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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI GEOMETRIA PLANA GUARULHOS SP

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

GEOMETRIA PLANA

GUARULHOS – SP

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1

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7

2 A MATEMÁTICA NA GRÉCIA ................................................................................... 8

2.1 Origens da matemática grega ................................................................................ 8

2.2 Tales de Mileto ...................................................................................................... 9

2.3 Pitágoras .............................................................................................................. 10

2.4 Platão................................................................................................................... 11

2.5 Aristóteles ............................................................................................................ 13

2.6 Álgebra e geometria na Grécia Antiga ................................................................. 14

2.7 Euclides ............................................................................................................... 15

2.8 Arquimedes .......................................................................................................... 16

2.9 Diofante ............................................................................................................... 17

2.10 Ptolomeu .............................................................................................................. 18

2.11 Declínio da matemática grega ............................................................................. 19

2.12 Técnicas da matemática grega na sala de aula ................................................... 20

2.13 O desafio da pirâmide .......................................................................................... 20

2.14 Triângulo pitagórico ............................................................................................. 22

3 MATEMÁTICA NOS SÉCULOS XVII A XIX ............................................................. 24

3.1 As eras Bernoulli e Euler ..................................................................................... 24

3.2 A família Bernoulli ................................................................................................ 24

3.3 Leonhard Euler .................................................................................................... 28

3.4 A matemática na Revolução Francesa e no século XIX ...................................... 30

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2

3.5 Influências em sala de aula ................................................................................. 35

3.6 Interpretação do teorema do valor médio ............................................................ 35

4 DESENVOLVIMENTO DA MATEMÁTICA NO SÉCULO XX ................................... 37

4.1 A matemática entre os séculos XIX e XX ............................................................ 37

4.2 Jules Henri Poincaré ............................................................................................ 37

4.3 Conjectura de Poincaré ....................................................................................... 38

4.4 David Hilbert ........................................................................................................ 38

4.5 Matemáticos de destaque no século XX .............................................................. 40

4.6 Kurt Gödel ............................................................................................................ 40

4.7 Alan Turing .......................................................................................................... 41

4.8 As máquinas podem pensar? .............................................................................. 43

4.9 Benoît Mandelbrot ............................................................................................... 44

4.10 Quanto mede o litoral da Grã-Bretanha? ............................................................. 44

4.11 Cálculo da dimensão fractal ................................................................................. 45

4.12 A matemática do século XX na sala de aula ........................................................ 46

5 A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O ENSINO DE MATEMÁTICA ..... 49

5.1 Educação matemática e BNCC ........................................................................... 49

5.2 BNCC para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio .......... 51

5.3 Anos finais do ensino fundamental ...................................................................... 51

5.4 Ensino médio ....................................................................................................... 53

5.5 Currículo escolar e BNCC .................................................................................... 54

6 DESENVOLVIMENTO DA GEOMETRIA, ANÁLISE E ÁLGEBRA .......................... 57

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3

6.1 Desenvolvimento da geometria ........................................................................... 57

6.2 Gaspar Monge ..................................................................................................... 57

6.3 Jean Victor Poncelet ............................................................................................ 58

6.4 Princípio da dualidade e princípio da continuidade .............................................. 59

6.5 Michel Chasles .................................................................................................... 60

6.6 Cross-ratio ........................................................................................................... 61

6.7 Jakob Steiner ....................................................................................................... 61

6.8 Elipse de Steiner .................................................................................................. 61

6.9 Bernhard Riemann ............................................................................................... 64

6.10 Felix Klein ............................................................................................................ 64

6.11 Desenvolvimento da análise e álgebra ................................................................ 66

6.12 Voltando a Riemann ............................................................................................ 66

6.13 Karl Weierstrass .................................................................................................. 67

6.14 George Cantor ..................................................................................................... 67

6.15 Julius Wilhelm Richard Dedekind ........................................................................ 69

6.16 George Boole ....................................................................................................... 69

6.17 Augustus de Morgan ............................................................................................ 70

6.18 William Rowan Hamilton ...................................................................................... 70

6.19 Hermann Günter Grassmann ............................................................................... 71

6.20 Arthur Cayley ....................................................................................................... 71

6.21 James Joseph Sylvester ...................................................................................... 72

6.22 Geometria descritiva em sala de aula .................................................................. 73

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4

6.23 Elementos básicos da geometria descritiva ......................................................... 74

6.24 Método Mongeano ............................................................................................... 76

6.25 Espaços projetivos ............................................................................................... 76

7 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DE MATEMÁTICA

................................................................................................................................78

7.1 PCN: matemática no ensino fundamental ............................................................ 83

7.2 PCN: matemática no ensino médio ..................................................................... 88

7.3 Tema 1. Álgebra: números e funções .................................................................. 91

7.4 Tema 2. Geometria e medidas ............................................................................ 91

7.5 Tema 3. Análise de dados ................................................................................... 92

8 SEGMENTOS E ÂNGULOS .................................................................................... 93

8.1 Semirreta e segmento de reta ............................................................................. 93

8.2 Tipos de ângulos ................................................................................................. 96

8.3 Teoremas envolvendo segmentos e ângulos ...................................................... 99

9 POSIÇÕES RELATIVAS À INTERSEÇÃO DE DUAS RETAS .............................. 104

9.1 Interseção entre retas ........................................................................................ 104

9.2 Classificação de retas ........................................................................................ 106

9.3 Paralelismo e coincidentes ................................................................................ 106

9.4 Concorrentes e reversas .................................................................................... 109

9.5 Retas planares e coplanares ............................................................................. 111

10 ESTUDO DA RETA NO PLANO ............................................................................ 115

10.1 Equação de reta no plano .................................................................................. 115

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5

10.2 Representação de retas no plano cartesiano .................................................... 117

10.3 Retas paralelas aos eixos cartesianos .............................................................. 118

10.4 Avaliação das posições das retas em função do coeficiente angular ................ 119

11 DISTÂNCIA ENTRE PONTOS, RETAS E PLANO ................................................ 119

11.1 Dois pontos ........................................................................................................ 119

11.2 Um ponto e uma reta ......................................................................................... 120

11.3 Um ponto e um plano......................................................................................... 121

11.4 Duas retas ......................................................................................................... 121

11.5 Reta e plano ...................................................................................................... 123

11.6 Dois planos ........................................................................................................ 123

12 ÂNGULOS NO ESPAÇO ....................................................................................... 124

12.1 Retas coplanares ............................................................................................... 124

12.2 Retas reversas ................................................................................................... 124

12.3 Planos ................................................................................................................ 125

13 ÂNGULOS E INTERSEÇÕES ............................................................................... 126

13.1 Ângulo entre retas ............................................................................................. 126

13.2 Interseção entre planos ..................................................................................... 130

14 TRIÂNGULOS ........................................................................................................ 134

14.1 Triângulos e suas linhas transversais ................................................................ 134

14.2 Classificação dos triângulos .............................................................................. 135

14.3 Elementos notáveis de um triângulo .................................................................. 138

15 TEOREMAS SOBRE TRIÂNGULOS ..................................................................... 142

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6

15.1 Teorema da base média .................................................................................... 142

15.2 Desigualdade triangular ..................................................................................... 142

15.3 Cálculos e demonstrações ................................................................................. 144

16 TRIGONOMETRIA DO TRIÂNGULO RETÂNGULO ............................................. 149

16.1 Razões trigonométricas no triângulo retângulo .................................................. 149

17 POLÍGONOS ......................................................................................................... 153

17.1 O que são os polígonos? ................................................................................... 153

17.2 Polígonos convexos, côncavos e regulares ....................................................... 155

17.3 Propriedades dos polígonos .............................................................................. 155

17.4 Diagonais de um polígono ................................................................................. 156

17.5 Soma dos ângulos internos de um polígono ...................................................... 157

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 158

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7

1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de

aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar,

interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja

esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta

em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma

coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de

atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do

aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário

destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é

que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização

é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos

para as atividades.

Bons estudos!

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8

2 A MATEMÁTICA NA GRÉCIA

2.1 Origens da matemática grega

Por volta do século VI a.C., houve um elevado desenvolvimento comercial entre

o Egito e a Grécia, possibilitando que o conhecimento dos egípcios ficasse acessível aos

gregos. Assim, a matemática, nas mãos dos gregos, começava a assumir uma nova

forma (ARAGÃO, 2009).

Fonte: www.pt.sodiummedia.com.br

A matemática dedutiva passou a vigorar e muito do que sabemos hoje se deve

às descobertas e aprimoramentos dos gregos. Muitos dos pensadores que se

destacaram nessa disciplina no mundo antigo eram da civilização grega, especialmente

durante o período que vai de 800 a.C. a 336 a.C. Foi nessa época que a civilização grega

teve um elevado crescimento cultural, intelectual e cientifico, considerado por muitos

historiadores como o período de maior evolução nessas áreas. Dentre muitos pensadores

importantes dessa época, podemos citar os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, que

em torno de 400 a.C. chamavam a atenção com suas ideais e pensamentos (ZANARDINI,

2017).

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A seguir, examinaremos as contribuições de alguns pensadores importantes para

o desenvolvimento matemático em ordem cronológica, destacando Tales, Pitágoras,

Platão e Aristóteles.

2.2 Tales de Mileto

Tales, nascido na cidade de Mileto (624 a.C.–548 a.C.), uniu o estudo da

astronomia ao da geometria e da teoria dos números, fundando a chamada Escola

Ioniana. Desenvolveu um dos trabalhos mais importantes no estudo das proporções. Ele

observou que a cada instante a altura dos objetos e o comprimento de suas respectivas

sombras projetadas mantinham uma razão constante. Sendo comerciante, fazia muitas

viagens e tinha contato com muitos povos diferentes. Numa de suas viagens ao Egito, foi

desafiado a medir a altura da grande pirâmide de Quéops. Com o uso de um bastão,

aplicou seus conhecimentos sobre segmentos proporcionais, comparando a altura do

bastão e de sua sombra com a altura da pirâmide e sua sobra (ARAGÃO, 2009).

Matematicamente, Tales de Mileto desenvolveu a proporção para os segmentos de

duas retas transversais a um feixe de retas paralelas, conforme exemplifica a Figura 1.

Page 11: GEOMETRIA PLANA - ava.unifaveni.com.br

10

Nesse caso, a razão entre as medidas de dois segmentos quaisquer de uma

delas é igual à razão entre as medidas dos segmentos correspondente da outra, ou seja:

Tales de Mileto é considerado por muitos pesquisadores o criador da geometria

dedutiva, sendo a ele atribuídas as primeiras demonstrações matemáticas, incluindo os

resultados ou as tentativas de demonstração dos seguintes resultados sobre figuras

planas:

todo círculo é dividido em duas partes iguais por seu diâmetro;

os ângulos da base de um triângulo isósceles são iguais;

o ângulo inscrito em um semicírculo é reto;

quando duas retas se interceptam, os ângulos opostos são iguais;

os lados de triângulos semelhantes são proporcionais;

dois triângulos são congruentes se possuem dois ângulos e um lado iguais.

Vale lembrar que tanto a geometria quanto a aritmética praticada na

Mesopotâmia e no Egito nessa época se preocupavam apenas em resolver problemas

práticos, sem se preocupar com os princípios filosóficos matemáticos (BOYER;

MERZBACH, 2018).

2.3 Pitágoras

Pitágoras (580 a.C–500 a.C) nasceu na cidade Samos, próxima à cidade de

Mileto, e foi aluno de Tales. Após se estabelecer na cidade de Crotona, na atual Itália,

teve início a formação de uma irmandade religiosa, filosófica e científica chamada Escola

Pitagórica, onde foram abertas as portas pela primeira vez às mulheres.

Na Escola Pitagórica, em que os conhecimentos eram transmitidos de forma oral,

dava-se grande destaque aos estudos de aritmética, música, geometria e astronomia.

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11

Seus membros tinham a ideia de que o universo era aritmético e que, no fundo, todas as

coisas são números (BOYER; MERZBACH, 2018).

São atribuídas a Pitágoras a definição do ponto como unidade com posição, a

classificação dos ângulos e a concepção geométrica do espaço como entidade

homogênea, contínua e limitada. Além disso, foi o primeiro a desenhar poliedros

regulares convexos e demonstrou que não existe qualquer fração racional cujo quadrado

é dois, sendo um dos mais belos raciocínios matemáticos (ARAGÃO, 2009).

Mas talvez o trabalho mais famoso atribuído a Pitágoras seja o teorema de

Pitágoras, segundo o qual as medidas dos catetos de um triângulo retângulo, b e c, e a

medida do maior lado do triângulo, chamado de hipotenusa, representado por a, são

relacionadas pela equação:

É importante frisar que esse resultado já era conhecido na geometria da

Mesopotâmia e do Egito e que não existem evidências de que Pitágoras ou os pitagóricos

tenham trabalhado nele (MOL, 2013).

A escola de Pitágoras foi destruída após uma rebelião popular e a irmandade

pitagórica deixou de existir como um grupo organizado, mas muitos dos seguidores ainda

mantiveram seus estudos e atividades por mais dois séculos.

2.4 Platão

Por volta do século V a.C., a cidade de Atenas consolidou-se como o principal

centro econômico e cultural do mundo helênico, tornando-se referência com em seu estilo

de governo, a democracia. Nesse período, o debate público era a base para esse sistema

democrático, o que levou ao compartilhamento de conhecimento e ideias. Assim, a

primeira grande escola filosófica ateniense foi a dos sofistas, que eram professores que

vendiam seus conhecimentos e treinavam cidadãos para os confrontos verbais. Nesse

ambiente de debates verbais e assembleias públicas, a cidade de Atenas teve a maior

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contribuição para a estruturação da matemática na Grécia Antiga dada pelo filósofo

Platão (427 a.C.–347 a.C.).

A escola chamada de Academia foi fundada por Platão e durante um século

dominou a vida filosófica da cidade. A Academia pode ser considerada como o primeiro

exemplo de instituição de ensino e pesquisa de alto nível. Era uma escola destinada ao

estudo, pesquisa e ensino da filosofia e da ciência, e tinha na matemática sua principal

disciplina, sendo considerada indispensável para a formação intelectual do cidadão.

Dessa forma, a Academia se tornou o centro dos trabalhos matemáticos mais importantes

do seu tempo, apesar de não se ter provas de contribuições técnicas de Platão para a

matemática (MOL, 2013).

Segundo o autor, Platão foi influenciado por Pitágoras na visão de como a

matemática estruturava o universo, porém diferenciava-se na concepção geométrica,

contrastando com a concepção aritmética pitagórica. Para Platão, a matemática era um

domínio autônomo e autossuficiente, cujas verdades podem ser conhecidas a priori,

independentemente dos sentidos. Essa maneira de pensar influenciou a própria

concepção de demonstração, pois apenas o uso do raciocínio dedutivo passou a ser

permitido, não sendo admitido o recurso à experiência sensível.

Para Platão, os objetos sensíveis são suscetíveis a mutações, enquanto seus

modelos abstratos são imutáveis, eternos e universais. Assim, exigia-se na matemática

o uso do método analítico das demonstrações com a identificação clara da tese que se

deseja provar.

Platão criou novos modelos para compreender e desenvolver a estrutura e a

natureza da matemática. Sabia do caráter abstrato dos objetos matemáticos ao distinguir

o “mundo real”, onde vivem os objetos sensíveis, do “mundo das ideias”, alcançado pela

razão. Pode-se dizer que a maior contribuição de Platão para a matemática foi a

concepção da matemática pura. Talvez pela falta de registros, muitos historiadores

acreditam que Platão era obcecado pela matemática, embora não fosse um matemático

em si, sendo muito provável que nunca tenha resolvido uma questão geométrica. Suas

contribuições à geometria estão mais no melhoramento de seu método do que em

adições a seu conteúdo. De qualquer forma, sendo considerado efetivamente um

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13

matemático ou não, é inegável que Platão contribuiu para o desenvolvimento da

matemática grega, em especial da geometria, o que levou a uma das maiores obras da

antiguidade, os Elementos de Euclides (BICUDO, 1998).

2.5 Aristóteles

Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) estudou e trabalhou na Academia de Platão, sendo

considerado seu discípulo mais famoso. Em sua trajetória, Aristóteles foi professor de

Alexandre, o Grande, e professor de outro futuro rei, que teve um papel importante na

ciência do mundo clássico, Ptolomeu Sóter. Em suas concepções matemáticas,

Aristóteles discordava de seu mestre em relação à natureza da matemática e de seus

objetos. Acreditava que as formas geométricas e numéricas não existem como entidades

independentes do mundo real, ou seja, os objetos matemáticos existem como abstração

dos objetos reais, mas sua existência depende da existência do próprio objeto. Ao

contrário da visão racionalista de Platão, Aristóteles tinha uma visão empirista, segundo

a qual os elementos matemáticos têm vida independente no “mundo das ideias” (MOL,

2013).

Aristóteles entendia a matemática como uma ciência dedutiva, como um edifício

estruturado por verdades encadeadas por relações lógicas, fundado sobre alguns

pressupostos básicos não demonstrados. Para Aristóteles, era fundamental produzir um

discurso capaz de explicá-lo de acordo com certas regras, estabelecidas por meio da

lógica formal, criada e sistematizada por ele mesmo. Esse modelo de lógica, chamado

de modelo aristotélico, dominou o Ocidente até meados do século XIX, quando foi

incorporado à lógica formal moderna (MOL, 2013).

Conforme explica Mol (2013), entre seus estudos, Aristóteles analisou a noção de

infinito, distinguindo infinito atual e infinito potencial. Além disso, contribuiu para as

noções matemáticas fundamentais, como de axioma, definição, hipótese e

demonstração.

Aristóteles (Figura 2) fez uma síntese organizada de todo o saber do seu tempo,

interessando-se pela matemática como método de raciocínio e formulando o primeiro

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14

sistema de lógica. Contudo, tampouco produziu resultados ou teorias matemáticas ele

próprio. Seja como for, suas contribuições acabaram influenciando como a matemática

seria construída nos séculos seguintes (MOL, 2013).

2.6 Álgebra e geometria na Grécia Antiga

No século IV a.C., Felipe II da Macedônia conquistou a Grécia, dando fim à

autonomia e à democracia das cidades gregas. Seu filho, Alexandre, o Grande, expandiu

e unificou o império, chegando a conquistar desde a atual Grécia até o Afeganistão,

passando pela Turquia e Oriente Médio. Quando conquistou o Egito, Alexandria acabou

se tornando o centro intelectual do mundo. Após a morte de Alexandre, em 323 a.C.,

Ptolemeu Sóter (323 a.C.–283 a.C), que era um cientista grego e um de seus generais,

estabeleceu-se como rei do Egito, dando início a uma dinastia (MOL, 2013).

Nesse momento da história, Ptolemeu Sóter fundou a Escola de Alexandria, com o

intuito de proporcionar um ambiente favorável ao saber, onde a cultura grega e cultura

egípcia viriam a se ligar, sendo lar de alguns dos maiores matemáticos da Antiguidade,

como Euclides e Arquimedes, entre outros (ARAGÃO, 2009).

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Segundo Mol (2013), o sistema de funcionamento da Escola de Alexandria era muito

semelhante ao das nossas universidades atuais. Muitos estudiosos iam para a Escola de

Alexandria fazer pesquisas, pois o local possuía uma biblioteca que chegou a ter 700 mil

rolos de papiro em seu acervo, proporcionando um status para a cidade de metrópole

intelectual da época. Assim, é nesse cenário que veremos alguns dos ilustres

matemáticos que viriam a contribuir para a evolução da matemática, como Euclides, que

foi escolhido para ser chefe do departamento de matemática da Escola de Alexandria,

além de Arquimedes, Diofante e Ptolomeu.

2.7 Euclides

O livro Elementos, escrito pelo matemático grego Euclides em Alexandria, por volta

de 300 a.C., é um tratado matemático e geométrico composto por 13 livros. A obra trata

da geometria plana conhecida da época, da teoria dos números, dos incomensuráveis e

da geometria espacial, sendo considerado a mais brilhante obra matemática grega e um

dos textos que mais influenciaram o desenvolvimento da matemática e da ciência em

todos os tempos (MOL, 2013).

Nele, são abordados aspectos da geometria plana ou, como ficou conhecida,

geometria euclidiana plana, segundo um processo já dedutivo, sem nenhuma

preocupação com aplicação em situações reais ou práticas. Euclides definiu objetos

geométrico cujas propriedades desejava estudar, totalizando 23 definições. Temos como

exemplo as definições de ponto, reta, círculo, triângulo, etc.

O método utilizado por Euclides é o método axiomático. Esse método consiste em

mostrar que uma afirmação é verdadeira por meio de outra afirmação que se acredita ser

verdadeira. Assim, se quisermos provar que P1 é uma afirmação verdadeira, utilizamos

uma afirmação P2 que seja verdadeira, e mostramos logicamente, por P2, que P1 é

verdadeira. Nesse processo, existem duas condições que devem ser cumpridas para que

uma prova esteja correta:

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aceitar como verdadeiras certas afirmações, chamadas de axiomas ou

postulados, sem a necessidade de prova;

saber como e quando uma afirmação segue logicamente de outra.

Assim, os axiomas podem ser entendidos como afirmações que foram tantas vezes

provadas na prática que é muito pouco improvável que alguém duvide delas. No trabalho

de Euclides, com apenas cinco postulados ele foi capaz de deduzir 465 proposições,

muitas com alto grau de complexidade e não intuitivas (ZANARDINI, 2017).

Sobre a vida de Euclides pouco se sabe, apenas que viveu no século III a.C. em

Alexandria e que foi um dos estudiosos que trabalhou no museu da cidade.

2.8 Arquimedes

Após Euclides, outro importante matemático grego foi Arquimedes (c. 287 a.C.–212

a.C.), que nasceu e viveu na cidade de Siracusa, na Sicília, mas estudou em Alexandria.

Sua obra apresentava o rigor que a matemática exigia com a preocupação para a

aplicação. Arquimedes foi muito conhecido entre os gregos por suas invenções. As

máquinas de guerra que construiu, usadas para defender a cidade de Siracusa, eram

famosas. Pode-se dizer que foi um pioneiro na área da física e da mecânica teórica. Em

sua obra que trata do equilíbrio do plano, escreveu de maneira de formal e com estrutura

semelhante à dos Elementos de Euclides, partindo de definições e postulados simples

para chegar a resultados mais complexos. Foi Arquimedes quem descobriu a primeira lei

da hidrostática. Na sua obra Sobre corpos flutuantes, prova duas proposições que

compõem o chamado princípio hidrostático de Arquimedes, que afirma que, quando um

corpo é mergulhado em um fluido, recebe um empuxo de intensidade igual ao peso do

volume de água deslocado (ZANARDINI, 2017).

Também contribuiu para o desenvolvimento de métodos rudimentares de cálculo

diferencial e integral em estudos relacionados à geometria espacial sobre esferas,

cilindros e cones. No seu trabalho chamado Sobre a medida do círculo, avaliou a razão

entre a circunferência e o diâmetro de um círculo. Começou com um hexágono regular

inscrito e um hexágono circunscrito a um determinado círculo, para então ir

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progressivamente dobrando o número de lados, até chegar a um polígono de 96 lados.

Como resultado de seus cálculos, chegou a uma aproximação de π com enorme precisão

para a época: 3,1408 < π < 3,1428 (MOL, 2013).

No início do século XX, foi descoberto um dos mais importantes tratados de

Arquimedes, chamado de O método. Nele, há uma série de cartas escritas por

Arquimedes ao matemático Erastóstenes de Cirene, que era chefe da Biblioteca de

Alexandria. Nessa obra, Arquimedes comenta que a existência de indicações sobre a

validade de um resultado facilitaria sua demonstração. Essas indicações eram obtidas

por meio de investigações mecânicas, ou seja, pesos teóricos dos objetos matemáticos

envolvidos, em que uma prova rigorosa deveria ser construída pelo método geométrico

tradicional (MOL, 2013).

2.9 Diofante

Vários estudiosos da matemática acreditam que Diofante de Alexandria viveu no

século III a.C., mas seu período de vida não é preciso. Pouco se sabe sobre sua vida

com exatidão, apenas que morreu aos 84 anos, fato que foi descrito em um poema da

antologia grega que serviu de epitáfio a Diofante. Das obras de Diofante, a mais

importante é intitulada Aritmética, um tratado analítico de teoria algébrica dos números,

composta de 13 livros. É bem provável que o a obra Aritmética seja uma compilação e

sistematização dos conhecimentos da época, assim como os Elementos de Euclides. Tal

obra possui problemas de aritmética com enunciados abstratos e gerais, sendo os dados

numéricos especificados apenas a posteriori. Já na resolução desses problemas, não

utiliza as referências geométrica, diferenciando-se assim da álgebra geométrica grega

tradicional.

De certa forma, é um trabalho muito diferente dos demais trabalhos gregos da

época, pois não apresenta uma exposição sistemática de proposições, apenas uma

centena de problemas formulados em termos de exemplos, cujas demonstrações são

apenas ilustrações, em alguns casos particulares concretos (MOL, 2013).

Page 19: GEOMETRIA PLANA - ava.unifaveni.com.br

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Entre os assuntos abordados por Diofante, estão as chamadas equações

indeterminadas, cujos coeficientes, assim como suas soluções, eram sempre números

racionais positivos, quase sempre inteiros. Desse modo, não tinha preocupação na

obtenção de soluções gerais, apenas buscava soluções particulares com exemplos

numéricos. Diofante incorporou símbolos, notações e abreviações em seus trabalhos,

contribuindo para o primeiro passo da álgebra simbólica, que seria desenvolvida apenas

no século XVII, sobretudo por René Descartes. Muitos estudiosos consideram Diofante o

pai da álgebra, mas avaliando seus trabalhos talvez seja mais adequado tratá-lo como

precursor da moderna teoria dos números, que deslancharia com o trabalho de Fermat

no século XVII (BOYER; MERZBACH, 2018).

2.10 Ptolomeu

Cláudio Ptolomeu (90 d.C.–168 d.C.), também conhecido como Ptolomeu de

Alexandria, foi um astrônomo, geógrafo e matemático de origem grega. Nasceu em

Ptolemaida Hérmia, no Egito, na época de domínio romano. Foi um importante cientista

grego, contribuindo de forma significativa nas áreas da matemática, geografia,

cartografia, astrologia, astronomia, óptica e teoria musical. Também vale ressaltar que

não possui parentesco com os reis da dinastia ptolemaica (MOL, 2013).

Ptolomeu se esforçou muito para sintetizar os trabalhos de seus antecessores e

também escreveu uma série de trabalhos matemáticos, mas foram as teorias sobre

trigonometria esférica e sobre o movimento do Sol e da Lua e a catalogação dos corpos

celestes que o tornaram reconhecido. Escreveu um tratado astronômico e matemático

sobre o movimento estelar e planetário segundo um modelo geocêntrico do universo,

tornando-se um dos textos científicos de maior influência de todos os tempos. Esse

tratado é composto por 13 livros, sob o título de Síntese Matemática, mas ficou conhecido

como Almagesto, que em árabe significa “o maior”, destacando-se de outros tratados de

astronomia. Nele, Ptolomeu mostra o conceito da esfericidade do céu e a descoberta da

forma esférica da Terra, aplicados à geometria do círculo e da esfera, contribuindo

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19

significativamente para trigonometria da Antiguidade e criando ferramentas que dariam

suporte para lidar com essa geometria.

De acordo com Mol (2013), Ptolomeu estendeu os trabalhos de Hiparco e de

Menelau, criando uma maneira de calcular as cordas subentendidas por arcos de um

círculo. Na Grécia, já se fazia uso da divisão de um círculo em 360°, mas a prática foi

incorporada de vez por Ptolomeu. Também construiu uma tabela de cordas de arcos,

com os ângulos variando de 0,5° a 180°, em intervalos de 0,5°. Essa tabela de cordas

serviria de referência para os astrônomos por mais de mil anos. O que Ptolomeu construiu

é equivalente a construir uma tabela de senos de 1/4° a 90° e, uma vez que cos θ = sen

(90° − θ), indiretamente também fornecia uma tabela de cossenos.

2.11 Declínio da matemática grega

Com o início do domínio romano no Egito por volta de 30 a.C., temos o fim da

dinastia ptolemaica. Quando Roma assumiu a administração da região, houve uma série

de conflitos sociais, fazendo com que o progresso do conhecimento científico ficasse

adormecido. Alguns matemáticos, como Ptolomeu de Alexandria, atuaram nesse período,

mas sem o apoio de seus antigos patronos. O último tratado matemático significativo que

se tem registro da Antiguidade Clássica, chamado de Coleção, foi escrito por Papos de

Alexandria, em torno de 320 d.C. Junto com o domínio do Império Romano, o cristianismo

vinha crescendo e dificultando ainda mais a produção científica.

O imperador romano Teodósio I publicou no ano 391 d.C. um decreto que bania o

paganismo. A Biblioteca e o Museu de Alexandria, sendo considerados templos pagãos,

tiveram seu fechamento ordenado. O imperador romano do Oriente, Justiniano, acusou

a escola de Atenas de ensinar uma filosofia pagã que ameaçava o cristianismo, sendo

fechada em 529 d.C. Assim, muitos filósofos fugiram de Atenas e se exilaram na Pérsia,

o que foi um marco para o fim do desenvolvimento da matemática grega da Antiguidade

(MOL, 2013).

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2.12 Técnicas da matemática grega na sala de aula

Ao examinarmos a história da matemática, podemos perceber a evolução dessa

ciência. A matemática não é uma ciência pronta e acabada, e muitos alunos, por exemplo,

se enganam quando veem a matemática como um mero monte fórmulas. Com a ajuda

da história da matemática, é possível transpor essa barreira e promover uma

aprendizagem para os alunos que faça mais sentido. Nesta seção, serão apresentadas

duas técnicas da matemática grega antiga que podem ser usadas em sala de aula para

os alunos de ensino básico, dando uma ideia de como os matemáticos da época

pensavam e como aplicavam os conhecimentos matemáticos (MOL, 2013).

2.13 O desafio da pirâmide

Tales de Mileto, em uma de suas viagens ao Egito, foi desafiado a medir a altura da

grande pirâmide de Quéops. Com o uso de um bastão, aplicou seus conhecimentos sobre

segmentos proporcionais, comparando a altura do bastão e da sua respectiva sombra

com a altura da pirâmide (Figura 3). Dessa forma, Tales estimou que a altura da pirâmide

de Quéops era de 158,8 metros. Originalmente, a altura da pirâmide era de 146,5 metros,

mas com o passar do tempo e devido à erosão e a vandalismos, sua altura hoje é de

138,8 metros.

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21

Podemos aplicar esse mesmo conceito pedindo para os alunos de uma turma

determinarem a altura de um poste usando apenas um bastão (MOL, 2013). Em certo

momento do dia, o poste projeta uma sombra de um certo comprimento. Fixando o bastão

próximo ao poste, podemos notar que este também fará uma sombra (Figura 4).

Comparando a altura do bastão e de sua sombra com a altura do poste e de sua

sombra, aplicamos o teorema de Tales, que determina que altura do poste está para o

tamanho da sombra do poste assim como a altura do bastão está para o tamanho da

sombra do bastão. Matematicamente, temos:

Fazendo as medições do tamanho de cada sombra e altura do bastão, consegue-

se chegar à altura aproximada do poste — aproximada pois há os erros que podem ser

cometidos ao realizar as medições, podendo ser de milímetros. Está é uma tarefa fácil e

que pode ser explorada em sala de aula sem a exigência de recursos sofisticados. O

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22

aluno pode perceber que Tales de Mileto, mediante um processo matemático e uma

forma simples, conseguiu medir a altura de uma pirâmide colossal por volta do ano 600

a.C.

2.14 Triângulo pitagórico

Talvez a maioria dos estudantes já tenha ouvido falar do famoso teorema de

Pitágoras. Pitágoras e seus discípulos, os pitagóricos, abordavam entre seus estudos a

matemática (MOL, 2013). Na área de figuras, uma delas está relacionada ao triângulo

retângulo, importante figura, que tem inúmeras aplicações no nosso cotidiano. Pode-se

mostrar o teorema de Pitágoras já no ensino fundamental com a demonstração por

semelhança de triângulos ou com a demonstração de Perigal, em que a ideia de que a

soma de quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa é demonstrada com

o recurso geométrico das áreas. Também pode-se utilizar um dos triângulos retângulos

mais conhecidos, chamado triângulo pitagórico, que possui os lados medindo 3, 4 e 5

unidades, e que sempre formará um triângulo com um dos ângulos retos (Figura 5).

A atividade que se propõe é pedir para os alunos traçarem uma linha reta que

seja ortogonal a uma das paredes da sala usando um barbante. Primeiro, deve-se dar

nós no barbante espaçados a distâncias iguais. Ao todo, devemos fazer 13 nós. Com

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23

esse barbante, desenhamos a forma de um triângulo, no caso um triângulo pitagórico

com os lados 3, 4 e 5 unidades (Figura 6).

Dessa forma, basta colocar o lado menor do triângulo, que possui três espaços,

paralelamente à parede e formar o triângulo pitagórico, com o outro cateto com quatro

espaços, formando um ângulo de 90° com a parede. Desse modo, com material de fácil

acesso e sem muito custo é possível mostrar o triângulo pitagórico e como pode ser

utilizado na prática (MOL, 2013). É muito provável que os alunos vão gostar da

experiência, entendendo o conceito e a história por trás dele. Assim, foram apresentadas

duas técnicas da matemática grega a serem aplicadas em sala de aula como apoio ao

professor. Há muitas outras que podem ser aplicadas, ajudando na aprendizagem do

aluno. Esse olhar diferenciado para a matemática, para sua evolução e como os antigos

faziam para determinar e resolver problemas, ajuda na construção do saber e no

entendimento do assunto.

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24

3 MATEMÁTICA NOS SÉCULOS XVII A XIX

3.1 As eras Bernoulli e Euler

Os séculos XVII e XVIII estão marcados pelo estabelecimento de duas eras na

história da matemática: a era da família Bernoulli, com início no século XVII, e de

Leonhard Euler, no século XVIII. Podemos entende-las como eras devido às vastas

contribuições e avanços dos Bernoulli e de Euler em diversas áreas da matemática, que

são ensinadas e aplicadas até os dias de hoje.

O cenário da matemática no século XVII era efervescente, devido ao

desenvolvimento do cálculo diferencial e integral por Isaac Newton e Gottfried Leibniz e

pela melhor compreensão de alguns processos envolvendo o infinito, como as séries

infinitas e o limite. Além disso, os avanços eram descentralizados geograficamente, isto

é, encontramos ao longo desse período matemático influentes em diversos países

europeus, como França, Alemanha, Inglaterra, Suíça e Holanda. Mais do que isso, a

grande maioria desses pensadores estava em constante comunicação. Esse contexto

favoreceu o surgimento das importantes eras dos Bernoulli e de Euler, e por que não

dizer o estabelecimento do que chamamos de era moderna da matemática.

3.2 A família Bernoulli

A família Bernoulli ficou conhecida por possuir diversos matemáticos renomados

e influentes. De fato, cerca de 12 membros da família tiveram contribuições significativas

na matemática ou em áreas correlatas, como a física. A família se estabeleceu na

Basiléia, Suíça, em 1576, após fugir dos Países Baixos devido a perseguições religiosas

(BOYER; MERZBACH, 2018).

Na primeira geração de matemáticos da família, estão os irmãos Jacques

Bernoulli (1654–1705) e Jean Bernoulli (1667–1748). O mais velho, Jacques, mergulhou

no estudo do cálculo infinitesimal por meio da leitura de artigos de Leibniz, além de obras

dos ingleses Isaac Barrow (1630–1677) e John Wallis (1616–1703). Devemos a ele o

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25

termo “integral” na linguagem do cálculo, termo que sugeriu a Leibniz e que foi adotado

pelo alemão.

Após certo tempo, Jacques Bernoulli já estava contribuindo para o cálculo com

publicações na Acta eruditorum, a revista matemática que Leibniz ajudou a fundar e na

qual publicava frequentemente. Apesar de seu interesse pelo cálculo infinitesimal e por

séries infinitas, Jacques Bernoulli obteve avanços em diversas áreas. Uma desigualdade

importante na matemática, conhecida como desigualdade de Bernoulli, foi desenvolvida

por ele:

Vamos analisar a desigualdade de Bernoulli para o caso particular em que n = 2,

isto é:

Observe que essa desigualdade em particular pode ser verificada expandindo-se

o termo do lado esquerdo da desigualdade (quadrado d da soma), ou seja:

uma vez que

O gráfico exibido na Figura 1 mostra a desigualdade de Bernoulli para n = 3.

Observe que a curva está acima da curva

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26

Além de diversas publicações no Acta eruditorum, Jacques Bernoulli escreveu

um influente tratado, o Ars conjectandi (A arte de conjecturar) (Figura 2), que foi publicado

postumamente em 1713 e que aborda problemas de contagem envolvendo permutações

e combinações e principalmente problemas relacionados à teoria das probabilidades.

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Nessa obra aparece um importante teorema da área, chamado de lei dos grandes

números, que enuncia que, se um evento com probabilidade de ocorrência p ocorre m

vezes em uma sequência de n experimentos, então:

Isto é, a probabilidade da frequência relativa de ocorrências deste evento tornar-

se arbitrariamente próxima da probabilidade p à medida que o número de experimentos

aumenta tende a 1, ou seja, 100%. Na área de equações diferenciais, Jacques Bernoulli,

em parceria com seu irmão Jean e com Leibniz, contribuiu para o desenvolvimento da

hoje conhecida equação de Bernoulli:

onde p(x) e g(x) e são funções quaisquer de x. A solução proposta para essa equação

consiste na transformação v = y1-n. A equação obtida ao substituir tal transformação na

equação diferencial original é linear, e portanto, passível de solução pelo método do fator

integrante, por exemplo.

O irmão de Jacques, Jean Bernoulli, também obteve resultados importantes na

matemática. Escreveu livros didáticos sobre cálculo diferencial e integral e, enquanto

esteve em Paris, ensinou esse então novo ramo da matemática para um marquês, que

possuía grande interesse pela área, o marquês de L’Hospital (1661–1704). Além dos

ensinamentos, Jean Bernoulli enviava ao marquês artigos e descobertas recentes da

matemática. Numa dessas descobertas feitas por Jean Bernoulli está a conhecida regra

de L’Hospital, extremamente utilizada no cálculo diferencial. Se f(x) e g(x) são

diferenciáveis em x = a e f(a) = g(a) = 0, então:

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Caso o limite do lado direito da equação exista. Logo, a regra de L’Hospital é

amplamente aplicada em problemas envolvendo indeterminações no cálculo de limites.

Essa regra foi colocada por L’Hospital em seu livro Analyse des infinement petit,

publicado em 1696 e considerado o primeiro livro didático impresso de cálculo diferencial.

Os filhos de Jean Bernoulli, Nicholas (1695–1726), Daniel (1700–1782) e Jean II (1710–

1790) também se tornaram professores de matemática, com destaque para Daniel

Bernoulli, que fez importantes avanços em hidrodinâmica (princípio de Bernoulli), na

teoria das probabilidades, entre outras áreas, quando professor da Academia de Ciências

de São Petersburgo, na Rússia.

3.3 Leonhard Euler

Considerado um dos matemáticos mais produtivos da história, com mais de 500

artigos publicados em diversas áreas, o suíço Leonhard Euler (1707–1783) (Figura 3)

influenciou gerações com o desenvolvimento e a fundamentação da análise matemática.

Sua obra Introductio in analysin infinitorum, de 1748, é considerada a fonte inicial dos

fundamentos da análise e proporcionou o avanço da área posteriormente por outros

matemáticos.

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Euler estudou com Jean Bernoulli e fez grandes amizades com seus filhos

Nicholas e, principalmente, Daniel. Tinha imensa habilidade em outras áreas do saber,

como medicina, línguas, astronomia e teologia.

Tais conhecimentos permitiram sua entrada na cadeira de medicina da Academia

de São Petersburgo, na Rússia, onde os irmãos Nicholas e Daniel Bernoulli estavam

trabalhando, porém como professores de matemática. Certo tempo depois, Euler

conseguiu transferência para a cadeira de filosofia natural da academia. Construiu grande

reputação na instituição e em toda a Europa, onde ganhou diversas premiações

acadêmicas.

Fez parte da Academia de Berlim a convite de Frederico, o Grande, onde ficou

por 25 anos, até retornar à Rússia. Mesmo com graves problemas de visão, que o

levaram à completa cegueira, Euler permaneceu produzindo e pesquisando até sua

morte, em 1783 (FLOOD; WILSON, 2013).

A influência de Euler já é evidente com as notações matemáticas definidas por

ele e utilizadas até os dias de hoje. Para citar alguns exemplos, a utilização da letra grega

∑ para representar somatórios, a notação f(x) para funções da variável x, a aplicação de

letras maiúsculas para ângulos internos de um triângulo e minúsculas para seus lados,

além da letra i para unidade imaginária de um número complexo.

Por fim, a definição da letra e para a base dos logaritmos naturais, constante

conhecida como número de Euler. Com essas notações, pode-se estabelecer a famosa

identidade de Euler:

Que relaciona alguns dos números mais importantes da matemática, como 0, 1 e

π, e ainda apresenta todo um leque de operações básicas, incluindo soma,

potenciação, multiplicação e igualdade. Como já mencionado, uma das principais

contribuições de Euler foi a fundamentação da análise matemática, que estuda

processos e metodologias associados ao infinito, como o comportamento de

sequências, limites de funções, convergência de séries infinitas, entre outros.

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De fato, com o avanço da análise, diversos resultados oriundos do cálculo

diferencial e integral foram formalmente demonstrados com ferramentas da análise. A

família Bernoulli e Leonhard Euler foram os personagens principais de uma era na

matemática. Entretanto, diversos matemáticos importantes foram contemporâneos

dos Bernoulli e de Euler, responsáveis por grandes avanços em áreas como cálculo

diferencial e integral, análise matemática e teoria dos números.

Nesse âmbito, podemos destacar Colin Maclaurin (1698–1746), Brook Taylor

(1683–1731) e Michel Rolle (1652–1719) com importantes trabalhos no cálculo,

Gabriel Cramer (1704–1752) e Jean Le Rond D’Alembert (1717–1783) na álgebra e

Alexis Clairaut (1713–1765) nas equações diferenciais (BOYER; MERZBACH, 2018;

ROONEY, 2017).

3.4 A matemática na Revolução Francesa e no século XIX

O período da Revolução Francesa, no final do século XVIII, trouxe vários grupos

de matemáticos responsáveis por avanços em diversas áreas, principalmente na própria

França. Matemáticos como Lagrange, Laplace, Legendre, entre outros, são

personalidades tanto na matemática quanto, alguns deles, na revolução em si.

Nesse período, os matemáticos começam a propor maior rigor e formalidade no

pensamento matemático, o que se solidificou principalmente no século seguinte Joseph-

Louis Lagrange (1736–1813), italiano, mas com ascendência francesa, contribuiu

significativamente para o cálculo diferencial e integral. Formulou o teorema do valor

médio, que enuncia que, se uma função f é contínua em [a, b] e diferenciável em (a, b),

então existe tal que:

Além disso, Lagrange propôs a utilização dos atualmente conhecidos

multiplicadores de Lagrange para obtenção de máximos e mínimos de funções com

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31

restrições em seu domínio, além de ter sido o autor do método da variação de parâmetro

na resolução de equações diferenciais lineares não homogêneas. Ficou conhecido pela

elegância de seus métodos, além da preocupação com o rigor analítico de suas

proposições.

Assim como Lagrange, o francês Adrien-Marie Legendre (1752–1833) foi

importante no cálculo, por meio de estudos em equações diferenciais, integrais elípticas

e na escrita do tratado Exercices du calcul integral, produzido entre 1811–1819, com

grande impacto na análise matemática. O formalismo e o rigor matemático defendidos

por Lagrange também são encontrados em Legendre, cuja obra Éléments de géometrie,

de 1794, ficou famosa pela clareza e pelo rigor aplicados nos conceitos abordados

(BOYER; MERZBACH, 2018).

O século XVIII foi marcante pelos primeiros desenvolvimentos na teoria das

probabilidades, com participações fundamentais dos franceses Abraham De Moivre

(1667–1754) e Pierre-Simon Laplace (1749–1827) (Figura 4).

O primeiro foi o autor da influente obra Doctrine of chances, de 1718, com

abordagem em diversos problemas probabilísticos envolvendo jogos de dados e retiradas

de bolas em urnas, além de estabelecer uma teoria para permutações e combinações.

Segundo Boyer e Merzbach (2018), foi o primeiro a trabalhar com a expressão

da curva gaussiana ou distribuição normal

Que também fora estudada por Laplace e utilizada por Gauss na sua teoria dos

erros. Laplace, inclusive, foi o autor de diversos artigos na área de teoria das

probabilidades. Reuniu seus resultados na obra Théorie analytique des probabilités, de

1812, considerada clássica na área. Por fim, escreveu Essai philosophique des

probabilités, de 1814, em que considera toda a teoria desenvolvida sobre a área até

então, além de introduzir o assunto para o público leigo.

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A matemática do século XIX evoluiu tanto em aspectos técnicos — com o

surgimento de novos conceitos, como geometria não euclidiana, espaços n-dimensionais

e álgebras não comutativas — quanto em aspectos filosóficos, em que o rigor lógico-

dedutivo passava a ter papel central nas demonstrações dos resultados. A matemática

pura recebeu mais atenção, com maiores incentivos à pesquisa e à divulgação. Foi esse

o século que testemunhou o auge de Gauss, considerado o principal matemático do

período.

Carl Friedrich Gauss (1777–1855) nasceu na Alemanha e desde criança já

demonstrava habilidades com a matemática. Pesquisas importantes na geometria, na

álgebra e na teoria dos números foram conduzidas, com resultados de destaques obtidos

por Gauss ainda jovem.

Apresentou demonstrações do teorema fundamental da álgebra, que afirma que

uma equação de grau n possui exatamente n raízes (reais ou complexas). Descobriu o

famoso método dos mínimos quadrados, fundamental na estatística, por ser um método

de otimização que visa obter a melhor aproximação ou, em linguagem estatística, melhor

ajuste, considerando a minimização da soma dos quadrados das distâncias entre o ajuste

e as observações (ROONEY, 2017).

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Em teoria dos números, Gauss publicou a influente obra Disquisitiones

arithmeticae (Figura 6), publicada em 1801, em que reuniu diversos avanços na área

obtidos por matemáticos como Euler, Lagrange e Legendre, além de resultados

alcançados por ele mesmo (ROONEY, 2017).

Em teoria de probabilidades, Gauss aplicou a curva hoje conhecida como curva

gaussiana ou distribuição normal, apresentada na Figura 7, para modelar erros de

medição em dados astronômicos. Postulou que a frequência dos erros distribuía-se

simetricamente ao redor de zero, que era o valor modal. A expressão analítica da curva

gaussiana já fora estudada por De Moivre e Laplace, mas sua aplicação por Gauss no

âmbito da teoria dos erros foi fundamental para seu desenvolvimento e popularidade.

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Apesar do destacado papel de Gauss na matemática do século XIX, diversos

matemáticos devem ser mencionados por suas importantes contribuições no período.

Augustin-Louis Cauchy (1789–1857), por exemplo, estabeleceu o termo “determinante”

e realizou diversos trabalhos sobre o assunto, que hoje é essencial em estudos sobre

matrizes. Entre outras contribuições, generalizou de certa forma o teorema do valor médio

no cálculo, em que, se f e g satisfazem as condições mencionadas anteriormente quando

introduzido o teorema, então:

O prussiano Carl Cristov Jacobi (1804–1851), o norueguês Niels Henrik Abel

(1802–1829) e o francês Évariste Galois (1811–1832), apesar do pouco período em que

viveram (Galois, por exemplo, faleceu em um duelo aos 20 anos), foram responsáveis

por avanços na teoria dos números, no cálculo diferencial e integral, na álgebra, entre

outras (BOYER; MERZBACH, 2018)

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3.5 Influências em sala de aula

Os avanços realizados em todas as áreas da matemática entre os séculos XVII

e XIX estão presentes atualmente nas salas de aula, a começar pelas notações, muitas

delas introduzidas por Euler no século XVIII para funções matemáticas, para a unidade

imaginária e para a base do logaritmo natural, por exemplo. As ferramentas de cálculo,

amplamente estudadas naquele período, podem ser vistas em diversos assuntos. Ao

abordar esses conceitos em sala de aula, o professor pode fazer conexões com o

contexto histórico e com os matemáticos que os desenvolveram. O exemplo a seguir

interpreta o teorema do valor médio em termos de retas secantes e tangentes (BOYER;

MERZBACH, 2018).

3.6 Interpretação do teorema do valor médio

A partir do teorema do valor médio, temos que:

Note que o lado esquerdo da equação representa o coeficiente angular da reta

secante ao gráfico da função de f que passa pelos pontos (a, f(a)) e (b, f(b)). O teorema

diz que existe um ponto (c, f(c)) cuja reta tangente ao gráfico neste ponto possui o mesmo

coeficiente angular que o da reta secante em (a, f(a)) e (b, f(b)), isto é, as retas secantes

em (a, f(a)) e (b, f(b)) e tangente em (c, f(c)) são paralelas. Para ilustrar, considere a

função:

Vamos considerar também a = 1 e b = 6. É fácil verificar que a função é contínua

e diferenciável em [1, 6]. Pelo teorema do valor médio, existe tal que:

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Esse valor c pode ser encontrado sabendo-se que f’(x) = 2x – 5. Assim:

A Figura 8 apresenta o gráfico de f com as retas secante em

, em vermelho, e tangente em em verde.

Observe que as retas são paralelas, com coeficiente angular igual a 2 pelo teorema do

valor médio (BOYER; MERZBACH, 2018).

Conceitos trabalhados no ensino básico, como matrizes, determinantes e

equações também apresentam fortes influências dos trabalhos dos matemáticos dos

séculos XVII a XIX. Os exemplos a seguir ilustram esta Por fim, o incentivo ao rigor

matemático em demonstrações e raciocínios também é fruto do período histórico

estudado nesta seção. Com os exemplos examinados, fica evidente que a matemática

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ensinada e aplicada atualmente é resultado de séculos de árduas pesquisas,

experimentos e pensamentos desenvolvidos por diversos matemáticos em várias partes

do mundo. Além disso, seus conceitos são desenvolvidos e aperfeiçoados gradualmente,

assim como ocorre na ciência de forma geral. Entender o contexto histórico do

pensamento de um dado conceito matemático é fundamental para sua completa

compreensão.

4 DESENVOLVIMENTO DA MATEMÁTICA NO SÉCULO XX

4.1 A matemática entre os séculos XIX e XX

O século XIX foi bastante fértil para a matemática, com desenvolvimento de

ideias muito originais, fundamentando novos campos de pesquisa em várias seções da

disciplina. Historicamente, o final do século foi marcado pela guerra franco-prussiana, um

evento que redundou na anexação da Alsácia-Lorena pela Prússia, na unificação da

Alemanha, na estipulação de um pesado pagamento de indenização pela França e na

ocupação de territórios franceses por forças alemãs, com a manutenção de um processo

de enfrentamento que levou às duas guerras mundiais já no século XX (CONSTANT,

2020). No campo da matemática, vamos conhecer as atividades da virada daquele

século, examinando a trajetória de dois gênios: Jules Henri Poincaré e David Hilbert

4.2 Jules Henri Poincaré

Poincaré nasceu em Nancy, França, em 1854, filho de um médico que lecionava

na faculdade de medicina da cidade. Formou-se em engenharia, partindo em seguida

para o doutorado em matemática, abrindo as portas para a docência, lecionando

probabilidade, mecânica celeste, análise e astronomia (HENRI..., [2021]).

Seus trabalhos iniciais foram dedicados à teoria das equações diferenciais (criou

um método geral de resolução), à teoria geral das funções analíticas de uma ou duas

variáveis, bem como a mecânica analítica, mecânica celeste, álgebra e teoria dos

números e teoria das funções fuchsianas, que permitem expressar as soluções de

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38

qualquer equação diferencial linear por meio coeficientes algébricos e,

concomitantemente, resolver o problema da uniformização das funções algébricas

(HENRI..., [2021b? ]).

Além disso, o matemático estabeleceu a existência das funções kleinianas e

iniciou o ramo de estudo conhecido como topologia algébrica, descobrindo em uma

pesquisa sobre o sistema solar a influência das condições iniciais, tornando-se pioneiro

da teoria do caos. Poincaré morreu em 17 de julho de 1912.

4.3 Conjectura de Poincaré

A conjectura de Poincaré, datada de 1904, afirma que qualquer variedade

tridimensional fechada é topologicamente equivalente à esfera S3, que é uma

generalização de uma esfera comum para uma dimensão superior. Segundo Hosch

(2013), o próprio Poincaré mais tarde generalizou sua conjectura para qualquer

dimensão, afirmando que a n-esfera é o único espaço n-dimensional limitado que não

contém buracos, implicando que, para n = 3 voltamos à conjectura original.

Segundo Mackenzie (2006), para n = 2 a prova ocorreu no século XIX. Mais tarde,

em 1961, Stephen Smale provou que a conjectura é verdadeira para n ≥ 5, e em 1983

Michael Freedman mostrou que é verdadeira para n = 4. Finalmente, o matemático russo

Grigori Perelman provou que a conjectura de Poincaré é verdadeira para n = 3. Os três

matemáticos foram agraciados com a medalha Fields, recusada por Perelman, que

também recusou um prêmio de um milhão de dólares pela prova.

4.4 David Hilbert

David Hilbert foi um matemático alemão, nascido numa cidade famosa por sua

ligação com a história da matemática devido às suas pontes, Königsberg, em 23 de

janeiro de 1862, e morreu em outra cidade que deve muito de sua fama aos grandes

mestres da ciência que passaram por sua universidade, como Carl Friedrich Gauss, Felix

Klein, e o próprio Hilbert. Estamos nos referindo à Göttingen, onde David morreu em 14

de fevereiro de 1943 (UNIVERSITÄTSGESCHICHTE, (2021).

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39

Em 1895, Hilbert foi trabalhar em Göttingen, lecionando teoria algébrica dos

números, noções básicas de geometria, análise, física teórica e noções básicas de

matemática. Em 1900, apresentou 23 problemas no Congresso Internacional de

Matemáticos de Paris, os quais nortearam muitas buscas durante os séculos XX e XXI.

Como exemplo, podemos citar o 8º problema, que é a hipótese de Riemann

(DAVID...,2021).

Entre vários trabalhos produzidos por Hilbert, destacam-se a teoria invariante, a

criação de um método direto para provar teoremas de finitude (fundamentais para a

álgebra moderna), o teorema da irredutibilidade de Hilbert, investigações sobre a

representação de polinômios definidos como somas de quadrados, a solução das

equações de 9º grau por funções algébricas de quatro variáveis, a teoria dos campos de

números algébricos, a axiomatização da álgebra e da topologia, o resgate do princípio de

Dirichlet, o reconhecimento da importância do que hoje é denominado de espaço de

Hilbert e uma prova da conjectura de Waring (DAVID..., [2021?]).

David Hilbert propôs uma curva fractal que preenche o espaço, derivada da curva

de Peano, denominada curva de Hilbert, exibida na Figura 1.

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4.5 Matemáticos de destaque no século XX

Analisar a matemática do século XX não é tarefa simples, pois a proximidade dos

anos ainda nos leva a ter várias dúvidas sobre as principais descobertas. É possível que

nas próximas décadas (ou séculos) possa haver uma opinião discordante da nossa, até

porque novos avanços podem surgir na ciência em virtude de descobertas recentes e

aplicações que sequer imaginamos que possam existir. Nossa lista de pesquisadores

inclui Alan Turing, Kurt Gödel e Benoit Mandelbrot

4.6 Kurt Gödel

Gödel nasceu na Áustria em 1906, e tinha o apelido familiar de “senhor por quê”,

pela curiosidade que o levava a perguntar sobre diferentes assuntos. Quando entrou na

Universidade de Viena, aos 18 anos, já tinha tanto conhecimento sobre matemática que

os cursos regulares nada podiam oferecer como acréscimo, e seu se interesse ficou

concentrado na lógica matemática (QUEM..., 2018).

Antes de Gödel, havia uma opinião recorrente entre os matemáticos de que os

problemas da área seriam cedo ou tarde resolvidos, até mesmo os que constavam na

lista de 23 problemas que Hilbert apresentou no Congresso de Matemática em 1900. Em

1930, Kurt Gödel anunciou ter provado que era impossível demonstrar todas as verdades

de uma teoria, e que sempre haveria afirmações verdadeiras que não seriam passíveis

de demonstração a partir de axiomas propostos — esse é o primeiro teorema da

incompletude de Gödel (PIÑEIRO, 2017).

Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha, em 1933, a situação ficou

difícil para todos os judeus, inclusive para grandes cientistas, como Einstein e Gödel. Em

1938, Gödel teve negado uma solicitação para um cargo remunerado na Universidade

de Viena e passou a temer ser recrutado pelo exército nazista, resolvendo fugir com sua

esposa. Eles atravessaram a União Soviética pela ferrovia transiberiana e pegaram um

navio para San Francisco, nos Estados Unidos, indo em seguida se estabelecer em

Princeton, onde Gödel morreu em 1978 (KURT, c2021).

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4.7 Alan Turing

Segundo Hodges (1995), Alan Mathison Turing nasceu em 23 de junho de 1912,

e desde a infância mostrava sinais de muita inteligência, tendo oportunidade de estudar

na Sherborne School, escola de prestígio de Londres, formando-se em matemática na

Universidade de Cambridge em 1931. Em 1935, Turing começou a se dedicar a uma

questão sobre a capacidade de decisão, conhecida pelo termo alemão

Entscheidungsproblem (problema de decisão), que pergunta se poderia haver, ao menos

em princípio, um método ou processo definido capaz de decidir se qualquer afirmação

matemática é ou não demonstrável?

Para responder essa pergunta, se fazia necessário que houvesse uma definição

de método, que deveria ser precisa e convincente. Turing forneceu a resposta

expressando-a em termos de uma máquina teórica capaz de realizar certas operações

elementares precisamente definidas sobre símbolos em fita de papel, criando o conceito

chamado máquina de Turing, base da teoria da computação (HODGGES, 1995). Com o

advento da Segunda Guerra Mundial, Turing foi convocado pelas forças britânicas para

trabalhar em Bletchley Park, local onde equipes buscavam descobrir os códigos utilizados

pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

Os nazistas utilizavam uma máquina chamada Enigma (Figura 2) para transmitir

mensagens para suas tropas, e a primeira quebra do código operacional do dispositivo

aconteceu em 23 de janeiro de 1940, quando a equipe formada por Alan Turing, John

Jeffreys e Peter Twinn descobriu a chave usada pelo Exército Alemão, iniciando uma

sequência que descobriu a chave usada pela força aérea alemã e posteriormente os

sistemas italiano e japonês (BLETCHLEY PARK, 2012).

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De acordo com Mlodinow (2005), pode-se estimar que a quebra do código da

Enigma abreviou a possível duração da Segunda Guerra Mundial em dois anos. Como

morreram aproximadamente 12 milhões de pessoas por ano durante a guerra, esse

trabalho talvez tenha poupou cerca de 24 milhões de vidas. Apesar de seu heroísmo em

seu brilhante esforço de guerra, Alan Turing (Figura 3) viria a ter um destino trágico: por

ser homossexual, que era um crime na Inglaterra da época, foi forçado a um tratamento

de castração química. Aos 42 anos, Turing se suicidou, ingerindo uma maçã injetada com

cianureto, em 7 de junho de 1954.

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4.8 As máquinas podem pensar?

Essa é a pergunta que abre o artigo “Computing machinery and intelligence”, de

Turing (1950), cuja primeira parte se chama “The Imitation Game”, o jogo da imitação.

Você já deve ter ouvido falar nessa expressão, que dá título ao filme homônimo que

retrata a vida do matemático. O artigo prossegue propondo que se troque a pergunta por

um jogo, denominado jogo da imitação, que funciona assim: temos três jogadores, um

homem (A), uma mulher (B) e um interrogador (C), que homem ou mulher. C fica em uma

sala sem ver A e B, que estão em outra. C conhece os dois por códigos X e Y. A não quer

ajudar C. B quer ajudar C. Objetivo do jogo: C deve identificar quem é o homem e quem

é a mulher no final do jogo, do seguinte modo: X é A e Y é B ou X é B e Y é A.

As respostas são datilografadas e as perguntas podem ser do tipo “qual é o

comprimento do seu cabelo? ” (TURING, 1950), e os interlocutores A e B devem dar as

respostas de acordo com seu objetivo (ajudar ou não C). A partir desse cenário, Turing

estende ainda mais o potencial do jogo, se perguntando o que aconteceria se A for

substituído por uma máquina? Conseguiria enganar o interrogador por quanto tempo?

Levaria mais tempo para ser descoberto que um ser humano?

E conseguiria enganar C em algum interrogatório? No artigo, Turing supõe que

haverá um dia em que as máquinas terão capacidade para “[...] jogar o jogo da imitação

tão bem que um interrogador médio não terá mais de 70% de chance de fazer a

identificação correta após cinco minutos de interrogatório” (TURING, 1950, p. 442,

tradução nossa).

Na sequência, apresenta nove objeções à sua ideia, desconstruindo todas elas:

a teológica, “cabeça na areia”, matemática, argumento da consciência, argumentos de

várias deficiências, objeção de Lady Lovelace, argumento de continuidade no sistema

nervoso, argumento da informalidade de comportamento e argumento da percepção

extrassensorial. O artigo de Turing é a base para julgar se uma máquina pensa ou não

ainda nos nossos dias.

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4.9 Benoît Mandelbrot

Mandelbrot (1924–2010) nasceu em Varsóvia, na Polônia, mas durante a infância

sua família, devido a dificuldades financeiras, emigrou para a França. Após a invasão

alemã de 1939, instalaram-se em Tulle, pois eram judeus e essa era uma zona francesa

desocupada, um pouco mais segura, rumando mais tarde para Paris em 1944, onde

Benoit pôde cursar a École Polytechnique, indo para o Massachusetts Institute of

Technology (MIT) no período 1953–1954, para o pós-doutorado. Em 1958, foi trabalhar

na IBM, em um estágio de verão, e permaneceu por 35 anos na empresa, enquanto, em

paralelo, dava aulas na Universidade de Yale (BENOÎT..., c2021).

Mandelbrot ganhou fama trabalhando e divulgando a geometria fractal, que

mostrava graficamente uma série de estruturas matemáticas que estudou, especialmente

as variações econômicas caóticas e repentinas que se revelavam serem mais frequentes

do que era previsto. Ele lecionou até 2004, quando encerrou sua carreira como professor

emérito em Yale, morrendo em 2010 em Cambridge.

4.10 Quanto mede o litoral da Grã-Bretanha?

Para ilustrar o que são fractais, muitas vezes Mandelbrot (1998) utilizava como

exemplo o litoral da Grã-Bretanha, perguntando qual é o comprimento total da costa da

ilha. Em seguida, ele propunha medir o litoral com uma régua imaginária com a medida

de 200 milhas (cerca de 320 km), sendo preciso utilizar oito delas para completar a

mensuração, totalizando 1.600 milhas (cerca de 2.500 km). Diminuindo a graduação de

nossa régua para 25 milhas (40 km) cada uma, utilizaríamos 102 segmentos para a

medição, encontrando um comprimento final de 2250 milhas (cerca de 3.600 km). Se

obtivermos mapas locais e continuarmos a medir o litoral, o comprimento total segue

aumentando, pois conforme nos aproximamos, mais detalhes surgem. Isso acontece

porque o litoral é um fractal e sua dimensão não é um número inteiro, e sim uma fração,

estando entre 0 e 1.

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4.11 Cálculo da dimensão fractal

De acordo com Assis et al. (2008), o cálculo da dimensão fractal é feito com uso de

logaritmos, em geral, para fractais construídos recursivamente, a partir de c cópias de si

próprios. Redefinidos por um fator 1/f, teremos que a dimensão (d) é:

Como exemplo, podemos tentar calcular a dimensão da curva de Koch, exibida

na Figura 4.

Observe que a curva é construída a partir de um segmento de reta que é dividido

em três partes iguais, sendo retirado o segmento do meio, que é substituído por um

triângulo equilátero que tem sua base retirada. A figura passa por um processo de

iteração, com a repetição da regra n vezes, multiplicando-se os segmentos por 4/3, em

que três segmentos são substituídos por 4 de igual comprimento, indo para um limite

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definido por Mandelbrot como infinito interno (ASSIS et al., 2008). Aplicando a fórmula

anterior para o cálculo da dimensão d e fazendo as substituições, temos que:

Muita gente que acessa seu notebook, usa seu smartphone, assiste a um vídeo

em algum canal da web talvez nem imagine a capacidade intelectual, o talento, a

imaginação e a criatividade de matemáticos como Benoît Mandelbrot e Alan Turing, que

deram os passos teóricos que possibilitaram avanços tecnológicos definidores da nossa

sociedade, cujos hábitos e cultura estão imersos no virtual. Esse já um fato por si só com

peso considerável para admirarmos a matemática produzida no século XX, e pensar no

que ainda pode nos surpreender nos anos que vem por aí.

4.12 A matemática do século XX na sala de aula

É possível abordar conceitos de matemática do século XX em sala de aula na

educação básica, ou devemos, nesse nível do ensino, nos ater à matemática

desenvolvida até o século XIX? Alguns autores supõem que é possível mostrar um pouco

da matemática do século XX em sala de aula, inclusive porque Artur Ávila, brasileiro

ganhador da Medalha Fields em 2014, dedicou-se bastante às pesquisas sobre sistemas

dinâmicos, e seu exemplo pode servir como incentivo à população estudantil brasileira,

especialmente os mais jovens, para o estudo da matemática.

Morais (2014) defende em sua dissertação de mestrado a possibilidade de

utilização em sala de aula das descobertas matemáticas mais recentes, destacando os

sistemas dinâmicos não lineares, a teoria do caos e os fractais, argumentando que esses

temas aparecem sistematicamente na mídia, propondo uma transposição didática em

conjunto com algumas propostas de aplicações em sala de aula na educação básica.

Já Machado, Giraffa e Lahm (2011) relatam a experiência de propor um grupo de

aulas para o 9º ano do ensino fundamental, em que é utilizado o aplicativo Google Earth

para busca de imagens das geometrias euclidiana e fractal sobre a superfície da Terra.

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A dinâmica das aulas foi organizada em diversas etapas, começando por uma produção

textual, depois revisão de conceitos, buscas de informações na web, aula expositiva

sobre geometria fractal, identificação, seleção e salvamento de imagens que

apresentassem as duas geometrias, apresentação de trabalhos mostrando as

conclusões e, para finalizar, uma segunda produção textual.

Os textos serviram para dois objetivos: o primeiro era verificar os conhecimentos

prévios dos alunos sobre a geometria em geral e o segundo era realizar uma avaliação

do conhecimento construído durante a jornada de estudos. A revisão dos conceitos é

uma tarefa sempre necessária no ensino de matemática, pois, como o conhecimento

matemático progride em cima das bases já estabelecidas e provadas formalmente, não

compreender um tema pode ter consequências negativas na trajetória escolar. Nesse

caso, o importante era conhecer os axiomas e as figuras planas, com ênfase no conceito

dimensional, para poder haver compreensão das ideias de dimensão fracionária, que

embasam o estudo dos fractais. No experimento relatado, e em outros similares

executados pelos autores do artigo, é comum os alunos se depararem com informações

na internet sobre Edward Lorenz e o efeito-borboleta, tema muito explorado pela mídia,

inclusive sendo mote para inúmeros filmes, (Morais, 2014).

Em virtude dessa disponibilidade de informações, sugere-se que o professor se

prepare estudando o tema em detalhes de antemão, para poder conversar com sua

turma. Imagens com asas, por exemplo, são comuns na geração de fractais, como ilustra

a Figura 5, que mostra um atrator fractal do tipo Lorenz.

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A turma, nessa etapa, tem algumas informações sobre fractais e caos, pois

mesmo que possuísse pouca ou nenhuma informação sobre tais temas, agora já captou

algo via busca na internet, facilitando a exposição da teoria. No grupo de aulas em

questão, foi apresentado o modelo de construção da curva de Koch, que já vimos nesse

capítulo, mas sem menção aos logaritmos.

Caso as aulas sejam adaptadas para o 3º ano do ensino médio, quando se

retorna ao tema da geometria euclidiana (com axiomas e geometria espacial), é possível

apresentar o cálculo com logaritmos, aproveitando para revisar o assunto com uma

aplicação interessante.

No experimento de Machado, Giraffa e Lahm (2011), a aula seguinte foi realizada

como projeto de pesquisa no laboratório de informática da escola. Todavia, a evolução

técnica dos smartphones e dos aplicativos permite a realização do mesmo trabalho em

sala de aula, caso haja um Wi-Fi eficiente à disposição da turma e um número suficiente

de aparelhos celulares com os alunos.

Nessa fase, a ideia é procurar imagens de satélite que apresentem figuras

geométricas e figuras fractais, como telhados, recortes de litoral, etc. A etapa final do

projeto consiste na apresentação das imagens selecionadas pelos alunos e pela

confecção do texto final, a partir do qual será avaliada a aprendizagem. A matemática

apaixona pelas ideias que contém, e sua história é um desenrolar de fatos incríveis, de

descobertas, de trabalho árduo e contínuo, executado ao longo de gerações.

Nessa última sessão, apresentamos uma sugestão de aproximação da fronteira

das pesquisas em matemática com a educação básica, pois é na sala de aula das escolas

públicas e privadas que estão agora os futuros indivíduos que levarão adiante essa

história, dependendo de nós para apresentar um vasto mundo formado por números,

teorias e demonstrações.

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5 A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O ENSINO DE MATEMÁTICA

5.1 Educação matemática e BNCC

No século XXI, a educação brasileira, em especial a educação matemática,

fortemente vinculada aos moldes da educação francesa, depara-se com diversas

mudanças de paradigmas, resultantes de modificações sociais, políticas e avanços

tecnológicos (LACROIX, 2013).

Nesse cenário pós-moderno, em que diversas mídias moderam, mediam e

modelam o pensamento humano, de que serve a matemática? O que ensinar? Por que

ensinar? A educação brasileira, orientada à memorização, repetição e aplicação, não

priorizava o ensino crítico de matemática. Não significa que a criticidade fosse inexistente,

mas que por muito tempo a matemática, desde o tempo das missões jesuíticas, foi vista

como um recurso auxiliar (MONDINI, 2013).

Ao longo da história brasileira, registraram-se reformas e documentos na tentativa

de organizar nacionalmente a educação. No entanto, isso se dispersava pelo território e,

segundo Boaventura (2009), a finalidade era alimentar a máquina burocrática,

inicialmente do estado imperial em formação, gerando médicos, engenheiros militares,

etc. Durante o período imperial, por exemplo, o ensino de matemática e das demais

ciências exatas era reservado às aplicações militares. Observados os períodos da

República Velha (1889–1929), Segunda República (1893–1936), Estado Novo (1937–

1945) e República Nova (1946–1963), diversas reformas foram feitas, mas uma

característica permaneceu constante: a matemática dissociada de significado e utilizada

apenas como ferramenta para atingir outros objetivos, em vez de ser entendida como

uma construção humana decorrente das necessidades da sociedade.

Em virtude das mudanças sociais e econômicas entre os séculos XVI e XX, a escola,

a educação e, consequentemente, a educação matemática precisaram se adaptar às

novas necessidades da sociedade. Além disso, mais adaptações foram necessárias com

a evolução da tecnologia da informação, visto que memorizar, entre outras habilidades,

passou a ser redundante em face dos recursos disponibilizados. Tendo em vista as

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habilidades e competências necessárias para que um ser humano se adapte a uma

sociedade tecnológica em constante mutação, a BNCC chega a nós como um documento

norteador com a finalidade não de prescrever um currículo, mas de estabelecer

aprendizagens mínimas em todo o território nacional.

Em relação à educação matemática, a BNCC (BRASIL, 2018), dando continuidade

ao proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1998), apresenta

uma matemática historicamente construída, atrelada a seus significados, revelada como

produto cultural de uma era/sociedade e suas necessidades, integrada aos demais

conhecimentos e importante para construir uma argumentação lógica. Garantindo que as

decisões curriculares propriamente ditas sejam locais, a BNCC permite liberdade teórico-

metodológica, porque não prescreve métodos específicos.

Com a BNCC, a matemática passa a ser valorizada não apenas como ferramenta

de expressão e capacitação para outras áreas da ciência, mas também como

conhecimento per se é forma organizadora de pensamento e raciocínio.

A matemática não se restringe apenas à quantificação de fenômenos determinísticos — contagem, medição de objetos, grandezas — e das técnicas de cálculo com os números e com as grandezas, pois também estuda a incerteza proveniente de fenômenos de caráter aleatório. A matemática cria sistemas abstratos, que organizam e inter-relacionam fenômenos do espaço, do movimento, das formas e dos números, associados ou não a fenômenos do mundo físico. Esses sistemas contêm ideias e objetos que são fundamentais para a compreensão de fenômenos, a construção de representações significativas e argumentações consistentes nos mais variados contextos (BRASIL, 2018, p. 265).

O documento destaca a importância do processo hipotético dedutivo inerente à

matemática e as possibilidades de seu uso heurístico, além das experimentações que

podem ser propiciadas por ambientes e tecnologias diversas. Centra o currículo

matemático no ensino fundamental, no desenvolvimento de um conjunto de ideias

fundamentais e na articulação dessas ideias, a saber: equivalência, ordem,

proporcionalidade, interdependência, representação, variação e aproximação (BRASIL,

2018).

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5.2 BNCC para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio

A BNCC (BRASIL, 2018), por meio das competências específicas de cada

componente, define como esse componente interage com os demais e como se articulam

para que sejam atingidas as 10 competências gerais. No caso do componente

matemático, a BNCC define 10 competências para o ensino fundamental e 5

competências para o ensino médio. A seguir discutimos as peculiaridades de cada

segmento.

5.3 Anos finais do ensino fundamental

No ensino fundamental, a matemática é classificada em unidades temáticas:

números, álgebra, geometria, grandezas e medidas, probabilidade e estatística. Dentro

dessas unidades temáticas, estão dispostas competências e habilidades que, à primeira

vista, parecem específicas de cada unidade temática, porém as unidades se misturam,

aprofundando suas relações. Conforme o desenvolvimento das habilidades e o decorrer

dos anos, as competências atingem graus de complexidade mais elevados. Sem esse

conhecimento, podemos pensar que alguns objetos e habilidades apenas se repetem de

um ano a outro, mas agora sabemos que eles vão sendo aprofundados. Além disso, trata-

se também de respeitar os tempos de aprendizagem, as individualidades de cada aluno.

A BNCC estabelece as seguintes competências específicas a serem adquiridas

no componente matemático no ensino fundamental (BRASIL, 2018, p. 267):

1. Reconhecer que a matemática é uma ciência humana, fruto das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, e é uma ciência viva, que contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicerçar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo do trabalho.

2. Desenvolver o raciocínio lógico, o espírito de investigação e a capacidade de produzir argumentos convincentes, recorrendo aos conhecimentos matemáticos para compreender e atuar no mundo.

3. Compreender as relações entre conceitos e procedimentos dos diferentes campos da matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria, Estatística e Probabilidade) e de outras áreas do conhecimento, sentindo segurança quanto à

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própria capacidade de construir e aplicar conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a autoestima e a perseverança na busca de soluções.

4. Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a investigar, organizar, representar e comunicar informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos convincentes.

5. Utilizar processos e ferramentas matemáticas, inclusive tecnologias digitais disponíveis, para modelar e resolver problemas cotidianos, sociais e de outras áreas de conhecimento, validando estratégias e resultados.

6. Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, incluindo-se situações imaginadas, não diretamente relacionadas com o aspecto prático-utilitário, expressar suas respostas e sintetizar conclusões, utilizando diferentes registros e linguagens (gráficos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna e outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas, e dados).

7. Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, sobretudo, questões de urgência social, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza.

8. Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente no planejamento e desenvolvimento de pesquisas para responder a questionamentos e na busca de soluções para problemas, de modo a identificar aspectos consensuais ou não na discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles.

Comparando a BNCC com os PCNs, podemos notar diferenças não apenas

quanto à prescrição de metodologias e recursos, mas também quanto à abordagem. Em

relação à álgebra, no 8º e no 9º anos não são mais abordados métodos para resolução

de equações exaustivamente, apenas o pensamento algébrico como forma de trabalhar

situações-problema e representá-las, apresentado desde os anos iniciais. Eixos de

espaço e forma, algoritmos e fluxogramas passam a ser temas das aulas de geometria

para identificação e classificação de figuras, verificação de regularidades e diferenciação.

Construção de figuras e transformações geométricas no plano passam a fazer parte do

arsenal dos alunos para análise de situações-problema.

Nos PCNs, o campo dos números era focado em operações e englobava diversos

conhecimentos oriundos da álgebra, com menos foco na construção dos conjuntos

numéricos. Esse modelo foi substituído por um estudo detalhado das características dos

conjuntos numéricos e suas várias representações e relações, com ênfase na construção

dos conceitos sobre frações, números decimais, sistema decimal e as aplicações

relacionados a esse sistema, além de diferenciações dos sistemas históricos (egípcios,

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maias, romano, etc.), apresentando a evolução histórica dos conhecimentos e

representações numéricas na sociedade.

As grandezas e medidas, incluídas como unidade temática pela BNCC, não têm

equivalência direta nos PCNs, uma vez que neles, apesar de haver um bloco de

grandezas e medidas, não se incluem a aritmética, a álgebra e a geometria, focando no

conhecimento prático, na comparação, na resolução de problemas e na estimativa. A

unidade de probabilidade e estatística, anteriormente chamada de tratamento da

informação (BRASIL, 1998), além de pretender que os alunos sejam capazes de calcular

estimadores, medidas de tendência central ou de dispersão, demanda que os alunos

sejam capazes de analisar, interpretar e realizar pesquisas amostrais.

5.4 Ensino médio

A BNCC do ensino médio, em relação ao componente matemático, prevê a

ampliação e o aprofundamento das habilidades e competências adquiridas no ensino

fundamental, além de “[…] possibilitar que os estudantes construam uma visão mais

integrada da matemática, ainda na perspectiva de ampliação de sua aplicação à

realidade” (BRASIL, 2018, p. 527). Considerando o já desenvolvido no ensino

fundamental, a BNCC afirma:

Em continuidade a essas aprendizagens, no ensino médio o foco é a construção de uma visão integrada da matemática, aplicada à realidade, em diferentes contextos. Consequentemente, quando a realidade é a referência, é preciso levar em conta as vivências cotidianas dos estudantes do ensino médio — impactados de diferentes maneiras pelos avanços tecnológicos, pelas exigências do mercado de trabalho, pelos projetos de bem viver dos seus povos, pela potencialidade das mídias sociais, entre outros. Nesse contexto, destaca-se ainda a importância do 6 A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de matemática recurso a tecnologias digitais e aplicativos tanto para a investigação matemática como para dar continuidade ao desenvolvimento do pensamento computacional, iniciado na etapa anterior (BRASIL, 2018, p. 528).

Destaca-se a importância do desenvolvimento das competências relacionadas

ao raciocínio, representado pela investigação e pela argumentação matemática de suas

ideias. As competências relativas à representação pressupõem a elaboração de diversos

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registros com todos os recursos de linguagem disponíveis. Por meio da linguagem

matemática, especificamente, isso é possível verificando a adequação dessas linguagens

à representação de suas ideias e ao desenvolvimento de seus argumentos. Além disso,

são definidos pares de ideias complementares e fundamentais, que devem articular os

campos propostos, a saber: variação e constância, certeza e incerteza, movimento e

posição, relações e inter-relações (BRASIL, 2018, p. 527). Definidas as habilidades

essenciais para o letramento matemático, são também definidas as cinco competências

do ensino médio relativas à matemática e suas tecnologias, conforme listadas a seguir:

1. Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos contextos, sejam atividades cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral.

2. Propor ou participar de ações para investigar desafios do mundo contemporâneo e tomar decisões éticas e socialmente responsáveis, com base na análise de problemas sociais, como os voltados a situações de saúde, sustentabilidade, das implicações da tecnologia no mundo do trabalho, entre outros, mobilizando e articulando conceitos, procedimentos e linguagens próprios da matemática.

3. Utilizar estratégias, conceitos, definições e procedimentos matemáticos para interpretar, construir modelos e resolver problemas em diversos contextos, analisando a plausibilidade dos resultados e a adequação das soluções propostas, de modo a construir argumentação consistente.

4. Compreender e utilizar, com flexibilidade e precisão, diferentes registros de representação matemáticos (algébrico, geométrico, estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comunicação de resultados de problemas.

5. Investigar e estabelecer conjecturas a respeito de diferentes conceitos e propriedades matemáticas, empregando estratégias e recursos, como observação de padrões, experimentações e diferentes tecnologias, identificando a necessidade, ou não, de uma demonstração cada vez mais formal na validação das referidas conjecturas (BRASIL, 2018, p. 531).

Um olhar detalhado sobre as competências do ensino médio revela que elas não

têm uma ordem prescrita, mas formam um todo conectado. O desenvolvimento de uma

pede situações e contextos que precisam de todas as demais.

5.5 Currículo escolar e BNCC

O currículo é mais do que uma prescrição de conteúdo a serem estudados em

épocas definidas; é um instrumento de formação, transformação, poder e controle. Se a

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educação é o que forma o ser humano social, o currículo é o que prescreve que tipo de

ser humano está sendo formado e, consequentemente, que sociedade esses seres,

moldados por essa educação, irão criar. Todo currículo é um ato político, pois é uma

seleção que reflete os interesses particulares do grupo que o define (PEREIRA, 2019).

Por isso, seria inviável a implementação de um currículo unificado em todo o

território brasileiro, em virtude de sua multiplicidade de culturas e etnias. A BNCC, no

entanto, propõe alinhamento comum a todos os currículos, instituindo direitos de

aprendizagem que devem ser atingidos em todo o país, visando a reduzir as disparidades

no sistema educacional, como vimos anteriormente.

Para a elaboração desses currículos, temos o programa ProBNCC. Com a

BNCC, o fazer do professor foi modificado, já que antes era focado em metas de um

conteúdo específico. O avanço da tecnologia e a facilidade do acesso a recursos

tecnológicos trouxe à sociedade do século XXI novas necessidades de aprendizagem, o

que se traduz na necessidade de constituir um novo currículo para atendê-las. Esse novo

currículo institui a aprendizagem por competência, que “[…] é a capacidade de mobilizar

conceitos, procedimentos e atitudes para executar uma ação de forma eficaz” (ZANELLO,

2018, p. 43).

Isso significa que as metas da educação escolar não devem apenas ser

relacionadas aos conteúdos escolares; elas devem preparar o aluno para existir e

coexistir em uma era de mudanças rápidas e constantes. O currículo de matemática

específico definido na prática pedagógica do professor, o dito currículo em ação, é

influenciado por uma série de outras esferas.

Contudo, guardados os prescritos do currículo local e do projeto pedagógico da

unidade que definem o alinhamento teórico e metodológico e os valores a serem seguidos

pelo corpo docente da unidade, cabe ao professor realizar a articulação das habilidades

e competências em seu planejamento, instrumento primeiro do currículo em ação. O

planejamento de um professor define as metas por período (semestre, trimestre, etc.) e

as metas anuais de aprendizagem de seus grupos. Nesse planejamento são articuladas

e combinadas as habilidades prescritas na BNCC que, ao final dos segmentos de ensino

(fundamental e médio), devem constituir as competências do componente matemático.

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56

Espera-se, também, que o planejamento de cada aula liste os meios,

instrumentos e recursos mobilizados para o desenvolvimento das habilidades. As

habilidades a serem articuladas no ensino fundamental são fixas em um mesmo ano,

podendo ser articuladas e combinadas entre si, o que transcende as unidades temáticas.

Além disso, o planejamento pode ser abordado de forma vertical, acompanhando as

unidades temáticas tal como elas se apresentam.

No ensino médio, as unidades temáticas são concatenadas em números e álgebra, geometria e medidas, probabilidade e estatística. As habilidades são agregadas tanto por competência quanto por unidade temática, e não são fixas em determinado ano, deixando o professor livre em sua escolha de como organizar o planejamento (por unidade ou por competência). Essa liberdade é explicitamente declarada no segmento do ensino médio: as competências não têm uma ordem preestabelecida. Elas formam um todo conectado, de modo que o desenvolvimento de uma requer, em determinadas situações, a mobilização de outras. Cabe observar que essas competências consideram que, além da cognição, os estudantes devem desenvolver atitudes de autoestima, de perseverança na busca de soluções e de respeito ao trabalho e às opiniões dos colegas, mantendo predisposição para realizar ações em grupo. Por sua vez, embora cada habilidade esteja associada a determinada competência, isso não significa que ela não contribua para o desenvolvimento de outras. Ainda que matemática, tal como Língua Portuguesa, deva ser oferecida nos três anos do ensino médio (Lei nº 13.415/2017), as habilidades são apresentadas sem indicação de seriação. Essa decisão permite flexibilizar a definição anual dos currículos e propostas pedagógicas de cada escola (BRASIL, 2018, p. 530).

A BNCC é um documento norteador e unificador, mas apenas das aprendizagens

mínimas. Ela permite pelo menos três graus de liberdade aos professores: liberdade de

avaliação, liberdade metodológica e liberdade de construção do currículo em ação, desde

que garantidas as aprendizagens mínimas. Esse documento representa para a educação

matemática uma humanização de seus processos de ensino-aprendizagem e uma

reaproximação da matemática aprendida na escola com a matemática praticada no

mundo do lado de fora da sala de aula.

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6 DESENVOLVIMENTO DA GEOMETRIA, ANÁLISE E ÁLGEBRA

6.1 Desenvolvimento da geometria

Segundo Boyer e Merzbach (2018), ao longo do tempo, houve diversas

alterações a respeito da importância da geometria sob a percepção dos estudiosos

matemáticos. Enquanto na Grécia Clássica a geometria era considerada a disciplina

máxima, após a queda do Império Romano se tornou irrelevante.

No século XVIII, houve tentativas fracassadas de recondução da obra Os

elementos, de Euclides, à sua antiga importância. No entanto, a retomada dos conceitos

foi possível, mais tarde, a partir da introdução de novas possibilidades na área e do

trabalho de diversos matemáticos. Nesta seção, você conhecerá o trabalho desenvolvido

pelos geômetras do século XIX, como Monge, Poncelet, Chasles, Steiner, Riemann e

Kein, que trouxeram um novo enfoque, indo muito além do imaginado pelos gregos, cujas

premissas você conhecerá a seguir.

6.2 Gaspar Monge

De acordo com Comes (2008), Monge nasceu em uma família dedicada ao

comércio, e desde cedo teve a possibilidade de mostrar o seu talento no

OratorianCollege, em Beaune, sua cidade natal. Enquanto estudava no Collège de

laTrinité, na cidade de Lyon, Monge foi designado a ministrar um curso de física; e, mais

tarde, ao retornar para Beaune, desenhou o plano da cidade, trabalho que serviu de base

para sua indicação como desenhista da École Royale duGénie em Mézières, onde

projetou, baseado em suas próprias teorias, um plano de fortificação que impossibilitava

o inimigo de ver ou atirar na posição de defesa.

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A Revolução Francesa (1789–1799) possibilitou o fortalecimento da carreira de

Monge, permitindo que ele se tornasse ministro da marinha e um dos responsáveis pela

criação da Escola Politécnica da França.

De acordo a Biblioteca Central da Politécnica (ÉCOLE POLYTECHNIQUE,

2021), a guerra entre a França e o resto da Europa causou a destruição de muitas escolas

francesas, entre elas a Escola de Pontes e Estradas, que perdeu a maior parte de seus

alunos. Monge, então, convenceu participantes do comitê de segurança pública da

importância da criação de um centro destinado à engenharia, atuação que culminou no

decreto de criação da École Polytechnique, em 11 de março de 1794.

Na obra de Monge, destaca-se o desenvolvimento da geometria descritiva, cujo

objetivo é representar sobre um plano figuras espaciais, possibilitando a resolução de

problemas de três dimensões (3D) em duas dimensões (2D). A ideia central do método

é produzir uma representação no plano 2D de uma figura 3D, de tal modo que permita

interpretações geométricas que ofereçam soluções para problemas ligados à engenharia.

Outra contribuição relevante de Monge foi a introdução de conceitos utilizados na

geometria diferencial, especialmente ao discutir conceitos de curvatura e de torção em

uma curva espacial, que, segundo ele, “[...] a torção em um ponto de uma curva

mergulhada no espaço é uma medida numérica de quanto a curva se afasta de estar

contida num plano numa vizinhança daquele ponto” (COIMBRA, 2008, documento on-

line).

6.3 Jean Victor Poncelet

Compatriota e aluno de Monge, nascido em Metz em 1788, Jean Victor Poncelet

estudou na École Polytechnique e se tornou engenheiro politécnico aos 22 anos. Após,

ingressou no exército napoleônico, onde foi designado para a campanha da Rússia e foi

prisioneiro em Moscou durante 18 meses (OLIVEIRA, 2011).

Para fugir do tédio e do sofrimento da prisão, o engenheiro começou a pensar na

geometria analítica, e, sem nenhum material para consultar, acabou por desenvolver

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ideias próprias, que ajudaram no desenvolvimento da geometria projetiva. Esse ramo da

matemática já havia sido estudado por Désargues (que estudou os princípios

geométricos da perspectiva na arte do renascimento), Pascal, Monge e Carnot, mas foi

o seu trabalho que deu forma definitiva ao estudo sistemático dessa geometria.

6.4 Princípio da dualidade e princípio da continuidade

No século XIII, começaram a surgir os primeiros movimentos da arte

renascentista, que implementou novos sistemas de pintura, objetivando, cada vez mais,

representar tridimensionalmente seus trabalhos (LEITE, 2016).

A solução para criar esse efeito 3D veio com a utilização das linhas de projeção,

que buscavam um ponto de convergência — técnica cujos primeiros exemplares

apareceram na produção do pintor Duccio dipinto Buoninsegna, em que os planos de

fundo eram perceptíveis, como a pintura “A Anunciação” (Figura 1).

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O tratamento matemático da perspectiva foi abordado por diversos estudiosos,

mas culminou na obra de Poncelet, que apresenta alguns conceitos sobre a geometria

projetiva, dentre eles, o princípio da dualidade e o princípio da continuidade.

Para Oliveira (2011), o princípio da dualidade aplicado a uma curva contínua

significa que qualquer curva desse tipo pode ser gerada tanto pelo movimento de um

ponto como por retas tangentes a essa curva, implicando que retas e pontos são

intercambiáveis e têm uma associação íntima e recíproca com a curva em questão.

Para Poncelet, as demonstrações analíticas dos recursos de uma projeção

central e cilíndrica podem ser substituídas por demonstrações sintéticas e gerais, ou seja,

a demonstração de uma propriedade pelo caminho de uma projeção central pode ser

generalizada em todos os casos da figura, que pode variar continuamente.

Todavia, as propriedades de suas relações continuarão válidas, o que, em termos

de projeções, significa que se uma figura tem determinadas propriedades, sua projeção

apresentará as mesmas propriedades (CHAVES; GRIMBERG, 2013).

6.5 Michel Chasles

Michel nasceu, na região de Chartres, na França, filho de um rico comerciante de

madeira. Sua condição financeira permitiu que ele estudasse no LycéeImpérial, onde

adquiriu o conhecimento necessário para ser admitido na École Polytechnique de Paris

(UNIVERSITY OF ST ANDREWS, 2020).

A época era conturbada, a França estava sob o comando de Napoleão

Bonaparte, que envolveu seu país em uma guerra desastrosa, que culminou com o

ataque a Paris, em 1814, cujo resultado foi a invasão da cidade luz e a abdicação de

Napoleão (FONDATION NAPOLÉON, 2014).

Nesse período, Chasles foi convocado pelo o exército francês para participar da

defesa da capital, e, com a derrota napoleônica, voltou aos seus estudos na

Polytechnique (UNIVERSITY OF ST ANDREWS, 2020).

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Nesse contexto, o matemático escreveu a sua grande obra, Aperçu historique sur

l'origine et le développement des méthodes en géométrie, que contribuiu para o

desenvolvimento da geometria projetiva (PIRE, 2021)

6.6 Cross-ratio

Segundo Ribeiro (2016), Chasles definiu genericamente as transformações

projetivas, denominadas homografias, caracterizadas pela transformação de um plano

em outro, levando linhas a linhas, pontos a pontos, com preservação da cross-ratio (razão

cruzada). A cross-ratio é uma relação de importância fundamental em geometria

projetiva, pois trata de projeções que não distorcem as medidas de comprimento e

ângulo, satisfazendo as pesquisas dos matemáticos que buscam propriedades

invariantes (LABOURIE, 2008).

6.7 Jakob Steiner

Steiner foi um matemático suíço, nascido em 1796, em uma família de

agricultores nas proximidades de Berna. Com muitas dificuldades para estudar, mas com

muitas habilidades matemáticas, ingressou na escola de Johann Heinrich Pestalozzi, em

Yverdon (Suíça), e, antes dos aos 20 anos, já lecionava matemática na mesma escola.

Ao mudar-se para a Alemanha, Steiner continuou lecionando matemática e se tornou

membro da Academia Prussiana de Ciências (KIMBERLING, [200-? ]). Na sua obra,

destaca-se a elipse de Steiner, conceito muito conhecido na geometria do triângulo,

conforme será descrito a seguir.

6.8 Elipse de Steiner

A elipse de Steiner é uma figura plana que está inscrita em um triângulo qualquer

e que toca os pontos médios de um triângulo, veja a Figura 2.

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A seguir, veja o passo a passo para construção da elipse de Steiner,

desenvolvida por Santana (2014).

1. Desenhe um triângulo qualquer.

2. Marque um ponto qualquer no interior do triângulo.

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3. Marque os simétricos Q, R e S do ponto F em relação aos lados AB, BC e CA

respectivamente.

4. Considere F2 o centro da circunferência que contém Q, R, S.

5. Devem ser marcados os pontos P1, P2, P3, da interseção entre os raios F2Q,

F2R e F2S respectivamente, com lados AB, BC E CA do triângulo.

6. Finalmente, trace a elipse com focos F1 e F2, passando pelos pontos P1, P2

e P3.

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6.9 Bernhard Riemann

Riemann nasceu na Alemanha, em 1826, e estudou nas escolas em Berlim e

Göttingen, tendo como obstáculos uma saúde frágil e uma timidez excessiva.

Influenciado pelo pai, foi para a Universidade de Göttingen estudar teologia no intuito de

se tornar clérigo, mas um ano depois transferiu-se para a Universidade de Berlim para

estudar matemática.

Algum tempo depois, foi para a Universidade de Göttingen, onde obteve o título

de doutor com o estudo das equações diferenciais e a formulação do conceito de

superfícies de Riemann. Seu trabalho possibilitou a generalização de todas as

geometrias, com o estabelecimento da geometria riemanniana, que serviu de fundamento

para Einstein formular a teoria da relatividade (GEORG..., 2009).

Segundo Sá (2012), Riemann quebrou conceitos milenares na geometria,

prevendo a existência de múltiplos espaços conectados, com a existência de dimensões

adicionais e conexões em distintas regiões do espaço-tempo, o que implicou em uma

compreensão do espaço multidimensional, com a abertura de um novo campo de estudos

na matemática e na física, com influência em múltiplos campos do conhecimento.

6.10 Felix Klein

Klein estudou física e matemática na Universidade de Bonn, onde obteve

doutorado em 1868. Embora tivesse trabalhado com a teoria das funções e a física

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matemática, foi na geometria que Klein deu suas melhores contribuições, ao descobrir

que as geometrias euclidiana e não euclidiana podiam ser explicadas mediante a teoria

dos invariantes, e que são casos particulares da geometria projetiva.

Em 1872, Klein apresentou o Programa de Erlangen, determinante para o

desenvolvimento da matemática no século XX, contribuindo para a evolução da educação

matemática no mundo (HALSTED, 1894). Um dos objetos de estudo de Klein foi a

“garrafa de Klein, conforme a Figura 3.

Como você pôde perceber, o conceito de geometria passou por uma revolução

no século XIX, com proposições que levaram muito longe o trabalho iniciado na

Antiguidade, compilado e sistematizado por Euclides em sua obra Os elementos. Na

próxima seção, você verá que outras áreas da matemática também tiveram notáveis

contribuições, muitas delas formuladas pelos mesmos matemáticos citados

anteriormente.

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6.11 Desenvolvimento da análise e álgebra

Do mesmo modo que a geometria, também a análise e a álgebra tiveram grandes

contribuições durante o século XIX, e muitos dos matemáticos responsáveis pelas

descobertas na geometria também fizeram trabalhos relevantes nessas áreas. Nesta

seção, portanto, você vai conhecer alguns dos mais importantes matemáticos que se

dedicaram à análise e à álgebra, como Weierstrass, Cantor, Dedekind, Boole, De Morgan,

Hamilton, Grassmann, Cayley, Sylvester e Riemann.

6.12 Voltando a Riemann

Para iniciar esta seção, voltamos à obra de Riemman, que além da geometria

contribuiu em outras áreas da matemática, com destaque para a hipótese de Riemann e

a integral de Riemann.

A hipótese de Riemann está vinculada à teoria dos números, ramo que estuda

as propriedades dos números positivos inteiros e pressupõe que a função zeta de

Riemann tem solução somente para números pares negativos e números complexos,

cuja parte real seja ½, sendo muito importante, já que tem implicações na distribuição de

números primos e na criptografia (ALVITES, 2012).

Na análise real, a integral de Riemann foi a primeira definição proposta com rigor

para uma função em um intervalo. Sua ideia básica é observar uma função limitada em

um intervalo fechado [a, b] no conjunto dos números reais, criar retângulos baseados em

uma partição do intervalo, definidos a partir da altura dos valores máximo e mínimo dentro

de cada base, para, então, ao somar as áreas destes retângulos, poder aproximar a área

da curva dada pela função (REIS, 2017).

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6.13 Karl Weierstrass

O matemático Karl Theodor Wilhelm Weierstrass nasceu em 1815 e estudou na

escola católica de Paderborn e na Universidade de Bonn. Após ter seus estudos

interrompidos por falta de resultados, estudou para ser professor de escola primária na

Royal Prussian Theological and Philosophical Academy, em Münster, onde ser formou

em 1841 (KNOBLOCH, 2014).

Knobloch (2014) explica que Karl não participava da comunidade acadêmica,

porém trabalhou na teoria das funções abelianas, cujo assunto o inspirou a publicar um

ensaio em 1854. Nesse mesmo ano, a Universidade de Königsberg concedeu-lhe um

doutorado honorário, recebeu uma licença de pesquisa, e foi nomeado para o primeiro

cargo de professor de matemática no Berlim Trade Institute. Em 1856, se tornou professor

associado da Universidade de Berlim, chegando a membro titular do Academia Prussiana

de Ciências.

Em 1864, foi promovido a professor titular da universidade, cargo que ocupou até

sua morte em fevereiro de 1897. Por meio de seminários que divulgaram suas pesquisas

sobre a teoria das funções reais e complexas, o cálculo das variações e a geometria

diferencial, ele exerceu uma enorme influência em seus ouvintes, muitos dos quais se

tornaram professores universitários, entre eles Georg Cantor.

6.14 George Cantor

O matemático George Cantor, cientista que ousou estudar o infinito, foi um

especialista em teoria dos números, elaborou a moderna teoria dos números, e, ao lado

de Felix Klein, é um dos criadores do Congresso Internacional de Matemáticos (IMPA,

2017). Cantor nasceu na Rússia, em 1845, contudo, ainda na infância, emigrou para a

Alemanha junto com a família. Já em território alemão, Cantor estudou no Liceu de

Wiesbaden e em escolas privadas de Frankfurt e Darmstadt, sempre brilhante e

interessado em filosofia, teologia e principalmente matemática, partido posteriormente

para a Escola Politécnica de Zurich, onde cursou engenharia (FREITAS, 2008).

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Em 1863, Cantor foi para a Universidade de Berlim, onde estudou matemática,

filosofia e física, aprofundando questões sobre aritmética e teoria dos números. Já em

1867, obteve o título de doutor em matemática.

Em 1874, publicou um artigo demonstrando que os números algébricos são

numeráveis. A sua originalidade foi observada nesse e em outros trabalhos, destacando-

se a demonstração de que um intervalo tem a mesma cardinalidade que uma reta e um

plano; que os números reais não são numeráveis, dando início à teoria de conjuntos

Cantoriana e aos números transfinitos.

Em 1884, Cantor apresentou sinais de depressão, doença agravada pelas

críticas ao seu trabalho, pela frustração em não conseguir demonstrar a hipótese do

contínuo, e por nunca ter sido professor na Universidade de Berlim (FREITAS, 2008).

Cantor morreu em janeiro de 1918, em um hospital psiquiátrico em Halle. Cantor

refletiu sobre a quantidade de elementos de um conjunto infinito, não considerando

diretamente os números, mas os conjuntos, iniciando por atribuir “tamanhos” (números

transfinitos), que chamava de potências dos diferentes conjuntos de infinitos elementos

(ANDRADE, 2010).

Para estipular esses números, cantor começou por denotar o menor número

transfinito por ω, que é a cardinalidade do conjunto dos números naturais, e, se um

conjunto é enumerável, sua cardinalidade é igual a dos números naturais, sendo igual a

ω. O primeiro conjunto a ser analisado em relação aos naturais foi o dos racionais,

provando que é enumerável.

Portanto, sua cardinalidade é ω. Segundo Andrade (2010), Cantor percebeu que

o conjunto dos números reais não pode ser posto em bijeção com o conjunto dos naturais,

ou seja, ele é de tamanho maior. Pelo método do raciocínio diagonal, Cantor demonstrou

que os números reais não são enumeráveis denominando a potência daquele conjunto

de c (de contínuo).

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6.15 Julius Wilhelm Richard Dedekind

Dedekind nasceu em outubro de 1831, em Braunschweig, na Alemanha. Filho de

um professor no Collegium Carolinum em Braunscheig, escola em que ingressou aos 16

anos, Dedekind adquiriu conhecimentos fundamentais de cálculos diferencial e integral,

geometria analítica e os fundamentos da análise, que permitiram sua matrícula em

Göttingen, em 1850 (JULIUS..., [200-?]).

Nessa universidade, Dedekind completou seu doutorado sob a supervisão de

Gauss, com uma tese que tratava da teoria das integrais de Euler. Entre as várias

homenagens recebidas por Dedekind, estão a eleição para a Academia de Göttingen

(1862), para a Academia de Berlim (1880), e para a Academia de Paris (1900). O

matemático morreu fevereiro de 1916, em Braunschweig.

6.16 George Boole

Boole nasceu em 1815, em Lincoln, na Inglaterra. Filho de um sapateiro e de uma

empregada doméstica, e seu pai, além de trabalhar com sapatos, era um cientista amador

que fabricava instrumentos. O futuro gênio da matemática começou muito pequeno,

aprendendo diversas línguas, como grego, latim, francês, alemão e italiano.

De acordo com Reville (1996), George Boole, o pai da lógica simbólica, foi o

acadêmico mais ilustre que trabalhou na University College Cork (então Queen's College

Cork, República da Irlanda), onde obteve seu primeiro cargo em 1847. O trabalho que

marcou Boole foi sobre a lógica, propondo que matemática é uma forma de raciocinar

baseada em símbolos, usando letras para representar subconjuntos e sinais para

simbolizar a relação entre eles.

A álgebra booleana forneceu a base para validar as proposições lógicas, porque

analisa os dois caracteres de valor (binário) das afirmações que podem ser verdadeiras

ou falsas. Boole descobriu um ramo da matemática seria ideal para o uso de informações

nos computadores, e muito da “matemática moderna”, que dominou o mundo há algumas

décadas, deriva do seu trabalho (REVILLE, 1996).

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6.17 Augustus de Morgan

Augustus de Morgan nasceu em Madura, na Índia, em 1806. Ainda pequeno

emigrou para a Inglaterra, onde estudou em várias escolas britânicas. Em 1823,

ingressou no Trinity College, em Cambridge, onde descobriu grande interesse em

matemática. Em 1828, foi eleito para a cadeira de matemática na incipiente London

University, mais tarde University College (RICHARDS, 1987).

Morgan ocupou esse cargo até 1866, ano em que foi eleito o primeiro presidente

da London Mathematical Society, fundada no mesmo ano. Morgan reconheceu a

natureza puramente simbólica da álgebra, estando convicto da existência de outras

álgebras além da álgebra comum. Ele introduziu as Leis de De Morgan e sua principal

contribuição foi como um reformador da lógica matemática, além de definir e introduzir o

termo “indução matemática”, colocando uma base rigorosa no processo que havia sido

usado sem clareza.

6.18 William Rowan Hamilton

De acordo com Spearman (2021), William Rowan Hamilton foi provavelmente o

maior cientista irlandês. Nascido 1805 (a hora de registro foi meia noite), filho de um

farmacêutico da cidade de Dublin. Aos três anos, William foi enviado para viver com seu

tio James Hamilton, um classicista que conhecia um pouco de línguas orientais, e que

apresentou-lhe diversos clássicos, incluindo a obra Geometria analítica, de Bartholomew

Lloyd, cujo efeito foi despertar o seu interesse pela matemática (SPEARMAN, 2021).

Em 1823, Hamilton foi estudar no Trinity College de Dublin, onde tornou-se

professor de astronomia antes mesmo de se formar e realizou trabalhos em dinâmica,

nos quais unificou os conceitos das leis que governam as ondas de luz e o movimento

das partículas, previu em forma de cálculos o fenômeno de refração cônica, e

surpreendeu com suas pesquisas sobre quatérnios (SPEARMAN, 2021).

De acordo com O’Sullivan (2019), poucos grafites resistem ao tempo, porém, um

escrito feito na Broome Bridge (Dublin) é um registro de um momento de uma descoberta

matemática histórica. Hamilton, em 1843, fez uma descoberta matemática histórica:

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enquanto caminhava com sua esposa para a Royal Irish Academy, encontrou a solução

para um problema no qual estava pensando há algum tempo, e, para não esquecer,

rabiscou o que conhecemos hoje como fórmula geral do quatérnio na ponte: i² = j² = k² =

ijk = -1 Essa descoberta foi fundamental para a ida do homem à Lua e para produzir

imagens usadas por computador para videogames e filmes (O’SULLIVAN, 2019).

6.19 Hermann Günter Grassmann

Hermann Günter Grassmann nasceu em 1809, na cidade de Stettin, na Prússia.

Durante uma grande parte de sua vida deu aulas no ensino secundário; entre 1834 e

1836, lecionou em Berlim, onde se decepcionou com a falta de interesse em suas ideias

matemáticas, passando a se dedicar à literatura sânscrita, língua em que produziu um

dicionário que é utilizado até hoje (HERMANN..., 2009).

A procura pelas álgebras geométricas preocupou Leibniz, que escreveu um

ensaio sobre geometria de posição, esquecido por muitos anos, sendo redescoberto em

1833, quando foi instituído um prêmio para incentivar a continuidade do trabalho,

havendo apenas uma inscrição, a de Grassman, que desenvolveu exitosamente a ideia

de álgebra geométrica com uso conceitual do que denominamos hoje como vetores, em

um trabalho que ficou conhecido posteriormente como álgebra exterior ou álgebra de

Grassmann (HERMANN..., 2009).

Grassmann faleceu em 1877, em Stettin, então Alemanha e atualmente

Szczecin, Polônia (HERMANN..., 2009).

6.20 Arthur Cayley

Cayley nasceu em 1821, em Richmond, na Inglaterra, mas passou os primeiros

sete anos em São Petersburgo na Rússia. Na volta às ilhas britânicas, frequentou o King's

College London e, posteriormente, o Trinity College, em Cambridge. Aos 41 anos,

conseguiu uma indicação para a cadeira de matemática e foi eleito o presidente da

Associação Britânica para o Avanço da Ciência em 1883 (SILVER, 2006).

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De acordo com Dias e Grimberg (2012), dez memórias de Cayley foram

publicadas no Philosophical Transactions of Royal Society of London, e os

desenvolvimentos algébricos apresentados nesses escritos compõem hoje a teoria dos

invariantes — mais importante contribuição do matemático, que versa sobre as

propriedades que permanecem invariantes sob uma determinada transformação linear

das variáveis de polinômios homogêneos. Cayley formulou rigorosamente, pela primeira

vez na matemática, a definição de grupo, com a construção de um sistema de postulados

que permanecem até hoje.

Em 1858, ele demonstrou que os quatérnios podem ser representados por meio

de matrizes em que a, b, c, d são números complexos. Permaneceu trabalhando com

funções elípticas e abelianas, funções representadas por integrais definidas, até falecer

em Cambridge, em janeiro de 1895, três anos antes da publicação da totalidade de sua

obra (ARTHUR..., 2003).

6.21 James Joseph Sylvester

Sylvester nasceu em 1814, em Londres, atuou como professor de filosofia e

matemática em universidades na Inglaterra e nos Estados Unidos, ligado a várias

academias de ciências e foi o primeiro editor do American Mathematical Journal.

Seu talento contribuiu muito com o periódico e com outras publicações, com

artigos sobre análise finita, álgebra, determinantes, teoria da eliminação, teoria das

equações, teoria das partições, teoria das formas, teoria dos invariantes e covariantes,

matrizes, números hamiltonianos, que estão reunidos na obra The collected mathematical

papers of James Joseph Sylvester (BERNARDES; ROQUE, 2016).

Segundo Feuer (1984), Sylvester foi o principal criador da linguagem formal da

ciência moderna. Dotado de uma mente transbordando de novas ideias e termos, ele se

autodenominou um "Adão matemático”, porque deu mais nomes a concepções novas do

que todos os outros matemáticos da época juntos.

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Em 1876, ele estabeleceu o programa de matemática na recém-inaugurada

Universidade Johns Hopkins, marcando o início de um processo de estabelecimento da

matemática em nível de pesquisa nos Estados Unidos. Nesse período, revigorou o seu

estudo de invariantes e elaborou o primeiro programa de pós-graduação em matemática

da América, o que possibilitou avanços na teoria dos invariantes, na combinatória e na

teoria das álgebras matriciais (PROFESSORS..., 2020).

Em 1883, James Sylvester viajou de volta para a Inglaterra para assumir a

cadeira Savilian de geometria no New College, em Oxford. Em 1894, renunciou à cadeira

devido a problemas de saúde, que o levou à morte em 1897 (PROFESSORS..., 2020).

6.22 Geometria descritiva em sala de aula

A geometria descritiva é um elemento de uso na história na matemática da

educação básica. Dessa forma, será apresentada uma sugestão para um projeto no 3°

ano do ensino médio, já que usualmente nesse ano estuda-se os sólidos geométricos e

aprofunda-se a geometria analítica.

Uma outra razão para as aulas serem nesse nível do ensino é porque aproxima-

se o momento em que há uma escolha de que curso seguir no ensino superior, sendo

possível citar que essa geometria é importante na engenharia e faz parte do currículo de

muitas faculdades de arquitetura.

Sugere-se a apresentação do projeto em paralelo com a geometria espacial, o

seguinte roteiro:

1. Aula expositiva abordando o contexto histórico do século XIX, falando sobre

as guerras napoleônicas e a fundação da Politécnica de Paris, e o trabalho de Monge

como engenheiro militar.

2. Apresentar os fundamentos essenciais da geometria projetiva, e como

geralmente tal estudo não faz parte das aulas das faculdades de licenciatura.

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6.23 Elementos básicos da geometria descritiva

Na geometria descritiva proposta por Monge, podemos descrever em planos 2D

objetos espaciais 3D utilizando o conceito de projeção, segundo Biran, Lopez-Pulido e

Banai (2005) de que a projeção é uma noção muito próxima do intuitivo, pois a

conhecemos primeiramente como um fenômeno da natureza, que pode ser feita de modo

artificial por uma pessoa. Quando um objeto é atingido por raios solares, projetando uma

figura sobre uma superfície plana, temos a formação de um contorno desse objeto,

exposto em uma figura escura que chamamos de sombra.

De acordo com Rabello (2005, p. 11), em linguagem matemática:

Projeção é o conjunto de operações geométricas que permite obter a figura formada pelos pontos de interseção dos raios projetantes que partem de um centro projetivo e incidem sobre uma figura do espaço, com uma superfície.

Observe, na Figura 4, a projeção de uma sombra em uma parede. De acordo

com Coutinho Neto (2014), temos dois tipos de figura: a figura objetiva, conforme a Figura

4, o corpo da pessoa; e a figura projetada que é a sombra na parede. As figuras objetiva

e projetada são consideradas correspondentes se todos os pontos de uma e de outra

pertencem ao mesmo raio projetivo.

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75

Para Rabello (2005), temos definições fundamentais da geometria descritiva,

afirmando que: sendo (O) o ponto do espaço que especifica um centro projetivo e um

plano π de projeção, e (f) a figura objetiva a ser projetada em π. Ao determinarmos raios

projetantes partindo de (O) incidentes sobre os pontos de (f), forma-se um feixe de raios

que se constitui em uma figura geométrica projetada em π, denominada figura projetante

e identificada por (f1). A partir dessa situação, são estabelecidas as condições:

1. se (f) é um ponto, (f1) será uma reta (Figura 5a);

2. se (f) é uma reta que não contém (O), (f1) será um feixe de retas, portanto uma

figura plana (Figura 5b);

3. se (f) for uma figura plana, dois casos podem ocorrer:

■ se o plano que contém (f) contiver (O), (f1) será também um feixe de retas

(Figura 5c);

■ se o plano que contém (f) não contiver (O), (f1) será uma figura tridimensional

(Figura 5d);

4. se (f) for uma figura tridimensional, (f1) também o será (Figura 5e).

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76

6.24 Método Mongeano

Ainda de acordo com Rabello (2005), o método desenvolvido por Gaspar Monge

utilizava dois planos de projeção, um vertical e o outro horizontal, cada um associado a

um centro projetivo, cujos raios projetantes são perpendiculares aos seus respectivos

planos de projeção, implicando em projeções ortogonais, conforme são apresentadas na

Figura 6.

6.25 Espaços projetivos

O plano horizontal de projeção identificado como plano (π), e plano vertical de

projeção identificado como plano (π’), sendo a interseção entre (π) e (π’) a linha de terra

do sistema. Divide-se (π) em dois semiplanos, anterior e posterior, logo teremos plano

horizontal anterior (PHA) e plano horizontal posterior (PHP). O plano (π’) também é

dividido em dois semiplanos, plano vertical superior (PVS) e plano vertical inferior (PVI).

Observe a Figura 7 para compreender melhor a divisão.

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77

Os planos (π) e (π’) dividem o espaço em quatro regiões distintas denominados

diedros, como mostra a Figura 8.

Provavelmente os alunos perceberão as semelhanças entre os diedros e os

quadrantes do plano cartesiano, o que pode ser um bom momento para rever algum

conceito da geometria analítica, (Rabello, 2005). Como última etapa, os alunos podem

confeccionar algum sólido geométrico (há inúmeros modelos disponíveis na internet) e,

na sequência, projetar suas sombras em cartolinas e desenhar as projeções, tendo uma

boa noção do conceito que embasa essa geometria. Também pode ser usado um mesmo

sólido por todos os alunos (ou grupos) e provavelmente haverá diferenças nas projeções

devido ao fato muito provável do ponto de emissão de luz ser diferente nos diversos

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trabalhos, propiciando mais uma discussão interessante. Como você pôde acompanhar

ao longo deste capítulo, os matemáticos e suas obras foram responsáveis por

importantes descobertas da história da matemática, ampliando horizontes, dando forma

e sustentação ao desenvolvimento da ciência, fundamentando um processo que

prosseguiu nos séculos seguintes.

7 OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O ENSINO DE MATEMÁTICA

Os PCN foram elaborados no período de 1995 a 2002 para diferentes níveis e

modalidades de ensino. Foi um processo bastante polêmico e que envolveu muita

discussão a respeito da educação brasileira. De fato, sabe-se que houve um grande

movimento realizado por professores e especialistas para a análise de um texto preliminar

que havia sido elaborado (KOBASHIGAWA, 2006).

Os PCN surgiram da necessidade de organização do sistema educacional, com

a finalidade de garantir que a educação pudesse atuar decisivamente no processo de

construção da cidadania, visando à crescente igualdade de direitos entre os cidadãos,

com base nos princípios democráticos. Na busca pela melhoria na qualidade da

educação brasileira, é importante ter claro que existe a necessidade de investimentos em

diferentes frentes, como na formação inicial e continuada de professores, em uma política

de salários adequada, em planos de carreira, na disponibilidade e qualidade de materiais

e recursos didáticos, etc. (BRASIL, 1997).

De modo geral, os PCN são um referencial de qualidade para a educação em

todo o país.

Eles buscam orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema

educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, e promovendo a

participação de técnicos e professores brasileiros. Trata-se de uma proposta flexível, que

leva em consideração as particularidades regionais, respeitando a diversidade

sociocultural do país e envolvendo a todos, até as áreas mais distantes (BRASIL, 1997).

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As intenções educativas relativas às capacidades que precisam ser

desenvolvidas pelos alunos ao longo de sua vida escolar são concretizadas por meio dos

objetivos propostos nos PCN. O objetivo geral do ensino de matemática proposto nos

PCN é analisar informações relevantes do ponto de vista do conhecimento e estabelecer

o maior número de relação entre elas, fazendo uso do conhecimento matemático para

interpretá-las e avaliá-las criticamente (BRASIL, 1997).

Nesse contexto, Bittencourt (2004) sugere a articulação entre os conteúdos

matemáticos e as situações cotidianas dos alunos, bem como com conteúdo de outras

áreas do conhecimento. Ainda, ressalta a importância de uma interdisciplinaridade

intrínseca, ou seja, de estabelecer conexões internas à própria matemática. Como

exemplo, a autora menciona o trânsito entre o enfoque algébrico e o geométrico.

A elaboração dos PCN teve início a partir do estudo de propostas curriculares de

estados e municípios brasileiros, da análise sobre os currículos oficiais e do contato com

informações a respeito da experiência de outros países. Além da análise do Plano

Decenal de Educação para Todos, de pesquisas nacionais e internacionais, também

foram considerados dados estatísticos sobre desempenho dos alunos e experiências de

sala de aula compartilhadas em encontros, seminários e publicações (BRASIL, 1997).

Dessa forma, os PCN constituem o primeiro nível de concretização curricular.

Sua função é subsidiar a elaboração ou revisão curricular de estados e municípios,

considerando as propostas e experiências preexistentes, e incentivando a discussão

pedagógica nas escolas e a elaboração de projetos educativos, além de servir como

material de reflexão para a prática docente (BRASIL, 1997). Todos os documentos que o

compõem:

[...] configuram uma referência nacional em que são apontados conteúdos e objetivos articulados, critérios de eleição dos primeiros, questões de ensino e aprendizagem das áreas, que permeiam a prática educativa de forma explícita ou implícita, propostas sobre a avaliação em cada momento da escolaridade e em cada área, envolvendo questões relativas a o que e como avaliar. Assim, além de conter uma exposição sobre seus fundamentos, contém os diferentes elementos curriculares — tais como Caracterização das Áreas, Objetivos, Organização dos Conteúdos, Critérios de Avaliação e Orientações Didáticas —, efetivando uma proposta articuladora dos propósitos mais gerais de formação de

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cidadania, com sua operacionalização no processo de aprendizagem (BRASIL, 1997, p. 29)

Os PCN, assim, apresentam o que e como se pode trabalhar, por área e por ciclo,

no intuito de garantir coerência entre os pressupostos teóricos, os objetivos e os

conteúdos, mediante sua operacionalização em orientações didáticas e critérios de

avaliação. As questões sociais são incorporadas nos PCN como temas transversais. São

elas: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural. Os conteúdos

levam em conta as particularidades dos estados e municípios, o grau de profundidade e

a melhor forma de distribuição no decorrer da escolaridade (BRASIL, 1997).

Os PCN estão organizados em ciclos de dois anos. O primeiro ciclo se refere às

primeira e segunda séries; o segundo ciclo, à terceira e quarta séries, e assim por diante

para as outras quatro séries. É importante destacar, nesse contexto, que os PCN foram

escritos na época em que o ensino fundamental tinha oito anos (BRASIL, 1997).

Os PCN de matemática buscam ampliar o debate nacional sobre o ensino dessa

área do conhecimento, socializando informações e resultados de pesquisas e

compartilhando-as com todos os professores brasileiros. O propósito é orientar a prática

escolar para que os estudantes tenham acesso a um conhecimento matemático que

permita sua inserção como cidadãos no mundo do trabalho, das relações sociais e da

cultura. Além disso, os PCN visam a sinalizar a importância de estabelecer conexões da

matemática com os conteúdos relacionados aos temas transversais (BRASIL, 1998).

Estudos na área de educação matemática realizados no Brasil e em outros

países apontam para a necessidade de adequar o trabalho escolar a uma nova realidade,

em que a matemática possa ser percebida nos mais diversos campos da atividade

humana. Esse movimento tem influenciado análises e revisões nos currículos de

matemática (BRASIL, 1998).

Os movimentos realizados para a reorientação curricular que ocorreram no Brasil

a partir dos anos 1920 não foram suficientes para mudar a prática docente, eliminar a

elitização do ensino e melhorar sua qualidade. Houve, por muito tempo (e, em alguns

nichos, ainda se perpetua), uma ideia de que a formalização de conceitos, o treino de

habilidades e a mecanização são adequados para o ensino de matemática. Já nas

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décadas de 1960 e 1970, o ensino da matemática foi influenciado por um movimento de

renovação, que ficou conhecido como “matemática moderna” (BRASIL, 1998).

A matemática moderna privilegiava o pensamento científico e tecnológico,

preocupando-se em aproximar a matemática escolar da matemática como é vista pelos

estudiosos e pesquisadores. No entanto, as propostas estavam fora do alcance dos

alunos, em especial daqueles das séries iniciais do ensino fundamental, de modo que

houve um distanciamento das questões práticas. O ensino se fundamentava em grandes

estruturas, que organizavam o conhecimento matemático contemporâneo enfatizando a

teoria dos conjuntos, as estruturas algébricas, a topografia, etc. Havia, na verdade,

exageros e distorções que foram incoerentes com a aproximação da matemática a

situações práticas. Porém, em 1980, surgiu um novo movimento, iniciado nos Estados

Unidos, que deu destaque à resolução de problemas no ensino da matemática. Essa

ideia influenciou as reformas que ocorreram em todo o mundo (BRASIL, 1998).

Obstáculos brasileiros no ensino de matemática incluem a falta de uma formação

profissional qualificada, as restrições ligadas às condições de trabalho, a falta de políticas

educacionais efetivas e as interpretações equivocadas de concepções pedagógicas.

Diversos esforços vêm sendo feitos para reduzir esses problemas, por parte de grupos

de professores, de secretarias de educação, de universidades e demais instituições

preocupadas com o ensino. No entanto, essa não é uma realidade acessível a todos os

professores, o que promove uma expressiva desigualdade de oportunidades, tanto para

professores, em termos de qualificação, quanto para alunos, em termos de acesso às

melhores práticas (BRASIL, 1998).

O Brasil é um país com uma extensa área territorial, onde vemos, diariamente, as

disparidades regionais que dificultam a igualdade de condições, de acesso a uma

educação de qualidade, de direitos iguais aos cidadãos brasileiros, tanto aos nossos

estudantes quanto aos docentes. A escassez de políticas públicas educacionais (e não

apenas delas) impacta negativamente a qualidade do ensino. A matemática, nesse

contexto, muitas vezes é abordada de forma completamente desconexa da realidade, e

não por falta de interesse dos professores, mas por falta de qualificação e de acesso à

pesquisa, a recursos e a experiências que viabilizem um trabalho eficiente e de qualidade.

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É importante, nessas circunstâncias, discutir a natureza do conhecimento matemático e

identificar suas principais características, visando refletir sobre o papel dessa disciplina

do conhecimento no currículo (BRASIL, 1998, p. 24):

A Matemática caracteriza-se como uma forma de compreender e atuar no mundo e o conhecimento gerado nessa área do saber como um fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e cultural. Esta visão opõe-se àquela presente na maioria da sociedade e na escola que considera a Matemática como um corpo de conhecimento imutável e verdadeiro, que deve ser assimilado pelo aluno. A Matemática é uma ciência viva, não apenas no cotidiano dos cidadãos, mas também nas universidades e centros de pesquisas, onde se verifica, hoje, uma impressionante produção de novos conhecimentos que, a par de seu valor intrínseco, de natureza lógica, têm sido instrumentos úteis na solução de problemas científicos e tecnológicos da maior importância.

Grandes descobertas nas mais diversas áreas, como na saúde, na economia, na

engenharia, na astronomia, etc., perpassam o conhecimento matemático, e os

pesquisadores do futuro serão estudantes que passaram pelo ensino básico e tiveram

uma boa formação inicial. Para contribuir com futuros profissionais reflexivos, que

busquem aprofundar os conhecimentos e dialogar sobre sua prática diária, contribuindo

para a sociedade e, ao mesmo tempo, beneficiando-se pelas oportunidades providas por

seu conhecimento adquirido ao longo de sua formação escolar, é necessário que a

matemática ultrapasse essa barreira do mecanicismo e do distanciamento do cotidiano e

dos problemas reais com os quais nos deparamos. Como menciona D’Ambrosio (2019,

p. 24), quando fala do fazer matemático no cotidiano:

O cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres próprios da cultura. A todo instante, os indivíduos estão comparando, classificando, quantificando, medindo, explicando, generalizando, inferindo e, de algum modo, avaliando, usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua cultura.

Nesse sentido, estudos sobre a etnomatemática, que enfatizam as ações

pedagógicas construídas dentro do contexto sociocultural dos educandos, têm reportado

a importância da etnomatemática não apreendida nas escolas, mas no ambiente familiar,

no ambiente dos brinquedos e de trabalho, recebida de amigos e colegas (D’AMBROSIO,

2019).

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É importante considerarmos que a matemática é impulsionada por duas forças

indissociáveis: por um lado, o apelo às aplicações das mais variadas atividades humanas,

das mais simples às mais complexas; por outro lado, a especulação pura, a busca por

respostas a questões geradas.

A matemática está presente na quantificação do real (contagem, medição) e no

desenvolvimento de técnicas de cálculo com os números e grandezas, mas vai além. Ela

cria sistemas abstratos, que organizam, inter-relacionam e revelam fenômenos do

espaço, do movimento, das formas e dos números, associados, muitas vezes, a

fenômenos do mundo físico (BRASIL, 1998).

Nesta seção, tratamos do papel dos PCN na educação matemática. A princípio,

abordamos sua finalidade e como está organizado, e apresentamos seu contexto

histórico no campo da educação matemática para sua implementação na educação

básica. Nas próximas seções, seguiremos aprofundando os estudos, explicando as

diretrizes propostas pelos PCN para a sala de aula matemática nos ensinos fundamental

e médio.

7.1 PCN: matemática no ensino fundamental

Na matemática para o ensino fundamental (7 a 14 anos), os PCN buscaram

expressar a contribuição das investigações e experiências na área de educação

matemática. Por meio da proposição de objetivos, evidenciaram o papel da matemática

como instrumental para a compreensão do mundo, como área do conhecimento que

estimula o interesse, a curiosidade, o espírito investigativo e o desenvolvimento da

capacidade de resolver problemas (KOBASHIGAWA, 2006).

Kobashigawa (2006) afirma que, além disso, os PCN destacaram a importância

da história da matemática e das tecnologias da comunicação, a importância de

estabelecer conexões entre os conteúdos, entre a matemática e outras áreas do

conhecimento, suas relações com o cotidiano e com os temas transversais. Não existe

um caminho único para o ensino da matemática, mas conhecer as possibilidades de

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trabalho em sala de aula é fundamental para que o professor construa sua prática. Como

exemplo, pode-se destacar a história da matemática, as tecnologias da comunicação e

os jogos como recursos que fornecem os contextos dos problemas e os instrumentos

para a construção de estratégias de resolução (BRASIL, 1998).

Santos, Oliveira e Oliveira (2013) destacam o uso da história da matemática no

ensino fundamental, explicando que ela pode auxiliar o professor em sua prática em sala

de aula por meio de um processo de transposição didática e, em conjunto a outros

recursos didáticos e metodológicos, oferecer uma importante contribuição ao processo

de ensino e aprendizagem.

A história da matemática, em todos os níveis da educação básica, atribui

significado aos conceitos matemáticos e estimula os alunos a refletirem. Assim,

atividades sistematizadas nesse sentido ajudam a fazer relações interativas entre as

partes que integram o processo construtivista de desenvolvimento que associa a

linguagem matemática e a construção histórica. Os PCN incorporaram, já no ensino

fundamental, o estudo da probabilidade e da estatística e evidenciaram a importância da

geometria e das medidas para o desenvolvimento das capacidades cognitivas

fundamentais. Os blocos de conteúdo para o ensino fundamental são: números e

operações; espaço e forma; grandezas e medidas e tratamento da informação

(KOBASHIGAWA, 2006).

No terceiro ciclo do ensino fundamental, convivem alunos de 11 e 12 anos com

características, por vezes, bastante infantis. Os alunos mais velhos, que já passaram por

uma ou várias reprovações e/ou interrupção dos estudos, também podem pertencer a

esse ciclo. O estudo repetitivo de muitos conteúdos contribui para o fracasso escolar, e

alguns alunos atribuem esse fracasso à matemática, pois acham que ela tem pouca

utilidade prática e se sentem incapazes de compreender seus principais conceitos

(BRASIL, 1998).

Diante dessa complexidade, é importante considerar a bagagem de

conhecimentos matemáticos que os alunos trazem consigo, dando continuidade ao

processo de consolidação desses conhecimentos. Estimular o senso crítico dos

estudantes, instigando para que sejam questionadores, busquem explicações e

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finalidades para as questões quanto à utilidade da matemática, compreendam como ela

foi construída e busquem soluções para problemas do cotidiano, os auxiliará a

compreender e atuar no mundo (BRASIL, 1998, p. 63):

Assim, é fundamental que os alunos ampliem os significados que possuem acerca dos números e das operações, busquem relações existentes entre eles, aprimorem a capacidade de análise e de tomada de decisões, que começam a se manifestar. Também é necessário explorar o potencial crescente de abstração, fazendo com que os alunos descubram regularidades e propriedades numéricas, geométricas e métricas. Com isso criam-se condições para que o aluno perceba que a atividade matemática estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas.

Quanto aos conteúdos propostos para o ensino de matemática no terceiro ciclo,

os PCN (BRASIL, 1998) os organizam da seguinte forma.

Bloco Números e Operações: aqui, é fundamental oferecer situações-

problema que possibilitem o desenvolvimento do sentido numérico e dos significados das

operações. Dar continuidade ao trabalho com os números naturais, explorando situações

de contagem, ordenação, codificação, conceito de múltiplo e divisor, conceito de número

primo. O estudo dos números racionais, em suas representações fracionárias e decimais,

também deve ser destacado. Deve-se estimular os alunos a aperfeiçoarem seus

procedimentos de cálculo aritmético de diferentes formas, objetivando superar a mera

memorização de regras e de algoritmos. No trabalho com os números, é fundamental

estudar algumas relações funcionais, explorando padrões em sequências numéricas que

levem os alunos a fazerem generalizações e a compreenderem a natureza das

representações algébricas.

Bloco Espaço e Forma: os alunos reorganizam e ampliam os

conhecimentos anteriores, trabalhando com problemas mais complexos de localização

no espaço e com as formas nele presentes. Aqui, é importante dar ênfase às noções de

direção e sentido, de ângulo, de paralelismo e de perpendicularismo, às classificações

das figuras geométricas (quanto à planicidade e à dimensionalidade), às relações entre

figuras espaciais e suas representações planas e à exploração das figuras geométricas

planas, pela sua decomposição e composição, transformação (reflexão, translação e

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rotação), ampliação e redução. Também é importante ensinar procedimentos de

construção com régua, compasso e outros instrumentos, como esquadro e transferidor,

estabelecendo relação entre esses procedimentos e as propriedades geométricas que

neles estão presentes.

Bloco Grandezas e Medidas: cabe, aqui, proporcionar, aos alunos,

experiências que lhes permitam ampliar sua compreensão sobre o processo de medição,

percebendo que as medidas são úteis para descrever e comparar fenômenos. Exploram-

se medidas já estudadas de comprimento, massa, capacidade, superfície, tempo e

temperatura, e incorpora-se, nesse ciclo, o estudo das medidas de ângulo, de volume e

de algumas unidades da informática, como quilobytes e megabytes, que têm se tornado

usuais em alguns contextos. Além disso, deve-se orientar os alunos para que

desenvolvam estratégias de estimativa, ensinando-os a utilizar instrumentos como

balanças, relógios, escalímetros, transferidor, esquadro, trenas, cronômetros, etc.

Bloco Tratamento da Informação: nesse momento, os alunos ampliarão

as ideias básicas de estatística quanto à coleta e à organização de dados em tabelas e

gráficos, às relações entre acontecimentos, às previsões e à observação de frequência

de ocorrência de um acontecimento, bem como aprenderão a formular questões

pertinentes a um conjunto de informações, a elaborar algumas conjecturas, a comunicar

informações de modo convincente e a interpretar diagramas e fluxogramas. Também é

possível iniciar o estudo das medidas estatísticas como média aritmética. As noções

básicas de probabilidade têm papel fundamental nessa etapa, para que compreendam

como a matemática é usada para fazer previsões e percebam a importância da

probabilidade na vida cotidiana.

No quarto e último ciclo do ensino fundamental, muitos alunos ainda estão

passando por mudanças corporais e inquietações emocionais. Eles também começam a

preocupar-se com a continuidade dos estudos e o futuro profissional. Essas

preocupações podem ser favoráveis ao ensino e à aprendizagem em matemática, pois

os alunos percebem que esses conhecimentos são fundamentais para seus estudos

futuros e o ingresso no mundo do trabalho (BRASIL, 1998).

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Quanto aos conteúdos propostos para o ensino de matemática no quarto ciclo,

os PCN (BRASIL, 1998) os organizam da seguinte forma.

Bloco Números e Operações: aqui, consolida-se o estudo dos números e

das operações já conhecidas pelos alunos e ampliam-se os significados dos números

pela identificação da existência de números não racionais. É importante fomentar

situações em que os números racionais sejam insuficientes para resolver determinados

problemas, tornando necessária a consideração de outros números: os irracionais. Deve-

se levar o aluno a selecionar e utilizar procedimentos de cálculo (exato ou aproximado,

mental ou escrito) mais adequados à situação-problema proposta, fazendo uso da

calculadora como um instrumento para produzir resultados e para construir estratégias

de verificação desses resultados. Deve-se destacar que, no campo dos racionais,

ocorrem duas representações, a fracionária e a decimal, que pode ser finita ou infinita

periódica. Tratando-se do estudo da álgebra, são fundamentais a compreensão dos

conceitos de variável e de função, a representação de fenômenos na forma algébrica e

na forma gráfica, a formulação e a resolução de problemas por meio de equações (ao

identificar parâmetros, incógnitas, variáveis) e o conhecimento da sintaxe (regras para

resolução) de uma equação.

Bloco Espaço e Forma: o ponto de partida para o estudo está na análise

das figuras por observações, manuseios e construções que permitam, aos alunos, fazer

conjecturas e identificar propriedades. Aqui, cabem atividades que permitam, ao aluno,

perceber que, pela composição de movimentos, é possível transformar uma figura em

outra. O trabalho de ampliação e redução de figuras possibilita a construção da noção de

semelhança de figuras planas. Os problemas de geometria oportunizarão, aos alunos, os

primeiros contatos com a necessidade e as exigências estabelecidas por um raciocínio

dedutivo.

Bloco Grandezas e Medidas: permite a articulação entre diversos

conteúdos matemáticos. Os estudantes poderão ampliar a noção de número e aprender

noções geométricas. As medidas indicadas para estudo nesse ciclo não se referem

somente às grandezas de fenômenos físicos ou sociais, mas também a medidas de

memória do computador. Indica-se o estudo de grandezas determinadas pela razão de

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duas outras, como a densidade demográfica, ou pelo produto, como a energia elétrica

(kWh).

Bloco Tratamento da Informação: nesse momento, os alunos já têm

melhores condições de desenvolver pesquisas sobre sua própria realidade e interpretá-

las, fazendo uso de gráficos e algumas medidas estatística. Nas situações-problema

envolvendo estatística, os alunos podem dedicar mais tempo à construção de estratégias

e se sentir estimulados a testar suas hipóteses e interpretar resultados de resolução.

Também podem ser utilizados softwares de fácil acesso, como planilhas eletrônicas, que

permitem construir diferentes tipos de gráfico. O estudo da probabilidade permitirá que

os alunos percebam que podem indicar a possibilidade de ocorrência de determinado

evento e compará-la com a probabilidade prevista por um modelo matemático.

7.2 PCN: matemática no ensino médio

Nesta seção, seguiremos aprofundando os PCN, agora sob a perspectiva do

ensino médio. Para tanto, é necessário considerar que, cada vez mais, integramos uma

sociedade da informação, globalizada, e, portanto, a educação deve voltar-se para o

desenvolvimento das capacidades de comunicação, resolução de problemas e tomada

de decisões, oportunizando fazer inferências, criar, aperfeiçoar conhecimentos e valores,

e trabalhar cooperativamente (BRASIL, 2002).

Para Ricardo e Zylbersztajn (2008), os PCN para o ensino médio são uma

ambiciosa tentativa de o Ministério da Educação propor mudanças curriculares e

metodológicas nas práticas educacionais presentes na escola. Tratando-se da

matemática, a implementação das propostas enfrenta várias dificuldades, como a falta

de discussão nas escolas de modo que possam ser compreendidas pelos professores, a

falta de políticas educacionais que possam viabilizar discussões e a falta de formação

continuada e de ações efetivas para modificar a estrutura escolar centralizadora e com

cargas horárias pesadas para os docentes.

Conforme os PCN do ensino médio, a matemática tem um valor formativo, ajuda

a estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo, formando, no aluno, a capacidade de

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resolver problemas genuínos, gerando hábitos de investigação, proporcionando

confiança e desprendimento para analisar e enfrentar novas situações, permitindo a

formação de uma visão ampla e científica da realidade, entre outras capacidades. A

matemática, no ensino médio, também desempenha um papel instrumental, uma vez que

é uma ferramenta para a vida cotidiana. Ela deve ser vista, pelo aluno, como um conjunto

de técnicas e estratégias para serem aplicadas a outras áreas do conhecimento, bem

como a atividades profissionais (BRASIL, 2002).

Além disso, a matemática deve ser vista como ciência, com suas características

estruturais específicas. No ensino médio, aqueles conhecimentos adquiridos no ensino

fundamental são ampliados, e o aluno pode desenvolver suas capacidades de abstração,

raciocínio, resolução de problemas, investigação, análise e compreensão de fatos

matemáticos e de interpretação da própria realidade. O uso de tecnologias ligadas à

matemática também é essencial, uma vez que elas têm impacto direto na vida dos

indivíduos (BRASIL, 2002). Os PCN do ensino médio estabelecem os objetivos para que

o ensino da matemática possa resultar em aprendizagem real e significativa para os

alunos.

Conforme Brasil (2002), as finalidades do ensino de matemática no nível médio

incluem levar o aluno a:

compreender conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas

que lhe permitam desenvolver estudos posteriores e adquirir uma formação

científica geral;

aplicar seus conhecimentos matemáticos a situações diversas,

utilizando-os na interpretação da ciência, na atividade tecnológica e nas

atividades cotidianas;

analisar e valorizar informações provenientes de diferentes fontes,

utilizando ferramentas matemáticas para formar uma opinião própria, que lhe

permita expressar-se criticamente sobre problemas da matemática, das outras

áreas do conhecimento e da atualidade;

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desenvolver as capacidades de raciocínio, de resolução de

problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e criativo;

utilizar, com confiança, procedimentos de resolução de problemas

para desenvolver a compreensão dos conceitos matemáticos;

expressar-se oral, escrita e graficamente em situações matemáticas

e valorizar a precisão da linguagem e as demonstrações em matemática;

estabelecer conexões entre diferentes temas matemáticos e entre

esses temas e o conhecimento de outras áreas do currículo;

reconhecer representações equivalentes de um mesmo conceito,

relacionando procedimentos associados às diferentes representações

promover a realização pessoal mediante o sentimento de segurança

em relação às suas capacidades matemáticas, o desenvolvimento de atitudes

de autonomia e cooperação.

O desenvolvimento de valores, habilidades e atitudes desses alunos em relação

ao conhecimento e às relações entre colegas e professores é essencial. De fato, essa

preocupação com a formação integral dos indivíduos é um dos objetivos centrais da

educação (BRASIL, 2002).

Conforme Brasil (2006), explorar conteúdos a respeito de números, álgebra,

medidas, geometria, noções de estatística e probabilidade envolve diferentes formas do

pensar em matemática, diferentes contextos para as aplicações e a existência de razões

históricas que originaram esses conhecimentos. Portanto, os conteúdos ou temas

escolhidos para o processo de ensino e de aprendizagem em matemática devem permitir,

ao aluno, desenvolver suas competências, avançando em relação ao ponto em que se

encontra. Um conjunto de temas com relevância científica e cultural e com articulação

lógica das ideias e conteúdos matemáticos pode ser sintetizado em três eixos ou temas

estruturadores, que serão vistos a seguir (BRASIL, 2006).

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7.3 Tema 1. Álgebra: números e funções

A álgebra tem grande importância como linguagem, como na variedade de

gráficos presentes nos noticiários e jornais, e como instrumento de cálculo de natureza

financeira e prática. No ensino médio, esse tema trata de números e variáveis em

conjuntos infinitos e quase sempre contínuos, no sentido de serem completos. Os objetos

de estudo são os campos numéricos dos números reais e, eventualmente, os números

complexos e as funções e equações de variáveis ou incógnitas reais. Para o

desenvolvimento desse eixo, são propostas duas unidades temáticas:

1. variação de grandezas;

2. trigonometria.

Os procedimentos básicos desse tema se referem a calcular, resolver, identificar

variáveis, traçar e interpretar gráficos e resolver equações de acordo com as

propriedades das operações no conjunto dos números reais e as operações válidas para

o cálculo algébrico. Esse tema possui forte caráter de linguagem, com seus códigos

(números e letras) e regras (as propriedades das operações) formando os termos dessa

linguagem, que são as expressões que, por sua vez, compõem as igualdades e

desigualdades (BRASIL, 2006).

7.4 Tema 2. Geometria e medidas

A geometria é essencial à descrição, à representação, à medida e ao

dimensionamento de uma infinidade de objetos e espaços na vida diária e nos sistemas

produtivos e de serviços. No ensino médio, trata das formas planas e tridimensionais e

de suas representações em desenhos, planificações, modelos e objetos do mundo

concreto. Para o desenvolvimento desse tema, são propostas quatro unidades temáticas:

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92

1. geometrias plana;

2. geometria espacial;

3. geometria métrica;

4. geometria analítica.

As propriedades de que a geometria trata são de dois tipos: associadas à posição

relativa das formas e associadas às medidas. Isso dá origem a duas maneiras diferentes

de pensar em geometria. A primeira delas é marcada pela identificação de propriedades

relativas a paralelismo, perpendicularismo, interseção e composição de diferentes

formas. A segunda delas tem, como foco, quantificar comprimentos, áreas e volumes.

Usar as formas geométricas para representar ou visualizar partes do mundo real é uma

capacidade importante para a compreensão e a construção de modelos para a resolução

de questões da matemática e de outras disciplinas. Como parte integrante desse tema,

o aluno poderá desenvolver habilidades de visualização, de desenho, de argumentação

lógica e de aplicação na busca de soluções para problemas (BRASIL, 2006).

7.5 Tema 3. Análise de dados

A análise de dados tem sido essencial em problemas sociais e econômicos, como

nas estatísticas relacionadas a populações, saúde, transporte, orçamento e questões de

mercado. Propõe-se que constitua o terceiro eixo ou tema estruturador do ensino, e tem,

como objetos de estudo, os conjuntos finitos de dados, que podem ser numéricos ou

informações qualitativas, o que dá origem a procedimentos bem distintos daqueles dos

demais temas, pela maneira como são feitas as quantificações, usando-se processos de

contagem combinatórios, frequências e medidas estatísticas e probabilidades. Esse tema

pode ser organizado em três unidades temáticas:

1. estatística;

2. contagem;

3. probabilidade.

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93

A matemática do ensino médio pode ser determinante para a leitura das

informações que circulam na mídia e em outras áreas do conhecimento na forma de

tabelas, gráficos e informações de caráter estatístico. Contudo, espera-se do aluno nessa

fase da escolaridade que ultrapasse a leitura de informações e reflita mais criticamente

sobre seus significados. Assim, o tema proposto deve ir além das simples descrição e

representação de dados, atingindo a investigação sobre esses dados e a tomada de

decisões (BRASIL, 2006).

8 SEGMENTOS E ÂNGULOS

8.1 Semirreta e segmento de reta

Algumas ideias são básicas em geometria, dentre as quais se destacam o ponto

(adimensional, ou seja, sem dimensão), a reta (com uma dimensão — comprimento) e o

plano (com duas dimensões — largura e comprimento). Há dois princípios fundamentais

que estão vinculados à reta, demonstrados a seguir, (SAGAH, 2018).

1- Por um ponto passam infinitas retas.

2. Por dois pontos distintos, passa uma, e somente uma, reta

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94

As semirretas são as que têm início em um ponto e um sentido, sem fim. Se

temos, por exemplo, um ponto P qualquer em uma reta, ele a divide em duas semirretas,

com origem em P, conforme demonstrado a seguir.

Agora, vamos marcar dois pontos, A e B, sobre cada uma das semirretas a

seguir.

Passamos a ter dois pontos pertencentes a duas semirretas distintas:

O segmento de reta é uma linha delimitada por dois pontos, chamados de

extremidades. Ele contém todos os pontos que se encontram na reta entre os dois pontos

finais.

Segmentos consecutivos são dois segmentos de reta que têm uma extremidade

em comum, como nos exemplos , a seguir.

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95

Segmentos adjacentes são aqueles em que a extremidade de um é

concomitantemente à do outro. Conforme aparece a seguir, os segmentos são

adjacentes.

Segmentos colineares são aqueles que se encontram sobre uma mesma reta,

conforme demonstrado a seguir. Os segmentos , por exemplo, são colineares.

Segmentos congruentes são aqueles que têm medidas iguais. Os segmentos

são congruentes

Ponto médio de um segmento é o ponto M que o divide em dois segmentos

congruentes, conforme a seguir.

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96

8.2 Tipos de ângulos

Os ângulos são figuras formadas por duas semirretas que têm a mesma origem,

sendo elas os lados do ângulo, e o ponto de origem seu vértice. Observe o exemplo a

seguir (SAGAH, 2018).

Para medir um ângulo, utilizamos uma ferramenta chamada transferidor (Figura

1), que faz coincidir o ponto de origem do ângulo com o ponto de origem do instrumento.

As medidas de um ângulo são expressas em graus (°), minutos (’) e segundos (”), sendo

1 grau igual a 60 minutos, e 1 minuto igual a 60 segundos.

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É possível fazer algumas operações aritméticas entre ângulos: adição,

subtração, multiplicação por um número natural e divisão por um número natural.

Observe os seguintes exemplos (SAGAH, 2018)..

1) Adição

Note que o máximo que temos é 81 segundos, e a representação dos minutos e

segundos é de, no máximo, 60. Temos 81”, que podem ser expressos por 1’ 21”.

Somando 1’ aos 48 da primeira soma, temos a seguinte resposta:

2) Subtração

O problema aqui é que não há minutos no primeiro termo, portanto devemos

retirar 1 grau dos 100 graus, que ficará 99° 60’:

3) Multiplicação

17° 20’ . 3 = 51° 60’; como 60’ = 1°, temos 51º + 1º = 52º.

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98

4) Divisão

29º : 2 = 14º, sobrando resto 1º; como 1º = 60’, continuamos a operação dividindo

60’ por 2 e obtendo como resposta 14º 30’. Os ângulos podem ser retos, agudos ou

obtusos. Os retos têm 90º e são formados por retas perpendiculares, conforme a seguir

(SAGAH, 2018).

Os agudos têm menos que 90º

Os obtusos têm mais que 90º

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99

Outro ângulo notável é o raso, que tem 180º, conforme pode ser visto a seguir.

8.3 Teoremas envolvendo segmentos e ângulos

Existem alguns teoremas muito utilizados, que foram deduzidos a partir de

algumas relações existentes nos ângulos. Duas dessas relações referem-se a ângulos

complementares e suplementares. Ângulos complementares são aqueles cuja soma é

sempre 90º, como pode ser visto na ilustração a seguir, cujos ângulos 11º e 79º somam

90º (SAGAH, 2018).

Nesse caso, podemos afirmar que um ângulo é complementar ao outro. Já os

ângulos suplementares são aqueles cuja soma é sempre 180º, conforme segue:

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100

Ângulos construídos sobre um ângulo raso somam 180º. Nesse exemplo anterior,

há dois ângulos: um medindo 35º e outro 145º. Assim, podemos dizer que um é

suplementar ao outro. Observamos, a seguir, uma consequência da proposição dos

ângulos suplementares (SAGAH, 2018).

Os ângulos a e b foram construídos sobre um ângulo raso. Assim:

a + b = 180°

O mesmo pode-se afirmar sobre b e d:

b + d = 180°

Podemos substituir 180° por b + d na primeira equação e teremos:

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101

a + b = b + d

Assim:

a + b – b = d

∴ a = d

mostrando que ângulos opostos pelo vértice são congruentes. Veja um exemplo

de aplicação: com base na figura a seguir, determine os valores de x e y (SAGAH, 2018).

Podemos ver que o ângulo 3x + 15º é oposto pelo vértice ao ângulo de 60º.

Portanto, eles são congruentes. Assim:

Os ângulos y e 60° são suplementares. Portanto:

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Podemos partir para uma nova proposição sobre ângulos formados por três retas

— duas paralelas (r e s) e uma transversal (t), (SAGAH, 2018).

Os ângulos são congruentes:

Os ângulos são suplementares:

Agora, veremos um exemplo da aplicação, determinando os valores de a e b,

sendo r//s, e t uma reta transversal.

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105º e a são suplementares. Assim:

105º e b são congruentes, logo b = 105º. Você pode perceber a elegância dos

teoremas apresentados, que são muito simples e de demonstração fácil, servindo para

que você se aproxime das provas matemáticas e compreenda a estrutura lógica da

disciplina (SAGAH, 2018).

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9 POSIÇÕES RELATIVAS À INTERSEÇÃO DE DUAS RETAS

9.1 Interseção entre retas

As retas são representadas por meio de diversas formas de equações. Essas retas,

apesar de expressas com equações diferentes, podem ter relações de coincidência,

paralelismo e concorrência entre elas (WINTERLE, 2014). Como ponto de partida para

análise das relações entre retas no espaço, vamos observar a presença de pontos de

interseção entre elas. Quando duas retas r e s estão no espaço, é possível haver um

ponto de interseção I entre elas, como mostra a Figura 1. Em diversos campos de

estudos, a busca por esse ponto pode ser um processo de otimização de sistemas ou

mesmo melhor custo-benefício.

Exemplo 1 — Qual é o ponto de interseção entre as retas r e s, representadas

pelas equações a seguir?

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Solução: Para encontrar o ponto de interseção I entre as retas r e s, substituímos

os valores de x, y e z dados pelas equações paramétricas da reta s nas mesmas posições

do sistema de equação reduzida da reta r, obtendo assim (WINTERLE, 2014):

Da primeira equação obtemos t igual a -7 e da segunda obtemos t igual a -2.

Como não há equivalência entre os resultados, não há ponto de interseção I entre as

retas.

Exemplo 2 — Qual é o ponto de interseção entre as retas p e t, representadas

pelas equações a seguir?

Solução: Novamente, devemos iniciar a solução pela substituição das

componentes de uma reta em outra equação de reta:

Da primeira e segunda equações obtemos x igual a 2. Como são valores iguais,

conseguimos encontrar os valores de y e z, substituindo x por 2. O ponto de interseção

será I (2,1,3)

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9.2 Classificação de retas

Retas dispostas no espaço podem ter diversas relações entre elas, dentre as

quais o paralelismo e a coincidência são analisados a partir dos vetores diretores. A

concorrência e a reversão são analisadas com os vetores diretores e a presença de ponto

de interseção. Por fim, retas podem pertencer a um mesmo plano, sendo assim

chamadas de retas coplanares (SANTOS; FERREIRA, 2009).

9.3 Paralelismo e coincidentes

A determinação de paralelismo entre retas no espaço ocorre por meio de uma

análise dos vetores diretores de cada uma delas (SANTOS; FERREIRA, 2009). Se os

vetores diretores u e v são múltiplos escalares, consideramos que as retas terão a mesma

direção e serão paralelas, como mostra a Figura 2.

É possível ainda existir uma coincidência total entre as retas, chamando assim

de retas coincidentes. Para verificar isso, é necessário inicialmente que os vetores

diretores sejam múltiplos escalares e, em seguida, que se teste um ponto de uma reta na

outra; caso a inserção do ponto seja válida, concluímos que as retas são coincidentes

(BOULOS; CAMARGO, 1987).

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Caso os vetores sejam diferentes, é possível a existência ou não de concorrência,

para verificar isso, basta igualar as duas equações de retas e ver se há um ponto de

interseção I. Veja nos exemplos a seguir a demonstração dessa verificação para

paralelismo e coincidência (BOULOS; CAMARGO, 1987).

Exemplo 3 — Determine se há paralelismo entre as retas r e s a seguir.

Solução: Inicialmente extraímos os vetores diretores u e v das retas r e s. Caso

os vetores possuam relação escalar entre eles, as retas são paralelas:

O vetor diretor u e v serão:

Portanto, analisando os vetores, vemos que o vetor v é igual a u multiplicado pelo

escalar -2, logo as duas retas r e s são paralelas, ou seja, r // s. Quando temos duas retas

paralelas, conforme apresentado na Figura 2, podemos ver que não haverá nenhum

ponto de interseção entre elas. A única maneira de isso acontecer é se os vetores

diretores u e v forem iguais, assim sendo, toda a reta r será coincidente à reta s, e,

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portanto, todos os pontos serão de interseção. De qualquer maneira, vamos verificar o

ponto de coincidência substituindo r em s:

Se igualarmos dois a dois as partes das equações simétricas, veremos que os

valores de t encontrados não são iguais e, portanto, não haverá ponto de interseção entre

as retas, conforme duas retas paralelas devem se comportar (BOULOS; CAMARGO,

1987).

Exemplo 4 — Verifique a posição relativa entre as retas r e s, dadas pelas

equações a seguir.

Solução: Novamente extraímos os vetores diretores u e v das retas r e s (a reta

s foi alterada para equações simétricas a fim de facilitar encontrar o vetor diretor):

O vetor diretor u e o v serão:

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109

Como os vetores são iguais, podemos concluir que as retas r e s são

coincidentes.

9.4 Concorrentes e reversas

Quando as retas são previamente determinadas como não paralelas e/ou

coincidentes, elas podem ser classificadas como concorrentes, quando há um ponto de

interseção, ou reversas, quando não há interseção alguma (STEINBRUCH; WINTERLE,

2014). Para a determinação de retas reversas, é necessário provar que não há ponto

algum de interseção, como mostra a Figura 3. Veja a seguir exemplos de retas reversas

e concorrentes.

Exemplo 5 — As retas a seguir são reversas ou concorrentes?

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Solução:

Substituindo r em s:

Resolvendo as igualdades, obtemos um valor de t igual para todos, ou seja, t

igual a 2. Desse modo, concluímos que as retas são concorrentes. Indo além,

substituímos t na equação de r e obtemos o ponto I:

Retas planares e coplanaresO ponto de interseção das retas concorrentes é I

(1,2,–2).

Exemplo 6 — As retas a seguir são reversas ou concorrentes?

Solução:

Substituindo s em r:

Obtemos y igual a 11 e z igual a 19. Aparentemente isso nos leva a um ponto de

interseção e, assim, a concluir que as retas são concorrentes, no entanto, devemos ficar

atentos ao processo de verificação com x. Nesse exemplo, se substituirmos y e z,

obteremos diferentes valores de x, logo, não há ponto de interseção, e, assim,

classificamos as retas como reversas (BOULOS; CAMARGO, 1987).

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111

9.5 Retas planares e coplanares

Retas são ditas coplanares quando se localizam em um mesmo plano no espaço

(SANTOS; FERREIRA, 2009). Qualquer plano no espaço pode ser usado como

comparação para analisar as retas, por isso, para determinar com exatidão a

coplanaridade, utilizamos novamente os vetores diretores das retas. Se os vetores

diretores u(a,b,c) e v(d,e,f) de uma reta e um novo vetor feito por dois pontos das retas,

por exemplo, vetor AB(x1 – x2 ,y1 – y2 ,z1 – z2 ) tiverem como resultado da determinante

entre eles igual a zero, os vetores são coplanares. Veja a seguir:

Caso os vetores sejam colocados em ordem diferente, ou mesmo que o cálculo

do vetor AB seja feito como BA, não há problemas, pois o objetivo é verificar apenas a

igualdade com zero; assim, se o valor for diferente, já é desconsiderada a coplanaridade

entre retas.

Exemplo 7 — Determinar se as retas r e s são coplanares

Solução:

Vetores diretores u e v e vetor AB

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Em seguida, montamos o determinante:

Concluímos, então, que as retas são coplanares.

Exemplo 8 — Qual é o valor de m para que as retas r e s sejam coplanares?

Solução:

Vetores diretores u e v e vetor AB:

Em seguida, montamos o determinante:

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113

Para satisfazer o determinante, m tem de ser igual a 2/3.

Exemplo 9 — Dadas as retas a seguir, determine a relação entre elas.

Solução:

Inicialmente extraímos os vetores diretores u e v das retas r e s. Caso os vetores

possuam relação escalar entre eles, as retas são paralelas:

O vetor diretor u e o v serão:

Portanto, analisando os vetores, percebemos que os vetores diretores u e v não

possuem igualdade ou relação escalar entre eles, logo as retas não são paralelas e,

portanto, não podem ser coincidentes. A seguir, veremos como verificar se são

concorrentes (SANTOS; FERREIRA, 2009).

Substituindo r em s:

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114

Resolvendo as igualdades, obtemos um valor de t igual a –2/7 para a primeira e

a segunda partes da equação simétrica. E obtemos t igual a –13/3 entre a segunda e a

terceira partes da equação simétrica. Logo, se não há convergência entre os valores de

t, não há ponto de coincidência na reta e, assim, podemos classificá-la como reversa.

Indo além, vamos verificar a condição de coplanaridade. Vetores diretores u e v e vetor

AB:

Em seguida, montamos o determinante:

Como o resultado é diferente de zero, dizemos que as retas também não são

coplanares. Isso, porém, já pode ser deduzido quando as retas são consideradas

reversas: se retas são reversas, elas não são coplanares (WINTERLE, 2014).

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10 ESTUDO DA RETA NO PLANO

10.1 Equação de reta no plano

As retas são representadas por meio de equações (SANTOS; FERREIRA, 2009).

Essas equações podem ser obtidas por pontos no plano cartesiano e relações com

vetores (Figura 1). Na construção da equação da reta por meio de vetores, temos as

chamadas equações vetoriais, que não são o foco deste capítulo. Aqui, vamos abordar a

construção da equação através de pontos, na qual é necessário o uso de no mínimo dois

pontos para determinar um segmento de reta ou reta completa (Figura 2).

Imagine que uma reta é feita por dois pontos, um ponto localizado na origem e

outro na coordenada B (5,5). Quais são os pontos que pertencem à reta que tem como

base esses pontos? Se um ponto de referência da reta está na origem, isso significa que

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a reta passa pelo ponto (0,0). O segundo ponto está em (5,5). Os demais pontos devem

estar em coordenadas que são iguais nos valores de x e y. Sendo assim, alguns dos

pontos que pertencem a essa reta são os seguintes (SANTOS; FERREIRA, 2009).

A Figura 3 apresenta esses pontos no plano cartesiano

Como os valores de x e y devem ser iguais para pertencer à reta, podemos dizer

que uma relação/equação que a representa é y = x. Assim, todo valor de y será igual a x.

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10.2 Representação de retas no plano cartesiano

Retas podem ser construídas a partir de dois pontos no plano cartesiano. A

Figura 3, vista anteriormente, apresenta uma reta r construída a partir de dois pontos

.O uso desses pontos também permite o cálculo do coeficiente angular

da reta. Esse coeficiente representa o valor da tangente referente ao ângulo de inclinação

α:

De posse do coeficiente angular, é possível gerar a equação da reta (SANTOS e

FERREIRA, 2009):

y = a ∙ x + b

O valor de b, chamado de coeficiente linear, representa o valor de translação da

reta no sentido do eixo y. Caso a reta passe pela origem, esse valor será igual a zero.

Para encontrar o valor de b, é preciso substituir o valor de y e x por um dos pontos que

compõem a reta.

A equação de reta é:

Na Figura 4, os pontos A, B e P geraram a reta no plano, e o ângulo α representa

a inclinação da reta (SANTOS; FERREIRA, 2009). Perceba que, quando o coeficiente

angular é positivo, a reta é ascendente; quando é negativo, a reta é descendente.

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118

10.3 Retas paralelas aos eixos cartesianos

Quando obtemos equações de retas em que o coeficiente linear é igual a zero, a

reta passa pela origem do sistema. Quando o coeficiente angular é igual a zero, o valor

da tangente do ângulo de inclinação é igual a zero, ou seja, o único valor de ângulo que

satisfaz essa tangente é zero grau. Por isso, podemos perceber que há retas sem as

variáveis x ou y, sendo x igual a uma constante ou y igual a uma constante. Quando isso

acontece, dizemos que a reta está paralela aos eixos cartesianos (STEINBRUCH;

WINTERLE, 2014). Quando não houver x, a reta está paralela ao eixo x; quando não

houver y, a reta está paralela ao eixo y. Observe a Figura 5 com as retas r e s, paralelas

aos eixos x e y, respectivamente.

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10.4 Avaliação das posições das retas em função do coeficiente angular

As retas variam suas inclinações em função do coeficiente angular. Quando

temos coeficientes angulares iguais em retas diferentes, temos retas com o mesmo grau

de inclinação e, portanto, paralelas (STEINBRUCH; WINTERLE, 2014). Quando temos

coeficientes angulares diferentes, temos um ângulo de diferença entre as retas

comparadas. Como cada reta possui um ângulo correspondente em relação ao eixo

horizontal, se a diferença entre esses ângulos for igual a 90° (ou igual a um múltiplo de

90º), temos, então, um caso de ortogonalidade entre retas. Observe, na Figura 9, retas

com inclinações diferentes em função de coeficientes angulares diversos.

11 DISTÂNCIA ENTRE PONTOS, RETAS E PLANO

11.1 Dois pontos

A distância entre dois pontos é dada pelo comprimento da semirreta que os liga.

Observe a Figura 1, a seguir, e lembre-se de que você poderia construir diversos

caminhos para chegar do ponto A ao ponto B, e cada um deles terá um comprimento

diferente. Mas o conceito de distância é denominado pela menor delas ente os caminhos

possíveis — no caso, uma linha reta.

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11.2 Um ponto e uma reta

A distância entre um ponto P e uma reta r é dada pela distância entre P e o ponto

pertencente a r mais próximo de P. Observe a Figura 2 e note que há diversos pontos

pertencentes à reta r, cujas menores distâncias são segmentos de retas, como visto

anteriormente. Mas o ponto mais próximo a P é o C, cujo segmento de reta que os liga

faz um ângulo de 90º entre ele e a reta r (STEINBRUCH; WINTERLE, 2014).

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11.3 Um ponto e um plano

A distância entre um ponto P e um plano α é dada pela distância entre o ponto P e

um ponto pertencente ao plano mais próximo de P. Veja que, na Figura 3, existem

diversos pontos que pertencem ao plano α, mas apenas o ponto B é o mais próximo de

P. O segmento que une esses dois pontos faz um ângulo de 90º com o plano

(STEINBRUCH; WINTERLE, 2014).

11.4 Duas retas

A distância entre duas retas r e s é definida como a menor distância entre um

ponto de r e um ponto de s (Figura 4). Podemos dizer, também, que a distância entre as

duas retas é igual à distância de um ponto P qualquer de r e a reta s, como visto

anteriormente.

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Se as retas forem paralelas, temos a distância como mostrada na Figura 4. Note

que os ângulos entre o segmento que junta os pontos P e A e as retas são de 90º. Se as

retas forem concorrentes ou coincidentes, a menor distância entre elas é nula, pois os

pontos de ambas mais próximos entre si são coincidentes (Figura 5) (STEINBRUCH;

WINTERLE, 2014)

Se as retas forem reversas, a distância entre elas é o comprimento da semirreta

perpendicular a elas (Figura 6). Note que essa semirreta deve ter pontos em comum com

ambas as retas, r e s

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11.5 Reta e plano

A distância entre uma reta r e um plano paralelo a r é igual à distância entre um

ponto qualquer da reta até o plano. Dessa maneira, essa distância recai no caso já visto

de distância entre ponto e plano (Figura 7) (STEINBRUCH; WINTERLE, 2014).

11.6 Dois planos

A distância entre dois planos paralelos é a distância entre um ponto qualquer de um

deles com o outro plano (Figura 8).

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124

12 ÂNGULOS NO ESPAÇO

12.1 Retas coplanares

Suponha as retas r e s coplanares. Se elas forem coincidentes ou paralelas,

podemos dizer que o ângulo entre elas é zero. Agora, se elas forem concorrentes, elas

formam quatro ângulos entre si (Figura 9). Os pares θ e θ´ e γ e γ´ são chamados de

opostos pelo vértice e são congruentes. Se forem considerados dois ângulos não opostos

pelo vértice, eles são suplementares, como γ´ + θ = 180°. Nesse caso, o ângulo entre

elas é considerado o menor entre os quatro (AZEVEDO FILHO, 2015). Se as retas forem

perpendiculares, os quatro ângulos são iguais a 90º.

12.2 Retas reversas

Suponha as retas r e s reversas e dois pontos A e B quaisquer de r e s

respectivamente (Figura 10a). Agora, vamos desenhar uma reta paralela a s, s´, que

passe por r no ponto A, e, opostamente, uma reta paralela a r, r´, que passe por s no

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125

ponto B (Figura 10b). Os ângulos formados entre r e s´ e s e r´ são iguais, e, por definição,

esse será o ângulo considerado entre as retas r e s (AZEVEDO FILHO, 2015).

Se as retas r e s forem ortogonais, o ângulo entre elas é de 90º.

12.3 Planos

Se dois planos forem considerados coincidentes ou paralelos, a angulação entre

eles é nula. Agora vamos pensar em dois planos concorrentes. Suponha α e β como dois

planos concorrentes (Figura 11a). Seja t a reta resultante da intersecção entre os planos.

Agora, considere A e B como pontos distintos dessa reta (Figura 11b). As retas s e s´ são

perpendiculares a t, passando por A e B, e as retas r e r´ são perpendiculares a t,

passando também por A e B. Dessa maneira, temos que r e s, e r´ e s´ são pares de retas

concorrentes, e que r//r´ e s//s´. Temos, então, que os dois ângulos formados entre as

retas são congruentes, sendo essa a definição de ângulos entre planos. Caso os planos

forem perpendiculares, esse ângulo é de 90º.

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126

13 ÂNGULOS E INTERSEÇÕES

13.1 Ângulo entre retas

As retas, como os vetores, podem ser comparadas de modo que se obtenham

os valores de ângulos entre elas. Para analisar o ângulo, uma maneira é por meio dos

vetores diretores (SANTOS; FERREIRA, 2009), com os quais basta utilizar a relação de

produto escalar sobre o produto do módulo de cada vetor:

Sendo u e v os vetores diretores de duas retas distintas r e s. Observe a Figura 1

Exemplo 1 – Qual é o ângulo entre as retas r e s, dadas pelas equações a seguir?

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127

Solução: Primeiro, é necessário identificar os vetores diretores u e v das retas r

e s. O vetor diretor da reta r, apresentada na forma de equações paramétricas, é extraído

pela observação do número que multiplica t em cada equação, ou seja (SANTOS;

FERREIRA, 2009):

O vetor diretor u será:

O vetor diretor da reta s, apresentada na forma de equações simétricas, é

extraído pela observação dos números no denominador de cada equação, ou seja:

O vetor diretor v será:

O ângulo entre as retas será:

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128

A partir desse exemplo, podemos perceber que, quando tivermos vetores

diretores que produzam um produto escalar igual a 0, haverá uma condição de

ortogonalidade entre as retas (ângulo θ igual a 90°) (SANTOS; FERREIRA, 2009):

Exemplo 2 – Qual é o valor de m para que o ângulo entre as retas r e s seja de

30°?

Solução:

Inicialmente obtemos os vetores diretores de r e s:

O ângulo entre as retas é dado por:

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129

Para ter o ângulo de 30°, é necessário um cosseno no valor de , logo:

Elevando ambos os lados ao quadrado:

Como |m| 2 é igual a m2 , então retiramos o módulo:

A partir dessa equação, obtemos o valor de m igual a ±√30 para satisfazer o

ângulo θ entre as retas igual a 30° (SANTOS; FERREIRA, 2009):

Exemplo 3 – Sabendo que as retas r e s são ortogonais, qual é o valor de m

necessário para essa condição?

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130

Solução: Para que as retas sejam ortogonais, o produto escalar entre os seus

vetores diretores deve ser igual a zero. Logo, iniciamos o cálculo obtendo os vetores

diretores u e v das retas r e s:

Após uma transformação da equação da reta s de reduzida para simétrica, de

modo a se obter mais facilmente o vetor v, temos os vetores diretores (SANTOS;

FERREIRA, 2009):

O produto escalar deve ser igual a zero, logo:

13.2 Interseção entre planos

Quando retas se interceptam, é obtido um único ponto de equivalência. Quando

uma reta cruza um plano, obtém-se também apenas um ponto de interseção. Já quando

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131

planos se interceptam, são obtidos vários pontos, ou seja, a interseção entre planos é

representada por uma reta r, como se vê na Figura 2 (STEINBRUCH; WINTERLE, 2014)

Veja nos exemplos a seguir casos de interseção entre planos e entre planos e

retas. Exemplo 4 – Qual é o ponto de interseção da reta r no plano π?

Solução: O procedimento de interseção entre reta e plano é similar ao de pontos

de interseção entre retas concorrentes, ou seja, substituímos os valores da reta r na

equação do plano π:

Em seguida, substituímos t na equação paramétrica da reta r:

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132

O ponto de interseção entre a reta r e o plano π é em I (–3,2,4).

Exemplo 5 – Qual é a reta de interseção entre os planos π1 e π2 ?

Solução: Para se obter a reta que representa a interseção entre planos,

iniciamos com o agrupamento das equações dos planos em um sistema:

Como temos apenas duas equações e três variáveis, é impossível de se resolver

o problema, a menos que se coloque uma das variáveis como parte da solução. Mas

façamos diferente, vamos atribuir uma das posições de cada uma das equações como

sendo zero. Ou seja, tanto o plano 1 quanto o plano 2 devem ter interseção em algum

ponto quando x for igual a zero, dessa forma, resta apenas descobrir o valor das variáveis

y e z que estão nesse local. O sistema fica reduzido como a seguir (SANTOS;

FERREIRA, 2009):

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133

Com esse sistema reduzido, de duas equações e duas variáveis, obtemos os

valores de y e z quando x for igual a zero. Esse ponto P é dado por:

Com o ponto obtido, falta determinar o vetor diretor u da reta r que faz interseção

com os dois planos. Para determinar essa reta, é importante lembrar que a reta deve

estar ortogonal a ambos os planos, logo o vetor diretor da reta de interseção é resultado

do produto vetorial entre os dois vetores normais n1 e n2 dos planos π1 e π2 :

O produto vetorial é dado por:

A equação vetorial da reta r que faz interseção pelos dois planos é dada por

(SANTOS; FERREIRA, 2009)::

Exemplo 6 – Qual é a equação paramétrica da reta de interseção entre os planos

π1 e π2 ?

Solução:

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134

14 TRIÂNGULOS

14.1 Triângulos e suas linhas transversais

Triângulos são figuras geométricas formadas pelos segmentos que unem três

pontos não colineares, conforme demonstrado na Figura 1, a seguir.

Um triângulo é constituído pelos seguintes elementos, demonstrados na Figura 2:

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135

Outro elemento do triângulo é o ângulo externo, mostrado na Figura 3.

14.2 Classificação dos triângulos

Os triângulos são classificados de acordo com as medidas dos seus lados e

ângulos (BOSTOCK et al., 1996). Por meio dos lados, eles podem ser classificados em

equiláteros (Figura 4), isósceles (Figura 5) e escalenos (Figura 6), de acordo com as

características descritas a seguir.

Equiláteros — têm os três lados congruentes.

Isósceles — têm dois lados congruentes.

Escalenos — os três lados têm medidas diferentes

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Em relação aos seus ângulos, os triângulos podem ser acutângulos (Figura 7),

obtusângulos (Figura 8) e retângulos (Figura 9).

Acutângulo — todos os ângulos medem menos de 90°.

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137

Obtusângulo — tem um ângulo com mais de 90°.

Retângulo — tem um ângulo com mais de 90°.

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14.3 Elementos notáveis de um triângulo

No triângulo, os elementos notáveis são a mediana, a bissetriz, a altura e a

mediatriz.

Triângulos Mediana — é o segmento que une um vértice ao ponto médio do

lado oposto (Figura 10).

O encontro das três medianas de um triângulo é denominado baricentro (Figura 11).

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139

Bissetriz — é o segmento que une o vértice ao seu lado oposto, dividindo o

ângulo do vértice em duas partes congruentes (Figura 12)

Incentro — é o encontro das três bissetrizes de um triângulo (Figura 13)

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140

Altura — é a perpendicular que vai de um vértice ao lado oposto, ou ao seu

prolongamento (Figura 14).

Ortocentro — é o encontro das três alturas de um triângulo (Figura 15).

Mediatriz — é uma reta perpendicular que passa pelo ponto médio de um lado

do triângulo, de onde se conclui que o triângulo tem três mediatrizes (Figura 16).

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141

Circuncentro — o ponto de encontro das três mediatrizes é denominado

circuncentro, que fica a uma mesma distância de cada um dos seus vértices (Figura 17).

A Figura 18, a seguir, demonstra que o circuncentro é o centro da circunferência

circunscrita no triângulo.

A soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é sempre 180°. Assim, dados

dois ângulos, podemos sempre calcular a medida do terceiro, como demonstrado no

exemplo a seguir.

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142

15 TEOREMAS SOBRE TRIÂNGULOS

15.1 Teorema da base média

A base média de um triângulo é o segmento que tem extremidades nos pontos

médios do referido triângulo (Figura 20).

O teorema da base média do triângulo afirma que, em qualquer triângulo, o

segmento com extremidades nos pontos médios de dois lados é paralelo ao terceiro lado,

e sua medida é igual à metade desse terceiro lado (ÁVILA, 2006).

15.2 Desigualdade triangular

Em todo triângulo, o comprimento de qualquer lado é sempre menor que a soma

dos comprimentos dos outros dois (Figura 21).

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143

A Figura 21 apresenta um triângulo ABC, a partir da qual temos que (ÁVILA,

2006):

Dessas desigualdades, podemos deduzir que:

Vamos reescrever em termos de módulo para a e b ∈ ℛ, definindo que:

Ou

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144

Portanto: x = |x| ou x = –|x| e

Somando as desigualdades, termo a termo:

que é denominada desigualdade do triângulo.

15.3 Cálculos e demonstrações

O perímetro de qualquer figura plana é a medida do seu contorno, dada pela

soma das medidas dos seus lados. Como um triângulo possui três lados, a medida de

seu perímetro é o resultado da adição deles. A área do triângulo é dada pela multiplicação

da medida de uma base por sua altura. Vamos dar continuidade com uma demonstração

do teorema da base média dos triângulos, cuja afirmativa é que a medida dessas bases

é igual à metade do lado do triângulo que é paralelo. Observe o triângulo DEF, de base

B e altura h, na Figura 22 (ÁVILA, 2006).

Agora, vamos traçar duas retas paralelas à altura h: uma passando pelo vértice

E, e outra passando pelo vértice F. Traçaremos, também, uma reta paralela à base B,

passando pelo vértice D, conforme vemos na Figura 23.

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145

Veja que:

o triângulo EID possui metade da área de EIDH;

o triângulo IFD possui metade da área de IFGD.

Como EFGH = EIDH + IFGD e DEF = EID + IFD, temos que:

área de DEF =

Como a área do retângulo = B . h temos que:

área do triângulo =

Agora, demonstraremos o teorema da base média. Observe a Figura 26, a seguir:

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146

No triângulo, MN//BC

Agora, vamos prolongar MN até um ponto P, que será determinado para que

tenhamos MN congruente com NP (Figura 27).

Unimos, então, o ponto P ao vértice C, criando o triângulo NPC (Figura 28).

Observe que é congruente com

Assim:

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147

Desse modo, temos que BCPM é um paralelogramo,

Como 2 MN = MP, temos que:

2 MN = BC

Logo:

Na Figura 29, você verá uma demonstração de que a soma dos ângulos internos

de um triângulo é 180°.

O próximo passo da demonstração é construir uma reta paralela ao lado AB, que

passa pelo vértice C (Figura 30).

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148

Na Figura 31, prolongamos o lado BC e marcamos os ângulos δ e ε.

Analisando essa figura, verificamos que:

γ + δ + ε = 180º

Os ângulos β e ε são correspondentes, logo, são congruentes. Os ângulos a e δ

são alternos internos, logo, são congruentes. Substituindo em γ + δ + ε = 180°, temos

que:

γ + α + β = 180°

Na Figura 32, você acompanhará a demonstração de que um ângulo externo

mede a soma dos dois ângulos internos não adjacentes (ÁVILA, 2006).

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149

No triângulo, temos que:

δ + ζ = 180 → ζ = 180 – δ

α + β + ζ = 180

Substituindo:

α + β + 180 – δ = 180

e

α + β = 180 – 180 + δ

∴ α + β = δ

16 TRIGONOMETRIA DO TRIÂNGULO RETÂNGULO

16.1 Razões trigonométricas no triângulo retângulo

O triângulo retângulo é uma figura geométrica muito utilizada na matemática. A

partir dele, conseguimos descrever diversas razões e propriedades trigonométricas,

como você vai ver neste capítulo. Para iniciar o estudo dessa forma geométrica, é

importante conhecer os elementos que a compõem. A Figura 1 mostra um triângulo

retângulo ABC, retângulo em A (FILHO, 2015).

Os elementos desse triângulo são descritos a seguir.

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150

Os triângulos retângulos também possuem algumas relações métricas. A partir

do triângulo ABC, você pode identificar mais dois triângulos retângulos, DAC e DBA,

conforme mostra a Figura 2 (FILHO, 2015).

Os triângulos ABC e DAC são semelhantes pelo caso ângulo ângulo (A.A). Os

ângulos do primeiro triângulo e do segundo triângulo são retos, e o ângulo é comum aos

dois. Assim, podemos escrever que:

Pelo mesmo tipo de semelhança, podemos analisar os triângulos ABC e DBA, de

onde concluímos que:

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151

Observando o triângulo DCA, verifica-se que os ângulos e são complementares

— ou seja, a sua soma é 90°. E, como no triângulo ABC, os ângulos e também são

complementares. Podemos concluir que os ângulos e são congruentes. Assim, os

triângulos DBA e DCA são semelhantes pelo caso A.A. Portanto, podemos escrever que:

Agora, somando b2 = am e c2 = an, ficamos com:

Ou seja:

Agora, vamos ver algumas razões trigonométricas do triângulo retângulo.

Considere o triângulo retângulo mostrado na Figura 3 à esquerda. Nele, verificam-se os

seguintes elementos (FILHO, 2015):

Agora, vamos traçar paralelas a c, como mostrado na Figura 3 à direita. Então,

por semelhança de triângulos, temos que:

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152

Assim, como os triângulos são semelhantes, as relações referentes ao ângulo α

serão as mesmas para todos eles. Portanto, pode-se definir as seguintes relações

(FILHO, 2015):

Seno de α:

Tangente de α:

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153

E, se quisermos encontrar o ângulo α com base nos lados do triângulo, usamos

as relações trigonométricas inversas. Assim (FILHO, 2015):

17 POLÍGONOS

17.1 O que são os polígonos?

Para definirmos o que são os polígonos, iniciaremos pela linha poligonal, que é

uma sequência de segmentos não colineares pertencentes a um mesmo plano. A Figura

1, a seguir, mostra dois exemplos de linhas poligonais: aberta e fechada. A diferença

entre elas é que as fechadas ocorrem quando o ponto final coincide com o ponto inicial

(FILHO, 2015).

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154

Um polígono é, então, definido como um conjunto de pontos de uma linha

poligonal fechada e de seu interior. A seguir, a Figura 2 mostra dois exemplos de

polígonos. Note que os segmentos não se cruzam (FILHO, 2015).

Os polígonos podem ser classificados pelo número n de lados. O Quadro 1

mostra a sua classificação de acordo com esse número n. Note que um polígono de n

lados também possui n vértices e n ângulos internos. Geralmente, acima de n = 20, usa-

se a denominação “polígono de n lados”.

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155

17.2 Polígonos convexos, côncavos e regulares

Os polígonos podem ser convexos ou não convexos. Um polígono convexo é

aquele que possui todos os seus ângulos internos menores que 180º. Já, se o polígono

possuir algum ângulo interno maior que 180º, ele será considerado não convexo ou

côncavo. Alternativamente, podemos dizer que um polígono é dito convexo se, dados

dois pontos quaisquer A e B pertencentes ao seu interior, o segmento AB terá todos os

seus pontos no interior do polígono, conforme figura 3, a seguir. Já, se o polígono for não

convexo ou côncavo, é possível encontrar pontos de um segmento como AB fora do

polígono.

Um polígono regular é aquele que, além de convexo, possui todos os lados os

ângulos congruentes (FILHO, 2015).

17.3 Propriedades dos polígonos

Os polígonos exibem diversas propriedades, as quais envolvem suas diagonais,

seus ângulos internos, externos, dentre outros. A seguir, veremos algumas delas

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156

17.4 Diagonais de um polígono

Definição: a diagonal de um polígono é definida como todo segmento de reta

que une dois vértices que não sejam consecutivos. A Figura 4, a seguir, mostra exemplos

de diagonais (linhas tracejadas) (FILHO, 2015).

Já o número de diagonais D de um polígono é dado por:

Onde n é o número de lados do polígono. Demonstração: suponha A como um

dos vértices do polígono, podemos traçar n – 3 diagonais (Figura 4). Como o polígono

tem n vértices, o número total de diagonais é n(n – 3). Note que cada diagonal foi contada

duas vezes (por exemplo, AC = CA), assim, dividimos por 2, chegando ao resultado final:

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157

17.5 Soma dos ângulos internos de um polígono

Definição: um ângulo interno de um polígono é definido como aquele entre dois

lados que sejam consecutivos do mesmo (Figura 5a). A soma de todos os ângulos

internos de um polígono Si é dada por (FILHO, 2015):

onde n é o número de lados do polígono.

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158

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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