GENARO RUBEN CARRIo

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  • 8/6/2019 GENARO RUBEN CARRIo

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    GENARO RUBEN CARRI (1922-1997)

    ( Homenagem em modo de Resenha)

    (Tribute in form of Review)

    Carlos Alberto Molinaro*

    [A] tendncia de vest ir os enunciados em otivos com a

    roupagem dos enunciados re ferenciais endmica nos

    trabalhos de f i losof ia , socio logi a e teoria jur d ica . Tal como

    este t ipo de l i teratura tende a confundir as proposies de

    fa to com def in ies , ass im tambm tende a confundir as

    proposies de fa to com ju zo s de valor 1.

    I Marcos biogrfico e bibliogrfico.

    Genaro Rub en Carr i graduou-sena Univers idade de La Plata (Argentina) em

    1944, onde foi a luno de Carlos Coss io2

    . Nos anos de 1954-1955 cursou e concluiu seu Master of Law in Comparatives Laws pela Methodist Univer s it y

    Law School de Da llas (T exas - EE. UU. ) , passando a As sociate Professor da

    * Dou t orem D i re i to ( com regis t r o de Doctor Europeop e la Un ive r s idade Pablo de Olav ide

    de Sevi lha- ES ) , reva l idadope la Univer s idade Federa l de San ta Catar ina UFSC . Me s t re e

    Espec i a l is t a em D i re i to Pb l i co pe l a PUCRS . P ro fes sor na PUCRS na Gradu ao e no

    P rograma de Mes t r ado e Dou to rado em D i re i to. P ro fe ssor conv idado no P r ograma

    Der echos Humanos y Desarro l lo da Univer s idade Pablo de Olavide , Sevi lha ES. 1Genaro Ruben Carr i , Lenguaje , in terpretacin y desacuerdos en e l terreno del derecho,

    in , Notas sobre derecho y lenguaje, Bu enos A i res , 1965, I I I, no tas e comentr io s, 11

    ( t raduz imos) . 2 Carlos Coss io (1903-1987), desde su a Teoria Egolgica do D ire i to, entendia qu e o s

    objet os da cul tu ra podiam ser persp ec t ivados desde dois a spec t os : mundanais ou

    egolgicos; denominava mundanais ou vida humana obje t ivada a toda s a s coi sas expre ssas

    como r esul t ado da at iv idade humana e qu e fundam o seu mundo ; de ou t ro modo , para

    ident i ficar a conduta la v ida humana v iv iente onde se apre sen tam e da qua l provm os

    objet os mundanais cr i a a expresso obje tos egolgicos (de ego = eu ) com a in teno de

    marcar bem o subs t r a to dos obj etos mundanai s , va le dizer, o sentido qu e lhes d la propia

    conducta del su je to actuante ( La teora egolgica: La teora egolgica del derecho y e l

    concepto jur d ico de l ibertad. Buenos A i re s , Lozada : 1964 , p . 233). A t ese fu ndamenta l de

    Cos s io reve la-s e na pr ioridade da conduta sobre as normas; entendia , en to, que el obje to

    de la c iencia jur d ica no son las normas, s ino la conducta (op . c i t , passim) , poi s s logramo s a in tu i o do ju r d ico qu ando o fim in tenc ional de no ssa vivnc i a a condu t a

    humana . Coss io con ceb i a o d i re i to no como norma , s im, como conduta normada, poi s a s

    norma s , d iz i a e le , no so um comp lexo de s igni ficae s t ranscendente s com r e lao s

    condu t as humanas , ao contrr io , es t o dentro des ta s condu ta s e a s con formam enqu anto

    s ign i ficao ju r d ica das mesma s . D is to se in fere qu e o d i re i to como objet o r ea l a

    es tudar no regulao da conduta, s im a condu ta regulada. Coss i o a fi rmava que o

    conhec imen to do direito pde a lcanar a d ign idade de c in c ia dev ido a qu e a s normas

    ju r d icas , por sua bi latera l idade (atente-s e qu e para Coss io as normas repre sen tam a

    condu t a de um suj ei to em sua in ter fernc i a com ou t r o) , no se do isol ada s , ma s em uma

    es t ru tu ra lgica que uma p lu ra l idade de conexe s , o que permite en carar o dire i to como

    uma p lenitude herm t ica (op . c i t . , p . 206). A grande contr ibu i o de Coss io es t no

    concei to qu e u t i l iza : o dire i to como conduta em in ter ferncia in tersubje t iva (a d is t ino entre dire i to e moral fica a , clar a ; contudo , no aqu i o lu gar ind icad o para maiores

    con s iderae s sobre a teoria egolgica) . Contudo , pen se-se : t an to a fs ica como o d i re i to

    se in te ressam porcondutas. A primeira por con du t as na matr ia pro fu nda , a segunda por

    condu tas em in ter fern c ia s in ter subjet iva s .

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    mesma i stitui no ano de1955-1956. Em 1959, recebeu o grau de Doutorem Direito e C i ncias Socia is pela Uni er s idade de Buenos Aires (Argent ina).Ma is tarde, no b i nio de 1968/1969 foi es tudar na Uni er s idade de Oxford(Inglaterra), ocas i o em que teve como supervisor o Prof. Herbert Ha rt . Foi

    professor titular de Introdu o ao Dir eito da Univers idade de Buenos Aires ; membro da Comisso Interamericana da OEA; membro fundador dapres t igiada SAFAD Soc iedad Argent ina de An l is is F ilosfico,culminando sua carreira de ilustre professor e advogado como Pres idente daCorte Suprema de Just i a da Nao Argentina (perodo de 1983/1985) 3.

    Sua produo cient fica foi relevante, como aut or origina l , en tre outras :

    Recurso de amparo y tcnica judicia l, (1959). Buenos Aires : Ab eledo-Perrot , 1987;

    E l recurso extraordin rio por sentena arbit rria (1967). BuenosAir es : Ab eledo Perrot , 1967, reeditado em 1983 esucess ivamente;

    Derecho y Mor a l contribuciones a su an lis is. Buenos Aires : Depa lma, 1962;

    Sobre el concepto de deber jurdico. Buenos Air es : Ab eledoPerrot , 1966;

    Princ ipios jurdicos y pos it ivismo jurdico. Buenos Air es :

    Editoria l Abeledo Perrot , 1970; Algunas pa labras sobre las pa labras de la ley. Buenos Air es :

    Ab eledo Perrot , 1971;

    Notas sobre derecho y lenguaje. 3. ed. Buenos Aires : Ab eledo-Perrot , r eimp. 1973, 1990;

    Sobre los lmites del len guaje normat ivo . Buenos Aires : Editoria l

    As trea, 1973;

    Ma is de uma centena de art igos sobre temas de filosofia do

    direito, teoria gera l do direito, de direito cons t i tuciona l eprocessua l, publicados em revis tas e obras conjuntas, nos ma ispres t igiados meios editoria is especia lizados do mundo.

    Carri, a inda, foi tradut or e comentador, para a lngua castelhana, de grandesclss icos como:

    Hart , Herbert L.A., E l pos it ivismo jurdico y la separacin entr eel derecho y la mora l [1958], em Derecho y mora l.Con tribuciones a su an lis is, trad. de Genaro R. Carri, BuenosAir es : Depa lma, 1962, pp. 1-64 ;

    3 Pode-se acessar o s i te da Fundac in Konex (www.fundacionkonex.org) para ob terem-seoutros dados b iogrf icos de Genaro Ruben Carri.* Os l ivros marcados com * so de nosso acervo part icu lar .

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    _____ El concepto de derecho. 2.a ed., trad. de Genaro R. Car ri.Mxico: Editora Naciona l, 1980*

    Ross, Alf , Sobre el derecho y la just icia, trad. por Genaro Car ri.Buenos Aires : Eudeba,1963;

    _____ El concepto de va lidez y otros ensayos, trad. de Genaro R.Carri e Osva ldo Paschero. Buenos Air es : Centro Editor deAmrica Lat ina, 1969;*

    Hohfeld, W. N., Conceptos jurdicos fundamenta les , trad. deGenaro R. Car ri. Buenos Aires : Cen t ro Editor de AmericaLat ina, 1968;*

    Aus t in, John L., Cmo hacer cosas con pa labras, trad. esp.Genaro R. Car ri y Eduardo A. Raboss i. Barcelona : Pa ids, 1998;

    II Cons id s sobre seu pensamento em teor i a geral do dire ito com

    nfase na teor ia da linguagem jurdica .

    Carri no se cons iderava um inves t igador em filosofia do dir eito, dizia -s eum advogado dedicado a praxi jurdica . Contudo, pelo contedo de sua obra,especia lmente pela inves t igao que realizou quando Pres iden te da Cort eSu prema argent ina, sua contribui o para a ci nc ia jurdica, para a filosofiado direito e para o es tudo do dir eito cons t i tuciona l foi relevante 4. Dediscpulo de Carlos Cos s io, cedo se transferiu para a fil fia analti a e,

    pos teriormente, para a fil f ia da linguagem . T inha imenso interesse no

    direito processua l e nas ques t es de interpretao das normas jurdicas.Desenvolve u tod o um labor para provar a nt ima conexo entr e a linguagemor din ria e a interpretao judicia l do direito, a suas aportaes para umasemnt ica das linguagens natur a is foram important ss imas para a filosofia dodireito. Car ri, obs t inadamente, procurava tornar claros os conceitos com quetraba lhava. Com seus Princpi jurdicos y posit i ismo jurdico (1971)concebeu uma noo de interpretao5 que conecta a norma ao fa to desdeaquele que interroga segundo princ pios extra dos do ordenamento e referidos

    para aspectos do mesmo, es tes reunidos e s intet izados no principio deigua ldade, todos como expresses de genera lizaes i lustrat ivas obt idas a

    partir das regras do s istema. Com as monografias Sobre el concepto jurdicode deberjurdico (1965) e Sobre los lmites del lenguaje normat i o (1973)intentou deter minar com preciso o uso da linguagem ordinria no

    procedime nto interpretat ivo e ap licat ivo da norma ju rdica .

    4 A props i to, a an l ise que fez da expresso poder const i tu inte originrio , que no pode seriden t i ficada pe la l inguagem ordinria, seno pe l a l inguagem t cni ca doscons t i tuc iona l is t as e po l i t l ogos, ext raordinria (C f. Sobre los l m i tes de l lenguajenorma t i

    o. Buenos A ire s : As t rea , 1973, p . 33-58) .5 Carri no acred i tava em grandes cont r ov rs ias teri cas, po is es tas afas t avam da ques tojurd ica pos ta em ju zo, a praxis inderrogve l do fenmeno jurd ico.

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    Magnfica foi a introduo que fez na traduo na monografia de Wes ley Newcomb Hohfeld 6, Some Fundamental Legal Conceptions as Applied inJudicial Reason ing (1913), traduzi da como Conceptos jurdicosfundamentales (1968). Nela deixava claro, segui ndo o aut or, que os conceitos

    bsicos com os qua is ident ificamos diferenc iadas classes de s ituaesjurdicas subjet ivas devem ser ana lisados s implesmente como ve culoslingust icos ut ilizados para a expresso s inttica do contedo de normas dos istema, entre as que intermediam conexes de diversos t i pos , e no comoconcebia a dout rina tradiciona l, isto , desde um essencia lismo metafs icoque levava a conc lui r, v.g., que expresses como dir eito subjet ivo servia m

    para nomear e qua l ifica r uma categoria unitria definida em termos de a lgumaidia centra l ide nt ificvel com independncia de qua lquer que fosse, emconcreto, o contedo das normas do s istema jurdico ao que iam referidos.Hohfeld ident ificava ideia dos dir eitos como pretenso (claim), vinculada aques to sobre a indispensvel correlao entr e direi tos, deveres e obrigaes.Carri reve lou na sua viso, que para Hohfe ld, o uso do termo direito podeser empregado nas ma is diversas s it uaes normat ivas, sejam jurdicas ou morais. Dizia e concordava que para Hohfe ld, a centra lidade da idia de

    pretenso se acrescentava a de pri il

    gio , poder (ou aut oridade, ou domnio)e imunidade. O que releva de sua class ificao 7 es t na caracterizao de cadaum des tes conceitos por seus opos tos jurdicos, isto , aqueles conceitosque fa zem referencia a uma s ituao jurdica em que se encontra uma pessoaquando no es t na pos io que o concei to em ques to refere, e por seuscorrelat ivos jurdicos, isto , os conceitos que fa zem referncia a umas ituao jurdica em que se encont ra aquela out ra pessoa frente a quem tem

    um direito nos diferentes sent idos opos tos. Ass im:

    Hohfeld, Concep tos . . . , p . 47

    Com a ideia de corre lao e no jogo de interesses, Hohfeld afirmava referia Carri que o juzo princ ipa l cons is te em dizer que qua lquer dever

    6 We s ley Newc omb Hofheld (1879-1918) , br i lha n te juris ta nor te -amer icano e um dos ma i sde s tacados represen tantes da ana ly t ical jurisprudence , a pequena (grande) monograf i ac i tada (escr i ta em menos de 50 pg inas) , um c l ss ico que merece ser re l ido, no tadamentepor sua a tua l idade, nada obs tan te, o decurso de quase um scu l o de sua pub l icao. Qua tr os ign i ficados bs icos para Hofhe ld : c la im-righ ts (pre tenses, d i re i tos em sent ido es t ri to) ,l ibe rty-rights ( priv i lgios),powers (poderes) e immun i t ies ( imun idades ). Cf . , WEB: www.h i i t . fi / fi l es /ns /H erkko /S O M E % 20F U N D AM E N T A L % 20L E G A L % 20 C ONCE P T IO N S % 20A S % 20A P P L IED % 20IN % 20JU D I C IA L % 20 RE A S O N IN G . pdf 7 Razo possua Genaro C arri ao af i rmar que as c l ass i ficaes no so cer t as ou e rradas , mas te is ou in te is (No tas sobre derecho y lenguaje , p . 99) .

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    imp lica um direito, va le dizer, que os direitos so deveres vis tos desde outraperspect iva .

    Carri, sem dvida, es tava frente em seu tempo, com preciso e est ilo,construi u limites muito importantes para o ac laramento dos conceitos doverdadeiro e do falso na predicao normat iva. Des te modo, ele entend ia quese podiam conceber diferentes usos da linguagem, como: (a) o uso express ivo

    consisten te em empregar uma linguagem para expressar emoes ou provoc-las no interlocutor; (b) o uso interrogat ivo onde a orao tem comofuno requereruma informao do interlocut or (subsuno do uso diret ivo dalinguagem) ; (c) o uso operat ivo caracterizado pelo fato de que, pronunciarcertas pa lavras em deter minadas condies, imp lica em rea lizar a ao a quees tas pa lavras se referem; as s im, dizer em certas condies juro respetar laconsti tuci

    n, prometo devolver, en la moneda de origen, cons isteprecisamente em rea lizar as aes de jurar e prometer; (d) o uso prescrit ivo

    ocorre quando mediante a l inguagem, o que fa la, se prope dirigir ocomportamento de out ro, isto , induzi - lo a que adote um deter minado cur sode ao. Ao contrrio das ter minolog ias ut il izadas pela cinc ia dura onde,em gera l, o uso s ign ifica t ivo dos termos cos tuma ser definido rigidamente nosmb i tos nelas deter minados, o mesmo no se d na esfera soc iojurdica, poisen ten dia Carri 8 que os termos so o resultado de emanaes his tricas des ignificados s vezes flut uantes e que partici pam da linguagem emot iva, ou de seu uso emot ivo 9.

    III Pontos de co inc idnc ia entre Carri e Guast ini.

    Muit os so os pontos em que coinc idem Car ri e o it a liano Roberto Guast ini .Para ambos o direito dependente da linguagem, desde domnios bemdefinidos, isto , os domnios s intt ico, semnt ico e pragm t ico. Para ambosos aut ores, a prpria ex istncia das normas resulta da linguagem que seut iliza nesses domnios. No domnio s intt ico se inscrevem as formulaesnormativas , pois o que importa a revela-se pela es trut ura s intt ica e a relaoen tre os s mb olos que representam. No domnio semnt ico se inscrevem as

    proposies normativas , ou o sen tido de enunciados norma tivos, imp licando-se as relaes entre os s mb olos e os seus s ignificados. No domnio

    pragm t ico, a linguagem um poderoso ins trumento com o qua l poss vel

    des ignar imperat ivos (ordenar, prometer...) e es tabelecer uma dist inoling st ica entr e o sent ido da norma e sua fora vinculante. A se v,

    8No tas sobre derecho y lenguaje . 3 . ed . Buenos A i res : Abe l edo-Perro t , 1990, p . 20-239 Por es t a razo, no d iscurso pol t ico d izi a C ar ri em gera l , tem tan ta transcendncia ouso emot ivo da l inguagem, va l e d izer , um emprego dos termos permeado pe la ideo l ogi a,pe las crenas e expec ta t ivas do fa lan te, com independncia de seu poss ve l sen t ido t cn icoou espec fico, em caso de que es te possa de te r minar-se com rigor; em out ras pa lavras ,quia, um emprego po l t ico da l ngua (C f. C arri, G. , No tas sobre . . . , p . 22) . A ten te -se quena l ing uagem po l t ica, a semn t ica es t de ter m inada ideol og icamente, e des te fato devees tar mui to consc ien te o in trpret e.

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    nit idamente, os diversos usos da linguagem nas proposies normativas que prescrevem, permitem ou pr o bem... Para Car ri e Guas t ini, o dir eito seexpressa atravs da linguagem natura l. A linguagem do dir eito es tret icularmente inc luda nas prt icas socia is que conformam a l inguagem

    soc ia l num cronotopos dado, e a es t toda a nfase, que d Car ri, ao es tudoda linguagem ordinria na prt ica jurdica. Este uso, certamente, carregaconsigo ambiguidades, dificuldades de representao quando confrontada comlinguagens art ificia is (v.g. linguagem das lgicas, especia lmente, dent ica),

    bem como quando referem tcnicas do direito e definies lega is.

    Contudo, o fato de que o dir eito se expressa a travs da linguagem na tura l n oafasta de seu mb ito a linguagem dos juristas. A cons truo, ento, revela - s enuma reproduo: linguagem dos juristas produzi ndo uma meta lingu agem dalinguagem do dir eito , inserta numa linguagem lega l. O resultado, em sede

    jurdico-normat iva, so as propos ies normativas cujo va lor verit at ivo es t

    pendente da exis tn cia de correlat ivas normas. Nes te universo, as propos iesnorma t ivas so puras , ou interpretativas , ou ap lica tivas , mas sempredependentes da linguagem na tura l (ordin ria) , pois interpretar um enunc iado sempre est ipular um s ignificado para es te enunc iado 10, pois a norma resultante o resultado do ato interpretat ivo.

    Uma convergncia no tvel en t re Car ri e Guast ini es t no sentido que do aexpresso: princpios jurdico s , desde a meta linguagem dos juristas. Ass im,coinc idem na formulao de ( i) princpios como normas de amp l oconhecimento, regulando casos gera is; ( ii) princpios como formulaes vagas

    ( inde ter minados) de textura aberta ; ( iii) princ pios incorporados em normassuperiores cujos va lores so mximos em relao ao s is tema ou a umains tituio dada; ( iv) princ pio no sent ido de programas (normas

    program t icas) que imp licam a obrigao de perseguir os fins desejados pel os istema ; (v) princ pios que se revelam em normas especia lmente dirigidas apl icao do direito (verificao das condies de incidncia da normaapl icve l e sua interpretao, etc. ); (vi) princ pi os no sent ido de regu la iuris ind ispensvel para a s istema t izao do ordenamento jurdico (v.g., princ piodo legis lador raciona l; brocardo iura novit curia11). Muit os outros pontoscoinc iden tes poderiam ser apontados ent re os do is notveis aut ores, todavia

    n o aqui o lugar apropriado para ma ior aprofundamento.

    Cons idera es finais .

    Da leitura que fizemos de a lguns trabalhos de Car ri, percebemos que el edis t inguia no discurso socia l a cons truo ling s t ica do referente, dado o

    10 Cf. Guas t in i , R. ,

    as fon tes s normas. Trad. Edson B en i . So Pau l o, 2005, p. 130.11 O Tribuna l (curia ) conhece as le i s (ou os d ire i tos) [iur a p lura l de ius ] .

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    sent ido das pa lavras. Por isso, indagava pelo sentido propos it ivo do discursosocial en volvido nas proposies jurdicas . Enten dia que no se deviaprocurar o fenmeno social nelas inserto, s im o discurso proferido, parafa zer percept vel seu s ignificado. A pergunta que fazemos : no di scurso social

    qu al o atributo que qua lifica de jurdico um determinado fenmeno social ? Responder ta l indagao no fcil, pois h de aceitar -se previamente que omundo o que se oferece a nossa experi

    ncia e s o podemos conhecersegundo os modos em que podemos represent- lo ou interpret- lo. Atente-seque es te pressupos to, de modo a lgum imp lica uma negao do nt ico, antesafirma a condio fundante do ontolg ico. O prob lema est em que, aoace itar-se este pressupos to, o resultado nos leva a afirmar que s jurdicoaqui lo acerca do qua l h uma interpretao v lida, ou mesmo uma decis o

    jurdica resultante de uma interpretao v lida. Toda propos i o jurdicadirigida ao comportamento imp lica no reconhecimento de qu e o ordenamento

    jurdico s istema t izado atribui ao comportamento um s ignificado jurdico.

    Definit ivamente, percebemos que, nas entr elinhas tex tua is de Carri, umcomportamento concreti ado adquire a qualidade de jurdico quando o

    es tab elece uma norma que se refere a esta concreo . Isto as s im, pois, paraque se qua lifique um fenmeno socia l, va le dizer, para que es te fenmenoadquira qualidade signi fica tiva no social (portanto, percebido socia lmente)requer que seja interpretad o e represen tado pelo di scurso social (que serea liza desde uma linguagem ordinria) que assume ou incorpora umame ta linguagem precept iva .

    A iden t ificao dos tex tos jurdicos revela - s e importante, e no es tamos a adotando qua lquer pos io textual ista . Textos leg ais e de cises judiciais es tabelecem valores jurdicos dos objetos e dos comportamentos , inclus ive,no podemos esquecer os tex tos privados lega lmente permit idos com mesmoendereo. Portanto, h diferena semit ica entre o sistema e o discurso, va ledizer, os textos leg ais const i tuem a descrio de um s istema jurdico decarter forma l -virtua l, enquanto as de cises judiciais es tabe lecem um carterdct ico-existencia l. A imedia ta efic cia das sentenas e tex tos privados(contratos) cons iste enquanto discursos que se referem a objetos ou comportamentos concretos em a tribuir - lhes va lor jurdico. A imediata

    eficcia dos tex tos lega is, enquanto discursos que se referem a conceitos eva lores jurdicos dispon ve is, todavia independentes de sua rea l izao,cons iste na descrio de um sistema , mas no a tribui s ignificado jurdico aconcretos objetos ou comportamentos .

    A concreta eficcia s ign ifica t iva para sema t izar o mundo pertencente spa lavras, depende das poss ibilidades (pressupos tos operat ivos) de suaatua lizao pelo int rprete ou interrogante. nes te sent ido que os tex toslega is no constrem o signif icado jurdico das entidades do entorno

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    fenomn ico , po is requer a sua atua lizao pelas decises (judicia is,adminis trat ivas, pol t icas ou de outra ordem), ou pelos tex tos privados (contratos , t tulos de propriedade, assentos notaria is, documentosreconhecidos e vinculantes). Claro, que toda a narrao cont ida nes tes textos

    es t assentada em enunciados verba is, onde as regras s intt icas e o lxicomesmo cons t i tuem o sistema lingst ico e normat izam a redao dos prpriostex tos, s istema t izando-os juridicamente, va lidando (ou no) seu contedo e aeficcia (jurdica) de s eu emprego.

    , nes te sent ido, que podemos afirmar que o s ignificado jurdico dos objetos ,ou comportamentos de nosso entorno, es t cons trudo atravs de mecanismosinterpretat ivos, onde se suporta o prprio tex to lega l e as decises resultantesque lhes so pert ine ntes. Tudo isso impe a admisso da ex is tn cia dedivers ificados graus de fa t icidade com qu e tem de lidar o int rprete, pois osfa tos (ft icos ou cultura is) objetos ou comportamentos concretos (ou

    abs tratos) se a lternam na tura lmente na compos io de nosso entorno. Ass im,todo o di er uma recons truo da real idade , e nes te momento que se pode

    perceber a ind elvel conexo entre linguagem e o modo/forma de v ida. A ,no podemos esquecer Blaset t i 12, quando afirmava : interpretar no umamera associao dedutiva, nem um procedimen to lgico ou analgico, sim um

    en riquecimen to de sentidos, no s por meio do conscien te, tambm do

    inconsciente .

    Quando afirmamos pontos de coinc idncia entr e Car ri e Guast ini (retro),admi t imos claramente : o direito dependente da linguagem, desde domnios

    bem definidos, va le dizer, domnios s inttico, semnt ico e p ragm t ico. Paraambos os aut ores, a prpria ex istnc ia das normas resulta da linguagem que seut iliza nesses domnios. Por isso, relendo o t tulo VIII, Trama aberta cinc ia jurdica, interpretao 13 de Guast ini , a crt ica que a li se faz a Car ri,

    parece-nos, se no improcedente, ao menos parc ia l, pois no leva emcons iderao que (em ambos os aut ores) a discusso sobre pa lavras e suaaplicao, pelo que, as mesmas tm o s ignificado que es teja dispos to a dar-lhes dentro daqui lo que Wit tgens tein (o segundo) denominou de um jog ode linguagem 14. Em teoria da linguagem is to fica claro, pois gera lmente,admi te-se que ( i) o s ignificado das expresses es t dada em funo do

    propsito do emissor; ( ii) o s ignificado das expresses es t em funo douso; ( iii) o s ign ificado das expresses de tec tado ou atribudo segundo osinteresses do intrprete. Contudo, tenhamos presentes que es tas trs teses soas variveis de um mesmo fenmeno comunica t i vo. E las pressupem um

    12 A lberto Claudio Blase t t i , Indeterm inao y Lenguaje . Buenos A i res : Panned i l le, 1971,p.12213 Guas t ini , R. , de

    as fon tes s normas , trad. Edson B in i . So Pau lo : Quart ier La t in doBras i l , 2005, p. 145-152.14 Wi t tgens te in, L., Ph i losophical Inves t igat ions , 2 a Ed., Oxford : Blackwe l l , 1958, p.14 1

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    processo comunica t ivo desde um cd igo de linguagem que expressaalguma mensagem. Ass im, a mensagem o resultado de atribuir s pa lavras os ignificado que lhes atribuiu o des t ina trio ( i ntrprete/aplicador) suportado

    pela consuetudine lingustica acompanhada de sua invarivel amb iguidade.

    Agora, lembremos que todo cdigo de linguagem o me io para que umem issor (reconhecido nes ta qua lidade por um receptor.) transmita a outr oind ivduo uma mensagem.

    Em concluso, um processo de comunicao, um relato, um discurso, tudo oque incorpora ou pode incorporar um tex to ocorre em ma is variados nveis deex istnc ia e sucede em p lanos diferentes : o da ao (Car ri) e da

    subjet ividade (Guast ini) dos protagonistas. Portanto todo tex to um mundopossvel para o int rprete que se introduz na sua tex tur a . A lgica apl icvel ,no caso moda l 15, no pergunta se uma propos io verdadeira o u fa lsa, masem qu (?) classe de mundo possvel seria verdadeira. Caso se demons tre que verdadeira em todos os mundos poss veis (e ima ginveis), quase seguroque a verdade derivada dela prpria da linguagem e no do mundo, como aafirmao seguinte: um menor um ser humano com limitaes decapacidade jurdica, a o que fazermos definir o va lor semnt ico da pa lavramenor, mas no a ludimos a capacidade civil de nenhuma pessoa concreta,ou o mundo em que es t inserida. Na medida em que interpretamos comocons trui r o (nosso) s ignificado do texto, o fazemos virtua lmente, pois o tex toque temos diante de ns precisa ser int eriorizado. E, nes te terreno, o que va le a linguagem natura l, para s depois, especia liz -la. A amb igui dade emesmo, por vezes, a obscuridade das pa lavras, os oximoros 16

    es clarecedores, es to inc rustados na linguagem ordin ria, lembrando-se,en to, o que j afirmava Goethe17: [ . . .] in der Wandelbarkeit des Wortes lt

    sich die Wandelbarkeit der Begriffe erkennen18

    .

    15 O obje t ivo da lg ica moda l es t na represent ao argumen ta t iva cujo nc leo duro e s tcons t i tu do desde : a necessidade e a possibi l idade , se u grande cr t ico fo i Wi l lard VanOrman Quine.16 Va le di zer , a con tr ad i tria un io de pa l avras com s igni ficantes opos tos, v .g . [ . . . ] .aobscura c laridade de seus o lhos ref le t iam a angus t ia de sua a lma (Fernando Pessoa) .17 Goe the, Johann Wo l fgang. Max imen und Re flexionen. Con tumax GmbH & C o. KG (1 .Se ptember 2010) . Kindle Ed i t ion, Kind le loca l 2008-13 .18 [ . . . ] nas transm i graes das palavras podem aprec iar-se a s transmi graes dosconce i tos ( t rad. l ivre).