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Geologia e Geografia da Região do Pinhal de Leiria...Pinhal de Leiria — a que vai da Mina do Azeche até ao Rio Tinto, na Ponte Nova. Como tôda esta re gião está coberta de areias

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Geologia e Geografia da Região do Pinhal de Leiria

Autor(es): Morais, J. Custódio de

Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra

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Accessed : 1-May-2021 11:29:55

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PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICODA

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

N.° 9

Memóriase Notícias

COIMBRA

TIPOGRAFIA DA ATLANTIDA

1936

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Geologia e Geografia da Região do Pinhal de Leiria

Quem consultar a Carta Geológica de Portugal (1899) na parte compreendida entre a Serra da Boa Viagem, Lei­ria e Nazaré, nota que (abstraindo duns pequenos aflora­mentos do secundário, dispersos pela região), as formações se dispõem grosseiramente em arcos de círculo de centro na costa, para onde vão aparecendo as formações cada vez mais modernas, como se esta bacia se tivesse pouco a pouco levantado do lado oriental.

A área que a carta indica como Pliocénia, incluindo as dunas de areia (d ) , é limitada por uma linha que se estende desde a dita serra da Boa Viagem até ao oriente de Leiria, e, contornando esta cidade pelo norte, corta o Liz e vai pas-

(1) É usual a designação Pinhal de Leiria (embora o Pinhal diste desta cidade cêrca de 13 quilómetros), atendendo decerto a ser esta a cidade mais perto, e a sede do Concelho onde o pinhal ficava.

Depois do desenvolvimento da Marinha Grande, com a criação aí duma Circunscrição Florestal e do seu concelho, em que o Pinhal ocupa cêrca de metade, seria mais próprio a designação Pinhal da Marinha Grande.

Aqui chamavam à floresta Pinhal do Rei até 1910, e de então para cá chamam Pinhal Nacional.

DESCRIÇÃO GEOLÓGICO-GEOGRÁFICA DA REGIÃO DO PINHAL DE LEIRIA (1)

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sar em Pataias, e voltando outra vez para oriente vai até ao vale do Valado.

O aparecimento de várias manchas do Secundário, quere no vale do Liz junto de Monte Real, quere na área que se estende para S W de Leiria até Pataias, quere ainda na costa do oceano, das Pedras Negras até quási à Nazaré, mostram que a disposição dos vários terrenos se não passou com a simplicidade atrás indicada, mas que intensos fenó­menos geológicos aqui se passaram, e, alterando a disposi­ção normal dos estratos, fizeram vir à superfície, através de formações mais modernas, terrenos que são da base do Secundário.

Paulo Choffat, eminente geólogo que estudou os nossos terrenos secundários e terciários, fez sobre esta região vários estudos desde 1880 até ao fim da sua vida, tendo ainda há pouco (1927) já depois da sua morte, sido publicados traba­lhos seus abrangendo esta região (1).

Em 1882 (2) descreve pela 1.a vez este geólogo uma série de importantes fenómenos que se passaram nesta região (e um pouco para o Sul), a que deu o nome de áreas ou vales tifónicos, por analogia com a lenda do Tifo ou Tifão que rompeu o ventre da mãi-Terra para nascer, pois que tam­bém aqui veem à luz as entranhas do princípio do Secundá­rio da Terra.

Diz este geólogo que em certas montanhas da Extrema- dura ao norte do Tejo, como no Monte-Junto e na Serra Rasa (3) de Leiria os estratos mergulhando para as duas

(1) Cartas e Cortes Geológicos — feitos debaixo da direcção de Paulo Choffat — Distrito de Leiria e Coimbra.

(2) Note préliminaire sur les vallées tiphoniques et les éruptions d’ophite et de teschenite en Portugal. Ext. da Bul. de la Soc. Geol. de France.

Posteriormente em Comunicações do Serviço Geológico de Portugal, tomo V, pág. 49 e seg., tomo x, pág. 159, tomo I, pág. 113.

(3) Serra Rasa chama êle à cumeada já gasta pela erosão que se entende de Leiria a Pataias.

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vertentes formam uma abóbada anticlinal mais ou menos regular cujo eixo ou parte central é formada por estratos de idade que varia do Liássico ao Jurássico superior, mas, nos pontos onde a erosão gastou esta abóbada não apare­cem os estratos imediatamente anteriores, mas outros mais antigos do Infraliássico ou mesmo do Triássico.

Fica assim a parte central formada por terrenos do Triás­sico ou Infraliássico, argilosos, sem estratificação clara, con­tendo muitas vezes gesso, lâminas de mica, havendo ainda às vezes cabeços de rochas ígneas tão características desta região, e de que voltaremos a falar adiante.

Os dois flancos do vale (pois que esta parte central foi em geral mais gasta pela erosão dos ribeiros e fica for­mando o fundo do vale) são formados por colinas calcáreas em geral do Jurássico superior.

Êste vale tifónico fica limitado por falhas quási verticais.A figura n.° 1, do mesmo autor representa esquemàtica-

mente uma destas áreas ou vales.

Vê-se no centro um cabeço de rocha ígnea tendo dum e doutro lado as margas Dagorda, argilosas (do Infraliássico ou Triássico) quási sem estratificação. Dentro destas mas­sas aparecem camadas calcáreas dolomiticas quási verticais do Infraliássico ou Sinemuriano (Liássico).

Veem por último, dum e doutro lado, as camadas calcá­reas do Jurássico superior, mergulhando para a parte de fora.

Nuns casos parece que os dois macissos laterais calcá­reos se enterraram provocando a subida da parte central, argilosa, com as massas ígneas. Noutros casos, como nos parece suceder em S. Pedro de Moel, o macisso calcáreo

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foi empurrado de fora, e escorregou por cima da parte argi­losa, como parece indicar um retalho do Jurássico superior, que na parte direita da figura assenta discordantemente sobre as margas Dagorda.

Nestas áreas costumam aparecer fontes sulfurosas ou salgadas, frias ou quentes, e às vezes depósitos metálicos.

Na figura n.° 2 vão representadas por li­nhas pontoadas as 5 áreas indicadas por Choffat, 2 das quais contornam a área que estudamos—a de Pa- taias a Leiria, e a de Monte Real a Monte Redondo, ficando uma terceira toda dentro do Pinhal de Leiria — a que vai da Mina do Azeche até ao Rio Tinto, na Ponte Nova.

Como tôda esta re­gião está coberta de areias as áreas tifóni- cas vão marcadas pelos cabeços de rocha que marcam o seu eixo. Alguns são bastante

altos, como o de S. Bartolomeu, perto da Nazaré, coroado por uma ermida donde se disfruta um panorama soberbo; como o de Leiria onde foi construído o Castelo, ou o de Monte Redondo, que deu nome à povoação.

Outros são baixos, mal afloram à superfície da terra como os que ficam no Pinhal entre a estrada da Marinha e da Ponte Nova, ao norte das Pedreiras, actualmente explorado para a construção de paralelipípedos para estra­das.

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São formados duma rocha holo-cristalina, nuns com o aspecto granitoide, como em Monte Real, noutros com grão muito fino, como em S. Pedro de Moel (junto do Eucalipal) e constituído essencialmente por plagioclase neutra, e augite, pelo que lhe atribuímos o nome já dado por Carlos Ribeiro, o fundador da geologia portuguesa, de dioritos de augite com textura um pouco ofitica.

Picos tão altos como o de S. Bartolomeu, mostram bem que estas massas que romperam a crusta da terra, não se espandiram ao ar livre, duma vez só, ou dum jacto nem viriam no estado partoso que tinham no interior da terra. Foram pouco a pouco subindo já perfeitamente sólidas e frias na sua parte superior, obrigados por uma pressão pro­funda, de origem ainda hipotética, que, à medida que ia actuando sobre o magma, o obrigava a romper pelos pontos mais fracos da crusta.

Nalguns cabeços êste magma ainda quente, no interior, metamorfisou o calcáreo, como se vê no cabeço de Fama- licão onde êle está transformado quási em mármore preto.

Quando se deram estas erupções?Choffat procurando responder em 1884 (1) a esta pre-

gunta estudou um vale tifónico do Rio Maior e provou que êle se formou depois do depósito do calcáreo lacustre ter­ciário (Miocénio), supondo ainda que foi nesta altura que os dioritos romperam até à superfície da terra.

O problema é difícil de resolver porque a nossa região, coberta de areias pliocénicas, e em parte quaternárias não deixa ver bem as relações entre as várias camadas, e tem sido poucos os jazigos de fósseis encontrados.

Antes de entrarmos nesta questão vejamos como aquêle geólogo classificou as rochas da região de S. Pedro de Moel (2), que é uma área tifónica, como vamos ver:

(1) Comunicações, tomo pág. 118.(2) Comunicações, tomo v, pág. 70.

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DESCRIÇÃO DA COSTA

A praia larga e toda de areia que vem já desde a Praia da Vieira, na foz do Liz, começa a mudar de aspecto nas Pedras Negras, formadas de margas escuras, e avermelha­das, contendo bastantes placas de gesso e fósseis.

São as margas Dagorda, do Infraliássico, as mais antigas da região, (da base do Secundário) e que só voltam a apa­recer num poço a 1.000 m. a NE de S. Pedro, e lá para o Sul, na Mina do Azeche, a 8 quilómetros de S. Pedro. São estas rochas que veem acompanhadas pelos afloramentos dióticos, tão abundantes entre a região da Ponte Nova e nas Pedreiras (Velhas) da estrada da Marinha.

Nesta mesma região aparecem várias pedreiras de cal- cáreo margoso, umas vezes todo triturado como se vê no Canto do Ribeiro e um pouco mais a montante e junto do Eucalipal, outras vezes em estratos delgados que estão sendo aproveitados para a construção de estradas da região, apesar da sua pouca resistência. O rochedo da N. Sr.a da Vitória (figura n.° 3), ao Sul, forma um pequeno cabo a que chamam Castelo, e é constituído também por cal­cáreos do Infraliássico e dolomias já do Sinemuriano infe­rior.

A praia para o Sul das Pedras Negras começa a ser limitada a oriente por um levantamento da costa que o ribeiro corta (figura n.° 4), junto da sua foz, passando a chamar-se a Praia Velha.

O vento, arrastando as areias do Norte tapa de vez em quando o ribeiro, obrigando-o assim a procurar saída mais ao Sul, e alargando a praia, emquanto a natureza do terreno, lho permitiu, até ao Penedo do Cabo, uma escarpa calcárea de 3o m. de altura que termina pelo Sul esta praia.

Aqui os estratos do calcáreo dolomítico quási verticais, mergulhando para o mar, com muitos fósseis são do sinemu­riano médio.

Esta parte da costa é uma planície de abrasão marinha

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3o a 40 m. acima do nível do mar. (1) Em baixo, os pene­dos mais resistentes, espalhados daqui até S. Pedro de Moel, dão à praia um aspecto que a torna uma das mais pitores­cas de Portugal, quere nas marés vivas e cheias em que a espuma do mar chega a saltar acima, (figuras n.os 5 e 6) quere nas marés baixas em que se pode seguir quási sem­pre pela praia, vendo-se então os penedos cobertos duma variada fauna e flora marinha, aparecendo em vários pontos minúsculas praias, com grutas de abrasão marinha, a maior das quais é conhecida pelo nome de Barraca do Pobre, pois que dá bem para aí se vestirem os forasteiros do domingo, que não tem casa no povoado.

Em ocasiões de temporal as ondas batendo contra a entrada destas grutas produzem um bramido que o vento de oeste leva a mais de 10 quilómetros, até à Marinha Grande.

A disposição quási vertical dos estratos, e difícil disso­lução dos calcáreos dolomíticos não permitem a formação de galerias mas não deixam de se notar, no interior, e em cima, por debaixo da areia, funis de absorção provenientes da dissolução do calcáreo.

A cêrca de 100 m. a NE do Farol do Penedo da Saudade existe há anos já um perfeito funil duns 20 m. de diâmetro na parte superior.

Ainda em Setembro de 1935 apareceu junto da ramifica­ção das estradas para o Farol e para o Chalé das Matas um funil dêstes com mais de 1 m. de diâmetro.

Em toda esta parte da costa as areias chegam quási até à escarpa, e é evidente que elas não poderiam ter aí, vindo

(1) Ao movimento que levantou tôda esta costa desde as Pedras Negras para o Sul, sem a enrugar, embora com um ligeiro declive chama-se geralmente movimento epirogénico, mas para o distinguir dos movimentos que geram os continentes e os mares, e que são muito mais acentuados, propõe o geógrafo Philippson o nome de movimento unda- tório, ver, A. Philippson — Grundzuge der Allgemein Geographie. Vol. II, pág. 116. Leipzig 1930.

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do mar. Depositaram-se emquanto esta região era fundo de mar, e tem sido a pouco e pouco arrastadas para o interior dando origem a uma duna paralela à costa a umas dezenas de metros de distância.

Um pequeno vale de erosão fluvial interrompe agora a costa dando origem à povoação de S. Pedro de Moel, assente sobre a sua encosta norte, mais suave e abrigada, correndo o ribeiro pelo sul do vale.

Há aqui uma falha que mudou um pouco a direcção dos estratos, que nesta altura começam a ser mais argilosos, permitindo que a água que se infiltra nas areias vá nascer um pouco acima do nível do mar, alargando constantemente o vale.

Do ribeiro para o Sul os calcáreos são muito mais tenros, margosos, não resistindo tanto à acção marinha (1), o que permitiu o alargamento da praia, e são mais baixos e com uma inclinação mais suave.

Por cima dêstes calcáreos, que são mais modernos que os do norte da Praia, pois pertencem ao Sinemuriano Supe­rior, encontra-se uma camada de areia estratificada ficando o conjunto (calcáreo+areia) com o mesmo nível da parte norte.

É bem evidente sobretudo na parte sul do vale de S. Pedro que estas areias não foram para aqui arrastadas pelo vento, mas são de origem sedimentar, depositadas ao mesmo tempo que o mar ia gastando os calcáreos do norte.

Nelas se vê bem a estratificação, com camadas de argilas ligeiramente betuminosas, com resto de fósseis vegetais, provenientes de lodos do fundo de bacias.

Quem subir estas areias ao longo da aresta da riba nota que na primeira dezena de metros elas são duras, e o chão está coberto de blocos rolados de quartzo de tamanhos que vão até ao das amêndoas, ou ainda mais.

Seguindo um pouco para o interior começam a aparecer

(1) Vêem-se na figura n.° 7 tirada na maré baixa as raízes dos estra­tos gastos pelo mar, constituindo uma nova planície de abrasão marinha.

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pequenas dunas formadas à volta de arbustos de camari­

nhas pela areia mais fina que o vento tem arrastado da parte ocidental.

Primeiro aparecem pequenos montículos estendidos na

direcção do vento dominante e protegidos pelo arbusto

que vai crescendo à medida que a areia o tenta enterrar,

sem nunca o conseguir, tomando o arbusto o aspecto dum

pequeno cabeço com os raminhos espetados.

Dezenas de metros mais para o interior começam então

a aparecer as primeiras dunas.

Esta origem das areias da costa já foi indicada pelo fun­

dador da Geologia Portuguesa : Carlos Ribeiro, em 1870,

na Breve Noticia acerca da Constituição Physica e Geoló­

gica da Parte de Portugal compreendida entre os vales do

Tejo e do Douro, que diz a pág. 14.

«Acrescentaremos agora que a observação por nós feita

«em toda a costa de Portugal, tem-nos patenteado as pro-

«vas mais evidentes de amplas oscillações da mesma costa

«acima e abaixo do aceano em datas relativamente muito

«modernas, posto que anteriores aos tempos históricos. Tais

«são entre outras: a denudação das camadas do terreno qua-

«ternário na zona vizinha da costa;... os cordões litorais

«que ocupam diferentes alturas muito acima das maximas

«marés actuais chegando a dezenas de metros sobre o nivel

«medio do mar, como por exemplo os que se encontram no

«cabo Espichei, em Cascais e n’outras localidades; as dunas

«e areias de antigas praias, situadas também muitas deze-

«nas de metros acima do nivel do mar, e que com tanta

«frequência se encontram, quer coroando a escarpa desde o

«Cabo de S. Vicente até alem do Douro, quer terra dentro

«a muitos kilómetros do oceano, como em Salvaterra de

«Magos, em Rio Maior etc.«Um exame atento feito em milhares de pontos sobre as

«relações que existem entre estas dunas e arêas das praias

«elevadas, e a formação quaternaria da nossa zona ociden- «tal, dir-nos-há que umas e outras procederam na sua maior «parte das camadas arenosas da mesma formação.

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«Ao norte do Gabo de S. Vicente, aos lados do Gabo «de Sines, entre Aveiro e a foz do Douro, entre o Cavado «e o Minho, emfim em toda a parte onde se virem arenatas «quaternarias ahi se reconhecerá uma passagem gradual «destas rochas às areias soltas da costa, e desta às dunas «de antiga data. E’ de semelhantes dunas e areais, e da «desintegração das camadas dos já indicados pequenos reta- «lhos de terreno quaternário, que se mostram nas ribancei- «ras marítimas, e da parte dos sedimentos transportados «pelas águas dos rios, que proveio e continua a vir toda a «areia que forma as praias actuais adjacentes à costa alta.»

Pequenos regatos vão abrindo valeiras (1), estando alguns, como o de Agua de Medeiros ainda longe do seu nível de base, tendo sido porisso utilizado para tocar um moinho de água.

E’ nesta parte da costa que os calcáreos são mais moder­nos voltando depois dêste último ribeiro até à Polvoeira ( 5 quilómetros ao Sul de S. Pedro) a serem duma época intermediária entre os de Norte e Sul de S. Pedro de Moel.

A costa continua a subir suavemente atingindo por cima do Rochedo da N. Sr.a da Vitória mais de 5 o m.

Êste rochedo que mostra a figura n.° 3 , apresenta hoje um aspecto diferente do que tinha quando Choffat o dese­nhou. (2)

A direita, do lado do mar, vêem-se os restos pequenos de estratos na posição vertical, e seguindo de N a S.

Todo o macisso, formado na base por margas do Infra­liássico e dolomias apresenta uma disposição muito discor-

(1) Pereira da Silva e Maria Batalha — Memórias sobre o Pinhal Nacional de Leiria— Imp. Nac., Lisboa 1859, pág. 12, dizem que em 1839 brotou ao Sul da praia de S. Pedro de Moel uma nascente de águas fér­reas que produzem bom efeito nas doenças do estômago. Ainda existe essa tradição, mas a cultura das valeiras inutilizou a nascente. Notam mais que em 14 de Fevereiro dêste ano houve um tremor de terra importante. Estes factos estão às vezes relacionados.

(2) Tomo v, Das Comunicações (1903-1904) pág. 1 1 4 .

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dante, com os estratos, que são brechas calcáreas, mergu­lhando para o N, mostrando uma falha (1) resultante dos intensos movimentos tifónicos já descritos.

Êste Castelo constitue uma espécie de cabo, destacan­do-se da costa para o mar e separando para o Norte a enseada da Polvoeira, e para o Sul formando o abrigo da Praia das Paredes.

Na vertente direita da garganta que se vê à esquerda da figura, e que constitue a portela de passagem do N para o S, encontra-se o jazigo de fósseis que Choffat classificou como pliocénios.

A vertente esquerda (oriental) da mesma portela é for­mada por areias muito amarelas, com grande quantidade de mica branca, e que assentam sobre as camadas fossilíferas, do pliocénio inferior. São estas mesmas areias que aparecem, embora em menos quantidade, noutro jazigo adiante descrito e classificado no Pliocénio superior.

Na figura n.° 8 que mostra as ribas da costa, vistas do mar, logo ao sul do Castelo, vê-se na parte inferior (sul­cada pela acção erosiva das chuvas) um depósito superior a estas areias amarelas. Sobre êste há uma camada um pouco betuminosa mergulhando para o Sul, para o Vale das Pare­des. Isto indica que houve um desnivelamento neste local durante o pliocénio superior (2) o qual depois foi anulado visto que as camadas mais altas da figura são de novo horizon­tais, e são estratos do fim do Plicénio ou mesmo do Pleis- tocênio (Quartenário).

São estas areias que deram origem às dunas que cobrem esta região.

(1) Ver Rapport sur les travaux Geodesiques executes de 1933 a 1936— Instituto Geográfico e Cadastral — pág. 8, onde vem um desenho desta região, com a falha.

(2) Talvez se tenha formado nesta altura êste Vale das Paredes que parece prolongar-se por debaixo do mar pelo vale submarino da Nazaré (que adiante descreveremos) assim como a falha adiante descrita e hoje coberta pelas areias.

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Todas estas camadas, posteriores à areia amarela teem uma espessura de perto de 40 m.

Houve pois um longo intervalo de tempo depois do depó­sito das areias amarelas, antes do levantamento da costa, à posição que hoje ocupa.

Nestas areias, vêm-se ainda hoje, do lado mra, restos de muros, que mostram ter sido ali a antiga Vila de Paredes. O mar, na sua acção destruidora, vai comendo por baixo estas areias, demolindo assim a costa onde estava a povoação.

Frei Francisco Brandão no tomo v da Monarchia Lusi­tana, liv. 16, cap. 51, (1650) diz que além da vila da Pederneira, duas léguas para o norte, estava um porto aco­modado quere para pescarias quere para o comércio. Não quis El-Rei D. Diniz que estivesse deshabitado e sem pro­veito, porque lhe convinha muito para o tempo que viesse a Leiria, donde dista três léguas, e por a inumerável caça que aquêle Camarção cria, o que era muitas vezes buscado de El-Rei quando se ocupava neste exercício por aquêle distrito. Mandou o el-Rei povoar estando ainda em Coimbra, a 28 de Outubro de 1286 (1) em que passou a carta de povoação para 3o moradores, para que tenham 6 caravelas, ao menos, pre­paradas para pescaria, e para que acomodassem casa man­dou a cada um seu moio de trigo. Esta vila chamada Paredes foi em grande crescimento até ao tempo de El-Rei D. Manuel em que os areais circunvizinhos abalados dos ventos que naquele sítio cursam de todas as partes, descobertas, cobri­ram as casas e arearam o porto de forma que se veio a des­povoar, deixando por memória uma ermida de invocação de Nossa Sr.a da Vitória.

Ora, não nos parece que isto seja assim (2). Hoje há no

(1) Laranjo Coelho — A Pederneira — 1924, pág. 11, diz que a Vila de Paredes foi fundada por D. Diniz que lhe deu carta de foral em Coimbra a 19 de Dezembro de 1282, estando a vila já completamente invadida pelas areias em 1500.

(2) Na citada Memória sobre o Pinhal de Leiria. pág. 6, vem exposta a mesma ideia.

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vale uma pequena povoação relativamente moderna a que chamam Paredes. No ponto mais alto, ao Norte do vale, há uma capelinha da Sr.a da Vitória cercada de casas de cons­trução moderna, mas deshabitadas. Mais para ocidente, e muito perto do Castelo, já na encosta é que estava a cons­trução antiga como mostram os restos de paredes que aí se veem, por que naqueles tempos interessava antes de mais nada a situação vigilante de horizontes, contra os ataques dos piratas.

E’ o mesmo caso que se dá um pouco ao Sul, na Nazaré onde a povoação antiga ficava no alto, no lugar hoje deno­minado o Sítio.

O Sr. Domingos Pereira, de S. Pedro de Moel lem­bra-se ainda de ter visto há cerca de 40 anos na encosta voltada ao ocidente restos de sepulturas antigas, onde se encontraram algumas moedas que, disseram, eram portu­guesas (1).

Carlos Ribeiro no já citado trabalho, a página 10, diz «Perto do Sítio da Sr.a da Victoria, e onde agora é mar, diz a tradição que existiu outrora uma villa conhecida pelo nome de Paredes. O certo é que ainda ha bem poucos anos se viam naquelas paragens, sepultadas no oceano, res­tos de construções e lápides com inscrições romanas, uma das quais, segundo me informam existia em poder do Padre Manuel Ribeiro residente em Pataias.»

Vê se pois que não foi o vento que sepultou a povoação, mas sim o mar que lhe destruiu o terreno, embora no alto, as areias movidas pelo vento, também ajudassem a tornar o lugar inhabitável.

Ainda mesmo que no vale houvesse alguma povoação, nunca os ventos a sepultariam, pois lá estava o ribeiro com a sua acção transportadora, levando as areias para o mar,

(1) Na parte dêste trabalho feita pelo Sr. A. Arala Pinto vem uma referência especial a esta povoação.

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vencendo a acção do vento, como constantemente faz, alar­gando o vale onde corre, o qual é quási só obra sua.

A 1 quilómetro ao Sul aparece junto da antiga Mina do Azeche (1) um afloramento do Triássico-infraliássico (margas Dagorda) em que já falámos. Até aqui o Pliocénio está coberto de areias de dunas, e para o Sul aparecem os calcá­reos belasianos (cretácicos), que por debaixo das areias se prolongam para oriente até Pataias, (onde fazem parte já doutra serra rasa), até à Falca, seguindo-se depois areias até às formações terciárias da Nazaré, onde atingem a cota de 110 m., em que uma enorme falha forma o abrigo da praia.

Vê-se assim que esta parte da costa portuguesa constitue o flanco ocidental dum vale tifónico, cujo eixo é denunciado pelos afloramentos da Mina do Azeche, das Pedras Negras e dos cabeços de diorito e calcáreos margosos da região da Ponte Nova.

O flanco oriental fica todo debaixo das areias do Pinhal, só tendo aparecido uns afloramentos calcáreos um pouco xistosos, na Valdimeira junto do Ribeiro e mais para o nas­cente numas pedreiras de calcáreo amarelado, de fractura conchoide, com o aspecto de liós, a 1 quilómetro ao N da Ponte do Ribeiro e explorados para a indústria do vidro. Há ainda outros afloramentos perto da Guarda Nova, junto da estrada. Foram estes classificados por Choffat no Turo- niano médio (Cretácico) (2).

(1) Foi aberta uma galeria nestas camadas betuminosas em 1857, mas abandonada no ano seguinte.

Consta terem-se de aí extraído 5o.ooo quilos de asfalto e 7.000 quilos de calc. betuminoso.

Em 1914 Choffat num estudo sôbre a existência de petróleo na Extre- madura aponta êste facto como comprovativo daquele produto existir ou ter existido na profundidade.

(2) Ver Systeme cretacée du Portugal — Lisboa — Imp. Nac., 1900, págs. 117 e 169.

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Êste conjunto de estratos de direção N N W — S S E constitue outra Serra Rasa (como já notou Pereira de Sousa (1)) que devia ter constituído nos tempos do Miocénio ou Pliocénio antigo uma serra costeira semelhante à Fama- licão ao Sul da Nazaré.

Não é provável que esta serra se levantasse muito acima do nível do mar, e que depois fosse gasta pela erosão. Parece-nos mais aceitável que, à medida que se foi dando o enrugamento submarino a erosão foi gastando a parte mais alta, nunca tendo havido grande elevação.

JAZIGOS DE FÓSSEIS TERCIÁRIOS

Os fósseis descobertos por Choffat junto do Castelo da Sr.a da Vitória foram por êle classificados como pliocénios, e mais tarde (2) Dolfuss e Cotter estudaram não só êste jazigo mas ainda outros de Monte Real descobertos por F. de Vas­concelos, e alguns outros para o Sul desta região, já estuda­dos também por Choffat, e chegaram à conclusão que todos êles pertenciam ao Pliocénio marinho antigo (Plaisanciano).

A estrada florestal entre a Pente Nova e a Praia Velha, seguindo sempre ao longo do Rio Tinto constitue o mais bonito passeio da região.

A Ponte Nova é um vale profundo cercado de dunas das mais altas, todas cobertas de Pinhal, por onde o ribeiro vai serpeando e cantando, tendo o seu declive sido já em tempos aproveitado para serraria das madeiras, vendo-se ainda hoje restos duma muralha bastante espêssa, que servia de barra­gem. Mais modernamente foi a mesma queda aproveitada

(1) Os Calcáreos do Distrito de Leiria — Lisboa 1906, pág. 15.(2) Dolfuss et Cotter — Le pliocene au Nord du Tage — Lisboa.

Imp. Nac., 1909.

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pelo nosso saudoso tio J. Ferreira Custódio para aí instalar uns moinhos de farinha.

A abundância de água dá tal vigor aos eucaliptos que a região tornou-se uma das mais sombrias e frescas, não fal­tando aí a água nascente com cheiro a SH2 de proprieda­des medicinais análogas às de Monte Real, pois que também as condições geológicas do terreno são as mesmas: vales tifónicos com erupções de dioritos, e um vale transversal por onde corre acolá o Liz, e aqui o Rio Tinto, através das margas com bastante gesso. Quem segue daqui, pela estrada, ao longo do ribeiro, nota que êste tem grande abundância de blocos soltos de dioritos, já muito polidos pelas águas, e ao chegar ao sítio chamado a Mina, no ponto onde a estrada se eleva mais, aparece em baixo na margem direita do rio, grande abundância de gesso laminar.

Por cima, na margem esquerda, aí a 20 ou 3o m. mais alto a abertura da estrada pôs a descoberto um grande aflo­ramento destas rochas (1) coberto de areia das dunas. Há aí abundância de blocos isolados, alguns até só de quartzo, mergulhados numas areias um pouco argilosas com bastante mica branca e bastantes fósseis marinhos.

A sua classificação foi feita obsequiosamente no Museu Britânico.

O Sr. Leslie Reginald Cox, ilustre naturalista dêste Museu teve a amabilidade de fazer o estudo da fauna dêste jazigo, que reputou interessante, com algumas espé­cies novas, estudo que vai adiante publicado num apêndice.

Aqui fica expresso ao ilustre naturalista o nosso agrade­cimento pela sua valiosa colaboração neste estudo.

Conclui-se aí que o jazigo é o do Pliocénio superior (Astiano), conclusão esta que difere um pouco da de Dol- fuss e Cotter. Devemos notar que estes estudaram, além doutros jazigos, um a 10 quilómetros ao norte, outro a

(1) in Revista da Fac de Ciências de Coimbra, vol. 1, pág. 28.

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7 quilómetros ao sul do nosso. Atribuiram-lhes a idade do Pliocénio inferior.

Êste novo resultado faz considerar muito mais modernos os últimos movimentos da região, os quais ainda levantaram os cabeços dioríticos.

Temos porisso de os considerar, pelo menos em parte, do Pliocénio superior.

MOVIMENTOS HORIZONTAIS DOS ESTRATOS

Já atrás dissemos que esta região de S. Pedro de Moel mostra que a formação dêste vale tifónico se deve à 2.a hipó­tese (1) de Choffat, isto é, um escorregamento das massas calcáreas, devido a uma pressão vinda do mar.

O perfil esquemático do rochedo do Penedo do Cabo, publi­cado por êste autor no seu artigo do tomo x das Comunica­ções, apresenta uma falha onde se vê que o bloco ocidental foi empurrado do lado do mar (onde mergulha) o que fez levan­tar o lábio ocidental da falha, arrastando êste o lábio oriental.

O mesmo se vê na figura n.° 9 das ribas da costa 200 m. ao N de S. Pedro de Moel. A direita fica o mar.

Fenómeno idêntico se via na pedreira junto da estrada da Marinha Grande, hoje desmontada.

Julgamos porisso, como o Sr. Freire de Andrade (2) que estes vales foram originados principalmente por movimentos horizontais resultantes duma pressão vinda por um lado do ocidente, do Atlântico, por outro lado da Meseta, situado a oriente.

(1) Comunic., tomo vii, pág. 45 nota e tomo x, pág. 161.(2) O Hentangiano de St.a Cruz, alguma considerações sôbre os

vales tifónicos. in-Boletim do Museu e Laboratório Mineralógico e Geo­lógico da Universidade de Lisboa — 1983, pág. 119.

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Esta direcção do movimento explica a orientação comum de todos os vales tifónicos, que é, como se vê na figura n.° 2 N E - S W .

Nas Cartas e Cortes, etc., de Choffat vem indicada uma deslocação transversal em Maceira, cuja explicação está nos ditos movimentos horizontais: os estratos a sudoeste desta povoação avançaram cêrca de 5oo m. para o sudeste, como se vê quando os compararmos com os que afloram a nordeste da mesma aldeia, isto é, houve um movimento hori­zontal, vindo de N W que actuou na parte da serra rasa a SW da Maceira, duma maneira mais intensa fazendo des­locar esta parte cêrca de 5oo m. a mais que a outra.

O fenómeno podia ser explicado com um movimento horizontal vindo de SE que tivesse, pelo contrário, actuado mais intensamente na parte a N E de Maceira.

Há outro acidente tectónico importante que nos leva a pronunciar pela 1.a hipótese:

E’ o vale submarino da Nazaré, o mais acentuado da costa de Portugal. (1)

Mesmo em frente desta praia, e ainda dentro da enseada, (2) começa a aparecer um vale estreito e profundo dirigido para WSW numa extensão de 9 quilómetros, o qual tem a sua vertente N no prolongamento da falha que abriga a praia.

O vale volta depois para N W, e ao fim de 10 quilóme­tros segue na primitiva direcção de W S W , já mais largo,

(1) Veja : Carta da Missão Hidrográfica da Costa de Portugal,de 1915; A Terra, n.o 2, pág. 29, de 1932 onde vem um estudo, com cartas, do Dr. Alfredo Ramalho sobre êste vale ; Portugal auf. Grund eigener Reiser und der Literatur— 1.a parte— Das Land als Ganzes — Pettermans Mitteilungen— fasc. n.o 213 — 1932, pág. 17 e a carta n.o 1, do Dr. H. Lautensach.

(2) A acção dêste vale faz-se sentir dentro da enseada forçando o ribeiro Alcoa a seguir para o N quando o usual, nestas costas de areia é dirigem-se para o S.

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com mais de 5oo m. de profundidade ou seja com cerca de 300 m. abaixo do fundo que lhe fica dos lados. Este vale segue pelo N dos ilhéus Farilhões atingindo aí mais de 1ooo m. de profundidade absoluta, ou 800 de profundi­dade relativa.

O declive das vertentes é bastante acentuado (15°) e na carta do Dr. Lautensach êle nota-se ainda na profundidade de 3ooo m.

Estes vales submarinos, que na nossa costa aparecem também em frente do Tejo e Sado, foram estudados, pelo Dr. Lautensach, ilustre geógrafo alemão a quem a geo­grafia de Portugal tanto deve, e todos 3 atribuídos à erosão fluvial.

Nota este autor que, para o nosso caso da Nazaré, o único rio que aqui podia ter actuado seria o Zêzere, que corre a 70 quilómetros de distância, e não há neste intervalo sinal algum da sua passagem por aí.

Esta explicação fluvial exigia que a costa antiga, hoje lá ao largo e no fundo do mar, tivesse mergulhado cerca de 3ooo m. Hipótese pouco provável para aqui, embora acei­tável para os vales do Tejo e Sado que desaparecem na curva de profundidade de 2000 m.

Como o vale fica na direcção da Serra Rasa de Pataias, e na direcção do macisso Serra da Estrêla-Lousã, parece­mos que lhe devemos atribuir origem tectónica.

Se os vales subaéreos raras vezes teem esta origem por­que o erosão é muito intensa, já o mesmo não acontece nos vales submarinos.

O facto do vale da Nazaré não estar numa só recta (1) que entraria em terra na altura da Sr.a da Vitória pode ser explicado pela mesma translação horizontal que aparece em

(1) Lautensach inclina-se para uma acção erosiva profunda, marítima, corroendo as margens, ora dum lado, ora doutro, como nos meandros dos rios.

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Maceira, mas muito mais acentuada. Nesta hipótese todo o flanco N W da Serra Rasa entre Maceira e um ponto a io quilómetros da costa foi arrastado para o S E.

As linhas de contacto anormal que Choffat traçou nas Cartas e Cortes, quási N-S, e passando uma a ocidente do Monte de S. Bartolomeu, outra a ocidente de Alpedriz e Maiorga, poderiam ter esta mesma explicação.

As areias que cobrem toda a região tornam muito difícil a resolução destas questões.

O Instituto Geográfico e Cadastral (1) tem aplicado a balança de torsão na pesquiza da estrutura das camadas superficiais da região da Sr.a da Vitória, procurando locali­zar, por meio da diferença de densidades das areias (1,6) e calcáreos (2,6) a posição do vale tectónico, hoje coberto pelas areias pliocénias.

O Sr. Engenheiro Braga que continuou êste estudo ainda no verão de 1936 chega à conclusão que o vale situado entre a falha do Castelo da Sr.a da Vitória (ao Norte) e a falha da Mina do Azeche (ao Sul) não se continua para o interior com a mesma direcção do vale submarino da Nazaré, mas volta rapidamente para o Norte, devido talvez a uma nova falha.

Não nos admira esta conclusão, pois que toda a estru­tura da região, já atrás descrita segundo Choffat, tem a orientação quási N-S, na linha da Costa; orientação que parece ter resultado dum movimento horizontal vindo do Oceano.

Em consequência dêstes movimentos horizontais forma- ram-se as serras, hoje rasas, de Pataias e S. Pedro de Moel, isto é, formaram-se os vales tifónicos, depois do depósito dos calcáreos lacustres do Miocénio, como diz Choffat, ou mesmo já no Pliocénio.

(1) Ver trabalho já cit. pág. 23 : Rapport sur les travaux geodesiques executes de 1933 a 1936 — Lisboa.

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Como resultado da pressão exercida nas massas profun­das pelos estratos que se enrugam, o magma (1) foi obri­gado a romper até a superfície dando origem aos cabeços dioríticos já descritos.

Na região que estudamos aparecem afloramentos do Mio- cénio na Serra Rasa de Pataias e no alto da Nazaré, podendo portanto supormos que toda esta área estava debaixo do mar, embora na região do Pinhal não aparecessem ainda fósseis desta época, mas os jazigos já descobertos e atrás descritos mostram que no Pliocénio superior o mar cobria toda a região, fazendo os seus depósitos de areias, gastando as ser­ras indicadas, construindo então a planície de abrasão que hoje se estende ao longo da costa das Pedras Negras e Nazaré, e actuando ao mesmo tempo sobre os blocos de diorito, já então vindos à superfície.

O jazigo de fósseis da Mina (Ponte Nova) mostra que no Astiano (Pliocénio superior) o mar actuava sobre os blo­cos de diorito já vindos à superfície. Não teria a erupção dêles sido muito anterior, pois de contrário estariam já desfeitos no Astiano.

Somos assim levados à conclusão que as erupções diorí- ticas são já do Pliocénio, o que está de harmonia com as ideias de Choffat, que só marcou para o seu aparecimento um limite inferior: o Miocénio lacustre.

Houve depois talvez já no Quaternário um novo levanta­mento elevando a costa à cota que hoje tem aproximada­mente e fazendo subir a maior altura os cabeços dioríticos como o de S. Bartolomeu e de Leiria, etc.

Choffat (2) no estudo dos jazigos pliocénios de Selir do Porto e Aguas Santas (vales tifónicos) conclue que: 1.° as

(1) É questão ainda não averiguada, até que ponto, a erupção dos magmas é devida a causas exteriores a êles (como acima supomos) ou a causas internas resultantes de transformações no seio dos magmas.

(2) Observations sur le Pliocene du Portugal. Bol. de la Soc. Geol. Belg. 1889, pág. 123.

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deslocações que fizeram aflorar o Infra-liássico são ante­riores ao Pliocénio, 2.° 0 fundo do vale sofreu um abati­mento posterior ao Pliocénio. Embora o autor se refira ao vale, no singular, depreende-se que êle quere generalizar este abatimento a todos os casos análogos, e assim o enten­deu Pereira de Sousa (1), que transcreve, dizendo que os fundos dos vales sofreram abaixamento posterior a este ter­reno, 0 que produziu a inclinação das camadas que lhe per­tencem.

Dolfuss e Cotter (2) acentuam que Choffat tinha em vista deslocações locais, e não o abatimento geral da região que permitiu a invasão do mar pliocénio.

F. Nolke (Hipótesis geotectónicas — trad. de J. Caran- del, Madrid, 1935, pág. 33) — compara os movimentos da crusta terrestre quere a — uma respiração lenta — são os tempos de Epirogénese com as subidas e descidas lentas no sentido vertical, — quere a acessos febris, paroxismos, de respiração muito intensa donde resultam os enrugamentos — são os tempos da Orogénese.

Vivemos actualmente em tempos de epirogénese diz este autor. Os movimentos que estudamos, do fim do Pliocénio, estão na transição do fim dos enrugamentos alpinos, para os movimentos epirogénicos.

AS AREIAS DA MARINHA GRANDE

Choffat, no tomo I das Comunicações, fundado nos estu­dos de F. de Vasconcelos forma 3 secções nestas areias.

A 1.a é formada por terrenos arenosos estratificados, com bastantes calhaus rolados de quartzo, e leitos de argila, que

(1) Os calcáreos do Distrito de Leiria, pág. 12. (2) Le Pliocene... etc. pág. 23.

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nalguns pontos é explorada para indústria de telha e tijolo, contendo ainda alguns fósseis, como sucede em Carvide.

Cobrem uma grande parte do distrito de Leiria, e na estrada que vai desta cidade à Marinha Grande tem o limite ocidental na povoação de Albergaria.

Aparecem ainda na Marinha Grande no Pinhal da Feira onde se explora o barro, e nos Vales dos ribeiros como na Embra, Garcia, etc.

Constituem estes terrenos a camada impermeável que aguenta as águas das chuvas, na região das areias da secção imediata.

A 2.a, imediatamente por cima das anteriores, e por uma transição quási insensível é formada de areias de quartzo com pequenos blocos rolados do tamanho de amêndoas, pouco estratificadas, às quais uma cultura de séculos tem dado uma cor de terra arável.

A cerca de meio metro de profundidade encontra-se uma camada de cor castanho-escura, com alguma consistência, chamada na região sorraipa, e que é usada como material de construção.

Antigamente quem pretendia fazer uma casa começava no próprio local, por tirar a areia de cobertura e arrancava então a sorraipa, que nalguns pontos chega a ter cêrca de meio metro de espessura. Por baixo aparece de novo a areia branca, sem detritos orgânicos usada para misturar com a cal para as argamassas, ou na indústria do vidro.

A sorraipa tem consistência bastante para ser utilizada nas construções às vezes em edifícios de 1.° andar, desde que seja defendida da chuva por uma camada de cal. É preciso porém trabalhá-la com cautela pois uma marte­lada mais forte desfá-la em areia.

O simples aquecimento numa cápsula de porcelana ou tubo de vidro queima toda a matéria orgânica, reduzindo-a a areia branca e diminuindo o seu pêso cêrca de um terço.

A sorraipa, formada pela acumulação, a pequena profun­didade, de detritos orgânicos, constitue uma camada imper­

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meável para as raízes das plantas, mesmo as do pinheiro, sendo um dos trabalhos indispensáveis à plantação de árvo­res ou vinhas o rompimento dela.

Não exige muito tempo para se formar, pois que às vezes se encontra uma camada, embora delgada, a 2 ou 3 palmos abaixo da superfície duma duna, mas paralela a ela, como se vê nos cortes feitos para a passagem do caminho de ferro próprio da Mata.

Nalguns pontos da região, como a montante da Ponte Nova, nas margens do ribeiro, encontra-se outra sorraipa mais amarelada de constituição e origem diferente, embora com a mesma resistência. Mostra o seu aquecimento que é constituído por grãos de quartzo cimentado por argila com limonite.

O limite entre estas areias e os terrenos argilosos da1.a secção já descritos não é bem o que vem indicado nas Cartas geológicas, pois que estas, traçam êsse limite pela Marinha Grande, quando é o ribeiro de Albergaria, como já dissemos que as contorna pelo lado oriental.

Estas areias que Choffat compara às das Landes da Gas- conha, são provavelmente sincrónicas das que se encontram ao Sul de S. Pedro, na Sr.a da Vitória etc., pelo que as devemos supor também do Pliocénio superior ou já do Quaternário, não estando ainda averiguado se as anteriores, que lhe ficam por baixo e a Oriente serão da mesma época ou do Pliocénio inferior, pois que as fossilíferas são costeiras e aquelas duma bacia interior.

3.° Sobre estas aparecem as dunas que são formadas quere das próprias areias pliocénias, quere de outras mais modernas que vieram do lado do mar.

Como o vento dominante (1) anda entre NW e NNW

(1) Servimo-nos do trabalho do meu ilustre professor Dr. Ferraz de Carvalho, Director do Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra, — Resumo das Observações feitas desde 1866, impresso em 1922.

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em Coimbra, embora haja alguma variação no rumo domi­nante da zona considerada, vê-se que as areias são encami­nhadas para o Sul quási paralelas à costa, de forma que na foz do Liz ocupam uma faixa mais estreita, e mesmo assim bastante larga para termos de supor o rio de vez em quando fechado pelo mar, como ainda agora é frequente (1).

Esta faixa vai-se alargando mas não abrange toda a lar­gura do Pinhal a ponto de em frente da Marinha Grande ter cerca de 9 quilómetros de largura, mantendo-se sempre a mesma até quási à Nazaré.

A carta mais completa que há com as dunas desta região é a Carta Topográfica do Pinhal de Leiria do Coronel Frederico Luiz Guilherme Varnhagen de 1841 e dos tenen­tes Pereira da Silva e Mário Batalha que juntamente publi­caram a já citada Memória sobre o Pinhal Nacional de Leiria. Escala 1:20.000. A figura n.° : o é uma reprodução dessa carta onde se veem ainda as principais dunas da região.

Numa região de areias sem vegetação a distribuição das dunas é bastante regular obedecendo a leis já conhecidas.

Não é este o caso pois muito antes de D. Diniz já os árabes (2) parece que fizeram sementeiras, e muito antes deles já a região estaria naturalmente povoada, pelo menos nas baixas mais húmidas (3) o que tornou a distribuição das dunas bastante irregular.

Nota-se nessa Carta que mesmo na parte despovoada, junto do mar, não há regularidade alguma, e que pelo con­trário ela só aparece um pouco na parte povoada.

(1) Choffat — Le Tertiaire etc. já cit. pág. 260 descreve uma fauna limnica e terrestre pliocénica com peixes e vegetais, o que ajuda a hipó­tese duma lagoa.

(2) Edmundo Andrade — Dunas — Coimbra 1904, pág. 55.(3) É o que ainda há poucos anos acontecia na região imediatamente

ao sul do Pinhal, chamada Camarção, onde apenas as partes mais baixas estavam povoadas. Uma inteligente política florestal do povo da Marinha Grande transformou êste camarção numa rica floresta.

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Algumas dunas como a do Serro do Lobo junto da Praia da Vieira, Serra de S. Pedro, Ladeira Grande (a mais extensa e alta) seguem grosseiramente paralelas à costa, como é frequente, mas esta última, decerto por ter no seu interior as colinas calcáreas ou dioríticas como sucede na Mina.

Ao norte do Ribeiro no interior as dunas tomam uma direcção este-oeste, normal à do vento dominante, mas a última duna, (a mais ocidental) segue a direcção norte-sul, estendendo-se por alguns quilómetros sempre dentro da Mata, e voltando a aparecer em Pataias.

Onde elas atingem maior altura é perto de Pataias, onde atingem 140 m. (1) chegando ao norte da Nazaré (Aguieira) a 157 m, mas a altura da duna acima do solo não atinge mais que 20 até 40 m.

A. Pimentel (2) avaliou em 7 m. por ano o avanço médio das dunas ao norte do Liz, mas no Pinhal de Leiria usa-se a média de 10 m., mas menos para as dunas grandes. É difícil, ou mesmo impossível separar as areias que vieram do mar das que resultam dos terrenos pliocénios de forma que nas cartas geológicas usa-se a designação de dunas atri­buindo-lhe a idade do quaternário por serem formações modernas, à custa de materiais, ou do pliocénio superior ou do quaternário.

Provindo a grande parte da areia das dunas dos terrenos pliocénios, porque se não estendem estas mais para oriente, por onde há esses terrenos ?

Como dissemos as dunas vindas do norte não poderiam ter passado a Liz, senão em épocas em que êle estivesse tapado, e por isso ocupam aí uma faixa mais estreita, que se vai alargando para o Sul, porque a costa se encaminha

(1) Choffat— Aperçu de la Géologie du Portugal, in Le Portugal Agricole — Lisboa, 1900.

(2) Veja nota 1.

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para ocidente. Poderiam ter-se formado algumas ao Sul do Liz, embora mais pequenas, e em toda a área da Mari­nha Grande, mas assim que a região começou a ser culti­vada, o homem deve tê-las destruído, não deixando de haver grande altura de areia na vertente ocidental do ribeiro de Albergaria, que poderia ter sido uma antiga duna. Ao dar-se o levantamento da costa, depois do depósito das areias plio- cénias, (do Astiano) a região levantou-se mais ao sul que ao norte e formou-se uma lomba que atinge i5o m. em Pataias, 140 na Lagoa Cova, 112 na Ponte Nova onde é cortada pelo ribeiro, e menos de 100 de aí para o norte decaindo até à foz do Liz, para depois subir de novo. Este levantamento começando ao longo do eixo do vale tifónico pode ter tapado o rio Liz, e dado origem a uma grande lagoa costeira, que atingiria até a actual cota de nível de 5o ou mais metros, no tempo em que tal região estava mais baixa. Os depósitos orgânicos desta lagoa deviam ter favo­recido a formação da sorraipa, e ao mesmo tempo dado alguma fixidez às areias impedindo a formação das dunas.

LEVANTAMENTO RECENTE DA ÁREA TIFÓNICA

Dissemos atrás que não está ainda averiguado se as areias desta região são do Pliocénio superior ou já do Pieis- tocênio, mas a sua grande espessura e disposição na Sr.a da Vitória levam-nos a inclinarmos para a última hipótese, tanto mais que há outros factos que bem provam o pouco tempo decorrido (geologicamente falando) depois deste levanta­mento.

Esses factos são :1.° — O Rio Tinto mostra em todo o seu percurso uma

erosão muito recente, pois as suas vertentes são às vezes quási verticais, tanto quanto o permite a areia solta e as raízes dos pinheiros.

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2. ° — O grande declive deste ribeiro que faz com que constantemente se ouça a água a cair, apesar de correr em fundo de areia, que vai arrastando.

3. ° — Os vales que aparecem por esta costa abaixo — S. Pedro de Moel, Agua de Madeiros e outros de menor importância — tem o seu fundo com terras amanhadas 3 a 4 metros acima do nível mais alto do mar, o que lhes per­mite moverem moinhos.

4.0 — Outros factos de menor importância me parece confirmarem esta hipótese :

a) Nesta última praia de Agua de Madeiros o ribeirito nasce a 200 m. da praia, todo duma vez, mas nos outros 200 m. para cima há um pequeno vale de erosão fluvial, como mostra a figura n.° 11, vale absolutamente seco. E evi­dente a sua pouca idade, pois que apesar de ser tudo areia ainda não foi destruído, mostrando até encostas bastante escarpadas.

Na citada Carta de 1841 vem o ribeiro a nascer no prin­cípio do vale; a aceitarmos o seu testemunho neste pequeno pormenor (e não há razão para o contrário) teremos de supor um desvio actual. Deslocamentos dos terrenos podiam ter provocado o desvio subterrâneo da corrente.

A cerca de 3oo m. para oriente vêem-se, já dentro da mata, 2 funis de absorção como os que atrás descrevemos, mas de 2 a 3 m. de diâmetro, e portanto muito recentes.

b) Na pedreira mais antiga de calcáreos infraliánicos havia mesmo ao nível do chão uma gruta com 20 a 3o m. de comprimento, por onde passaria um cão, mas perfeita- mente limpa, devido à sua fresca data, e a ter sido feita já num nível acima do mar.

Alguns documentos históricos citados na 2.a parte deste trabalho, pelo Sr. Engenheiro Arala Pinto, a citação atrás transcrita a propósito do porto da Vila das Paredes e a cita­ção de Batalha e Silva na pág. 24 da citada Memória dizem que se embarcava ainda madeira em S. Pedro de Moel, durante todo o ano, o que é hoje absolutamente impossível,

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facto que não é devido ao assoreamento dos portos pela areia, pois que o seu fundo é de rocha firme.

Todos estes factos podem ter como explicação o levan­tamento recente da costa.

FORMAÇÃO DE CARVÕES

Com movimentos dêste género, ou simplesmente com o vento movendo as areias, deve o ribeiro (1) ter sido inter­rompido, dando origem à formação de lagoas (2) onde se iam depositando os detritos orgânicos levados pelas águas, os quais, sepultados pelas areias, se foram lentamente trans­formando em produtos carbonosos.

Ainda hoje se vê, uns 200 m. a montante da Ponte Nova, um pouco acima do nível da água uma camada de massas argilosas com lenhite com mais de 1 m. de espessura.

Em vários outros pontos dêste local aparece a mesma massa, e as necessidades da guerra (1914-18) levaram à sua exploração donde vem o nome do local, a Mina.

Pereira de Sousa (3) viu a análise dêste carvão, feita na Alemanha, a qual acusava um poder calorífero de 2.5oo calorias por quilo, considerando-o superior a alguns daquele país que são aproveitados para fabrico de gás, e outras indústrias. O enxofre, que contém, é muito pouco, mas a sua utilização exige que seja empregado pouco tempo depois de sair da mina, para evitar a perda de gazes, o que o torna actualmente inaproveitável.

(1) Provam além disso esta interrupção do ribeiro as dunas situadas na sua margem esquerda (sul), que só poderiam ter sido formadas, quando êste estava interrompido.

(2) Memória... pág. 12 supõe que haveria primitivamente muitos pântanos, e diz que muitos foram exgotados durante a administração de Raposo e Varnhagen. Hoje só existe uma Lagoa em Pataias e outra menor na Sapinha.

(3) Os calcáreos do distrito de Leiria, pág. 3q.

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Dizem os mineiros que ali andaram que o carvão exposto ao ar, ardia expontâneamente ao fim de alguns dias.

OUTROS PRODUTOS MINERAIS DA REGIÃO

Além do carvão, que acabámos de citar, encontra-se, como também já dissemos, o gesso nas margas do infraliá- nico, mas não está explorado.

Em 1864 fundou-se perto de Pedreanes uma fábrica para fundição de ferro, que explorava os minérios de Cós, Arnal, Pinheiros, servindo-se da lenha do Pinhal para combustível.

Os minérios eram muito pobres, pelo que a Fábrica só durou 2 anos.

Os materiais mais importantes da região são: areia para o fabrico do vidro ordinário, barro para o fabrico de telha e tijolo, sorraipa para construção de muros e os calcáreos, que abundam na costa, e são os seguintes :

Os margosos pouco consistentes do Sinemuriano inferior que aparecem dentro do Pinhal junto das Pedreiras e da Ponte Nova são empregados para as estradas florestais.

Os calcáreos liássicos (sinemuriano médio), dolomíticos dos rochedos em frente e ao norte de S. Pedro de Moel são aí o material de construção. Os calcáreos liássicos (sine­muriano superior) dolomíticos, argilosos, compactos acinzen­tados de entre Agua de Madeiros e Polvoeira teem sido empregados para o fabrico de cimento.

A pedra era cosida na Pentelheira (entre aqueles dois lugares) e moída nos Arcos, perto de Pataias, donde veio o nome de cimento de Pataias.

Em Agua de Madeiros também há fornos de cal hidráu­lica, mas a exploração é pequena.

Em Pataias há muitos fornos de cal (1) que por si só

(1) Em 1902 havia 25 fornos, 12 em laboração. Pereira de Sousa, pág. 92.

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justificaram a criação do apeadeiro do Caminho de Ferro.

As pedreiras são de calcáreo Bathoniano (do Dogger) branco, como o cré, duro e bastante fossilífero, situadas pelo sul da povoação. Mais para oriente, já fora da área que estudámos, em Maceira, ficam situadas fábricas de cimento, a maior das quais é hoje a primeira fábrica portuguesa de cimento, — cimento Liz — que aproveita também os calcá­reos do liássico médio e superior.

Calcáreos do Cretácico superior, são explorados na Mar- tingança para alvenaria, às vezes para cal, e na Marinha Grande (de Rudistas) para as fábricas de vidro e também um pouco para cal. E’ o calcáreo branco amarelado, sub- cristalino chamado liós, que polido, tem um aspecto mar­móreo.

TREMORES DE TERRA

A profundidade a que por aqui se encontram as camadas consistentes, que são os calcáreos, tem influência na sensi­bilidade da região aos tremores de terra.

Pereira de Sousa (1) consultando os arquivos da época do célebre terremoto de Lisboa de 1755, mostra que na Marinha Grande (2), Vieira, Coimbrão, Barosa, o efeito do tremor foi muito menor que em Monte Real, Monte Redondo, Leiria, sendo mais forte em Maceira e Pataias (3).

A causa deve estar no facto de estas últimas povoações assentarem ou directamente sobre o calcáreo, ou terem acima dele uma delgada camada de areia, o que não sucede na Marinha e Vieira etc., onde esta camada tem muitos

(1) O Terremoto de 1.° de Novembro de 1755 — Vol. iv—1932 — Lisboa.

(2) Diz: não se conheceu nêste lugar, nem em toda a freguesia, no tempo do terremoto, ruína alguma.

(3) Diz: «foi a dita Igreja gravemente arruinada pelo terremoto de 1755 necessitando de tudo de ser reedificada...»

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metros de espessura, amortecendo porisso as vibrações do tremor.

UM POUCO DE HISTÓRIA

As areias que cobrem a região dão-lhe um carácter bas­tante homogéneo.

E’ uma região plana, de solo pobre, onde quási só o pinheiro (1) medra, e à qual uma luta secular do homem tem conseguido dar uma fraca fertilidade, pois quási só milho e batatas produz, em anos em que não falta a chuva. Para essa cultura o principal elemento, depois da água, que rapi­damente se some na terra, é o estrume constituído pelos detritos do Pinhal, ao qual a região deve toda a sua impor­tância, o que deve ter constituído a causa da fundação das povoações.

Foram o estrume, a lenha, as madeiras, que valorizaram a região e deram origem a um dos melhores centros indus­triais do País.

Pelo norte e nordeste a região confina com as férteis bai­xas do Liz que, segundo o Dr. Manuel Heleno, ilustre Director do Muzeu Etnológico Dr. Leite de Vasconcelos, de Belem, (2) foram já ocupadas por uma população numerosa do Neolí­tico, tendo sido o chamado Paul de Ulmar, que se estende pelos campos inundados pelo rio Liz, motivo da atenção especial de D. Diniz, pelo seu grande valor.

Para o norte, passada esta baixa, segue com o mesmo

(1) Felipe Folque no Relatório Ácêrca da Arborização Geral do País — Lisboa 186 —na pág. 5o fala em pinheiros do Pinhal de Leiria, com 39m de altura e 4m,40 de circunferência no colo, acabando por dizer que pode­mos afoitamente concluir que as areias desta parte da nossa faixa litoral, se não as de tôda ela, são eminentemente próprias para o desenvolvi­mento do pinheiro bravo, e que nela se reune um conjunto de circuns­tâncias difícil de encontrar em qualquer outro país.

(2) Ver o Arqueologio Português — Lisboa — Vol. 25 de 1922, um artigo dêste autor sobre antiguidades de Monte Real.

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aspecto a chamada Gândara de Monte Redondo, por Pereira de Sousa, até ao Mondego.

Para oriente, para lá do Valeirão da Albergaria e Mari­nha Pequena estende-se a charneca, que uma inteligente política florestal de alguns industriais da Marinha Grande (1), conseguiu transformar em pinhal.

A sudeste a região é limitada pela já descrita Serra Rasa de Leiria, que com o seu prolongamento até à Nazaré, separa duas regiões bem distintas :

Para o sul desta suave cumeada, estendem-se num vale larguíssimo os férteis campos de Alcobaça e Valado, que sus­tentam a população própria e a de parte da região do Norte.

Atestam a riqueza da região desde os tempos mais remo­tos, a abundância de documentos arqueológicos (2) e já nos tempos da nossa história, a fundação do Mosteiro de Alco­baça por D. Afonso Henriques e a existência de muitas povoa­ções citadas na doação que êste rei fez àquele mosteiro (3).

(1) Devemos destacar aqui os nomes do nosso Saudoso Tio José Fer­reira Custódio e de Santos Barosa que há 3o anos quási só por si fizeram a propaganda da valorização daquela região com a sementeira do pinhal.

(2) Ver no Archeólogo Português artigos de Vieira Natividade, etc. Revista Archeológica — Vol. III, 1889 — Um artigo de Borges de Figuei­redo — Antiguidades de Pataias, onde diz que na cópia dum manuscrito que pertenceu a um monge de Alcobaça vem a descrição de 5 colunas dispostas desde Pataias ao mar, na Mata de Pataias ou Coito das Pipas. A 1.a coluna mostra Pisões. Teria sido aqui Eburobritium dos Romanos? pregunta o autor. Inscriptiones Hispanice Latinae — Hubner — Berlim — 1869 — pág. 63. Collippo, etc.

(3) in Alcobaça lllustrada, de Frei Manuel dos Santos, 1710 — Tit. 1: D. Frei Randol, pág. 10, diz que na era de Cristo de 1153 mandou El-rei D. Afonso Henriques chamar a Coimbra o Abade D. Fr. Ranulfo, e perante êle fez a P. S. Bernardo a doação seguinte: Hoc ab integrando concedi­mus & cantum firme facimus sicut terminis inferius scriptis dividitur: in prinis sicut dividitur per ipsum focem de selir, quomodo vadit per ipsam aquam de ipso furatorio, deinde ad ipsam gargantam de olmos, & inde ad ipsas cimalias de Aljumaruta, deinde quomodo partit cum ipso andano, & ferit in ipsam aquam de Cos & transit, per Melvam ad ipsam matam de Pataias, & vadit inter ipsam Peterneiram, & moer & mari jungitur.

Na Crónica de Cister de Frei Bernardo de Brito, 1720, vem trans-

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E’ por aqui que deve terminar a linha divisória de duas regiões geográficas, como faz o meu amigo e ilustre Profes­sor de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Dr. Amorim Girão, no seu Esboço duma Carta Regional de Portugal — Coimbra 1933 (1), deixando para o Norte a Beira Litoral, que a uniformidade da paisagem faz aproximar daquela Beira, emquanto a parte Sul constitue já a Extremadura.

Se as linhas divisórias dos concelhos devem coincidir tanto quanto possível com as divisões naturais, deve a fre­guesia de Pataias ser incluída na Marinha Grande, pelo menos toda a parte central e norte.

A doação de D. Afonso Henriques ao mosteiro de Alco- baça parece constituir argumento em contrário. Mas, nesse tempo, não havia ainda um pouco mais ao norte o impor­tante centro industrial que é a Marinha Grande, que aí faz convergir diariamente, quere os operários que trabalham nas fábricas, quere os produtos destinados à indústria como a cal, e sobretudo a lenha para os fornos de vidro, em que se ocupam dezenas de carreiros.

crita esta doação com a data de 8 de Abril de 1151, escrevendo na parte final Moher e não Moer.

Tendo consultado sôbre isto o Sr. Dr. Baião, Director do Arquivo da Torre do Tombo, diz-me que no Liv. 1 dos Dourados fl. 1 se lê claramente Moher. P. M. Laranjo Coelho, em 1924, num estudo sôbre a Pederneira diz que esta povoação devia existir já em 1190 e ter tido Igreja Paroquial desde 1195.

No verão de 1936 a Sr.a D. Conceição Correia Mendes encontrou nos entulhos provenientes dumas obras feitas no moinho de S. Pedro de Moel, uma moeda (que teve a amabilidade de nos oferecer), do tempo do Impe­rador Romano Teodósio I.

Vivendo êste imperador nos fins do séc. iv, vê se que já nesta altura — há mais de 1.5oo anos — a região era habitada, com o seu moinho. Na parte dêste trabalho escrita pelo Sr. Eng. Arala Pinto vem apresentada a hipótese de já no tempo dos Fenícios, nas suas viagens para o norte ao longo da costa, a região ser por êles frequentada para o negócio do produto das Matas, como pez, etc. Êste achado faz-nos aproximar bastante daquela hipótese.

(1) Ver pág. 74, e carta da pág. 100.

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ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA MARINHA GRANDE

Há ainda outro facto curioso, que nos poderia levar a admitir uma hipótese, um pouco ousada, porque há contra ela argumentos importantes. Não deixo no entanto de a arquivar aqui, à espera que alguém esclareça um dia o caso.

— E’ uma bem justificada curiosidade conhecer a origem da nossa terra.

A ausência quási absoluta (1) de documentos antigos, ou mesmo edifícios levou-nos, a princípio, a supor que a povoa­ção tinha nascido com a indústria do vidro (2), ali atraída pela abundância de lenhas e areia.

(1) Sinais de ter sido habitada em tempos muito antigos, só conheço êste, aliás muito vago: Aí por 1900 lêmos num interessante jornal local Autonomia, redigido pelo nosso saudoso Tio J. Ferreira Custódio, notícia dum achado arqueológico. Visitámo-lo nessa altura e fazemos agora o desenho, (ver fig. n.o 12), pelo que nos ficou de memória. — Na parte oriental do Pinhal da Feira, num barreiro, onde se explorava barro para uma fábrica de tijolo, apareceu uma espécie de forno, como indica a figura, debaixo duma camada de massas argilosas que então nos pare­ceram de deposição natural, com 2 m. de espessura.

A parede da abóbada teria um palmo de espessura, e era constituída de argila, ou tijolo mal cosido. Dentro caberia bem uma criança, mas não se via o fundo. Não foi encontrado mais qualquer resto arqueo­lógico.

Numa povoação situada cêrca de 3 km. a Oriente — Albergaria — foi encontrado um bloco de diorito, tendo cavada numa face uma concha pouco profunda com cêrca de 10 cm. de diâmetro que indicava, segundo confirmação do ilustre arqueólogo Dr. Leite de Vasconcelos, ter servido para moer cereais.

(2) Por ordem cronológica apresentamos alguns factos importantes para a história da povoação e da indústria do vidro:

1439 — Sousa Viterbo — Artes Industriais no Instituto — Vol. 1, pág. 38 diz que o documento mais antigo que se conhece relativo a vidros data de 4 de Janeiro de 1439, em que D. Afonso V dá carta de privilégio a João Rodrigues Vadilho.

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No foral da Vila de Leiria de 1510 (Archeologo Portu­guês, vol. 25, pág. 5o) a propósito dos limites do Relego diz: «e des hi a huua cabeça que chamam de mel e man­teiga que esta a par da cabeça dalcogulhe descõtra Leiria e des hi vaisse aa mata do Espital que chamam de cascarasto, e des hi pela marinha e vaisse ao Ribeiro da que damor e vaisse meter no Rio dulmar.

1459 — Conclui-se do documento da pág. 42 a propósito de Vasco Martins que já em 1459 se fazia vidro em Portugal.

1484 — Pinho Leal — Portugal Antigo e Moderno — No artigo Mari­nha Grande : — Consta dos documentos do Cartório da Casa de Castro do Covo, próximo de Oliveira de Azemeis, que a primeira Fábrica de vidros que houve em Portugal foi a do Covo, a qual já existia em 1484, pois que então D. João II ordenou que se não podesse estabelecer outra sem consenti­mento de Diogo (?) Fernandes.

1498 — Idem : Manuscritos existentes no Cartório da Casa do Covo dizem que foi em 1498 que na vila de Coina se principiou a fabricar vidro. Da concorrência das 2 fábricas resultou a divi­são do mercado interno em 2 áreas, pela linha do Mondego.

1498 — Gama Barros — Hislôria da Administração Pública em Por­tugal— 1922 — Vol. V — Pág. 111 diz: Comprovam a exis­tência de fornos de vidro as cortes de Lisboa de 1498. Man­dou aí o soberano, que para se evitar o dano feito às matas com o mui repetido corte para as queimas, que se se não cor­tassem as árvores pelo pé nem as esmochariam, e só delas se tirassem os ramos sob pena de dois mil reis de multa por cada árvore.

1528 — Sousa Viterbo — Instituto — n.° I. — Pág. 107 — diz que Pedro Moreno requereu um exclusivo de modo que ninguém podesse estabelecer outro forno de vidro, desde a vila de Coruche até à raia da Galiza, — foi-lhe passada a carta de privilégio em 28 de Maio de 1528.

1600 — Visconde de Balsemão — Memória sobre a descrição fisica e económica do lugar da Marinha Grande, in Memórias eco­nómicas da Academia Real das Ciências — 1815 — Tomo v — diz que antes de 1590 não havia na Marinha Grande capela alguma, e que em 1600 se converteu em Paróquia aquela Capela.

1741 — Colecção Pombalina — n.o 472 — Um despacho de 15 de

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E’ impossível averiguar a qual das duas povoações (M.a Grande ou M.a Pequena) se refere (1).

No Arquivo Histórico Português — vol. 6.° n.os 1 e 2, pág. 241, num artigo sobre o censo da população da Extrema- dura, feito por Jorge Fernandes em 1527, diz a pág. 246 que :

A vila de Leyria tem 684 vizinhos no corpo da vila e arrabaldes, dos quais 33 são cavaleiros e escudeiros, e 40 clérigos, e o mais é povo. Tem de termo estas aldeias, quintas e casais seguintes:... «Aldeia da Marinha cõ Val da Gunha 10 (vizinhos),... Aldeia das Coucinheiras e Sã Pedro de Muel e Casal da Marinha e Alvaro Gil 19. Aldea da Moor cõ Casal dos Brexes 22. Aldeia de Carvide

Março dêste ano nomeia João Beare administrador da Fábrica de Vidros.

174.S — Aires de Campos — Índice dos documentes do Arquivo Muni­cipal de Coimbra — Pág. 139 — diz que em Maio de 1745 o administrador da Fábrica ainda em Coina, era João Beare.

1748 — no Instituto — Vol. x l ix — Pág. 15o — Transcrevendo o Dic- cionário Geográfico (manuscrito da Tôrre do Tombo) Vol. x r fôlha 2416 referente ao ano de 1758, a propósito de Coina diz que há aí uma fábrica real, que foi de vidro, a qual se acha danificada e sem exercício, há 10 anos, por se ter mudado a mesma para a Marinha — donde se conclui que aqui começou a fábrica na data acima indicada, aproximadamente.

Fortunato de Almeida —História de Portugal — Tomo v — Coimbra — 1928 — Pág. 356 e seg. transcrevendo, diz que parece que foi o proprietário da fábrica de Coina que, tendo falta de combustível naquele sítio, transferiu a sua indústria para a Marinha Grande, por estar esta povoação próxima do Pinhal.

1769 — Visconde de Balsemão — loc. cit., diz que Stephens começou a fazer vidro na Marinha nesta data. No maço 9 de leis, n.o 3, da Tôrre do Tombo de 1780 vem confirmadas e ampliadas as 15 condições originais do alvará de 7 de Julho de 1769, em virtude duma consulta da Junta de Administração das Fábri­cas do Reino, onde diz que a fábrica da Marinha foi restabe­lecida por G. Stephens.

(1) Idem pág. 79 a propósito de portos do Rio e Valia fala na porta da Marinha em 1641.

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cõ casais da Vieira e da Pasagem 30. Monte Reall tem 19 vizinhos. . ..

Outro termo de Leiria... os casais da Marinha e Sãta Maria de Leiria e da Gorneganha 8.

A vila de Alcobaça... Aldeia de Pataias tem 11. Aldeia do Barbas 9.

Segundo Fortunato de Almeida (História de Portugal, Tomo iv, Pag. 246) devemos atribuir o valor médio de 4 habitantes por casal, ou fogo, que é o mesmo que vizinho. A 1.a Marinha deve corresponder à hoje chamada Marinha Pequena, a 2.a à Marinha Grande, e a 3.a à outra povoação para o norte de Leiria.

Como em S. Pedro de Moel não haveria mais que 4 fogos, e 0 Casal de Álvaro Gil era tão pequeno que se perdeu a sua tradição, ficam para a Marinha Grande e a Coucinheira (hoje uma aldeia) situada ao sul, cêrca de 60 habitantes.

No Manuscrito n.° 5o3 da Biblioteca da Universidade de Coimbra «Notícias remetidas à Academia real debaixo da real protecção do mui alto e muito poderoso Rei N. Snr. D. João 5.° — Leiria, 1 7 2 1 — O Provedor da Comarca Brás Raposo da Fonseca», na folha 10 : Algumas notícias da quali­dade e abundância dêste Bispado — diz que ha neste Bispado 46 freguezias, cinco vilas, Ourem, Porto de mós, Batalha, Alpedriz e Aljubarrota, e uma Póvoa a que intitulam vila de Monte Real por privilégios de EIRey D. Denis que naquele assistiu e a Rainha Santa Izabel, onde ainda aparecem ves­tígios do Paço, que na mesma edificou uma ermida dedicada à mesma Rainha Santa.

Diz ainda que é tradição desta Póvoa que, assistindo nela, o dito Rei mandou semear todos os matos que havia desde a lagoa da Sapinha, até ao lugar da Vieira, de pinhões bravos, região que constitue hoje uma das grandes propriedades dos reis de Portugal, e chamam-lhe o Pinhal de Elrei. 'Tem de comprido 3 léguas grandes, da lagoa da Sapinha até ao dito lugar da Vieira e de largo légua e meia começando no lugar da Marinha até ao mar com o qual confronta. Tem por dentro vários ribeiros entre os quais o maior se chama de Moel que

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principia na dita lagoa, e se vai meter no mar no sítio onde chamam o Cabo, que dista meia légua do sítio de S. Pedro de Moel, Ermida a que concorre muita gente em romaria.

A folhas 47 diz que a vintena da Marinha é situada ao sul, com 5o vizinhos, onde há uma igreja da N. S. do Rosá­rio, a aldeia da Garcia ao norte com 3o vizinhos, com uma capela de Santa Barbara, o lugar de S. Pedro de Muel com uma igreja do mesmo santo junto ao mar, com 4 vizinhos, uma aldeia chamada Marinha Pequena ao nascente com 24 vizinhos.

Diz mais que a vintena da Moita está ao sul e tem 11 vizi­nhos, com uma capela de S. Silvestre; lugar da Martingança ao nascente, com 13 vizinhos, lugar de Pica Sinos à mesma parte com 13 vizinhos. Lugar da Ordem ao norte com i3 vizinhos. Lugar do Torneiro ao poente com 4 vizinhos. A vintena da Vieira tem 100 vizinhos. Folha 147 v. — diz que a aldeia de Pataias tem 45 vizinhos.

Tendo verificado que já no princípio do século xvi exis­tiam várias povoações com nome de Marinha estudamos com cuidado a Carta Corográfica de Portugal de 1:100.000, daquela região, e verificamos que muito perto da curva de nível de 75 do vale do Liz se encontram 7 povoações com aquele nome:

Ao sul: Marinha Grande e Marinha Pequena.A oriente de Monte Real, Marinha João da Rua.A oriente de Monte Redondo, Marinha do Engenho.A 9 quilómetros mais ao norte, Marinha.Outros 9 quilómetros mais ao norte, Marinha das Ondas

e Marinha de Baixo.Noutros tempos a palavra comum marinha não significava,

como hoje, o local onde se faz o sal (1), mas a parte baixa, junto do mar ou do rio. A primeira vez que encontramos esta palavra aplicada a povoação é em documento de 1258 (2).

(1) Ver Portugalia Monumenta Histórica — Diplom. et chartae. Doc. n.o 341 de 1045, relativo a Leça, «damus vobis nostras salinas cum sua vita ve tallios in illa marina » e outros.

(2) In Inquisitiones (Port. Mon. Hist.) a pág. 459 referindo-se a uma povoação ao norte do Porto, a que chama marinas.

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Estes factos levam-nos a formular uma hipótese, que expli­caria a situação de tantas Marinhas. Bastava que o nível da região estivesse cêrca de 75 metros mais baixo que hoje, para todas essas povoações ficarem junto da costa.

Como a palavra marina é de origem latina, devíamos supor que as povoações existiam ou foram fundadas no tempo dos romanos, tempo em que um braço do mar chegava à actual curva de 75 metros de cota.

O Dr. Manuel Heleno no seu já citado estudo sobre anti­guidades de Monte Real, com 97 páginas, conclue que aí havia uma numerosa população neolítica, e que pelos séc. 11 e III da era de Cristo, se prestou aí culto à Deusa Fontana.

Vimos já pela moeda de Teodósio I que no séc. iv de Cristo, a região era frequentada, e teria a mesma cota de hoje, com a queda para o moinho, em S. Pedro de Moei.

Devemos porisso excluir a hipótese da região ter baixado depois do séc. iv, para estar já de novo levantada quando D. Afonso Henriques construiu o castelo de Leiria, em Terra deserta (1). Note-se que êste abaixamento teria reduzido Leiria a uma pequena ilhota.

Mesmo êste intervalo de tempo era muito curto para uma deslocação tão grande de nível, e era pouco provável que voltasse à posição anterior, como exige o moinho de S. Pedro de Moel..

Só nos fica pois o intervalo de tempo que vai entre os tempos neolíticos e o séc. II da era cristã.

Teria sido nesta altura que a região abateu, tendo os romanos que aqui chegaram, no séc. II antes de Cristo, achado a costa na actual curva de nível de 70 metros ?

Ainda durante o domínio dêste povo, até ao séc. 111 de Cristo ter-se-ia a região levantado até à altura que aproxi­madamente tem hoje.

(1) O Sr. José Saraiva (Monumentos de Portugal, Leiria) não acre­dita na autenticidade do foral de D. Afonso Henriques em que diz ter fun­dado Leiria em terra deserta, e supõe que há entre Collipo e Leiria um grande intervalo de tempo em que se perdeu a memória da cidade romana.

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Êste intervalo parece-nos também muito pequeno para tais movimentos, e teríamos de supor a região muito povoada.

Não se vê porisso meio de aproveitar esta hipótese.Tantas povoações com a mesma cota, e com o mesmo

nome, também se não pode explicar pelo acaso.Para o caso da Marinha Grande e Marinha Pequena, pode­

ríamos supor que, como relativamente a Leiria eram povoações que ficavam para o lado da costa, daí viesse a sua designação.

Há no norte do País outra povoação com o mesmo nome: uma no concelho de Espozende (já citada) e outra no de Vila Nova de Gaia, ambas perto do mar. Neste sentido emprega o Dr. Amorim Girão, no seu já citado «Esboço duma carta regional de Portugal» pág. 80 a mesma palavra — «Beira Alta e a Beira Litoral (a Serra e a Marinha, no dizer do povo)».

POPULAÇÃO DA MARINHA GRANDE

E’ interessante ver como a população da freguesia tem aumentado quási numa progressão geométrica, devido prin­cipalmente à indústria do vidro.

Depois do estabelecimento aí da fábrica de vidros em 1748 a população dobrou, devido à imigração que para aí se estabelece. Para ver como é grande a corrente imigra­tória note-se o que diz o censo da população do País em 1900 onde cêrca de 10% não nasceram na freguesia, havendo ainda 16 estranjeiros.

Resumo da população da freguesia.

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Em 1930 há :

NOTA FINAL

Durante a impressão do presente trabalho comunicou-me e Sr. Reginald Cox que se crê hoje, em virtude dos últimos estudos, que não há entre o Plaisanciano e o Astiano mais que uma diferença de facies. A ser assim, não há entre os jazigos indicados grande diferença de idade.

Devemos no entanto notar que, no nosso caso, o jazigo da Mina, indicado como astiano nos parece posterior aos outros, Este facto e a grande espessura da camada de areias que há por cima destas camadas, no Castelo da N. Sr.a da Vitória, levam-nos a supor, como atrás fica dito, que os movimentos que elevaram as ditas areias à altura que hoje teem foram relativamente recentes.

J. Custódio de Morais.

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