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Homenageamos o servente de pedreiro Amarildo de Souza, que tem a nossa cara, a nossa cor, que é um de nós, que sofreu os mesmos problemas que nós e que teve a pior da s mortes, que é sob a tortura. Amarildo, presente! Gazeta da Ocup Ocup Ocup Ação Ação Ação AMARILDO AMARILDO AMARILDO O povo em luta pela Reforma Agrária Popular! Florianópolis, Brasil, 1° de fevereiro de 2014. 1ª Edição “Nem que a coisa engrosse, essa terra é nossa!” Lutamos pela Reforma Agrária Popular QUEM SOMOS? Centenas de famílias trabalha- doras de brasileiros(as) e lati- nos(as) sem-terra, sem-teto e exploradas em nossos traba- lhos, que lutamos por dias me- lhores. POR QUE OCUPAMOS E LUTAMOS? Por TERRA, TRABALHO e TETO, a Reforma Agrária Po- pular. São direitos garantidos pela Constituição Federal, mas que não são respeitados por governos e empresários. Por isso, nós trabalhadores, somos os únicos que podemos lutar pelos nossos próprios direitos, como o direito à terra! PARA ONDE VAMOS? Construir assentamentos sus- tentáveis, com a preservação das águas, das florestas, com educação para jovens e adul- tos, onde possamos viver com dignidade e espaço para criar nossos filhos, trabalhar a terra e ter uma casa confortável e a- dequada às nossas necessida- des. Lutar pela Reforma Agrária Popular para que realmente a Classe Trabalhadora no Brasil não tema nenhuma crise, pro- duza alimentos sem veneno e acabe com a desigualdade so- cial, repartindo a terra, a maior riqueza de todas. OAB e INCRA defendem direitos dos ocupantes Em suas “impressões” sobre a Ocupação Amarildo de Souza, o Secretário Geral da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/SC, Dr. Ale- xandre Botelho, defendeu que “são pessoas dignas, honradas, de- dicadas ao trabalho e que lutam pe- la implementação e reconhecimento de seus direitos, entre os quais a terra, o trabalho e a moradia”. O Ouvidor Agrário do Instituto Na- cional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) reafirmou que é dever do Estado ga- rantir a Reforma Agrária e consequentemente terra, trabalho, teto, saúde e e- ducação. Antes da saída dos repre- sentantes oficiais, em As- sembleia, lembramos a eles, e reafirmamos a to- dos nós, que nossos di- reitos só a luta faz valer! Depois de 40 dias de Ocupação, a mídia e a polícia descobriram que Amarildo vive na luta do povo. Ouvidoria Agrária e Comissão de Direitos Humanos garantem segurança jurídica. Um caso social, não de polícia!

Gazeta do Amarildo - nº1 - Fevereiro de 2014

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Publicação da Ocupação Amarildo de Souza, em Florianópolis - SC - Brasil

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Page 1: Gazeta do Amarildo - nº1  -  Fevereiro de 2014

Homenageamos o servente de pedreiro Amarildo de Souza, que tem a nossa cara, a nossa cor, que é um de nós, que sofreu os mesmos problemas que nós e que teve a pior da s mortes, que é sob a tortura. Amarildo, presente!

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Lutamos pela Reforma Agrária Popular

QUEM SOMOS?

Centenas de famílias trabalha-

doras de brasileiros(as) e lati-

nos(as) sem-terra, sem-teto e

exploradas em nossos traba-

lhos, que lutamos por dias me-

lhores.

POR QUE OCUPAMOS E

LUTAMOS?

Por TERRA, TRABALHO e

TETO, a Reforma Agrária Po-

pular. São direitos garantidos

pela Constituição Federal, mas

que não são respeitados por

governos e empresários. Por

isso, nós trabalhadores, somos

os únicos que podemos lutar

pelos nossos próprios direitos,

como o direito à terra!

PARA ONDE VAMOS?

Construir assentamentos sus-

tentáveis, com a preservação

das águas, das florestas, com

educação para jovens e adul-

tos, onde possamos viver com

dignidade e espaço para criar

nossos filhos, trabalhar a terra

e ter uma casa confortável e a-

dequada às nossas necessida-

des. Lutar pela Reforma Agrária

Popular para que realmente a

Classe Trabalhadora no Brasil

não tema nenhuma crise, pro-

duza alimentos sem veneno e

acabe com a desigualdade so-

cial, repartindo a terra, a maior

riqueza de todas.

OAB e INCRA defendem direitos dos ocupantes

Em suas “impressões” sobre a Ocupação Amarildo de Souza, o Secretário Geral da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil/SC, Dr. Ale-xandre Botelho, defendeu que “são pessoas dignas, honradas, de-dicadas ao trabalho e que lutam pe-la implementação e reconhecimento de seus direitos, entre os quais a terra, o trabalho e a moradia”.

O Ouvidor Agrário do Instituto Na-cional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA) reafirmou que é dever do Estado ga-rantir a Reforma Agrária e consequentemente terra, trabalho, teto, saúde e e-ducação.

Antes da saída dos repre-sentantes oficiais, em As-sembleia, lembramos a eles, e reafirmamos a to-dos nós, que nossos di-reitos só a luta faz valer!

Depois de 40 dias de Ocupação, a mídia e a polícia descobriram que Amarildo vive na luta do povo.

Ouvidoria Agrária e Comissão de Direitos Humanos garantem segurança jurídica. Um caso social, não de polícia!

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Homenageamos o servente de pedreiro Amarildo de Souza, que tem a nossa cara, a nossa cor, que é um de nós, que sofreu os mesmos problemas que nós e que teve a pior da s mortes, que é sob a tortura. Amarildo, presente! 2

Manifesto do Povo Organizado Somos o povo organizado e declaramos que

não aceitamos gastar mais que a metade do nosso salário com aluguéis. Não é justo que um aluguel custe mais que nosso alimento. Aliás, nenhuma despesa pode ser maior que o alimento, a saúde, a educação, a segurança e o transporte das nossas famílias. Hoje é o fim de tudo isso. Hoje começamos uma nova etapa das nossas vidas, trocamos o eterno esperar pela esperança guerreira. No passado fica toda a incerteza e o sofri-mento de esperar do Estado qualquer solução para nossos problemas sociais. Escolhemos ter um futuro de luta, escolhemos lutar em pé a viver de joelhos.

Não temos medo da violência do Estado. Já sofremos violência desde sempre, afinal, pas-sar fome, sentir frio e não ter teto é uma vio-lência cotidiana, a qual não vamos mais su-portar. Não temos medo de prisão, já estamos pre-sos em nossas casas alugadas, uma vez que nossa renda sequer sobra para que possa-mos passear, ter lazer, etc. Viver bem a cida-de que a gente mora é impossível.

Aqui vivemos, aqui lutamos

Avisamos à sociedade que nós, o povo or-ganizado, decidimos lutar, por todos os meios necessários, para denunciar o plano das eli-tes de Florianópolis em dividir a Ilha apenas para os ricos. O Plano Diretor da Cidade de Florianópolis foi votado apenas para benefici-ar os interesses dos donos do poder local.

Entendemos que por isso devemos ocupar, resistir e produzir uma nova forma de moradia popular. Não queremos casas apenas para morar, queremos um lar onde possamos viver bem a cidade. Viver bem a cidade significa ter transporte público e livre, ter saúde, ter edu-

cação, ter segurança, ter diversão e ter ali-mento saudável. Viver bem a cidade impõe que se conquiste trabalho, terra, teto e liber-dade para todos e todas.

Exigimos espaços públicos e coletivos para poder plantar alimentos; Exigimos educação infantil gratuita, de qualidade e pública, perto de nossa casa; Exigimos educação libertadora em tempo integral para nossos jovens; Exigimos que a Uni-versidade seja públi-ca e gratuita para to-dos; Exigimos tudo que faça a gente ser feliz, saudável, próspero, educado e sonhador dos sonhos mais lin-dos.

A liberdade nós va-mos conquistar lutan-do. Somos o Povo Orga-nizado, estamos jun-tos e somos fortes. Viva a Reforma Agrá-ria Popular! Nem que a coisa engrosse, es-sa terra é nossa! Ocupação Amarildo, aqui vivemos, aqui lutamos!

Na tarde de 22 de janeiro, o Instituto Nacio-nal de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) solicitou oficialmente que órgãos dos Governos Federal e Estadual apresen-tem, se tiverem, escrituras da área reivindi-cada pela Ocupação Amarildo de Souza, a fim de desapropriá-las para Reforma Agrá-ria. Afinal, dos 900 hectares cercados pelos es-peculadores, estes apresentaram cinco es-crituras que compreendem apenas 9,8 hec-tares. E mais: sobre a parte frontal da Ocu-pação, onde estão a maior parte das nossas casas temporárias, as terras devem ser pú-blicas e pertencentes ao Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura). O órgão já solicitou um estudo, pois a rua ali desativada é a antiga rodovia Virgílio Vár-zea. Foi grilada até rodovia? A Ocupação Amarildo também solicitou à Secretaria de Patrimônio da União (SPU) uma reunião em que serão inspecionados os

mapas da área.

OUVIDOR AGRÁRIO E PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA OAB VISITAM OCUPAÇÃO AMARILDO A pedido do Juiz Agrário, Doutor Jeferson Zanini, o Ouvidor Agrário do INCRA no Esta-do, Fernando de Souza, veio verificar a Ocu-pação in loco, repassar as determinações do juiz e coletar dados para a audiência. O presidente da Comissão de Direitos Hu-manos da OAB-SC, Doutor Alexandre Bote-lho veio conhecer a Ocupação e ouvir mora-dores e coordenação sobre as condições da Ocupação e apurar possíveis casos de viola-ção aos direitos dos ocupantes, como por exemplo as intimidações da Força Pública e a ação de provocadores. OCUPANTE VENCE POR NOCAUTE DE VERBO O DEBATE NAS CONVERSAS CRUZADAS DA RBS

Os argumentos do advogado do Agronegó-cio que foi disputar ideias conosco no pro-grama do jornalista Renato Igor não deram nem pra largada. Entrou várias vezes em contradições e acabou concordando com a legitimidade da Reforma Agrária. Nosso companheiro Rui Fernando da Silva Júnior, ao ser provocado sobre suas convic-ções políticas, respondeu: – Ideológica é a fome, a miséria e a explora-ção! "NEM QUE A COISA ENGROSSE, ESSA TER-RA É NOSSA!" "SE NÃO HÁ IGUALDADE PARA OS PO-BRES, QUE NÃO HAJA PAZ PARA OS RI-COS. RODA BAIANA, FALA MAIS ALTO, DES-CE DO MORRO E OCUPA O ASFALTO!" "NA LUTA DO POVO NINGUÉM SE CANSA!"

INCRA COMEÇA INVESTIGAÇÃO DA ÁREA PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA - TERRAS PÚBLICAS FORAM GRILADAS

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Homenageamos o servente de pedreiro Amarildo de Souza, que tem a nossa cara, a nossa cor, que é um de nós, que sofreu os mesmos problemas que nós e que teve a pior da s mortes, que é sob a tortura. Amarildo, presente! 3

Na manhã de 16 de dezembro de 2013, nós, reunidos em dezenas de famílias de trabalha-dores(as) que lutamos por TERRA, TRABA-LHO e TETO, ocupamos um pedaço de terra

do tamanho aproximado de 600 hectares, ou seja, de 1200 campos de futebol, no norte de Florianópolis. Essa terra, da qual empresári- os/especuladores se dizem donos, estava pa-rada há pelo menos 30 anos.

Aqui vivemos e lutamos de modo humilde, do jeito do povo, construímos nossos barra-cos provisórios com bambu e lonas fortes ou

com tábuas e telhas. Guardamos a sombra do bosque para as brincadeiras das crianças. E as que preferem soltar pipa ou jogar bola nunca tinham experimentado um campo tão grande sem fios ou carros que atrapalhem. Na pequena sede da fazenda organizamos a cozinha coletiva, que serve cerca de 500 re-feições diariamente. Decidimos nossas ques-tões de forma democrática, em assembleia, em que todos podem falar e ser ouvidos.

NOSSAS VIDAS

Trabalhamos todos os dias desde a adoles-cência. Hoje não é diferente. Empregados, explorados, com renda familiar que não che-ga a três salários mínimos, nos resta lutar pe-los nossos direitos. Afinal, o documento da Constituição Federal do Brasil nos garante TERRA, TRABALHO e TETO, mas somente nós trabalhadores(as) podemos garantir es-ses direitos na prática, e assim fazemos. Não podemos deixar a nossos filhos e netos um aluguel para pagarem e nem queremos que comam pra sempre essas comidas de super-mercado, carregadas de venenos/agrotóxicos que causam câncer e matam. Temos a certe-za de que somente com a Reforma Agrária Popular o povo trabalhador de Florianópolis e do Brasil poderá melhorar sua condição de vida.

O ANO NOVO

Depois que rompemos as cercas, pouco a pouco dezenas de famílias foram chegando à Ocupação Amarildo em busca de uma vida melhor, merecida e justa. Famílias brasileiras do povo Kaigang, que estão a trabalho na ci-dade, também se juntaram a nós. Hoje somos 725 famílias, o caldo engrossou! A Justiça Comum tinha nos mandado sair da área, de-pois suspendeu a ordem de despejo e aceitou nossa defesa, feita por nossos advogados, e encaminhou o processo para a Justiça Agrá-ria.

No dia 7 de fevereiro teremos a primeira au-diência, na qual estarão as partes envolvidas no conflito agrário: nós, os fazendeiros e os governos Federal, Estadual e Municipal, que têm a responsabilidade de realizar a Reforma Agrária.

A REFORMA AGRÁRIA E OS

EMPRESÁRIOS QUE SE DIZEM

DONOS DA TERRA

Na década de 1950 o povo se organizava e avançava na luta. No Paraná, em Porecatu, o povo se armou e dividiu as terras entre si, ex-pulsando os grandes grileiros de terra. Os go-vernadores do Rio Grande do Sul, Leonel Bri-zola, e de Pernambuco, Miguel Arraes, ouvi-ram o povo e iniciaram Reforma Agrária em seus estados. O movimento aumentou, até que o Presidente João Goulart anunciou que realizaria a Reforma Agrária de norte a sul do Brasil. Mas infelizmente os inimigos do povo impediram esse grande avanço. Com ordens dos EUA e dos grandes empresários, apoio da Rede Globo, da Folha de São Paulo e de outros, deram um golpe de Estado no dia 1º de abril de 1964.

A última ditadura militar no Brasil (de 1964 a 1984) foi responsável por matar quem lutava por terra no Brasil e expulsar os sobreviven-tes para as grandes cidades, gerando o êxo-do rural e oferecendo baixos salários, chum-bo, cacete, migalhas, favelas e fome aos tra-balhadores.

Um dos empresários que se diz dono da área que ocupamos hoje é Artêmio Paludo, que foi deputado, secretário de agricultura e presidente do partido ARENA, da ditadura mi-litar, e se apossou da área justamente quan-do estava no poder, protegido pelos inimigos do povo brasileiro. Usou muito dinheiro públi-co para fazer tanques para a criação de ca-marões; o ‘empreendimento’ fracassou e o dinheiro nunca foi devolvido. Ele não pagou sequer os direitos trabalhistas das famílias que trabalharam pra ele na época.

DESDE 1988 RECUPERAMOS

O DIREITO DE LUTAR

A Constituição Brasileira garante que a terra que não cumpre a função social, ou seja, não produz e não abriga famílias, pode e deve ser ocupada e desapropriada para a Reforma A-grária. E lutar por direitos não é crime, é vida!

A OCUPAÇÃO AMARILDO

Visite na internet: www.facebook.com/pages/

Ocupação-Amarildo-de-Souza-

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Homenageamos o servente de pedreiro Amarildo de Souza, que tem a nossa cara, a nossa cor, que é um de nós, que sofreu os mesmos problemas que nós e que teve a pior da s mortes, que é sob a tortura. Amarildo, presente! 4

Sobre a Ocupação Amarildo de Souza - Flori-anópolis: Na qualidade de Secretário Geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC, acompanhado do ouvidor agrário do INCRA/SC, Dr. Fernando de Souza, visitei a ocupação “Amarildo de Souza”, nas margens da Rod. SC 401, no norte da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis). No local presenci-amos mais de 600 famílias ocupando uma área total de 900 hectares, com a finalidade de desa-propriação para fins de reforma agrária coletiva e desenvolvimento de atividades de agroecologia, com a criação de um cinturão verde destinado a abastecer as necessidades daquelas famílias e o próprio comércio local. Durante a visita nos foi informado o seguinte:

1. PROPRIEDADE DA ÁREA: trata-se de uma área na região da Vargem Pequena, de aproxima-damente 900 hectares. Na ação de reintegração de posse, movida pelo proprietário, este demons-trou, com documentos (cinco escrituras públicas), a propriedade de 9,8 hectares (1% da área). Não há informação confirmada sobre quem seja o pro-prietário dos 890,2 hectares restantes. Há infor-mações, que devem ser apuradas pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Esta-do de Santa Catarina, de que o proprietário dos 9,8 hectares teria cercado a área de 900 hectares na década de 1980-1990.

2. ATUAÇÃO DO INCRA: o ouvidor agrário do INCRA informou que solicitará aos órgãos Fede-rais, Estaduais e Municipais que apresentem as escrituras de propriedade da área reivindicada pela ocupação, assim como requereu à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) que inspecione a área, identificando seus legítimos proprietários.

3. REALIDADE DA OCUPAÇÃO: durante a visita fomos apresentados a diversos ocupantes e suas famílias, assim como conhecemos as propostas dos líderes do movimento e suas expectativas. 3.1 TRABALHADORES: 70% dos ocupantes em idade adulta trabalham, a maioria na área da construção civil; 3.2 ORGANIZAÇÃO: as famílias são agrupadas em “núcleos”, formados por dez ou doze famílias, que dividem e compartilham as atividades de sub-sistência no local; 3.3 ALIMENTAÇÃO: são preparadas quatro refei-ções diárias, sempre de forma coletiva, sendo que as crianças sempre têm preferência; 3.4 ORIGEM DOS OCUPANTES: são pessoas dignas, honradas, dedicadas ao trabalho e que lutam pela implementação e reconhecimento de seus direitos, entre os quais, a terra, o trabalho e a moradia. A maioria das famílias é oriunda da região nordeste do Brasil e adotaram Florianópo-lis para viver e criar suas famílias. Muitos vieram atraídos pela oferta de empregos na área da Construção Civil e estão em Florianópolis há mais de uma década. 3.5 O QUE QUEREM: impedir a especulação imobiliária e por meio da atividade cooperativa, estruturar um cinturão verde para a região, com a produção de verduras e hortaliças, que atenderi-am às necessidades das famílias e poderiam a-bastecer o comércio local; 3.6 A POLÊMICA DOS VEÍCULOS NO LOCAL: ao entrar na ocupação, identifiquei a presença de aproximadamente dez veículos (sendo um o meu). Questionado sobre os automóveis, uma das lideranças respondeu que três ou quatro e-ram de visitantes e os demais pertenceriam aos ocupantes, sendo todos veículos usados e mode-los populares.

4. PODER JUDICIÁRIO: há uma audiência de conciliação marcada para o dia 07/02, a ser presi-dida pelo Juiz Agrário, Dr. Jeferson Zanini.

5. POLÍCIA MILITAR: as lideranças do movimen-to reclamaram da atuação da Polícia Militar de Santa Catarina, especialmente quanto aos sobre-voos rasantes do helicóptero da PM e ao empre-go da sirene e giroflex pelas viaturas policiais du-rante o período da noite na frente da ocupação.

6. RESPEITO AMBIENTAL: os ocupantes rece-beram a visita da Polícia Militar Ambiental, que vistoriou a área e parabenizou os ocupantes pelo uso racional do solo e pelas soluções encontra-das para a preservação do lençol freático da re-gião.

7. OBSERVAÇÕES PESSOAIS: fiquei positiva-mente impressionado com a organização e estru-tura da ocupação. Identifiquei lideranças que es-tão há bastante tempo no movimento dos sem-terra e possuem fortes argumentos e sólidos pro-jetos para a ocupação daquela área. Questionado sobre a possibilidade de uma decisão judicial con-trária aos interesses dos ocupantes, fui informado que o movimento é pacífico e respeita o Poder Judiciário de Santa Catarina.

8. CRÍTICAS: ninguém é obrigado a concordar com a minha opinião. Apenas peço a gentileza de, antes de fazer críticas vazias (as com conteú-do são absolutamente aceitas, necessárias e construtivas), informe-se sobre a ocupação Ama-rildo de Souza, sobre a realidade de Florianópolis, de Santa Catarina e do Brasil.

As impressões do Secretário Geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC, Doutor Alexandre Botelho

Repúdio aos penas e bocas de aluguel Gostaríamos de lembrar à população que

os falsos jornalistas e comentaristas que criminalizam a luta do povo trabalhador em rádios, TVs e jornais são justamente alugados pelos inimigos dos trabalhado-res. Usam concessões públicas para de-sinformar a Classe Trabalhadora, para que esta nunca se levante contra a escravidão do capitalismo.

Repudiamos o racismo, a xenofobia e a discriminação social praticada pelos bocas e penas de aluguel. Alguns premiados pe-los patrões da construção civil, da especu-lação imobiliária.

Ao invés de saírem esculachando a luta do povo, deveriam fazer o trabalho jorna-lístico de informar que os grileiros devem muito IPTU, que se apossam de terras pú-blicas, que pegam dinheiro público para fazer uma fazenda privada e nunca pa-gam.

Pois nós convocamos o povo a se levan-tar por direitos, por justiça social e a cons-truir o Poder Popular em seus espaços de trabalho, ônibus, escolas, casas, igrejas, favelas e ruas.