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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL Gabrielli de Oliveira Vaz PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Bacillus pumilus USANDO FARELO DE TRIGO COMO SUBSTRATO Passo Fundo, 2013.

Gabrielli de Oliveira Vaz - UPF | Universidade de Passo Fundousuarios.upf.br/~engeamb/TCCs/2013-2/Gabrielli de Oliveira Vaz.pdf · O custo de produção de biossurfactantes é aproximadamente

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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

Gabrielli de Oliveira Vaz

PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Bacillus pumilus USANDO

FARELO DE TRIGO COMO SUBSTRATO

Passo Fundo, 2013.

1

Gabrielli de Oliveira Vaz

Produção de biossurfactante por Bacillus pumilus usando

farelo de trigo como substrato

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Engenharia Ambiental, como parte

dos requisitos exigidos para obtenção do título

de Engenheiro Ambiental.

Orientador: Profª. Dra. Luciane Maria Colla

Passo Fundo , 2013.

2

Gabrielli de Oliveira Vaz

Produção de biossurfactante por Bacillus pumilus usando farelo

de trigo como substrato

Trabalho de Conclusão de Curso como requisito parcial para a obtenção do título de

Engenheiro Ambiental – Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade de Engenharia e

Arquitetura da Universidade de Passo Fundo. Aprovado pela banca examinadora:

Orientador:_________________________

Luciane Maria Colla, Dra.

Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF

Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF

Vandré Barbosa Brião, Dr.

Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF

Passo Fundo, 4 de novembro de 2013.

3

A T E S T A D O

Atesto para os devidos fins que a aluna Gabrielli de Oliveira Vaz, autor do Trabalho

de Conclusão intitulado “Produção de biossurfactante por Bacillus pumilus usando farelo de

trigo como substrato” realizou as alterações sugeridas pela banca examinadora no relatório

final.

Passo Fundo, 29 de novembro de 2013.

Profª. Dra. Luciane Maria Colla

4

AGRADECIMENTOS

Eu não sei a quem agradecer primeiro, e a ordem aqui, não tem maior ou menor grau

de importância, eu apenas quero agradecer de todo o meu coração a quem de alguma maneira

me ajudou na construção deste trabalho.

Primeiramente agradecer a Deus e a Nossa Senhora Aparecida pela vida, e por me

protegerem e iluminarem os meus caminhos.

Agradecer por todo o esforço, dedicação, apoio e amor dos meus pais Loreci de

Oliveira Vaz e Adão de Oliveira Vaz em todos os momentos da minha vida.

Agradecer a toda a minha família, em especial a minha avó Tereza, pelo total apoio

nos estudos e por sempre estarem presentes.

Ao meu namorado Rodrigo, por todo o amor, carinho, companheirismo, cuidado e

principalmente paciência, sempre.

Agradeço aos professores que contribuíram para o meu crescimento e por todo o

conhecimento passado durante o meu período acadêmico, em especial a minha orientadora

Professora Doutora Luciane Maria Colla, pela atenção, paciência e ajuda.

Ao Iziquiel Cecchin e ao Professor Cleomar pela ajuda.

Agradecer a amiga Marilda Ferreira dos Santos Zanfir, por toda a ajuda, paciência e

amizade, obrigada por todo o conhecimento laboratorial passado e por fazer parte da minha

vida.

Ao estudante Rafael Braido pela ajuda e minutos cedidos.

A Ellen Rodrigues pelo conhecimento passado, que possibilitou a execução deste

trabalho.

5

A todos os meus colegas de graduação, pela amizade e companheirismo.

A todos, os meus sinceros agradecimentos!

6

RESUMO

A biorremediação é um processo biotecnológico que utiliza o metabolismo de

microrganismos para eliminação rápida de poluentes presentes no ambiente ou a sua redução

a níveis de concentração aceitáveis. Uma das técnicas de biorremediação de resíduos oleosos

consiste no uso de biossurfactantes, os quais são metabólitos microbianos que tem por função

a de diminuir a tensão superficial e interfacial formando microemulsões entre os resíduos

oleosos e água, facilitando o processo de absorção do contaminante pelo microrganismo para

posterior degradação. O custo de produção de biossurfactantes é aproximadamente de 3 a 10

vezes maior que o custo de surfactantes químicos. Para a produção de biossurfactantes, o uso

de substratos mais baratos e solúveis em água, como por exemplo, os resíduos agroindustriais,

como o farelo de trigo, são alternativas que podem viabilizar a produção e consequentemente

reduzir custos. Objetivou-se utilizar o farelo de trigo como um substrato alternativo para a

produção em estado submerso de biossurfactante, utilizando para produção a bactéria Bacillus

pumilus. A produção foi realizada em meio base composto por farelo de trigo com a adição de

indutores (óleo diesel, gasolina e biodiesel) e fontes de nitrogênio (NH4NO3, ureia e NaNO2).

A produção de biossurfactantes foi avaliada pela determinação da tensão superficial nos

meios fermentados livres de células e através, das atividades emulsificantes A/O (água/óleo) e

O/A (óleo/água). O biossurfactante produzido foi capaz de reduzir a tensão superficial até 37

mN/m quando utilizado óleo diesel como indutor e ureia como fonte de nitrogênio. As

melhores atividades emulsificantes A/O foram obtidas quando utilizado o indutor biodiesel e

ureia como fonte de nitrogênio. As maiores atividades O/A foram obtidas com óleo diesel

como indutor e ureia como fonte de nitrogênio. Conclui-se que, o farelo de trigo pode ser

usado como substrato para a produção de biossurfactante utilizando como produtor a bactéria

Bacillus pumilus.

Palavras-chave: Biorremediação, fonte de nitrogênio, indutor.

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ABSTRACT

Bioremediation is a biotechnological process which utilizes the metabolism of

microorganisms for rapid elimination of pollutants present in the environment or reduction to

acceptable levels of concentration. One technique for bioremediation of waste oil is the use of

biosurfactants, which are microbial metabolites whose function is to decrease surface and

interfacial tension between the microemulsion forming oily waste water, making the process

of absorption of the contaminant to the microorganism further deterioration. The cost of

production of biosurfactants is approximately 3 to 10 times greater than the cost of chemical

surfactants. For biosurfactant production , the use of less expensive water-soluble substrates ,

such as agro-industrial waste, such as wheat bran, are alternatives that can make possible the

production, and consequently reduce costs. This study aimed to use the wheat bran as an

alternative substrate for biosurfactant production in submerged state, using the bacterium

Bacillus pumilus production. The production was carried out in basic medium composed of

wheat bran with the addition of inducers (diesel, gasoline and diesel) and nitrogen source (

NH4NO3, urea and NaNO2 ). The biosurfactant production was evaluated by determination

of surface tension in the fermented media free of cells and through the activities emulsifying

facturers W/O ( water/oil) and O/W (oil/water). The isolated biosurfactant was able to reduce

the surface tension to 37 mN/m when used diesel oil as inducer and urea as nitrogen source.

The best emulsifying activities W/ O were obtained when using biodiesel inductor and urea as

nitrogen source. The highest activities O/W were obtained with diesel oil as inducer and urea

as nitrogen source. It is concluded that wheat bran can be used as substrate for biosurfactant

production using the bacterium as a producer Bacillus pumilus.

Keywords : Bioremediation , nitrogen source inductor.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1Tubo de ensaio com emulsão O/A e emulsão A/O ..................................................... 28 Figura 2 Tensão superficial dos meios de fermentação no início e fim do processo

fermentativo para os experimentos que utilizaram óleo diesel como indutor ................... 29 Figura 3 Tensão superficial dos meios de fermentação no início e fim do processo

fermentativo para os experimentos que utilizaram biodiesel como indutor ...................... 30

Figura 4 Tensão superficial dos meios de fermentação no início e fim do processo

fermentativo para os experimentos que utilizaram gasolina como indutor ....................... 30

Figura 5 Gráfico de PARETO para a atividade emulsificante O/A ......................................... 37

Figura 6 Gráfico de PARETO para a atividade emulsificante A/O ......................................... 38

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Funções e aplicações industriais dos biossurfactantes............................................... 19 Tabela 2 Principais grupos de surfactantes de origem natural e sintética. ............................... 20 Tabela 3Principais classes de biossurfactantes e microrganismos envolvidos ........................ 21 Tabela 4 Composição centesimal do farelo de trigo................................................................. 24 Tabela 5 Planejamento Fatorial Completo 3² utilizado para avaliar a influência da fonte de N e

indutor sobre a produção de biossurfactante por B. pumilus. ............................................ 26 Tabela 6 Concentração celular e redução da tensão superficial ............................................... 32

Tabela 7 pH do extrato livre de células .................................................................................... 33

Tabela 8 Atividades emulsificantes óleo em água e água em óleo para os tempos inicial e em

72 horas. ............................................................................................................................. 34 Tabela 9 Adimensionais das atividades emulsificantes A/O e O/A para os diferentes

experimentos realizados no Planejamento Fatorial Completo 3² ....................................... 35 Tabela 10 ANOVA dos resultados de atividade emulsificante O/A em função das variáveis

estudadas ............................................................................................................................ 36

Tabela 11 Efeitos estimados das variáveis sobre a atividade emulsificante óleo em água ...... 36 Tabela 12 ANOVA dos resultados de atividade emulsificante A/O em função das variáveis

estudadas ............................................................................................................................ 37 Tabela 13 Efeitos estimados das variáveis sobre a atividade emulsificante A/O ..................... 37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11 2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................................... 13

2.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................................ 13 2.2 BIOTECNOLOGIA ................................................................................................... 13 2.3 BIORREMEDIAÇÃO ............................................................................................... 13

2.4 BIOSSURFACTANTES ........................................................................................... 15 2.4.1 FATORES QUE AFETAM A PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE ........ 17

2.4.2 APLICAÇÕES DOS BIOSSURFACTANTES ................................................. 19

2.4.3 CLASSIFICAÇÃO E NATUREZA QUÍMICA DOS BIOSSURFACTANTES

20 2.4.4 MICRORGANISMOS PRODUTORES DE BIOSSURFACTANTES ............. 20 2.4.5 PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Bacillus pumilus .................... 22 2.4.6 MEIO DE CULTIVO ......................................................................................... 23

2.5 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 24

2.6 Resultados e discussões ............................................................................................. 29 2.6.1 Tensão superficial ............................................................................................... 29

2.6.2 Determinação da concentração de células .......................................................... 31 2.6.3 pH ....................................................................................................................... 32 2.6.4 Atividade emulsificante ...................................................................................... 33

3 Conclusão ........................................................................................................................... 39

11

1 INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais tornam-se cada vez mais críticos e frequentes em

decorrência do aumento das atividades industriais e do crescimento desordenado da

população. A contaminação de ambientes, principalmente da água, vem crescendo cada vez

mais, tornando escassa a água de boa qualidade. Essa contaminação se dá pela introdução de

substâncias nocivas que acarreta vários efeitos negativos sobre a vida animal e vegetal

(NITSCHKE; PASTORE, 2003).

Uma das principais vias de poluição das águas é causada pelo petróleo e seus

derivados. Inúmeras técnicas físicas, químicas e biológicas vêm sendo desenvolvidas para a

remoção de petróleo derramado ou para a redução dos seus efeitos sobre o ecossistema.

Pesquisas realizadas demonstram como o meio ambiente reage a tais condições, intervenções

antropogênicas, revelando a significativa atuação de microrganismos na busca da

autopreservação e recuperação. Isso é feito através da capacidade que alguns microrganismos

possuem em degradar este tipo de poluente (NITSCHKE; PASTORE, 2002).

Desai e Banat (1997), afirmam que o custo para a produção de biossurfactantes é de

aproximadamente 3 a 10 vezes maior que o custo de surfactantes químicos, quando

comparados, o que por vezes tem impossibilitado seu uso em maior escala. Contudo, outros

substratos mais baratos e solúveis em água, como os resíduos agroindustriais, mostram-se

como uma excelente opção para a produção de biossurfactante.

Os biossurfactantes são compostos produzidos por diversos microrganismos que

apresentam grupos hidrofílicos e hidrofóbicos na mesma molécula, o que lhes confere a

capacidade de agir em interfaces, aumentando a capacidade emulsificante, detergente,

lubrificante, solubilizante e dispersante (OLIVEIRA, 2010).

O Estado do Rio Grande de Sul é segundo maior produtor nacional na cultura de trigo.

As maiores regiões produtoras deste grão localizam-se principalmente na porção norte-

noroeste do Rio Grande do Sul, com isso, o farelo de trigo torna-se um subproduto

agroindustrial de fácil obtenção, podendo assim ser usado como um substrato alternativo e de

baixo custo para a produção de biossurfactante (SEPLAG, 2013).

O uso de substratos alternativos como os resíduos agroindustriais tornaria a produção

de biossurfactantes mais viável financeiramente aumentando o seu interesse comercial

(NITSCHKE; PASTORE, 2003).

12

O objetivo geral deste trabalho foi o uso de farelo de trigo como substrato alternativo

para a produção de biossurfactante por Bacillus pumilus em estado submerso. Os objetivos

específicos foram: a) Utilização de farelo de trigo como substrato para a produção de

biossurfactantes; b) Estudar a influência de diferentes indutores a produção de

biossurfactantes pela bactéria Bacillus pumilus; c) Estudar a influência de diferentes fontes de

nitrogênio para a produção de biossurfactantes por Bacillus pumilus.

13

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Revisão Bibliográfica

2.2 BIOTECNOLOGIA

A biotecnologia, segundo Bueno (2008), é o conjunto de conhecimentos e técnicas que

permite aos pesquisadores o desenvolvimento de métodos, técnicas e meios associados a seres

vivos, macro e microscópios, onde, um dos objetivos é o de produzir produtos úteis e que

contribuam para a resolução de problemas relacionados com poluição de meios.

Muitas indústrias tradicionais estão enfatizando um redirecionamento para o

surgimento de novas tecnologias. Uma vez que a biotecnologia faz uso de diversos compostos

com propriedades tensoativas, seja na purificação de produtos biológicos ou em biocatálise e,

esta também necessita dar resposta (preventiva e curativa) aos problemas que os tensoativos

domésticos e industriais possam causar nas estações de tratamento de efluentes. Preocupações

ambientais têm orientado a seleção de tensoativos em que, testes de biodegradabilidade e de

toxicidade começaram a ter uma importância decisiva. Assim, existe a tendência de

aproximar-se a produção do natural, atendendo o princípio, segundo o qual a natureza, por si

só, não tem capacidade de desfazer o que o homem faz (ROCHA, 1999, MULLER; RUSSEL;

LUCASE, 1997, apud BUENO, 2008).

2.3 BIORREMEDIAÇÃO

De acordo com Silveira (2009), dentre os processos biológicos pode-se destacar a

biorremediação, que consiste na utilização de microrganismos ou dos seus componentes na

recuperação de áreas contaminadas, reduzindo ou eliminando os contaminantes, a mesma

pode ser aplicável em meios como águas superficiais, subterrâneas, solos, resíduos, efluentes

industriais em aterro ou áreas de contenção.

Nitschke e Pastore (2002) relatam que se tornaram numerosos os acidentes

relacionados com derramamentos ou vazamentos de petróleo causando muitos problemas

ecológicos e sociais. Para combater esses problemas são usados os conhecimentos das

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propriedades dos biossurfactantes, que aumentam a interação superficial água/óleo,

facilitando o acesso de substratos hidrofóbicos às células. Com isso aceleram a degradação

dos componentes do petróleo por microrganismos e promovem a biorremediação de águas e

solos de uma forma mais eficaz.

Gaylarde et al., (2005) afirmam que as técnicas de biorremediação desenvolvidas são

ecologicamente mais adequadas e eficazes quando aplicadas em ambientes contaminados por

metais tóxicos e em meios contaminados por moléculas orgânicas de difícil degradação, tais

moléculas são denominadas “recalcitrantes”, que podem ser de origem natural, sintetizadas

pelo metabolismo biológico, ou sintéticas, produzidas por tecnologias industriais modernas e

estranhas ao ambiente natural, por estas razões denominadas “xenobióticas” (xenos, de grego

= estrangeiro).

Os processos biológicos de descontaminação utilizam, geralmente, microrganismos

autóctones (do próprio ambiente) ou introduzidos (estado nativo ou geneticamente

modificados), possuindo a capacidade de degradar compostos poluidores, que resultem em

produtos de degradação com estrutura menos recalcitrante em relação à molécula original, ou

na mineralização do xenobiótico (GAYLARDE et al., 2005).

Fatores podem influenciar à degradabilidade de compostos recalcitrantes, tais como

fatores físicos e químicos e fatores biológicos. A natureza física da matriz onde o composto é

encontrado, temperatura e luz são os principais parâmetros físicos com influência na

degradabilidade de compostos (BUENO, 2008).

Inúmeros são os fatores químicos que podem influenciar, acelerando ou reduzindo, a

taxa de degradação de um poluente. A composição química da matriz ambiental, que define a

capacidade nutritiva, o pH, umidade, teor de oxigênio dissolvido e a composição e estrutura

química do poluente, são fatores que merecem destaque (GAYLARDE et al., 2005).

Dentre os fatores biológicos, devem ser consideradas as condições de biodegradação

de um composto químico no meio ambiente, que depende, sobretudo, da presença de uma

população de microrganismos capas de metabolizar a molécula original e seus produtos de

degradação. Na biosfera atual, não existem, rotas enzimáticas catabólicas capazes de degradar

todos os compostos novos que a cultura humana sintetizou durante os últimos 100 anos

(GAYLARDE et al., 2005).

Enzimas que catabolizam a degradação de compostos naturais podem apresentar baixa

especificidade pelo seu substrato e, com isso, os xenobióticos com estrutura química

semelhante a compostos naturais podem ser reconhecidos pelo sítio ativo de enzima,

possibilitando, assim, que sejam quimicamente transformados. Quando o xenobiótico tem a

15

possibilidade de percorrer todos os caminhos de uma determinada rota catabólica enzimática,

ele se tornara uma possibilidade nutritiva para o microrganismo, tornando-se produtos de sua

degradação aproveitados pelo seu metabolismo construtivo e energético (GAYLARDE et al.,

2005).

A biorremediação e uma tecnologia complexa e sua implementação ocorre em etapas

que compreendem um estudo do ambiente, do tipo de contaminante, dos riscos e da

legislação. Inicialmente, é necessária uma caracterização do tipo e da quantidade do poluente,

bem como avaliações de natureza biológica, geológica, geofísica e hidrológica do sítio

contaminado (GAYLARDE et al., 2005).

Inicialmente, as avaliações biológicas ocorrem em laboratório, visando à otimização

da biodegradação do composto. São realisados testes de bioestimulação, que compreende na

adição de nutrientes e/ou surfactantes, e os testes de bioaumentação, que é baseado na adição

de culturas de microrganismos biodegradadores ou mediadores. Baseando-se nos dados

obtidos, é escolhida a técnica de biorremediação mais adequada para a situação e testes de

campo são realizados, para verificar a eficiência do processo in situ (GAYLARDE et al.,

2005).

2.4 BIOSSURFACTANTES

Os surfactantes têm como função reduzir a tensão superficial, ou seja, reduzir a

energia livre do sistema. Isso se da devido à substituição da maior parte das moléculas de alta

energia na interface diminuindo, assim, a tensão superficial e interfacial dos líquidos. Estes

são constituídos por uma porção hidrofóbica e um grupo hidrofílico, sendo conhecidos

também por substâncias anfifílicas (BUENO, 2008).

As moléculas surfactantes possuem duas propriedades fundamentais:

a) As moléculas saem da solução para se posicionar nas interfaces (ex: ar/líquido,

líquido/líquido) com orientação específica, que também pode ser conhecida como adsorção;

b) Formando agregados orientados, ou também chamados de micelas. Na formação de

micelas em solução, a mesma conferirá as propriedades de detergência e solubilização

(BUENO, 2008).

16

Estas propriedades fazem os surfactantes serem adequados para uma ampla gama de

aplicações industriais envolvendo: detergência, emulsificação, lubrificação, capacidade

espumante, capacidade umectante, solubilização e dispersão de fases. A maior utilização dos

surfactantes se concentra na indústria de produtos de limpeza (sabões e detergentes), na

indústria de petróleo e na indústria de cosméticos e produtos de higiene (NITSCHKE;

PASTORE, 2002).

Os surfactantes existentes e disponíveis comercialmente, em sua maioria, são

sintetizados a partir derivados de petróleo. A crescente preocupação ambiental da sociedade

combinada com novas legislações de controle do meio ambiente levaram os cientistas a

pesquisar surfactantes biológicos como substitutos dos surfactantes já existentes

(NITSCHKE; PASTORE, 2002).

Biossurfactantes são compostos de origem microbiana que exibem propriedades

surfactantes, ou seja, tem por função diminuir a tensão superficial e interfacial formando

microemulsões nas quais os hidrocarbonetos podem solubilizar-se em água ou a água

solubilizar-se em hidrocarbonetos, possuindo alta capacidade emulsificante, são denominados

biossurfactantes que consistem de subprodutos metabólicos de bactérias, fungos e leveduras

(OLIVEIRA, 2010). Tais compostos são capazes de dividir interfaces entre fluídos com

diferentes graus de polaridade e pontes de hidrogênio tais como óleo/água ou ar/água

interfacial (NITSCHKE; PASTORE, 2002).

Os biossurfactantes possuem aplicações potenciais em diferentes setores industriais

como formulações farmacêuticas e cosméticas, petroquímica, médica, produtos alimentícios e

nas áreas de proteção ao meio ambiente (SINGH; CAMEOTRA, 2004 apud BUENO, 2008).

De um modo geral, os biossurfactantes possuem uma estrutura composta por uma

porção hidrofílica que consiste de aminoácidos, peptídeos, ânions ou cátions; mono, di ou

polissacarídeos e uma porção hidrofóbica consistindo de ácidos graxos saturados ou

insaturados (SINGH; CAMEOTRA, 2004 apud BUENO, 2008).

Os biossurfactantes produzidos por microrganismos procariontes ou eucariontes

podem possuir diferentes estruturas químicas, podendo ser de baixo ou alto peso molecular.

Estruturas de baixo peso molecular são geralmente glicolipídeos contendo os açúcares

ramnose, soforose e trealose e lipopeptídeos que consistem de polipeptídios curtos e os de alto

peso molecular como os biopolímeros que incluem lipoproteínas, complexos

lipopolissacarídeo-proteína e complexos polissacarídeo-proteínas-ácidos graxos,

biossurfactantes que possuem alto peso molecular está relacionado à produção de emulsão

17

(CHRISTOFI; IVSHINA, 2002; RON; ROSENBERG, 2002, LANG, 2002; SULLIVAN,

1998 apud BUENO, 2008).

2.4.1 FATORES QUE AFETAM A PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE

2.4.1.1 Fonte de carbono - indutor

Cerqueira (2007) relata que a fonte de carbono é um dos fatores mais importantes para

a produção de todo e qualquer biossurfactante, a composição do meio de cultivo vai

influenciar diretamente a quantidade e as propriedades dos biossurfactantes a serem

produzidos. As fontes de carbono que normalmente são usadas podem ser divididas em três

categorias: carboidratos, hidrocarbonetos e óleos vegetais.

Alguns microrganismos produzem biossurfactantes somente utilizando fontes de

carbono hidrofóbicas, hidrocarbonetos ou óleos vegetais, outros somente usam carboidratos, e

outros ainda usam diversas fontes de carbono, em combinação ou individualmente (KIM et al,

1997, apud CERQUEIRA, 2007).

2.4.1.2 Fonte de nitrogênio

A fonte de nitrogênio possui um papel importante na produção de biossurfactante,

podendo interferir na mesma, isso pode ocorrer tanto na quantidade como na composição do

biossurfactante, tais estudos, foram realizados para avaliar o efeito da fonte de nitrogênio na

produção de biossurfactante por Pseudomonas aeruginosa e Rhodococcus spp., onde foram

verificadas que máximas produções somente puderam ser alcançadas quando nitrato foi

utilizado como fonte de nitrogênio (DESAI; BANAT, 1997).

Em estudos realizados por Makkar; Cameotra (1997) foram testadas diferentes fontes

de nitrogênio (0,3%) na produção de biossurfactantes por Bacillus subtilis, tais autores

concluíram que nitrato de sódio, nitrato de potássio e ureia foram as melhores fontes de

nitrogênio testadas usando tal microrganismo.

18

2.4.1.3 Fontes de outros nutrientes

Estudos indicam que a adição de MnSO4 resultou em significante aumento da

produção de biossurfactante e crescimento celular, enquanto CaCl2 e NaCl não apresentaram

efeito algum e que a maior concentração de biossurfactante foi encontrada para a

concentração de 50 mg.L-1 de MnSO4.4H2O, já para a fonte de fosfato, suprida por K2HPO4 e

NaH2PO4 na proporção em peso de 7:1, obteve-se um resultado diferente na produção de

biossurfactante quando fora comparado com o crescimento celular, a máxima concentração

celular somente foi obtida quando 9 g/L de fosfatos foram utilizados, enquanto que a maior

concentração de biossurfactante ocorreu quando utilizou-se 12 g/L de fosfatos (KIM et al.,

1997, citados por PINTO, 2008).

2.4.1.4 Fatores ambientais

Desai; Banat (1997) relatam que alguns fatores ambientais e diferentes condições de

crescimento como a temperatura, agitação e disponibilidade de oxigênio também podem

afetar a produção de biossurfactante através do seu efeito no crescimento ou atividade celular.

Segundo Turkovskaya et al. (2001), durante seus estudos da produção de

biossurfactante por Pseudomonas aeruginosa em diferentes temperaturas, pH e agitação,

observaram que na ausência de agitação, pouco biossurfactante foi sintetizado a temperatura

ambiente, pois a tensão superficial do meio livre de células foi de 66,9 mN/m, não

apresentando atividade emulsificante. Quando se manteve o meio sem agitação e aumentando

a temperatura para 30ºC, a tensão superficial reduziu consideravelmente (37,4 mN/m),

entretanto a atividade emulsificante permenaceu baixa (10%). Quando se utilizou agitação em

shaker a 160 rpm e temperaturas de 20 e 30ºC, o crescimento celular e rendimento do

surfactante foram superiores, com redução da tensão superficial para 25 mN.m-1, e atividade

emulsificante de 60%. O ótimo pH para o crescimento do microrganismo e biossíntese de

surfactante foi de 7,0-8,0.

19

2.4.2 APLICAÇÕES DOS BIOSSURFACTANTES

As propriedades físico-químicas, características dos biossurfactantes, torna a indústria

petrolífera o maior mercado para os biossurfactantes, pois os mesmos seriam utilizados na

produção de petróleo ou incorporados em formulações de óleos lubrificantes. Outras

aplicações incluem biorremediação, dispersão no derramamento de óleos, remoção e

mobilização de resíduos de óleo em tanques de estocagem, recuperação melhorada de

petróleo, locais poluídos por compostos relacionados à liberação de hidrocarbonetos no

ambiente decorrente da atividade industrial (OLIVEIRA, 2010).

Os biossurfactantes com estrutura anfipática atuam sobre os hidrocarbonetos

emulsificando-os por meio da formação de micelas, que se acumulam na interface entre

líquidos de diferentes polaridades. Isto disponibiliza poluentes hidrofóbicos do solo como os

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs) e conferem a capacidade de detergência,

emulsificação, lubrificação, solubilização e dispersão de fases (KUIPER et al., 2004; BICCA;

FLECK; AYUB, 1999 apud BUENO, 2008; DESAI; BANAT, 1997).

Os biossurfactantes atualmente estão sendo usados nos campos que incluem

formulação de produção de produtos de higiene e cosméticos, mineração, agricultura e as

indústrias de papel, têxtil, cerâmica, alimentos e a indústria farmacêutica, as quais podem ser

observadas na Tabela 1 (PIROLLO, 2006).

Tabela 1 Funções e aplicações industriais dos biossurfactantes.

Funções Campos de aplicação

Emulsionantes e

dispersantes

Cosméticos, tintas, biorremediação, óleos e alimentos

Solubilizantes Produtos farmacêuticos e de higiene

Agentes molhantes e

penetrantes

Produtos farmacêuticos, têxteis e tintas

Detergentes Produtos de limpeza e agricultura

Agentes espumantes Produtos de higiene, cosméticos e flotação de

minérios

Agentes espessantes Tintas e alimentos

Sequestrantes de metais Mineração

Formadores de vesículas Cosméticos e sistemas de liberação de drogas

Demulsificantes Tratamento de resíduos e recuperação de petróleo

Redutores de viscosidade Transporte em tubulações e oleodutos

(continua)

20

Dispersantes Misturas carvão-água e calcáreo-água

Fungicidas Controle biológico de fitopatógenos

Fonte: PIROLLO, 2006.

(conclusão)

2.4.3 CLASSIFICAÇÃO E NATUREZA QUÍMICA DOS BIOSSURFACTANTES

Os biossurfactantes são classificados de acordo com sua natureza bioquímica e por sua

origem microbiana, diferentemente dos surfactantes sintéticos que são classificados a partir de

sua natureza e através do seu grupo polar, de acordo com seus constituintes os

biossurfactantes são divididos em classes, na qual podem ser classificados como glicolipídeos,

lipopeptídeos, ácidos graxos, lipídeos neutros, fosfolipídeos e biossurfactantes poliméricos

(LIMA, 2007). A Tabela 2 descreve os principais grupos de surfactantes de origem natural e

sintética.

Tabela 2 Principais grupos de surfactantes de origem natural e sintética.

Fonte: LIMA, 2007.

2.4.4 MICRORGANISMOS PRODUTORES DE BIOSSURFACTANTES

NATURAIS SINTÉTICOS

Alquil poliglicosídeos Alcanolaminas

Biossurfactantes Alquil e aril éter carboxilatos

Amidas de ácidos graxos Alquil aril sulfatos

Aminas de ácidos graxos Alquil aril éter sulfatos

Glucamidas Alquil etoxilados

Lecitinas Alquil sulfonatos

Derivados de proteínas Alquil fenol etoxilados

Saponinas Aminoóxidos

Sorbitol e ésteres de sorbitan Betaínas

Ésteres de sacarose Co-polímeros de óxido de etil/propileno

Sulfatos de álcoois graxos

naturais

Ácidos graxos etoxilados

21

Bezerra (2006) afirma que o êxito ou fracasso em um processo fermentativo começa

com a escolha do microrganismo que pode ser selecionado de materiais contaminados ou não,

certos critérios devem ser considerados na hora da escolha das cepas, para que só assim haja

uma boa produção do metabólito que se deseja.

Uma grande variedade de microrganismos tem a capacidade de produzir

biossurfactantes, evidenciando que a quantidade e a qualidade são influenciadas pela natureza

do substrato e as condições de cultivo (SILVA, 2011).

Alguns critérios recebem destaque tais como, a cepa escolhida deverá ser

geneticamente estável, tenha uma alta velocidade de crescimento, seja pura (livre de

contaminantes), que os custos dos nutrientes sejam baratos, no presente trabalho, será

apresentado o uso de substratos agroindustriais, que tem por finalidade baratear a produção

(BEZERRA, 2006).

Ao escolher o microrganismo desejado, deve-se observar se o mesmo possui elevada

eficiência na conversão do substrato em produto, ou seja, quanto maior a afinidade do

microrganismo com o meio oferecido, maior será a eficiência de conversão, sendo assim,

resultando no acumulo do produto no meio, de forma a obter elevada concentração deste no

caldo fermentado (BEZERRA, 2006).

As classes de biossurfactantes e microrganismos produtores estão distribuídos entre

uma variedade de gêneros, apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3Principais classes de biossurfactantes e microrganismos envolvidos

TIPO DE BIOSSURFACTANTE MICRORGANISMO

GLICOLIPÍDIOS

- Ramnolipídios

- Roforolipídios

- Rrehalolipídios

Pseudomonas aeruginosa

Torulopsis bombicola, T. apicola

Rhodococcus erythropolis,

Mycobacterium sp.

LIPOPEPTÍDIOS E

LIPOPROTEÍNAS

- Peptídio-lipídio

- Viscosina

- Serrawetina

- Surfactina

- Subtilisina

- Gramicidina

- Polimixina

Bacillus licheniformis

Pseudomonas fluorescens

Serratia marcescens

Bacillus subtilis

Bacillus subtilis

Bacillus brevis

Bacillus polymyxa

ÁCIDOS GRAXOS, LIPÍDIOS

NEUTROS E FOSFOLIPÍDIOS

(continua)

22

- Ácidos graxos

- Lipídios neutros

- Fosfolipídios

Corynebacterium lepus

Nocardia erythropolis

Thiobacillus thiooxidans

SURFACTANTES POLIMÉRICOS

- emulsan

- biodispersan

- liposan

- carboidrato-lipídio-proteína

- manana-lipídio-proteína

Acinetobacter calcoaceticus

Acinetobacter calcoaceticus

Candida lipolytica

Pseudomonas fluorescens

Candida tropicalis

SURFACTANTES

PARTICULADOS

- vesículas

- células Várias bactérias

Acinetobacter calcoaceticus

Fonte: PIROLLO, 2006.

(conclusão)

2.4.5 PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR Bacillus pumilus

Existem poucos dados e artigos disponíveis na literatura fazendo referência sobre a

produção de biossurfactantes por B. pumilus, o microrganismo estudado no presente trabalho.

Bugay (2009) revela que os primeiros estudos foram reportados por Morikawa et al.

(1992), que identificaram B. pumilus como sendo um novo produtor de surfactina, porém

outros autores testaram a produção de surfactina por diversas espécies de Bacillus e

concluíram que o biossurfactante produzido por B. pumilus é similar, mas não idêntico, à

surfactina.

Esse tipo de microrganismo se dá em solo, água, ar e em decomposição de tecidos

vegetais, são frequentemente encontrados em simbiose no desenvolvimento radicular de

plantas. Esta bactéria tem a capacidade de produzir inúmeras moléculas, tais como

biossurfactantes, proteases, lignocelulases e uma variedade de toxinas e antibióticos

(OLIVIERA, 2010).

De acordo com estudos realizados, a bactéria B. pumilus produz um lipopeptídeo da

família da surfactina, chamado de pumilacidina (OLIVEIRA, 2010).

Bueno (2008) isolou inúmeros microrganismos de diferentes amostras de solo

contaminado com hidrocarbonetos para avaliar a produção de biossurfactantes. Segundo a

pesquisa, o microrganismo que melhor produziu foi à bactéria identificada como Bacillus

pumilus utilizando como fonte de carbono baixas concentrações de sacarose, adicionado de

óleo diesel como indutor.

23

2.4.6 MEIO DE CULTIVO

O sucesso da produção industrial de biossurfactantes depende diretamente do

desenvolvimento de processos mais baratos e de uso de matérias primas de baixo custo, para

que assim, haja viabilidade na produção, uma vez que estas representam entre 10% a 30% do

custo total, (CAMEOTRA; MAKKAR, 1998).

A escolha da fonte de carbono não pode ser somente induzida pelo seu custo,

disponibilidade e pelas características nutricionais do agente fermentativo, é extremamente

necessário que se leve em consideração o tipo de aplicação que se deseja do biossurfactante a

ser produzido. Logo, a fonte de carbono é um fator importante no processo de síntese, uma

vez que a alteração do substrato geralmente resulta em modificações da estrutura química do

biossurfactante, ocasionando variação das suas propriedades físico-químicas (LIMA, 2007).

Estudos apontam diferentes tipos de resíduos que podem ser usados como substratos

alternativos na produção de biossurfactantes. Ter o conhecimento da composição adequada de

nutrientes que permita o crescimento celular e o acumulo do produto de interesse é um dos

maiores problemas encontrados durante a escolha do resíduo a ser utilizado. O

estabelecimento de um processo biotecnológico a partir desses substratos alternativos também

apresenta outra dificuldade, que é a padronização devido ás variações naturais de composição

bem como os custos de transporte, armazenamento e tratamento prévio (NITSCHKE;

PASTORE, 2003).

Os resíduos agroindustriais possuem elevados teores de carboidratos e lipídeos,

mostrando-se como substratos interessantes para a produção de biossurfactantes (MAKKAR;

CAMEOTRA, 1998).

As informações descritas no presente trabalho sobre o trigo justificam-se devido ao

fato de que o resíduo gerado durante o processamento, beneficiamento do trigo, o farelo de

trigo, fora utilizado como substrato alternativo para a produção de biossurfactante.

O trigo ocupa o primeiro lugar em volume dos cereais mais produzidos no mundo, já

no Brasil, 90% da produção do grão ocorre no sul do país, destacando-se a região norte-

noroeste como a principal produtora do grão no estado do Rio Grande do Sul

(http://www.cnpt.embrapa.br).

24

Silva (2006) relata que o consumo do trigo não de se dá de forma direta,

primeiramente, os grãos devem ser submetidos a um processo de moagem e refinamento para

só assim possa ser obtida a farinha de trigo, tal processo gera um resíduo que é a casca do

grão ou também conhecido como farelo de trigo. A farinha refinada é comercializada para fins

industriais e alimentícios enquanto o farelo é comercializado de forma incorporada em rações

animais, tendo em vista ser um material rico em fibras e proteínas.

Durante o processo de moagem e refinamento do trigo, para a obtenção da farinha de

trigo, 28% do grão não é aproveitado, originando o farelo de trigo (PINTO, 2008).

Portanto, a utilização deste resíduo agroindustrial para a produção de biossurfactante

torna-se uma alternativa atrativa e de baixo custo. A Tabela 4 apresenta a composição

centesimal em base seca do farelo de trigo.

Tabela 4 Composição centesimal do farelo de trigo

CONSTITUINTES Composição centesimal (%)

Lipídios 3,43

Proteínas 19,79

Fibras 43,69

Carboidratos digeríveis 27,92

Cinzas 6,33

Fonte: RAUPP et al. (2000), apud PINTO 2008.

2.5 MATERIAL E MÉTODOS

2.5.1.1 Microrganismos e manutenção do inóculo

Decesaro et al. (2013) isolou o microrganismo utilizado neste trabalho, tais cepas

foram identificados como sendo a bactéria Bacillus pumilus, cepa originalmente isolada de

solo contaminado com óleo diesel.

A bactéria foi mantida em tubos inclinados contendo ágar padrão para contagem

(PCA) sob-refrigeração a 4ºC, sendo repicadas a cada 30 d.

25

2.5.1.2 Preparo do inóculo

O preparo do inoculo foi realizado em tubos de ensaio contendo 5 mL de meio

nutriente, pH 7, com incubação por 24 h a 30ºC. O meio nutriente foi composto por (g/L):

triptona 5, extrato de levedura 2,5 e glicose 1.

2.5.1.3 Fermentação submersa

O meio fermentativo foi composto por um extrato de farelo de trigo (5% p/v) (fonte de

carbono) adicionado de nutrientes. A partir da metodologia usada por Pinto (2008), ao extrato,

foram adicionados com nutrientes (mM): NH4NO3 (50,0), Na2HPO4 (3,0), KH2PO4 (3,0),

CaCl2 (0,007), MgSO4.7H2O (0,8), EDTA sódico (0,004) e FeSO4.7H2O (2,0).

Como indutores foram utilizados gasolina, óleo de soja e óleo diesel na quantidade de

1% e como fontes de nitrogênio foram usados NH4NO3 (4,0 g/L), ureia (3,0 g/L) e NaNO3

(4,25 g/L).

As fermentações foram realizadas em frascos Erlenmeyers de 125 mL contendo 5 mL

de inóculo e 45 mL de meio de cultivo. Amostragens foram realizadas no tempo inicial e 72

horas para a avaliação da produção de bioemulsificantes em mesa agitadora a 100rpm a uma

temperatura de 30ºC. As análises foram realizadas em triplicata.

2.5.1.4 Planejamento experimental

A Tabela 5 mostra o planejamento experimental utilizado para avaliar a influencia dos

fatores estudados.

26

Tabela 5 Planejamento Fatorial Completo 3² utilizado para avaliar a influência da fonte de N e

indutor sobre a produção de biossurfactante por B. pumilus.

2.5.1.5 Determinação da produção de biossurfactantes

Os caldos fermentados livres de células foram submetidos à análise de tensão

superficial, análise da concentração celular e atividades emulsificantes óleo em água e água

em óleo.

2.5.1.6 Determinação da tensão superficial

A medida da tensão superficial foi realizada, nas amostras centrifugadas, livres de

células, através do tensiômetro Krüss utilizando um anel de platina.

2.5.1.7 pH

O pH foi determinado através de leitura direta em pHmetro digital, utilizando eletrodo

de vidro.

Exp. X1 (Fonte de nitrogênio) X2 (Indutor)

1 -1 (NH4NO3) -1 (Óleo diesel)

2 0 (Ureia) -1 (Óleo diesel)

3 1 (NaNO3) -1 (Óleo diesel)

4 -1 (NH4NO3) 0 (Gasolina)

5 0 (Ureia) 0 (Gasolina)

6 1 (NaNO3) 0 (Gasolina)

7 -1 (NH4NO3) 1 (Biodiesel)

8 0 (Ureia) 1 (Biodiesel)

9 1 (NaNO3) 1 (Biodiesel)

27

2.5.1.8 Determinação da concentração de células

A concentração de células no meio fermentado foi realizada após a centrifugação de

um volume conhecido de amostra, 50 mL, feita secagem a 60ºC por 24h em cápsulas de

alumínio taradas.

2.5.1.9 Atividade emulsificante

As amostras foram centrifugadas e filtradas em papel filtro para a determinação da

atividade emulsificante.

As atividades emulsificantes óleo em água e água em óleo foram determinadas

segundo metodologia proposta por Pinto et al. (2009), utilizando-se 3,5 mL de extrato e 2 mL

de óleo de milho. A mistura foi agitada em agitador Vórtex a 700 rpm por 1 min. Após 60 min

de repouso foi lida a absorbância do meio emulsificado óleo/água em espectrofotômetro a 610

nm. A absorbância da atividade emulsificante óleo/água foi obtida a partir da diminuição da

absorbância da amostra da absorbância do branco conforme a Equação 1. Após 24 h de

repouso foi realizada a leitura em paquímetro, da altura da emulsão água/óleo formada e da

altura total (altura da emulsão mais altura da camada remanescente de óleo), gerando a

atividade emulsificante água em óleo de acordo com a Equação 2. Três brancos foram

realizados, utilizando água no lugar da amostra e os extratos obtidos a partir dos meios de

cultivo.

A Figura 1 apresenta o esquema da formação das emulsões A/O e O/A no tubo de

ensaio. A formação da emulsão O/A é estimada pela leitura da absorbância 60 min após a

agitação, enquanto a estabilidade da emulsão A/O é estimada pela medida da altura da camada

superior emulsificada em comparação com a altura total de líquido do sistema.

28

Figura 1Tubo de ensaio com emulsão O/A e emulsão A/O

Fonte: PINTO et al (2009).

DABSABSAE brancoamostraAO )(/ Equação 1.

DEEAE brancoamostraOA )(/ Equação 2.

Onde:

AE = atividade emulsificante (AE);

O/A = óleo em água;

A/O = água em óleo;

ABS = absorbância;

E = relação centesimal entre a altura da emulsão água/óleo e a altura total;

D = diluição da amostra em água.

2.5.1.10 Tratamento dos dados

Para verificar o potencial do substrato utilizado bem como dos indutores e fontes de

nitrogênio para a produção de biossurfactante usando a bactéria B. pumilus como

microrganismo produtor, foram feitas comparações dos valores das atividades emulsificantes

água-óleo e óleo-água bem como os valores referentes à tensão superficial em cada

experimento.

Os resultados de atividade emulsificante obtidos a partir dos experimentos do

planejamento experimental foram tratados por análise de variância (ANOVA) a um nível de

significância de 5%, através do programa Statistica 6.0.

29

2.6 Resultados e discussões

2.6.1 Tensão superficial

A determinação da tensão superficial foi utilizada como indicador qualitativo da

produção de biossurfactante. Oliveira (2010) afirma que quanto maior for à concentração do

tenso-ativo no meio, maior será a redução da tensão superficial. A tensão superficial obtida

nos meios de fermentação para os experimentos que utilizaram óleo diesel (-1), gasolina (0) e

biodiesel (1) podem ser observados nas Figuras 2, 3 e 4.

Os resultados obtidos referentes à tensão superficial, utilizando farelo de trigo como

meio base para a fermentação submersa e B. pumilus como microrganismo produtor, foram

significativos para os indutores testados, bem como para as fontes de nitrogênio.

Figura 2 Tensão superficial dos meios de fermentação no início e fim do processo

fermentativo para os experimentos que utilizaram óleo diesel como indutor

30

Figura 3 Tensão superficial dos meios de fermentação no início e fim do processo

fermentativo para os experimentos que utilizaram biodiesel como indutor

Figura 4 Tensão superficial dos meios de fermentação no início e fim do processo

fermentativo para os experimentos que utilizaram gasolina como indutor

Os resultados mostram que o meio composto pelo indutor óleo diesel acrescido de

ureia como fonte de nitrogênio obteve uma redução na tensão superficial para 37 mN/m. Esse

resultado indica que a bactéria Bacillus pumilus produz um biossurfactante com alto poder

redutor de tensão superficial.

31

Os experimentos que utilizaram biodiesel como indutor apresentaram redução da

tensão superficial, porém, com a utilização de nitrato de sódio como fonte de nitrogênio, onde

a tensão superficial reduziu para 42 mN/m. Usando gasolina como indutor não foi observada

redução da tensão superficial.

De acordo com a literatura, os microrganismos para serem considerados bons

produtores de biossurfactantes devem reduzir a tensão superficial do sobrenadante em relação

com a da água abaixo de 40 mNm-1

e em torno de 35 mNm-1

(DESAI; BANAT, 1997;

BATISTA et al., 2006).

Ambos os resultados mostram-se mais expressivos que o encontrado por Bento e

colaboradores (2003), onde o valor da tensão superficial do biossurfactante produzido por

Bacillus pumilus, utilizando meio de cultura a base de sais e extrato de levedura como fonte

de carbono, foi de 49,5 mN/m.

Comparando-se os resultados obtidos no presente trabalho, os mesmos mostram-se

superiores aos encontrados de tensão superficial por Oliveira (2010), que obteve valores de

tensão superficial de 45 mN/m utilizando Bacillus pumilus e óleo residual de fritura na

concentração de 2 % em 24 horas de fermentação e 5 % em 48 horas e 96 horas de

fermentação. Utilizando melaço a melhor redução da tensão superficial foi nas concentrações

de 4 e 5 % em 48, 72 e 96 horas de fermentação no valor de 42 mN/m.

Bugay (2009) obteve a maior redução de tensão superficial utilizando glicerol e

glucose como fonte de carbono, para as cepas de B. pumilus e B. subtilis, onde a tensão inicial

era de 58mN/m reduzida a 51,4 mN/m e 49,7 mN/m respectivamente.

Segundo Makkar e Rockne (2003), o biossurfactante também é uma fonte de carbono

e muitas vezes mais assimilável que a fornecida para a sua produção, portanto, o aumento na

tensão superficial pode ser explicado pelo fato dos isolados possivelmente terem consumido o

biossurfactante por elas inicialmente sintetizado, permitindo assim a continuidade do

crescimento dos isolados, consequentemente aumentando a tensão superficial.

O uso do farelo de trigo como substrato alternativo para a produção de biossurfactante

quando acrescido de fontes de nitrogênio tais como ureia e nitrato de sódio e indutores como

óleo diesel e biodiesel apresentaram redução na tensão superficial.

2.6.2 Determinação da concentração de células

32

A Tabela 6 mostra os valores referentes à concentração de células obtidas pelos

experimentos em seus respectivos tempos.

Tabela 6 Concentração celular e redução da tensão superficial

Tempo

Exp. Fonte de

nitrogênio Indutor

0

horas(g/mL)

72 horas

(g/mL)

% aumento

na

concentração

de células

%

redução

da TS*

1 NH4NO3 óleo diesel 0,198 0,436 120 4,4

2 Ureia óleo diesel 0,218 0,467 114 19,8

3 NaNO3 óleo diesel 0,194 0,386 99,0 9,2

4 NH4NO3 Gasolina 0,203 0,219 7,9 -

5 Ureia Gasolina 0,194 0,214 10,3 -

6 NaNO3 Gasolina 0,190 0,201 5,8 0,9

7 NH4NO3 Biodiesel 0,289 0,389 34,6 4,7

8 Ureia Biodiesel 0,292 0,448 53,4 7,6

9 NaNO3 Biodiesel 0,303 0,401 32,3 6,3

*TS – Tensão superficial

Pode-se observar que no tempo de 72 horas, o experimento que fez uso do indutor óleo

diesel e fonte de nitrogênio nitrato de amônia obteve o resultado mais expressivo de

concentração celular, atingindo 120% de crescimento celular, comparando os resultados

obtidos para a redução da tensão superficial, o experimento utilizando o indutor óleo diesel e

a fonte de nitrogênio a ureia obteve o melhor resultado, com isso, podemos afirmar que o

crescimento do microrganismo não influenciou na redução da tensão superficial.

Em testes feitos em meio modelo para produção de biossurfactante utilizando como

microrganismo produtor a bactéria Bacillus subtilis, Bueno (2008) afirma que o crescimento

celular é diretamente proporcional à produção de biossurfactante e que, por sua vez, está

relacionada à diminuição da tensão superficial e ao índice de emulsificação.

2.6.3 pH

Os valores obtidos do pH para os diferentes extratos livres de células avaliados podem

ser observados na Tabela 7, que apresenta os valores referentes a fermentação 0h e 72 horas.

33

Tabela 7 pH do extrato livre de células

Experimento Fonte de nitrogênio Indutor 0 horas 72 horas

1 NH4NO3 óleo diesel 7,0 7,2

2 Ureia óleo diesel 7,0 7,5

3 NaNO3 óleo diesel 7,0 7,0

4 NH4NO3 Gasolina 6,8 6,8

5 Ureia Gasolina 7,0 7,0

6 NaNO3 Gasolina 7,2 7,1

7 NH4NO3 Biodiesel 7,4 7,2

8 Ureia Biodiesel 7,1 7,3

9 NaNO3 Biodiesel 6,7 6,9

Turkovskaya et al. (2001) observou que durante seus estudos da produção de

biossurfactante por Pseudomonas aeruginosa o ótimo pH para o crescimento do

microrganismo e biossíntese de surfactante foi de 7,0-8,0.

Os resultados apresentados sugerem que no experimento que o pH variou de 7 no

tempo 0 horas à 7,5 no tempo de 72 horas, obteve-se a maior redução na tensão superficial.

Observa-se então que o ótimo pH para a produção de biossurfactante em meio contendo farelo

de trigo como substrato, óleo diesel como indutor e ureia como fonte de nitrogênio e usando a

bactéria Bacillus pumilus como microrganismo produtor, que o pH sugerido seja o que

encontre-se em uma faixa de 7 à 8.

2.6.4 Atividade emulsificante

A Tabela 8 apresenta os resultados de atividade emulsificante óleo em água e água em

óleo para os experimentos do Planejamento Fatorial Completo 32.

34

Tabela 8 Atividades emulsificantes óleo em água e água em óleo para os tempos inicial e em

72 horas.

*Resultados média ± desvio padrão

As maiores atividades emulsificantes O/A foram encontradas no tempo de 72 horas,

apresentado na Tabela 8, ambas as atividades utilizando óleo diesel como indutor, porém

diferentes fontes de nitrogênio. A maior atividade ocorre quando ao meio fora adicionado

uréia como fonte de nitrogênio (1,201±0,027 UE) e óleo diesel como indutor.

Com relação às AE A/O, os melhores resultados foram obtidos no tempo de 72 horas.

O experimento que apresentou o resultado mais expressivo foi o que fora adicionado biodiesel

como indutor e uréia como fonte de nitrogênio, (28,482±0,572 UE).

Bueno (2008) utilizou vários microrganismos isolados de amostras de solo

contaminado com hidrocarbonetos para avaliar a produção de biossurfactantes. Nesta pesquisa

o microrganismo que melhor produziu foi à bactéria identificada como Bacillus pumilus

utilizando como fonte de carbono baixas concentrações de sacarose, adicionado de óleo diesel

como indutor.

Bento e colaboradores (2003) estudaram a caracterização dos biossurfactantes

produzidos por populações microbianas de solos dos Estados Unidos e da China

contaminados com óleo diesel. Dentre as bactérias produtoras o B. pumilus foi à bactéria que

reduziu significativamente a tensão superficial, e aumentou a emulsificação em 59%.

Biossurfactantes produzidos por Bacillus pumilus em amostra isolada a partir de resíduos de

óleo (CALVO et al., 2008), demonstraram ser esta bactéria um agente promissor para

aplicação ambiental.

2.6.4.1 Análise de variância

Exp. Fonte de

nitrogênio Indutor

AE O/A (UE)* AE A/O (UE)*

0 h 72 h 0 h 72 h

1 NH4NO3 óleo diesel 0,458±0,046 0,564±0,030 26,192±0,455 25,522±0,609

2 Ureia óleo diesel 0,316±0,213 1,201±0,027 24,665±0,783 24,615±0,614

3 NaNO3 óleo diesel 0,388±0,576 1,286±0,123 21,960±0,248 22,905±0,000

4 NH4NO3 gasolina 0,428±0,049 0,357±0,080 25,208±1,290 24,613±0,354

5 Ureia gasolina 0,423±0,059 0,614±0,068 24,167±0,327 22,284±0,522

6 NaNO3 gasolina 0,261±0,039 0,545±0,057 24,589±0,651 25,362±0,092

7 NH4NO3 biodiesel 0,183±0,011 0,329±0,068 24,572±0,5427 24,578±0,133

8 Ureia biodiesel 0,570±0,186 0,459±0,139 22,138±0,581 28,482±0,572

9 NaNO3 biodiesel 0,404±0,056 0,219±0,067 22,548±0,772 29,174±0,790

35

As análises de variância (ANOVA) apresentadas nas Tabelas 10 e 12 foram

construídas a partir dos dados apresentados na Tabela 9, onde podem ser observados os

valores adimensionais obtidos para as atividades emulsificantes O/A e A/O para todos os

experimentos, relacionando-se os resultados obtidos no tempo de 72 h em função do tempo

inicial. A partir da análise de variância foi possível obter as Tabelas 11 e 13 que representam

os efeitos estimados das variáveis sobre a atividade emulsificante O/A e A/O,

respectivamente.

Tabela 9 Adimensionais das atividades emulsificantes A/O e O/A para os diferentes

experimentos realizados no Planejamento Fatorial Completo 3²

Exp. Fonte de

nitrogênio

Indutor AOAdm OAAdm

1 NH4NO3 óleo diesel 0,970935 1,28833

2 NH4NO3 óleo diesel 0,991017 1,046967

3 NH4NO3 óleo diesel 0,961948 1,391101

4 Ureia óleo diesel 0,942126 15,55118

5 Ureia óleo diesel 1,032257 2,566667

6 Ureia óleo diesel 1,021319 3,020356

7 NaNO3 óleo diesel 1,040273 4,0625

8 NaNO3 óleo diesel 1,032139 3,01847

9 NaNO3 óleo diesel 1,057207 2,997778

10 NH4NO3 gasolina 0,949976 0,80593

11 NH4NO3 gasolina 0,980222 2,872017

12 NH4NO3 gasolina 1,083247 0,993348

13 Ureia gasolina 0,941447 1,479058

14 Ureia gasolina 0,895239 1,473552

15 Ureia gasolina 0,928907 1,412245

16 NaNO3 gasolina 0,99172 1,911263

17 NaNO3 gasolina 1,150422 1,772059

18 NaNO3 gasolina 0,961198 2,715596

19 NH4NO3 biodiesel 1,008951 1,335052

20 NH4NO3 biodiesel 0,941084 2,17033

21 NH4NO3 biodiesel 1,04799 1,94186

22 Ureia biodiesel 1,246762 0,546512

23 Ureia biodiesel 1,326594 1,5

24 Ureia biodiesel 1,287581 0,646503

25 NaNO3 biodiesel 1,388859 0,52381

26 NaNO3 biodiesel 1,219739 0,760925

27 NaNO3 biodiesel 1,27515 0,376087

36

Tabela 10 ANOVA dos resultados de atividade emulsificante O/A em função das variáveis

estudadas

Variáveis Soma dos

quadrados

Grau de

liberdade

Quadrado

médio F p

(1)FN (L) 1,0241 1 1,02414 0,143877 0,708093

*FN (Q) 11,0331 1 11,03307 1,549981 0,226237

(2)ind (L) 35,1185 1 35,11854 4,933629 0,036943

*ind (Q) 3,5647 1 3,56474 0,500793 0,486582

Erro 156,6003 22 7,1182

Total SS 207,3408 26

ANOVA; Var.:oa; R-sqr=,24472; Adj:,1074 *FN - Fonte de nitrogênio; *ind- indutor

Tabela 11 Efeitos estimados das variáveis sobre a atividade emulsificante óleo em água

Efeito t(22) P

Média / Interc. 2,22887 4,34092 0,000262

(1)*FN (L) 0,47706 0,37931 0,708093

FN (Q) 1,35604 1,24498 0,226237

(2)*ind (L) -2,79359 -2,22118 0,036943

ind (Q) -0,77079 -0,70767 0,486582

*FN - Fonte de nitrogênio; *ind- indutor

Verifica-se que a variável indutor foi significativa sobre a AE óleo em água (p<0,05).

O efeito do indutor foi negativo, ou seja, houve diminuição da atividade emulsificante óleo

em água passando-se do nível inferior para o superior desta variável.

As Figuras 5 e 6 apresentam o gráfico de Pareto para o efeito das variáveis estudadas.

O eixo Y exibe as variáveis independentes ou as interações entre as variáveis, no eixo X, tem-

se o valor absoluto do efeito estimado, calculado pela razão entre os efeitos estimados e seus

respectivos desvios padrões. Todos os valores que aparecem nos gráficos de Pareto que se

situem à direita do valor p de 0,05 são de elevada significância estatística (estatisticamente

significantes). Estes valores concordam com os dados das tabelas de ANOVA.

37

,3793111

-,707667

1,244982

-2,22118

p=,05

Estimativa de efeito padronizado (valor absoluto)

(1)FN(L)

ind(Q)

FN(Q)

(2)ind(L)

,3793111

-,707667

Figura 5 Gráfico de PARETO para a atividade emulsificante O/A

Tabela 12 ANOVA dos resultados de atividade emulsificante A/O em função das variáveis

estudadas

Variáveis Soma dos

quadrados

Grau de

liberdade

Quadrado

médio F p

(1)*FN (L) 0,077531 1 0,077531 9,45122 0,005549

FN (Q) 0,000685 1 0,000685 0,08355 0,775243

(2)ind (L) 0,159328 1 0,159328 19,42245 0,000223

*ind (Q) 0,076101 1 0,076101 9,27688 0,005929

Erro 0,180472 22 0,008203

Total SS 0,494118 26

ANOVA; Var.:ao; R-sqr=,63476; Adj:,56835; *FN - Fonte de nitrogênio; *ind- indutor

Tabela 13 Efeitos estimados das variáveis sobre a atividade emulsificante A/O

Efeito t(22) p

Média / Interc. 1,062011 60,92803 0<0,001

(1)*FN (L) 0,13126 3,07428 0,005549

FN (Q) 0,010688 0,28906 0,775243

(2)ind (L) 0,188165 4,40709 0,000223

*ind (Q) -0,11262 -3,0458 0,005929

*FN - Fonte de nitrogênio; *ind- indutor

Em relação às atividades emulsificantes água em óleo, as variáveis fonte de nitrogênio

e indutor influenciaram esta variável (p<0,05). Os efeitos das variáveis foram positivos, ou

38

seja, passando-se dos níveis inferior (-1) para (1) das variáveis, houve aumento das atividades

emulsificantes água em óleo.

,289058

-3,0458

3,074284

4,40709

p=,05

Estimativa de efeito padronizado (valor absoluto)

FN(Q)

ind(Q)

(1)FN(L)

(2)ind(L)

,289058

-3,0458

3,074284

4,40709

Figura 6 Gráfico de PARETO para a atividade emulsificante A/O

39

3 Conclusão

A bactéria Bacillus pumilus foi capaz de produzir biossurfactantes utilizando farelo de

trigo como meio base. O óleo diesel e o biodiesel foram os melhores indutores. Entretanto,

quando se faz referência à redução da tensão superficial, o meio composto por farelo de trigo

acrescido do indutor óleo diesel obteve melhores resultados quando comparados aos obtidos

no experimento contendo biodiesel, portanto, o óleo diesel mostrou-se uma fonte indutora

mais eficiente para a redução da tensão superficial.

Com relação às atividades emulsificantes A/O e O/A, a fonte indutora que mais

influenciou a atividade foi o óleo diesel e o biodiesel, apresentando melhores resultados

perante aos demais indutores.

Dentre as fontes de nitrogênio testadas a ureia foi a que apresentou os melhores

resultados.

O crescimento microbiano não influenciou na produção e consequentemente na

redução da tensão superficial do biossurfactante produzido. Portanto, o farelo de trigo é um

substrato alternativo que pode ser usado para a produção de biossurfactante pela bactéria

Bacillus pumilus em fermentação submersa, óleo diesel e biodiesel podem ser usados como

indutores, bem como a ureia como fonte de nitrogênio, ambos acrescidos ao meio de

fermentação composto por farelo de trigo.

Este trabalho foi importante no sentido que a literatura demonstra que a produção de

biossurfactantes por bactérias vem ganhando cada vez mais espaço e importância. Porém, a

produção de biossurfactante em escala industrial ainda é reduzida, devido aos custos

envolvidos em seu processo produtivo. O uso de substratos alternativos como o farelo de

trigo, pode ser uma alternativa para reduzir custos de produção.

40

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