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FREI LUIS DE SOUSA, DE ALMEIDA GARRETT ESTRUTURA DA OBRA Estrutura externa Composto por três atos: - Primeiro ato com doze cenas; - Segundo ato com quinze cenas (tem + cenas porque é neste ato que se situa o clímax a nível do conflito, isto é, surge o grau + elevado de tensão dramática); - Terceiro ato com doze cenas. Apresenta organização tripartida regular e harmoniosa. Estrutura Interna Exposição/prólogo: ato I (cenas I a IV) - Apresentação dos antecedentes da ação que explicam as circunstâncias atuais, das personagens e das relações existentes entre elas. Conflito: ato I (cenas V a XII), ato II, ato III (cenas I a IX) - Desenrolar gradual dos acontecimentos, com momentos de tensão e expectativa; - Desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram para o palácio de Manuel de Sousa Coutinho para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (clímax), que despoletaram uma série de peripécias. Desenlace: ato III (cenas X a XII) - Conclusão da tragédia familiar com a morte de Maria e a separação forçada de seus pais, que morrem um para o outro bem como para o mundo. ATO I - Cenas I-IV: exposição - informações sobre o passado das personagens, relacionadas com os acontecimentos anteriores ao tempo da diegese dramática - Cenas V-VIII: conflito - decisão dos governadores espanhóis e resposta de Manuel de Sousa Coutinho de incendiar o palácio - Cenas IX-XII: desenlace - incêndio do palácio ATO II - Cenas I-III: exposição – informações com vista a esclarecer o leitor sobre os acontecimentos ocorridos entre o final do ato I e o início do ato II (acontecimentos após o incêndio) - Cenas IV-VIII: conflito – ida de Manuel de Sousa Coutinho e Maria a Lisboa - Cenas IX-XV: desenlace – regresso do Romeiro, cena do reconhecimento ATO III - Cena I: exposição - informações sobre a decisão tomada

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Page 1: Frei Luís de Sousa - Resumo

FREI LUIS DE SOUSA, DE ALMEIDA GARRETT

ESTRUTURA DA OBRA

Estrutura externa

Composto por três atos: - Primeiro ato com doze cenas;- Segundo ato com quinze cenas (tem + cenas porque é neste ato que se situa o clímax a nível do conflito, isto é, surge o grau + elevado de tensão dramática);- Terceiro ato com doze cenas.

Apresenta organização tripartida regular e harmoniosa.

Estrutura Interna

Exposição/prólogo: ato I (cenas I a IV) - Apresentação dos antecedentes da ação que explicam as circunstâncias atuais, das personagens e das relações existentes entre elas.

Conflito: ato I (cenas V a XII), ato II, ato III (cenas I a IX)- Desenrolar gradual dos acontecimentos, com momentos de tensão e expectativa;- Desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram para o palácio de Manuel de Sousa Coutinho para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (clímax), que despoletaram uma série de peripécias.

Desenlace: ato III (cenas X a XII)- Conclusão da tragédia familiar com a morte de Maria e a separação forçada de seus pais, que morrem um para o outro bem como para o mundo.

ATO I- Cenas I-IV: exposição - informações sobre o passado das personagens, relacionadas com os acontecimentos anteriores ao tempo da diegese dramática- Cenas V-VIII: conflito - decisão dos governadores espanhóis e resposta de Manuel de Sousa Coutinho de incendiar o palácio- Cenas IX-XII: desenlace - incêndio do palácio

ATO II- Cenas I-III: exposição – informações com vista a esclarecer o leitor sobre os acontecimentos ocorridos entre o final do ato I e o início do ato II (acontecimentos após o incêndio) - Cenas IV-VIII: conflito – ida de Manuel de Sousa Coutinho e Maria a Lisboa - Cenas IX-XV: desenlace – regresso do Romeiro, cena do reconhecimento

ATO III- Cena I: exposição - informações sobre a decisão tomada- Cenas II-IX: conflito - atuações de Manuel (resolução da situação), D. Madalena (dúvidas quanto à identidade das informações ditas pelo Romeiro), Telmo e Romeiro (tentativa de remediar o mal que involuntariamente provocou)- Cenas X-XIII: desenlace - tomada de hábitos de Manuel e D. Madalena e morte de Maria - catástrofe final

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TRAGÉDIA OU DRAMA?

Frei Luís de Sousa é um drama romântico pela forma e uma tragédia pela índole!

Tragédia clássica pela índole:

- Número reduzido de personagens - Hybris (crime – desafio): D. Madalena (crime de amor) e Manuel (crime de amor e político)- Clímax (máximo das emoções): D. Madalena sabe que D. João está vivo- Anagnórise (reconhecimento): Romeiro identifica-se como D. João de Portugal- Catástrofe (desenlace final): morte da família (Maria morre fisicamente, D. Madalena entra no Convento do Sacramento e Manuel entra no Convento de Benfica, na Ordem dos Dominicanos)- Ananké (destino): comanda inexoravelmente o destino das personagens- Pathos (sofrimento): em crescendo (agitação de D. Madalena, revolta e indignação de D. Manuel, doença de Maria, provações do Romeiro, angústias de Telmo)- Árgon (conflito): conflito interior (decorre no espaço psicológico das personagens)- Peripécias (alterações no rumo dos acontecimentos): incêndio do palácio por Manuel, chegada do Romeiro, entrada brusca de Maria e seu discurso- Coro (representado por Telmo, Frei Jorge e os Frades)

Não obedece à estrutura formal da tragédia: não é escrita em verso, ,.

Drama pela forma:- Texto em prosa- Linguagem coloquial: frases curtas, reticências, frases entrecortadas, interjeições, frases exclamativas- Proximidade do real - Não tem cinco atos- Não respeita as unidades de tempo e de lugar- Não tem assunto antigo

Romantismo:

- a crença no sebastianismo- a crença no aparecimento dos mortos, em Telmo- a crença em agouros, em dias aziagos, em superstições- as visões de Maria, os seus sonhos, o seu idealismo patriótico- o titanismo de Manuel incendiando a casa só para os governadores não a utilizarem- a atitude que Maria toma no final da peça ao insurgir-se contra a lei do matrimónio uno e indissolúvel, que força os pais à separação e lhos rouba

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PERSONAGENS (RELEVO):

PERSONAGENS PRINCIPAIS- Manuel de Sousa Coutinho - D. Madalena de Vilhena- D. Maria de Noronha

PERSONAGENS SECUNDÁRIAS- D. João de Portugal- Telmo Pais- Frei Jorge- Miranda- Doroteia- Prior de Benfica- Arcebispo de Lisboa- Irmão converso- Coro de frases de S. Domingos

PERSONAGENS MODELADAS/ REDONDAS/CARACTERES - personagens dinâmicas (capazes de alterar o seu comportamento) com densidade psicológica (evoluem psicologicamente ao longo da ação) e apresentam uma grande vida interior, sendo capazes de surpreender o leitor pelas suas atitudes e comportamentos diversificados:

- MANUEL DE SOUSA COUTINHO- Nobre, honrado fidalgo, culto, patriota, apaixonado, aparentemente racional, pois revela-se profundamente dominado pelos sentimentos de: revolta (ato I, cena XII), quando incendeia o seu palácio;

amor e intensa tristeza pela filha (ato III, cena I).

- D. MADALENA DE VILHENA - Nobre mulher, apaixonada, dominada pelos sentimentos, inquieta, vivendo em constante sobressalto;- Emocionalmente instável, ora aterrorizada, ora tranquila (ato II, cena IV).

- D. MARIA DE NORONHA- Nobre adolescente (13 anos), precoce, intuitiva, idealista, bela e frágil (sofre de tuberculose);- De intensa densidade emocional, exprime alternadamente alegria, entusiasmo/tristeza, preocupação.

- D. JOÃO DE PORTUGAL- Nobre honrado, patriota, apaixonado;- No diálogo com D. Madalena, ainda disfarçado de Romeiro (ato II, cena XIV), revela-se inflexível, todavia, após Telmo lhe garantir que D. Madalena tudo fizera para o encontrar, antes de casar com Manuel de Sousa Coutinho, arrepende-se e mostra-se justo (ato III, cena V).

- TELMO PAIS- Escudeiro leal, aio fiel de D. João de Portugal, o único que nunca duvidara do regresso deste;- Vive um intenso conflito psicológico, consciencializando-se de que o amor que sente por Maria é mais forte do que o que dedicava ao seu antigo amo (ato III, cena IV).

- FREI JORGE- Frade da Ordem dos Domínicos;- Calmo, prudente, equilibrado, raramente se deixa dominar pelos sentimentos (ato II, cena XII).

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ESPAÇO FÍSICO – presente nas didascálias que iniciam cada ato

O espaço fecha-se gradualmente, não possibilitando a saída das personagens para a dimensão “física” da vida.

A progressiva escassez de elementos decorativos e de luminosidade adensam a atmosfera trágica que culmina na catástrofe.

ATO I- Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada:

- Câmara antiga onde predomina «o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete», ao fim da tarde:

- 2 Janelas rasgadas que permitem a comunicação com o exterior, a visão do rio Tejo e a entrada de claridade;- Mobiliário: cadeiras antigas, contadores (armário), tamboretes rasos (assentos), bufete pequeno (aparador equivalente mesa);- Objetos decorativos: porcelanas, xarões (revestidos de verniz), flores, vaso da china de colo alto, tapeçarias, livros (revelam preocupações eruditas e são alimento para a alma e o sonho)- Metais: prata (preciosa);- Tecidos: sedas e veludos;- Um retrato de Manuel de Sousa Coutinho quando era noviço de São João de Jerusalém;- Porta direita que permitia a comunicação com o interior;- Porta esquerda que permitia comunicação com o exterior.

Caracterização do espaço cénico: luxuoso, requintado, elegante, opulente/rico (revela traços das personagens que valorizam o bem estar físico e bens materiais), iluminado e colorido (sugerem alegria e leveza).

Dimensão simbólica do espaço: - A família vive em paz e aparente harmonia;- O retrato de Manuel de Sousa Coutinho transmite a serenidade da sua personalidade;- O incêndio e a consequente destruição do seu retrato tornar-se-ão um prenúncio da

catástrofe final.

ATO II- Palácio de D. João de Portugal, em Almada:

- Salão antigo de gosto melancólico (triste) e pesado;- Retratos de família e, em lugar de destaque, os de D. Sebastião, D. João de Portugal e de Camões;- Reposteiros que impedem a vista para o exterior e a luz;- Comunicação com a capela de Sra. Da Piedade.

Caracterização do espaço cénico: melancólico, sombrio, triste, onde se impõem figuras nobres e religiosas de séculos antigos.

Dimensão simbólica do espaço: - A ausência de luz antediz a catástrofe final – o círculo fechado em que as personagens vão ficando encerradas, entregues à sua própria angústia, separadas do mundo e da luz, empurradas inevitavelmente para um beco sem saída;- Os retratos, para além do carácter nacionalista que transmitem (D. Sebastião e Camões), evocam um passado extinto mas ameaçador, que inviabiliza o presente e, também, o futuro;- A comunicação com a capela da Senhora da Piedade indicia já o final trágico e demolidor do ato III, que aí ocorre.

ATO III- Parte baixa do palácio de D. João de Portugal, em Almada:

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- Lugar vasto e sem ornato algum;- Comunicação com a capela da Sra. Da Piedade;- Decorado com símbolos de morte (esquife) e de dor (cruz, ornamentos característicos da semana santa); existência de um hábito religioso.

Caracterização do espaço cénico: é marcado pela ausência de decoração. Os elementos presentes são referências espirituais, próprias da igreja cristã.

Dimensão simbólica do espaço: - o espaço é simbólico da morte e da impossibilidade de a superar;- a única saída para uma família católica que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida é a renúncia ao mundo e à luz (uma espécie de descida aos infernos).

TEMPO

TEMPO HISTÓRICO – conjunto das referências e acontecimentos reais que conferem cor epocal ao texto e que permitem a sua inserção numa determinada época.

- Finais do século XVI, início do século XVII: - “Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete”- Batalha de Alcácer Quibir, 4 de agosto de 1578

TEMPO REPRESENTADO – tempo que medeia entre o início e o fim da ação representada.

- 8 dias: - “Há oito dias que aqui estamos nesta casa…”- “Mas isto ainda é cedo”, “Quatro, quatro e meia… São cinco horas, pelo alvor da manhã”

TEMPO DE REPRESENTAÇÃO – tempo que é apresentado em cena e ao qual o leitor/espectador tem acesso.

- Três momentos-chave do desenvolvimento da intriga:- Exposição: um dia, sexta-feira, 27 de julho de 1599- Reconhecimento: um dia (sexta-feira, 4 de agosto de 1599) – “… faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião.”- Desenlace/catástrofe: uma noite (de sexta-feira para sábado, 5 de agosto de 1599)

TEMPO DA DIEGESE DRAMÁTICA – tempo global referido no texto dramático.

- é definido a partir da data da batalha de Alcácer Quibir (4 de agosto de 1578) referida por D. Madalena (ato II, cena X)- No ato I, cena II assume especial importância para a definição dos limites da diegese dramática:- “…D. João ficou naquela batalha…, sabeis como durante sete anos… o fiz procurar”- “… A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e um anos”- “… Vivemos… seguros, em paz e felizes… há catorze anos.”- “Então! Tem treze anos feitos, é quase uma senhora”- “Morei lá vinte anos cumpridos”

Datas importantes:- 4 de agosto 1576 – casamento de D. Madalena com D. João de Portugal- 4 de agosto de 1577 – D. Madalena vê pela primeira vez Manuel de Sousa Coutinho- 4 de agosto 1578 – batalha de Alcácer Quibir- de 1578 – 1585 – 7 anos de buscas infrutíferas de D. João de Portugal- 1585 – segundo casamento de D. Madalena, com Manuel de Sousa Coutinho

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- de 1585 a 1599 – 14 anos do segundo casamento- 1586 – nascimento de Maria de Noronha- 24 de agosto de 1588 – libertação do Romeiro- 27 de julho de 1599 – incêndio do Palácio de Manuel de Sousa Coutinho- 4 de agosto de 1599 – chegada do Romeiro- madrugada de 5 de agosto de 1599 – morte de Maria, tomada de hábito de Madalena e Manuel de Sousa Coutinho

Simbolismo de algumas referências temporais:

- “sexta-feira” – dia considerado aziago; para D. Madalena é igualmente fatal. Coincidência ou não, todos os acontecimentos marcantes da vida de D. Madalena ocorreram à sexta-feira: primeiro casamento, primeiro encontro com Manuel, batalha de Alcácer Quibir, desaparecimento de D. João e regresso de D. João.

- ambiente indeciso e/ou noturno – caracteristicamente romântico – “É no fim da tarde.”; “É noite fechada”; “É alta noite”.

- a permanência do nº 7 – 7 anos de procura de D. João; 14 anis de casamento com Manuel; 21 anos desde o desaparecimento de D. João.

LINGUAGEM

- Vocabulário abstrato: serve para exprimir sentimentos e emoções, sendo principalmente evidente nos monólogos das personagens: Madalena, Manuel e Telmo

- Frases exclamativas e reticentes: insistem na carga emotiva do discurso das personagens “Desgraçada filha, que ficas órfã!...”

- Interrogação retórica: capta a atenção do espectador “E que importa que o não deixe durar muito a fortuna?”

- Interjeição: reforça a emotividade “Oh!”, “Meu Deus!”

- Repetição: sublinha os sentimentos das personagens “Peço-te vida… peço-te vida, vida, vida… para ela, vida para a minha filha!... Saúde, vida para a minha querida filha!”

- Antítese: assinala o estado emocional das personagens “que felicidade… que desgraça a minha!”

- Imperativo: insiste na angústia da personagem “levai o velho…, levai-o, por quem sois!”

- Tiradas hiperbólicas: reforçam o desespero “como é esta vida miserável que um sopro pode apagar em menos tempo ainda!”

IMPORTÂNCIA DAS DIDASCÁLIAS

- No início de cada ato: fazem referência ao espaço e ao tempo

- No corpo do texto: fazem referência:- à movimentação das personagens “correndo a abraçar Manuel de Sousa”- ao estado de espírito das personagens “assustada”- às atitudes das personagens “ajoelhando e beijando-lhe a mão”- ao tom de voz das personagens “continuando a conversação com Telmo, e levantando a voz com aspereza”.

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PRIMEIRO ATO

Em Frei Luís de Sousa há uma progressão dramática de eventos, que propaga um sofrimento cada vez mais intenso, até atingir o clímax e cujo desfecho é a materialização concreta dos receios mais íntimos de Madalena: o regresso de D. João de Portugal, cujas consequências são a anulação do seu segundo casamento e a ilegitimidade de sua filha Maria, o que inevitavelmente conduz ao extermínio da família.

Distingue-se dois momentos: 1º - O espaço simboliza paz, harmonia e felicidade através da caracterização do ambiente, das janelas que permitem a comunicação com o exterior e do retrato que transmite a serenidade.2º - A paz existente no 1º momento vai sendo assombrada pelos sobressaltos e angústias constantes de Madalena, pelo abandono do palácio por Manuel de Sousa Coutinho, pelo incêndio provocado por Manuel para não permitir os espanhóis se alojarem no palácio e pela destruição do retrato como pronúncio de catástrofe total.

CENA IReflexão de Madalena a propósito de uns versos do episódio de Inês de Castro de Os

Lusíadas, que lhe despertam os seus próprios medos e «terrores» devido à semelhança que vislumbra entre o amor «ledo e cego» de D. Inês por D. Pedro e o seu próprio amor por Manuel Sousa Coutinho

CENA II- Diálogo entre Madalena e Telmo, a partir do qual são dados a conhecer os antecedentes da ação:

- Telmo foi o «aio fiel» de D. João de Portugal e escudeiro do seu pai- D. João de Portugal, casado com Madalena, desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir- Madalena, viúva e órfã, com apenas dezassete anos, encontrou em Telmo o «carinho e protecção» que necessitava, dai a cumplicidade existente entre ambos- Durante sete anos, Madalena empreendeu todos os esforços e diligencias ao seu alcance, para encontrar D. João de Portugal- Depois desta vã busca incessante, e apesar da desaprovação de Telmo fundada na crença de que o amo ainda estaria vivo, Madalena casou-se com Manuel de Sousa Coutinho (adultério sentimental) por quem fatalmente se apaixonara, na primeira vez que o vira- Há 14 anos que Madalena se encontra casada com o segundo marido de quem teve uma filha, Maria de Noronha, q tem 13 anos

Madalena pede ao seu «bom Telmo» que não alimente as fantasias de Maria no que pertence à sua crença no mito de D. Sebastião, não só porque o estado de saúde de Maria é preocupante e frágil, mas também, pelas implicações prejudiciais e desastrosas de tal fantasia - a ser verdade - teria na sua vida.

CENA III- Diálogo entre Madalena, Telmo e Maria

- Maria evoca a crença sebastianista, a sua e a do povo, segundo a qual D. Sebastião voltaria numa manhã de nevoeiro cerrado, para salvar o reino do domínio filipino espanhol, restituindo a independência e orgulho da nação- Madalena exprime a sua inquietação e desagrado perante este assunto, pois a probabilidade de regresso de D. Sebastião estava ligada ao aparecimento do seu primeiro marido

CENA IV- Diálogo entre Madalena e Maria

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- Amor existente entre mãe e filha- Maria aperceber-se que a inquietação da mãe em relação a si própria não é só sobre o seu estado de saúde- Madalena tenta fugir à conversa de Maria dizendo que ela lê e pensa demais- O caracter profético do sonho de Maria que a «faz ver cousas»- A curiosidade de Maria relativamente ao retrato do pai vestido de cavaleiro de Malta- Maria faz entender que gostaria ter um irmão para poder seguir as pisadas do pai como cavalheiro de Malta.

CENA V- Diálogo entre Madalena, Maria, e Jorge

- Jorge chega com notícias de Lisboa, anunciado que os governadores espanhóis, devido à peste na capital, decidiram alojar-se no palácio de Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada- Maria fica irritada e pensa que o melhor seria fechar as portas do palácio com a ajuda dos militares para se defenderem - Maria ouve o pai chegar, que se encontrava a alguma distância do palácio, devido à audição apurada, sintoma de tuberculose

CENA VI- Diálogo entre Madalena, Maria, Jorge e Miranda

- Miranda, criado da casa, comunica a chegada de Manuel de Sousa Coutinho

CENA VII- Diálogo entre Madalena, Maria, Jorge, Miranda e Manuel

- Manuel de Sousa Coutinho chega a casa de noite muito agitado- Manuel comunica que vão mudar-se para o palácio que fora de D. João, “Pega com S. Paulo”- Madalena fica transtornada- Maria fica encantada com a atitude patriótica do pai

CENA VIII- Diálogo entre Madalena e Manuel

- Manuel procura convencer a esposa de que a única opção é irem viver para o palácio de D. João- Manuel afirma que é bom irem para lá porque D. João foi sempre respeitado- Madalena aterrorizada com esta ideia, tenta dissuadir o marido, pois acredita que tal situação poderá separar a família- Manuel não se deixa impressionar com estas «vãs quimeras de crianças» e mantém a sua decisão

CENA IX- Diálogo entre Manuel e Telmo

- Telmo dá conhecimento a Manuel de Sousa Coutinho da chegada antecipada dos governadores a Lisboa

CENA X - Diálogo entre Manuel e Miranda

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- Manuel pede a Jorge, seu irmão, para partir juntamente com a família e levar todos os haveres que puderem transportar (arcas, cavalos, armas e criados), que ele irá depois ter com eles

CENA XI - Monólogo de Manuel de Sousa Coutinho

- Manuel evoca a morte de seu pai que caíra «sobre a sua própria espada»- Manuel considera «tirana» a afronta dos governadores e decide atear fogo ao próprio palácio, para impedir que os intrusos ali se instalarem

CENA XII - Diálogo entre Manuel e Madalena

- Conclusão do incêndio- Madalena tenta salvar o retrato de Manuel de Sousa Coutinho que é consumido pelas chamas - A destruição do retrato funciona como um sinal de destruição de família e da separação física do casal

SEGUNDO ATO

Neste ato, a ação passa-se durante o dia, no palácio que pertencera a D. João de Portugal, em Almada, onde predomina o «gosto melancólico e pesado», o que remete, desde logo, para a fatalidade e para a desgraça.

CENA I - Diálogo entre Maria e Telmo

- Maria invoca o início do romance de Bernardim Ribeiro, Menina e Moça, o que aponta para o seu próprio afastamento da família- Comenta o facto de sua mãe viver de tal modo aterrorizada naquele palácio, que havia oito dias que se encontrava doente- Telmo exalta as qualidades de coragem e patriotismo de Manuel de Sousa Coutinho- Maria refere o refúgio do pai, numa «quinta tão triste d’além do Alfeite», motivado pelo receio de vinganças por parte dos governadores espanhóis- Maria pergunta a Telmo sobre o retrato que tanto assustara a mãe quando, ao entrar no palácio, «põe de repente os olhos nele e dá um grito»- Telmo tenta desviar a atenção de Maria sobre esse assunto- Telmo começa a conversar sobre D. Sebastião e Camões, cujos retratos também se encontram naquela sala

CENA II- Diálogo entre Maria, Telmo e Manuel

- Manuel, ao entrar em casa, desvenda à filha a identidade da figura masculina retratada no quadro- Maria afirma desconhecer, embora suspeite de quem se trata a figura que lhe mostrara seu pai

CENA III- Diálogo entre Maria e Manuel

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- Manuel e Maria falam sobre o ambiente religioso que os rodeia e sobre D. João de Portugal

CENA IV-Diálogo entre Maria, Manuel e Jorge

- Jorge chega com a notícia do perdão dos governadores por influência do arcebispo- Jorge convida Manuel a ir com ele, e com mais quatro religiosos, a Lisboa acompanhar o arcebispo, como forma de retribuir o favor concedido- Manuel concorda, até porque tem de ir à capital, ao Convento do Sacramento, falar com a abadessa- Maria, entusiasmada, manifesta vontade de acompanhar o paiCENA V- Diálogo entre Maria, Manuel, Jorge e Madalena

- Madalena, na presença do marido, procura mostrar-se forte e recuperada, mas ao tomar conhecimento da sua ida a Lisboa, nessa sexta-feira, fica aterrorizada- Madalena acaba por aceder e por autorizar a filha a ir também

CENA VI - Diálogo entre Manuel, Jorge e Madalena

- Madalena faz pressão para Telmo acompanhar Maria nessa viagem

CENA VII - Diálogo entre Manuel, Jorge, Madalena e Maria

- Madalena, bastante preocupada, despede-se de Maria e de Manuel

CENA VIII- Diálogo entre Manuel, Jorge e Madalena

- Manuel fica admirado com a reação exagerada de Madalena, considerando os seus medos injustificados e invoca o caso de Joana de Vimioso que, segundo afirma, não fizera aqueles «prantos, quando disse o último adeus ao marido...»- Madalena, inicialmente irónica, horroriza-se com essa lembrança

CENA IX- Monólogo de Jorge

- Jorge mostra-se inquieto face ao que o rodeia, pois «a todos parece que o coração lhes adivinha desgraça...»

CENA X- Diálogo entre Jorge e Madalena

- Madalena revela a Jorge o motivo dos seus «temores»: aquele dia era fatal para ela, uma vez que fazia anos que casara com D. João de Portugal, que se perdera D. Sebastião e que vira Manuel pela primeira vez, por quem logo se apaixonara, embora já fosse casada com D. João

CENA XI- Diálogo entre Jorge, Madalena e Miranda

- Miranda comunica a Madalena a chegada de um romeiro que deseja vê-la e falar-lhe

Page 11: Frei Luís de Sousa - Resumo

- Madalena cede e recebe o romeiro

CENA XII- Diálogo entre Jorge e Madalena

- Jorge aconselha Madalena a prevenir-se na presença do peregrino

CENA XIII- Diálogo entre Jorge, Madalena e Miranda

- Madalena e Jorge recebem o Romeiro

CENA XIV- Diálogo entre Jorge, Madalena e Romeiro

- Devido à conversa com o Romeiro ficam a saber que este esteve preso durante vinte anos, em Jerusalém- Romeiro foi libertado há um ano- Romeiro viaja há três dias com o intuito de ali chegar naquele preciso dia, para dar um recado a D. Madalena- Jorge, impaciente, pressiona o Romeiro a falar sobre o motivo que o trouxe à presença de D. Madalena- Romeiro, numa atitude fria e insensível, dá a conhecer que D. João de Portugal ainda se encontra vivo- Madalena retira-se dali, «espavorida e a gritar»

CENA XV- Diálogo entre Jorge e Romeiro

- Jorge reconhece D. João de Portugal na figura do Romeiro

TERCEIRO ATO

Este ato ocorre durante a madrugada do dia seguinte ao dos acontecimentos descritos no ato anterior, na parte baixa do palácio de D. João de Portugal, na capela da Senhora da Piedade, espaço repleto de adereços que reenviam para a ideia de uma profunda introspecção religiosa, de sacrifício e de morte, indiciando a tomada de hábito.

CENA I- Diálogo entre Manuel e Jorge

- Manuel conversa com o seu irmão Jorge, a quem exprime o cruel sofrimento que o atormenta, sobretudo em relação à filha, não só pelo agravamento do seu estado precário de saúde, mas principalmente pela sua vida futura, dada a sua condição de filha ilegítima- Jorge procura consola-lo à luz da religião cristã, tentando fazê-lo crer que a «confiança em Deus pode muito», uma vez que «Deus sabe melhor o que nos convém a todos»- Manuel decide tomar o hábito e dizer «adeus a tudo o que era mundo»- Jorge aprova a decisão de Manuel acrescentando que o arcebispo já tratara de tudo: ele ingressaria em Benfica e Madalena, no Sacramento- Manuel de Sousa Coutinho, Jorge e o arcebispo têm conhecimento da verdadeira identidade do Romeiro - Romeiro pedira a Jorge para falar com Telmo

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CENA II- Diálogo entre Manuel, Jorge e Telmo

- Telmo informa os presentes que Maria despertou- Jorge dá algumas indicações a Telmo antes de se retirarem para ver Maria

CENA III - Diálogo entre Telmo e irmão Converso

- Telmo segue as instruções de Jorge e aguarda a chegada do irmão conversoCENA IV- Monólogo de Telmo no qual é bem visível os seus conflitos interiores entre o amor e fidelidade a D. João de Portugal e o amor a Maria que «...venceu...apagou o outro...»

CENA VDiálogo entre Telmo e Romeiro

- O Romeiro é trazido à presença de Telmo- Este, ao ouvir a voz daquele, reconhece a sua verdadeira identidade- D. João de Portugal toma consciência de que não só não tem mais lugar no coração de Madalena (que, segundo informou Telmo, usou todos os recursos possíveis para o encontrar), como também perdeu irremediavelmente a sua vida passada, acabando por se compadecer da desgraça daquela família- Para remediar o sofrimento causado pelo seu regresso, pede a Telmo para mentir, dizendo que «o peregrino era um impostor»Cena VI - Diálogo entre Telmo e Romeiro

- Do lado de fora da porta, ouve-se Madalena desesperada a chamar pelo marido, gerando-se aqui uma grande confusão, pois o Romeiro, por momentos, tem a ilusão de que ela o procura a ele

CENA VII- Diálogo entre Telmo, Madalena, Jorge e Manuel

- Madalena tenta evitar separara-se do marido, procurando convencê-lo de que estavam a ser precipitados ao acreditarem tão prontamente nas « palavras de um romeiro, um vagabundo...»- Manuel mantém-se firme na sua decisão

CENA VIII- Diálogo entre Jorge, Madalena e Manuel

- Madalena continua esperançosa de evitar a  separação próxima, dirigindo-se a Jorge, mas tanto este como o marido são inflexíveis

CENA IX - Diálogo entre Jorge e Madalena

- Madalena,  despedaçada pelo abandono a que se sente voltada, refugia a sua dor na religião cristã e, resignada, dirige-se para o local da cerimónia de tomada de hábito

Page 13: Frei Luís de Sousa - Resumo

CENA X - Início da cerimónia da tomada de hábitos

CENA XI- Diálogo entre Pior de Benfica, Arcebispo, Manuel, Madalena e Maria- Maria revoltada contra a (in)justiça divina que cruelmente a priva da família, incita os pais a mentir para a salvar

CENA XII- Diálogo entre Maria, Madalena, Manuel, Romeiro e Telmo- Saindo detrás do altar-mor, o Romeiro ainda insiste com Telmo para os «salvar»- Maria reconhece a sua voz e morre «de vergonha»