram as residŒncias das famílias Pedro Leªo e Luiz Leªo, proprietÆrio do bar Ponto Chic, e o Posto Fiscal Federal, criado e instalado nessa rua em 1916, onde trabalhou Olavo Mayrinck e Francisco Petrucci, pai de Miguel, Gentil, Ubirajara e ClÆudio Petrucci n Antônio Figueiredo, avô de Angela Schumacher Schuh, secretÆria municipal de Educaçªo n Igreja Metodista n No local onde hoje estÆ a oficina de Dercy Lisboa era a residŒncia e oficina de Manoel Antônio Gon- çalves, piloto do Aeroclube local, que faleceu em 1947, junto com sua filha de 15 anos, no acidente com o aviªo Maria QuitØria, em Cerro Branco n Ismael Pereira, pai de Maria, casada com Euclides Bacchin n Palmira Neubauer, modista n Na esquina com a Rua Milan KrÆs, em 1912, instalou-se uma usina elØtrica, sob administraçªo da municipalidade, com trŒs quinas francesas da marca Belevile. Em 1918 foi vendida ao coronel Joªo Ganzo Fernandes, gerente da Cia Telefônica Riograndense. Em 1923 passa a denominar-se Cia Riograndense de Uzinas ElØtricas. Encampada em 1952, passa a ser administrada pelo Estado. Entre outros, foram gerentes JosØ Brandes, um dos fun- dadores da Sociedade Beneficente Uniªo OperÆria 1” de Maio, em 1900, e Osmar Santos JOˆO CARLOS MÓR é uma das mais privilegiadas memó- rias de Cachoeira do Sul, dono de um invejável espírito de pesquisa. Ele é o autor deste texto que recupera parte da história da Rua Moron e o cotidiano de seus moradores mais tradicionais

FOTOS ARQUIVO JOˆO CARLOS MÓR - jornaldopovo.com.br · cachoeirense que está conveniada ao IPE desde 8/3/2002. Quem se lembra de seu Alcides, dona Pequena e a FarmÆcia Sªo JosØ?

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A Rua Moron da minha memóriat PAUTA DO LEITOR

1312 JORNAL DO POVO

G E R A Ln Sábado e domingo, 16 e 17 de março de 2002 n

ComunicadoA Dra. Silvia Lisboa (ginecologistae obstetra) comunica à comunidadecachoeirense que está conveniada

ao IPE desde 8/3/2002.

Quem se lembra de seu Alcides, dona Pequena e a Farmácia São José? Aproveite este passeio pela história

OS MORADORESQuem habitava a Rua MoronAs famílias que moravam nas casas da Moron, a partir da descida da praia em direção ao centro:

suspense, levou a mão ao bolso do casaco e leu seudiscurso, sem perceber que estava segurando umacópia carbono. Brincadeiras como essa eram muitopróprias dos Ghignatti

2. OS POHLMANN. Edgar foi funcionário da Pre-feitura, casado com Gessia Moeller Pohlmann, minhacolega na aula de Mariana Portinho, em 1930, noColégio Elementar, hoje Escola Antônio Vicente daFontoura, e Baltazar, casado com uma moça dafamília Pedroso.

3. DOMINGOS Lisboa, casado com Morena, pais deBeto e Elci, também era envolvido com transportes. Oproprietário da chácara, onde hoje encontra-se insta-lada a Cesa com seus silos, era Ezequiel Silva, sogro deElci Lisboa, que tinha uma empresa de transportescom carroças e mais tarde com caminhões International.Transportavam dia e noite arroz para os engenhos eembarques fluviais. Tinha sua sede na hoje esquinacom a Rua Tiradentes. Dessa esquina até a pracinhaItororó, onde hoje está o Hospital de Caridade, eramato fechado.

4. OUTRA empresa era de Irineu Brito e seu filhoAdão, que atuava como motorista. Na velhice, Adãoperdeu a visão e deslocava-se pela cidade vendendoloterias. Muitas vezes encontrei Adão batendo suabengalinha branca em direção da sua residência,próxima da Cooperativa do Arroz, na margem do rio.

5. NO DECORRER do século 20, outras famíliasresidiram nas quadras da Moron:n Antônio Preusslern Arcelo Dávila Mahfuz, pai de Sheilan Anapio Pinton Isidro Rosan João Caetano Florencen Eluiza Vidal com as filhas Maria da Graça eMarilucen Cidico Machado de Liman Rubem Fialho da Silva, que vendia lenhan Honorino Lima e seu filho Januário Liman Dona Isaurina (professora do hoje Instituto JoãoNeves da Fontoura)n Arlindo Alves de Oliveira (oficial de justiça com suaesposa e filhos)n Carlos Gaman Octacílio Carvalho Bernardesn Dona Cuchinha e sua irmã Dalica. Mais tarde esseimóvel foi adquirido e demolido para a construção daresidência do promotor Wanderlei Willign Na esquina das ruas General Osório e Moronmorava Miguel Facchin, oficial do Registro de Imó-veis. Seu primeiro casamento foi com Diva CostaFacchin, mãe de Eny, Érico (Queti) e Roberto. Emsegundas núpcias, com Lélia, nasceram Miguel, Mariae Isabel. Também foi residência da família do delega-do de Polícia Ruy Weber Dias. No terreno ao lado deMiguel Facchin, a propriedade hoje pertencente àfamília de Vando Bitencourt foi construída por QuetiFacchin, que ali morou com a esposa Zilah e filhasDiva Regina e Helena Beatriz. Posteriormente tam-bém residiu ali a família de Chiquinho Bifano.n Maestro Souto Menorn Waldemar Bartmannn Francisco Bittencourt Severon Aracy Severo Godoy, viúva de Ataliba Godoyn João Eggers Garcian Eurico Machadon Na esquina onde hoje está sendo construído oshopping de Orlando Tischler funcionava a funilariade Borba & Badineli, que alugava bicicletas por hora.As casas seguintes: Orlando da Cunha Carlos, JoãoMattos Guimarães e seu filho Epaminondas, avô daatriz Daniela Escobar (a Maísa na novela O Clone) e

1. SEU OLÍMPIO Lima, sua esposa MariaElmiria, mais conhecida por dona Pequena, paisde 12 filhos: Emigidio, Helenio, Elmiria, Enio,Elio, Elcio, Elza, Edemar, Emir, Elvio, Eunice (foicasada com Ivo Diniz) e Edyr de Araújo Lima. Fuicolega de Edyr Lima no Ginásio Roque Gonzales,hoje Gonçalves. Trabalhei com Elvio e Ivo Dinizno Banco da Província. Quando ingressei noserviço público, em 1939, na Coletoria Estadual,fui colega de seu Olímpio, que, como fiscal doimposto de consumo, hoje circulação de merca-dorias, estava encerrando suas atividades, pelaaposentadoria. Na ocasião, seu Olímpio foi ho-menageado pelas autoridades, entidades de clas-se e seus amigos com um grande banquete nossalões da Sociedade Italiana, hoje sede social doGrêmio Náutico Tamandaré. O orador oficialconvidado foi Carlos Ghignatti, um dos tios dohoje médico Sérgio Ghignatti. Como na época eracomum deixar a palavra à disposição a todos quequisessem saudar o homenageado, o capitãoMiguel Dutra, capitão da marinha do Jacuí, comoele gostava de se identificar, solicitou a CarlinhosGhignatti, seu amigo pessoal, que escrevesse umdiscurso para fazer a homenagem a seu Olímpio.Carlinhos, como todos os Ghignatti, preparouuma peça. Na hora das homenagens, ao som deum cafezinho e um bom charuto, a palavra foidada ao capitão, que, levantando, fez o clássico

RESIDÊNCIA DE JOÃOALFREDO Eggers, avô dojornalista da GloboAlexandre EggersGarcia

PORTO DO JACUÍ: em tempos decheia, o desembarque dasmercadorias na Rua Moron

JOÃO CARLOS MÓR / ESPECIAL PARA O JPA Rua Moron é uma das mais antigas da

cidade. Hoje a conhecemos mais pelos ende-reços ilustres de sua via, como a rua daJustiça do Trabalho, a rua do Fórum ou arua das rádios, mas a Moron já funcionoucomo passagem obrigatória até o Porto doJacuí, tanto que seu trecho inicial era maisconhecido como �descida da praia�. Na ver-dade, a Moron nasce na margem do Jacuí etermina na esquina da Praça José Bonifácioquando cruza com a Rua Milan Krás. Apartir do Posto Esso, de Arthur Radünz, elapassa a denominar-se Marechal Floriano.

Mas isso já é o fim da história. No iníciodo século 19, quando Cachoeira tinha deno-minação de Freguesia de Nossa Senhora daConceição, a futura Moron era conhecidacomo a Rua da Igreja. Antes da construçãoda Ponte-barragem do Fandango existia noleito do rio uma grande ilha que dividia o rioem dois canais. As navegações de menorcalado carregavam e descarregavam suascargas naquele local. No verão chegava-se àilha sem auxílio de barcos. Era o local pre-ferido para banhos. Hoje, o local para ba-nhos é a Praia Nova, que naquela época eraimpróprio para banhos, pois a correntezaera muito forte e não oferecia segurança.

Os barcos de menor calado carregavame descarregavam suas cargas no local ondeexistiam engenhos de arroz, depósitos decargas e mercadorias, administrados pelasdiversas empresas de navegação. Nessaépoca, do local onde hoje encontra-se insta-lada a Retificadora Pelzer até a margem dorio, a área pertencia a um único proprietá-rio, Cirino Machado de Oliveira, pai deAlcides, Osório e José Machado de Oliveira.

Alcides Machado de Oliveira, pai de Adaile Ary, no local da retificadora instalou umgrande armazém e a sede de sua navegação,a primeira a usar barcos com motor. Tinhaum grande depósito de combustível, gasoli-na e querosene que era vendido em caixasde três latas cada uma. Mais tarde, seu filhoAdail o substituiu nos negócios. O mesmoAdail, ainda menino, quando da revoluçãode 1930, foi descoberto como clandestino notrem que conduzia os cachoeirenses para ofront.

Hoje ainda concentra-se no local, à mar-gem do rio, a sede náutica do Grêmio Náu-tico Tamandaré, que no início era um depó-sito para guardar barcos. As embarcaçõesdali eram levadas no ombro pelos quatroremadores (eu era um deles. Timoneiro lí-der da turma, não carregava peso, somentelevava o leme).

MAXAMBOMBA NA PRAIA VELHA: no início daRua Moron, várias balsas transportammadeira aproveitando a correnteza do rio

O arroz, produto principal de Cachoeira,era beneficiado na virada do século 20 pelosengenhos Brasil, de Reinaldo Roesch & CiaLtda, São João, de Santos, Radünz & CiaLtda, E. Stracke & Cia, Willy Tesch,Cachoeirense, de Fürstenau & Gressler &Cia Ltda, e Bom Retiro, de Emílio Garske.Em época de safra trabalhavam dia e noitetransportando o produto exportado, primei-ramente em carroças, depois em caminhões

A praia velha ao nascer do século 20próprios ou alugados, que eram despachadospelas diversas navegações fluvial, lacustreou marítima. O comércio da descida da praiaera representado pelas casas de Alcides Ma-chado de Oliveira, Vicente Ferraz, João Ale-mão, Luiz Menegassi, Alexandre Vidal,Retificadora Pelzer, Abraão Esber, JoséPiveta, Alfredo Souza, João Corrêa, FelipeJosé João e João Cândido de Moraes, com suapopular Farmácia São José.

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JOÃO CARLOS MÓR éuma das maisprivilegiadas memó-rias de Cachoeira doSul, dono de uminvejável espírito depesquisa. Ele é oautor deste textoque recupera parteda história da RuaMoron e o cotidianode seus moradoresmais tradicionais