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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE
Controle de constitucionalidade é o mecanismo de
verificação da compatibilidade de uma norma (ato genérico e
abstrato) com a Constituição.
O parâmetro para a verificação da
constitucionalidade é a CONSTITUIÇÃO FORMAL, ou seja, no Brasil é a
Constituição escrita de 1988, qualquer norma inserida no texto
constitucional de 1988 serve de paradigma para o controle de
constitucionalidade.
A Constituição formal inicia-se no art. 1º até o
último artigo do ADCT, por isso o preâmbulo da CR’88 não serve de
parâmetro para a constitucionalidade. O Supremo Tribunal Federal
já decidiu nesse sentido por mais de uma vez, afirmando que não há
controle da constitucionalidade em face do preâmbulo da
Constituição.
Contudo, quando da interpretação da Constituição
todos os princípios elencados no preâmbulo podem ser utilizados.
Ele só não servirá de parâmetro para o controle da
constitucionalidade.
OBSERVAÇÃO: Não se pode confundir direito escrito com direito
positivado. Há princípios que são considerados pela doutrina como sendo
de direito positivo que não estão inseridos no texto constitucional, mas
mesmo assim servem como parâmetro para a interpretação da constitucional,
como por exemplo o princípio da razoabilidade. A maior parte doutrina
considera esse princípio como implícito, inserido na cláusula do “devido
processo legal” – art. 5º, LV, da CR’88.
Pressupostos para o Controle da Constitucionalidade
A maior parte da doutrina entende como pressuposto
para o controle da constitucionalidade a rigidez constitucional, que
dá a idéia de supremacia da constituição.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
O controle da constitucionalidade tem como
finalidade compatibilizar todas as normas do ordenamento jurídico
com a lei fundamental, por isso que esta não pode ter a mesma
hierarquia que as demais leis. Se isso fosse possível, eventual
conflito entre a lei e a constituição seria resolvido pelo critério
cronológico, ou seja, a lei sendo posterior e contrária a
constituição revogaria esta.
Porque nosso texto constitucional é rígido, a lei
nova posterior à Constituição que seja contrária a esta será
afastada pelo princípio da supremacia das normas constitucionais. A
lei hierarquicamente superior sempre deve prevalecer.
Se não houvesse a hierarquia da constituição, não
haveria parâmetro para o controle da constitucionalidade. Assim,
somente é possível o controle da constitucionalidade em face de
constituições rígidas ou, pelo menos, semi-rígidas.
Clemerson Clevé afirma que mesmo diante de uma
constituição flexível é possível o controle da constitucionalidade,
entretanto este só pode se dar quanto ao aspecto formal, ou seja, o
processo legislativo de elaboração da lei posterior à constituição.
Contudo, se o conteúdo dessa lei for materialmente incompatível com
a constituição, tendo sido observados todos os procedimentos
inerentes à elaboração da lei, essa norma irá revogar a norma
constitucional.
Espécies de Controle da Constitucionalidade
O ordenamento jurídico prevê duas espécies de
controle de constitucionalidade, primeiramente o POLÍTICO e depois o
JUDICIAL.
O controle político é exercido pelos órgãos do
Poder Executivo e pelos órgãos do Poder Legislativo. O controle
judicial fica a cargo do Poder Judiciário.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
Em regra, no ordenamento jurídico brasileiro, o
controle político é prévio e o judicial é realizado posteriormente.
Contudo, há uma exceção para cada caso.
Controle político
Pode ser realizado ainda dentro do Congresso
Nacional, pela CCJ – que é a Comissão de Constituição e Justiça.
Essa comissão não está expressamente prevista no texto
constitucional, o art. 58 da CR’88 apenas estabelece a criação de
comissões permanentes, mas não se refere explicitamente à CCJ.
Essa comissão tem por finalidade averiguar a
constitucionalidade dos projetos de lei. O controle é prévio
justamente porque é realizado nos projetos de lei. Outra forma de
controle político prévio é a exercida pelo Presidente da República
quando do veto ao projeto de lei. Justamente uma das
fundamentações para o veto presidencial pode ser a
inconstitucionalidade do projeto de lei.
A diferença entre o controle prévio e o controle
posterior reside no momento em que o controle é exercido e sobre o
objeto. O controle realizado em projetos de lei em regra é o
controle político, como em regra também o controle posterior é
realizado pelo Poder Judiciário.
As exceções são as seguintes:
1) Medidas Provisórias : a natureza jurídica da medida provisória é lei formal. Ela é editada e publicada pelo Poder Executivo,
ingressando no ordenamento jurídico com força de lei. Após sua
publicação, a medida provisória deve ser encaminhada ao Congresso
Nacional para sua conversão em lei. O Congresso Nacional, ao
analisar a medida provisória, pode constatar sua
inconstitucionalidade e por isso rejeitá-la. Ao assim agir, o
Congresso Nacional estará exercendo o controle da
constitucionalidade político posterior, pois a medida provisória
já produzia efeitos como lei formal.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
2) Mandado de Segurança impetrado por parlamentar contra Proposta de Emenda à constituição que ofenda as cláusulas pétreas. O art. 60, §4º, da CR’88 estabelece que não deve ser objeto de
deliberação a proposta de emenda à constituição que tende a
abolir as cláusulas pétreas. O Supremo Tribunal Federal tem
admitido a impetração de Mandado de Segurança para garantir o
direito líquido e certo de parlamentar de não comparecer à
votação de proposta de emenda constitucional que viole o disposto
no art. 60,§4º, da CR´88. Apenas o parlamentar tem legitimidade
para impetrar o Mandado de Segurança porque somente ele (deputado
ou senador) é que delibera sobre proposta de emenda à
constituição. O Mandado de Segurança é impetrado contra a Mesa
do Congresso Nacional. Trata-se, assim, de um controle judicial
prévio quanto à constitucionalidade de proposta de emenda à
constituição exercido no caso concreto pelo Supremo Tribunal
Federal. O objeto do Mandado de Segurança deve-se limitar,
entretanto, à presença do parlamentar, não podendo ser
interrompido o processo legislativo instaurado para a deliberação
da proposta à emenda constitucional. A eficácia da decisão do
Supremo será inter partes.
A r t . 6 0 , § 4 º . N ã o s e r á o b j e t o d e d e l i b e r a ç ã o a p r o p o s t a d e e m e n d a t e n d e n t e a a b o l i r :
I – a f o r m a f e d e r a t i v a d e E s t a d o ;
I I – o v o t o d i r e t o , s e c r e t o , u n i v e r s a l e p e r i ó d i c o ;
I I I - a s e p a r a ç ã o d o s P o d e r e s ;
I V - o s d i r e i t o s e g a r a n t i a s i n d i v i d u a i s
Controle Judicial
A regra é a de que o controle judicial seja
exercido sobre a lei.
O controle judicial pode ser exercido por qualquer
um dos seus órgãos desde que esse controle seja DIFUSO. O controle
difuso, em regra, é exercido de forma incidental.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
O controle concentrado é o exercido somente por um
órgão no âmbito federal, qual seja, o Supremo Tribunal Federal, mas
também é dado aos Órgãos Especiais dos Tribunais de Justiça para
julgamento das Representações de Inconstitucionalidade das leis
estaduais e municipais.
O controle de constitucionalidade judicial é
chamado pela doutrina de CONTROLE MISTO, porque admitido o controle
DIFUSO e o controle CONCENTRADO.
O controle difuso brasileiro buscou origem no
sistema norte-americano. Lá, todos os órgãos do Poder Judiciário
podem exercer o controle da constitucionalidade no caso concreto,
entretanto, o sistema norte-americano não prevê o controle abstrato,
concentrado, da constitucionalidade através de ação direta.
O controle concentrado foi inspirado no sistema
europeu, sendo Hans Kelsen o maior doutrinador a respeito desse
tema. Na Áustria e na Alemanha, o controle da constitucionalidade
só pode ser exercido, seja de forma abstrata, seja no caso concreto,
pelo Tribunal Constitucional.
O Brasil misturou ambos os controles tendo
idealizado um dos melhores controles de constitucionalidade do
mundo.
Quanto à forma, o controle pode se dar de forma
incidental (via de exceção) ou de forma principal (controle
abstrato).
O controle incidental é feito apenas para um caso
concreto, enquanto o controle abstrato é dado sobre a lei em tese.
No controle incidental, a declaração da
inconstitucionalidade NÃO É O PEDIDO DA DEMANDA. Na realidade,
trata-se de causa de pedir, sendo que a decisão a respeito da
constitucionalidade ou não da lei impugnada não constará na parte
dispositiva da sentença. O objetivo da demanda é a satisfação de um
direito subjetivo, sendo que, de forma incidental, o juiz vai
analisar a compatibilidade de uma lei em face da constituição.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
Ex. Ação de repetição de indébito fulcrada
pedindo a restituição de tributo instituído por
lei supostamente inconstitucional. O pedido
da ação é o de repetição de indébito e não o de
declaração de inconstitucionalidade da lei.
Esta é causa de pedir.
O controle da constitucionalidade de forma
incidental tem a NATUREZA JURÍDICA DE QUESTÃO PREJUDICIAL. Para a
doutrina processual civil, a inconstitucionalidade é a CAUSA DE
PEDIR, sendo QUESTÃO PREJUDICIAL para a concessão do objeto
requerido na demanda. A decisão quanto à constitucionalidade ou
não da lei não formará COISA JULGADA e constará, tão somente, na
fundamentação da sentença e não na sua parte dispositiva.
Não se pode manejar a ação declaratória incidental
para se discutir a constitucionalidade ou não de uma lei pois, se
isso fosse possível, a competência do Supremo estaria sendo usurpada
porque no controle difuso não é possível a formação de coisa julgada
sobre a questão constitucional, o que só pode ocorrer no âmbito da
ação direta que deve ser apreciada pelo STF.
Na forma principal, ou seja, controle abstrato, o
pedido é a declaração da inconstitucionalidade. O controle da
constitucionalidade é o próprio pedido da demanda. O pedido da
demanda é de declaração de inconstitucionalidade da norma.
Ao receber a Ação Direta, o Supremo Tribunal
Federal vai analisar se a lei fere ou não o conteúdo da Constituição
ou se o processo legislativo previsto para sua deliberação foi
violado. Somente isso. No controle abstrato, não há direitos
subjetivos em jogo.
As ações diretas de inconstitucionalidade ou
constitucionalidade têm NATUREZA JURÍDICA DE PROCESSO OBJETIVO
porque as ações diretas não têm partes. Há um legitimado de uma
ponta, que poderá propor a ação e um requerido de outro lado que
servirá tão somente para prestar informações sobre o ato. Não há
direitos subjetivos envolvidos, como também não há partes na
demanda.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
A grande finalidade do controle concentrado,
principal, abstrato, da constitucionalidade é justamente a de
retirar do ordenamento jurídico as leis inconstitucionais.
OBSERVAÇÃO: Os principais instrumentos normativos para o controle da constitucionalidade no passado eram:
Decreto 510, de 1890 – que era considerado uma constituição provisória
antes da Constituição de 1891.
Decreto 848 – criação da Justiça Federal, atribuindo aos juízes
federais e ao Supremo Tribunal Federal o controle judicial da
constitucionalidade.
Lei 201, de 1894 – regulamentou a forma de declaração da
inconstitucionalidade pelo Poder Judiciário.
A Constituição de 1891 foi a primeira a prevê o controle
judicial da constitucionalidade.
ATENÇÃO: EM CONCURSO PÚBLICO, PRINCIPALMENTE PARA A MAGISTRATURA FEDERAL, SÓ DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE EM ÚLTIMO CASO, SEMPRE
PREFERINDO DAR À LEI UMA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO.
Classificação da Inconstitucionalidade
Inconstitucionalidade Formal, Orgânica ou Material
A inconstitucionalidade FORMAL se dá quanto ao
procedimento legislativo de elaboração da lei.
Geralmente, se o vício for de iniciativa, a
doutrina também chama de inconstitucionalidade formal.
Entretanto, Clémerson Clevé combate essa
nomenclatura, defendendo que deve ser chamada de
inconstitucionalidade ORGÂNICA, porque o vício é do órgão e não do
procedimento. Para ele, apesar de a lei ter tido um vício de
iniciativa, é possível que o procedimento legislativo a ela
apropriado tenha sido observado. Além disso, para ele, o vício de
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
iniciativa poderia ser convalidado pelo Presidente da República,
caso este viesse a sancionar a lei com vício de iniciativa (no caso,
a iniciativa seria do próprio presidente mas exercida por um
parlamentar).
O STF, no seu verbete de Súmula 05, entendia que o
vício de iniciativa poderia ser convalidado pelo Presidente da
República. Contudo, essa Súmula não é mais aplicada pelo STF,
apesar de não ter sido formalmente revogada, daí porque o vício de
iniciativa constitui, sim, uma inconstitucionalidade formal.
A inconstitucionalidade MATERIAL diz respeito ao
próprio conteúdo da lei em face da constituição.
Inconstitucionalidade Total ou Parcial
A declaração de inconstitucionalidade pode ser
total ou parcial. Pode-se declarar a inconstitucionalidade da
própria lei inteira ou também de somente alguns de seus artigos.
Geralmente, a inconstitucionalidade material é
declarada de forma parcial. Mas se estiver presente na lei um vício
formal, toda a lei é declarada inconstitucional.
Inconstitucionalidade por Ação ou por Omissão
A inconstitucionalidade pode se dar pelo exercício
da função legislativa, quando ocorre a inconstitucionalidade por
ação, como também é possível que a falta da função legislativa
acarrete em uma inconstitucionalidade, o que é o caso da
inconstitucionalidade por omissão.
Teoria da Recepção
A teoria da recepção nada mais é do que um
mecanismo de aproveitamento das normas anteriores à Constituição.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
É sabido que a Constituição é a lei fundamental,
que organiza o Estado e traça as metas para a sociedade e inaugura o
ordenamento jurídico, sendo o fundamento de validade de todas as
outras normas.
Se a cada Constituição que viesse a ser promulgado,
fosse necessário legislar tudo de novo, haveria um vácuo legislativo
enorme até que estivesse pronta a produção normativa mínima
necessária. Para evitar que isso ocorresse é que foi criado um
mecanismo de aproveitamento, pela nova ordem constitucional, das
leis a ela anteriores.
Assim, não é porque uma norma é anterior à
Constituição que não poderá ser aplicada. A lei será aplicada
desde que compatível com a nova Constituição.
Pela Teoria da Recepção se faz um exame das normas
anteriores à nova ordem constitucional para se verificar quais delas
se compatibilizam com a Constituição, podendo ser aproveitadas com
um novo fundamento de validade.
Embora a legislação seja anterior à Constituição,
ela passará a ter um novo fundamento de validade fulcrado na nova
ordem constitucional. A aplicação da lei anterior se dará sob o
fundamento de validade da nova Constituição.
A utilização da Teoria da Recepção é importante
para se evitar um vácuo legislativo e está fundamentada no Princípio da Continuidade do Ordenamento Jurídico. Ou seja, o ordenamento
jurídico deve continuar, não podendo ser rompido nem mesmo com o
surgimento de uma nova Constituição, por isso que as normas
anteriores são adaptadas ao novo fundamento de validade decorrente
da ordem constitucional.
Para o Brasil, a Teoria da Recepção é muito
importante para o controle da constitucionalidade porque quando uma
lei surge em um ordenamento jurídico, ela deve ser considerada
constitucional sob a ordem constitucional então vigente. Ela não
pode padecer de inconstitucionalidade originária, devendo ser
compatível material e formalmente com a Constituição da época.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
Para que esta norma seja recepcionada pela nova
ordem constitucional, é imprescindível que ela já fosse compatível
com a Constituição da época em que produzida. A
inconstitucionalidade originária não pode ser convalidada.
Deve-se atentar, ainda, que o Supremo Tribunal
Federal, em diversas decisões, já se pronunciou no sentido de que
não existe inconstitucionalidade formal superveniente. Ou seja, não
é porque norma foi veiculada por um instrumento normativo que não
mais existe é que deixará de ser recepcionada pela nova ordem
constitucional (ex. decretos-leis anteriores à CR’88 com esta
materialmente compatíveis).
Dentro da Teoria da Recepção, desde que a norma
anterior à CR’88 tivesse sido veiculada pelo instrumento normativo
apropriado à época sendo, assim, constitucional, não é porque houve
alteração do veículo normativo pela CR’88 é que a norma passaria a
ser considerada inconstitucional.
Se alguma matéria não tinha, antes da CR’88,
reserva de lei complementar e agora tem, não é porque é exigido um
novo instrumento legal para aquele tipo de matéria que se poderá
considerar a norma inconstitucional (ex. Código Tributário
Nacional).
O importante, para a recepção pela nova ordem
constitucional, é a matéria veiculada e não o instrumento legal que
a positivou, desde que este fosse compatível com a constituição da
época. No entanto, se houver inconstitucionalidade formal
originária, a lei não poderá ser recepcionada pela nova
constituição.
Para que haja a recepção de uma lei anterior à nova
ordem constitucional, basta o exame da matéria, ou seja, se o
conteúdo da legislação anterior é ou não compatível com a nova
Constituição.
Se a matéria da lei anterior não afrontar o
conteúdo da nova constituição, ela será recepcionada com o
fundamento de validade na ordem constitucional posterior.
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Outra importância vital da Teoria da Recepção está
no fato de que não se está analisando a norma no seu plano de
existência, mas sim no plano de validade. A norma anterior continua
existindo, somente legislação revoga legislação. A revogação é um
instrumento para retirar a existência de determinada norma.
Quando se está falando em Teoria da Recepção, não
se está falando em revogação, mas sim da compatibilidade da norma
anterior com a nova Constituição. Ou seja, o que está sendo
analisada é a validade da norma e não a sua existência.
Por exemplo, se uma lei anterior previa a pena de
morte, o advento de norma constitucional posterior proibindo tal
tipo de sanção não revogará a lei, esta simplesmente perderá a sua
validade, por não poder ser considerada recepcionada por conta da
matéria incompatível com o novo texto constitucional. Mas a lei só
será formalmente revogada por outra lei posterior que expressamente
a revogue ou que trate da matéria integralmente.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal interpreta a
Teoria da Recepção não da forma mais correta defendida pela
doutrina, pois sustenta que toda a norma anterior incompatível com a
Constituição de 1988 encontra-se revogada.
A Teoria da Recepção nada tem a ver com a
revogação. Somente lei revoga a lei. E só no controle difuso é que
se poderá verificar a compatibilidade ou não da norma anterior com a
Constituição posterior, o que dependerá sempre de interpretação no
caso concreto (ex. norma do CPP que determina o recolhimento à
prisão quando proferida sentença penal condenatória x princípio da
CR’88 de presunção de inocência).
O Supremo Tribunal Federal entende que toda a norma
anterior à CR´88 e que com ela for incompatível encontra-se
revogada. A finalidade prática e política do Supremo Tribunal
Federal ao fazer essa afirmativa foi a de impedir o controle
concentrado de constitucionalidade de leis anteriores à CR’88. O
Supremo Tribunal Federal quis evitar o ajuizamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade contra leis anteriores à CR’88.
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Para o Supremo Tribunal Federal, uma lei só pode
ser controlada de forma concentrada em face da Constituição da qual
ela foi criada. Além disso, o Supremo Tribunal Federal sustenta que
a Constituição é a norma hierarquicamente superior daí porque o
advento de uma nova constituição faz com que a constituição
anterior, bem como todas as normas infraconstitucionais com ela
incompatíveis fossem revogadas, o que seria uma exceção à regra de
que somente a mesma espécie normativa revoga a outra.
O Ministro Sepúlveda Pertence é o único ministro do
Supremo Tribunal Federal que não concorda com esse posicionamento,
admitindo ADINs contra normas anteriores à CR’88.
A corrente doutrinária aplica com precisão a Teoria
da Recepção afirmando que uma norma anterior se incompatível com a
nova constituição ela será considerada não recepcionada, no entanto,
continuará existindo no ordenamento jurídico até que nova lei venha
a revoga-la, separando os planos de existência, validade e eficácia
da norma.
No plano de existência da norma, se está diante de
como a norma se inseriu no ordenamento jurídico. Tendo ingressado
no ordenamento, mesmo que de forma incorreta, viciada, a norma
existirá e, no máximo, poderá ser declarada a inconstitucionalidade,
ou seja, a sua validade. A inconstitucionalidade afeta a VALIDADE
da norma e não a sua EXISTÊNCIA. A norma declarada inconstitucional
continuará a existir, mas sem validade, até que outra norma venha a
revoga-la.
Uma lei não pode declarar outra lei
inconstitucional. Isso já foi questionado em prova, e o Supremo
Tribunal Federal já se posicionou no sentido de que somente o Poder
Judiciário pode declarar uma norma inconstitucional. O efeito
prático disso justamente está na extensão dos efeitos da declaração
da constitucionalidade.
Para a maior parte da doutrina, o termo correto é
“declaração de inconstitucionalidade”. O que o Judiciário faz é
reconhecer a invalidade da lei, seja pelo seu conteúdo, seja pela
sua forma. Por ser uma decisão declaratória, os efeitos temporais
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devem ser retroativos em regra, salvo os casos expressos na Lei
9868/99, art. 27, que autoriza o Supremo Tribunal Federal a
estabelecer os efeitos temporais da declaração da
constitucionalidade, quando do controle concentrado e abstrato da
norma.
A r t . 2 7 ( L e i 9 8 6 8 / 9 9 ) .
No controle difuso, haverá sempre a retroatividade
da declaração da inconstitucionalidade. Assim, tanto no controle
abstrato, quanto no controle difuso, em regra, há a retroatividade da declaração da inconstitucionalidade da lei.
A função do Supremo Tribunal Federal no controle da
constitucionalidade abstrato, de acordo com a maioria dos Ministros
que integram a Corte, é de LEGISLADOR NEGATIVO, ou seja, ele retira
a norma do ordenamento jurídico. Mas a doutrina e a maior parte da
jurisprudência não concorda com esse entendimento, na medida em que,
na realidade, a declaração da inconstitucionalidade importa no
reconhecimento da invalidade da norma que continuará existindo até
que revogada por outra lei – “o direito continua existindo nos
livros, mas não pode ser mais aplicado” (expressão americana).
Para o Supremo Tribunal Federal a norma é retirada
do ordenamento jurídico. Alexandre Câmara sustenta, ao contrário, que a função desempenhada pelo Supremo Tribunal Federal tanto no
controle concentrado quanto no abstrato é FUNÇÃO JURISDICIONAL. É
uma posição mais coerente, porque afirma que a norma não é retirada
do ordenamento jurídico pela declaração de inconstitucionalidade,
contudo, não é a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal.
Processo Objetivo
As ações diretas constituem o chamado processo
objetivo. Processo objetivo é um processo que não possui partes. Há
um legitimado de um lado e um requerido do outro.
A CR’88 apresenta o rol dos legitimados à
deflagração da ação direta de constitucionalidade, mas tais pessoas
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jamais poderão ser consideradas partes com disponibilidade da
demanda.
A única finalidade do controle da
constitucionalidade concentrado e abstrato é a defesa do ordenamento
jurídico, para que se possa retirar a norma inconstitucional do
ordenamento (posição do Supremo Tribunal Federal), ou para que seja
exercido o controle jurisdicional de validade da norma (posição
doutrinária).
Constituiu-se em um processo objetivo justamente
porque não há qualquer direito subjetivo em jogo. É um controle do
ordenamento jurídico.
Toda a ação direta é considerada uma ação
indisponível e, por isso, não cabe pedido de desistência. Uma vez
deflagrada a ação, o legitimado não pode mais desistir, pois há um
interesse presumido do Supremo Tribunal Federal de balizar a
constitucionalidade da norma para verificar sua compatibilidade com
o ordenamento jurídico.
Mas isso não quer dizer que a petição inicial não
possa ser indeferida. A própria lei 9868/99 prevê as hipóteses para
o indeferimento da petição.
Medida Cautelar na ADIN e ADC
No texto constitucional, só havia previsão da
medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade, mas a lei
9868/99 previu a possibilidade de medida cautelar também na ADC.
A r t . 1 0 2 , I , “ p ” ( C R ’ 8 8 ) . C o m p e t e a o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l , p r e c i p u a m e n t e , a g u a r d a d a C o n s t i t u i ç ã o , c a b e n d o - l h e :
I – p r o c e s s a r e j u l g a r , o r i g i n a r i a m e n t e :
p ) o p e d i d o d e m e d i d a c a u t e l a r d a s a ç õ e s d i r e t a s d e i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e .
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A emenda constitucional 3/93 não previu a medida
cautelar na ADC, mas a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
sempre aceitou, mesmo antes da Lei 9868/99, esse tipo de medida.
Papel do Senado
A r t . 5 2 , X ( C R ’ 8 8 ) . C o m p e t e p r i v a t i v a m e n t e a o S e n a d o F e d e r a l :
X – s u s p e n d e r a e x e c u ç ã o , n o t o d o o u e m p a r t e , d e l e i d e c l a r a d a i n c o n s t i t u c i o n a l p o r d e c i s ã o d e fi n i t i v a d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l .
A atuação do Senado Federal prevista no art. 52, X,
somente se dá no controle concreto e difuso da constitucionalidade.
Não há o que se falar no papel do Senado no controle concentrado e
abstrato da norma.
Para o Supremo Tribunal Federal, basta a publicação
do acórdão de uma ADIN ou ADC para que a decisão produza todos os
seus efeitos.
Suspender a execução significa retirar a produção de efeitos da norma. O art. 52, X trata do terceiro plano da norma, ou seja, sua eficácia, não se referindo nem à existência e
nem à validade da norma. O Senado não faz o controle da
constitucionalidade, quem o faz é o Supremo Tribunal Federal.
Os efeitos dessa suspensão, que é veiculada por
Resolução, têm aplicação ex nunc.
OBSERVAÇÃO: A declaração de inconstitucionalidade de um tributo não gera a sua devolução automática. Para tanto, o contribuinte deve propor a
ação cabível.
O Senado está obr igado a suspender a execução da norma dec la rada incons t i tuc iona l ?
A maior parte da doutrina sustenta que não, porque
se trata de ato político, discricionário do Senado Federal.
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Pode o Senado revogar sua Reso lu ção, f azendo com que a n orma suspensa vo l tasse a produz i r e fe i tos?
Para a maior parte da doutrina, pode haver a
revogação da resolução e a lei voltará a produzir efeitos.
Atuação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República
O art. 103, §1º, da CR’88 estabelece a participação
do Procurador Geral da República no controle concentrado e abstrato
da constitucionalidade.
A r t . 1 0 3 , § 1 º ( C R ’ 8 8 ) . O P r o c u r a d o r G e r a l d a R e p ú b l i c a d e v e r á s e r p r e v i a m e n t e o u v i d o n a s a ç õ e s d e i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e e e m t o d o s o s p r o c e s s o s d e c o m p e t ê n c i a d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l .
Já o Advogado Geral da União tem uma atuação
diferenciada na ADIN e ADC, prevista no art. 103, §3º, da CR’88.
A r t . 1 0 3 , § 3 º ( C R ’ 8 8 ) . Q u a n d o o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l a p r e c i a r a i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e , e m t e s e , d e n o r m a l e g a l o u a t o n o r m a t i v o , c i t a r á , p r e v i a m e n t e , o A d v o g a d o - G e r a l d a U n i ã o , q u e d e f e n d e r á o a t o o u t e x t o i m p u g n a d o .
O Advogado Geral da União participa das Ações
Diretas de Inconstitucionalidade, não havendo necessidade de sua
participação nas Ações Diretas de Constitucionalidade.
A atuação do AGU é de defender o ato ou texto
impugnado. O AGU está obrigado a defender a constitucionalidade da
lei, só havendo uma exceção reconhecida pelo Supremo Tribunal
Federal que ocorre quando o próprio Tribunal já tenha, em outro
caso, declarado a inconstitucionalidade da norma.
Salvo essa hipótese, o AGU está obrigado a defender
o texto impugnado, sendo que a natureza jurídica de sua atuação é a
de CURADOR DA CONSTITUCIONALIDADE DAS NORMAS.
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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LC O N T R O L E D A C O N S T I T U C I O N A L I D A D E
Na ação declaratória da constitucionalidade tem o
objetivo de declarar a norma constitucional transformando a
presunção relativa em absoluta. Nessa hipótese, não há necessidade
de atuação do AGU na qualidade de defensor da constitucionalidade da
lei.
No que se refere às ADINS propostas em razão de
normas estaduais supostamente inconstitucionais, o AGU também está
obrigado a defender a constitucionalidade da lei, pois, de acordo
com a orientação do Supremo Tribunal Federal, o AGU é curador da
constitucionalidade do texto impugnado, seja ele federal, seja ele
estadual.
Princípio da Reserva de Plenário
O art. 97 dispõe o seguinte:
A r t . 9 7 . S o m e n t e p e l o v o t o d a m a i o r i a a b s o l u t a d e s e u s m e m b r o s o u d o s m e m b r o s d o r e s p e c t i v o ó r g ã o e s p e c i a l p o d e r ã o o s t r i b u n a i s d e c l a r a r a i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e d e l e i o u a t o n o r m a t i v o d o P o d e r P ú b l i c o .
O art. 97 regulamenta a declaração de
inconstitucionalidade perante os Tribunais, aplicando-se, tão
somente, ao controle difuso e concreto da constitucionalidade.
A reserva de Plenário é para a declaração de
inconstitucionalidade, sendo que sempre quando houver a argüição da
inconstitucionalidade pelo controle difuso e concreto perante o
Tribunal, haverá o fracionamento do julgamento, para que o órgão
especial se pronuncie tão somente sobre a inconstitucionalidade
suscitada.
Se houver órgão especial, somente a maioria
absoluta dos seus membros é que poderá declarar a norma
inconstitucional.
OBSERVAÇÃO: Na magistratura federal, o Regimento Interno Tribunal
Regional Federal da 2a Região foi alterado recentemente para a criação do
órgão especial do Tribunal. Antes da modificação, a aplicação do art. 97
da CR’88 dependia da maioria absoluta do Plenário. Agora, com a
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instalação do órgão especial do TRF da 2a Região, o art. 97 passa a ser
de competência desse órgão.
O art. 97 só é aplicado no controle difuso da
constitucionalidade. Não há o que se falar de aplicação do art. 97
quando se está diante da representação de inconstitucionalidade
prevista no art. 125, §2º, da CR’88
A r t . 1 2 5 , § 2 º . C a b e a o s E s t a d o s a i n s t i t u i ç ã o d e r e p r e s e n t a ç ã o d e i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e d e l e i s o u a t o s n o r m a t i v o s e s t a d u a i s o u m u n i c i p a i s e m f a c e d a C o n s t i t u i ç ã o E s t a d u a l , v e d a d a a a t r i b u i ç ã o d a l e g i t i m a ç ã o p a r a a g i r a u m ú n i c o ó r g ã o .
A idéia do art. 97 é a seguinte: caso se tenha uma
demanda de 1º grau e nela comporte recurso vai se dar o chamado
julgamento fracionário. Esse recurso é endereçado a um órgão
fracionário do Tribunal (Turmas ou Câmaras). Se tiver questão
constitucional para ser resolvida, o art. 97 estabelece que só quem
vai poder decidir a questão constitucional é o Órgão Especial.
A Turma ou Câmara não vai poder analisar,
diretamente, a argüição de inconstitucionalidade e julgar o caso
concreto. Ela terá que paralisar o julgamento, remeter os autos do
processo para o Órgão Especial decidir somente sobre a questão da
constitucionalidade ou inconstitucionalidade do ato normativo.
O julgamento é fracionado porque, primeiro, ele é
endereçado à Turma ou Câmara que paralisará o julgamento e remeterá
os autos ao órgão especial para que este aprecie a
constitucionalidade ou não do ato normativo. Uma vez realizado esse
exame e decidida a questão, os autos retornarão à Turma ou Câmara
para que ela dê seguimento ao julgamento.
Por exemplo, se a única causa de pedir for a
alegação de inconstitucionalidade de determinada lei. O órgão
especial entende que a norma é constitucional. Quando os autos
retornarem à Turma, esta irá julgar improcedente o pedido formulado
no recurso.
Nem sempre a questão da constitucionalidade é a
única causa de pedir. Mas a Turma pode, em razão de qualquer outro
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fundamento constante na causa de pedir, decidir a questão, apenas
no que se refere à questão da constitucionalidade é que a Turma não
poderá emitir pronunciamento contrário ao firmado pelo Órgão
Especial.
A declaração da inconstitucionalidade se dará no
caso concreto, quanto à fundamentação, com efeito intra partes.
Não há no que se falar no art. 97 quando se está diante do controle
concentrado.
Qua l a d i fe rença ent re o Cont ro le Concen t rado e o Cont ro le D i fuso?
O controle difuso fica a cargo de qualquer órgão do Poder Judiciário e o controle concentrado fica a cargo do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais de Justiça dos Estados quando
julgam a representação de inconstitucionalidade.
Os Tribunais de Justiça atuam em julgamento de
representação de inconstitucionalidade na forma do art. 125, §2º da
CR’88.
No Estado do Rio de Janeiro, a Constituição
Estadual prevê diversos legitimados para o ajuizamento da
representação de inconstitucionalidade e regulamenta o julgamento da
representação de inconstitucionalidade, não necessariamente
requerendo um quorum de maioria absoluta. A regulamentação do
julgamento fica a cargo da Constituição Estadual.
Quanto ao Tribunal Regional Federal, ele não detém
qualquer espécie de competência de controle de constitucionalidade
concentrado. Essa representação de inconstitucionalidade somente é
aplicada aos Tribunais de Justiça Estaduais. O TRF somente tem
competência para o controle da constitucionalidade por via recursal
e nas ações originárias de sua competência (art. 108 da CR’88).
No que tange ao controle da constitucionalidade,
não existe para o TRF algum procedimento assemelhado à representação
de inconstitucionalidade prevista no art. 125, §2º, da CR’88.
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O Tribunal de Justiça é o órgão de cúpula do Poder
Judiciário Estadual, ou seja, ele é estará dando a última palavra
quanto à aplicação da lei municipal e estadual em face da
Constituição Estadual.
Isso não existe no Tribunal Regional Federal porque
este é a 2a instância da Justiça Federal, mas ele não tem o controle
concentrado da Lei Federal, que somente é exercido pelo Supremo
Tribunal Federal.
Portanto, o Controle Concentrado no nosso
ordenamento jurídico está a cargo de dois órgãos: o Tribunal de
Justiça e o Supremo Tribunal Federal. E o art. 97 da CR’88 tanto
se aplica ao Tribunal de Justiça quanto ao Tribunal Regional Federal
somente nas competências recursais, ou seja, dentro do julgamento
dos casos concretos, dando ensejo ao julgamento fracionário.
Os arts. 480 a 482 do CPC regulamentam o princípio
da reserva de plenário.
A r t . 4 8 0 ( C P C ) . A r g ü i d a a i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e d e l e i o u d e a t o n o r m a t i v o d o p o d e r p ú b l i c o , o r e l a t o r , o u v i d o o M i n i s t é r i o P ú b l i c o , s u b m e t e r á a q u e s t ã o à t u r m a o u c â m a r a , a q u e t o c a r , o c o n h e c i m e n t o d o p r o c e s s o .
A r t . 4 8 1 ( C P C ) . S e a a l e g a ç ã o f o r r e j e i t a d a , p r o s s e g u i r á o j u l g a m e n t o ; s e f o r a c o l h i d a , s e r á l a v r a d o o a c ó r d ã o , a fi m d e s e r s u b m e t i d a a q u e s t ã o a o t r i b u n a l p l e n o .
P a r á g r a f o ú n i c o . O s ó r g ã o s f r a c i o n á r i o s d o s t r i b u n a i s n ã o s u b m e t e r ã o a o p l e n á r i o , o u a o ó r g ã o e s p e c i a l , a a r g ü i ç ã o d e i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e , q u a n d o j á h o u v e r p r o n u n c i a m e n t o d e s t e s o u d o p l e n á r i o d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l s o b r e a q u e s t ã o .
A r t . 4 8 2 ( C P C ) . R e m e t i d a a c ó p i a d o a c ó r d ã o a t o d o s o s j u í z e s , o p r e s i d e n t e d o t r i b u n a l d e s i g n a r á s e s s ã o d e j u l g a m e n t o .
§ 1 º O M i n i s t é r i o P ú b l i c o e a s p e s s o a s j u r í d i c a s d e d i r e i t o p ú b l i c o r e s p o n s á v e i s p e l a e d i ç ã o d o a t o q u e s t i o n a d o , s e a s s i m o r e q u e r e r e m , p o d e r ã o m a n i f e s t a r - s e n o i n c i d e n t e d e i n c o n s t i t u c i o n a l i d a d e , o b s e r v a d o s o s p r a z o s e c o n d i ç õ e s fi x a d o s n o R e g i m e n t o I n t e r n o d o T r i b u n a l .
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§ 2 º O s t i t u l a r e s d o d i r e i t o d e p r o p o s i t u r a r e f e r i d o s n o a r t . 1 0 3 d a C o n s t i t u i ç ã o p o d e r ã o m a n i f e s t a r - s e , p o r e s c r i t o , s o b r e a q u e s t ã o c o n s t i t u c i o n a l o b j e t o d e a p r e c i a ç ã o p e l o ó r g ã o e s p e c i a l o u p e l o P l e n o d o T r i b u n a l , n o p r a z o fi x a d o n o R e g i m e n t o , s e n d o - l h e s a s s e g u r a d o o d i r e i t o d e a p r e s e n t a r m e m o r i a i s o u d e p e d i r a j u n t a d a d e d o c u m e n t o s .
§ 3 º O r e l a t o r , c o n s i d e r a n d o a r e l e v â n c i a d a m a t é r i a e a r e p r e s e n t a t i v i d a d e d o s p o s t u l a n t e s , p o d e r á a d m i t i r , p o r d e s p a c h o i r r e c o r r í v e l , a m a n i f e s t a ç ã o d e o u t r o s ó r g ã o s o u e n t i d a d e s .
Liminar e Presunção Relativa de Constitucionalidade dos Atos Normativos
Esse assunto já foi questionado duas vezes na
Magistratura Federal.
Ju i z federa l em 1º grau poder ia de fe r i r uma med ida l im inar tendo como fundamento , un i camente , a i ncons t i tuc iona l idade de um a to normat ivo?
A única causa de pedir da demanda é a
inconstitucionalidade da lei e se questionou se seria possível o
deferimento dessa liminar, mesmo levando-se em conta a presunção de
constitucionalidade dos atos normativos e o princípio da
interpretação conforme a constituição e, ainda, o fato de que a
própria liminar leva em conta um exame superficial e não exauriente
da questão.
A resposta adequada a essa questão deve abranger os
seguintes pontos.
Primeiro, quanto a possibilidade ou não de
deferimento da liminar, deve-se tomar cuidado com as restrições
existentes nos Mandados de Segurança e nas Medidas Cautelares – Leis
4348/64 5021/66 8437/92.
Tirando esses casos, toda a medida liminar possui
dois requisitos: fumus boni iuris e periculum in mora.
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O periculum in mora somente pode ser verificado no
caso concreto.
Quanto ao fumus boni iuris, se for possível
demonstrar de forma cabal, bem documentada, que a
inconstitucionalidade é flagrante, não há empecilho ao deferimento
da liminar. O ato normativo tem uma PRESUNÇÃO RELATIVA DE
CONSTITUCIONALIDADE e, conseqüentemente, pode ser elidida essa
presunção se a demonstração da inconstitucionalidade de ser de forma
clara e cabal. A presunção serve para que seja invertido o ônus da
prova.
Quanto ao princípio da interpretação conforme a
Constituição, tal regra, a princípio, começou a ser utilizada como
técnica de interpretação – sempre que for possível salvar o conteúdo
da norma, tornando-a compatível com a Constituição mediante a
utilização de uma interpretação que possa ser admitida pela ordem
constitucional, deve-se utilizar essa interpretação e afastar todas
as outras interpretações que poderiam levar à inconstitucionalidade
da norma.
No início, esse princípio era utilizado como
técnica de interpretação e porque era considerado uma técnica, sua
aplicação era de natureza facultativa pelo intérprete. Mas, para o
Supremo Tribunal Federal, a interpretação conforme a Constituição já
não é mais uma mera técnica de interpretação, mas sim um princípio
constitucional implícito. E, sendo princípio constitucional
implícito, ele é de obrigatória utilização pelo juiz no caso
concreto.
Assim, sempre que for possível compatibilizar a lei
com o texto constitucional, devem ser afastadas todas as
interpretações que poderiam levar à inconstitucionalidade da lei,
aplicando-se, apenas, a compatível com o texto constitucional.
O limite do princípio da interpretação conforme a
Constituição é que pelo menos haja uma interpretação que venha a
salvar o conteúdo da norma. Se não for possível essa interpretação,
a norma deve ser considerada inconstitucional mesmo em medida
liminar.
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A interpretação conforme sempre levou em
consideração que a natureza jurídica da lei, como ato normativo,
seria expressão da vontade popular, daí porque o juiz, ao declarar a
norma inconstitucional, estaria adotando uma posição contrária à
vontade do Congresso Nacional.
Por fim, sempre quando se está diante de uma medida
liminar, o exame deve ser feito de forma superficial e não
exauriente da matéria. A demonstração da inconstitucionalidade deve
ser flagrante para que seja possível o proferimento de liminar só
com base na inconstitucionalidade.
Fazendo a ponderação entre os princípios
constitucionais, o que está em jogo, diante de uma questão dessa
ordem, são todas as considerações acerca da compatibilidade da lei
com a própria Constituição de um lado e, de outro lado, o poder
geral de cautela do juiz. Se o poder geral de cautela do Poder
Judiciário pudesse ser afastado, estar-se-ia impedindo o amplo
acesso à Justiça. O art. 5º, XXXV, da CR’88 deve prevalecer sobre
qualquer restrição processual.
A r t . 5 º , X X X V ( C R ´ 8 8 ) – a l e i n ã o e x c l u i r á d a a p r e c i a ç ã o d o P o d e r J u d i c i á r i o l e s ã o o u a m e a ç a a d i r e i t o
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