Upload
haliem
View
218
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Rinaldo César de Holanda Beltrão
2014
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Temer Ministro da Educação José Henrique Paim Fernandes Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Aléssio Trindade de Barros Diretor de Integração das Redes Marcelo Machado Feres Coordenação Geral de Fortalecimento Carlos Artur de Carvalho Arêas Coordenador Rede e-Tec Brasil Cleanto César Gonçalves
Governador do Estado de Pernambuco João Soares Lyra Neto
Secretário de Educação e Esportes de
Pernambuco José Ricardo Wanderley Dantas de Oliveira
Secretário Executivo de Educação Profissional
Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra
Gerente Geral de Educação Profissional Luciane Alves Santos Pulça
Coordenador de Educação a Distância
George Bento Catunda
Coordenação do Curso Terezinha Beltrão (Multimeios Didáticos)
Sheila Ramalho (Secretaria Escolar)
Coordenação de Design Instrucional Diogo Galvão
Revisão de Língua Portuguesa
Eliane Azevedo
Diagramação Roberta Cursino
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3
1. COMPETÊNCIA 01 | IDENTIFICAR A ORIGEM HISTÓRICA DOS FUNCIONÁRIOS DAS
ESCOLAS PÚBLICAS ................................................................................................................... 5
1.1 O Período Colonial ................................................................... 5
1.2 Os Jesuítas ............................................................................... 7
1.3 A Reforma Pombalina ............................................................ 10
1.4 O Brasil Império ..................................................................... 14
1.5 A República ........................................................................... 17
1.5.1 A Era Vargas ....................................................................... 19
1.5.2 O Golpe Militar de 1964 ..................................................... 22
1.5.3 A Redemocratização ........................................................... 24
2. COMPETÊNCIA 02 I PONTUAR ASPECTOS RELEVANTES QUE APONTEM A ESCOLA
PÚBLICA COMO AGÊNCIA EDUCADORA DE QUALIDADE, A PARTIR DO QUE PROPÕEM A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LDBEN Nº 9394/96 .................................................................. 27
2.1 A Legislação Brasileira e a Escola de Qualidade ..................... 28
2.2 Afinal, como saber se uma escola é de qualidade? ................ 31
2.3 Função da Escola ................................................................... 33
2.4 Escola Pública como Agência Reguladora de Qualidade ........ 35
3. COMPETÊNCIA 03 I APRESENTAR CARACTERÍSTICAS QUE APONTEM O PAPEL DOS
FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA COMO EDUCADORES ................................................................ 41
3.1 A Lei que Instituiu a Função de Funcionários da Escola ou
Trabalhadores em Educação. ...................................................... 42
3.2 Funcionário-Educador: a Construção de um Novo Paradigma 44
3.3 A Formação Profissional como Pressuposto Básico para a
Valorização do Funcionário da Escola .......................................... 46
3.4 Os Novos Perfis Profissionais ................................................. 47
3.5 A Terceirização do Serviço Público ........................................ 49
Sumário
4. COMPETÊNCIA 04 I CARACTERIZAR A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
TAMBÉM COMO GESTORES NA DEMOCRACIA ESCOLAR ...................................................... 52
4.1 A Construção da Gestão Democrática ................................... 52
4.1.1 O Aprimoramento do Processo para Escolha do Diretor .... 54
4.1.2 Criação e Consolidação dos Órgãos Colegiados .................. 57
4.1.3 Participação dos Estudantes ............................................... 58
4.1.4 Construção Coletiva do Projeto Político Pedagógico .......... 60
4.1.5 Progressiva Autonomia da Escola ....................................... 61
4.1.6 Garantia de Financiamento Público .................................... 63
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 69
CURRÍCULO DO PROFESSOR-PESQUISADOR .......................................................................... 71
3
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
INTRODUÇÃO
Caro funcionário, prezado estudante.
Esse caderno de estudos é dedicado à construção da identidade dos
funcionários no contexto da estrutura e do funcionamento da educação
básica, a partir de uma análise histórico-conjuntural.
Ele está dividido em quatro capítulos de acordo com as competências que
serão requeridas ao final dessa fase do curso.
No primeiro capítulo, o objetivo é Identificar a origem histórica dos
funcionários de escolas públicas. Para isso fazemos uma retrospectiva da
História do Brasil desde a chegada dos primeiros educadores brasileiros: os
jesuítas, até os dias atuais.
No segundo capítulo pontuamos aspectos relevantes que apontam a escola
pública como agência educadora de qualidade a partir do que propõem a
Constituição Federal (CF) e a LDBEN Nº 9394/96. Nessa parte de nosso estudo
discutimos sobre o significado da qualidade para a educação e sobre a função
social da escola.
No terceiro capítulo apresentamos características que apontam o papel dos
funcionários da escola como educadores, a partir da mudança de paradigma
trazida pela lei 12.014/2009 e a discussão em torno da necessidade da
formação profissional como pressuposto básico para a valorização do
funcionário da escola
No último capítulo propomos uma discussão que tem por objetivo
caracterizar a valorização dos profissionais da educação também como
gestores na democracia escolar, discutimos os mecanismos de escolha dos
4
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
diretores da escola, os órgãos colegiados, o Projeto Político Pedagógico (PPP),
a autonomia da escola e o financiamento da educação.
Com o estudo desse material, você irá ampliar seus conhecimentos sobre a
estrutura e a operação da educação escolar básica no Brasil, com o propósito
de desenvolver seu novo papel como educador, profissional, cidadão e gestor
nas escolas e nos órgãos dos sistemas de ensino.
Desejo a você sucesso na sua formação profissional.
5
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
1. COMPETÊNCIA 01 | IDENTIFICAR A ORIGEM HISTÓRICA DOS
FUNCIONÁRIOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS
Olá! Vamos começar nossos estudos.
Esse capítulo tem como objetivo identificar a origem histórica dos
funcionários das escolas. Para isso faremos um breve passeio pela História do
Brasil, tendo sempre como referência a forma como os diversos governantes
e sistemas de governo pensaram e trataram a educação. E como esse
tratamento influenciou a educação e o modelo de realização das atividades
não docentes no espaço escolar.
Nessa abordagem, identificaremos como se construiu a figura dos
funcionários das escolas, desde o período colonial até os dias de hoje.
Tenho certeza que vocês irão se interessar bastante por esse tema.
Boa leitura!
1.1 O Período Colonial
O início da organização escolar no Brasil se deu ainda na época denominada
de Brasil colonial, com a chegada, em nosso país, de Tomé de Souza, que viria
a ser o primeiro governador-geral do Brasil, no ano de 1549.
De uma forma geral, pode-se afirmar que a colonização inicial tentada pelos
portugueses no Brasil (anterior à chegada de Tomé de Souza), tendo como
ponto principal a divisão do território brasileiro em quinze Capitanias
Hereditárias, não deu certo. Na verdade foi um verdadeiro fracasso, uma vez
que apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco prosperaram.
6
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
Tentou-se então um novo modelo, que tinha como peça chave o governador-
geral, uma espécie de presidente, nomeado pela coroa portuguesa. Esse novo
modelo de colonização foi posto em prática quando o novo comandante da
colônia desembarcou na Bahia, no dia 29 de março de 1549.
Tomé de Souza chegou ao Brasil trazendo consigo algumas dezenas de
colonos e seis padres da Companhia de Jesus, ordem religiosa católica que
havia sido fundada em 1534, na França, por um grupo de estudantes da
Universidade de Paris, cujos membros são, ainda hoje, conhecidos como
jesuítas. Esse grupo de religiosos veio chefiado pelo padre Manuel da
Nóbrega.
Entre as novas políticas a serem introduzidas pela coroa portuguesa no Brasil
estava a evangelização dos nativos (índios e colonos) à fé católica, utilizando
para isso a catequese e a instrução. Contavam para isso com a experiência dos
religiosos e o apoio financeiro do governo português para implantar e manter
o trabalho.
Figura 1 – Fiança Portuguesa: chegada do Governador Tomé de Souza ao Brasil Fonte: http://faianca-portuguesa.blogspot.com.br
Estava instituída no Brasil a “educação pública religiosa”. Ela era pública
porque foi mantida com um subsídio da coroa portuguesa, chamado redízima,
7
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
referente a 10% do imposto colonial cobrado à colônia brasileira; era religiosa
porque foi operacionalizada pela igreja e continha um forte conteúdo
religioso.
Com essas informações podemos perceber algo bastante importante na
constituição do país: a primeira organização escolar no Brasil estaria vinculada
à política colonizadora dos portugueses, que tinha como propósito
estabelecer um tipo de relação política com dois elementos: um centro de
decisão, que seria a metrópole, e outro subordinado, que seria a colônia. E
para isso contava com o apoio ideológico da igreja, usando como mecanismo
de convencimento da população a evangelização e a educação.
A vida econômica da metrópole deveria ser dinamizada pelas atividades
realizadas na colônia, ou seja, o objetivo final dos colonizadores era obter
lucro, enquanto que caberia à colônia propiciar tais lucros às camadas
dominantes da metrópole.
Mas, para que isso desse certo seria preciso que uma pequena parte desse
lucro (a menor possível) permanecesse na colônia com aquelas pessoas que
comandavam (a serviço da metrópole) internamente a atividade produtiva.
A educação seria usada como parte da engrenagem para mover esse modelo
de exploração.
1.2 Os Jesuítas
O padre Manoel da Nóbrega logo que chegou ao Brasil preparou um plano
educacional que tinha como ponto de partida o ensino da língua portuguesa
para os indígenas, seguido da doutrina cristã.
8
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
Implantou a escola de ler e escrever e, em algumas localidades, o canto
orfeônico e a música instrumental; também fazia parte desse plano
educacional o aprendizado profissional e agrícola.
Para os filhos das classes mais abastadas existia o estudo da gramática latina,
que tinha como propósito a preparação para a realização de estudos
superiores na Europa.
Esse plano não deixava de conter uma preocupação um tanto quanto realista,
procurando levar em conta as condições específicas do país. Foi batizado de
“pedagogia brasílica”. Algumas décadas depois sua aplicação foi questionada
por outros padres ligados à instrução, que faziam parte da própria Companhia
de Jesus e acabou sendo suplantada pelo Plano Geral de Estudos, que se
tornou obrigatório em todos os colégios da Ordem a partir de 1599.
O Plano Geral de Estudos da Companhia de Jesus nada mais era do que uma
reprodução do modelo colonizador português: aos índios seria suficiente
apenas a catequese, algo bastante interessante do ponto de vista religioso,
pois seria uma forma de trazer novo adepto ao catolicismo e também
bastante interessante do ponto de vista econômico, uma vez que deixava os
índios mais dóceis e bem mais fáceis de serem explorados como mão de obra.
Ainda de acordo com o Plano Geral de Estudos a educação profissional seria
direcionada aos filhos dos colonos, aos mestiços e aos negros, que
constituíam a maioria da população brasileira.
Já a elite seria preparada para o trabalho intelectual em colégios que tinham
formato de internato.
A primeira instituição de ensino criada oficialmente no Brasil foi o Colégio
Jesuíta do Salvador da Bahia, em 1553, pelo padre Manoel da Nóbrega.
Canto Orfeônico é
uma espécie de canto coletivo praticado por
estudantes, surgido na Grécia antiga e popularizado no
século XVI na França. Seu nome é uma referência ao deus grego Orfeu, que se distinguia
dos demais deuses da mitologia grega pelo fato de saber
cantar.
Fonte: http://eomundoseguiuadiante.blogspot
.com.br/
9
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
Figura 2 – Gravura do Terreiro de Jesus com o Colégio Jesuíta do Salvador da Bahia, ao fundo. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Terreiro_de_Jesus_-_Salvador_-_Bahia_1908.jpg
É nesse período, ainda no século XVI, durante a implantação pelos padres da
Companhia de Jesus, do primeiro modelo educacional no Brasil, que surgem
os funcionários de escola.
Nesse período os professores das escolas eram, em sua imensa maioria,
formados por religiosos ligados à Igreja católica. Para auxiliar esses
professores nas aulas haviam os decuriões, que eram alunos escolhidos pelo
seu bom desempenho escolar e pelo mérito pessoal.
Esses decuriões eram responsáveis pela passagem e correções das lições, pelo
controle na disciplina, seriedade e frequência, deveriam providenciar para
que toda a atividade educacional ocorresse adequadamente.
Desde os cuidados com a limpeza, passando pelo zelo com o início do horário
das aulas e até com o mobiliário. Podemos afirmar que os decuriões foram os
primeiros funcionários de escola, uma vez que realizavam atividades não
docentes.
10
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
Esses auxiliares dos professores precisavam seguir algumas regras rígidas, que
deveriam ser cumpridas, como, por exemplo, a total obediência ao professor,
sabendo que seu dever seria executar tudo aquilo que lhe era prescrito, sendo
responsável por levar ao conhecimento do mestre caso os alunos não
efetuassem as lições, faltassem às aulas ou deixassem de cumprir alguma das
atividades relativas ao estudo ou relacionados à disciplina.
Quando a Comunidade de Jesus começou a fundar colégios mais estruturados,
para os filhos das famílias mais abastadas, em regime de internato, surge um
novo tipo de funcionário da escola, uma vez que os religiosos passaram a ser
responsáveis não somente pelo ensino, mas por toda a vida dos alunos:
saúde, alimentação, lazer, religião, desenvolvimento corporal e psicológico.
Além dos professores havia os coadjutores que trabalhavam como
enfermeiros, nas cozinhas, como sacristãos, cuidavam das hortas, das
bibliotecas, construção civil e em outras ocupações mais ou menos
relacionadas ao processo de ensino.
Esse modelo seguiu sem maiores transformações até meados do século XVIII.
1.3 A Reforma Pombalina
Durante a segunda metade do século XVIII, a realeza Portuguesa passa a
sofrer influência dos princípios iluministas com a chegada de Sebastião José
de Carvalho, o Marques de Pombal, aos quadros ministeriais do governo de
Dom José I.
O iluminismo foi um movimento cultural criado no seio da elite intelectual
europeia, sobretudo a elite francesa, no início do século XVIII, que tentou
mobilizar o poder da razão, com objetivos de reformar a sociedade e o
conhecimento herdado da tradição da era medieval.
11
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
Procurou promover o intercâmbio intelectual e combateu de forma veemente
os abusos e a intolerância da monarquia e da igreja.
Com base nesses princípios, o Marquês de Pombal, uma vez nomeado
primeiro-ministro em Portugal, iniciou uma série de reformas, que tinha como
principal preocupação a modernização da administração pública de Portugal
com vistas a ampliar os lucros que vinham da exploração das colônias,
sobretudo de sua galinha dos ovos de ouro (ouro literalmente!): o Brasil.
Uma das medidas relevantes tomadas por ele, que teve grande impacto na
área educacional do Brasil foi a expulsão dos jesuítas do país.
De acordo com o Marquês de Pombal, o principal objetivo dessa expulsão
seria dar fim às brigas constantes envolvendo colonos e jesuítas.
Esses conflitos surgiram por conta da exploração da mão de obra indígena. A
falta de escravos negros fazia com que muitos colonos quisessem prender e
escravizar as populações indígenas. Os jesuítas se opunham a isso, muitas
vezes apoiando os índios contra os colonos.
Figura 3 – Gravura que retrata a expulsão dos Jesuítas pelo Marquês de Pombal em 1759. Fonte: www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/especial-expulsao-dos-jesuitas-cortados-pela-raiz
Vendo os prejuízos trazidos por essa situação, o Marques de Pombal expulsou
os jesuítas e determinou que o Estado tomasse posse dos bens da igreja. As
12
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
terras que foram tomadas dos integrantes da Ordem da Companhia de Jesus
foram usadas como zonas de exploração econômica por meio da venda em
leilão ou da doação das mesmas para outros colonos.
Foi proposta pelo Marquês de Pombal a Reforma Pombalina para a Educação
tanto em Portugal, quanto nas colônias. Porém, enquanto em Portugal esse
processo desencadeou a formação de um sistema público de ensino, mais
moderno, eficiente e popular, no Brasil, apesar das várias tentativas, por meio
de sucessivos alvarás e cartas régias, as Reformas Pombalinas no campo da
educação, só conseguiram desarrumar a estrutura educacional construída
pelos padres jesuítas, confiscando todos os bens da ordem católica e
fechando todos os seus colégios.
Foi por meio do Alvará Régio de 28 de junho de 1759, que o Marquês de
Pombal extinguiu as escolas ligadas à Companhia de Jesus, tanto de Portugal
como de todas as colônias e, ao mesmo tempo, criou as aulas régias ou
avulsas de Latim, Grego, Filosofia e Retórica, que deveriam suprir as
disciplinas antes oferecidas nos extintos colégios da ordem católica.
O Alvará de 1759 pode ser visto como a primeira ação prática de tornar a
escola laica, uma vez que trazia a ideia de que somente um ensino dirigido e
mantido pelo poder secular, poderia corresponder aos fins da ordem civil.
Seguindo nesta direção, Portugal assume de forma definitiva o controle da
educação no Brasil. É criado o cargo do Diretor Geral de Estudos (que seria o
Ministro da Educação da época) e verifica-se a intenção do governo português
de uniformizar a educação e fiscalizar o trabalho dos professores e o material
didático, de maneira que não houvesse choque de interesses entre o governo
e o modelo educacional, algo que não existia na época das escolas dos
jesuítas.
Escola laica é um tipo de educação elementar que se caracteriza por ser
um ensino desvinculado da
educação religiosa.
Fonte: wikipedia.org
13
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
Com a implantação desse modelo qualquer cidadão que tivesse o domínio
ainda que elementar da gramática e da matemática poderia se apresentar à
autoridade da província para ensinar.
Uma vez autorizado, esse cidadão, já com o nome de professor, reunia os
alunos que conseguisse em sua própria casa, na igreja ou em qualquer outro
lugar, dava as aulas, pelas quais recebia um pequeno salário do governo
provincial.
O ensino era responsabilidade de uma só pessoa: o professor. Em algumas
situações, ele era ajudado por um escravo que, na maioria das vezes, ficava
com a responsabilidade de limpar o ambiente, oferecer água aos alunos, e
coisas do gênero.
Os registros, a guarda e o manuseio do material didático eram tarefas do
professor, que ao fim do ano os entregava ao inspetor da província, para que
fossem emitidos os documentos que comprovariam a formação educacional
dos alunos.
A figura dos funcionários que até então contribuíam para a formação dos
estudantes, praticamente se extinguiu. Os escravos que auxiliavam o
professor eram apenas apoio para as atividades de ensino. Podemos até dizer
que eles eram desnecessários uma vez que suas funções poderiam ser feitas
pelo professor ou pelos próprios alunos.
As aulas régias instituídas pelo Marquês de Pombal para substituir o ensino
religioso constituíram a primeira experiência de ensino promovida
exclusivamente pelo governo na história do Brasil. A partir de então, a
educação passou a ser uma questão de Estado. Vale destacar que esse
sistema de ensino servia prioritariamente aos filhos das elites coloniais.
14
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
Estas providências, no entanto, não foram suficientes para assegurar a
continuidade e a modernização das escolas brasileiras, reclamadas pela
população que até então se beneficiava dos colégios jesuítas. Portugal
demorou a perceber que a educação no Brasil ficou estagnada e seria preciso
realizar profundas mudanças.
1.4 O Brasil Império
A Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de 1822, fruto do
desejo da maioria da elite brasileira de conquistar sua autonomia política e do
desgaste do sistema econômico imposto por Portugal, repleto de restrições e
com a cobrança de altos impostos, suscitou nova reforma no modelo
educacional brasileiro, sobretudo com a convocação da Assembleia Nacional
Constituinte e Legislativa, que foi instalada logo após a proclamação da
Independência para redigir a primeira Constituição do Brasil.
A Constituição, que foi outorgada em 1824 e durou todo o período imperial,
trazia, com relação à educação, que “a instrução primária é gratuita para
todos os cidadãos” e determinava a criação de uma legislação específica para
a área educacional.
Figura 4 – Gravura que retrata a promulgação da primeira Constituição Brasileira em 1824. Fonte: http://www.clickescolar.com.br/a-carta-outorgada-de-1824.htm
15
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
Dessa forma, em 15 de outubro de 1827, a Assembleia Legislativa aprovou a
primeira lei sobre a educação pública nacional do Brasil, que trazia como
principais eixos norteadores:
1. Que em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de
primeiras letras;
2. Que os presidentes das províncias deverão definir os salários dos
professores;
3. Que as escolas devem ser de ensino mútuo;
4. Que os professores que não tenham formação para ensinar devem
providenciar a formação em curto prazo e às próprias custas;
5. Determinava o currículo a ser seguido com os conteúdos de cada
disciplina;
6. Que devem ser ensinados os princípios da moral cristã e da doutrina da
religião católica e apostólica romana;
7. Que deve ser ensinada a Constituição do Império e a História do Brasil.
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição determinou que as províncias
passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e
secundário. Por conta disso, no ano de 1835, surge a primeira escola de
formação de professores do país (chamada Escola Normal), na cidade de
Niterói-RJ.
Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pela
complexidade e dimensão do país, a educação brasileira se perdeu mais uma
vez, obtendo resultados insignificantes.
Podemos destacar o posicionamento crítico de dois grandes vultos da época.
Em 1880 o Ministro da Educação, Paulino de Souza, lamenta o abandono da
educação no Brasil, em seu relatório anual à Assembleia Legislativa.
16
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
Em 1882 o político, jurista, escritor, diplomata, filólogo, tradutor e orador Ruy
Barbosa sugere que seja dada uma maior liberdade do ensino, que seja
implantado o ensino laico e a obrigatoriedade de instrução.
Figura 5 – foto de Ruy Barbosa, influente pensador brasileiro do Século XIX. Fonte:. http://www.causaimperial.org.br/index.php/arquivos/1205
Apesar de toda dificuldade vale a pena destacar que a retomada no país da
criação de escolas com certo nível de estruturação (ainda que insuficientes
quando comparados à demanda existente) e a construção de prédios para
esses estabelecimentos, motivaram uma mudança substancial, que foi o
surgimento de dois tipos de funcionários não docentes, ambos assalariados:
os responsáveis pela conservação e limpeza dos prédios e os funcionários de
secretaria, responsáveis pela documentação das escolas.
Apesar de muitos esforços, no final do Império, o quadro geral da educação
brasileira era de poucas escolas, com apenas alguns liceus nas capitais, alguns
colégios privados bem instalados nas cidades mais desenvolvidas, algumas
escolas ligadas à igreja católica, que voltam a atuar com muito prestígio,
cursos normais em quantidade insuficientes para as necessidades do país e
alguns cursos superiores que garantiam a formação de médicos, políticos,
advogados e jornalistas.
17
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
1.5 A República
No final da década de 1880, a monarquia brasileira estava numa situação de
crise: corrupção na corte; insatisfação dos militares e da igreja católica; a
classe média estava crescendo, sobretudo nos grandes centros urbanos e
desejosa de uma maior liberdade mais participação nos assuntos políticos do
país; via-se que a monarquia representava uma forma de governo que não
correspondia mais às mudanças sociais que estavam em processo no país.
Era preciso implantar um novo modelo de governo, capaz de fazer o país
avançar nas questões econômicas, políticas e sociais.
Figura 6 – Pintura que retrata o momento em que é proclamada a república, em 15 de novembro de 1889. Fonte:.http://escolaflaviosimoes.blogspot.com.br/2010/11/proclamacao-da-republica-do-brasil.html
Desta forma, em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca,
com o apoio dos republicanos, demitiu o Conselho de Ministros e assinou o
manifesto proclamando a República no Brasil e instalando um governo
provisório.
O grande marco da educação republicana foi o surgimento dos grupos
escolares, na última década do século XIX, que traziam como proposta reunir
18
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
escolas isoladas, que seriam agrupadas de acordo com a proximidade entre
elas.
Esse modelo instituiu uma nova organização das escolas brasileiras, com
turmas seriadas, classificação dos alunos pelo nível de conhecimento, a
adoção do ensino simultâneo, a racionalização curricular, controle e
distribuição ordenada dos conteúdos e do tempo, introdução de um sistema
de avaliação, a organização das turmas tendo um professor por série, se
constituindo num fenômeno urbano, já que no meio rural ainda predominou
as escolas isoladas por muito tempo.
Figura 7 – Foto do Grupo Escolar Rodrigues Alves - Avenida Paulista, São Paulo-SP. (ano: 1919). Fonte http://www.ibamendes.com/2011/06/fotos-de-escolas-antigas-de-sao-paulo.html
O Grupo Escolar foi uma escola eficiente para a formação educacional das
elites, já que não foram abertas vagas suficientes para atender à demanda.
O ensino primário passou a ser realizado em quatro anos, previa a utilização
do método intuitivo, o qual usava diversificados materiais didáticos,
laboratórios e bibliotecas.
Os alunos eram orientados sob uma rígida disciplina, o tempo escolar passou
a ser controlado por meio do calendário letivo anual. Havia ainda atividades
19
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
ritualísticas como os exames finais, as datas cívicas, as feiras de conhecimento
e as festas de encerramento do ano letivo.
O grupo escolar também trouxe como inovação a instituição de novos
dispositivos de administração escolar e pedagogia. Esse modelo espalhou-se
por todo território brasileiro, passando a fazer parte da política educacional
de vários presidentes e governadores.
Essa expansão fez crescer a necessidade de contratação de mais funcionários
para as escolas. Além de profissionais responsáveis pela limpeza, conservação
e secretaria, em meados do século XX, surgem as merendeiras.
Nas escolas de grande porte passam a atuar também bibliotecários e
auxiliares em laboratórios e em operação de equipamentos audiovisuais.
A contratação normalmente era por indicação política, surgindo os
subempregados clientelísticos e os burocratas administrativos. Esse modelo
seguiu inalterado até a promulgação da Constituição Federal de 1988, quando
se passou a exigir concurso público para provimento de cargos públicos.
1.5.1 A Era Vargas
Entre as décadas de 1930 e 1960 o Brasil passou por profundas mudanças que
mais uma vez influenciaram o modelo nacional de educação, sobretudo por
conta da aceleração do capitalismo, que desencadeou a mudança de um
sistema econômico agrário para um sistema industrial, além de um período
ditatorial entre 1937 e 1946, que interrompe o sistema democrático que havia
sido inaugurado com a proclamação da república.
20
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
Figura 8 Manchete do Jornal última Hora sobre a morte do presidente Vargas, em 24 de agosto de 1954. Fonte http://www.opopularns.com.br
A educação assistiu a uma disputa ideológica das mais acirradas, uma vez que
interesses opostos disputaram espaço no cenário educacional nacional: de um
lado, a Igreja Católica e os setores conservadores da sociedade querendo
manter a hegemonia histórica na condução da política nacional de educação;
do outro lado, setores liberais, progressistas e de esquerda, aderindo aos
ideais da Escola Nova, lutavam por uma escola pública para todos brasileiros
entre 7 e 15 anos de idade.
Nesse período ocorreram diversas reformas educacionais, porém nenhuma
delas conseguiu dar conta de dois grandes problemas da educação no país: o
alto índice de analfabetos e a universalização do ensino primário.
Quando assumiu o poder, em 1930, Getúlio Vargas criou o Ministério da
Educação e Saúde Pública, comandado por Francisco Campos, que implantou,
no ano seguinte, uma reforma educacional que foi batizada com o seu nome.
Trouxe como mudanças a criação de um Sistema Nacional de Educação,
criação do Conselho Nacional de Educação, o ensino secundário passou a ser
organizado em dois ciclos: o fundamental, de cinco anos, e o complementar,
de dois anos.
21
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
O ensino secundário compreendia a escolarização imediatamente posterior
aos quatro anos do ensino primário e tinha caráter altamente seletivo. O
primeiro ciclo seria obrigatório para ingresso no ensino superior; já o segundo
para determinadas escolas.
Em 1937, Getúlio Vargas promove o golpe que ficou conhecido como Estado
Novo e é promulgada uma nova constituição que propõe diversas mudanças
na área educacional, estabelecendo o ensino técnico-profissional, criação do
SENAI e SENAC, instituição da gratuidade e obrigatoriedade do ensino
primário, determinação de que os Estados deveriam organizar seus sistemas
de ensino, previsão de recursos para o ensino primário, por meio do Fundo
Nacional do Ensino Primário e determinação de normas para carreira,
remuneração, formação e preenchimento de cargos do magistério e na
administração escolar.
Getúlio Vargas promove eleições diretas em 1946. É eleito novamente
presidente em 1951, mas suicida-se antes do final do governo. O Brasil
passaria por um período de democracia até 1964.
Figura 8 – Foto da Escola do SENAI da avenida Rio Branco, em São Paulo-SP (em 1950). Fonte http://www.mariadoresguardo.com.br/2011/10/senai-av-rio-branco-decada-de-1950.html
No contexto político entre esquerda e direita, bastante fomentado pela
guerra fria e pela dicotomia entre capitalismo e socialismo, no início da
22
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
década de 1960, foi aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(Lei n. 4.024, de 1961), que incorporou os princípios do direito à educação, da
obrigatoriedade escolar e da extensão da escolaridade obrigatória nos
seguintes termos: “A educação é direito de todos e será dada no lar e na
escola” e ainda “O direito à educação é assegurado pela obrigação do poder
público e pela liberdade de iniciativa particular de ministrarem o ensino em
todos os graus, na forma da lei”. A LDB manteve a estrutura organizacional
instituída durante o Estado Novo.
A taxa de analfabetismo no Brasil continuava bastante elevada. Em 1960, 40%
da população brasileira não lia nem escrevia. Diante desses números, no início
da década de 1960, teve início uma experiência de educação popular, onde
participou setores da Igreja Católica ligados à Teologia da Libertação e
pedagogos como o pernambucano Paulo Freire, que preconizava que, ao
enorme contingente que nunca pisara o chão de uma escola, não bastaria
apenas alfabetizar com métodos convencionais.
Ao contrário, no processo da alfabetização, ao mesmo tempo em que se
deveria fornecer aos adultos sem escolarização o instrumental da escrita,
seria necessário fornecer-lhes ferramentas para que eles fossem capazes de
interpretar o mundo. Sua inovadora atuação, que no futuro seria reconhecida
mundialmente, foi interrompida pelo golpe militar de 1964.
1.5.2 O Golpe Militar de 1964
Em 31 de março de 1964, o Comando Militar do Exército Brasileiro depõe o
presidente João Goulart e inicia o período ditatorial que se estenderia até
1985 e que significou um grande atraso para sociedade brasileira, uma vez
que impediu que ocorressem os avanços para um Brasil mais justo,
democrático e soberano.
A política educacional neste período trouxe muitas mudanças na estrutura da
escola pública brasileira. Trata-se de um fato, até certo ponto, paradoxal, pois,
Assista ao vídeo Documentário Paulo Freire e
conheça mais sobre sua vida e obra.
Endereço: http://www.youtube.com/watch?v=vYJ
uYkbS1vw.
23
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
se de um lado o regime autoritário prendeu, torturou e matou seus
opositores, de outro conseguiu expandir a escola pública, apesar de ter
cuidado para tirar dela seu caráter reflexivo e propositor de mudanças na
sociedade.
Figura 9 – Passeata contra o Regime Militar, no centro de São Paulo-SP (em 1967). Fonte http://psol50sp.org.br
A consolidação da sociedade urbana e industrial durante a ditadura militar
transformou a escola pública brasileira, porque de acordo com a lógica do
regime, seria preciso haver um mínimo de escolaridade para que o país se
desenvolvesse.
No entanto a expansão quantitativa foi acompanhada pelo rebaixamento da
qualidade de ensino. Porém é preciso reconhecer que a expansão foi um dado
de qualidade, pois o fato de as camadas populares terem acesso pela primeira
vez em grande quantidade na escola pública brasileira constituiu-se em um
dos elementos qualitativos dessa escola.
Mas apesar desse aspecto positivo, precisamos registrar a precariedade em
que se tornou a escola pública brasileira a partir desse período.
24
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
No artigo intitulado História da Educação no Brasil, a escola pública no
processo de democratização da sociedade, as pesquisadoras Marisa e
Mariluce Bittar descrevem o modelo escolar do período da ditadura como
sendo:
a escola das crianças das camadas populares; a escola em que funcionava o turno intermediário, com pouco mais de três horas de permanência na sala de aula, mal aparelhada, mal mobiliada, sem biblioteca, precariamente construída, aquela em que os professores recebiam salários cada vez mais incompatíveis com a sua jornada de trabalho e com a sua titulação. A escola na qual era obrigatória a Educação Moral e Cívica, disciplina de caráter doutrinário, que além de justificar a existência dos governos militares, veiculava ideias preconceituosas sobre a formação histórica brasileira, e na qual o ensino da Língua Portuguesa, da História, da geografia e das Artes ficou desvalorizado.
1.5.3 A Redemocratização
Em 1985 chega ao fim a ditadura militar com a eleição (de forma indireta, por
meio de um colégio eleitoral formado por deputados e senadores) do
presidente Tancredo Neves, que morre antes da posse.
Assume então o vice-presidente José Sarney, representante das elites que
apoiaram a ditadura militar. Por conta disso, a transição para a democracia foi
feita de forma conservadora, mantendo-se as mesmas estruturas da formação
histórica brasileira.
O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) de filosofia
neoliberal adotou medidas que expandiram as matrículas na escola pública,
mas diminuíram o papel do Estado na educação, sobretudo a educação
superior, ocasionando estagnação das universidades públicas além de
aposentadorias precoces de professores que as deixaram para atuar nas
universidades privadas.
25
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 01
Uma das principais medidas educacionais desse governo foi promover o
processo de elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional LDBEN), que trouxe algumas mudanças importantes como o ensino
obrigatório de nove anos, criação do FUNDEF (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) e a
distribuição das competências dos entes federativos com as modalidades de
ensino: os municípios ficaram com o ensino fundamental, os estados como
ensino médio e a união com o ensino superior.
Um dos efeitos das reformas educacionais instituídas nesse governo foi a
intensificação do processo de privatização da educação superior brasileira,
terceirização do serviço público em atividades consideradas atividades-meio,
sucateamento das escolas técnicas e outros males para a educação brasileira.
Apesar da entrada em crise do modelo clientelista por conta da exigência de
concurso público para provimento dos cargos públicos e pelo fortalecimento
das associações e dos sindicatos pós-ditadura, o modelo neoliberal,
introduzido no governo de Fernando Henrique Cardoso fez surgir a prática da
terceirização nas funções não-docentes da escola. No caso dos professores,
essa prática não institucionalizou-se pela garantia constitucional do concurso
público de provas e títulos para docentes.
O governo seguinte, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado em
janeiro de 2003, trouxe algumas mudanças significativas para a educação:
ampliou o FUNDEF para todo o ensino básico (educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio) passando a se chamar FUNDEB (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação), aumentando substancialmente os recursos, abriu
uma grande quantidade de escolas técnicas (que haviam sido sucateadas no
governo FHC), instituiu o piso salarial profissional nacional para os docentes,
investiu mais na educação superior pública, especialmente no que diz
respeito ao acesso, entendido como estratégia de inclusão das camadas que
Neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e
econômicas capitalistas que
defende pouca ou nenhuma
intervenção do governo, na
economia, no mercado de
trabalho, incentiva a política de
privatização de empresas estatais, a
livre circulação de capitais
internacionais e ênfase na
globalização, a abertura da
economia para a entrada de
multinacionais, a adoção de medidas
contra o protecionismo econômico, a
diminuição dos impostos e tributos
excessivos etc.
Fonte: http://www.signific
ados.com.br.
26
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 01
tem menor poder aquisitivo, criando programas como o PROUNI, para esse
nível de ensino, reestruturou e ampliou as escolas técnicas, que foram
transformadas em Institutos Federais de Tecnologia.
O Brasil conseguiu, praticamente, universalizar o acesso à escola, chegando a
patamares superiores a 95% no Ensino Fundamental. O grande desafio
continua sendo melhorar o fluxo, combater a evasão e melhorar, e muito, a
qualidade.
Com relação aos funcionários de escolas, os grandes desafios que estão
postos são a profissionalização e o reconhecimento desses trabalhadores
como educadores, assunto que iremos detalhar no Capítulo 3 deste caderno
de estudos.
27
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
2. COMPETÊNCIA 02 I PONTUAR ASPECTOS RELEVANTES QUE
APONTEM A ESCOLA PÚBLICA COMO AGÊNCIA EDUCADORA DE
QUALIDADE, A PARTIR DO QUE PROPÕEM A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL E A LDBEN Nº 9394/96
No primeiro capítulo vimos como se constituiu historicamente o funcionário
de escola. Agora iremos estudar sobre o significado de uma escola de
qualidade.
Para isso, inicialmente, consultaremos as duas legislações mais importantes
que tratam da educação: a Constituição Federal (que iremos tratar a partir de
agora pela sigla CF) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)
para ver o que elas trazem sobre esse tema.
Em seguida discutiremos sobre o que é uma educação de qualidade e qual o
papel da escola. Boa leitura!
Fonte: http://escolapraque.blogspot.com.br/2011/12/salario-bom-ensino-ruim.html
28
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
2.1 A Legislação Brasileira e a Escola de Qualidade
Nessa primeira parte iremos nos debruçar numa leitura que, reconheço, é um
pouco cansativa, mas muito importante para compreendermos o objetivo
deste capítulo.
Nossa leitura terá como referência texto da legislação que fala sobre
qualidade na educação.
A CF é dividida em seções e capítulos temáticos. No Capítulo III, seção I, que
trata da educação, está escrito, em seu artigo 206 que o ensino será
ministrado com base em alguns princípios dos quais destacamos:
Esses princípios também estão escritos no artigo 3º da LDBEN e já nos
apontam que características deve-se buscar para termos uma escola de
qualidade.
29
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
É fato que esse trecho da lei estabelece uma série de princípios que o modelo
educacional deveria seguir como referência, mas sabemos que existem
contradições entre a lei e o cotidiano da maioria das escolas, uma vez que o
descaso com a educação brasileira é algo frequente, o profissional da
educação, seja ele professor ou funcionário, não é valorizado, as condições de
trabalho, em muitos casos, são as mais precárias possíveis, em muitas
situações a diversidade e liberdade de expressão não são respeitadas, o que
compromete a qualidade e o funcionamento da educação no país. Essa
situação, infelizmente, não ocorre em lugares isolados, mas podem ser vistas
em todos os Estados do Brasil.
Mas por outro olhar, isso demonstra a preocupação da sociedade brasileira,
refletida tanto na CF como na LDBEN, de que seja implementada no país uma
educação pública, gratuita, com valorização dos trabalhadores, universalizada
e com qualidade.
O artigo 4º da LDBEN, no seu inciso IX, afirma que o dever do Estado com a
educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de padrões
mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade
mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do
processo de ensino-aprendizagem.
No Artigo 9º da LDBEN está escrito que a União incumbir-se-á de, entre outras
coisas, assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no
ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de
ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do
ensino.
O artigo 74 da LDBEN diz que a União, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de
oportunidades educacionais para o ensino fundamental, baseado no cálculo
do custo mínimo por aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade.
30
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
No artigo Artigo 75 da LDBEN temos que a ação supletiva e redistributiva da
União e dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as
disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino.
A capacidade de atendimento de cada governo será definida pela razão entre
os recursos de uso constitucionalmente obrigatório na manutenção e
desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão
mínimo de qualidade.
A CF, no Artigo 211 estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará
as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria
educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização
de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino
mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996).
A CF, no Artigo 214, diz que lei estabelecerá o plano nacional de educação
(PNE), de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do
ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que
conduzam à erradicação do analfabetismo; universalização do atendimento
escolar; melhoria da qualidade do ensino.
Ou seja, existe na legislação uma variedade enorme de artigos que trazem
como principal característica da educação, que ela seja ofertada com
qualidade.
Agora precisamos entender quais são os parâmetros que definem uma escola
como de qualidade.
31
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
2.2 Afinal, como saber se uma escola é de qualidade?
A pergunta acima não é fácil de responder.
Fonte: http://www.livrosepessoas.com
Na verdade hoje no Brasil, diversos especialistas em educação têm travado
uma ferrenha discussão sobre esse tópico, um verdadeiro conflito entre os
que defendem a formação subjetiva e aqueles que defendem o conhecimento
objetivo.
De uma forma simplificada podemos dizer que há aqueles que defendem que
a escola precisa promover a formação subjetiva do sujeito, entendem que a
escola precisa se constituir por meio de um conjunto de normas e valores,
baseados na subjetividade dos atores (comunidade escolar) e dos interesses
que estes defendem.
Nesse modelo acredita-se que a educação de qualidade é aquela na qual os
gestores, o corpo docente, os demais funcionários, os pais, os alunos e a
comunidade promovem conjuntamente o domínio dos conhecimentos e do
desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao
atendimento das necessidades individuais e coletivas dos alunos, assim como
a inserção destes, no mundo e a construção da cidadania, incentivando o
32
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
poder de participação, considerando a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.
Portanto, a educação deve ser entendida como um fator de efetivação da
cidadania, com padrões de qualidade da oferta e do produto, de luta contra a
superação das desigualdades sociais e da exclusão social.
Contrapondo-se a essa perspectiva educacional, existe o grupo do
conhecimento objetivo, presente fortemente nas estruturas de poder que
comandam a educação, tanto na esfera federal, como na maioria dos estados
e municípios.
Nesse modelo as escolas são impelidas a apresentarem resultados por meio
das avaliações em larga escala que compõem os índices que oficialmente (do
ponto de vista governamental e da grande mídia) definem se a escola é de
qualidade ou não.
Fonte: http://www.diariodaclasse.com.br/profiles/blogs/
Essas avaliações efetivadas com cada vez mais cobertura e que tem como
objetivo medir, sobretudo, o rendimento acadêmico dos alunos em termos do
domínio da leitura e da escrita, além da apreensão de conhecimentos
33
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
matemáticos, vem servindo como norteadoras de políticas nas diversas
esferas do poder público (nacional, estadual e municipal) e de ações cada vez
mais voltadas para a organização e o aumento da complexidade de seus
sistemas nacionais de avaliação, que não consideram outras variáveis, tais
como o envolvimento das instituições de ensino com a comunidade em que
estão inseridas.
Para entendermos melhor esse processo e entrarmos também nessa
discussão, antes de defender qual conceito de qualidade iremos adotar,
acredito ser fundamental tentarmos responder outra pergunta: para que
serve a escola?
2.3 Função da Escola
Se formos fazer uma breve reflexão antropológica, e comparar o
comportamento do ser humano com o dos outros animais iremos perceber
duas características peculiares presentes na raça humana que fez com que ela
pudesse se desenvolver de modo a ter domínio sobre as demais, apesar de
não estar no topo da cadeia alimentar.
A primeira característica é a capacidade que o ser humano tem de
transformar a natureza para, de certo modo, aferir benefícios.
Para compreendermos melhor essa característica iremos usar um exemplo
muito conhecido dado pelo professor Vitor Paro, da Faculdade de Educação
da USP em uma de suas palestras disponíveis na internet
(www.vitorparo.com.br), sobre o fato do homem, num certo momento
histórico ter percebido a necessidade de se descolar de um lugar para outro
com maior velocidade e sem realizar grande esforço.
O ser humano observou que havia na natureza um certo animal quadrúpede,
muito rápido e forte, que podia ser usado como meio de transporte. Para isso
Antropologia (do
grego antropos=homem e
logia=estudo) é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o
homem e a humanidade de
maneira totalizante, ou seja,
abrangendo todas as suas dimensões.
Fonte:
wikipedia.org.
34
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
bastava domesticá-lo. Foi assim que o ser humano passou a usar os cavalos
para se locomover.
Figura 12 – Pintura rupestre encontrada na Namíbia – África, em data desconhecida. Fonte: http://www.portaldarte.com.br/arteafricana.htm
A segunda característica exclusiva dos humanos, e que faz muita diferença, é
chamada de apropriação da herança cultural. Ao produzir um certo
conhecimento sobre qualquer coisa, o ser humano é capaz de transmitir esse
conhecimento para as gerações futuras, de maneira a permitir que haja a
evolução daquele conhecimento.
Se tomarmos novamente exemplo do uso dos cavalos como transporte,
podemos perceber a herança cultural na medida em que as novas gerações de
seres humanos não precisaram ter que observar novamente qual o melhor
animal para ser usado como transporte e aprender como domesticá-lo.
Receberam a informação e a técnica dos seus ancestrais, se apropriaram delas
e ainda as aprimoraram. De maneira que posteriormente vieram as charretes,
os automóveis, os aviões, etc.
Ou seja, a partir dessa construção histórica, ao propor soluções para os
problemas do cotidiano, o ser humano interage com a natureza e com os seus
35
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
semelhantes, produzindo conhecimentos, técnicas, comportamentos, valores,
arte, tudo enfim podemos chamar de conhecimento historicamente
produzido.
É preciso perceber que um indivíduo que nasce hoje sabe o mesmo que um
indivíduo que nasceu a milhares de anos atrás, ou seja: nada. Isso se dá
porque o conhecimento não se transmite hereditariamente de forma
biológica, não está em nosso DNA. Precisa ser apropriado. Esse é o papel da
educação.
Educação é, pois, a atualização histórica de cada ser humano e o educador é
aquele responsável por efetuar a mediação desse indivíduo em direção ao
imenso universo da criação humana.
Com o desenvolvimento, os agrupamentos humanos foram se tornando cada
vez mais sofisticados. Se inicialmente a herança histórica poderia ser
apropriada no seio da família e de outros grupos sociais, com o passar do
tempo se fez necessário o surgimento de um lugar específico que tivesse
como finalidade essa apropriação.
E o local que ficou institucionalizado para ser realizada essa educação
sistematizada é a escola, cuja função deve ser prover os seres humanos de
elementos culturais necessários para viver na sociedade a que pertence e ter
possibilidade de interferir nesta sociedade.
Esse é o papel da escola.
2.4 Escola Pública como Agência Reguladora de Qualidade
Depois de consultarmos a legislação, discutir um pouco sobre a educação e
sobre o papel da escola, poderemos agora concluir nossa reflexão sobre o que
é uma escola de qualidade.
36
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
Acredito que a maioria das pessoas concorda que uma boa escola é aquela em
que os estudantes têm a possibilidade de aprender coisas que são essenciais
para suas vidas.
Essas coisas seriam saber ler e escrever, resolver problemas e operações
matemáticas, fazer uma leitura correta do mundo, aprender a conviver com
outras pessoas, respeitar normas e regras, aprender a trabalhar em grupo,
etc.
O UNICEF, que é o Fundo das Nações Unidas para a Infância, órgão das Nações
Unidas que tem como principal objetivo promover a defesa dos direitos das
crianças publicou em 2004 um documento, cujo título é Indicadores da
Qualidade na Educação.
Fonte: http://www.andinaseguros.com.br/
Esse documento apresenta sete dimensões que a escola precisaria trabalhar
para ser considerado um espaço educativo de qualidade, que se encaixa bem
em nossa discussão.
Essas dimensões seriam:
1. Ambiente educativo.
Essa dimensão entende a escola como um espaço de ensino-
aprendizagem e de vivência de valores, onde os indivíduos se
socializam, têm a possibilidade de experimentarem a convivência com a
37
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
diversidade humana. Nesse ambiente educativo, o respeito, a amizade,
a alegria, a disciplina, a solidariedade, o combate à discriminação e o
exercício dos direitos e deveres são práticas que garantem a
socialização e a convivência, além de desenvolverem e fortalecerem as
ideias de cidadania e de igualdade entre as pessoas.
2. Prática pedagógica.
Essa dimensão aponta que é através de ações planejadas e refletidas
pelo professor no cotidiano da sala de aula, que a escola realiza seu
maior objetivo: fazer com que os alunos se apropriem do conhecimento
e adquiram a vontade de aprender cada vez mais e de forma autônoma.
Para isso é necessário focar a prática pedagógica no desenvolvimento
dos alunos, o que significa observá-los de perto, compreender suas
diferenças, demonstrar interesse por eles, conhecer todas as suas
dificuldades e incentivar suas potencialidades. Crianças e adolescentes
vivem hoje num mundo repleto de informação, o que reforça a
necessidade de planejamento das aulas tendo como referencial um
conhecimento sobre o que eles já sabem e o que precisam e querem
aprender.
3. Avaliação.
Essa dimensão propõe uma discussão sobre o ato de avaliar, que seria
uma ação que está muito presente no cotidiano escolar, onde
frequentemente podemos ver professores avaliando alunos, alunos
avaliando professores, os pais, que avaliam os professores e a gestão da
escola, professores e gestores que se avaliam; o sistema educacional
avaliando a escola. Logo, já dá para perceber que avaliar é algo muito
maior do que aplicar uma prova. A avaliação deve ser um processo,
deve acontecer durante todo o ano, em vários momentos e de
maneiras diversas. É importante também entender que a avaliação não
deve se deter apenas na aprendizagem dos alunos. É necessário avaliar
a escola como um todo e periodicamente.
38
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
4. Gestão democrática.
Essa dimensão defende a gestão democrática e apresenta que esse
modelo precisa ter as seguintes características: o compartilhamento das
decisões e das informações, a preocupação com a qualidade da
educação e a transparência. Com relação ao compartilhamento das
decisões é preciso destacar a necessidade de envolver os pais,
professores, funcionários e alunos na administração escolar. Quando as
decisões são tomadas pelos principais interessados na busca pela
qualidade da escola, existe maior possibilidade de se chegar aos
objetivos. Não podemos esquecer também dos conselhos escolares,
que são um mecanismo de participação da comunidade na escola. Sua
função é orientar, opinar e decidir sobre todas as coisas que têm
relação com a escola. Também é muito importante a realização de
reuniões pedagógicas, exposições e apresentações dos alunos. Esses
são momentos em que familiares e representantes da comunidade
devem estar presentes. Como a democracia também se aprende na
escola, a participação deve se estender a todos os alunos, até mesmo as
crianças pequenas. Como cidadãos, eles têm o direito de opinar sobre o
que é melhor para eles e devem se organizar em colegiados próprios,
como os grêmios. Vamos falar mais sobre isso no Capítulo 4.
5. Formação continuada e condições adequadas de trabalho para todos os
profissionais da escola.
Essa dimensão apresenta os profissionais da escola como peças que são
de fundamental importância para a realização dos objetivos da escola.
Os docentes têm a responsabilidade de concretizar os princípios
politico-pedagógicos em ensino-aprendizagem. Já os demais
profissionais têm um papel fundamental no processo educativo, cujo
resultado não depende apenas da sala de aula, mas também da
convivência e da observação de atitudes corretas e respeitosas no
cotidiano escolar. Essa responsabilidade exige que se tenham boas
condições de trabalho, preparação e equilíbrio. Por isso é importante a
39
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 02
garantia de formação continuada a todos os profissionais, além de
outras condições, como a estabilidade, uma relação adequada entre o
quantitativo de profissionais docentes e não docentes e o número de
alunos, salários que traduzam a valorização que esses profissionais
precisam ter, etc.
6. Ambiente físico escolar.
Essa dimensão aponta a necessidade que se tenha ambientes físicos
escolares de qualidade, que nada mais são do que espaços educativos
organizados, agradáveis, limpos, cuidados, com móveis, equipamentos
e materiais didáticos adequados à realidade da escola, com recursos
que favoreçam a prestação de serviços com qualidade aos alunos, aos
pais e à comunidade, além de boas condições de trabalho para os
docentes e demais funcionários. Na gestão do espaço escolar, se faz
necessário atentar para o bom aproveitamento dos recursos, para uma
organização que favoreça o convívio entre as pessoas, que seja flexível
e que tenha condições suficientes para o desenvolvimento das
atividades de ensino e aprendizagem.
7. Acesso, permanência e sucesso dos alunos na escola.
Essa dimensão trata da questão de fluxo escolar, que é um dos
principais desafios atuais da educação brasileira, uma vez que já
superamos a questão do acesso dos alunos às escolas. Esse desafio
consiste em fazer com que todas as crianças e adolescentes que
chegam à escola permaneçam nela e consigam avançar nos níveis de
ensino na idade certa; também que os jovens e adultos tenham os seus
direitos educativos garantidos por meio de programas de aceleração da
aprendizagem e oferta de vagas no turno da noite para aqueles que
trabalham.
Posto isso, concluímos afirmando que não existe um padrão ou uma receita
para uma escola de qualidade. Qualidade é um conceito dinâmico. Cada
40
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 02
escola precisa ter autonomia para refletir, propor e tomar ações em busca da
qualidade da educação.
41
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 03
3. COMPETÊNCIA 03 I APRESENTAR CARACTERÍSTICAS QUE
APONTEM O PAPEL DOS FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA COMO
EDUCADORES
Neste terceiro capítulo iremos tratar do tema “Funcionário da Escola como
Educador” e para isso usaremos como base a Lei 12.014/2009 e um
documento publicado em 2004 pelo Ministério da Educação intitulado Por
uma política de valorização dos trabalhadores em educação: em cena, os
funcionários de escola.
Fonte: http://seperiodasostrascasimiro.blogspot.com.br/2011/06/funcionario-
tambem-educa.html
A aprovação da Lei Federal 12.014/2009 materializou uma antiga
reivindicação dos trabalhadores em educação e proporcionou uma grande
mudança na concepção da escola pública ao estabelecer que os funcionários
não docentes da escola são educadores.
Esse reconhecimento demonstra a importância desse segmento no processo
educacional.
42
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 03
A partir da sanção da lei, vários desafios precisam ser enfrentados para que se
avance na consolidação de uma política de valorização e reconhecimento dos
funcionários da escola.
É isso que estaremos discutindo a partir de agora.
Bom estudo!
3.1 A Lei que Instituiu a Função de Funcionários da Escola ou Trabalhadores
em Educação.
Antes de iniciarmos as discussões específicas sobre o tema deste capítulo é
fundamental conhecermos o texto da Lei que instituiu a função de
funcionários da escola.
Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 06 de agosto de 2009,
a Lei 12.014/2009 altera o artigo 61 da Lei no 9.394/1996 (LDBEN) com a
finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que devem ser
considerados como profissionais da educação.
Não podemos deixar de registrar que essa Lei é o resultado de uma árdua luta
de vários anos dos trabalhadores em educação de todo o Brasil, conduzida
pelos sindicatos dos trabalhadores em educação espalhados pelo país, pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e formalizada
por meio do Projeto de Lei nº 507/2003 proposto pela senadora Fátima
Cleide, do Partido dos Trabalhadores de Rondônia.
O artigo modificado passou a ter a seguinte redação:
43
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 03
Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:
I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio;
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço;
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.”
44
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 03
A aplicação dessa lei passa por uma série de ações que precisam ser
executadas, mas que demandam tempo, uma vez que a formação dos
funcionários das escolas é condição fundamental do processo, além da
reformulação da estrutura, tanto física quanto legal, e uma série de outras
coisas que precisam ser feitas.
Mas não podemos deixar de considerar é que a lei provoca algo fundamental
e de suma relevância no processo educacional brasileiro.
3.2 Funcionário-Educador: a Construção de um Novo Paradigma
A consolidação da universalização do acesso à escola pública provocou uma
expansão e uma reestruturação da rede física dos diversos sistemas de ensino
(ainda não concluída, diga-se de passagem), o que levou a necessidade de
contratação de mais profissionais por causa do aumento das atividades
pedagógicas, administrativas e de apoio.
Por conta disso hoje, num contingente de aproximadamente duzentas mil
escolas públicas no Brasil, existem cerca de um milhão de funcionários
atuando em funções não docentes.
Esses funcionários, que em outros momentos tinham suas funções
identificadas de diversas formas (serviçais, servidores, auxiliares, etc.) e que
tinham como requisito único do trabalho exercerem apenas o papel de
cumpridores de tarefas são convocados agora para uma nova missão, por
conta das profundas transformações por que tem passado a sociedade e,
sobretudo, a escola.
Nesse momento percebe-se que não é mais suficiente que as crianças,
adolescentes e jovens sejam instruídos por professores. É necessário que cada
cidadão seja educado por educadores, que tenham presença permanente no
ambiente escolar, em contato com os alunos; educadores,
independentemente da função que exerçam.
45
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 03
Nesse novo cenário, as merendeiras, por exemplo, precisam servir a merenda
e também cuidar da educação alimentar dos estudantes; os bibliotecários
precisam manter a biblioteca organizada e ajudar na construção do hábito da
leitura; os funcionários da secretaria precisam cuidar de toda a documentação
da escola e também colaborar com o processo avaliativo do ensino e da
aprendizagem, configurando-se, dessa forma, a instituição de novas
identidades funcionais.
Como é fato que todas as gerações que frequentaram as escolares até esse
momento vivenciaram esses trabalhadores apenas varrendo o pátio, lavando
as salas de aula, cozinhando, fazendo a vigilância, anotando registros, sem
maiores participações no processo educativo, faz-se necessário que ocorra
uma mudança de paradigma, tanto no plano profissional, como no plano
social.
Essa mudança deve ocorrer de forma coletiva, a partir da comunidade escolar,
que tenha como fim o reconhecimento das novas funções do funcionário de
escola como as de um educador não docente.
Fonte:http://escoladegestores.mec.gov.br/site/6-
sala_topicos_especiais_conselhos_escolares
46
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 03
Para isso, faz-se necessário que esses funcionários estejam cientes do novo
papel que passam a exercer, precisam construir a sua nova identidade
profissional, recebendo formação inicial e continuada da mesma forma que
acontece com os professores.
Esse processo de profissionalização, não pode ser traduzido apenas em
formação. Vai mais além, uma vez que existe a necessidade de que se
implante uma remuneração condizente com a importância da função, que
possibilite ao trabalhador se fixar no seu posto, que seja proposta uma
carreira que o valorize e que sejam oferecidas uma jornada e condições
adequadas para exercer o trabalho, além do reconhecimento social.
Consideramos que esses são pontos essenciais e obrigatórios em uma política
de valorização do trabalhador em educação, funcionário da escola.
3.3 A Formação Profissional como Pressuposto Básico para a Valorização do
Funcionário da Escola
Ao termos a compreensão de que formação é todo processo educativo que
permite a intervenção do sujeito no universo, possibilitando a esse indivíduo
agir de forma crítica e responsável, com ética, refletindo, avaliando e
reconstruindo suas ações e que a formação profissional “consiste de todas as
formas pelas quais o profissional ganha mais competência pessoal, teórica,
técnica, social” (LIBÂNEO, 1998), o indivíduo, ao ser dotado de conhecimentos
técnicos necessários à otimização de seu desempenho funcional, irá
desenvolvê-lo com competência, racionalidade e criticidade, abandonando as
ações eminentemente empíricas.
Por isso, diante da realidade das escolas no Brasil, a formação profissional dos
funcionários de escola é de importância fundamental para que ele possa
exercer o papel que a ele está sendo imputado, sendo preciso a atenção do
poder público, requerendo, para isso, a formulação de políticas adequadas às
47
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 03
exigências de suas atribuições, às necessidades das escolas e às demandas
sociais que estão sendo impostas.
Ao fazermos uma retrospectiva histórica será fácil perceber que as políticas de
formação inicial e continuada dos trabalhadores em educação têm
privilegiado os docentes.
Entretanto, as mudanças desencadeadas nas escolas e o reconhecimento da
educação formal como fator relevante no contexto das transformações sociais
precisam suscitar a formulação de propostas voltadas para o sistema de
formação de educadores como um todo: docentes e não docentes, uma vez
que a competência profissional legitima a ação do funcionário de escola,
conferindo-lhe identidade com a atividade que realiza e a dignidade da
profissão, estabelecendo, desta forma, sua participação na elaboração da
proposta pedagógica, na preparação e na avaliação do trabalho educativo.
3.4 Os Novos Perfis Profissionais
O termo funcionário da escola ou o termo trabalhadores em educação podem
provocar diferentes interpretações, não sendo consenso o uso de um ou
outro entre os profissionais da educação. Buscou-se uma terminologia mais
apropriada ao atendimento das demandas pela construção da identidade
funcional.
Entendendo Identidade de acordo com o pensamento de Castells, que é a
“fonte de significado e experiência” (CASTELLS, 1998) e diante da necessidade
de se dar um novo sentido ao papel dos funcionários das escolas, a partir do
momento em que se transformaram em educadores não docentes, buscou-se
a constituição e novas identidades funcionais.
48
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 03
Os princípios que fundamentam a constituição dessas novas identidades
encontram-se relacionados à concepção de que o ambiente da escola é um
espaço democrático de formação integral e de convivência.
Como um dos principais fundamentos da formação profissional é a reflexão
sistemática sobre a própria prática, após ampla discussão das quais
participaram gestores, sindicatos e funcionários, cinco novas identidades
funcionais foram estabelecidas:
a) Técnico em Alimentação Escolar;
b) Técnicos em Multimeios Didáticos;
c) Técnicos em Gestão Escolar;
d) Técnicos em Infraestrutura Escolar.
Fonte: http://eirunepeemquestao.blogspot.com.br
49
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 03
Expressas em cursos de habilitação técnica, desde 1995 já capacitaram
milhares de trabalhadores, tendo as experiências formativas pautadas por
três decisões estratégicas:
a) a definição do nível médio como requisito para a habilitação inicial
dos profissionais da educação não docentes;
b) a especificação das identidades profissionais a partir de
aproximações com a realidade funcional dos trabalhadores em seus
locais de trabalho;
c) a composição dos cursos com carga horária mínima de 1.200 horas,
dois blocos de disciplinas – um pedagógico e outro técnico – e pelo
menos 300 horas de estágio supervisionado.
Os cursos técnicos em nível médio têm amplas e diversas possibilidades de
organização, sendo necessário serem observadas as exigências de carga
horária mínima e de composição dos blocos de disciplinas pedagógicas e
técnicas.
3.5 A Terceirização do Serviço Público
A Constituição Federal de 1988 criou alguns instrumentos importantes para a
melhoria do serviço público. Um deles foi estabelecer que o ingresso nas
carreiras públicas seja exclusivamente através de concurso de provas ou de
provas e títulos.
Essa determinação colocou fim aos conhecidos “trens da alegria”, tão comuns,
sobretudo no Poder Legislativo e em outros órgãos de entidades da
Administração Pública. Com o instrumento do concurso público, passou a
prevalecer a meritocracia, o talento e o esforço pessoal.
50
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 03
Porém, existe um Decreto Lei antigo, número 200, de 1967 que permite ao
administrador público a contratação de serviços de terceirização para a
realização de atividades que não sejam a atividade fim do órgão público.
Por exemplo, um hospital público tem como atividade fim prestar serviços da
área de saúde. Logo os médicos e enfermeiros têm que ser servidores
públicos concursados; mas nada impede que a atendente ou o funcionário
responsável pela limpeza sejam funcionários terceirizados. Essa prática foi
implantada em grande escala no país a partir do governo de Fernando
Henrique Cardoso, conforme estudamos no Capítulo 1.
Na educação não é diferente. Hoje verificamos nas escolas uma grande
quantidade de trabalhadores terceirizados e a dificuldade dos
administradores públicos (governadores e prefeitos) em aceitar promover a
realização de concursos públicos para provimento das vagas existentes,
sobretudo porque essa prática tem transformado essas vagas em verdadeiros
cabides de emprego.
A terceirização dos serviços no ambiente escolar gera um empecilho para a
realização dos objetivos das políticas pedagógicas, uma vez que os
profissionais terceirizados não se integram à comunidade escolar e não se
sentem vinculados a ela, já que prestam contas de suas atividades à empresa
privada que os contrata.
Como não possuem esse vínculo direto com a comunidade escolar, não se
sentem parte do processo educativo. Por isso, a terceirização distorce o
processo causando a asfixia do fluxo pedagógico na escola.
A solução para esse problema é uma bandeira de luta de todas as pessoas que
estão comprometidas com a construção de uma escola de qualidade e passa
necessariamente pela estruturação da carreira por meio de acesso por
concurso público, planos de cargos que sejam condizentes com a formação
desses profissionais, equivalência salarial com outras carreiras que possuam
51
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 03
mesma formação, incentivos funcionais que contemplem a titulação,
experiência e a atualização profissional.
Esse aspecto inclusive consta na CF, quando afirma que:
Uma vez que de acordo com a Lei 12.014/2009 os funcionários da escola são
profissionais da educação eles devem ser tratados de acordo com o que rege
o artigo 206 acima.
Artigo 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
(...)
V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na
forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por
concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
52
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
4. COMPETÊNCIA 04 I CARACTERIZAR A VALORIZAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO TAMBÉM COMO GESTORES NA
DEMOCRACIA ESCOLAR
Chegamos ao último capítulo desse caderno de estudos.
Nele iremos tratar da gestão democrática e da necessidade de participação de
todos os segmentos da escola nessa gestão, inclusive, logicamente, os
funcionários da escola.
No Capítulo 2, quando tratamos do tema qualidade nas escolas, um dos
pontos que foram levantados para que haja de fato essa qualidade foi a
implementação da gestão democrática.
O artigo 206 da Constituição Federal e o artigo 3º da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional estabeleceram alguns princípios para a educação
brasileira, dentre eles a “gestão democrática do ensino público, na forma da
lei”.
Neste último capítulo iremos conhecer melhor essa dimensão e entender
porque é algo tão primordial na construção da escola que atenda às
expectativas de nossa sociedade.
4.1 A Construção da Gestão Democrática
A administração escolar é antes de tudo um ato político, uma vez que
acarretam tomadas de decisão que influenciam os diversos atores sociais
presentes no universo escolar.
Dessa forma, a sua constituição não pode ser efetivada de forma individual e
deve envolver todos esses atores na discussão e na tomada de decisões.
53
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
Para que isso ocorra, faz-se necessária a implementação de diversos
mecanismos de participação, dos quais podemos destacar:
Toda essa dinâmica se traduz num processo de aprendizagem política
fundamental para a construção de uma cultura de participação e de
efetivação da gestão democrática na escola.
A constituição dessa relação entre a educação, a escola e a democracia é uma
aprendizagem político-pedagógica que necessita da implementação de novas
formas de organização e participação, tanto interna como externamente à
escola.
Nessa nova conjuntura, a implementação de processos e de práticas de
participação coletiva é fundamental para que se rompa a lógica autoritária
54
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
que estruturam, ao longo dos anos, as concepções e as práticas dominantes
de organização e gestão escolares.
Logo, é de importância fundamental acentuar a necessidade de:
Dessa forma, a constituição da gestão democrática como aprendizagem
coletiva precisa levar em conta a necessidade de se repensar a organização da
escola, tendo em mente a importância dessa instituição na vida das pessoas,
bem como os processos formativos presentes nas concepções e nas práticas
que contribuam para a participação e para o alargamento das concepções de
mundo, de homem e sociedade de todos que dela participam.
4.1.1 O Aprimoramento do Processo para Escolha do Diretor
Existem várias formas de escolha dos dirigentes escolares, das quais podemos
destacar:
55
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
Vamos analisar cada um desses modelos de escolha:
1. A livre indicação dos diretores pelos poderes públicos tem como referencial
o fato do gestor público entender que o diretor de escola se constitui em um
cargo de confiança da administração pública. Mas ao analisarmos
historicamente esta prática, na verdade iremos perceber que sempre foi
usada como uma das formas mais comuns de clientelismo, uma vez que se
destaca pela política do favoritismo e da marginalização das oposições. Além
disso, na maioria das vezes o diretor não conta com o aval da comunidade
escolar, sem esquecer da limitação da autonomia da atuação do diretor já que
o mesmo pode perder o cargo a qualquer momento. Essa modalidade permite
a transformação da escola em um espaço de instrumentalização das práticas
56
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
autoritárias e do mecanismo de barganhas políticas das mais diversas,
evidenciando forte ingerência na gestão escolar.
2. O plano de carreira é uma modalidade muito pouco utilizada, e consiste em
estabelecer critérios que possibilitem o acesso ao cargo de diretor levando em
consideração aspectos como: tempo de serviço, merecimento e/ou distinção,
escolarização e outros. Entendemos que esse modelo reforça a manutenção
da ingerência e do clientelismo no cotidiano escolar, como também a exclusão
da comunidade escolar na escolha dos destinos da escola. No setor público
apresenta-se como uma variação da modalidade de indicação política, apesar
de parecer fundamentada na escolha através da meritocracia.
3. A modalidade de escolha do diretor de escola por meio de concurso público
se constitui num processo de escolha baseada em méritos intelectuais. Esse
modelo desconsidera que a gestão escolar não se reduz à dimensão técnica
de atividades administrativas rotineiras e burocráticas. A defesa intransigente
do concurso público deve um instrumento para ingresso para o provimento
de cargos dos trabalhadores em educação de forma geral. Assim, acreditamos
que o concurso de provas, ou de provas e títulos, como apregoa a
Constituição Federal deve ser o ponto de partida para o ingresso do educador
no sistema de ensino e, desse modo, parece não se apresentar como a forma
mais apropriada para a escolha de dirigentes escolares. Além disso, o
preenchimento do cargo de diretor de escola por meio de concurso tira o
caráter democrático inerente à função, uma vez que cria um modelo de
diretor vitalício a partir de um processo de seleção que não leva em
consideração a participação efetiva da comunidade escolar e local.
4. O modelo de escolha por listas triplas, sêxtuplas ou processos mistos
consiste numa consulta inicial à comunidade escolar, para a indicação de
nomes dos possíveis dirigentes, ficando ao cargo do gestor educacional
(normalmente o secretário de educação) escolher o diretor dentre os nomes
relacionados. Esse modelo estabelece uma participação parcial da
comunidade escolar no início do processo, na maioria das vezes só para dar
57
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
sentido a um discurso da participação e de democratização das relações
escolares, perdendo o controle do processo à medida que cabe ao poder
executivo decidir sobre a indicação do diretor escolar fundamentado em
critérios nem sempre transparentes.
5. A modalidade de eleições diretas para diretores é a mais democrática das
formas de preenchimento do cargo. A defesa dessa modalidade está
diretamente relacionada à crença de que o processo implica a retomada da
decisão sobre os destinos da escola pela própria escola. Esse processo
apresenta-se de formas variadas, indo desde a delimitação das pessoas que
podem votar até a definição operacional para o andamento e a transparência
do processo. De uma forma ou de outra é preciso destacar, nesse modelo, a
importância dada ao processo de participação e decisão na escolha dos
diferentes candidatos pela comunidade escolar.
A eleição de diretores escolares é um importante mecanismo no processo de
gestão democrática, mas não é o único. Nesse sentido, outros processos e
mecanismos devem ser vivenciados pelas unidades educativas, entre eles, a
criação e consolidação dos órgãos colegiados, que trataremos agora.
4.1.2 Criação e Consolidação dos Órgãos Colegiados
A implementação do modelo de gestão democrática compreende a
constituição das instâncias colegiadas uma vez que uma das características
fundamentais da democracia é o compartilhamento das decisões e das
informações a partir do envolvimento dos pais, dos alunos, dos professores,
dos funcionários e de outras pessoas da comunidade na administração
escolar.
Quando as decisões são coletivas elas assumem um valor qualitativo muito
maior do que as decisões que são tomadas de forma individual uma vez que
representam os anseios da comunidade. Neste caso, a administração escolar
58
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
conta com um empenho maior dessa mesma comunidade no
acompanhamento e concretização dos resultados.
Portanto, a efetivação da gestão democrática passa pela participação dos
colegiados, associações e agremiações, constituídos por professores,
funcionários, alunos, pais e representantes da comunidade.
Dentre os órgãos colegiados, o Conselho Escolar é uma instituição que
coordena as ações da gestão escolar, sendo responsável pelo planejamento e
acompanhamento das principais ações da escola. É também o órgão de
vivência cidadã, de democratização da escola, de apropriação de saberes
diferenciados, que precisam influenciar as relações entre a escola e a
comunidade.
Apesar de sua importância para a efetivação da democracia na escola, os
conselhos escolares, de uma forma geral, ainda estão distantes de se
fundamentarem como instâncias de participação efetiva. Para que sua
existência não seja figurativa, é necessário que toda a comunidade escolar,
sobretudo os professores e funcionários reflitam sobre a prática cotidiana
para que todas as pessoas que formam a escola tenham a possibilidade de
participar efetivamente da gestão da escola.
Entendendo que os órgãos colegiados são todos aqueles em que há diversas
representações e onde as decisões são tomadas em grupos, com o
aproveitamento de experiências diferenciadas, temos, além do Conselho
Escolar, também como órgãos colegiados as Associações de Pais, o Conselho
de Classe e o Grêmio Estudantil. Sobre esse último iremos tratar mais
especificamente no próximo tópico.
4.1.3 Participação dos Estudantes
Para que possamos construir uma escola efetivamente democrática é
fundamental a participação e a ação de todos os atores que compõem o
59
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
universo escolar: dirigentes escolares, professores, funcionários, pais,
comunidade local e dos alunos, que são a razão de ser da escola.
Nesse processo, a articulação entre os diversos segmentos que compõem a
escola e a criação de espaços e mecanismos de participação são fundamentais
para o exercício do aprendizado democrático que possibilite a formação de
indivíduos críticos, criativos e participativos.
Fonte: http://blog.clickgratis.com.br
Assim, a participação dos estudantes no processo de escolha dos dirigentes
escolares, na elaboração dos documentos que regulamentam as ações na
escola (regimento interno, projeto político pedagógico), assento no Conselho
Escolar e organização e funcionamento do Grêmio Estudantil são
fundamentais para que esse segmento esteja de fato inserido no processo
democrático da escola.
O Grêmio Estudantil é uma organização que tem como finalidade a defesa dos
interesses dos alunos na escola. O grêmio permite que os alunos discutam,
60
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
criem e fortaleçam as possibilidades de ação, tanto no ambiente escolar como
na comunidade. O Grêmio Estudantil é um importante espaço para a
aprendizagem, convivência, cidadania, responsabilidade e luta por direitos.
4.1.4 Construção Coletiva do Projeto Político Pedagógico
O Projeto Político Pedagógico se constitui em peça fundamental para o
planejamento das ações que serão realizadas no ambiente escolar. É o PPP
que irá demonstrar o que a escola idealiza; quais suas metas, seus objetivos e
quais são os possíveis caminhos para que eles possam ser atingidos.
A elaboração do PPP ganhou vulto no Brasil a partir da LDBEN de 1996, que
estabeleceu a obrigatoriedade de uma proposta pedagógica para as escolas
de educação básica. A LDBEN também deixa claro o caráter político da escola,
pois destaca seu principal papel na formação de cidadãos.
O projeto político pedagógico deve direcionar todas as ações da escola. É um
ato intencional que deve ser estabelecido de forma coletiva, passando dessa
forma a ser compromisso de todos os atores da escola.
Ele também reflete as opções de escolha, as prioridades para a formação de
cidadãos e expressa quais atividades pedagógicas que levam a escola a
alcançar seus objetivos educacionais.
Logo, o PPP é fundamental para a Educação Básica por ser um documento que
vai de encontro à uniformização. Deixou de ser apenas um conjunto de planos
e diretrizes e se fez amplo, justamente, por ser projeto, por ser político e por
ser pedagógico.
Por ser projeto apresenta propostas, é inacabado, inconcluso, dialético. Por
ser político está comprometido com a formação de cidadãos que atuarão
individual e coletivamente na sociedade e serão os responsáveis pela
construção de seus rumos. Por ser pedagógico possibilita a efetivação da
61
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
intencionalidade da escola, permite a organização de atividades e ações
educativas necessárias para o ensino e a aprendizagem.
4.1.5 Progressiva Autonomia da Escola
Instituir a gestão democrática implica também em ampliar os horizontes
históricos, culturais e políticos das escolas, com o objetivo de avançar a cada
dia no processo de autonomia.
Ao falarmos de autonomia, precisamos deixar claro a necessidade de que a
comunidade escolar tenha um grau de independência e liberdade para
pensar, planejar, discutir, construir e executar seu projeto político
pedagógico, entendendo que nele está registrado o projeto de escola que a
comunidade deseja alcançar, como também a necessidade de se estabelecer
os processos de participação no cotidiano da escola.
Fonte: http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=1577329
Dessa forma, é possível que a autonomia tenha que ser construída, não sendo
resultado de atos, decretos ou resoluções do poder público. A garantia de
progressivos graus de autonomia é fundamentalmente importante para a
efetivação dos processos de gestão democrática.
62
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
Barroso (2001) apresenta sete princípios para a elaboração de um programa
de reforço construção da autonomia das escolas:
1) O reforço da autonomia da escola deve ser definido levando em conta as
diferentes dimensões das políticas educativas.
2) A autonomia das escolas é sempre uma autonomia relativa, uma vez que é
condicionada pelos poderes públicos e pelo contexto em que se efetiva.
3) Uma política de reforço da autonomia das escolas não se limita a
dispositivos legais, mas exige a criação de condições e dispositivos que
permitam as autonomias individuais e a construção do sentido coletivo.
4) A autonomia não pode ser considerada como uma obrigação para as
escolas, mas sim como uma possibilidade.
5) O reforço da autonomia das escolas não tem uma função em si mesmo,
mas é um meio para que elas ampliem e melhorem as oportunidades
educacionais que oferecem.
6) A autonomia é um investimento baseado em compromissos e implica
melhoria e avanços para a escola.
7) A autonomia também se aprende.
Dessa forma, entendemos que a autonomia e a gestão democrática são
espaços articulados de construção diária e, portanto, resultado da mobilização
e do envolvimento de toda a comunidade escolar no compartilhamento do
poder e no compromisso com a aprendizagem política desse processo, que se
efetiva no exercício de construção cotidiana das várias formas de
participação.
63
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
4.1.6 Garantia de Financiamento Público
Nosso país historicamente investe pouco em educação. O primeiro modelo de
organização da educação no Brasil, na época do Brasil colônia (que estudamos
no primeiro capítulo desse caderno, lembra?), o financiamento da educação
do país era por meio de um subsídio denominado redizima, que era
equivalente a 10% do imposto que Portugal, na qualidade de colonizador,
cobrava ao Brasil.
Como o total do imposto cobrado pela coroa portuguesa era de 10% da
totalidade da riqueza gerada no país, podemos chegar à conclusão que 1% do
“produto interno bruto” da época era destinado à educação.
Passados quase 500 anos, temos hoje o Brasil aplicando cerca de 4% do PIB
com a educação. Um quantitativo que precisa ser bem maior (pelo menos
10% como é bandeira de luta das entidades ligadas à educação, como a
CNTE), uma vez que somos a 7ª ou 8ª economia do mundo (dependendo da
agência internacional que avalia), mas no ranking do índice de
desenvolvimento humano (IDH) estamos apenas em 68º lugar.
Fonte: http://www.esmaelmorais.com.br/
64
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
Dessa forma torna-se impossível estudarmos a origem histórica dos
profissionais da educação, seus desafios enquanto educadores, falar sobre a
questão da organização da educação brasileira, da própria gestão democrática
sem tocar na questão do financiamento da educação.
A partir da Constituição Federal de 1988, o financiamento da educação passou
a ter a garantia de pelo menos 18% dos recursos da União e 25% dos recursos
dos Estados e Municípios.
No artigo 211 da CF está escrito que “A União organizará o sistema federal de
ensino e financiará as instituições de ensino públicas, federais e exercerá, em
matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do
ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios.”.
A CF também estabelece nos artigos 157 ao 162, que o sistema tributário
brasileiro deve ser compartilhado pelos entes federativos, uma vez que no
Brasil é o governo federal quem mais arrecada.
Desta forma, parte da arrecadação da União é transferida para Estados e
Municípios e parte da arrecadação dos Estados é transferida para os
Municípios, porque esse último ente é quem menos arrecada. Vejamos um
trecho do texto da lei:
Artigo 157 - Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal:
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer
natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas
autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;
Artigo 158 - Pertencem aos Municípios:
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer
natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas
autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;
65
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
Os Municípios são quem menos arrecadam, apesar de ser no município onde
as políticas públicas acontecem, pois é onde vivem as pessoas. E mesmo após
a divisão dos recursos, a União fica com mais da metade da arrecadação.
Por isso, em muitos lugares, caso não houvesse uma complementação de
recursos financeiros, não haveria condições de realizar investimento, uma vez
que os recursos arrecadados são utilizados, por vezes, apenas para o
pagamento dos salários dos profissionais de ensino.
Existe no Brasil três categorias de tributos: os impostos, as taxas e as
contribuições.
Os impostos são muito importantes, pois por meio deles o governo obtém
recursos que custeiam quase todas as políticas públicas.
As taxas são tarifas públicas cobradas para fornecimento de algum serviço, tal
como documento, ou segunda via de certidões e passaportes, por exemplo.
As contribuições de melhoria são cobradas do contribuinte que teve, por
exemplo, seu imóvel valorizado por alguma benfeitoria. E as contribuições
sociais e econômicas, de competência da União.
As contribuições sociais são para cobrir gastos da Seguridade Social e as
contribuições econômicas são para fomentos de certas atividades
econômicas.
No caso da União, para o cálculo dos 18% destinados à educação, são
considerados somente os impostos, conforme estabelecido pelo art. 212 da
Constituição Federal, que diz que a União aplicará nunca menos de 18% e os
Estados e Distrito Federal e os Municípios, nunca menos que 25% da receita
resultante dos impostos e transferências constitucionais.
66
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
Neste mesmo artigo também está escrito que o ensino fundamental terá o
acréscimo da contribuição social do salario-educação, recolhidos pelas
empresas.
Os recursos federais referentes à educação transferidos aos entes federativos
(estados, distrito federal e municípios) são destinados à Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino, conforme o disposto no artigo 212 da CF, artigo
este que foi regulamentado pela LDB.
Isso significa que eles têm que ser usados no grupo de ações que estão dentro
deste critério. Outras ações como merenda, uniformes, dinheiro direito na
escola são financiados com outros recursos administrados pelo FNDE, com
recursos provenientes, dentre outras fontes, do salario-educação, recolhido
pela União, e que uma parte vai para os Estados e para os Municípios.
As ações de Manutenção e Desenvolvimento da Educação são:
1. Remunerar e aperfeiçoar os profissionais da educação;
2. Adquirir, manter, construir e conservar instalações e equipamentos
necessários ao ensino (construção de escolas, por exemplo);
3. Usar e manter serviços relacionados ao ensino tais como aluguéis,
luz, água, limpeza, etc.;
4. Realizar estudos e pesquisas visando o aprimoramento da qualidade
e expansão do ensino, planos e projetos educacionais;
5. Realizar atividades meio necessárias ao funcionamento do ensino
como vigilância, aquisição de materiais;
6. Conceder bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;
7. Adquirir material didático escolar;
O Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (FNDE) é o responsável pela
execução da maioria das ações e
programas da Educação Básica do nosso País, como a
alimentação e o transporte escolar,
além de atuar também na Educação
Profissional e Tecnológica e no Ensino Superior.
Fonte:
www.todospelaeducacao.org.br
67
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
Competência 04
8. Manter programas de transporte escolar.
Fonte: http://lendomundo.wordpress.com/
Além desses recursos, há ainda outras fontes de financiamento, tais como o
salário-educação, que é recolhido das empresas, sobre o cálculo de suas
folhas de pagamento.
Essa receita é dividida entre União, Estados e Municípios. Quem arrecada a
contribuição é o INSS, que fica com 1% a título de administração e repassa o
restante para o FNDE, que desconta 10% e divide os 90% da seguinte forma:
A União fica com um terço dos recursos mais os 10% do FNDE. Os outros dois
terços dos 90% ficam com Estados e Municípios, em razão direta ao número
de matrículas de cada ente federado, de acordo com o censo escolar do ano
anterior.
Além do salario-educação o FNDE possui verbas oriundas de outras
contribuições sociais. O Fundo desenvolve alguns projetos importantes, tais
como: Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), Brasil Alfabetizado, Apoio ao Atendimento à
Educação de Jovens e Adultos (Fazendo escola/PEJA) e Programa Nacional de
Apoio ao Transporte Escolar (Pnate).
68
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
Competência 04
O cálculo do Fundeb também é feito de acordo com o número de matrícula na
educação básica pública de acordo com os dados do último censo escolar,
feito anualmente. Divide-se o montante pelo número de alunos matriculados
para se obter o valor aluno-ano e em seguida repassar aos Estados e
municípios a parte que cabe a cada um.
Aqueles que não atingirem o valor mínimo por aluno deverão ter
complementação da União.
Os Estados receberão recursos de acordo com o número de matrículas no
ensino fundamental e médio e os Municípios com base no ensino
fundamental e na educação infantil.
69
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
REFERÊNCIAS
BARROSO, João. O reforço da autonomia das escolas e a flexibilização da
gestão escolar em Portugal. In: FERREIRA, Naura C. (Org.). Gestão democrática
da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2001. p.
11-32.
BRASIL. Ministério da Educação. Por uma política de valorização dos
trabalhadores em educação: em cena, os funcionários de escola. Secretaria de
Educação Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2004.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de
outubro de 1998. Disponível em: <www.mec.gov.br/legis/default.shtm>.
Acesso em: 30 de dezembro de 2013.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei n. 9.394/96.
Disponível em: <www.mec.gov.br/legis/default.shtm>. Acesso em: 30 de
dezembro de 2013.
LIBÂNEO, José Carlos. Congressos, encontros, seminários de educação:
espaços de desenvolvimento profissional ou mercado de entusiasmo? Revista
de Educação AEC, Brasília: AEC, n. 109, 1998.
LOMBARDI, José e NACIMENTO, Isabel. (org). Fontes, história e historiografia
da educação. (Coleção Memória da Educação). Campinas-SP: Autores
Associados, 2004.
PARO, Vitor H. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.
RIBEIRO, Maria Luiza. História da educação brasileira: a organização escolar.
(Coleção memória da educação). Campinas, SP: autores Associados, 2007.
70
Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar
SAVIANI, Demerval. Educação brasileira: estrutura e sistema. Campinas, SP:
Autores Associados, 2008.
VALLE, Bertha (et al). Políticas Públicas em Educação. Curitiba-PR: IESDE Brasil
S. A., 2009.
UNICEF. Indicadores da qualidade na educação. Ação Educativa, Unicef,
PNUD, Inep-MEC (coordenadores). São Paulo: Ação Educativa, 2004.
71
Funcionários de Escolas: Cidadãos, Educadores, Profissionais e Gestores
CURRÍCULO DO PROFESSOR-PESQUISADOR
Rinaldo César de Holanda Beltrão, recifense, é graduado em Licenciatura em
Matemática pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE (1999),
tem pós-graduação Latu-Sensu em Ensino da Matemática pela UFRPE (2001) e
em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica pela Universidade Gama Filho –
UGF/SP (2013) e é Mestre em Ensino das Ciências pela UFRPE (2011).
Foi diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Jaboatão dos
Guararapes-PE (SINPROJA), membro titular do Conselho do FUNDEB do
município de Jaboatão dos Guararapes-PE e membro titular do Conselho
Fiscal do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Jaboatão
dos Guararapes-PE (JABOATÃOPREV).
Atualmente é gestor da Escola Municipal Professor Florestan Fernandes da
rede pública da Cidade do Recife e professor da rede pública Municipal do
Jaboatão dos Guararapes-PE.