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GABRIELA EL-KHATIB ANDRADE DISPLASIA COXOFEMORAL Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médica Veterinária. Professor Orientador: Dra. Taís Marchand Rocha Moreira. Orientador Profissional: Dr. Ubirajara Tasqueti. CURITIBA 2006

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GABRIELA EL-KHATIB ANDRADE

DISPLASIA COXOFEMORAL

Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médica Veterinária. Professor Orientador: Dra. Taís Marchand Rocha Moreira. Orientador Profissional: Dr. Ubirajara Tasqueti.

CURITIBA 2006

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 01

2 ETIOLOGIA ...................................................................................................... 02

3 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 03

4 ETIOPATOGENIA ............................................................................................ 05

5 SINAIS CLÍNICOS ............................................................................................ 11

6 DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 14

7 ASPECTOS RADIOLÓGICOS ......................................................................... 19

7.1 POSICIONAMENTO E CONTENÇÃO .......................................................... 19

7.2 ASPECTOS ANATÔMICOS E IDADE PARA O EXAME RADIOGRÁFICO .. 21

7.3 AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES RADIOLÓGICAS .................................... 22

7.4 CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................... 25

8 TRATAMENTO ................................................................................................. 30

9 CONTROLE ..................................................................................................... 37

10 CONCLUSÃO ................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 40

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - PASTOR ALEMÃO COM DCF ................................................... 03

FIGURA 2 - CÃO SEM SINAIS DE DCF ........................................................ 11

FIGURA 3 - CÃO APRESENTANDO SINAIS DE DCF .................................. 12

FIGURA 4 - POSICIONAMENTO VD DO CÃO PARA RADIOGRAFIA ......... 14

FIGURA 5 - RADIOGRAFIA DO MÉTODO CONVENCIONAL ...................... 15

FIGURA 6 - POSICIONAMENTO DO CÃO UTILIZANDO DISTRATOR ....... 16

FIGURA 7 - RADIOGRAFIA DO MÉTODO UTILIZANDO DISTRATOR ........ 16

FIGURA 8 - RADIOGRAFIA EVIDENCIANDO A LINHA MORGAN .............. 17

FIGURA 9 - TÉCNICA PARA RADIOGRAFIA CORRETA DE DCF .............. 19

FIGURA 10 - SIMETRIA PÉLVICA ................................................................... 20

FIGURA 11 - ESCALA DE NORBERG ............................................................ 23

FIGURA 12 - VISTA DO DISTRATOR ............................................................. 24

FIGURA 13 - VISTA DA COMPRESSÃO ......................................................... 24

FIGURA 14 - VISTA PENNHIP PROLONGADA .............................................. 25

FIGURA 15 - RADIOGRAFIA NORMAL ......................................................... 26

FIGURA 16 - SUSPEITA DE DCF .................................................................... 27

FIGURA 17 - DCF DISCRETA OU LEVE ......................................................... 28

FIGURA 18 - DCF MÉDIA ................................................................................ 28

FIGURA 19 - DCF GRAVE ............................................................................... 29

FIGURA 20 - PÓS-OPERATÓRIO ................................................................... 32

FIGURA 21 - PÓS-OPERATÓRIO ................................................................... 33

FIGURA 22 - PÓS-OPERATÓRIO ................................................................... 34

FIGURA 23 - PÓS-OPERATÓRIO ................................................................... 34

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LISTA DE ABREVIATURAS AINEs Antiinflamatórios não esteróides

DCF Displasia Coxofemoral

DDA Doença Degenerativa Articular

EV Escola veterinária

FCI Federação Cinológica Internacional

HD Hip Dysplasia

IM Intramuscular

Kg Kilograma

MAD Moléstia Articular Degenerativa

mg Miligrama

mL mililitro

mm milímetro

MRC Método Radiográfico Convencional

OFA Fundação de Ortopedia Animal

PennHIP Pennsylvania Hip Improvement Program

PO Via oral

SC Subcutâneo

TID Três vezes ao dia

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

VD Ventro dorsal

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - MÉTODO DE SCHENELLE, CLASSIFICADO POR

DIFERENTES GRAUS ................................................................

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RESUMO

Displasia coxofemoral é a má formação das articulações coxofemorais, incidindo em todas as raças, principalmente nas grandes, gigantes e de crescimento rápido. Sua transmissão é hereditária, recessiva, intermitente e poligênica. Fatores nutricionais, biomecânicos e de meio ambiente, associados à hereditariedade, estão associados a displasia. A suspeita ao exame clínico é possível, mas é o estudo radiográfico, a partir dos vinte e quatro meses completos de idade, mediante posicionamento correto na radiografia, que determina definitivamente o diagnóstico. Este estado é atingido com a anestesia geral, posicionado em decúbito dorsal, membros pélvicos estendidos, de igual comprimento, paralelos entre si e em relação à coluna, rotacionados medialmente, de tal forma que as patelas se sobreponham aos sulcos trocleares. A pelve não pode estar inclinada. A subluxação, normalmente como primeiro sinal radiográfico, pode levar a osteoartrose secundária, assim denominada por se desenvolver secundariamente a uma outra alteração, no caso a displasia. O controle desta má formação se faz através de uma seleção radiográfica de todos os animais usados na reprodução. O índice de Norberg é utilizado para o diagnóstico. Atualmente o tratamento preconizado tem se fundamentado na regeneração osteoarticular, principalmente da cartilagem articular degenerada. Palavras-chave: displasia coxofemoral; radiografia; índice de Norberg.

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ABSTRACT

Hip dysplasia is the bad formation of the coxofemorais joints, happening in all the races, mainly in great, the giant ones and of fast growth. Its transmission is hereditary, recessive, intermittent and polygenic. Nutritionals, biomechanic factors and of environment, associates to the hereditary succession, are associates the dysplasia. The suspicion to the clinical examination it is possible, but it is the radiographic study, from the twenty and four complete months of age, by means of correct positioning in the x-ray, that determines the diagnosis definitively. This state is reached with the general anesthesia, located in dorsal decubitus, extended pelvic members, of equal length, parallels between itself and in relation to the column, medially rotated, in such a way that patellas are centered over the femur. The pelvis cannot be inclined. The subluxation is usually the first radiographic sign, and it can take to a secondary osteoartrosis, as its appearance is secondarily to a previous alteration, the hip dysplasia. The control of this bad formation if made through a radiographic selection of all animals used the reproduction. The index of Norberg is used for the diagnosis. Nowadays the treatment is based on products that regenerate the degenerated joint cartilage.

Key words: hip dysplasia; X-ray; index of Norberg.

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1 INTRODUÇÃO

A Displasia Coxofemoral canina (DCF) é determinada a partir de uma

combinação de genes, ou seja, determinada por mais de um par de genes. Além

disso, a doença agrava-se por influência de fatores externos, e uma vez

desenvolvendo-se a doença está não volta a regredir (GENARO, 2006).

A DCF foi descrita no cão em 1935 sendo que a diferença entre o homem e o

cão é que cão é uma doença hereditária, mas não é congênita, ou seja, o cão não

nasce com displasia, mas devido à influência de fatores ambientais, alimentares e

excesso de exercício, associada um importante componente genético, origina-se um

desequilíbrio entre a massa muscular e o desenvolvimento esquelético, resultando

numa falta de congruência entre o acetábulo e a cabeça do fêmur (SANTOS, 2006).

Segundo BOJRAB (1996), a DCF é moléstia complexa, uma concentração de

fatores de grupamento de debilidade genética e de tensões ambientais que se

enquadram num padrão programado de remodelagem progressiva e da moléstia

articular degenerativa. O grau de envolvimento varia, desde alterações diminutas na

estrutura óssea, até à destruição total da articulação coxofemoral.

Nos últimos anos, as associações de criadores das diferentes raças caninas

têm demonstrado maior preocupação com a DCF e, da mesma forma, os

proprietários estão mais bem informados quanto aos problemas que ela pode

causar. Assim, os veterinários estão cada vez mais envolvidos com exames

radiográficos para o diagnóstico precoce da displasia. Para tal, o controle

radiográfico de reprodutores e de animais de companhia é fundamental e essencial

para o diagnóstico precoce (BOJRAB, 1996).

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2 ETIOLOGIA

A DCF afeta muitas raças, sendo mais comum nas de médio e grande porte.

É caracterizada radiograficamente pelo arrasamento do acetábulo, achatamento da

cabeça do fêmur, subluxação ou luxação coxofemoral e outras alterações

osteoartróticas secundárias (TORRES et al., 2001).

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3 EPIDEMIOLOGIA

A DCF, a mais comum alteração articular na espécie canina, associada a

frouxidão articular (figura 1), é essencialmente bilateral e ocorre igualmente em

machos e fêmeas (TORRES et al., 2005).

FIGURA 1 – PASTOR ALEMÃO COM DCF.

Fonte: BOISCHAUT, 2002.

TORRES e colaboradores (2005) relatam que a afecção raramente ocorre em

cães que têm um peso corpóreo abaixo de 11 a 12 kg, quando adultos. Embora a

displasia coxofemoral tenha sido observada em animais de raças toy e gatos, suas

articulações coxofemorais instáveis não produzem tipicamente as alterações ósseas

comuns em cães de raças mais pesadas. A luxação coxofemoral, contudo é vista

após traumatismo comum.

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As raças mais afetadas são as de grande porte como Labrador, Rottweiler,

Pastor Alemão, Dogue Alemão, Fila e outros, podendo também afetar raças

menores porém com poucos sinais clínicos (TORRES et al., 2005).

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4 ETIOPATOGENIA

PIERMATTEI e FLO (1999) relatam que muitas observações têm sido feitas

em relação à etiologia desta complexa afecção. Entre as mais importantes estão as

que se seguem:

• Fatores genéticos

Existe predisposição poligênica para a luxação congênita coxofemoral, com

fatores múltiplos que influenciam e modificam a displasia. A explicação biofísica da

afecção é a que representa disparidade entre massa muscular e crescimento rápido

e desproporcional do esqueleto. As articulações coxofemorais são normais ao

nascimento. A falha dos músculos em desenvolverem e atingir a maturidade

conjuntamente com o esqueleto resulta na instabilidade da articulação. O

desenvolvimento anormal é induzido quando o acetábulo e cabeça femoral se

distanciam e iniciam uma série de alterações que finalmente são reconhecidas como

displasia coxofemoral (PIERMATTEI e FLO, 1999).

As alterações ósseas da displasia coxofemoral são o resultado da falha do

tecido conjuntivo em manter a congruência entre as superfícies articulares da

cabeça femoral e o acetábulo. A alteração é prevenida se a congruência da

articulação coxofemoral for mantida até que a ossificação torne o acetábulo menos

plástico e que os tecidos moles ao redor se tornem fortes o suficiente para impedir a

subluxação da cabeça femoral. Sob circunstâncias normais, a força tecidual e a

ossificação progridem suficientemente para prevenir a afecção até os seis meses de

idade (PIERMATTEI e FLO, 1999).

Cães com grande massa muscular pélvica têm articulações coxofemorais

mais normais do que aqueles com menor massa muscular pélvica. A ocorrência,

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gravidade, e incidência da DCF pode ser diminuída pela redução da taxa de

crescimento dos filhotes.

A ocorrência de DCF pode ser reduzida, mas não eliminada, pela reprodução

somente de cães com articulações coxofemorais, radiograficamente normais.

Apenas 7% dos filhotes serão normais se ambos os pais forem displásicos

• Fatores nutricionais

A alimentação em excesso, promove aumento no peso e determina o

surgimento de DCF em animais geneticamente susceptíveis.

• Fatores ambientais

Programas intensos de treinamento e tipo de piso em que o animal vive

(PIERMATTEI e FLO, 1999).

A avaliação radiográfica das articulações coxofemorais, filhos de pais normais

ou com diferentes graus de displasia, possibilitou concluir pela etiologia genética da

doença e sua natureza quantitativa, ou seja, quanto maior o número de ascendentes

displásicos de um filhote, maiores são as possibilidades desse filhote ser displásico

e na sua intensidade mais grave.

Diante dessas observações, foram adotadas medidas de controle baseadas

na seleção de animais para reprodução que, em curto período, conseguiu reduzir de

50% para 28% a freqüência de DCF, reforçando ainda mais a origem genética da

doença e demonstrando uma maior inter-relação entre seus fatores etiológicos, já

que a redução foi significativa, mas não extinguiu o problema (PIERMATTEI e FLO,

1999).

Apesar da questão genética ser complexa, quando se adquire um maior

conhecimento da freqüência em uma determinada população, pode-se prever que

85% dos filhotes serão displásicos se ambos os pais apresentarem a doença,

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comparado com 52% se apenas um estiver afetado e 37,5% se ambos forem

normais. Recomenda-se o acasalamento somente entre normais, filhos e netos de

cães normais (PIERMATTEI e FLO, 1999).

Outros fatores foram apontados como causas da DCF. Dentre eles destaca-

se o hiperestrogenismo materno. Como o termo indica, a fonte do estrógeno

excessivo é a fêmea gestante. A idéia de que a DCF ocorre no feto em

desenvolvimento, exposto a elevadas concentrações de estrógeno in útero, surgiu

após a observação feita no início dos anos 50 de que mães de crianças com DCF

possuíam altas concentrações de estrógeno no sangue e na urina. Apesar da fêmea

apresentar níveis sangüíneos de estrógeno muito mais baixos, a administração de

pequenas doses de benzoato de estradiol, durante o terço final da gestação,

possibilitou a reprodução experimental da doença. Sabe-se que o estrógeno, em

condições normais, antagoniza o hormônio do crescimento. Desse modo, atuaria

inibindo a mitose dos condrócitos, comprometendo o crescimento ósseo. Ora, não

havendo crescimento ósseo adequado, isso poderá resultar em instabilidade

articular e suas possíveis conseqüências (TORRES, 2000).

Medindo-se as concentrações plasmáticas de relaxina em fêmeas prenhes e

em filhotes no período de aleitamento, foi observado que ela passa na sua forma

ativa pelo leite. Devido aos altos níveis encontrados foi verificado que esse hormônio

era responsável pela instabilidade articular nos filhotes, uma vez que a relaxina

exerce importantes alterações nos tecidos conectivos da pélvis. Essa instabilidade

articular levaria à formação da DCF (TORRES, 2000).

Problemas ósseos e articulares também podem ser causados pela ingestão

de dietas de alta densidade, ricas em proteína, energia, cálcio e fósforo, por cães em

crescimento. A ingestão excessiva desses alimentos acelera o crescimento,

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induzindo a alterações anatômicas como a DCF, coxa valga, além de, osteodistrofia

hipertrófica, osteocondrose dissecante, espondilomielopatia cervical caudal

(wobbler)e enostose. Além do mais, a hipercalcemia resulta em níveis elevados de

calcitonina plasmática que altera significativamente a remodelação óssea e a

maturação da cartilagem. De outra forma, o cálcio excessivo no intestino estimula a

produção de gastrina e essa por sua vez atua diretamente nas células C,

neuroendócrinas da tireóide, elevando ainda mais as concentrações séricas de

calcitonina. Não havendo remodelação óssea, por ação desse hormônio, alteram-se

os ângulos de inclinação e anteversão e a cabeça do fêmur pode ficar pequena em

relação ao tamanho do acetábulo, conduzindo à instabilidade articular e

consequentemente à DCF. Pode ocorrer que dois cães com o mesmo genótipo

tenham fenótipos diferentes ou seja, normal e o outro displásico, por causa das

variações de meio ambiente. A nutrição é o principal fator que pode afetar a

expressão genética da displasia e a ingestão de alimentos deve ser devidamente

balanceada e restrita, mantendo o cão magro, de tal forma que as costelas e os

processos espinhosos das vértebras sejam palpáveis, mas não visíveis (TORRES,

2000).

Foram relacionados o escorbuto crônico, subclínico e a DCF. Verificando-se a

produção diária de vitamina C em cães, observou-se que proporcionalmente o cão

sintetiza menos vitamina C quando comparado com outras espécies. Essa vitamina

exerce importante papel no estresse e participa da síntese do colágeno, um dos

componentes estruturais dos tendões, ligamentos e cartilagens. Considerando que

filhotes estão sujeitos a vários tipos de estresse, a necessidade diária aumenta

significativamente. Foram tratados filhotes recém nascidos com elevadas doses de

vitamina C, filhos de pais com alto potencial em transmitir a doença e não se

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constatou displasia em nenhum deles. Posteriormente ficou comprovado que

cartilagens de articulações alteradas têm menos hidroxiprolina (aminoácido utilizado

como marcador bioquímico da reabsorção óssea) que as normais. A vitamina C

participa da síntese da hidroxiprolina, importante componente do colágeno e na

formação e manutenção do tecido osteóide. Resta saber se o cão sintetiza

quantidade suficiente de vitamina C, necessária ao seu desenvolvimento no primeiro

ano de vida, período em que está sujeito a várias situações de estresse, ou se ela

atuaria indiretamente melhorando a estabilidade articular (TORRES, 2000).

Inúmeros são os componentes estruturais que fazem parte da articulação

coxofemoral, como músculos, ossos, ligamentos e cartilagens. Sabe-se que essa

articulação apresenta vários tipos de movimentos como os de adução e abdução,

rotações externa e interna, flexão e extensão. A perfeita integridade dos tecidos e a

congruência adequada entre suas estruturas são fundamentais em uma articulação

sadia. Qualquer modificação na biomecânica alterando a estabilidade articular,

resultará em alterações que por fim, podem ser diagnosticadas como DCF. Foram

observados em cães jovens o aumento de volume do líquido sinovial causando

instabilidade articular e ainda o alongamento do ligamento redondo e conseqüente

subluxação. A redução do volume de líquido sinovial, em articulações já subluxadas,

melhorou a relação entre as superfícies articulares, possibilitando uma melhor

estabilidade articular. Uma vez mais não foi possível dizer se o aumento de volume

do líquido sinovial era primário ou secundário ao desenvolvimento da displasia, visto

que as alterações tendem a ser cíclicas. Se primário, o aumento pode ser atribuído a

uma anormalidade da função secretora da membrana sinovial. Se secundário, pode

ser em função de uma sinovite, estimulada pelas alterações nas forças sobre a

cápsula articular e membrana sinovial. Em ambos os casos, o aumento do líquido

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sinovial atuará mecanicamente diminuindo a congruência entre as superfícies

articulares e assim propiciando o aparecimento de alterações secundárias

(TORRES, 2000).

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5 SINAIS CLÍNICOS

BIRCHARD e SHERDING (1998) observaram que a claudicação do membro

pélvico e anormalidades de deambulação especialmente após períodos de exercício,

o movimento da articulação coxofemoral frequentemente limita-se devido à dor

articular.

O exame de vários movimentos da articulação coxofemoral pode levar a

frouxidão e dor articular. Encontrar-se-á presente frouxidão articular nos animais,

suave a moderadamente displásicos, conforme é diferenciado na figura 2 e 3.

FIGURA 2 – CÃO SEM SINAIS DE DCF.

Fonte: OSTRANDER, 2004.

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FIGURA 3 – CÃO APRESENTANDO SINAIS DE DCF.

Fonte: OSTRANDER, 2004.

O Sinal de Ortolani caracteriza-se com uma mão colocada sobre o joelho do

membro afetado, aplique pressão dorsal no fêmur enquanto se move o membro de

uma posição abduzida para abduzida. O estalido ouvido ou sentido à medida que a

cabeça femoral entra ou sai do acetábulo constitui um Sinal de Ortolani positivo e

indicação de frouxidão articular. Se a articulação coxofemoral encontrar-se normal

ou se as alterações no acetábulo impedirem um movimento da cabeça femoral para

dentro e para fora do acetábulo, o Sinal de Ortolani será negativo (BIRCHARD e

SHERDING, 1998).

Comumente o membro é mantido em adução, com alguma rotação externa se

a luxação for craniodorsal. São necessárias radiografias para confirmar o

diagnóstico, pois os animais com fraturas da cabeça ou do colo femorais

apresentam sinais clínicos semelhantes aos das luxações, sendo que é possível

uma acurada descrição da direção da luxação em incidências radiográficas lateral e

ventrodorsal da pelve (GOELZER et al., 2002).

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Não é possível prever quando um cão displásico começará a apresentar

sinais clínicos de claudicação devido à dor. Existem muitos fatores ambientais como

a ingestão excessiva de alimentos calóricos, o nível de exercícios a que o animal é

submetido e o tipo de piso em que vive são fatores que agravam a doença

(CARLOS, 2003).

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6 DIAGNÓSTICO

O método de diagnóstico mais aceito é o exame radiográfico (conforme figura

4 e 5), no Método Radiográfico Convencional (MRC) os critérios de classificação e a

idade para realização do exame variam consideravelmente. Recomenda-se que o

exame seja feito com, no mínimo, 12 meses de idade em raças de médio e de

grande porte. O diagnóstico depende da observação de evidências da frouxidão

articular e alterações osteoartróticas. Se for grave, a doença poderá ser identificada

desde os seis meses até um ano de idade, caso contrário só aos dois anos de idade

ou mais. Cerca de 80% dos cães susceptíveis revelam-se displásicos ao exame

radiográfico com um ano de idade (REZENDE et al., 2005).

FIGURA 4 – POSICIONAMENTO VD DO CÃO PARA RADIOGRAFIA.

Fonte: REZENDE et al., 2005.

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FOTO 5 – RADIOGRAFIA DO MÉTODO CONVENCIONAL.

Fonte: REZENDE et al., 2005.

É preciso o diagnóstico correto e precoce da afecção; e que os métodos

atuais de diagnóstico permitem a presença de indivíduos portadores da afecção

dentro do meio de criadores (SOUZA e TUDURY, 2003).

O diagnóstico preciso em animais jovens favorece a seleção para controle da

DCF e possibilita a aplicação de opções terapêuticas mais eficazes antes do

desenvolvimento da Moléstia Articular Degenerativa (MAD) ou Doença Degenerativa

Articular (DDA). O índice de distração utilizado para o diagnóstico desta afecção é

uma técnica radiográfica que apresenta maior precocidade e sensibilidade do que os

métodos diagnósticos tradicionais, como o Ângulo de Norberg e o Método da

Fundação de Ortopedia para Animais (OFA). Cães testados pelo índice de distração

(figura 6 e figura 7) demonstram resultados seguros a partir de 16 semanas de

idade, o que permite que sejam selecionados para reprodução isentos, ou

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submetidos a tratamentos precoces, por opções conservativas ou pela sinfisiodese

púbica juvenil (NOGUEIRA et al., 2005).

FOTO 6 – POSICIONAMENTO DO CÃO UTILIZANDO DISTRATOR.

Fonte: REZENDE et al., 2005.

FOTO 7 – RADIOGRAFIA DO MÉTODO UTILIZANDO DISTRATOR.

Fonte: REZENDE et al., 2005.

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A instabilidade articular resulta no relaxamento do ligamento redondo e isso

leva ao deslocamento da cabeça do fêmur dorsolateralmente. Portanto, o lado

medial da cabeça do fêmur e a margem dorsal do acetábulo sustentaram mais peso

do que nas condições normais. Aos quatro meses de idade, mudanças

freqüentemente são observadas na cartilagem articular, tanto na cabeça do fêmur

quanto no acetábulo. Ainda que a subluxação seja pouco evidente, ocorrem

alterações das cartilagens articulares que resultam em uma formação óssea

periarticular anormal. Devido à perda do contorno normal da superfície articular,

ocorrem modificações biomecânicas, levando a alterações da densidade óssea na

porção mediocaudal do colo do fêmur. Quando essa nova formação óssea

desenvolve, adquire densidade que permite sua identificação na radiografia, sendo

conhecida como Linha Morgan, conforme mostra a figura 8 (NOGUEIRA et al.,

2005).

FIGURA 8 – RADIOGRAFIA EVIDENCIANDO A LINHA MORGAN.

Fonte: TORRES et al., 2005.

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Foi observado que 54% considerados displásicos apresentavam formações

ósseas anormais na região mediocaudal do colo do fêmur e que 15% dos cães

considerados normais também as apresentavam. Considerou esses percentuais

significativos o suficiente para se usar esta alteração como auxílio no diagnóstico de

DCF (ARAÚJO et al., 1999).

ROCHA (2002) definiu que o objetivo do trabalho realizado, foi estabelecer a

freqüência de DCF em cães, nos seus diversos graus, de acordo com a raça, sexo e

idade. Foram avaliadas e selecionadas juntamente com suas respectivas

radiografias, de cães com sinais clínicos condizentes com DCF. Observaram-se

2,5% cães normais e 54% cães displásicos, classificados como: 2,9% suspeitos,

15,57% com displasia leve, 9,16% com displasia média e 26,4% com displasia

grave, os 43,5% cães restantes não tiveram confirmação radiográfica. Das 34 raças

relacionadas, as que apresentaram o maior número de animais displásicos foram a

Pastor Alemão com 13,74% e a Rottweiler com 5,95% displásicos. Os cães sem

raça definida representaram 7,8% dos cães displásicos. Com relação à freqüência

entre machos e fêmeas, observou-se que 49,4% dos machos e 53,59% das fêmeas

eram displásicos. A idade média dos cães foi de 57,56 meses, o que mostra que a

DCF não é manifestada ao nascimento, mas torna-se evidente e aumenta sua

severidade com avançar da idade.

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19

7 ASPECTOS RADIOLÓGICOS

7.1 POSICIONAMENTO E CONTENÇÃO

Nos últimos anos, as associações de criadores das diferentes raças caninas

têm-se preocupado com o controle da DCF e exigido maior eficiência no diagnóstico

radiográfico. Para uma boa avaliação, são necessárias radiografias corretas e de

alta qualidade técnica (FERREIRA et al., 1999).

O exame radiográfico deve ser feito na posição ventrodorsal com os membros

pélvicos bem estendidos e rotacionados internamente de modo que a patela fique

sobreposta medianamente em relação ao plano sagital do fêmur. Os fêmures devem

ficar paralelos entre si e em relação à coluna vertebral e a pélvis em simetria

conforme mostra a figura 9 e 10.

FIGURA 9 – TÉCNICA PARA RADIOGRAFIA CORRETA DE DCF.

Fonte: VETIMAGEM, 2006.

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FIGURA 10 – SIMETRIA PÉLVICA.

Fonte: VETIMAGEM, 2006.

TORRES (2001) relata que procedendo desta forma, a radiografia poderá

revelar anormalidades articulares que não seriam facilmente vistas em outras

posições.

O tamanho do filme deve ser suficiente para abranger a área compreendida

entre as asas dos ílios e as articulações dos joelhos e o feixe primário de raios-X

centrado entre as articulações coxofemorais.

Para um correto posicionamento utiliza-se anestesia geral ou sedação

profunda. São poucos os animais que toleram um posicional tão desconfortável

como o decúbito dorsal, principalmente mantendo-se os membros sob tração e

rotação interna, procedimento que pode ser doloroso para os animais (TORRES,

2001).

No Método PennHIP (Pennsylvania Hip Improvement Program) são efetuadas

três radiografias (vista do distrator, vista da compressão e vista prolongada) sob

anestesia geral, é necessário um distrator, específico para esta forma de avaliação.

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Os dados recolhidos são compilados em uma base de dados de forma a melhorar a

eficácia do método (ALVES, 2006).

7.2 ASPECTOS ANATÔMICOS E IDADE PARA O EXAME RADIOGRÁFICO

TORRES (2001) afirma que a articulação coxofemoral normal possui uma

perfeita relação entre a cabeça do fêmur e o acetábulo. Ao nascimento, o ílio, o

ísquio e o púbis são visíveis radiograficamente. O centro de ossificação da cabeça

do fêmur torna-se visível somente por volta dos 12 dias de vida.

As articulações coxofemorais de cães, que eventualmente desenvolvem

displasia, são estrutural e funcionalmente normais ao nascimento. O diagnóstico

radiográfico pode ser feito, inicialmente, entre 6 e 9 meses de idade, dependendo da

gravidade do caso. Cerca de 80% dos cães displásicos mostram alterações

radiológicas aos 12 meses e, em alguns casos, só são identificadas aos 2 anos. O

aumento do líquido sinovial, a hipertrofia do ligamento redondo, a sinovite

proliferativa e as lesões da cartilagem articular ocorrem antes das alterações

radiológicas (TORRES, 2001).

A probabilidade de se fazer um diagnóstico incorreto é grande em animais

jovens, especialmente antes do fechamento das placas epifisárias, uma vez que as

alterações radiológicas são mais perceptíveis nos animais adultos. Do ponto de vista

clínico, a radiografia poderá ser feita em qualquer idade, pois, 95% dos cães

displásicos terão sinais radiológicos após 2 anos de idade e, nos severamente

afetados, podem ser observados entre 2 e 4 meses. Recomenda-se o exame

radiográfico de rotina, para seleção e controle reprodutivo, com a idade mínima de 1

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ano nas raças de médio e grande portes e 1 ano e meio para as raças gigantes

(TORRES, 2001).

Existe o Método PennHIP onde é determinada de forma quantitativa a

frouxidão articular. Disponível desde 1993, tem vantagens ao nível de detecção

precoce da DCF, podendo ser efetuada a partir dos 4 meses de idade (ALVES,

2006).

7.3 AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES RADIOLÓGICAS

TORRES (2001) revela que as anormalidades estruturais podem ser

detectadas no acetábulo, no colo e na cabeça do fêmur. A articulação é considerada

displásica quando a cabeça do fêmur ajusta-se, inadequadamente ao acetábulo e

tanto a luxação quanto a sub-luxação são consideradas confirmativas da DCF. Os

osteófitos são observados em todos os estágios, principalmente nos mais

avançados.

Destacam-se como alterações iniciais o aumento do líquido sinovial, da

espessura do ligamento redondo e subluxação, sendo que somente a última poderá

ser vista no exame radiográfico. Posteriormente, observam-se osteofitose

pericondral junto à inserção da cápsula articular, remodelação e esclerose ósseas

da cabeça, do colo e do acetábulo. A cabeça do fêmur perde sua forma esferoidal

ficando achatada em sua superfície articular, o colo torna-se espesso, com

superfície e densidade irregulares devido à formação de osteófitos. Ocorre o

arrasamento do acetábulo, porém, nem sempre visto em todos os casos (TORRES,

2001).

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A DCF é predominantemente bilateral, no entanto, em um pequeno percentual

de cães, pode ocorrer de modo assimétrico, ou seja, unilateral onde uma articulação

é normal e a outra afetada ou bilateral em diferentes graus (TORRES, 2001).

Algumas técnicas auxiliares são utilizadas na avaliação radiográfica. Dentre

elas, destaca-se a de Norberg onde mede-se na radiografia, utilizando-se uma

escala, o ângulo formado por:

a) linha ideal que une as duas cabeças femorais,

b) linha que une o centro da cabeça do fêmur sujeita a exame, com a borda

acetabular crâniolateral do mesmo lado.

Qualquer medida constatada, inferior a 105º mostra uma inadequada relação

entre a cabeça do fêmur e o acetábulo, demonstrando sinais de subluxação ou

luxação, o que pode ser caracterizado como DCF (TORRES, 2001).

Escala de Norberg como mostra a figura 11, mostrando os ângulos de 90º,

100º e 105º.

FIGURA 11 – ESCALA DE NORBERG.

Fonte: TORRES, 2001.

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O Método PennHIP é uma maneira de avaliar, medir e interpretar o grau da

displasia. Consiste em três radiografias individuais: a vista do distrator (figura 12), a

vista da compressão e a vista hip-prolongada. A do distrator e da compressão (figura

13) são usadas para obter medidas exatas e precisas do grau da incongruência. A

vista hip-prolongada (figura 14) é usada obter a informação complementares a

respeito da existência da alteração. A técnica de PennHIP é mais exata do que a

técnica padrão (SMITH, 2002).

FIGURA 12 – VISTA DO DISTRATOR.

Fonte: SMITH, 2002.

FIGURA 13 – VISTA DA COMPRESSÃO.

Fonte: SMITH, 2002.

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FIGURA 14 – VISTA PENNHIP PROLONGADA.

Fonte: SMITH, 2002.

7.4 CLASSIFICAÇÃO

Foi proposta pela Federação Cinológica Internacional (FCI) e adotada no

Brasil, a classificação em graus da DCF, de acordo com as características

radiológicas observadas, conforme descrito a seguir (TORRES, 2001).

a. Nenhum indicativo para DCF - A cabeça do fêmur e o acetábulo congruentes

e o ângulo de Norberg = A 105º. Acetábulo crâniolateral nítido e arredondado,

acompanhando o contorno da cabeça do fêmur. O espaço articular apresenta-

se fechado e regular (figura 15).

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FIGURA 15 – RADIOGRAFIA NORMAL.

Fonte: TORRES, 2001.

b. Suspeito de DCF: a cabeça do fêmur e o acetábulo discretamente

incongruentes, ângulo de Norberg= a 105º ou ângulo < que 105º, porém,

cabeça do fêmur e acetábulo congruentes (figura 16).

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FIGURA 16 – SUSPEITA DE DCF.

Fonte: TORRES, 2001.

c. Displasia discreta ou leve: a cabeça do fêmur e o acetábulo incongruentes,

ângulo de Norberg > que 100º e < que 105º, aparecimento de sinais

osteoartróticos (Figura 17).

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FIGURA 17 – DCF DISCRETA OU LEVE.

Fonte: TORRES, 2001.

d. Displasia média: incongruência nítida entre a cabeça do fêmur e o acetábulo,

com subluxação, ângulo de Norberg > que 90º e < que 100º e sinais

osteoartróticos evidentes (figura 18).

FIGURA 18 – DCF MÉDIA.

Fonte: TORRES, 2001.

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e. Displasia grave: alterações osteoartróticas bem evidentes, ângulo de Norberg

< que 90º, subluxação ou luxação (figura 19).

FIGURA 19 – DCF GRAVE.

Fonte: TORRES, 2001.

TABELA 1 - Método de Schenelle, classificado por diferentes graus.

Grau 1 Mínima alteração de normalidade, discreta luxação

Grau 2 Claro e marcado desvio da normalidade

Grau 3 Sub luxação articular

Grau 4 Acetábulo raso, alteração e deslocamento da cabeça do fêmur com perda total da

relação

Fonte: RIVEROLA, 2001.

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8 TRATAMENTO

O tratamento da displasia coxofemoral é complexo. Em muitos casos, o

tratamento conservador pode ter utilidade. Foi defendido o uso de técnicas de

secção muscular, objetivando a redução da dor em alguns casos. Técnicas

cirúrgicas de osteotomia da pelve e/ou porção proximal do fêmur são utilizadas

como ajuda para a obtenção de congruência mais adequada da articulação

coxofemoral. Atualmente, a substituição total da articulação coxofemoral vem sendo

regularmente utilizada em cães mais idosos, em substituição da articulação artrítica,

e em cães mais jovens com displasia coxofemoral clinicamente grave. A excisão da

cabeça femoral é um procedimento de vitória para a displasia coxofemoral e para a

osteoartrite (ETTINGER e FELDMAN, 1997).

Analogamente, o tratamento conservador pode ser recomendado em animais

maturos apresentando evidência de um funcionamento coxofemoral comprometido,

e em associação com alterações degenerativas avançadas. Raramente esta é a

primeira recomendação ao dono do paciente; contudo, considerações financeiras

podem impor sua aplicação. Em cães imaturos, o desconforto pode estar associado

a articulação instável, ou à articulação estável acompanhada de alterações

degenerativas precoces. Em cães maturos, comumente o desconforto está

associado a alterações degenerativas avançadas. Os objetivos principais da terapia

consistem no alívio do desconforto e na manutenção das funções. Muitos cães

podem ter uma vida confortável, a despeito da afecção articular degenerativa. Se o

animal está em excesso de peso, a recomendação deve ser a da perda de peso,

para que seja reduzida a carga aplicada às articulações coxofemorais. Uma dieta

balanceada é fornecida ao animal e complementos contendo vitaminas e minerais

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ficam desestimulados. O uso criterioso de analgésicos pode suavizar a dor. Embora

os analgésicos possam aliviar a dor, eles não mudam as alterações degenerativas

ocorrentes em nível da articulação coxofemoral. Medicamentos antiinflamatórios não

esteróides (AINE) são os analgésicos mais amplamente recomendados no

tratamento da DCF. É administrado ácido acetilsalicílico (10 a 20mg/kg PO TID),

conforme a necessidade e sulfato de condroitina A com o sulfato de condroitina C

monossulfatados - artroglycan® nas seguintes doses: até 10kg / 1mL IM ou SC; 10 a

25kg / 2mL IM ou SC; acima de 25kg / 3mL IM ou SC (SLATTER, 1998).

A luxação coxofemoral pode ser crânio-dorsal, caudo-dorsal e ventral. Nos

três tipos de luxação pode haver rompimento da cápsula articular e do ligamento

redondo. As reduções fechadas tem êxito em aproximadamente 50% dos cães,

desde que realizadas imediatamente após a lesão. Nos casos crônicos a taxa pode

ser reduzida, sendo necessário optar-se pela redução aberta. Quando a redução

fechada da luxação coxofemoral não proporcionar estabilidade articular, deve-se

proceder a artroplastia aberta.

As técnicas de redução aberta incluem capsulorrafia, colocação de pino

transacetabular, introdução de pino de Vita ou de pino de Toggle, transposição

trocantérica, uso de próteses e aplicação de fixador externo flexível. A capsulorrafia

combinada a outros procedimentos de redução aberta de luxação e estabilização

coxofemoral, constitui outra opção de artroplastia. Apesar da capsulorrafia contribuir

com a estabilidade articular, os pesquisadores comentam que nem sempre é

possível efetuar esta técnica pois frequentemente a cápsula também encontra-se

severamente lesada e não retém a sutura (RODASKI et al., 2002).

Para BRINKER e colaboradores (1999) a artroplastia por excisão da cabeça

do fêmur constitui um valioso método para melhorar a qualidade de vida do paciente

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com displasia ou com luxação coxofemoral recorrente, pois proporciona o alívio da

dor e permite a locomoção do animal.

Os principais procedimentos cirúrgicos utilizados para o tratamento da DCF

são osteotomia pélvica tríplice, osteotomia intertrocantérica, excisão artroplástica de

cabeça e colo femorais e a prótese total da articulação (ARIAS et al., 2004).

Em estudo realizado, foram implantados a prótese de aço inoxidável

cimentada não modular (modelo Richards II), de tamanho médio (8 mm de diâmetro)

e componente acetabular de polietileno de ultra-alto peso molecular com diâmetro

interno de 17 mm e externo de 25 mm. Nas radiografias pós-operatórias observou-

se posição varus da haste coxofemoral na incidência ventro-dorsal (figura 20) e

posição neutra na médio-lateral (figura 21).

FIGURA 20 – PÓS-OPERATÓRIO.

Fonte: ARIAS et al., 2004.

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FIGURA 21 – PÓS-OPERATÓRIO.

Fonte: ARIAS et al., 2004.

No terceiro dia de pós-operatório, verificou-se claudicação acentuada sem

apoio do membro. Foi realizada radiografia coxofemoral ventro-dorsal que mostrou

luxação caudo-dorsal do implante (figura 22 e figura 23). No animal anestesiado foi

realizada redução fechada da articulação protética, seguindo-se colocação de

bandagem tipo Ehmer por 15 dias.

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FIGURA 22 – PÓS-OPERATÓRIO.

Fonte: ARIAS et al., 2004.

FIGURA 23 – PÓS-OPERATÓRIO.

Fonte: ARIAS et al., 2004.

Após a retirada da bandagem, o paciente mostrou acentuada hipotrofia

muscular sem apoio do membro. Foi feita fisioterapia durante duas semanas,

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iniciando cada sessão com movimento passivo por 15 minutos, seguindo-se

caminhada controlada em areia por 30 minutos. Após a fisioterapia o animal retornou

à deambulação com apoio total do membro. Entretanto, foi evidenciada abdução na

posição ortostática e em deambulação verificava-se acentuada rotação externa do

membro, que reduziu para discreta com deambulação satisfatória após 18 meses. O

paciente foi acompanhado mensalmente e foram feitas radiografias em intervalos de

seis meses, evidenciando posição adequada do implante (ARIAS et al., 2004).

Várias técnicas cirúrgicas têm sido descritas para restaurar a estabilidade

original promovida pelo ligamento da cabeça do fêmur, cápsula articular e tecido

periarticular. A reconstrução do ligamento da cabeça do fêmur após a redução

cirúrgica da luxação tem sido descrita utilizando-se principalmente materiais

sintéticos, como fios de polietileno, náilon, poliéster, fio de aço e pino intramedular

de Steinmann ou fio de Kirschner moldado. Essas técnicas citadas necessitam de

prévia preparação do material, ou seja, confecção de cavilhas em moldes e a seguir

esterilização, para posterior utilização no procedimento cirúrgico.

Por outro lado, o transplante da fáscia lata tem sido amplamente descrito na

literatura em uma variedade de procedimentos ortopédicos, particularmente reforços

e substituições do ligamento cruzado cranial. Foi reparado, experimentalmente, o

ligamento cruzado utilizando fáscia lata e observaram ligamentos intactos em 61,5%

e 100% dos animais, respectivamente. Nas análises histopatológicas, confirmou-se

a manutenção do alinhamento longitudinal do padrão fibrilar e neovascularização

destas reconstruções. Microscopicamente, as fibras da fáscia lata estão dispostas

em feixes paralelos, com aspecto ondulado, envolvido por tecido conjuntivo frouxo.

Histopatologicamente existe um revestimento similar às células da membrana

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sinovial com neovasos ao redor do ligamento cranial nas substituições realizadas

com fáscia lata em cães (ARIAS et al., 2004).

O uso de auto-enxertos ósseos apresenta do ponto de vista

anatomofisiológico e funcional, indiscutíveis vantagens com relação aos materiais

sintéticos e aloenxertos que podem ocasionar rejeição, infecção e relativa

toxicidade. Foi utilizado enxerto ósseo homólogo preservado para realizar

acetabuloplastia, estendendo a borda do acetábulo. O auto-enxerto apresenta uma

capacidade variável em ativar a formação óssea, induzindo células do tecido

conjuntivo a formar tecido ósseo e servindo como substrato para a osteogênese.

Além das suas funções biológicas, o enxerto promove suporte estrutural (BRANDÃO

et al., 2002).

O uso de pino intramedular de Steinmann como único método de fixação é

utilizado em fraturas femorais diafisárias estáveis, do tipo incompleta ou completa

transversa. Os pinos de Steinmann podem ser usados para fraturas instáveis

apenas com fixação complementar, como fixador externo, pinos múltiplos, fio

metálico de cerclagem ou parafusos compressivos.

A vantagem biomecânica do pino intramedular consiste em sua resistência às

forças de flexão; porém este implante apresenta pouca resistência às forças axiais

(compressivas) e rotacionais, com perda de fixação na superfície óssea. A

capacidade de um pino intramedular em resistir à forças de flexão é diretamente

proporcional ao seu diâmetro e também à relação entre os diâmetros do pino e da

cavidade medular. O pino intramedular deve ocupar 70 a 80% do canal medular. A

força de rotação não é efetivamente neutralizada por um único pino intramedular,

independentemente do seu diâmetro (SOUSA, 2003).

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9 CONTROLE

Todos os cães utilizados na reprodução devem passar por uma seleção

radiográfica.

Como condição mínima necessária, pelo menos os pais dos reprodutores

devem ser isentos de displasia, ressaltando que quanto mais longe se for ao

controle dos ascendentes, melhor será. Não basta apresentar articulações

coxofemorais normais, pois animais nestas condições podem transmitir a má

formação aos seus descendentes (SOMMER e FRATOCCHI, 1998).

As radiografias só avaliam os aspectos fenotípicos (alterações radiográficas)

e não genotípicos. Freqüentemente animais sem sinais de displasia, são portadores

dos respectivos genes. Todos os animais, com exceção dos da categoria A - Método

de Norberg (sem sinais de DFC (HD), do alemão Huftgelenk Dysplasie e do inglês

Hip Dysplasia, apresentam displasia em menor ou maior grau.

SOMMER e FRATOCCHI (1998) afirmam que atualmente no Brasil, para fins

de reprodução, é permitido o acasalamento dos cães pertencentes às 3 primeiras

categorias, ou seja, A (HD-) , B (HD+/-) e C (HD+), enquanto que em alguns países,

como por exemplo a Alemanha, só são autorizados para o mesmo fim , as

classificações A e B.

Sugere-se, caso a fêmea seja C (DCF leve HD+), que ela deva ter excelentes

características do padrão da raça, como conformação, temperamento, etc. Estas

virtudes devem superar as deficiências das articulações. Esta mesma fêmea deveria

acasalar com um macho A sem sinais de DCF (HD-). As recomendações para as

fêmeas não devem ser aplicadas aos machos, já que os mesmos transmitirão a

displasia para um número muito maior de filhotes (SOMMER e FRATOCCHI, 1998).

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Animais levemente displásicos tendem a transmitir displasias discretas. É

importante ressaltar que os critérios de acasalamento devem levar em consideração

o tamanho do plantel e a conformação das articulações. Se a população de animais

em uma determinada raça é muito grande, e o controle da displasia é feito

rotineiramente há muito tempo, o critério na reprodução será mais rígido se

comparado com outras raças com menor número de exemplares e com controle

radiográfico mais incipiente. Caso contrário limitar-se-ia tanto os acasalamentos, que

poderiam não haver mais animais aptos para esse fim.

Muitos proprietários questionam o diagnóstico radiográfico, quando o

resultado é de displasia moderada ou severa e quando os cães correspondentes

praticam exercícios diários intensos, sem manifestar qualquer sintoma. Isto é

perfeitamente possível, pois sabemos que muitas vezes não há correlação entre as

lesões radiográficas e os sinais clínicos (SOMMER e FRATOCCHI, 1998).

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10 CONCLUSÃO

A DCF, devido sua complexidade causa danos à saúde dos cães, limitando

significativamente o seu desempenho diário, tem merecido investigações nas mais

variadas linhas de pesquisa. Pode-se observar que múltiplos fatores participam do

processo de formação das anormalidades coxofemorais, o que dificulta o clínico ou

para o proprietário uma melhor compreensão de sua gênese.

Muitos pensam que a DCF é uma enfermidade exclusivamente de origem

hereditária e que, portanto, pode ser evitada através da seleção de animais para

acasalamento. Na verdade, tem sido demonstrado que essa seleção reduz

significativamente a incidência, mas não elimina totalmente o problema. Fatores não

hereditários, como o fornecimento aos cães de dietas de alta densidade e meio

ambiente, têm sido um dos maiores problemas que os clínicos veterinários

especializados em pequenos animais enfrentam atualmente.

O diagnóstico da DCF é realizado por meio de radiografia, sendo esta

indispensável, levando-se em consideração que muitas vezes os sinais clínicos não

estão correlacionados com os achados radiológicos. Alguns cães com uma DCF

moderada ou severa são assintomáticos. Na radiografia devem ser observados

alguns procedimentos técnicos, como a idade do animal, contenção,

posicionamento, identificação do paciente e a qualidade da radiografia.

Competem aos profissionais o esclarecimento e orientação aos proprietários,

com o propósito de se controlar a DCF, considerada um dos mais graves e mais

estudados problemas articulares dos cães.

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