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PODER JUDICIÁRIO Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula APELAÇÃO CRIMINAL Nº: 368661-49.2010.8.09.0173 (201093686618) COMARCA : SÃO SIMÃO 1º APELANTE : JOÃO BATISTA DA SILVA 2º APELANTE : ADRIANO JORGE MORAIS 3º APELANTE : ELTON MARCELINO DE OLIVEIRA 4º APELANTE : ENIVALDO VENÂNCIO DE OLIVEIRA 5º APELANTE : FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR : DESEMBARGADOR NEY TELES DE PAULA EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. 1 – Improcedente a alegação de nulidade das interceptações telefônicas, vez que não configurada a necessidade de transcrição integral dos diálogos gravados durante a quebra do sigilo telefônico, sendo suficiente o auto circunstanciado do apurado, tudo de acordo com o artigo 6º, §2º, da Lei nº 9.296/96. Ademais, as mídias contendo os diálogos permaneceram à disposição das partes e do juízo nos autos do processo, o que afasta a alegação de violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa. 2 – Confirma-se a

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PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula

APELAÇÃO CRIMINAL Nº: 368661-49.2010.8.09.0173

(201093686618)

COMARCA : SÃO SIMÃO

1º APELANTE : JOÃO BATISTA DA SILVA

2º APELANTE : ADRIANO JORGE MORAIS

3º APELANTE : ELTON MARCELINO DE OLIVEIRA

4º APELANTE : ENIVALDO VENÂNCIO DE OLIVEIRA

5º APELANTE : FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL

APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO

RELATOR : DESEMBARGADOR NEY TELES DE PAULA

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. 1 – Improcedente

a alegação de nulidade das interceptações

telefônicas, vez que não configurada a necessidade

de transcrição integral dos diálogos gravados durante

a quebra do sigilo telefônico, sendo suficiente o auto

circunstanciado do apurado, tudo de acordo com o

artigo 6º, §2º, da Lei nº 9.296/96. Ademais, as mídias

contendo os diálogos permaneceram à disposição

das partes e do juízo nos autos do processo, o que

afasta a alegação de violação dos princípios do

contraditório e da ampla defesa. 2 – Confirma-se a

PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula

sentença condenatória, que ao deixar de mencionar

o nome do condenado, reportou-se aos termos da

denúncia, e ainda na dosimetria observou a

individualização legal, com indicação do nome do

condenado e análise das respectivas circunstâncias

judiciais, sendo possível a identificação daquele e a

reprimenda imposta, inexistindo, assim, nulidade a

ser declarada, vez que ausente prejuízo à defesa. 3

– Impositiva a manutenção da condenação pelo

crime de tráfico e associação para o tráfico, que, em

conformidade com os elementos probatórios jungidos

ao feito, como os depoimentos dos policiais,

conversas telefônicas interceptadas judicialmente,

comprovam as negociações de compra e venda da

droga e associação criminosa que mantinham para

esse fim. 4 – Na dosimetria foram atendidos os

ditames legais dos artigos 68 e 59 do Código Penal,

resultando a pena definitiva adequada à prevenção e

repressão de crimes como tais, não carecendo da

reforma almejada. 5 – Inaplicável a benesse do §4º,

do artigo 33, da Lei nº 11.343/06, uma vez

configurada a associação ao tráfico, demonstrando a

dedicação dos apelantes a atividades criminosas e

participação deles em organização criminosa. 6 –

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Mantida a majoração prevista no art. 40, inciso V, da

Lei nº 11.343/06, uma vez caracterizado o tráfico

entre Estados da Federação. 7 – A conversão da

pena privativa de liberdade em restritiva de direitos

submete-se à satisfação dos requisitos elencados no

artigo 44, do Código Penal, o que não ocorre no caso

sub judice. 8 – Não merece acolhida o pedido de

anulação do decreto condenatório no que tange à

declaração de perdimento dos bens apreendidos em

favor da União, porquanto restou provado nos autos

que referidos objetos eram usados na

comercialização da droga, devendo ser mantido o

perdimento em favor da União. APELAÇÕES

CONHECIDAS E IMPROVIDAS.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de

apelação criminal, acordam os componentes da 2ª Câmara Criminal

do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por maioria de

votos, acolhendo o parecer de cúpula ministerial, em conhecer das

apelações e negar-lhes provimento, nos termos do voto do relator.

Divergiu o Dr. Fábio Cristóvão de Campos Faria, que proveu

parcialmente a terceira, quarta e quinta apelações.

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Votou com o relator, o Des. Leandro Crispim, votou

divergente o Dr. Fábio Cristóvão de Campos Faria (subst. da Desa.

Nelma Branco Ferreira Perilo).

Presidiu a sessão, a Desa. Nelma Branco Ferreira

Perilo.

Fez-se presente, como representante da

Procuradoria Geral de Justiça, o Dr. Maurício José Nardini.

Fez sustentação oral o Dr. Maruzam Alves Macedo e

a Dra. Auriane Patrícia Soares.

Goiânia, 28 de agosto de 2012.

Desembargador Ney Teles de Paula

Relator

PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula

APELAÇÃO CRIMINAL Nº: 368661-49.2010.8.09.0173

(201093686618)

COMARCA : SÃO SIMÃO

1º APELANTE : JOÃO BATISTA DA SILVA

2º APELANTE : ADRIANO JORGE MORAIS

3º APELANTE : ELTON MARCELINO DE OLIVEIRA

4º APELANTE : ENIVALDO VENÂNCIO DE OLIVEIRA

5º APELANTE : FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL

APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO

RELATOR : DESEMBARGADOR NEY TELES DE PAULA

V O T O

Convicto do acerto do entendimento esposado pela

Douta Procuradoria Geral de Justiça (fls. 1263/1275), permito-me

adotar o seu percuciente parecer, nos termos do parágrafo único do

art. 210 do Regimento Interno do Egrégio Tribunal de Justiça do

Estado de Goiás:

“Os recursos são próprios

e tempestivos, motivos pelos quais

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devem ser conhecidos.

Dessume-se dos autos que

em razão de informações acerca da

prática de crime de tráfico de drogas

no município de São Simão, foram

iniciadas as investigações que

resultaram na elaboração do relatório

policial. Com o fim de comprovar a

traficância cometida mediante a

utilização de telefones celulares, a

Autoridade Policial formulou pedido de

interceptação telefônica perante o

juízo de São Simão, sendo deferida

judicialmente.

No curso das

interceptações telefônicas, entre os

dias 09 de julho de 2010 e 18 de

setembro de 2010, nas cidades de São

Simão/GO e Santa Vitória/MG, apurou-se

a associação dos apelantes João Batista

da Silva, Adriano Jorge Morais, Elton

Marcelino de Oliveira, Enivaldo

Venâncio de Oliveira e Fernando de

Oliveira Natal para o fim de,

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reiteradamente, praticarem o crime de

tráfico ilícito de drogas, sem

autorização ou em desacordo com

determinação legal ou regulamentar.

Durante interceptação

telefônica no dia 11 de setembro de

2010, os apelantes João Batista e

Adriano combinaram a entrega de drogas

no estabelecimento comercial “Posto

Chapadão”, município de Gurinhatã/MG.

Visando efetuar a prisão

em flagrante dos apelantes, o Delegado

de Polícia de São Simão e sua equipe

se dirigiram ao local combinado e

lograram êxito prender em flagrante os

apelantes de posse de um tablete de

cocaína, pesando aproximadamente

336,16g (trezentos e trinta e seis

gramas e dezesseis miligramas) e um

tablete de maconha, pesando 498,76

(quatrocentos e noventa e oito gramas

e setenta e seis miligramas), além da

quantia de R$ 2.070,00 (dois mil e

setenta reais) em espécie.

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Analisando inicialmente a

preliminar suscitada pela defesa dos

apelantes João Batista e Adriano de

que o feito é nulo porquanto as

interceptações telefônicas foram

realizadas distorcidas dos parâmetros

legais, tem-se que completamente

improcedente.

Verifica-se dos autos que

a autoridade policial representou

perante o juízo competente acerca das

interceptações telefônicas e suas

prorrogações, tendo o magistrado

monocrático autorizado as

interceptações mediante decisões

fundamentadas, conforme disciplina a

Lei nº 9.296/96.

Ademais, não há que se

arguir nulidades das interceptações

telefônicas pela não preservação do

conteúdo original das conversas

travadas entre os apelantes, tendo em

vista a desnecessidade de transcrição

integral dos diálogos gravados durante

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a quebra do sigilo telefônico, sendo

suficiente o auto circunstanciado do

apurado, tudo de acordo com o artigo

6º, §2º, da Lei nº 9.296/96.

Outrossim, as mídias onde se encontram

gravados os diálogos sempre estiveram

à disposição das partes e do juízo nos

autos do processo, o que afasta a

alegação de que ocorreu a violação dos

princípios do contraditório e da ampla

defesa.

Superada a preliminar

ventilada passo à análise do mérito.

A materialidade delituosa

restou sobejamente provada pelos

inclusos “Laudo de Exame de

Constatação Preliminar”, fls. 106/107,

“Termo de Exibição e Apreensão”, fls.

108, 163 e 167, “Fotos Ilustrativas”,

fls. 200, “Laudo de Exame Pericial de

Degravação de Conversas Telefônicas”,

fls. 210/298, bem como “Laudo

Definitivo de Exame de Substância

Toxicológica”, fls. 700, os quais

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revelam que as substâncias apreendidas

eram cocaína e maconha, vedadas em

todo o território nacional em face das

disposições da Lei nº 11.343/06.

Igualmente desprovida de

dúvida é a autoria do crime de tráfico

e associação para o tráfico

interestadual, apesar dos apelantes

Elton, Enivaldo, João Batista, Adriano

e Fernando tê-la negado em juízo,

respectivamente, fls. 897/899,

891/893, 881/884, 885/887 e 900/902,

porquanto o acervo probatório

arregimentado no curso do feito

demonstra de maneira clara e

incontestável que os membros

associaram-se reiteradamente para a

prática do crime de tráfico de

substâncias entorpecentes.

Os depoimentos dos

policiais que participaram da prisão

dos apelantes, confirmam sem hesitação

as condutas delituosas imputadas aos

mesmos:

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“(...) que as

interceptações telefônicas duraram

pelo período aproximado de 2 meses e

meio; (...) que João Batista trazia a

droga; que distribuía para Fernando,

Elton e Adriano; (...) que João

Batista trazia a droga de Ituiutaba;

(...) que Elton entregava para

Enivaldo e às vezes para Rogerinho;

(...) que estava na delegacia, quando

por volta do almoço o agente Rildo

escutou uma conversa de que João

Batista realizaria entrega para o

acusado Adriano de entorpecente no

Posto Chapadão; (...) que foram para o

Posto Chapadão na viatura

descaracterizada; (...) que a droga

foi apreendida no momento em que o

acusado Adriano estava no banheiro;

(...) que João Batista era o principal

distribuidor; que João Batista

mantinha a distribuição com Elton,

Adriano, Fernando e às vezes com

Rogerinho; (...)que Elton recebia a

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droga de João Batista e passava para

Enivaldo e Rogerinho; (...) que

Enivaldo realizava a venda de

entorpecentes na sua casa; (...)” -

Maurício Antônio de Oliveira Santana,

em juízo, fls. 723/726.

“(...) que os alvos

ficaram interceptados por

aproximadamente dois meses e meio; que

depois de iniciadas as interceptações

telefônicas houve necessidade de

aditamento das mesmas; (...) que foi

responsável pela chegada da droga em

São Simão; que João Batista fornecia a

droga para Elton, Adriano, Fernando,

vulgo cebolinha e em algumas

oportunidades para Rogério; que o

fornecimento de droga era constante

para os acusados Elton, Adriano e

Fernando; (...) que nas

interceptações os envolvidos Adriano,

Elton e João Batista tratavam de

valores que eram devidos; que Elton

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pegava a droga de João Batista que

repassava para Enivaldo e Rogério,

(...) que através da interceptação

telefônica pode identificar que

Adriano combinou com o acusado João

Batista a entrega e aquisição da droga

no posto Chapadão; (...) que a droga

saia de Minas e iria para o Estado de

Goiás, sendo que também saía daqui do

estado de Goiás na pessoa de Elton

para Santa Vitória na pessoa de

Enivaldo; (...)” - Rildo Camargos, em

juízo, fls. 727/731.

Esses testemunhos, por se

harmonizarem com as demais provas

produzidas no feito são dignos de

credibilidade, não havendo qualquer

motivo para deles se suspeitar ou,

mesmo, entendê-los como tendenciosos,

conforme asseverado nas razões em

apreço.

No que pertine a alegação

dos apelantes de que não restou

comprovada a mercancia de drogas,

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igualmente não deve prosperar,

porquanto o tráfico ilícito de

entorpecentes e drogas afins é crime

de ação múltipla ou de conteúdo

variado, bastando a flexão de qualquer

dos verbos previstos no art. 33 da Lei

nº 11.343/06 para a configuração do

delito, de modo que não há necessidade

do comércio da droga para a

configuração do crime de tráfico,

bastando, para a sua caracterização,

ter a substância ilícita à disposição

para fins de difusão ilícita, podendo

muito bem o traficante ser também

usuário e, concomitantemente, possuir

a droga para uso próprio e para

disseminação do vício.

Desse modo, a tese

absolutória apontada por todos os

apelantes está em desconformidade com

os elementos probatórios jungidos ao

feito, vez que não só os depoimentos

testemunhais, mas as conversas

telefônicas interceptadas

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judicialmente, comprovam as

negociações de compra e venda da

droga, sendo que o apelante João

Batista trazia as substâncias

entorpecentes de Ituiutaba/MG e as

vendias para os apelantes Elton,

Fernando, Rogério e Adriano para serem

vendidas em São Simão/GO, comprovando,

ainda, que o apelante Elton comprava a

droga de João Batista e repassava a

mesma a Enivaldo.

Portanto, inquestionável

que os apelantes se conheciam e de

forma paralela se associaram para a

venda de entorpecentes originário do

Estado de Minas Gerais, mais

especificamente da cidade de Ituiutaba

para a cidade de São Simão, localizada

no Estado de Goiás, o que torna

inegável diante da quebra de sigilo

telefônico dos envolvidos.

Quanto ao alegado pelos

apelantes, de que a pena aplicada foi

exacerbada, novamente sem razão,

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porquanto a magistrada a quo,

observando estritamente os ditames da

lei, aplicou-a de forma correta, nos

termos do sistema trifásico previsto

no art. 68 do Código Penal. Além do

mais, as circunstâncias judiciais

previstas no art. 59 do mesmo Diploma

Legal foram-lhes desfavoráveis, de

modo que a reprimenda corpórea imposta

mostrou-se adequada à prevenção e

repressão de crimes como tais, não

carecendo da reforma almejada.

De qualquer forma,

“Somente quando todos os parâmetros

norteadores do art. 59 favorecerem o

acusado é que a pena base deve ser

estabelecida no seu menor

quantitativo, de sorte que deverá

residir acima deste, toda vez que pelo

menos uma das circunstâncias judiciais

militar em seu desfavor.” (RDJ

17/147).

No tocante ao pedido de

aplicação do benefício previsto no

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§4º, do art. 33, da Lei nº 11.343/06,

tem-se que agiu com acerto a

magistrada sentenciante ao deixar de

aplicá-lo, porquanto inviável a

aplicação de tal benesse quando

figurada a associação ao tráfico,

demonstrando a dedicação dos apelantes

a atividades criminosas e participação

deles em organização criminosa.

Em relação à modificação

do regime de cumprimento da pena, tem-

se que o crime de tráfico de

susbstâncias entorpecentes é de

natureza hedionda, ao qual deve se

dispensar tratamento mais rigoroso,

prevalecendo como regra o regime

inicialmente fechado, conforme dispõe

o art. 2º, §1º, da Lei nº 8.072/90,

com alteração dada pela Lei nº

11.464/07.

[...]

Por fim, quanto ao pleito

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para que seja anulado o decreto

condenatório no que tange à declaração

de perdimento dos bens apreendidos em

favor da União, igualmente não merece

guarida, porquanto restou provado nos

autos que referidos objetos eram

usados na comercialização da droga,

devendo ser mantido o perdimento em

favor da União.

Ademais, insta salientar,

conforme dispõe o art. 60, §2º, da Lei

nº 11.343/06, cabe aos apelantes o

ônus da prova da licitude dos objetos

declarados perdidos em favor da União,

o que foi demonstrado pelos mesmos.

Posto isto, mormente

contrarrazões, sou pelo improvimento

dos apelos, mantendo-se intocada a

sentença. “ .

Por fim, restam alguns pontos a serem examinados,

como a majoração prevista no art. 40, inciso V, da Lei nº 11.343/06,

que deve ser mantida, uma vez “caracterizado o tráfico

entre Estados da Federação...”, pois a droga obtida em

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Minas Gerais tinha como destino o Estado de Goiás, e também

ocorria o contrário, de Goiás para Minas Gerais.

Também improcedente a alegação de nulidade em

face da ausência no nome do apelante Fernando de Oliveira Natal da

sentença na parte em que decidiu pela condenação. Isso porque a

julgadora assim dispôs: “julgo parcialmente procedente a

imputação deduzida na inicial, para condenar os

denunciados....”, deixando expresso aqueles que seriam

absolvidos, sendo que na dosimetria foi observada a individualização

legal, com indicação do nome do condenado e análise das

respectivas circunstâncias judiciais. Também, consta do relatório o

nome do condenado, sendo possível a sua identificação e a

reprimenda imposta, inexistindo, assim, nulidade a ser declarada, vez

que ausente prejuízo à defesa.

Insta dizer que conversão da pena privativa de

liberdade em restritiva de direitos submete-se à satisfação dos

requisitos elencados no artigo 44, do Código Penal. Como a situação

dos condenados não se enquadra na exigência legal, não há o que

ser modificado.

Ante o exposto, acolho como razões de decidir o

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parecer de cúpula ministerial, para conhecer das apelações e negar-

lhes provimento, nos termos acima expendidos.

É o voto.

Goiânia, 28 de agosto de 2012.

Desembargador NEY TELES DE PAULA

Relator

3/M²/2012

PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula

APELAÇÃO CRIMINAL Nº: 368661-49.2010.8.09.0173

(201093686618)

COMARCA : SÃO SIMÃO

1º APELANTE : JOÃO BATISTA DA SILVA

2º APELANTE : ADRIANO JORGE MORAIS

3º APELANTE : ELTON MARCELINO DE OLIVEIRA

4º APELANTE : ENIVALDO VENÂNCIO DE OLIVEIRA

5º APELANTE : FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL

APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO

RELATOR : DESEMBARGADOR NEY TELES DE PAULA

RELATÓRIO

O Ministério Público do Estado de Goiás ofereceu

denúncia contra:

1º) FILIPE JOSÉ DE LIMA ALVES, como incurso nas

penas dos artigos 33, caput, c/c 40, inciso V, da Lei nº 11.3434/06 e,

2º) JOÃO BATISTA DA SILVA, ADRIANO JORGE

MORAIS, ELTON MARCELINO DE OLIVEIRA, FRANCINETE

EUGÊNIA DA SILVA, ENIVALDO VENÂNCIO DE OLIVEIRA,

PODER JUDICIÁRIO

Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula

FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL e ROGÉRIO MOREIRA LOPES,

como incursos nas penas dos artigos 33, caput, c/c 40, inciso V e 35,

caput, da Lei nº 11.343/06.

Descreve a inicial que: “[...] No curso das

interceptações telefônicas, entre os dias 09 de

julho de 2010 e 18 de setembro de 2010, nas cidades

de São Simão/GO e Santa Vitória/MG, apurou-se a

associação dos denunciados JOÃO BATISTA DA SILVA,

ADRIANO JORGE MORAIS, ELTON MARCELINO DE OLIVEIRA,

FRANCINETE EUGÊNIA DA SILVA, ENIVALDO VENÂNCIO DE

OLIVEIRA, FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL e ROGÉRIO

MOREIRA LOPES, para o fim de, reiteradamente,

praticar o crime de tráfico ilícito de drogas

[...]”.

Apresentadas as defesas prévias de Elton Marcelino

(fls. 415/419), Francinete Eugênia (fls. 440/450), Enivaldo Venãncio

(fls. 452/465), Fernando de Oliveira Natal (fls. 594/595) e Filipe José,

João Batista e Adriano Jorge (fls. 633/655). A denúncia foi recebida

em 21.03.2011 (fls. 661/664).

Inquirição das testemunhas arroladas (fls. 722/731),

interrogatório dos réus e alegações finais orais (fls. 862/902).

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A sentença (fls. 911/966) julgou parcialmente

procedente a acusação para absolver os denunciados FILIPE JOSÉ

DE LIMA ALVES e FRANCINETE EUGÊNIA DA SILVA, e condenar os

demais denunciados como incursos nas penas dos artigos 33, caput,

c/c 35 c/c 40, inciso V, todos da Lei nº 11.343/06, na forma do artigo

69 (concurso material) do Código Penal:

1) JOÃO BATISTA DA SILVA, à pena de 10 anos e 11

meses de reclusão e 1400 dias-multas, fixado o valor de 1/30 (um

trigésimo) do salário mínimo vigente à época do fato;

2) ADRIANO JORGE MORAIS, à pena de 10 anos e

05 meses de reclusão e 1263 dias-multas, fixado o valor de 1/30 (um

trigésimo) do salário mínimo vigente à época do fato;

3) ELTON MARCELINO DA SILVA, à pena de 10

anos e 05 meses de reclusão e 1263 dias-multas, fixado o valor de

1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época do fato;

4) ENIVALDO VENÂNCIO DE OLIVEIRA, à pena de

09 anos e 10 meses de reclusão e 1263 dias-multas, fixado o valor de

1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época do fato e

5) FERNANDO DE OLIVEIRA NATAL, à pena de 11

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anos, 11 meses e 25 dias de reclusão e 1263 dias-multas, fixado o

valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época do

fato.

Devidamente intimados (fls.1005, 1008, 1011, 1014 e

1017), os condenados interpuseram apelação.

Às fls. 1024/1037, o condenado Elton Marcelino de

Oliveira apresenta suas razões recursais em que defende a ausência

de provas para a condenação, pois a acusação não logrou provar a

autoria, a condição de usuário de drogas, a redução da pena-base

para o mínimo legal, aplicação da benesse prevista no §4º, do art. 33,

e a consideração dos seus predicados pessoais. Pede o provimento

do recurso.

Nas suas razões recursais (fls. 1058/1073), o

condenado Enivaldo Venâncio de Oliveira alega a insuficiência de

provas para a condenação, que seja afastada a condenação pelos

crimes dos artigos 35 c/c 40, inciso V, da Lei de Drogas, vez que a

acusação não obteve provas nesse sentido. Requer o provimento do

apelo.

Às fls. 1149/1170, os condenados João Batista da

Silva e Adriano Jorge de Moraes alegam, preliminarmente, a nulidade

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das interceptações telefônicas (vez que os apelantes não foram alvo

da investigação, não houve a transcrição dos diálogos com a

preservação do conteúdo original, por violação do disposto no art. 4º,

Lei nº 9.296/96 e ausência de perícia de comparação vocal). No

mérito, defendem a falta de provas para a condenação pelos crimes

de tráfico e associação ao tráfico; mitigação da pena aplicada, de

acordo com o art. 59, do CP, incidência do §4º, do artigo 33, da Lei nº

11.343/06; não aplicação da majorante do artigo 40, inciso V, da

referida lei; alteração do regime de cumprimento de pena e a

substituição da pena por restritiva de direitos, restituição dos valores e

bens apreendidos. Requerem a modificação da sentença nos termos

acima expostos.

Apelação interposta por Fernando de Oliveira Natal

(fls. 1196/1200), em que sustenta a nulidade da sentença por violação

ao artigo 93, inciso IX, da CF, por não ter decidido pela condenação

do apelante, absolvição quanto ao crime do art. 35, da Lei nº

11.343/06; a desclassificação da conduta descrita no art. 33 para a do

art. 28 da Lei de Drogas. Pede deferimento.

|

Contrarrazões apresentadas pelo Ministério Público

pelo improvimento das apelações (fls.1201/1235).

Instada a se manifestar, a douta Procuradoria-Geral

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de Justiça opina pelo conhecimento e improvimento dos recursos (fls.

1263/1275).

É, em síntese, o relato.

À douta revisão.

Goiânia, 25 de maio de 2012.

Desembargador NEY TELES DE PAULA

Relator3/M²/2012