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Page 1: FOTOS ARQUIVO JOˆO CARLOS MÓR - jornaldopovo.com.br · cachoeirense que está conveniada ao IPE desde 8/3/2002. Quem se lembra de seu Alcides, dona Pequena e a FarmÆcia Sªo JosØ?

A Rua Moron da minha memóriat PAUTA DO LEITOR

1312 JORNAL DO POVO

G E R A Ln Sábado e domingo, 16 e 17 de março de 2002 n

ComunicadoA Dra. Silvia Lisboa (ginecologistae obstetra) comunica à comunidadecachoeirense que está conveniada

ao IPE desde 8/3/2002.

Quem se lembra de seu Alcides, dona Pequena e a Farmácia São José? Aproveite este passeio pela história

OS MORADORESQuem habitava a Rua MoronAs famílias que moravam nas casas da Moron, a partir da descida da praia em direção ao centro:

suspense, levou a mão ao bolso do casaco e leu seudiscurso, sem perceber que estava segurando umacópia carbono. Brincadeiras como essa eram muitopróprias dos Ghignatti

2. OS POHLMANN. Edgar foi funcionário da Pre-feitura, casado com Gessia Moeller Pohlmann, minhacolega na aula de Mariana Portinho, em 1930, noColégio Elementar, hoje Escola Antônio Vicente daFontoura, e Baltazar, casado com uma moça dafamília Pedroso.

3. DOMINGOS Lisboa, casado com Morena, pais deBeto e Elci, também era envolvido com transportes. Oproprietário da chácara, onde hoje encontra-se insta-lada a Cesa com seus silos, era Ezequiel Silva, sogro deElci Lisboa, que tinha uma empresa de transportescom carroças e mais tarde com caminhões International.Transportavam dia e noite arroz para os engenhos eembarques fluviais. Tinha sua sede na hoje esquinacom a Rua Tiradentes. Dessa esquina até a pracinhaItororó, onde hoje está o Hospital de Caridade, eramato fechado.

4. OUTRA empresa era de Irineu Brito e seu filhoAdão, que atuava como motorista. Na velhice, Adãoperdeu a visão e deslocava-se pela cidade vendendoloterias. Muitas vezes encontrei Adão batendo suabengalinha branca em direção da sua residência,próxima da Cooperativa do Arroz, na margem do rio.

5. NO DECORRER do século 20, outras famíliasresidiram nas quadras da Moron:n Antônio Preusslern Arcelo Dávila Mahfuz, pai de Sheilan Anapio Pinton Isidro Rosan João Caetano Florencen Eluiza Vidal com as filhas Maria da Graça eMarilucen Cidico Machado de Liman Rubem Fialho da Silva, que vendia lenhan Honorino Lima e seu filho Januário Liman Dona Isaurina (professora do hoje Instituto JoãoNeves da Fontoura)n Arlindo Alves de Oliveira (oficial de justiça com suaesposa e filhos)n Carlos Gaman Octacílio Carvalho Bernardesn Dona Cuchinha e sua irmã Dalica. Mais tarde esseimóvel foi adquirido e demolido para a construção daresidência do promotor Wanderlei Willign Na esquina das ruas General Osório e Moronmorava Miguel Facchin, oficial do Registro de Imó-veis. Seu primeiro casamento foi com Diva CostaFacchin, mãe de Eny, Érico (Queti) e Roberto. Emsegundas núpcias, com Lélia, nasceram Miguel, Mariae Isabel. Também foi residência da família do delega-do de Polícia Ruy Weber Dias. No terreno ao lado deMiguel Facchin, a propriedade hoje pertencente àfamília de Vando Bitencourt foi construída por QuetiFacchin, que ali morou com a esposa Zilah e filhasDiva Regina e Helena Beatriz. Posteriormente tam-bém residiu ali a família de Chiquinho Bifano.n Maestro Souto Menorn Waldemar Bartmannn Francisco Bittencourt Severon Aracy Severo Godoy, viúva de Ataliba Godoyn João Eggers Garcian Eurico Machadon Na esquina onde hoje está sendo construído oshopping de Orlando Tischler funcionava a funilariade Borba & Badineli, que alugava bicicletas por hora.As casas seguintes: Orlando da Cunha Carlos, JoãoMattos Guimarães e seu filho Epaminondas, avô daatriz Daniela Escobar (a Maísa na novela O Clone) e

1. SEU OLÍMPIO Lima, sua esposa MariaElmiria, mais conhecida por dona Pequena, paisde 12 filhos: Emigidio, Helenio, Elmiria, Enio,Elio, Elcio, Elza, Edemar, Emir, Elvio, Eunice (foicasada com Ivo Diniz) e Edyr de Araújo Lima. Fuicolega de Edyr Lima no Ginásio Roque Gonzales,hoje Gonçalves. Trabalhei com Elvio e Ivo Dinizno Banco da Província. Quando ingressei noserviço público, em 1939, na Coletoria Estadual,fui colega de seu Olímpio, que, como fiscal doimposto de consumo, hoje circulação de merca-dorias, estava encerrando suas atividades, pelaaposentadoria. Na ocasião, seu Olímpio foi ho-menageado pelas autoridades, entidades de clas-se e seus amigos com um grande banquete nossalões da Sociedade Italiana, hoje sede social doGrêmio Náutico Tamandaré. O orador oficialconvidado foi Carlos Ghignatti, um dos tios dohoje médico Sérgio Ghignatti. Como na época eracomum deixar a palavra à disposição a todos quequisessem saudar o homenageado, o capitãoMiguel Dutra, capitão da marinha do Jacuí, comoele gostava de se identificar, solicitou a CarlinhosGhignatti, seu amigo pessoal, que escrevesse umdiscurso para fazer a homenagem a seu Olímpio.Carlinhos, como todos os Ghignatti, preparouuma peça. Na hora das homenagens, ao som deum cafezinho e um bom charuto, a palavra foidada ao capitão, que, levantando, fez o clássico

RESIDÊNCIA DE JOÃOALFREDO Eggers, avô dojornalista da GloboAlexandre EggersGarcia

PORTO DO JACUÍ: em tempos decheia, o desembarque dasmercadorias na Rua Moron

JOÃO CARLOS MÓR / ESPECIAL PARA O JPA Rua Moron é uma das mais antigas da

cidade. Hoje a conhecemos mais pelos ende-reços ilustres de sua via, como a rua daJustiça do Trabalho, a rua do Fórum ou arua das rádios, mas a Moron já funcionoucomo passagem obrigatória até o Porto doJacuí, tanto que seu trecho inicial era maisconhecido como �descida da praia�. Na ver-dade, a Moron nasce na margem do Jacuí etermina na esquina da Praça José Bonifácioquando cruza com a Rua Milan Krás. Apartir do Posto Esso, de Arthur Radünz, elapassa a denominar-se Marechal Floriano.

Mas isso já é o fim da história. No iníciodo século 19, quando Cachoeira tinha deno-minação de Freguesia de Nossa Senhora daConceição, a futura Moron era conhecidacomo a Rua da Igreja. Antes da construçãoda Ponte-barragem do Fandango existia noleito do rio uma grande ilha que dividia o rioem dois canais. As navegações de menorcalado carregavam e descarregavam suascargas naquele local. No verão chegava-se àilha sem auxílio de barcos. Era o local pre-ferido para banhos. Hoje, o local para ba-nhos é a Praia Nova, que naquela época eraimpróprio para banhos, pois a correntezaera muito forte e não oferecia segurança.

Os barcos de menor calado carregavame descarregavam suas cargas no local ondeexistiam engenhos de arroz, depósitos decargas e mercadorias, administrados pelasdiversas empresas de navegação. Nessaépoca, do local onde hoje encontra-se insta-lada a Retificadora Pelzer até a margem dorio, a área pertencia a um único proprietá-rio, Cirino Machado de Oliveira, pai deAlcides, Osório e José Machado de Oliveira.

Alcides Machado de Oliveira, pai de Adaile Ary, no local da retificadora instalou umgrande armazém e a sede de sua navegação,a primeira a usar barcos com motor. Tinhaum grande depósito de combustível, gasoli-na e querosene que era vendido em caixasde três latas cada uma. Mais tarde, seu filhoAdail o substituiu nos negócios. O mesmoAdail, ainda menino, quando da revoluçãode 1930, foi descoberto como clandestino notrem que conduzia os cachoeirenses para ofront.

Hoje ainda concentra-se no local, à mar-gem do rio, a sede náutica do Grêmio Náu-tico Tamandaré, que no início era um depó-sito para guardar barcos. As embarcaçõesdali eram levadas no ombro pelos quatroremadores (eu era um deles. Timoneiro lí-der da turma, não carregava peso, somentelevava o leme).

MAXAMBOMBA NA PRAIA VELHA: no início daRua Moron, várias balsas transportammadeira aproveitando a correnteza do rio

O arroz, produto principal de Cachoeira,era beneficiado na virada do século 20 pelosengenhos Brasil, de Reinaldo Roesch & CiaLtda, São João, de Santos, Radünz & CiaLtda, E. Stracke & Cia, Willy Tesch,Cachoeirense, de Fürstenau & Gressler &Cia Ltda, e Bom Retiro, de Emílio Garske.Em época de safra trabalhavam dia e noitetransportando o produto exportado, primei-ramente em carroças, depois em caminhões

A praia velha ao nascer do século 20próprios ou alugados, que eram despachadospelas diversas navegações fluvial, lacustreou marítima. O comércio da descida da praiaera representado pelas casas de Alcides Ma-chado de Oliveira, Vicente Ferraz, João Ale-mão, Luiz Menegassi, Alexandre Vidal,Retificadora Pelzer, Abraão Esber, JoséPiveta, Alfredo Souza, João Corrêa, FelipeJosé João e João Cândido de Moraes, com suapopular Farmácia São José.

RUA MORON na cheia de 1941, até hoje a maior enchente registrada em Cachoeira

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Francisco Figueiró e seu filho Volny.n Na casa que hoje é ocupada pela família HausenCastagnino funcionou nos anos 40 a Delegacia dePolícia, que tinha como funcionários DemencianoMoraes de Barros, delegado, e os inspetores WaldyrTibusch, Auro Ramos e Esmelino Mença.n Atilio Mainieri, sua esposa Pureza e os filhosFrancisco, Maria e Teresinha Onofrio Mainierin Isidoro Mottan Elmira Guardiola da Cunhan José Brandes e o filho Camelinhon José Salernon Isidoro Neves da Fontoura Filhon Delfino Carvalho Bernardesn Newton Luiz Sestin Fernando von Hugueln Carlos Alberto Gasparyn Onde hoje é a Casa das Pilchas, que merece sertombada, morava Floriano Leitão e pessoas que oacompanhavam na propriedade rural.n Luiz Teixeira e seu filho, o hoje médico Gilberton Carlos Pereira Krieger e sua filha Izolina, que foicasada com o herói da Segunda Guerra Mundial, ocachoeirense Danilo Moura, piloto de caça da ForçaAérea Brasileira, que lutou na Itália. Seu avião foiabatido, saltou de pára-quedas, conseguindo re-tornar a sua base, atravessando as linhas alemãsvestido de mulher.n Francisco Cintra. Seu Chiquinho Cintra, como eraconhecido, era o tesoureiro da Coletoria Estadual.Quando ingressei no serviço público, em 1939, asede da repartição era casa do coletor, Silécio Pinós,hoje sede do Cachoeira Futebol Clube. Com a apo-sentadoria de seu Pinós, o novo coletor, José Mano-el Porto, precisou mudar a repartição. Seu Chiquinhodesocupou sua casa e reformou-a, transformandoem duas residências, uma moradia do novo coletore a outra parte, a instalação da repartição.n Aurino Gonçalves da Silvan A casa hoje ocupada pela Junta de AlistamentoMilitar foi residência do Dr. Mário Barrosn Isidoro Neves da Fontoura, filho de FlorianoNeves da Fontouran José Werlangn Graciano Gonçalves da Silvan Pedro Choairen Na casa onde hoje há uma oficina era a residên-cia de Irineu Maydana e seu filho Caniveten Nas duas calçadas da Praça José Bonifácio eramas residências das famílias Pedro Leão e Luiz Leão,proprietário do bar Ponto Chic, e o Posto FiscalFederal, criado e instalado nessa rua em 1916,onde trabalhou Olavo Mayrinck e Francisco Petrucci,pai de Miguel, Gentil, Ubirajara e Cláudio Petruccin Antônio Figueiredo, avô de Angela SchumacherSchuh, secretária municipal de Educaçãon Igreja Metodistan No local onde hoje está a oficina de Dercy Lisboaera a residência e oficina de Manoel Antônio Gon-çalves, piloto do Aeroclube local, que faleceu em1947, junto com sua filha de 15 anos, no acidentecom o avião Maria Quitéria, em Cerro Brancon Ismael Pereira, pai de Maria, casada comEuclides Bacchinn Palmira Neubauer, modistan Na esquina com a Rua Milan Krás, em 1912,instalou-se uma usina elétrica, sob administraçãoda municipalidade, com três  quinas francesas damarca Belevile. Em 1918 foi vendida ao coronelJoão Ganzo Fernandes, gerente da Cia TelefônicaRiograndense. Em 1923 passa a denominar-se CiaRiograndense de Uzinas Elétricas. Encampada em1952, passa a ser administrada pelo Estado. Entreoutros, foram gerentes José Brandes, um dos fun-dadores da Sociedade Beneficente União Operária1º de Maio, em 1900, e Osmar Santos

JOÃO CARLOS MÓR éuma das maisprivilegiadas memó-rias de Cachoeira doSul, dono de uminvejável espírito depesquisa. Ele é oautor deste textoque recupera parteda história da RuaMoron e o cotidianode seus moradoresmais tradicionais

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