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www.autoresespiritasclassicos.com
Gabriel Delanne
O Fenmeno Esprita
Traduzido do Francs
Le phnomne spirite, tmoignage des savants
Paris, Leymarie diteur, 1909.
Rafael
Escola de Atenas
Contedo resumido
Esta mais uma das obras da srie cientfica, escritas por Ga-
briel Delanne, no seu trabalho de divulgao do Espiritismo, a-
presentando o relato das experincias sobre os fenmenos espri-
tas, rigorosamente controlados.
Nesta obra o autor relata os fenmenos incomus verificados,
tais como: os fenmenos fsicos ocorridos com a famlia Fox, fo-
tografia esprita, Espiritismo na antigidade, fenmeno de trans-
porte e outros.
O autor contradiz argumentos de negativistas da poca e
mesmo os da atualidade, e proclama a grande realidade do espri-
to imortal, baseados nos fatos constatados.
No digo que isso seja possvel; afirmo que isso uma verdade.
William Crookes
Evitar o fenmeno esprita, deixar de prestar-lhe a ateno a que ele tem direito, faltar
com o que se deve verdade.
Victor Hugo
Dedicatria
alma imortal
de meu venerado mestre
Allan Kardec
eu dedico este livro
obra de um de seus mais obscuros
mas de seus mais sinceros admiradores
Gabriel Delanne
Sumrio
Prefcio ........................................................................................ 7
Parte Primeira
Histrico .................................................................................... 11
Captulo I
A Antigidade
O Espiritismo to velho quanto o mundo Provas tira-das dos Vedas A iniciao antiga Fenmenos de evo-cao entre os egpcios e entre os hebreus Na Grcia: as pitonisas As mesas giratrias entre os romanos As feiticeiras da Idade Mdia Perpetuidade da tradio a-travs dos sculos. ............................................................... 11
Captulo II
Os tempos modernos
Na Amrica: A famlia Fox; o primeiro Esprito batedor
As perseguies em Rochester Desenvolvimento considervel do fenmeno; seus mltiplos aspectos Os sbios O professor Mapes O juiz Edmonds Robert Hare; suas experincias Robert Dale Owen O Espiri-tismo atualmente Na Inglaterra: As investigaes de Crookes A Sociedade Dialtica de Londres Os teste-munhos de Alfred Wallace, Varley, Morgan, Oxon, Dr.
Sexton, Dr. Chambers, Dr. Gully Na Frana: Trabalhos do Baro de Guldenstubb A obra de Allan Kardec Os adversrios do Espiritismo Agnor de Gasparin, Thury, Des Mousseaux, Chevillard, etc Adeses de homens clebres Estado atual Na Alemanha: As pes-quisas do Dr. Kerner os fatos de Mottlingen; as experi-ncias de Zllner, Fechner e Ulrici Enumerao dos espritas ilustres no resto da Europa Os principais jor-nais que tratam da Doutrina Importncia do movimento Resumo. ............................................................................ 17
Parte Segunda
Os Fatos ..................................................................................... 44
Captulo I
A Fora Psquica
O Espiritismo em casa de Victor Hugo Primeiras obje-es Erguimento da mesa sem contacto Sociedade Dialtica de Londres Medio da fora psquica A mediunidade A levitao humana. .................................... 44
Captulo II
A inteligncia da fora psquica
Os fenmenos no so devidos a uma fora cega Al-gumas experincias provam-no As objees dos incr-dulos A transmisso do pensamento Investigaes da Sociedade Psquica de Londres Discusso Prova ab-soluta da existncia dos Espritos As crianas mortas na ndia Um telegrafista de alm-tmulo As pranche-tas clarividentes O caso Abraham Florentine O al-faiate esmagado O Capito Wheatcroft. ........................... 66
Captulo III
Mediunidades diversas
Os mdiuns escreventes Algumas comunicaes not-veis Fbulas, versos e msica Incorporao ou encar-nao Um caixeiro A filha do juiz Edmonds Anes-tesia durante o transe As objees O Sr. Binet As experincias do Sr. Janet Mediunidade vidente Medi-unidade auditiva Escrita direta e psicografia Experi-ncias de Wallace Oxon Zllner O Dr. Gibier Na Amrica do Norte Observaes. ....................................... 87
Captulo IV
O Espiritismo transcendental
O Espiritismo transcendental Ao dos Espritos De-sagregao da matria Experincias de Crookes e de
Zllner O fenmeno de transportes Aparies lumi-nosas na obscuridade Aparies de mos luminosas por si mesmas, ou visveis luz ordinria Formas e figuras de fantasmas As materializaes Experincias de Crookes com Katie King Formao lenta de uma mate-rializao A fotografia esprita Fotografias de Espri-tos reconhecidos por parentes Mediunidade vidente e fotografias de Espritos As experincias de Aksakof Fotografias transcendentais em pleno dia Fotografia do mdium e de uma forma materializada luz do magnsio
Observaes do Sr. Aksakof Impresses e moldagens de formas materializadas Experincias em Npoles, na Amrica e na Inglaterra O Espiritismo e a Psiquiatria Experincias de Lombroso em Npoles A explicao do clebre professor Refutao Resumo. ..................... 120
Parte Terceira
Conselhos aos Mdiuns
e aos Experimentadores ......................................................... 191
Captulo nico
Recolhimento Homogeneidade de pensamentos Re-gularidade Pacincia Circunspeo em relao aos Espritos que se manifestam Identidade dos Espritos Desconfiar dos grandes nomes Razo pela qual os Es-pritos chamados no se manifestam. ................................ 191
Parte Quarta
A Doutrina Esprita ................................................................ 198
Captulo nico
Materialismo e Espiritismo O Esprito no Espao As vidas sucessivas Provas da reencarnao Concluso. .. 198
Concluso ................................................................................ 214
Prefcio
O Espiritismo uma cincia cujo fim a demonstrao expe-
rimental da existncia da alma e sua imortalidade, por meio de
comunicaes com aqueles que impropriamente tm sido chama-
dos mortos.
H quase meio sculo foram empreendidas as primeiras inves-
tigaes sobre esse assunto; homens de cincia da mais alta noto-
riedade consagraram longos anos de estudos para certificar os fa-
tos que formam a base dessa doutrina, e foram unnimes em afir-
mar a autenticidade dos fenmenos que pareciam produto da su-
perstio e do fanatismo.
Na Frana, conheciam-se imperfeitamente essas pesquisas, de
sorte que, aos olhos do grande pblico, o Espiritismo no passava
de farsa de mesas girantes.
Contudo, o tempo desempenhou o seu papel, e essa doutrina
apresenta hoje ao experimentador imparcial uma srie de experi-
ncias rigorosas, metodicamente conduzidas, que provam, com
segurana, a sobrevivncia do eu humano desagregao corpo-
ral.
So esses fatos que queremos expor, a fim de que eles implan-
tem em todas as conscincias a convico da imortalidade, no
mais baseada somente na f ou no raciocnio, mas solidamente
firmada na Cincia e no seu mtodo severo e positivo.
A gerao atual est fatigada de especulaes metafsicas; re-
cusa crer naquilo que no est absolutamente demonstrado, e se o
movimento esprita, que j conta milhes de adeptos no mundo
inteiro, no ocupou ainda o primeiro lugar, deve-se isso a que
seus adeptos negligenciaram, at ento, pr sob os olhos do pbli-
co fatos bem averiguados.
A maior parte das publicaes peridicas contm comunica-
es de Espritos, as quais podem ser interessantes sob certos
pontos de vista; todavia, como sua autenticidade no est absolu-
tamente provada, no produzem o efeito desejado.
As obras francesas aparecidas desde Allan Kardec sobre esse
assunto so repeties, com exceo dos livros de Eugne Nus,
Louis Gardy e Doutor Gibier, ou, ento, no apresentam origina-
lidade alguma sobre a questo, de modo que o movimento tem si-
do retardado. preciso que se lhe d novo impulso.
Para tal, mister caminhar com o sculo e saber curvar-se s
necessidades da poca.
O materialismo triunfa por toda parte, mas j se pressente ser
de pouca durao o seu reinado; basta servirmo-nos de suas pr-
prias armas e combat-lo em seu prprio terreno.
A escola positivista encerra-se na experimentao; imitemo-la:
nenhuma necessidade temos de apelar para outros mtodos, por-
que os fatos so obstinados, como diz o sbio Alfred Russell Wal-
lace, e deles no fcil desembaraar-se.
Em vez de apresentar aos incrdulos toda a doutrina formulada
pelos Espritos e codificada por Allan Kardec, demos-lhes, sim-
plesmente, a ler os trabalhos de mestres como Robert Hare, Croo-
kes, Wallace, Oxon, Zllner, Aksakof, pois que no podero recu-
sar os testemunhos desses grandes homens, que so, por ttulos
diversos, sumidades intelectuais no vasto domnio das cincias.
No esqueamos que Crookes fez a Fsica dar um passo gigan-
tesco com a demonstrao do estado radiante. Wallace , com cer-
teza, neste momento, o primeiro naturalista do mundo, pois, ao
mesmo tempo que Darwin, achou e formulou a lei da evoluo.
Os trabalhos de Zllner, em Astronomia, so universalmente co-
nhecidos; os de Fechner, sobre a sensibilidade, so ensinados em
toda parte; e quanto aos professores Mapes e Robert Hare, temos
a dizer que eles gozam de indiscutvel autoridade na Amrica do
Norte.
Eis a os principais campees do Espiritismo; mas o leitor en-
contrar, no fim deste volume, uma lista de numerosas notabili-
dades que afirmam categoricamente a realidade dos seus fenme-
nos.
tempo de reagir contra os bonzos oficiais que tentam abafar
as verdades novas, afetando uma desdenhosa indiferena. Se te-
mos respeito e admirao pela Cincia sem prevenes, a que im-
parcialmente encara todos os fenmenos, estuda-os e explica-os
friamente, fornecendo boas razes, tambm nos sentimos cheios
de indignao contra a falsa cincia, rebelde a todas as novidades,
encerrada em convices adquiridas e crendo, orgulhosamente, ter
atingido a meta do saber humano.
Foram homens desta classe, diremos como Wallace, que fize-
ram oposio a Galileu, a Harvey, a Jenner. Foram esses ridculos
teimosos que repeliram a maravilhosa teoria das ondulaes lu-
minosas de Young; que zombaram de Stephenson, quando este
quis fazer correr locomotivas sobre as linhas frreas de Liverpool
e Manchester. Atiraram todos os sarcasmos possveis contra a i-
luminao a gs, e repeliram Arago no prprio seio da Academia,
quando este quis discutir a telegrafia; seres ignaros que classifica-
ram o magnetismo como embuste e charlatanice, e que, ainda ul-
timamente, qualificaram de grande peta a descoberta do telefone.
No foi por vo prazer de mostrar quanto o esprito humano,
mesmo nas classes mais esclarecidas, est sujeito ao erro, que ci-
tamos alguns dos mais frisantes exemplos de obstinao nas cor-
poraes sbias e o seu horror pelas novidades. Nosso intuito
suscitar um srio movimento em prol dessas investigaes, que
tm considervel alcance, tanto no domnio material quanto no
domnio psicolgico.
Se realmente a alma no morre e pode agir sobre a matria,
achamo-nos em face de foras desconhecidas, cujo estudo inte-
ressante; pela mesma forma verificaremos modos novos de ener-
gia, que podem conduzir-nos a resultados grandiosos; o mesmo
sucede com a personalidade, que, conservando-se depois da mor-
te, nos ps em presena de um outro problema: a produo do
pensamento sem os rgos materiais do crebro.
Deixemos de parte os rotineiros obstinadamente encerrados
em seus sistemas, abramos bem os nossos olhos quando homens
probos, sbios e imparciais nos falem de recentes descobertas, e
fechemos os ouvidos ao alarido de todos os eunucos do pensa-
mento, impotentes para sarem da rbita das idias preconcebidas.
Diremos, como um sbio que no teme desviar-se dos cami-
nhos trilhados, o Sr. Charles Richet, que uma boa e completa ex-
perincia vale por cem observaes, e acrescentaremos:
Vale dez mil negaes, ainda mesmo quando essas negaes
emanassem de sumidades da maior notoriedade, se estas no se
dignassem repetir as experincias e demonstrar-lhes a falsidade.
Este simples resumo no tem outras pretenses alm da de ex-
por aos olhos do pblico as experincias feitas por homens emi-
nentes, por mestres nesta arte to difcil da observao exata; re-
sultar disso a prova evidente da imortalidade do ser pensante,
porque ela afirmar-se- cada vez mais ntida, cada vez mais evi-
dente, medida que se desenvolver o magnfico encadeamento
dos fenmenos, desde o movimento das mesas at as aparies
visveis, tangveis e fotografadas dos Espritos.
Tal o nosso fim escrevendo esta pequena obra de propagan-
da.
Depois de um histrico sucinto das origens do Espiritismo,
passaremos em revista os trabalhos dos sbios, salientando o que
eles tm de convincente e incontestvel. Em seguida, consagra-
remos um captulo exposio dos mtodos pelos quais se podem
evocar os Espritos; enfim, terminaremos pelas conseqncias fi-
losficas que resultam dessas pesquisas.
Esperamos que este demonstrativo consciencioso e imparcial
produza a convico no esprito de todos os que souberem des-
prender-se dos preconceitos vulgares e das idias preconcebidas,
para friamente encararem esta cincia nova, cujos frutos so mui-
to importantes para a Humanidade. em nome do livre pensa-
mento que convidamos os investigadores a se ocuparem com os
nossos trabalhos; com instncia que lhes pedimos no repelirem
sem exame esses fatos, to novos e to imperfeitamente conheci-
dos, pois estamos persuadidos de que a luz brilhar a seus olhos,
como brilhou para os homens de boa-f que, h cinqenta anos,
quiseram estudar os problemas do Alm, to perturbadores e to
misteriosos antes dessas descobertas.
Gabriel Delanne
Parte Primeira
Histrico
Captulo I
A Antigidade
O Espiritismo to velho quanto o mundo Provas tiradas dos Vedas A iniciao antiga Fenmenos de evocao entre os egpcios e entre os
hebreus Na Grcia: as pitonisas As mesas giratrias entre os romanos As feiticeiras da Idade Mdia Perpetuidade da tradio atravs dos
sculos.
As crenas na imortalidade da alma e nas comunicaes entre
os vivos e os mortos eram gerais entre os povos da Antigidade.
Mas, ao contrrio do que acontece hoje, as prticas pelas quais
se conseguia entrar em relao com as almas desencarnadas eram
o apangio exclusivo dos padres, que tinham cuidadosamente
monopolizado essas cerimnias, no s para fazerem delas uma
renda lucrativa e manterem o povo em absoluta ignorncia quanto
ao verdadeiro estado da alma depois da morte, como tambm para
revestirem, a seus olhos, um carter sagrado, pois que s eles po-
diam revelar os segredos da morte.
Encontramos nos mais antigos arquivos religiosos a prova do
que avanamos.
Os anais de todas as naes mostram que, desde pocas remo-
tssimas da Histria, a evocao dos Espritos era praticada por
certos homens que tinham feito disso uma especialidade.
O mais antigo cdigo religioso que se conhece, os Vedas, apa-
recido milhares de anos antes de Jesus-Cristo, afirma a existncia
dos Espritos. Eis como o grande legislador Manu se exprime a
respeito: Os Espritos dos antepassados, no estado invisvel, a-companham certos brmanes, convidados para as cerimnias em
comemorao dos mortos, sob uma forma area; seguem-nos e
tomam lugar ao seu lado quando eles se assentam. 1
Um outro autor hindu declara: Muito tempo antes de se des-pojarem do envoltrio mortal, as almas que s praticaram o bem
como as que habitam o corpo dos sannyassis e dos vanaprastha
(anacoretas e cenobitas) adquirem a faculdade de conversar com
as almas que as precederam no Swarga; sinal que, para essas
almas, a srie de suas transmigraes sobre a Terra terminou. 2
Desde tempos imemoriais, os padres iniciados nos mistrios
preparam indivduos chamados faquires para a evocao dos Es-
pritos e para a obteno dos mais notveis fenmenos do magne-
tismo. Louis Jacolliot, em sua obra Le Spiritisme dans le monde,
expe amplamente a teoria dos hindus sobre os Pitris, isto , Es-
pritos que vivem no Espao depois da morte do corpo. Resulta
das investigaes desse autor que o segredo da evocao era re-
servado queles que pudessem ter quarenta anos de noviciado e
obedincia passiva.
A iniciao comportava trs graus: No primeiro, eram forma-
dos todos os brmanes do culto vulgar e os ecnomos dos pago-
des encarregados de explorar a credulidade da multido.
Ensinava-se-lhes a comentar os trs primeiros livros dos Ve-
das, a dirigir as cerimnias e a cumprir os sacrifcios; os brmanes
do primeiro grau estavam em comunicao constante com o povo:
eram seus diretores imediatos. O segundo grau era composto dos
exorcistas, adivinhos, profetas evocadores de Espritos que, em
certos momentos difceis, eram encarregados de atuar sobre a i-
maginao das massas, por meio de fenmenos sobrenaturais.
Eles liam e comentavam o Atharva-Veda, repositrio de conju-
raes mgicas.
No terceiro grau, os brmanes no tinham mais relaes dire-
tas com a multido; o estudo de todas as foras fsicas e naturais
do Universo era a sua nica ocupao e, quando se manifestavam
exteriormente, faziam-no sempre por meio de fenmenos aterrori-
zadores, e de longe.
Desde tempos imemoriais, o povo da China entrega-se evo-
cao dos Espritos dos avoengos. O missionrio Huc refere gran-
de nmero de experincias, cujo fim era a comunicao dos vivos
com os mortos, sendo que, em nossos dias, essas prticas esto
ainda em uso em todas as classes da sociedade. Com o tempo e
em conseqncia das guerras que foraram parte da populao
hindu a emigrar, o segredo das evocaes espalhou-se em toda a
sia, encontrando-se ainda entre os egpcios e entre os hebreus a
tradio que veio da ndia.
Todos os historiadores esto de acordo em atribuir aos padres
do antigo Egito poderes que pareciam sobrenaturais e misteriosos.
Os magos dos faras realizavam esses prodgios que so referidos
na Bblia; mas, deixando de parte o que pode haver de legendrio
nessas narraes, bem certo que eles evocavam os mortos, pois
Moiss, seu discpulo, proibiu formalmente que os hebreus se en-
tregassem a essas prticas: Que entre ns ningum use de sorti-lgio e de encantamentos, nem interrogue os mortos para saber a
verdade. 3
A despeito dessa proibio, vemos Saul ir consultar a pitonisa
de Endor e, por seu intermdio, comunicar-se com a sombra de
Samuel. o que em nossos dias denomina-se materializao. Ve-
remos, mais adiante, como se podem obter essas manifestaes
superiores.
Apesar da proibio de Moiss, houve sempre investigadores
que foram tentados por essas evocaes misteriosas; instituam
uma doutrina secreta a que chamavam Cabala, mas cercando-se
de precaues e fazendo o adepto jurar inviolvel segredo para o
vulgo. Qualquer pessoa que diz o Tamuld , sendo instruda nesse segredo (a evocao dos mortos), o guarda com vigilncia
em um corao puro pode contar com o amor de Deus e o favor
dos homens; seu nome inspira respeito, sua cincia no teme o ol-
vido, e torna-se ele herdeiro de dois mundos: aquele em que vi-
vemos agora e o mundo futuro.
Na Grcia, a crena nas evocaes era geral. Todos os templos
possuam mulheres chamadas pitonisas, encarregadas de proferir
orculos, evocando os deuses; mas, s vezes, o consultante queria,
ele prprio, ver e falar sombra desejada e, como na Judia, con-
seguia-se p-lo em comunicao com o ser ao qual desejava inter-
rogar.
Homero, na Odissia, descreve, minuciosamente, por meio de
que cerimnias Ulisses pde conversar com a sombra do divino
Tirsias. Este caso no isolado; tais prticas eram freqentemen-
te empregadas por aqueles que desejavam entrar em relao com
as almas dos parentes ou amigos que tinham perdido. Apolnio de
Tiana, sbio filsofo pitagrico e taumaturgo de grande poder,
possua vastos conhecimentos referentes s cincias ocultas; em
sua vida h abundncia de fatos extraordinrios; ele acreditava
firmemente nos Espritos e em suas comunicaes com os encar-
nados. As sibilas romanas, evocando os mortos, interrogando os
Espritos, so continuamente consultadas pelos generais, e ne-
nhuma empresa importante foi decidida sem se receber previa-
mente aviso dessas sacerdotisas.
Na Itlia sucede o mesmo que na ndia, no Egito e entre os he-
breus. O privilgio de evocar os Espritos, primitivamente reser-
vado aos membros da classe sacerdotal, espalhou-se pouco a pou-
co entre o povo e, se crermos em Tertuliano, o Espiritismo era e-
xercido entre os antigos pelos mesmos meios que, hoje, entre ns.
Se dado diz ele aos magos fazer aparecer fantasmas, e-vocar as almas dos mortos, poder forar a boca das crianas a pro-
ferir orculos; se eles realizam grande nmero de milagres, se ex-
plicam sonhos, se tm s suas ordens Espritos mensageiros e
demnios, em virtude dos quais as mesas que profetizam so um
fato vulgar, com que redobrado zelo esses Espritos poderosos
no se esforaro por fazer em prprio proveito o que eles fazem
em servio de outrem? 4
Em apoio das afirmaes de Tertuliano, pode-se citar uma
passagem de Amiano Marcelino sobre Patrcio e Hilrio, levados
perante o tribunal romano por crime de magia, acusao esta de
que eles se defenderam referindo que tinham fabricado, com pe-daos de loureiro, uma mesinha (mensulam) sobre a qual coloca-
ram uma bacia circular feita de vrios metais, tendo um alfabeto
gravado nas bordas. Em seguida, um homem vestido de linho, de-
pois de ter recitado uma frmula e feito uma evocao ao deus da
profecia, tinha suspendido por cima da bacia um anel preso a um
fio de linho muito fino e consagrado por meios misteriosos. O a-
nel, saltando sucessivamente, mas sem confuso, sobre vrias le-
tras gravadas, e parando sobre cada uma, formava versos perfei-
tamente regulares, em resposta s questes propostas.
Hilrio acrescentou:
Um dia, ele tinha perguntado quem sucederia ao imperador atual, e o anel, designando as letras, deu a slaba: Theo. Nada
mais inquiriram, persuadidos de que se tratava da palavra Theo-
doro.
Os fatos, diz Amiano Marcelino, desmentiram os magos, mais
tarde, porm no a predio, porque esta foi Theodsio. A interdi-
o de evocar os mortos, que vemos estabelecida por Moiss, foi
geral na antigidade.
O poder teocrtico e o poder civil estavam muito intimamente
ligados para que esta prescrio fosse severamente observada.
No convinha que as almas dos mortos viessem contradizer o en-
sinamento oficial dos padres e lanar a perturbao entre os ho-
mens, fazendo-os conhecer a verdade.
A Igreja Catlica, mais do que qualquer outra, tinha necessi-
dade de combater essas prticas, para si detestveis, e, portanto,
durante a Idade Mdia, milhares de vtimas foram queimadas sem
piedade, sob o nome de feiticeiros e mgicos, por terem evocado
os Espritos. Que sombria poca essa em que os Bondin, os De-
lancre, os Del-Rio assanhavam-se sobre as carnes palpitantes das
vtimas para a encontrarem o vestgio do diabo! Quantos miser-
veis alucinados pereceram no meio das torturas, cuja narrao
causa arrepios de horror e desgosto, e isto para maior glria de
um Deus de amor e de misericrdia!
A herica e casta figura de Joana d'Arc, a grande lorena, mos-
tra como as comunicaes com os Espritos podem dar resultados
to grandiosos quo inesperados. A histria dessa pastora expul-
sando o estrangeiro de seu pas, guiada pelas potncias espirituais,
pareceria maravilhosa fico, se a Histria no a tivesse recolhido
sob seu plio inatacvel.
Apesar de todas as perseguies, a tradio conservou-se;
possvel segui-la na Histria com os nomes de Paracelso, Corne-
lius Agripa, Swedenborg, Jacob Bhm, Martinez Pascalis, Conde de Saint-Germain, Saint-Martin, etc. s vezes, as manifestaes
eram pblicas e atingiam desenvolvimento extraordinrio. No
sem terror que se lem as narraes relativas aos possessos de
Loudun, os fatos estranhos atribudos aos convulsionrios de Ce-
venas e aos visionrios do cemitrio de Saint-Mdard, mas essa
demonstrao levar-nos-ia muito longe.
suficiente termos demonstrado que, em todos os tempos, a
evocao dos mortos foi praticada universalmente e que todos es-
ses fenmenos, na realidade, so to velhos quanto o mundo.
Chegamos agora, por conseguinte, ao estudo do movimento
esprita contemporneo e vamos mostrar a importncia consider-
vel que ele conquistou em nossa poca.
Captulo II
Os tempos modernos
Na Amrica: A famlia Fox; o primeiro Esprito batedor As perseguies em Rochester Desenvolvimento considervel do fenmeno; seus
mltiplos aspectos Os sbios O professor Mapes O juiz Edmonds Robert Hare; suas experincias Robert Dale Owen O Espiritismo
atualmente Na Inglaterra: As investigaes de Crookes A Sociedade Dialtica de Londres Os testemunhos de Alfred Wallace, Varley, Morgan, Oxon, Dr. Sexton, Dr. Chambers, Dr. Gully Na Frana:
Trabalhos do Baro de Guldenstubb A obra de Allan Kardec Os adversrios do Espiritismo Agnor de Gasparin, Thury, Des Mousseaux,
Chevillard, etc Adeses de homens clebres Estado atual Na Alemanha: As pesquisas do Dr. Kerner os fatos de Mottlingen; as
experincias de Zllner, Fechner e Ulrici Enumerao dos espritas ilustres no resto da Europa Os principais jornais que tratam da Doutrina
Importncia do movimento Resumo.
Na Amrica
Em 1847, a casa de um certo John Fox, residente em Hydesvil-
le, pequena cidade do Estado de New York, foi perturbada por es-
tranhas manifestaes; rudos inexplicveis faziam-se ouvir com
tal intensidade que essa famlia no pde mais repousar.
Apesar das mais numerosas pesquisas, no se pde encontrar o
autor dessa bulha inslita; logo, porm, se notou que a causa pro-
dutora parecia ser inteligente. A mais jovem das filhas do Sr. Fox,
chamada Kate, familiarizada com o invisvel batedor, disse: Faa como eu, e bateu com as suas mozinhas um certo nmero de pancadas, as quais o agente misterioso repetiu. A Sra. Fox disse-
lhe: Conte dez. O agente bateu dez vezes. Que idade tem a nossa filha? A resposta foi correta.
A esta pergunta: Sois um homem, vs que bateis?, nenhuma resposta se obteve; mas, a esta outra: Sois um Esprito?, houve resposta com pancadas rpidas e ntidas.
Chamados os vizinhos, estes foram testemunhas dos mesmos
fenmenos. Todos os meios de vigilncia foram postos em ao
para a descoberta do invisvel batedor, mas o inqurito da famlia
e o de toda a vizinhana foi intil. No se pde descobrir a causa
real daquelas singulares manifestaes.
As experincias seguiram-se, numerosas e precisas. Os curio-
sos, atrados por esses fenmenos novos, no se contentaram mais
com perguntas e respostas. Um deles, chamado Isaac Post, teve a
idia de nomear em voz alta as letras do alfabeto, pedindo ao Es-
prito para bater uma pancada quando a letra entrasse na composi-
o das palavras que quisesse fazer compreender. Desde esse dia
ficou descoberta a telegrafia espiritual; este processo o que ve-
mos aplicado nas mesas girantes.
Eis a, em toda a sua simplicidade, os preliminares do fenme-
no que devia revolucionar o mundo inteiro. Negado pelos sbios
oficiais, escarnecido pela imprensa dos dois mundos, posto no n-
dex pelas religies medrosas e ciumentas, suspeito justia, ex-
plorado por charlates, o Espiritismo devia continuar seu caminho
e conquistar adeptos, pois que o nmero destes se eleva, hoje, a
muitos milhes, em virtude de o Espiritismo possuir a mais pode-
rosa fora: a verdade.
Os investigadores notaram que o fenmeno s se produzia em
presena da jovem Fox; atribua-se-lhe um certo poder chamado
mediunidade.
O Esprito que se manifestava s jovens Fox declarou chamar-
se Joseph Ryan e ter sido mascate durante a sua vida terrestre.
Convidou as jovens para dar sesses pblicas, nas quais ele con-
venceria os incrdulos de sua existncia. A famlia Fox foi fixar-
se em Rochester e, conforme os conselhos de seu amigo do Espa-
o, as jovens missionrias no hesitaram em afrontar o fanatismo
protestante, propondo submeterem-se ao mais rigoroso exame.5
Acusadas de impostura e intimadas pelos ministros de sua
confisso a renunciarem a essas prticas, o senhor e a senhora
Fox, compenetrados do dever supremo de propagar o conheci-
mento dos fenmenos, que consideravam como grande e consola-
dora verdade, til a todos, recusaram submeter-se, e foram expul-
sos de sua igreja. Os adeptos que se reuniam ao seu redor foram
vtimas da mesma reprovao.
Sabe-se que o esprito clerical o mesmo, seja qual for a lati-
tude em que reine. Intolerncia e fanatismo, eis a sua divisa, e, se
o brao secular no est mais em seu poder, restam-lhe ainda mil
meios para perseguir aqueles que no querem inclinar-se ao seu
jugo.
Os conservadores fanticos da f dos avs sublevaram a mul-
tido contra a famlia Fox. Os apstolos da nova f ofereceram-se,
ento, para fazer a prova pblica da realidade das manifestaes,
diante da populao reunida no Corynthian-Hall, o maior salo da
cidade. Comeou-se por uma conferncia, onde foram expostos os
progressos do fenmeno desde os primeiros dias.
Esta comunicao foi acolhida por uma vaia, mas, no obstan-
te isso, terminou pela nomeao de uma Comisso encarregada de
examinar os fatos. Contra a expectativa geral e contra a sua pr-
pria convico, a Comisso viu-se forada a declarar que, depois
de minucioso exame, no tinha podido descobrir vestgio de frau-
de.
Nomeou-se uma segunda Comisso, que recorreu a processos
de investigao mais rigorosos; fez esquadrinhar e mesmo despir
as mdiuns, por senhoras, bem entendido; ouviram-se sempre os
estalidos ou pancadas na mesa, viram-se mveis em movimento;
respostas foram obtidas sobre todas as questes, mesmo mentais;
nada havia nisso de ventriloquia, de subterfgios; nenhuma fraude
foi possvel encontrar. Essa Comisso apresentou um laudo mais
favorvel ainda que a primeira sobre a perfeita boa-f dos espri-
tas e sobre a realidade do incrvel fenmeno. impossvel, diz a
Sra. Hardinge,6 descrever-se a indignao que se manifestou ante
esta segunda decepo.
Uma terceira Comisso foi escolhida entre os mais incrdulos
e mais motejadores. O resultado desta investigao, ainda mais
vexatria para as duas pobres jovens que as anteriores, confundiu
mais do que nunca os seus detratores.
O rudo do insucesso deste exame supremo espalhou-se pela
cidade.
A populao, exasperada, julgando ter havido traio dos co-
missrios e conivncia destes com os impostores, declarou que, se
o laudo lhes fosse favorvel, lincharia as mdiuns e seus advoga-
dos. As jovens, apesar do terror, escoltadas por sua famlia e por
alguns amigos, no deixaram de apresentar-se na reunio, e pedi-
ram lugar no estrado da grande sala, decididos todos a perecer, se
isso fosse necessrio, mrtires de uma impopular, mas incontest-
vel verdade.
A leitura do relatrio foi feita, por um membro da Comisso
que havia jurado descobrir a tramia; ele, porm, viu-se obrigado
a confessar que a causa das pancadas, apesar das mais minuciosas
pesquisas, era-lhe desconhecida.
Imediatamente, produziu-se um tumulto medonho; a populaa
quis linchar as jovens, e o teria feito, se no fosse a interveno
de um americano chamado Georges Villets, que fez do seu corpo
um escudo e induziu a multido a sentimentos mais humanos.
V-se, por esta narrao, que o Espiritismo, desde o seu incio,
foi severamente estudado. No foram somente os vizinhos, mais
ou menos ignorantes, que certificaram o fato, ento inexplicvel;
foram Comisses regularmente nomeadas que, aps minuciosos
inquritos, viram-se obrigadas a reconhecer a autenticidade abso-
luta do fenmeno.
A perseguio faz, como conseqncia, angariar adeptos para
as idias que combate. Eis por que, poucos anos depois, em 1850,
contavam-se j alguns milhares de espritas nos Estados Unidos.
A imprensa, como sempre, no encontrou nmero suficiente
de sarcasmos para vomitar contra a nova doutrina. Ridicularizava
as mesas girantes e os Espritos batedores, e no havia nenhum
escrevinhador de jornais e nenhum sorumbtico amanuense que
no se desse por autorizado a criticar esses alucinados que acredi-
tavam sinceramente que a alma do seu prximo pudesse erguer o
p de um mvel.
necessrio dizer-se que o fenmeno tomou, em seguida, ou-
tro aspecto. As pancadas, em vez de se produzirem sobre as pare-
des e sobre o soalho, faziam-se ouvir na mesa, em torno da qual
estavam reunidos os experimentadores. Esse modo de proceder
fora indicado pelos prprios Espritos.
Observou-se tambm que, pondo-se as mos sobre a mesa, es-
ta ltima era animada por certos movimentos de balano, e des-
cobriu-se neste fato um novo meio de comunicao. Bastava no-
mear as letras do alfabeto, para que o mvel indicasse, por uma
pancada, aquelas que entravam na composio da palavra que o
Esprito queria ditar.
A mania de fazer girar as mesas propagou-se rapidamente. Di-
ficilmente se pode, hoje, figurar a predileo de que essas experi-
ncias foram objeto durante os anos de 1850 e 1851. Todas essas
investigaes conduziram nova crena homens de reconhecida
autoridade moral e intelectual.
Escritores, oradores, magistrados, prelados ilustres aceitaram o
fato e a causa da doutrina escarnecida; missionrios eloqentes
puseram-se em viagem; escritores fundaram jornais, editaram
brochuras que, espalhadas em profuso, impressionaram a opinio
pblica e abalaram as prevenes.
O movimento acelerou-se tanto que, em 1854, uma petio,
apoiada por quinze mil assinaturas, foi dirigida ao congresso le-
gislativo de Washington; seu escopo era fazer que esse congresso
nomeasse uma Comisso encarregada de estudar os novos fen-
menos e descobrir-lhes as leis.
Essa petio foi posta de lado, mas o impulso no foi obstado,
porque os fatos tornavam-se mais numerosos e variados medida
que o estudo prosseguia com perseverana.
O fenmeno das mesas girantes foi logo conhecido em todas
as suas particularidades. O modo de conversao, por meio de
pancadas e movimentos da mesa, era longo e incmodo. Apesar
da habilidade dos assistentes, era necessrio muito tempo, muita
pacincia para obter-se uma comunicao de importncia.
A prpria mesa ensinou um processo mais rpido. Conforme
suas indicaes, adaptou-se a uma prancheta triangular trs pernas
munidas de rodinhas, e a uma delas prendeu-se um lpis; em se-
guida, colocou-se o aparelho sobre uma folha de papel; o mdium
colocou as mos sobre o centro dessa pequena mesa. Viu-se, en-
to, o lpis traar letras, depois frases, e, da a pouco, essa pran-
cheta escrevia com rapidez e dava mensagens.
Mais tarde, percebeu-se que a prancheta era completamente
intil, e que bastava o mdium colocar a mo, munida de um l-
pis, sobre uma folha de papel, para o Esprito mov-la automati-
camente. Essa espcie de comunicao foi chamada escrita mec-
nica ou automtica, porque o indivduo, neste estado, no tinha
conscincia daquilo que a mo traava no papel.
Outros mdiuns obtiveram por esse meio desenhos curiosos,
msica, ditados acima do alcance da sua inteligncia e, s vezes
mesmo, comunicaes em lnguas estrangeiras que lhes eram ab-
solutamente desconhecidas.
O estudo cada vez mais aprofundado dessas manifestaes no-
vas conduziu os investigadores a exames ainda mais rigorosos e a
resultados mais inesperados para os cpticos.
O raciocnio levara os primeiros investigadores a dizer de si
para si que, desde que os Espritos podiam atuar sobre as mesas,
sobre os mdiuns, no lhes devia ser impossvel fazerem mover
diretamente um lpis e escreverem sem o auxlio de aparelhos.
Foi o que se realizou. Folhas de papel em branco, encerradas em
caixas hermeticamente seladas, foram encontradas, em seguida,
cobertas de caracteres. Ardsias, entre as quais se achava um pe-
queno pedao de lpis, continham, aps a aposio das mos, co-
municaes inteligentes, desenhos, etc.
O fenmeno reservava ainda outras surpresas: luzes de formas
e cores variadas e em diversos graus de intensidade, apareciam
em aposentos sombrios, onde no existia nenhuma substncia ca-
paz de desenvolver ao fosforescente, e isso na ausncia de to-
dos os instrumentos por intermdio dos quais a eletricidade e a
combusto podem ser produzidas.
Esses clares tomavam, s vezes, a aparncia de mos huma-
nas, de figuras envolvidas por uma nvoa luminosa. Paulatina-
mente, as aparies adquiriam maior consistncia, tornando-se
possvel no somente ver, mas tambm tocar fantasmas que apa-
reciam em to singulares circunstncias.
Fez-se melhor: pde-se fotograf-los, como veremos mais adi-
ante.
As narraes dessas experincias eram acolhidas com grande
incredulidade; porm, como os fatos se produzissem em avultado
nmero e os espritas no recuassem diante de nenhum meio de
propagar a sua f, a ateno do pblico sbio e letrado era atrada
para esse estudo e, em pouco tempo, conduzia a uma adeso p-
blica homens altamente colocados e muito competentes.
Negligenciamos, voluntariamente, mencionar as inumerveis
declaraes feitas por publicistas, mdicos, advogados, a fim de
reservarmos todo o apelo ateno do leitor para os testemunhos
autnticos dos homens notveis de cincia que se tm ocupado
com esta questo.
Os sbios
Em primeiro lugar, podemos citar uma das personagens mais
clebres da magistratura, o juiz Edmonds, primeiro magistrado do
Supremo Tribunal do Distrito de New York, onde foi eleito mem-
bro do corpo legislativo e nomeado presidente do Senado. Sua
converso ao novo espiritualismo fez grande rumor na Unio e a-
traiu contra si uma multido de invectivas das folhas evanglicas
e dos jornais profanos. O juiz Edmonds respondeu-lhes com um
livro intitulado: Spirit Manifestation, que produziu nos Estados
Unidos profunda sensao e, graas ao auxlio de alguns homens
de cincia, cujas experincias vieram confirmar suas asseres, os
quinze mil signatrios da petio dirigida ao Congresso viram o
seu nmero elevar-se a alguns milhes.
Eis como a convico nasceu na alma do grande jurista ameri-
cano:
Em 23 de abril de 1851 diz ele eu era uma das nove pes-soas que se assentavam em torno de uma mesa colocada no meio
de um aposento, e sobre a qual estava uma lmpada acesa.
Uma outra lmpada tinha sido colocada na chamin. Em pou-co tempo, vista de todos, a mesa foi elevada cerca de um p a-
cima do soalho e sacudida para diante ou para trs, to facilmente
como eu poderia agitar uma laranja em minhas mos. Alguns de
ns tentaram faz-la parar, empregando todas as nossas foras,
mas isso foi intil. Ento, retiramo-nos todos para longe da mesa
e, luz das duas lmpadas, vimos esse pesado mvel de mogno
suspenso no ar.
Resolvi prosseguir essas experincias, julgando tratar-se de uma fraude e decidido a esclarecer o pblico; porm, minhas pes-
quisas conduziram-me a concluso oposta.
O que cumpre observar nos testemunhos concedidos pelos s-
bios que todos os que empreenderam investigaes sobre o Mo-
dern Spiritualism (nome norte-americano do Espiritismo) fize-
ram-no com a firme convico de que se tratava de uma fraude e
com o desejo de salvarem os seus contemporneos dessa loucura
contagiosa.
Eu havia, a princpio, repelido desdenhosamente essas coisas diz o professor Mapes (que ensinava Qumica na Academia Na-cional dos Estados Unidos) , mas, quando vi que alguns de meus amigos estavam empolgadissimos pela magia moderna, resolvi
aplicar minha ateno a essa matria, para salvar homens que,
respeitveis e esclarecidos sob tantos outros pontos, neste, corri-
am vertiginosamente para um abismo.
O resultado das investigaes do professor Mapes foi, como
para o juiz Edmonds, uma imerso completa nas guas do Espiri-
tismo.
Aconteceu exatamente o mesmo com um dos sbios mais emi-
nentes da Amrica, o clebre Robert Hare, professor na Universi-
dade da Pensilvnia. Ele comeou suas pesquisas em 1853, poca
em que, como por um dever para com seus semelhantes, resolveu
empregar o que possua de sua influncia para embargar a carreira
da onda crescente de demncia popular, que, a despeito da cincia
e da razo, se pronunciava to obstinadamente a favor daquela
grosseira iluso chamada Espiritismo.
Robert Hare teve conhecimento dos trabalhos de Faraday so-
bre as mesas girantes (pesquisas que assinalaremos mais adiante)
e acreditou que o sbio qumico localizara a verdadeira explica-
o; mas, repetindo suas experincias, reconheceu que elas eram
insuficientes e mandou fabricar, para complet-las, aparelhos no-
vos.
Tomou esferas de cobre, colocou-as sobre uma chapa de zinco
e fez o mdium pr as mos sobre as esferas; com grande espanto,
observou que a mesa moveu-se. Em seguida, mergulhou as mos
do mdium em gua, de modo que ele no tivesse comunicao
alguma com a prancha sobre a qual estava colocado o vaso que
continha o lquido; com grande surpresa sua, uma presso de de-
zoito libras foi exercida sobre a prancha. No convencido ainda,
ensaiou um outro processo: a extremidade de uma grande alavan-
ca foi colocada numa balana de espiral, com um indicador mvel
e o peso marcado. A mo do mdium era colocada na outra ex-
tremidade da alavanca, de modo que no lhe fosse possvel fazer
presso para baixo e que, muito ao contrrio, sua presso, se fosse
exercida, produzisse efeito oposto, isto , a suspenso da outra ex-
tremidade. Qual no foi o espanto do clebre professor quando
verificou, pela balana, que o peso havia aumentado de algumas
libras!
Veremos, mais adiante, como em semelhante conjetura Willi-
am Crookes, para se pr ao abrigo de uma iluso dos sentidos,
construiu um aparelho que registrava automaticamente todas as
variaes do peso na balana.
Robert Hare, convencido da existncia de uma nova fora fsi-
ca exercendo-se em condies ainda pouco conhecidas, quis certi-
ficar-se da hiptese de que uma inteligncia dirigia a manifesta-
o.
Adaptou mesa um disco em que se viam as letras do alfabeto
e o disps de forma que o mdium no pudesse ver as letras; o
quadrante em que elas estavam gravadas mostrava a face aos es-
pectadores instalados a alguma distncia da mesa; na outra extre-
midade desta, mantinha-se o mdium, que s podia ver o disco
por detrs.
Uma agulha mvel, fixada no centro do quadrante, devia, su-
cessivamente, indicar as letras das palavras ditadas, completa-
mente ignoradas do mdium.
Todos esses pormenores encontram-se no livro publicado, em
1856, pelo Dr. Hare, sob o ttulo Experimental Investigation of
the Spirit Manifestation, o qual obteve ruidoso xito e cujo efeito
foi mais considervel ainda que o do juiz Edmonds. No mais se
tratava a de algumas jovens obscuras ou de charlates tentando
explorar a boa-f pblica; era a cincia oficial que se pronunciava
pela boca de um dos seus mais autorizados membros. Desde esse
momento, a polmica empenhou-se furiosa. Houve lutas apaixo-
nadas.
Sbios movimentaram-se contra a feitiaria moderna, mas ne-
nhuma prova apresentavam de que as experincias tivessem sido
malfeitas; a vitria coube, portanto, aos espritas.
Em suma, v-se que os mais importantes recrutas do Espiri-
tismo foram forjados entre os homens que tencionavam combat-
lo. No temos necessidade de insistir neste ponto, porque o mes-
mo sucedeu na Inglaterra. Os homens de cincia desses pases, ci-
osos de sua dignidade, no quiseram recusar sua cooperao dian-
te daquilo que consideravam superstio popular. Puseram-se co-
rajosamente a estudar e, quando, contra a sua expectativa, foram
forados a reconhecer a realidade dos fenmenos, proclamaram
lealmente a verdade, sem temor do ridculo ou do sarcasmo, arma
habitual da ignorncia e da preveno.
Um dos ltimos convertidos, entre os grandes nomes america-
nos, foi Robert Dale Owen, que goza simultaneamente da reputa-
o de sbio e da celebridade especial de escritor na lngua ingle-
sa. Seu livro, impresso na Filadlfia, no ano de 1877, sob o ttulo:
Footfalls on the Boundary of Another World (Regio em Litgio
entre este Mundo e o Outro), est pleno de elevadas idias, de l-
gicas apreciaes e de instrutivas particularidades histricas.
O movimento esprita est, neste momento, mais vivaz do que
nunca nos Estados Unidos. Em quase todas as suas grandes cida-
des existem Sociedades que tm por objeto o estudo e a demons-
trao do Espiritismo.
Vinte e dois jornais e revistas expem ao pblico os trabalhos
empreendidos.
O Banner of Light, que se publica em Boston, h mais de vinte
anos, , de alguma sorte, o lder do Modern Spiritualism.
O que demonstra o vigor e a intensidade do movimento espri-
ta so os meetings, isto , as reunies que se realizam todos os
anos nas margens do lago de Cassadaga.
Os espritas construram, nessa regio, habitaes que podem
abrigar mais de dez mil pessoas, mas a afluncia tal que cente-
nas de famlias so obrigadas a acampar nas imediaes da cida-
de.
Esses fatos provam a importncia do moderno Espiritualismo,
pois que acampamentos semelhantes existem no litoral do oceano
Atlntico, do oceano Pacfico e em todas as praias dos grandes e
soberbos lagos americanos.
Acrescentamos, terminando, que todas as grandes cidades da
Unio tm Sociedades espritas regularmente organizadas. Em
1870, j se contavam vinte Centros e cento e cinco Sociedades
espritas, duzentas e sete casas para conferncias e pouco mais ou
menos de vinte e dois mdiuns pblicos. O nmero total dos esp-
ritas , segundo Russell Wallace, calculado em onze milhes, s
nos Estados Unidos.
Na Inglaterra
, sobretudo, na Inglaterra que encontramos uma pliade de
grandes homens entregues a esses estudos. Queremos citar, em
primeiro lugar, um testemunho eminente, o de William Crookes.
Acreditamos ser intil recordar ao leitor os ttulos pelos quais esse
sbio tornou-se merecedor da gratido pblica. -nos suficiente
dizer que a ele se deve a descoberta do tlio e a demonstrao ex-
perimental da existncia da matria radiante entrevista por Fara-
day. Esta nova estrada, aberta s investigaes cientficas, rasgou
imenso e grandioso horizonte Cincia contempornea, e pode-se
dizer que uma das maiores descobertas do sculo.
Um esprito to eminente no se aventura em terreno desco-
nhecido sem tomar todas as precaues imaginveis contra o erro
ou contra a fraude.
Escutemos o que ele diz sobre o Espiritismo, em um artigo
publicado em julho de 1870, no Quaterly Review, rgo da Aca-
demia de Cincias da Inglaterra:
O espiritualista fala de corpos pesando 50 ou 100 libras que so elevados no ar, sem interveno de foras conhecidas; mas o
qumico est acostumado a fazer uso de uma balana sensvel a
um peso to diminuto que seriam necessrios dez mil deles para
pesar um gro.7 , por conseguinte, bem fundado pedir-se que es-
se poder, que se diz guiado por uma Inteligncia e eleva at ao te-
to um corpo pesado, faa mover, em condies determinadas, sua
balana to delicadamente equilibrada.
O espiritualista fala de pancadas em diferentes partes de um aposento, enquanto duas ou mais pessoas esto tranqilamente
sentadas em volta de uma mesa. O experimentador cientfico tem
o direito de pedir que essas pancadas sejam produzidas no tubo do
seu fongrafo.
O espiritualista fala de aposentos e casas atormentados e, mesmo, danificados por um poder sobre-humano. O homem de
cincia pede, simplesmente, que um pndulo, colocado sob uma
campnula de vidro e repousando em slida alvenaria, seja posto
em oscilao.
O espiritualista fala de objetos de moblia a se moverem de um aposento para outro, sem a ao do homem; mas o sbio cons-
tri instrumentos que dividem uma polegada em um milho de
partes, e lhe lcito duvidar da exatido das observaes efetua-
das, se a mesma fora for impotente para fazer mover de um sim-
ples grau o indicador do instrumento.
O espiritualista fala de flores salpicadas com um fresco rocio, de frutos e, mesmo, de seres viventes transportados atravs de s-
lidas muralhas de tijolo. O investigador cientfico pede, natural-
mente, que um peso adicional (que fosse a milsima parte de um
gro) seja depositado em uma das conchas de sua balana, quando
ela est no mostrador fechado a chave; e o qumico pede que se
introduza a milsima parte de um gro de arsnico atravs das pa-
redes de um tubo de vidro no qual se encontra gua pura, herme-
ticamente encerrada.
O espiritualista fala de manifestaes de um poder equivalen-te a milhares de libras, que se produz sem causa conhecida. O
homem de cincia, que cr firmemente na conservao da fora e
que pensa que ela jamais se produz sem o esgotamento de alguma
coisa para substitu-la, pede que as ditas manifestaes sejam
produzidas em seu laboratrio, onde ele poder pes-las, medi-
ias, submet-las s suas prprias experincias. 8
V-se com que desconfiana, com que precauo o sbio qu-
mico comea as suas experincias. Ele no quer conceder a sua
confiana seno com a condio expressa de que o fenmeno se
produza em seu laboratrio, de alguma sorte sob seu controle, a
fim de estar bem certo de que nenhuma fraude, nenhuma iluso
influiria nos resultados que pudessem produzir-se: eis a verdadei-
ra sabedoria. Quantos de nossos sbios, que negam a priori, esto
longe de seguir-lhe o exemplo! As linhas que acima citamos fo-
ram escritas em 1870, mas, em 1876, aps quatro anos de perse-
verantes investigaes, o grande fsico escreveu: No digo que isso seja possvel, mas sim que isso real.
Veremos adiante as experincias que serviram para fortalecer
a opinio do sbio ingls.
A Sociedade Dialtica de Londres, fundada em 1867 sob a
presidncia de Sir John Lubbock, e contando entre os seus vice-
presidentes Thomas-Henry Huxley, um dos professores mais s-
bios da Inglaterra, o Sr. Georges-Henry Lewes, fisiologista emi-
nente, decidiu, em sua sesso de 6 de janeiro de 1869, que uma
Comisso seria nomeada para estudar os pretendidos fenmenos
espritas, dando conta deles Sociedade.
O debate suscitado por essa deciso mostrou que a maior parte
dos seus membros no acreditava no Espiritismo, e os jornais in-
gleses acolheram, com jbilo, a nomeao dessa Comisso que,
pensava-se, cortaria pela raiz o Modern Spiritualism.
Com profunda surpresa do pblico ingls, a Comisso, depois
de dezoito meses de estudo, concluiu a favor da realidade das ma-
nifestaes. Daremos o texto do seu relatrio no momento em que
expusermos as experincias espritas.
Entre os membros que tomaram parte nesse inqurito, estava o
grande naturalista ingls Alfred Russell Wallace, mulo e colabo-
rador de Darwin, j convencido da realidade dos fenmenos.
Como Mapes, como Hare e tantos outros, o Sr. Wallace, ven-
cido pela evidncia, fez corajosamente a sua profisso de f, em
um livro: Miracles and Modern Spiritualism, que apaixona ainda
os espritos na Inglaterra.
No nmero das testemunhas ouvidas pela Comisso da Socie-
dade Dialtica de Londres figuravam o professor Auguste de
Morgan, presidente da Sociedade Matemtica de Londres, secre-
trio da Sociedade Real Astronmica, e o Sr. Varley, engenheiro-
chefe das companhias de telegrafia internacional e transatlntica,
inventor do condensador eltrico, que resolveu definitivamente o
problema da telegrafia submarina.
O Sr. de Morgan afirmou alto e bom som a realidade dos fe-
nmenos, pelo seu livro: From Matter to Spirit; e, mais adiante,
veremos uma carta onde o Sr. Varley rende, publicamente, home-
nagem aos Espritos.
Semelhante concurso de nomes eminentes poderia parecer su-
ficiente para estabelecer solidamente a teoria esprita, mas, em as-
suntos to debatidos, convm no deixar de apresentar as afirma-
es autorizadas. Eis ainda outros testemunhos:
O Sr. Oxon, professor da Universidade de Oxford, estudou du-
rante cinco anos o fenmeno da escrita direta, isto , da escrita
produzida sem a interveno de pessoa vivente. Publicou um livro
intitulado Spirit Teachings, que ter a sua utilidade na discusso
que adiante vamos apresentar.
Somos assaz escrupulosos para no deixar passar em silncio o
testemunho de outro homem eminente, Sergent Cox, jurisconsulto
filsofo, escritor que tambm se convenceu pelo exame.
Igualmente, lembramos que o Sr. Barkas, membro da Socieda-
de de Geologia de Newcastle, narrou suas experincias em um li-
vro muito interessante, intitulado Outlines of Investigation into
Modern Spiritualism. Convidamos as pessoas que se queiram
convencer a lerem esta obra.
A luta na Inglaterra no foi menos vivaz que nos Estados Uni-
dos: os adversrios do Espiritismo deviam, a tambm, fazer todos
os esforos para destruir a verdade nascente; mas, nesses pases
de livre discusso, onde o receio do ridculo menos vivo que en-
tre ns, os convertidos no recearam dar afirmao ntida e franca
de sua mudana de idias.
Entre os cpticos mais tenazes, achava-se o Dr. George Sex-
ton, clebre conferencista que fizera grande campanha contra a
nova doutrina. O estudo dos fatos conduziu-o, depois de quinze
anos de investigaes, convico.
Obtive diz ele , em minha prpria casa, na ausncia de to-dos os mdiuns pblicos, mas no seio dos membros de minha fa-
mlia e dos meus amigos particulares e ntimos, nos quais o poder
medinico tinha sido desenvolvido, a prova irrefutvel, de nature-
za a impressionar a fria razo, de que as comunicaes recebidas
vinham de parentes e amigos falecidos. 9
Um outro sbio, o Dr. Chambers, durante muito tempo adver-
srio declarado do Espiritismo, foi obrigado a render-se evidn-
cia e, lealmente, confessou o seu passado erro, no Spiritual Ma-
gazine.
Citamos tambm, terminando, entre os espritas ilustres, o Dr.
James Gully, autor da Nvropathie et Nvrose e da Hygine dans
les maladies chroniques, acatada autoridade na Inglaterra.
Como se observa, o Espiritismo tem recrutado seus adeptos
entre os homens de cincia. O lado fenomenal foi estudado com
todo o rigor de que so capazes os sbios, e ele saiu triunfante das
provas mltiplas a que foi submetido.
H dez anos, uma agremiao intitulada Society for Psychical
Research, abriu um grande inqurito sobre as aparies. Publicou
regularmente o relatrio de seus trabalhos, nos Proceedings, e fez
editar um livro: Phantasms of the Living (Fantasmas dos Vivos)
que relata mais de duzentos casos de aparies bem averiguadas.
Os Srs. Myers, Gurney e Podmore, os autores, atribuem esses fe-
nmenos ao que eles chamam Telepatia, isto , ao a distncia
de um esprito humano sobre outro; a apario chama-se, ento,
alucinao verdica. Eis a uma tentativa cientfica para fazer o
fenmeno entrar no quadro das leis conhecidas. Essa investigao
teve como conseqncia dar ao Espiritismo uma feio de atuali-
dade, e vemos sbios como Lodge, cognominado o Darwin da F-
sica, conjurar, na Academia Britnica para o adiantamento das ci-
ncias, seus colegas a caminhar para diante e a verificar resoluta-
mente esses estudos to cativantes e ainda to novos. Menciona-
remos, entre os numerosos jornais ingleses, o Light, fundado pelo
Sr. Oxon, e The Medium and Daybreak. Vejamos agora o que se
passa na Frana.
Na Frana
A notcia dos fenmenos misteriosos que se produziam na
Amrica suscitou na Frana viva curiosidade e, em pouco tempo,
a experincia das mesas girantes atingiu grau extraordinrio.
Nos sales, a moda era interrog-las sobre as mais fteis ques-
tes. Era um passatempo de nova espcie e que fez furor. Durante
os anos de 1851 e 1852, ningum viu nessas prticas seno um
agradvel divertimento; no se tomava o fenmeno a srio e, co-
mo fossem ignorados os notveis trabalhos dos quais esse estudo
era objeto do outro lado do oceano, no se tardou a abandonar as
mesas girantes, que s tinham tido para as massas o atrativo da
novidade e a singularidade dos processos.
Todavia, literatos como Eugne Nus, homens do mundo di-
plomtico, como o Conde d'Ourches e o Baro de Guldenstubb,
tinham sido impressionados pelo carter inteligente que revestia o
movimento da mesa, e este ltimo publicou, em 1857, um livro
intitulado La Ralit des Esprits. Encontram-se neste livro relata-
das as primeiras experincias da escrita direta que foram obtidas
na Frana.
Essa publicao no fez rumor de importncia. A imprensa,
segundo o seu antigo costume, ridicularizou livremente alguns fi-
is que tinham perseverado nesses interessantes estudos, e tudo
parecia ter sido esquecido, quando surgiu, em 1857, O Livro dos
Espritos, por Allan Kardec. Essa publicao atiou a guerra. O
pblico soube, com espanto, que aquilo que tinha sido considera-
do at ento como distrao encerrava as mais profundas dedu-
es filosficas; admirou-se de que, do movimento das mesas gi-
rantes, se deduzisse a prova da imortalidade do ser pensante, e
achava-se em face de uma nova teoria sobre o futuro da alma de-
pois da morte.
Semelhantes afirmaes no podiam ser aceitas sem contesta-
es. De todas as partes elevou-se uma gritaria contra o desventu-
rado autor. Os jornais, as revistas, as academias protestaram, mas,
honra seja feita Frana, no se viram a reproduzidas as cenas de
violncia que tinham acolhido o Espiritismo na Amrica.
Retomou-se o estudo sobre o fenmeno das mesas girantes e
duas correntes de opinies desenharam-se nitidamente. Para uns,
o fenmeno no tinha nenhuma realidade; as pancadas, os movi-
mentos das mesas, eram produzidos pela fraude ou, antes, por
movimentos inconscientes da parte dos operadores.
Tal foi a opinio da Academia e a dos Srs. Babinet e Chevreul.
Veremos mais adiante o que induziu esses cientistas a essa forma
de ver.
Para outros, os deslocamentos da mesa e suas respostas eram
devidas a uma ao magntica, exercendo-se de um modo ainda
indeterminado. Pode-se contar entre os partidrios desta doutrina
o Conde Agnor de Gasparin, que fez numerosas pesquisas sobre
o assunto e publicou um volume sob o ttulo Des tables tournan-
tes, du Surnaturel en gnral et des Esprits.
Tal interpretao foi adotada por um certo nmero de escrito-
res, como o Sr. Chevillard. O professor Thury, de Genebra, deu
como causa do fenmeno um agente especial, que ele chama psi-
code, fluido que atravessa os nervos e todas as substancias org-
nicas e inorgnicas, como o ter luminoso dos sbios.
Um escritor americano, o Sr. Roggers,10
admitira, desde a ori-
gem, as manifestaes, mas explicava-as pela ao automtica
dos centros nervosos: o crebro, a matria ativa da medula alon-
gada, o cordo espinhal e as inmeras glndulas dos nervos espa-
lhados no abdmen; esses centros diversos agiriam por meio do
fluido universal e impondervel, descoberto por Reichenbach, que
o denominou od ou odilo.
Todas essas pesquisas, todas essas controvrsias conduziram
grande nmero daqueles que se ocupavam do assunto a concluir
que nos movimentos das mesas girantes havia alguma coisa mais
que pura ao fsica.
Admitiu-se a existncia de foras psquicas que poderiam agir
sobre a matria, em certas condies; mas, ainda dois horizontes
se descortinaram. Os filsofos espiritualistas concluram a favor
das comunicaes das almas de pessoas falecidas, enquanto os es-
critores religiosos se esforavam por demonstrar que esses fatos
eram produzidos pelo esprito do mal, denominado Satans. Pode-
se classificar nesta ltima classe o Marqus de Mirville, que, em
seu livro Des Esprits et de leurs manifestations fluidiques, cita
grande nmero de observaes, atribuindo-as ao demnio. Na
mesma ordem de idias acha-se o Sr. Gougenot des Mousseaux,
que intitula o Espiritismo de magia moderna e, como o padre
Ventura, arrisca-se, com os textos na mo, a demonstrar que as
manifestaes dos anjos maus esto assinaladas nos Evangelhos e
pelos padres da Igreja.
Enfim, citaremos tambm os livros do Sr. Abade Poussin, de
Nice, e do Abade Marousseau, que concluem no mesmo sentido.
A diversidade das opinies que acabamos de assinalar nada
tem de singular.
Em face de um fenmeno ainda mal conhecido, natural a di-
vergncia em sua explicao conforme a escola qual se perten-
ce, mas estamos bem certos de que ningum jamais se lembrar,
como a Academia de Medicina de Paris, em 1859, de atribuir o
fenmeno a um certo msculo rangedor da perna.
Essa Academia descobriu que as pancadas produzidas na mesa eram devidas a um msculo rangedor da perna, que, de
tempos a tempos, se entregava a faccias, sendo que as pessoas
ingnuas tomavam isso por manifestaes de Espritos.
Certo dia, um Sr. Jobert de Lamballe foi iluminado por essa descoberta genial, e a Academia apressou-se em louvar o perspi-
caz sbio que tinha encontrado nos msculos humanos proprieda-
des to inesperadas.
O pblico no adotou, to facilmente como essas sumidades
mdicas, a explicao dos msculos sonoros, e podemos citar
bom nmero de homens ilustres que aderiram inteiramente ao Es-
piritismo.
Com o seu estilo nervoso e potico, Auguste Vacquerie conta,
nas Miettes de l'Histoire, as experincias que fez em companhia
da Sra. de Girardin, em casa de Victor Hugo, em Jersey; leremos
mais adiante essa instrutiva narrao. O clebre literato escreveu
esta frase original: Creio nos Espritos batedores da Amrica, a-testados por quinze mil assinaturas.
O maior dos nossos poetas modernos, Victor Hugo, diz:
A mesa girante e falante foi muito ridicularizada. Essa zom-baria sem alcance. Estimaramos que fosse um dever estrito da
cincia sondar todos os fenmenos. Negar a ateno a que tem di-
reito o Espiritismo desviar a ateno da verdade.
O Sr. Victorien Sardou converteu-se ao Espiritismo e tornou-
se excelente mdium desenhista.
A Revue Spirite, de Paris, publicou desenhos medinicos obti-
dos por ele, que so obras-primas, de execuo delicada e de uma
fantasia verdadeiramente espiritual.
O historiador Eugne Bonnemre escreveu:
Como todo o mundo, eu tambm me ri do Espiritismo, mas, o que pensava ser o riso de Voltaire no era mais que o riso do idio-
ta, muito mais comum que o primeiro.
O ilustre astrnomo Camille Flammarion, tambm, por muito
tempo estudou esses fenmenos e popularizou, em seu estilo ma-
ravilhoso, as doutrinas filosficas do Espiritismo.
Thophile Gautier, o mavioso poeta, intitula Esprita uma de
suas novelas mais cativantes, e em suas obras encontram-se, a ca-
da passo, traos de suas crenas na nova doutrina.
Maurice Lachtre, o autor do grande dicionrio, tambm par-
tidrio convicto dessas idias. O Dr. Paul Gibier, laureado pela
Academia de Medicina, encarregado de diversas misses cientfi-
cas, reuniu suas experincias sobre o Espiritismo em dois volu-
mes: Le Spiritisme ou Fakirisme occidental e Analyse des Choses.
Encontram-se, nesses livros, fatos bem observados e confir-
maes de trabalhos anteriores sobre o mesmo assunto.
No podemos dar aqui uma bibliografia completa das obras
espritas; falta-nos espao para tal e, alm disso, preferimos citar
sbios notoriamente conhecidos, a fim de dar aos documentos que
apresentamos toda a sua autoridade. Ser-nos-ia muito fcil citar
bastantes nomes de mdicos, advogados, engenheiros, homens de
letras, como prova incontestvel de que o Espiritismo penetrou
principalmente nas classes instrudas da sociedade.
O movimento atual est mais florescente do que nunca. Por
instncias da Sociedade de Investigaes Psquicas de Londres,
formou-se em Paris uma Sociedade de Psicologia Fisiolgica, cu-
jo fim estudar os fenmenos telepticos, isto , de aparies.
Essa Sociedade nomeou uma Comisso cujo papel analisar
os fatos apresentados. Eis os nomes dos comissionados: Srs. Sully
Prudhomme (da Academia Francesa), presidente; G. Ballet, pro-
fessor adido Academia de Medicina; Beaunis, professor na Fa-
culdade de Medicina de Nancy; Charles Richet, professor na Fa-
culdade de Medicina de Paris; Coronel de Rochas, diretor da Es-
cola Politcnica; Marillier, diretor de conferncias na Escola de
Altos Estudos, este ltimo como secretrio.
Um jornal mensal, Les Annales Psychiques, sob a direo do
Sr. Dariex, relata os trabalhos da Sociedade.
De alguma sorte, tal Sociedade um princpio de consagrao
oficial desses estudos, porm os espritas no tm esperado por
esses estmulos e, h muito tempo, formaram grupos de estudos
em nmero considervel, em todas as partes da Frana.
Em Paris, existe regular quantidade de pequenos Centros onde
se realizam evocaes. Duas Sociedades abrem suas portas ao
pblico: a Fdration Spirite, 55 rue du Chteau-d'Eau, e a
Socit du Spiritisme Scientifique, Boulevard Enselman, 40. Entre
as associaes mais importantes da provncia, mencionaremos: La
Fdration Spirite Lyonnaise, em Lyon, da qual rgo La Paix
Universelle; em seguida, a Union Spirite de Reims e a Union Spi-
ritualiste de Rouen, cujos trabalhos aparecem mensalmente em
um jornal intitulado La Pense des Morts.
As cidades de Marseille, Avignon, Toulouse, Bordaux, Nan-
tes, Tours, Le Mans, Orlans, Lille, Bar-le-Duc, Nancy e Besan-
on tm uma organizao de propaganda bem estabelecida, assim
como o nmero de adeptos vai sempre aumentando. Os principais
jornais espritas so: Revue Spirite, Revue Scientifique et Morale
du Spiritisme, Le Progrs Spirite, La Lumire, La Relgion
Laque, Revue des tudiants Swedenborgiens e Le Phare de
Normandie.
A recrudescncia do movimento espiritualista devida ao
Congresso Esprita que se reuniu em Paris, no ano de 1889.
O relatrio dos trabalhos 11
mostra que esse Congresso contava
40.000 aderentes. Os grupos espritas do mundo inteiro nele se fi-
zeram representar.
Vamos ver como o movimento esprita, comeado nos Estados
Unidos, espalhou-se no somente na Europa, mas tambm por to-
das as partes do mundo.
Na Alemanha
O Dr. Kerner, uma das celebridades da Alemanha contempo-
rnea, foi levado a constatar fenmenos espritas em 1840, ao mi-
nistrar seus cuidados Sra. Hauffe, mais conhecida sob o nome
de Vidente de Prvorst, denominao de uma aldeia de Wurtem-
berg, onde ela nasceu, no princpio do sculo XIX.
O doutor conta que ela era, muitas vezes, atormentada por apa-
ries de fantasmas, as quais ele no podia considerar como alu-
cinaes, porque pessoas que estavam presentes ouviam, tanto
quanto ela, as pancadas produzidas pelos Espritos ou viam certos
objetos, existentes no aposento, mudarem de lugar.
Seu nome de vidente vem do fato de ela pressentir os perigos
que ameaavam os seus; ela prevenia-os, ento, e os acontecimen-
tos justificavam sempre suas previses.
Em 1840 produziram-se manifestaes em Mottlingen (Wur-
temberg) e, desde essa poca, verificaram-se fenmenos de viso,
de audio e de comunicao provindos, incontestavelmente, da
ao dos Espritos. Esses fatos, posto que significativos, nenhum
alcance tiveram, quando a notcia dos acontecimentos na Amrica
produziu, na Alemanha, o mesmo rudo que na Frana e determi-
nou um grande movimento de opinio. No podemos estudar mi-
nuciosamente os fatos; bastar-nos- assinalar os homens de cin-
cia que foram convencidos e que publicaram suas pesquisas.
Em primeiro lugar citaremos o clebre astrnomo Zllner, pro-
fessor na Universidade de Leipzig. Este sbio narra, em suas no-
tas cientficas (Wissenschaftliche Abhandlungen), as experincias
que fez em companhia do mdium Slade. Ele declara que, muito
desconfiado diante dessas novidades, no emprestava grande cr-
dito sua possibilidade, mas que o inqurito ao qual se entregou
convenceu-o perfeitamente. Veremos, mais adiante, como ele foi
testemunha de fenmenos novos, tais como a penetrao de uma
matria por outra matria, sem que fosse possvel distinguir a so-
luo de continuidade entre um e outro corpo: por exemplo, um
anel inteirio cingindo a perna de uma mesa, sem que se possa
notar alguma fratura.
Ele admite a ao de inteligncias desencarnadas na produo
desses fatos e, para explicar-lhe a ao, imagina uma quarta di-
menso da matria. Seu testemunho confirmado pelos de We-
ber, o eminente fisiologista, de Fechner, cujas investigaes sobre
as leis da sensibilidade so clssicas, e pelo professor Ulrici.
Eis, por conseguinte, uma pliade de sbios clebres que afir-
mam, mais uma vez, a veracidade dos fatos.
Uma observao bem digna de ateno que os fenmenos
espritas foram, desde a origem, submetidos as anlises mais se-
veras, mais variadas, e por pesquisadores to esclarecidos quo
perspicazes; entretanto, esses investigadores, cpticos a princpio,
convenceram-se e tornaram-se defensores dessas doutrinas. No
essa, porventura, a melhor prova que se pode fornecer para de-
monstrar que o Espiritismo bem uma verdade, e que os fatos so-
bre os quais repousa so inatacveis?
A imprensa alem representada pelas revistas Psychische-
Studien, Die Uebersinnliche Welt e Neu Spiritualistische Bltter,
a primeira em Leipzig, as outras em Berlim.
No resto da Europa
Na Rssia, devemos citar, entre as sumidades espritas, o pro-
fessor Butlerof, que, em companhia de Home, reproduziu a maior
parte das experincias de Crookes. O Conselheiro Alexander Ak-
sakof um sbio cujas investigaes foram at s aparies mate-
rializadas. Teremos ocasio de citar seus trabalhos que confirmam
absolutamente os do ilustre fsico ingls, quanto objetividade
das aparies.
A imprensa esprita a representada por Le Rebus, editado em
Petersburgo.
A Itlia foi teatro de uma demonstrao brilhante sobre a vera-
cidade das experincias espritas. O professor Ercole Chiaia, de
Npoles, obteve, com a mdium de nome Euspia Paladino, a re-
petio de todos os fenmenos importantes do Espiritismo: trans-
portes, materializaes, levitaes, etc.
Publicou suas investigaes e estas foram objeto de crtica por
parte do professor Lombroso, o grande criminalista.
O Sr. Chiaia fez reproduzir essas experincias diante do seu i-
lustre contraditor, nos fins do ano 1891. O resultado, na Itlia, foi
o mesmo que na Amrica, que na Inglaterra e que na Frana. As-
sistido pelos professores Tamburini, Virglio, Bianchi e Vizioli,
Lombroso pde verificar, por diversas vezes, que as afirmaes
espritas eram absolutamente exatas. Quanto sua explicao, de-
ve-se dizer, ele no admitiu a presena dos Espritos, e veremos
adiante como a teoria que ele imagina, para demonstrar o que viu,
notavelmente insuficiente.
Quando Lombroso tiver estudado tanto tempo quanto Wallace,
Crookes ou Oxon, mudar certamente de opinio, porque seus
predecessores, nessas pesquisas, tinham comeado, como ele, por
crer em uma ao inconsciente do mdium; porm, um exame
mais atento dos fatos convenceu-os da existncia dos Espritos.12
A imprensa que menciona os trabalhos espritas, na Itlia,
representada pela revista mensal Lux, pela Revista di Studi Psi-
chici, em Milo, sob a direo do Dr. Giorgio Finzi, pela revista
La Sfinge, sob a direo do Sr. Ungher, e pelo Vessilo Spiritista,
de Vercelli, cujo diretor o Cav Ernesto Volpi. Na Holanda, os
jornais que defendem essas idias intitulam-se Op. de Gresen e
Het Foekomstig Leven, aquele de Haia, e este de Utrecht.
Na Blgica, o movimento to ardente e to bem organizado,
como em Frana.
Lige e Bruxelas so centros de ativa propaganda; federaes
regionais centralizam os trabalhos dos grupos, e os rgos Le Messager e Le Moniteur Spirite registram os resultados obtidos.
Conferncias realizam-se freqentemente, e brochuras, distri-
budas gratuitamente, tm vulgarizado a o conhecimento do Espi-
ritismo.
A Sucia e a Noruega tm por rgo o jornal
Morgendmringen, cuja redao tem sua sede em Christiania.
A Espanha , incontestavelmente, o pas onde o nmero dos
espritas proporcionalmente maior que em qualquer outra parte.
Todas as suas cidades importantes tm jornais, rgos de Socie-
dades bem organizadas.
Citemos, entre as publicaes mais notveis: La Union Espiri-
tista e a Revista de Estudios Psicolgicos, em Barcelona; Lumen,
em Tarrasa; e La Revelacin, em Alicante.
Na ustria, h poucos anos, o Espiritismo era desconhecido;
mas as experincias feitas pelo falecido arquiduque Rodolfo, em
companhia de Bastian, mdium de materializaes, experincias
nas quais uma fraude teria sido desmascarada, chamaram a aten-
o do pblico para esses fenmenos e, hoje, o nmero de parti-
drios da nova doutrina cresceu consideravelmente. Citemos, en-
tre os seus jornais, o Reformidende Blaetter, que se publica em
Budapeste.
Portugal representado pelo jornal O Psiquismo, que se edita
em Lisboa.
No mundo inteiro
Pode-se dizer, sem temor de desmentido, que o Espiritismo
tem partidrios convictos em todo o mundo.
A fim de no alongar desmedidamente este histrico, conten-
tar-nos-emos em citar simplesmente os pases nos quais se editam
jornais ou revistas espritas.
claro que essa publicidade vai especialmente endereada aos
adeptos da doutrina dos Espritos.
Poder-se- julgar, pelo nmero de rgos, a importncia desse
movimento iniciado h cinqenta anos.13
A Repblica Argentina conta dois rgos, em Buenos Aires:
Constancia e La Fraternidad. Em Mendoza, um jornal: La Perse-
verancia; em Rosrio, La Verdad.
No Brasil edita-se no Rio de Janeiro: Reformador, trs rgos
no Estado do Paran: A Luz, O Regenerador, Revista Esprita. Fi-
nalmente, Verdade e Luz, em So Paulo.
O Chile representado por El Pan dei Espiritu, em Santiago.
O Peru, por El Sol, em Lima.
A Repblica de S. Salvador, por El Espiritismo, em Chalchua-
pa.
A Venezuela, pela Revista Espiritista.
No Mxico, citamos: La Ilustracin Espirita, na cidade do
Mxico, e El Precursor, de Cisiola, Estado de Mazatlan.
As Antilhas possuem quatro rgos: La Alborada, de Santia-
go; La Buena Nueva, em Porto Rico; La Revista Espiritista, em
Havana; La Nueva Alianza, em Cienfuegos.
Nas Ilhas Canrias, em Santa Cruz de Tenerife, publica-se La
Caridad.
Na Austrlia, edita-se, em Melbourne, The Harbinger of Light.
Acrescentamos, para terminar, que o peridico La Revue Sci-
entifique et Morale du Spiritisme, do qual somos diretores, tem
por correspondentes chefes de grupos espritas, no Canad, Suez,
Cairo, Ilha Maurcia e em Bornu.
Resumo
Ficou estabelecido, pela breve enumerao que precede, que
milhes de pessoas adotam, hoje, as crenas espritas. O movi-
mento, nascido na Amrica, propagou-se com inaudita rapidez.
Cento e cinqenta jornais ou revistas instruem o pblico sobre as
teorias novas. Os trabalhos dos sbios que temos citado foram
traduzidos em quase todas as lnguas do globo e semearam aos
quatro ventos a boa-nova da imortalidade do ser pensante.
Debalde, a cincia oficial e as academias tm cercado esses
fenmenos com a conspirao do silncio: a verdade mais po-
tente que todas elas reunidas.
Esses fatos tm invadido o mundo inteiro, tm recrutado e re-
crutam, continuamente, adeptos. Nem o ridculo da imprensa nem
os clamores dos padres nem as objurgatrias dos materialistas ter
o poder de obstar esse impulso que atrai o homem para as desco-
bertas de noes exatas sobre a vida futura.
Apesar da m-vontade de alguns sbios que passam como
prncipes da cincia, aos quais o Espiritismo destri as teorias nii-
listas, ao pensamento do homem realmente douto por certo no
vir a idia de que essas manifestaes sejam indignas de ateno;
a questo que elas elucidam grave, pois inquieta os grandes pen-
sadores.
Muitas teorias tm sido formuladas, muitos sistemas tm sido
arquitetados, sem trazerem maior certeza quanto imortalidade da
alma, e eis que, hoje, temos os meios de cientificamente estudar o
estado da alma depois da morte.
Este fato devido interveno dos Espritos no mundo, e
vamos agora observar como os fatos sobre que repousa a teoria
esprita so a mais evidente e melhor prova estabelecida da sobre-
vivncia do eu consciente.
Ao terminar, diremos que impossvel que esses fatos sejam
resultado de fraude ou de grosseira iluso:
1- Porque eles tm sido estudados por sbios eminentes, e es-
ses qumicos, fsicos e naturalistas so os mais aptos, com conhe-
cimento de causa, para se pronunciarem sobre a validade das ex-
perincias;
2- Porque as experincias tm sido analisadas, grande nmero
de vezes, por observadores independentes, cpticos a princpio, e
o resultado desses inquritos tem sido idntico em todos os pa-
ses;
3- Porque esses fenmenos oferecem, em todas as latitudes,
os mesmos caracteres fundamentais, donde resulta que so devi-
dos mesma causa;
4- Enfim, pensamos que esses testemunhos e a sua autentici-
dade so tais que impossvel neg-los sem um exame aprofun-
dado.
Eis o que vamos fazer: Passaremos, meticulosamente, em re-
vista os fenmenos; perscrut-los-emos sob todas as faces; anali-
saremos fielmente todas as hipteses formuladas para explic-los,
e desejamos que o leitor fique convencido de que s a Doutrina
Esprita lana luz sobre todos esses fatos aparentemente estranhos
e sobrenaturais.
Parte Segunda
Os Fatos
Captulo I
A Fora Psquica
O Espiritismo em casa de Victor Hugo Primeiras objees Erguimento da mesa sem contacto Sociedade Dialtica de Londres Medio da
fora psquica A mediunidade A levitao humana.
Vimos, na primeira parte, que os fenmenos espritas comea-
ram por pancadas em paredes e em soalhos, e que, em pouco tem-
po, os prprios Espritos indicaram um meio mais fcil e mais r-
pido de comunicao. Esse meio foi a mesa. Os investigadores
sentavam-se em torno da mesa; colocavam as mos sobre ela e,
dentro em pouco, pancadas no mvel ou movimentos de um dos
ps da mesa serviam de meio de correspondncia com a entidade
que se manifestava.
Eis uma narrativa que far compreender de que forma se reali-
zam os fatos habitualmente; ela devida a Auguste Vacquerie e
tirada do seu belo livro: Les Miettes de l'Histoire.
Espiritismo em casa de Victor Hugo
A Sra. de Girardin fez uma visita a Victor Hugo, ento exilado
em Jersey, e falou-lhe do fenmeno ultimamente importado da
Amrica; ela acreditava firmemente nos Espritos e em suas mani-
festaes.
No prprio dia de sua chegada, teve-se muito trabalho em fa-z-la esperar para o fim do jantar; levantou-se depois da sobreme-
sa e levou um dos convivas para uma conversadeira, onde inter-
rogaram os Espritos por meio de uma mesa, mas sem resultado.
A Sra. de Girardin imputou a falta mesa, cuja forma quadrada
contrariava o fluido. No dia seguinte, ela prpria foi comprar, em
um armazm de brinquedos para crianas, uma mesa redonda,
com uma nica perna terminando por trs ps, que ela colocou
sobre a mesa grande e que foi to animada quanto esta ltima.
No desanimou; disse que os Espritos no eram animais de fiacre
que esperam pacientemente os burgueses, e, sim, seres livres e de
vontade prpria, que somente vinham quando queriam. No dia
seguinte, quando se fez a mesma experincia, sucedeu igual siln-
cio. Ela perseverou, mas a mesa obstinou-se em nada dizer. A S-
ra. de Girardin acalentava tal ardor de propaganda que, um dia,
jantando em casa do Sr. Jersiais, f-lo interrogar uma estante, que
provou sua inteligncia no lhe respondendo. Esses repetidos in-
sucessos no a abateram; ficou calma, confiante, sorridente, in-
dulgente para com a incredulidade; na antevspera de sua partida,
pediu-nos para lhe concedermos, em despedida, uma tentativa. Eu
no tinha assistido s experincias precedentes; no acreditava no
fenmeno e no tinha vontade alguma de que ele se produzisse.
No sou daqueles que fazem cara feia s novidades, mas tal expe-
rincia vinha em m ocasio, e desviava de Paris pensamentos
que eu reputava, pelo menos, mais urgentes. Desta vez no pude
recusar ir ltima prova, se bem que o fiz com a resoluo firme
de no acreditar seno no que fosse bem evidente.
A Sra. de Girardin e um dos assistentes puseram as mos so-bre a pequena mesa. Durante um quarto de hora, nada sucedeu,
mas tnhamos prometido ser pacientes; cinco minutos depois, ou-
viram-se ligeiros estalidos; isto podia ser o efeito involuntrio das
mos fatigadas; mas, em pouco tempo, os estalidos repetiram-se,
e sobreveio uma espcie de estremecimento eltrico, sentindo-se,
em seguida, uma agitao febril.
De repente, uma das garras dos ps levantou-se.
A Sra. de Girardin disse:
Est a algum? Se est a algum, que fale conosco, peo-lhe para bater uma pancada.
O p caiu, produzindo um rudo seco.
Est a um Esprito! exclamou a Sra. de Girardin; formu-lai as vossas perguntas.
Fizeram-se perguntas e a mesa a elas respondeu. As respostas eram breves: uma ou duas palavras no mximo, hesitantes, inde-
cisas, algumas vezes ininteligveis. Seramos ns que a no com-
preendamos? O modo de traduzir as respostas prestava-se ao er-
ro. Eis como se procedia: pronunciava-se uma letra do abecedrio
a cada pancada do p da mesa, e, quando a mesa parava, marcava-
se a ltima letra indicada. Mas, muitas vezes, a mesa no parava
claramente sobre a letra; dava-se um engano; anotava-se a prece-
dente letra ou a seguinte; os inexperientes atrapalhavam-se; a Sra.
de Girardin intervinha o menos possvel para que o resultado fos-
se o menos suspeito, e tudo se tumultuava. Em Paris, a Sra. de Gi-
rardin empregava, disse-nos, um processo mais seguro e mais ex-
pedito: ela tinha mandado expressamente fazer uma mesa com um
alfabeto que designava a letra. Apesar da imperfeio dos meios,
algumas das respostas impressionaram-me bastante.
Eu apenas tinha sido testemunha, e convinha que, por meu turno, fosse ator.
Disse, ento, mesa:
Adivinha a palavra que eu penso.
Para melhor observar a resposta, tomei lugar mesa, com a Sra. de Girardin.
A mesa disse uma palavra, e essa era a que havia sido pensa-da.
No parou a a minha curiosidade.
Pensei comigo mesmo que o acaso podia ter inspirado a Sra. de Girardin e que esta houvesse transmitido mesa a palavra, pois
que comigo mesmo havia acontecido, no baile da pera, dizer a
uma senhora de domin que eu a conhecia, e, como me pergun-
tasse ela o seu nome de batismo, eu proferi ao acaso um nome,
que se reconheceu ser o verdadeiro. Sem mesmo invocar o acaso,
eu poderia, na passagem das letras da palavra, ter, a despeito meu,
nos dedos ou nos olhos, um estremecimento que as tivesse denun-
ciado. Reconheci, portanto, a experincia; mas, para estar certo de
que no iria trair a passagem das letras por uma presso maquinal
ou por um olhar involuntrio, deixei a mesa e perguntei-lhe, no a
palavra que pensara, mas a sua traduo.
Disse ela:
Tu queres dizer sofrimento.
Eu pensara em amor. No fiquei ainda persuadido. Supondo que, se auxiliasse a mesa, o sofrimento por forma tal o fundo de
todas as coisas que a traduo podia ser aplicada fosse qual fosse
a palavra que eu tivesse pensado.
Sofrimento tanto teria traduzido grandeza, maternidade, poe-sia, patriotismo, etc., como amor. Eu podia, por conseguinte, es-
tar certo de que a Sra. de Girardin, to sria, to generosa, to a-
miga e adoentada, no teria a