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FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho Ana Laura de Castro Aragão A RESPOSTA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL À TRAGÉDIA DE BRUMADINHO Belo Horizonte 2019

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FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho

Ana Laura de Castro Aragão

A RESPOSTA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL À TRAGÉDIA DE

BRUMADINHO

Belo Horizonte

2019

Page 2: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

Ana Laura de Castro Aragão

A RESPOSTA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL À TRAGÉDIA DE

BRUMADINHO.

Projeto apresentado ao Curso de Graduação em Administração Pública da Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho da Fundação João Pinheiro, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.

Orientadora: Carla Bronzo

Belo Horizonte 2019

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A659rAragão, Ana Laura de Castro.

A resposta da política de assistência social à tragédia de Brumadinho[manuscrito]/ Ana Laura de Castro Aragão. - 2019.

[9], 113f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Administração Pública) - Fundação João Pinheiro, Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, 2019.

Orientadora: Carla Bronzo

Bibliografia: f. 115-118

1. Assistência social - Minas Gerais. 2. Calamidade pública - Brumadinho (MG).I. Bronzo, Carla. II. Título.

_______________________ CDU 361.9(815.12 Brumadinho)

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Page 5: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

AGRADECIMENTOS

Este trabalho representa o encerramento de uma etapa muito importante na

minha vida: a conclusão do segundo grau. Desde de nova, lembro-me da importância que

minha mãe atribuía aos estudos, e foi esse o caminho que ela me fez trilhar. Como

professora, ela sempre me auxiliou nas tarefas de casa. Me instigava a procurar um

mesmo assunto em muitos livros diferentes para produzir um simples trabalho, enquanto

meus colegas de sala já pesquisavam no Google e tinham rapidamente a resposta que

interessava. O Google não foi fundamental para esta pesquisa. Fizeram a diferença o tato

para conversar com pessoas, o instinto curioso que busca resposta onde nada parece

fazer sentido, o interesse e a observação, e principalmente, a vontade de querer ajudar o

próximo que me moveu durante todo o processo de pesquisa. Por esses e muitos outros

motivos, eu tenho a certeza de que esta monografia começou bem antes de eu entrar em

uma faculdade. Esta monografia começou com o exemplo da minha mãe, que apesar de

não ter mestrado ou doutorado, é sensível, é crítica e é a melhor pesquisadora que eu

conheço.

Agradeço também à vida, e a todas as Nalauras que eu já fui até chegar aqui.

Apesar de ter desviado a atenção algumas vezes para refletir sobre mistérios do mundo

que me intrigam, pesquisar e me envolver com um tema tão relevante e próximo a mim,

me fez evoluir como humana. Não tem como não se sensibilizar e criar empatia fazendo

um trabalho como este. Então obrigada, vida, por me permitir elevar meu espírito, mesmo

através de trabalhos acadêmicos, e no ambiente burocrático, que por vezes pareciam me

sufocar e engolir.

Page 6: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

"Se custar a minha paz, já custou caro demais. "

Black Alien.

Page 7: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

RESUMONo dia 25 de janeiro de 2019 mais uma barragem de rejeitos de mineração se

rompe em Minas Gerais, dessa vez em Brumadinho. O desastre desencadeou um mar de

lama que gerou impactos sociais, ambientais e econômicos difíceis de serem revertidos.

Em uma tragédia como esta, a Assistência Social tem papel fundamental para garantir

proteção aos atingidos, tanto no período emergencial de curto prazo, quanto no médio e

longo prazo, denominado pela literatura como pós tragédia. Todavia, até o rompimento da

barragem, não existiam protocolos para a atuação dos serviços socioassistenciais em

situações de desastre e calamidade pública. Ademais, as poucas normativas existentes

não eram suficientes para orientar a atuação estadual perante a magnitude da tragédia de

Brumadinho. Tendo em vista a importância de haverem planejamentos, protocolos e

serviços bem estruturados, o presente trabalho busca contribuir com a organização

socioassistencial em situações de desastre. Para isso, visa mapear, descrever e analisar

como aconteceu a atuação da Assistência Social estadual no período emergencial eno

pós tragédia, em Brumadinho, através de pesquisa documental e de registros

administrativos, bem como entrevistas semi-estruturadas com servidores envolvidos nos

processos.

Palavras-Chave: Desastre. Tragédia. Brumadinho. Resposta governamental. Pós

desastre. Assistência Social.

Page 8: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

ABSTRACTOn January 25 th 2019, another mining tailings dam disrupted in minas gerais,

this time in Brumadinho. The disaster created a mud sea, which caused social,

environmental and economic impacts hard to be reversed. On a tragedy like this, social

assistance has a fundamental role to guarantee protection to the ones hit by the disaster,

in the emergency period and also in medium and long term, named by literature as "after

tragedy”. Although, until the dam breaking off, there were no protocols for social

assistance services to act in disaster and public calamity situations. In addition, the few

existent rules were not enough to conduct the state acting against the magnitude of

Brumadinho tragedy. In view of the importance of planning, protocols and well structured

services, the present work aims to contribute with the social assistance organization in

disaster situations. To achieve that, it aims to map, describe and analyze how the social

assistance acted in emergency period and after the tragedy in Brumadinho, through

documentary and administrative records research, as well as semi-structured interviews

with servers involved in the processes.

Keywords:Disaster. Tragedy. Brumadinho. Goverment response. After tragedy. Social

Assistance.

Page 9: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

LISTA DE SILGAS

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

COPAE - Coordenação de Projetos e Ações Estratégicas em Saúde Ambiental

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

GRD - Comitê de Gestão de Desastre e Grupos de Resposta em Desastre

SEDESE - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social

SEPLAG - Secretaria de Estado de Planejamento de Governo

SUBAS - Subsecretaria de Assistência Social

SUEST - Superintendência Estadual da FUNASA

CELADE- Centro Latino- americano e Caribenho de Demografia

CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe

PNUD - Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento

AVEO - Ativos, Vulnerabilidade, Estrutura de Oportunidade

CFEM - Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais

IBRAM - Instituto Brasileiro de Mineração

MTE - Ministério de Trabalho e Emprego

ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços

MDS - Ministério de Desenvolvimento Social

SUAS - Serviço Unificado de Assistência Social

Page 10: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................92 RISCOS, VULNERABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DE DESASTRES......13

2.1 Abordagem da vulnerabilidade e riscos.......................................................132.2 Administração de desastres..........................................................................21

3 ATIVIDADE MINERADORA COMO PALCO DE DESASTRE....................... 28

3.1 De uma tragédia à outra.................................................................................344 ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS COMO ESTRATÉGIA DE

MITIGAÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS DE DESASTRES....................... 40

4.1 Subsídios para atuação da SEDESE............................................................434.1.1 Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e

Emergências..................................................................................................... 434.1.2 Caderno de Orientações: Situações de Calamidade Pública e de

Emergência.......................................................................................................464.1.3 Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e

Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situaçãode Riscos e Desastres...................................................................................... 53

5 A RESPOSTA GOVERNAMENTAL NO ÂMBITO DA POLÍTICA DEASSISTÊNCIA SOCIAL.................................................................................. 59

5.1 Período emergencial: primeira fase..............................................................625.1.1 Os primeiros quatro dias................................................................................... 645.1.2 Resposta à população afetada segundo as orientações normativas............... 715.1.3 Registro de necessidades emergenciais e cadastramento de atingidos........ 80

5.2 Período emergencial: segunda fase.............................................................925.2.1 Comitê Socioassistencial Intergovernamental................................................. 93

5.3 Atuação no pós desastre............................................................................... 965.3.1 Ação com os servidores municipais: capacitação...........................................1005.3.2 Comitê Gestor Pró Brumadinho...................................................................... 1035.3.3 Revisão do Caderno de Orientações e Elaboração do Protocolo.................. 106

6 CONCLUSÃO................................................................................................ 111

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 116

APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO......................................................119

APÊNDICE B: ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................122

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1 INTRODUÇÃO

No dia 25 de janeiro de 2019, às 12:28 horas, rompe a barragem do

Córrego do Feijão, em Brumadinho, pertencente à mineradora multinacional

Vale S. A. Foram 12,7 milhões de metros cúbicos que formaram um imponente

tsunami de lama que varreu qualquer obstáculo que estivesse à sua frente.

Destruiu completamente casas, pousadas, e instalações da própria Vale.

Contaminou o solo da região, o rio Paraopeba e o Córrego do Feijão. Deixou

270 vítimas fatais, e tantas outras feridas. Meses após o acidente, a população

segue vitimizada por doenças psíquicas, como depressão e ansiedade. A

população vulnerável teve sua situação agravada, e outros que já tiveram

melhores condições, agora se juntam ao público vulnerável. Perdeu-se

motivação, pois a vida de quem ficou tornou-se muito complicada depois de

tantas perdas e danos. Não há indenização monetária que traga de volta a

leveza no cotidiano que um dia pairou sobre a cidade. Brumadinho é agora

uma cidade doente.

Não é a primeira ocorrência de rompimento de barragem em que a

Vale está envolvida. Em novembro de 2015, a barragem de Fundão se rompeu,

em Mariana. A barragem pertencia à Samarco, da qual a Vale tem 50% das

ações. Não foi uma surpresa para a multinacional a fatalidade de 2015 e nem a

de 2019. Em ambos os casos a instabilidade da estrutura foi apontada por

vistorias e documentos internos. E em ambos os casos a ganância do setor

privado por lucro, somada à omissão do Poder Público, resultou em desastres

ambientais e humanitários que deixaram sequelas profundas, e até

irreversíveis na natureza e na população que foi atingida.

O termo desastre é usado para abordar um evento adverso de causa

natural ou tecnológica que gera danos humanos, materiais e ambientais, além

de prejuízos culturais, sociais e econômicos. Já o termo tragédia, é quase um

sinônimo de desastre, mas de acordo com o dicionário (DICIO, 2019), tem um

caráter mais dramático, são acontecimentos funestos que causam horror.

Considerando a proporção dramática que o desastre afetou a sociedade e o

meio ao redor, o caso de Brumadinho pode também ser denominado como

tragédia. A comoção pelo rompimento da barragem ultrapassou os limites

territoriais, tocando pessoas inclusive fora do país. Por isso, durante este

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estudo será usado tanto o termo desastre quanto o termo tragédia para se

referir ao acontecimento. O que não se admite é o emprego do termo

"acidente", o qual dá ideia de evento fortuito, sem causa certa e agentes

responsáveis.O rompimento da barragem do Córrego do Feijão somente

surpreendeu as vítimas, já que atores da Vale conheciam as chances do

rompimento. Por isso, neste trabalho não haverá a naturalização deste

episódio, pelo contrário, tratar-se-á como crime o massacre de lama que deixou

mais uma marca triste na história da mineração do estado de Minas Gerais.

Um desastre dessa magnitude põe em risco toda a base de ativos

dos indivíduos, e o Estado, como principal pilar de estrutura de oportunidades,

tem grande responsabilidade no acolhimento dos atingidos e na reparação dos

danos causados.

Optou-se por abordar de forma específica a resposta do Estado pela

perspectiva da política de assistência social pelo fato desta política ter como

objetivo a proteção social de populações em situação de vulnerabilidade e

riscos, além de assegurar que mais nenhum direito seja violado. A tragédia de

Brumadinho expõe, com toda intensidade, uma condição de desproteção.

Embora a política de assistência não seja a única ou mesmo a principal

responsável por fornecer respostas, a atuação dessa política é essencial como

suporte às famílias e aos serviços socioassistenciais municipais.

Nessa tragédia, as famílias perdem vidas, suas casas, seus

pertences, sua condição de produção e de geração de renda, dentre outras

perdas. Perdem seus ativos, para utilizar uma terminologia presente na

concepção de vulnerabilidade. E precisam de uma resposta ágil e efetiva por

parte do poder público, elemento central da estrutura de oportunidades, capaz

de desenvolver ações para prevenir, mitigar ou superar tais perdas.

Muitos serviços, como Defesa Civil e Saúde, têm protocolos para

orientar a atuação em situações de desastre e calamidade pública, porém até a

data do rompimento da barragem, os serviços socioassistenciais não possuíam

planejamento perante tais situações. Entende-se que o planejamento e a prévia

organização dos serviços são cruciais para que o atendimento imediato aos

atingidos e a reparação de danos se efetive de maneira satisfatória. É preciso

estabelecer as competências de cada ente governamental e atores envolvidos

no processo de resposta e reconstrução, pois só com a responsabilização dos

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agentes é possível atuar de forma organizada e eficiente. Além disso, as

atividades prioritárias devem ser elencadas com antecedência para evitar que

decisões sejam tomadas durante o momento da atuação, o que compromete a

celeridade da resposta em um momento tão complicado com tantas demandas

urgentes.

Desta forma, este trabalho visa contribuir com o planejamento dos

serviços socioassistencias em situações de desastre, e para isso tem como

objetivo geral justamente identificar como aconteceu a atuação da Assistência

Social de Minas Gerais após o rompimento da barragem em Brumadinho,

descrevendo como se deu todo o processo de resposta desde o dia do

rompimento até a fase de recuperação, nove meses após o desastre. Para

isso, pretende-se mapear: as ações que foram desenvolvidas; as estruturas

que foram criadas; os materiais e equipamentos que foram utilizados para

orientar a atuação, bem como os que foram elaborados; as formas de

monitoramento e acompanhamento utilizadas;como a equipe da Subsecretaria

de Assistência Social (SUBAS) se organizou internamente; como foi a

articulação com os outros entes governamentais e com os outros atores

envolvidos (Vale, sociedade civil, entre outros).

Sendo assim, o estudo tem natureza descritiva, e foi desenvolvido a

partir dos seguintes procedimentos metodológicos:

a) revisão bibliográfica sobre conceitos de vulnerabilidade, riscos, e

administração de desastre;

b) pesquisa sobre os impactos socioeconômicos da mineração, e

retomada do histórico de tragédias decorrente da atividade mineradora,

focando no rompimento da barragem em Brumadinho;

c) pesquisa documental, de relatórios e de registros administrativos

da Secretaria de Estado de Assistência Social (SEDESE) e da SUBAS

relacionados a desastres em geral, e ao rompimento da barragem em

Brumadinho;

d) realização de entrevistas semiestruturadas com nove gestores e

técnicos da SEDESE que estavam envolvidos nos processos de resposta e

recuperação

• Entrevistado 1: Superintendente de Integração e Segurança

Alimentar e Nutricional;

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• Entrevistado 2: Diretor de Fomento à Economia Solidária;

• Entrevistado 3: Diretora de Observatório de Desenvolvimento

Social;

• Entrevistado 4: Diretora de Proteção Social Especial de Alta

Complexidade;

• Entrevistado 5: Assessora de Gabinete;

• Entrevistado 6: Superintendente de Participação e Diálogos

Sociais;

• Entrevistado 7: Superintendente de Proteção Social Especial;

• Entrevistado 8: Técnico da Diretoria de Proteção Social

Especial de Média Complexidade;

• Entrevistado 9: Diretora de Vigilância Socioassistencial.

e) análise das informações coletadas.

Este trabalho está estruturado em mais cinco partes, além desta

introdução. No capítulo 2, é feita uma revisão bibliográfica dos conceitos de

vulnerabilidade, riscos e administração de desastres, que são o primeiro passo

para a sequência de compreensões da relação dos desastres com a proteção

social que se pretende construir ao longo da pesquisa. Posteriormente,

discorre-se sobre a atividade mineradora, seus impactos socioeconômicos, o

histórico de desastres com rompimento de barragem, e o contexto que

culminou na tragédia de Brumadinho. No quarto capítulo, é apresentado o que

se espera da atuação governamental em situações de desastre e calamidade

pública. Este capítulo ainda traz uma análise dos instrumentos e normativas

que foram usados para orientar a atuação da Assistência Social em

Brumadinho. O quinto capítulo descreve como aconteceu de fato a atuação

socioassistencial, e está dividido em período emergencial e pós desastre.

Ainda é analisado em que medida as normativas existentes contribuíram para a

atuação, e os gargalos e problemas que dificultaram a resposta governamental.

Finalmente, o último capítulo traz as considerações finais a respeito de todo o

processo de resposta, e sugestões para contribuir com a organização e

planejamento em situações de desastre.

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2 RISCOS, VULNERABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DE DESASTRES

Esse capítulo tem com o objetivo apresentar e d iscutir parte da

literatura relativa à adm in istração de desastres e ao tem a da vulnerabilidade e

riscos. Essa literatura define o ponto de partida para análise das ações da

política de assistência social em relação ao desastre de Brumadinho. A

existência da atividade m ineradora em um território constitu i um risco em si e

coloca a população do entorno em uma condição de vulnerabilidade. A ruptura

da barragem , esse evento absurdo e catastrófico , trouxe m ateria lidade ao risco,

transform ando-o em um evento. Evento que produziu centenas de mortos,

prejuízos am bientais e sociais trem endos, que dific ilm ente serão reparados em

toda sua extensão.

2.1 Abordagem da vulnerabilidade e riscos

A concepção de vu lnerabilidade e de riscos constitu i a perspectiva

mais aderente para a análise aqui realizada. A vulnerabilidade se aplica aos

casos dos desastres com rom pim ento de barragem, pois a população poderia

ter m inim izado os danos sofridos com a tragédia se tivessem sido classificadas

e devidam ente tratadas com o população vulnerável.

Na defin ição de vulnerabilidade, Caroline Moser, uma das principais

referências no estudo desse tema, aponta que se trata do

bem-estar de indivíduos, famílias ou comunidades em face à mudança do ambiente. Mudanças do ambiente que ameaçam o bem-estar podem ser ecológicas, econômicas, sociais ou políticas e podem assumir a forma de choques bruscos, tendências de longo prazo ou ciclos sazonais. (...) Analisar vulnerabilidade envolve identificar não apenas a ameaça, mas também a “resiliência” em explorar oportunidades e resistir ou recuperar os efeitos negativos da mudança do ambiente. Os meios de resistência são os ativos que pessoas, famílias ou comunidades podem mobilizar em face à adversidade. (MOSER, 1998, p.28; tradução ROCHA, 2016, p.46).

Outra referência na abordagem do tema define que “ la vulnerabilidad es

entendida com o un proceso m ultid im ensional que confluyecon el riesgo o

probabilidad del individuo, del hogar o com unidad de ser herido, lesionado o

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danado ante a cambios o permanencia de situaciones externas y/o internas”1

(BUSSO, 2001, p.8 apud ROCHA, 2016, p.50).

Considerando a abordagem de políticas públicas, o Centro Latino-

americano e Caribenho de Demografia (CELADE-CEPAL, 2002) subdivide o

conceito de vulnerabilidade em quatro áreas: a) para agrupar grupos da

população com atributos e problemas comuns dignos de intervenção por

políticas sociais; b) para tratar de situações de desproteção, insegurança

típicos do cotidiano da sociedade moderna; c) para a abordagem inovadora na

proteção social ao tratar dos novos riscos que emergem com a sociedade

complexa e instável; d) e por último, para estudar a pobreza e as estratégias de

saída da pobreza.

A presente pesquisa se aproxima do tratado no terceiro enfoque,

considerando que o rompimento de barragens são produtos de uma realidade

instável, e reflexo das dinâmicas capitalistas de acumulação e não

sustentabilidade.

Considerando a lógica de desastre e eventos ambientais, o conceito

de vulnerabilidade pode ser melhor delimitado para o estudo do caso em

questão. Autores como Alves (2006) e Vedovello e Macedo (2007) se

aproximam ao pensarem em vulnerabilidade como expressão cumulativa do

conjunto de processos e condições resultantes de situação de risco,

degradação ambiental e situações de pobreza e privação social, que se

configuram como vulnerabilidade ambiental e social.

Ainda pensando no caráter de desastres, Cidade (2013) organizou o

conceito de vulnerabilidade de acordo com análises de Cutter (1996), propondo

a seguinte categorização: "1) a vulnerabilidade como uma condição pré-

existente; 2) a vulnerabilidade como uma resposta matizada; e 3) a

vulnerabilidade como perigos do lugar." (CUTTER, 1996 apud CIDADE, 2013,

p. 175). Nessa concepção, a primeira categoria trata de perigos biofísicos e

tecnológicos, considerando a distribuição desigual de riscos, e a ocupação

humana em zona de risco. A segunda traz as formas e capacidades de

respostas dos indivíduos perante a eventos de risco, considerando a

1 A vulnerabilidade é entendida como um processo multidimensional que conflui com o risco ou probabilidade do indivíduo, do lugar, ou comunidade de ser ferido, lesionado ou sofrer danos perante a mudanças ou permanência em situações externas e/ou internas. (tradução nossa).

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resistência e resiliência. Finalmente, a terceira classificação completa a

abordagem trazendo a vulnerabilidade como perigo de um lugar geográfico

delimitado. Essa última noção de vulnerabilidade se articula com os desastres

da atividade mineradora, pois a população que vive próxima a barragens está

em condição de vulnerabilidade, considerando que o risco de rompimento é

real.

Alguns elementos são estruturantes da concepção de

vulnerabilidade: a concepção de ativos, de estratégia de resposta (que significa

o uso desses ativos) e a de estrutura de oportunidade. Outro aspecto a

salientar em relação à concepção de vulnerabilidade, é que essa concepção

pode se aplicar tanto a indivíduos, como a famílias, grupos e territórios.

Os ativos são entendidos como potenciais para criação de poder de

agência e empoderamento nos indivíduos, habilitando-os para serem e agirem

de forma amudar o seu entorno. Além disso, tem efeitos sociais, psicológicos e

cívicos e sustentam uma capacidade de resposta por parte dos indivíduos, de

tal forma que quanto mais ativos possuem, menos vulneráveis são (ROCHA,

2016). Em contextos de crises econômicas, os ativos funcionam como

amortecedores, e no caso de estudo em questão, possuir ativos facilita os

indivíduos a conseguirem se desvencilhar da minero dependência2 buscando

outras fontes de sobrevivência e de renda.

Ainda vinculada à capacidade de resposta perante riscos e

ameaças, é importante analisar a quantidade e a qualidade dos ativos para

enfrentar situação de vulnerabilidade. Sendo assim, tendo como base a

produção de Moser (1998; 2010), Rocha (2016) elaborou o seguinte quadro

contendo as principais categorizações de ativos.

Quadro 1 - Os principais ativos segundo Moser (continua)

Tipo C onceito

Capital físicoConjunto de maquinarias, equipamentos, infraestrutura e

outros recursos produtivos, de propriedade, tanto individual, como do setor de negócios ou do país.

Capital Financeiro Recursos monetários que dispõem as pessoas (crédito, poupança, subsídios)

2 Este termo será explorado posteriormente. Basicamente se refere à dependência de algumas sociedades em relação à atividade mineradora.

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Quadro 1 - Os principais ativos segundo Moser (conclusão)

Tipo C onceito

Capital Social

Ativo intangível, definido como as regras, normas, obrigações, reciprocidade e confiança, inseridas nas relações e estruturas sociais e nos arranjos institucionais. Estes elementos são, por sua vez,

inseridos no nível microinstitucional (comunidades e famílias) bem como as regras e regulamentos

governamentais formalizadas no mercado de trabalho, sistema político e sociedade civil.

Capital Natural

Estoque de ativos ambientalmente disponíveis, como o ar, solo, florestas, minerais e água. Em

comunidades rurais a terra é um ativo crítico para as pobres, enquanto em áreas urbanas, os fatores

críticos são terreno e abrigo.

Capital Humano

Educação, saúde e nutrição dos indivíduos. O trabalho é vinculado ao investimento em capital humano; o estado de saúde determina a capacidade para o

trabalho e habilidades e educação determinam as taxas de retornos do trabalho.

Fonte: Rocha, 2016 p. 62.

É importante contextualizar que os ativos são elementos

influenciados pelo contexto econômicos e político, além de serem marcados

por relações sociais conflituosas, em que a distribuição desses ativos não

ocorre de forma justa e igualitária, mas sim obedecendo estruturas que

reproduzem desigualdades de recursos e de poder. Dessa forma, o acesso a

ativos é condicionado a processos sociais, estruturas e relações de poder que

dificultam a sua aquisição como meio de enfrentamento da vulnerabilidade

(MOSER, 2008, apud ROCHA, 2016).

Quanto à estratégia de resposta, que basicamente se refere ao uso

dos ativos, considera-se que existem duas formas de transformar os ativos: a

primeira diz respeito a intensificação das estratégias já utilizadas; e a segunda,

traz o desenvolvimento de novas e/ou diversificação das estratégias (MOSER,

1999). Em outras palavras, é interessante prestar atenção nos recursos

existentes, mas se manter aberto para novas estratégias, visando a

transformação desses recursos para enfrentar situações de adversidade.

No caso de Brumadinho, chama-se atenção mais para a segunda

forma de transformação, já que a renda e os ativos de muitas famílias foram

comprometidos por terem perdido a atividade principal a qual se dedicavam.

Page 19: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

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Agricultores e pescadores não podem mais utilizar o solo e água do rio

contaminados. Pessoas que viviam diretamente da atividademineradora ou que

viviam de recursos provenientes da cadeia de serviços que o setor minerador

fazia girar, como comercio e prestação de serviços, encontram-se em

condições de perdas de ativos econômicos fundamentais.

Além da diversificação da base de ativos, a sequência

estratégica seguida pelos indivíduos érelevante para mobilizar os ativos de

forma a otimizar os recursos disponíveis. Segundo Busso (2002) uma das mais

habituais sequências seria: "i) mobilização de ativos; ii) diversificação de

atividades para valorizar ativos e iii) aquisição ou geração de diversos seguros

(informais e formais) contra as adversidades." (apud ROCHA 2016). Não existe

uma sequência de ações pré-definida que leva ao sucesso e à saída da

vulnerabilidade, para cada situação existem conjuntos de estratégias que

podem ser bem-sucedidas. Cabe aos indivíduos realizarem esse cálculo de

forma particular, aproveitando sua liberdade substantiva nas escolhas, porém,

é preciso que exista uma estrutura de oportunidades real que dê sentido à

liberdade individual de poder escolher que caminho seguir.

Quanto à estrutura de oportunidades, essa dimensão se refere às

macroestruturas existentes que são responsáveis pela produção, reprodução e

distribuição dos ativos.Complementando a análise de Moser em relação aos

ativos e a vulnerabilidade, a CEPAL e PNUD Montevidéu, elaboraram um

conceito de "estrutura de oportunidades”, que, de acordo com o grupo cepalino,

configura-se como:

(...) oportunidades de acesso a bens, serviços ou atividades que incidem sobre o bem-estar dos domicílios, seja porque os fazem usar seus próprios recursos mais facilmente, seja porque lhes possibilitam outros, úteis para que integrem a sociedade por meio de canais existentes (KAZTMAN e FILGUEIRA, 2006, p. 65).

A diferenciação entre a estrutura de oportunidades e os ativos está

no fato de que a primeira não pode ser alterada por uma ação isolada do

indivíduo, pois tem uma complexa lógica de produção e distribuição de ativos

que a rege. Naspalavras de Filgueira (2001):

(...) estructura de oportunidades se refiere a recursos que el individuo no controla y sobre los cuales no incide o lo hace en forma marginal (indirecta, mediatizada por estructuras

Page 20: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

18

intermedias, compartida con otros miembros) mientras que el concepto de activos refiere a consecuencias directas de su acción que inciden sobre sus atributos o recursos individuales (FILGUEIRA, 2001, p. 32).3

De acordo com Rocha (2016), o portfólio de ativos dos indivíduos é

determinado pela estrutura de oportunidades que as políticas públicas, as

instituições políticas e as organizações não governamentais propiciam em um

processo denominado "AssetAcumulationPolicy". Explicando esse processo,

Rocha traz a perspectiva de Moser:

Moser (2006), explica que as instituições e os marcos legais facilitam ou obstaculizam o acesso e acumulação de ativos e neles estão incluídos, por exemplo, as regras do mercado de trabalho (implícitas ou explicitas), os sistemas de proteção social, as conexões entre educação e emprego, entre outros. As oportunidades (dadas no contexto formal e informal) se encontram no nível micro, relacionadas às dinâmicas das famílias nas distintas fases do seu ciclo de vida e no seu poder de agência. Também se encontram no nível meso e macro, associadas a oportunidades de mercado e contextos políticos e econômicos. Quanto aos ativos, a autora chama a atenção para a crescente centralidade que o ativo financeiro vem assumindo na atualidade com a massiva mercantilização de outros ativos (redes de relacionamento, educação, saúde, terras, entre outros), o que, obviamente, tem consequências danosas, sobretudo quando o modelo de Estado de Bem-Estar é frágil e em cenários de grande desigualdade de renda (ROCHA, 2016, p. 67).

Dito isto, percebe-se que é preciso haver uma conciliação entre os

níveis micro e macro, ou seja, no portfólio de ativos, e na estrutura de

oportunidade para que as mudanças sejam reais na vida dos vulneráveis. Em

um cenário pós desastre, as mudanças no acesso a ativos podem significar

maior fluxo de recursos monetários, pela medida emergencial que a própria

Vale do Rio Doce proveu. Todavia, uma reestruturação do contexto macro já é

mais complicada, por se trataremde instituições firmadas e de uma atividade

econômica central em crise, também por ter resultados ao longo prazo e de

difícil mensuração.

Bebbington (1990) aborda estrutura de oportunidade como uma

estrutura constituída por uma tríade entre estado-mercado-sociedade civil, em

3Estruturas de oportunidade se referem a recursos que o indivíduo não controla e sobre os quais não incide ou que o faz de forma marginal (indireta, mediada por estruturas irtermediadoras, compartilhada com outros membros), enquanto que o conceito de ativos se refere a consequências diretas das ações que incidem sobre os atributos ou recursos individuais. (Tradução nossa).

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19

que cada pilar é considerado uma esfera de atuação. Para que os indivíduos

consigam controlar seus ativos e produzir mais, é necessário que tenham a

capacidade de manejar e transacionar entre as referidas esferas. O autor ainda

ressalta que para os que tem menos recursos financeiros e poder, o capital

social e cultural são de extrema relevância para vencer a falta de capitais

iniciais, podendo ser os responsáveis pelo sucesso do indivíduo desfavorecido

e por sua ascensão através das estruturas existentes. Dito isto, que se entenda

o papel de cada pilar da tríade (ROCHA, 2016).

Em um contexto de globalização e competitividade, o mercado é

considerado por Filgueira (2001) o principal eixo da estrutura de oportunidades.

Nessa perspectiva, o emprego e as condições em que ocorre (estabilidade,

valorização, distribuição) são condicionados pelo contexto econômico-social,

tendo influência direta nas oportunidades dos indivíduos de terem acesso ao

trabalho remunerado digno, componente relevante para uma boa condição de

vida (KAZTMAN et al, 2006). Rocha (2016) ainda traz o apontamento de Sen

(2012) de que se o indivíduo tem privações na obtenção de emprego, sejam

implícitas ou explícitas, e por isso suas liberdades substantivas são afetadas, o

mercado de trabalho torna-se um campo de sujeição e exclusão dos indivíduos.

"Assim, a liberdade para participar dos mercados, representa, por si, uma

fundamental contribuição para o desenvolvimento." (ROCHA, 2016, p. 71).

Pensando em um contexto de crise na economia mineradora na

cidade de Brumadinho, o mercado torna-se um grande obstáculo para o

desenvolvimento e enfrentamento da vulnerabilidade, pois seu auto

regulamento torna-se insuficiente para o avanço da alocação dos indivíduos em

outros ramos. A diversificação do mercado é necessária, tanto quanto uma

intervenção governamental para facilitar esse processo, facilitando o

desenvolvimento de outras atividades e regulando-as de forma satisfatória.

O papel do Estado nesse tripé estrutural é absolutamente relevante.

Em um cenário em que a emergência de novos desastres é uma realidade que

gera riscos, insegurança e medo na população, o Estado deve ser ativo o

suficiente para reconhecer as vulnerabilidades individuais e coletivas que

surgem, para repensar os processos de fiscalização e distribuição de ativos de

forma a atender seu papel básico que é proporcionar o bem estar da

população. Considerando seu caráter de distribuição de ativos, muitos autores

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20

consideram o Estado como pilar central para a formação de uma estrutura de

oportunidades mais igualitária. Os gastos sociais e os investimentos sociais,

ancorados pela cidadania e participação tornam-se, pois, elementos de suma

importância para a garantia dos direitos sociais dos indivíduos.

A sociedade civil também tem sua relevância na medida que

apresenta três esferas de relações sociais que criam estruturas de

oportunidades, são elas: a) família; b) redes extrafamiliares; c) redes políticas

(KAZTMAN, 2006 apud ROCHA, 2016). Na situação de Brumadinho a família

deixa de ser uma estrutura de oportunidade e se enquadra mais como um dos

motivos da situação de vulnerabilidade, considerando que muitos núcleos

familiares foram impactados direta, ou indiretamente pelo desastre, que deixou

mais de 200 vítimas. Por sua vez, as redes formadas pela comunidade têm

enorme potencial para gerar oportunidades e reduzir vulnerabilidades tanto

individuais quanto coletivas, através de apoio e suporte mútuo por associações

e grupos de atingidos, por exemplo. Já as formas de relações políticas pode

ser uma relevante estrutura de oportunidade quando o ambiente político é

aberto, transparente e participativo, possibilitando que a sociedade civil

contribua na agenda das decisões públicas de forma a pôr em pauta seus

interesses. Caso contrário, um ambiente político clientelista e capturado por

interesses privados, invés de servir como estrutura de oportunidades para

ascensão dos vulneráveis, se torna um empecilho para a construção de uma

sociedade mais justa.

Uma abordagem denominada AVEO (Ativos, Vulnerabilidade e

Estrutura de Oportunidades) articula tais elementos em um enfoque integrado e

apresenta duas dimensões:

A dimensão macrossocial, refere-se à oferta institucionalizada de oportunidades que proporcionam o mercado, o Estado e a sociedade e a dimensão micro social, diz respeito aos recursos, capacidades e ativos que contam e mobilizam as famílias e indivíduos, para “capturar” estas oportunidades. Ambas as dimensões estão estreitamente relacionadas e sob a compreensão de que os recursos somente se convertem em ativos quando é permitido às famílias acessar as oportunidades que as regras institucionais estabelecem. Apesar do caráter objetivo das oportunidades, estas somente podem ser concretizadas quando as famílias e indivíduos podem reconhecê-las e aproveitá-las. Em vista disso, o enfoque considera como um importante ponto de análises barreiras e

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21

fatores impeditivos da efetivação das oportunidades disponíveis (WORMALD et al 2002 apud ROCHA, 2016, p. 58).

Um aspecto importante do enfoque da vulnerabilidade e estrutura de

oportunidades consiste na identificação dos riscos e dos ativos que os

indivíduos ou famílias contam para fazer frente a eles, seja como prevenção,

mitigação, ou superação dos eventos de risco. O reconhecimento da

vulnerabilidade como processo implica no desenvolvimento de estratégias

distintas, com objetivos distintos, situadas ex ante ou ex post aos eventos.

Esse ponto é fundamental no presente trabalho, que se concentra na

abordagem da vulnerabilidade e riscos relacionada ao tema dos desastres e da

capacidade de resposta do Estado a tais eventos, entendido como elemento

central da estrutura de oportunidades com as quais os indivíduose famílias

podem contar para enfrentar e reverter suas condições de vulnerabilidade.

2.2 Administração de desastres

Vivemos em uma sociedade de risco, conforme denominação de

sociólogos contemporâneos, como Ulrich Beck, que cunhou esse termo:

risksociety(apud Cidade, 2013). O desenvolvimento do capitalismo possibilitou

a geração de muitas riquezas, porém as riquezas vieram acompanhadas de

crises econômicas intrínsecas ao sistema. Outras consequências indesejadas

do capitalismo são a desigualdade, o crescimento da pobreza e intensificação

dos efeitos de eventos de riscos, que apesar de ser mais intensa para

população vulnerável, é capaz de afetar a todas as classes. O autor Beck

denomina esse fenômeno como "o dinamismo do conflito da sociedade de

risco" (BECK, 1997 apud CIDADE, 2013). Araújo (2012) se referencia a

Bauman (2001), o qual também escreve sobre o efeito de uma "globalização

negativa" com o alastramento de uma sensação constante de insegurança,

medo, perigo e risco que nem sempre o Estado terá a capacidade de combater,

tendo em vista a implacabilidade do fenômeno da globalização.

A administração de desastres como campo de análise surgiu com o

agravamento da ocorrência de desastres na sociedade e, com isso, a

necessidade de capacitação de profissionais para atuarem dando respostas e

soluções nessas situações indesejadas. No primeiro momento, os desastres

estudados eram principalmente relacionados a eventos da natureza que

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22

provocavam consequências drásticas em locais de ocupação humana, como

inundações, deslizamentos de encostas, entre outros. Com esse campo de

estudo, possibilitou-se uma análise dos acontecimentos e aprimoramentos dos

conhecimentos a respeito dos eventos, para posterior formulação de

procedimentos padrões, ainda que considerando as especificidades das

situações em questão. A finalidade era "prevenir a ocorrência de um desastre,

mitigar as perdas, preparar-se frente às consequências, alertar sua presença,

responder a emergência e recuperar-se de seus efeitos. ” (ARAUJO, 2012,

p.30).

Araújo (2012) conceitua desastre como "resultado de eventos

adversos naturais ou humanos sobre um ecossistema vulnerável, causando

danos humanos, materiais, ambientais e consequentes prejuízos econômicos,

culturais e sociais. ”(p.18). Ou seja, o desastre não é o evento adverso em si,

mas a consequência dele. Também se nota que, por essa definição, a

intensidade do desastre depende da grandeza dos danos e prejuízos

provocados, e para existir desastre o ecossistema deve ser necessariamente

vulnerável.

A seguinte imagem, como resultado dos estudos da administração

de desastre, ilustra a dinâmica de um desastre.

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23

Imagem 1:Dinâmica do desastre e sua Administração

O desastre apresenta três fases principais, são elas o antes, o

durante e o depois do evento. Segundo Araújo (2012) as etapas têm uma

sequência clínica que está inter-relacionada, e requerem atuação e intervenção

diferentes. Antes do desastre acontecer, as ações são de prevenção, mitigação

(no sentido de reduzir a vulnerabilidade, ou ainda, reduzir o risco e eliminar a

vulnerabilidade social, econômica ou física), preparo e alerta. Já durante o

desastre, a atuação é resposta imediata durante todo o período de emergência,

sendo que nessa etapa destaca-se o papel da Defesa Civil, dos Bombeiros e

Militares. A Assistência Social também deve desempenhar ações de resposta

imediata que serão consideradas na presente análise, mas para além delas,

ainda interessa ao estudo o momento de pós desastre, que engloba ações de

reabilitação e reconstrução. Nessa última etapa busca-se, a grosso modo:

reestabelecer os serviços vitais indispensáveis e o sistema de abastecimento da comunidade afetada, bem como reparar a infraestrutura afetada e restaurar o sistema produtivo com vista a revitalizar a economia. (ARAÚJO, 2012, p.29).

Como estão inter-relacionados, os resultados de uma etapa

dependem do bom trabalho que os antecedeu. A figura 2 a seguir ilustra a

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24

sequência das atuações no ciclo do desastre composto pelas três etapas

mencionadas acima.

Imagem 2: Ciclo de desastres

PREVENÇÃO

RECONSTRUÇÃO

M ITIG A C A O

PREPARO

ALER TA

R EH ABILITAÇ ÃO RESPOSTA

Fonte: Araújo, 2012. p. 64.

Já na próxima imagem, é possível perceber as etapas de

gerenciamento do desastre combinadas com a própria dinâmica do desastre,

considerando elementos como ambiente, vulnerabilidade, risco e perigo. O

momento que interessa para a pesquisa é depois que o desastre já aconteceu,

que seria a fase macro de Socorro Humanitário, a qual engloba resposta

através de Informações, Reação e Reconstrução.

Imagem 3: Etapas do Gerenciamento do Desastre

Pessoas Meio AmbientePerigo

•E x p o s iç io • Susc epti b* I i d ade •C a p a c id a d e de Lidar

•Tipo•In tensidade•P robab ilidade

V u ln e ra b ilid a d eRISCO

Socorro Humanitário Desenvolvimento Sustentável

InformaçõesReconstrução

PrevençãoReaçao

PreparoInformações

DESASTRE

Fonte: Araújo, 2012. p. 31.

Page 27: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

25

Como forma de construir uma visão interdisciplinar e

multidimensional sobre o dinamismo na sociedade moderna, Cidade (2013)

busca relacionar os componentes de risco, ambiente e vulnerabilidade para

compreender como interagem entre si e com o meio. Em seu trabalho a autora

relata:

De forma mais específica, Risco (R) seria o grau de perdas esperadas em decorrência de um evento perigoso, natural ou induzido. Assim, apresenta-se uma situação envolvendo um Elemento em risco (E), que é um indivíduo, população, propriedade, atividade ou ambiente passível de ser afetado; uma Ameaça ou Perigo (P), que é a probabilidade de ocorrência de um evento perigoso (caracterizado também segundo a localização, área de alcance e intensidade); a Vulnerabilidade (V), que é a suscetibilidade do elemento ao impacto de eventos perigosos; e Danos (D), que são consequências esperadas caso o evento ocorra (incluindo-se estimativas da extensão das perdas previstas em função do número de pessoas ou do valor das propriedades, bens e ambientes naturais sob o risco). (Vedovello e Macedo, 2007 apud CIDADE, 2013, p.177).

Em outras palavras, o risco de um indivíduo sofrer com a ocorrência

de um desastre depende da interação entre três elementos principais, são eles:

a probabilidade de ocorrência de um evento, o perigo; o grau e intensidade que

o evento pode afetar o indivíduo, a vulnerabilidade; e finalmente, o nível de

impactos que o evento pode causar,os danos (Cidade, 2013).

Para compensação do risco, é necessário entender a capacidade de

enfrentamento diantedas consequências de uma tragédia, a qual visa minimizar

seus impactos negativos e perdas. Essa capacidade de enfrentamento pode

ser também chamada de mitigação (dessa vez esse termo assume um sentido

diferente do sentido empregado por Araújo anteriormente, por se tratar de uma

mitigação no pós desastre), a qual propõe a redução da vulnerabilidade que

surgiu ou que foi agravada com o desastre.

Na fase emergencial de resposta o objetivo é salvar vidas, reduzir o

sofrimento, e proteger as vítimas e seus bens, para isso, deve-se pôr em

prática o plano de emergência estabelecido na fase de preparação. Apesar de

destacados o papel da Defesa Civil, a coordenação interinstitucional, que deve

ser prevista no plano, é fundamental para a integração dos órgãos

responsáveis pela resposta ao desastre. Nesta etapa, Araújo (2012) elenca as

seguintes atividades:

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26

B.1 Busca e resgate de pessoas afetadas,

B.2 Assistência médica para a população afetada,

B.3 Evacuação da população afetada em zonas de perigo,

B.4 Alojamento temporário, distribuição de alimentos e abrigo a população mais afetada,

B.5 Segurança e proteção de bens e pessoas,

B.6 Avaliação preliminar de danos,

B.7 Apoio logístico e,

B.8 Sistemas de comunicação (ARAÚJO, 2012, p. 56).

Dentre essas atividades, nem todas são de competência somente da

Defesa Civil, o que reforça a importância da articulação entre as instituições

que atuarão no período de emergência.

Já com foco na última fase do processo de administração do

desastre, o pós tragédia, a reabilitação é a primeira etapa da recuperação,

quando os serviços vitais como energia, água, comunicações e vias de acesso

são restabelecidos.

Já a reconstrução é a etapa que está mais voltada para a

recuperação de longo prazo, ou seja, após a situação de emergência causada

pelo desastre. Nessa etapa, busca-se sanar os efeitos sociais, econômicos e

ambientais decorrentes do desastre através da reconstrução das fontes de

trabalho, reativação da atividade econômica, reparação de danos materiais. É

importante ressaltar que a reconstrução deve incorporar as medidas de

prevenção e mitigação para evitar a repetição do evento de desastre (ARAÚJO,

2012).

Segundo Araújo (2012), alguns dos fatores influenciadores na etapa

de reconstrução são:

A.1 Mobilização dos recursos financeiros, e a adequada quantificação da ajuda financeira interna ou externa;

A.2 A participação do setor privado nas operações de reconstrução sobre todo setor de habitação;

A.3 Dependendo do nível do desastre, organização municipal, estadual ou nacional para a etapa de reconstrução que envolva os setores e instituições responsáveis;

A.4 A magnitude e o caráter dos danos, que determinam prazos de reconstrução do capital produtivo;

A.5 O nível de desenvolvimento que tenha alcançado a população;

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27

A. 6 A incorporação das comunidades no processo de reconstrução.

(ARAÚJO, 2012, p. 58).

Já as ações de reconstrução em si, compreendem:

B. 1 Coordenação interinstitucional e multi-setorial;

B.2 Canalização e orientação dos recursos e donativos;

B.3 Estabelecimento de sistemas de crédito para reconstrução de casas, infraestrutura e a atividade de produção;

B.4 Reconhecimento dos assentamentos humanos e da infraestrutura nos serviços básicos em zonas aptas;

B.5 Desenvolvimento de programas adequados de uso das terras.

(ARAÚJO, 2012, p. 59).

Mas qual o papel do Estado nas etapas de resposta e mitigação das

vulnerabilidades? Como o governo deve agir?

A análise deste trabalho concentra-se na atuação da Assistência

Social, considerando a importância do Estado como principal ator mitigador dos

danos causados pela tragédia. Porém, antes de elencarmos como deveriam

acontecer as políticas socioassistenciais, faz-se crucial entender em que

contexto aconteceu a tragédia de Brumadinho, e as consequências que esse

desastre proveniente da atividade mineradora causou.

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28

3 ATIVIDADE MINERADORA COMO PALCO DE DESASTRE

Eram 270 pessoas, tinham famílias,

amigos, sonhos e uma vida inteira pela

frente. A lama chegou de surpresa,

levou corpos e levou sonhos, deixou

tristeza e solidão para quem ficou.

A mineração é atividade que remota mais de 500 anos no país,

sendo importante para o desenvolvimento até aqui. Minas Gerais foi o foco da

mineração nacional durante séculos, inclusive a atividade deu nome ao estado.

Com tanto tempo de história mineradora, o setor é protagonista na economia

do mercado, por geração de emprego, renda, desenvolvimento, além de ser

uma fonte importante de financiamento da máquina pública. Sendo a atividade

principal que sustenta muitos municípios de Minas, denomina-se minero-

dependência a relação da atividade com a sociedade, economia, e Estado, os

quais acabam sendo defensores fiéis do setor minerador. Essa relação

dependente será explorada a seguir.

As tributações sobre o setor chegam a 35% do total da receita bruta

nacional, porém isenções fiscais e tributárias são práticas comuns como forma

de incentivar a exportação mineral. Quando comparados com outros países

mineradores, o Brasil é o 26° que mais taxa a atividade mineradora, sendo que

está entre os cinco principais exportadores mundiais. Dessa forma, percebe-se

uma postura liberal na arrecadação de impostos no setor mineral brasileiro, que

fica expressa no gráfico a seguir.

Page 31: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

29

Gráfico 1 - Ranking da Taxação Mineral Efetiva no Mundo (2010)G

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Fontes: UBS (2010); OTTO et al. (2006), apud SANTOS (2013) p. 79.Em um debate sobre a captura das rendas minerais no Brasil,

Santos (2013) conclui que:

Em síntese, o nível de tributação mineral efetiva, comparativamente reduzido no plano internacional, e, principalmente, a desoneração fiscal expressiva concedida ao sub-setormínero-exportador, refletem a opção política por um determinado modelo econômico. O referido modelo apoia-se, assim, na capacidade deste setor de gerar as divisas necessárias à geração de superávits comerciais necessários ao equilíbrio da Balança de Pagamentos nacional (SANTOS, 2013, p.80).

Em relação aos royalties da mineração, a Constituição Federal de

1988 assegurou pelo artigo 20, §1° a Compensação Financeira pela

Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Tendo em vista que os recursos

minerais não são renováveis, quando uma empresa extrai esses bens o capital

natural do país diminui. Como os recursos são bens comuns, é através de

compensações que se consegue guardar um pouco da renda mineral para

gerações futuras bem como usá-las em prol da população. Em 2018, o país

arrecadou mais de 3 bilhões de reais com o CFEM (MME, 2019), e em 2017,

Minas Gerais arrecadou 175 milhões (FJP, 2017, apud MILANEZ, 2019).

Em 2018, a mineração participou com 20,8% do total das

exportações brasileiras, ou seja, quase um quarto de todos os produtos que o

Brasil exporta são referentes ao setor mineral. No mesmo ano, a balança

Page 32: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

30

comercial foi superavitária graças ao minério de ferro, principalmente, e passou

de US$ 16,2 bilhões em 2017, para US$ 23,4 bilhões em 2018 (MME, 2018).

Além disso, a geração de empregos que o setor minerador

proporciona é muito relevante, de acordo com o Ministério de Trabalho e

Emprego (MTE). Em 2017 o setor extrativo mineral foi responsável por 95,6 mil

empregos diretos no país, sendo 50 mil em Minas Gerais. Todavia, a geração

de renda não para por aí. De acordo com um estudo realizado pelo Serviço

Geológico Brasileiro:

setor extrativo mineral gera um efeito multiplicador de 3,6 postos de trabalho sobre a indústria de transformação mineral, ou seja, são 770.652 empregos na cadeia produtiva seguinte. Ao longo de toda cadeia industrial brasileira, o IBRAM apura que este efeito multiplicador ocorre para trás e para frente na cadeia produtiva. Efeito multiplicador de até 13 empregos indiretos ou induzidos; ou seja, quase 2,7 milhões de trabalhadores envolvidos de alguma forma com a atividade de mineração. (IBRAM, 2015, p. 10).

Porém, a mineração não tem impactos somente positivos. "Com o

fortalecimento do capitalismo, as formas exploratórias de mineração se

agravaram, sendo que os agentes se preocupavam mais com os aumentos dos

lucros do que com a sustentabilidade e os impactos ambientais” (Wanderley;

Mansur; Milanez; Pinto,2016, n.p.). Tal postura negligente na exploração

mineral é intensificada quando combinada com a elevação de preço das

importações globais de minério, que no período de 2003 a 2013 (conhecido

como megaciclo das commodities) teve um aumento de 630% (de US$38

bilhões para US$277 bilhões).

Com a conjuntura global favorável à mineração, o Brasil, que tem

enorme potencial minerador passou a ocupar o segundo lugar no ranking de

países exportadores de minério em 2013, contribuindo com 14,3% das

exportações mundiais. Dessa forma, a economia brasileira se tornou ainda

mais dependente da exportação de minério e, para atender a demanda

internacional, ocorreu uma intensificação na cadeia produtiva de minério

(WANDERLEY et al, 2016).

Todavia, o megaciclo das commodities não durou para sempre, e

motivadas a não perder o lucro do período favorável, as indústrias

negligenciaram a produção de tal forma que desastres como rompimentos de

Page 33: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

31

barragens e acidentes de trabalho se intensificaram. Segundo hipótese

levantada por Davies e Martin (2009):

Há um aumento da ocorrência dos rompimentos de barragens de rejeitos durante o processo recessivo dos ciclos de preços dos minérios. Para os autores, as causas para esse comportamento são várias, entre elas: a pressa para iniciar as operações no período de preços elevados, levando ao uso de tecnologias inapropriadas e à escolha de locais não adequados para a instalação dos projetos; a pressão sobre as agências ambientais pela celeridade no licenciamento, o que pode gerar avaliações incompletas ou inadequadas dos reais riscos e impactos dos projetos; movimento setorial de expansão, também durante o período de alta, causando contratação de serviços de engenharia e consultoria a preços mais elevados (aumentando o endividamento das firmas), contratação de técnicos menos experientes ou sobrecarga dos mais experientes (comprometendo a qualidade dos projetos ou a execução das obras); e a intensificação da produção e pressão por redução nos custos a partir do momento de retração dos preços. (DAVIES; MARTIN, 2009 apud Wanderley et al, 2016).

De acordo com W anderley e t a l (2016) "a volatilidade dos preços é

uma característica intrínseca ao m ercado de m inérios, assim também seria o

rom pim ento das barragens” (n.p.). Assim , os episódios de rom pim ento de

barragens de rejeitos não seriam meros acidentes, pelo contrário, são eventos

inerentes à d inâm ica econôm ica do setor m ineral. De acordo com dados da

W orld Inform ation Service on E nergy (W ise) "ao longo dos últimos 50 anos,

ocorreram pelo m enos 37 desastres em barragens de m ineração considerados

muito graves (no m undo)" (apud Freitas; Silva; Menezes, 2016, n.p.). Em Minas

Gerais, o histórico de rom pim ento é absurdo com o apresenta a seguinte

quadro.

Quadro 2 - Histórico de rompimento de barragem em Minas Gerais (continua)

Ano Empresa Município Breve descrição

1986 Itaminas ItabiritoRompimento de barragem causando a morte de sete

pessoas.

2001Mineração Rio Verde Nova Lima

Rompimento de barragem causando assoreamento de 6,4 km do Córrego Taquaras e causando a morte de cinco

pessoas.

2006Rio Pomba Cataguases Miraí

Vazamento de 1.200.000 de m3 de rejeitos contaminando córregos, causando mortandade de peixes e interrompendo

fornecimento de água

2007Rio Pomba Cataguases Miraí

Rompimento de barragem com 2.280.000 de m3 de material inundando as cidades de Miraí e Muriaé desalojando mais

de 4.000 pessoas.

Page 34: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

32

Quadro 2 - Histórico de rompimento de barragem em Minas Gerais (conclusão)

Ano Empresa Município Breve descrição

2008 CSN Congonhas

Rompimento da estrutura que ligava o vertedouro à represa da Mina Casa de Pedra, causando aumento do volume do Rio

Maranhão e desalojando 40 famílias.

2008 N/D ItabiraRompimento de barragem com vazamento de rejeito químico

de mineração de ouro.

2014HerculanoMineração Itabirito

Rompimento de barragem causando a morte de três pessoas e ferindo uma.

2015 Samarco MarianaRompimento de barragem, contaminando o Rio Doce,

desabrigando centenas de pessoas, e causando 19 mortes

2019 Vale BrumadinhoRompimento de barragem, contaminando o Rio Paraopeba, desabrigando o centenas de pessoas e causado 270 mortes

Fonte: MILANEZ, 2019.

A indústria m ineral opera com um sistem a de dependência de

barragens que atrela à população e ao m eio am biente próxim os uma constante

v ivência sob risco de rom pim ento e a lastram ento dos rejeitos. Como dito

anteriorm ente, o espaço geográfico pode ser um fa to r agravador de

vulnerabilidades, e não é coincidência que nos últim os dois casos de

rompim ento, em M ariana e em Brumadinho, a barragem construída estava

próxim a a com unidades pobres e m ajoritariam ente negra, respectivam ente

Bento Rodrigues e Córrego do Feijão. A população que vive ao redor de

barragem é com posta por pessoas humildes, com pouca voz e força política, e

geralm ente faltam inform ações e m eios para se rebelarem frente a autoridades

pela constante am eaça de rom pim ento que a zona de perigo onde vivem está

sujeita (M ILANEZ, 2019).

Todavia os im pactos negativos ainda se estendem. De acordo com

Santos (2013), a atividade extrativa m ineral produz m alefícios socioeconôm icos

nos territórios em que acontece.

Tem-se em mente, em especial, a ‘maldição dos recursos’, isto é, a provisão de desincentivos ao investimento em setores econômicos não diretamente relacionados às suas redes de produção; assim como a ‘doença holandesa’, ou seja, a sobre apreciação da moeda impulsionada pelo ingresso de divisas, com efeitos igualmente perniciosos sobre o setor secundário. (SANTOS, 2013, p. 86).

Assim , a ativ idade m ineradora acaba por s im plificar e tornar

dependente as outras ativ idades econôm icas do território onde está, de form a

Page 35: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

33

que a rede de produção m ineral se torna o pilar central da econom ia e geração

de em prego e renda, principalm ente em m unicípios menores.

Além disso, a m ineração apresenta im pacto social negativo quando

observadas as condições de trabalho. A m édia de salários no setor m inerador é

baixa, cerca de R$1.400,00 na Vale, então todo o rendim ento que o setor

m ovim enta fica concentrado em poucas pessoas, agravando a desigualdade de

renda. Ainda, o ritmo de trabalho é intenso e os trabalhadores são expostos a

situação de risco e insegurança, sendo que a m ineração é o prim eiro setor no

ranking de acidentes de trabalho no Brasil (MTE, 2019).

Brum adinho é a segunda cidade m ineira em que o setor m ineral

em prega mais trabalhadores no m ercado form al, ficando atrás som ente de

Congonhas, com o o gráfico 2ilustra. Todavia, é im portante ressaltar que a

geração de em prego está atre lada à concentração de renda, com o m ostra o

gráfico 3 ao retratar m uitas pessoas ganhando pouco e poucas pessoas

ganhando muito.

Gráfico 2 - Participação do setor extrativo m ineral na geração de em pregos

formais.

Participação do setor extrativo mineral na geração de empregos formais (2018)

45%

40%

Congonhas Brumadinho Mariana Ouro Preto Itabirito

Fonte: MILANEZ. 2019, n.p.

Page 36: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

34

Gráfico 3 - Distribuição de faixas salariais dentro do setor extrativo em Brumadinho.

Fonte: MILANEZ. 2019, n.p.

O município de Brumadinho, como outros pequenos municípios onde

estão presentes empresas mineradoras, tem economia majoritariamente

aquecida pela atividade mineradora. Conforme a Constituição Federal prevê,

65% da CFEM é destinado aos municípios, e em 2018 a cidade foi a sétima em

Minas Gerais que mais arrecadou a Compensação Financeira pela Exploração

de Recursos Minerais. Em Brumadinho a arrecadação pelo CFEM corresponde

a quase 60% das receitas do município. Na fala do vice-prefeito Leônidas

Maciel "Temos saúde de qualidade, escolas de boa referência, e isso é fruto do

dinheiro arrecadado”. (O TEMPO, 2019, n.p.)

Ainda, para o consultor de relações institucionais da Associação de

Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig), Waldir Salvador,

cerca de 65% do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias) é

proveniente da atividade mineradora, seja direta ou indiretamente, de tal forma

que impacto na exploração mineral influencia em uma longa cadeia para outros

setores da sociedade.

3.1 De uma tragédia à outra

Como consequência da exploração mineral, em 5 de novembro de

2015 ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG),

Page 37: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

35

pertencente à m ineradora Samarco, da qual a Vale do Rio Doce detém 50% de

posse. A té então foi considerado o m aior desastre socioam bienta l do país, e

um dos m aiores da história mundial, com 45 m ilhões de m etros cúbicos de

rejeitos sendo lançados no m eio am biente deixando rastro de 600 km de lama

na Bacia do Rio Doce, além de m orte de 19 pessoas e destru ição de Bento

Rodrigues, um distrito com população estim ada de 600 habitantes. (BRASIL,

2015).

No rom pim ento de Fundão, a Vale tentou a todo custo se

desvencilhar da m ineradora Samarco. No dia 11 de novem bro de 2015, uma

sem ana após a tragédia, M urilo Ferreira, o presidente da m ultinacional na

época, dá o seu prim eiro depoim ento à im prensa e d iz:

Gostaria de explicar que a Samarco não é uma parte da Vale. A Samarco é uma empresa independente, tem sua governança própria, e as decisões da empresa ocorrem no Conselho Administrativo. Nesse momento de emergência, nós nos fazemos presentes para ajudar a prestar o apoio. (Ragazzi e Rocha, Brumadinho: a engenharia de um crime, p. 64.)

Todavia, a proxim idade da Vale com a Sam arco - logo, a

responsabilidade da m ultinacional no rom pim ento - é inegável. No C onselho

Adm inistra tivo citado pelo Presidente, a Vale possuía cinco cadeiras, e no

Conselho de G overnança possuía 2 cadeiras. Não há decisão que a Vale

desconhecia. Além de ser uma das donas da Samarco, a Va le também

utilizava a barragem de Fundão para destinar rejeitos da exploração de um dos

seus em preendim entos, a m ina da Alegria. (RAGAZZI e ROCHA, 2019).

Para se recuperar do desgaste que teve após o crim e de M ariana, a

Vale aplicou uma série de estra tég ias para m anter sua imagem. Fez

cam panhas m idiáticas e se aproxim ou do poder público para evitar sanções.

Cerca de 7,5% do PIB m ineiro era proveniente da ativ idade m ineradora,

entretanto esse valor teve queda para 5,6% no prim eiro trim estre de 2016, em

decorrência do rompim ento, segundo dados da Fundação João Pinheiro (FJP,

2016; apud RAGAZZI e ROCHA, 2019). Adem ais, o governo tem ia que a crise

m ineradora gerasse mais consequências econôm icas negativas, como

desem prego em massa, e por isso não hesitou em apoiar as cam panhas da

m ultinacional.

Page 38: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

36

A om issão do poder público para com o crim e de M ariana chega a

ser vergonhosa. Nenhum a Com issão Parlam entar de Inquérito (CPI) foi

instalada para apurar as causas do desastre em Mariana, nem pelo governo

federal nem pelo estadual. A parceria do ente público com o privado faz sentido

quando se observa que a Vale financiou cam panha de 257 agentes políticos

nas eleições de 2014, entre deputados federa is e estaduais, senadores,

governadores e inclusive presidenciáveis (RAGAZZI e ROCHA, 2019).

Em 2017, com um novo Presidente, nova gestão e interlocução com

poder executivo, a Vale recupera sua imagem, ganha de vo lta confiabilidade e

recupera o grau de investimentos. Além disso, a m ultinacional havia

inaugurado recentem ente a m aior m ina de exploração de sua história, o

Com plexo S11D, em Carajás, no Pará. Esta m ina tem o m inério de ferro mais

puro do mercado, e era m isturado com o m inério de ferro de M inas G erais para

ser exportado com valor mais elevado. A prosperidade não para por aí. O

contexto m undial estava muito favorável, o preço da tonelada de ferro teve

aum ento de 39 dólares para 70 dólares, e as ações da Vale tiveram valorização

de 258% em 2018 (RAGAZZI e ROCHA, 2019).

A m ina do Córrego do Feijão estava prevista para se exaurir em

2011, e a da Jangada em 2014, am bas em Brumadinho. Todavia, para

aproveitar os bons ventos e aum entar ainda mais os lucros, a Va le com eça a

projetar a expansão da produção de am bas as minas. O m om ento era de muita

euforia e entusiasm o, até que no dia 25 de jane iro de 2019, 3 anos após o

rom pim ento em Mariana, outra barragem se rompe, no Córrego do Feijão em

Brumadinho.

Há uma sensação inevitável de déjà-vu. Três anos e 12 semanas antes, em 2015, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (...) A lama despejada naquela tragédia pela mineradora Samarco e por suas controladoras, a anglo- australiana BHP Billiton e a Vale, ainda escorre quando a barragem I, de Brumadinho, estoura. De novo, a Vale. De novo, em Minas." (RAGAZZI e ROCHA, 2019, p. 21.)

M orte em larga escala, destru ição am biental, om issão do poder

público, am bição, lucro e negligência do setor privado são elem entos presentes

nos dois episódios. Além disso, se repetem personagens, desculpas e práticas

crim inosas (RAGAZZI e ROCHA, 2019). Esse contexto faz culm inar uma

certeza: não foi acidente!

Page 39: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

37

O rom pim ento em M ariana teve im pacto am biental imensurável, já

em Brum adinho o desastre hum anitário foi m uito pior. Em setembro, contam -se

270 mortos, entre trabalhadores da Vale e terceirizados, m oradores do Córrego

do Feijão, hóspedes, funcionários e proprietário de uma pousada, e qualquer

outro cidadão desafortunadam ente que circulasse perto da barragem no

horário de alm oço daquela sexta fe ira fúnebre. Relatórios sobre a instabilidade

da barragem foram emitidos, ela estava insegura e os gestores da Vale sabiam

disso, todavia, o pouco caso com a vida hum ana foi tam anho que nenhum

alerta foi dado às pessoas que estavam ali "Assim com o na tragédia de

Mariana, a m orte em Brum adinho chegou devastadora e silenciosa. Nenhum a

sirene de alerta foi d isparada." (RO CHA E RAGAZZI, 2019, p. 24).

Eram 270 pessoas, tinham fam ílias, amigos, sonhos e uma vida

inteira pela frente. A lama chegou de surpresa, levou corpos e levou sonhos,

deixou tristeza e solidão para quem ficou. "No m unicípio de 37 mil habitantes,

(...) o rom pim ento da barragem do Córrego do Feijão desencadeou uma

epidem ia de tristeza até então incurável" (RO CHA E RAGAZZI, 2019, p. 60).

Todos perderam algum parente ou pessoas conhecidas que foram dilaceradas

pela lama. "Ninguém parece ter escapado ileso do corte jo fúnebre im posto pelos

m ilhões de m etros cúbicos de lama" (RO CHA E RAGAZZI, 2019, p. 60).

O desastre está entre os m aiores envolvendo rejeitos de m ineração

no Brasil, e configura-se com o desastre industrial, hum anitário e am biental. A

lama, além de envo lver centenas de corpos sem vida, contam inou solo e água,

destruiu casas e imóveis, matou anim ais de criação, fez adoecer a população,

causou um enorm e im pacto am biental. A m orte do Rio Paraopeba e do

Córrego do Feijão deixou populações desabastecidas, povos e com unidades

trad icionais perderam seu m odo de vida, seu sustento. R ibeirinhos não podiam

mais pescar, agricu ltores não tinham água limpa para plantar, indígenas

tiveram seu Deus, o rio, m orto pela lama.

A receita m unicipal foi com prom etida, além disso, o desastre mudou

a d inâm ica econôm ica e social da localidade, e os sobreviventes viram -se

obrigados a se adaptar a essa nova realidade. M uitos funcionários foram

mortos, e outros tanto que tinham condições para tal se viram obrigados a

deixar a cidade. M uitas pessoas que tinham situação econôm ica confortável se

Page 40: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

38

tornaram vulneráveis, pois perderam sua fonte de renda e m eios de produção.

Outras que já eram vulneráveis tiveram sua situação agravada.

Além do com prom etim ento de ativos e das rendas individuais das

famílias, a tragédia surtiu efeitos negativos ao longo de toda a cadeia de

produção na econom ia local. O setor mais abalado foi o m inerador. Contudo, a

agricultura, pesca, e pecuária foram inviabilizados em grande parte da região

que teve solo e água contam inados. Ademais, houve um forte impacto nos

setores de com ércio e prestação de serviço, que eram frag ilizados pois

dependiam da m ineração para funcionarem . A ativ idade de turism o também foi

prejudicada, com queda em entradas nos hotéis, pousadas e outras form as de

acom odação na cidade, bem com o redução no núm ero de turista que visitam

atrativos naturais da região, e o Inhotim, m aior museu a céu aberto do mundo

localizado na cidade de Brumadinho.

A situação em Brum adinho era de calam idade pública e não havia

espaçopara om issão do poder público nem da em presa crim inosa responsável

pela tragédia. A partir de agora, vam os tratar então do papel do Estado na

resposta im ediata e na reparação de danos após o rom pim ento da barragem,

mais especificam ente, o papel da Assistência Social.

Cabe antes ressaltar que, apesar do em prego constante dos term os

"tragédia" e "desastre", os quais evocam um sentido de acidente, o rom pim ento

da barragem do Córrego do Feijão não será encarado como um evento fortuito

ou aleatório. Como bem traduzido em um estudo sobre o rom pim ento da

barragem de Fundão, em M ariana

pretende-se desnaturalizar aocorrência do episódio, pois “acidente” tende aexpressar uma visão de evento fortuito, sem causas ou responsabilidades. Por isso, busca-se suadeterminação/causalidade em explicações mais complexas, a partir das relações sociais estabelecidas pelomodelo de desenvolvimento capitalista do país como responsável pela ocorrência, além de práticas gerenciais das empresas que precisam ser levantadas paraalém das aparências. (LACAZ, PORTO, PINEHIRO, 2016, p.2).

Isto porque sabia-se do risco de rompim ento, haviam estudos

produzidos pela própria em presa responsável Va le S.A. que contabilizavam as

vítim as que poderiam ser atingidas, os danos que o rom pim ento causaria, bem

com o os gastos que seriam depreendidos para arcar com a reparação do

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39

crime. A em presa se preparou para lidar com os danos do desastre, ao invés

de se preparar para previní-lo. Era mais in teressante deixar o desastre

acontecer do que gastar d inheiro com a segurança da barragem. Por aí

percebe-se que os valores da Vale priorizam o lucro à vida humana.

Page 42: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

40

4 ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS COMO ESTRATÉGIA DE MITIGAÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS DE DESASTRES

Qual é a função básica do Estado? Essa pergunta não adm ite uma

resposta unívoca. Na visão liberal, a função básica do Estado é de fiscalização

e correção das fa lhas do m ercado para a prom oção do bem -estar social. Já na

ótica keynesiana, o Estado deve intervir no m ercado com a finalidade de

prom over o interesse coletivo. Considerando am bas as percepções, entende-

se que cabia ao Estado atuar na prevenção de tragédias, assegurando a

segurança da população em detrim ento de qua lquer interesse privado. No

entanto, considerando os crim es com etidos pelas m ineradoras, percebeu-se a

fa lta de efic iência entre os órgãos públicos, principalm ente nas esferas federal

e estadual no cum prim ento de seu papel de controle de prevenção de riscos.

Ao contrário, pela recorrência de rom pim ento de barragens, percebe-se a

desestruturação no funcionam ento da m áquina pública e sua pouca relevância

para tom ada de decisões no setor privado.

No caso em questão sabe-se que a tragédia aconteceu, entre outros

fa tores pontuais, porque o interesse privado prevaleceu sobre o bem -estar e

interesse público. A Vale reagiu às pressões de m ercado com o lhe convinha e,

o Estado, ao invés de usar de sua suprem acia para defender a população,

resguardou interesses das classes dom inantes em um sistem a capita lista que

apesar do disfarce liberal é na verdade um "capita lism o sem riscos” para o

setor privado, que tem o Estado com o guard ião e protetor.

Pensando no cenário em ergencial e de pós desastre, quando a

função de prevenção já falhou, o papel do Estado se faz central para a

resposta im ediata e reparação de danos, o que é colocado por Rocha:

Assim, as condições de indefesa, fragilidade e desproteção, quando combinadas com um entorno instável (riscos) associado a uma falta de resposta (desamparo) por parte do Estado, levam os indivíduos e famílias ao deterioro do seu bem-estar. Esta exposição ao risco, somada às debilidades internas, particulares, paralisam a ação dos sujeitos e os impedem de qualquer possibilidade de elaborar estratégias para superar a situação de dificuldade que lhe é imposta. (ROCHA, 2016, p.50).

Ademais, outro e lem ento im prescindível para a efetiva m itigação dos

efeitos de um desastre é a articulação política, a qual é entendida com o a

responsabilização dos setores políticos para a resolução da situação de

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41

desastre. A articulação política busca apoio para projetar e desenvolver as três

etapas da adm in istração de desastres: na análise dos riscos e vulnerabilidades,

no planejam ento das respostas, e também na operacionalização que

transform a planos em ações concretas. Considerado isto, a adm in istração

governam enta l é um aspecto central da articulação política, pois fica

responsável por prover as oportunidades e obrigações dos atores envolvidos

no desastre. Ou seja, a m itigação dos efeitos do desastre depende da

capacidade da adm in istração governam enta l para a articulação política e

estratégica de reparação e gestão do desastre. O governo deve estar

articulado em suas esferas de poder e instituições, bem com o organizar,

responsabilizar, e dar oportunidade aos dem ais atores para agirem conform e

suas com petências, sejam as em presas responsáveis, a sociedade, ou

qua lquer outro a tor que possa ou deva trabalhar na resposta, reconstrução e

reparação de danos(ARAÚJO , 2012).

Ademais, Kaztman (2006) considera que o Estado é regulador da

produção e distribu ição de ativos e por ser um a fonte de ativos, representa uma

estrutura de oportunidades para além do setor privado. O autor pontua três

funções fundam enta is que o estado deve desempenhar:

i) a captação, distribuição e redistribuição de recursos à comunidade;ii) a regulação das ações, assim como a geração de incentivos e desincentivos nas outras esferas (mercado e comunidade); e iii) a vinculação entre os direitos sociais e os ativos, garantindo os “entitiements” pertencentes ao status de cidadão. (apud ROCHA, 2013, p.72).

Assim , o Estado com o fo rm ulador de políticas públicas e fornecedor

de serviços públicos influência nas oportunidades dos indivíduos conform e a

qua lidade do serviço e oferta de bens disponib ilizados para a população

(educação, saúde, segurança, proteção social, etc.) (FILGUEIRA, 2001).

Pensando nas políticas de intervenção nas situações específicas de

desastre de barragens, é im possível que o Estado avance sem antes

com preender as dinâm icas sociais da localidade, bem com o a cadeia da

m ineração, pois só assim ficará claro onde a atuação pública acontecerá de

form a a potencia lizar resultados. Para conhecer a realidade econôm ica e social

da região é necessário mais que técnicos e agentes públicos, é fundam ental

que atores locais tenham papel protagonista nas ações de reparos de danos e

Page 44: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

42

reconstrução, usando seus conhecim entos para ir além de servirem de objetos

de estudos, mas sim com o atores centrais na construção de políticas de form a

participativa, plural e integrada.

Nesse ponto, percebe-se que é papel do governo conhecer a

realidade na qual vai agir, e para isso é im prescindível que o Estado dê voz e

espaço para a sociedade ser ativa nesse processo de m apeam ento e

diagnóstico.

Além disso, o p lanejam ento é fundam ental para que a resposta

governam ental seja eficiente em situação de desastre. No caso de

Brumadinho, nem a Vale e nem os órgãos públicos tinham plano de

contingência que fosse capaz de prevenir os danos e impactos

socioam bientais, de tal form a que as proporções da tragédia são aum entadas,

piorando as vu lnerabilidades locais.

A lguns setores do Estado apresentam planejam ento detalhado de

com o operarão m ediante situações de tragédias, isso porque a recorrência de

acontecim entos de deslizam ento e alagam entos, por exemplo, possibilitaram a

form ulação de um protocolo de atuação. A Fundação Nacional de Saúde

(FUNASA) é um exem plo do preparo do M inistério da Saúde, que tem êxito ao

operar em situações de desastre. Com um "Plano de A tuação da FUNASA em

Situações de Desastre", o órgão apresenta uma estrutura de governança já

organizada, os papéis são previam ente distribuídos e os atores sabem pelo o

que são responsáveis na hora certa. Adem ais está previsto no plano a

existência de um Com itê de Gestão de Desastre e G rupos de Resposta em

Desastre (GRD) não som ente na esfera de Governo Federal, mas também

estadual, possibilitando m aior articulação política e atuação conjunta.

Ademais, a FUNASA trabalha com órgãos parceiros que m elhoram a

articulação entre órgãos do governo e trazem benefícios com o a circulação e

com partilham ento das inform ações que cada órgão dispõe. A coordenação da

FUNASA com a Superintendência Estadual da FUNASA (SUEST) e com a

Coordenação de Projetos e Ações Estratégicas em Saúde Am biental (COPAE)

é de extrem a im portância para a atuação integrada, e acontece com o poder de

acionam ento e solicitação do órgão federal sobre seus parceiros. Tal

articulação funciona também para oferecer apoio entre os órgãos. Nesse

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43

sentido, ter um fluxogram a elaborado previam ente facilita o acionam ento dos

órgãos e a suas atuações.

Com o os desastres têm especificidades, as ações não podem ser

todas planejadas antes de se conhecer a realidade e os im pactos causados.

Todavia, o levantam ento da situação do desastre pode ser previam ente

pensado, organizando as principais inform ações a serem coletadas através de

form ulários prontos. Sendo assim, a FU N ASA já tem elaborado os

questionários que precisam para conduzirem as tom adas de decisões dos

GDR's, bem com o as ações prioritárias a serem levadas a cabo. O s custos das

ações, os pontos críticos a serem observados, e os m ateria is necessários em

cada etapa da resposta tam bém são abordados no P lano de A tuação da

FUNASA, sim plificando a ação no m om ento de tragédia.

Sabe-se das lim itações em com parar o p lanejam ento de um órgão

federal com o de um governo estadual, ainda mais quando se trata da

prestação de serviços tão diferentes, saúde e assistência social. M as acredita-

se que o exem plo da FUNASA serve para m ostrar que m esm o sendo

com plicado defin ir as ações do período em ergencial, seja na assistência social,

seja na saúde, é possível se organ izar com planejam entos e protocolos de

atuação que facilitem a governança e uma sequência lógica das ações de

resposta, reparação e reconstrução quando uma tragédia está em em inência.

4.1 Subsídios para atuação da SEDESE

A pesar da falta de um protocolo padrão, existem instrum entos que

orientam a ação específica da Assistência Social em situações de desastres e

calam idade pública. M esm o que nenhum desses m ateria is esteja voltado para

contexto de tragédias envolvendo a m ineração, é de sum a im portância analisar

os docum entos disponíveis para orientar a atuação dos agentes

socioassistencia is quando a barragem em Brum adinho se rompeu.

4.1.1 Serviço de Proteção em Situações de Calam idades Públicas e

Em ergências

Em 11 de novem bro de 2014 o Conselho Nacional de Assistência

Social (CNAS), por meio da Resolução n° 109 aprovou a T ip ificação Nacional

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44

dos Serviços Socioassistencia is. Essa conquista eleva a Assistência Social

brasile ira a um novo patam ar pois ressignifica a oferta e garantia dos

d ire itossocioassistencia is na m edida em que:

Esta normativa possibilitou a padronização em todo território nacional dos serviços de proteção social básica e especial, estabelecendo seus conteúdos essenciais, público a ser atendido, propósito de cada um deles e os resultados esperados para a garantia dos direitos socioassistenciais. Além das provisões, aquisições, condições e formas de acesso, unidades de referência para a sua realização, período de funcionamento, abrangência, a articulação em rede, o impacto esperado e suas regulamentações específicas e gerais. (BRASIL, 2014, p. 4).

Ficou resolvido a divisão dos serviços em três de acordo com sua

com plexidade, sendo eles: proteção social básica, de m édia ou de alta

com plexidade. Dentro do serviço de proteção de alta com plexidade, é

categorizado o Serviço de Proteção em Situações de Calam idade Pública e

Emergência.

Art. 1°. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, conforme anexos, organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, de acordo com a disposição abaixo:

III - Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade:

d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências. (BRASIL, 2014, p. 6)

O seguinte quadro resum e a classificação dos serviços de acordo

com a tip ificação do SUAS.

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45

Quadro 3 - Classificação da Proteção Social

PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

1. Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF);

2. Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos;3. Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para

Pessoas com Deficiência e Idosas.

PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL

MédiaComplexidade

1. Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Fa­mílias Indivíduos (PAEFI);

2. Serviço Especializado em Abordagem Social;3. Serviço de proteção social a adolescentes em cumpri­

mento de medida socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC);

4. Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias;

5. Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

AltaComplexidade

6. Serviço de Acolhimento Institucional;7. Serviço de Acolhimento em República;8. Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora;9. Serviço de proteção em situações de calamidades pú­blicas e de emergências.

Fonte: BRASIL, 2014, p. 10.Considerando a tragédia de Brumadinho, o M inistério de Integração

reconheceu a situação como calam idade pública e emergência, então o

Serviço de Proteção em S ituações de Calam idades Públicas e Em ergências foi

acionado.

Este serviço também é regulam entado pela Portaria MDS n° 90, de

03 de setem bro de 2013, que dispõe sobre os parâm etros e procedim entos

para o cofinanciam ento federal, e também sobre a finalidade de proteger as

fam ílias e indivíduos que se encontram em situação de emergência. A Portaria

traz que:

Art. 3° - São objetivos do Serviço de Proteção em Situação de Calamidade Pública e Emergência:

I - Assegurar acolhimento imediato em condições dignas e de segurança, observando as especificidades dos grupos étnicos, ciclos de vida, deficiências, dentre outras situações específicas;

II - Manter alojamentos provisórios, quando necessários;

III - Identificar perdas e danos ocorridos e cadastrar a população atingida;

IV - Articular a rede de políticas públicas e as redes sociais de apoio para prover as necessidades identificadas; e

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46

V - Promover a inserção na rede socioassistencial e o acesso, quando for o caso, a benefícios eventuais. (BRASIL, 2013).

E para a tender esses objetivos, o serviço deve assegurar: provisões

de am biente físico, com alo jam entos tem porários seguindo as norm as da

AB N T; recursos m ateriais, com o alim entação, produtos de higiene, vestuário,

local para guardar pertences, entre outros; recursos hum anos e trabalho socia l.

Este ú ltim o se realiza através de:

Proteção social proativa; escuta; orientação e encaminhamentos para a rede de serviços locais; orientação sociofamiliar; referência e contrarreferência; informação, comunicação e defesa de direitos; acesso à documentação pessoal; articulação da rede de serviços socioassistenciais; articulação com os serviços de políticas públicas setoriais e de defesa de direitos; mobilização de família extensa ou ampliada; mobilização para o exercício da cidadania; atividades de convívio e de organização da vida cotidiana; diagnóstico socioeconômico; provisão de benefícios eventuais. (BRASIL, 2014, p. 57).

4.1.2 Caderno de Orientações: S ituações de Calam idade Pública e de

Em ergência

O Caderno de O rientações é uma iniciativa do G overno Estadual,

mais especificam ente da Subsecretaria de Assistência Social (SUBAS), que

com põe a Secretaria de Estado de Desenvolv im ento Social (SED ES E). O

docum ento tem com o objetivos: estabelecer os papéis do Estado, dos

M unicíp ios e também da Sociedade Civil em situações de calam idade pública e

em ergências; além de trazer inform ações para orientar as ações dos gestores

m unicipais tanto na prevenção quanto no cenário pós desastre; e finalmente,

no âm bito da Assistência Social, in form ar com o garantir o assessoram ento

técnico e financeiro considerando a especific idade de cada situação. (M INAS

GERAIS, 2019)

O Caderno passou por atualizações e revisões desde sua prim eira

e laboração. O m odelo do Caderno usado com o instrução para atuação no

crim e de Brum adinho foi do ano de 2016, após ter sido revisado e atualizado

com inform ações que abrangessem desastres de rom pim ento de barragens

vide acontecim ento em M ariana em 2015. Antes disso, o Caderno de

O rientações estava voltado para desastres mais relacionados ao período de

chuvas, que acarretavam enchentes, inundações e desabam entos, que

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47

anualm ente geram situação de calam idade em m unicíp ios em todo o Brasil,

principalm ente na região Sudeste. Porém, m esm o após a revisão de 2016,

percebeu-se no crim e de Brum adinho que o Caderno ainda era insuficiente e

carecia de um m elhor planejam ento, principalm ente considerando a presença

de um em preendedor com o culpado pelos desastres am bientais, no caso de

Brumadinho, a em presa Vale S.A.

Sendo assim, de acordo com uma entrevistada, na m esm a m edida

que o Estado buscava respaldo para suas ações no Caderno e nas

experiências com outros desastres, percebia-se a necessidade de incorporar

novas medidas, e por isso agiam m esclando as orientações prévias com as

novas dem andas que surgiam, buscando uma atuação mais com pleta para

assegurar aos atingidos a proteção necessária. Dessa forma, ainda em janeiro,

concom itante à atuação no pós desastre, o Caderno foi sendo atualizado, mas

ainda não está em sua versão final. M eses após o desastre, uma das ações

propostas pela SUBAS em resposta ao desastre foi justam ente revisar mais

um a vez esse Caderno, tendo prazo final para ser entregue em dezem bro de

2019.

Este trabalho tem com o base de análise a versão de janeiro de 2019

do Caderno, a qual ainda não conta com alterações que foram sendo propostas

durante a atuação do Estado perante o crim e de Brum adinho. A versão

utilizada é idêntica a de 2016, e a única diferença é a data na capa.

Logo na introdução, o Caderno traz que

Cabe à União, aos Estados e Municípios assegurarem as condições para prevenir tais situações e garantir que os indivíduos e famílias, quando atingidos por calamidades, recebam a proteção necessária e tenham seus direitos assegurados.(MINAS GERAIS, 2019, p. 1).

Ainda, tendo em vista o im portante papel do S istem a Único de

Assistência Social (SU AS) em situações de calam idade e em ergência, é

reconhecido no Caderno as lim itações dos gestores m unicipais perante as

dificu ldades enfrentadas pela Assistência Social, e por isso é disponib ilizada a

estrutura estadual da SUBAS para apoiá-los. Este apoio aparece no Caderno

principalm ente através do forta lecim ento do SUAS M ineiro em parceria com os

M unicípios, dando continuidade ao trabalho que vem sendo fe ito desde 2015:

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Regularização do pagamento do Piso Mineiro de Assistência Social e a criação do Qualifica SUAS, que garante assessoramento e capacitação aos gestores e trabalhadores municipais para melhor utilização dos recursos da área. Essa parceria também será materializada na oferta de serviços regionalizados para indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade ou violação de direitos, com o Plano Estadual e Regionalização da Proteção Social de Média e Alta Complexidade. (MINAS GERAIS, 2019, p. 1).

No prim eiro capítulo do Caderno, o papel da política de assistência

social com eça a ser defin ido mais detalhadam ente, abrangendo um conjunto

de atividades de assessoram ento técnico que envolve desde a articulação

entre as três esferas de poder (União, Estado e M unicíp io) até a realização de

visitas técnicas para assessoram ento e apoio aos M unicíp ios na elaboração de

um P lano de Ação M unicipa l da Assistência Socia l.

O P lano deve traçar todas as ações necessárias para se ating ir os

objetivos desejados, e para isso os elem entos principais a serem identificados

são: o que deve ser feito, quando deve ser feito, por quem deve ser fe ita cada

ação, a justificativa de cada ação, com o deve ser feito, onde serão fe itas e o

custo necessário. Um bom detalham ento é im prescindível para o êxito do

Plano, e a SU BA S apresenta o seguinte m odelo para que os m unicípios se

embasem. (M INAS GERAIS, 2019).

Ilustração 4: Estrutura de Plano de Ação

Nome da Organização:

Responsável pelo P. A.: Date de elaboração do P. A.:

PLANO DE AÇÃOPORQUE FAZER (WHY) - OBJETIVO:

0 QUE FAZER COMO FAZER QUEM FARÁ ONDE PRAZO CUSTO

Fonte: MINAS GERAIS, 2019, p. 5.Ademais, no docum ento a SUBAS destaca a im portância do poder

público m unicipal atuar em duas frentes de trabalho: uma voltada para o

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atendim ento dos atingidos, e outra que dará o suporte técnico para a primeira

frente, cuidando das questões lega is. D ito isto, são propostos três eixos para

nortear a construção do Plano de Ação Municipal: acolhim ento das fam ílias e

indivíduos atingidos; cadastram ento das famílias; acom panham ento das

famílias. O último eixo foi atualizado com a incorporação das ações que

envolvem o em preendedor culpado pelo desastre (quando houver). Cada eixo

é descrito no docum ento e apresenta ações que o m unicípio deve tomar.

Ainda, contribu indo com o objetivo de a judar no planejam ento,

organização e auxilio para intervenção governam enta l voltada para proteção

social, a SUBAS realizou um Ciclo de Conferências Telepresencia is sobre

S ituações Em ergenciais em dezem bro de 2015, após o crim e de Mariana, com

quatro te leaulas de aproxim adam ente três horas de duração cada, tota lizando

12 horas de curso. Tal curso visa contribu ir para levantam ento de reflexões e

operacionalização das ações nas mais diversas situações de emergência. Esse

material está disponível no Youtubeeo link para acesso está no próprio

Caderno. As quatro te leaulas estão divididas pelos seguintes tópicos:

Teleaula1: Logística e organização em situações emergenciais.

Teleaula2: O papel da Assistência Social em situações

emergenciais.

Teleau la3:In tersetoria lidadee a Política de Assistência Social:

princípios para gestão e atendim ento.

Teleaula4: Como elaborar planos em situações em ergenciais.

O Caderno é bem autoexplicativo, e no que diz respeito ao

cofinanciam ento, traz inform ações que após o M unicípio enviar para o Estado

as inform ações sobre o público de atingidos, os desalojados, os equipam entos

públicos da assistência social atingidos, entre outras inform ações

em ergenciais, cabe ao G overno Estadual hom ologar o acesso ao Piso M ineiro

Variável, m ediante d isponib ilidade orçam entária. O repasse pode ser fe ito em

até três parcelas que visam a proteção da população atingida, satisfazendo as

dem andas em ergencia is por m eio de oferta de a lo jam entos provisórios,

atenção básica de m ateria is com o roupa, água, alim entação, produtos de

higiene pessoal, entre outros.

Finalm ente, ainda no prim eiro capítu lo sobre o papel da SUBAS em

situação de em ergência, é abordado o plantão telefônico, in iciativa que

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funciona no período chuvoso, de novem bro à abril, com funcionam ento

in interrupto para "apoio, orientação e atendim ento aos m unicípios com

m obilização do órgão central e das diretorias regionais” (M INAS GERAIS,

2019, p. 3).4

O Caderno traz também orientações relacionadas à Defesa Civil,

principalm ente na esfera municipal através da Coordenadoria M unicipal de

Proteção e Defesa Civil (Com pdec), o qual tem o objetivo de "contribu ir no

processo de planejam ento, articulação, coordenação e execução dos

programas, projetos e ações de proteção e defesa civil" (M INAS GERAIS,

2019, p.12). Sendo assim,

O ciclo das ações de proteção e defesa civil é estabelecido pela prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação de desastres. Nesse sentido, a principal missão da Compdec é conhecer e identificar os riscos de desastres no município. A partir deste conhecimento é possível preparar-se para enfrentá-los e gerenciá-los, com a elaboração de Planos de Contingência (Plancon), para articulação dos órgãos envolvidos nas respostas, mobilização da comunidade em risco de desastres e planejamento para atuação contingencial, além da realização de exercícios simulados de preparação para desastre. (MINAS GERAIS, 2019, p.12).

Reconhecendo que m uitos m unicíp ios nem se quer contam com um

órgão de Defesa Civil, o Caderno traz orientação autoexplicativa do passo a

passo para se criar o Compdec, anexando modelos de projetos de lei,

decretos, portarias para fac ilita r o trabalho técnico no município, que pode

som ente com ple tar os m odelos com as in form ações específicas relativas aos

documentos.

É possível que neste ponto a abordagem da Defesa Civil tenha

distanciado o le itor do real tem a a ser tratado na pesquisa, a Assistência

Social. Todavia, faz-se m ister lem brar que em uma situação de calam idade

pública é de sum a im portância que haja in tersetoria lidade na resposta

governam ental. Assim , m esmo em docum ento produzido pela SUBAS,

in form ações técnicas sobre serviços de Proteção e Defesa são fundam entais

para que o gestor m unicipal encontre em um único docum ento as orientações

4Apesar de ser voltado a desastres relacionados à chuva, o crime de Brumadinho aconteceu durante o período de plantão telefônico, porém, de acordo com relato em entrevista, esse mecanismo não foi acionado pelo município, sendo que a SEDESE foi comunicada através de outros canais, pelo sistema de Defesa Civil do Estado, e inclusive pela própria mídia, o que será tratado no próximo capítulo.

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que precisam para aderirem m odelo de prevenção do desastre, ou

desafortunadam ente, um m odelo de m itigação do desastre.

Essa integração pode ser percebida através do S istem a Integrado

de Inform ações sobre desastre (S2iD). Esse sistem a conta com banco de

dados, biblioteca virtual, arquivos digita is sobre desastres em todo o Brasil,

assim, serve com o subsídio para que os atores possam entender m elhor sobre

a d inâm ica e a gestão de desastres. A alim entação do Sistem a com novas

inform ações é de com petência do Compdec, o qual deve atua lizar a plataform a

na ocorrência de novos desastres. M anter o S istema atualizado é im portante

pois perm ite que as outras entidades que atuam na prevenção ou reparação

dos danos, acom panhem as novidades em relação às tragédias, e assim

possam se preparar e a tuar da m elhor form a possível.

A inda sobre a articulação intersetorial, no Caderno

Propõe-se a criação de um Grupo Intersetorial para planejar e coordenar a execução das ações integradas entre políticas sociais, destacadamente entre Assistência Social, Saúde, Proteção e Defesa Civil, Segurança Pública e Educação, para apoio e atendimento às famílias atingidas. (MINAS GERAIS, 2019, p.14).

A articulação é necessária, pois evita mais desgastes das famílias,

que estão frag ilizadas após um m om ento de desastre, com várias visitas e

entrevistas para diferentes órgãos. A coordenação da atuação possibilita que

as vítim as tenham seus direitos sociais atendidos de form a integral.

Como outra form a de orientação para ação municipal, o Caderno

traz o Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e

Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situação de

R iscos de Desastres, tendo em vista a m aior vulnerabilidade deste público, o

qual será tratado na próxim a seção. Já no âm bito estadual, tem -se o Decreto

n° 46.628, de 22 de outubro de 2014, que institui a Com issão Estadual de

Proteção Integral de Crianças e Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com

Deficiência em Situação de R iscos de Desastres do Estado de M inas G erais

que discorre sobre o trabalho preventivo, p lanejam ento na ocorrência de

eventos e orientação às Com issões Municipais.

Ademais, o Caderno traz explicação sobre o Serviço de Proteção em

Situações de Calam idades Públicas e Emergências, já explicado

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anteriorm ente, para orientação dos m unicípios em relação ao trabalho da

equipe técnica psicossocial na provisão dos recursos hum anos. De acordo com

o documento, as com petências dos técnicos são divid idas de form a que os

assistentes sociais são responsáveis por:

Orientar quanto a direitos sociais e acesso a serviços e benefícios; garantir a plena informação e discussão sobre possibilidades e participação dos usuários; realizar o levantamento socioeconômico; orientar e facilitar o procedimento para a retirada de documentação quando necessária. (MINAS GERAIS, 2019, p. 8).

Enquanto os psicólogos se responsabilizam por:

Avaliar e mobilizar os recursos de saúde mental disponíveis no município; possibilitar a expressão de vivencias e sentimentos, escutar de forma acolhedora, trabalhar a elaboração das perdas e reconstrução da vida, favorecer o relacionamento entre pessoas próximas e a coesão familiar; atuar no manejo das reações e transtornos decorrentes do desastre. (MINAS GERAIS, 2019, p. 8).

Ainda, o Caderno traz explicações sobre os va lores de repasse o

passo a passo de com o acessar o Serviço de Calam idade Pública. Também

discorre sobre os eventuais benefícios que as vítim as têm direito devido a

situação de em ergência, além de trazer explicações sobre a antecipação de

benefícios com o Bolsa Fam ília, e program as de transferência de renda e

m ovim entação do FGTS, abordando o papel de cada ente, com o pedir os

recursos, o local de pagamento, entre outras in form ações detalhadas.

Tam bém é tra tado o papel da sociedade civil em situação de

calam idade pública, sendo pontuado que:

O voluntário pode contribuir muito com o trabalho de Proteção e Defesa Civil, desenvolvendo ações voltadas à redução dos riscos de desastre e minimização dos danos sociais provocados por eventos adversos externo. Muitas atividades podem ser desenvolvidas periodicamente e algumas, especificamente, quando a comunidade não foi atingida por nenhum desastre (...), e durante o pós desastre. (MINAS GERAIS, 2019, p. 9).

Fora isso, o Caderno som ente traz a legislação que regula o serviço

voluntário, porém não aborda com o pode ser a participação da sociedade civil

no processo de prevenção e reparação dos danos do desastre de maneira

estruturada. Tendo em conta o referencial teórico apresentado, tem -se que o

papel da sociedade civil vai m uito além de serviço voluntário, sendo essencial

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na construção das tom adas de decisões em relação às m edidas reparativas e

m itigatórias. Dessa forma, o Caderno de O rientações carece de planejam ento

no aspecto de m elhor articulação do poder público com a sociedade civil.

Finalmente, pode-se resum ir o papel da SEDESE em situações de

calam idade pública discorrido no Caderno de O rientações por três linhas de

atuação com os diferentes níveis de governo, m apeando o que deve ser fe ito

em âm bito municipal, estadual e federa l da seguinte forma:

A SEDESE orientará os municípios sobre a importância e articulação com a Defesa Civil Municipal, a confecção e publicação do Decreto de Calamidade ou Situação de Emergência, oferta dos benefícios eventuais, manutenção dos abrigos temporários e demais provisões de atendimento da política de assistência social.

Em nível Estadual, entrará em contato com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, quando necessário, bem como com as demais políticas públicas, organizará as informações necessárias para atendimento dos Programas Federais e disponibilização do Piso Mineiro de Variável, para situação de calamidade e emergência.

Na relação com o Governo Federal fará articulação e procedimentos para o adiantamento do Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e Movimentação de FGTS e aceite Federal ao "Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências. (MINAS GERAIS, 2019, p. 8).

4.1.3 Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e

Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situação

de R iscos e Desastres

O Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e

Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situação de

Riscos e Desastres foi instituído pela Portaria Interm inisterial n° 2, de 6 de

dezem bro de 2012, com o objetivo principal de assegurar proteção integral e

reduzir vulnerabilidade perante desastres e riscos deste grupo já considerado

vulnerável por natureza. O material foi resultado do trabalho conjunto de 10

órgãos federais que sentiram a necessidade de constru ir um protocolo devido

as constantes situações de desastres naturais, agravados pela ação humana,

envolvendo principalm ente chuva. Como traz a introdução do Protocolo:

Após a grave situação de inundações ocorridas na região serrana do Rio de Janeiro no início de 2011, em uma ação

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inovadora, foi instituído um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) que contou com a articulação de dez órgãos do Poder Executivo Federal (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que o coordenou; Ministério da Integração Nacional; Casa Civil da Presidência da República; Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde; Ministério da Justiça; Ministério da Defesa; Ministério da Educação; e Ministério das Cidades), além do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, tendo como resultado a construção de um Protocolo Conjunto dirigido a populações em situação de vulnerabilidade, tais como idosos, pessoas com deficiência, gestantes e nutrizes, além de crianças e adolescentes que seencontrem na situação de riscos. (BRASIL, 2013, p. 5).

O Protocolo foi e laborado com base em docum entos de instituições

internacionais, universidades, ONG 's especia lizadas em assistência

hum anitária, e também levando em conta a experiência da Defesa Civil

brasileira. A construção do material é considerada referência internacional por

causa do caráter transversal e integrativo. A integração também é percebida

com o fina lidade do produto, pois além do objetivo de assegurar proteção

integral do público mais vulnerável, o Protocolo visa orientar agentes públicos,

agentes privados, agência de cooperação internacional e também a sociedade

civil para atuarem conjuntam ente no desenvolvim ento de ações em todas as

etapas do ciclo do desastre (preparação, prevenção, resposta e recuperação).

A elaboração foi d ivid ida em três eixos: crianças e adolescentes;

pessoas idosas; e pessoas deficientes. Entende-se que em situações

adversas, esses grupos devem ser priorizados para receber proteção

hum anitária pois tem mais chances de terem seus direitos violados. A divisão é

justificada por saber que, apesar de serem todos vulneráveis, cada grupo tem

especific idades que devem ser observadas ao serem atendidos. A prioridade é

im portante porque:

tais grupos são especialmente vulneráveis em situações de riscos e desastres, não apenas pelas consequências imediatas (riscos de morte, maior exposição a doenças e violência), mas também em curto, médio e longo prazo, com relação ao seu desenvolvimento futuro (atraso escolar, sofrimento psíquico, reabilitação motora, entre outros), no caso das crianças e adolescentes e pelos efeitos pós-traumáticos (reabilitação motora, sofrimento psíquico, fraturas, entre outros), no caso das pessoas com deficiência e idosas. Essa vulnerabilidade é tanto maior quanto menor for a idade das crianças, devido às diferenças no senso de percepção de risco, na capacidade

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motora, na utilização da visão periférica, entre outros, e quanto maior forem as debilidades, física e mental, causadas ou agravadas pelo envelhecimento, nas pessoas idosas. (BRASIL, 2013, p. 8).

Para cada um dos três grupos vulneráveis, a sessão do protocolo

traz as com petência das áreas de proteção e defesa civil, educação, saúde,

assistência social, e segurança pública, e também ações que são de

responsabilidade conjunta. Como este trabalho centra-se nos serviços

socioassistencias nas etapas de resposta e recuperação, tratar-se-á apenas as

orientações dessa área. As diretrizes que norteiam a atuação são sempre:

intersetorialidade; forta lecim ento das capacidades locais e controle social;

prim azia do poder público no atendim ento; m inim ização dos danos; não

flexib ilização dos direitos; im parcialidade; respeito à cultura e aos costumes.

Fez-se dois quadros, um para as ações de resposta im ediata e outra

para ações de recuperação, para s istem atizar as com petências e cuidados da

Assistência Socia l na ocorrência de um desastre.

Quadro 4 - Resposta da Assistência Social ao público vulnerável (continua)

Criança e Adolescente

Resposta ao público vulnerável

Pessoa Idosa Pessoa Deficiente

1. disponibilizar profissionais da rede socioassistencial para o reforço do atendimento (do público prioritário) e famílias atingidas pelas situações de riscos e desastres, quando

necessário, utilizando a realocação ou permutas de servidores, contratações emergenciais,entre outras;

2. articular as equipes da proteção social básica e da proteção social especial para inclusão das famílias (do público prioritário) nos serviços socioassistenciais, programas de

transferência de renda e benefícios adicionais, quando necessário;

3. estabelecer fluxos para o acolhimento de famílias (do público prioritário) desabrigadas e sua distribuição nos abrigos temporários, acampamentos ou outras formas de acolhimento,

sob a coordenação compartilhada com a proteção e defesa civil e o apoio das demaisáreas;

4. assegurar a permanência ininterrupta de técnico de referência capacitado, preferencialmente assistente social ou psicólogo da rede socioassistencial, nos abrigos

temporários ou acampamentos com (o público prioritário);

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Quadro 4 - Resposta da Assistência Social ao público vulnerável (continuação)Resposta ao público vulnerável

Criança e Adolescente Pessoa Idosa Pessoa Deficiente

5. encaminhar provisoriamente crianças e adolescentes com

familiares não localizados para serviço de acolhimento específico

da rede socioassistencial, mediante guia de acolhimento

expedido pela autoridade judiciária, ou, excepcionalmente

pelo Conselho Tutelar, desde que com comunicação ao Juizado e Defensoria Pública, respeitando, quando possível, a proximidade

do serviço com a comunidade de origem;

5. encaminhar provisoriamente as pessoas idosas com familiares não localizados para serviço de acolhimento específico da rede

socioassistencial, mediante guia de acolhimento expedido pela autoridade judiciária ou pelo

conselho municipal, desde que comunicada a Defensoria Pública

respeitada, quando possível, a proximidade do serviço com a

comunidade de origem;

-

6. adotar providências imediatas para localização da família nuclear ou extensa (do público prioritário) desacompanhados, com vistas à reintegração familiar;

7. acompanhar as famílias selecionadas e capacitadas para

acolherem temporariamente (o público prioritário)

desacompanhados, por meio dos profissionais do serviço de família

acolhedora ou do serviço de proteção social especial do

SUAS, e das Varas da Infância e Juventude.

7. acompanhar as famílias selecionadas e capacitadas

para acolherem temporariamente (o público

prioritário) desacompanhados, por meio dos profissionais do serviço de família acolhedora

ou do serviço de proteção social especial do SUAS.

7. acompanhar as famílias selecionadas e capacitadas

para acolherem temporariamente (o público

prioritário)desacompanhados, por meio dos profissionais do serviço de família acolhedora ou do serviço de proteção social

especial do SUAS, e da Justiça competente

8. cadastrar famílias com (do público prioritário) que tiveram suas residências danificadas, bem como as que foram acolhidas em casas de parentes, amigos ou voluntários e que

necessitam de apoio material ou psicossocial;

9. garantir a continuidade do acompanhamento no Centro de

Referência Especializado de Assistência Social - CREAS - dos adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa e suas famílias, bem como das novas situações que possam ocorrer

que demandem acompanhamento pela equipe desta unidade de

referência do SUAS;

- -

10. proceder encaminhamentos para subsidiar custos com o sepultamento (do público prioritário) ou suas famílias, inclusive mediante a concessão de benefício eventual;

11. garantir acompanhamento psicossocial para (o público prioritário) e suas famílias que tenham sofrido perdas familiares bem como proceder encaminhamentos para benefícios

sociais, quando for o caso;

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Quadro 4 - Resposta da Assistência Social ao público vulnerável (conclusão)Resposta ao público vulnerável

Criança e Adolescente

PessoaIdosa

Pessoa Deficiente

12. desenvolver ações para o retorno progressivo das atividades de rotina da rede socioassistencial, de forma a preservar a referência e continuidade do atendimento e acompanhamento dos usuários

nos serviços.

- -

12. articular com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, com base no Decreto n° 7.223, de 29 de junho de 2010, a antecipação do cronograma

de pagamento do Benefício de Prestação Continuada - BPC da assistência social enquanto perdurar o estado de calamidade pública;

- -13. tomar as medidas necessárias para garantir a antecipação do cronograma de pagamento, e mediante opção do beneficiário, o

pagamento de uma renda mensal do benefício ao beneficiário do BPC;

- -

14. acompanhar o processo de antecipação do pagamento do BPC, nos casos de estado de calamidade pública decorrentes de desastres naturais,

reconhecidos pelo Governo Federal, aos beneficiários domiciliados nos Municípios atingidos, enquanto durar a situação;

- -

15. orientar os beneficiários do BPC sobre os procedimentos adotados para o seu recebimento, a antecipação do cronograma de pagamento do benefício e a possibilidade do beneficiário optar pela antecipação de

pagamento da renda de um mês do benefício;

- -16. possibilitar meio de identificação do beneficiário do BPC que tenha perdido sua documentação para fins de recebimento do benefício e da

antecipação de uma renda mensal do benefícios.

Elaboração própria. Fonte: BRASIL, 2013.

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Quadro 5 - Ações de recuperação da Assistência Social ao público vulnerável

Criança e Adolescente

Recuperação ao público vulnerável

Pessoa IdosaPessoaDeficiente

1. restabelecer os serviços da rede socioassistencial para assegurar a continuidade e a referência do atendim ento (do público vulnerável);

2. prestar apoio nas ações de desligam ento (do público vulnerável) e suas fam ílias dos abrigos tem porários ou acam pam entos;

3. acom panhar a situação (do público vulnerável) que necessitem transferência de cidade ou de m aior atenção e m onitoram ento da rede socioassistencial;

4. apo iar as ações de registro, identificação, busca e reintegração (do público vulnerável, principalm ente com defic iência intelectual) separadas das suas fam ílias ou declaradas desaparecidas;

5. com unicar ao Poder Judiciário e ao M inistério Público casos de crianças e adolescentes órfãos ou sem referencial fam ilia r após o desastre, para encam inham entos cabíveis, na form a do Estatuto da Criança e do Adolescente;

5. com unicar ao Poder Judiciário e ao M inistério Público casos de pessoas idosas sem referencial fam ilia r após o desastre, para encam inham entos cabíveis, na form a do Estatuto do Idoso;

-

6. assegurar acolhim ento para (o público vulnerável) em institu ições que executam program as de acolhim ento institucional ou fam iliar, m ediante guia expedida por autoridade judiciária, garantindo ações voltadas à re integração fam ilia r e comunitária;

-

7. prom over o apoio, suporte e supervisão técnica para as equipes de atendim ento do SUAS.

Elaboração própria. Fonte: BRASIL, 2013.

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5 A RESPOSTA GOVERNAMENTAL NO ÂMBITO DA POLITICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Esse capítulo sistem atiza as ações desenvolvidas pela SEDESE

após o desastre, buscando com preender a natureza das ações e as

dificu ldades encontradas para desenvolvê-las. De acordo com marco teórico de

gestão de desastres, após o evento, a atuação é d ivid ida em dois períodos:

fase em ergencia l, em que entra a resposta governam enta l e de dem ais atores;

fase do pós tragédia, em que com eçam ações de m itigação para reabilitação e

reconstrução. Assim , este trabalho subdivide a atuação da Assistência Social

em período em ergencia l; e m édio e longo prazo.

De acordo com relatos dos gestores públicos, o período em ergencial

no desastre de Brum adinho com preende cerca de um mês após o rom pim ento

da barragem. Esse período é subdivid ido em duas fases, sendo que não existe

um consenso quanto ao térm ino da prim eira fase e com eço da segunda. A

prim eira fase é m arcada pelas urgências das dem andas, com o o salvam ento

de vidas e acolh im ento das vítimas. A lguns entrevistados afirmam que essa

fase mais tum ultuada dura cerca de uma semana, enquanto outros acreditam

que se estende em até 15 dias após o rom pim ento da barragem.

Já a segunda fase seria o período de ações mais estruturadas,

depois que a situação de calam idade pública foi abrandada. O marco dessa

etapa é a tard ia instituição do Com itê Socioassistencia l In tergovenam ental

(CSI), e o térm ino seria com a destitu ição naturalm ente dessa estrutura após o

retorno gradual da equipe estadual deslocada em Brumadinho.

Divide-se, pois, o período em ergencia l nas duas fases m encionadas

acima. Na prim eira fase, os prim eiros dias da em ergência serão abordados de

m aneira separada pois m uitas articulações e ações im portantes aconteceram.

Com o passar do tempo, a em ergência vai se abrandando, e a atuação será

abordada em intervalos m aiores de tempo. Dentro da divisão temporal, também

se separará a atuação por serviços mais pontuais que foram desem penhados e

pelas estruturas que foram criadas, considerando, no entanto, que essas ações

não respeitam os lim ites cronológicos aqui sugeridos, podendo transpassar por

eles.

O seguinte quadro sistem atiza as d ivisões fe itas para fac ilita r a

com preensão da estrutura do trabalho.

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Quadro 6 - Divisão das etapas do desastre de Brumadinho

DESASTREPERÍODO EMERGENCIAL PÓS DESASTRE

PRIMEIRA FASE (até duas

semanas após o rompimento)

SEGUNDA FASE (até um mês após

o rompimento)

MÉDIO PRAZO E LONGO PRAZO (segundo mês

adiante)

Elaboração própria. Fonte: relato de entrevistados.Não existe um docum ento que sistem atiza toda a atuação da

SEDESE, ou ainda, da Assistência Social, na tragédia de Brumadinho. O

processo de resposta e reestruturação estava fragm entado pelas

subsecretarias e diretorias. Dessa forma, a tentativa de juntar as inform ações

se deu através de entrevistas com gestores e técnicos, análise dos Boletins de

Im pacto Social que foram escritos na época do desastre, análise de planilhas

de O rganização e Execução das ações, e da apresentação que foi fe ita pela

Secretaria no Comitê Pró Brumadinho, a qual tinha o intuito de integrar os

dem ais atores estaduais da reparação de danos sobre a atuação da SEDESE.

É im portante salientar que quando a barragem se rompeu em

Brumadinho, a Secretaria estava passando por uma reestruturação e passou a

eng lobar a antiga Secretaria de D ireitos Hum anos e Participação Social

(SEDPAC). Com o desenvolvim ento da pesquisa percebeu-se que boa parte

das políticas de Assistência e de Direitos Hum anos eram realizadas em

parceria. Todavia, som ente perto da conclusão do trabalho ficou clara a divisão

das responsabilidades por esses dois setores. Como o foco da pesquisa é a

Assistência Social, e o tem po foi um fa to r limitante, não foi possível entrevistar

servidores da equipe de D ireitos Humanos. Dessa forma, a lguns serviços que

constam com o sendo papel da política socioassistencia l carecem de

inform ações mais detalhadas, uma vez que foram desem penhados pela atual

Subsecretaria de Direitos Humanos.

Ademais, a fa lta de registro da resposta da SEDESE com o um todo,

e também da Assistência Social foi uma grande lim itação para o

desenvolvim ento deste estudo. Prim eiramente, na coleta de inform ações

através de entrevistas, as quais se iniciaram em setem bro (oito m eses após o

desastre), o relato dos gestores se lim itavam à sua memória, de form a que

m uitas in form ações im portantes sobre os processos e ações de resposta se

Page 63: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO Escola de Governo Professor Paulo

61

perderam com o tem po que passou desde o rom pim ento da barragem.

Tam bém se percebeu a concentração de inform ações estratégicas em poucas

pessoasda equipe, sendo que grande parte apenas executava o que era

dem andado sem entender e enxergar a atuação da Assistência com o um todo.

A concentração de inform ações prejudica a integração dos serviços, além de

atrapalhar o trabalho de pesquisa.

Poucos docum entos registram as atividades desem penhadas, além

disso, o acesso a a lguns docum entos foi com plicado, devido à indisponib ilidade

e inacessibilidade de alguns gestores. Ao analisar os m ateria is, percebe-se

inconsistência de in form ações, precariedade de dados, e assim etria entre os

poucos registros e os relatos dos gestores. R egistra ram -se Boletins de Im pacto

S ocia l apenas dos quatro prim eiros dias desde o rom pim ento da barragem ,

sendo que essa ação deveria ter sido continuada por todo o período de

emergência. As reuniões que aconteciam não eram registradas em atas, de

form a a com prom eter o estudo detalhado das ações em ergencia is, m eses após

o desastre. As planilhas de O rganização e Execução não estavam

m onitoradas, im possibilitando a avaliação das entregas que foram realm ente

executadas, os prazos e a responsabilização dos atores por suas

com petências. Um a m esm a planilha era a lterada por gestores d iferentes ao

m esm o tem po, porém não de form a in tegrada, então cada um acom panhava

som ente o que era de sua com petência e não se conseguia ter um macro

m onitoram ento da execução das atividades. O banco de dados com o registro

dos form ulários aplicados aos atingidos para m apear as necessidades

em ergencia is é bastante incom pleto, dificu ltando uma análise posterior por

parte de quem não estava envolvido nos processos de atendim ento

em ergencial das vítimas.

A despeito das dificuldades encontradas para refazer a tra jetória da

reposta da SU BA S, a perspectiva tem poral não é o único eixo que organiza ou

estrutura a narrativa ou análise. Tam bém se considera com o parâm etro as

orientações previstas nos docum entos norm ativos analisados na seção

anterior. Pode-se analisar com o foi a atuação da SU BA S tendo com o base as

previsões do Serviço de Proteção em S ituação de Calam idade Pública e

Em ergência, as orientações do Caderno de O rientações: S ituações de

Calam idade Pública e de Em ergência, e atendim ento das diretrizes do

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62

Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e Adolescentes,

Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situação de Riscos e

Desastres. Ainda, é possível m apear as ações que foram criadas e as

estruturas que foram form adas no decorrer dos processos de resposta e

reconstrução, que não estavam previstas pelos docum entos que existiam.

5.1 Período emergencial: primeira fase

O período em ergencial é o período de socorro, de respostas

imediatas, que de acordo com a bibliografia, deveriam ser guiadas por planos

de em ergência e laborados previamente. Em M inas G era is existe o S istem a de

Defesa Civil do Estado que é responsável por coordenar e com andar as ações

da gestão do desastre. Esse sistem a é com posto pela Defesa Civil, Bom beiros,

Polícia M ilitar, Secretaria de Segurança Pública, SEDESE, dentre outros

órgãos estaduais. Em situações de desastre a Defesa Civil fica responsável por

acionar todos os órgãos do Sistema. De acordo com uma entrevistada, a

SEDESE "tem papel de assistência às fam ílias e aos atingidos, que é tão

im ediato quanto o papel de Defesa C ivil."(entrevista 5).

Esse sistem a prevê a form ação de um G abinete de G estão da Crise,

que é com posto pelas pessoas de alto escalão das secretarias envolvidas.

Nesse gabinete são elaboradas as operações de campo, as principais decisões

em relação a gestão do desastre são tomadas, tam bém se organizam as

inform ações oficia is que serão ou não veiculadas, entre outras atividades. A

SEDESE com pôs o G abinete de crises através da pessoa da secretária

Elizabeth Jucá, que desde o prim eiro dia participou das diversas reuniões

diárias. O G abinete de Crise em si não será objeto de estudo, som ente a

atuação em ergencial da SEDESE que por vezes foi deliberada através dessa

estrutura de gestão de desastre.

A Defesa Civil, os Bom beiros e a Polícia M ilitar têm protocolos de

ação para seguirem. Todavia, no que diz respeito aos serviços de Assistência

Social, nem o Estado nem o M unicípio estavam preparados. Assim , a atuação

do Estado no prim eiro m om ento é caracterizada pelos gestores com o

desorientada, desestruturada e bagunçada. Segundo relato de uma

entrevistada "Ninguém sabia o que fazer, por onde com eçar. F icam os tentando

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63

receber dados da Defesa Civil e dos Bom beiros pra poder in ic iar algum a ação"

(entrevista 4).

Considerando o m aterial que a Assistência Social dispunha, de

acordo com o Caderno, propõe-se que no m om ento de crise seja criado um

Grupo Intersetorial para coordenação das políticas públicas de diferentes áreas

de form a integrada. Todavia, na prática em Brumadinho, esse grupo não foi

instituído, sendo que a articulação entre os serviços e órgãos se dava de

m aneira informal, por m eio de conversas entre os atores operantes, para se

atualizarem sobre o que cada um estava fazendo. De acordo com um relato:

A atuação no período emergencial, principalmente na primeira semana, estava muito desorganizada. Nós íamos andando, tentando identificar os atores para podermos conversar, entender os papéis de cada um, e mapear os equipamentos públicos do território. (entrevista 8).

Outro entrevistado (entrevista 2)ressalta que por ser uma fase de

início de governo, m uitas pessoas ainda não se conheciam, o que dificultou

ainda mais uma articulação estratégica e integrada entre os serviços públicos.

Nesse cenário de desordem, a equipe de Direitos Hum anos recebeu destaque

nos relatos dos gestores por sua articulação intragovernam ental, e também

com grupos de voluntariados e com a sociedade civil.

Além disso, no período em ergencial as com petências de cada ente

federativo acabam não sendo respeitadas, justam ente pelo contexto de crise

estrutural que causa uma emergência. Assim , em situações de calam idade

pública, cada ente acaba "descendo um degrau" (entrevista 4) na atuação e

assum indo funções que correspondem à esfera governam ental inferior, de

form a que a União desem penha papel de Estado e o Estado desem penha

papel de Município.

(...) o Estado faz o que compete ao município, já que o Município não tem estrutura de resposta adequada na maioria das vezes, então a estrutura estadual se dispõe. No caso de Brumadinho, a própria secretária de Assistência Social morreu na tragédia, então estavam todos muito desestabilizados para agirem. O papel de atendimento às vítimas é de competência municipal, mas é claro que nesse caso a cidade toda era vítima, então além de a equipe não ser suficiente para lidar com o tamanho do desastre, eles não tinham condição mental naquele momento. Por isso não somente o atendimento às vítimas, mas outros serviços, como de cadastramento foi realizado pela SEDESE. (entrevista 4).

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SEDESE ultrapassou sua função já que a equipe municipal tem um problema grave, pois a secretária de Assistência Social foi uma das vítimas e teve que ser substituída rapidamente por uma outra pessoa. Por isso a SEDESE ocupou alguns espaços que não são próprios do Estado, desempenhou a função de Município, como por exemplo ir a campo e realizar cadastramento. (...) Todo mundo da prefeitura estava muito abalado com a situação pois perderam parentes amigos e conhecidos. (entrevista 5).

Como se percebe nos relatos acima, a desestruturação da equipe

m unicipal é uma forte característica do período de emergência. Com a morte

da secretária de Assistência, o cargo ficou uma sem ana vago. P or isso, como

será m elhor explicado a frente, a SED ESE acaba tendo atuação essencial na

reestruturação dos serviços e apoio à equipe municipal. Conform e a equipe

m unicipal vai se recom pondo e os serviços vão sendo restabelecidos, a equipe

do Estado retorna a suas funções mais técnicas e de assessoram ento, que são

m elhores percebidas nas atuações de m édio e longo prazo. Ou seja, em todo o

período em ergencial, para além de sua função original, o Estado desem penhou

papel de município, e quando a em ergência acaba o Estado retorna a suas

com petências normais.

5.1.1 Os prim eiros quatro dias

Como dito anteriorm ente, a SEDESE integra o S istema de Defesa

Civil de M inas Gerais, então m inutos após o rom pim ento a secretária já havia

sido acionada e se deslocou junto com a prim eira equipe do Estado para o

local do desastre. A equipe contava com Bombeiros, Policiais M ilitares, e

outros agentes que integram o Sistema. Juntam ente com a secretária também

foi para Brum adinho uma assessora de gabinete, e uma superintendente de

Direitos Hum anos, as quais vam os cham ar de equipe A. Pouco tem po depois,

mais dois m em bros da SEDESE também foram deslocados, sendo am bos da

SUBAS, um superintendente, e uma diretora, que vam os cham ar de equipe B.

Foram entrevistadas quatro pessoas dessas duas equipes. De acordo com

uma entrevistada, que foi uma das deslocadas "A gente não sabia a proporção,

mas já tinha um histórico de Mariana, que foi uma tragédia também muito

grande, então a prim eira ação da Secretaria foi m obilizar uma equipe e ir para

lá" (entrevista 4). A prim eira equipe deslocada tinha papel de fazer uma análise

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65

prévia do desastre para posteriorm ente m obilizar o resto da equipe que seria

necessária.

Os gestores que continuaram na Secretaria acom panharam o

desastre principalm ente pela m ídia televisiva, para tentar entender a m agnitude

da tragédia, e concom itantem ente já foram pensando algum as ações de

resposta. Antes de partir para Brumadinho, uma servidora, que estava

envolvida no desastre de Mariana, teve tem po de alertar a equipe que ficou na

sede sobre a im portância de se elaborar um questionário para m apeam ento

em ergencial dos atingidos. Contudo, as inform ações e orientações ainda eram

muito confusas nesse prim eiro momento, de acordo com relato de um

entrevistado:

A gente pensou em acionar a Defesa Civil, Bombeiros e tudo mais, para ver como estava o processo, por que a gente sabe que nesse período emergencial a maior responsabilidade é deles, e por isso eles tem mais informações. A gente buscou alguns contatos, era início de governo, muita gente não se conhecia ainda, inclusive os próprios secretários. Aí eu lembro de ter conversado com uma pessoa da Defesa Civil que já era conhecida nossa pra saber qual era o protocolo, como que funcionaria nossa atuação. (entrevista 2).

Enquanto isso, o transporte da equipe B chega praticam ente junto

com o carro que trazia a Secretária, os outros integrantes do sistem a de

Defesa Civil, e a equipe A. Concom itante a isso, chegam também outros entes

governam entais, e todos os tipos de serviços. Am bas equipes se deslocam

para a Faculdade ASA, jun to com a m aioria dos atores que estavam chegando.

As pessoas ainda estavam chegando, Corpo de Bombeiros, Policiais, Defesa Civil, órgãos federais. Esses órgãos, principalmente de segurança já tem um protocolo, modo de atuação, também já tinham ideia da magnitude do desastre, então já se deslocaram para o local. (entrevista 6).

Quando chegou tava tudo muito confuso, tinha acabado de acontecer, ai fomos para faculdade ASA, onde tava sendo montado o ponto de apoio. Nem a própria Defesa Civil tinha noção ainda da quantidade de vítimas. Mas eles tinham protocolo, então começaram a organizar o protocolo de atendimento das vítimas. Enquanto Assistência Social começou a pensar no planejamento para acolhimento de vítimas. (entrevista 4).

Na faculdade, uma sala foi separada para que o Gabinete de Crise,

também denom inado Centro de Com ando e Controle, se reunisse. As reuniões

se estenderam por todo o dia, e a secretária se ocupou com isso. Entre as

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66

m edidas de em ergência que eram planejadas no gabinete, com o ações de

socorro e salvam ento de vidas, foi e lencada novam ente a im portância de se

fazer um questionário5para identificação das vítimas, com o relata uma

entrevistada

Uma sala na Faculdade ASA era para reunião de gabinete de crise que aconteciam de manhã, de tarde, e de noite. Em uma das reuniões da ASA em que estavam presentes município, secretarias estaduais, e mais órgãos, veio essa demanda de identificação das pessoas. Eu e a (gestora 5), que somos técnicas, já tínhamos noção da importância de se organizar as informações desde o primeiro momento. Então já tínhamos dito isso para secretária, e essa mesma demanda chegou novamente pelo gabinete. (entrevista 6).

Enquanto o Gabinete de Crises se reunia incansavelm ente, a

equipe da SEDESE atuava no sentido de entender o cenário inicial para

estabelecer as prim eiras m edidas em ergenciais. A equipe B se deslocou para a

Q uadra de Esportes, onde estavam chegando m uitas doações, de alimentos,

roupas, produtos de hig iene,entre outros. Tam bém chegavam fam ílias em

busca de inform ações de desaparecidos, e voluntários para a judar no m omento

de em ergência. Assim , os gestores contribuíram para a organização do espaço

físico, orientação a respeito das diretrizes para acolhim ento das pessoas, tanto

para os voluntários quanto para agentes governam entais, enquanto já realizava

o acolh im ento de fam ílias6.

A faculdade estava lotada de pessoas transitando, eram m uitos

serviços e políticas públicas em um m esm o lugar, sem contar com os

voluntários que também chegavam em grande quantidade, já que as portas da

faculdade estavam sem pre abertas, o que contribuía para a desorganização do

ambiente. Tam bém chegavam m uitas pessoas a procura de inform ações, e a

Assistência Social não tinha um local separado para fazer o devido acolhim ento

aos atingidos. Então, com o intuito de preservar a saúde mental dos ating idos e

respeitar o m om ento de pânico e luto, sentiu-se a necessidade de separar uma

5Tendo em vista a relevância da ação de aplicação de questionários que mapeassem os atingidos e suas necessidades emergenciais, dedicar-se-á um tópico exclusivo para tratar de como aconteceu esse processo desde a elaboração até o uso final desse registro.6A prestação dos serviços de emergenciais abrange uma atuação mais complexa, e por isso também será tratada em sessão separada, a qual abrangerá o Serviço de Proteção em Situação de Calamidade Pública e Emergência ao decorrer de todo o período emergencial, e não só nos primeiros dias.

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sala para que a Assistência pudesse receber essas pessoas de form a mais

tranquila.

Era momento que as famílias estavam procurando as escolas. A gente tinha que separar um ponto de acolhimento da Assistência Social do resto das operações que estavam saindo do mesmo lugar, e eram mais práticas, voltadas para coordenar e enviar as equipes a campo. Sentimos a necessidade de separar o ambiente das famílias que vinham atrás de informações e estavam muito abaladas emocionalmente.(entrevista4).

Ao anoitecer, as reuniões do Gabinete de Crise da sexta-feira

term inaram . Foi quando finalm ente a equipe de Assistência Social estadual

conseguiu identificar quem era a pessoa referência do serviço socioassistencial

no âm bito municipal, já que a secretária era uma das vítim as fa ta is do crime, e

a referência esteve o dia todo participando do Gabinete de Crise. A equipe

aproveitou o m om ento da noite para se jun ta r também com representantes da

Vale, da Defesa Civil, outros gestores m unicipais e com voluntários. Nessa

reunião ficou claro a necessidade de se produzir um fluxo para atendim ento

das vítimas, bem com o com eçou a ser desenhada a prim eira versão do

form ulário para registro em ergencial dos atingidos.

(...) desenhamos um fluxo no papel, desde a chegada da família,passando pela destinação dela para hotel, até o produto final que seria o registro de informações daquela pessoa ou família. Então formamos este fluxo e definimos quem era responsável pelo o que, o município já tinha algumas pessoas que poderiam ficar responsáveis por preencher esse registro, e a SEDESE entraria com apoio de pessoas para ajudar no registro. Isso tudo em um mesmo espaço que a Vale para já fazer o encaminhamento para os hotéis. (entrevista 6).

A organização do fluxo com preendia ações entre os atores

envolvidos, destacando-se a articulação entre a Vale e o Município, sendo que

a participação da SEDESE na elaboração se justifica pelo assessoram ento

técnico que ela deve prestar à rede municipal. O fluxogram a foi pactuado entre

Governo do Estado (com anuência do Tenente Coronel Flavio, coordenador

adjunto da Defesa Civil), M unicípio e em presa Vale, com coordenação da

Secretária E lizabeth Jucá.

Outras pautas da reunião eram a respeito da organização de outras

m edidas em ergenciais, com o a organização espacial para os atendim entos das

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demandas, a locação de doações, atendim ento psicossocial às vítim as e

fam iliares. De acordo com boletim do dia 25 de jane iro de 2019:

A organização do espaço foi definida pelo município junto à Vale: Quadra de Esportes foi o local destinado a receber doações, realizar cadastro de voluntários, atendimento psicossocial e repasse de informações. A Estação do Conhecimento (espaço da Vale) foi destinada para realizar o cadastro e fornecer informações de vítimas, desaparecidos, localizados e resgatados, contando também com acolhimento por psicólogos e assistentes sociais. A Faculdade ASA continuou a ser a sede do Gabinete de Crise e tornou-se também espaço de trabalho e reuniões do Estado, Município, Vale e atores convidados. (Boletim de Impacto Social, 25 jan. 2019).

Percebe-se que ações que vinham sendo realizadas durante o dia

foram deliberadas à noite, ou seja, a atuação da Assistência Social com eçou a

ser organizada e planejada depois de já terem se iniciado os serviços de

atendim ento. Dessa forma, as reuniões serviam para a justar uma atuação que

não era prevista em protocolo, e por isso dependiam da experiência dos

gestores e de sua capacidade de agir.

No segundo dia após o rompim ento, a subsecretária e mais dois

técnicos da SUBAS (uma assistente social e um psicólogo) se deslocam para

Brum adinho (será denom inada equipe C). Segundo um entrevistado, que era o

psicólogo da equipe C, o papel que desem penharam logo que chegaram em

Brum adinho foi de acalm ar e baixar a ansiedade das pessoas, que estavam

bastante am edrontadas. Adem ais, se juntaram à equipe B para conversarem

com os outros atores afim de coordenar as ações e entender os papéis de cada

um, para explicar as dem andas para a equipe da SEDESE que estava na

Secretaria, em Belo Horizonte.

(...) estávamos exercendo o papel de uma ponte de informações do que estava acontecendo para a Subsecretaria de Assistência Social. Fazíamos meio de campo juntamente com Bombeiros e Polícia militar para entender o que estava acontecendo.Tínhamos dificuldade em entender como seria a atuação da SEDESE perante uma situação de desastre. (entrevista 8).

Na m adrugada de sábado, a prim eira versão do questionário

produzido em reunião na sexta já com eçou a ser aplicado, e os

preenchim entos se estenderam durante todo o dia, em diferentes localidades:

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na quadra de esporte, em Casa Branca, na Estação do Conhecimento, e por

mais onde estivessem espalhados os atores.

Foram realizadas visitas in locona quadra de Esportes, na Estação

do Conhecim ento e em Casa Branca para continuar os processos de

reconhecim ento territorial, conversas com os atores (população, voluntários e

órgãos públicos) e m onitoram ento dos principais pontos de atendim ento

supracitados.

(...) no segundo dia começamos a monitorar os pontos de atendimento, fizemos visitas inloco,conversávamos como os responsáveis pelas atividades, identificamos gargalos e demandas. Algumas demandas já tinham sido encaminhadas para Vale porém não tinham sido atendidas. Então nós fazíamos a articulação para conseguir solucionar os problemas. Atuamos com o monitoramento de problemas operacionais para serem resolvidos na hora, reforçando demandas, ajudando a organizar o que precisava ser feito com prioridade. (entrevista 8).

Essas visitas eram im portantes para identificar gargalos a serem

superados em relação ao atendim ento em ergencia l ao atingido. A relação com

a Vale foi estre itada através de reuniões durante os dias, as quais contavam

com a presença do M unicípio e do Estado. Graças a essa articulação com a

empresa, a execução de m uitas ações em ergencia is foi realizada de m aneira

tempestiva, com o a disponib ilização de transporte para a aplicação de

questionários em localidades mais afastadas.

O segundo dia foi m arcado também pelas inform ações

desencontradas e fa lta de integração entre as várias listas de desaparecidos e

mortos. A Vale tinha uma lista, e os Bom beiros tinham outra, sendo que os

bom beiros levavam em consideração os requisitos para considerar um

indivíduo desaparecido. As pessoas iam em diferentes lugares atrás de

informações, com o na quadra e na Estação de Conhecimento, e tinham

notícias diferentes, a lgum as pessoas constavam em uma lista e na outra não.

O utro ponto que gerava angústia e sofrim ento era que m uitas fam ílias não

encontravam os nom es das pessoas que buscavam em nenhum a das listas,

m esm o com as atualizações constantes dos docum entos. E com o já era o

segundo dia de rompim ento, quem ainda não tinha sido encontrado tinha

grandes chances de estar morto. Como relatado por uma entrevistada,"as listas

eram atualizadas e m esm o assim vários nom es não constavam e isso causava

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70

muita angústia e sofrimento. A inconsistência da inform ação gerou um clima

muito difícil para a equipe socioassistencia l trabalhar." (entrevista 6).

A equipe de assistência social m unicipal continuava muito

frag ilizada, por isso, o apoio em ocional que a equipe da SED E SE realizava se

expandia para além dos pontos de acolh im entos, e atendia os próprios

gestores m unicipa is, os quais também eram vítim as da tragédia, pois haviam

perdido parentes, conhecidos, amigos, entre outros. Uma entrevistadarelata

que "no segundo dia a m inha ação principal foi sentar com assistente social do

m unicípio em um banquinho segurar na mão dela e abraçar enquanto ela

chorava."(entrevista 6).

No final do segundo dia, a equipe da SEDESE, que já havia se

reunido com Vale, M unicíp io e voluntários, também se reuniu com a Defensoria

Pública Estadual para explicar o que estava sendo fe ito a té então, e a linhar as

ações de form a intergovernam ental. Percebe-se que, pela quantidade de

reuniões e visitas em campo, o segundo dia foi de m uitos esforços voltados

para a coordenação das atividades, não som ente entre o governo, mas

também com os voluntários, sociedade civil.

No terceiro dia após o rompim ento, dom ingo dia 27 de janeiro, houve

um alerta de nível 2 de rom pim ento de uma segunda barragem em

Brumadinho, o que aum entou o pavor da população e também assustou os

atores que estavam trabalhando na cidade. Tendo em vista o cenário caótico,

fo i planejado e posto em execução força tarefa para lidar com o alerta,

registrando as fam ílias que seriam evacuadas da sede de Brumadinho.

O m onitoram ento das unidades de atendim ento se intensificou desse

dia em diante, sendo que no dom ingo o ponto em Casa Branca teve mais

atenção, e na segunda-fe ira o Córrego do Feijão fo i identificado como

prioridade para atuação do Estado junto ao M unicípio. Tendo em vista a

quantidade de fam ílias que ainda estava sem atendim ento, foram defin idas

equipes para irem a cam po ap licar os questionários de atingidos, o qual se

expandiu para o Córrego do Feijão, para hotéis da região, e também Parque da

Cachoeira, além de continuar a ser realizado em grande escala nos outros

pontos de atendim ento que já estavam cadastrando as pessoas.

Nos dias que se sucederam, a rotina de reuniões continuava. A

SEDESE se reunia com o M inistério Público, Prefeitura de Brumadinho,

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71

Defensoria Pública Estadual e da União, para d iscutir o plano de ação ainda

muito frágil, a linham ento da atuação entre os órgãos, e defin ição das

prioridades de ações nas áreas de Assistência Social e de Saúde.

Com os m esm os atores, e adicionando a presença im portante do

M ovim ento de A ting idos por Barragem (M AB),tam bém foram realizadas

reuniões, e na terça-fe ira (29 de janeiro) discutiram -se adequações no

form ulário de levantam ento de inform ações prelim inares sobre as pessoas

atingidas pelo rom pim ento da barragem .

5.1.2 Resposta à população afetada segundo as orientações norm ativas

Nesta seção, busca-se analisar a resposta im ediata da Assistência

Social, trazendo em que m edida a realidade prática atendeu as orientações

norm ativas dos poucos instrum entos que os serviços socioassistencias tinham

para se respaldar. Dessa form a, atuação será contraposta com os três

aparatos ana lisados no capítulo anterior. Esta análise com eça na prim eira fase

do período em ergencial, pois é quando se inicia o acolhim ento das vítim as e

outras ações imediatas, todavia, a análise à luz das norm ativas se estende até

o m édio prazo.

O Serviço de Proteção em S ituação de Calam idade Pública e

Em ergência d iscorre sobre as prim eiras provisões que a atuação de resposta

deve observar para garantir atendim ento adequado às vítim as. De acordo com

a, a atuação deve ser norteada para o cum prim ento de cinco eixos:

acolhim ento im ediato que respeite as especific idades do público; provisão de

am biente fís ico para a locar os atingidos, quando necessário; identificar, através

de cadastram ento, as necessidades imediatas, bem com o as perdas e danos;

fazer articulação das políticas públicas e redes sociais para sanar as

necessidades identificadas; inserir os atingidos na rede socioassistencia l e, se

fo r o caso, prover benefícios eventuais.

Ainda, fazem parte da resposta em ergencia l o acesso a inform ação

dos direitos dos atingidos, acesso à docum entação pessoal, m obilização para

exercício da cidadania, atividades de convívio e organização da vida cotidiana.

Para prestar esses serviços são necessários recursos m ateria is e recursos

humanos.

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72

O prim eiro passo é o acolh im ento que se estabelece assim que as

equipes da SEDESE se deslocam para Brumadinho, logo no prim eiro dia.

O bservando as orientações do Caderno, a recepção das vítim as em um

m om ento tão com plicado deveria se dar através de uma proteção social

proativa, quando duas carre iras são de extrem a im portância: os assistentes

sociais e os psicólogos. Os psicólogos são responsáveis pelo m anejo das

em oções e das relações entre as pessoas, através de uma escuta ativa e

espaço para expressão dos sentim entos e da dor, devem trabalhar a perda e

os possíveis transtornos decorrentes do desastre, e também devem m obilizar

os recursos de saúde mental d isponíveis no município. Já os assistentes

sociais são os responsáveis por atuarem na escuta atenta e encam inham ento

das fam ílias segundo suas necessidades, orientação sobre os serviços

socioassistenciais, sobre os d ireitos e benefícios dos atingidos, também devem

dar inform ações plenas para perm itir participação no processo de resposta.

Todavia, analisando o acolhim ento das vítim as em Brumadinho,

percebe-se que essa divisão não faz m uito sentido na realidade. A fa lta de

organização prejudicou bastante o atendim ento em ergencial, pois as próprias

equipes da SEDESE não estavam preparadas para atuar, não conheciam com

tota lidade suas funções e não sabiam exatam ente com o exercê-las, além de

que a equipe estava reduzida por causa de uma dem issão em m assa no início

do ano. Então se m uitos se deslocassem para Brumadinho, a Secretaria ficaria

vazia, o que com prom eteria o desem penho das funções da Assistência no

Estado.

A equipe estadual de técnicos não tinha psicólogos e assistentes

sociais suficientes para fazer o acolh im ento devido, e a equipe m unicipal

estava com pletam ente desestruturada. Dessa forma, os gestores que se

deslocaram para o território atuavam por instinto e pela experiência que

possuíam em desastres. As funções não estavam bem defin idas com o aparece

no papel, e os poucos técnicos da área se desdobravam para orientar os

gestores sobre o acolh im ento ao m esm o tem po em que já acolhiam as famílias.

A atuação não estava integrada com outras áreas, e no prim eiro m om ento não

se conhecia os atores de outro entes e setores responsáveis por cada

atividade, tam pouco a rede de estruturas disponível para encam inham entos

das vítimas, com o relata um entrevistado:

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73

Quando a gente chegou, não estava claro como iríamos atuar. Passamos muitos dias tentando identificar atores e mapeando os equipamentos públicos da rede municipal. A equipe não estava preparada e acolhíamos as vítimas pelo feeling, tentávamos confortar, e também orientar sobre os serviços, só que nós também não conhecíamos como iria funcionar o fluxo de acolhimento ainda. (entrevista 8).

Outro p ilar fundam ental do Serviço de Em ergência é a provisão de

am biente físico, tanto para abrigar as fam ílias desam paradas se fo r necessário,

quanto para guardar as doações e recursos m ateria is usados na resposta

imediata. Em relação aos abrigos tem porários, de acordo com relato de uma

entrevistada, no caso de Brumadinho, uma das prim eiras ações da SEDESE foi

justam ente providenciar a lo jam ento para os atingidos. Todavia, os a lojam entos

não foram ocupados visto que as vítim as estavam mortas, e as que

sobreviveram foram hospedadas pela em presa Vale S.A. em hotéis e

pousadas. Isso m ostra que apesar de necessário, o p lanejam ento das ações

nem sem pre vai atender à realidade de cada situação de calam idade pública.

Por isso, um entrevistado defende que o Serviço de Proteção em

Situação de Calam idade Pública e Em ergência não é adequado na tragédia de

Brumadinho, pois o rom pim ento de barragem é ainda mais com plexo que a

tip ificação consegue tratar.

Serviço de Calamidade Emergência não se enquadrava na situação de Brumadinho, porque o serviço é muito específico e tipificado.No caso de Brumadinho não tem modelo de abrigo temporário porque todas as pessoas que foram desalojadas foram para casas de parentes ou hotéis e pousadas bancados pela Vale, então não tem tendas de abrigo temporário. (entrevista 7).

A pesar de desnecessários os abrigos provisórios, depois do

rom pim ento da barragem acontecem uma série de desencadeam entos

com plexos. Centenas de pessoas estavam sendo evacuadas, inclusive para

fora de Brumadinho. A Vale m ontou uma espécie "centro de socorro para o

deslocam ento” (entrevista 6) na Estação de Conhecim ento, e também

prestavam esse serviço em outros pontos. Tendo em conta que a Vale é a

em presa responsável pelo desastre enfrentado, o acom panham ento do Poder

Público era fundam ental para garantir o devido atendim ento das vítimas, como

relata uma entrevistada:

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Precisávamos organizar informações de quem está indo para onde, nosso objetivo em todo esse processo era que as pessoas não tivessem seus direitos violados, que não ficassem desamparadas, que elas tivessem acesso a estadia, e alimentação adequada. (entrevista 6).

No que diz respeito aos recursos materiais, logo após o rom pim ento

da barragem doações com eçaram a chegar indiscrim inadam ente, a m agnitude

do desastre foi assustadora, e a sociedade civil se m obilizou para a judar com o

podia as inúm eras vítimas. A quantidade de m antim entos era tam anha que

requeria uma gestão com plexa para evitar perdas, e garantir que os recursos

cum prissem seu papel de suprir as necessidades das vítimas, "com eçam os a

entender que teríam os que ter a atuação mais forte nas doações porque tinha

risco de perder os m antim entos se não tivesse uma m elhor gestão deles"

(entrevista 6). Nesse prim eiro momento, a logística de m antim entos não estava

tota lm ente estruturada, a Defesa Civil, que tinha protagonism o na área

precisava de suporte, e apesar de não possuir a expertise necessária, gestores

da SEDESE ajudavam com o podiam.

(...) vários mantimentos já começaram a chegar na tarde do rompimento, eram doações de ONGs, municípios, unidades filantrópicas, pessoas físicas. A sociedade se organiza para apoiar em casos de desastre. O (gestor Sedese) chegou (...) e foi direto para a quadra onde estava sendo alocado os mantimentos, foi apoiar a logística muito complexa de organização de mantimentos e doações. Naquele momento estava sem ninguém de referência nessa metodologia, mas alguém precisava desempenhar esse papel.(entrevista 6).

(...) neste ponto (Casa Branca), o número de voluntários é muito grande, então ajudamos a organizar a rotina do lugar e a logística das doações. Acionamos o SERVAS que tem uma expertise em relação à doações, para ajudarem a prefeitura. (entrevista 7).

O Serviço Social Autônom o(SER VAS) é uma organização da

sociedade civil sem fins lucrativos que atua em parcerias com Poder Público,

entes privados e sociedade civil para com plem entar políticas públicas que

promovam o desenvolvim ento social. Uma das linhas de atuação do SERVAS é

a captação e d istribuição de doações, e por isso foi acionado m esm o sem que

essa articulação com Poder Público em situação de calam idade pública

estivesse prevista por algum instrumento. Dessa forma, a experiência e

conhecim ento do gestor foi o fa to r que possibilitou a integração com uma

organização que tem m uito conhecim ento na gestão de mantim entos, e isso foi

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crucial para o não desperdício de nada em um contexto de desastre de

tam anha m agnitude e despreparo da equipe m unicipal para gerir as doações.

Passados alguns dias, a Defesa C ivil se organizou m elhor para a

gestão dos m antim entos, com ajuda do SERVAS. Nesse ponto cabia à

SEDESE apenas articular as doações com as necessidades dos atingidos,

então passaram a fazer papel intermediário. Quando o m om ento de

em ergência acaba, os m antim entos que sobraram foram encam inhados pela

Defesa C ivil para a rede local, com creches e asilos.

O utro pilar do Serviço Em ergencial é a articulação com a rede local

para oferta dos serviços socioassistenciais, por isso, desde o prim eiro dia

percebe-se esforços voltados para m apear os equipam entos públicos. Porém,

devido ao desastre, a dem anda por serviços socioassistencia is extrapolou a

capacidade municipal, e com o a equipe da prefeitura também era vítim a da

tragédia, era fundam ental que o Estado desse apoio e a judasse a organ izar a

estrutura local. Com o relata um entrevistado, esse apoio não se lim itava à parte

técnica, pois com o já dito anteriorm ente, em m om ento de desastre as funções

governam enta is se misturam.

As equipes também estavam tentando reestruturar os serviços de assistência, mas essa situação era mais do que um assessoramento técnico, porque como a situação era muito emergencial, então a gente atuou na ponta junto com o município. Precisávamos deixar que o município executasse, porém, dando toda a estrutura e assessoramento para que o município dessa conta, já que a estrutura da prefeitura estava prejudicada, por que todos os funcionários municipais conheciam pessoas que estavam desaparecidas e mortas, a equipe da assistência também era atingida. Então do primeiro até o sétimo dia a gente conciliou essas coisas, e vamos junto com a equipe da prefeitura nos locais. Dessa forma o apoio era logístico e também operacional. Era técnico quanto a estruturação da Assistência Social e reestruturação dos serviços, e era direto no atendimento socioassistencial junto ao município. O apoio técnico era realizado através de reunião, e o operacional se dava com a participação ativa no atendimento de ponta. (entrevista 6).

Sobre a parte prática, outro entrevistado afirm a que

Nós junto com o município,começamos a tomar as providências para atendimento da população, saber onde as pessoas estavam, mandar equipes para localizar as pessoas, ver as necessidades de emergência das pessoas, cadastrar as necessidades de emergência junto com o município, e juntamente com a Defesa Civil orientar a respeito da

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distribuição de medicamentos, de roupa agasalho. As doações neste período estavam bem volumosase precisavam ser organizadas. Então neste primeiro momento ajudamos na prospecção dessas necessidades. (entrevista 2).

Sobre a parte técnica, de acordo com o Caderno, no período

em ergencial é papel do Estado auxiliar o m unicípio a se organ izar para

conseguir adiantam ento do Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada,

m ovim entação de FGTS e aceite Federal ao Serviço de Proteção em Situações

de Calam idades Públicas e de Emergências. De acordo com um entrevistado:

Todo município deve ter organizado o Serviço de Calamidade Pública, só que acontece que a maioria não tem isso preparado, com protocolo e passo a passo do que fazer em situações de emergência. No Ministério da Cidadania tem um termo de aceito aberto que o município pode entrar e aderir para prevenção de situações de calamidade, então se acontecer, o município poder receber um financiamento do Governo Federal para ajudar na oferta dos serviços, antecipação do Bolsa Família, do BPC, e vários benefícios que pode receber. Mas acaba que só no momento da emergência essas ações são pensadas. Então quando acontece, o Estado chega no município e vai orientando esse passo a passo do que fazer, muito também pela experiência que adquiriu a partir do desastre de Mariana, porque o Estado também não tinha planejamento efetivo das ações. O que tinha era mais voltado para chuva, e a partir de Marina que fomos aprimorando, trazendo elementos e ajudando na estruturação, construindo instrumentais, como o Caderno de Orientações para essas situações. (entrevista 7).

De acordo com um entrevistado, a articulação com o Governo

Federal foi imediata, e o ente não tardou em conceder adiantam ento dos

benefícios m encionados. Já no âm bito estadual, não existe um

cofinanciam ento previsto em casos específicos de em ergência e calam idade, o

que pode acontecer é o adiantam ento do Piso M ineiro, m ediante

d isponib ilidade financeira e orçam entária. Na tragédia em Brumadinho, que

aconteceu no final de janeiro, logo em fevereiro foram adiantadas todas as

parcelas do Piso referente ao ano de 2019. Além disso, a SEDESE ajudou no

planejam ento dos gastos em contexto de em ergência para garantir um uso

mais eficiente dos recursos estaduais e federa is repassados.

Sobre os recursos, é im portante d izer que se tratando de uma

tragédia com um agente culpado, os gastos com o aum ento de dem anda por

serviços socioassistenciais, com o recursos humanos, in fra-estrutura e custos

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de m anutenção, são de responsabilidade da empresa. Ao governo cabe auxiliar

nas negociações para garantir que esta seja justa, adequada, suficiente.

Além disso, é papel do Estado dar todas as in form ações aos

atingidos, e que essas inform ações sejam apresentadas da form a adequada.

Segundo o Conselho Nacional de Direitos do Homem, o qual orientou a

atuação dos D ireitos Hum anos estadual em Brum adinho, em casos de

desastres, a vio lação de m uitos direitos acontece por fa lta de conhecim ento por

parte dos atingidos, e a responsabilização disso é do Estado. Assim , o direito à

inform ação foi um princípio que a SEDESE se atentou desde o início, segundo

uma entrevistada:

Quando uma família tem algum ente desaparecido soterrado isso gera uma série de impactos,é uma dor muito grande não saber do paradeiro. Então tivemos esse foco no início de apoiar as informações para a população. (entrevista 6).

Os atingidos também eram inform ados sobre os serviços que

poderiam recorrer, os benefícios que tem direito perante ao Estado e também

perante à em presa crim inosa, Vale S.A.

Outro foco da atuação em ergencia l foi a em issão de documentos, e

graças à articulação da SEDESE com órgãos públicos e cartórios esse serviço

foi ofertado de m aneira satisfatória, e sem que a Secretaria tivesse que

desprender m uitos esforços para isso, podendo dar mais atenção a outras

áreas prioritárias. De acordo com uma entrevistada,

Em Mariana focamos a atuação nos primeiros dias para a confecção de novos documentos que haviam sido perdidos, enquanto que em Brumadinho fizemos essa mobilização, mas conseguimos atuar em mais áreas. A ação dessa vez foi mais integrada,e tivemos um apoio mais substancial com o município. (entrevista 6).

Outro docum ento que serve de parâm etro para ana lisar as ações

desenvolvidas no m om ento em ergencia l é o Protocolo Nacional Conjunto para

Proteção Integral a Crianças e Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com

Deficiência em Situação de Riscos e Desastres. Este protocolo orienta as

ações de resposta e de recuperação para cada grupo vulnerável. M esm o que

este protocolo não tenha sido pensado para rom pim ento de barragem, ele foi

usado com o base para os gestores, pois não tinham uma orientação mais

adequada que esta .

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Segundo relato dos gestores, a tragédia de rom pim ento provocou

mais vítim as entre trabalhadores da Vale, e as vítim as foram fatais. Por isso, o

público vulnerável, que não é o padrão de trabalhador, não foi tão d iretam ente

afetado pela enxurrada de lama. Em desastres naturais, com o inundações, há

mais dem anda para o atendim ento deste público. O desastre chegou para o

público vulnerável que residia na com unidade próxima, e também para aqueles

m uitos que perderam fam iliares responsáveis por seus cuidados.

Tam bém foram considerados vulneráveis povos e com unidades

trad icionais que foram afetados, perdendo seus m eios de produção, sua fonte

de renda e seu modo de vida. Para entender com o foram atingidos, foram

realizadas visitas técnicas nas com unidades quilom bolas e indígenas, em

M ário C am pos e São Joaquim de Bicas. A equipe de D ire itos Hum anos

assum iu o protagonism o na atuação, sendo que a intenção era fazer

levantam entos iniciais, m apear as necessidades, ap licar o questionário e

também reconhecer lideranças que facilitassem a in terlocução da com unidade

com a Vale posteriorm ente. Tam bém eram desenvolvidas atividades de lazer

para as crianças das com unidades atingidas.

Nos prim eiros momentos, a rede local ainda estava sendo mapeada,

o que pode ter com prom etido os devidos encam inham entos elencados pelo

Protocolo. Todavia, os gestores concordam que o atendim ento do período de

resposta foi executado com êxito.

As visitas se estenderam para período de recuperação, e após o

m apeam ento inicial, aconteceram uma série de reuniões, a lgum as com a

presença do M inistério Público, para acom panham ento perm anente da oferta

de serviços socioassistencia is nas com unidades atingidas, já que houve

suplem entação de profissionais pela Vale. As reuniões também eram

im portantes para a construção de planejam ento participativo e proposições de

alternativas para recuperação das com unidades. A coordenadora de políticas

para igualdade racial desem penhou im portante papel para esse planejam ento

nos 4 quilom bos do município.

Em relação a oferta de atividades de convívio e organização social

prevista pelo Serviço de Proteção, esta não aconteceu devidam ente no período

em ergencial, devido a priorizações de ações urgentes. Todavia ,desde o início

de fevereiro, a Subsecretaria de Esportes realizou uma série de ativ idades

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esportivas e lúdicas com o público de crianças e adolescentes em diversas

escolas em Brum adinho e nos distritos atingidos. Uma parceria com o SESC foi

firm ada após o período de emergência, e a subsecretaria tem um cronogram a

para continuar trazendo dinâm icas e brinquedos para esse público vulnerável

até o final do ano.

Cabe d izer que no período de reparação as ações com público

vulnerável foram continuadas. Além do m onitoram ento permanente, atualm ente

ocorrem o fom ento à captação de recursos para realização de ações com

vistas ao desenvolvim ento local, e orientação técnica à gestão m unicipal para

resolução de problem as relacionados a esse público. Os D ireitos Hum anos

coordenou ação de capacitação para os conselheiros tute lares sobre os direitos

das crianças e adolescentes e o Conselho Estadual de Proteção Integra l de

Crianças e Adolescentes, Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em

Situação de R iscos de Desastres do Estado de M inas Gerais, realizou reunião

com o Conselho M unicipal para trabalhar seu papelem situação de desastre,

orientando sobre suas com petências.

Vale ressaltar que apesar de o atendim ento ao público vulnerável ter

sido protocolado nacionalm ente com o com petência da política de Assistência

Social, em Brum adinho a equipe de D ireitos Hum anos ficou mais a cargo dessa

atuação. Como esta pesquisa se restringiu à equipe da SUBAS, não foi

possível analisar detalhadam ente como foi o atendim ento e a recuperação com

o público vulnerável. Mas, com o será abordado posteriorm ente, a SUBAS

contem plou o atendim ento deste público na revisão do Caderno de

Orientações, através de elaborados fluxos específicos para cada especificidade

do atingido vulnerável.

Vo ltando ao período em ergencial, percebe-se que m uitas foram as

atividades elencadas, e para prestar esses serviços, apesar da desorganização

inicial, ainda na prim eira fase do período em ergencia l com eçou-se a desenhar

vários procedim entos em conjunto com o m unicípio que discorriam sobre as

ações imediatas. Os procedim entos envolviam a estruturação dos pontos de

atendim ento, a divisão dos profissionais que iriam atender em cada ponto, as

políticas que deveriam ser acionadas, a form ulação do questionário de

dem andas e m apeam ento de onde se localizavam as fam ílias deslocadas,

entre outros. A pesar de o Caderno orien tar para que seja elaborado um Plano

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de Ação im ediatam ente, a organização dos procedim entos ganhou força depois

da prim eira fase do período em ergencial e resultaram em um Plano de Ação

mais estru turado,som ente na segunda etapa da em ergência.

5.1.3 Registro de necessidades em ergencia is e cadastram ento de atingidos

No rom pim ento da barragem em Mariana, o cadastram ento dos

atingidos ficou por conta da Samarco, e posteriorm ente, a Fundação Renova, a

qual é com petente pelo processo de reparação de danos, continuou o trabalho

através do Program a de Cadastramento. Nos processos de reparação, a

Renova diferenciou os atingidos em níveis que eles m esm os classificavam de

acordo com as inform ações do cadastro que tinham, assim o acesso dos

atingidos a ações de reparação e com pensação ficou sob d iscric ionariedade do

ente privado, sendo que m uitos perderam garantias de direitos devido a esse

m onopólio das informações.

No caso de Brumadinho, considerando-se a m agnitude com que a

catástrofe afetou a população em geral, o Poder Público não podia perm itir que

houvesse am eaça na garantia dos direitos dos cidadãos com a divisão dos

atingidos em níveis. Como relata um entrevistado

(...) nós não queremos fazerdistinção entre os atingidos justamente por entender que houve uma violação de direitos coletivos, a cidade toda foi atingida, não foi só quem morreu quem desapareceu ou quem teve sua casa tomada pela lama. (entrevista 7).

Por isso, o Poder Público desde o início pensou em fazer um

questionário para poder confrontar com as inform ações do ente

privadoconform e relato abaixo:

(...) dessa vez a SEDESE queria também ter um questionário para poder confrontar com informações da empresa criminosa, por exemplo o quantitativo das pessoas, quem seriam essas pessoas. Assim, poderíamos gerar subsídio e agrupar possíveis famílias que fossem excluídas do cadastro da empresa por alegarem que não tinham ligação com o evento. (entrevista 1).

A través de um conjunto de in form ações levantadas pelo próprio

Estado, as ações de atendim ento im ediato não dependeriam do interm édio de

inform ações com a em presa crim inosa, e as políticas poderiam chegar

diretam ente às fam ílias atingidas. Todavia, é necessário d izer que este

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form ulário produzido in icia lm ente não tira a necessidade da elaboração de um

cadastro mais com plexo posteriorm ente, que perm itisse o acom panham ento

dos atingidos.

Como descrito anteriorm ente, a prim eira versão do questionário foi

pensada em reunião ainda no dia do rompimento, e participaram da elaboração

as três esferas de governo, representados por SEDESE-a qual agora

englobava D ireitos Humanos além da Assistência Social-, M inistério Público,

Defensoria Pública, gestores m unicipais da área de Assistência Social, e

também representantes da Vale. O objetivo desse form ulário era reg istrar as

inform ações em ergencia is dos atingidos, para que os atores pudessem

perceber as dem andas e supri-las. Ou seja, inventariar dem andas im ediatas

com o por exem plo falta de roupa, fa lta de documento, se atingidos haviam

perdido cartão de acesso ao Bolsa Família, se não tinha acesso a renda, a

água, entre outros. E também identificar o público atingido, a quantidade, a

com posição, a localização. Como se percebe pelo relato de um entrevistado,

"Tentou separar desde o início que o form ulário seria para dem andas

em ergenciais. Objetivo era perceber quais dem andas que não podiam esperar,

para m obilizar poder público e entes privados para poder resolver essas

questões". (entrevista 1). Outra entrevistada completa:

O cadastro era emergencial para diagnosticar o que os atingidos precisavam, alimentos, roupas, materiais de higiene pessoal, medicamentos, se tem gestantes. Então era saber quais as necessidades imediatas de todo mundo e também saber quais os públicos precisavam de atenção especial. (entrevista 3).

Nesse prim eiro momento, os atores em reunião pensaram nas

variáveis que com punham o questionário levando em conta as dem andas que

perceberam ao longo do dia, buscando in ternalizá-las em form ato de

perguntas. Adem ais, a equipe de D ireitos Hum anos presente trouxe como

subsídio o Protocolo Nacional Conjunto para proteção dos grupos vulneráveis.

Conciliando as dem andas locais percebidas com o material nacional disponível,

a prim eira versão do questionário foi elaborada.

O produto era, pois, um docum ento de registro de inform ações

urgentes,pensado para form ato físico, sendo que um cadastram ento posterior

mais com pleto foi idealizado para suprir o papel de identificar danos,

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vulnerabilidades desencadeadas a partir do desastre, e então poder aferir

responsabilização da em presa pelo desastre. Todavia, o form ulário

em ergencial acabou sendo denom inado de cadastro pelas pessoas envolvidas

no processo de resposta, de acordo com uma entrevistada"a gente cham ou de

cadastro na hora porque é m uito m ais fácil qua lquer pessoa entender o que é

um cadastro do que um registro de inform ação prelim inar" (entrevista 6). Essa

variação na nom enclatura que a princípio veio para facilita r a ação no período

de emergência, acabou produzindo efeito negativo,na m edida que o objetivo e

finalidade do instrum ento ficou confuso.

A inda na m adrugada de sexta-fe ira para sábado, a prim eira versão

fís ica do questionário com eçou a ser aplicada por gestores m unicipais, sem

nenhum a preparação ou requisito prévio. Na prim eira fase do período

em ergencial a aplicação era muito intensa, já que eram m uitos os atingidos, e

para conseguir cadastrar todos, a equipe foi aum entando gradativam ente de

sábado até sexta-fe ira da sem ana seguinte. Voluntários e servidores estaduais

também participaram desse processo. O utra equipe da SEDESE chegou no

sábado e continuaram na aplicação se revezando com outras equipes da

Secretaria de Estado, do M unicípio, e de voluntários. Com o percebiam que a

quantidade de atingidos era significativa, também foram fe itos plantões para

conseguir atender m aior quantidade de vítimas.

A inda no sábado, as prim eiras alterações no questionário

com eçaram a ser d iscutidas em reunião. Perceberam -se dificu ldades na

aplicação devido as m uitas possib ilidades de alternativas e ao tam anho do

questionário. Além disso, algum as perguntas não pareciam fazer tanto sentido

na prática, e outras eram difíceis de serem respondidas. Dessa forma, chegou-

se a uma segunda versão do questionário em decorrência da experiência que

os aplicadores tinham.

Dois dias depois, na segunda-feira, o superintendente de

in tegraçãose deslocou para Brum adinho com outros servidores mais, com a

finalidade principal de m udar a versão fís ica do questionário para uma versão

digital, a qual traria vantagens na agilidade de aplicação, e possibilitaria

atender mais gente em m enos tempo. Além disso, o arm azenam ento dos

registros seria fe ito de m aneira mais segura e confiável em um banco que

facilitaria o tra tam ento dos dados. Como relata um entrevistado"teríam os que ir

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para lá na hora (...) para tentar fazer um cadastro em ergencia l que

contem plasse todas as dem andas em ergencia is dos atingidos, e a tratativa era

fazer isso através de uma plataform a online, digital, sem envo lver recursos nem

nada." (entrevista 2).

Nesse processo de transposição de dados, estavam envolvidos três

gestores, bem menos pessoas em relação à elaboração inicial, e foi quando

ocorreram alterações por questões operacionais e tecnológicas.

Nessa digitalização do questionário teve alterações, até pela necessidade de tornar as informações mais tabuláveis, mais trabalháveis. Reduziu a possibilidade das alternativas, pra poder fechar de forma que conseguisse agregar as informações e trabalhar com elas no sistema. (entrevistai).

A versão eletrôn ica com eçou a ser aplicada apenas na quarta-feira,

porém no m esm o dia problem as técnicos com plicaram essa atuação, como

relata um entrevistado, o qual ficou responsável por vo ltar na Faculdade ASA

para im prim ir mais versões físicas, já que os e letrôn icos não funcionariam :

A intenção inicial era que a gente conseguisse fazer pelo celular e computador. Então a gente levou um tanto de computadores com modem de internet e tudo mais. Alguns estavam conseguindo fazer o cadastro pelos tablets, depois problemas com internet e tecnologia complicaram. (entrevista 2).

Como o questionário havia sido adaptado a um m odelo virtual, a

im pressão resultou em quantidade muito grande de folhas, e a qua lidade das

respostas das perguntas foi com prom etida. Além disso, um entrevistado relata

que a quarta-fe ira foi um dia bastante problem ático pois fatores naturais

também contribuíram para a perda de credib ilidade dos registros.

(...) teve muita chuva, alguns questionários molharam. Tinha estrada parada, cadastradores e atingidos molhando muito, pessoas com muito medo, inclusive pela memória recente do desastre. Foi uma chuva que levou a barraca que tinha sido montada pela Vale. Foi uma cena de terror. E nessa brincadeira a confiabilidade do dado do cadastro tende a zero. Porque se você está preenchendo em um cenário de caos, se possivelmente cadastro molhou, perdeu, e além de que como o cadastro não foi pensado para um formato físico, deu muita folha por cadastro, em torno de 15 folhas por formulário. Era inimaginável, isso tudo em um dia só. (entrevista 2).

A aplicação do questionário acontecia em um cenário muito

desorganizado, as fam ílias e indivíduos chegavam procurando inform ações e

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atendim ento em ergencial, e ao m esm o tem po já eram colocadas para

responderem as perguntas. C om o as necessidades nesse período eram

urgentes, o questionam ento acontecia com o um a form a de triagem, então

assim que a vítim a declarava sua dem anda, a equipe buscava fazer

encam inham ento para satisfazer as necessidades. De acordo com relato de um

entrevistado, esse processo funcionava, apesar de não ter sido estruturado:

Quando era um caso muito grave de deslocamento, morte de parente a gente encaminhava para um pessoal que estava cuidando mais dessas demandas, por exemplo dando hospedagem e tudo mais. Então tinha um certo nível de triagem. Quando você escutava que a pessoa tinha um problema X, no feeling você já encaminha. Só que esse processo todo em nenhum momento foi estruturado. Mesmo assim, a gente conseguiu perceber quantas pessoas estavam sem roupas, sem água, sem documento, e isso ajudou demais. E essas informações foram usadas de fato para chegarem nas famílias, falava com a Vale quantas pessoas precisavam de atendimento, quem eram essas pessoas, do que precisavam e onde estavam.(entrevista2).

Para o sistem a de triagem funcionar, era fundam ental a proxim idade

com os representantes da Vale, então por esse motivo, e também por fa lta de

estrutura própria, a aplicação dos questionários acontecia nas tendas da Vale

que estavam instaladas nos pontos de atendim ento, além da quadra de

esportes, e do Espaço do C onhecim ento . A atuação na aplicação foi

caracterizada com o interm édio entre os atingidos e os órgãos com petentes por

resolverem a situação.

Em algum as situações, os atingidos não iam até as tendas por

verem agentes da Vale lá, então cabia aos aplicadores irem atrás deles para

efetivarem o registro de inform ações ao m áxim o que pudessem. Uma

entrevistada relata que

O método de levantamento de informações emergenciais tem que ser mais ágil, tem que resolver as coisas de forma mais rápida. Mas acabava que no momento da emergência, os nossos técnicos serviram também como articuladores intermediadores. Existe o posto de atendimento da Vale mas às vezes os atingidos não se sentiam confortáveis em conversar com a Vale, então vinham conversar com a gente, e nós passávamos as demandas. Se fosse de competência da Vale resolver, a gente cobrava a resolução na hora, se fosse competência da Defesa Civil, cobrava Defesa Civil. Atuávamos como mediador no território. Ouvimos as lideranças da comunidade e todos os outros que chegavam para

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atendimento. Ficávamos o dia todo debaixo de tenda ou andando no sol atrás de identificar as demandas. (entrevista 6).

Adem ais da presença indesejada da Vale, durante essa prim eira

semana, os aplicadores se deslocaram por m uitas localidades buscando os

atingidos que não sabiam do cadastram ento.Um entrevistado, que participou

bastante nesse processo, conta que "Íam os nos hotéis, pousadas, casas de

família, e nos locais onde haviam as pessoas que tinham sido evacuados, para

levantar às dem andas em ergencia is,efazer uma interlocução rápida com a Vale

para poder so lucionar o problem a." (entrevista 8).

Na quinta-fe ira foi realizada reunião que dividiu as equipes em uma

abrangência m aior no território, sendo que m uitas foram para o Córrego do

Feijão, Casa Branca e Parque da Cachoeira. As diversas alterações no m odelo

que haviam sido incorporadas até nesse dia resultaram em um questionário

mais fácil de ser aplicado e também de ser respondido. Como diz um

entrevistado:

Então na quinta, já tinham uma organização melhor, quem que ia pra qual lugar, e continuamos fazendo o cadastro como uma triagem e o formulário fico mais limpo, conseguimos fazer ele ficar mais parecido como modelo do Ministério, perguntas mais diretas, opções de respostas não estavam necessariamente impressas para otimizar a aplicação. (entrevista 2).

Na sexta-feira, o ritmo da aplicação ainda era m uito intenso, e nesse

dia chegaram m uitos voluntários do Conselho Regional de Psicologia. Até

então a aplicação estava a cargo das pessoas que estavam disponíveis, mas

com a chegada de psicólogos houve uma reorganização para que esses

profissionais mais capacitados pudessem fazer o acolh im ento junto ao

cadastram ento dos atingidos. Como justifica um entrevistado, "nós som os

servidores públicos, gestores, não estam os preparados para fazer o

acolhim ento psicológico, estávam os atuando pelo feeling, tentando ajudar"

(entrevista 2). Da sexta em diante, os psicólogos assum iram o papel de

aplicadores até o final dos registros, cerca de um mês depois do desastre,

sendo que executaram essa função na m aior parte do tempo.

A sexta-fe ira foi o prim eiro dia do processo de registro de

inform ações em ergencia is que os aplicadores tinham um ponto fixo próprio

para atuaram. Isso aconteceu porque uma sem ana após o rom pim ento da

barragem, as ações já estavam mais estruturadas, e tam bém porque os

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aplicadores percebiam que ao irem atrás das vítim as perguntando informações,

estavam sendo invasivos dem ais e não respeitando o tem po de luto delas.

Assim , houve uma m udança de tática, e agora as equipes se disponibilizavam

em um local sem a presença da Vale, para que os ating idos que se sentissem

confortáveis viessem até eles em busca de atendim ento.

O que se pode perceber nessa prim eira sem ana é que muitas

alterações no questionário foram sendo feitas. A inda no segundo dia, o MAB

trouxe contribu ições que ajudavam assegurar os direitos dos ating idos no longo

prazo, ao m esm o tem po que abordava todas as questões essenciais que

precisavam ser levantadas.

No início havíamos colocado perguntas se as pessoas haviam perdido algum bem, se a casa havia sido afetada, de que forma havia sido atingida. Depois dessa reunião entendemos que não podíamos levantar informações de danos, e que deveríamos focar no atendimento de demandas emergenciais. O objetivo ainda era organizar e levantar informações urgentes sobre pessoas e famílias, mas retiramos as perguntas sobre danos. Por quê na experiência do Rio Doce, questionários preliminares sobre danos foram usados para retirar direitos posteriores dos atingidos, e nós estávamos caindo no mesmo buraco. (entrevista 6).

Adem ais, foram fe itas m udanças para adequar o form ato de m odelo

fís ico para digital, depois se alterou de novo do digital para o físico, e

perm aneceu no m odelo fís ico até o final do cadastram ento. Tam bém teve

m udanças que visavam a m elhoria do form ulário, com poucas alterações no

conteúdo para não com prom eter o objetivo de m apear as dem andas

em ergenciais, as alterações eram mais no layout. Segundo uma entrevistada:

As mudanças que vieram eram justamente para um encurtamento, deixar ele mais reduzido, tirando partes excessivas pra conseguir atingir mais gente o mais rápido possível. Se ele fosse mais longo conseguiria aplicar pra menos pessoas. Então uma parte que não sofreu mudança foi justamente as perguntas relacionadas com as necessidades das pessoas.Teve participação de muitas pessoas ajudando e contribuindo com alterações, para aprimoramento das informações levando em conta a percepção de quem estava na ponta, pois perceberam que algumas perguntas exigiam muito do processo de entrevista e estava consumindo o trabalho das pessoas em campo. Os próprios aplicadores deixavam informações em branco, então mudou estratégia e reduziu o formulário para torná-lo mais conciso. Como essa mudança veio depois que formulário já estava sendo aplicado, alguns estão mais densos e outros estão mais concisos." (entrevista3).

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Todavia, apesar do esforço para se aprim orar os questionários, a

fa lta de instrução para os aplicadores fazia com que eles agissem com

discricionariedade, principalm ente na prim eira semana, e nesse caso esse

elem ento foi um fa tor que prejudicou bastante o a linham ento no registro das

in form ações. Com o afirm a uma entrevistada:

Na primeira semana não tinha orientação clara sobre a aplicação, por exemplo, chega uma família inteira para fazer o cadastro, com pai, mãe e filhos. Não sabíamos se cadastrávamos um representante por família ou cada membro. Esse é um exemplo de questões que não estavam claras, e essas confusões são as responsáveis pelo déficit no resultado do cadastro. Considerando que eram 4 ou 5 pontos de cadastramento, a chances de não ter alinhamento na aplicação era gigantesca. (entrevista 3).

O desalinham ento na aplicação não foi o único fa to r que pode ter

prejudicado o conteúdo registrado nos questionários. Houve um espaço de

tem po entre as aplicações e as transcrições, o que esfria as inform ações que

teoricam ente eram pra ser atendidas com emergência.

Como as dem andas urgentes e lencadas durante a aplicação dos

questionários eram encam inhadas para satisfação na m esm a hora, os

form ulários de atingidos que não se enquadravam com em ergências acabavam

sendo guardados, pois não era prioritário. Só por volta da quinta-feira, dia 31

de janeiro, os questionários fís icos com eçaram a ser contabilizados e levados

para Belo Horizonte, onde o processo de transcrição começou. Um

entrevistado relata que:

No final de cada dia, fazia-se contabilização dos questionários, e uma van levava-os para a SEDESE, só que isso não era rápido e acabava que os questionários ficavam em Brumadinho sem serem contabilizados alguns dias. No final da primeira semana começaram a chegar os cadastros. Houve gap temporal desde o começo das aplicações até as transcrições, não sei dizer se prejudicou atendimento das demandas. (entrevista 2).

Q uando os form ulários com eçaram a chegar na Cidade

Adm inistrativa, uma gestora de D ire ito Humanos, que nessa época funcionava

no prédio Gerais, se responsabilizou pelo processo por lá, e também delegou a

outra gestora, da Assistência Social, para se responsabilizar pela transcrição

no prédio M inas. Foi reservada uma sala para que houvesse uma breve

capacitação das pessoas que fariam as transcrições, apresentando o

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questionário e o sistem a em que seriam subidos os dados. Nas transcrições

com eçaram sendo priorizadas as pessoas que foram a cam po ap licar o

questionário , já que tinham mais intim idade com o documento. Todavia , o

volum e de papéis chegando com eçou a extrapolar a capacidade dessas

pessoas, então mais gestores eram convocados e outros tantos se

voluntariaram para realizar a transcrição. É im portante d izer que os gestores

que iam entrando no processo posteriorm ente não recebiam nenhum tipo de

capacitação, e se tivessem dúvidas perguntavam a uma das gestoras

responsáveis e , caso ela não soubesse responder, perguntaria à responsável

pela transcrição da equipe de D ire itos Humanos.

Um a entrevistada relata que tinha uma planilha para m onitorar

quantos questionários cada gestor pegava para transcrever, e abatia da

p lanilha quando os papéis eram devolvidos. Todavia o controle dos

questionários que eram subidos no sistem a era ún ico, não sendo possíve l

saber se as pessoas realm ente transcreviam os registros que haviam pegado.

Acreditava-se que sim , pois de acordo com a entrevistadaera início de governo

e m uita gente estava ociosa, além disso, as pessoas estavam sensibilizadas

com a tragédia e se dispunham prontam ente a a judar com o possível.

O utro ponto pre jud ic ia l à segurança das inform ações era que as

incontáveis alterações no questionário aconteciam apenas no m odelo que era

aplicado, sendo que o s istem a em que os dados eram jogados se m anteve o

mesmo. Dessa form a houve muita perda de inform ação no processo de

transcrição. A lgum as anotações que estavam escritas foram enquadradas nos

cam pos de "outros" da p la ta form a, mas não se tem noção de quais dados

foram os mais pre jud icados no processo, já que isso dependia da ação

individual de cada gestor que estava transcrevendo.

Assim que os form ulários com eçaram a ser transcritos, tinha uma

gestora que estava responsável por tratar os dados de m aneira sim ples para

m andar relatórios para a prefeitura diariam ente. O M unicípio era o dono dos

dados, e isso ficou claro desde o início da aplicação dos questionários, o papel

da SEDESE nesse m om ento era apenas facilita r a interpretação das

inform ações conform e a necessidade municipal. Conform e relata uma

entrevistada,

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Não existe uma análise bem elaborada dos relatórios, mas foram criadas tabelas para facilitar a interpretação dos dados. Nessas tabelas as informações eram agrupadas com os bairros em que estavam os atingidos, e o que eles precisavam. Não era só o dado cru, apesar de não ter uma análise estruturada e escrita. Não sabemos como foi utilizado esses relatórios diários pela prefeitura, não sei se teve um aproveitamento satisfatório. (entrevista 3).

A inda afirm a que a fa lta de experiência, de planejam ento, e

principalm ente de um protocolo, d ificu ltava a em issão dos relatórios, pois não

se tinha noção de com o apresentar esses re latórios de form a a deixar as

inform ações im portantes destacadas e legíveis para serem utilizadas na hora.

Como que eu dou a informação que eles precisavam e que vai ser fácil de ver entender, e que também vai ser uma informação completa? Não basta só identificar a quantidade de famílias, tem que mostrar onde estão essas famílias, e se eu fizesse isso para uma, teria que fazer para todas. Não sabia se a informação apresentada estava boa o suficiente. (entrevista 3).

A em issão desses relatórios se estendeu diariam ente por cerca de

um mês, ou seja, todo o período em ergencial. N a prim eira semana, o núm ero

de cadastram ento é altíssimo, e já na segunda sem ana com eça a cair. Á

m edida que o núm ero de cadastram ento cai, a quantidade de questionários

que são transcritos para o sistem a aumenta. Porém naturalmente, com o a

aplicação dos questionários foi ficando residual a partir da segunda semana,

chega um m om ento que a em issão de relatórios term ina. O Comitê de crise

que foi criado (o qual tratarem os na próxim a seção) previa essa

desm obilização natural do processo de registro de inform ações, assim como

dos outros serviços em ergenciais:

Cadastro foi pensado para não ultrapassar um mês, mas como as coisas eram atropeladas, o cadastro se concentrou em duas semanas, sendo a primeira a mais intensa, e depois passou a ocorrer de forma residual, as equipes já não iam mais pros territórios diariamente, quando iam faziam um, dois ou três cadastramentos. (entrevista 2).

Cerca de 2 m eses após o rom pim ento da barragem, no final de

fevereiro, o G overno Federa l propõe a m udança da base de dados

em ergencia is da plataform a onde estavam, para um sistem a nacional. A

intenção era que essa m igração integrasse as inform ações dos cidadãos em

uma plataform a única que poderia ser utilizada pelos serviços de Assistência

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Social das três esferas de poderes, e possibilitaria o acom panham ento das

fam ílias e indivíduos em qualquer cidade, ou estado no país.

O governo Federal queria criar um protocolo único pra desastre, um sistema nacional pra poder ter um acompanhamento dos atingidos. Então se a pessoa está aqui hoje, mas depois muda de estado, ela continuaria sendo acompanhada, também na ocorrência de outro desastre em outro lugar já haveria um sistema nacional operante e um padrão de questionário já pronto. (entrevista 3).

Ademais, esse sistem a nacional seria nos m oldes do CadÚnico, o

que perm itiria a integração das informações, e a identificação dos indivíduos de

form a separada e também na com posição da família. Para o acom panham ento

das fam ílias essa integração seria ótima, porém isso não foi possível.

Faltou na verdade a chave primária de um banco de dados para outro banco de dados. Como fez uma coleta separada, tinha número de CPF's, e dados pessoais com grafia diferentes. Então ficou difícil de bater com as informações do CadÚnico. Não necessariamente as pessoas apresentavam para gente o CPF que ela tinha, então ficou difícil fazer a relação, e para não ficar lidando com dados irreais, preferiram usar as bases de dados separadas. A intenção era que ao longo do tempo, se perguntasse para as famílias qual seria o número de NIS dela, pra depois conseguir fazer a junção. Mas nesse primeiro momento não foi possível. (entrevista 1).

Então a tentativa que parecia ser capaz de fac ilita r o desem penho e

de m elhorar a qua lidade dos serviços socioassistenciais, na verdade foi uma

frustração. E com o se não bastasse, contribuiu ainda mais para a distorção dos

dados registrados, pois as p lataform as eram diferentes.

O Governo Federal torceu os dados ao importá-los no nosso sistema para o deles, porque o sistema deles é um espelho da última versão do questionário, e o nosso é o espelho da primeira versão. Então além da torcida que a gente teve que dar na SEDESE para transcrever os formulários físicos para o nosso sistema, teve também a torcida que o Governo Federal fez para juntar os dados que já estavam no nosso sistema ao no sistema deles.Então eu fico pensando se os dados além de terem sido danificados na nossa transcrição, não sofreram ainda mais com a função do sistema do Governo Federal, e em que medida isso prejudica a qualidade e a segurança da informação. (entrevista3).

Considerando todas as desavenças do processo de registro de

inform ação com o um todo, e principalm ente a fa lta de planejam ento e de um

protocolo de atuação, alguns gestores acreditam que os questionários

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obtiveram êxito ao cum prir o objetivo básico de m apear o público atingido e

suas dem andas, enquanto outros dizem não ser possível avaliar:

(...) conseguiu coletar as informações das necessidades emergenciais, mas não conseguiu monitorar se as necessidades foram atendidas. Quando tem planejamento consegue fazer os dois ao mesmo tempo. Conseguiu uma primeira parte e ficou faltando outra. (entrevista 2).

Particularmente acredito que o Cadastro não atendeu o objetivo dele por que não conseguiu sistematizar as demandas de forma estruturada, o que dificulta o atendimento das necessidades percebidas. Acho que pontualmente serviu para receber as famílias, só de estar ali acolhendo as pessoas já mostra um resultado potencial. (entrevista 3).

Sendo assim, a fa lta de um protocolo foi a principal queixa dos

entrevistados quando perguntados sobre as dificu ldades de se fazer um

cadastram ento dos ating idos. Ao m esm o tempo, os entrevistados defendem

que a desorganização na experiência em B rum adinh onão foi em

vão e agora ajudará na elaboração de um protocolo mais detalhado sobre a

prestação do serviço de assistência em situação em ergencia l. Os seguintes

relatos mostram isso:

(...) se já tivesse protocolo de atuação estabelecido da Assistência Social no âmbito nacional, que discorresse sobre atuações mais pontuais em relação as especificidades locais, isso já facilitaria demais. Porque a gente teve que pensar isso. As famílias em extrema vulnerabilidade e a gente tendo que pensar em que perguntas a gente faria enquanto já atendia ao mesmo tempo. Sem estrutura, sem nada. Teve que contar com auxílio de empresa que forneceu o servidor pra hospedar as informações, porque a gente também não tinha estrutura pra isso. Agora que temos a visão que problemas com barragem não é algo que vai acabar hoje nem amanhã, mas vai nos perseguir por um bom tempo, é necessário e fundamental que se crie um protocolo. (entrevista 1).

Importante ter previsão do que perguntar pras pessoas, como acolher, definir quem é responsável pelo atendimento. Precisa ter protocolo bem delineado para outros desastres, não só de rompimento de barragem. É difícil colocar que quando acontecer outro desastre vamos ter todo o processo pronto, mas a partir de agora temos subsídio para começar a planejar melhor. Começamos a olhar pros problemas já na mitigação dos riscos, como em Barão de Cocais. (entrevista7).

Se tem estrutura de cadastramento emergencial que presta para um objetivo específico, mas que contribui com outros vários, e a partir do momento que isso se insere em uma lógica de atuação emergencial em cenário de desastre, o resultado disso tudo deve ser um bom protocolo, não só abordando

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acolhimento e atendimento, mas de como o poder público deve se portar quando esse tipo de coisa acontece. Faz parte do acolhimento dos serviços socioassistenciais ter um protocolo muito bem estabelecido, tem que ser mais completo, e acho que isso ganhou direção, pessoal tem começado a pensar dessa forma. (entrevista 2).

Vale a pena d izer que o banco de dados a partir dos form ulários não

apresenta inform ações consistentes o suficiente para subsid iar a elaboração de

um diagnóstico que reflita a situação dos atingidos em relação à

vu lnerabilidade e danos sofridos. O questionário aplicado concentrou-se nas

dem andas em ergencia is, e por isso esses dados não bastam para uma análise

que vise estru turar ações de reparação no m édio e longo prazo. Foi dito que o

questionário não substitu iria um cadastram ento posterior, porém esse

cadastram ento não foi realizado, tam pouco a integração dos dados dos

atingidos com os dados do sistem a nacional do CadÚnico.

Ainda, a quantidade de não respostas do banco de dados

com prom ete qua lquer inferência sobre a situação dos atingidos, já que as

tantas versões entre os questionários aplicados resultaram em um conjunto de

inform ações diferentes, que reduz a representativ idade no universo de estudo e

tira a credib ilidade dos dados. Um exem plo é que de 1539 form ulários do

sistema, 349 atingidos responderam que se consideram de povo ou

com unidade tradicionais, enquanto mais de 500 nem chegaram a responder

essa pergunta. Do universo de 349 atingidos de povos e com unidades

tradicionais, 16 são vazanteiros, 10 são indígenas, 8 são ribeirinhos, 1 é de

m atriz africana, e 1 é pescador. Totalizando 36 respostas. Nenhum se declarou

de quilombo, cigano, faiscador, pescador artesanal ou gerazeiro. Isso m ostra a

incapacidade dos dados de possib ilitar a estruturação de políticas públicas

específicas para lidar com as vu lnerabilidades agravadas devido ao

rom pim ento da barragem, pois a verdade é que não ocorreu um m apeam ento

verdadeiro do público atingido, de suas carências e danos sofridos.

5.2 Período emergencial: segunda fase

Como dito anteriorm ente, apesar da divisão do período em ergencial

em duas fases, as ações não se restringem a essas fronteiras temporais. O

atendim ento à população atingida, bem com o o processo de registro de

inform ações se estende até a segunda etapa do período em ergencial, a lgum as

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ações inclusive ultrapassam o período de em ergência e continuam no pós

tragédia. A divisão adotada tem finalidade de facilita r a construção do

entendim ento de com o foi organizado a resposta da Assistência Social, tendo

em consideração a dificu ldade da retom ada dos processos e não clareza das

inform ações, dificu ltando uma construção cronológica detalhada após o

intervalo de tem po desde o rom pim ento da barragem.

Dito isto, considera-se a segunda fase do período em ergencia l a

segunda sem ana até um mês desde que o m ar de lama varreu o Córrego do

Feijão. Esse período se d iferencia das prim eiras duas sem anas pois a atuação

da SEDESE, e também de outros atores, já estava m elhor organizada, e a

principal estrutura que traduz esse avanço é o Com itê Socioassistencia l

Intergovernam ental.

5.2.1 Com itêSocioassistencia l Intergovernam ental

O Caderno de O rientações da SEDESE traz que em casos de

desastres e situações de calam idade pública, seja instituído im ediatam ente um

Com itê para que a articulação do Estado e do M unicípio ocorra de form a

organizada. Todavia, devido ao caos nas prim eiras sem anas após o

rom pim ento da barragem, a articulação in tergovernam enta l dos serviços

socioassistencia is acontecia através de reuniões em uma sala que havia sido

separada para a Assistência Social. Nessa sala se reuniam Estado, Município,

M inistérios Público, e dependendo da conveniência e oportunidade, demais

órgãos e atores que pudessem contribu ir de a lgum a form a com os serviços

prioritários que naquele am biente eram deliberados.

Dessa forma, o caos que sucede uma tragédia, som ado à fa lta de

planejam ento e organização, culm inaram na tardia estru turação do Comitê, que

som ente foi instituído cerca de duas sem anas após o rom pim ento da barragem.

Neste período, a urgência havia se abrandado, com o relata uma entrevistada:

"Isso aconteceu em um m om ento que já estava mais calmo, já conseguim os

pensar com mais clareza, as ações de salvam ento já estavam avançadas, a

organização das doações também. Então já tinha passado esse m om ento de

urgência." (entrevista5). Trazendo em pauta a relevância dos instrum entos

normativos, outra gestora considera que "A ideia do Comitê, por exemplo, não

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veio de uma norm ativa ou orientação em si, mas foi uma ideia inspirada no

com itê de resposta a desastre da Saúde" (entrevista 9).

Participavam do Comitê a Secretaria M unicipal e a Secretaria

Estadual de Desenvolvim ento Social, e a grande prerrogativa era a linhar a

atuação governam ental estadual e m unicipal numa instância conjunta, de form a

a planejar, acom panhar e m onitorar as ações socioassistencia is de

responsabilidade de cada ente. De acordo com uma entrevistada,"as pautas do

Comitê eram a respeito da organização do serviço para dar resposta a

população,planejam ento de fluxos de trabalho, também ajudou na negociação

com outros órgãos, com o M inistério Público."(entrevista5). Outra entrevistada

com pleta que o Comitê tinha atuação mais am pla do que estava sendo

planejado até então, envolvendo ações de D ireitos Humanos, de Assistência

Social e também ações mais gerais que diziam respeito à população atingida.

Quando a tem ática ultrapassava o cam po de conhecim ento dos integrantes do

Comitê, eles eram responsáveis por prom over articulação com outros órgãos,

com o Saúde.

Um Plano de Ação havia com eçado a ser pensado pelos agentes

que atuavam na resposta em ergencial, mas esse plano acontecia ao m esmo

tem po em que os agentes já precisavam agir, não havendo tem po suficiente

para pensar com mais cuidado as ações. Porém, o Comitê operava em um

contexto que estava menos conturbado, e por isso conseguiu estru turar m elhor

as atividades que estavam sendo desenvolvidas desde o dia do rompim ento. A

partir da criação do CSI foi possível identificar quais territórios dem andavam

m aior equipe, onde se fazia mais im portante a presença de técnicos, foram

organizadas escalas de atendim ento no período de carnaval, entre outros. E

além de ações em ergenciais, o Estado ajudou a Assistência m unicipal a

planejar negociações com a Vale que perdurariam no m édio prazo. De acordo

com um entrevistado,

Foi feito um plano de ação junto com município, um diagnóstico da população e da real situação que está hoje, como que era a rede do município antes do desabamento, como a população ficou, quais os serviços iam ser necessários, já que a demanda pela Assistência Social aumentou muito mais, então os serviços que existiam precisariam ser qualificados e ampliados. A gente fez um plano de como e quais serviços precisariam ser ampliados, era um planejamento para que o município pleiteasse junto com a Vale. O terceiro (empresa) agente que

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tem que custear, arcar com esses recursos, contratação de pessoas e mão de obra. (entrevista 7).

De acordo com o Caderno de Orientações, o m odelo do plano deve

considerar a lguns elem entos principais: o que deve ser feito, quando, por

quem, porque, e com o deve ser feito; além disso precisa-se indicar o custo das

ações. De acordo com uma entrevistada, apesar da expectativa da elaboração

de um Plano oficial e bem estruturado, na prática não foi assim que aconteceu.

O Plano de ação era na verdade um conjunto de listas das ativ idades que

deveriam ser desem penhas sem analm ente, trazendo as equipes responsáveis,

as localidades onde deveriam acontecer as ações, e algum a orientação sobre

com o desempenhá-las. Um estudo de custo, proposto pelo Caderno de

Orientação não foi contem plado na prática.

Ademais, assim com o na prim eira fase do período em ergencial, os

instrum entos de m onitoram ento das atividades continuaram precários. Sem um

m onitoram ento, não se pode saber quais atividades realm ente foram

desem penhas, se os prazos foram cumpridos, quais os gargalos atrapalharam

as ações, entre outros pontos fundam enta is para uma avaliação da efetividade

da atuação dos serviços de Assistência Social e Direitos Hum anos na resposta

em ergencial aos atingidos.

No cenário de rom pim ento de barragem, os atingidos se encontram

em situação de vu lnerabilidade com plicada, então aum enta-se a dem anda por

serviços socioassistenciais. Nesse contexto, a oferta do Serviço Unificado de

Assistência Social (SUAS) através de proteção básica, especial e vig ilância

socioassistencia l se tornam indispensáveis para o atendim ento das vítimas. Por

isso, um produto relevante que o Comitê postulou no Plano era conseguir

garantir que o SUAS operasse conform e as necessidades e dem andas de

Brumadinho.

Considerando que o Com itê foi instituído após o período de

urgência, os agentes estatais já estavam atuando de form a mais técnica, e

pontualm ente ajudavam com atendim ento ao cidadão, pois as funções dos

entes federativos deveriam se normalizar. Mas equipe municipal não era

suficiente para ofertar o SUAS, e m esm o com o reforço do Estado, esse

serviço ainda carecia de uma equipe mais robusta, pois a dem anda da

Assistência aum entou significa tivam ente após o desastre.

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No caso de Brumadinho, com o existe uma em presa responsável

pelo crime, o P lano de Ação m unicipa l tam bém deve conter as ações que são

de com petência da Vale realizar. Por isso, umas das pautas mais relevantes do

Plano era referente ao suporte estadual na negociação entre M unicíp io e Vale

para contratação de mais funcionários para com por a equipe socioassistencial.

O M inistério Público também foi um ator relevante para o assessoram ento

dessa negociação, trazendo toda a experiência técnica que tinha.

Por mais de 15 dias tinha uma equipe da SEDESE deslocada no município. Depois o atendimento continuou sendo realizado pelo município, e mostramos para os gestores que a equipe municipal deveria ser aumentada. Em acordo com a Vale,a empresa criminosa ficou responsável por passar recursos para contratação de mais profissionais para compor a equipe que já existia. (entrevista5).

O Com itê se reuniu três vezes em fevereiro, e nas três reuniões a

proposta de redim ensionam ento da equipe através de contratação foi discutida,

assim com o a m elhor form a de se fazer o processo seletivo e com o escalar a

convocação da equipe m unicipal do SUAS.

O Comitê se desfez naturalm ente quando as equipes estaduais

regressaram a Belo Horizonte. Entretanto, m esm o após não ocorrem mais

reuniões presenciais, a equipe estadual continuou em contato com a equipe

municipal. O assessoram ento técnico continuou através de canais abertos de

com unicação, por ligações e troca de emails, inclusive pelo aplicativo

W hatsApp. Os servidores m unicipais acionam a SEDESE quando tem dúvidas,

querem orientações e inform ações para executarem uma ação, ou quando vão

se reunir com a Vale e com Ministério.

5.3 Atuação no pós desastre

Nesta sessão discorrer-se-á sobre a atuação da Assistência Social

no período do pós tragédia. Recapitulando o que traz Araújo (2012) sobre a

etapa de reconstrução, tem -se que, neste período a situação de em ergência

causada pelo desastre já foi superada, e é a hora em que os atores buscam

sanar os efeitos sociais, econôm icos e am bientais produzidos pelo desastre.

Essa reparação deve ser r através da reconstrução das fontes de trabalho e

renda, reativação da econom ia, e reparação dos danos m ateria is e dos ativos

danificados.

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Em Brumadinho, os efeitos socioeconôm icos e am bientais do crime

foram avassaladores em m uitas áreas, por isso a reconstrução da sociedade

necessita de coordenação in terinstitucional e m ulti-setorial. Uma entrevistada

relata que a gestão do pós desastre ainda é uma tem ática nova no Brasil, e

que os órgãos púb licos estão aprendendo a lidar com isso recentemente.

Todavia o pós desastre é a etapa mais relevante para que a sociedade possa

realm ente superar a tragédia que passou. E a entrevistada destaca a

im portância da integração entre todas as áreas ao d izer que:

Fazer gestão pós desastre é muito importante, é uma questão para todo o país, teria que entrar políticas de educação, e de muitas outras áreas. Não podemos ficar mitigando com indenizações, isso tem característica de emergência. A Assistência Social não pode continuar concedendo benefícios porque não resolve. (entrevista 5).

A econom ia da cidade foi m uito prejudicada, já que a principal

atividade era a m ineração e em pregava m uitos trabalhadores. Tam bém a

sustentabilidade do setor de serviços foi com prom etida, pois ainda que a

econom ia tenha continuado aquecida a princípio, essa m ovim entação é devido

às indenizações concedidas pela Vale, e essas indenizações tem prazo para

acabar. Porém as tratativas que dizem respeito à recuperação econôm ica e de

renda, apesar de estarem relacionada à Subsecretaria de Trabalho e Em prego

(SUBTE), que faz parte da SEDESE, não são foco deste estudo, assim com o

também não serão objeto a atuações de diversas outras áreas necessárias na

etapa de reconstrução.

O bservando a Assistência Social, a atuação deve se vo ltar para

sanar os danos sofridos pelos atingidos. O prim eiro obstáculo para isso é que

faltam inform ações para a elaboração de políticas socioassistencia is de m édio

e longo prazo, pois não houve um cadastram ento mais com pleto que

abrangesse tem as com o vulnerabilidade, danos m ateria is e de fonte de renda,

e tam pouco foi possível cruzar os dados dos atingidos com os dados do

CadÚnico.

Ademais, o desastre fez adoecer m entalm ente a população de

Brumadinho, então a capacidade de resposta dos atingidos frente a situação de

vu lnerabilidade caiu muito. Como relata uma entrevistada:

As pessoas estãodepressivas, ansiosas, não tem estímulo para continuar lutando, perderam a resiliência. Por mais que a

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equipe da Assistência tentasse, é muito complicado ajudar o indivíduo superar tantas perdas, ainda mais sabendo que existe um culpado impune responsável por tanto sofrimento. (entrevista 6).

Para garantir uma vida digna aos atingidos, o Estado é fundam ental

para organ izar uma estrutura de resposta que possibilite que os indivíduos

consigam cam inhar para fora da vulnerabilidade e possam reconstru ir suas

vidas. Ainda, em caso de desastres que na verdade foram crim es e tem

culpados, a estrutura de oportunidade tem grande parcela que deve ser

desenvolvida pelo ente privado, a Vale, e cabe ao Estado m onitorar as ações

que a em presa crim inosa realiza. Como o Brasil carece de gestão de desastre

estruturada, a articulação com o ente privado no pós desastre tem ocorrido

principalm ente através de negociações do M in istério Público e D efensoria

Pública para o pagam ento de indenizações por parte da Vale aos atingidos.

Um a vantagem é que houve am adurecim ento do Poder Público desde o crime

de M ariana, e desta vez as indenizações estão acontecendo mais rápido que

na tragédia anterior. Todavia, uma entrevistada afirm a que as ações de

reconstrução não podem se lim itar a indenizações

(...) precisamos trabalhar com os atingidos um projeto de vida para utilizarem as indenizações, as famílias precisam se reorganizar, pensar o que fazer com os recursos, como aplicar isso bem. Isso só consegue com acompanhamento familiar, então precisa dessa gestão com município. Essa gestão é um desafio, está dentro da metodologia do trabalho com famílias, mas mexe com muitas coisas subjetivas, como psicológico e saúde mental, então as equipes devem se somar para exercer esse trabalho. (entrevista 5).

O acom panham ento das fam ílias e indivíduos atingidos é a form a

que o Estado tem para saber se a reparação dos danos tem surtido efeito,

porém, com o dito anteriorm ente, existem m uitos desafios para se fazer esse

acom panham ento. Como form a de m elhorar as capacidades das equipes para

agirem junto às famílias, uma das m edidas da Assistência Social no período do

pós desastre foi p lanejar uma série de capacitações para os recursos hum anos

estaduais e municipais.

Outro desafio que a gestora traz para os serviços socioassistencia is

no pós-tragédia é o de não estigm atizar os atingidos, fa to que aconteceu em

M ariana e contribuiu para que as vítim as do rom pim ento da barragem se

sentissem inferiores, o que dificulta ainda mais sua saída da vulnerabilidade

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por fa tores psicológicos, além dos com plicados fa tores econôm icos e

estruturais. Por se tratar de um a tragédia com m uitas vítim as fatais, o

entendim ento sobre ating idos m udou em Brum adinho, e espera-se que a

estigm atização não aconteça de form a tão cruel e prejudicial quanto em

M ariana. A gestora traz que:

A interpretação da justiça em relação aos atingidos ampliou. Em Mariana foi só quem estava no território onde a lama passou, em Brumadinho toda a cidade foi considerada atingida. Interpretações internacionais diz que todo mundo do território foi impactado e atingido, existem graus diferentes, mas todos foram atingidos. Então as medidas protetivas devem ser aplicadas para todos. (entrevista 5).

A pesar de o Comitê Socioassistencia l Intergovernam ental ter sido

destituído, ações de m édio prazo deram sequência às atividades de resposta

executadas até então. Coincidentem ente, 2019 era o ano de se e laborar o

P lano Estadual de Assistência Social (PEAS), um instrum ento estratégico

previsto pela Lei O rgânica de Assistência Social (LOAS n° 8.742/1993) que

deve ser fe ito de quatro em quatro anos, sem pre no m esm o período da

elaboração do P lano P lurianual (PPA). De acordo com uma entrevistada "O

PEAS é uma ferram enta de planejam ento de m édio prazo da Assistência Social

estadual que norteia, regula e organiza a im plem entação do SUAS no âm bito

estadual." (entrevista 9).

Aprove itando o contexto, foram inseridas no PEAS ações estaduais

para contextos de em ergência, contem plando todos m unicípios que viessem

passar por situações de desastre, então agora não existe mais um plano

individualizado para Brumadinho. O PEAS foi aprovado pelo Conselho Estadual

de Assistência Social (CEAS), mas ainda recebe algum as considerações antes

de ser publicado oficialm ente. M esm o antes de ser publicado, as ações de

m édio prazo propostas pelo PEAS já estão sendo desem penhadas em todos

os m unicípios atingidos pelo desastre de Brum adinho.Caberá à SUBAS

atualizar o PEAS anualm ente inform ando o status das ações, e o

acom panham ento e m onitoram ento das ações propostas devem ser realizados

anualm ente pelo CEAS, que é a instância de controle social do SUAS.

Percebe-se que passado o período em ergencial, a SUBAS traz as

ações realizadas com os m unicípios em situações de desastre e calam idade

pública para a lógica do SUAS. Assim , a atuação nesses contextos vai

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100

deixando de ser isolada para se tornar institucionalizadas, adem ais ganham

uma estrutura mais elaborada em form a de política estadual.

Finalmente, é im portante ressaltar que a reconstrução deve

incorporar m edidas de preparação e m itigação para evitar a repetição do

evento de desastre (ARAÚJO, 2012). A preparação foi traduzida pela

Assistência Socia l em form ato de dois im portantes produtos que estão sendo

desenvolvidos pela SUBAS, a revisão do Caderno de Orientação em S ituação

de Desastre e C alam idade Pública, e a e laboração de um Protocolo de

A tuação para situações de em ergência, os quais também serão tratados

posteriorm ente.

5.3.1 Ação com os servidores m unicipais: capacitação

A equipe socioassistencia l teve que ser aum entada, os novos

servidores contratados pelo m unicípio precisavam ser introduzidos e

capacitados para atuarem com as vítim as da tragédia. Por isso, desde março,

quando com eçaram as contratações na área de Assistência, a SEDESE

organizou uma agenda de capacitações e apoio técnico aos servidores

municipais, a qual foi cum prida com êxito. Seguem quadro com as ações

desenvolvidas por ordem cronológica, sendo que cada ação teve duração entre

4 a 2 dias.

Quadro 8 - Ações de Capacitação e apoio técnico

Descrição Alcance e Produto

Coordenação da acolhida aos servidores recém-chegados e repasse das primeiras orientações para atuação junto às

comunidades atingidas.

cerca de 30 servidores municipais

capacitadosCondução do curso de formulários do Cadastro Único para 07

técnicos municipais, tanto entrevistadores sociais que já atuavam no município, quanto 5 novos contratados pelo

Processo Seletivo.

12 servidores municipais

capacitados

Apoio na capacitação conduzida pelo Ministério da Cidadania sobre a Integralidade da Proteção Social em contextos de

emergência e pós emergência.

cerca de 40 servidores municipais

capacitados

Capacitação sobre direitos das crianças e adolescentes para conselheiros tutelares -

Elaboração própria. Fonte: planilhas de monitoramento da SEDESE.O processo seletivo para contratação dos agentes era

responsabilidade do município, mas sabe-se que foram requisitados perfis

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101

condizentes com trabalho do SUAS, pois estes eram em sua m aioria

assistentes sociais e psicólogos. M esm o que já tivessem uma bagagem dentro

da Assistência, a prim eira capacitação ocorreu para um nivelam ento básico

sobre os serviços do SUAS, abordando o papel de cada ente, conteúdo de

proteção básica, proteção especial, entre outros. C om o os novos integrantes

iriam com por as equipes que já estavam atuando, era necessário um

alinham ento inicial sobre as ações que estavam acontecendo e com o as

equipes estavam desem penhando os serviços.

Nessa prim eira capacitação, houve articulação com a antiga

SEDPAC, atual Subsecretaria de D ire itos Hum anos, para d ivisão de conteúdo

m inistrado, então também foram tratadas as redes específicas do público

vulnerável (crianças, adolescente, pessoas com defic iência e pessoas idosas),

além de orientações para atendim ento desse público. Posteriorm ente, houve

capacitação para os conselheiros tute lares a respeito dos direitos específicos

de crianças e adolescentes.

A segunda capacitação teve um público mais reduzido, e tinha a

intenção de fo rm ar técnicos, tantos recém chegados quanto veteranos, para

entenderem m elhor com o funciona o cadastram ento do CadÚnico. Tendo em

conta a situação agravadora de vulnerabilidades, o acom panham ento das

fam ílias atingidas pelo aparato social deveria ser mais rigoroso e o mais

próxim o da realidade possível. Para registrar a realidade tal qual é, o m om ento

do cadastram ento é fundam ental, pois cabe ao entrevistador perceber com

quem está lidando para extra ir as inform ações da m elhor forma.

A terce ira capacitação aconteceu em conjunto com o M inistério da

C idadania e tinha com o objetivo de trazer a im portância da proteção integral

dos atingidos em situação de desastres e calam idade. As políticas de proteção

devem chegar juntas, e os ating idos devem ser atendidos desde suas

necessidades mais em ergentes da proteção especial, com o alim entação e

vestuário, até necessidades mais básicas com o reintegração social, prom ovida

pela proteção básica. Essa capacitação foi crucial em um m om ento em que o

período de em ergência estava acabando, porém, as dem andas por serviços

socioassistencias continuavam crescendo no pós desastre.

Além das capacitações, a SEDESE articulou uma dinâm ica com os

servidores m unicipais acerca de intervenção psicológica em tragédias, ainda no

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102

mês de março, tendo em vista a com plexidade com que o desastre atinge

também os servidores que estão lidando o tem po todo com os danos

psicológicos que as perdas trazem. A dinâm ica contem plou cerca de 25

servidores municipais, e foi descrita da seguinte form a na planilha de

organização das ações pós desastre:

"A SEDESE facilitou a agenda com um grupo de 8 psicólogas e terapeutas do Programa de Ajuda Humanitária Psicológica (PAHP), coordenado pela Profa. Dra. Ana Zampieri, junto às equipes municipais do SUAS de Brumadinho, a respeito da intervenção psicológica em tragédias. A equipe do PAHP trabalhou a temática de “cultivando forças socioemocionais em tragédias”, com o objetivo de trabalhar tanto as relações interpessoais como as intrapessoais, por meio do método psicodrama, a partir de dinâmicas de grupo e atendimentos individuais aos servidores da Prefeitura Municipal de Brumadinho que estão atuando para garantir Proteção Social à população, visto que a demanda do município foi de propiciar um momento de escuta aos trabalhadores da assistência social que já integravam a equipe quando ocorreu o rompimento da barragem e aos servidores contratados pós desastre. Cinco servidores da SUBAS/SEDESE estiveram presentes no alinhamento realizado no dia 27/03/2019, e dois psicólogos da equipe estadual acompanharam as atividades durante os três dias de intervenção." (apresentação repassada por técnico da SEDESE).

Já os servidores estaduais não receberam nenhum a capacitação, e

apesar de um increm ento nos recursos hum anos estar sendo pleiteado no

Com itê Pró Brumadinho, ainda não ocorreram contratações para o aum ento da

equipe da SEDESE com o objetivo de in tensificar o acom panham ento das

ações em todos os m unicípios da calha do R io Doce, e também dos que vivem

em risco de rompimento.

Finalmente, o Conselho Estadual de Assistência Social (CEAS), se

reuniu com o Conselho M unicipal de Brum adinho para deliberar sobre as

com petências dessa estrutura perante situação de desastre. Foi tratada a

im portância do controle social para acom panhar recursos repassados,

assegurar direitos dos atingidos, acom panhar negociações e audiências

públicas. O resultado disso foi a e laboração de orientações no form ato de uma

cartilha. Posteriorm ente, fez-se uma reunião na SEDESE com os 22 m unicípios

afetados pelo desastre, onde foram repassadas as orientações e a cartilha foi

introduzida. O material está disponível no site do CEAS para que qualquer

outro m unicípio interessado possa acessar.

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103

5.3.2 Com itê G estor Pró Brum adinho

O Comitê G estor Pró-Brum adinho é uma iniciativa no Governo de

M inas Gerais, foi criado em 26 de fevere iro de 2019 através do Decreto n 176

com a finalidade de "coordenar ações governam enta is para a recuperação

socioeconôm ica e socioam bienta l de Brum adinho e dos outros 22 m unicípios

da Bacia do Rio Paraopeba, afetados pelo rom pim ento da Barragem I da M ina

Córrego do Feijão." (MINAS GERAIS, 2019). É um canal oficial que trabalha

visando a transparência quanto às atividades governam entais, além de facilitar

a com unicação entre os atores estatais envolvidos nos processos de

recuperação, m itigação e com pensação dos danos causados à população dos

m unicípios atingidos. O Com itê funciona com um m odelo de gestão transversal,

e as ações são decisões conjuntas, o que faz aum entar a celeridade e a

efetiv idade dos processos de recuperação da população e das áreas atingidas.

(PRO-BRUM ADINHO, 2019)

O Comitê é coordenado pela Seplag, que tem função de gerenciar,

sistem atizar, e d ivu lgar as inform ações para os atores envolvidos, além de

elaborar as pautas, em itir re latórios e registros, gerenciar o site e o correio

eletrônico, e articu lar pedidos e ações de ressarcim ento jun to à Vale. Além da

Seplag, com pões o Comitê:

I - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão - Seplag, que coordenará o Comitê;

II - Vice-Governadoria;

III - Gabinete Militar do Governador - GMG - , por meio da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil;

IV - Advocacia-Geral do Estado - AGE;

V - Controladoria-Geral do Estado - CGE;

VI - Secretaria de Estado de Governo - Segov;

VII - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - Semad;

VIII - Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Seapa;

IX - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico- Sede;

X - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social - Sedese;

XI - Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade - Seinfra;

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104

XII - Secretaria de Estado de Saúde - SES;

XIII - Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais - CBMMG.

XIV - Secretaria de Estado de Cultura e Turismo - Secult;

XV - Secretaria de Estado de Educação - SEE;

XVI - Polícia Civil do Estado de Minas Gerais - PCMG;

XVII - Polícia Militar de Minas Gerais - PMMG;

XVIII - Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública - Sejusp;

XIX - Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA;

XX - Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte - Agência RMBH.

(PRO-BRUMADINHO, 2019, n.p.)

São com petências principais do Comitê:

a) Compartilhar as informações acerca das medidas emergenciais garantindo a sinergia entre os órgãos e entidades do Poder Executivo Estadual;

b) Elaborar, sistematizar e deliberar sobre as medidas reparatórias e compensatórias propostas pelo Poder Executivo Estadual;

c) Articular, por intermédio da Advocacia-Geral do Estado, com o Ministério Público Estadual e Federal, bem como com a Defensoria Pública do Estado e da União, as medidas e ações cabíveis de mitigação, reparação e compensação de danos em decorrência da ruptura da barragem;

d) Alinhar com a sociedade civil organizada as propostas em decorrência da ruptura da barragem com vistas a mitigação, reparação e compensação dos danos; entre outras.

(PRO-BRUMADINHO, 2019, n.p.)

O funcionam ento acontece ordinariam ente um a vez por mês com

reunião dos m em bros, e a Coordenação pode convocar outras reuniões

extraord inárias. A Coordenação também pode autorizar a participação de

outros entes federados, de outros poderes, da sociedade civil organizada e

dem ais pessoas para participarem das reuniões. Ainda, fica a cargo da

Coordenação convocar reunião com a sociedade civil para a prestação de

contas e d iálogo com coleta de sugestões, dem andas, reivindicações e

propostas.

Como o Comitê tem caráter multi-setorial, as ações deliberadas por

ele integram várias áreas, sendo assim, não existe uma ação que seja

exclusiva do Serviço de Assistência Social, as pautas d iscutidas em reunião

são gerais com com petências de várias secretarias. O principal produto do

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105

Com itê até agora é um Plano prelim inar que contém 17 program as de

diferentes áreas de atuação para a recuperação e com pensação aos atingidos

pelo rom pim ento da barragem do Córrego do Fe ijão . As áreas são: m eio

am biente, saúde, desenvolvim ento econôm ico e socia l. O s principais pontos do

Plano são:

acesso a direitos e proteção social; agropecuária sustentável; apoio psicossocial; assistência à saúde; eficiência da atuação estatal; fomento do turismo e da cultura; geração de emprego, renda e fomento do empreendedorismo; infraestrutura para o desenvolvimento; mineração sustentável; prevenção à criminalidade; proteção ambiental; proteção às comunidades indígenas, quilombolas e povos tradicionais; proteção do patrimônio histórico e cultural; recuperação ambiental; redução da evasão escolar; saneamento básico e segurança hídrica. (Agência Minas, 2019, n.p.)

No dia 2 de outubro deste ano, o Plano prelim inar foi apresentado e

aprovado pelo governador do Estado, Romeu Zema. Todavia a ideia é que o

M inistério Publico, a Defensoria Pública, e o próprio Estado de M inas Gerais

ainda façam alterações com o suporte técnico de com issões temáticas,

envolvendo também Prefeitura de Brum adinho, e representantes de atingido.

Esses atores, além de contribu ir com a revisão, tem papel im portante da

im plem entação e execução dos programas.

No dia da apresentação do Plano, o defensor público geral, Gério

Patrocínio, ressaltou a im portância da convergência entre os órgãos para que o

processo de reparação seja célere e mais eficiente "A pressa é importante,

porque estam os chegando a nove m eses da tragédia e tem os que dar a

resposta para a sociedade e para os atingidos. Conte com a gente na

construção desse trabalho” (Agência Minas, 2019, n.p.).

Como o Plano que foi apresentado ainda é prelim inar, não foi

possível acessá-lo. Todavia, a SEDESE esteve presente em todas as reuniões

até novem bro deste ano, representada por uma gestora e m ais um suplente.

De acordo com essa gestora, dos 17 program as apresentados, umas das

pautas mais pertinentes da SU BA S é relacionada ao aum ento da equipe

técnica estadual para m onitorar as ações de m édio e longo prazo planejadas

no Comitê. A gestora ainda traz que o acom panham ento das atividades é

complexo, e assim com o a equipe m unicipal foi aum entada, os recursos

hum anos do Estado precisam de increm entos para darem conta de cum prir

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106

com sua função de m onitoram ento e apoio técnico para o cum prim ento do

Plano de Ação.

Ademais, uma das proposições do Plano de Ação foi a contratação

m unicipal pela Vale em si. A contratação é justificada pelo aum ento da

dem anda por serviços socioassistencias em decorrência do desastre. M as a

reparação tem com o prerrogativa restaurar os danos dos atingidos, então o

objetivo é que a dem anda por Assistência dim inua no longo prazo, assim a

oferta dos serviços socioasistencias tende a vo ltar ao nível anterior ao

desastre. Com o foi firm ado acordo entre M unicíp io e Vale, uma cobrança do

C om itê G estor Pró Brum adinho é justam ente para que ocorra m onitoram ento

que possa justificar até quando a equipe contratada ainda é necessária para o

atendim ento aos atingidos, e fazer esse m onitoram ento requer que os recursos

hum anos estaduais sejam mais robusto. Uma entrevistada discorre sobre essa

situação:

Precisamos alimentar o comitê pro Brumadinho trazendo informações de como está sendo o serviço realizado pelos funcionários municipais que foram contratados pela Vale. Ver o desempenho e o desenvolvimento das atividades. Foi firmado acordo com a Vale e com Ministério Público, então tem que prestar informações de como está sendo efetuado, onde estão as equipes, e o que estão fazendo. Acompanhamento do plano de trabalho desenhado pelo Comitê de crise entre SEDESE e Município. A equipe não vai ser mantida para sempre, é justificada para atender a situação de crise. Em algum momento a Vale vai retirar esse recurso, então a gente precisa acompanhar para ver se já cumpriu todo o papel, para que nas audiências possamos saber se ainda precisa manter a equipe ou não. (entrevista 5).

5.3.3 Revisão do Caderno de O rientações e E laboração do Protocolo

A revisão do Caderno de O rientações se fez necessária na m edida

em que os gestores percebem que desastres de rom pim ento de barragens são

uma nova realidade no Estado de M inas G erais que podem vo ltar a se repetir,

tendo em vista a quantidade de barragens instáveis no estado. Assim , as

orientações até então voltadas para em ergências relacionadas à chuva não

são o bastante para atuar em contextos de calam idades públicas envolvendo a

atividade m ineradora. De acordo com um entrevistado:

O caderno de orientações de 2016 é para situações de calamidade, claro que nós utilizamos no desastre, pois a

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107

essência das ações é a mesma, porém o rompimento de barragem tem situações muito específicas. Por isso, tentamos chegar em um padrão mínimo de atuação, e estamos incorporando ações relacionadas ao rompimento de barragem. (entrevista 7).

O novo cenário de em ergências traz novidades que precisam ser

incorporadas no documento, com o a presença de um a em presa crim inosa

responsável pelas tragédias, e que por isso tem responsabilidades e papéis

para desem penharam na resposta e na m itigação dos danos dos desastres.

Assim , a defin ição detalhada das com petências do ente privado com põe um

pilar im portante a ser incorporado no quadro de atores.

Além disso, surge a necessidade de também orientar a atuação da

Assistência Social para casos de alerta de rom pim ento, com o por exem plo em

Barão de Cocais7. A evacuação de localidades inteiras, tre inam entos em rotas

de fuga, e convívio com sirenes de alertas, são o sufic iente para im pactar a

vida e o cotid iano dos indivíduos de m aneira brusca, afetando as relações

interpessoais, a noção de pertencim ento com o lugar onde habitam, a

identidade das pessoas, entre outros. De acordo um entrevistado:

O alerta de rompimento por si só gera problemas psicológicos que a Assistência Social ainda está aprendendo a lidar. A população adoece e os próprios atores que estão em contato com essa triste realidade também adoecem. Não existe nada escrito nessa área, estamos parando para pensar nisso agora, é uma nova demanda muito desafiadora. (entrevista6).

Outra novidade im portante que o Caderno traz diz respeito à

e laboração de fluxos detalhados para o atendim ento do público vulnerável

(crianças e adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência). Os

fluxos estaduais estão alinhados com as diretrizes nacionais trazidas pelo

Protocolo Nacional Conjunto. Como dito anteriorm ente, a equipe de Direitos

Hum anos se responsabilizou pelos cuidados com esses atingidos na tragédia

de Brumadinho. Todavia, este atendim ento não estava planejado em âm bito

estatal, o que dificultou a atuação e a responsabilização dos atores

7Em 8 de fevereiro de 2019, dias após o rompimento da barragem de Fundão, a barragem Sul Superior, em Barão de Cocais subiu para nível de segurança 2. Temerosos por outra tragédia, a população que vivia próxima a barragem foi evacuada e até então não puderam voltar para suas casas. A barragem não rompeu, mas o risco de rompimento por si gera consequências drásticas para o cotidiano da população, que vive há meses amedrontada e com problemas pscicológicos. A rotina calma deu lugar a treinamentos de evacuação e constantes sirenes de alertas. Mesmo sem rompimento, a cidade encontra-se em emergência pela alta demanda por serviços socioassistenciais.

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devidam ente, sendo que os papéis de Assistência e de D ireitos Hum anos se

confundia bastante .

A té a data da pesquisa, a revisão do Caderno de O rientações não

havia sido concluída, sendo que:

Ideia é que o caderno agora dê conta de orientar para situações de emergências que sempre acontecem, como inundações, enchentes, mas que também trate de situações de calamidade pública extrema como o rompimento de barragem de Brumadinho, ou alerta de rompimento, como em Barão de Cocais. (entrevista 6)

A revisão do Caderno está sob responsabilidade da Subsecretaria

de Assistência Social, e envolve as três superin tendências: de proteção básica,

proteção especial e de vig ilância e capacitação. O caderno foi estruturado da

seguinte forma: prim eiram ente traz um capítu lo explicativo d istinguindo

calam idade pública de emergência, e em quais contextos devem ser

decretadas; posteriorm ente aborda as com petências e responsabilidades dos

entes governam enta is em suas três esferas, bem com as com petências de

outros atores, com o entes privados, em presa culpada pelo desastre (quando

houver) e sociedade civil; em seguida vem capítu lo sobre p lanejam ento das

ações; e finalm ente traz as com petências socioassistencia is divid idas pelas

áreas das três superintendências m encionadas acima.

Desse Caderno, deriva-se outro produto, o tão esperado protocolo

de Assistência Social para situações de em ergência, o qual também ainda não

foi finalizado. O Protocolo tem por objetivo trazer de form a didática orientações

do passo a passo detalhado para atuação dos m unicípios, bem com o defin ir as

com petências de cada ente, tanto para prevenção de desastres quanto para

atuação em situações de alerta e de em ergências.Um entrevistado relata que

A saúde já tem um padrão de atuação em situação de desastre, a assistente social não. Temos tipificação dos serviços que são acionados, temos manuais, porém não temos um padrão, não temos um protocolo. Sentimos a necessidade de elaborar um protocolo para além dos serviços tipificados que já existem. Estamos tentando mostrar que é possível ter um protocolo mínimo da assistência para a gestão de desastres. (entrevista 7).

A ideia é que am bos os docum entos, Caderno de O rientações e

Protocolo, sejam sistem aticam ente d ivulgados para os 853 m unicípios

m ineiros, e sirva com o material consultivo para a prevenção e m itigação, caso

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desastres venham a acontecer. A im portância de ter material com o esses é que

eles perm anecem, m esm o com a rotatividade das equipes municipais. Então se

algum ator m unicipal inteirado sobre o assunto de desastre não estiver mais

disponível, qua lquer outro ator pode igualm ente se capacitar. Como relata uma

entrevistada"Capacita uma equipe m unicipal e equipe sai, isso é uma

dificuldade, a rotatividade no município, então por isso é tão im portante eles

terem esse m aterial com o livro de cabeceira." (entrevista 5).

Apesar da e laboraçãoestar m ajoritariam ente sob responsabilidade

da Diretoria de A lta Com plexidade, da Superintendência de Proteção Especial,

o protocolo é construído de form a conjunta com as dem ais d ire torias da

SUBAS. O docum ento produzido é com base no Caderno de O rientações de

2019,o qual vem sofrendo alterações ao m esm o tem po em que o protocolo é

construído, sendo um trabalho concom itante para os gestores da SUBAS.

Cada servidor que está participando do processo de elaboração contribui com

uma parte do documento, que é editado sim ultaneam ente pelos envolvidos na

construção através de uma plataform a virtual.

Am bos os m ateria is foram produzidos a partir das experiências

adquiridas nas atuações da SUBAS até hoje, com atendim ento em ergencial e

m onitoram entoem situações de desastre, principalm ente no período de plantão

de chuvas, mas com a im portantíssim a contribu ição de aprendizados nas

tragédias de M ariana e Brumadinho. Adem ais, alunos da Escola de G overno da

Fundação João Pinheiro, através da disciplina de Projeto Ap licado III,

auxiliaram a elaboração trazendo uma relevante revisão bibliográfica, nacional

e internacional que subsid iou a e laboração do protocolo e do caderno.

Uma entrevistada acredita que não é necessário fazer outro

protocolo voltado para os serviços de Direitos Hum anos, sendo que basta

incorporar os conteúdos específicos dos Direitos Hum anos no protocolo já em

desenvolvim ento da Assistência Social. Dessa forma, a in tegração desses

serviços da SEDESE perm itiria que o m unicípio consulte um único documento,

o qual será sufic iente para orientar e d ispor as inform ações que os gestores

m unicipais precisam, tanto para prevenção quanto para atuação em situações

de em ergência. Todavia, de acordo com um entrevistado, am bos os materiais,

Caderno e Protocolo, estão voltados para equipe técnica e gestora dos

serviços socioassistenciais, m esm o que eventualm ente seja abordado algum

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conteúdo de D ireitos Humanos. Contrapondo os relatos de dois entrevistados,

percebe-se uma falta de com unicação interna, pois apesar de uma defender

que os m ateria is poderiam abordar conteúdos de am bas as áreas, essa

intenção não foi declarada. Direitos Hum anos e Assistência Social agora

funcionam no m esm o andar, dentro de uma mesa secretaria, m esm o assim, a

fa lta de articulação interna pode ser fa to r prejudicial para a integração dos

serviços.

Vale ressaltar que o protocolo em desenvolvim ento traz tratativas

referentes aos serviços de Assistência Social,e m uito pouco de Direitos

Humanos, sendo que as outras subsecretarias da SEDESE(de Esportes, e

T rabalho e Em prego), não estão representadas no documento, inclusive pela

natureza não em ergencial desses serviços.Todavia, pensando no planejam ento

do período de reconstrução, no m édio e longo prazo, a atuação das outras

subsecretarias da SEDESE são de extrem a relevância.O desafio no pós

desastre se dá justam ente em com o articular todos os instrum entos e serviços

que o Estado dispõe de m aneira a form ular políticas públicas para a

reconstrução de econom ias e sociedades que foram devastadas pela atividade

m ineradora.

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6 CONCLUSÃO

A tragédia de Brum adinho não interrom peu som ente a vida dos que

foram engolidos pela lam a. Toda a população da cidade foi ating ida na m edida

que perderam parentes, am igos e conhecidos. M uitos também perderam casa,

bens m ateria is, meios de produção e de geração de renda. Perderam recursos

naturais, e a própria saúde. Toda a base de ativos foi danificada, cap ita l fís ico,

humano, cultural, natural e social. E a Vale, a culpada por tam anha desgraça,

age de form a focada na reparação principalm ente do capital financeiro,

desconsiderando que este é insuficiente para reparar os efeitos do desastre em

sua totalidade.

No contexto, a tríade de estrutura de oportunidade m ercado-

sociedade civil-Estado, está caótica. O m ercado ficou com pletam ente

desestruturado, pois sua base de funcionam ento era a ativ idade m ineradora, a

qual entrou em crise. A sociedade civil está muito abalada, e sem resiliência

para conseguir seguir em frente depois de tantas perdas. Então o Estado,

apesar de também não estar devidam ente preparado, forta lece-se com o pilar

fundam ental para estabelecer a estrutura de oportunidades responsável por

m itigar as perdas e reparar os danos causados pela tragédia.

De acordo com a literatura sobre vu lnerabilidades e desastres,

m exer som ente na base de ativos não basta, é necessária reestruturação de

nível macro para que os atingidos possam reconstru ir a base de ativos.

Existem duas form as de transform ar ativos, a prim eira seria forta lecendo os

m eios já existentes, e a segunda seria desenvolvendo novas estratégias de

resposta. Em situação em que a m inero-dependência agravou os im pactos do

rom pim ento da barragem, a segunda form a se faz mais viável por buscar

justam ente rom per a relação dependente com a atividade m ineradora. Todavia,

m esm o que m udanças estruturais sejam necessárias, com o a diversificação do

mercado, o processo de reparação de danos deve respeitar os modos de vida

e as especific idades do público atingido. As vítim as devem ter liberdade para

escolherem com o vão querer se recuperar, e para que essa liberdade se

manifeste, é necessária uma estrutura de oportunidade diversificada, inclusiva

e abrangente. Por exemplo, um agricu ltor que não pode mais p lantar culturas

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devido à contam inação do solo e da água, não pode ser forçado a m udar de

profissão para se inserir no m ercado e vo ltar a ter renda.

Para que se respeitem as especificidades, é im prescindível que o

Estado conheça com que público e com que tipo de vulnerabilidades estão

lidando, pois só assim será capaz de pensar diferentes estratégias para a

reparação de danos. Nessa perspectiva, a proxim idade com a sociedade civil é

elem ento crucial para conhecim ento dos atingidos. Todavia, observou-se que a

participação social não aconteceu de form a incisiva na etapa de resposta,

sendo que a representativ idade da sociedade civil nas instâncias de tom ada de

decisão foi pouca. Um ator im portante nesse m om ento foi o M ovim ento de

A tingidos por Barragens (MAB), que contribuiu com a garantia de direitos

fu turos dos ating idos ao propor m udanças no form ulário em ergencial, retirando

perguntas de identificação de danos.

Ademais, no pós desastre, apesar de a participação social constar

em alguns dispositivos, com o Comitê Pró Brum adinho e Conselho Estadual de

Assistência Social, na prática ela continua mínima. A sociedade civil se

organizou através de alguns grupos, porém o diálogo com o governo não é

fluído. Apenas com com unidades quilom bolas se observa uma parceria m aior

através de planejam entos conjuntos para a recuperação de m édio e longo

prazo. Neste ponto, percebe-se que a participação da sociedade civil nas

estratégias de reparação e m om entos em ergencia is fugiu do escopo do

trabalho, todavia são necessários estudos nesta área.

De acordo com a literatura estudada, as fases da adm in istração de

desastre estão inter-relacionadas, de form a que a boa atuação no pós desastre

depende muito de com o foram executadas as ações no período em ergencial. A

ação não coordenada ou insuficiente na fase em ergencial

de ixouconsequências para a ação da SEDESE no período de pós desastre.

Por exemplo, para o planejam ento de m édio e longo prazo, v isando a m itigação

das vu lnerabilidades e reparação dos danos, é im portante que se tenha

inform ações com pletas sobre as condições dos atingidos. O form ulário utilizado

para registrar as inform ações sofreu diversas alterações no decorrer do período

em ergencial. Além disso, a aplicação não era alinhada, sendo que as form as

de responder variavam de acordo com a interpretação dos aplicadores. No

m om ento de transcrição, m uitas inform ações se perderam, e quando o

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113

Governo Federal m uda os dados de plataforma, novam ente os dados são

dan ificados. Todos esses problem as prejudicam a segurança da in form ação e

a confiabilidade dos dados.

Ademais, a proposta de jun ta r os dados dos atingidos de

Brum adinho na plataform a nacional que perm itisse o acom panham ento das

fam ílias e atingidos pelo CadÚnico não teve êxito. Por isso, apesar de alguns

gestores terem considerado o form ulário suficiente para o atendim ento das

em ergencias, o processo de registro de informação, o qual consta com o ação

do Serviço de Proteção Especial, foi insuficiente para: realizar m onitoram ento

das fam ílias e de sua situação de vulnerabilidade;para m apear as perdas de

ativos e danos que sofreram com o desastre; m apear a situação financeira dos

ating idos e o acesso a renda; entre outras in form ações essenciais para o

planejam ento de políticas públicas e intervenções após o período em ergencial.

Dessa forma, o form ulário pouco serviu para orientar as ações da política no

médio e longo prazo, m esmo que tais ações se reduzissem a apoiar o

m unicípio na proteção dos atingidos.

Além dos registros dos atingidos, a com pletude de inform ações

sobre as ativ idades desem penhadas no período em ergencial é de extrema

relevância para o acom panham ento e desenvolvim ento do processo de

reparação. Como a atuação aconteceu de form a tum ultuada e desorganizada,

não se tinha clara divisão das com petências. O Plano de ação não estava

com pleto e as planilhas de m onitoram ento não eram suficientes para estruturar

uma macro coordenação da atuação em ergencial. Em consequência, fica

com plicado avalia r com o foi a resposta da Assistência Social, pois não se tem

certeza em que m edida os prazos, com petências e ativ idades foram realm ente

cumpridas.

No decorrer de todo o trabalho, percebe-se que conform e as equipes

estavam no território e conseguiam ver a realidade tal qual esta se

apresentava, pensavam em estratégias de atuação para lidar com a situação

caótica, e iam m oldando as ativ idades e estruturas para atenderem as

especific idades da situação. Dessa forma, os instrum entos norm ativos

existentes na época não foram seguidos à risca, pois m uitas particularidades

não eram abordadas nos materiais. As orientações disponíveis não eram

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114

voltadas para desastres de tam anha m agnitude e por isso foram claram ente

insuficientes para subsid iar a atuação socioassistencia l.

Essa falta de planejam ento custou m uito tem po que poderia ter sido

otim izado se m enos decisões tivessem que ser tom adas na hora, e ao contrário

disso, existissse um protocolo para casos de calam idade pública. Um

planejam ento prévio não daria conta de resolver todos os problem as

particulares de cada situação de desastre e de cada público, porém nortearia

os gestores para que soubessem as prioridades a serem atendidas no

m om ento em ergencial, e evitaria que as estruturas e atores tivessem que ser

descobertos e articulados na hora da urgência.

Porém, a experiência dram ática da assistência social em

Brum adinho serviu para que o serviço se organizasse em três etapas

importantes: a preparação para o desastre, a atuação em ergencial, e a

reparação de m édio prazo. Essa organização se deu através da criação do

Protocolo, e da inclusão de planejam ento para situações de em ergência do

PE A S (o qual perdurará por quatro anos). Tam bém foi fe ita uma revisão do

Cadernode Orientações: S ituações de Calam idade Pública e de Emergência,

incorporando questões específicas de desastres com presença de um agente

culpado, e instruções mais com pletas e para atendim ento ao público e atuação

socioassistencia l em ergencial.

O referencial teórico estudado traz em diversos m om entos que uma

situação de desastre requer uma forte articulação entre os serviços para

garantir acolh im ento integral e com pleto aos atingidos. A integração no

m om ento em ergencial, além de contribu ir para a oferta de serviços às vítimas,

também m elhora os fluxos de informação, tornando-os consistentes. No

m om ento pós desastre, é in teressante que esta integração continue, e o

Com itê Pró Brum adinho atende o propósito da articulação para a reparação

dos danos causados pela rom pim ento da barragem nos m unicípios atingidos. A

atuação do Comitê também não foi o foco deste estudo, mas entendendo que

esta instância tem grande relevância para a reparação de m édio e longo prazo,

é interessante que pesquisas posteriores analisem esta estrutura.

Entretanto, sentiu-se fa lta de uma integração para além da

reparação de danos. Assim com o o Protocolo N acional Conjunto prevê com o

deve ocorrer a atuação integrada dos serviços em m om entos de desastres

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115

para atendim ento do público vulnerável, seria interessante que fosse criado um

grupo de trabalho para elaborar um instrum ento estadual que orientasse a

atuação em ergencial in tegrada não só para o público vulnerável, mas para toda

a população atingida. Na tragédia de Brumadinho, os entrevistados relatam que

por muito tem po ficaram tentando identificar os atores e as com petências de

cada um, por isso, se houvesse um planejam ento integrado, a resposta

im ediata poderia ter tido mais êxito.

Finalm ente, é valido ressaltar que este estudo apresentou muitas

lim itações, pois era difícil conseguir acesso a documentos, inform ações e

pessoas centrais. Os registros eram poucos e estavam difusos pelas diretorias.

M uitas inform ações eram assim étricas e divergentes. Adem ais, existe pouca

literatura sobre a recente tragédia de Brumadinho. M esm o com esses

em pecilhos, espera-se que o presente trabalho tenha contribuído de algum a

form a para o entendim ento dos processos de atuação da Assistência Social

perante o desastre. Ainda, entende-se que este cam po de estudo poderia ser

com plem entado com inform ações relativas às percepções do ente m unicipal e

da sociedade civil quanto a atuação estadual.

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116

REFERENCIAS

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APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO - TCLE

Destinatários: Servidores estaduais da área socioassistencia lenvolv idos nos processos de resposta e de reconstrução após o rom pim ento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho.

O senhor(a) está sendo convidado a partic ipar da pesquisa “O ESTADO

DIANTE DAS TRAGÉDIAS DE MINERAÇÃO: Atuação da Subsecretaria de

Assistência Social em Brumadinho”.Pesquisa apresentada ao Curso

Superior de Adm inistração Pública da Escola de G overno Paulo Neves

Carvalho, da Fundação João Pinheiro, com o requisito parcial para obtenção do

títu lo de Especia lista em Políticas Públicas e G estão Governam ental.

O objetivo geral da pesquisa é s istem atizar e analisar m edidas de resposta e

de recuperação da área estadual de Assistência Social ao rom pim ento da barragem em

Brum adinho, com intenção de contribu ir para a m elhoria e aprim o ram en to da

capacidade de resposta e p lanejam ento govern am en ta l. Os procedim entos da

pesquisa consistem em : análise de docum entos, planilhas e m ateriais de orientação

em situação de desastre; realização de entrevistas sem i-estruturadas com servidores

envolvidos em todo o processo; e sistem atização das inform ações coletadas. F inalm ente, pretende-se contribu ir com sugestões de m elhoria para a resposta

governam enta l mais efic ien te .

O senhor (a) foi escolhido(a) para participar deste estudo. Pedimos

assim a sua colaboração, mas é im portante esclarecer alguns pontos:

(1) A SUA PARTICIPAÇÃO É LIVRE. Não tem a obrigação de participar.

Pode recusar ou desistir a qua lquer momento, sem qualquer penalidade.

(2) As conversas serão gravadas ou anotadas, mas no m om ento em que se

fizer as transcrições não haverá referência a seu nome. As inform ações

geradas nessa entrevista são confidencia is e será garantido a

privacidade do sujeito da pesquisa.Você não será identificado (a) em

nenhum a publicação que possa resultar deste estudo, sendo garantido

seu anonimato.

(3) Este docum ento terá duas vias, uma ficará com você (entrevistado) e a

outra com a pesquisadora responsável.

DECLARAÇÃO DO(A) PARTICIPANTE DA ENTREVISTA

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Declaro ter recebido e entendido todos os esclarecimentos acima. Estou

ciente que minha participação é voluntária e que posso deixar de participar quando quiser sem nenhuma penalidade. Declaro concordar em participar da

entrevista. Cada uma das duas vias deste documento será rubricada e

assinada por mim e pela pesquisadora Ana Laura de Castro. Uma das vias

ficará comigo, a outra com a pesquisadora.

Nom e do participante________________________________________________

Assinatura___________________________________________________________

Pesquisadora: Ana Laura de Castro

Assinatura da Pesquisadora_______

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APENDICE B: ROTEIRO DE ENTREVISTA

Roteiro de Entrevista 1: QuestionárioA-) Form ulação

• Qual a finalidade, qual o objetivo do cadastro?• Q uantos funcionários responsáveis pela form ulação do questionário?

• Qual a form ação desses funcionários?• Qual área de atuação desses funcionários na SEDESE?

• Em quanto tem po foi e laborado o questionário?• Com base em que foi pensado e form ulado o questionário? Houve

algum m odelo usado com o base? Seguiu-se algum protocolo na elaboração?

• Como foram escolhidas as variáveis em pregadas?• Teve diferença no processo realizado perante desastre de M ariana?

• questionário foi revisado?

B-) Ap licação• Como foi aplicado o questionário? Quais os m eios disponíveis? Tinha

recursos para aplicação?• Por quantos dias o cadastro foi realizado?

• Qual local de aplicação do questionário?• Pessoas que aplicaram passaram por algum a capacitação? Ou já

tinham algum a experiência prévia?

• Como foram escolhidas essas pessoas?• Como e onde foram arm azenados os questionários?

• Houve feedback da equipe de aplicação para a equipe de form ulação, com a finalidade de m elhorar a qua lidade das perguntas?

C-) Transcrição• Quem transcreveu os questionários? Q uantas pessoas envolvidas no

processo? Foram as m esm as que aplicaram ? Como foi d ivid ido?• As pessoas receberam algum a instrução para realizar a transcrição do

questionário? Como foi isso?

• Havia contro le na transcrição de quantos form ulários cada pessoa pegou e quantas entregou?

• O form ulário foi a lterado na etapa de transcrição? Perderam -se inform ações? Quais inform ações foram as mais prejudicadas?

• O que foi fe ito com os form ulários físicos?

D-) U tilidade dos dados• Existe algum grupo que estudou os dados? Para que a SEDESE e/ou

prefeitura usou os dados?

• Com que frequencia eram em itidos relatórios para a prefeitura? Tem - se notícias do que a prefeitura fez com essas inform ações? Em que área da SEDESE é responsável por esses Cadastro?

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E-) Desafios e gargalos do processo. Sugestões e propostas de melhoria.• Espaço aberto para fala do entrevistado.

Roteiro de Entrevista 2:resposta emergencial e no pós desastre

• Localizar o papel do entrevistado na Institu ição quando aconteceu o

desastre.

• Você se lembra de quando chegou a notícia do desastre, o que foi fe ito

nesse prim eiro m om ento?

• Porque estrutura de governança de M ariana não foi usada?

• Quais ações, encam inham entos, processos, foram fe itos no âm bito da

AS?

• Quais estruturas foram criadas já que não usou a anterior? Quais as

novas ações, setores, com issões criadas?

• Existe docum entação, registro de processos, atas das reuniões,

registros dos com prom issos firm ados?

• Com o foi a relação com Brum adinho? C om o é o contato com as

equipes locais?

A-) R esposta imediata

• Em que m edida foi cum prido o Serviço de P roteção em Situações de

Calam idades Públicas e Em ergências?

• Com o foi o acolh im ento das vítim as?

• C om o foi a organização da equipe? Teve capacitações para os

agentes?

• Em que m edida o Caderno ajudou na atuação em B rum adinho? A

equipe tinha conhecim ento das orientações?

• Quais ações foram fe itas para o público vulnerável?

• Com o aconteceu o cofinanciam ento?

• Com o foi a relação com a Vale?

B-) Com itêPró Brum adinho e ações de longo prazo

• Q uantas vezes Comitê Pró Brum adinho se reuniu, tem ata das

reuniões? Quem ficou responsável pelo o que?

• Dos 17 program as apresentados esse mês, quais tem a ver com

SEDESE?

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• Como foi a participação da SEDESE até aqui no com itê?

• Onde achar m ateria is das reuniões para ter docum ento concreto

relacionada à SEDESE?

• Foi construído um P lano de ação? Onde está? Quem participou da

construção? O que tem nesse Plano? E lencar todas as ações.

• Sobre o Protocolo que está sendo construído e sobre o Caderno que

está sendo revisado, com o é este processo? quem participa?

• O que ta sendo pensado em relação as barragens com chance de

rom pim ento?