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Geografia - O Mundo Em Transição Vol. 1 (José William Vesentini)

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  • Cuide bem do livro!

    As escolas da rede pblica de ensino recebem, periodicamente, as obras referentes ao Programa Nacional do Livro Didtico - PNLD, adquiridas e distribudas pelo Ministrio da Educao para todo o pas por intermdio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao, aps criteriosa avaliao da Secretaria de Educao Bsica, para que professores e alunos contem com materiais de qualidade fsica e pedaggica.

    Este livro precisa ser preservado, e deve ser protegido da gua, da poeira e de outras situaes que possam causar danos. Procure mant-lo limpo, sem rabiscos, rasgos ou recortes.

    Lembre-se de que, depois de voc, ele ser usado por outros alunos durante os trs anos de vida til do material. Por isso, ao final do ano letivo, voc dever devolv-lo bemconservado.

    Sua colaborao importante!

    Registre aqui o histrico de utilizao deste livro.

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    Nome do(a) aluno(a):

    Ano:

    Nome do(a) aluno(a):

    Ano:

  • Jos William VesentiniDoutor e livre-docente em Geografia, professor e pesquisador da

    Universidade de So Paulo (USP), onde leciona nos cursos de graduao

    e ps-graduao. Com doze anos de experincia docente no Ensino

    Fundamental e no Ensino Mdio.

  • Gerente Editorial Margarete Gomes Editora Siomara Spinola

    Editor-Assistente lldete Oliveira PintoEdio de texto

    Elaborao de atividades Leitura crtica

    Manual do Professor

    Reviso

    Pesquisa iconogrfica e cartogrfica

    Edio de arte

    Programao visual Editorao eletrnica

    Ilustrao Cartografia

    Capa

    Foto das p. 8-9

    Afonso Nunes, Ceclia Oku, lldete Oliveira Pinto e Samir ThomazAndr Vincius Martinez Gonalves Celso Ab'SberCludia Cantarin (edio) e Gislaine Munhoz (elaborao de atividades complementares)Hlia de Jesus Gonsaga (ger.)Ktia Scaff Marques (coord.)Daniel de Febba Santos, Juliana Lima Gonalves,Maurcio Baptista Vieira, Patrcia Travanca e Rosngela Muricy Slvio Kligin (superv.)Caio Mazzilli, Karina Tengan, Sara Plaza,Claudia Bertolazzi e Joanna Heliszkowski (iconografia)Mrcio Santos de Souza (cartografia)Rosimeire Tada (coord.)Ktia KimieAGWMRam Dikan Artes GrficasKLN Artes Grficas Maps World e AllmapsAndra DellamagnaFoto: Vista de So Francisco, nos Estados Unidos da Amrica, destacando os altos arranha-cus, em 2008.Crdito da foto: Stocktrek RF/Getty ImagesMulher planejando rotas de voo no Reino Unido, em 2007.Crdito da foto: David Spurdens/Corbis/Corbis (DC)/LatinstockGeografia - O mundo em transio Editora tica S.A.Ttulo original da obra

    Impresso e Acabamento Diviso Grfica da Editora Abril S/ADados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Vesentini, Jos WilliamGeografia : o mundo em transio : ensino mdio /

    Jos William Vesentini. So Paulo :tica, 2010.

    l. impresso da 1. ed. de 2010.Contedo: V. 1. Geografia geral : conceitos

    principais v. 2. Geografia geral e do Brasil : problemas e alternativas v. 3. Geografia do Brasil : humana, fisica e regional.

    Bibliografia.

    1. Geografia (Ensino mdio) I. Ttulo.

    I2|

    ndices para catlogo sistemtico: 1. Geografia : Ensino mdio 910.712

    ISBN (aluno)ISBN professor)

    2012Todos os direitos reservados Editora tica S.A.

    Avenida Otaviano Alves de Lima, 4400 - 5. andar e andar intermedirio Ala A Freguesia do CEP 02909-900 - So Paulo SP

    Tel.: 0800 115152 - Fax 0(XX)11 3990-1616 www.atica.com.br

    [email protected]

    http://www.atica.com.brmailto:[email protected]

  • [APRESENTAO]O mundo vem conhecendo uma acelerao do tempo histrico pelo menos desde a revoluo tcnico-

    -cientfica, iniciada nos anos 1970. Na dcada de 1980, com a intensificao da globalizao e a crise terminal do mundo socialista, rpidas e inesperadas mudanas, que engendraram um novo ordenamento geopoltico e geoeconmico na escala planetria, tiveram um amplo impacto na cincia geogrfica e no ensino, especialmente nas concepes sobre o que deve ser a escola no sculo XXI.

    Evitando polmicas terico-metodolgicas, podemos dizer que h um caminhar no sentido de uma educao orientada para desenvolver nos educandos determinadas competncias, habilidades e inteligncias mltiplas; uma transio da escola conteudista para uma escola de competncias. Isso no significa que os contedos foram abolidos, mas sim que eles devem servir de instrumento para a reflexo, com trabalhos em equipe e estudos do meio (bsicos para desenvolver a sociabilidade, quebrar preconceitos e interligar teoria e prtica), pesquisas extraclasse em bibliotecas, na internet, em jornais ou revistas, filmes, etc. - atividades que demandam deduo, induo, extrapolao, (re)construo e aplicao de conceitos.

    Esta coleo de geografia para o ensino mdio procura atender a esse imperativo. Para isso, baseando-se na orientao pedaggica socioconstrutivista e na corrente pluralista da geografia crtica, faz uma seleo de contedos pertinentes para um conhecimento do mundo atual em suas variadas escalas geogrficas e, ao mesmo tempo, oferece uma abrangncia completa dos conhecimentos e competncias requeridos pelo Enem. Sugere atividades que levam voc, educando, a refletir sobre a sua realidade local, sobre a regio onde vive, sobre o Brasil e o mundo. Essas atividades no so uma mera cobrana do contedo existente em cada captulo, mas sim desafios que exigem pesquisas e reflexes, observao, extrapolao, (re)construo e aplicao de conceitos, interpretao de mapas e grficos, alm de sugestes para pesquisas extraclasse (por exemplo, na internet), para leitura de jornais ou revistas, para aprender assistindo a determinados filmes, etc.

    Nesta obra voc vai travar contato com os conceitos bsicos da disciplina, estudando o nosso pas com as suas regies e os principais problemas - ambientais, geoeconmicos, geopolticos, demogrficos - do mundo atual. Vai tambm refletir sobre as peculiaridades das "grandes regies" do globo: Europa, Amrica Latina, Oriente Mdio, frica subsaariana, etc.

    Com isso, acreditamos que voc, aluno, estar preparado tanto para obter um timo desempenho nos exames do Enem, nas avaliaes seriadas ou nos exames vestibulares, quanto - principalmente - para ser um cidado ativo neste mundo cada vez mais globalizado, com uma crescente interdependncia entre todas as suas partes (lugares) e todos os seus aspectos (fsico, econmico, cultural, geopoltico). Um cidado ativo, que pense por conta prpria, que aprenda a aprender, a ser, a conviver, a fazer e a questionar.

    O Autor

  • [ SUMRIO ]

    O que voc vai estudar neste volume?..........................................

    Unidade I

    GEO-HISTRIA E GEOCARTOGRAFIA .........

    Captulo 1 A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais: escalas geogrficas e regies..............................................

    Ponto de partida..............................................................................Por que estudar geografia?............................................................

    Afinal, o que geografia?................. ..............................Boxe "Objetivos da educao hoje".................................A importncia de estudar geografia.................................

    Dois conceitos fundamentais:escalas geogrficas e regies.................................................

    Escala geogrfica e escala cartogrfica..........................Regies e regionalizao.................................................

    Laboratrio de geografia.................................................................Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo..............................................Trabalhando em equipe...................................................

    Captulo 2 Da histria da geografia aos campos de atuao do gegrafo........................................................

    Ponto de partida..............................................................................Uma breve histria da geografia.....................................................

    A mistura inicial: filosofia, geografia e outros saberes....Especializao dos saberes.............................................Boxe "O nome da rosa: duas maneiras de

    pensar o mundo".......................................................Surge a geografia moderna com Humboldt e Ritter.......................

    Divises da geografia.......................................................Campos de atuao do gegrafo....................................................

    Planejamento e questo ambiental.................................Sistemas de Informaes Geogrficas............................Ensino de geografia.........................................................

    Laboratrio de geografia........................................................Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo..............................................Trabalhando em equipe...................................................

    Captulo 3 Cartografia (I): o que so mapas.............................Ponto de partida..............................................................................introduo........................................................................................Elementos de um mapa..................................................................

    Ttulo e smbolos..............................................................Escala...............................................................................Indicador de direo.........................................................Linhas...............................................................................

    8 Um breve histrico dos mapas......................................................... 38Como se faz um mapa atualmente?............................................... 39Quais so os principais tipos de mapa?......................................... 40

    10 Laboratrio de geografia.................................................................. 41Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do capitulo.............................................. 4110 Trabalhando em equipe.................................................... 42

    1011 Captulo 4 Cartografia (II): projees......................................... 4312 Ponto de partida.............................................................................. 4312 Introduo........................................................................................ 4413 Imaginando uma experincia com uma laranja.............................. 44

    Fidelidade dos globos X praticidade dos mapas............................ 4413 Quando a projeo cartogrfica14 no to importante?.............................................................. 4415 Tipos de projeo: equivalentes e conformais................................ 4519 As trs principais tcnicas de projeo:

    cilndrica, cnica e polar.......................................................... 4519 Projeo de Mercator....................................................................... 4620 Projeo de Gall-Peters................................................................... 47

    Projees planas ou polares:vantagens e desvantagens...................................................... 47

    21 Projeo de Robinson..................................................................... 4821 Projeo descontnua...................................................................... 4821 Qual a melhor projeo?.............................................................. 4822 Laboratrio de geografia.................................................................. 5023 Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo.............................................. 5025 Trabalhando em equipe.................................................... 5126

    Captulo 5 Interpretao de mapas............................................ 52Ponto de partida.............................................................................. 52Introduo........................................................................................ 52

    28 Analisando um mapa temtico........................................................ 5229 Analisando um mapa fsico ou hipsomtrico.................................. 53

    Analisando um mapa de populao e correlacionando relevo e latitude

    32 com povoamento................................................................................... 5433 Algumas polmicas sobre mapas................................................................. 55

    Uma viso que privilegia o hemisfrio norte.................... 5634 Uma viso que favorece os pases subdesenvolvidos,34 mas no muito............................................................ 5835 O mapa do imvel "bem localizado"................................. 5935 Outras polmicas sobre mapas....................................................... 5935 Laboratrio de geografia.................................................................. 6135 Questes de compreenso e reflexo sobre37 o contedo do captulo............................................... 6137 Trabalhando em equipe............................................ . 62

    4

  • Captulo 6 Localizao absoluta elocalizao relativa................................................................ 63

    Ponto de partida.............................................................................. 63Introduo........................................................................................ 64Situao geogrfica da cidade de So Paulo................................. 64Importncia estratgica da localizao do Afeganisto................. 64Outros exemplos de localizao relativa........................................ 65GPS, o mais moderno sistema de localizao............................... 66Importncia da localizao para o desenvolvimento..................... 67Laboratrio de geografia................................................................. 69

    Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captulo............................................. 69

    Trabalhando em equipe................................................... 70Sugestes de sites, vdeos e livros................................................. 71

    Unidade II

    GEOECONOMIA............................................................................. 72

    Captulo 7 Indstria e espao geogrfico................................. 72Ponto de partida.............................................................................. 72A produo do espao.................................................................... 73

    Espao geogrfico: diferenas devidas ao tempo........... 73Espao geogrfico: diferenas devidas

    s desigualdades sociais.......................................... 74Espao geogrfico: diferenas devidas

    ao grau de desenvolvimento tcnico........................ 75A industrializao da humanidade.................................................. 76

    Industrializao clssica ou original................................. 77Industrializao planificada.............................................. 78Industrializao tardia, perifrica ou retardatria............ 78Primeira Revoluo Industrial.......................................... 79Segunda Revoluo Industrial......................................... 79Terceira Revoluo Industrial ou revoluo

    tcnico-cientfica....................................................... 80Laboratrio de geografia................................................................. 84

    Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captulo.............................................. 84

    Trabalhando em equipe................................................... 84

    Captulo 8 Fontes de energia...................................................... 85Ponto de partida.............................................................................. 85Introduo........................................................................................ 85Fontes de energia........................................................................... 86Carvo............................................................................................. 87Petrleo........................................................................................... 88Energia hidreltrica......................................................................... 91Energia nuclear............................................................................... 92Energias biolgicas......................................................................... 94

    Biogs............................................................................... 94lcool e leos vegetais..................................................... 95Boxe "Os biocombustveis e a produo de alimentos".... 96

    5

    Energia solar e hidrognio.............................................................. 96Mars, vento e energia geotrmica................................................ 97Laboratrio de geografia................................................................. 98

    Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captulo............................................. 98

    Trabalhando em equipe................................................... 99

    Captulo 9 Transportes e telecomunicaes............................ 100Ponto de partida.............................................................................. 100Meios de transporte........................................................................ 101

    Transporte hidrovirio...................................................... 101Transporte areo.............................................................. 102Transporte ferrovirio....................................................... 102Transporte rodovirio....................................................... 104Boxe "Custo-pas"............................................................... 104

    Telecomunicaes........................................................................... 105Laboratrio de geografia................................................................. 107

    Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captulo............................................. 107

    Trabalhando em equipe................................................... 108

    Captulo 10 Setor tercirio (I):comrcio internacional......................................................... 109

    Ponto de partida.............................................................................. 109Comrcio e moeda.......................................................................... 1100 que economia de mercado?..................................................... 110Comrcio externo............................................................................ 110

    Abertura comercial........................................................... 113Laboratrio de geografia................................................................. 115

    Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captulo.............................................. 115

    Trabalhando em equipe................................................... 115

    Captulo 11 Setor tercirio (II): turismo..................................... 116Ponto de partida.............................................................................. 1160 desenvolvimento do turismo........................................................ 117Por que fazer turismo?.................................................................... 118Os principais destinos tursticos..................................................... 118Turismo rural e ecoturismo, idealizao

    do campo e da natureza.......................................................... 120Laboratrio de geografia................................................................. 120

    Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captulo............................................. 120

    Trabalhando em equipe................................................... 121

    Captulo 12 O meio rural.............................................................. 122Ponto de partida.............................................................................. 122Introduo........................................................................................ 123Agrossistemas ou sistemas agrrios.............................................. 123

    Agrossistemas tradicionais............................................... 124Agrossistemas modernos................................................. 127

  • Agrossistemas alternativos........................................... 130

    Boxe O comrcio internacional de alimentos"............... 131

    Laboratrio de geografia........................................................... 134Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do capitulo......................................... 134

    Trabalhando em equipe............................................... 134

    Sugestes de sites, vdeos e livros............................................. 135

    Unidade III

    GEOPOLTICA....................................................................... 137

    Captulo 13 O Estado e a produo do espao................... 137

    Ponto de partida....................................................................... 137

    O que o Estado?.................................................................... 138

    As funes do Estado................................................................ 138O papel do Estado na produo do

    espao geogrfico.............................................................. 138

    Crescimento das funes e do poderio do Estado....................... 141

    Privatizaes das empresas estatais.......................................... 141

    Redefinio das funes do Estado............................................ 142

    Laboratrio de geografia........................................................... 143Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo......................................... 143

    Trabalhando em equipe.............................................. 144

    Captulo 14 A nova ordem mundial.................................... 145

    Ponto de partida....................................................................... 145

    O que uma ordem geopoltica mundial?.................................. 146

    As ordens multipolar e bipolar................................................... 146

    A guerra fria............................................................................. 147

    Crise do mundo bipolar............................................................. 149

    Esgotamento das economias planificadas..................... 149

    Novos polos mundiais de poder................................... 150

    A nova ordem mundial.............................................................. 150

    Laboratrio de geografia.................................................... 152Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo......................................... 152

    Trabalhando em equipe............................................... 153

    Captulo 15 Crise do Estado e organizaesinternacionais................................................................ 154

    Ponto de partida....................................................................... 154

    O enfraquecimento do Estado nacional...................................... 155

    Fortalecimento das organizaes internacionais.......................... 155

    ONU........................................................................... 155

    Grupos de pases: G-7, G-8, G-20, BRIC, etc................. 157

    Otan........................................................................... 159

    Boxe "Outras organizaes internacionais"..................... 160

    Terceiro Setor e as ONGs.......................................................... 161

    Mdia global............................................................................. 162

    Laboratrio de geografia........................................................... 164Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo......................................... 164

    Trabalhando em equipe.............................................. 165

    Captulo 16 O poderio econmico-militar.......................... 166Ponto de partida....................................................................... 166

    Poderio militar e economia........................................................ 167

    O papel dos Estados Unidos........................................ 168

    As mudanas no militarismo e na guerra.................................... 169

    A guerra ciberntica.................................................................. 171

    As armas nucleares................................................................... 172

    Laboratrio de geografia........................................................... 174Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo......................................... 174

    Trabalhando em equipe.............................................. 174

    Captulo 17 Desigualdades, tenses econflitos internacionais................................................. 175

    Ponto de partida....................................................................... 175

    Desigualdades internacionais.................................................... 176

    Migraes internacionais e racismo............................................ 178

    Mfias e trfico de drogas......................................................... 178Fatores que contribuem para a expanso

    do crime organizado............................................. 178

    Formao de poder paralelo ao do Estado.................... 179

    Terrorismo............................................................................... 179

    Diferenas en tre o novo e o velho terrorismo.............. 1800 velho terrorismo: organizaes anarquistas

    e nacionalistas..................................................... 180O terrorismo ps-moderno: seitas ou organizaes

    fundamentalistas e tradicionalistas........................ 181

    Laboratrio de geografia........................................................... 182Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do capitulo......................................... 182

    Trabalhando em equipe............................................... 183

    Sugestes de sites, vdeos e livros............................................. 184

    Unidade IVGEOFSICA....................................................................... 186

    Captulo 18 O sistema fsico da Terrae a litosfera..................................................................... 186

    Ponto de partida...................................................................... 186

    A Terra como um sistema dinmico........................................... 187

    Superfcie terrestre................................................................... 188

    Litosfera.................................................................................. 189

    Rochas....................................................................... 189

    Tectnica das placas................................................... 191

    Boxe "Maremotos e tsunamis"...................................... 194

    Boxe "Escala Richter".................................................. 194

    Laboratrio de geografia........................................................... 195

    6

  • Questes de compreenso e reflexo sobreo contedo do captu Io................................................. 195

    Trabalhando em equipe..................................................... 196

    Captulo 19 A litosfera: estruturageolgica e relevo.................................................................... 197

    Ponto de partida.............................................................................. 197Estrutura geolgica......................................................................... 198Relevo............................................................................................. 198

    Principais formas de relevo................................................ 198Agentes modificadores do relevo........................................ 199Boxe "O relevo e a ocupao humana".............................. 202

    Laboratrio de geografia................................................................. 203Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo................................................ 203Trabalhando em equipe..................................................... 204

    Captulo 20 Atmosfera e climas............................................... 205Ponto de partida.............................................................................. 2050 que atmosfera?......................................................................... 205Camadas atmosfricas.................................................................... 206Tempo e clima................................................................................. 206Fenmenos atmosfricos................................................................ 207

    Temperatura do ar............................................................. 207Presso atmosfrica........................................................... 208Vento................................................................................. 209Umidade do ar................................................................... 209Nuvens e nevoeiros........................................................... 209Precipitaes..................................................................... 209

    Massas de ar e frentes.................................................................... 209Principais tipos de clima do mundo................................................ 211

    Clima equatorial................................................................. 211Clima tropical..................................................................... 211Clima desrtico.................................................................. 212Climas temperados................................................................ 212Clima frio polar ou de altas montanhas............................... 213

    Laboratrio de geografia................................................................. 214Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo.................................................. 214Trabalhando em equipe........................................................ 215

    Captulo 21 Hidrosfera................................................................ 216Ponto de partida.............................................................................. 216Introduo........................................................................................ 217Importncia da gua....................................................................... 217Distribuio da gua no planeta..................................................... 217Ciclo da gua................................................................................... 219guas martimas.............................................................................. 222guas continentais.......................................................................... 223

    Rios................................................................................... 223guas subterrneas........................................................... 224

    Boxe *El Nio e La Nia"...................................................... 225

    Laboratrio de geografia..................................................................... 226Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo.................................................. 226

    Trabalhando em equipe........................................................ 226

    Captulo 22 Biosfera....................................................................... 227Ponto de partida.................................................................................. 227Biosfera e ecossistemas..................................................................... 228

    A importncia da fotossntese e da respirao..................... 228

    Importncia do solo............................................................... 229

    Ecossistema.......................................................................... 231

    Principais biomas da superfcie terrestre.......................................... 231Tundra................................................................................... 232

    Floresta boreal ou de conferas............................................. 233

    Florestas temperadas............................................................ 233

    Pradarias............................................................................... 233

    Savanas................................................................................. 234

    Florestas tropicais................................................................. 234

    Desertos................................................................................ 234

    Laboratrio de geografia.................................................. .................. 235Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo.................................................. 235

    Trabalhando em equipe........................................................ 235

    Captulo 23 Impactos ambientais da sociedademoderna e desenvolvimento sustentvel........................ 236

    Ponto de partida.................................................................................. 236Impacto ambiental e poluio............................................................ 237

    Poluio das guas............................................................... 237

    Poluio do ar e efeito estufa................................................ 239

    Poluio nas metrpoles....................................................... 241

    Desenvolvimento sustentvel............................................................ 241Patrimnio cultural-ecolgico............................................................. 243Um problema mundial......................................................................... 244Tratados internacionais sobre o ambiente........................................ 245

    Boxe "O Protocolo de Kyoto e o crdito de carbono"........... 246

    Laboratrio de geografia..................................................................... 247Questes de compreenso e reflexo sobre

    o contedo do captulo.................................................. 247

    Trabalhando em equipe........................................................ 248

    Sugestes de sites, vdeos e livros.................................................... 249

    Questes do Enem, de vestibularese avaliaes seriadas............................................................. 251

    Lista de termos do glossrio....................................................... 285

    Lista de leituras complementares.............................................. 286

    Referncias bibliogrficas............................................................ 287

    7

  • N este primeiro volume da coleo, voc vaiestudar os principais conceitos da geografiageral. Entre os diversos temas que ele apresenta,destacamos:

    amplo estudo de cartografia, com interpretao de mapas e utilizao do GPS;

    Revoluo Industrial e produo do espao;

    recursos minerais e energticos;

    sistemas agrrios;

    geopoltica: funes do Estado, nova ordem mundial, guerras, guerra fria, organizaes internacionais;

    sistema fsico da Terra, estruturas do solo e do relevo, agentes internos e externos modeladores do relevo, atmosfera e tipos de clima;

    principais biomas da superfcie terrestre;

    questes ambientais contemporneas e tratados internacionais sobre o ambiente.

    Bom estudo!

    | 9 |

  • UNIDADE GEO-HISTRIA I E GEOCARTOGRAFIA

    A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais: escalas geogrficas e regies

    PONTO DE PARTIDA

    Nos anos 1970, criou-se nos Estados Unidos a expresso "analfabetismo geogrfico" (geographic illiteracy) por causa da enorme carncia de conhecimentos geogrficos entre a populao em geral e entre os estudantes em particular. Os educadores daquele pas e a mdia, isto , os meios de comunicao (jornais, revistas, televiso, rdio), logo fizeram uma campanha para denunciar esse problema.A charge abaixo, de autoria de Garry Trudeau, publicada no jornal ingls The Guardian, em 1988, exemplifica muito bem a denncia sobre esse analfabetismo geogrfico. Observe-a.

    > Com base na charge acima, reflita e converse com seus colegas e o professor sobre as questes a seguir:a) O que vocs entendem por analfabetismo geogrfico?

    b) Vocs acham que no Brasil tambm existe analfabetismo geogrfico? Justifiquem.

    Unidade I | 10 | Geo-histria e geocartografia

  • [ Por que estudar geografia?Esse analfabetismo geogrfico tinha - e, em

    parte, ainda tem - indesejveis conseqncias prticas. Por exemplo: nos anos 1980, ao tentar entrar no mercado brasileiro, uma empresa de aviao estadunidense teve enormes prejuzos porque servia comida mexicana nos seus avies e treinou os seus funcionrios para falar em espanhol, imaginando que esse fosse o nosso idioma!; a maior rede de comrcio varejista do mundo tambm fracassou nos seus primeiros anos de negcios no Brasil, pois entulhou suas lojas com artigos imprprios ao nosso clima e aos nossos hbitos (roupas para esquiar, agasalhos para o frio do Alasca, tacos de beisebol, etc.). Existem centenas ou talvez milhares de exemplos semelhantes, no s em relao ao Brasil, mas tambm a inmeros pases da Amrica Latina, da sia, da frica e at da Europa.

    Assim, as autoridades e os educadores estadunidenses no ficaram apenas na campanha de denncias. Logo partiram para a ao, realizando uma Semana de Conscientizao Geogrfica (Geography Awareness Week) em junho de 1987 no Congresso Nacional, em Washington; e nos anos 1990 promoveram uma radical reforma do seu sistema escolar, na qual, entre outras mudanas, aumentaram o nmero de aulas de geografia por semana e modificaram o currculo, acabando com a geografia tradicional descritiva e procurando ligar a geografia com a vida, com os problemas do mundo, do pas e do lugar onde a escola est inserida.

    Veja trechos dos discursos feitos por algumas autoridades estadunidenses durante essa semana de conscientizao:

    Todos ns no Congresso imaginamos que de vital importncia melhorar nosso sistema educacional, se quisermos manter a nossa posio competitiva na economia mundial. Como parte desse esforo, devemos nos assegurar de que os jovens america

    nos tenham uma clara compreenso sobre como o mundo e quais so as influncias humanas geograficamente positivas.(Senador Edward Kennedy)

    Dependemos de uma populao bem informada para manter os ideais democrticos que fizeram a grandeza deste pas. Quando 95% de nossos estudantes universitrios no conseguem localizar o Vietn num mapa-mndi, devemos nos alarmar. Quando 63% dos americanos que participaram de uma pesquisa nacional feita pela CBS e pelo Washington Post no conseguiram dar o nome das duas naes envolvidas nas conversaes SALT1, estamos falhando em educar nossos cidados para competir neste mundo cada vez mais interdependente.(Senador William Bradley)

    Ignorar geografia uma atitude irresponsvel. Ela to importante para os negcios e a poltica domstica quanto para as decises militares e de poltica exterior.(Gilbert Grasvenor, presidente da Sociedade Nacional de Geografia dos Estados Unidos)

    Com base nesses trechos, responda s seguintes questes:

    1. Por que os intelectuais e as autoridades dos Estados Unidos, a potncia econmica e militar do planeta, consideraram importante aprimorar o ensino de geografia entre os cidados do seu pas?

    2. D alguns exemplos da importncia da geografia para a poltica externa (relaes internacionais), para os negcios, para a guerra e para a poltica interna ou domstica (planejamento regional ou urbano, uso da terra, etc.).

    1. SALT: sigla em ingls das Negociaes para Limitao de Armas Estratgicas [Strategic Arms Limitation Talks], que ocorreram nos anos 1970 entre as duas superpotncias da poca: Estados Unidos e Unio Sovitica.

    Captulo 1 | 11 | A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais...

  • Afinal, o que geografia?A geografia o estudo do espao geogrfico.Mas o que esse espao? o local ou meio onde vivem os seres huma

    nos: a superfcie terrestre.Assim, o campo de estudos da geografia o es

    pao da sociedade humana, em que homens e mulheres vivem e, ao mesmo tempo, produzem modificaes que o (re)constroem permanentemente. Indstrias, cidades, agricultura, rios, solos, climas, populaes, todos esses elementos - alm de outros - constituem o espao geogrfico, isto , o meio ou a realidade material em que a humanidade vive e do qual parte integrante.

    Tudo nesse espao depende do ser humano e da natureza. Esta ltima a fonte primeira de todo o mundo real. A gua, a madeira, o petrleo, o ferro, o cimento e todas as outras coisas que existem nada mais so que aspectos da natureza. Mas o ser humano reelabora esses elementos naturais ao fabricar plstico a partir do petrleo, ao

    represar rios e construir usinas hidreltricas, ao aterrar pntanos e edificar cidades, ao inventar velozes avies para encurtar as distncias.

    Assim, o espao geogrfico no apenas o local de morada da sociedade humana, mas principalmente uma realidade que a cada momento (re)construda pela atividade do ser humano.

    As modificaes que a sociedade humana produz em seu espao so hoje mais intensas que no passado. Tudo o que nos rodeia se transforma rapidamente. Com a interligao entre todas as partes do globo e com o desenvolvimento dos transportes e das comunicaes, passa a existir um mundo cada vez mais unitrio. Pode-se dizer que, em nosso planeta, h uma nica sociedade humana, embora seja uma sociedade plena de desigualdades e diversidades.

    Os mundos ou as sociedades isoladas, que viviam sem manter relaes com o restante da humanidade, cederam lugar ao espao global da sociedade moderna.

    Objetivos da educao hoje

    Os conceitos geogrficos tambm auxiliam as pessoas a navegar ou orientar-se melhor neste mundo cheio de propaganda e informaes enganosas.

    Recebemos hoje, em apenas um dia, mais informaes do que nossos avs recebiam durante toda a sua vida. Isso resultado da revoluo das comunicaes, que somente se acelerou a partir de meados dos anos 1970. Naquela poca, ocorreram inmeras aplicaes tecnolgicas que interligaram o mundo e permitiram comunicaes massivas e instantneas: sofisticados satlites artificiais para transmisso de dados e informaes acessveis ao pblico (e no somente para uso militar, como antes), cabos tran- socenicos de fibra ptica, desenvolvimento da televiso, do telefone celular e da ligao entre os computadores e os telefones, formando redes (como a Internet), etc.

    Isso significa que, muito mais do que fornecer informaes, a escola de hoje - e tambm o ensino da geografia - deve desenvolver no aluno a capacidade de selecion-las, de filtr-las, para

    separar o que importante e crvel (isto , o que tem uma certa lgica ou base cientfica) daquilo que superficial ou, muitas vezes, mera propaganda enganosa. Conhecer o mundo de hoje, portanto, significa tambm aprender a refletir, ter um esprito crtico que permita uma triagem daquele amontoado de fatos e informaes com que o mundo das comunicaes nos inunda a cada dia. A respeito disso, um importante educador-Jean Piaget- afirmou:

    O primeiro objetivo da educao criar pessoas capazes de fazer coisas novas, e no simplesmente repetir o que outras geraes fizeram [...] O segundo objetivo da educao formar mentes que possam ser crticas, que possam verificar e no aceitar tudo o que lhes oferecido. O maior perigo hoje o de slogans2, opinies coletivas, tendncias de pensamento ready-made3. Temos que estar aptos a resistir, a criticar, a distinguir entre o que est demonstrado e o que no est.

    (Texto elaborado pelo autor.)

    2. Slogans: frases ou opinies repetidas de forma panfletria, isto , com uso poltico, sem nenhuma preocupao com a veracidade dos fatos.3. Pensamentos ready-made: opinies ou pensamentos j prontos que so repetidos mesmo sem que se saiba exatamente o que significam.

    Unidade I | 1 2 | Geo-histria e geocartografia

  • Na atualidade, no existe nenhum pas que no dependa dos demais, seja para o suprimento de parte das suas necessidades materiais, seja pela internacionalizao da tecnologia, da arte, dos valores, da cultura.

    Uma guerra civil, fortes geadas com perdas agrcolas, a construo de um novo tipo de computador, a descoberta de enormes jazidas petrolferas, enfim, um acontecimento importante que ocorra numa parte qualquer da superfcie terrestre tem repercusses em todo o conjunto do globo. Muito do que acontece em reas distantes acaba nos afetando de uma forma ou de outra, mesmo que no tenhamos conscincia disso. No vivemos mais em aldeias relativamente independentes, como nossos antepassados longnquos, mas num mundo interdependente e no qual as transformaes se sucedem numa velocidade acelerada.

    A importncia de estudar geografiaEm sntese, estudar geografia uma forma de

    compreender o mundo em que vivemos. Por meio desse estudo, podemos entender melhor o local em que moramos - seja uma cidade, seja uma rea rural - e o nosso pas, bem como os demais pases. Para nos posicionarmos de forma inteligente em relao a este mundo, temos de conhec-lo bem. Para nele vivermos de modo consciente e crtico, devemos estudar os seus fundamentos, desvendar os seus mecanismos.

    Ser cidado pleno em nossa poca significa, antes de tudo, estar integrado criticamente na sociedade, participando ativamente de suas transformaes. Para isso, devemos refletir sobre o nosso mundo, compreendendo-o do mbito local at os mbitos nacional e planetrio. E a geografia um instrumento indispensvel para empreendermos essa reflexo, que deve ser a base da nossa atuao no mundo. Leia tambm o texto do quadro da pgina ao lado, que complementa o assunto.

    [Dois conceitos fundamentais: escalas geogrficas e regiesUm conceito essencial no estudo da geogra

    fia o de escala geogrfica ou espacial. Lembra

    mos inicialmente que escala geogrfica no a mesma coisa que escala cartogrfica, que voc conhece desde os primeiros anos do ensino fundamental.

    Antes de estudar as diferenas entre os dois tipos de escala, vamos refletir sobre a seguinte frase, que um lema ambientalista que vem ganhando destaque em todo o mundo:

    "Pense globalmente, aja localmente".

    1. Quais so as escalas geogrficas mencionadas nessa frase? Explique o que significa cada uma delas.

    2. Voc conhece outras escalas geogrficas alm das citadas por voc? Quais?

    Vamos, a seguir, explicar a diferena entre escalas geogrficas e escalas cartogrficas. Antes de comear, porm, vamos fazer uma comparao com a histria, disciplina que possui vrias semelhanas com a geografia.

    Podemos dizer que a questo da escala do espao geogrfico mais ou menos semelhante da durao ou dimenso do tempo histrico: existem acontecimentos ou processos que ocorrem num tempo curto (uma batalha ou uma eleio, por exemplo) e outros que somente sero de fato compreendidos num tempo longo (o feudalismo ou a Revoluo Industrial, por exemplo).

    A escala geogrfica tambm se refere a uma dimenso ou amplitude, no no tempo, mas no espao. Tambm na geografia existem eventos ou processos de nvel micro ou curto (aspectos ou fatos de uma localidade, que se encerram nela) e outros de nvel macro ou imenso (a globalizao ou as relaes internacionais). Mas, alm desses dois nveis extremos, o micro (curto ou pequeno, isto , o local) e o macro (grande ou imenso, ou seja, o global), existem escalas ou dimenses geogrficas intermedirias.

    Captulo 1 | 13 | A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais...

  • Observe as escalas geogrficas na figura abaixo.

    Principais escalas geogrficas

    Essas so as principais escalas geogrficas, ou seja, do espao em que vivemos, a superfcie da Terra. lgico que todas so interdependentes e interligadas; nada mais so que diferentes partes ou nveis de uma mesma realidade, mas alguns acontecimentos ou eventos dizem respeito mais diretamente a uma dessas escalas, mesmo que tenham repercusso nas demais. Por exemplo: nossos problemas do dia a dia moradia, escola ou trabalho, compras, trnsito e meios de transporte, etc. geralmente ocorrem ou so mais bem compreendidos na escala local; todavia um acontecimento ou mudana local, como, por exemplo, a criao em uma determinada rea de um polo tecnolgico inovador, pode repercutir sobre as demais escalas.

    Um plano para desenvolver uma regio uma ao pensada numa escala mais ampla que a local, geralmente uma deciso nacional para corrigir desequilbrios regionais, mas exerce forte impacto em determinados locais ou municpios, que sero beneficiados com verbas, com a instalao de indstrias ou de rodovias, etc.

    Unidade I | 14 | Geo-histria e geocartografia

    Uma ocorrncia na escala global por exemplo, o aquecimento global da atmosfera ou uma guerra que envolva pases de vrios continentes

    sempre vai influenciar as demais escalas, chegando at mesmo a provocar transformaes radicais em alguns locais. E assim sucessivamente, ou seja, uma ao ou um fenmeno numa escala quase sempre repercute nas demais.

    Escala geogrfica e escala cartogrficaNo devemos confundir escala geo

    grfica ou espacial com escala cartogrfica: elas so distintas, apesar de terem algo em comum.

    A escala cartogrfica se refere a uma proporo matemtica entre um mapa e a rea que ele representa; uma medida ou relao quantitativa. A escala geogrfica logicamente leva em conta as dimenses, a escala car-

    togrfica, mas vai alm disso; ela tambm uma propriedade do espao, uma dimenso deste, no apenas quantitativa (as distncias ou a rea), mas principalmente qualitativa, isto , as relaes e interaes entre os elementos fsicos e humanos daquele espao e, de forma especial, os laos ou traos de unio entre os moradores e entre estes e o resto do mundo.

    Desde o ensino fundamental principalmente no sexto e no stimo ano , estuda-se a escala cartogrfica. Por exemplo, 1 : 100 000 (um por cem mil). Isso quer dizer que um centmetro no mapa eqivale a 100 mil centmetros ou 1 km no espao que foi mapeado.

    lgico que a escala cartogrfica serve de base para a geogrfica, assim como a cronologia serve de base para a durao do tempo histrico, mas elas no se confundem, no so exatamente a mesma coisa. Por exemplo: no possvel determinar com exatido, na cronologia ou nos nmeros de um calendrio, o que significa um tempo curto (um evento importante) ou um tempo longo (um processo de longa durao, que

  • varia muito conforme as caractersticas de cada caso particular). Na escala cartogrfica tambm no possvel precisar com exatido absoluta o que significa um local ou a escala local isto , exatamente quantos quilmetros quadrados ele dever ter , pois isso varia muito de acordo com cada municpio, com cada comunidade ou agrupamento humano.

    At por volta dos anos 1980, a escala dos Estados nacionais era considerada a mais importante, pois nela existem as fronteiras entre os territrios nacionais, nos quais prevalece a soberania4 do poder pblico, isto , do Estado. Geralmente, a maior parte da poltica e da economia determinada por essa escala nacional: a que se definem a moeda e o sistema financeiro do pas, as polticas de desenvolvimento, de educao, de sade, de previdncia, etc.

    Com o avano da globalizao ou interdependncia cada vez maior entre todos os povos e economias, ocorreu uma intensa valorizao da escala global em virtude da expanso dos acordos e dos problemas comuns da humanidade comrcio mundial, tecnologias de informao, meio ambiente, mfias e narcotrfico, terrorismo, etc. e, principalmente, por causa de uma crescente importncia do mercado e do sistema financeiro internacionais, das instituies supranacionais como a ONU5, a Unio Europia, entre outras.

    A escala local tambm vem sendo cada vez mais valorizada, na medida em que vem ocorrendo um relativo enfraquecimento das fronteiras nacionais com a crescente abertura comercial e o lento avano da democracia em vrias partes do globo. A abertura comercial permite que as localidades tenham maior autonomia em comparao com o passado. O avano da democracia favorece a descentralizao das decises, que, em alguns casos, deixam de ser tomadas na escala nacional, pelo governo do pas, e passam a ser definidas em escala local, pela comunidade ou pelo governo do municpio.

    Regies e regionalizaoAntes de comear a estudar regionalizao, que

    a diviso de um espao em regies ou reas distintas, vamos refletir um pouco.

    Imagine que voc vai dividir o seu bairro ou a sua cidade (se for uma cidade pequena) em reas distintas ou regies. Que critrios poder utilizar? Centro e periferias? reas mais antigas e mais recentes? reas comerciais e residenciais? Como voc pode perceber, existem inmeros critrios ou maneiras de dividir ou regionalizar um espao, e tudo depende de para que servir essa diviso e como esse espao, isto , quais so suas caractersticas.

    Outro conceito fundamental para a geografia o de regio. Podemos comparar a regionalizao na geografia com a periodizao na histria. Ambas se referem a uma diviso ou compartimentao: regionalizar significa dividir ou organizar o espao geogrfico em regies, e periodizar uma organizao do tempo histrico em perodos ou etapas.

    A regionalizao e a periodizao tambm implicam agrupamento ou individualizao: a primeira procura detectar regies nas quais as reas que as compem teriam determinados traos ou caractersticas comuns, e a segunda busca agrupar ou individualizar determinadas pocas a partir de traos comuns, como, por exemplo, a clssica diviso do tempo histrico em Antiguidade, Idade Mdia, Idade Moderna e Contempornea.

    bom deixar claro que, assim como os perodos histricos, no existem regies geogrficas que sejam exatas, isto , as nicas possveis e indiscutveis. Sempre se dividem ou se individualizam certas reas isto , partes de um espao geogrfico tendo em vista determinados objetivos e certos critrios. Vamos exemplificar isso com o espao mundial.

    Existem inmeras regionalizaes do espao geogrfico mundial, dependendo dos objetivos e

    4. Soberania: poder soberano ou acima de todos os demais num determinado espao. Existem vrios poderes (igrejas, famlias, propriedade privada, instituies), mas o poder soberano ou superior num territrio nacional o do Estado, que detm o monoplio da violncia legtima (as foras armadas, a polcia, os tribunais, etc.).5. ONU: sigla de Organizao das Naes Unidas. A ONU foi criada em 1945 com o objetivo de manter a paz, defender os direitos humanos e promover o desenvolvimento dos pases do globo.

    Captulo 1 | 15 | A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais...

  • dos critrios que sero valorizados: a diviso do mundo em continentes (frica, Amrica, Eursia, Oceania e Antrtida), em mercados internacionais ou blocos econmicos (Mercosul, Unio Europeia, Nafta, etc.), em pases ricos e pobres (o Norte e o Sul), em paisagens naturais (pases tro

    picais, temperados, etc.), e assim sucessivamente. Nenhuma dessas divises ou regionalizaes a nica verdadeira e superior s demais; nem h entre elas nenhuma absurda ou completamente equivocada. Tudo depende do nosso interesse: se vamos estudar, por exemplo, os mercados internacionais, as desigualdades internacionais ou as

    grandes paisagens naturais.Vamos comparar duas formas de regionaliza

    o do espao mundial bastante comuns: a diviso da superfcie terrestre em continentes e a regiona

    lizao do espao mundial por critrios sociais ou poltico-econmicos o Norte (pases ricos ou

    industrializados) e o Sul (pases pobres ou subdesenvolvidos), levando em conta as desigualdades internacionais.

    A regionalizao segundo a geografia tradicional

    A primeira classificao em continentes tem como referncia principal a natureza, a geologia: trata-se de uma diviso que resulta da histria natural do nosso planeta, da separao operada

    pela natureza entre pores lquidas (oceanos e mares) e partes slidas (continentes e ilhas). Veja o mapa abaixo.

    evidente que os estudos geogrficos que consideram os continentes como base no se limitam aos seus aspectos fsicos ou naturais. Eles tambm podem versar sobre economia, populao, cidades, etc. Alm disso, devem observar que a sepa

    rao entre a Europa e a sia no somente fsica, mas sobretudo cultural.

    Esses elementos humanos ou sociais, todavia, acabam por ocupar uma posio secundria nesses estudos: eles no so considerados agentes

    definidores do espao, mas elementos que sero encaixados num quadro espacial preestabelecido. O ponto de partida desse tipo de classificao

    Diviso fsica ou geolgica da superfcie terrestre

    Fonte: Adaptado de SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. So Paulo: tica, 2009.

    Unidade I | 1 6 | Geo-histria e geocartografia

  • de fato a terra, a natureza anterior ao do ser humano. Alm disso, essa regionalizao enxerga o espao geogrfico como contnuo, isto , valoriza a proximidade ou contiguidade entre as reas, entre os pases que sero divididos em funo do continente no qual se localizam.

    De forma simplificada, podemos afirmar que os estudos que tm na terra (a natureza original) o seu ponto de partida fazem parte da chamada geografia tradicional. Esse tipo de geografia sempre procura explicar o ser humano em seu quadro natural: da a expresso a terra e o Homem, comum em suas obras. Quando o estudo da realidade feito dessa maneira, geralmente se separam os temas a serem abordados em trs unidades principais os aspectos fsicos ou naturais, os aspectos humanos e os aspectos econmicos e h um esquema prvio para a seqncia dos assuntos: a localizao do continente (ou pas), os fusos horrios, a estrutura

    Diviso econmico-social do mundo atual

    geolgica, o relevo, o clima, etc., at chegar economia (extrativismo, pecuria, agricultura, e assim por diante).

    Esses estudos apresentam a realidade de uma forma muito esttica, sem realar o seu carter dinmico e sem abordar com profundidade os seus problemas fundamentais. Geralmente eles resultam em descries de paisagens, em conjuntos de informaes a serem memorizadas e que no permitem de fato uma compreenso da realidade complexa e dinmica dos nossos dias.

    A regionalizao segundo a geografia crticaA segunda forma de classificao toma como

    ponto de partida a sociedade. Ela no v o espao como algo sempre contnuo, mas admite descon- tinuidades e agrupa reas ou pases em funo de traos econmico-sociais semelhantes, independentemente do continente onde se localizam. Veja o mapa abaixo.

    Fonte: Adaptado de Geographie; classe terminale, 1998.

    Oposio entre o Norte industrializado e o Sul subdesenvolvido. Como se observa no mapa, a linha divisria entre o Norte e o Sul no um paralelo (o equador ou o trpico de Cncer), e sim uma linha com vrias curvas, que d voltas para encaixar melhor um ou outro pas. Na parte leste ou oriental, por exemplo, essa linha d a volta, vindo bem para o sul, para encaixar a Austrlia e a Nova Zelndia no Norte industrializado. No Leste Asitico, a China e a Monglia, situadas bem mais ao norte que aqueles dois pases da Oceania, ficam encaixadas no Sul subdesenvolvido. Portanto, no se trata de hemisfrios norte e sul (divididos pelo equador), como muitas vezes se imagina, mas de um Norte e um Sul metafricos ou geoeconmicos.

    Captulo 1 | 17 | A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais.

  • Nessa classificao, os elementos naturais os solos, o clima, o relevo, etc. tambm so estudados, mas no servem de critrio definidor ou delimitador do espao. A humanidade (ou melhor, a sociedade humana) aqui vista como agente principal, como sujeito que ocupa e transforma o seu meio natural.

    Dessa forma, no se trata de encaixar o homem num quadro espacial definido pela natureza, como ocorre na primeira regionalizao, mas sim de entender como a sociedade constri e re- constri continuamente seu espao. A natureza passa, assim, a ser estudada em funo da dinmica social.

    Tambm simplificando um pouco, podemos dizer que os estudos que tm seu ponto de partida na sociedade enquadram-se na chamada geografia crtica. Trata-se de uma geografia que entende o espao geogrfico como produto da atividade humana, que transforma a natureza original em segunda natureza, isto , em uma natureza humanizada, reelaborada pela sociedade. Assim, pode- -se dizer que a agricultura, as cidades, os meios de transporte e de comunicao, etc. nada mais so que elementos naturais que foram reelabora- dos pelas atividades do ser humano. E a sociedade moderna, especialmente aps a Revoluo Industrial, que vamos estudar com mais detalhes no captulo 7, domina e transforma a natureza, submetendo-a aos interesses econmico-polticos dos indivduos e das classes que compem essa sociedade.

    Portanto, no a partir da terra, do quadro natural, que se vai compreender a sociedade moderna; ao contrrio, a partir das caractersticas dessa sociedade que se deve estudar hoje o nosso meio ambiente. A geografia tradicional talvez seja adequada para compreender as sociedades pr-industriais, mas, sem dvida nenhuma, ela inadequada para estudar corretamente a sociedade urbana e industrial do nosso presente.

    Para compreender o mundo atual, no basta estudar primeiro a localizao de cada continente (e dos pases), depois seu relevo, seu clima, etc.,

    sem estabelecer grandes ligaes entre esses vrios aspectos. Pelo contrrio, nosso ponto de partida deve ser a organizao econmico-poltica dos principais conjuntos de pases, pois ela que determina como a populao vive e transforma ou aproveita a natureza.

    Entretanto, uma regionalizao do mundo com base nas caractersticas da sociedade sempre mais problemtica que uma diviso com base em elementos fsicos em continentes ou em climas, por exemplo. Isso porque, em geral, as grandes mudanas naturais ocorrem a um ritmo muito mais lento que as importantes alteraes histricas e sociais. Um dado pas encontra-se na Amrica e no na Europa, um outro encontra-se na zona tropical, e isso tudo no d margem a grandes dvidas.

    Uma diviso poltico-econmica mais complexa: pode ser difcil encaixar um determinado pas (Coreia do Sul, por exemplo, ou ento a Grcia) apenas no Sul subdesenvolvido ou no Norte industrializado, pois alguns de seus aspectos lembram um conjunto e os demais lembram o outro grupo de pases. Alm disso, em apenas algumas dcadas uma sociedade nacional pode se desenvolver ou at se empobrecer de forma abrupta, embora isso seja extremamente difcil, mas no impossvel. J uma mudana to radical assim no ocorre na realidade natural: na localizao geogrfica de um pas, nos seus climas, solos, relevo, etc.

    Podemos afirmar com uma margem mnima de erro que as reas que hoje tm clima tropical continuaro a t-lo daqui a cem anos. E podemos tambm afirmar sem problemas que um pas qualquer, localizado na Amrica, no ano 2050 continuar a ter seu territrio situado no mesmo continente.

    evidente que tal pas pode at deixar de existir nesse perodo de tempo; ou pode ser que ele amplie seu territrio com conquistas militares em outros continentes; ou ainda pode ocorrer que ele perca parte de seu espao fsico. Apesar de todas essas possibilidades, que dependem muito mais do ser humano que da natureza, no h dvida

    Unidade I | 18 | Geo-histria e geocartografia

  • nenhuma de que seu territrio atual continuar no mesmo continente.

    Quando se trata dos aspectos poltico-econmicos dos pases, porm, no podemos ter tanta certeza: as modificaes podem ser radicais e ocorrer de um dia para o outro. Isso, todavia, no significa que devemos deixar de lado os estudos e as classificaes da realidade social s porque ela dinmica e sofre transformaes

    rpidas. Seria mais fcil estudar o mundo atual a partir dos tipos de clima ou dos continentes; contudo, se fizssemos isso, no final teramos dele uma viso muito pobre. Uma classificao dos pases com base em aspectos sociais pode ser mais difcil e constantemente sujeita a correes, porm mais verdadeira e permite entender melhor os grandes problemas da nossa poca.

    LABORATRIO DE GEOGRAFIA

    Se for necessrio, consulte outros livros, enciclopdias, sites de pesquisa na Internet, etc. para resolver as atividades propostas nesta seo.

    uestes de compreenso e reflexo sobre o contedo do captulo

    1 Procure explicar o que significa escala geogrfica e quais so as principais escalas espaciais que existem, definindo cada uma delas.

    2 Vamos entender, por meio de um exerccio prtico, o que significa regionalizao? A classe, dividida em grupos, vai propor vrias formas de dividir ou agrupar (isto , formar diferentes grupos com algo comum) todos os alunos. Quantos critrios diferentes vocs encontraram? Quais? Quantos grupos (ou "regies") sero formados a partir de cada um desses critrios?

    3 muito comum encontrarmos na mdia (em jornais e revistas, na televiso, na Internet) a expresso Primeiro Mundo, isto , os pases desenvolvidos. Esse mundo abarca os Estados Unidos, o Canad, a Europa ocidental, o Japo, a Austrlia e a Nova Zelndia, embora atualmente alguns pases, tais como a Coreia do Sul, Cingapura e outros, que no eram classificados nesse conjunto, estejam sendo aos poucos a includos. Com base nessa informao, responda:

    a. Essa "grande regio" do globo tem por base um espao contnuo ou descontnuo? Explique por qu.

    b. Essa classificao se fundamenta em critrios naturais (clima, relevo) ou em critrios sociais e econmicos? Justifique a sua resposta.

    4 Integrao com lngua portuguesa. Apesar de no mais existir o antigo Segundo Mundo ou mundo socialista, a no ser como resduos (Coreia do Norte, por exemplo), a mdia em geral, assim como vrios livros e autores importantes, continua a se referir a determinados pases ou regies como o Primeiro Mundo (Estados Unidos, Japo, Europa ocidental) e a muitos outros como o Terceiro Mundo (o conjunto dos pases subdesenvolvidos ou o Sul geoeconmico). Alguns argumentam que, com o final do Segundo Mundo, as expresses Primeiro ou Terceiro Mundo deixaram de ter sentido. Mas esse ponto de vista no predominante, pois tais denominaes continuam a ser empregadas cotidianamente at mesmo nas organizaes internacionais. Na verdade, em praticamente todos os idiomas, comum uma palavra ou uma expresso ganhar vida prpria, sem relao com sua origem. Existem milhares de termos ou expresses que continuam a ser empregados mesmo aps o fim das condies que os

    Q

    Captulo 1 | 19 | A importncia da geografia e dois conceitos fundamentais...

  • geraram. Por exemplo, a palavra geografia na sua origem significava "descrio da Terra", mas quem de fato descreve hoje nosso planeta em suas dimenses, seu campo gravitacional, etc., a astronomia ou a geofsica. De fato, a geografia atual estuda o espao geogrfico, onde a humanidade habita e que fruto das relaes entre sociedade e natureza, mas nem por isso a palavra deixou de ser usada. Outro exemplo a velha expresso matar dois coelhos com uma cajadada s", ainda utilizada apesar de ningum mais matar coelhos com cajados ou porretes hoje em dia. Ou ento a expresso "quem tem boca vai a Roma", usada desde a Antiguidade, desde a poca do Imprio Romano, apesar de ele no existir mais. Com base nisso:

    a. D exemplos de outras expresses ou palavras que continuam a ser utilizadas com frequncia mesmo fora de seu contexto original.

    b. D exemplos de realidades ou reas de Primeiro Mundo (modernas, desenvolvidas) e de Terceiro Mundo (subdesenvolvidas) no Brasil.

    5 A regionalizao do espao mundial com base nas caractersticas da sociedade sempre mais problemtica que uma diviso com base em elementos fsicos - em continentes ou em climas, por exemplo. Essa afirmao correta? Justifique sua resposta.

    Sigam as orientaes do professor e trabalhem em equipe para

    realizar as atividades propostas.

    1. Leiam o seguinte texto de um importante gegrafo francs:

    Muitos ainda pensam que a geografia no passa de uma disciplina descritiva, que fornece descries neutras ou desinteressadas sobre o mundo: o clima do sul da sia,

    o relevo da Europa, os fusos horrios da Rssia, etc. Contudo, a despeito das aparncias, a geografia no um saber sem utilidade [...] Na verdade ela til para a vida prtica e interessa bastante a todos os cidados. Pois a geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Isso no significa que ela s sirva para conduzir operaes militares. Ela serve tambm para organizar territrios, para o exerccio do poder (do Estado, por exemplo) sobre um espao, para que as pessoas aprendam a se organizar no espao para nele atuar.

    Adaptado de: Lacoste, Yves. A geografia isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas:Papirus, 1998.

    Agora respondam:

    a) O que o autor quis dizer com a frase "A geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra"? Exemplifique.

    b) Procure explicar, com as suas prprias palavras, a seguinte ideia: "A geografia serve para que as pessoas aprendam a se organizar no espao para nele atuar".

    2. Tema para pesquisas e posterior debate em sala de aula:

    Quais so os critrios mais utilizados para a regionalizao do mundo? Qual ou quais deles favorecem uma melhor compreenso do mundo atual? Por qu?

    Unidade I | 20 | Geo-histria e geocartografia

  • Da histria da geografia aos campos de atuao do gegrafo

    PONTO DE PARTIDA

    Voc sabe dizer qual o objeto de estudo da geografia e qual a sua importncia em nossa vida? Para ajudar a refletir sobre essas questes, leia o trecho da cano abaixo.

    O dia em que a Terra parou

    Essa noite eu tive um sonho de sonhador Maluco que sou, eu sonhei Com o dia em que a Terra parou Com o dia em que a Terra parou Foi assimNo dia em que todas as pessoas Do planeta inteiroResolveram que ningum ia sair de casa Como que se fosse combinado em todo o planeta Naquele dia, ningum saiu de casa, ningum O empregado no saiu pro seu trabalho Pois sabia que o patro tambm no tava l Dona de casa no saiu pra comprar po Pois sabia que o padeiro tambm no tava l [...]

    No dia em que a Terra parou E nas igrejas nem um sino a badalar Pois sabiam que os fiis tambm no tavam l E os fiis no saram pra rezar Pois sabiam que o padre tambm no tava l E o aluno no saiu para estudar Pois sabia que o professor tambm no tava l E o professor no saiu pra lecionar Pois sabia que no tinha mais nada pra ensinar No dia em que a Terra parou

    [...]

    Fonte: Seixas, Raul. "O dia em que a Terra parou". Composio de Raul Seixas e Cludio Roberto. LP O dia em que a

    Terra parou, Warner Chappell, 1978, faixa 3.Disponvel em: ,

    acesso em abr. 2008.

    > Agora, com seus colegas e seu professor, discutam as seguintes questes:

    a) A letra apresenta as palavras planeta e Terra. Expliquem a relao que existe entre essas duas palavras.

    b) Conforme o texto, o que vocs acham que aconteceria se o sonho do sonhador se tornasse real?

    Uma breve histria da geografiaAntes de comearmos a estudar a evoluo da

    geografia desde a Grcia antiga, reflita um pouco sobre o seguinte:

    Voc acredita que, em algum lugar da superfcie terrestre, exista um pas das guerreiras amazonas?

    Para explicar por que a criminalidade aumentou bastante nas grandes cidades brasileiras nas ltimas dcadas, o que voc pensa ser mais racional:

    Captulo 2 | 21 | Da histria da geografia aos campos de atuao do gegrafo

    http://letras.terra.com.br/raul-seixas/48325

  • procurar as razes na Bblia ou interligar tal fato com o aumento da corrupo (inclusive na polcia e no sistema Judicirio), as leis, a pssima distribuio social da renda, etc.?

    Essas duas questes esto ligadas ao assunto que vamos estudar neste captulo: por que somente com o fim da Idade Mdia (sculos V-XV) e incio da poca Moderna (sculos XV-XVIII) que surgiu a cincia moderna, baseada em explicaes racionais, e apenas no sculo XIX se desenvolveu uma geografia cientfica, tambm baseada em trabalhos de campo, no uso da lgica, na ligao entre os fatos estudados, etc.

    A geografia um dos saberes1 mais antigos que existem.

    Como vimos no captulo anterior, a geografia o estudo do espao que os seres humanos habi

    Mapa de Ga-Sur

    tam. Assim, seu incio coincide com o advento dos primeiros mapas, na Antiguidade, pois a elaborao de um mapa - para mostrar o caminho para um lugar, para localizar cada objeto ou fenmeno numa determinada regio, etc. - j pressupe um estudo geogrfico. Observe o mapa abaixo. Como veremos melhor no captulo 3, o mapa um excelente instrumento para a geografia e, em geral, os estudos ou trabalhos dessa disciplina so acompanhados de mapas.

    A mistura inicial: filosofia, geografia e outros saberes

    A palavra geografia (geo, Terra; grafia, descrio, escrita) foi criada pelo filsofo grego Eratste- nes no sculo III a.C. Esse filsofo foi um estudioso da geografia, algo muito comum na poca, quando

    Fonte: Adaptado de World history atlas - Mapping the human journey. London: Dorling Kindersley, 2005.

    esquerda, placa de argila com mapa (que aparece ilustrado direita) da cidade de Ga-Sur, prximo de onde hoje a cidade de Nuzi, no Iraque. Datado de 2500 a.C., o mapa mais antigo que se conhece, o que no significa que tenha sido o primeiro a ser elaborado; ele apenas o mais antigo que foi conservado e descoberto em pesquisas arqueolgicas2. Observe que ele no tem ttulo (o nome Ga-Sur uma referncia s runas dessa antiga cidade, que existiu na regio onde o mapa foi encontrado). No traz nomes precisos da rea mapeada, tampouco escala. As palavras foram traduzidas para facilitar a compreenso.

    1. Saber: o mesmo que conhecimento ou conjunto de conhecimentos sobre determinado assunto. Algumas vezes, a palavra saber usada como sinnimo de cincia.2. Arqueolgico: referente arqueologia, cincia que estuda o passado humano por meio de vestgios deixados por povos que habitaram a Terra. Esses vestgios ou objetos - artefatos, documentos, monumentos, etc. - geralmente so encontrados em stios arqueolgicos, ou seja, locais onde se realizam escavaes em busca desse material.

    Unidade I |22| Geo-histria e geocartografia

  • praticamente todos os sbios ou estudiosos eram filsofos (filo, amigo; sofia, saber, sabedoria) e, com frequncia, se ocupavam de quase todos os temas ou assuntos que hoje dividimos entre vrias disciplinas distintas. Foi somente nos sculos XVII,XVIII e XIX, dependendo de cada caso, que as cincias modernas (qumica, fsica, geologia, geografia, astronomia, sociologia, economia, etc.) se definiram mais precisamente, isto , tomaram-se autnomas ou independentes da filosofia e adquiriram conceitos e mtodos prprios e especficos.

    Eratstenes, que exerceu o cargo de diretor da ento famosa Biblioteca de Alexandria, foi um importante pesquisador em vrios saberes, como matemtica, geografia, fsica e astronomia. Entre outras contribuies suas, est o clculo da circunferncia ou do permetro da Terra, que tem 40 075 km no equador e 39 940 km nos polos. O clculo de Eratstenes apresentou relativa exatido, com uma diferena de apenas 322 km. Por sinal, at o sculoXIX era muito comum que o campo de estudos da geografia inclusse conhecimentos que, depois, passaram a integrar outras disciplinas: astronomia, geologia, economia, etc. Portanto, somente nos ltimos dois sculos que ocorreu maior especializao do saber, com essas cincias, que antes eram confundidas ou misturadas, adquirindo, cada uma, autonomia ou campo de estudos especfico.

    Aspectos terico e prtico da geografia

    A geografia sempre apresentou dois aspectos: um terico e outro prtico ou estratgico3.

    O aspecto terico da disciplina refere-se aos conhecimentos sobre o mundo como um todo - a geografia geral - e aos estudos sobre determinado lugar ou regio - a geografia regional. Por exemplo: as densidades demogrficas no mundo, o comrcio internacional, os climas da Terra, etc. (geografia geral); ou o estudo da Europa ocidental, da Grcia ou da Amaznia (geografia regional).

    O aspecto estratgico da geografia diz respeito sua utilidade prtica para o Estado (isto , para o poder pblico), para os militares (para fazer uma

    guerra), para as empresas e indivduos em geral (para conhecer o mundo e os lugares a fim de poder atuar neles mais eficazmente). Afinal, todos os povos, todas as sociedades humanas habitam determinado espao, que o seu territrio. E no possvel que exista um governo (isto , a cpula ou o comando do Estado) que administre uma sociedade, cobrando impostos e garantindo a lei e a ordem, sem dispor de informaes geogrficas a respeito dessa sociedade e do seu territrio: conhecimentos e mapas sobre os recursos naturais (solos, minrios, recursos hdricos, etc.), sobre a populao (nmero de habitantes e suas caractersticas - sexo, idade, faixas de rendimento -, locais onde eles se concentram), etc.

    Esses dois aspectos da geografia foram muito bem descritos pelo gegrafo romano Estrabo, que viveu no sculo I a.C. Sobre eles, Estrabo afirmou:

    A maior parte da geografia satisfaz a necessidade dos Estados. A geografia em seu conjunto tem um vnculo com as atividades dos dirigentes. Os grandes generais, sem exceo, so homens capazes de raciocinar em termos espaciais, de pensar a estratgia apropriada na terra e no mar, de unir povos sob um governo comum. At mesmo um caador ter mais xito se conhecer a natureza e a extenso do bosque e, alm do mais, s aquele que conhece uma regio pode escolher o melhor local para acampar, para fazer uma emboscada ou para dirigir uma campanha militar.

    Especializao dos saberes

    Foi somente no sculo XIX que a geografia se tornou uma cincia especfica, tendo se separado da filosofia, da astronomia, da geologia e de outros saberes que, at ento, eram mais ou menos integrados com ela. Isso ocorreu como conseqncia da especializao dos saberes, isto , de uma maior delimitao de cada objeto ou campo de estudos.

    A astronomia, por exemplo, deixando de ser confundida com a antiga geografia matemtica,

    3. Estratgico: relativo estratgia, arte ou tcnica de planejar e executar movimentos ou operaes de confronto ou de conquista, como, por

    exemplo, a estratgia militar, isto , a movimentao de tropas, navios ou avies, a escolha do melhor local para travar uma batalha, etc. Podemos

    falar tambm em estratgia de uma empresa para superar as concorrentes e conquistar o mercado, em estratgia de um Estado para se tornar uma

    grande potncia mundial, etc.

    Captulo 2 | 23 | Da histria da geografia aos campos de atuao do gegrafo

  • passou a se ocupar do Universo e da Terra no espao astronmico. A geologia, que tambm se tornou autnoma nesse perodo, estuda a evoluo do planeta Terra (eras geolgicas, rochas, minrios, etc.). H ainda outras cincias que tambm eram confundidas com a geografia e que se tomaram independentes: a geodsia, que a cincia moderna que estuda a forma e as dimenses da Terra; a geofsica, que se ocupa com a fsica do nosso planeta (campo gra- vitacional e magntico, ondas ssmicas, etc.); a antropologia, que investiga as culturas; a sociologia, que procura compreender as relaes sociais; etc.

    Da mesma forma, a geografia se especializou e passou a ter um campo de estudos mais restrito. Ela deixou de ser identificada com todos os conhecimentos sobre a Terra, em todos os seus aspectos, e passou a se ocupar especificamente do espao geogrfico, ou seja, da superfcie terrestre, que o lugar onde a humanidade vive e no qual produz modificaes.

    O advento da cincia moderna com

    Galileu e Newton

    O advento da geografia moderna no sculo XIX, assim como das outras cincias que se tornaram autnomas, foi tambm uma decorrncia da aplicao de um novo modelo ou padro de cincia, que vinha sendo elaborado desde os sculos XVII e XVIII, com Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1642-1727).

    Galileu costuma ser considerado o primeiro cientista moderno, pois deixou de lado as crenas e as supersties que eram tidas como verdades por seus contemporneos e procurou investigar objetivamente o Universo e o mundo fsico com base em observaes, experincias, clculos e o uso da lgica. Ele tido como o inventor do telescpio, e as suas observaes astronmicas comprovaram as ideias do astrnomo polons Nicolau Coprnico (1473-1543), que acreditava que a Terra no era o centro do Universo - tal como se pensava at ento -, mas apenas um dos inmeros planetas que giram ao redor do Sol.

    Newton foi um grande sistematizador dos conhecimentos fsicos e astronmicos de sua poca,

    tendo realizado uma sntese sobre o Universo e suas leis. Ele formulou a teoria da gravitao universal - segundo a qual matria atrai matria na razo direta de sua massa e inversa ao quadrado de sua distncia -, o que explica no s o fato de alguns astros girarem ao redor de outros, como tambm o de os objetos carem sobre a superfcie da Terra quando lanados ao ar.

    Mtodos cientficos x saberes especulativos

    Esses dois cientistas pioneiros, Galileu e Newton, consolidaram definitivamente a racionalidade ou o pensamento racional nas cincias, em detrimento dos conhecimentos msticos. Com eles, a natureza e o Universo passaram a ser explicveis por suas prprias leis ou por sua prpria dinmica e no mais pela ao de astros, de demnios ou de deuses. Assim, se quisermos compreender algum fenmeno natural - como uma erupo vulcnica, um cometa que se aproxima da Terra, a extino dos dinossauros - ou mesmo social - o aumento ou a diminuio da criminalidade numa cidade temos de utilizar mtodos cientficos (observao, anlise, clculos, uso do raciocnio lgico, estabelecimento de relaes entre os fatos, etc.) e no mais apelar para a autoridade de alguma antiga escritura (a Bblia ou o Alcoro, os textos de Aristteles, um manual de magia, etc.), tal como se fazia at o sculo XVIII.

    Depois de Galileu e, principalmente, de Newton, a cincia moderna deixou de ser identificada com a f ou a religio (que logicamente sobreviveram e continuam importantes para a vida pessoal de cada um, mesmo para muitos cientistas, mas no para a pesquisa cientfica) e passou a ser uma busca de explicaes naturais ou sociais - isto , racionais - para o que acontece no mundo. O texto do quadro da pgina seguinte trata de uma histria que tem analogia com o que dizemos aqui. Leia-o.

    De forma bem esquemtica, podemos concluir que a cincia moderna, nascida nesses dois sculos, procura deixar de lado qualquer forma de saber especulativo4 e exige um rigor, uma comprovao dos fatos ou fenmenos, uma cientificidade, afinal.

    4. Especulativo: que diz respeito especulao, ou seja, negcio no qual se abusa da boa-f das pessoas ou conhecimento que no possui muita credibilidade, que no tem uma slida base de sustentao.

    Unidade I | 24 | Geo-histria e geocartografia

  • At o sculo XVIII, por exemplo, era muito comum haver entre os estudiosos, at mesmo os mais srios e competentes, uma confuso entre astronomia e astrologia. No sculo XIX, a astronomia foi considerada uma cincia e a astrologia um saber tradicional e no cientfico, que pouco tem a ver com aquela outra. A astronomia lida com fatos ou processos comprovados e no com especulaes, como a astrologia. A astronomia, dessa forma, descartou os dados ou conhecimentos astrolgicos e passou a estudar apenas os fenmenos que podem ser

    O nome da rosa: duas maneiras de pensar o mundo

    O escritor italiano Umberto Eco autor do livro O nome da rosa, romance da dcada de 1980 que se tornou rapidamente um sucesso mundial, at mesmo com uma adaptao para o cinema.

    A histria do livro - e do filme - se passa no final da Idade Mdia, no sculo XIV, e trata de uma srie de assassinatos ocorridos num mosteiro situado na atual Itlia. Dois monges procuram explicar essas mortes. Um deles, o reverendo Jorge, usa o mtodo tradicional de explicao: busca as causas na Bblia. O outro, o monge Guilherme, praticamente um predecessor dos cientistas - como Galileu Galilei - que nos sculos seguintes mudariam o conhecimento humano, busca explicaes racionais. Ou seja, quem teria assassinado os monges e por qu; onde, quando e como os assassinatos foram cometidos; se existia alguma testemunha de algum dos crimes ou algo que pudesse ajudar a elucid-los; etc. Em suma, para um deles as explicaes j esto prontas h milnios, todos os fatos e acontecimentos j foram previstos nos textos sagrados. Para o outro, os fatos e os acontecimentos dependem sempre de onde, quando e como ocorrem, bem como da ligao entre eles. Por exemplo: por que aquela pessoa estava naquele lugar e momento; quem poderia se beneficiar com determinado acontecimento; etc.

    Esse episdio, apesar de ficcional, ilustrativo das duas maneiras de pensar o mundo e de explicar os acontecimentos, que entraram em choque, desde o sculo XIV at o XIX, quando o conheci

    Cena do filme O nome da rosa, dirigido por Jean-Jacques Annaud, de 1986

    comprovados na realidade ou no estudo do Universo.

    O mesmo ocorreu com a geografia, que deixou de lado uma srie de conhecimentos especulativos - como a crena em continentes nunca vistos ou em lugares onde existiriam as guerreiras amazonas ou gente sem cabea, que at o sculo XVIII ainda persistia em alguns livros da disciplina - e passou a se ocupar somente dos lugares e fatos comprovveis, que podem ser observados, mapeados com preciso ou concludos pelo raciocnio lgico.

    mento cientfico e racional prevaleceu. Mas isso no significa que no existam ainda muitas pessoas, talvez bilhes, que continuam a pensar pelo mtodo tradicional, da forma que os cientistas chamam de irracional. Por exemplo: dizer que o aumento da criminalidade em uma grande cidade obra do diabo, ou que a expanso de alguma epidemia se deve ao fato de pecarmos muito, etc.

    Naquela poca (sculo XIV), a posio do monge Guilherme era algo inovador e quase indito. As pessoas tentavam encontrar todas as explicaes em textos sagrados, vistos como infalveis, ou em alguns mestres do passado, tidos como inquestionveis.

    (Texto elaborado pelo autor.)

    Captulo 2 | 25 | Da histria da geografia aos campos de atuao do gegrafo

  • SMITH

    SONI

    AN IN

    STITU

    TION

    LIBRA

    RIES

    /ARQU

    IVO D

    A ED

    ITORA

    Surge a geografia moderna com Humboldt e RitterDois estudiosos germnicos do sculo XIX so

    considerados os criadores da geografia moderna ou cientfica: Alexander von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859). Eles produziram importantes trabalhos de pesquisa no estudo da geografia fsica (climas e suas relaes com a vegetao, as guas e o relevo, interao entre os elementos naturais de uma paisagem), como foi o caso principalmente de Humboldt, ou da geografia humana (os povos e seus territrios, os Estados e suas relaes polticas, econmicas, etc.), como foi o caso de Ritter.

    Humboldt (foto abaixo) foi um viajante incansvel, que conheceu todos os continentes. Em suas viagens, fazia anotaes, ilustraes, mapas, e recolhia dados para estabelecer as relaes entre os fenmenos da geografia fsica. Ao contrrio de inmeros estudiosos, que apenas recolhiam fatos isolados, ele procurou integr-los, formando um conjunto ou um sistema de fenmenos interligados e que se influenciam mutuamente. Procurou tambm deixar de lado os conhecimentos ou crenas especulativos e se ater somente quilo que pode ser comprovado cientificamente, por meio da observao e do raciocnio.

    Um dos seus grandes mritos foi ter percebido que a natureza no algo esttico ou eterno, como se pensava at ento. Ele assinalou a dinamicidade da natureza, as suas alteraes com o decorrer do tempo. Observou que ocorreram modificaes cli

    mticas e geolgicas na superfcie terrestre e que todos os aspectos da natureza - inclusive os seres vivos - no existiram sempre da mesma forma. Humboldt foi considerado o grande cientista da primeira metade do sculo XIX, tendo sido uma importante fonte de inspirao para Darwin, o criador da teoria da evoluo, que se tomou o maior nome da cincia mundial na segunda metade do sculo XIX.

    Ritter (foto acima) no foi um viajante perti- naz, como