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1. O começo N o final do ano de 1986, um indivíduo de estranhas ideias e bizarros propósitos com- prou 7,5 hectares de terreno, parte do qual abrangia uma extensa área de interesse ar- queológico. O sítio, o povoado fortificado de Mesas do Castelinho, na freguesia de Santa Clara-a-Nova, concelho de Almodô- var, era de há muito conhecido, quer por uma primeira referência de José Leite de V ASCONCELLOS (1934: 243), que não che- gou a visitar o local, quer sobretudo por um pequeno artigo publicado por Abel Viana, Veiga Ferreira e o padre A. Serralheiro, en- tão prior daquela freguesia, que divulgou o sítio e registou um recipiente de cerâmica ática ali recolhido (VIANA et al. 1956). Fi- nalmente, referências de H. SCHUBART (1975) sugerem poder existir ali uma ocu- pação da Idade do Bronze a cerâmica grega e a suposta ocupação da Idade do Bronze valeram ao local uma assídua pre- sença em toda a cartografia arqueológica do Sul de Portugal. Com notável persistência e nefastas consequências, o novo proprietário dedi- cou-se durante mais de duas semanas a re- volver o sítio, com auxílio de uma “bull- dozer”, alegadamente em busca de um te- souro. O insólito comportamento gerou suspeitas e a acção combinada da autarquia local e dos Serviços Regionais de Arqueo- logia do Instituto Português do Património Cultural (IPPC) acabaram por embargar os trabalhos e avançar com uma proposta de aquisição pelo Estado da parcela perten- cente ao destruidor. As circunstâncias rocambolescas que rodearam todo este processo, desde a aqui- sição e destruição até ao embargo público, bem como o imenso acervo de materiais trazido à superfície e (entre outros) um im- pressionante corte, com mais de cinco me- tros de altura, deixado no terreno, desper- taram a curiosidade dos media. Uma extensa reportagem sobre o as- sunto passou em noticiário televisivo noc- turno de domingo, numa época em que 92 al-madan ISSN 0871-066X | IIª Série (16) | Dezembro 2008 CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE ALMADA GRANDES PROJECTOS DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA dossiê r e s u m o Balanço de 20 anos de desenvolvimento do projecto de investigação, conservação e valorização do sítio arqueo- lógico de Mesas do Castelinho (Almodôvar, Beja). Comprovou-se a enorme importância científica e patri- monial do sítio, com uma primeira fase de povoamento entre a Idade do Ferro (finais do século V a.C.) e a Épo- ca Romana (final do século I d.C. ou início do seguinte). Após longo abandono, em momento impreciso dos sé- culos IX-X d.C. instalou-se no local uma fortificação is- lâmica, também ela definitivamente abandonada pelo sé- culo XII. p a l a v r a s c h a v e Idade do Ferro; Época romana; Povoado; Idade Média (islâmico); Fortalezas. a b s t r a c t Overview of the 20-year research, conservation and val- orisation development project of the Mesas do Casteli- nho archaeological site (Almodôvar, Beja). It has been possible to determine the enormous scien- tific and heritage importance of the site, whose first set- tlement stage dates from between the Iron Age (end of V century BC) and Roman times (end of I century AD or beginning of the following century). After being aban- doned for a long time at some point during the IX-X centuries AD, an Islamic fortress was built at the site and was later abandoned around the XII century. k e y w o r d s Iron Age; Roman times; Habitat; Middle Ages (Islamic); Fortresses. r é s u m é Bilan de 20 années de développement du projet de re- cherche, conservation et valorisation du site archéolo- gique de Mesas do Castelinho (Almodôvar, Beja). On a prouvé l’énorme importance scientifique et patri- moniale du site, avec sa première phase de peuplement entre l’Âge de Fer (fin du Vème siècle av. J-C) et l’époque romaine (fin du Ier siècle a. J-C ou début du suivant). Après un long abandon, dans une période imprécise des IXème et Xème siècles a. J-C s’est installée sur le lieu une fortifi- cation islamique, également abandonnée définitivement au cours du XIIème siècle. m o t s c l é s Âge de Fer; Époque romaine; Habitat; Moyen Âge (isla- mique); Forteresses. Mesas do Castelinho (Almodôvar) um projecto com vinte anos por Carlos Fabião e Amílcar Guerra Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Investigadores do Centro de Arqueologia / UNIARQ ([email protected]; [email protected]). À memória de Carlos Jorge Ferreira e António Cândido Colaço, ao povo de Santa Clara-a-Nova.

G P A PORTUGUESA Mesas do Castelinho resumo (Almodôvar)ocuparmo-nos de Mesas do Castelinho, não porque o sítio fosse desinteressante, muito pelo contrário, mas por nos custar demasiado

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1. O começo

No final do ano de 1986, umindivíduo de estranhas ideiase bizarros propósitos com-

prou 7,5 hectares de terreno, parte do qualabrangia uma extensa área de interesse ar -queológico. O sítio, o povoado fortificadode Mesas do Castelinho, na freguesia deSanta Clara-a-Nova, concelho de Almodô -var, era de há muito conhecido, quer poruma primeira referência de José Leite deVASCONCELLOS (1934: 243), que não che -gou a visitar o local, quer sobretudo por umpequeno artigo publicado por Abel Viana,Veiga Ferreira e o padre A. Serralheiro, en -tão prior daquela freguesia, que divulgou osítio e registou um recipiente de cerâmicaática ali recolhido (VIANA et al. 1956). Fi -nalmente, referências de H. SCHUBART

(1975) sugerem poder existir ali uma ocu-pação da Idade do Bronze − a cerâmicagre ga e a suposta ocupação da Idade doBronze valeram ao local uma assídua pre-sença em toda a cartografia arqueológicado Sul de Portugal.

Com notável persistência e nefastasconsequências, o novo proprietário dedi-cou-se durante mais de duas semanas a re -volver o sítio, com auxílio de uma “bull-dozer”, alegadamente em busca de um te -souro. O insólito comportamento geroususpeitas e a acção combinada da autarquialocal e dos Serviços Regionais de Ar queo -logia do Instituto Português do PatrimónioCultural (IPPC) acabaram por embargar ostrabalhos e avançar com uma proposta deaquisição pelo Estado da parcela perten-cente ao destruidor.

As circunstâncias ro cambolescas quero dearam todo este pro cesso, desde a aqui -sição e destruição até ao embargo pú blico,bem como o imenso acer vo de materiaistra zido à superfície e (entre outros) um im -pressionante corte, com mais de cinco me -tros de altura, deixado no terreno, desper-taram a curiosidade dos media.

Uma extensa reportagem sobre o as -sun to passou em noticiário televisivo noc-turno de domingo, numa época em que

92 al-madan ISSN 0871-066X | IIª Série (16) | Dezembro 2008

C E N T R O D E A R Q U E O L O G I A D E A L M A D A

GRANDES PROJECTOS

DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESAdoss

r e s u m o

Balanço de 20 anos de desenvolvimento do projecto deinvestigação, conservação e valorização do sítio arqueo -lógico de Mesas do Castelinho (Almodôvar, Beja).Comprovou-se a enorme importância científica e patri-monial do sítio, com uma primeira fase de povoamentoentre a Idade do Ferro (finais do século V a.C.) e a Épo -ca Romana (final do século I d.C. ou início do seguinte).Após longo abandono, em momento impreciso dos sé -culos IX-X d.C. instalou-se no local uma fortificação is -lâ mica, também ela definitivamente abandonada pelo sé -culo XII.

p a l a v r a s c h a v e

Idade do Ferro; Época romana; Povoado; Idade Média(islâmico); Fortalezas.

a b s t r a c t

Overview of the 20-year research, conservation and val-orisation development project of the Mesas do Caste li -nho archaeological site (Almodôvar, Beja).It has been possible to determine the enormous scien-tific and heritage importance of the site, whose first set-tlement stage dates from between the Iron Age (end ofV century BC) and Roman times (end of I century AD orbeginning of the following century). After being aban-doned for a long time at some point during the IX-Xcenturies AD, an Islamic fortress was built at the siteand was later abandoned around the XII century.

k e y w o r d s

Iron Age; Roman times; Habitat; Middle Ages (Islamic);Fortresses.

r é s u m é

Bilan de 20 années de développement du projet de re -cher che, conservation et valorisation du site archéolo -gique de Mesas do Castelinho (Almodôvar, Beja).On a prouvé l’énorme importance scientifique et patri-moniale du site, avec sa première phase de peuplemententre l’Âge de Fer (fin du Vème siècle av. J-C) et l’époqueromaine (fin du Ier siècle a. J-C ou début du suivant). Aprèsun long abandon, dans une période imprécise des IXèmeet Xème siècles a. J-C s’est installée sur le lieu une fortifi -cation islamique, également abandonnée définitivement aucours du XIIème siècle.

m o t s c l é s

Âge de Fer; Époque romaine; Habitat; Moyen Âge (isla -mique); Forteresses.

Mesas do Castelinho(Almodôvar)um projecto com vinte anos

por Carlos Fabião e Amílcar Guerra

Departamento de História da Faculdade de Letras daUniversidade de Lisboa. Investigadores do Centro deArqueologia / UNIARQ ([email protected]; [email protected]).

À memória de Carlos Jorge Ferreira e António Cândido Colaço,ao povo de Santa Clara-a-Nova.

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2. O sítio arqueológico

O povoado de Mesas do Castelinhoconstitui exemplo de uma das conhecidasestratégias de povoamento da chamada IIIdade do Ferro do Sudoeste da PenínsulaIbérica. Corresponde ao que L. BerrocalRangel definiu como “povoado de ribei ro”,isto é, a um aglomerado instalado junto deuma linha de água (BERROCAL-RAN GEL

1992: 205), no caso vertente a Ribeira deMora, afluente do rio Mira, sem ocuparuma posição dominante, de amplos hori-zontes. Pode dizer-se, pois, que se dissimu -la na paisagem, embora controlando o queseria uma das antigas vias de travessia daSerra do Caldeirão. Apresenta-se sob a for-ma de duas plataformas, uma superior(Plataforma A), de contornos circulares, eoutra inferior (Plataforma B), de feição tra -pezoidal, com uma área total, delimitadapelos taludes que ocultam as antigas forti-ficações, de mais de 3,5 hectares. As mura -lhas constituíram ao longo do tempo umelemento de retenção de sedimentos, o queconfere a ambas plataformas um aspecto“ame setado”, em vigoroso contraste com operfil ondulado dos serros circundantes,su blinhando deste modo o seu cariz an tró -pico. Foi justamente este aspecto que aca -bou por dar o nome ao sítio, nas palavrasdos habitantes locais, as “Mesas” da exten-sa herdade do Castelinho, sendo a platafor-ma superior a “mesa de cima” e a outra a“mesa de baixo”. Pelo lado Oeste, observa--se um ressalto que segue em linha mais oumenos contínua o contorno do povoado,

ain da que em cota inferior. Desde o iníciopareceu-nos que este acidente do terrenodeveria corresponder a uma outra área comconstruções.

Como já foi referido, o local era de hámuito conhecido como relevante povoado:“imponente castro” lhe chamaram A. Via -na, Veiga Ferreira e António Serralheiro(VIANA et al. 1956: 463), um evidente exa -gero, atendendo à topografia local, regis-tando-lhe uma ocupação antiga que remon-taria à Idade do Ferro e nunca teria sidoobjecto de escavações, pelo menos assim opensámos até há muito pouco tempo. Arecente publicação da correspondência deViana com Veiga Ferreira revelou que foiprojectada a escavação conjunta de Mesasdo Castelinho e do núcleo da Senhora daCola (postal de 10-7-57). A mesma corres -pondência sugere que algumas escavaçõesse chegaram a realizar, ainda que nada te -nha sido publicado (CARDOSO 2008: 515 ess.). Ainda assim, é nas páginas de AbelVia na que encontramos a mais precisa ca -racterização do local, particularmente pelareferência à continuidade em Época Ro ma -na e à ocupação do Período Islâmico (VIA -NA 1958: 5-6; 1960: 14), ambas habitual-mente desconsideradas, em face da impo -nên cia do povoado pré-romano. A ocupa -ção de Época Romana imperial foi também

existia somente a televisão estatal, comevi dente impacto.

Houve romaria de curiosos ao local,declarações públicas sobre a relevância dosítio e intenção de promover a sua conser-vação, valorização e investigação, quer porparte da administração central, quer pelospoderes autárquicos. De imediato (em1987), o arqueólogo Carlos Jorge Ferreira,técnico do Departamento de Arqueologiado IPPC, foi destacado para o local e ali em -preendeu uma campanha, consistindo na re -colha mais ou menos sistemática de ma te -riais e na limpeza e desenho de alguns dosmais significativos cortes resultantes dades truição (FERREIRA 1992).

Nessa época, conhecíamos as referên-cias ao povoado, que tínhamos recolhidono âmbito do trabalho que então prepará-vamos sobre a cerâmica campaniense emPortugal. Interessámo-nos pelo caso, comotantas outras pessoas, e acompanhámos ostrabalhos desenvolvidos pelo malogradoCar los Jorge Ferreira, excelente colega cu -ja memória aqui evocamos, que, por maisde uma vez, comentou extensamente con -nos co os trabalhos que desenvolvia em Al -modôvar.

Por esse tempo, a nossa actividade ar -queológica decorria na Beira Alta. Almo -dôvar estava, pois, muito longe dos nossoshorizontes.

Foi a conjugação fortuita de váriasocor rências que nos levou a Mesas do Cas -telinho.

Em 1988, a doença de Carlos JorgeFerreira interrompera subitamente a inter-venção que o IPPC desenvolvia no sítio ar -queológico e o Instituto não tinha meioshumanos para a continuar ou para suportaruma intervenção de continuidade no local.A Câmara Municipal insistia na necessida -de de prosseguir os trabalhos e dar um qual -quer destino ao povoado profundamentemu tilado. Os nossos trabalhos na Beira Altaentraram numa fase de impasse, por cróni-ca escassez de apoios, dificilmente ultra-passável e sem vislumbre de mudanças.

Foi neste contexto que o convite formalsur giu, e António Carlos Silva e SusanaCor reia sabem bem dos porfiados esforçosque fizeram para nos convencer a aceitarocuparmo-nos de Mesas do Castelinho,não porque o sítio fosse desinteressante,muito pelo contrário, mas por nos custardemasiado deixar a meio o que iniciáramosem Arganil e Seia.

Como é sabido, acabámos por aceitar.

Figura 1

Localização de Mesas do Castelinho (Almodôvar), na fronteiraentre a peneplanície e a serra algarvia.

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rização como incumbência assumida einalienável responsabilidade nossa, umavez aceite o encargo para a intervenção nosítio.

Encontrámos no terreno autarquias se -riamente empenhadas na intervenção, quera Junta de Freguesia de Santa Clara-a--Nova, quer a Câmara Municipal de Almo -dôvar, com o vibrante entusiasmo do entãovereador do pelouro da Cultura, Eng.º An -tónio Cândido Colaço, desde sempre apai -xonadamente envolvido nos destinos doCastelinho, cuja saudosa memória tambémaqui evocamos. Deparámos com a insisten -te interrogação sobre a natureza da acçãoque pretendíamos realizar, surgida dos maisdiversos quadrantes locais, todos de sejososde apurar se íamos fazer intervenção pon-tual e sem continuidade ou empreender tra-balho de maior fôlego. Pensamos que osúltimos vinte anos constituem esclarecedo-ra resposta a esta insistente pergunta.

Nesse ano de 1988, já a Câmara Muni -cipal tinha acordado com uma associaçãoprivada a realização de um campo de tra-balho internacional, com o intuito de inter-vir no sítio arqueológico. Não nos pareciaser esse o modelo desejável, nem sequer seafigurava avisado iniciar qualquer tipo deintervenção no terreno, para lá de algumaminimização dos tremendos impactes darecente destruição. Mas o compromisso es -tava assumido. Assim, durante esse Verãotratámos de conjugar a ocupação dos jo -vens do campo internacional com as acçõesque considerávamos verdadeiramente prio -ritárias: levantamento topográfico do sítio,com a devida sinalização de todas as áreasafectadas, início da reposição da topografiaprimitiva em algumas zonas, pela recolo-cação de grandes massas de sedimentoremovido em amplas crateras deixadaspela acção do anterior proprietário, lava -gem, marcação e contentorização dos inú -meros fragmentos de cerâmica recolhidospor Carlos Jorge Ferreira. Para estas últi-mas tarefas contámos ainda com a colabo-ração de um grupo de jovens locais, en -quadrados num programa de ocupação detempos livres da Câmara Municipal de Al -modôvar. Assim decorreu aquilo que po -deremos considerar o ano zero do nossoprojecto.

No ano seguinte, iniciámos a primeiracampanha de escavações, nos moldes queconsiderávamos mais adequados. Consti -tuiu-se uma equipa mista que incluía jo -vens locais e estudantes do ensino superior,

os primeiros enquadrados em programaau tárquico de ocupação de tempos livres,os segundos integrados em actividade deformação complementar de estudos, emregime de voluntariado. Contávamos tam-bém com três trabalhadores cedidos pelaCâ mara Municipal de Almodôvar e Juntade Freguesia de Santa Clara-a-Nova. Assimcomeçou uma das vertentes que sempreprivilegiámos na intervenção em Mesas doCastelinho, a de usar o local como espaçode formação prática para estudantes. Aolongo destes vinte anos por ali passarammais de 230 estudantes, muitos com parti -cipação em várias campanhas, hoje profis-sionais na sua grande maioria, com distin-tos enquadramentos institucionais e labo-rais.

Gostamos de pensar que esta será umadas mais conseguidas componentes das nos -sas intervenções no local. Naturalmente, ofacto de trabalharmos com um importantenúcleo de pessoas em processo de forma -ção tem tornado as escavações muito maismorosas do que seriam se apenas contásse-mos com uma pequena equipa especializa-da e mão-de-obra indiferenciada, mas obalanço final parece-nos bastante po sitivo.Para além do mais, nesse já lon gín quo anode 1989 não havia condições para, em Por -tugal, constituir uma tal equipa.

Delineámos também o projecto globalde intervenção em Mesas do Castelinhoque, na nossa perspectiva, deveria abarcartrês vertentes distintas. Em primeiro lugar,a conservação do sítio arqueológico, emse gundo lugar, a sua investigação, final-mente, a valorização, que passava pelapreparação do local para receber visitantese pela criação de um “museu de sítio” − naaltura, ainda não se generalizara a práticada criação de “centros interpretativos” enem sequer existia tal nomenclatura. Nosseus contornos gerais, é ainda esta a arqui-tectura do Projecto e nunca sentimosnecessidade de separar estes campos, umavez que é possível conjugá-los, praticandoeconomias de escala, impossíveis de al can -çar se realizássemos apenas investigaçãoou somente acções de conservação / valo -ri zação.

Deve sublinhar-se que desde muito ce -do se revelaram insuficientes os subsídiosda Administração Central, pelo que tentá-mos diversificar as fontes de financiamen-to, quer pela solicitação de apoio às Au tar -quias (Câmara e Junta de Freguesia), quesempre corresponderam, na medida das

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subavaliada por Carlos Jorge Ferreira, quepreferiu sublinhar a relevância dos vestí-gios de Época Romana republicana, for -çando uma relação entre Mesas do Cas -telinho e a rebelião sertoriana (FERREIRA

1992), de difícil fundamentação.Soubemos também que Philine Kalb

chegou a apresentar uma proposta de inter-venção no sítio, que começaria pela reali -zação de um levantamento topográfico dopovoado, mas a autorização teria sido recu-sada, por não se julgar oportuna (informa -ção pessoal de P. Kalb). Assim se perdeu apossibilidade de conhecer a real configura -ção do povoado antes das acções de des -trui ção de 1986. Somente a título de curio -sidade, registe-se o verdadeiramente profé -tico aviso de Abel Viana e colaboradores,certamente uma justificação invocada pa -ra o mencionado projecto de escavações:“Tra ta-se, portanto, de uma importante es -tação, cuja exploração cuidada devia fazer--se enquanto a moderna maquinaria agrí-cola não entrar ali e destruir tudo” (VIANA

et al. 1956: 463-464). Não foi a modernama quinaria agrícola e nem tudo se destru-iu, mas, como é óbvio, teria sido melhorque a exploração cuidada tivesse antecedi-do a grande destruição.

3. O Projecto

A proposta que nos fazia o IPPC era ten-tadora. Encetar um programa em conti -nuidade de salvaguarda, investigação e va -lorização do extraordinário sítio arqueo ló -gico de Mesas do Castelinho. Para nós, quetínhamos iniciado o nosso percurso de ar -queólogos sempre em contexto de enormesdificuldades de diversa ordem, que nãovem ao caso agora evocar, era na realidadeuma proposta irrecusável. Aceitámos, como firme propósito e genuína esperança deconseguir desenvolver e aplicar ali um con -ceito que tínhamos (e temos) do que po dee deve ser uma intervenção arqueológicaque conjugue investigação científica, for-mação técnica de estudantes de Arqueo lo -gia, com a criação de pólos dinamizadoresde desenvolvimento local. Ficou entãoacordado que nos ocuparíamos das acçõesde investigação e que alguém do Institutose encarregaria da salvaguarda e valoriza-ção. Desde a primeira hora, não tivemosgrandes ilusões sobre a exequibilidade des -sa parceria, mas nunca deixámos de con-siderar as vertentes de salvaguarda e valo -

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iê GRANDES PROJECTOS

DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA

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3.1. A conservação

Para as tarefas da conservação afigura-va-se indispensável garantir a posse da to -talidade do sítio arqueológico. Uma parte,aquela que se encontrava mais extensa-mente afectada, estava abrangida no pro -cesso de aquisição pelo Estado, suscitadopelo embargo dos trabalhos ao anterior pro -prietário, mas outra, a que se encontra maisbem conservada, permanecia em mãos deprivados, dividida por dois proprietáriosdistintos. Em 1989, enviámos à direcçãodo então IPPAR um memorando sobre o te -ma que não recebeu qualquer resposta for-mal, como sucedeu a outros documentosanálogos que enviámos nos anos seguintes(1992, 1994). A solução parecia-nos óbvia.

O Estado era detentor de uma larga parcelade terreno sem qualquer interesse arqueo -lógico, mas com algum interesse agrícola.Em contrapartida, boa parte do sítio ar -queo lógico permanecia em mãos privadas.Assim, em diálogo com os proprietários, ecom um eficaz envolvimento das autar-quias locais, acordou-se numa permuta deterrenos, que entregasse ao Estado a par -cela com vestígios arqueológicos, cedendoem troca a parcela sem componentes patri-moniais. Conseguimos também envolverna permuta o “monte” e outros equipamen-

possibilidades de entidades com escassosrecursos, com manifesto empenho, querpela obtenção de apoios pontuais em ou -tros organismos públicos, como o InstitutoPortuguês da Juventude ou o Exército (quecedeu uma importante componente domobiliário, ainda hoje usado no alojamen-to dos estudantes voluntários).

Empreende mos também um contactoque conduziu a uma acção de mecenato porparte de uma grande empresa a operar naregião, a So ciedade Mineira de Neves Cor -vo (SOMIN COR), que já dera provas de boaspráticas na minimização de impactes ar -queológicos na área da sua exploração, istonuma época em que não existia ainda le -gislação que o impusesse. Neste caso,tratava-se de pa trocinar trabalhos em áreasque não pertenciam à empresa, pelo quecremos ter sido pioneira a nossa iniciativade utilização de um patrocínio de umagrande empresa na viabilização de um pro-jecto arqueológico. Esta diversificação defontes financeiras revelou-se fundamentalpara o bom êxito do projecto, sobretudo aolongo dos pri meiros oito anos, uma vezque, como é sa bi do, o ano de 1997 repre-sentou uma signi ficativa viragem para aactividade arqueo lógica em Portugal, queteve também re flexos muito positivos nahistória das intervenções em Mesas doCastelinho.

A partir de 1997 o projecto conheceuum processo de relativa profissionalização.Foi possível, a partir de então, assegurar acontratação remunerada de licenciados emArqueologia, que passaram a assumir fun -ções de direcção de campo e do tratamentode espólios, cabendo cada vez mais aossignatários as funções de coordenação ge -ral. Nestes últimos dez anos, Ana CristinaRamos, Isabel Alexandra Pires, SamuelMelro, Teresa Laço, Mafalda Nobre, RuiAlmeida e, ultimamente, Artur Rocha eSusana Estrela dirigiram no terreno asequi pas de trabalho, coordenaram as tare-fas de limpeza, marcação, inventário e con-tentorização de espólios e participaram naprodução dos respectivos relatórios.

Tudo isto foi possível graças à profun-da transformação que a actividade arqueo -lógica co nheceu entre nós e que, diga-se,não se circunscreveu somente à criação doInstituto Português de Arqueologia (IPA),uma vez que o projecto de Mesas do Cas -telinho pros seguiu sempre no âmbito doIPPAR e com financiamentos deste institutopúblico.

Figura 2

Mesas do Castelinho: planta geral com inserção das áreas ondese realizaram escavações.

0 50 m

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ro dos principais elementos móveis reco -lhidos, sobretudo os metais, mas tambémalgumas das cerâmicas. Esta intervençãosobre os espólios esteve sempre ligada àideia da criação do “museu de sítio” oucentro interpretativo.

3.2. A investigação

A investigação em Mesas do Caste -linho esteve durante vários anos subordina-da às prioridades de conservação e valo -rização. Quando chegámos ao local haviaduas áreas com extensas e profundas des -truições que colocavam diferentes proble-mas (para um historial detalhado das inter-venções dos primeiros dez anos ver FABIÃO

1998: 275 e ss.).Na parte mais elevada da plataforma

superior (Plataforma A), profundas valaspunham a descoberto a face interna da mu -ralha do antigo povoado, sem deixaremqualquer hipótese de averiguar a estrati-grafia associada ao seu interior. Junto dessaárea destruída, via-se parte de uma paredecom restos de um reboco de argamassa decal. Carlos Jorge Ferreira começara a lim -par a área junto desta parede, mas não con-cluíra o trabalho. Na plataforma inferior(Plataforma B) observava-se um extensocorte com cerca de 15 metros de compri-mento e com mais de cinco de altura, que oarqueólogo que nos antecedera limpou ere gistou (FERREIRA 1992).

Considerámos importante iniciar ostrabalhos na área de Plataforma A, por seraquela que não fora de todo averiguada etambém por ser a área onde aparentementese concentravam os vestígios de Época Is -lâmica, logo, a zona onde potencialmentepoderíamos documentar toda a diacroniade ocupação do sítio. Finalmente, a paredeque se encontrava à vista conservava todauma massa sedimentar na área não desco -berta que, com toda a probabilidade, aca -baria por provocar o colapso da estrutura.

Deste modo se iniciou a intervenção dosítio, dominada pela necessidade de con -jugar conservação e investigação. Natu ral -mente, não considerámos de início a possi-bilidade de realizar trabalhos na plataformainferior, porque necessitaríamos de meiosmuitíssimo superiores àqueles de que dis-púnhamos − a imponente altura do grandecorte e a sequência estratigráfica visívelnão deixavam lugar a dúvidas. Ao longodestes anos, temos procurado sempre as su -mir uma atitude pragmática e realista na

abordagem de campo, nunca ensaiandopas sos maiores do que aqueles que pode -mos dar. O impasse gerado nos últimosanos deveu-se exclusivamente a uma in -com preensível, porque nunca explicada,quebra de um compromisso que o IPPAR

assumira com a Câmara Municipal de Al -mo dôvar.

Assim iniciámos a escavação do queviria a revelar-se uma fortificação de épocaomíada. A estrutura, que ainda deveria es -tar muito bem conservada nos anos 50 doséculo XX, quando Abel Viana documen-tou fotograficamente uma imponente des -continuidade no terreno que cobria integral -mente o que restava da fortaleza (VIANA etal. 1956), sofreu duas importantes acçõesde destruição. Primeiro, ainda nos fins da -quela década, quando o então proprietárioda herdade, o maior lavrador da zona, alifez uma terraplanagem para melhor apro -veitamento agrícola do terreno, depois, em1986, nas circunstâncias já referidas(GUER RA e FABIÃO 1993). Apesar de tudo,os dados revelaram-se extraordinários, nãosó no domínio dos materiais arqueológicose estruturas, mas também na grande pro-fusão de dados arqueozoológicos e antra-cológicos. Perante estes primeiros resulta-dos, procurámos alargar a equipa de inves-tigação, convidando os colegas que se ocu-pavam em estudos islâmicos no Sul de Por -tugal. Mas, por todos estarem envolvidosnos seus próprios trabalhos, acabaram pordeclinar o convite. Encetámos também umacolaboração com João Luís Cardoso e JoãoPais, o primeiro na área da Arqueozoologia(CARDOSO 1993; 1994), o segundo no do -mínio da botânica (PAIS 1993), que se temrevelado frutuosa.

Nos anos seguintes, as intervençõescon tinuaram centradas na Plataforma A,conjugando então as acções de investiga -ção com a conservação e, sobretudo, a va -lorização do sítio. Por isso escavámos todaa área da fortificação islâmica e a sua en -volvente imediata, bem como o conjuntode estruturas mais antigas, de diferentesépocas, que ali se encontravam (FABIÃO eGUERRA 1994; FABIÃO 1998). Os principaisobjectivos prendiam-se com a necessidadede conhecer a dinâmica da ocupação dolocal e colocar a descoberto um conjuntosigni ficativo de estruturas que o tornassematractivo para visitantes. Não tínhamosqualquer dúvida de que a plataforma infe-rior (Plataforma B) era a que se encontravamais bem conservada e, por isso mesmo, a

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tos rurais ali existentes (forno de pão e cur-rais), sempre pensando que estes poderiamser utilizados como espaço de recepção eapoio às visitas a Mesas do Castelinho,con tribuindo ainda para estabelecer assempre interessantes pontes entre o passa-do arqueológico e o presente (na realidade,já passado também) etnográfico. Continua -mos sem ver motivo para abandonar esteconceito, independentemente da manifestadificuldade em concretizá-lo.

Por seu turno, o Instituto insistia na ve -dação do sítio arqueológico, o que semprenos pareceu uma medida não desejável, pe -la agressão à magnífica paisagem em quese insere, mas também por uma questão deprincípio. Só faz sentido vedar um patri -mó nio público se paralelamente for estabe -lecido um horário de abertura e a respecti-va guardaria. Até hoje prevaleceu o nossoponto de vista, provavelmente pelos pioresmotivos…

Outras acções de conservação, que in -ti mamente se relacionam com a valoriza-ção do sítio, passavam pela reposição, namedida do possível, da topografia originaldo terreno. Ou seja, em deslocar os sedi-mentos revolvidos para os locais de ondetinham sido retirados. Muitas dessas medi-das afiguravam-se relativamente fáceis deem preender, embora nem todas fossem pas -síveis de boa concretização. Por isso, optá-mos por uma solução mista, com reposiçãoda topografia em muitas áreas, embora con -servando alguns dos evidentes sinais da des -truição, porque também fazem parte da his -tória do sítio arqueológico. Para a concre ti -zação desse objectivo mobilizámos sempreuma componente do financiamento anualconcedido às escavações. No período de1994 a 1996, porque o terreno não estavaainda formalmente na posse do Estado, foipossível à Autarquia concorrer a um finan-ciamento da União Europeia destinado aacções de conservação e valorização.

Mesmo em situações de dificuldade fi -nanceira, nunca descurámos a vertente daconservação das estruturas postas a des co -berto, procurando sempre integrá-las numplano de exposição pública das principaisrealidades materiais passíveis de deixar emexposição. Foi justamente o primado da con -servação que nos levou a reenterrar algumasdas estruturas escavadas e projectamos re -cobrir outras mais.

Ainda no domínio da conservação / va -lorização, fomos sempre mobilizando ver-bas para as tarefas de conservação e restau-

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que oferecia maior potencial científico epa trimonial.

Até 1996, a única escavação realizadana Plataforma B consistiu num poço desondagem realizado na área do grandecorte ali deixado pelo anterior proprietárioe limpo e desenhado por Carlos Jorge Fer -reira (FERREIRA 1992), imediatamente an -tes de o cobrir com geotêxtil e reconstituirartificialmente o talude destruído em 1986.Tivemos alguma relutância em realizar es -ta acção, pela espectacularidade do grandecorte, o mais eloquente testemunho doimenso potencial do sítio arqueológico.Con tudo, a prazo, todo o corte e as estru-turas a descoberto corriam sério risco deco lapso, pelo que a sua cobertura era defacto a decisão que se impunha.

A partir de 1997 iniciámos uma inter-venção em área na Plataforma B. Primeirocom um segmento de 150 m2, posterior-mente aumentada para uma acção que per-mitisse uma perspectiva a toda a largura daplataforma, desde um talude ao outro. Estaacção impôs-se por várias razões. Em pri -meiro lugar, porque se verificou aquilo quesuspeitávamos: toda a plataforma inferiorapresentava excelente estado de conserva -ção. Mas também porque, com a constru -ção da A2, a auto-estrada que liga Lisboa aFaro, Mesas do Castelinho passou a estar acerca de 6 km de um dos nós da referidavia, importante eixo de comunicação e decirculação turístico. Desse modo, o quecomeçara por ser um lugar remoto, desti-nado a viajantes que buscassem expressa-mente paisagens conservadas e patrimóniocultural, passou a estar ao alcance de umnúmero exponencialmente superior de vi -sitantes, justificando um outro tipo de apos -ta e investimento. Assim, o local foi con-siderado numa acção do Plano Operacionalda Cultura, que previa a construção de umCentro Interpretativo na aldeia de Santa

Figuras 3 a 5

À esquerda, Mesas do Castelinho fotografada nos anos 50 doséculo XX por Abel Viana. A grande elevação corresponderia àárea do castelo omíada, antes das grandes destruições.

Em baixo, o sítio arqueológico, já depois da grande destruiçãode 1986 e do início dos trabalhos arqueológicos, compormenor do grande corte da Plataforma B.

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tintos momentos da ocupação do sítio astécnicas de construção utilizaram sempre aterra e os blocos de xisto, sedimentos e pe -dras de derrubes foram reutilizados nasacções de conservação e consolidação. Deum ponto de vista técnico, recorremossempre aos pedreiros locais, que dominamainda a técnica da produção de alvenariasde pedra seca. Como sempre, Junta de Fre -guesia e Câmara Municipal assumiram-secomo relevantes intervenientes no proces-so.

Assim começou uma outra dimensãodo projecto de Mesas do Castelinho queconsideramos relevante: a contratação demão-de-obra local nos trabalhos. Para lá dealgumas acções pontuais anteriores, dita -das pela irregularidade dos fundos dispo -níveis, esta opção passou a assumir um ca -rácter constante, a partir de 1997. Numaárea onde não abundam as possibilidadesde trabalho remunerado, o projecto acabapor ter um papel social e económico nãodespiciendo, ao mesmo tempo que consoli -da a relação da população local com o seusítio arqueológico.

No âmbito do plano de valorização euma vez que dispúnhamos de verbas avul-tadas, como nunca acontecera em todosestes anos de intervenções, abalançámo-nosa algumas acções que permitissem umame lhor percepção do sítio por parte dos vi -sitantes. Tratava-se, naturalmente, de acçõesrelevantes para o conhecimento científicodo local, mas que constituíam de igual mo -do poderosos elementos gráficos para uti-lização no discurso expositivo do centroin terpretativo. Foi assim que empreen-demos um novo levantamento topográfico,em formato digital, para substituir o velholevantamento à escala 1:50, realizado logono primeiro ano do Projecto; a criação emrealidade virtual do espaço em que se in -sere o sítio arqueológico (tendo ficado porconcretizar a implantação das estruturasnas áreas já escavadas, bem como a recons -tituição detalhada das diversas constru -ções) e, sobretudo, uma ampla prospecçãogeofísica da área arqueológica, perseguin-do um triplo objectivo. Por um lado, rea li -zar o reconhecimento extensivo da Pla ta -forma inferior do povoado, com informa -ção sobre anomalias documentadas a dis-tintas profundidades, procurando-se assimcompreender a configuração do seu urba -nismo e suas transformações; por outro, in -dagar sobre a possível utilização das pla -taformas, marcadas por taludes que acom-

panham, pelo exterior e a uma cota maisbaixa, boa parte do perímetro fortificadodo povoado; finalmente, passar a dispor deuma “imagem” mais precisa e concreta daextensão das áreas edificadas, para utiliza-ção no centro interpretativo − embora sejaperfeitamente perceptível para um qual-quer arqueólogo que a grande desconti nui -dade que rodeia o sítio arqueológico ocultaestruturas construídas, ao longo do tempo eem interacção com inúmeros visitantes, ti -vemos o ensejo de verificar como, na práti-ca, essa percepção não é fácil para um pú -blico não especializado.

4.O que conhecemos hoje

de Mesas do Castelinho

O que hoje conhecemos da dinâmicade ocupação de Mesas do Castelinho é, po -de dizer-se, bastante, embora nos agradas -se conhecer muito mais. Em termos muitoesquemáticos, poderemos dizer que o localterá sido fundado nos finais do séc. V a.C.,ocupado continuamente até a um momen -to impreciso, situável entre os finais doséculo I d.C. ou inícios da centúria seguintee que, após prolongado abandono, deveráter sido de novo ocupado em momento im -preciso, datável do séc. IX-X d.C. e defini ti -vamente abandonado pelo séc. XII (FA BIÃO

e GUERRA 1991; GUERRA e FABIÃO 2001 eno prelo).

A primeira observação que desde logopoderemos fazer é a de que as principaisfa ses da sua ocupação ficaram esclareci-das, nos seus contornos gerais, nos pri -meiros anos de intervenção. Contudo, acon figuração dessas ocupações só paulati-namente se foi desenhando e subsistemainda várias interrogações.

Como se disse, o aglomerado data dachamada II Idade do Ferro, embora por alise encontrem alguns materiais que remon-tam a épocas anteriores. Ao longo das nos-sas escavações, temos recolhido alguns ar -tefactos líticos (pedra polida e sílex) quesu gerem por ali poder ter andado gente noCalcolítico ou na Idade do Bronze (reco -lhemos também um machado de bronze ealguma cerâmica que poderá ser da mesmaépoca). No entanto, não documentámos atéà data qualquer estrato ou estrutura destasépocas e, por outro lado, o volume de ma -teriais é suficientemente escasso para au -torizar a afirmação de não ter havido defacto ocupação relevante nesses períodos.

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Clara-a-Nova e a preparação do sítio ar -que o lógico para recepção de visitantes.Esta intervenção em extensão, conjugadacom uma ampla prospecção geofísica, con-cretizada em 2006, permite ter hoje umaideia das características gerais do povoado,como adiante se comentará.

3.3. A valorização

Na ideia que tínhamos para o sítio ar -queológico de Mesas do Castelinho, a com -ponente de valorização afigurava-se funda-mental, pelas razões já expostas. Essa valo -rização passa pela colocação a descobertode parte das estruturas ali conservadas, de -vi damente consolidadas e cuidadas, e pelacriação de um pólo interpretativo do local,onde se possa expor uma parte das realida -des móveis recolhidas no decurso das es -cavações. Esse foi sempre o desígnio bási-co, ainda que intimamente tenhamos che -gado a acalentar mais altos planos, que arealidade se encarregou de demonstrar se -rem inexequíveis.

Este plano minimal foi desde sempreapresentado às autoridades competentes,pelo que, quando nos inícios dos anos 90 seanunciou o extenso programa de valoriza-ção cultural e divulgação turística Itine rá -rios Arqueológicos do Alentejo e Algarve,ficámos perplexos ao saber que Mesas doCastelinho não estava contemplado. Procu -rámos indagar as razões e foi-nos explica-do que o sítio não poderia ser incluído pornão se encontrar ainda resolvido o proces-so de aquisição pelo Estado. Mais tarde,sou bemos que outros sítios contempladostambém não tinham as questões de pro-priedade integralmente resolvidas.

Assim, como já se disse, em interacçãocom as autarquias locais e com recurso afundos da União Europeia, desenvolve -ram-se as primeiras acções de conserva -ção, que passaram por novas remoções deterras nas áreas destruídas do povoado,con solidação de estruturas postas a desco -berto e instalação de sistemas de drenagemde águas pluviais. Para a sua concretiza-ção, contámos com o apoio e intervençãodos serviços técnicos da Câmara Muni ci -pal de Almodôvar. Na consolidação de es -truturas e reposição de pavimentos de terrabatida no interior dos compartimentos es -cavados (uma vez que os escavámos sem-pre até ao substrato rochoso) optámos porreutilizar os materiais resultantes das pró -prias escavações. Como ao longo dos dis-

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de. Embora as procurássemos, nada encon-trámos, pelo que não atribuímos especialcredibilidade às informações. O achado dacampanha de 2008 acabou por dar umaoutra consistência a essas antigas e vagasinformações.

O grande povoado terá sido fundadonos fins do século V ou inícios do IV a.C.,sendo os principais indicadores cronológi-cos dessa primeira etapa as cerâmicas áti-cas (taças do chamado “tipo Cástulo” eexemplares de figuras vermelhas) e algu-mas ânforas de morfologias ditas ibero--púnicas, procedentes da área da baía gadi-tana. Estas referências são importantes porduas ordens de razões. Em primeiro lugar,porque documentam uma continuidade dos

contactos destas populações do interiorcom as áreas costeiras; em segundo lugar,porque constituem artefactos que se encon-tram igualmente presentes nos pequenospovoados da chamada I Idade do Ferro daregião, designadamente Fernão Vaz, Ouri -que (BEIRÃO e CORREIA 1991) e os aglome -rados da área de Neves-Corvo, Castro Ver -de / Almodôvar (MAIA e CORREA 1985).

A presença destes mesmos artefactosnos pequenos povoados, sem estruturasdefensivas, autoriza dois modelos explica-tivos para o surgimento do grande aglome -rado de Mesas do Castelinho: ou este seformou na sequência do abandono daque-les, por um processo habitualmente desig-nado por “cinecismo”, ou resultou da che -gada de populações estranhas à região que,desse modo, marcaram a sua diferença. Noprimeiro caso, o grande povoado fortifica-do teria nascido do abandono dos pequenosnúcleos da região, na segunda hipótese,teria coexistido com a última fase da suaocupação. Infelizmente, não temos meiospara responder categoricamente a estadúvida.

Figura 6

Mesas do Castelinho: projecção topográfica em realidade virtual, com a sinalização das áreas de intervenção arqueológica.

O extraordinário achado, na últimacampanha de escavações, de uma estelaepigrafada, com escrita do Sudoeste, afigu-ra-se igualmente de escassa relevância, jáque a mesma se encontrava reaproveitadana pavimentação de uma rua de Época Ro -mana republicana. Seria certamente prove-niente de um qualquer contexto da zona,porque é suficientemente volumosa e pesa-da para autorizar a suposição de não tersido trazida de longe, mas nada indica queo seu contexto primário pudesse estar naárea posteriormente abrangida pelo povoa-do. Curiosamente, logo no primeiro ano emque trabalhámos em Mesas do Castelinho,recebemos informações sobre a pretensaexistência de duas estelas epigrafadas queestariam reaproveitadas como material deconstrução num dos currais da proprie da -

Figuras 7 e 8

Mesas do Castelinho: cerâmica ática de figuras vermelhas (em cima) e aspecto da Rua 1 (à esquerda).

No pavimento, em primeiro plano, pode ver-se a estela comescrita do Sudoeste, com a face epigrafada voltada para baixo.

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Seja como for, esta im -portante transformação domo delo de povoamento nãoim plicou uma ruptura dasve lhas redes de circulaçãode artigos exóticos de pro-cedência mediterrânea. Apresença de contas de vidroe de um pe queno elementode ouri ve saria com decora -ção por gra nitado subli nha apermanência desses contac-tos e flu xos de artigos. A fa -vor da hipó te se de uma qual -quer presença de popula çõesestranhas à re gião fala-nos aexpressiva pre sença de gran -des recipientes cerâmicos or -namentados com matrizesimpressas (vulgarmente cha -madas “ce râ micas estampi -lhadas”), que se não conhe -cem nos mencionados pe que nos povoadosda região, ocupados an te rior mente.

Esta primeira fase de Mesas do Cas te -linho encontra-se documentada em am basplataformas, o que sugere a possibilidadede o povoado ter abrangido logo desde oinício uma grande extensão. Contudo, estafase mais antiga concentra-se junto das es -truturas defensivas. Nem na Plataforma A,nem na B se documentam estruturas destasépocas em áreas centrais, o que su gere queo perímetro fortificado poderia acolher atotalidade das estruturas residenciais, per-manecendo a área central como zona nãoedificada, eventualmente, destinada a re co -lher os gados.

As razões da implantação do povoadoneste local não são claras. A área não dis-põe de particular potencial agrícola, já quese trata dos típicos solos esqueléticos doma ciço antigo, com pequenas manchasalu viais junto das linhas de água, que aindahoje têm expressão nas hortas que rodeiamMesas do Castelinho. Seria, portanto, áreamais vocacionada para a pecuária do quepara a agricultura. Também se não docu-mentam especiais riquezas mineiras na en -volvente imediata. Uma breve análise doter ritório e a caracterização de escóriasiden tificadas nos primeiros anos sugeremmais uma metalurgia de pequena produçãoe reparação de artefactos, mais de forja epequena oficina do que exploração de gran -de escala (LE BEAU 1994), como se do cu -menta, por exemplo, em S. Do min gos, Al -justrel ou mesmo Brancanes, já no conce -

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0 3 mm

Figuras 9 e 10

Mesas do Castelinho: cerâmicas com “decorações” de matrizes impressas (“estampilhadas”) e pequeno elemento de ourivesaria, com decoração granitada de tradição“orientalizante”, encontrado à superfície.

lica figuram as ânforas vinárias do chama-do tipo “greco-itálico”, bem como apre-ciável cópia de recipientes de Campa ni -ense A. Durante o período romano re pu bli -cano observam-se algumas transformaçõesimportantes na organização espacial dogrande povoado. Aparentemente, as estru-turas defensivas foram derrubadas. Estarealidade, que começámos a observar nasintervenções realizadas em área muitodestruída da plataforma superior, foi con-firmada pela sondagem que empreen-demos no grande corte da plataforma infe-rior, justamente na área limpa e desenhadapor Carlos Jorge Ferreira, em 1987. Aqui,embora não houvesse oportunidade deobservar as relações físicas entre as cons -truções republicanas e as estruturas defen-sivas, pela grande destruição efectuada pe -lo anterior proprietário, era evidente que ointerface de destruição da muralha, bem vi -sível no corte Norte (FERREIRA 1992), seen contrava a cota inferior à dos alicercesdos compartimentos edificados num mo -mento datável dos inícios do século I a.C.Finalmente, as escavações em área reali za -das nessa mesma plataforma, a partir de1997, acabaram por confirmar essa leituraem outra área do povoado. Também aí asconstruções do período romano republica -no se ergueram quando a muralha do povo -a do indígena já se encontrava desactivada.Esta sistemática observação, abrangendonão só a plataforma superior mas tambémduas áreas distintas da inferior, faz-nos crerque se tratou de facto de uma destruição

lho de Almodôvar (DOMERGUE 1983; 1987;1990). Deve reconhecer-se, contudo, a ne -cessidade de aprofundar estes estudos, umavez que dispomos hoje de muito mais in -formação e de alguns elementos de es có -rias de aparência mais densa, sugerindoredução primária de minérios.

Estas são as razões que nos levam a su -por que a escolha desta área em concretopara implantar o povoado fortificado se pren -derá mais com o controlo daquela que éuma das tradicionais travessias da Serra doCaldeirão. A vantagem do controlo de umaárea de passagem e comunicação en tre dis-tintas regiões explicaria a dimensão e ri -queza do aglomerado, bem como a quanti-dade de artigos exóticos, em zona tão fran-camente interior. Esta relevância aca bariapor ser herdada pela vila de Almo dôvar.

A presença romana fez-se sentir preco-cemente em Mesas do Castelinho. De entreas mais antigas importações de origem itá -

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da ao antigo sistema defensivo cons tituíapoderosa barreira de protecção contra umaqualquer arremetida vinda do exterior.

Com as intervenções da Plataforma B,primeiro na sondagem do grande corte, de -pois em área, emergiu uma nova leitura dadinâmica de ocupação de Mesas do Cas -telinho.

Seguindo uma ordem cronológica, ve -ri ficou-se, uma vez mais, que as cons tru -ções e ocupação da Idade do Ferro, remon-tando igualmente a um momento que po -deremos situar nos finais do séc. V a.C.Uma vez mais, o melhor indicador crono -lógico foi fornecido pela cerâmica ática,designadamente por fragmentos da chama-da “taça Cástulo”, a que se associa um con-junto de cerâmicas com decorações im -pressas com matrizes, vulgo “estampilha-da”, convivendo com produções manuaisde cozeduras redutoras, mas também comcerâmicas a torno de pastas claras de ma -triz calcária, com decorações pintadas embandas, monocromas ou bícromas, ânforasprocedentes da área gaditana e contas devidro oculadas.

Em suma, o mesmo padrão culturalidentificado na plataforma superior, ondeocorrem em associação contextual os arti-gos exóticos de origem mediterrânea, oudas áreas mais fortemente ligadas às cul-turas mediterrâneas do litoral meridional,com elementos novos, não identificados

generalizada do sistema defensivo do ve -lho povoado da Idade do Ferro. Uma vezque não foi possível documentar evidên-cias de violência, nem soluções de conti -nuidade no registo estratigráfico, supomosque se terá tratado de um derrube pactuado,mais do que de um qualquer resultado deassédio ou ataque. Sem pretendermos for -çar a comparação, recordaremos somenteque, na grande campanha militar na His -pania Citerior do cônsul M. P. Catão, de195 a.C., a imposição do derrube das mura -lhas aos principais povoados da regiãoconstituiu importante estratégia de submis-são das populações. O feito do cônsul, am -plamente celebrado na literatura grega e la -tina, de Lívio (34, 17, 11-12) a Plutarco ouZonaras (9.17), passando por Apiano (41),entre outros, poderia ter constituído exem-plo seguido por outros governadores pro -vinciais ou, de algum modo, ditado a nor-ma de procedimento para a posteridade.

De qualquer modo, nas intervenções daplataforma inferior foi possível registar queao episódio do derrube das muralhas não seseguiu qualquer fase de recons tru ção dasmesmas. Infelizmente, o estado de conser-vação em que se encontravam as es truturasna Plataforma A, fortemente afectadas pe -las destruições de 1986, não possibilitouobservação categórica, embora também na -da em contrário se tenha documentado.

A reorganização do povoado que seseguiu à amortização do seu sistema defen-sivo, bem documentado na zona Oeste daplataforma inferior e com análoga leiturapossível na banda nascente, onde se locali -za o grande corte ali deixado pelo anteriorproprietário, revela-se extremamente inte -ressante. De facto, as novas construçõesre a lizadas já sob o domínio romano cons -tam de distintas casas justapostas, semvãos abertos ao exterior, edificadas sobre oin terface de destruição da antiga muralha,conferindo-lhe a aparência de “povoado ce - go”, afinal não muito distinta da que te rianos tempos em que possuía fortifica ções. Adiferença de cota entre a base des sas cons -truções e a área envolvente subli nha aindamais esta peculiar configuração, sublinhan -do a sua potencial defesa, não pro pria -mente em caso de relevante assédio, masseguramente contra pequenas amea ças. Onovo aglomerado sem muralhas não seriaassim um espaço devassado, na medida emque manteria somente algumas portas deacesso ao seu interior, ao mesmo tempoque a assinalável descontinuidade associa-

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Figuras 11 e 12

Mesas do Castelinho: cerâmicas manuais, documentadas até aos níveis do século I a.C., e recipiente cerâmico comdecoração pintada bícroma, dos níveis fundacionais do sítio.

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póteses, igualmente plausíveise sustentáveis com base na es -trati gra fia observada.

Certo é que nas áreas já es -cavadas da Platafor ma B não seobservaram até ao mo mento ní -veis es tratigráficos ou fases deconstrução tão antigas na áreacentral do povoado, pelo quesubsiste a ideia de que, nestasprimeiras fa ses, as construçõesse en con trariam adossadas aope rímetro marcado pelas defe-sas, deixando ao centro am ploespaço não edificado.

Mas a grande novidade proporcionadapela intervenção em área da plataforma in -ferior foi, numa primeira fase, a identifica -ção de um conjunto de cons truções jus ta -postas, com análoga orientação, to das semqualquer vão para o exterior do povoado etodas elas abrindo pa ra uma área sem qual-quer construção. Logo nestas pri meiras in -tervenções, fo mos chamando informalmen -te “rua”, àquilo que era seguramente umaárea de distribuição, que permitia aceder acada um dos compartimentos identificados.O esclarecimento sobre a verdadeira na -tureza de tal área levou-nos a ampliar paraEste a zona em escavação, de novo comuma opção de intervenção em área, numtotal de mais 120 m2. Esta acção conduziu--nos à identificação de novas cons truções,duas casas de grandes dimensões que ocu-pavam o lado Este daquilo a que então jácom plena propriedade cha má vamos rua.Estas construções patenteiam apreciável re -gularidade, ambas com um segundo piso,ao qual se acedia a partir de escadarias depedra adossadas às fa chadas, detalhe arqui-

tectónico peculiar e sem antecedentes di -rec tos conhecidos quer no mundo indígenalocal, quer na arquitectura romana − lem-bram bastante, diga-se, algumas soluçõesar quitectónicas documentadas na área Ibé -rica. Nos pisos tér reos, aqueles que pude -mos recuperar apresentavam-se divididos,com um grande com partimento com lareira,a que se associa vam estruturas de adobemui to destruídas, que deveriam constituirelementos de ex tracção de fumos, e outrosde menores di mensões, à razão de um con-junto de grande compartimento com lareiramais compartimento alongado de menoresdi mensões, por casa.

A escavação em ambas áreas, no pri -meiro conjunto de compartimentos e nestasduas grandes casas, revelou a presença demateriais de Época Romana republicana(im portações itálicas), desde os níveis daba se. Tornou-se, pois, evidente que este ar -ranjo urbanístico, que tão profundamentemar cou (e transformou) Mesas do Casteli -nho, teria decorrido já sob o domínio ro -mano, em momento difícil de precisar, mas

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nos contextos indígenas de épocas anterio -res. Esta semelhança consolidou a ideia deque o primeiro perímetro defensivo do po -voado poderia ter abrangido logo a totali-dade das duas plataformas, isto é, que Me -sas do Castelinho nos finais do século V a.C.deveria ser já um grande povoado, aindaque as relações estratigráficas observadasadmitam a possibilidade de a muralha seter erguido somente em um momento maisavançado da vida do aglomerado e não lo -go na sua fase inicial. A dúvida, que pro va -velmente será insuperável, prende-se coma estrutura da muralha tal como a docu-mentámos. Compõe-se de uma face externarelativamente cuidada, delimitando um es -paço vazio, relativamente à parede das maisantigas habitações. Este espaço foi preen -chi do com blocos de pedra simplesmentedespejados para esse vazio, sem evidenteregularidade de assentamento. As sim, emtermos sequenciais, verifica-se que as pri -meiras construções consistiram em vá rioses paços residenciais justapostos e que, quan - do se desenhou a face exterior da mu ra lhae se realizou o enchimento pétreo, essascons truções já estavam terminadas. Umatal relação estratigráfica admite uma deduas interpretações: o povoado come çoupor ser somente um “povoado cego”, de ca -sas justapostas, ao qual se acrescentou, maistarde, uma muralha; ou as casas e respecti-va muralha pertenceram a um mesmo pro-grama unitário de construção que, somentepor razões práticas, necessitou de erguer pri -meiro a parede das habitações, para melhorconter o enchimento da mura lha.

Não dispomos de materiais arqueo ló -gicos com su ficiente precisão cronológicapara nos permi tir optar entre uma destas hi -

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Figuras 13 a 15

Mesas do Castelinho: urbanização do período romanorepublicano na Plataforma B (três ruas paralelas), e imagensde casa aí documentada e dopormenor de uma das fachadas,evidenciando um cuidadotratamento do paramentoexterno.

0 3 m

rua 1

rua 2 rua 3

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ções da área a escavar, ou ainda, até ondese multiplicarão? Compreendemos estasin terrogações e, como é óbvio, elas sempreforam ponde radas. As razões são simples:por um lado, porque nos deparamos comum tema relevante, a precoce urbanizaçãode um grande aglomerado indígena do in -terior meridio nal do actual território portu -guês, mas também porque as sucessivasam pliações nos têm trazido outras tantasnovidades, que contribuem para a cons tan -te renovação do conhecimento que te mosde Mesas do Cas telinho.

Na sondagem realizada em 1996, nogrande corte da Plataforma B, identificámosum potente estrato revolvido com abun -dante material de Época Romana imperial,evidentemente fora do seu contexto pri má -rio de deposição, misturado com materialislâmico e de outras épocas, mas suficien-temente abundante e diversificado para de -monstrar sem margem para dúvidas que olocal fora ocupado durante todo o séc. I da

nossa Era. A escavação em área viria maistarde a confirmar esta continuidade da ocu-pação. Contudo, na primeira área escavadaem 1997, os vestígios destas utilizações re -ve laram-se muito escassos e foi somente naprimeira ampliação, quando buscávamos“o outro lado da rua”, que nos deparámoscom estratos conservados datando de épo -ca Júlio-Cláudia. Associadas a estes estra -tos encontravam-se várias construções dees cassa entidade, que tinham dividido emcompartimentos de menores dimensões asgrandes casas do século I a.C. Esta obser-vação foi verdadeiramente surpreendente,porque abriu, de facto, uma nova questãono estudo da dinâmica de ocupação de Me -sas do Castelinho. Se sobre a mesa já tínha -mos o tema da precoce urbanização, passá-mos a ter outro, o do falhanço prático dessamesma urbanização, ou seja, uma cidadeque aparentemente se desenhou enquantotal, ainda em época republicana, mas fa -lhou o cumprimento desse destino em ple -

que se situa algures pelos inícios do sécu -lo I a.C., eventualmente nos finais da cen-túria anterior. Esta verificação levou-nos asentir a necessidade de ampliar ainda maisa área em escavação, com o intuito de ten-tar perceber como se desenhava de factoeste urbanismo − uma extensa ampliação daárea escavada, criando uma “janela” de lei -tu ra a toda a largura do antigo povoadoconstitui a opção estratégica, associada àrealização da extensa prospecção geofísica.Sublinhamos, uma vez mais, que só nos aba -lançámos a tão ambicioso desígnio a par tirdo momento em que se confirmou a inte-gração do projecto de Mesas do Cas te linhono Plano Operacional de Cultura que, pelovolume de verbas mobilizado, permitiriarealizar em simultâneo uma grande in ter ven -ção de escavação, consolidação e si na li za -ção para a recepção de visitantes, em articu -lação com a construção do Centro In ter pre -tativo, uma vez mais, consentindo as “eco -nomias de escala” que sempre prati cá mos.

A prospecção geofísica acabou por serevelar importante em dois domínios. Porum lado, confirmou a existência de áreasconstruídas nas zonas abrangidas pelas des -continuidades menores, paralelas ao gran -de sistema defensivo, ampliando deste mo -do ainda mais a área de interesse arqueo -lógico de Mesas do Castelinho. Por outro,cumpriu plenamente a função didáctica demostrar aos visitantes a extensa área ocu-pada oculta no subsolo. Não resultou naleitura que buscávamos por uma razão, queos nossos próprios trabalhos já permitiamin tuir: a existência de um complexo pro -ces so de reaproveitamento de estruturas an -teriores, parcialmente utilizadas em épocasmais recentes. Se por um lado parece evi-dente que houve um momento em que aPlataforma inferior conheceu um desenhourbano estruturado em torno de grandes viasde circulação Norte-Sul, resulta tambémclaro que esse sistema terá sido subvertidoposteriormente, quer pelas transformaçõesde época Júlio-Cláudia (GUERRA e FABIÃO

no prelo), quer pelas transformações intro-duzidas pela reorganização do espaço emÉpoca Islâmica.

Naturalmente, perguntará o leitor, quepertinência terão estas sucessivas amplia -

Figura 16

Planta interpretada da leitura de georadar de Mesas doCastelinho, onde se documenta a ocupação das áreasexteriores aos grandes taludes (prospecção realizada pela empresa Eastern Atlas).

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riam elucidar amplamente sobre toda a di -nâ mica de ocupação de um povoado comes tas dimensões. Hoje, cremos estar emcon dições de afirmar que toda a apreciaçãogenérica que se possa adiantar será semprelimitada, quando está em causa um aglome -rado com cerca de quatro hectares de ex ten -são. Se é legítimo defender uma estratégiade intervenção pontual, não há qualquer dú -vida de que os seus resultados terão al can -ce muito limitado e, de modo algum, mini -ma mente consentâneo com as grandes ques -tões colocadas por um sítio arqueológicocom estas características.

Faz pois todo o sentido que se invistafortemente num projecto com estas dimen-sões, se efectivamente temos a pretensãode obter respostas interessantes para ques -tões relevantes.

Não se circunscreveram a estas obser-vações os resultados das grandes interven -ções em área na plataforma inferior. Defacto, uma vez mais, estas intervenções re -ve laram-nos uma nova dimensão na faseda ocupação islâmica. O que até então nossurgira como um pequeno castelo isolado,instalado na zona mais elevada do antigopovoado indígena (FABIÃO e GUERRA 1991;GUERRA e FABIÃO 1993), passou a ser umafortificação sobranceira a um aglomerado,de dimensões indefinidas, erguido sobre oespaço outrora ocupado pelo povoado ro -ma nizado, isto é, um modelo de povoa-mento mais parecido com muitos outros

conhecidos e identificados no Al-Andaluz(GUERRA e FABIÃO 2001). Os dados da cul-tura material sugerem uma clara contem-poraneidade entre a fortificação e este aglo -merado, que se encontra fortemente afecta-do pelo uso agrícola que esta plataformain ferior conheceu. A simples presença des -te aglomerado aldeão nas imediatas vizi -nhanças do castelo omíada vem colocar no -vos temas e novas questões à dinâmica dopovoamento rural do interior meridional ho -je português, em Época Islâmica, ou ao fe -nómeno do “encastelamento”, particular-mente tendo em conta o estudo já realizadosobre os elementos zooarqueológicos recupe -rados no fosso do castelo (CARDOSO 1994).Em primeiro lugar, regista-se a confirma -ção de que a ocupação local decorre em âm -bito islâmico, segundo um ciclo de cons tru -ção / ocupação / abandono exclusivamenterelacionado com as dinâmicas internas des -te mundo islâmico. A reocupação do sítiofez-se de raiz, em momento indeterminadode época omíada, não havendo qualqueraglomerado preexistente, e o abandono acon -teceu antes da grande reorganização terri-torial almóada (GUERRA e FABIÃO 2001).Tal como já acontecera na época imperialromana, aparentemente, a nova lógica ter-ritorial deixou à margem o velho castelo eo povoado das suas proximidades, condu -zindo à sua desactivação e abandono (GUER -RA e FABIÃO no prelo). Parece evidente,também, que o sítio de Mesas do Caste li -

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no século I d.C., quando efectivamente seconstruiu e consolidou o mundo provincialromano, no extremo ocidente da PenínsulaIbérica (GUERRA e FABIÃO no prelo). A últi-ma ampliação realizada está a revelar-nosnovos dados sobre a organização do espaçoe o edificado deste período, que carece ain-da de melhores esclarecimentos − que, emboa verdade, implicariam (implicarão?)nova ampliação da área a escavar.

Podemos dizer que estamos agora, 20anos depois, bem distantes das perspectivasque tivemos nos nossos primeiros anos dein tervenção, quando supúnhamos que áreasde escavação relativamente limitadas, empontos devidamente escolhidos, nos pode-

al-madan ISSN 0871-066X | IIª Série (16) | Dezembro 2008

C E N T R O D E A R Q U E O L O G I A D E A L M A D A

doss

iê GRANDES PROJECTOS

DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA

Figura 17

Mesas do Castelinho: planta compósita do Sector A-1, com as estruturas do castelo omíada sobrepostas a construções mais antigas.

0 3 m

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5. O impasse

Como ficou dito, em 2002 Mesas doCastelinho foi englobado no âmbito dasacções do Plano Operacional para a Cul tu -ra. Num ciclo que se deveria concluir em2007, o local seria preparado para recebervisitantes, dispor de Centro Interpretativo,na aldeia de Santa Clara-a-Nova, bem co moda adequada sinalética. Para esse efeito,Câmara Municipal de Almodôvar e IPPAR

es tabeleceram um conjunto de protocolosque incluíam a aquisição e cedência em con -trato de comodato do terreno onde se er gue -ria o Centro Interpretativo e, uma vez con-cluído este, a Câmara comprometia-se tam -bém a suportar as despesas do seu funcio -na mento. Sempre pensámos que esse seriao modelo de gestão mais adequado e, so bre - tudo, aquele que permitiria gerar uma di -nâmica de funcionamento sem os crónicosproblemas dos outros centros interpretati -vos do IPPAR, desde início mal concebidos.

Os documentos estavam prontos, apro -vados e ratificados pelo executivo cama rá -rio e Assembleia Municipal, o terreno livre

para o início da construção do Centro In -terpretativo, cujos projectos de arquitecturae museológico também se encontravam con -cluídos. Por razões nunca explicadas, onovo poder que tomou posse em 2006 de -ci diu anular tudo.

Por considerarmos indispensável a con -clusão do processo de escavação em curso,prosseguimos com o mesmo, com os apoiosexclusivos do Centro de Arqueologia da Uni -versidade de Lisboa (UNIARQ) e das autar-quias locais, enquanto tentávamos por todosos meios ao nosso alcance obter esclareci-mentos sobre os desígnios dos responsáveispela política cultural nacional no que a Me -sas do Castelinho se refere. No momento emque estas linhas se escrevem, não há aindaqualquer resposta ou definição concreta.

Como somos estudiosos do passado,mas fracos conhecedores do futuro, pode -mos reportar, ainda que sucintamente, o queforam estes 20 anos de trabalhos em Mesasdo Castelinho, bem como da dinâmica dasua ocupação. Não temos nenhuma ideiasobre qual possa vir a ser o futuro do sítioarqueológico.

nho se torna relevante sempre que existefragmentação de poderes e decai sempreque se afirmam na região poderes fortes ecentralizados, facto que ajudará a melhorentender a pertinência da sua localização.Mas, olhando à fauna recolhida nas lixeirasdo castelo, com essa significativa prepon-derância de espécies selvagens, particular-mente do veado, facilmente concluímos queesse pequeno castelo rural não representa oreflexo de uma autodefesa local, contra osinteresses dos poderes urbanos, tratando-semais de uma prova da existência de umcontingente militar ali instalado. Ou seja,para reproduzirmos, ainda que esquemati-camente, as principais linhas do debatesobre o chamado encastelamento rural, nãoestamos perante “camponeses em armas”contra os poderes urbanos, mas antes deum claro sinal da imposição de uma guar -ni ção militar às comunidades locais.

Pelo que fica exposto, esperamos terdemonstrado a pertinência destes 20 anosde projecto, bem como o imenso potencialque o local ainda encerra, em nosso enten-der, merecedor de continuação de estudos.

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Referências