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FACULTAD LATiNOAMERICANA DE CIENCIAS SOCIALES FLACSO PROGRAMA: CIENCIAS SOCIALES CON MENCION EN ESTUDIOS AMAZONICOS GARIMPOS DO VALE DO TAPAJOS AS MAQUINAS TRANSFORMANDO AS RELAc;OES DE PRODUC;Ao E 0 MEIO AMBIENTE AUTOR: RITA RODRIGUES DIRETOR DE TESIS: XAVIER SILVA BRASIL, AGOSTO DE 1996 hAC:);O· i3ioiioieca

GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

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Page 1: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

FACULTAD LATiNOAMERICANA DE CIENCIAS SOCIALES

FLACSO

PROGRAMA:

CIENCIAS SOCIALES CON MENCION EN ESTUDIOS AMAZONICOS

GARIMPOS DO VALE DO TAPAJOS

AS MAQUINAS TRANSFORMANDO AS RELAc;OES DE PRODUC;Ao

E 0 MEIO AMBIENTE

AUTOR: RITA RODRIGUES

DIRETOR DE TESIS: XAVIER SILVA

BRASIL, AGOSTO DE 1996

hAC:);O· i3ioiioieca

Page 2: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

iNDICE GERAL

INTRODUC;Ao 1

I. 0 VALE DO TAPAJOS 7

1.A Hist6ria 7

2As Areas Reservadas 10

II. 0 GARIMPO 15

1.A Garimpagem, 0 Garimpo e 0 Garimpeiro 15

A Garimpagem 15

o Garimpo 17

o Garimpeiro 19

2.0s Garimpos do Tapaj6s 22

3.As Tecnicas de Extra~o 25

o Gari mpo Manual 26

o Garirnpo de Baixao 27

o Gari mpo de Balsas 29

4.A Unidade de Produ~o 30

III.A ONIDA E AS RELACOES DE TRABALHO 34

1.0 Enganche 34.

2.0 Sistema do Aviamento 39

3.A Peonagem da Divida 43

IV. AS RELACOES DE TRABALHO NO VALE DO TAPAJOS 49

1.No Garimpo dos Primeiros Tempos 49

2.No Garimpo das Maquinas 52

2.1.0 Modelo Tapaj6s 53

o Acesso 54-

o Metodo de Lavra 56

A Propriedade da Terra 58

A Organiza~ao Social. 61

Page 3: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

2.2.0 Garimpo Taruma 64

As Normas do Garimpo 70

A Remunera~ao da Cozinheira 71

o Transporte de Cumbustivel. 72

A Percentagem 74

o Uso de Armas 82

Habitos de Lazer e Consumo 84

Os Envolvimentos Emocionais 86

v. OS IMPACTOS AO MEIO 94

A Polui~ao Mercurial 96

VI.CONSIDERACOES FINAlS 100

VlI.BIBLIOGRAFIA. 102

VlII.ANEXOS 105

Rela~ao das Entrevistas

Rela~ao das Figuras

Page 4: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

IV -AS RELACOES DE TRABALHO NO VALE DO TAPAJOS

1. No Gartmpo dos Prlmelros Tempos

Relar;Oes de trabalho baseadas em mecanismos de imobilizar;lo de mlo-de­

obra estiveram presentes na regilo da bacia hidrografica do 1;0 Tapajos desde 0

seculo passado. Como citado anterionnente, 0 municipio de Itaituba surgiu em 1856,

em funr;lo da explorar;lo da borracha e que se apoiava no sistema do avlamento.

Em 1958, surge no Vale do Tapajos, urn novo cicio extrativo, agora com os

garirnpos de ouro, que comprometeu ainda mais a produr;lo de borracha. A mlo-de­

obra engajada na coleta do latex se desloca, em sua rnaiona, aos garimpos, haja

vista, que os primeiros trabalhadores dos garimpos eram seringueiros que

abandonavam os seringais em decllnio.

«Acontece que com a extrar;lo do aura morreu a sel;nga, nlo teve mais

patrlo para fomecer a seringa que ate 59 para tras 0 movimento aqui era so

borracha, agora de 58 para ca foi que Nilr;on Pinheiro veio do Amazonas e parou

aqui e descobl;u 0 garimpo e 0 aura aqui nos Tropas. Muitos dos seringueiros

passaram a ser exploradores de ouro, largaram porque passaram a ser livres, 0

garimpo de aura Iibertou a regilo.»(1)

Para os seringueiros, 0 trabalho nos garimpos era visto como urn marco que

deixava para tras 0 passado das Destradas de seringa" diante da possibilidade de urn

futuro com melhores padrOes de sUbsist&ncia, permitindo inclusive, sonhar com 0

49

Page 5: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

bamburro.O bamburro significa enriquecimento extraordinario devido a descoberta

de um expressivo deposito de ouro.

Convem observar 0 que diz Gaspar a respeito do significado do garimpo para

aqueles trabalhadores envolvidos com a coleta da borracha.

«Desse grupo social com tradi(;lo de sofredor eque sairam a maioria dos

ga.rimpeiros do Tapaloe. Sio homens fortes e corajosos: nada Ihes assusta e sempre

comparam a dureza e 0 sofrimento do trabalho nos seringais com 0 trabalho inicial

no garimpo. Esses homens continuaram a falar com os vocabulcs que a primeira

expel;~ncia de vida Ihes deu, mas com uma vislo diferente, onde 0 recorte principal

se faz no «antes» e no «depots» do garimpo. 0 «antes» e 0 cativeiro, a inseguran(;a,

a rnlseria; 0 «depots» e0 ouro, 0 dinheiro em especle, Iiberdade, melhores dias para

a familia, a esperance de uma grota rica.» (2)

Esta i1uslo de que «0 ouro Iiberta» viria a colocar um veu sobre as

caracterlsticas espoliativas dessas «novas» rela(;Oes de produ(;lo, que se nlo eram

tal equal aquelas presentes no sistema de avlamento, tamoern nlo poderiam ser

consideradas de todo distintas. Os seringeiros estavam apenas se tranferindo para

um outro modele de domina(;lo, onde as rela(;6es de poder se apresentavam mais

comedidas.(3)

Nos primeiros anos dos garimpos do Tapalos, 0 processo de trabalho se

organizava envolvendo um grupo de garimpeiros, as denominadas tunnas. Estas

tunnas eram comandados por um supervisor e remuneradas em base a diarias, que

&0

Page 6: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

variavam entre 0,80 a 1,00 grama de ouro. Os donos do garimpos eram tambem

responsaveis pelo fomecimento da alimenta~lo.(4)

A remunera~lo exclusivamente por diarias, permaneceu nos garimpos do

Tapaj6s ate a metade da decada de 60, quando se estabeleceu 0 sistema de mela­

pra~a. Tratava-se de um contrato verbal entre os donos do garlmpos e os

trabalhadores. Por este contrato, 0 dono do garimpo era responsavel pelo

fomecimento dos bens de consumo e dos instrumentos de trabalho e aos

trabalhadores, cabia a fLln~lo de extratores, que inclufa, alem da extra~lo

propriamente dita, a prospeccao do bem mineral. No sistema de mela-pra~a nlo

existia entre as partes diretamente envoMdas, qualquer forma de endividamento. Nlo

havia 0 fomecimento acredito em troca da produ~io entre os parceiros, embora, ao

dono do barranco eram fomecidos acredito pelas cantinas, os bens de consumo e

os instrumentos de trabalho. Havia portanto um debito, que embora nio envolvesse 0

produtor direto, 0 resgate dependia diretamente da produ~lo, ou seja, a premissa

basica do sistema de avlamento, 0 fomecimento de mercadorias a credito, ainda se

mantinha no Vale do Tapaj6s, agora sustentanto a produ~lo de ouro.

No sistema mela-pra~a, com 0 aura extrafdo eram pagas as despesas nas

cantlnas e do restante, 50% cabia ao dono e os trabalhadores dividiam-se entre si,

os outros 50%.

Com esta modifica~io na forma da partilha do resultado da produ~lo, de

dhirlas a mela-pra~a, os donos passam a vincular a remunera~lo do trabalhador

diretamente a produ~io. Com esta nova modalidade de remunera~lo, 0 dono do

garlmpo a quem cabia a responsabilidade total sobre os lucros e prejufzos da

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Page 7: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

atividade de garimpagem. inicia 0 repasse dessa responsabilidade tambern aos

trabalhadores. Quando a remunera~lo dos trabalhadores era fixadas em diarias.

todos os riscos da garimpagem eram exclusives dos patrOes e estes. pareciam

desconsider este fate ao calcularseus lucros. Provavelmente a facilidade com que as

ocorrenclas eram encontradas tenha Iimitado a percepclo dos donos de garlmpos

quanta a esses riscos. Uma decada depois de seu infcio no Vale do Tapajos. os

custos de producAo na garimpagem. ja comprometia os nfveis de lucros antes

assegurados.

Diante da necessidade de recompor esses nfveis. os donos de garlmpo.

lancararn mao do sistema de mela-pra~a. que alern de se apresentar como uma

altemativa para auferir melhores lucros, tameem contribuia para diminuir suas

responsabilidades para com os trabalhadores.

Esta forma de remuneraclo permaneceu nos garimpos do Vale do Tapajos

ate 0 final da decada de 70, quando na garimpagem ainda prevalecia a forma

manual de extracao mineral.

2. No Gar1rrapo das Maqulnas

Para que se possa ter uma melhor compreensao do contexte em que se

estabelecem os atuais garimpos do Vale do Tapajos. toma-se necessario fazer usc

de um referencial. Para tanto. se utilizar-se-a 0 modele que se convencionou

denominarde Modelo Tapajos.

Page 8: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

2.1. 0 Modelo TapaJos

Trata-se deum modele de galimpo resultante das investiga~6es realizadas

pelo geologo Elmer Prata Salomlo, nos garimpos do Vale do Tapajos, nos anos 70.

Para SalomAo, estes garimpos ate os finais da referida decada, se mantiveram

alheios a qualquer interven~lo estatal. A atividade garimpeira desenvoMa-se sem

aparatos legislativos e completamente desconhecida da maior parte da popula~lo

brasileira, 0 que permitiu que suas estruturas organizacionais evoluissem lentamente.

«Em decorr6ncia desse virtual esquecimento, 0 domrnio garimpeiro no Tapajos

pode, ao longo dos ultimos 20 anos evoluir lentamente suas estruturas ate

cristalizar-se com uma morfologia propria, amparada em regras de comportamento e

em princrpios eticos tacitamente aceitos pela comunidade e que slo os grandes

elementos equilibradores das rela~6es de produ~lo.»(5)

Havia portanto, um isolamento flsico e institucional que permitiu que a

comunidade garimpeira se organizasse em uma morfologia distinta daquela da

sociedade envolvente. 0 modele de garimpo desenvoMdo pelo referido autor toma­

se um instrumento de grande valor, quando se pretende analisar a estrutura funcional

dos atuais garimpos do Vale do Tapajos.

«Pode-se considerar seu valor metodologico na perspectiva de contribuir para

uma melhor compreensAo sobre os garimpos do Tapajos.»(6)

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Page 9: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

o modelo organizacional proposto por Salomllo. se apoiava em determinadas

condic6es reconhecidas como elementos equilibradores para a sua manutenclo.

Estas determinantes dizem respeito ao acesso, a lavra, a propriedade da terra e a

organizaclo social.(7)

o Acesso

o acesso exclusivamente aereo se constitue a primeira premissa do modelo.

Para Salomlo. a dificuldade no acesso contribuia sobremaneira para 0 isolamento

dos garimpos tapajonicos. Menciona-se a proposfto, que as primeiras expedic6es

que safram em busca do ouro no Vale do Tapajos eram feitas atraves do nos, no

entanto. quando 0 deposito era descobertc, abria-se uma clareira na floresta e os

avi6es iancavarn as cargas com alimentos. equipamentos. etc...Em poucos dias. era

aberta uma pista de pouso. Embora. a.lguns garimpos pudessem ser alcaneados pela

via fluvial. eram percursos diflceis. Alem das distAncias. havia necessidade de

atravessar cachoeiras e muitas vezes, gastava-se semanas e ate meses para se

aleancar um determinado garimpo. Se os rios pareciam intransponfveis e as estradas

para a Amazonia ainda nllo haviam sido ccnstruldas, 0 Vale do Tapajos permanecia

em quase total isolamento.

corwem ressaltar, que alem dos Iimites impostos pelo acesso aereo, haVia 0

controle do dono de garlmpo sobre os trabalhadores enviados aos garimpos. 0

acesso destes trabalhadores, envoMa um ritual de entrada, no qual prevaleciam

laces de parentesco, compadrio e afinidades.

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Page 10: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

A partir de informa~Oes recolhidas em conversas informais com tradicionais

donos de garlmpos, sabe-se que muitos trabalhadores eram recrutados em seus

locais de origem, notadamente na zona rural do Estado do Maranhlo, e levados aos

garimpos. A escolha recala quase sempre, sobre os membros do mesmo grupo

familiar do dono ou aqueles indivlduos com os quais haviam side estabelecidos

anteriormente, laces de afinidade.

As obras de infrestrutura direcionadas a regilo, especialmente as rodovias

principais e as estradas vicinais abertas nas areas destinadas a coloniza~lo,

favoreceram que as correntes migratorias vindas de outras regiOes do pals

alcancassem 0 Vale do Tapajos.

o isolamento, enquanto elemento de equiIJbrio do Modelo Tapajos sofreu

rupturas, a medida que se tomou imposslvel 0 controle total do acesso aos

garimpos. Alguns foram alcan~ados por estradas, a exemplo, cita-se os garimpos da

regilo do Crepori, que atualmente se constitue urn distrito do MunicIpio de Itaituba e

possuem curTUtelas que contam com alguma infraestrutura em comunica~lo,

educa~lo, seguran~a e servi~os de modo geral.

Mesmo com 0 controle no acesso, nlo se poderia afirmar que os garimpos do

Vale do Tapajos se encontravam totalmente isolados da sociedade envolvente. Havia

o intercAmbio comercial entre os garimpos e os centros urbanos da regilo,

principalmente, Santarem e Itaituba, de onde eram enviados os bens de consumo e

os instrumentos de trabalho. E dos garimpos, 0 cure produzido alcan~ava as

institui~Oes financeiras dos grandes centros urbanos do pais. Apesar de isolamento

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Page 11: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

nao ser completo, as rela~Oes sociais e de produ~ao nos garimpos do Tapaj6s se

estabeleciam sem maiores antagonismos.

o Metodo de Lavra

o segundo elemento equilibrador do Modelo Tapaj6s diz respeito a extra~lo

do bem mineral. Trata-se da «forma de desmonte essencialmente manual, em

aluvioes pouco espessos e, sUbordinadamente, em coluvios;»(8)

Com a evolu~ao nas tecnicas de extra~ao, a garimpagem manual apoiada por

equipamentos rudimentares foi substitulda por metodoe de lavra semi-mecanizada e

mecanizada, objeto de descri~oes anteriores. Com estes novos rnetedos de trabalho,

novas rela~Oes de produ~ao foram estabelecidas. A partir deste momento, a

remeneracao dos trabalhadores que se dava mediante 0 sistema de mela-pra~a,

passa a ser mais dlretamente vinculada a produ~ao, atraves do que se convenciou

chamar de percentagem. 0 estabelecimento desta forma de remunera~ao, reduziu a

quota-parte do trabalhador ao equivalente a 30% da produ~ao, como uma

compensacao pelos elevados custos de produ~ao acarretados pelas novas tecnicas,

apesar destas, serem mais eficientes na recupera~ao do ouro. Este sistema de

percentagem tambern recebe 0 nome de socledade, ou seja, a garimpagem se

desenvolvia sob uma sociedade entre os donos de garlmpos e os trabalhadores. 0

usa do termo socledade parece ter como objetivo principal, sublimar as diferen~as

que existem entre 0 capital e 0 trabalho.

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Page 12: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Em seus discursos, os donos de gar1mpo trequentemente tarnbem se

intitulam soclos dos trabalhadores e talvez por isso, se encontram desobrigados dos

direitos legais que porventura, os trabalhadores possam reivindicar.

«00. com 0 garimpeiro eu tenho 0 seguinte dever; de colocar a maqelna, 061eo .

diesel, a rnanutencao das peeas e todo 0 resto para 0 maqcinanc funcionar e a

alimenta!;lo para eles, uma alimenta!;lo basica como arroz, feijlo, farinha,

milharina, came, cafe e a!;ucar.»(9)

A socledade entre 0 propnetano do garimpo e 0 trabalhador, diante da

cita!;Ao anterior, exclue 0 dono de garimpo de qua.isquer outras responsabilidades

para com os trabalhadores. Estes sAo tomados tAo somente como parceiros de uma

relacao sem garantias de nenhum outro direito, a nAo ser parte da produ!;lo.

Importante notar, que os trabalhadores tarnoem se reconhecem como soclos

e acatam as condi!;Oes impostas pelos patrOes. Demonstram atraves das conversas

informais que como soclos, estariam envoMdos em uma rela!;lo de trabalho que os

deixa absolutamente livres. As desigualdades presentes nessa socledade, nAo slo

apreendidas pelos trabalhadores, ate mesmo porque, os ganhos auferidos com 0

trabalho nos garimpos parecem ser mais significativos que em outras atividades

exercidas anteriormente, ou mesmo, aquelas que potencialmente poderiam vir a

exercer.

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Page 13: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

A Proprledade da Terra

o terceiro elemento equilibrador do Modelo Tapaj6s diz respeito a

propriedade da terra. A maioria dos garimpos se localizam em terras devolutas, ou

seja, em terras sob 0 domlnio da Uni:lo. No inlcio dos trabalhos de garimpagem,

apropria~:lo dos territ6rios era consequencla direta da chamada explora~ao. Ao

detectar uma ocorrencia de aura em urn determinado local, 0 explorador se

autodenominava de dono. A terra era cobi~ada somente pelo seu potencial aurlfero,

a propriedade do solo n:lo era considerada relevante. N:lo havia a preccupacao por

parte dos donos em de registrar, mesmo que em cart6rios, os domlnios de suas

posses. Nos dias atuais, apesar dos extensos domlnios «reservados», as terras da

parte central do Vale do Tapaj6s, ainda s:lo constituldas de terras devolutas. Ali se

assentam imjmeros donos de garlmpos que reclamam direito de propriedade,

diante do 6rg:lo fundiario competente.

Salom:lo afirma que no momenta em que as terras possuissem urn diploma

legal conferindo uma propriedade que n:lo fosse aquela reconhecida pelo pr6prio

garimpo, as situa~Oes de conflito seriam inevitaveis. Hoje, os limites entre os

territ6rios pretendidos s:lo reconhecidos por marcos definidos entre os pretensos

propnetanos, ate certo ponto, respeitados. no entanto, esse respeito ao cornolnado,

nem sempre exclue as situa~Oes de conflito.(10)

Atualmente. a terra tornou-se urn componente fundamental na 16gica

administrativa de muitos propnetanos de garimpos. Se para 0 propnetano dos

equipamentos e para os trabalhadores de garimpo a terra e vista como meio de

sa

Page 14: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

produ~Ao e instrumento de trabalho, para os grandes proprtetanos, a terra se

apresenta ainda como umafonte adicional de renda.

Mesmo sem Utulos de propriedade, a maioria das terras devolutas no Vale do

Tapajos, estAo sob 0 domlnio de partlculares, inclusive com registro em eartence,

recibos de compra e venda, etc... Desta forma, esperam os donos de gartmpos

garantir 0 direito de posse.

Com a exaustAo dos depositos secundanos e os elevados custos de

produ~Ao, tomou-se diffcil para alguns donos de gartmpo manter os mesmos nlveis

de produ~Ao anteriores, quando estavam envolvidas dezenas de pares-de­

maqulnas. No enfrentamento dessa crise, os donos passaram a permitir que

trabalhadores detentores dos instrumentos de trabalho ou mesmo aqueles

possuidores de meios para adquirl-Ios. se instalassem em suas terras sob

determinadas condi~Oes.

Lima, denomina de «Sistema Condicionado» 0 estilo utilizado pelos donos de

garlmpo para 0 usufruto da terra.

«... aquele circuito em que 0 dono da terra ou dono da cantina imp6e

necessariamente condi~Oes nas transacees econOmicas aqueles «produtores

diretos» responsaveis por «instrumentos de trabalho»(11 )

o referido autor define algumas situa~l)es sob as quais os donos da terra

viabilizam essa permissAo. Os detentores dos instrumentos de trabalho sAo

obrigados a comprar os bens de consumo na cantina de propriedade do dono da

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Page 15: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

terra ou ainda, adquirir os bens de consumo e pagar uma renda pela terra. Em outra

situacAo, 0 dono so permite que alguem trabalhe em suas terras com a

obrigatoriedade de adquirir os instrumentos de trabalho, os bens de consumo, as

pecas de reposicAo e 0 combustrvel na cantina. Ao cancelar sua dfvida referente a

compra dos instrumentos de trabalho, 0 produtor continua com a obrigacAo de

adquirir os bens de consumo, as pecas de reposicAo e 0 combustrvel. A1em disto,

obriga-se a pagar uma renda pela terra. A renda da terra no Vale do Tapajos,

corresponde em cerca de 10% da producAo por unidade produtiva.

Lima ainda cita a existencia da obrigatoriedade do frete. Isto significa que 0

dono do garlmpo, que e tambern dono do aviAo e por conseguinte, 0 dono da

plsta, permite que os propnetanoe dos equipamentos comprem seus bens em outros

locais, desde que utilizem como transporte 0 aviAo de sua propriedade, paganda-Ihe

o frete.(12)

Vale lembrar que estas praticas estabeleceram-se com a evoluCAo nos

rnetodos de trabalho, posta que, na epoca da garimpagem manual, os meios de

producAo, os instrumentos de trabalho e os bens de consumo eram a contrapartida

do dono do garlmpo em sua parceria com a mao-de-obra. Nos garimpos onde

existem ainda trabalhadores manuais, 0 usa da terra so e permitido mediante a

obrigadoriedade de adquirir os bens de consumo e os instrumentos de trabalho na

cantina do dono do gartmpo.

A permissAo de usa do subsolo tamoern esta sendo pretendida pelos donos

de garlmpo, atraves do Requerimento de PermissAo de Lavra Garimpeira-PLG. De

posse desta permissAo de uso do subsolo e no intuito de controlar 0 solo tamoern na

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Page 16: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

forma da lei, os donos de garlmpos passam a requer a regularizacAo fundiaria de

extensos domlnios territorias. E para acrescentar rnais terras aos seus pretensos

dominios, estes senhores muitas vezes contratam trabalhadores experientes na lavra

manual exclusivamente para pesquisar novas ocorr6ncias de aura e assim, fixar

novos Iimites as suas posses.

Adotando estas medidas, parece evidente que os donos procuram dorninar 0

processo produtivo tarnbern, atraves do monopcllo da terra, 0 que nos primeiros

tempos dos garimpos era realizado apenas com 0 controle do credito pelas cantina.

A Organlza~ao Social

A ultima premissa do Modelo Tapajes diz respeito a organizacAo soclo­

econOmica, que de acordo com Salomao era «definida e estavel».

«... toda a tessitura social do garimpo, assim como suas relacCes de

producAo sAo regidas por formas de comportamento simples, caracterizando urn

modelo seclo-ecenomlco nao apenas diferente da sociedade envolvente, mas que

com ela nAo se pode misturar, na medida em que pode ser considerado como

primitivo, entendendo-se assim aquelas comunidades sociais nas quais os valores

lastram-se em si mesmo, dispensando leis que assegurem, por exemplo, a

propriedade particular; contratos escritos e registrados, que garantam 0 cumprimento

da palavra empenhada; e organizacoes hierarquicas burocratizadas, nas quais a

Iideranca e intrlseca aos cargos e nem sempre as pessoas que os ocupam.»(13)

IFtACSO· Biblioteca

61

Page 17: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

o modelo s6cio-econOmico no qual se amparava 0 Modelo Tapaj6s estava

alicer~ado no «binOmio Iideran~a-confian~a», tanto que, seus Hderes eram forjados e

legitimados pela pr6pria comunidade e a connanca era revelada pelo respeito aos

acertos verbais.

A dinAmica da produ~ao no Modelo Tapaj6s era determinada por elos, que se

relacionavam:

«... por meio de lim conjllnto de normas de comportamento que comp6em

verdadeiro «pacto do garimpo.»(14)

Estes elos eram 0 dono do garlmpo, 0 cantlnelro, 0 dono do barranco e 0

dlarlsta.(Flg.12) Poder-se-ia pensar que estes elos ainda sao, em sua essencia, os

mesmos que determinam a atual dinAmica da produ~ao nos garimpos tapajOnicos.

Embora as fun~Oes inerentes a cada urn destes elos ainda possam ser consideradas

as mesmas, as rela~Oes sociais e de trabalho entre eles possuem outras fei~6es.

No modelo elaborado por SalomAo, os donos de garlmpo surgiam da pr6pria

comunidade e de modo geral, tratava-se de um ex-garimpeiro.

«Geralmente - mas nao necesariamente - trata-se de um ex-garimpeiro. ...

cada um destes Ifderes origina-se na verdade na base da pirAmide, isto e, sao

garimpeiros que ascenderam na «escala social» do garimpo e tiveram 0 seu «status»

legitimado pela comunidade.»(15)

Page 18: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Em se tratando da origem social dos indivfduos reconhecidos hoje como

donos de gartmpo predominam aqueles vindos do centro-sui do Brasil e em muitos

casos, tiveram acesso aos seus atuais domfnios atraves de «compra».

«Eu sou paulista. Bem, na realidade eu era comprador de aura e banquei

durante um determinado tempo com urn dono do garimpo que eventualmente ele teve

um problema, foi sequestrado e assassinado. Neste caso, al, a familia me procurou

para vender 0 garimpo para mim. A forma foi a seguinte: eu comprei 0 garimpo, ele

tinha 11 pares-de- maquinas e um aviao e eu comprei 0 garimpo por 23 quilos de

ouro, entao eu comprei 0 garimpo, eu entrei para 0 garimpo comprando. E garimpos

a gente compra geralmente mais ou rnenos de 30 a 40%, voce paga a vista e 0

restante foi pagando na produ~ao, X% por mes...»(16)

Apesar da origem social distinta, os atuais donos de gartmpo, conforme visto

a seguir, sao possuidores da mesma funcionalidade definida por Salomao. Trata-se

do «empresarto do sistema» e que sustenta a produ~a.o de ouro, fomecendo todos

os insumos necessaries ao funcionamento das unidades produtivas nos balxoes.

«Este homem e na verdade a ernpresarto do sistemaI a quem cabe

desempenhar a relevante fun~ao de atuar como elemento de Iiga~ao entre a

civiliza~a.o e a selva na qual se situa 0 domfnio do garimpo. Reside em Itaituba e sob

seu comando operam um eficiente sistema de transporte aereo...; uma bem montada

rede de compras de mercadorias e ferramentas...; um sistema agil de recebimentos,

Page 19: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

pagamentos, remessas de mercadorias e homens para 0 garimpo; urn ou mais

escrit6rios de compra de ouro.»(17)

Os elementos antes mencionados, eram vistos por SalomAo como

fundamentais para que 0 «pacto do garimpo» se estabelecesse, no entanto, 0 autor

esclarece que, no momento em que urn destes elementos sofressem qualquer

alteracAo, 0 organizacAo social seria afetada.

Os garimpos do Vale do Tapaj6s nAo ficaram alheios a implementacAo da

pollticas de ocupacAo e incorporacAo do espaco amazOnico. Foram aicaneados por

grupos de origem social distintas, metodos e tecnicas de extracAo mais evoluldas

que exigiam maiores investimentos em capital e por urn aparato de Leis e Oecretos.

o «pacto do garimpo» regido par uma conjunto de normas de comportamento

fundamentadas «em uma etica cabocla e uma hierarquia nlo imposta» foi posta a

prova por esse conjunto de fatores ex6genos.(18)

Oal, transformaram-se as relacOes de producAo como uma consequsncia

direta da evolucAo nas tecnicas de producAo. A morfologia pr6pria que se amparava

em c6digos eticos tacitamente aceitos pela comunidade, modificou-se.

2.2.0 Garlmpo Taruma

Apesar da coleta de informacOes de campo ter side em vanes locals, 0

funcionamento dos atuais garimpos do Vale do Tapaj6s sera analisado a partir de urn

determinado garimpo. Oaf porque, as conslderacees apresentadas a seguir nlo

devem ser generalizadas para todo e qualquer garimpo do Vale. Caberia sim, a

garimpos que atendam, pelo menos em parte, determinadas conctcces, tais como:

64

Page 20: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

unico propnetano; extensos domlnios territoriais; acesso exclusivamente aereo e de

preferancia no avilo de propriedade do dono; monepenc sobre a venda de bens e

servi~os, e; controle total sobre a produ~lo e comercializa~lo do ouro.

o garimpo objeto de observa~Oes, doravante denominado de Taruml,

apresenta-se sob uma estrutura funcional que envolve 0 propnetano, trabalhadores

Iigados a atividades puramente administrativas e os trabalhadores diretamente

Iigados a produ~lo.(Fig.13)

o proprtetartc do garimpo Taruml se reconhece possuidor da mesma

funcionalidade descrita por Salomlo, ou seja, um elo entre 0 garimpo e a sociedade

envotvente.

o depoimento a seguir. reflete como este indivlduo analisa sua posi~lo na

estrutura funcional do referido garimpo.

«A equipe e dividida em dois lados. De um lado, 0 pessoal que trabalha na

cidade, nlo e muito, so eu e mais duas pessoas e do outro lado, a que trabalha no

campo que ea parte da gerencia, a parte da administra~lo do garimpo, entlo eu

funciono mais ou menos como um elemento volante, de lim lade para 0 outro, porque

eu participo da parte de comprar as coisas, procurar precos, baixar custos, ver 0 que

esta acontecendo com a maquina, 0 consumo de pecas, que dizer, eu estou

envolvido aqui e no garimpo, eu participo da decislo do garimpo sobre 0 que vamos

fazer ...»(19)

65

Page 21: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Como visto, 0 dono do Garirnpo Taruml ainda se coloca no controle efetivo

do sistema de produclo, embora reconneea que faz parte de uma equipe que conta

ainda com outros trabalhadores, incluindo 0 denominado gerente.

Os atuais gerentes podem ser indivfduos que estlo envoMdos com as

atividades nos barrancos, mas podem ser tambem, indivfduos estramos aequipe de

trabalhadores, nomeados pelos donos. exclusivamente para administrar as unidades

produtivas, como e 0 caso do gerente do Garimpo Taruml. Assentado em uma

estrutura funcional, logo hierarquicamente abaixo do dono, 0 gerente deste garlmpo

possui todo os poderes necessaries para manter 0 garimpo sob as diretrizes

administrativas concebidas pelo propnetarto.

o gerente do Garimpo TarumA esta apoiado por outros trabalhadores no

cumprimento de suas multiplas atribui!rOes. Entre estes, destacam-se 0 cantlnelro

que controla a entrada e safda dos bens de consumo, combust fvel, pecas, etc...

existentes na cantina, bern como da contabilidade; os nscals de balxio, que

realizam vistorias diarias nas unidades produtivas, e; 0 tropelro, que com auxllio de

anrnats, distribue 0 combustivel entre os varies balxoes.

o depoimento que se segue expressa como se dispOe a relacAo de poder no

garimpo TarumA.

«... existe urn gerente, exlste um cantinelro, existe duas pessoas que seria 0

ajudante do gerente, tern garimpeiros que se chamam de fiscais. Sio as pessoas

que estlo Iigadas diretamente e obedecendo ordem do gerente.»(20)

Page 22: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

A1em destes, ainda se encontram submetidos ao controle direto do gerente, 0

mecanlco, responsavel pela manuten~lo das maquinas e 0 carplntelro, responsavel

pela ccnstrucao das casas, pontes, fabrica~Ao das caixas de concentra~Ao, etc... 0

serrador que retira a madeira necessaria para as construcees e a cozlnhelra

completam 0 quadro de trabalhadores Iigado diretamente a administra~Ao do

garimpo.

Observa-se que para administrar 0 Garimpo TarumA 0 proplietario necessita

de apoio de 9 pessoas, envolvendo 0 escrit6rio em Itaituba e as instala~Oes no

garimpo, denominada de plsta, que contam com cantina, cozlnha, casa do

gerente, alojamento dos demaistrabalhadores e dep6sito de combustlvel.

No momento da pesquisa, 13 conjunto de motos-bombas, localmente

denominadas de dragas, estavam em funcionamento e envoMam cerca de 52

trabalhadores, os denominados de peoes.

Apesar do Garimpo TarumA nAo se tratar de uma empresa legalmente

constitulda, 0 seu proprietano afirma que 0 administra os moldes de uma empresa,

porque entende que a ado~Ao desse modele e fundamental para recuperar uma

quantidade minima de cure que seja suficiente para cobrir os custos de produ~Ao e

ainda, auferir lucros razoavels.

No depoimento a seguir, e posslvel observar que existe uma preocupa~Ao

constante no alcance de resultados satisfat6rios, procurando sempre, desviar-se dos

prejulzos.

67

Page 23: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

(t ••• a gente esta tratando 0 garimpo como uma empresa, entAo voce, em cima

de uma planilha de custo sabe 0 mlnimo que voce pode operar, ate quando IJma

draga te da prejulzo e ate quando ela e viavel e em cima disso, a gente faz a

pesqeisa, no aluviAo, colocando um par-de-maqalna, de motores pequenos, sempre

furando novas terras para ver se acha um Duro que tenha condi~Oes de trabalhar,

entAo a gente vai tentando organizar. Como 0 garimpo consta de 13 pares-de­

maqulnas, a gente vai tentando organizar semanalmente atraves de um mapa de

controle, quando cai a producAo de uma draga na semana, saber porque calu, se

deu problema no motor, se 0 pessoal ficou doente, se choveu e alagou 0 barranco ou

se tava tudo isso normal e cala porque realmente aquela terra onde foi tirado nAo

tinha essa quantidade de ouro, quer dizer, em cima disso a gente procura efetivar 0

mais rapido posslvel essas mudancas e ter uma estrutura que voce possa

prontamente, quando lima maquina da defeito, consertar e tal.»(21)

o Garimpo TarumA envolve uma razoavel estrutura que exige custos elevados

para manter-se em funcionamento e por isso, sempre sAo tornados todos os

cuidados para que nem mesmo uma das unidades produtivas permaneca paralisada

por alguns dias consecutivos. Qualquer paralisa~Ao acarretaria prejulzos que podem

chegar a por em risco a manutencAo das demais unidades.

«I: necesarto para se tocar um garimpo hoje, ter uma boa estrutura, porque os

custos sAo muito elevados, entAo para evitar que uma maquina fiqlJe 4, 5 dias parada

e voce alimentando aqueles peees e nAo e s6 a alimentacAo dos peOes que vai

pesar, e toda uma estrutura que esta parada. Bem, voce precisa ter uma estrutura

69

Page 24: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

minima, de peca de reposiCao e equipe de pessoal dentro do motor tambem,

pessoas que tome a decisao antes da hora certa, que nem fique demorando muito

e que nem queira atropelar as coisas, nlo adianta ter muita pressa, mas nao

adianta voce ficar parado esperando as coisas acontecerem...»(22)

Devido a esta forma de pensar de seu proprtetano, no Garimpo TanJma

existem trabalhadores exclusivos para exercer determinadas tarefas auxiliares, de

extrema importAncia, para a rotina diana. A exemplo, cita-se, os flscals de barranco

que visitam diariamente todas as unidades produtivas no sentido de detectar e

informar ao gerente, toda e qualquer anormalidade no ritmo da produCao. Outro

trabalhador importante na estrutura funcional do Garimpo Taruml e 0 mecanlco. A

presence diaria deste indivlduo no garimpo impede que as unidades produtivas

paralisem por falta de manutencao, substituiCao de pecas de reposiCao ou mesmo

pelo tempo gasto em seu deslocamento de um outro garimpo ou mesmo de Itaituba.

Na base da estrutura funcional do Garimpo Taruma se encontra 0 produtor

direto. No Modelo Tapaj6s, 0 ultimo elo da cadeia estava 0 dlarlsta, uma categoria

referida a garimpagem manual, hoje sUbstituldo pelo percentlsta ou soclo, como

sao reconhecidos os trabalhadores de garimpo. Atualmente, os trabalhadores do

garimpo experimentam uma certa especializacao por conta da experi&ncia no manejo

de determinados equipamentos utilizados nos processos de lavra.

Para manter as unidades de producao em funcionamento sao envoMdos

investimentos de tal monta, que os donos de garlmpo se utilizam de determinados

mecanismos no sentido de diminuir esses custos, e consequentemente, os riscos.

69

Page 25: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Para lsso, 0 atvo principal das estrategias colocadas em prcUica pelos patrOes sAo os

trabalhadores, que conforme citado anteriormente, teve diminuJda sua quota-parte do

resultado da produ~Ao de 50% para 30% com a semi-mecaniza~Ao da garimpagem.

Embora a primeira vista, pareca que 0 equivalente a 30% da produ~Ao seja

apropriada, considerando os elevados custos para manter uma unidade de

produ~Ao, nem sempre os trabalhadores auferem ganhos tAo significativos. Este fate

se reflete nos diversos mecanismos utilizados pelos patroes que objetivam diminuir

de maneira absoluta a remaneracao dos trabalhadores. A1em disto, com a

remuneracao na dependsncla direta da producao, os trabalhadores tornam-se mais

wlneraveis aos riscos da garimpagem.

Gradativamente, os donos de garlmpo procuram repassar aos produtores

diretos responsabilidades que eram exclusivamente suas e que hoje, se encontram

embutidas nas denominadas normas que regem as frentes de lavra.

As Norrnas do Garlmpo Taruma

o propnetario do Garimpo TarumA informa que 0 estabelecimento das

norrnas foi a altemativa encontrada para organizar 0 garimpo.

«... para eu poder administrar, ...comecei a colocar regras claras e objetivas...

... sAo normas, e de certa forma, pareee ate ditatorias, mas, no meu modo de

entender sao as normas que eu necessitei para poder organizar 0 meu trabalho,

organizar 0 garimpo como toda a empresa...»(23)

70

Page 26: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Inicialmente, relata-se daquelas normas que afetam diretamente a

remunera~ao dos trabalhadores. Dentre estas, destaca-se a remunera~ao da

cozlnhelra e 0 custo de transporte do combustfvel das currutelas ate os baJxoes.

- A Remunera~io da Cozlnhelra

A rernuneracao da cozlnhelra tradicionalmente vinha sendo paga pelo

proprietano dos instrumentos de trabalho e pelo menos diretamente, nao se vinculava

com 0 resultado da produ~ao. Nesta condi~ao, a cozlnhelra poderia ser pensada

como 0 unico membro da equlpe que recebe um salario.

A cozlnhelra sempre se colocava em uma posi~ao de que, aquilo que Ihe era

devido, nao dependia da quantidade de aura obtido no barranco. Cabia ao dono,

nao s6 a responsabilidade pela sua ccntratacao, mas tamoern, pelo pagamento no

final do mes da sua remeneracao.

«... eu ja trabalhei em uns barrancos que, como se diz, 0 dono e a dizer: ­

Olha vamos tirar 0 aura da cozinheira, porque a cozinheira, p'ra ela nao tem verao

nem invemo, ela nao quer saber se 0 barranco deu aura ou nao deu... entao se ela

cozinha, ela tem que receber 0 dela.»(24)

Atualmente existem situa~6es em que os donos repassam em parte ou

integralmente, essa responsabilidade aos trabalhadores.O depoimento a segllir

aponta a estas situa~6es.

7],

Page 27: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

«... 0 ultimo barranco que eu trabalhei sem ser esse que estou trabalhando

agora, era os peOes que pagavam 10 gramas e 0 dono do barranco pagava 5

gramas.... agora ja esse um que estoutrabalhando e s6 0 pelo que paga, os donos

nAo querem pagar nem se responsabilizar...»(25)

o deslocamento dessa responsabilidade, alem de minimizar os riscos e

diminuir os custos de produ~Ao, atrela a remunera~Ao da cozlnhelra a. capacidade

produtiva do trabalhador e ao potencial aurffero do barranco.

Embora, atualmente remuneradas pelos trabalhadores, a contrata~lo das

cozlnhelras continua sendo uma atribui~lo dos donos, mesmo que em alguns

casos, se permita a intermedia~lo de outrem, no caso do Garimpo Taruml, do

gerente.

A remuneracao das cozlnhelras no Garimpo TarumA esta em tomo de 20

gramas de aura mensais, cabendo a cada um dos trabalhadores, 4 gramas mensais.

- 0 Transporte do Combustivel

A outra forma utilizada pelos donos para reduzir de forma absoluta

remeneracao dos trabalhadores, esta relacionada como 0 combustlvel utilizado nas

unidades de produ~Ao. Este combustfvel e fomecido pelos donos de garlmpo e de

modo geral, sAo armazenados em dep6sitos especiais localizados nas currutelas,

distante varies quilometros dos balxoes. 0 transporte do combustlvel ate as

unidades produtivas se constitue uma das tarefas dos trabalhadores. Trata-se de

Page 28: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

uma tarefa que eXige bastante esfor~o tlslco, haja vista, a quantidade de combustfvel

a ser deslocada, em tome de 60 litros, a distincia e 0 diflcil acesso ate os balxoes.

o gerente do Garimpo TarumA entende que um trabalhador continuamente

exposto a tamanho esfor~o fisico, estaria mais wlneravel a ser acometido de

malaria.

«A alimenta~lo no garimpo e volumosa, mais nlo tem protelnas, entlo 0

organismo fica fraco, af voca coloca 70 quilos nas costas e traz la da pista para cal

que e perto, e as outras que e longe, quando 0 indivfduo chega la esta tremendo, e 0

que acontece: toda a energia que voce tinha reservada voc6 gastou au, a primeira

malaria que vier derruba 0 cara. As vezes, 0 cara ta com cinco dias que saiu da

malaria, carrega um carote de 61eo, al...»(26)

De posse desse argumento, 0 propnetario do Taruml passa a se

responsabilizar pelo transporte do combustfvel ate as unidades produtivas, mas, os

trabalhadores devem contribuir com uma determinada cota em gramas de ouro.

Desta forma, mensalmente e descontado da percentagem de cada um dos

trabalhadores entre 1 a 1,5 gramas de ouro.

«Ele vail traz 0 61eo la da pista, da p'ra n6s aqui no barranco, n6s ja nlo

carrega 0 6leo, al, a gente paga por mes uma grama e meia de cada

trabalhadoL))(27)

73

Page 29: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Em seus depoimentos, os trabalhadores se referem ainda a um desconto em

tome de 10%, que incidiria sobre a percentagem auferida. Esta pranca se deve ao

fate de que 0 aura amalgamado, mesmo depois da quelma nos garimpos, ainda

contern impurezas que s6 slo descartadas durante 0 processo de fundi~Ao, que 0

coloca em condi~6es de ser comercializado nas Boisas de Valores.

- A Percentagem

SalomAo destaca que as rela~6es de produ~Ao no Modelo Tapaj6s se

apoiavam no fate de que 0 trabalhador nlo era obrigado a vender seu saldo em aura

ao dono do garlmpo, ap6s quitar seu debito na cantina. 0 que se apreende da

analise de SalomAo e que apesar dos trabalhadores contrairem dlvidas, os ganhos

auferidos como 0 resultado da produ~Ao eram suficientes para resgata-Ias. Desse

fate e posslvel afirrnar que ate entlo, se haviam mecanismos de controle de mlo-de­

obra, estes nae eram necessariamente exercidos em nome de dlvidas.

Ressalta-se porern, que SalomAo se refere ao endividamento previo do

garimpeiro. Tratava-se da dlvida contralda no deslocamento do trabalhador ate os

garimpos. 0 referido autor alnda destaca 0 papel da cantina, como um

estabelecimento comercial que vinculava 0 debito a produ~Ao.

A primeira vista, nos garimpos investigados, a obriga~Ao de vender 0 saldo em

aura para os donos nlo existe. No entanto, ao observar-se como e administrada 0

resultado da produ~Ao, toma-se evidente alguns mecanismos que imp6e ao

trabalhador esta obrigatoriedade.

74

Page 30: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Em alguns locais, parte significativa do saldo em aura permanece nas

cantlnas, mesmo apes 0 pagamento das dfvidas contrafdas, conforme expresso no

depoimento a seguir:

« Quando despesca vai la divide, tira a percentagem e guarda 0 aura no

haver.Se precisar vai la, pega duas, trss, cinco gramas, compra 0 que precisa.Mas

o aura de todo mundo fica la.» (28)

No Garimpo Tarumll, um determinado «Sistema de Fichas» e utilizado para

administrar a renda dos trabalhadores, tal como expresso no depoimento a seguir:

«Se da 100 gramas 0 barranco, eles colocam la, 30 gramas na ficha da

gente, al e descontado 10%, al coloca la 0 total, depois passam p'ra deles.»(29)

utilizando-se de fichas, 0 gerente ou 0 cantlnelro administra as dfvidas

contraldas e a percentagem auferida pelos trabalhadores, que a sua vez, tambem

fazem esse acornpanhamento atraves das vias de suas respectivas fichas. Em uma

das fichas se encontra discriminados os resultados da produ~lIo obtido pela equlpe e

a parcela que cabe a cada um dos trabalhadores. Esta ficha recebe 0 nome 0 Flcha

da Percentagem, cujo 0 primeiro item, diz respeito ao valor da passagem para 0

garimpo, 15 gramas de ouro, se 0 trabalhador se deslocar de Itaituba. Na segunda

ficha, estao relacionados todos os bens adquiridos pelos trabalhadores, bem como,

"16

Page 31: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

seus respectivos valores. Esta segunda ficha recebe 0 nome de Flcha da

Conta. (Fig.14)

o depoimento a seguir, demonstra de que maneira 0 tratamento dado aos

seus ganhos se encontra bem apreendido pelos trabalhadores embora, este fate nAo

exclua a possibilidade de existirem conflitos.

«Tem essa ficha que e so porcentagem, a outra e da conta, na hora que a

gente vai la eleva essa ficha, af a gente compra 0 que a gente precisa, ele bota

aqui nessa ficha e passa p'ra ficha deles tarnoern, 0 mesmo que esta anotado aqui,

esta anotado na deles.»(30)

Apos a despescagem, que no Garimpo TarumA ocorre semanalmente, e

realizado 0 «acerto de conta». Inicialmente, na Flcha da Percentagem e registrada

a percentagem auferida naquele dia e se procede 0 calculo do saldo parcial do

trabalhador. Em seguida, na Flcha da Conta, soma-se todos os valores dos bens

adquiridos no perfodo entre as despescagens e se registra na Flcha da

Percentagem, prccedendo-se 0 calculo final. Apos este calculo final, tem-se

demonstrado os ganhos reais do trabalhadores naquela semana.(Fig. 15)

No final de 30 dias de trabalho, a remuneracao da cozlnhelra e a

contrlbul~ao pela distribui~Ao do combustfvel tarnbern slo anotados na Flcha da

Percentagem.

76

Page 32: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

«0 desconto do fim do mes da cozinheira. a gente leva a ficha la e passa

quatro gramas pra ficha da cozinheira e tira grama e meia da ficha da gente. a(

desconta essas cinco gramas e meia. Quatro da cozinheira e grama e meia do

6leo.»(31)

A diferen~a entre os totais das duas fichas. anota-se na Flcha da

Percentagem. 0 saldo positivo. s6 podera ser resgatada posteriormente e saldo

negativo. configura-se a dlvida do trabalhador para com 0 propnetano do garimpo.

Convem ressaltar, que durante todo 0 perfodo em que 0 trabalhador

permanece no garimpo. ele nlo tem acesso a moeda, nem mesmo quando sai do

garimpo. Caso 0 trabalhador queira deixar 0 garimpo TanJml. ele se dirige ao

gerente para que seja analisadas as suas fichas. Este procedimento esta relatado

com riqueza de detalhes no depoimento de um trabalhador.

«Quando nos quiser ir embora e 0 seguinte: a gente leva as fichas. as duas

fichas, quando chega la entrega p'ra ele as fichas. ele vai agarra as fichas. se voce

tiver devendo alguma coisa na cantina, ele vai pega a ficha e desconta tudinho e

aquele total. que e 0 saldo da gente. ele vai e bota no vale, a( voce fica com 0 vale.

Pode passar 1, 2 meses, mas no dia em que voce for la na Agencia voce

recebe...»(32)

Com este modo particular de controlar a remunera~Ao. 0 trabalhador com

saldo positivo. ap6s 0 debito relativo a passagem aerea para deixar 0 garimpo. que

..,..,

Page 33: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

no Taruml esta fixado em sete gramas de ouro, se podera receber 0 aquilo que Ihe

e devido ao chegar acidade de Itaituba. Ali, se instala 0 escrit6rio do proprietano do

Garimpo Taruma, conhecido como Agincla. Ao apresentar 0 «vale», 0 trabalhador

recebe em moeda corrente, 0 valor relative as gramas de aura anotadas no «vale».

Caso 0 saldo obtido pelo trabalhador nlo for suficiente para pagar a

passagem aerea ate Itaituba, ele permanece em qualquer uma das unidades de

produ~lo ate conseguir 0 saldo necessarto, Ressalte-se que a entrada e salda do

garimpo Taruml somente pode ser rea.lizada por via aerea e no avilo de propriedade

do dono.

Se 0 trabalhador nlo auferir ganhos suficientes para cobrir suas dfvidas,

estaria na «obriga~lo» de retomar suas atividades nos barrancos ate obter saldo

positivo.

Estas pratlcas reproduzem situa~Oes vividas por trabalhadores em outros

contextos da economia, seja extrativa ou produtiva, em que a rnao-ce-obra se

encontra submetidas a detenninadas condi~Oes que afetavam sua mobilidade

pessoal. EnvoMdo neste denominado Sistema de Flchas, 0 trabalhador esta.ria

sendo Indlretamente obligado a vender seu saldo ao prcprtetano do garirnpo Taruml,

o que torna as atuais rela~Oes de trabalho distintas daquelas em que se apoiava 0

modele desenvoMdo por Salomlo.

A1em da dlvida, historicamente reconhecida como mecanisme utilizado para

imobilizar a for~a de trabalho, os trabalhadores ainda teria seus ganhos retidos pelo

dono. Este fate poderia ser considerado em tennos de efetividade, tal e qual, a

7Q

Page 34: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

drvida. Ambas teriam como objetivo impedir que os trabalhadores venham a

abandonar seus locais de trabalho. sempre que assim desejarem.

o exercrcio de imobiliza~Ao da forca de trabalho, no caso do Garimpo

TarumA, se pratica no momenta em que nAo se permite que 0 trabalhador tenho

acesso e administre 0 que Ihe e devido. Isto significa dizer, que pelo fate de nAo

possuir acesso imediato aos seus ganhos, 0 trabalhador estaria, mesmo que

periodicamente. impedido deixar 0 garimpo.

E importante ressaltar tarnbem a existGncia de um determinado controle

sobre 0 montante dos debitos. Esta fixado um limite em gramas de aura para as

dividas dos trabalhadores, ou seja, nlo e permitido que estes estejam endividados

em nlveis tats, que seja dificil 0 resgate. Parece que 0 montante da dlvida esta

diretamente relacionado com a percentagem auferida e 0 tempo estimado que 0

trabalhador levaria para paga-Ia. 0 depoimento do dono do Garimpo Taruml

expressa em detalhes como e administrada a drvida de seus trabalhadores.

«... a gente nlo vende se 0 garimpeiro nao tiver saldo, de forma que 0

garimpeiro nunca vai ficar devendo muito, a verdade e essa, ele nunca vai ter um

debito muito alto e esse debito dele, fora a passagem, nunca deve atingir 6 a 8

gramas de aura e ja e um controle nosso para que ele nlo fique devendo muito, e ele

nlo estando devendo muito. sempre que ele criar problema p'ra voce, voce tarnbem

nAo perde muito, mas evita as vezes desarticular toda uma equipe. Ele acaba indo

embora do garimpo...»(33)

79

Page 35: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

o proprietano do Garimpo Taruml procura garantir atraves desses

mecanismos, a permansncta da equlpe de trabalhadores nas unidades de produ~lo.

Isto sugere a aussncia de urn mercado de trabalho efetivamente institufdo, com mao­

de-obra suficiente para suprir a demanda necessaria da produ~lo de ouro, em ritmo

adequado que garanta lucros e exclua 0 potencial de risco. Os elevados custos de

produ~lo e os prejufzos que acarretaria a evaslo desta mlo-de-obra, poderiam ser

vistos como as «razees» que levam os proprtetanos de garimpos, a lanearern mlo

de determinadas formas para manter seus trabalhadores imobilizados.

Os trabalhadores, apesar de aparentemente aceitarem os Iimites impostos

pelos patrees, demonstram perceber a situa~lo a que estlo submetidos. De modo

geral, muitos dos envoMdos nesse contexto, possuem experiGncias anteriores em

outras unidades produtivas, que ap6s a despescagem, as gramas de aura relativas

apercentagem eram imediatamente resgatada.

o sentimento que perpassa atraves do depoimento a seguir, pode ser tornado

como indicio de que, mesmo «aceitando» as nonnas do patrao, nlo esta exclufdo

urn certo grau de descontentamento em rela~lo a elas.

«Urn neg6cio que eles tern aqui dentro, esses 10% descontado,se voce tiver

acostumado a trabalhar em garimpo recebendo ouro, mas al passa uns dias aqui,

mas nlo sou contra ele nlo, 0 garimpo e dele, cada garimpo tern urn modo de

trabalhar....eu vim assim desse jeito, ele e que me trouxe, que it amigo, mas nunca

explicou nada para mimI porque se ele tivesse falado... Porque estou acostumado

trabalhar s6 em garimpo que a gente recebe ouro, entlo a gente chega na rua e

gO

Page 36: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

vende ao preco que tiver, aqui ninguem sai com ouro, so sai com vale, 0 problema e

so esse... a gente pega 0 aura sabe 0 que vai fazer, ja sabe ate mais ou menos 0

total que vai dar, voce ja pode pensar que aquilo e uma ajuda para voce, agora voce

esta com seu vale aqui, sai so com vale e voce nAo pode ir para outro canto se nAo

tiver urn transporte de uma pessoa conhecida, voce nAo pode chegar na rua porque

ninguem vai te levar fiado, so se for no aviAo do homem.«(34)

E evidente que, 0 discurso desse trabalhador evidencia que a for~a de

trabalho envoMda na garimpagem parece ter a conscleneia de que, mesmo por curto

perlodo, se encontra imobilizada. Do depoimento acima, tamoern se apreende que

nem sempre as nonnas que regem os garimpos sAo expresas claramente. Em

alguns casos podem ate nem serem mencionadas, embora 0 propnetano do garimpo

TarumA em seu depoimento, informe que as nonnas que regem 0 garimpo de sua

propriedade sao sempre bern esclarecidas.

Se em seu discurso, trabalhador reconhece sua condi~Ao de imobiliza~Ao, 0

discurso do propnetano do TarumA transmite a ideia de que 0 produtor direto e urn

trabalhador envoMdo em uma «socledade» e portanto, estaria livre para rompe-Ia a

qualquer momento.

«... 0 peAo garimpeiro, 0 garimpeiro em st, ele e praticamente urn soclo

nosso, porque ele participa do que ele produz... , 0 compromisso dele e mais a nlvel

de produ~Ao, de trabalhar na maquina e procurer sempre a nlvel de produ~Ao,

produzir, ele nao tern vInculo comigo, se ele entrou pro garimpo e nAo se deu bern e

01.

Page 37: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

quiser sair eu nao posso fazer nada, nlo posso seglJrar ele... ele euma pessoa que

tern livre arbftrio. Se ele achar que aU nAo da pra ele. se a coisa nao esta boa pra

ele. pede a conta e vai embora.»(35)

o contraponto entre os discursos do trabalhador e do dono do Taruml reflete

repreeentacees construfdas de posieOes diferentes sobre uma mesma condielo. Isto

permite que se pense 0 garimpo Taruml como urn espaco potencialmente apto as

situaeOes de conftitos.

Alem do controle efetivo sobre ganhos e dfvidas dos trabalhadores. outros

normas de controle social foram institufdas no Garimpo Taruml. A esse respeito.

apesar do seu propnetano afirmar que as norma. slo necessarias para «organizar

o trabalhe», torna-se evidente que as medidas adotadas visam em ultima lnstanela, 0

controle da forea de trabalho.

Algumas dessa nermas, mencionadas a seguir. dizem respeito a situaeOes do

cotidiano dos trabalhadores. como os habitos de consume, lazer, bern como. de

determinadas tarefas na unidade de produelo. Outras no entanto, estlo relacionadas

com situacOes mais delicadas. como 0 porte de armas, usc de entorpecentes e

intercurso sexual com as cozlnhelras.

- 0 Uso de Annas

o usc de armas de qualquer tipo possui severas restricOes no Garirnpo

Taruml. A permisslo desse usc esta facultado apenas ao gerente. ao cantlnelro e

aos nscals de barranco.

92

Page 38: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Os flscals de barranco estAo constantemente armados ao percorrerem os

balxoes em suas vistorias diarias as unidades produtivas. 0 gerente tamoern faz

uso de armas quando se desloca ate os balxoes para acompanhar a despescagem.

Na cantina esta disposta em local acessfvel uma arma em condi~Oes de uso

imediato pelo cantlnelro, caso necessano.

Para 0 propnetario do TarumA. os trabalhadores nAo devem possuir armas

porque «cria uma situa~Ao sem controle». Por outro lado, 0 uso permitido ao

gerente, cantlnelro e flscals diz respeito tAo somente a «garantia de seguran~a».

Com esta medida, ainda de acordo com 0 propnetario, evita-se que estes individuos

sejam tornados de assaltos, a exemplo. durante 0 transporte do ouro ate as

cantlnas. Sabe-se que alern do motivo alegado, esta permlssao de uso possui

estreita rela~Ao com a Ilierarquia de poderes institufda no TarumA e com a

«obriga~AO)) no cumprimento das normas. Trata-se de urn mecanismo utilizado para

intimidar os produtores diretos.

No sentido de coibir 0 uso de armas, os pertences dos trabalhadores sAo

rigorosamente revistados, inclusive com detector de metals, tanto quando entram,

quanta quando saem do garimpo. Nesta vistoria tambern se procura coibir a entrada

no garimpo de qualquer tipo de entorpecentes. estimulantes e ate. daqueles

medicamentos passfveis de serem comercializados na cantina.

«...cheguei aqui, a primeira coisa que foram me revistando todo, botar

aparelho apitando por todo lado ne, desarrumaram a roupa da gente, da boroca,

joga tudo at no chao, pra ver se nao tern nem uma arma, nAo permite isso aqui

93

Page 39: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

dentro, a gente chega e revistado, quando sai a mesma coisa, revistado tudo

novamente, tira tudo pra ver se nlo leva nada.»(36)

Como se observa, 0 sair 0 trabalhador e vistoriado rigorosamente. Neste

momento, nlo se procura apenas a armas, mas, pertences de outrem, e

principalmente, ouro. Se a percentagem nlo esta sendo repassada ao trabalhador e

mesmo assim, ele possui ouro, toma-se evidente que os "seals de barraneo nlo

estlo realizando suas vistorias como 0 rigor exigido.

Caso seja encontrado qualquertipo de arma em poder do trabalhador, quando

este estiver ainda em Itaituba, a arma em questlo permanece guardada na Aginela.

Se for encontrada no balxao, em mlos de um trabalhador de boa indole, a arma e

recolhida pelo gerente e 0 trabalhador continua na equipe. Em caso do trabalhador

ser reicindente na quebra das normas, ele fatalmente deixara 0 Garimpo Taruml no

primeiro veo que houver e sua arma ficara sob guarda do piloto e devoMda apenas

quando chegar ao seu destino.

- Habltos de Lazer e Consumo

Aos domingos, ap6s as 12 horas, os trabalhadores se encontram Iiberados de

suas tarefas nas unidades de produclo e al, entlo, possuem permisslo para irem

ate a plsta, 0 que nlo e permitido em qualquer outro dia da semana. a nlo ser na

ocorrencia de alguma anormalidade. Geralmente jogam Mebol e consomem bebidas.

o tipo das bebidas, a quantidade e 0 local onde devem ser consumidas, sofrem

algumas restncees,

B4

Page 40: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

Entre os bens de consumo constantes na cantina, nAo figura bebidas

alcechcas comuns em areas garimpeiras, tais como aguardente, rum, ufsque. A

exce~Ao e feita para a cerveja acondicionada em latas, consumida apenas aos

domingos quando os trabalhadores se encontram na plsta, e no intervalo de 13 as 18

horas. Ap6s as 18 horas os trabalhadores devem retomar aos seus barracos.

o consumo de bebidas alc60licas e visto pelo propnetano do TarumA como

prejudicial a sauce do trabalhador, posto que, diminui a sua capacidade de produ~Ao,

bern como, aumenta a sua predisposi~Ao para contrair malaria.

Na maioria das currutelas no Vale do Tapaj6s se encontram instalados

prostibulos, conhecidos como boates, as vezes de propriedade do pr6prio dono do

garlmpo. SAo locais que oferecern bebidas diversas e mulheres, prestadoras de

tavares sexuais.

salomao diz que a imagem do garimpo como urn local violento e em

desordem, estaria relacionado com as boates devido urn quadro explosive composto

de «prostitutas, bebidas alceoncas e armas» e que naqueles garimpos onde nAo

existe boates, «os desvios da ordem slo circunstanciais.»(37)

o propnetano do TarumA de posse dessa imagem de garimpo mencionada

por SalomAo, argumenta que as boates favorecem situa~oes de conflitos que

rompem a ordem estabelecida, exatamente porque envotve bebidas alceoncae,

mulheres e ate armas. Tambem seria nas boates que os trabalhadores deixariam

grande parte de seus ganhos. Oaf porque, a boate que existia no Garimpo TarumA

toi eliminada, logo ap6s a compra do mesmo pelo atual proprietano.

8S

Page 41: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

- Os Envolvlmentos Emoclonals

A rigidez das nonnas tamoem contemplam as relacOes atetivas entre os

trabalhadores e as mulheres no exerclcio da funclo de cozlnhelra.

Nlo se permite que as cozlnhelras se envolvam emocionalmente com os

trabalhadores. Isto significa dizer, que a cozlnhelra nlo deve manter relacionamento

Intima e por longo tempo com um trabalhador, aos moldes de um matrimOnio. Esta

situaclo se denomina de xodozar.

«0 homem nJo pode ficar mais de duas vezes seguida com a mulher, porque

al ja exod6 e manda embora.»(38)

Os motivos da adoclo desta regra, se relacionam com as situacOes de

conflitos que quase sempre quebram 0 bom relacionamento intemo entre a equlpe, e

entre esta e a cozlnhelra.

Tomou-se bastante comum, a cozlnhelra oterecer a seu companheiro,

alimentos melhor preparados, em maior quantidade ou mesmo, distinto daquele

servido ao conjunto da equlpe. Este comportamento da cozlnhelra se denomina de

pratlca~io do prato e admite sancees tanto aasta como ao seu companheiro.

Este tato foi objeto de observacao direta durante a pesquisa de campo. Em

uma das situacOes, apenas a cozlnhelra foi penalizada, deixando a unidade

produtiva e 0 garimpo. No Taruml, a nonna diz que a penalidade recai sobre 0

homem e a mulher e ambos, abandonam 0 garimpo.

86

Page 42: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

No entanto, na situaclo observada no Taruml, a cozlnhelra foi transferida

para outra unidade produtiva em outro balxao e proibida de ver 0 seu companheiro.

Esta foi a condiclo imposta pelo gerente e aceita pela cozlnhelra, diante da

possibilidade de deixar 0 garimpo em definitivo.

Se por urn lade e proibido xodozar, a pratica de intercurso sexual pela

cozlnhelra e permitido, desde que nlo demonstre prefer@ncia, que 0 tato seja

reconhecido como prestacao de sevicos e que 0 cantlnelro seja informado. De

posse desta informaclo, 0 cantlnelro anota na Flcha da Cozlnhelra urn credito de

duas gramas de aura e urn debito do mesmo valor na Flcha do Trabalhador.

«Se eu dormir com ela, se amanhfl cedo eu for na pista, eu falo la pro

cantineiro: - olha tira duas gramas da minha ficha e coloca na ficha da ...Se eu ir la e

nflo botar na ficha dela, mas al, tern urn que fala: - tulano dormiu com a cozinheira la

e ainda nao passou pra ficha dela. AI, ele vai na ficha e passa logo.»(39)

Em alguns trechos de seu depoimento apresentado a seguir, 0 proprietarto do

Tarumfl, expressou com firmeza as normas e os motivos que 0 levaram a adota-las,

Trata-se apenas de urn exxercicio de apoio as consideracees antes mencionadas.

«...uma das coisas que eu proibi no garimpo foi 0 uso de armas, eu proibi de

entrar armado...ele, 0 garimpeiro, nlo pode entrar armado e nem urn tipo de t6xico e

inclusive, nos temos 0 direito de revistar a bagagem dele na entrada e na salda. E

explicado pra ele que nao tern cachaea, no garimpo nlo se vende pinga, vinho,

97

Page 43: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

nada disso. A (mica bebida alcoonca que nos vendemos no garimpo e a cerveja,

assim mesmo e controlado confonne 0 consumo,porque traz problema de saude.

...porque a pinga vai arrebentar com a saude dele e nllo vai trabalhar quando estiver

bebendo e ele sempre vai estar lento e sempre vai cair de malaria e tal. E outra

coisa que nos nAo temos no garimpo e a boate. A boate eu percebi que tudo 0 que 0

peao ganhava durante 0 dia, 0 que ele produzia, ele gastava tudo de noite na boate,

automaticamente, se voce tern boate, voce tern que ter pinga, tendo pinga voce tern

que ter outros tipos de bebidas, tudo isso e motivo pro garimpeiro gastar. A1em do

que, voce vai ter sempre problema dentro do garimpo, sempre vai ter urn

descontrole, porque onde entra arrna, boate, bebida, t6xico, voce acaba tendo uma

situacllo sem controle, a verdade e essa. Voce se obrigaria, taIvez, a ser dono de

garimpo envoMdo com pistoleiro, com isso e aquilo, coisa que eu optei por nllo ser,

entAo eu preferi tocar de uma maneira diferente. Aqui e urn lugar de trabalho,

bastante trabalho... eu nllo entro no merito da vida sexual de cada pello garimpeiro,

porque no garimpo tern mais ou menos 60 homens e deve ter perto de 8 a 9

cozinheiras. A gente nllo pode permitir que a cozinheira la se amigue, como se diz

aqui na regiao, ou manter urn relacionamento com uma s6 pessoa, porque senao

voce acaba tendo problema dentro do baixllo.»(40)

As demais normas recorrentes no Garimpo Tarumll podem ser descritas

como segue.

aa

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- E proibido fazer reque. Reque e 0 nome dado para a tarefa de retrabalhar

os rejeitos na tentativa de recuperar 0 cure disperdicado durante 0 desmonte do

barranco. Esta norma erecorrente a quase todos os garimpos no Vale do Tapaj6s.

- 0 dia da despescagem e sempre definida pelo gerente e s6 pode ser

realizada na presence deste ou de urnfiscal de balxio. 0 cure amalgamado, com 0

acompanhamento de urn trabalhador, e levado para a cantina e la, 0 cantlnelro

realiza a quelma, na presence do trabalhador e do gerente.

- Os objetos de usc pessoa.I, alimentos, roupas, etc..., enfim todos os demais

itens que estAo postos a venda na cantina, nao podem ser adqulr1dos em outros

locals. Encomendas que possam ser envladas de Italtuba aos trabalhadores

por uma pessoa com quem mantenha lacos de amizade, sAo revistadas e os

produtos, inclusive medicamentos, sAo retirados.

- Os trabalhos nos barrancos nl.o devem softer interrupCOes para 0 amoce,

os trabalhadores se dirigem individualmente ao barraco individualmente para se

alimentarem.

- 0 gerente do TarumA costuma manter aves nos baixoes para seu proprio

consumo. Aos trabalhadores nAo esta permitido consuml-Ias, sob pena de pagar por

elas, cinco gramas de ouro.

Em respeito as penalidades a que estao sujeitos os trabalhadores ao

romperem alguma das normas, 0 proprietano se remete aquelas penalidades

reconhecidas como pratlcas recorrentes em determinados garimpos.

Page 45: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

«...penalidade em garimpo, desde quando eu cheguei aqui, eu sempre soube

que em garimpo a penalidade era eliminar 0 elemento, assassinar, matar a pessoa.

Quer dizer, eu nllo compartilho dessa ideia. A penalidade que eu coloco, se eu tiver

alguem criando problema dentro do galimpo, e ele do garimpo e nllo permitir que ele

entre mais para trabalhar aqui de maneira nenhuma. Bern, ele pode estar

necessitando, pedindo vaga, eu nllo arrumo mais.»(41)

o propnetano do Tarumll afirma ainda, que rigor das normas institufdas em

seu garimpo tern por finalidade transformar 0 garimpo «em urn ambiente de trabalho

que deve ser zelado» e que passe a ser visto como tal e nllo apenas como

«necessariamente algo violento, onde quem manda e a lei do 38, e a violencia».(42)

Mesmo que em seu discurso do proprletano do garimpo Tarumll

demonstre que as normas existem apenas para normatizar as rela~Oes de produ~lIo,

toma-se evidente que 0 controle da mllo-de-obra e exercido atraves das diversas

pratlcas mencionadas anteriormente.

Embora nllo exista a inten~lIo de generalizar as ccnslderacees, parece

claro que formas de imobiliza~~o da torca de trabalho reconhecidas como «traba.lho

escraw» estao presentes nos garimpos do Vale do Tapaj6s envolvendo milhares de

trabalhadores. Atentando para as devidas especificidades, nestas rela~aes de

trabalho estariam embutidos elementos referidos a outras formas de imobiliza~~o

historicamente reconhecidas. 0 endMdamento previo, a obriga~lIo de adquirir os

bens de consume na cantina, a vigilancia armada, 0 desconto de 10% na cotacao

oficial do ouro, os Iimites para a lccomocao e, principalmente, as pratlcas relativas a

1)0

Page 46: GARIMPOS DOVALE DO TAPAJOS - FlacsoAndes

administracAo dos ganhos e das dlvidas dos trabalhadores configuram as unidades

produtivas nos garimpos do Tapaj6s como um espaco onde a pranca de trabalho

escravo e recorrente.

Estas prances ja foram objeto de denuncias, inclusive de par1amentares

brasileiros e referidas por pesquisadores, destacando-se Almeida.

« 0 DNPM estima atualmente nesta regilo do Tapaj6s cerca de 200 mil

garimpeiros. Prevalecem nestas areas formas de imobilizaclo de forca de trabalho,

denominadas de «trabalho escravo»(endMdamento previo, vigiiAncia armada, jomada

de trabalho nlo definida, exist~ncia de carcere privado) e procedimentos i1egais na

compra de producAo aurffera.»(43)

NOTAS

1. GT III, 1983;p.8

2. Gaspar, E dos S - Os Bamburados do Tapaj6s. Tese de Mestrado, Universidade

Federal da Parafba. 1990;p.53

3. Gaspar, op. cit., 1990;p.54

4. salomao, E. P - Os garimpos do Tapaj6s. Uma analise da morfologia e da

dinAmica da producAo in Ci~ncias da Terra, 1981;p.41

5. Salomlo, op. cit., 1981;p.31

6. PaixAo, A. E. C da - Trabalhadores Rurais e Garimpeiros no Vale do Tapaj6s.

SEICOM I 1994;p.4

7. SalomAo, op. cit., 1981;p.40

8. SalomAo, idem

91

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9. GT IV. 1993;p.4

10. SalomAo. op. cit.• 1981 ;p.42

11. Lima. I. J. S de - Cantinas Garimpeiras - Um estudo das relacees sociais nos

garimpos de aura do Tapaj6s. SEICOM,1994;p.87

12. Lima. op. cit.• 1994;p.9Q-96

13. saiomao, op. cit.• 1981 ;p.42

14. Salomlo. op. cit.• 1981 ;p.41

15. SalomAo. op. cit .• 1981 ;p.42

16. GT IV. 1993;p.1

17. SalomAo. op. cit.• 1981 ;p.41

18. Salomlo. idem

19. GT IV. 1993;p.2

20. GT IV. 1993;p.3

21. GT IV. 1993;p.1

22. GT IV. 1993;p.2

23. GT IV. 1993;p.6

24. GT II. 1990;p.1

25. GT II. idem

26. GT VI. 1993;p.3

27. GTV. 1993;p.10

28. GT I. 1990;p.7

29. GT V. 1993;p.10

. 30. GT V. idem

31. GTV. 1993;p.11

92

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32. GT V, idem

33. GT IV, 1993;p.5

34. GT V, 1993;p.15

35. GT IV, 1993;p.4

36. GT IV, 1993;p.12

37. SalomAo, op. cit., 1981 ;p.43

38. GT V, 1993;p.13

39. GT V, 1993;p.17

40. GT IV, 1993;p.5

41. GT IV, 1993;p.7

42. GT IV, 1993;p.11

43. Almeida, A. W. B de - Apropria~Ao de Terra: Antagonismos e Tensees Sociais in

Amazonia Brasileira em Foco, no 19, CNDDA, Rio de Janeiro, 1993;p.24

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