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9ª Conferência Anual do GGET-SGP 13 e 14 de Dezembro de 2013 Pólo de Estremoz da Universidade de Évora ent ro C Ciência Viva s tremoz E ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS Laboratório de Investigação de Rochas Industriais e Ornamentais Grupo de Geologia Estrutural e Tectónica N. Moreira, R. Dias & A. Araújo (eds.) LIVRO DE ACTAS Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da Cartografia Geológica

Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da ...€¦ · Homenagem a José Tomás Oliveira: O Homem e a Geologia Z. Pereira 23 ... Continente; o exemplo de Timor Leste R. Dias,

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9ª Conferência Anual do GGET-SGP

13 e 14 de Dezembro de 2013

Pólo de Estremoz daUniversidade de Évora

entroC

Ciência VivastremozE

ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

Laboratório de Investigação de

Rochas Industriais e Ornamentais

Grupo de Geologia

Estrutural e Tectónica

N. Moreira, R. Dias & A. Araújo (eds.)

LIVRO DE ACTAS

Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da Cartografia Geológica

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Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da Cartografia Geológica Livro de actas da 9ª Conferência Anual do GGET-SGP

13-14 de Dezembro de 2013

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Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da Cartografia Geológica 9ª Conferência Anual do GGET-SGP

13 e 14 de Dezembro de 2013 Pólo de Estremoz da Universidade de Évora

EDITORES NOEL MOREIRA

1,2,3 RUI DIAS

1,2,3,4 ALEXANDRE ARAÚJO

3,4

COMISSÃO ORGANIZADORA Alexis Soares1,2

André Vinhas1,2

Carla Pacheco1,2

Fábio Amaral1,2

Inês Pereira1,2

Isabel Leal Machado1,2

Susana Campos1,2

Vânia Silva1,2

1 Laboratório de Investigação de Rochas Industriais e Ornamentais da ECT/UE (LIRIO) 2 Centro Ciência Viva de Estremoz 3 Centro de Geofísica de Évora 4 Departamento de Geociências da ECTUE

ISBN: 978-989-95398-3-9

TIRAGEM: 125 CÓPIAS GRÁFICA: SERVIÇOS DE REPROGRAFIA DA UNIVERSIDADE DE ÉVORA Pólo de Estremoz da Universidade de Évora, Estremoz, Portugal

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COMISSÃO DE HONRA Professor Doutor Rui Dias (Director executivo do Centro Ciência Viva de Estremoz) Professor Doutor António Heitor Reis (Director e coordenador científico do CGE) Professor Doutor Mourad Bezzeghoud (Director da ECTUE) Sr. Presidente Luís Mourinha (Presidente do Município de Estremoz) Professora Doutora Teresa Ponce de Leão (Presidente do Conselho Directivo do LNEG) Professor Doutor Rogério Rocha (Presidente da Direcção da Sociedade Geológica de Portugal) Professor Doutor Machado Leite (Vogal do Conselho Directivo do LNEG)

Professora Doutora (Directora do Departamento de Geociências da ECTUE)

RECOMENDA-SE A CITAÇÃO COM O SEGUINTE FORMATO: MOREIRA, N., DIAS, R. & ARAÚJO, A. (2013). Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da Cartografia Geológica, livro de actas da 9ª Conferência Anual do GGET-SGP, ESTREMOZ, pp. 224.

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Geodinâmica e Tectónica global; a Importância da Cartografia Geológica Livro de actas da 9ª Conferência Anual do GGET-SGP

13-14 de Dezembro de 2013

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Índice

Pág. Da Cartografia Geológica ao Paradoxo de Zenão 9 Uma Homenagem a Eurico Pereira & José Tomás Oliveira 13

Homenagem a Eurico Sousa Pereira J.F. Rodrigues

15

Geologia do SW de Angola. Evolução no contexto do Cratão do Congo E. Pereira & J.F. Rodrigues

19

Homenagem a José Tomás Oliveira: O Homem e a Geologia Z. Pereira

23

Evolução do conhecimento da Zona Sul Portuguesa, em Portugal, em termos de Tectono-Estratigrafia

J. Tomás Oliveira 27

Oradores Convidados 35 Singularidad de la Zona Ossa Morena y de sus límites en el conjunto del Macizo Ibérico

C. Quesada 37

Comunicações Orais 39 A Cartografia Geológica no LNEG, no contexto da Directiva INSPIRE

A. Pereira, J. Tomás Oliveira, P. Patinha & G. Luís 41

geoPortal do LNEG – uma ferramenta para disponibilização de cartografia geológica oficial A. Paula, P. Patinha & G. Luís

47

Sinergias da colaboração luso-espanhola na cartografia geológica: o caso do Douro Internacional

E. González-Clavijo, Í. Dias da Silva, J. R. Martínez-Catalán & A. Díez Montes 51

Cartografia geológica sistemática para a edição da Folha 43-A, Cuba (Carta Geológica de Portugal, escala 1:50 000) – Ponto da situação

P. Ferreira, R. Caldeira, J. Piçarra, R. Dias, R. Calvo, T. Cunha, A. Pestana, J. Pais & R. Ressurreição

55

Cartografia Geológica e Edição da Carta da Guiné-Bissau P. H. Alves & V. Figueiredo

59

Sismotectónica ao longo da fronteira de placas tectónicas Núbia e Euro-asiática* M. Bezzeghoud, J. F. Borges & B. Caldeira

63

Estratigrafia do Cenozóico no sector litoral Melides-Santa Cruz e a problemática da deformação: Neotectónica vs. Carso

R. Ressurreição, R. Dias, J. Cabral & J. Pais 67

Cartografia de contaminantes em torno de uma unidade fabril de produção de Zinco (Três Marias, Minas Gerias, Brasil)

A. Araújo, R. Fonseca, P. Pinto, M. Fernandes & J. Matos 71

Cartografia Geológica em Núcleos de Pedreiras de Rochas Ornamentais J. M. F. Carvalho

75

Tectónica transcorrente em colisões Arco - Continente; o exemplo de Timor Leste R. Dias, P. Nogueira, V. Ferreira, & G. Oliveira

79

Virgação de NE-SW para E-W da crista quartzítica ordovícica Bani, no Anti-Atlas Central Marroquino: um efeito local ou o resultado de uma tectónica global?

P. Almeida & R. Dias 83

Contribuição para o conhecimento das unidades tectono-estratigráficas do Terreno Finisterra na região de Tomar

J. Romão, N. Moreira, J. Pedro, A. Mateus, R. Dias & A. Ribeiro 87

Evolução estrutural da Zona Sul Portuguesa através da modelação análoga: implicações das irregularidades na topografia oceânica

E. Bolacha & R. Dias 93

História térmica do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, Zona Sul Portuguesa B. Rodrigues, D. M. Chew, R. C. G. S. Jorge & P. Fernandes

97

Idades U-Pb de zircões detríticos do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, Zona Sul 101

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Portuguesa B. Rodrigues, D. M. Chew, R. C. G. S. Jorge, P. Fernandes, C. Veiga-Pires & J.T. Oliveira

A importância dos palinomorfos remobilizados no Complexo Vulcano-Sedimentar da Toca da Moura - Implicações para a evolução geodinâmica da Zona de Ossa Morena, Portugal

G. Lopes, Z. Pereira, P. Fernandes, R. Wicander, J.X. Matos, D. Rosa & J.T. Oliveira 103

Deformação Tardi-Varisca na Zona Sul-Portuguesa; Implicações geodinâmicas R. Dias & N. Moreira

107

Deformação e metamorfismo associados à colisão continental Varisca no bordo Oriental do Complexo Alóctone de Morais

Í. Dias da Silva, E. González-Clavijo, J. Martínez-Catalán & A. Díez Montes 113

Considerações sobre a natureza vulcanogénica e exalativa de algumas formações metamórficas da Serra de Arga – Minho – Portugal – consequências para a cartografia

P. Dias & C. Leal Gomes 117

Interferência de estruturas variscas ao longo do cisalhamento de Juzbado-Penalva do Castelo; um exemplo de deformação progressiva

I. Pereira, R. Dias, T. Bento dos Santos & J. Mata 123

O papel da Zona de Cisalhamento Juzbado - Penalva do Castelo na intrusão de granitos variscos tardi-pós- D3 da região de Viseu (Zona Centro-Ibérica)

B. Valle Aguado, M.R. Azevedo, J. Medina, J. Nolan, J.R. & Martínez Catalán 127

Deformação não-coaxial na Faixa Metamórfica Porto-Viseu: Détachement extensional ou par thrust/underthrust contracional?

J.F. Rodrigues, T. Bento dos Santos, P. Castro, C. Meireles, P. Ferreira, A. Ribeiro, E. Pereira & N. Ferreira

131

Transecção dos dobramentos Variscos na região da Apúlia; um exemplo de deformação progressiva durante a primeira fase de deformação na Zona Centro-Ibérica

A. Soares & R. Dias 135

Heterogeneidade e Intensidade da Deformação Sarda no Sector de Barca D’alva; Implicações para a estruturação da Bacia do Douro

F. Amaral, R. Dias & C. Coke 139

Caracterização de zonas de cisalhamento dúctil com diferentes condições de P-T a partir da análise geométrica de shearband boudins

J.P. Sousa, B. C. Rodrigues & J. Pamplona 143

Dominós como um processo de acomodação de deformação heterogénea em zonas de cisalhamento

N. Moreira & R. Dias 147

GeoImagin – uma plataforma “open source” para estudo de microestruturas geológicas P. Nogueira

151

Comunicações em Painel 155 Fitomineração utilizando Alyssum serpyllifolium em solos serpentiníticos dos maciços de Bragança e de Morais (Nordeste de Portugal)

I. Morais, J. Campos, J. Pratas & F. Pita 157

Prospecção geoquímica em sedimentos de corrente na bacia da Ribeira da Celavisa (Góis) I. Morais & J. Pratas

161

Aplicação e divulgação de modelos geológicos complexos no âmbito de projetos de património geológico-mineiro na Faixa Piritosa Ibérica

J.X. Matos & Z. Pereira 165

Cartografia Hidrogeológica 1/200.000 – Conhecimento actual da Folha 2 (Alto Douro e Trás-os-Montes)

A. P. Pereira & R. Santos 171

Repositório de Falhas Activas de Portugal Continental; Base de Dados da Ibéria - QAFI C. Moniz, J. Cabral, R. P. Dias, J. García-Mayordomo & J.M. Insua-Arévalo

175

Estudo dos fluidos do Complexo Plutónico de Santa Eulália e sua relação com estruturas pré-existentes

C. Cruz, A. Dória & H. Sant’Ovaia 179

Fabric das rochas gnaisso-migmatíticas na zona Madalena-Lavadores

A. Gonçalves, H. Sant’Ovaia & M.A. Ribeiro

183

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13-14 de Dezembro de 2013

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Cartografía geológica no bordo Oriental do Complexo Alóctone de Morais Í. Dias da Silva, E. González-Clavijo, J. Martínez-Catalán & A. Díez Montes

187

A estrutura Pena Suar–Seixinhos no sector de Gaiva, serra do Marão (norte de Portugal) C. Coke, V. Santos & R. Dias

191

Importância da cartografia geológica na interpretação da paisagem das cascatas de Pozo de Los Humos e Faia da Água Alta (Douro Internacional) e seu significado em termos de variações climáticas

M. Gomes, J. Santos, A. Alencoão, L. Sousa, A. Pereira, H. Moreira, E. Cabecinha & R. Gabriel

197

Participantes 201 Lista de participantes 103

Programa do encontro 205

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Importância da cartografia geológica na interpretação da paisagem das cascatas de Pozo de Los Humos e Faia da Água Alta (Douro Internacional)

e seu significado em termos de variações climáticas

Importance of geological mapping in the landscape interpretation of the Pozo de Los Humos and Faia da Água Alta waterfalls (International Douro) and its importance for

climatic changes

M. Gomes1,2 *, J. Santos1,3, A. Alencoão1,4, L. Sousa1,2, A. Pereira1, H. Moreira1,5; E. Cabecinha1,3 & R. Gabriel1,3

1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5001-801 Vila Real 2 Centro de Geociências, Universidade de Coimbra, 3000-272 Coimbra

3 Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas, 5001-801 Vila Real

4 Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra, 3000-272 Coimbra

5 Centro de Investigação em Desporto Saúde e Desenvolvimento Humano , 5001-801 Vila Real

* [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]

Resumo: A beleza da paisagem oferecida pelas cascatas de Pozo de Los Humos e da Faia da Água Alta só se compreende com base no estudo da geodiversidade (litologia e estruturas) e da cartografia geológica detalhada dos locais. A formação das cascatas resultou do contraste litológico entre lâminas graníticas sub-horizontais e rochas encaixantes metapelíticas e migmatíticas. A ausência de fraturas longitudinais no rio Las Huces e na ribeira de Lamoso, bem como a presença de um diaclasamento subortogonal foram os principais fatores que condicionaram a formação das cascatas. A alternância de lâminas graníticas deu lugar a sucessivas quedas de água e ressaltos. Tratando-se de quedas de água em contexto natural, a sua monitorização regular e contínua poderá constituir um valioso instrumento para a compreensão das variações climáticas locais, pois a aridez têm sido muito destacada nesta região planáltica. Palavras-chave: cascatas, granitos, migmatitos Abstract: The beauty of the landscape offered by waterfalls of Pozo de Los Humos and Faia da Água Alta, can only be understood on the basis of study of geodiversity (lithology and structure) and detailed geological mapping of the sites. The formation of waterfalls resulted from lithologic contrast between sub-horizontal granitic sheets and host rocks of migmatitic and metapelitic. The absence of longitudinal fractures in Las Huces and Lamoso rivers and the presence of a subortogonal jointing were the main factors that have limited the formation of waterfalls. The alternation of granite sheets gave way to successive waterfalls and rebounds. In the case of water falls in a very natural context its regular and continuous monitoring can be a valuable tool for understanding the local climate variations, as aridity have been very prominent in this plateau region. Keywords: waterfall, granites, migmatites

INTRODUÇÃO As cascatas naturais do Pozo de Los Humos (província de Salamanca, Espanha) (Fig. 1a) e da Faia da Água Alta (Lamoso, Bemposta, Portugal) (Fig. 1b) são visíveis na maior parte do ano, exceto durante o verão. Do ponto de vista litológico e estrutural, a área envolvente das cascatas é similar e bastante complexa e diversificada.

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Figura 1 – Cascata do Pozo de Los Humos (a) e cascata da Faia da Água Alta (b), no inverno.

Nos extensos campos planálticos de cereal, salteados com carvalhos e azinheiras, cultivados em solos de granito e xistos pouco espessos, cuja altitude ronda os 750 m (Meseta Fundamental) a paisagem é marcada por cristas quartzíticas ou filões de quartzo que se elevam até próximo dos 1000 m de altitude (Meseta Inicial). Em poucos quilómetros passa-se a vertentes onde se cultiva a vinha e a oliveira, com vales progressivamente mais encaixados, que atingem a sua maior inclinação no rio Douro, e descem para altitudes de 230 metros em Barca de Alva. O rio Douro no troço internacional, popularmente conhecido como Arribas do Douro ou Arribes del Duero, encaixa-se profundamente formando um vale de tipo canhão, em alguns locais mais de 200 m. Alguns dos afluentes como os rios Tormes e de Las Uces e a ribeira de Lamoso propiciam belas cascatas. A paisagem das arribas constitui um contraponto na meseta castelhana, em particular na Peniplanura Salmantino-Zamorana e no Planalto Mirandês, sendo impossível compreender corretamente o significado dos vales profundos na meseta sem integrar a geologia na modelação da paisagem. Assim, para compreender a paisagem desta região, precisamos de recuar milhões de anos, até ao Paleozoico Inferior, para o período em que a atual Península Ibérica, colocada em latitudes muito mais a Sul, era um mar pouco profundo, onde se depositavam areias e argilas. No final do Paleozoico, o choque das placas tectónicas, durante a Orogenia Hercínica ou Varisca, levou à emersão destes sedimentos marinhos que entretanto foram metamorfizados e dobrados. Nesse período, grandes volumes de magma geraram diversas rochas graníticas. Durante o Mesozoico essas rochas terão sido erodidas e fraturadas. No Cenozoico, com a Orogenia Alpina, a intensa fracturação permitiu o encaixe do rio Douro e seus afluentes. No Quaternário, movimentos crustais verticais e alterações climáticas aceleraram esse encaixe e propiciaram a configuração atual do Douro e dos seus afluentes. CLIMA E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Do ponto de vista climático, as cascatas inserem-se numa região de clima temperado mediterrânico com continentalidade moderada. Com efeito, aos invernos relativamente frios (temperatura média em janeiro de 5-6ºC) e chuvosos, sucede-se um período estival quente (temperatura média em agosto de 22-23ºC), longo (4 meses com temperaturas médias acima de 18ºC) e com precipitações muito escassas (apenas cerca de 10 % da precipitação total anual) e baixos níveis de humidade relativa (predominantemente no intervalo 30-50 %).

a b

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A precipitação anual acumulada tende a situar-se no intervalo 600-800 mm, ainda que com a elevada variabilidade e irregularidade típicas dos climas mediterrânicos. Note-se ainda que as temperaturas mínimas no inverno se situam, com frequência, próximas de 0ºC, o que favorece a formação de gelo e geadas, muito características desta região. Já no verão, as temperaturas máximas situam-se predominantemente em torno dos 30ºC, mas podem ocasionalmente atingir valores próximos, ou mesmo superiores, a 40ºC em alguns períodos mais quentes. A monitorização contínua e regular destas cascatas, sobretudo no período primaveril, será assim um registo essencial para se compreenderem as variações climáticas na região. GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA Em ambas as regiões se impõe, imponente e diversificada, a morfologia granítica, com belos caos de blocos, intrusões graníticas e pegmatíticas sub-horizontais e zonas de contacto com metassedimentos pelíticos e migmatíticos câmbricos (Fig. 2).

Figura 2 – Cartas geológicas simplificadas das cascatas do Pozo de Los Humos(a) e da Faia da Água Alta

(b).

O profundo encaixe da rede fluvial permite a observação de corpos geológicos, em profundidade, sendo possível reconhecer o teto e o muro de numerosos plutões graníticos de geometria horizontal (lacólitos), possibilitando a sua reconstrução geométrica. Assim, as Arribas oferecem uma observação privilegiada aos geólogos e naturalistas em geral, permitindo desvendar características geométricas ou estruturais que de outra forma estariam ocultas. Além disso, o encaixe dos rios facilita ao visitante o acesso a níveis mais profundos da crosta terrestre, permitindo em alguns lugares observar rochas xistentas nas partes altas e migmatitos nas partes mais profundas, por baixo dos plutões graníticos subhorizontais. Uma série metassedimentar com metapelitos laminados e abundantes intercalações de rochas calcosilicatadas foram intruídas por lâminas graníticas, cujo contraste erosivo terá condicionado os espetaculares saltos de água. Esta zona, de alto interesse geológico e geomorfológico, está bem exposta nas localidades de Masueco e Pereña (Espanha) e de Lamoso e Bemposta (Portugal). A alternância de lâminas graníticas associada a um

a b

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diaclasamento subortogonal às linhas de água deu lugar, no rio Las Huces e na ribeira de Lamoso, a sucessivas cascatas e ressaltos. Esta situação excecional resulta do facto das Arribas do Douro se localizarem numa zona de transição entre a Bacia Terciária do Douro, de carácter endorreica e o substrato Varisco do Maciço Hespérico. No final do Terciário ocorreu o enchimento da bacia com depósitos calcários. Os processos erosivos que afetaram os bordos montanhosos, associados a um possível basculamento da meseta para oeste, pode indicar que a bacia do Douro começou uma nova etapa, de tipo exorreico. Esta transição ocorreu quando a rede fluvial que corria para o Atlântico capturou, por ação erosiva remontante, a rede fluvial que drenava para a bacia endorreica. A alteração do nível de base dos rios gera, por conseguinte, um aumento do gradiente de energia de fluxo ou de energia potencial. Assim, as Arribas representam a transição produzida pela ação erosiva remontante, próximo do local da captura da rede fluvial endorreica, que se manifesta pelo forte encaixe da rede fluvial A geodiversidade destes locais da bacia do Douro, para além de explicar a génese das belas cascatas e permitir interpretar a paisagem, tem um papel determinante como suporte da biodiversidade, quer a nível da flora, com diversos endemismos, quer dos habitats da fauna, sobretudo da avifauna. O estudo da geodiversidade e o desenvolvimento sustentável têm estado na base de diversos projetos transfronteiriços que têm sido desenvolvidos nas Arribas do Douro Internacional.

AGRADECIMENTOS O financiamento foi suportado pelo projeto Interreg IVB SUDOE: ADAPTACLIMA II - SOE3/P2/E477 Risk Management. Scope: Cross Border Cooperation Programme Spain-Portugal (POCTEP). Subprogram Portugal and Castile-Leon.

BIBLIOGRAFIA Gomes, M. E. P. & Alencoão, A. M. (2005). Património Geológico Transfronteiriço na região do Douro:

Roteiros. Vila Real: Serviço de Edições da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, ISBN 972-669-706-9. 120p.

IGME (Instituto Geológico y Minero de España) (2000). Cartografia Geológica escala 1:50 000. Hoja 422. Aldeadávila de la Ribera. Plan Magna. Memoria y mapa.

López-Moro, F.J.; López-Plaza, M.; Franco,P. & Gomes, M.E.P.(2005). "El control litológico y los cursos de agua: las cascadas del Pozo de Los Humos (Salamanca) y Faia da Água Alta (Bemposta)", Livro de Resumos do Encontro Ibérico sobre património geológico transfronteiriço na região do Douro, Freixo de Espada à Cinta, Livro de Resumos, 34-37.

Pereira, D.I. & Pereira, P. (Eds.) (2005). Geology as background for a top-class geological and cultural heritage in the Douro Region (Northern Portugal). IV Int. Symp. ProGEO on the Conservation of the Geological Heritage, Field Trip B Guide Book, Earth Sciences Centre, University of Minho, Braga, 131p.