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GEOGRAFIA E QUESTÃO AGRÁRIA: A CRIAÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS NOS PROJETOS DE
ASSENTAMENTO VILA CONCEIÇÃO I E II, IMPERATRIZ/MA, BRASIL.1
Ítalo Araújo Silva2 Universidade Estadual do Maranhão-CESI
Thiago Araújo da Silva2 Universidade Estadual do Maranhão-CESI
Davison do Nascimento Universidade Estadual do Maranhão-CESI
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo mostrar o perfil e a importância de estudos referentes aos conflitos agrários tanto no cenário nacional, regional e local. A pesquisa nos mostra dados desses conflitos com destaque para o Projeto de Assentamento Vila Conceição I e II, sendo este o recorte espacial de maior ênfase no trabalho. Aqui se percebe, os conflitos pelo acesso a terra e os trabalhos desenvolvidos pelos trabalhadores rurais, vistos numa abordagem histórica, são relatadas no processo de Reforma Agrária, visualizados por estes acontecimentos no Brasil, Maranhão, e seus impactos no PA da Vila Conceição I e II. Para a concretização da presente pesquisa, utilizaremos de uma abordagem materialista histórica dialética, com, observações e entrevistas, pois o cunho principal da pesquisa é o estudo de caso referente a um Projeto de Assentamento de Reforma Agrária.
Palavras-chave: Conflitos Agrários. Reforma Agrária. Campesinato.
Introdução
A análise feita a partir das concepções agrárias e dos movimentos sociais, busca refletir
sobre os conflitos agrários, relação cidade/campo e os movimentos oriundos do campo
no Brasil, sob a ótica da criação e emancipação do Projeto de Assentamento Vila
Conceição I e II, no município de Imperatriz-MA, surge do interesse e da necessidade
de se discutir os movimentos sociais, conflitos agrários, a luta pela terra, as tentativas de
conquista de reforma agrária; eixos temáticos que motivaram essa discussão e pesquisa,
no contexto socioeconômico do PA Vila Conceição I e II. A priori a pesquisa delineia-
se sob a ótica dos movimentos sociais no campo e seus conflitos pela terra, reforma
agrária e sustentabilidade, com proposta de socialização da produção familiar, divisão
de terras devolutas, ocupação pacífica dos grandes latifúndios etc.
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A sistematização da posse da terra no Brasil, evidência as inúmeras sublevações
oriundas do campo, ou seja, motivadas pelos problemas sociais criados pela não
regulamentação das terras no território maranhense, Brasil. De acordo com Oliveira
(1999, p.71): Há lugar histórico para os camponeses no futuro. Isso porque a sociedade capitalista é pensada por estes autores como sendo composta por duas classes: a burguesia (os capitalistas) e o proletariado (os trabalhadores assalariados). É por isso que muitos autores e mesmo partidos políticos não assumem a defesa dos camponeses.
A cerca das proposições posta acima, o trabalho se utiliza de uma abordagem
materialista, histórica e dialética, partindo do pressuposto da base da geografia geral, e
adentrar ao estudo do espaço agrário e os movimentos sociais no Brasil. Nesse sentido,
fizemos observações, entrevistas, debates a cerca da problemática do Assentamento
caracterizando um estudo de caso, na perspectiva da reforma agrária no PA Vila
Conceição I e II.
Portanto, a problemática que envolve os conflitos agrários no Brasil, são resultados das
relações existentes a partir do processo de colonização/exploração, que moldaram o
espaço brasileiro e suas estruturas espaciais e ideológicas, enraizadas por Portugal ao
adentrar no território brasileiro sob a ótica do feudalismo, modo de produção
ultrapassado em relação ao mercantilismo vigente no séc. XV. O contexto econômico e
político das grandes navegações facilitaram a colonização do novo mundo e
consequentemente o Brasil. Houve inúmeras ações de ocupação do território, divisão e
distribuição, dentre elas: As capitanias Hereditárias, as Sesmarias, Lei de terras 1850 e
Estatuto da terra por exemplo.
O modelo histórico concentrador, visivelmente contraditório nas diversas relações tanto
com a terra como na precarização das relações sociais estabelecidas no Brasil, gera
inevitavelmente inúmeros conflitos agrários com o passar dos anos, influenciando
diretamente, sobretudo a partir de meados do século XX no surgimento das frentes da
luta de classe no campo brasileiro, em que trabalhadores camponeses encontram na
criação e organização dos movimentos sociais do campo perspectivas de enfrentamento
ao latifúndio. Esses movimentos coletivos/sociais, pertencente a uma classe usurpada,
delineiam-se de forma política e contestadora. Oriundos dessa concepção protagonizam
o surgimento de importantes organizações populares e sindicais: Confederação Nacional
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dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Comissão Pastoral da Terra (CPT),
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outros.
O presente artigo tem como objetivo observar e analisar os conflitos agrários pela
reforma agrária, bem como identificar as estrutura e a contribuição dos movimentos
sociais na ocupação da antiga fazenda ITACIRA I e II (PA Vila Conceição I e II), fruto
da organização dos trabalhadores engajados com os movimentos sociais como o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STR, Centro de Formação do Trabalhador Rural –
CENTRU, Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST, setores da igreja
católica, como a CÁRITAS e a Comissão Pastoral da Terra – CPT por exemplo.
Aspectos Históricos da Ocupação Do Território Brasileiro
A gênese da formação do território Brasileiro, colônia de Portugal séc. XV, assistida por
toda a história, inicia-se com a chegada de Pedro Álvares Cabral, ao futuro estado da
Bahia. Embora incerto de seu rumo, Cabral aportou no dia 22 de abril de 1500, com 9
naus e 3 caravelas, ocupando de forma ainda invasiva, porém objetivando a chegada a
índia, objeto de desejo de toda corte européia.
O processo de colonização/exploração do território deu-se a priori, pelo fato de
Portugal, como em todo cenário político e econômico europeu, está em pleno
florescimento do mercantilismo, modo de produção baseado no acúmulo de capital que
um país/nação pode ter, no qual o poder da aristocracia agrária declinava, intensifica-se
a decadência do feudalismo e o êxodo rural da “burguesia emergente”, buscando a
expansão de suas atividades econômicas nos espaços urbanos do Brasil.
A forma de ocupação espacial/ideológica de Portugal em relação à colônia e os traços
da colonização implantada pela metrópole rompem toda a relação de continuidade
metrópole/colônia, ao invés de perpetuar o regime feudal oriundo da ocupação européia,
Portugal subjugou a colônia a uma nova abordagem de feudalismo, um regime
contraditório, relação homem/espaço, e, exploração latifundiária com características do
capitalismo.
As indagações feitas por muitos autores e estudiosos da história remontam a concepção
errônea de pensarmos, que a metrópole aplicaria e prolongaria o regime econômico em
decadência na Europa, pelo fato de, ser ela detentora de seus direitos políticos e
econômicos. Porém, ao contrário desse fabuloso processo de usurpação, a metrópole
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implantou e exportou para as colônias processos econômicos e instituições políticas que
assegurem a perpetuação de seu domínio.
Segundo GUIMARÃES (A Questão Agrária No Brasil (org): in. Joao Pedro stedile.
1500-1960 p. 36),
O exemplo Brasileiro ilustra e confirma esse imperativo histórico. A despeito do importante papel desempenhado pelo capital comercial na colonização do nosso país, ele não pôde desfrutar aqui a mesma posição influente, ou mesmo dominante, que havia assumido na metrópole; não conseguiram impor á sociedade colonial as características fundamentais de economia mercantil e teve de submeter-se á estrutura tipicamente nobiliárquica e ao poder feudal instituída na América portuguesa.
Portugal no ensejo da ocupação, colonização e exploração do território brasileiro,
estabeleceu vários fatores de colonização, dentre eles as Sesmarias, criada para
organizar e normatizar a distribuição de terras em Portugal, este sistema surgira em
Portugal durante o séc.XIV, com a Lei das Sesmarias de 1375, criada para combater a
crise agrícola e econômica que atingia o país e a Europa, e que a peste negra agravara.
A implantação Sesmarial no estado novo ocorreu em meados do ano de 1530, com
adaptações pertinentes as necessidades do novo mundo, a aplicação efetiva sucedeu a
partir distribuição das terras para os sesmeiros, via capitães-donatários, com o objetivo
de produção imediata, garantindo a instalação do plantation açucareira na colônia. A
principal função do sistema de sesmarias é estimular a produção e isso era patente no
seu estatuto jurídico. Quando o titular da propriedade não iniciava a produção dentro
dos prazos estabelecidos, seu direito de posse poderia ser cassado.
Incorporação do Brasil na Economia e a Apropriação do Latifúndio
A inserção do Brasil na economia mundial, devido à implantação do engenho, contribui
assim, necessariamente para o efetivo comércio via colônia-metrópole-europa. No
entanto, destaca-se a região nordeste como motor desse processo de
ocupação/exploração, embora seja este submergido pela apropriação de terras, domínio
físico, controle da produção e exportação.
Os aspectos marcantes da aculturação, ocupação nordestina, sejam eles climáticos,
hidrográficos, geomorlógicos, em caráter físico, motivando a prática da monocultura
ainda que essa formação física nordestina prevaleça em relação à intelectual, ocasionada
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por diversos fatores, Andrade (1973) as divide em quatro grandes regiões, a um só
tempo natural e geográfico, definindo-as como: Mata, Agreste, Sertão e o Meio Norte.
Destaca-se, portanto, nesta região, sua capacidade comercial, que, já em meados dos
anos 1526, existia várias feitorias, estabelecimentos criados para efetuarem as trocas dos
produtos da terra por “bugigangas”, oriundas de Europa, dentre a quais, as feitorias
criadas na costa nordestina, efetivavam a exportação do açúcar para Portugal.
A colonização no nordeste efetivou-se, a partir da chegada de Duarte Coelho em 1535,
recebendo do rei um lote de terra que se estendia de foz a foz, dos rios são Francisco e
santa cruz. Como detentor dos poderes emanados da coroa, efetuou inúmeras ações,
dentre elas; a doação de terras para pessoas cristas (sesmarias), escravização dos índios
para utilizá-los do trabalho braçal. A velocidade que expandia o território nordestino era
a mesma que extinguia boa parte das tribos indígenas da região.
Segundo ANDRADE: Essa arremetida pelo território indígena era feita com grande energia, e ao mesmo tempo em que lhes tomavam as terras e os aprisionavam como escravos destruíam suas tabas e cercas defensivas e passavam a consumir os mantimentos e a realizar novas culturas, muitas vezes, até, usando as mesmas “covas” dos roçados indígenas (1973, p. 67).
O nordeste não difere do Brasil, no quesito exploração dos nativos/apropriação de terras. No
desenrolar desse processo de ocupação, estampam-se os inúmeros aprisionamentos dos índios,
escravos trazidos de guiné, criação de novos engenhos, concentração fundiária, exploração da
mão-de-obra etc.
As sublevações oriundas do campo conservam vários fatores atrelados, as relações de poder,
econômicas, sociais e humanas. Embora a ocupação nordestina, norteada pelas contradições,
latifundiárias, socioeconômicas e culturais persistam até os dias atuais, todavia os
questionamentos emanados do povo afloram as inquietações dos pequenos produtores,
lavradores, agricultores etc. formando os movimentos sociais no campo, pró reforma agrária,
divisão igualitária de terras, incentivos agrícolas e educação no campo.
O conceito de movimento social, não se limita ao plano religioso, porém, difundi-se por
diversas camadas da sociedade, inclusive no campo, onde se delimita nosso foco de estudo. As
sublevações oriundas das contradiçoes existentes no plano agrário Brasileiro, difundi-se no
estado do maranhão, onde localiza-se inúmeros problemas agrários, grilagem, pistolagem,
concentração exorbitante de terras devolutas, assistidas pelo poder publico (elitista), que
mascara os problemas sociais, que discriminam e isentam o maranhão do crescimento
necessário.
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Projeto de assentamento Vila Conceição I e II
Adentrando os aspectos históricos e físicos, que motivaram essa pesquisa, identificamos neste
recorte espacial, o PA Vila Conceição I e II. Encontra-se num contexto historiográfico,
envolvido num processo de reforma agrária e conflito social.
O Projeto de Assentamento formalmente chamado Itacira I e II ou (Criminosa) recebem
(e) esse nome por estar situado nas terras da antiga fazenda Itacira, de propriedade do
grupo Charpe. A ocupação da área improdutiva ocorreu no dia 16 de Julho de 1986,
após um longo processo de discussão e organização realizado junto ás famílias dos
trabalhadores pelas lideranças dos movimentos sociais citados e das comunidades de
origem das famílias. O assentamento é formado por famílias vindas das diversas
comunidades situadas ao longo da estrada do arroz, entre Cidelândia e São Pedro da
Água Branca, Açailândia, Trecho Seco, Km 1.700 e de alguns bairros da periferia da
cidade de Imperatriz, MA.
Os militantes que iniciaram o processo de ocupação aos líderes camponeses
Luís Vila Nova e Manoel da Conceição, a comunidade adotou o lema “Resistência,
Lutas e Conquistas” como bandeira de luta em defesa da reforma agrária e como uma
forma de não esquecer todas as dificuldades enfrentadas antes do assentamento ser
formalmente reconhecido pelo Estado. Os conflitos travados no processo de tomada da
terra, na antiga fazenda itacira ou criminosa, contados por moradores atuantes neste
contexto histórico, relatam que não houve luta armada, porém, houve sim, um conflito
ideológico, de poderes estatais e municipais.
Figura 01
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Foram feitas observações, entrevistas, vivências in loco, interação com os moradores,
intenso jogo de perguntas e respostas, a fim de concretizar essa análise primária sob a
ótica dos movimentos sociais no campo/conflitos agrário, com o intuito de apossar-se de
terras sem produção, oriundas das contradições fundiárias do país.
Constatou-se no PA vila conceição I e II, o profundo comprometimento dos integrantes,
na tomada da terra, pois podemos observar a consciência dos moradores em relação à
concentração fundiária, no entanto, destaca-se dentre, tantos outros, a figura do ex
deputado Valdinar Barros, político, militante e fundador da Vila conceição e
incentivador da agricultura familiar na região. Embora o estado do maranhão tenha uma
concepção capitalista elitista, segundo Valdinar Barros, enquanto o estado investe em
propagandas privadas e celetistas tais como (Suzano, UHE Estreito, Vale etc.), a
precarização da técnica oferecida ao pequeno produtor (agricultura familiar), fica
escassa e ineficaz, proporcionando uma evasão dos jovens da vida campesina, gerando
um descaminho desta prática milenar, incentivando a apropriação e a monocultura,
objetos de lutas oriundos da sublevação do homem do campo. Atualmente a vila
conceição, sofre um processo pendular Vila Conceição/Imperatriz, precarizando a
produção e o aumento da evasão do homem do campo para cidade.
Figura 02
Obs.: Agricultura familiar: Precarização e Subsistência
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Considerações finais
A partir de todos os elementos construídos na pesquisa, em que foi possível abordar
relevantes reflexões sobre os aspectos fundiários no Brasil. Onde também foi possível
estabelecer uma relação entre os aspectos históricos da ocupação do território, bem
como, a eclosão de vários movimentos sociais oriundos das contradiçoes existentes,
devido a concentração fundiária no Brasil.
O contexto socioeconômico, os aspectos culturais, intelectuais e materiais, da atual Vila
Conceição I e II, contrastam com o processo de apropriação da fazenda itacira (1986),
terra devoluta sem produção. Diferentemente dos processos pretéritos de ocupação
latifundiária. A apropriação da fazenda aconteceu de forma “pacífica” (não houve
conflito físico), no entanto as articulações políticas as especulações latifundiárias,
contribuíram pra um atraso no reconhecimento legal, na divisão dos lotes,
regulamentação via INCRA e os possíveis incentivos fiscais e econômicos para a
agricultura familiar.
Hoje se percebe que muitos avanços foram possíveis, no entanto, é perceptível também,
diversos entraves de acordo com a concepção defendida pelos ativistas da Vila
Conceição I e II, essa mera condição caracteriza as reais configurações de um país que
ainda não conseguiu alcançar de forma plena a verdadeira Reforma Agrária..
Notas ___________________ 1 Texto produzido através das discussões e debates acerca da realidade agrária no estado do Maranhão, e como os primeiros estudos para elaboração do TCC de Licenciatura Plena em Geografia do Centro de Estudos Superiores de Imperatriz da Universidade Estadual do Maranhão, sob a orientação do Professor Davisson do Nascimento. 2 Graduando do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Maranhão � Graduando do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Maranhão
Referências
A questão agrária no Brasil: O debate tradicional – 1500-1960 / João Pedro Stedile (org); Douglas Estevam (assistente de produção) - - 1. ed. - -- São Paulo: Expressão Popular, 2005. 304 p.
A questão agrária no Brasil: O debate de esquerda – 1960- 1980 / João Pedro Stedile (org); Douglas Estevam (assistente de produção) - - 1. ed. - -- São Paulo: Expressão Popular, 2005. 320 p.
Cidade e campo: relações e contradiçoes entre urbano e rural / Maria Encarnação Beltrão Sposito, Arthur Magon Whitacher (organizadores) - - 2. ed. - - São Paulo : Expressão Popular, 2010. 248 p.: il.