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FUNDAMENTOS NARRATIVOS E FIGURATIVOS DO MONSTRO SEMIÓTICA PROF. ALEMAR RENA Aula baseada em texto do livro "Semiótica: objetos e práticas", de Ivã Carlos Lopes (org.).

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FUNDAMENTOS NARRATIVOS E FIGURATIVOS DO MONSTROSEMIÓTICAPROF. ALEMAR RENAAula baseada em texto do livro "Semiótica: objetos e práticas", de Ivã Carlos Lopes (org.).

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O monstro é velho conhecido da tradição de povos de todos os tempos. Ele aparece com freqüência nas tradições orais, na literatura, nas artes plásticas e dramáticas, nas religiões e nos rituais

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Veremos alguns fundamentos narrativos e !gurativos que servem comumente para indicar os monstros como tais.

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Conhecemos muitos monstros, todos diferentes entre si, mas o que os reúne, o que os caracteriza?

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Os formalistas russos de!niam “monstro” como um cruzamento de duas ou mais séries heterogêneas como, digamos, a série “humana” e a série “animal”.

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Ambroise Paré, primeiro-cirurgião do rei Charles IX, em 1573 publicou um livro sobre monstros terrestres e marinhos. Ele escreve: existem monstros que nascem metade !gura de bestas, metade !gura humana (...), que são produtos sodomitas e dos ateus, que ferem a natureza e se juntam aos animais (...). Grande é o horror que se abate sobre o homem e a mulher que andam com as bestas sem raciocínio e com elas compulam, porque dessa péssima união nascem os meio-homem e meio-bichos.

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Além de cruzamento de séries heterogêneas, há outras maneiras de expressar a monstruosidade: como “forma incompleta” (por exemplo, os cíclopes) ou como “forma excessiva” (por exemplo, os seres gigantescos, ou, ainda, aqueles dotados de muitos membros, como o cão cérebro)

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Em resumo, em todos esses casos, o monstro aparece como a conjunção de duas formas, uma “forma própria” e uma “forma imprópria”

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Para que serve um monstro na narrativa?

Greimas observa que “a presença do oponente já manifesta metonimicamente um anti-programa implícito e evidencia a estrutura polêmica da narrativa”. Esse parece ser o caso de todas as histórias onde existe um monstro. Sua simples presença traz consigo um desa!o.

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A !m de demonstrar melhor o fato, a narrativa apresenta freqüentemente adversários que terminam facilmente vencidos pelo monstro. O que pode haver de especial no herói, aquele que vai vencer o monstro?

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Muitas vezes, essa resposta não é revelada pelo herói, mas pelo próprio monstro. O corpo do monstro exibe comumente os principais elementos de sua competência (...) Podemos prever, inclusive, o tipo de combate a ser travado com base nesses elementos.

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Cada elemento da competência do monstro é um elemento a ser compensado pela competência do herói. Diríamos que existe, portanto, uma certa simetria entre o herói e o monstro; além desses aspectos da competência de cada um, os dois são sobre-humanos - entre os gregos, inclusive, tanto um quanto o outro são de linhagem divina.

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Essa simetria, no entanto, não é completa, já pelo simples fato de que há um vencedor e um vencido no combate !nal.

Ao contrário do destino clássico do herói no conto popular, o monstro nunca morrer de morte natural, e raramente chega a envelhecer. Ele normalmente é assassinado no auge de seus poderes... E, apesar de seus feitos durante a vida, depois de sua morte o monstro nunca é celebrado ou divinizado como o herói.

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O lugar dos monstros

Em geral, o espaço do monstro é diferente daquele do homem comum: ele está nos céus, no inferno, nas profundezas subaquáticas, nas "orestas. Esses elementos contribuem, ao lado da “forma imprórpia” imprópria de que já falamos, para reforça a idéia de estranheza do monstro.

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O espaço do monstro é o “outro espaço”, distante, misterioso, desconhecido; o espaço do herói é o “nosso espaço”, palpável, familiar, presente. Um homem simples, de família popular.

Muitos monstros não podem ser separados do espaço onde vivem. Formam com seu espaço uma unidade estável, de tal maneira que não se pode conceber um sem o outro.

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A MULA SEM CABEÇAFONTE: WIKIPEDIA

A versão mais difundida é de que se uma mulher, virgem ou não, que tivesse coito com um padre católico, se transformaria em Mula-sem Cabeça. Outra versão é que, se um padre engravidasse uma mulher e a criança fosse do sexo feminino viraria mula-sem cabeça e se fosse menino seria um lobisomem.

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A Mula-sem-cabeça sai pelos campos soltando fogo pelas ventas e relinchando, apesar de não ter cabeça. Seu encanto, segundo a lenda, somente será quebrado se alguém conseguir tirar o freio de ferro que carrega. Em seu lugar, aparecerá uma mulher arrependida.

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Também há uma versão mais antiga ainda, que conta que em um certo reino, a rainha tinha a mania de ir certas noites ao cemitério, sem permitir que ninguém a acompanhasse. O rei, então, decidiu seguir sua mulher, secretamente, durante uma dessas saídas, e encontrou-a debruçada sobre uma cova, que abrira com as próprias mãos cheias de anéis,devorando o cadáver de uma criança, enterrada na véspera. O rei, então, soltou um berro horrível, e quando sua mulher viu que fora pega em "agrante, soltou um berro mais terrível ainda, se transformando assim na Mula-Sem-Cabeça.

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KING KONG

King Kong é um personagem de cinema, um gorila gigante, famoso pelo clássico !lme King Kong. O nome do primata é Kong, sendo o prenome King (Rei, em português), dado pelos promotores da desastrosa exibição pública em Nova York, contada no !lme.