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O SISTEMA MUNDIAL EM TEMPOS DE MUDANÇAS As Teorias das Relações Internacionais Praticamente todas as entidades políticas apresentam relações exteriores, além dos aspectos estritamente interiores Os primeiros e mais reconhecidos tratados de política e de governo são análises e modelos de formas de governo internas e externas A capacidade de estabelecer relações inter-estatais, termo adequado segundo Taylor (1994 e 1999), faz parte dos elementos fundadores e definidores da identidade política As relações exteriores são um dos atributos fundamentais da soberania política Para Taylor (1999), a soberania interior está subordinada à exterior Todo Estado existe junto a outros em uma sociedade de Estados “A paz é um período entre guerras” Face à confusão do conflito é necessário um poder forte que imponha a ordem Os Estados devem procurar seus próprios interesses guiados pela “prudência” e “experiência” Realismo: o mundo dividido em blocos e poder desigual dos Estados Idealista: sistema regulado por leis e instituições que tem como objetivo o acordo e a estabilidade Para Taylor (1999), cada potência hegemônica baseia sua ordem mundial em uma grande instituição. Exemplos: o Holanda (séc. XVII) Tratado de Westfalia o Inglaterra (séc. XIX) Congresso de Viena o Estados Unidos (1815) Acordos de Bretton Woods Globalismo: sistema internacional regido por instituições mundiais Pluralismo: Empresas, lobbies, instituições internacionais, organizações não governamentais também tomam parte nas influências e decisões Decisões regidas pelo interesse econômico menos política em si Menos governo e mais “governança” Globalismo e pluralismo: Multilaterlismo, a nova chave de leitura do sistema mundial As Interpretações da Nova Ordem Mundial Perguntas: o Existe uma Ordem Mundial, ou o sistema internacional é anárquico? o Se existe, qual a dinâmica das ordens internacionais? Não é possível estabelecer a relação ordem = bom, desordem = ruim, muito menos o contrário A ordem pode ser fruto da coação ou do consenso; da persuasão ou da dissuação Para Hassner (1995) pode existir ordem e seus princípios são (ou devem ser):

Geopolítica - reflexões sobre a globalização e identidade das nações (Geopolítica II)

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O SISTEMA MUNDIAL EM TEMPOS DE MUDANÇAS

As Teorias das Relações Internacionais Praticamente todas as entidades políticas apresentam relações exteriores, além dos aspectos estritamente

interiores Os primeiros e mais reconhecidos tratados de política e de governo são análises e modelos de formas de

governo internas e externas A capacidade de estabelecer relações inter-estatais, termo adequado segundo Taylor (1994 e 1999), faz

parte dos elementos fundadores e definidores da identidade política As relações exteriores são um dos atributos fundamentais da soberania política Para Taylor (1999), a soberania interior está subordinada à exterior Todo Estado existe junto a outros em uma sociedade de Estados “A paz é um período entre guerras” Face à confusão do conflito é necessário um poder forte que imponha a ordem Os Estados devem procurar seus próprios interesses guiados pela “prudência” e “experiência” Realismo: o mundo dividido em blocos e poder desigual dos Estados Idealista: sistema regulado por leis e instituições que tem como objetivo o acordo e a estabilidade Para Taylor (1999), cada potência hegemônica baseia sua ordem mundial em uma grande instituição.

Exemplos:o Holanda (séc. XVII) Tratado de Westfaliao Inglaterra (séc. XIX) Congresso de Vienao Estados Unidos (1815) Acordos de Bretton Woods

Globalismo: sistema internacional regido por instituições mundiais Pluralismo: Empresas, lobbies, instituições internacionais, organizações não governamentais também

tomam parte nas influências e decisões Decisões regidas pelo interesse econômico menos política em si Menos governo e mais “governança” Globalismo e pluralismo: Multilaterlismo, a nova chave de leitura do sistema mundial

As Interpretações da Nova Ordem Mundial Perguntas:

o Existe uma Ordem Mundial, ou o sistema internacional é anárquico?o Se existe, qual a dinâmica das ordens internacionais?

Não é possível estabelecer a relação ordem = bom, desordem = ruim, muito menos o contrário A ordem pode ser fruto da coação ou do consenso; da persuasão ou da dissuação Para Hassner (1995) pode existir ordem e seus princípios são (ou devem ser):

o a segurança coletivao o equilíbrio de podero o governo mundial

Uma ordem compartilhada, que garanta a estabilidade do sistema, sem submissão de nenhum de seus agentes

Ordem hegemônica: organização de um sistema de acordo com interesses políticos de um Estado, um grupo de Estados ou um organismo militar ou econômico

A ordem hegemônica se sustenta em:o a capacidade material (economia)o as idéias (ideologia)o as instituições (política)

Segundo Hoogvelt (1997) há quatro fases da ordem mundial:o Mercantil (1500-1800)o Colonial (1800-1850)o Neo-colonial (1850-1970)o Pós-imperialista ou pós-colonial (1970 em diante)

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Questionamento da hegemonia dos EUA, nova ordem multipolar menos relacionada aos Estados “Teoria dos sistemas mundiais” (Immanuel Wallerstein) um sistema de partes inter-relacionadas, que

nasce, se desenvolve e entra em decadência paralelamente à consolidação do sistema sucessivo Dentro desse sistema podem ocorrer vários ciclos internos, com ascensão, triunfo, maturidade e decadência

A Guerra Fria como Ordem Mundial e Suas Dimensões Dominação: hegemonia estadunidense / URSS: anti-modelo

o Hegemonia holandesa X Estado absolutistao Hegemonia britânica X Despotismo oriental

Bretton Woods + Banco Mundial + FMI + GATT fomento à estabilidade econômica, livre comércio e difusão do capitalismo como “via de desenvolvimento”.

Organizações Mundial X Multiplicidade de Estados Paradoxo? Não o sistema necessita de manter estruturas sociais e econômicas diferenciadas e desiguais, para

assegurar seu dinamismo, como estruturas políticas eficientes e capazes de garantir a ordem Organização hierárquica dos Estados:

Central Periférica Semi-periférica

o Centro altos salários, tecnologia moderna, produção diversificadao Periferia salários baixos, tecnologia mais rudimentar, produção simpleso Semi-periferia elementos intermediários, ou conciliação de características centrais com

características periféricas Papel fundamental na estabilidade do sistema:

evita polarização radical; é dinâmico: pode progredir dentro do sistema

Sistema benéfico para os países centrais crescimento da riqueza sem impedimento por 30 anos Nem tanto para os países periféricos “distanciamento” de um bem-estar coletivo Intercâmbios econômicos desiguais entre países centrais e periféricos Países periféricos enfrentam diminuição de sua soberania Modelo de desenvolvimento proposto pelos países centrais para os países subdesenvolvidos “Ocidentalização” junto com o modelo de desenvolvimento, há difusão dos valores culturais europeus e

estadunidenses Respostas de países do Terceiro Mundo

o Política de substituição de importaçõeso Processos revolucionários (África) apoio da URSSo Insurreições guerrilheiras (América Latina, Sudeste Asiático) apoio da URSS

Duplo eixo de interpretação: Leste-Oeste / Norte-Sulo Leste-Oeste divisão política fundamentalo Norte-Sul modelo de relação econômica

Enfrentamento ideológico e tecnológico Perda de produtividade + falta de inovação Queda do mundo socialista Ineficiência dos modelos incapacidade dos sistemas políticos em distribuir a riqueza, impedindo o

aparecimento de uma classe média que sustentasse o crescimento e desse estabilidade social “A história se repete, a geografia não”.

Um Novo Mapa do Mundo: Geopolítica do Caos? A queda do Muro de Berlim marcação do fim de época geopolítica, de uma ordem e da revolução

comunista soviética Fragmentação do bloco soviético nascimento (ou renascimento) de 31 Estados

Centro X periferia deixando de ser relação geográfica e passando a ser uma relação social O Terceiro Mundo está presente tanto nos países pobres, como nos desenvolvidos

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O desenvolvimento também se faz presente nos países do pobres Divisão do trabalho não mais internacional, mas local Economia capitalista global sociedade global, com desigualdades, mas única Triunfo do capitalismo e das democracias liberais Fukuyama (1994) “Fim da história” George Bush “nova ordem mundial” de democracia e capitalismo Estabilidade definitiva do sistema mundial? Não, os fatos mostram-se muito mais complexos e ambivalentes Multipolaridade (econômica e política), EUA como única grande potência militar

Contradição entre poder militar e enfraquecimento político e econômico Aparecimento de termos como: “Decadência dos EUA”, “terceromundização” dos EUA Contestação: “só os EUA podem dirigir o mundo” “Orfandade” da ordem política interpretada como tendência ao caos / triunfo do liberalismo (com

conseqüências) Países onde o modelo capitalista não funcionou apelam para os extremos: repúdio ao “ocidental” e à

modernidade Face às grandes mudanças Global governance regulação da economia e justiça em escala mundial Capitais não conhecem fronteiras, mas os movimentos de pessoas ainda sofrem com elas Taxas extremamente altas impostas pelos países ricos sobre os produtos de países em via de

desenvolvimento teorias sobre a industrialização progressiva dos países pobres em xeque Síntese do momento:

o Fatores positivos: fim da ameaça nuclear institucionalizada, progresso da democracia, progressos de uma justiça internacional a favor dos direitos humanos, avanços científicos

o Fatores negativos: Crise financeira em escala mundial Terrorismo internacional Economia criminal Guerras não tradicionais Fundamentalismos étnicos e religiosos Crise ambiental Continentes imersos em pobreza Quarto mundo Globalização da exploração econômica Novos analfabetismos tecnológicos

As perspectivas geopolíticas abertas a partir de 1989 trouxeram mais perguntas que soluções “Caos” não é o substantivo adequado e sim “complexidade”

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AS NOVAS TERRAE INCOGNITAE

Três processos fundamentais:o Revolução da Tecnologia da Informaçãoo Crise econômicao Surgimento de novos movimentos sociais e culturais

Década de 1930 Atlas tinham espaços em branco, não explorados Nos anos 60 do século XX Não existiam mais “espaços em branco” Terrae incognitae terras desconhecidas, nos mapas medievais As novas terras incógnitas indefinição de fronteiras

o Grandes espaços metropolitanoso Narcotráfico colombianoo Tribos urbanaso Máfias russas

Violência incrementada como “fruto da polarização social” Sensação de impotência do Estado-Nação, frente às guerras que não são de Estado contra Estado Globalização do crime e da violência o lado obscuro da globalização Momento de questionamento do conceito de soberania territorial

Da Dependência à Irrelevância As relações entre os países desenvolvidos e os que estão em via de desenvolvimento estão baseadas na

dependência, destas com relação àquelaso Intercâmbio comercial desigualo Subordinação diplomáticao Exploração de recursos da colônia (ex-colônia)

Novas tecnologias ampliam o abismo existente entre países que têm essas “novas tecnologias” e os que não a possuem

Vários territórios estão se tornando irrelevantes:o Não são mais úteis ao sistema econômico e político internacional

Escassez de recursos naturais Analfabetismo e baixo nível de instrução

Esta “irrelevância” de alguns territórios é uma característica marcante da nova geopolítica Novas terrae incognitae do Terceiro Mundo: espaços sem serventia, que não ‘valem’ ser explorados Muitos territórios mapeados e fotografados nos últimos 150 anos voltaram à condição de desconhecidos O aparecimento dessas terras incógnitas se devem à sua exclusão dos fluxos de riqueza e informação

o África subsaariana Desintegração dos Estados Fragmentação das sociedades Inconsistência da base nacional, da idéia de nação conseqüência da

colonização/descolonização, dos êxodos massivos e forçados Baixa nas previsões de crescimento Expectativa de vida num futuro próximo 15 ou 20 anos Distância do capitalismo informacional Distância da revolução tecnológica

O Lado Obscuro da Globalização A globalização tem um lado obscuro até o crime é global Grupos criminosos são tão poderosos que chegam a influenciar decisões geopolíticas O Narcotráfico ameaça desestruturar os pilares de um Estado soberano (Colômbia)

Grupos paramilitares financiados por grandes latifundiários, empresários e até governos Exportações ilegais superam as legais na Colômbia, por exemplo Cocaína, heroína Os criminosos se adaptaram à globalização e ao uso das novas tecnologias

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Tráfico global de drogas, armas, mulheres, crianças, escravos Exemplos de crime organizado e globalizado:

o Colômbia debilidade do Estado permitiu a situação atualo Rússia desconfiança da população, corrupção generalizada

Cataclismo econômico e caos generalizado pioram as condições de vida Êxodo de cientistas e dos melhores profissionais

Emigrantes e Refugiados Os movimentos de população forçados não são novos na história

o Comércio de escravos da África para a Américao Migrações massivas da Europa para o Novo Mundoo Deportações de etnias por Stálin

No século XX todos os recordes de migração foram batidoso Imigrações Norte-Sul por razões econômicas (para América do Norte / Europa)o Conflitos bélicos refugiados em situações dramáticas

Existe uma tendência geral à liberação de fluxos de mercadorias, capital e serviços quando se fala em imigrantes e refugiados o Estado-nação reclama seu direito soberano de controlar suas fronteiras

Controle de fronteiras faz “vista grossa” imigrantes necessários como mão-de-obra barata no setor agroindustrial

O Estado se vê acuado em enrijecer o controle Organizações humanitárias, sindicatos, grupos étnicos de pressão

Imigração Direitos humanos X Soberania Estatal Migrantes no mundo em torno de 130 milhões de pessoas Países ricos estabilidade política e social, baixas taxas de crescimento demográfico, aumento no nível de

vida = demanda de mão de obra barata Países pobres altíssimas taxas de crescimento demográfico, instabilidade política e social, pobreza,

dependência econômica e diplomática = reserva de mão-de-obra barata Pólos de emigração: áreas com grandes movimentos migratórios

o América Central e Caribe EUA, Canadá (16 milhões, maior parte do México) Renovação populacional nos países ricos pirâmide etária quase “invertida” Refugiado impedido de voltar ao seu país: etnia, religião, opinião política, grupo social De cada três refugiados, um é africano Fluxo migratório partindo dos países da ex-URSS Espanha receptora (países latino-americanos)

O Quarto Mundo Localiza-se fundamentalmente nas cidades, nas grandes áreas metropolitanas

o Desempregados de longa datao Trabalhadores não qualificadoso Anciãos não assistidoso Imigrantes ilegais exploradoso Jovens marginais sem estrutura familiar

Déficit educacional Sérios problemas de acesso a atividades empregatícias Não acesso à casa própria Nos EUA 30 milhões de pessoas no Quarto Mundo Ricos mais ricos X pobres mais pobres EUA carência de moradia Toxicodependência “diferença” entre aspirações e oportunidades característica do Quarto Mundo O Quarto Mundo está entre nós, mas quase não percebemos

A Crise da Guerra A guerra convencional está deixando de ser hegemônica agora é protagonizada por paramilitares A guerra não desapareceu, mas está em crise A guerra não é mais instrumento exclusivo do Estado

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Democratização + interdependência econômica + alianças regionais diminuição das “colisões” entre Estados

Também participam grupos armados com armamento leve Não há distinção entre civis e militares Estado incapaz de impor sua autoridade efetiva no território sob sua soberania existência de regiões

rebeldes que questionam a legitimidade do Estadoo Urabá (Colômbia) inimigo confunde-se com a população civil região sob domínio do

“inimigo” Adaptação dos exércitos nos países ricos sofisticação dos sistemas de informação: de ataque, defesa e

proteção Mudança no papel da guerra nas instituições internacionais e ONG’s

Os Agentes Pós-Políticos: Ética e Ação Humanitária A ONU parece não estar preparada para enfrentar os desafios desse novo contexto obsoleta – cede às

pressões dos países “poderosos” O princípio de igualdade dos membros da ONU não é efetivo

o Cinco países com direito a veto utilizado com freqüência

Função se resumiu a enviar delegações para manutenção da paz em zonas de conflito Fases:

o Nascente (1946-1956) pouca atividadeo Enérgica (1956-1967) inovadora, muito ativao Inativa (1967-1973) nenhuma missãoo Renascente (1973-1978) atividade centrada no Oriente Médioo Período de expansão (1988-1993) mais missões do que em toda a história da instituição

Na Guerra do Golfo OTAN adquire novas “funções” braço armado da ONU OTAN sobrevive ao fim da Guerra Fria As organizações não estatais, econômicas, políticas, entre outras, têm destacado papel no cenário

internacionalo Cruz Vermelha