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Genealogia da moral O início da obra de um pensador que tem como meta a busca deste conhecimento interior, a busca pelo autoconhecimento através do ato de dobrar-se sobre si mesmo, sobre a retomada da criança interior, esperança única de resgate de valores ainda não estabelecidos pela cultura vigente, pois estão ainda no devir. Nietzsche, juntamente com Freud e Marx, foi considerado um dos maiores de seu tempo, um dos mestres da suspeita. Com aversão á filosofia Socrática, ao qual dizia ser ela um início da decadência filosófica, se apegava a Heráclito, e usava a razão para falar da própria razão. Convicto de que o mundo é um conjunto de forças, o autor era um grande provocador, um autor de base, um incompreendido de seu tempo, um escritor maldito aos olhos da Igreja. É certo que a leitura inicial de Genealogia da Moral traz certo torpor ao leitor mais desavisado. No discurso ferrenho sobre juízos de valor entre bem e mal e ideais ascéticos, o autor acaba por esbarrar naquilo que é mais caro para o sujeito ocidental; “o idealismo cristão”, e isso assombra. Afinal, adentrar em uma seara tão pouco desbravada faz o leitor, se não concordar, ao menos respeitar tamanha coragem. Respeite-se, portanto Friedrick Nietzsche. Em sua obra, dividida em três dissertações, não existe uma preocupação com o transcendental, com divindades, mas sim, com preceitos morais advindos do próprio homem, pois para ele não existe nada de absolutamente fixo no homem. Na “primeira dissertação (bom e mau / bom e ruim)” , Nietzsche considera que existam duas classes: a dos senhores (nobres) e a dos escravos, onde a classe senhorial subdivide-se em duas classes rivais: a guerreira e a sacerdotal. A primeira classe (guerreira) é a dominante, cultua a virtude do corpo, e a segunda (sacerdotal), concebe o espírito. Então, desta rivalidade surgem duas morais: “a moral dos senhores (nobres) e a moral dos escravos” . Para o filósofo, “nobre” seria o indivíduo com uma afirmação positiva em si mesmo (eu som bom, eu sou belo, eu sou forte). Seriam os conquistadores, os poderosos, os senhores. Não dependem de nada e de ninguém para sentirem-se felizes, somente de si próprios. Deste conceito, cria-se por contraposição o ruim para tudo aquilo que não é belo e nobre, ou seja, é ruim ser plebeu, ser pobre, ser vulgar. A “moral de escravos”, entretanto, é a moral do ressentido, ou seja, para ser feliz precisa comparar-se a outro sujeito que lhe é diferente, que lhe é superior. Forma-se uma negação de valores, ou seja, de início, não é ele que é bom, mas são os valores do nobre que são maus (exercício do pensamento ressentido), e desta inversão de valores, e após negar a bondade no nobre, o colocará como mau, pois; “eu que sou inferior e fraco é que sou bom”, ele que é forte “é mau, pois me inferioriza”. Nietzsche trabalha o tempo todo com a ideia do conjunto de forças contrapostas que se chocam. Nesta acepção, o ser ressentido é o sofredor se comparado com o nobre. Ele, quando sofre a ação, de início se ressente se retrai e se ofende. Culpa o nobre pela sua situação de inferioridade, e por meio desta ação, acaba por reagir. O autor relata que nossa cultura é a do ressentimento, predominando deste modo a força escrava, herança do povo judeu que teve continuidade com o cristianismo, onde Roma era nobre e a Judéia – escrava. Concluiu-se pela

Genealogia da Moral

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Pesquisa de filosofia sobre genealogia da moral.

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Genealogia da moralO incio da obra de um pensador que tem como meta a busca deste conhecimento interior, a busca pelo autoconhecimento atravs do ato de dobrar-se sobre si mesmo, sobre a retomada da criana interior, esperana nica de resgate de valores ainda no estabelecidos pela cultura vigente, pois esto ainda no devir.Nietzsche, juntamente com Freud e Marx, foi considerado um dos maiores de seu tempo, um dos mestres da suspeita. Com averso filosofia Socrtica, ao qual dizia ser ela um incio da decadncia filosfica, se apegava a Herclito, e usava a razo para falar da prpria razo. Convicto de que o mundo um conjunto de foras, o autor era um grande provocador, um autor de base, um incompreendido de seu tempo, um escritor maldito aos olhos da Igreja. certo que a leitura inicial de Genealogia da Moral traz certo torpor ao leitor mais desavisado. No discurso ferrenho sobre juzos de valor entre bem e mal e ideais ascticos, o autor acaba por esbarrar naquilo que mais caro para o sujeito ocidental; o idealismo cristo, e isso assombra. Afinal, adentrar em uma seara to pouco desbravada faz o leitor, se no concordar, ao menos respeitar tamanha coragem. Respeite-se, portanto Friedrick Nietzsche.Em sua obra, dividida em trs dissertaes, no existe uma preocupao com o transcendental, com divindades, mas sim, com preceitos morais advindos do prprio homem, pois para ele no existe nada de absolutamente fixo no homem.Na primeira dissertao (bom e mau / bom e ruim), Nietzsche considera que existam duas classes: a dos senhores (nobres) e a dos escravos, onde a classe senhorial subdivide-se em duas classes rivais: a guerreira e a sacerdotal.A primeira classe (guerreira) a dominante, cultua a virtude do corpo, e a segunda (sacerdotal), concebe o esprito. Ento, desta rivalidade surgem duas morais: a moral dos senhores (nobres) e a moral dos escravos. Para o filsofo, nobre seria o indivduo com uma afirmao positiva em si mesmo (eu som bom, eu sou belo, eu sou forte). Seriam os conquistadores, os poderosos, os senhores. No dependem de nada e de ningum para sentirem-se felizes, somente de si prprios. Deste conceito, cria-se por contraposio o ruim para tudo aquilo que no belo e nobre, ou seja, ruim ser plebeu, ser pobre, ser vulgar.A moral de escravos, entretanto, a moral do ressentido, ou seja, para ser feliz precisa comparar-se a outro sujeito que lhe diferente, que lhe superior. Forma-se uma negao de valores, ou seja, de incio, no ele que bom, mas so os valores do nobre que so maus (exerccio do pensamento ressentido), e desta inverso de valores, e aps negar a bondade no nobre, o colocar como mau, pois; eu que sou inferior e fraco que sou bom, ele que forte mau, pois me inferioriza.Nietzsche trabalha o tempo todo com a ideia do conjunto de foras contrapostas que se chocam. Nesta acepo, o ser ressentido o sofredor se comparado com o nobre. Ele, quando sofre a ao, de incio se ressente se retrai e se ofende. Culpa o nobre pela sua situao de inferioridade, e por meio desta ao, acaba por reagir. O autor relata que nossa cultura a do ressentimento, predominando deste modo a fora escrava, herana do povo judeu que teve continuidade com o cristianismo, onde Roma era nobre e a Judia escrava. Concluiu-se pela vitria dos escravos sobre os nobres, onde o povo judeu acabou por se vingar de seus fortes e nobres dominadores por via da artria espiritual, com a prevalncia de que somente os desgraados so bons, aqueles sofredores e enfermos. Tem-se ento a transmutao de impotncia em bondade, baixeza em humildade, covardia em pacincia.Ento, Nietzsche deixa em dvida a bondade dos escravos. Ele joga no contexto da obra a ideia de que a imagem de fraco e vulnervel seria apenas uma maneira perversa de contra-ataque e tomada de poder. Quando usa o cristianismo como continuidade do ressentimento judaico, (e a a polmica), acaba por dizer que a batalha foi vencida pelo escravo ressentido, incluindo nesta conjuntura o cristianismo e o prprio cristo como lder, jogando com a ideia (porm nunca afirmando) de que, ao tragar a moral dos nobres, a moral escrava perversamente seria a parte forte e m da relao, que teria usado de subterfgios para vencer toda uma concepo nobre que estaria no domnio por sculos.Deste modo, o negar a bondade no nobre e tomar posse da mesma pela inferioridade fazem com que surja, nos escritos de Nietzsche uma figura denominada niilismo, que nada mais do que dizer no vida, negar a potncia natural do ser humano em prol do processo ressentido de negar.Deste contexto, o autor aufere a necessidade de preservao da figura do nobre na vida do sujeito, pois o que mais se aproxima do conceito de criana. Com efeito, a adultizao atravs de um amadurecimento forado seria uma espcie de demonizao da prpria criana aos olhos do autor, pois se mata qualquer tipo de individualidade passvel de afloramento por meio das ideias pr-estabelecidas do adulto. Ento, o aprendizado necessariamente dever ser liberto do absoluto, para doravante existir a possibilidade de vrias contemplaes.A segunda dissertaoelucida como se deu a concepo de conscincia, o conceito de culpa, a ideia da dvida. Para o autor, o esquecimento sadio, pois a memria no natural no ser humano. A concepo da subjetividade foi construda atravs da dor. Ora, se Deus infinitamente bom comigo, e eu sou ingrato porque sou impuro, como presto contas com o criador?Deste modo, enxerga-se o castigo como forma de compensar o sentimento de culpa do ser humano. Seria como a obrigao existente entre credor e devedor, adaptao feita pelos sacerdotes das trocas realizadas na antiguidade, doravante transformando Deus no credor que forneceria a vida e demais acontecimentos bondosos em troca de um homem obediente aos seus ensinamentos.E Nietzsche mostra assim a perversidade da cultura inculcada pela Igreja Catlica ao contemplar que purifico minha alma somente com a renncia aos meus impulsos. E ento estes instintos reprimidos no se exteriorizam e acabam se voltando para dentro do indivduo, em um eterno confronto entre desejo e restrio, levando-o ao adoecimento. O antdoto para escapar desta culpa ressentida seria a teoria da experimentao, em conjunto com o esquecimento de toda a carga culposa depositada atravs da dor no lineamento do ser humano no transcurso dos tempos.Na Terceira Dissertao(o que significam ideais ascticos), o autor tratar do conceito da renncia dos desejos e da mortificao das vontades humanas.Fala Nietzsche sobre o ideal asctico que nada mais do que o imaginrio do bom cristo expressado pelo sacerdote cristo, apregoando a negao de todas as vontades terrenas em face de um Deus, para o encontro da salvao futura. Para o autor, esta ideia contaminou o homem e o levou a negao de si mesmo em prol de uma recompensa futura.O sacerdote cria ento a terminologia querer o nada a nada querer, onde o primeiro diz respeito concepo de um objetivo para o querer, domina-se a vontade, domina-se o desejo, e o segundo, o grau zero de vida, a depresso ao extremo. o controle do sacerdote sobre o sujeito atravs da recompensa da outra vida, evitando-se a melancolia, a grande depresso, o suicdio coletivo.Ento, este ideal a ponte para uma vida futura. Abdica-se da vida de hoje (querer o nada) em prol de uma vida no amanh. Vive-se por cdigos, sem perspectivas, apenas sofrendo, pois no futuro o encontro com a felicidade ser certo.Assim, se Friedrick Nietzsche se definiu como um ser que no se conhece como ele mesmo exprime em seu prlogo, podemos ter a certeza de que, ao menos tentou se conhecer, desconstruindo tudo que assimilou em sua curta vida e tentando reconstruir-se, fiel a seus preceitos ruminados em sua existncia.